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CDU : 343 .2
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A violação de direitos autorais co11stitui crime (Código Penal, art.184 e§§, Lei 11º 1O. 695, de OJ/07/2003), sujeitando-se à busca
e apreensão e i11de11izações diversas (Lei 11°9.610/ 98).
Todos os direitos desta edição reservados à Tirant Empório do Direito Editorai Ltda.
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DIREITO PENAL
Parte Geral
9ª edição
revista, atualizada e ampliada
tirant
loblanch
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NOTA DO AUTOR PARA A 9ª EDIÇÃO diferença ntr (i) o valor do patrimônio e (ii) o valor compatív l
com o rendimento lícito do condenado, m infrações com pena má-
xima cominada superio r a 6 anos, institui presunção de patriinônio
Apr senta1nos aos studant s prot ssores d Dir ito Penal, b m
ilícito p lo crit 'rio arbitrário da quantidad de p na máxima d 6
como aos profissionais e demais especialistas do Sistema de Justiça (s is) anos cominada ao crim , além d r pr ntar prática xtorsiva
Criminal, a 9ª <lição (2020) do livro Direito Penal - Parte Geral, contra o povo da p rit ria dos e ntros urbanos, pela impossibili-
atualizado ampliado pelo xam crítico d rec nt s alt rações na lei
dade d prova da orig m lícita do patrimônio d pois do d curso
penal, d novo publicado e distribuído p la Editora Tirant Lo Blanch, de algum te1npo;
uma da maior s mpr sas ditoriais do mundo ocid ntal.
e) a ubordinação do livramento condicional às exig "ncia (i) d
1. Antes de tudo, é importante enfatizar: o livro mantém o
bom comportamento ( m lugar do comportamento satisfatório anterior)
1nod lo bipartido d crim , struturado p lo cone itos d tipo de
(ii) d ausência de falta grave nos últimos 12 (doze) m s s xp rim a
injusto d culpabilidade, simplificando o cone ito d fato punível, cone pção punitivista arcaica do n1al chamado Proj to anticrim , na
na linha da mais moderna dogmática penal.
contra1não das propostas político-crüninais 1nodernas;
2. As principais novidad s da pr s nt 9ª dição (2020) apar e m
d) a introdução de novas hipóteses de suspensão do prazo prescri-
na descrição crítica da legítima defesa de refém) por agente de segu-
ion l, amb ' é riti ' el: (i) a pend "ncia de embargos de d daração
rança pública, d ploráv l inovação da Lei 13.964/19, com proble1nas ou d r cursos aos Tribunais up rior s, s inad1nissív is, assu1n m o
conceituais político-criminais s 'rios: a) do ponto de vista cone itual,
falso pr ssuposto d que o x rcício do direito de recorrer d t rmina
a locução risco de agressão, como projeção psíquica de uma situação
xtinção da punibilidade por prescrição - e não a morosidade no jul-
hipotética, representa insegurança para o cidadão; b) do ponto de gam nto dos r cur os, xplicáv 1por fator struturai funcionais
vi e lí ic -crimin l a frequ "'ncia d construções psíquicas do risco históricos; (ii) a hipót s de acordo d não p rsecução p nal, não
de agressão por ag nt s d s gurança pública d v rá s manit star na
cu1nprido ou não r scindido, constitui modalidad d negócio penal
estatística d mort s injustificadas d · jov ns negros pobr s no Brasil. do int r sse do Estado, geralm nt imposta ao cidadão pela am aça d
L g a l rn i a saudáv l s ria xcluir ss xcr se nt parágrafo da overcharging penal, com efeitos d privação de lib rdad s m processo
l gislação penal - até porqu o conceito tradicional de legítima d t sa
p nal, s 1n contraditório s 1n prova critninal - logo, não poderia t r
cobr todas as situaçõ s imagináv is. o t ito d susp nd r o prazo pre cricional.
3. Outras inovações da Lei 13. 964/ 19, estruturadas gundo a ob- 3. Mais uma vez, nunca é demais reafirmar os funda1nentos
sessão puni tivista do senso comum, tamb 'm são d cri ri ticam n :
políticos dos conceitos ci ntíficos sobr violência criminal cnm1-
a) a elevaçã d cução da pena privativa d liber- nalidad , cada vez mais d stacados nas refl xôes sobre crim p na:
dad para 40 (quar nta) anos 1 galiza uma t oria vulgar d crimina- om nt a d mocracia r al pod r <luzir a viol "ncia strutural insti-
lidad , em contraste com as verificaçõ s mpíricas da Criminologia, t u i nal d i dad d i _uai , inju t p r n qu n ia r duzir
pela qual quanto maior a pena, maior ar incid "ncia - afinal, a prisão a viol "'ncia p ssoal d indivíduos deformados por condições sociais
só nsina a viv r na prisão; adv rsas, insuportáv i insup ráv is p las vias nonnais da r lação
b) a expropriação patrimonial d b ns corr spond nt s à api ali r balh al riad .
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CAPÍTULO 7
CAPÍTULO 9
TIPO DE INJUSTO DOLOS,O •••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••• 139
TIPO DE INJUSTO DE OMISSÃO DE AÇÃO .•.........•................. 209
I. Introdução ........................................................................... •··•····•·•· 139
I. Introdução ........................................................................ ........... ... . 209
II. Tipo objetivo .................................................................................. 139
II. Ação e omissão de ação ................................................................... 209
1. Causação do resultado ........ ...... .............................. ................... 140
III. Omissão de ação própria e imprópria ............................................ 211
1. 1. Teoria da equivalência das condições .................................... 141
IV A omissão de ação impróp ria e o p rincípio da legalidade ................ 213
1.2. Teoria da adequação ................................... .... ...................... 146
1. A proibição de analogia penal .. .... ... .. ............ .... ....... .. ... ... ..... .. .. . 213
2. Imputação (objetiva) do r sultado ............................................. 147
2 . A proibição de ind terminação p naL. ........................ .. ............. 214
2.1. A ação do autor não cria risco do res ultado .... ...................... 148
V Estrutura dos tipos de omissão de ação ............... .............. .. ... ....... ... 217
2.2. O risco criado pela ação não se realiza no resultado .............. 149
1. O tipo objetivo da omissão própria e imprópria: e[ m ntos comuns .. 218
III. Tipo subjetivo ......................... ...... ................................................. 151
2. O tipo objetivo da omissão de ação imprópria: elementos específicos .... 220
1. Dolo ......................................... ................................................. 15 l
3 . O tipo subj etivo da omissão de ação .......................................... 226
1.1. Espéci s de dolo ..................................................................... 15 3
VI . Conhecimento do injusto e erro de mandado .................... ............ 228
1.1.1. Dolo direto de 1º grau .. ......... .............. .... ...................... 155
1.1.2. Dolo direto de 2° grau ................................................... 156 VII. Tentativa e desistência na omissão de ação .................................... 229
1.1.3. Dolo even tual .................................. ......... ........ ............. 156 VII I. A exigibilidade da ação mandada ................................................ 230
1.2. Dolo alternativo ................................................................... 165
1.3. A dimensão temporal do dolo .............................................. 166 CAPÍTULO IO
2. Erro de tipo ..... ... ........ .. ............ ................................................. 166 ANTIJURIDICIDADE E JUSTIFICAÇÃO •........•........................... 231
2.1. Erro de tipo e erro de subsunção ................ .................. ........ 167 I. Teoria da anti juridicidade .................................................. ............... 231
2.2. A intensidade de repre entação das circunstâncias de fato ..... 169 1. Introdução ................................................................................. 231
3. Atribuição subjetiva dor sultado em desvios causais .................. 171 2 . Fundamento das justificações ......................................... .. .......... 235
4. Elementos subjetivos especiais .. ...... .......................... ... .............. 175
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3. Conhecimento e erro nas justificações ....................................... 236 2. Consentimento presumido ........................................................ 283
4. Efi iro das justificações .............. ................................................. 239 3. O problema da eutanásia ........................................................... 285
II. Justificações ................................... ................................................. 240 F) Justificação nos tipos d imprudência .............................................. 288
A) Legítima defesa ............................................................................... 240
1. Situação justificante .................. ................................................. 241 CAPÍTULO I I
2. Ação justificada......................... ................................................. 244 CULPABILIDADE E ExcULPAÇÃO ••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••• 291
2.1. Elementos ubjetivos da ação de defe a ................................ 244 I. Conceito de culpabilidade ................................................................ 291
2.2. Elementos objetivos da ação de defesa .................................. 245
1. Desenvolvimento do conceito d culpabilidade ........................ . 292
2.3. A permissibilidade da legítima defesa ................................... 247 1. 1. Conceito psicológico de culpabilidade ............ .... .... .... ... .. .... 292
3. Particularidades ........................ ................................................. 250 1.2. Conceito normativo de culpabilidade .............. .... .... .... ... .. .... 293
a) Legítima defesa de outrem ................................................... 250 2. Definições materiais do conceito normativo de culpabilidade .... 295
6) Extensão da justificação ....................................................... 250 3. O princípio da alteridade como base da responsabilidade social .. 299
c) Excesso de legítima defesa ........ .... ................... .......... ........... 251
