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SUMÁRIO

Direito Tributário, Processo Civil..................................................... 6


ADI 5.216.........................................................................................6
Direito Constitucional...................................................................... 7
ADI 2.259.........................................................................................7
Direito Constitucional, Direito Administrativo............................... 10
ADI 4.183....................................................................................... 10
Direito Constitucional, Direito Administrativo............................... 11
ADI 4.237....................................................................................... 11
Direito Constitucional, Direito do Consumidor............................... 12
ADI 6.204....................................................................................... 12
Direito Constitucional.................................................................... 14
ADI 2.168....................................................................................... 14
Direito Constitucional.................................................................... 18
ADI 2.546....................................................................................... 18
Direito Constitucional.................................................................... 19
ADI 4.223....................................................................................... 19
Direito Constitucional.................................................................... 20
ADI 6.193....................................................................................... 20
Direito Constitucional.................................................................... 23
ADI 6.196....................................................................................... 23
Direito Constitucional.................................................................... 25
Organização do Estado...................................................................... 25
Direito Constitucional.................................................................... 30
Direitos e Garantias Fundamentais...................................................... 30
Direito Penal................................................................................. 33
Crimes Previstos na Legislação Extravagante........................................ 33
Direito Processual Penal................................................................ 34
Dosimetria da Pena........................................................................... 34
Direito Penal................................................................................. 35
Pena............................................................................................... 35
Direito Penal................................................................................. 36
Princípio da Insignificância................................................................. 36
Direito Constitucional.................................................................... 38
Reclamação..................................................................................... 38
Direito Constitucional.................................................................... 41
Organização dos Poderes................................................................... 41
Direito Constitucional.................................................................... 46
Organização dos Poderes................................................................... 46
Apresentação Gran Juris Informativos do stf 

Olá, queridos alunos do Gran!

Sabemos que cada vez mais os concursos exigem do candidato o conhecimen-


to dos informativos de jurisprudência dos tribunais superiores. Independentemen-
te da banca, a cobrança é sempre certa!

Assim, saber como estudar informativos jurídicos é muito importante para


aqueles que estão prestando concursos públicos.

Com a ajuda do Gran Cursos Online, vamos demonstrar que não tem mistério
para estudar informativos! Vejamos algumas dicas rápidas.

1) Que informativos estudar?

Os concursos exigem o conhecimento tanto da jurisprudência do STF, quan-


to do STJ.

2) Como estudar os informativos?

Quanto aos informativos do STF, primeiramente verifique se não houve pe-


dido de vista de algum Ministro – esses julgados não foram concluídos e, por-
tanto, não serão usados pelos examinadores do concurso.

Diferentemente, os informativos divulgados pelo STJ já estão concluídos e a


conclusão do julgado vem em uma frase em negrito, logo no início do extrato.
Esses trechos em destaque são bastante utilizados em provas objetivas
e destacados nas nossas compilações de julgados. Nas provas subjetivas e
orais faz-se necessário entender também o raciocínio que levou o tribunal àquela
3) Crie hábito de revisão

Nós sabemos que o volume de matéria é bastante significativo e, por esse mo-
tivo, fazer revisões frequentes é imprescindível para a aprovação.

Com isso, tenha o hábito de revisar os estudos dos informativos para que você
tenha uma clara compreensão acerca do posicionamento dos tribunais superiores.
Aproveite o Gran Informativos para auxiliá-lo na revisão!

Com essas dicas, é certo que você terá um proveitoso estudo.

Boa leitura!

Professor Renato Borelli

RENATO BORELLI
Juiz Federal Substituto do TRF1. Foi Juiz Federal Substituto do
TRF5. Exerceu a advocacia privada e pública. Foi servidor público
e assessorou Desembargador Federal (TRF1) e Ministro (STJ).
Atuou no CARF/Ministério da Fazenda como Conselheiro (antigo
Conselho de Contribuintes). É formado em Direito e Economia,
com especialização em Direito Público, Direito Tributário e
Sociologia Jurídica.
GRAN JURIS INFORMATIVOS – Informativos do STF
Mês de Abril de 2020

*Informativos: 971,972,973 e 974

*Divulgação: Abril de 2020.

*Informativo: 971

*Data de divulgação: 3 de abril de 2020

DIREITO TRIBUTÁRIO, PROCESSO CIVIL


ADI 5.216

RELATOR: MIN. GILMAR MENDES


Decisão: O Tribunal, por unanimidade, negou seguimento à ação direta
de inconstitucionalidade (art. 4º da Lei n. 9.868/99), nos termos do voto do
Relator. Não participou deste julgamento, por motivo de licença médica, o
Ministro Celso de Mello. Plenário, Sessão Virtual de 6.3.2020 a 12.3.2020.
Tributário. Processual Civil. 2. Ação Direta de Inconstitucionalidade. 3. Ile-
gitimidade Ativa. Ausência de Pertinência Temática. 4. Federação Brasileira de
Associações de Fiscais de Tributos Estaduais (FEBRAFITE). 5. Dispositivos da
Lei Complementar n. 123/2006. Simples Nacional. 6. Inexistência de relação
entre os objetivos da federação requerente e o objeto da lei impugnada. 7.
Processo extinto sem julgamento do mérito.

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DIREITO CONSTITUCIONAL
ADI 2.259

RELATOR: MIN. DIAS TOFFOLI


Decisão: O Tribunal, por unanimidade, julgou parcialmente procedente
o pedido formulado na ação direta, de modo que, conferindo interpretação
conforme à Constituição à Tabela IV da Lei n. 9.289, de 4 de julho de 1996,
fica afastada sua incidência quando as certidões forem voltadas para a defesa
de direitos ou o esclarecimento de situação de interesse pessoal, consoante a
garantia de gratuidade contida no art. 5º, XXXIV, b, da Carta Magna, finalida-
des essas que se fazem presumidas quando a certidão pleiteada for concer-
nente ao próprio requerente, sendo desnecessária, nessa hipótese, expressa
e fundamentada demonstração dos fins e das razões do pedido, nos termos
do voto do Relator, Ministro Dias Toffoli (Presidente). Não participou deste
julgamento, por motivo de licença médica, o Ministro Celso de Mello Plenário,
Sessão Virtual de 7.2.2020 a 13.2.2020.

EMENTA Ação direta de inconstitucionalidade. Lei Federal n.


9.289/96. Tabela IV. Cobrança de custas pela expedição de certidões
pela Justiça Federal de primeiro e segundo graus. Direito de gratuida-
de de certidões (art. 5º, inciso XXXIV, alínea b, da CF/88). Imunidade
tributária. Garantia fundamental dotada de eficácia plena e aplicabili-
dade imediata. Interpretação conforme à Constituição.

1. A Constituição da República garante aos cidadãos brasileiros e aos es-


trangeiros residentes no país a gratuidade na obtenção de certidões nas re-
partições públicas, desde que “para defesa de direitos e esclarecimento de
situações de interesse pessoal” (art. 5º, XXXIV, CF/88). Nas palavras do emi-
nente Ministro Celso de Mello, “o direito à certidão traduz prerrogativa jurí-

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Mês de Abril de 2020

dica, de extração constitucional, destinada a viabilizar, em favor do indivíduo


ou de uma determinada coletividade (como a dos segurados do sistema de
previdência social), a defesa (individual ou coletiva) de direitos ou o esclare-
cimento de situações” (RE 472.489-AgR, Segunda Turma, DJe de 29/8/08).
Essa garantia fundamental não depende de concretização ou regulamentação
legal, uma vez que se trata de garantia fundamental dotada de eficácia plena
e aplicabilidade imediata.

2. O direito à gratuidade das certidões, contido no art. 5º, XXXIV,


b, da Carta Magna, também inclui as certidões emitidas pelo Poder
Judiciário, inclusive aquelas de natureza forense. A Constituição Fe-
deral não fez qualquer ressalva com relação às certidões judiciais,
ou àquelas oriundas do Poder Judiciário. Todavia, a gratuidade não é
irrestrita, nem se mostra absoluta, pois está condicionada à demons-
tração, pelo interessado, de que a certidão é solicitada para a defesa
de direitos ou o esclarecimento de situações de interesse pessoal. Es-
sas finalidades são presumidas quando a certidão pleiteada for con-
cernente ao próprio requerente, sendo desnecessária, nessa hipóte-
se, expressa e fundamentada demonstração dos fins e das razões do
pedido. Quando o pedido tiver como objeto interesse indireto ou de
terceiros, mostra-se imprescindível a explicitação das finalidades do
requerimento.
3. Ação direta julgada parcialmente procedente, de modo que, con-
ferindo interpretação conforme à Constituição à Tabela IV da Lei n.
9.289, de 4 de julho de 1996, fique afastada sua incidência quando as
certidões forem voltadas para a defesa de direitos ou o esclarecimen-
to de situação de interesse pessoal, consoante a garantia de gratui-
dade contida no art. 5º, XXXIV, b, da Carta Magna, finalidades essas
presumidas quando a certidão pleiteada for concernente ao próprio

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Mês de Abril de 2020

requerente, sendo desnecessária, nessa hipótese, expressa e funda-


mentada demonstração dos fins e das razões do pedido.

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DIREITO CONSTITUCIONAL, DIREITO ADMINISTRATIVO


ADI 4.183
RELATOR: MIN. EDSON FACHIN
Decisão: O Tribunal, por unanimidade, julgou improcedente a ação, nos ter-
mos do voto do Relator. Plenário, Sessão Virtual de 13.12.2019 a 19.12.2019.
EMENTA: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. CONSTITUCIO-
NAL E ADMINISTRATIVO. ART. 3º DA LEI n. 12.861, DE 2005, ART. 2º DA LEI
n. 13.093, DE 2006, E ART. 143 DA LEI COMPLEMENTAR n. 100, DE 2007,
TODAS DO ESTADO DE PERNAMBUCO. ESCALONAMENTO DOS SUBSÍDIOS
DOS MAGISTRADOS ESTADUAIS SEGUNDO A ENTRÂNCIA. INEXISTÊNCIA DE
VIOLAÇÃO À ESTRUTURA JUDICIÁRIA NACIONAL. AÇÃO JULGADA IMPROCE-
DENTE.

1. Em virtude do caráter nacional do Poder Judiciário, o Plenário


do Supremo Tribunal Federal declarou, em sede de cautelar, inconsti-
tucional a fixação diferenciada de limite remuneratório para os mem-
bros da magistratura federal e estadual.
2. Sob pena de se retirar a autonomia do Poder Legislativo, a sime-
tria que decorre do caráter nacional do Poder Judiciário não abrange
o escalonamento dos subsídios das carreiras da magistratura. 3. Ação
direta julgada improcedente.