II. Estrutura do conceito de culpabilidade ........................................... 301
4. Legítima defesa d refi' m, por ag nte de s gurança pública ........ 251
1. Capacidade d culpabilidade ...................................................... 301
B) Estado d n cessidade ..................................................................... 253 1. 1. Incapacidade de culpabilidade .............................................. 302
1. Situação justificante ................................................................... 254 1.2. Capacidade relativa de culpabilidade .................................... 306
2. Ação justificada.......................................................................... 256 1.3. Problemas político-criminais especiais .................................. 307
2.1. Elementos ubjetivos da ação necessária ........ ................... .... 257 2. Conhecimento do injusto e erro de proibição ........... ................. 311
2.2. Elementos objetivos e normativos da ação necessária ............ 257 2. 1. Conhecimento do inj usto .................................................... 312
3 . Posições especiais de dever ........ ................................................. 263 2.2. Consequências legais do erro de proibição ............................ 322
C) Estrito cumprim nto d d v r legal ...................... ......... ................. 267 2.3. Natureza evitável ou inevitável do erro de proibição ............. 323
1. Situação justificante .................. ................................................. 267 2.4. Meio, de conhecimento do injusto ....................................... 324
2. Ação justificada.......................................................................... 268 2.5 . Erro de proibição na lei penal brasileira ................................ 327
2.1. Ruptura dos limites do dever na aplicação da lei .................. 268 2.6. Espécies de erro de proibição na lei penal brasileira .............. 332
2.2. Cumprimento de ordens antijurídicas .................................. 270 3. Exigibilidade de comportamento diverso ................................... 335
3. Elementos subjetivos do strito cumprim nto d dever l gal ...... 271 3. 1. Normalidade do fato e exigibilidade jurídica ........................ 335
D) Exercício regular d direito ...... ...... ................................................. 271 3.2. A inexigibilidade como fundamento geral de exculpação ...... 336
1. Situações justificantes ............... ................................................. 271 3.3. As situações de exculpação ................................................... 337
2. Ação justificada................... ...... ................................................. 275 a) Coação irresistível .................... ........ ....................... ..... ........ 338
3 . Elementos subjetivos no exercício regular de direito ................... 276 6) Obediência hierárquica ............ ......... ...................... ..... ........ 340
E) Consentimento do titular do bem jurídico ...................................... 276 c) Excesso de legítima defe a real por defeito emocional.. ......... 342
1. Consentimento real .................. ................................................. 278 d) Excesso de legítima defesa putativa por defeito emocional ... 344
1. 1. Objeto do consentimento ........ .... ................... ................... .. 278 a) Fato de consciência .................. ......... ...................... ..... ........ 345
1.2. Remoção de órgãos, tecido ou partes do corpo humano (Lei 6) Provocação da situação de legítima defesa ............................ 347
9 .434/97) .......................................................................... 280 c) Desobediência civil .............................................................. 347
1.3. Capacidade e defeito de consentimento ............................... 281 d) Conflito de devere .............................................................. 348
1.4. Manifestação do con entimento ........................................... 282
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CAPÍTULO 12 CAPÍTULO 14
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5. Modificação das condições d e execução ..................................... 588 1. 1. Realização de fato previsto como crime .............................. 617
6. Formalidades de cone ssão ........................................................ 588 1.2. Periculosidade criminal do autor. ...................................... 618
7. Revogação ................................................................................. 589 2. Objetivos das medidas de segurança .............................. ............ 620
8. Prorrogação do prazo ................................................................. 591 3. Espécies de m d idas de segurança ............................. ................. 621
9. Extinção da pena ...................... ................................................. 591 3.1. Hospital de custódia e tratam ento psiquiátrico ................. 622
B) Livramento condicional ................. ................................................. 591 3.2. Tratamento ambulatorial.. ................................................. 623
1. Espécies de livram ento condicional .... ........................................ 592 4. Duração das medidas de segurança .......................................... 624
2. Pressupostos do livramento condicional.. ................................... 593 5. Verificação de cessação da periculosidade criminal.. ................. 625
2.1. Pressupostos gerais ................... .................. ..... ..................... 594 6. Sub tituição e conversão das medidas de segurança ...................... 626
2.2. Pressupostos específicos ............ .. ................ .. ........................ 595 7. Pre criçáo da medida de segurança ....................................... 627
3. Condições de execução ............. ................................................. 597 8. Um conflito aparente de lei : o fim da medidas de egura.nça? 627
4. Formalidades de concessão ....... ................................................. 598 B) As M didas d Prot ção da Lei 10.216/2001 .................................. 628
5. Revogação ................................................................................. 598 1. Um novo modelo de saúde mental .......................................... 629
6. Efeitos da revogação ................. ................................................. 600 2. U m novo conceito psiquiátrico: pessoas portadoras de transtorno
7. Extinção da pena ...................... ................................................. 600 mental. .... .. ....... ... ...... ..... ...... ... ..... ....... ..... ........ ... ....... ...... .. 630
C) Os substitutivos penais da Lei 9.099/95:a transação penal e a suspensão 3. O s direitos de pessoas com transtorno m ental ........................ 631
condicional do processo .......... . ........... .. ........ .... .. .. ... . .... ... ......... ... .... ...... . 601 4. Regra e exceção : o tratam en to em liberdade e a internação psi-
quiátrica ............................... .. ..................................... 633
1. ransação penal ........................ ................................................. 602
R ·
5. equ1s1 .. t os da mternaçao
. - ps1qu1atnca
· ·' · ...................................... 635
1.1. Conceito .............................................................................. 602
1.2. Requisitos da transação penal.. ............................................. 602 6. As conseq uências para o sistema de justiça criminal. .. ..... ........ 637
1.3. Consequência jurídicas da transação penal .......................... 605 7. Desinternaçáo programada de pacientes com dependência institu-
cional ................................................................................. 638
2. Suspensão condicional do processo ............................................ 606
2 .1. Conceito .............................................................................. 606
8. Recomendações do C J aos Trib unais .................................... 639
9. As ex per iências forenses do modelo ant imanicomial da Lei
2.2. Pressupo tos de concessão ........ .................. ......................... . 607
10.216/2001 ...................................................................... 640
2.3. Condições de execução ............ .................. ......................... . 6 10
2.4. Revogação ............................................................................ 611
CAPÍTULO 22
2. 5. Extinção da pena .................................................................. 6 11
AÇÃO PENAL .................................................................... 643
CAPÍTULO 21 I. As limitações d emocrát icas do poder de punir .................................. 643
MEDIDAS DE SEGURANÇA ou MEDIDAS DE PROTEÇÃO? .......... 613 II. O s princípios constitucionais do processo penal .............................. 643
A) As Medidas de Segurança da legislação penal ............... ................... 61 3 1. Princípios de formação do pro e sso ........................................... 644
I. As vias alternativas do Direito Penal brasileiro ......... ................... 613 2. Princípios da p rova processual ................................................... 646
II. A crise insuperável das medidas de s gurança ........ ................... 614 III. Ação penal ..................................................................................... 648
1. Os problemas metodológicos das medidas de egurança .. ...... .. 6 14 1. Açao
~ penal pu' bI·1ca . . . . . . . .. .. .. . .. . .. .. .. .. . . . . . . . . . . . . . . . .. .. .. . .. .. ... . . .. . . . .. . . . . . 6 50
- pen al pu' 61.ica mcon
1. 1. A çao · d.1c10na
· d a...................................... 6 50
2. O problema de legalidade das medida de segurança .... ...... .. 615
1.2 . Açao
- penal pu' 61.ica con d.ic1ona · da . .. .. . . . .. . .. . .. .. . .. .. . .. .. . .. . . . .. .. . .. 6 51
III. As medidas d segurança da legislação penal ....... ..................... 61 7
- penal pu' 61.1ca extensiva..
1. 3. Açao · .............................................. 6 52
1. Pressuposto das medidas de segurança .................................... 617
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ANEXO
CAPÍTULO 24
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PRIMEIRA P ARTE
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I Conceito de Direito Penal 3. O Código Penal, estatuto legal que define crimes e prevê penas
medidas d proteção, o e ntro do programa d política penal do
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ameaça de pena 1• Os bens jurídicos p rot gidos p lo Dir ito P nal são penais ou p rman c r na área da responsabilidad civil, como pequenos
selecionados por critérios político-criminais fundados na Constitui- furtos em loj as, indústrias ou empresas em geral4; b) segundo, lesões
ção, o documento fundamental do moderno Estado D emocrático de bens jurídicos com máximo desvalor de resultado não podem ser
de Dir ito: r alidad s ou pot ncialidad s n c ssárias ou úteis para a punidas com p nas criminais absurdas ou cru' is - como ocorr com
xistência d s nvolvim nto individual social do s r humano 2 - por os chamados crimes hediondos, ess grot sco produto da imaginação
ex mplo, a vida, a integridade e saúde corporais, a honra, a liberdade punitiva do 1 gislador brasileiro.
individual, o patrimônio, a sexualidade, a família, a incolumidade, a paz,
a fé e a administração públicas constitu mos b ns jurídicos prot gidos
contra várias fonnas d 1 são p lo Código P nal. Como s v", os b ns 2. Objetivos reais do discurso jurídico crítico
jurídicos mais importantes da vida h umana individual ou col tiva são
1 cionados para prot ção p nal: a 1 são r alou am açada d ss s b n 1. A definição dos objetivos reais do Dir ito P nal permite compreen-
jurídicos pod d s ncadear as mais graves cons qu "ncias previstas no
der o significado político desse setor do ordenamento jurídico, como
ordenamento jurídico, as penas criminais ou as m edidas de prot ção.
c ntro da strat 'gia d controle social nas soei dades contemporâneas.
2. Contudo, a prot ção d b ns jurídicos r alizada p lo Dir ito N as formaçô s sociais capitalistas, struturadas m class s sociais anta-
Penal é d natur za subsidiária fragmentária - e, por isso, diz-s gônicas diferenciadas pela posição respectiva nas relaçõ s d produção e
qu o Dir ito P nal prot g bens jurídicos ap nas rn ultima ratio: d circulação da riqu za mat rial, m qu os indivíduos s r !acionam
por um lado, proteção subsidiária porque supõ a atuação principal como proprietários do capital ou como possuidores de força de trabalho -
de m eios de p roteção m ais efetivos do instrumental sociopolítico e ou seja, na posição d capitalistas ou na posição de assalariados -, todos
jurídico do Estado; por outro lado, proteção fragmentária porque os t nômenos sociais da base econômica e das instituições de control
não prot g todos os bens jurídicos d finidos p la Constituição da jurídico político do Estado d v m ser studados na persp ctiva d ssas
R pública prot g ap nas parcialm nt os b ns jurídicos s l cio- classes sociais fundarn ntais da luta de classes corr spond nt , m que s
nados para prot ção p naP. manifestam as contradições os antagonismos políticos que d t rminam
A prot ção d ultima ratio d bens jurídicos p lo Dir ito P nal ' ou condicionam o d s nvolvimento da vida social5 .
lünitada p lo princípio da proporcionalidade, q u proíb o e1npr go d 2. O s sistemas jurídicos políticos d controle social do Estado - as
sançõ s penais d sn c ssárias ou inad quadas m duas dir çõ s: a) pri- formas jurídicas e os órgãos d pod r do Estado - in titu m garan-
meiro, 1 só s d bens jurídicos com mínimo desvalor der sultado não t m as condiçõ s mat riais fundam ntais da vida social, prot g ndo
devem ser punidas com p nas crim inais, mas constituir contravençõ s int r s s n e sidad s do grupos sociai h g mônico da formação
conôrnico-social, com a corr spond nt xclusão ou r dução dos
interesses e nece sidades dos grupos sociais subordinados. Assim, na
1 A criação do conceito de bem jurídico é atribuída a BIRNB UM, Uber das Eifordernis p rsp criva das class s sociais da luta d class s corr spond nt , o
einer Rechtsverletzung zum Begriffdes Verbrechens, mit besonderer Rucksicht aufden Begrijf
der Ehrenkriinlnmg, ínArchivdes Criminalrechts, Neue Folge, v. 15 (1834), p. 149. Dir ito Penal garante as struturas mat riais m qu s bas ia a exis-
2 RO trafrecht, 1997, p. 15, n . 9.
3 Ver RATTA, Principi dei diritto penal mínimo. Per una teoria dei diritti umani come
oggetti e limiti dei/a legge pena/e, in Dei Delitti e delle Pene, 1991, n. 1, p. 444-5; Strafrecht, 1997, p. 25, n. 38-39.
também ROXIN, Strajrecht. 1997, p. 10-11, n. 1. Manifesto do partido comunista. Edições ociais, Textos 3, p. 21.
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t ,._ ncia das classes sociais - o capital (como propri dade privada dos produção) do Direito significa trocar a lógica fo rmal por uma lógica
meios de produção e de circulação da riqueza) e o trabalho assalariado material (ou lógica dialética), utilizada pela Criminologia crítica como
(como energia produtora de valor superior ao seu preço de 1nercado) método de pensar o crime e o controle social nas sociedades contempo-
-, assim como prot g as formas jurídicas políticas qu disciplinam râneas, mbora a dogmática jurídica p rman ça sob a 'gid da lógica
a luta d dass s institu mo domínio de uma dass sobre outra. Em formal, como lógica jurídica clássica.
sínt s , s o Dir ito Penal garant uma ordem social d sigual, ntão
5. O conceito de modo de p rodução da formação social, formado pela
o Dir ito P nal garant a d sigualdad social. articulação d fo rças p rodutivas m d terminadas relações de produção
Mas o Dir ito o Estado nãos limitam às funçõ s reais d instituição da vida mat rial, p rmit id ntificar os objetivos reais do Dir ito m
reprodução das r laçõ s sociais, x rc ndo também funçõ s ilusórias geral - cuja exist ,. ncia é ncob rta p los objetivos declarados do dis-
de ncobrim nto da natureza d ssas relações sociais, em geral apres n- curso jurídico oficial-, que revelam o significado político do Dir ito
tadas sob forma div rsa ou oposta pelo discurso jurídico oficial - por P nal como instituição d garantia e d r produção da strutura
exemplo, a prot ção da lib rdad , da igualdade e do b m co1num. Por de classes da sociedad , da desigualdad ntre as class s sociais, da
isso, també1n o Direito Penal deve ser estudado do ponto de vista de exploração e da opressão das classes sociais subalternas pelas classes
s us objetivos declarados (ou manifestos) d seus objetivos reais (ou sociais h gemônicas nas soei dad s cont mporân as - selar e ndo,
latentes), nos quais s manifc stam as dimensõ s d ilusão d realidade compl mentarm nt , a formação conômica das classes sociais nas
dos fc nôm nos da vida social. 6 r lações d produção a luta política d ssas class s sociais no t rr no
3. Os objetivos declarados do Dir ito Penal produz m uma aparência das ideologias - por ex mplo, nos sistemas jurídicos políticos d
controle social-, rompendo, assim, a "opacidade" do real produzida
de neutralidade do Sist ma d Justiça Criminal, promovida p la li-
mitação da p squi a jurídica ao nív 1da l i p nal, única fonte formal pelo discurso jurídico oficial dos objetivos declarados do Direito Penal.
do Direito P nal. Essa apar ,. ncia de neutralidade do Dir ito P nal ' 6. O m todo d anális social fundado no modo de p rodução da vida
I
dissolvida p lo studo das fontes materiais do ord nam nto jurídico, mat rial p rmit xplicar o Dir ito - ou s ja, as formas jurídicas d
nraizadas no modo de produção da vida mat riaF, qu fundam ntam disciplina da vida social - e o Estado - ou s ja, a organização jurídica
os int r ss s, n c ssidades valor s das classes sociais dominant s das do pod r político das dass s h g mônicas da formação social - p las
r laçõ s d produção e heg mônicas do poder político do Estado, condiçõ s reais da sociedade civil, cuja "anatomia" é constituída pelo
como indicam as t orias conflituais da Sociologia do Direito 8 . conjunto das relações de p rodução ativadas p las fo rças p rodutivas da
4. A mudança da fonte formal (a lei) para a fonte material (o modo de vida social, d finív is como a fonte material das formas jurídicas
políticas do Estado 9 •
7. Sem dúvida, a política d · control social instituída pelo Dir ito
6 PASUKANI , Eugeny. A teoria geral do direito e o marxismo. Lisboa: P r'pecriva P nal impl m ntada p lo Sist ma d Justiça Criminal inclui o
Jurídica 1972, p. 183 s.