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DIREITO CONSTITUCIONAL, DIREITO ADMINISTRATIVO


ADI 4.237
RELATOR: MIN. EDSON FACHIN
Decisão: O Tribunal, por unanimidade, julgou improcedente a ação, nos ter-
mos do voto do Relator. Plenário, Sessão Virtual de 13.12.2019 a 19.12.2019.
EMENTA: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. CONSTITUCIO-
NAL E ADMINISTRATIVO. ART. 2º E PARÁGRAFO ÚNICO DA LEI n. 10.021 E
ART. 193, §2º, DA LEI n. 10.847 DO ESTADO DA BAHIA. ESCALONAMENTO
DOS SUBSÍDIOS DOS MAGISTRADOS ESTADUAIS SEGUNDO A ENTRÂNCIA.
INEXISTÊNCIA DE VIOLAÇÃO À ESTRUTURA JUDICIÁRIA NACIONAL. AÇÃO
JULGADA IMPROCEDENTE.

1. Em virtude do caráter nacional do Poder Judiciário, o Plenário


do Supremo Tribunal Federal declarou, em sede de cautelar, inconsti-
tucional a fixação diferenciada de limite remuneratório para os mem-
bros da magistratura federal e estadual.
2. Sob pena de se retirar a autonomia do Poder Legislativo, a sime-
tria que decorre do caráter nacional do Poder Judiciário não abrange
o escalonamento dos subsídios das carreiras da magistratura. 3. Ação
direta julgada improcedente.

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DIREITO CONSTITUCIONAL, DIREITO DO CONSUMIDOR


ADI 6.204
RELATOR: MIN. EDSON FACHIN
Decisão: O Tribunal, por maioria, julgou procedente o pedido formulado na
ação direta e declarou a inconstitucionalidade da Lei n. 7.723/2019 do Estado
de Santa Catarina, nos termos do voto do Relator, vencido o Ministro Marco
Aurélio. A Ministra Rosa Weber acompanhou o Relator com ressalvas. Não
participou deste julgamento, por motivo de licença médica, o Ministro Celso
de Mello. Plenário, Sessão Virtual de 14.2.2020 a 20.2.2020.
EMENTA: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. LEI n. 17.723/2019,
DO ESTADO DE SANTA CATARINA. RELAÇÃO DE CONSUMO. COMPETÊNCIA
LEGISLATIVA CONCORRENTE. ARTIGO 24, V E VIII, DA CONSTITUIÇÃO DA
REPÚBLICA. CONFLITO ENTRE A DISCIPLINA FEDERAL E A ESTADUAL. IN-
CONSTITUCIONALIDADE.

1. Nos casos em que a dúvida sobre a competência legislativa recai


sobre norma que abrange mais de um tema, deve o intérprete acolher
interpretação que não tolha a competência que detêm os entes meno-
res para dispor sobre determinada matéria.

2. O federalismo é um instrumento de descentralização política que visa


realizar direitos fundamentais, se a lei federal ou estadual claramente indicar,
de forma necessária, adequada e razoável, que os efeitos de sua aplicação
excluem o poder de complementação que detêm os entes menores (clear
statement rule), é possível afastar a presunção de que, no âmbito regional,
determinado tema deve ser disciplinado pelo ente maior.

3. A norma que dispõe sobre utilização de franquia de dados pelo


usuário insere-se no âmbito do direito do consumidor, nos termos do
art. 24, V e VIII, da Constituição da República. Sendo concorrente, no

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entanto, deve-se ainda perquirir sobre a existência de norma federal


sobre a matéria
4. A ANATEL, entidade reguladora do setor, no exercício de sua
competência normativa prevista nos arts. 19 e 22 da Lei n. 9.472/97,
editou a Resolução n. 424 de 2005. Segundo o art. 18 da resolução os
dados de franquia são não cumulativos para outros períodos de apu-
ração, enquanto a norma estadual impugnada exige que a operadora
permita acumulação de franquia de dados para uso no mês subse-
quente. Assim, sobressai a competência da União, nos termos do art.
24, §4º, c/c art 22, IV, da CRFB.

5. Ação direta de inconstitucionalidade julgada procedente.

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*Informativo: 972
*Data de divulgação: 7 de abril de 2020

DIREITO CONSTITUCIONAL
ADI 2.168
Relatora: Min. Rosa Weber
Decisão: O Tribunal, por maioria, conheceu da ação direta e julgou parcial-
mente procedente o pedido formulado para declarar a inconstitucionalidade
do disposto: (i) no § 1º do art. 4º da Lei Complementar estadual de Santa
Catarina n. 183/99 e no art. 4º, § 3º, II, da Lei estadual de Santa Catarina n.
14.083/2007, em sua parte final, ao dispor que “sendo que as vagas ofereci-
das não deverão ser objeto de processos judiciais em andamento que discu-
tam a titularidade da mesma”, com efeitos ex nunc, para que alcance apenas
os concursos doravante realizados e; (ii) a inconstitucionalidade do disposto
no § 2º do art. 4º, nos §§ 1º e 4º do art. 5º, e no art. 30, todos da Lei Com-
plementar estadual de Santa Catarina n. 183/99, com efeitos ex tunc a partir
do trânsito em julgado desta ação, nos termos do voto da Relatora, vencido
parcialmente o Ministro Marco Aurélio. Não participou deste julgamento, por
motivo de licença médica, o Ministro Celso de Mello. Afirmou suspeição o Mi-
nistro Edson Fachin. Plenário, Sessão Virtual de 6.3.2020 a 12.3.2020.
EMENTA AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. DIREITO CONSTI-
TUCIONAL. SERVENTIAS EXTRAJUDICIAIS. DISPOSITIVOS DA LEI COMPLE-
MENTAR n. 183/99 DO ESTADO DE SANTA CATARINA. VEDAÇÃO DE INCLU-
SÃO DE SERVENTIAS VAGAS SUB JUDICE EM CONCURSO PÚBLICO. AFRONTA
AO ART. 236, § 3º, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. SUPERVENIÊNCIA DA LEI
ESTADUAL N. 14.083/2007 REVOGANDO A NORMA IMPUGNADA MAS REIN-
SERINDO-A NO ORDENAMENTO SOB SEMELHANTE REDAÇÃO. IRRELEVÂN-
CIA. INDÍCIO DE BURLA DA JURISDIÇÃO CONSTITUCIONAL. AFASTAMENTO

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DO PREJUÍZO PARCIAL DA AÇÃO. RECONHECIMENTO DA INCONSTITUCIO-


NALIDADE. PRECEDENTES. MODULAÇÃO. ATRIBUIÇÃO DE COMPETÊNCIA
PRIVATIVA DO GOVERNADOR DO ESTADO PARA DECLARAR A VACÂNCIA DE
SERVENTIAS EXTRAJUDICIAIS, BEM COMO PARA REGER A SITUAÇÃO DE NO-
TÁRIOS E REGISTRADORES EFETIVADOS PELO ART. 14 DO ADCT DA CONSTI-
TUIÇÃO ESTADUAL. AFRONTA AO DISPOSTO NOS ARTS. 22, XXV, 37, CAPUT,
E 236, §§ 1º E 3º DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. INCONSTITUCIONALIDADE
COM EFEITOS EX TUNC.

1. O Supremo Tribunal Federal, na ADI n. 363 (DJ 03.05.96), de-


clarou inconstitucional o art. 14 do ADCT da Constituição do Estado
de Santa Catarina que, em sua redação original, estabelecia: “Fica
assegurado aos substitutos das serventias, na vacância, a efetivação
no cargo de titular, desde que, investidos na forma da lei, estejam em
efetivo exercício, pelo prazo de três anos”. Tal dispositivo, por vota-
ção unânime do Plenário do Supremo Tribunal Federal, foi declarado
inconstitucional “por violar o princípio que exige concurso público de
provas ou de provas e títulos, para a investidura em cargo público,
como é o caso do Titular de serventias judiciais (art. 37, II, da Cons-
tituição Federal), e também para o ingresso na atividade notarial e de
registro (art. 236, § 3º)”.
2. Posteriormente, na ADI n. 1573 (DJ 25.4.2003) o Supremo Tri-
bunal Federal declarou inconstitucional a Emenda n. 10 à Constitui-
ção Estadual de Santa Catarina, com o seguinte “Artigo único”: “Ar-
tigo único - Respeitadas as situações consolidadas, fica suspensa a
execução do artigo 14 do ADCT da Constituição do Estado de Santa
Catarina”. Esta Suprema Corte assim decidiu ao fundamento de que
“a pretexto de dar cumprimento a essa decisão do S.T.F., que, por ser
declaratória e com eficácia ‘erga omnes’, independia de execução,
o que fez a Assembleia Legislativa do Estado de Santa Catarina foi
conferir eficácia ao art. 14 do ADCT, em sua redação original, ao me-

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nos para amparar as ‘situações consolidadas’ até 18.06.1996, data


de sua promulgação; vale dizer, pretendeu retirar do acórdão do STF,
que declarara a inconstitucionalidade do art. 14 do ADCT, em sua
redação original, sua eficácia ‘ex tunc’, para só admiti-la a partir de
18.06.1996”.

3. A Lei Complementar estadual n. 183/99, ao excluir de concurso público


as vagas já existentes mas que sejam objeto de processos judiciais em an-
damento, afronta a regra contida no art. 236, § 3º, da CF que obriga a sub-
missão a concurso sem tal critério de exclusão. O fato de tal dispositivo ter
sido revogado por lei superveniente (art. 23 da Lei estadual n. 14.083/2007),
não prejudica a presente ação, pois evidenciado indício de burla da jurisdi-
ção constitucional. Precedentes. Ademais, revigorado o comando revogado
por novo dispositivo da mesma Lei (o art. 4º, § 3º, II, da Lei estadual n.
14.083/2007, em sua parte final, ao dispor que “sendo que as vagas ofere-
cidas não deverão ser objeto de processos judiciais em andamento que dis-
cutam a titularidade da mesma”), a inconstitucionalidade do novo dispositivo
deve também ser reconhecida. Inconstitucionalidade do § 1º, do art. 4º, da
Lei Complementar estadual de Santa Catarina n. 183/99 e do art. 4º, § 3º, II,
da Lei estadual de Santa Catarina n. 14.083/2007, em sua parte final, ao dis-
por que “sendo que as vagas oferecidas não deverão ser objeto de processos
judiciais em andamento que discutam a titularidade da mesma”, com efeitos
ex nunc, para que alcance apenas os concursos doravante realizados.