7 Vi r B J I ARD J , I , J TI , MW conjunto do ord namento jurídico político do Estado, al ' m d
M I HEL, Pour une critique du D roit, 1978, p. 13-60; tam bém, MIAILLE, Une outras instituiçõ s da sociedade civil, como a mpresa, a família, a
introduction critique au D roit, 1976.
8 Ver ABAD ELL, Manual de so iologit1 jurídica (introdução a uma leitura externa do
D ireito), 2005, 3ª edição, p. 139-1 40; também DIMOULIS, Manual de Introdução ao
estudo do direito, 2003, p. 184. 9 Ver .MARX, Contribuição para a crítica da economia política (Prefácio), 1973.
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escola, a impr nsa, a Igr ja, os partidos políticos, os sindicatos, os do Direito - encob rtas pelas junções declaradas do discurso oficial: a
meios de comunicação etc. As fo rmas jurídicas e políticas do Estado criminalização primária realizada pelo Direito Penal (definição legal de
e as organizaçõe da sociedade civil convergem na tarefa de instituir crime e de penas) e a criminalização secundária realizada pelo istema
r produzir uma d t rminada formação conômico-social histórica, d Justiça Criminal constituído p la polícia, justiça prisão (aplicação
m que os homens s r !acionam como int grant s d class s ou xecução d penas criminais) garant m a exist "ncia e a reprodução
d cat gorias sociais estruturais da soei dad . O Dir ito P nal e o da realidade social desigual das sociedad s cont mporân as 13 •
Sist ma de Justiça Criminal constitu m , no cont xto d ssa formação O Sistema de justiça Criminal, operacionalizado nos limit s
econômico-social, o centro gravitacional do control social: a pena das matriz s 1 gais do Dir ito P nal, r aliza a função declarada d
criminal ' o mais rigoroso instru1n nto d r ação oficial contra as garantir uma ord m social justa, proteg ndo bens jurídicos gerais ,
violaçõ s da ordem social, econômica e política institucionalizada, assim, promovendo o bem comum. Essa fonção declarada ' I gitimada
garantindo todos o sist mas instituiçõ s particular s, b m como a
p lo discurso oficial da teoria jurídica do crime, como critério d ra-
xist"ncia continuidad do próprio sist ma social, como um todo 1°. cionalidad construído co1n bas na lei penal vigente, e pelo discurso
oficial da teoria jurídica da pena, fundado nas funções d retribuição,
d prevenção especial d prevenção geral atribuídas à p na criminal.
2.1. Direito Penal e desigualdade social
3. Assün, através das definiçõ s legais de crim se de p nas, o legislador
prot g int r ss s n c ssidad s das elass s cat gorias sociais heg -
1. Os objetivos declarados do Dir ito Penal, 1 gitimados pelo discurso
mônicas da formação social, incriminando condutas lesivas das r laçõ s
jurídico da igualdade, da liberdade, do bem comum te. , consist m
de produção de circulação da riqu za mat rial, concentradas na cri-
na proteção de valores ess nciais para a existência do indivíduo e da
minalidad patrimonial comum, caract rí rica da ela cat goria
sociedade organizada, definidos pelos bens jurídicos protegidos nos
sociais subalt rnas, privadas d m ios 1nateriais d subsist"ncia animal:
tipos 1 gais 11 • Os pr ssupostos não qu stionados d sses objetivos decla-
as d finiçõ s d crim s fundadas 1n bens jurídicos próprios das lit s
rados são as noçó s d unidade (e não d divisão) social, d identidade
conômicas e políticas da formação social garant m os int r ss s as
(e não de contradição) de classes, d igualdade (e não de desigualdad
condiçõ s n c ssárias à xistência r produção d ssas class s sociais.
r al) . ntr as ela s sociais, d liberdade ( não d opr ssão) individual,
Em consequ "'ncia, a prot ção p nal s letiva d 6 ns jurídicos das class s
de salário equivalente ao trabalho (e não d expropriação de mais-valia,
grupos sociais h g mônicos pr '-s 1 ciona os suj itos stigmatizáv is
co1no trabalho excedente não r mun rado) te. 12 •
pela sanção p nal- os indivíduos pertenc ntes às class s grupos sociais
2. O significado político do control social realizado p lo Direito P nal subalt rnos, especialmente os contingent s 1narginalizados dom reado
p lo Sist ma de Justiça Criminal apar e nas funções reais d ss s tor de trabalho do consumo social, como suj itos privados dos 6 ns jurí-
dicos econômicos e sociais protegidos na lei penal 14.
10 B T TA, Criminologia crítica e crítica do direito penal, 2000, 2ª edição, p. 209 s.;
FO AULT, Vigiar e punir, 1977, p. 244-248 . 4. A prot ção da r laçõ s d produção • d circulação da riqu za ma-
11 ZAFFAR I, BATI T ALA L KAR Direito penal brasileiro, 2003, v. I,
§ 11, I, ns. 4-6, admitem o bem jurídico como critério de criminalização, mas não
orno objeto de proteção do D ir ito Penal, que n timiria omente aro poücico
poder do Estado. 13 RATTA, Criminologia crítica e crítica do direito penal, 2000, 2ª edição, p. 173-174.
12 IRI TOS, D ireito Penal (a nova parte geral), 1985, p. 23 . 14 BARATTA, Criminologia crítica e crítica do direito penal, 2000, 2ª edição, p. 164-17 4.
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t rial da vida social abrang a proteção das forças produtivas (homens, como crim s, ou são definidas d modo impreciso e vago, ou as p nas
tecnologia e natureza) e, assim, certos tipos p nais parecem proteger cominadas são irrisórias; no nível da criminalização secundária, ou
bens jurídicos gerais ou comuns a todos os homens, independente1nente a repressão penal é frustrada, ou a natureza das penas cominadas
da posição social ou d class r spectiva, como a vida, a int gridad transforma ssas práticas criminosas em inv stim ntos lucrativos 19 •
física psíquica, a lib rdad individual s xual, a honra, a cologia A criminalização dessas condutas constitui o moderno Dir ito P nal
te. Entretanto, a prot ção d ss s valor s gerais ' desigual 15, como simbólico (crim s contra a ordem econômica, a ord m tributária, as
demonstra qualqu r p squisa empírica 16 : a) titular s d ss s b ns ju- r laçõ s d consumo, o mercado d capitais, o m eio ambient outras
rídicos pert nc nt s às class s ou categorias sociais hegemônicas são formas da criminalidade das lites conô1nicas e políticas da formação
prot gidos como seres humanos, os v rdad iros suj itos da formação social), produzido para satisfação r tórica da opinião pública, como
econômico-social; b) titulares desses bens jurídicos pertenc nt s discurso ncobridor das responsabilidades do capital financeiro in-
às class s ou grupos sociais int grado _ nos proc sso d produção/ t rnacional das lit cons rvadoras dos país s do J; rc iro Mundo
circulação mat rial como força de trabalho assalariada são prot gidos p la criação das condiçõ s criminogênicas struturais do capitalismo
apenas como e enquanto objetos, ou s ja, como energia n cessária à n olib ral contemporâneo 2 º.
ativação dos m ios d produção/circulação e capaz d produzir valor
6. S ja como for, 'no processo de criminalização qu a posição social dos
sup rior aos u pr ço d m reado: o mais-valor, xtraído do t mpo d
suj itos criminalizáv is r v la sua função d t rminant dor sultado d
trabalho excedent ; e) titular s d ss s bens jurídicos p rt ncent s aos cond nação/ absolvição critninal: a variáv l d cisiva da criminalização
conting ntes marginalizados do m reado d trabalho, sem função na
secundária é a posição social do autor, int grada por indivíduos vulne-
r p rodução do capital (a força de trabalho xced nt das n cessidad s ráveis selecionados por estereótipos, preconceitos e outros mecanismos
do m ercado), não são prot gidos n m como sujeitos, n m como objetos: ideológicos dos agentes de controle social - e não pela gravidade do
são d struídos ou liminados pela viol "ncia estrutural das r laçõ s d
crim ou pela ext nsão social do dano 2 1• A criminalidade sistémica
produção ou pela violência institucional do sistema de controle social, conômica financ ira d autor s p rt nc nt s aos grupos sociais
sem consequências penais. Assim, se a criminalização primária (ou h g mônicos não produz con qu "ncia penais: não g ra proc s os d
abstrata) par c neutra, a criminalização s cundária (ou concreta) '
criminalização, ou os proc ssos d criminalização não g ram con -
diti renciada pela posição social dos sujeitos respectivos 17 • qu "ncias penais; ao contrário, a criminalidad individual violenta ou
5. Por outro lado, condutas criminosas próprias dos s gm ntos sociais fraudul nta d autor s p rt nc nt s aos s g1n ntos sociais subalt rnos
h g mônicos, qu vitimizam o conjunto da soei dade ou amplos s to- ( specialm nt dos conting nt s marginalizados do mercado d traba-
res da população, são diferenciadas ao nív 1da crin1inalização pritnária lho) produz cons qu "ncias penais: g ra proc ssos de critninalização,
(tipos l gais) ou da criminalização s cundária (r pr ssão penal) 18 : no com cons qu "ncias p nais d rigor punitivo progr ssivo, na r lação
nív 1da criminalização primária, ou não são d finidas pelo l gislador dir ta das variáv is d subocupação, d socupação • marginalização do
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22 B T TA, Criminologia crítica e crítica do direito penal, 1999, 2~edição, p. 165 -1 66.
23 FOU AULT, Vigiar e punir, 1977, p. 207-223 .
24 Ver KE , Outsiders (studies in the so iology ofdevinnce), 1973, p. 1O1 s.; também 26 BARATTA, Che cosa ela criminologia critica? in D ei D elitti e delle Pene 1c991 n 1 p
. FOU AULT, Vigiar e punir, 1977, p. 239 . 65 s. º ' ' . ' .
2) FOU ULT, Vigiar e punir, 1977, p. 228-239. 27 BARATTA, Criminologia crítica e crítica do direito penal, 1999, p. 260.
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à teoria tradicional: na dinâmica d ssa contradição funda1n ntal, a Na v rdade, o b rn jurídico ' critério de criminalização porque
teoria crítica define o trabalho assalariado - e não o capital - como constitui objeto de proteção penal - afinal, existe um núcleo duro
portador de interesses comuns universalizáveis, porque sua ernancipação de bens jurídicos individuais, corno a vida, o corpo , a liberdade e
t ria o significado d conduzir, s gundo a We!tanschauung marxista, a s xualidade humanas, qu configuram a bas d um Dir iro P nal
ao obj tivo ainda utópico d libertação d toda humanidad 28 • Como mínimo d p nd m d prot ção p nal, ainda urna resposta legítima
s v", no Dir ito Penal, mais do qu m qualqu r outro s tor do or- para certos problemas sociais 33 - pod rias r aflitivo imaginar o qu
denamento jurídico, 'o objetivo da filosofia é o esclarecimentto lógico do acont e ria com a vida as xualidad humanas s não constituíssem
pensamento", como afirma WITTGENSTEIN. 29 objeto d proteção penal, mas d sirnpl s prot ção civil, como a in-
d nização, por x rnplo. Assim, virar a criminalização da vontade do
2. Enquanto isso, o conceito d bem jurídico continua ss ncial para
o Estado D m ocrático de Dir ito das formações sociais fundadas na poder, ou das expectativas normativas, parec insufici nt para r jeitar
o b m jurídico corno objeto d prot ção p nal34; al 'm di o, adrnitir
r lação capital/trabalho assalariado do capitalismo n olib ral, como
a proteção d b ns jurídicos p la criminalização não exclui a n cessi-
critério de criminalização como objeto de prot ção do Direito Penal,
conforme reconhecem as teorias jurídica e criminológica modernas 30 . dade de relevdncia do b m jurídico para constituir objeto de prot ção
Os valor s contraditórios do capital do trabalho assalariado possu m penal - s mpr subsidiária fragmentária-, n m implica incluir todos
algumas ár as cons nsuais mínimas, como a vida, a int gridad , a os b ns jurídicos como obj to d prot ção p nal. Mais ainda, s a
sexualidad , o m io ambi nt te., cuja prot ção p nal - mbora fonte exclusiva de b ns jurídicos selecionados para proteção p nal ' a
Constituição da R pública - o funda1nento político do rnod rno Es-
s mpr difi r nciada pela posição de class -, parece indispensáv 1em
tado D mocrático d Dir iro-, ntão a crirninalizacão ., da vontade do
qualquer tipo de formação social.
poder ou d m ras expectativas normativas par c remota; ao contrário,
3. Não obs tant , r p itáv is p nali ta latino-am ricano 31 admi- a r jeição do b m jurídico co1no obj to d prot ção fragmentária
t mo bem jurídico como critério d criminalização, afirmando q u subsidiária da criminalização poderia criar um vazio legal preenchível
toda lesão de bens jurídicos deve ser criminalizada (o qu ' corr to) pela vontade do poder, ou pelas expectativas normativas como objetos
n gando qu todo bem jurídico deva ser protegido por criminaliza- d criminalização - sem falar na incômoda proximidad com a t oria
ção (o qu tamb ' m ' correto), rnas r j iram o bem jurídico como sist "mica d JAKOBS, qu despr za o bem jurídico, tanto corno objeto
objeto de prot ção p nal , porque no hornicídio e no stupro , por d prot ção, quanto corno critério d criminalização 35 .
xemplo , a pena criminal não prot geria a vida, n m as xualidad
das vítirnas32 . Enfim, a t s do b m jurídico como critério d criminalização
corno objeto de prot ção penal - ainda qu a concreta lesão do bem
jurídico indiqu a in ficácia da prot ção -, não só mostra o Dir ito
28
im B TIA, Che cosa ela criminologia critica? in Dei Delitti e delie Pene, 199 1,
n . 1, p.
66-7. Penal como garantia jurídico-política das formações sociais capitalistas,
29 WITTGEN T EIN, Ludwig, Tractatus logico-phiLosophicus. urkamp, 2006, 4.11 2.
30 Em Direiro Penal, RO , tra.frecht, 1997, § 2° II-XI, ns. 2-41, p. 11-27;
mas tamb ' m mostra a própria sobrevivência das atuais sociedad s de-
J tJ. ~ 'l , Lehrbuch des trafrechts, 1966, § 1, III, p. 7-8; BU TO
RAMIREZ Manual de derecho penal espanol, Ariel, 1984, p. 39 e 180-1 83; em
riminologia, por ex mpl , H , Kriminologie, 1999, p. 54- ; B TTA,
Criminologia crítica e crítica do direito penal, 1999, p. 204. 33 BARATTA, Criminologia crítica e crítica do direito penal, 1999, 2ª edição, p. 260 .
31 Z F RONI, BATI TA, T e L KAR, Direito penal brasileiro, 2003, § 11 , I, 6. 34 Z FF RO I, BATISTA, GT e LO R Direito penal brasileiro, 2003, § 11, I, 6.
32 ONI, BATI T , ALA L KAR, Direito penal brasileiro, 2003, § 11, I, 4. 35 JAKOBS, Strafrecht, 1993, ns . 3-5, p. 35 -38 .
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siguais mediant a prot ção penal de seus valores fundainentais. A t se Penal do fato, co1no lesão do bem jurídico, da culpabilidade, como
central da Criminologia Crítica pode ser assim enunciada: o Direito limitação do poder de punir40 , excluindo a estabilização das expectativas
Penal garante a desigualdade social fundada na relação capital/trabalho normativas das concepções autoritárias do funcionalismo de JAKOB ,
assalariado das soei dades capitalistas cont mporân as36 . Essa t s t m por ex mplo 41 • D ss ponto d vista, consid radas todas as limitaçõ s
desdobram ntos important s: o Direito P nal garante a propri dad críticas, o cone ito d bem jurídico, como critério d criminalização
privada dos meios de produção do produto do trabalho social (institu- como objeto d prot ção penal par e constituir garantia política
ída p la Constituição disciplinada pelo Dir ito Civil), que p rmit irr nunciáv l do Dir ito P nal do Estado D emocrático d Dir ito,
a sobrevivência do trabalhador nos limit s do trabalho assalariado; nas formações sociais estruturadas sobr a relação capital/trabalho
portanto, garant a xtração d mais-valor, como trabalho excedente assalariado, m qu s articula1n as class s sociais fundam ntais do
não remunerado, nos proc ssos de produção e de circulação da riqueza neolib ralismo contemporân o.