4. A Lei Complementar estadual n. 183/99, ao dispor sobre a com-


petência privativa do Governador do Estado para declarar a vacância
de serventias extrajudiciais, bem como para reger a situação dos no-
tários e registradores efetivados pelo art. 14 do ADCT da Constituição
Estadual, busca novamente tentar preservar ou dar sobrevida às tais
“situações consolidadas” (tentativa já repugnada por esta Suprema
Corte no julgamento das ADIs 363 e 1573), colide com o disposto no

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art. 37, caput, e 236, § 3º da Constituição Federal, no que pertine à


necessária submissão a concurso público para recebimento de dele-
gação, bem como afronta o disposto nos arts. 22, XXV, e 236, § 1º
da Constituição Federal, por competir à União legislar sobre registros
públicos e à Lei federal definir a fiscalização de seus atos pelo Poder
Judiciário, o que é regrado pela Lei n. 8.935/94, cabendo ao Presi-
dente do Tribunal de Justiça (e não ao Governador do Estado), por
interpretação sistemática dos arts. 14, 15, 37, caput, e 39, § 2,º da
referida Lei, a declaração de vacância, a designação de substituto e a
abertura de concursos. Inconstitucionalidade do disposto no § 2º do
art. 4º, nos §§ 1º e 4º do art. 5º, e no art. 30, todos da Lei Comple-
mentar estadual de Santa Catarina n. 183/99, com efeitos ex tunc a
partir do trânsito em julgado desta ação.

5. Ação direta de inconstitucionalidade julgada parcialmente procedente,


com modulação parcial de efeitos.

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DIREITO CONSTITUCIONAL
ADI 2.546
Relator: Min. Gilmar Mendes

Decisão: O Tribunal, por unanimidade, conheceu da ação direta e


julgou procedente o pedido formulado para declarar a inconstitucio-
nalidade do inciso XXXV do art. 29 e dos incisos IV e IX do art. 49 da
Constituição do Estado de Rondônia, na redação dada pela Emenda
Constitucional n. 21, de 23 de agosto de 2001, confirmando os termos
da medida cautelar anteriormente deferida pelo Plenário, nos termos
do voto do Relator. Não participou deste julgamento, por motivo de
licença médica, o Ministro Celso de Mello. Plenário, Sessão Virtual de
6.3.2020 a 12.3.2020.

Ação direta de inconstitucionalidade.


2. Art. 29, inciso XXXV, e art. 49, incisos IV e IX, da Constituição do Estado
de Rondônia, na redação dada pela Emenda Constitucional 21/2001.
3. Apreciação, pela Assembleia Legislativa, da legalidade dos atos de con-
cessão de aposentadoria a integrantes do Tribunal de Contas do Estado e ne-
cessidade de sua convocação para auditar órgãos do Legislativo.
4. Interferência do Poder Legislativo na autonomia do Tribunal de Contas.
5. Inconstitucionalidade. Precedentes.
6. Medida cautelar concedida pelo Plenário confirmada.
7. Ação direta de inconstitucionalidade julgada procedente.

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DIREITO CONSTITUCIONAL
ADI 4.223
Relator: Min. Gilmar Mendes
Decisão: O Tribunal, por unanimidade, conheceu da ação direta e julgou
procedente o pedido formulado para declarar a inconstitucionalidade do art.
24, § 2º, 6, da Constituição do Estado de São Paulo, bem como do art. 17
do Ato de suas Disposições Transitórias, nos termos do voto do Relator. Não
participou deste julgamento, por motivo de licença médica, o Ministro Celso
de Mello. Plenário, Sessão Virtual de 6.3.2020 a 12.3.2020.
Ação direta de inconstitucionalidade.
2. Dispositivos da Constituição do Estado de São Paulo. Iniciativa de lei
sobre serventias judiciais e estabelecimento de critérios e prazos para sua
criação.

3. Pertence ao Tribunal de Justiça estadual a iniciativa privativa


para legislar sobre organização judiciária, na qual se inclui a criação,
alteração ou supressão de cartórios. Precedentes.
4. Vulnera o princípio da separação dos Poderes a imposição de
diretrizes e prazos, pelo Constituinte Estadual, para a elaboração de
projeto de lei de iniciativa reservada ao Tribunal de Justiça. Prece-
dentes.

5. Ação direta de inconstitucionalidade julgada procedente para declarar a


inconstitucionalidade do artigo 24, § 2º, 6, da Constituição do Estado de São
Paulo e do art. 17, caput e parágrafos, do Ato das Disposições Constitucionais
Transitórias do mesmo diploma.

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DIREITO CONSTITUCIONAL
ADI 6.193
Relator: Min. Alexandre de Moraes
Decisão: O Tribunal, por unanimidade, julgou improcedente o pedido for-
mulado na ação, para declarar a constitucionalidade da Lei n. 10.524/2017 do
Estado de Mato Grosso, nos termos do voto do Relator. Não participou deste
julgamento, por motivo de licença médica, o Ministro Celso de Mello. Plenário,
Sessão Virtual de 28.2.2020 a 5.3.2020.
EMENTA: CONSTITUCIONAL. FEDERALISMO E RESPEITO ÀS REGRAS DE
DISTRIBUIÇÃO DE COMPETÊNCIA. UNIÃO AUTORIZADA A EDITAR NORMAS
GERAIS. ART. 13-A, II, DO ESTATUTO DO TORCEDOR. INEXISTÊNCIA DE
PROIBIÇÃO GERAL E ABSOLUTA. COMPETÊNCIA CONCORRENTE COMPLE-
MENTAR DOS ESTADOS (CF, ART. 24, §§ 1º A 4º). LEI n. 10.524/2017 DO ES-
TADO DE MATO GROSSO. RAZOABILIDADE NA COMERCIALIZAÇÃO E CONSU-
MO DE BEBIDAS NÃO DESTILADAS COM TEOR ALCOÓLICO INFERIOR A 14%
EM ESTÁDIOS DE FUTEBOL, EM DIAS DE JOGO. IDÊNTICO PERMISSIVO NOS
GRANDES EVENTOS MUNDIAIS – COPA DO MUNDO DE FUTEBOL DA FIFA E
OLIMPÍADAS. DIREITO DO CONSUMIDOR (CF, ART. 24, V). IMPROCEDÊNCIA.

1. As regras de distribuição de competências legislativas são ali-


cerces do federalismo e consagram a fórmula de divisão de centros
de poder em um Estado de Direito. Princípio da predominância do in-
teresse. A Constituição Federal de 1988, presumindo de forma abso-
luta para algumas matérias a presença do princípio da predominância
do interesse, estabeleceu, a priori, diversas competências para cada
um dos entes federativos – União, Estados-membros, Distrito Fede-
ral e Municípios – e, a partir dessas opções, pode ora acentuar maior
centralização de poder, principalmente na própria União (CF, art. 22),

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ora permitir uma maior descentralização nos Estados membros e nos


Municípios (CF, arts. 24 e 30, inciso I).

2. Competência concorrente para a matéria (CF, art. 24). O inciso II do art.


13-A da Lei Federal 10.671/2003 estabelece condições gerais de acesso e per-
manência do torcedor em recintos esportivos, entre as quais a de não portar
bebidas proibidas ou suscetíveis de gerar ou possibilitar a prática de atos de
violência, não particularizando, entretanto, quais seriam essas bebidas. Ine-
xistência de vedação geral e absoluta. Possibilidade de o legislador estadual,
no exercício de sua competência concorrente complementar, e observadas as
especificidades locais, regulamentar a matéria.

3. Respeito à razoabilidade e proporcionalidade na regulamenta-


ção estadual. Permissão somente de bebidas não destiladas com teor
alcoólico inferior a 14%, igualmente autorizadas nos grandes even-
tos mundiais de futebol e outros esportes, inclusive na Copa do Mun-
do organizada pela FIFA e nas Olimpíadas.
4. A permissão veiculada pela legislação impugnada não envolve
um risco social maior do que aquele decorrente da proibição, pois a
ausência da comercialização de bebidas de menor teor alcoólico den-
tro dos estádios acaba gerando o consumo de todos os tipos de bebi-
das – inclusive aquelas com elevado teor alcoólico – nas imediações
dos eventos esportivos.

5. A Lei Estadual 10.524/2017, ao dispor sobre a comercialização e o con-


sumo de bebidas não destiladas com baixo teor alcoólico em estádios de fu-
tebol, traduziu normatização direcionada ao torcedor-espectador, equiparado
pelo § 3º do art. 42 da Lei Federal 9.615/1998, para todos os efeitos legais, ao
consumidor, sujeito de direitos definido na Lei Federal 8.078/1990.

6. Entendimento recente desta SUPREMA CORTE no sentido de con-


ferir uma maior ênfase na competência legislativa concorrente dos

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Estados quando o assunto gira em torno dos direitos do consumidor.


Cite-se, por exemplo: ADI 4306, Rel. Min. EDSON FACHIN, Tribunal
Pleno, DJe de 18/2/2020; ADPF 109, Rel. Min. EDSON FACHIN, Tribu-
nal Pleno, DJe de 1/2/2019; ADI 5.745, Rel. Min. ALEXANDRE DE MO-
RAES, Red. p/ acórdão: Min. EDSON FACHIN, julgado em 7/2/2019; e
ADI 5462, Rel. Min. ALEXANDRE DE MORAES, Tribunal Pleno, DJe de
29/10/2018.

7. Ação Direta de Inconstitucionalidade julgada improcedente.

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DIREITO CONSTITUCIONAL
ADI 6.196
Relator: Min. Alexandre de Moraes
Decisão: O Tribunal, por maioria, conheceu parcialmente da ação direta
e julgou improcedente o pedido formulado, nos termos do voto do Relator,
vencido, em parte, o Ministro Ricardo Lewandowski. Não participou deste jul-
gamento, por motivo de licença médica, o Ministro Celso de Mello. Plenário,
Sessão Virtual de 13.3.2020 a 19.3.2020.
EMENTA: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. DIREITO CONS-
TITUCIONAL. DIREITO ADMINISTRATIVO. LEI COMPLEMENTAR n. 87/2000
DO ESTADO DE MATO GROSSO DO SUL. ESTATUTO DOS PROFISSIONAIS
DA EDUCAÇÃO BÁSICA DO ESTADO. ALTERAÇÕES PROMOVIDAS PELA LEI
COMPLEMENTAR n. 266/2019. SERVIDORES PÚBLICOS EFETIVOS E TEMPO-
RÁRIOS. FUNÇÃO DE DOCÊNCIA. REMUNERAÇÃO. NECESSIDADE DE EDIÇÃO
DE LEI ESPECÍFICA (ART. 37, X, DA CF). NÃO CABIMENTO. VIOLAÇÃO AO
PRINCÍPIO DA ISONOMIA (ARTS. 5º E 7º, XXXIV, CF). VIOLAÇÃO AO DIREITO
ADQUIRIDO E À IRREDUTIBILIDADE DE SALÁRIOS (ARTS. 5º, XXXVI, E 37,
XV, DA CF). NÃO OCORRÊNCIA. CONHECIMENTO PARCIAL DA AÇÃO. IMPRO-
CEDÊNCIA.

1. A jurisdição constitucional abstrata brasileira não admite o ajui-


zamento ou a continuidade de ação direta de inconstitucionalidade de
lei ou ato normativo já revogado ou cuja eficácia já tenha se exauri-
do, independentemente do fato de terem produzido efeitos concretos
residuais. Perda de objeto parcial da ação em relação ao inciso V do §
2º do art. 49 da LC n. 87/2000. Precedentes.
2. Constitucionalidade do dispositivo legal que prevê a fixação da
remuneração de servidores públicos temporários por meio de ato in-
fralegal.

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GRAN JURIS INFORMATIVOS – Informativos do STF
Mês de Abril de 2020

3. A justificativa para a diferença dos critérios de remuneração existente


entre o cargo de professor efetivo e a função exercida pelo professor tempo-
rário encontra respaldo na própria Constituição Federal (art. 37, II, IX, X),
considerando que regimes jurídicos distintos comportam tratamentos diver-
sos.

4. É vedado ao Poder Judiciário, por não ter função legislativa,


conceder aumento de vencimentos de servidores públicos com base
no princípio da isonomia. Entendimento da Súmula Vinculante 37 do
STF.
5. Não afronta o direito adquirido e a irredutibilidade salarial (arts.
5º, XXXVI, e 37, XV, da CF) a norma estadual que, alterando calendá-
rio de integralização de piso salarial da categoria profissional, apenas
prorroga o reajuste por mais três anos até alcançar o limite máxi-
mo previsto, como medida de austeridade adotada para equilibrar as
contas públicas.
6. A jurisprudência desta CORTE orienta que o direito adquirido
não pode ser oposto a regime jurídico ou a forma de cálculo da remu-
neração de servidor público, desde que preservada a irredutibilidade
salarial. Precedentes.

7. Conhecimento parcial da ação. Ação direta julgada improcedente.

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*Informativo: 973

*Data de divulgação: 23 de abril de 2020

DIREITO CONSTITUCIONAL
ORGANIZAÇÃO DO ESTADO
Covid-19: saúde pública e competência concorrente

O Plenário, por maioria, referendou medida cautelar em ação direta,


deferida pelo ministro Marco Aurélio (Relator), acrescida de interpre-
tação conforme à Constituição ao § 9º do art. 3º da Lei n. 13.979/2020,
a fim de explicitar que, preservada a atribuição de cada esfera de go-
verno, nos termos do inciso I do art. 198 da Constituição Federal (CF)
(1), o Presidente da República poderá dispor, mediante decreto, sobre
os serviços públicos e atividades essenciais.

A ação foi ajuizada em face da Medida Provisória 926/2020, que alterou o


art. 3º, caput, incisos I, II e VI, e parágrafos 8º, 9º, 10 e 11, da Lei federal
13.979/2020 (2).
O relator deferiu, em parte, a medida acauteladora, para tornar explícita,
no campo pedagógico, a competência concorrente.
Afirmou que o caput do art. 3º sinaliza a quadra vivenciada, ao referir-se
ao enfrentamento da emergência de saúde pública, de importância interna-
cional, decorrente do coronavírus. Mais do que isso, revela o endosso a atos
de autoridades, no âmbito das respectivas competências, visando o isolamen-
to, a quarentena, a restrição excepcional e temporária, conforme recomen-
dação técnica e fundamentada da Agência Nacional de Vigilância Sanitária
(Anvisa), por rodovias, portos ou aeroportos de entrada e saída do País, bem
como locomoção interestadual e intermunicipal.

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Sobre os dispositivos impugnados, frisou que o § 8º versa a pre-


servação do exercício e funcionamento dos serviços públicos e ativi-
dades essenciais; o § 9º atribui ao Presidente da República, mediante
decreto, a definição dos serviços e atividades enquadráveis, o § 10
prevê que somente poderão ser adotadas as medidas em ato especí-
fico, em articulação prévia com o órgão regulador ou o poder conce-
dente ou autorizador; e, por último, o § 11 veda restrição à circulação
de trabalhadores que possa afetar o funcionamento de serviços púbi-
cos e atividades essenciais.

Assinalou que, ante o quadro revelador de urgência e necessidade de dis-


ciplina, foi editada medida provisória com a finalidade de mitigar-se a crise
internacional que chegou ao Brasil. O art. 3º, caput, remete às atribuições,
das autoridades, quanto às medidas a serem implementadas.

Não vislumbrou transgressão a preceito da Constituição. Ressaltou


que as providências não afastam atos a serem praticados por esta-
dos, o Distrito Federal e municípios considerada a competência con-
corrente na forma do art. 23, inciso II, da CF (3). E, por fim, rejeitou
a alegação de necessidade de reserva de lei complementar.

O Tribunal conferiu interpretação conforme à Constituição ao § 9º do art.


3º da Lei n. 13.979/2020, vencidos, quanto ao ponto, o ministro relator e o
ministro Dias Toffoli.

A Corte enfatizou que a emergência internacional, reconhecida


pela Organização Mundial da Saúde (OMS), não implica, nem menos
autoriza, a outorga de discricionariedade sem controle ou sem con-
trapesos típicos do estado de direito democrático. As regras consti-
tucionais não servem apenas para proteger a liberdade individual e,

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GRAN JURIS INFORMATIVOS – Informativos do STF
Mês de Abril de 2020

sim, também, para o exercício da racionalidade coletiva, isto é, da


capacidade de coordenar as ações de forma eficiente.

O estado de direito democrático garante também o direito de examinar as


razões governamentais e o direito da cidadania de criticá-las. Os agentes pú-
blicos agem melhor, mesmo durante as emergências, quando são obrigados
a justificar suas ações.

O exercício da competência constitucional para as ações na área


da saúde deve seguir parâmetros materiais a serem observados pelas
autoridades políticas. Esses agentes públicos devem sempre justificar
as suas ações, e é à luz dessas ações que o controle dessas próprias
ações pode ser exercido pelos demais Poderes e, evidentemente, por
toda sociedade.

Sublinhou que o pior erro na formulação das políticas públicas é a


omissão, sobretudo a omissão em relação às ações essenciais exigidas
pelo art. 23 da CF.

É grave do ponto de vista constitucional, quer sob o manto de com-


petência exclusiva ou privativa, que sejam premiadas as inações do
Governo Federal, impedindo que estados e municípios, no âmbito de
suas respectivas competências, implementem as políticas públicas
essenciais. O Estado garantidor dos direitos fundamentais não é ape-
nas a União, mas também os estados-membros e os municípios.

Asseverou que o Congresso Nacional pode regular, de forma harmoni-


zada e nacional, determinado tema ou política pública. No entanto, no seu
silêncio, na ausência de manifestação legislativa, quer por iniciativa do Con-
gresso Nacional, quer da chefia do Poder Executivo federal, não se pode to-
lher o exercício da competência dos demais entes federativos na promoção
dos direitos fundamentais.

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Mês de Abril de 2020

Assentou que o caminho mais seguro para identificação do fundamento


constitucional, no exercício da competência dos entes federados, é o que
se depreende da própria legislação. A Lei n. 8.080/1990, a chamada Lei do
SUS - Sistema Único de Saúde, dispõe sobre as condições para a promoção,
proteção e recuperação da saúde e assegura esse direito por meio da muni-
cipalização dos serviços. A diretriz constitucional da hierarquização, que está
no caput do art. 198 da CF, não significou e nem significa hierarquia entre
os entes federados, mas comando único dentro de cada uma dessas esferas
respectivas de governo.

Entendeu ser necessário ler as normas da Lei n. 13.979/2020 como


decorrendo da competência própria da União para legislar sobre vi-
gilância epidemiológica. Nos termos da Lei do SUS, o exercício dessa
competência da União não diminui a competência própria dos demais
entes da Federação na realização dos serviços de saúde; afinal de
contas a diretriz constitucional é a municipalização desse serviço.

O colegiado rejeitou a atribuição de interpretação conforme à Constituição


ao art. 3º, VI, “b”, da Lei n. 13.979/2020, vencidos, no ponto, os ministros
Alexandre de Moraes e Luiz Fux. Para eles, desde que a restrição excepcional
e temporária de rodovia intermunicipal seja de interesse nacional, a compe-
tência é da autoridade federal. Porém, isso não impede, eventualmente, que
o governo estadual possa determinar restrição excepcional entre rodovias
estaduais e intermunicipais quando não afetar o interesse nacional, mas sim
o interesse local.
(1) CF: “Art. 198. As ações e serviços públicos de saúde integram uma
rede regionalizada e hierarquizada e constituem um sistema único, organiza-
do de acordo com as seguintes diretrizes: I - descentralização, com direção
única em cada esfera de governo;”
(2) Lei n. 13.979/2020: “Art. 3º Para enfrentamento da emergência de
saúde pública de importância internacional decorrente do coronavírus, as au-

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toridades poderão adotar, no âmbito de suas competências, dentre outras,


as seguintes medidas: I – isolamento; II – quarentena (...) VI - restrição ex-
cepcional e temporária, conforme recomendação técnica e fundamentada da
Agência Nacional de Vigilância Sanitária, por rodovias, portos ou aeroportos
de: a) entrada e saída do País; b) locomoção interestadual e intermunicipal;
(…) § 8º As medidas previstas neste artigo, quando adotadas, deverão res-
guardar o exercício e o funcionamento de serviços públicos e atividades es-
senciais. 9º O Presidente da República disporá, mediante decreto, sobre os
serviços públicos e atividades essenciais a que se referem o § 8º. § 10. As
medidas a que se referem os incisos I, II e VI do caput, quando afetarem a
execução de serviços públicos e atividades essenciais, inclusive as reguladas,
concedidas ou autorizadas, somente poderão ser adotadas em ato específico
e desde que em articulação prévia com o órgão regulador ou o Poder conce-
dente ou autorizador. § 11. É vedada a restrição à circulação de trabalhadores
que possa afetar o funcionamento de serviços públicos e atividades essenciais,
definidas nos termos do disposto no § 9º, e cargas de qualquer espécie que
possam acarretar desabastecimento de gêneros necessários à população.”