1nat rial, d ixando ao trabalhador a alt rnativa d v nd r a força d
trabalho pelo pr ço do salário (1 gitimada p lo Dir ito do Trabalho),
correspondent ao tempo de trabalho necessário37 , a m dida do valor
do salário, como pr ço da força de trabalho. Em sínt s , a prot ção d
r laçõ s sociais d iguais, m diant garantia da r lação capital/traba-
lho assalariado, significa prot ção dos proc ssos sociais de produção
d circulação de b ns mat riais, qu d t nninam a cone ntração da
riq u za do pod r no polo do capital, a g n ralização da mi /ria
e da d p nd "ncia no polo do trabalho assalariado. S o obj tiva r al
do Dir ito P nal consist na prot ção das condiçõ s fundam. ntais da
soei dade d produção de m rcadorias 38 , então o bem jurídico, além
de critério de critninalização, constitui objeto de proteção penal.
4. Na atualidad , jurista criminólogo críticos propô m r s rvar o
conceito d bem jurídico para os direitos e garantias individuais do
s r humano, xcluindo a criminalização (a) da vontade do poder, (b)
de papéis sistêmicos, (e) do risco abstrato, (d) ou dos interesses difusos
caract rísticos de complexos funcionais como a conomia, a ecologia, o
sistema tributário tc. 39 . Essa posição r afirma os princípios do Dir ito
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âmbito da sanção penal abrang as penas ( as m didas de proteção), -, co1no analogia prejudicial ao réu, é absolutamente proibida pelo
os efeitos da condenação, as condições objetivas de punibilidade, as Direito Penal; b) a analogia in bonam partem - analogia intra legem
causas de extinção da punibilidade (especialmente os prazos prescri- - , como analogia favorável ao réu, é permitida pelo princípio da le-
cionais), os r gim s d · x cução (incluindo os crit ' rios d progr ssão galidade, s m n nhuma r strição: nas justificações, nas xculpaçõ s
d r gressão de regim s) todas as hipót s s d excarc ração 7 . m qualqu r hipót se d xtinção ou d r dução da punibilidad do
comportam nto h umano 11 •
A única exceção à proibição de retroatividade da lei penal é
repres ntada p lo princípio da lei penal mais benigna, igualm nt
pr visto no art. 5°, XL, da Constituição da R pública (v r Validade
da lei penal, adian t ) . 3. Proibição do costume como fonte da lei penal
7 'v'◄
r RAT ENWERTH, trafrecht, 2000, p. 49-51, n. 7-1 2; também ZAFFAR NI, 11 J~ . l E , Lehrbuch des Stra.frechts, 1996, § 15, III, n . 2d, p. 136;
BATI T , ALAGIA L KAR, D ireito penal brasileiro, 2003, § 10, V, 1. MA CH/ZI PF, trafrecht, v. 1, p. 127-128, ns . 21 -22; ROXI , tr11frecht, 1997,
8 ~-~-~ , Allgemeine Theorie der Normen, 1990, p. 217. p. 11 2-11 4, ns. 40-44; ZAFFARONI, BATI T , KA.R, Direito penal
9 CARNAP, On inductive logic. ln Philosophy of cience. 1945, v. I p. 72, apud brasileiro, 2003, § 10, III, 4-6.
El Allgemeine Theorie der Normen, 1990, p. 218. 12 Ver KE Aligemeine lheorie der Normen, 1990, p. 87.
10 MAYER, Der allgermeine Teil des deutschen Strafrechts, 1915, p. 27. 13 WELZEL, Das deutsche Strafrecht, 1969, § 5, II, n. 2, p. 23 .
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conhecimento da proibição, favorecendo a aplicação de penas com 2. O princípio da culpabilidade, xpresso na fórmula nulla poena sine
lesão do princípio da culpabilidade 14 - outro aspecto da relação entre culpa, é o segundo mais importante instrumento de proteção indivi-
os princípios formadores do conceito de crime. dual no moderno Estado D emocrático de Direito porque proíbe punir
O proble1na d toda lei p nal par ce s r a inevitabilidade d p ssoas s m os r quisitos do juízo de reprovação, s gundo o stágio
c rto nív 1 d ind finição: as palavra da 1 i são obj to d int rpr - atual da t oria da culpabilidade, a sab r: a) p ssoas incapazes de saber
o que fazem (inimputáv is); b) p ssoas imputáv is qu , r alm nt ,
rações diferentes porque os juízos de valor enunciados não admitem
descriçõ s neutras - qualqu r tentativa s m lhant seria monótona não sabem o que fazem porqu stão m situação de erro de proibição
inevitável; c) p ssoas imputáv is, com conhecim nto da proibição do
ou ridícula: como d cr v r o co ne ito d injúria, por x mplo? S ja
como for, o princípio da legalidade pr ssupõe um mínimo de determi- fato , mas sem o poder de não fazer o que fazem porqu r alizam o tipo
nação das proibiçõ sou comandos da 1 i p nal- em geral conh cido de injusto em contextos d anormalidade d tiníveis como situações
d xculpação.
como princípio da taxatividade, mas indissociáv 1 do princípio da
legalidade, como exigência de certeza da lei-, cuja aus Ancia imped 2.1. O princípio da culpabilidade proíb punir pessoas inimputáveis
o conhecimento das proibições e rompe a constitucionalidade da lei porque são incapazes de compreender a nonna ou de detenninar-se
p nal, r gida p la fórmula lex certa 15 • conform a compr nsão da norma, mas não proíb a aplicação d
medidas de proteção fundadas m transtornos psíquicos d autor s
inimputáveis d fatos punív is: a relação culpabilidade/pena possui
natur za subjetiva, mas ar lação transtorno psíquico/medida de p roteção
II. Princípio da culpabilidade possui natureza objetiva de proteção do autor (terapia) e da socieda-
de (neutralização), segundo o discurso oficial da teoria jurídica das
1. A relação entre o princípio da legalidade e o princípio da culpabi- m <lidas d prot ção.
lidade pod s r assim d finida: a) a culpabilidad fundam nta-s no
2.2. O princípio da culpabilidade proíb punir p ssoas imputáv is m
conh cim nto (real ou possível) do tipo de injusto, logo o princípio da
situação de desconhecimento inevitável da p roibição do fato porqu o
culpabilidade pressupõe ou contém o princípio da legalidade, como
rro de proibição inevitável exclui a possibilidad d motivação con-
definição scrita, pr'via, strita c rta do tipo de injusto; b) xist
forme a nonna jurídica, que funda1n nta o juízo d · r provação - 1nas
uma relação d depend Ancia do princípio da culpabilidade em fac
não proíbe punição m situação d erro evitável sobr a proibição da
do princípio da legalidade porqu a culpabilidad pressupõe tipo de
norma, por insufici nt r fl xão ou informação do autor.
injusto (princípio da legalidad ), mas o tipo d injusto não pressupõe
culpabilidade: ojuízo de culpabilidade não xist s m o tipo de injusto, 2.3. O princípio da culpabilidade proíb punir pessoas imputáv is qu
1nas o tipo de injusto pod xistir s 1n o juízo de culpabilidade. realizam o tipo d injusto com conh cim nto da proibição do fato,
mas sem o poder de não fazer o que fazem porqu ar alização do tipo
d injusto em situações anormais xclui ou r duz a exigibilidade d
comportamento div rso.
14 Ver ROXIN, Strafrecht, 1997, p. 125, n. 67-68 . No Brasil, no entido do text0,
RAGOSO, Lições de direito penal (parte geral), 16ª edição, 2003, p. 114-116. 3. Finalm nte, todos os r squícios atuais do v lho versari in re illicita,
15 TRAT E RTH, S111.frecht, 2000, p. 58-59, ns. 28-31; ZAFFARONI, BATISTA,
ALA 1A e , D ireito penal brasileiro, 2003, § 1O, III, 1 e IV, 1.
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como os crimes qualificados pelo resultado 16 e, sp cialmente, as o princípio da lesividade exclui a criminalização primária ou secundá-
versões coloniais da actio libera in causa 17, são incompatíveis com ria de lesões irrelevantes de bens jurídicos. Nessa medida, o princípio
o princípio da culpabilidade e,. por isso, devem ser excluídos da legis- da Lesividade é a expressão positiva do princípio da insignificância em
lação p nal ou, p lo m nos, banidos da praxis p nal p la consci"ncia Dir ito P nal: l só s insignificant s de b ns jurídicos prot gidos, como
democrática do Minist rio Público e da Magistratura nacionais.
I
a int gridad ou saúd corporal, a honra, a liberdad , a propri dad ,
as xualidad te. , não constitu m crim .