(3) CF: “Art. 23. É competência comum da União, dos Estados, do


Distrito Federal e dos Municípios: (...) II - cuidar da saúde e assistên-
cia pública, da proteção e garantia das pessoas portadoras de defici-
ência;”

ADI 6341 MC-Ref/DF, rel. Min. Marco Aurélio, red. p/ o ac. Min. Edson Fa-
chin, julgamento em 15.4.2020. (ADI-6341)

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DIREITO CONSTITUCIONAL
DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS
Covid -19: acordos individuais e participação sindical

O Plenário, por maioria, não referendou medida cautelar conce-


dida em ação direta de inconstitucionalidade e manteve a eficácia
da Medida Provisória 936/2020, que autoriza a redução da jornada
de trabalho e do salário ou a suspensão temporária do contrato de
trabalho por meio de acordos individuais em razão da pandemia do
novo coronavírus, independentemente de anuência sindical.
Prevaleceu o voto do ministro Alexandre de Moraes. Entendeu
ser necessário definir se, durante o estado de calamidade pública, o
acordo de redução proporcional tanto da jornada de trabalho quanto
do salário, escrito entre empregado e empregador, é um ato jurídico
perfeito e acabado; ou se a comunicação ao sindicato, no prazo de
dez dias, transfere à organização sindical a possibilidade, tal qual
uma verdadeira condição resolutiva, de corroborar o acordo individu-
al, afastá-lo ou alterá-lo, mediante uma negociação coletiva.
Anotou que, nos termos da medida provisória, uma vez assinado
o acordo escrito de redução proporcional de salário e de jornada de
trabalho, há uma complementação por parte do Poder Público. Um
cálculo é feito à semelhança do seguro-desemprego. Assim, se o sin-
dicato tiver o poder de alterar os termos desse acordo, pode haver
um descompasso entre essa alteração e o abono pago pelos cofres
públicos.

A medida provisória em análise tem o intuito de equilibrar as desigualdades


sociais provocadas pela pandemia, e deve ser interpretada de acordo com diver-
sos vetores constitucionais: a dignidade da pessoa humana, o trabalho, a livre

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iniciativa, o desenvolvimento nacional, a erradicação da pobreza e marginaliza-


ção e a redução das desigualdades. Nesse sentido, a garantia de irredutibilidade
salarial apenas faz sentido se existir o direito ao trabalho em primeiro lugar.
A situação de pandemia vem trazendo de forma crescente efeitos econô-
micos e sociais, como o desemprego e a falta de renda. Nesse contexto, a
finalidade da medida provisória é a manutenção do emprego. Diversas em-
presas, como consequência do panorama atual, provocaram demissões em
massa, e a medida provisória procura oferecer uma opção garantidora do
trabalho, proporcional entre empregado e empregador.
Salientou que a medida provisória é específica ao definir sua eficácia du-
rante o estado de calamidade (90 dias), período no qual o empregado terá a
garantia de manutenção do seu emprego (um total de 24,5 milhões de postos
de trabalho), mesmo que com uma redução salarial proporcional à redução de
horas trabalhadas. Além disso, haverá complementação de renda por parte
do Estado, no valor estimado de 51,2 bilhões de reais.
Por outro lado, a medida provisória também permite a manutenção de
diversas empresas, que permanecerão com empregados durante o período e
continuarão funcionando futuramente.
Ademais, o empregado tem a opção de não aceitar essa redução, junta-
mente como auxílio emergencial proporcional. Nesse caso, se houver demis-
são, ele receberá o auxílio-desemprego.

Assim, a medida provisória não tem o objetivo simples de legalizar


a redução salarial, mas sim de estabelecer mecanismos emergenciais
de preservação de emprego e de renda. Não se trata de conflito entre
empregado e empregador e da definição salarial como resultado desse
embate, que é a situação normal na qual se exige a participação sindi-
cal para equilibrar as forças.

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A situação atual não exige conflito, mas convergência para a sobrevivência


da empresa (especialmente a micro e a pequena), do empregador e do em-
pregado, com o auxílio do governo. Se não houver pacto entre empregadores
e empregados, o resultado da pandemia pode ser o dobro de desempregados
no país, situação inadmissível que gerará enorme conflito social.
Nesse quadro, possibilitar aos sindicatos que “referendem” os acordos
traz três desfechos possíveis: a discordância total, parcial, ou a concordân-
cia. E a última hipótese é a única que não afetará a segurança jurídica e a
boa-fé dos acordos.

Isso não significa, entretanto, que os sindicatos ficarão totalmente


alheios a esses acordos. Nos termos da medida provisória, eles serão
comunicados, para verificar a necessidade de estender os termos de
determinado acordo a outros trabalhadores da categoria, ou para in-
dicar a anulação dos acordos, se houver algum vício. O que o texto
legal não fez foi exigir a anuência sindical para que o acordo se torne
ato jurídico perfeito, o que diminuiria sensivelmente a eficácia da me-
dida emergencial.

Vencidos os ministros Ricardo Lewandowski (relator), que deferiu a medida


cautelar em parte, no sentido de dar interpretação conforme à Constituição à
medida provisória, de maneira a assentar que os acordos deverão ser comu-
nicados pelos empregadores ao respectivo sindicato no prazo de até dez dias,
para que este inicie a negociação coletiva se desejar; e os ministros Edson
Fachin e Rosa Weber, que a deferiram integralmente, para afastar o uso de
acordo individual para dispor sobre as medidas tratadas no texto impugnado.
ADI 6363 MC-Ref/DF, rel. orig. Min. Ricardo Lewandowski, red. p/ o ac.
Min. Alexandre de Moraes, julgamento em 16 e 17.4.2020. (ADI-6363)

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DIREITO PENAL
CRIMES PREVISTOS NA LEGISLAÇÃO EXTRAVAGANTE
Art. 183 da Lei n. 9.472/1997 e transmissão clandestina de sinal de internet

A Primeira Turma iniciou julgamento de habeas corpus deduzido em fa-


vor de condenado pela suposta prática do crime descrito no art. 183 da Lei.
9.472/1997 (desenvolver clandestinamente atividades de telecomunicação),
em virtude de haver transmitido, clandestinamente, sinal de internet por meio
de radiofrequência.
Na espécie, a defesa requer a incidência do princípio da insignificância e,
sucessivamente, o reconhecimento da atipicidade da conduta.
O ministro Marco Aurélio (relator) deferiu a ordem para absolver o pacien-
te, com base no art. 386, III, do Código de Processo Penal (CPP) (1).

Explicitou que não concebe crime sob o ângulo da tipicidade por


extensão e que o Direito Penal se submete ao princípio da legalidade
estrita.
Dessa maneira, o ministro concluiu não ser possível enquadrar a
oferta de serviço de internet como atividade clandestina de teleco-
municações.

Em seguida, o ministro Luiz Fux pediu vista dos autos.


(1) CPP: “Art. 386. O juiz absolverá o réu, mencionando a causa na
parte dispositiva, desde que reconheça: (...) III – não constituir o fato in-
fração penal;”
HC 161659/RJ, rel. Min. Marco Aurélio, julgamento em 14.4.2020. (HC-
161659)

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DIREITO PROCESSUAL PENAL


DOSIMETRIA DA PENA
Lei de Drogas: causa de diminuição de pena e ações penais em andamento

Não cabe afastar a causa de diminuição prevista no art. 33, § 4º,


da Lei n. 11.343/2006 (Lei de Drogas) com base em condenações não
alcançadas pela preclusão maior.

Com esse entendimento, a Primeira Turma deferiu a ordem em habeas


corpus para que o juízo implemente a aludida causa de diminuição.

O colegiado salientou que, na dosimetria, situações processuais


sem o trânsito em julgado foram consideradas como maus antece-
dentes.

(1) Lei n. 11.343/2006: “Art. 33. (...) § 4º Nos delitos definidos no caput e
no § 1º deste artigo, as penas poderão ser reduzidas de um sexto a dois ter-
ços, desde que o agente seja primário, de bons antecedentes, não se dedique
às atividades criminosas nem integre organização criminosa.”
HC 166385/MG, rel. Min. Marco Aurélio, julgamento em 14.4.2020.
(HC-166385)

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DIREITO PENAL
PENA
Causa de diminuição: pagamento do principal e arrependimento posterior

A Primeira Turma deferiu a ordem de habeas corpus e determinou ao juízo


de origem que proceda a nova dosimetria da pena, levando em conta a causa
de diminuição prevista no art. 16 do Código Penal (CP) (1).
No caso, a paciente foi condenada a 1 ano e 6 meses de reclusão, em re-
gime inicial de cumprimento aberto, substituída por pena restritiva de direito,
e o pagamento de 25 dias-multa, ante a prática da infração versada no art.
155, caput (furto), na forma do 71 (continuidade delitiva), do CP.
Os impetrantes pleiteavam a diminuição da pena por arrependimento pos-
terior. Destacaram a celebração de acordo entre a vítima e a paciente, no qual
previsto o pagamento de R$ 48.751,11, a caracterizar o valor atualizado da
subtração (R$ 33.000,00). Sustentaram, ainda, que o dano decorrente do de-
lito foi integralmente reparado antes do recebimento da denúncia, bem como
que os valores pagos após esse fato são referentes aos juros e à correção
monetária e não integrariam a quantia a ser observada para fins de caracte-
rização do arrependimento.

A Turma reconheceu a incidência da causa de diminuição prevista


no referido dispositivo do CP, uma vez que a parte principal do dano
foi reparada antes do recebimento da denúncia.

(1) CP: “Art. 16 - Nos crimes cometidos sem violência ou grave ameaça à
pessoa, reparado o dano ou restituída a coisa, até o recebimento da denúncia
ou da queixa, por ato voluntário do agente, a pena será reduzida de um a dois
terços.”HC 165312/SP, rel. Min. Marco Aurélio, julgamento em 14.4.2020.
(HC-165312)

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DIREITO PENAL
PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA
Princípio da insignificância:

reincidência e furto cometido no período noturno

A Segunda Turma negou provimento a agravo regimental interposto de


decisão na qual concedida a ordem em habeas corpus para determinar a ab-
solvição do paciente.
Na espécie, trata-se de furto de R$ 4,15 em moedas, uma garrafa peque-
na de refrigerante, duas garrafas de 600 ml de cerveja e uma de 1 litro de
pinga, tudo avaliado em R$ 29,15. Nas outras instâncias, o princípio da insig-
nificância não foi aplicado em razão da reincidência do paciente e do fato de
o furto ter sido cometido no período noturno.

Prevaleceu o voto do ministro Gilmar Mendes (relator) e foi man-


tida integralmente a decisão agravada, que reconheceu a atipicidade
da conduta em razão da insignificância. O ministro levou em conta que
o princípio da insignificância atua como verdadeira causa de exclusão
da própria tipicidade. Considerou equivocado afastar-lhe a incidência
tão somente pelo fato de o recorrido possuir antecedentes criminais.
Reputou mais coerente a linha de entendimento segundo a qual,
para a aplicação do princípio da bagatela, devem ser analisadas as
circunstâncias objetivas em que se deu a prática delituosa e não os
atributos inerentes ao agente. Reincidência ou maus antecedentes
não impedem, por si sós, a aplicação do postulado da insignificância.
A despeito de restar patente a existência da tipicidade formal, não
incide, na situação dos autos, a material, que se traduz na lesividade

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efetiva e concreta ao bem jurídico tutelado, sendo atípica a conduta


imputada.
Em uma leitura conjunta do princípio da ofensividade com o princí-
pio da insignificância, estar-se-á diante de uma conduta atípica quan-
do a conduta não representar, pela irrisória ofensa ao bem jurídico
tutelado, um dano (nos crimes de dano), uma certeza de risco de
dano (nos crimes de perigo concreto) ou, ao menos, uma possibilida-
de de risco de dano (nos crimes de perigo abstrato), conquanto haja,
de fato, uma subsunção formal do comportamento ao tipo penal. Em
verdade, não haverá crime quando o comportamento não for sufi-
ciente para causar um dano, ou um perigo efetivo de dano, ao bem
jurídico – quando um dano, ou um risco de dano, ao bem jurídico não
for possível diante da mínima ofensividade da conduta.
O relator compreendeu também não ser razoável que o Direito Pe-
nal e todo o aparelho estatal movimentem-se no sentido de atribuir
relevância à hipótese em apreço. Destacou que sequer houve prejuí-
zo material, pois os objetos foram restituídos à vítima. Motivo a mais
para a incidência do postulado.

Noutro passo, reportou-se a precedentes da Turma segundo os quais furto


qualificado ou majorado não impede a possibilidade de aplicação do princípio
da insignificância.
Além disso, assentou que as circunstâncias do caso demonstram a presen-
ça dos vetores traçados pelo Supremo Tribunal Federal para configuração do
mencionado princípio (HC 84.412).
HC 181389 AgR/SP, rel. Min. Gilmar Mendes, julgamento em 14.4.2020.
(HC-181389)

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DIREITO CONSTITUCIONAL
RECLAMAÇÃO
Desautorização de entrevista com preso e censura prévia

A Segunda Turma, por maioria, desproveu agravo regimental interpos-


to contra decisão que negou seguimento a reclamação em que se apontava
desrespeito à autoridade da decisão proferida pelo Supremo Tribunal Federal
(STF) na ADPF 130.

No caso, a reclamante alegava que o juízo reclamado, ao desauto-


rizar entrevista jornalística com custodiado, teria incorrido em cen-
sura prévia, em afronta aos arts. 5º, IX e XIV, e 220 da Constituição
Federal (CF) (1).
O colegiado apontou inexistir similitude entre o decidido no ato
reclamado e o assentado pelo STF na citada ADPF 130, e ressaltou a
impossibilidade de se utilizar a reclamação como sucedâneo recursal
ou atalho processual.
Observou que o tribunal reclamado não se fundamentou em ne-
nhum dispositivo da Lei de Imprensa. Depreende-se do julgado que
não houve restrição à liberdade de imprensa, nem qualquer espécie
de censura prévia ou de proibição de circulação de informações que
configure ofensa ao assentado pela corte na ADPF.
Com efeito, o juízo a quo, ao analisar a situação fática, destacou
a importância da proteção das investigações e da prevenção de pos-
síveis prejuízos processuais, inclusive quanto ao direito ao silêncio,
além da necessidade de proteção do próprio custodiado, cuja sanida-
de mental ainda era discutível. Concluiu, diante dessas ponderações,
que, pelo menos naquele momento, a realização da entrevista pleite-
ada não seria adequada.

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Mês de Abril de 2020

A Turma acrescentou que, posteriormente, o custodiado foi declarado inim-


putável, em virtude de diagnóstico de “transtorno delirante persistente”, tendo
sido a ele imposta medida de segurança de internação por prazo indeterminado.
A ministra Cármen Lúcia acompanhou a conclusão do voto do relator, mas
não os seus fundamentos. Segunda a ministra, a circunstância de alguém
estar privado da sua liberdade de locomoção não cerceia também a sua liber-
dade de expressão. Entretanto, considerou, no caso, a circunstância de que
a pessoa que seria entrevistada foi reconhecida como alguém que não tem
condições de se manifestar livremente. Por isso, haveria colisão de direitos
fundamentais entre o direito à liberdade de expressão, que garante a demo-
cracia, e a dignidade humana, que haveria de ser preservada na hipótese.
Vencido o ministro Edson Fachin que deu provimento ao agravo regimental
para julgar procedente a reclamação. Entendeu que, em razão da fundamen-
talidade que a liberdade de expressão possui no estado de direito democráti-
co, não encontra amparo a decisão judicial que, sem examinar os parâmetros
reconhecidos pela jurisprudência deste tribunal, restringe, indevidamente, a
imprescindível atividade jornalística.
Para o ministro, ainda que relevantes os fundamentos da decisão reclama-
da, a restrição à liberdade de expressão só poderia ser justificada se tivesse
em conta os demais elementos que a resguardam. Ressaltou que, à época,
havia elevado interesse público na informação a ser obtida decorrente de
fato ocorrido durante uma campanha presidencial. Ponderou que a entrevista
sequer foi realizada, providência que, à míngua de fortes razões, contraria o
disposto no art. 13.2 do Pacto de San José da Costa Rica. Ou seja, a decisão
reclamada, sem se pronunciar sobre o elevado interesse público na realiza-
ção da entrevista, impediu que ela fosse feita, coarctando, indevidamente, o
alcance da liberdade de expressão.

Ademais, no que diz respeito à saúde mental do custodiado, as-


sentou que o exame de sanidade para fins de responsabilidade penal
não se confunde nem substitui o procedimento de tomada de decisão.

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GRAN JURIS INFORMATIVOS – Informativos do STF
Mês de Abril de 2020

No ponto, citou o disposto nos arts. 84 e 87 da Lei n. 13.146/2015


(2). Frisou que esses elementos seriam ainda mais relevantes espe-
cialmente ao considerar-se que tanto o juiz responsável pela investi-
gação quanto o responsável pela execução autorizaram a entrevista.

(1) CF: “Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer
natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País
a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes: (...) IX - é livre a expressão da ativida-
de intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de
censura ou licença; (...) XIV - é assegurado a todos o acesso à informação
e resguardado o sigilo da fonte, quando necessário ao exercício profissional;
(...) Art. 220. A manifestação do pensamento, a criação, a expressão e a
informação, sob qualquer forma, processo ou veículo não sofrerão qualquer
restrição, observado o disposto nesta Constituição.”
(2) Lei n. 13.146/2015: “Art. 84. A pessoa com deficiência tem assegurado
o direito ao exercício de sua capacidade legal em igualdade de condições com
as demais pessoas. (...) Art. 87. Em casos de relevância e urgência e a fim
de proteger os interesses da pessoa com deficiência em situação de curatela,
será lícito ao juiz, ouvido o Ministério Público, de oficio ou a requerimento do
interessado, nomear, desde logo, curador provisório, o qual estará sujeito, no
que couber, às disposições do Código de Processo Civil.”
Rcl 32052 AgR/MS, rel. Min. Gilmar Mendes, julgamento em 14.4.2020.
(Rcl-32052)

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Mês de Abril de 2020

*Informativo: 974
*Data de divulgação: 30 de abril de 2020

DIREITO CONSTITUCIONAL
ORGANIZAÇÃO DOS PODERES
Covid-19 e tramitação de medidas provisórias

O Plenário iniciou julgamento conjunto de referendos em medidas


cautelares concedidas em arguições de descumprimento de precei-
to fundamental (ADPFs) em que se discute a possibilidade de que,
durante a situação emergencial provocada pela pandemia do novo
coronavírus, medidas provisórias (MPs) sejam instruídas por sessão
remota no Plenário da Câmara dos Deputados e do Senado Federal
mediante a emissão de parecer por parlamentar previamente desig-
nado, em substituição à Comissão Mista.

Preliminarmente, os ministros Alexandre de Moraes (relator), Roberto


Barroso, Luiz Fux, Cármen Lúcia, Ricardo Lewandowski e Gilmar Mendes co-
nheceram das ADPFs. No ponto, frisaram que o tema em debate é o equilíbrio
entre o Executivo e o Legislativo, sob o prisma do poder de edição das medi-
das provisórias, de um lado, e a necessidade de controle, de outro. A ADPF é
o instrumento capaz de realizar essa compatibilização em tempo hábil.
Em divergência, os ministros Edson Fachin, Rosa Weber e Marco Aurélio não
conheceram das ADPFs. Consideraram não caber ao STF definir o alcance de nor-
mas procedimentais das duas Casas do Congresso por meio desse tipo de ação.

No mérito, os ministros relator, Luiz Fux, Ricardo Lewandowski e


Gilmar Mendes referendaram as medidas cautelares para autorizar

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GRAN JURIS INFORMATIVOS – Informativos do STF
Mês de Abril de 2020

que, durante a emergência em Saúde Pública de importância nacional


e o estado de calamidade pública decorrente do novo coronavírus, as
medidas provisórias sejam instruídas perante o Plenário da Câmara
dos Deputados e do Senado Federal, ficando, excepcionalmente, au-
torizada a emissão de parecer em substituição à Comissão Mista por
parlamentar de cada uma das Casas designado na forma regimental;
bem como, que, em deliberação nos Plenários da Câmara dos Deputa-
dos e do Senado Federal, operando por sessão remota, as emendas e
requerimentos de destaque possam ser apresentados à Mesa, na for-
ma e prazo definidos para funcionamento do Sistema de Deliberação
Remota (SDR) em cada Casa; sem prejuízo da possibilidade das Casas
Legislativas regulamentarem a complementação desse procedimento
legislativo regimental.
Entenderam que a questão diz respeito à harmonia e independên-
cia dos Poderes, que deve ser compatibilizada com a prerrogativa
presidencial de edição de medidas provisórias, presentes os requisi-
tos de relevância e urgência, principalmente no momento atual. Sa-
lientaram que essa espécie legislativa vem sendo utilizada com fre-
quência para lidar com as situações emergenciais que se apresentam.
Nesse contexto, é preciso manter o equilíbrio existente entre essa
prerrogativa do chefe do Executivo e a competência exclusiva do Con-
gresso Nacional de tornar qualquer ato provisório em legislação de-
finitiva, inclusive as medidas provisórias, estas no prazo máximo de
120 dias.

O SDR foi inaugurado pelo Congresso para que as votações continuem em


funcionamento durante o período de pandemia. Isso significa que, por impos-
sibilidade física, as comissões parlamentares, inclusive a Comissão Mista, não
estão se reunindo. Essa realidade fática poderia se tornar, então, um obstá-
culo intransponível no processo legislativo das medidas provisórias. Por mais

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relevante e urgente que fosse a matéria tratada, o plenário ficaria impossibi-


litado, por consequência, de analisar o texto legal.
Desse modo, haveria desequilíbrio entre os Poderes, porque as medidas
provisórias editadas pelo presidente da República ficariam impossibilitadas de
ser aprovadas ou rejeitadas pelo Congresso.
Isso não significa, entretanto, que uma solução possível para esse impas-
se seria permitir que as medidas provisórias, uma vez editadas pelo chefe do
Executivo, tivessem sua vigência e eficácia prorrogadas independentemente
de tramitar perante o Legislativo, durante o estado de pandemia. Isso sig-
nificaria retornar ao regime constitucional anterior, em que o presidente da
República podia governar por meio de decretos-lei.