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em relação aos fins propostos (proteção d bens jurídicos), também !idade abstrata: por ex mplo, penas por lesõ s contra a propriedade
formulado em forma interrogativa: a pena criminal cominada e/ou não podem ser sup riores às penas por lesões contra a vida, como
aplicada (considerada meio adequado e necessário, ao nível da reali- ocorre na lei penal brasileira 23 .
dad ) 'proporcional m r lação à natur za xt nsão da 1 são abstrata 3.2. O princípio da proporcionalidade concreta dirige-se ao Juiz crimi-
/ou concr ta do b m jurídico? nal: p rmit quacionar os custos individuais sociais da criminalização
Em síntese, a otimização das possibilidades reais e jurídicas ob- secundária, em relação à aplicação e execução da pena criminal. Assim,
jeto do Verhaltnismassigkeitsgrundsatz - para continuar mpr gando para usar um conceito do jargão conômico, a aplicação e a xecução
a t nninologia d ALEXY - t m por obj tivo int grar os princípios, das p nas criminai mostram a norm d sproporção dar lação custo/
os meios os fins em unidades jurídicas reais coerent s20 - ou s ja, beneficio entre crime e pena, al 'm dos imensos custos sociais esp cíficos
harmonizar os meios e os fins dar alidad com o princípios jurídicos para o condenado, para a família do cond nado para a sociedade.
fundam ntais. O princípio da proporcionalidade no Dir ito P nal Ar lação custo/beneficio da quação crime/pena indica qu a pena
coincide com análises da Criminologia Crítica - como Sociologia do
criminal, como troca jurídica do crim m dida m t mpo d lib r-
Direito Penal-, que studa a adequação e a necessidade da p na crimi-
dad suprimida, constitui inv stim nto d ficitário da comunidad ,
nal para prot ção d b ns jurídicos, do ponto d vista dos princípios s gundo a 1nod rna Criminologia. Os custos sociais sp cíficos para a
jurídicos do discurso punitivo. p ssoa a família do cond nado - assim como para a soei dad , 1n
3. Assim, o princípio da proporcionalidade- ünplícito no art. 5º, caput, g ral - ão absurdos:
da Constituição da R pública - proíbe p nas excessivas ou despropor- a) a criminalização secundária somente agrava o conflito social
cionais em face do desvalor de ação ou do desvalor de resultado r pr s ntado p lo crim - sp cialm nt m casos d aborto, d tó-
do fato punív 1, 1 iva da função d retribuição equivalente do crim xicos, de crim s patrimoniais d toda a criminalidad · d bagat la
atribuída às p nas criminais nas soei dad s capitalistas 21 . O princípio (crimes d ação penal privada ou condicionados à r pr sentação, cri-
da proporcionalidade d sdobra-s m uma dim nsão abstrata uma m s punidos com d t nção, crün s d m nor pot ncial ob nsivo • te.);
dim nsão concreta, com as s guint s cons qu Ancias:
b) os custos sociais da criminalização s cundária são maior s
3.1. O princípio da proporcionalidade abstrata dirig -s ao legislador: para a p ssoa e a família de condenados de classes cat gorias sociais
lünita a criminalização primária às hipót s s d graves violaçõ s inb rior s - a cli nt la pr ti r ncial do sist ma d justiça criminal,
de dir itos humanos - ou s ja, xclui lesõ s insignificantes de b ns sel cionada por est r ótipos, pr conceitos, idiossincrasias outros
jurídicos - e delimita a cominação de penas criminais confonne a m canismos id ológicos dos ag nt s d control social, ativados por
natureza extensão do dano social produzido p lo crim 22 • ss indicador s sociais negativos de pobr za, marginalização dom reado
aspecto, a proposta d hierarquização das lesõ s d b ns jurídicos é d trabalho, moradia em fav las te. 24 .
ss ncial para ad quar as scalas p nais ao princípio da proporciona-
4. Por isso, o princípio da proporcionalidade concreta pod fundam ntar
critérios compensatórios das d sigualdades sociais da criminalização
20
, Theorie der Grundrechte, 1994, 2ª edição, p. 75 s.
21
D TO , Teoria da pena, 2005, p. 19-24.
22 B T TA, Principi del diritto penal minimo. Per una teoria dei diritti umani come I, BATIST , I IA W R Direito penal brasileim, 2003, § 11, II, 2.
oggetti e limiti dei/a legge peno/e, in Dei Delitti e delle Pene, 1991, n . 1, p. 452. OS, Teoria da pena, 2005, p. 37.
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s cundária, com o objetivo d n utralizar ou de r <luzir a s letividad da 1 i d execução penal (art. 40) - al 'm de ser ini rida da norma qu
fundada em indicadores sociais negativos de pobreza, desemprego, assegura ao pr so todos os direitos não atingidos pela sentença ou pela
favelização etc., aplicáveis pelo Juiz no 1nomento de estruturação dos lei (art. 3°, LEP) - ou seja, a lesão generalizada, intensa e contínua
proc ssos int 1 ctuais ab tivos do juízo d r provação do crim d da dignidade humana e dos direitos humanos d homens mulh r s
aplicação da p na, m sp cial no âmbito das circunstâncias judiciais presos nas cadeias públicas p nit nciárias do sis tema p nal brasil iro
(art. 59, C P) 1 gais (circunstâncias agravant se at nuantes g n /ri- não ocorr por falta d princípios d r gras jurídicas.
cas) d aplicação da 1 i penal, incluindo a otimização do mpr godos 3. Entr tanto, o princípio da humanidade não s limita a proibir a
substitutivos p nais dos r gimes de execução da pena, com g n rosa abstrata cominação aplicação d penas cruéis ao cidadão livr , mas
ampliação das hipót ses d r gim ab rto tc. 25 proíb tamb ' m a concr ta execução cruel de penas 1 gais ao cidadão
5. Finalment , é importante registrar: o princípio da proporcionalidade condenado, por ex mplo: a) as condiçõ s desumanas indignas, em
não conhec , m n nhuma d suas formulações originais, a pr t nsa g ral, d x cução das p na na m aioria absoluta das p nit nciárias
dimensão d proibição de proteção insuficiente, criada p la imaginação cad ias públicas brasileiras26 ; b) as condições desumanas indignas,
punitivista da literatura brasileira. m especial, do execrável Regime Disciplinar Diferen ciado - cuja
inconstitucionalidad d v s r d clarada por arguição d inconstitucio-
nalidad da norma 1 gal no caso concr to (control difuso, por Juíz s
Tribunais), ou por ação dir ta d inconstitucionalidad (control
V. Princípio da humanidade cone n trado, p lo Supremo Tribunal Federal) 27 .
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Capítulo 2 55
29
rnparar B TTA, Principi d I diritto penal minimo. Per una teoria dei diritti umani
come oggetti e limiti dei/a legge peno/e, in Dei Delitti e delle Pene, 199 1, n. 1, p. 459-46.
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CAPÍTULO 3 ' constituído de população, território gov rno 2 , lem ntos indis-
pensáveis para a existência do Estado; a soberania do Estado, como
VALIDADE DA LEI PENAL poder exclusivo, autônomo e com plenitude de competências legis-
lativa, administrativa judicial fundam nta o pod r d d cidir sobr
inv stigação de Jatos ·sobr punição de pessoas nos limite do próprio
t rritório, ond det ' m o monopólio do mpr go 1 gítimo da força 3 .
O comportamento humanos r aliza m d t rminado spaço A jurisdição p nal dos E tados podes r ampliada pela instituição d
e t mpo, onde s nraízam suas condiçõ s s proj tam s us efeitos. formas de coop ração penal internacional sobre controle e r pressão d
A validad da normas jurídicas qu disciplinam o comportam nto fatos punív is d int r ss comum, como o tráfico d s res humanos,
humano é delimitada pelas dimensõ s de espaço e de tempo em que se de armas, de drogas tc. 4 .
r alizam os proc ssos sociais históricos - ou s ja, a r lação da nonna
O Código P nal delimita a validad da] i penal no espaço segun-
penal com o spaço o t mpo indica o âmbito espacial t mporal
de valida d da 1 i penal 1• do os crit 'rios da territorialidade (art. 5°, CP) e da extraterritorialidade
(art. 7°, CP).