A Constituição de 1988, em relação às medidas provisórias, deixou


claro que a inércia do Legislativo em apreciá-las no tempo exigido
equivale à rejeição do texto. Foi a solução encontrada para evitar que
o presidente da República se tornasse o único legislador do país.

Por outro lado, também não se poderia aguardar o fim da situação de pan-
demia e a retomada das reuniões da Comissão Mista para que as medidas pro-
visórias fossem devidamente analisadas, sob pena de anular completamente
essa prerrogativa presidencial durante a situação de emergência. No ponto, é
preciso lembrar que a Constituição só admite a suspensão do prazo para análi-
se das medidas provisórias em um único caso: durante o recesso parlamentar.
A hipótese não existe sequer em estado de defesa ou estado de sítio.
É necessário compatibilizar o funcionamento do Congresso com as cir-
cunstâncias atuais, mantendo-se sua função deliberativa sobre as medidas
provisórias, especialmente considerada a relevância dessa espécie legislativa
durante a pandemia. Nesse sentido, o processo legislativo respectivo não
pode anular totalmente o presidente de República, como seria se fossem exi-
gidas as reuniões da Comissão Mista, que não ocorrerão; sequer pode anular

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o Legislativo, se fosse permitido manter a vigência e a eficácia das medidas


provisórias decorrido prazo superior a 120 dias.
Assim, a solução para a controvérsia está na possibilidade de, excepcional-
mente, designar-se um deputado e um senador para apresentarem seus pare-
ceres diretamente ao Plenário do Congresso. Essa alternativa garante a partici-
pação paritária de ambas as Casas, não afasta a discussão da medida provisória
pelo Legislativo, sequer inviabiliza a apresentação de emendas, e contempla um
procedimento possível de ser realizado mediante teleconferência.

Possibilita-se, portanto, durante o período de pandemia, que as


medidas provisórias sejam emitidas, com a posterior e efetiva análise
por parte do Legislativo, para transformá-las ou não em lei.

Em divergência, os ministros Edson Fachin, Rosa Weber e Marco Aurélio


indeferiram os pedidos formulados nas medidas acauteladoras. Entenderam
que, de acordo com a Constituição, não se admite substituir o parecer de co-
missão, no caso a Comissão Mista, por pareceres individuais.
Por sua vez, os ministros Roberto Barroso e Cármen Lúcia acompanharam
o relator quanto aos fundamentos de seu voto.
Entretanto, sublinharam haver informações nos autos, prestadas pela Câ-
mara e Senado, no sentido da iminência de edição de ato conjunto disciplinan-
do regime de tramitação das medidas provisórias durante esta emergência de
saúde pública. Nesse sentido, no momento em que prestadas as informações,
o ato em questão ainda não estava em vigor. Isso significa que o ato impug-
nado não existia quando da propositura de ambas as ADPFs, sequer quando
do provimento cautelar que se pretende referendar.
Portanto, o STF não pode funcionar como órgão consultivo a respeito de
ato ainda em gestação. Além disso, não pode se manifestar sobre a consti-
tucionalidade de ato sem que ele tenha sido impugnado e sem que ele tenha
sido objeto de contraditório.
Assim, afirmaram, em obiter dictum, que o ato conjunto editado pelo
Congresso tem presunção de validade e produz regularmente seus efeitos até

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Mês de Abril de 2020

que, eventualmente, o STF se pronuncie em sentido diverso. Então, não con-


cederam a cautelar para assegurar a validade de conteúdo do ato impugnado,
pois ele não foi objeto das ações.
Em seguida, o ministro Dias Toffoli pediu vista dos autos.
ADPF 661 MC-Ref/DF, rel. Min. Alexandre de Moraes, julgamento em
22.4.2020. (ADPF-661)
ADPF 663 MC-Ref/DF, rel. Min. Alexandre de Moraes, julgamento em
22.4.2020. (ADPF-663)

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Mês de Abril de 2020

DIREITO CONSTITUCIONAL
ORGANIZAÇÃO DOS PODERES
Covid-19: direito do trabalho e pandemia do novo Coronavírus

O Plenário iniciou julgamento conjunto de referendo em medida cautelar


em ações diretas de inconstitucionalidade ajuizadas contra diversos artigos
da Medida Provisória (MP) 927/2020.

A referida MP dispõe sobre a possibilidade de celebração de acor-


do individual escrito, a fim de garantir a permanência do vínculo
empregatício, durante o período da pandemia do novo Coronarvírus
(COVID-19), bem como sobre diversas providências a serem tomadas
nesse período de calamidade pública relativas aos contratos de tra-
balho.

O ministro Marco Aurélio (relator) referendou a decisão negativa de con-


cessão do pedido cautelar em todas as ADIs.
O relator analisou, em primeiro lugar, a ADI 6342.

Asseverou, inicialmente, que a República pressupõe a observância


da existência de três poderes, independentes e harmônicos. Dessa for-
ma, o controle concentrado de constitucionalidade de atos normativos
deve ser feita de forma cautelosa, observando-se, tanto quanto possí-
vel, a higidez do diploma editado.
Para o ministro, não se pode potencializar, principalmente em
época de crise, partindo para presunção de ofensa, a cidadania, a
dignidade humana, o Estado Democrático de Direito. São institutos
abstratos, que encerram verdadeiros princípios. De igual modo, não
se tem como assentar a impossibilidade de o chefe do Poder Executi-
vo nacional atuar provisoriamente, ficando o ato submetido a condi-

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Mês de Abril de 2020

ção resolutiva, considerado o crivo do Congresso Nacional, no campo


trabalhista e da saúde no trabalho. Para o relator, o presidente da
República podia e deveria atuar, como o fez, nessas duas áreas sen-
síveis. Portanto, a alegação de vício formal não se faz suficiente ao
implemento da tutela de urgência.

Em seguida, o ministro Marco Aurélio analisou os dispositivos impugnados


quanto aos apontados vícios materiais.
Observou que o art. 2º, que versa que empregado e empregador poderão,
com vistas à manutenção do vínculo empregatício, estabelecer parâmetros,
sobrepõe o acordo individual a possíveis instrumentos normativos e remete
aos limites revelados na Constituição Federal. Para o relator, a liberdade do
prestador dos serviços, especialmente em época de crise, quando a fonte do
próprio sustento sofre risco, há de ser preservada, desde que não implique,
como consta na cláusula final do artigo, a colocação em segundo plano de ga-
rantia constitucional. É certo que o inciso XXVI do art. 7º da CF dispõe sobre
o reconhecimento das convenções e acordos coletivos de trabalho, quando
então se tem, relativamente a convenções, ajuste formalizado por sindicato
profissional e econômico e, no tocante a acordo coletivo, participação de sin-
dicato profissional e empresa. Entretanto, o preceito não coloca em segundo
plano a vontade do trabalhador. Sugere que o instrumento coletivo deve ser
formalizado em sentido harmônico com os respectivos interesses. Descabe,
no que ficou prevista a preponderância do acordo individual escrito, voltado à
preservação do liame empregatício, reconhecer, no campo da generalidade, a
pecha de inconstitucionalidade.
Quanto ao art. 3º, VI, que estabelece que o empregador poderá suspender
exigências administrativas em segurança e saúde no trabalho, o ministro adu-
ziu que as exigências estão direcionadas ao prestador dos serviços. O dispo-
sitivo deve ser encarado no sentido de afastar a burocratização dos serviços,
exigências que acabem por gerar clima de tensão entre as partes relacionadas.

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Mês de Abril de 2020

Em relação ao art. 8º, que trata da concessão de férias durante o estado


de calamidade pública, e prevê que a satisfação do adicional de um terço po-
derá ocorrer até a data na qual devida a gratificação natalina, concluiu ter-se
disposição legal voltada a fazer frente às consequências da calamidade. O
artigo objetiva, sopesados valores, viabilizar a continuidade do vínculo em-
pregatício, mitigando ônus. A norma contida no inciso XVII do art. 7º da CF
(gozo de férias anuais remuneradas com, pelo menos, um terço a mais con-
siderado o salário normal) direciona ao reconhecimento de período que visa
recuperar as forças pelo prestador dos serviços. Diante de situação excepcio-
nal verificada no País, não se afastou o direito às férias, nem o gozo destas
de forma remunerada e com o adicional de um terço. Houve apenas projeção
do pagamento do adicional, mesmo assim impondo-se limite, ou seja, a data
da satisfação da gratificação natalina, a fim de equilibrar o setor econômico-
-financeiro. Quanto ao parágrafo único desse art. 8º, que rege a conversão
do terço das férias em abono pecuniário, o relator afirmou que, a teor da
legislação vigente, o fenômeno depende da concordância do empregador e
que, no que diz respeito a essa conversão, a ocorrer mediante provocação do
empregado, apenas se projetou a satisfação para a data referida no caput
do artigo.
O ministro reputou ser aceitável, sob o ângulo constitucional, o disposto
no art. 14, que versa, considerado o estado de calamidade pública, a inter-
rupção das atividades e o regime especial de compensação de jornada tendo
em vista o banco de horas, quer se verifique saldo a favor de um ou de outro
dos partícipes da relação jurídica. Para o relator, remeteu-se a instrumento
normativo a prever a compensação, fixando-se o prazo de até 18 meses,
contado do encerramento do estado de calamidade, para o acerto, ou seja, a
satisfação de horas não compensadas. Por sua vez, o § 1º do art. 14 trata da
compensação quando o empregado, recebendo salário, fica sem prestar ser-
viço, por força dos efeitos da calamidade pública. Essa compensação situa-se
no campo da razoabilidade e fica limitada ao extravasamento da jornada em

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Mês de Abril de 2020

duas horas, não podendo exceder a dez. Tem-se, no caso, normatização que
não conflita, ao primeiro exame, com a Constituição. O § 2º do mesmo artigo
disciplina a compensação do saldo de horas mencionando-se que poderá ocor-
rer independentemente de acordo individual ou coletivo. Há de observar-se a
excepcionalidade do quadro vivenciado no País e, portanto, a conveniência de
sopesar-se valores. No exame definitivo da ADI, caberá ao colegiado dizer do
conflito, no que afastada a necessidade de acordo individual ou coletivo, com
o disposto no inciso XIII do art. 7º da CF, a prever o fenômeno – compensa-
ção e redução da jornada mediante acordo ou convenção coletiva de trabalho.
No que diz respeito ao art. 15, que fez alusão à calamidade pública, sus-
pendendo-se a obrigatoriedade de realização dos exames médicos ocupa-
cionais, clínicos e complementares, exceto para efeito de demissão, regis-
trou que a regência da matéria não está, de forma explícita, na Constituição
Federal, mas nas regras normativas ordinárias de proteção ao trabalho. De
qualquer forma, observado o § 1º contido nesse artigo, os exames hão de ser
realizados no prazo de 60 dias, contado da data de encerramento do estado
de calamidade, revelando o § 2º a feitura, imediata, caso haja indicação por
médico coordenador do programa de controle, prevendo o § 6º que, datan-
do o último exame médico ocupacional de menos de 180 dias, o demissional
poderá ser dispensado. Para o relator, prevaleceu o bom senso, a noção de
razoabilidade presente a óptica proporcionalidade. Não há situação normativa
a ser glosada de forma precária e efêmera. Tudo recomenda que se aguarde,
em primeiro lugar, o crivo do Congresso Nacional quanto à Medida Provisória
e, em segundo, a apreciação definitiva pelo colegiado do Supremo Tribunal
Federal (STF).
Relativamente ao art. 16, que suspendeu, considerado o estado de cala-
midade pública, a realização de treinamentos periódicos e eventuais, o rela-
tor reconhecer ter havido o necessário cuidado na disciplina da matéria, não
surgindo contexto a direcionar à suspensão da eficácia do que disposto. No
§ 1º, tem-se que esses treinamentos serão implementados no prazo de 90

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dias, calculados da data de encerramento da situação que assola o País, ver-


sando o § 2º que, durante o estado de calamidade, os treinamentos poderão
ser realizados na modalidade de ensino a distância, cabendo ao empregador
observar os conteúdos práticos de modo a garantir que as atividades sejam
executadas com segurança.
Ao analisar o art. 26, que se refere, na parte primeira, ao estado de ca-
lamidade pública, encerrando a permissão de, mediante acordo individual
escrito, ter-se jornada de 12 horas de trabalho por 36 horas de descanso, no
campo sensível da saúde, ressaltou que a disciplina não conflita, de início,
com a Constituição Federal. Cabe, entretanto, ao Tribunal, mediante atuação
em colegiado, dizer da validade ou não de submissão desse sistema apenas
a acordo individual, dispensado o instrumento coletivo. Nos incisos I e II do
mesmo artigo, remete-se à prorrogação da jornada do pessoal da saúde,
uma vez observada a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). Não há como
concluir-se, em exame primeiro e temporário, pelo conflito, do que previsto,
com a Lei Maior.
Depreendeu que o art. 27, que prevê a compensação, das horas suple-
mentares, no campo da saúde, no período de 18 meses, visa atender à situ-
ação emergencial notada nos dias de hoje.
Quanto ao art. 28, que trata da suspensão de prazos processuais em pro-
cedimentos administrativos, considerado auto de infração trabalhista e notifi-
cação de débito alusivo ao Fundo de Garantia do Tempo de Serviço, reputou
que se tem a observância da razoabilidade na disciplina, novamente presente
o balizamento no tempo e a pandemia verificada.
Para o ministro, o art. 29, que, tendo em vista a prestação de serviços,
afasta o enquadramento, como doença ocupacional, de caso de contaminação
pelo coronavírus, atende, de início, aos ditames constitucionais.
Já o art. 31, direcionado à atuação dos auditores, busca não perturbar,
além do necessário a vida empresarial, não implicando conclusão sobre a co-
locação, em segundo plano, da fiscalização.

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O relator ainda compreendeu estar norteado pela razoabilidade o art. 36, a


validar atos de natureza trabalhista dos empregadores, a não revelarem contra-
riedade ao que previsto na Medida Provisória, implementados no período dos 30
dias anteriores à entrada em vigor desta, ou seja, quando já existente quadro
preocupante, sob a óptica da saúde pública, na comunidade internacional.
Em seguida, o ministro passou ao analisar a ADI 6344 relativamente aos
dispositivos remanescentes, não impugnados na ADI 6342.
Registrou, de início, a revogação do art. 18 da MP 927/2020 pela MP
928/2020, descabendo, sob o ângulo de possível risco, a análise do que nele
se contém.
Quanto ao parágrafo único do art. 1º, assentou que o dispositivo apenas
revela que, durante o estado de calamidade pública, reconhecido por decreto
legislativo, tem-se configurada, para fins trabalhistas, situação jurídica de
força maior, remetendo ao art. 501 da CLT. Segundo o ministro, considerada
a pandemia que chegou ao Brasil, ninguém coloca em dúvida que se tem qua-
dro a evidenciar o fenômeno tal como definido no aludido artigo. Não se pode
cogitar de imprevidência do empregador. Também há de reconhecer-se que o
isolamento decorrente do estado de calamidade pública repercute na situação
econômica e financeira das empresas.
Quanto ao art. 4º, § 5º, que versa norma segundo a qual o período de
uso de aplicativos e programas de comunicação, fora da jornada de trabalho
normal do empregado, não constitui tempo à disposição, regime de prontidão
ou de sobreaviso, exceto se houver previsão em acordo individual ou coleti-
vo, afirmou que se tem normatização que, ao primeiro exame, não merece o
afastamento. Deve ser apreciada, em primeiro lugar, pelo Congresso Nacional
e, em segundo, se aparelhado este processo ou viabilizado o crivo, pelo co-
legiado do STF. A situação retratada, no campo de excepcionalidade, cessada
a prestação dos serviços com a continuidade da satisfação do salário, surge
razoável. Em última análise, o que afasta o preceito é a possibilidade de con-

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Mês de Abril de 2020

siderar-se o tempo nele referido como de trabalho prestado e caminhar-se


para remuneração suplementar.
No que se refere ao art. 6º, § 2º, que encerra a possibilidade de empre-
gado e empregador negociarem a antecipação de períodos futuros de férias,
mediante acordo individual escrito, apontou que, mais uma vez, atentou-se
para a excepcionalidade do momento vivenciado, buscando-se manter o vín-
culo empregatício, uma vez não havendo campo para a prestação de serviços
e sendo possível ter-se o gozo de período futuro de férias. De qualquer for-
ma, é necessária manifestação de vontade do prestador dos serviços, no que
prevista a negociação.
Em relação ao art. 9º, o relator entendeu que o regramento igualmente
situa-se no campo da normatização, em um primeiro passo, a cargo do chefe
do Poder Executivo nacional e, num segundo, do Congresso Nacional. O artigo
preceitua que o pagamento da remuneração alusiva às férias concedidas, em
razão do estado de calamidade pública, poderá ser efetuado até o quinto dia
útil do mês subsequente ao início do gozo do descanso anual, não aplicável o
versado no art. 145 da CLT. Ou seja, apenas projeta o pagamento da remu-
neração das férias, estabelecendo o quinto dia do mês subsequente ao início.
Tudo recomenda que se aguarde a manifestação do Congresso Nacional e, se
for o caso, do colegiado do STF.
Quanto ao art. 13, caput, que trata da possibilidade de os empregadores
anteciparem o gozo de feriados não religiosos federais, estaduais, distritais e
municipais, notificando, por escrito ou por meio eletrônico, o conjunto de em-
pregados beneficiados com antecedência de, no mínimo, 48 horas, mediante
indicação expressa dos feriados aproveitados, o ministro reputou que o dis-
positivo tem como objetivo maior preservar a fonte de sustento do prestador
dos serviços, mitigando ônus dos empregadores. O § 1º cogita da eventual
compensação do saldo em banco de horas, dispondo o § 2º sobre a necessi-
dade de concordância do empregado, manifestada em acordo individual escri-

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GRAN JURIS INFORMATIVOS – Informativos do STF
Mês de Abril de 2020

to. Para o relator, há de prevalecer a razoabilidade, na vertente proporciona-


lidade. A hora é de ter-se compreensão maior, sopesando-se valores.
Por derradeiro, entendeu que, no art. 30, buscou-se certa segurança jurí-
dica, na relação entre empregados e empregadores. O dispositivo determina
que acordos e convenções coletivas vencidos ou vincendos no prazo de 180
dias, contados da data de entrada em vigor da Medida Provisória, podem ser
alvo de prorrogação, a critério do empregador, pelo período de 90 dias. Para
o ministro, é difícil conceber-se, estando os cidadãos em geral em regime de
isolamento, não se vivendo dias normais, que sindicato profissional promova
reunião dos integrantes da categoria, para deliberarem se aceitam, ou não, a
prorrogação de acordos e convenções coletivas vencidos ou vincendos.
No tocante às demais ADIs, o relator reportou-se aos fundamentos das
ações analisadas anteriormente, tendo em conta estar nelas compreendido o
objeto desses processos, considerados os dispositivos impugnados.
O ministro Marco Aurélio ressaltou que se deve ter presente que a quadra
atual exige temperança, equilíbrio na adoção de medidas visando a satisfação
de interesses isolados e momentâneos, isso diante da pandemia que resul-
tou no Decreto Legislativo 6/2020, por meio do qual reconhecido o estado de
calamidade pública. Cabe registrar a inquietação de partidos políticos com a
tomada de providências que urgiam, considerada a situação notada, deixan-
do-se de aguardar, sem que haja risco maior, sob o ângulo de não se poder
voltar ao estágio anterior, a definição política de atos formalizados pelo Exe-
cutivo nacional mediante medidas provisórias.

Em conclusão, o ministro Marco Aurélio afirmou que cumpre aten-


tar para a organicidade do Direito e aguardar o crivo do Congresso
Nacional quanto ao teor do diploma — judicialização de medida provi-
sória é exceção e não regra —, não se devendo atuar com açodamen-
to, sob pena de aprofundar-se, ainda mais, a crise aguda que maltra-
ta o País, em termos de produção, em termos de abastecimento, em
termos de empregos, em termos, alfim, de vida gregária, presente a

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GRAN JURIS INFORMATIVOS – Informativos do STF
Mês de Abril de 2020

paz social. Há de somar-se esforços objetivando não apenas mitigar


os efeitos nefastos do estado de calamidade pública, mas também
preservar a segurança jurídica, sem exacerbações, sem acirramen-
tos.

Em seguida, o julgamento foi suspenso.


ADI 6342 Ref-MC/DF, rel. Min. Marco Aurélio, julgamento em 23.4.2020.
(ADI-6342)
ADI 6344 Ref-MC/DF, rel. Min. Marco Aurélio, julgamento em 23.4.2020.
(ADI-6344)
ADI 6346 Ref-MC/DF, rel. Min. Marco Aurélio, julgamento em 23.4.2020.
(ADI-6346)
ADI 6348 Ref-MC/DF, rel. Min. Marco Aurélio, julgamento em 23.4.2020.
(ADI-6348)
ADI 6349 Ref-MC/DF, rel. Min. Marco Aurélio, julgamento em 23.4.2020.
(ADI-6349)
ADI 6352 Ref-MC/DF, rel. Min. Marco Aurélio, julgamento em 23.4.2020.
(ADI-6352)
ADI 6354 Ref-MC/DF, rel. Min. Marco Aurélio, julgamento em 23.4.2020.
(ADI-6354)

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