Nessas condiçõ s, os limit s espaciais temporais d validad da
1 i p nal são os seguint s:
a) o espaço d validad da 1 i p nal ' d finido p lo princípio
da territorialidade, qu de1narca os limites geopolíticos do t rritório
I O critério da territorialidade
de jurisdição penal do Estado - a exceção da extraterritorialidade
' r pr s ntada p los princípios da prot ção, da p rsonalidad da O critério da territorialidade - fundado no conceito de território,
comp t "' ncia penal universal; o elemento 1nais característico do Estado, existente como corporação ter-
ritorial s gundo o Dir ito Int rnacional Público 5 - ' a principal forma
b) o tempo d validad da 1 i p nal ' definido p lo princípio
de d limitação do paço geopolítico de validad da 1 i penal na ár a das
da legalidade, que demarca os limites cronológicos de leis sucessivas
r lações entre Estados soberanos. A soberania do Estado, xpressão do
do ord nam nto jurídico do Estado sobre fatos iguais - a exc ção '
princípio da igualdade soberana d todo os m rubros da comunidad int r-
r pr s ntada p lar troatividad de 1 i p nal mais favoráv I.
nacional (art. 2°, § 1°,Cartada ONU), fundam nta o x rcício d todas
as comp t "'ncias sobr fatos punív is r alizados no t rritório r p ctivo.
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Art. 5°, CP. Aplica-se a lei brasileira, sem p rejuízo de Os agentes diplomáticos são representant s do Ch t de Estado perant
convenções, tratados e regras de direito internacional, governos estrangeiros 8 • A inviolabilidade dos agentes diplomáticos
ao crime cometido no território nacional. abrange a Missão Diplo1nática e a residências particulares dos agentes
diplomáticos, compre nd ndo mobiliário, arquivos, corr spond "ncia,
m ios d tran porte e d comunicação; a imunidade de jurisdição d
1. Conceito de território execução p nal, civil, administrativa e tributária incid sobr o ag nt
diplomático sua família, os adidos militares o pessoal t ' cnico
O território é o spaço sobre o qual o Estado x rce a sobera- ad1ninistrativo, como secretárias, criptógrafos tc. 9 .
nia política, constituído p las ár as (a) do solo, como xt nsão d Os cônsul s são funcionários públicos d carreira (cônsul s
t rra contínua ou d scontínua, com os rios, lagos mar s xist ntes "missi") ou honorários (cônsul s " 1 cti"), designados para o ex rcício
d ntro do t rritório, (b) do subsolo, como profundidad cônica do d d t rminadas funçõ s no xterior, com imunidad s privil' gios
t rritório em relação ao centro do Planeta, (c) do mar territorial, com int rior s aos dos ag ntes diplo1náticos - por ex mplo, a imunidad
a extensão de 12 (doze) milhas marítimas a partir do litoral brasi- p nal é relativa e limitada aos atos de ofício (outorga de passaportes
l iro, (L i 8.617 /93), (d) da plataforma continental, com a xt nsão falsos, exp dição d falsas guias d xportação te.), pod ndo s r pro-
d 200 (duz ntas) milhas marítimas a partir do litoral brasileiro (ou cessados punidos por outros crimes 1°.
188 1nilhas, d <luzidas as 12 milhas do 1nar t rritorial), como zona O funda1n nto dos privil ' gios itnunidad s diplomáticas ' ainda
econômica exclusiva (L i 8.617/93) que incorporou a Convenção da
objeto d controv 'rsia: a) a teoria da extraterritorialidade afirma que o
O U de 1982 sobre o Direito do Mar, (e) do espaço aéreo corres-
spaço físico da Embaixada s ria uma xt nsão do território do Estado
pondente ao conjunto do território, ainda regido pelas Convenções
acr ditado- atualm nt m d dínio na lit ratura na juri prud ,. . ncia;
d Chicago de 1944 · pela Conv nção de Varsóvia d 1929, ambas b) a teoria do interesse da função fundam nta os privil ' gios imuni-
sobr aviação civil int rnacional6 .
dad s na n c ssidad d garantir o d s mp nho ficaz das funçõ s
das Missõ s Diplomáticas - atualm nt dominant na lit ratura
consagrada na jurisprud "ncia int rnacional 11 •
2. Imunidades diplomáticas
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3. Navios e aviões públicos e privados int rnacional, mas não possuem o direito de passagem inocente sobre
o território de outros Estados, como ocorre com os navios - exceto
mediante prévia autorização. As aeronaves privadas ou civis de tráfe-
1. Os navios, d finidos como ngenhos construídos para navegar no
go int rnacional possu m a nacionalidad do Estado d r gistro ou
mar1 , pod m s r públicos e privados. Os navios públicos, por sua
d matrícula são r gidas por liberdades técnicas com reiais: a) as
v z, pod m s r navios d gu rra ou navios civis: a) os navios públicos
lib rdad s t 'cnicas compr nd m o sobrevoo do território d outros
de guerra pertencem à Marinha de um Estado e apresentam os sin~is
exteriores dos navios de guerra e de sua nacionalidade; b) os navios Estado , admitida a r strição de certas ár as por razões d s gurança,
a escala técnica nas hipóteses de pouso nec ssário; b) as liberdad s
públicos civi x rc m serviços públicos co1no navios alfand gários,
navios-faróis, navios d saúde navios qu transportam Chefi s d co1nerciais, g ralm nt ass guradas m tratados bilat rais, compr -
ndem o desembarque e o embarque de passageiros e de m rcadorias
Estado. Os navios privados são utilizados para fins com reiais ou
prov ni nt s do ou com d stino ao Estado d 1natrícula, pod ndo-
particular s 13 •
admitir o d sembarque e embarque d passageiros d m rcadorias
Os navios públicos de guerra civis estão sob jurisdição xclu- de qualquer part para qualquer parte do mundo 16 •
siva do Estado d orig m, com imunidad absoluta p rant outros
(Art. 5°, CP)§ 1° Para os efeitos penais consideram-se
Estados, m smo em mar t rritorial ou atracados em portos estrangei-
como extensão do território nacional as embarcações e
ros. Os navios privados, assim como os navios públicos d stinados
aeronaves brasileiras, de natureza pública ou a serviço
xclusivam nt a fins com reiais, p rmanec m ob jurisdição do E -
do governo brasileiro onde quer que se encontrem, bem
tado de origem nas águas territoriais respectivas ou em alto-mar, mas
como as aeronaves e embarcações brasileiras, mercantes
subordinam-s à 1 i p nal d outros Estados - r sp irado o dir ito d
ou de propriedade privada, que se achem, respectiva-
passagem inocente-, m águas t rritoriais ou m portos strang iros 1
mente, no espaço aéreo correspondente ou em alto-mar.
2. As aeronaves também podem ser públicas e privadas. As aerona-
§ 2° É também aplicável a lei brasileira aos crimes pra-
v s públicas tamb 'm são 1nilitar s ou civis: a) as aeronav s públicas
ticados a bordo de aeronaves ou embarcações estrangeiras
militar s p rt nc m às Forças Armadas (ou são r quisitadas para de propriedade privada, achando-se aquelas em pouso
missões militar s) e (b) as a ronav s públicas civis x rc m serviços no território nacional ou em voo no espaço aéreo corres-
públicos de natur za não militar (por ex mplo, serviços de fiscali- pondente, e estas em porto ou mar territorial do Brasil.
zação alfand gária). As a ronav s privadas ou civi são destinadas a
atividad s co1n rciais 15 •
As a ronav s públicas militar s ou civi pod m obr voar no 4. Lugar do crime
espaço aéreo do território do Estado respectivo ou no espaço aéreo
A lei p nal brasil ira adota a teoria da ubiquidade para d finir
12 onvencáo de Bruxelas de 1924 e onven ão de enebra de 1924. .
13 BUQUERQUE MELLO, Cu,,so de direito internacionalpúblico, 200 1, p. 1211 -1212.
14 ALBUQUERQUE MELLO, Curso de direito internacio7:~l público, 200 1, p. 121 1-
121 · · Z •K D ireito internacional público, 2000, 8ª ed1çao, p. 295-296. 16 LBUQUERQUE MELLO, Curso de d~reito internacio,:i~l púb~co 200 1, p. 1247-
1s ALBUQUERQUE MELLO, Curso ele direito internacional público, 200 1, p. 1247. 125 1; RE K, D ireito internacional público, 2000, 8ª ed1çao, p. .J l ?-321.
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lugar do crime: o espaço físico 1n que foi realizada, no todo ou em 1. Princípio da proteção
parte, a ação ou a omissão de ação, ou m que se produziu ou deveria
produzir-se o resultado 17 • O princípio da proteção (o u da defesa) p rmite subm t r à
Art. 6°, CP. Considera-se praticado o crime no lugar em jurisdição p nal brasil ira fatos puníveis com tidos no strang iro,
que ocorreu a ação ou omissão, no todo ou em parte, bem 1 sivos de b ns j urídicos pen ncent s ao Estado brasil iro (art. 7°,
como onde se produziu ou deveria produzir-se o resultado. I, a, b, c, CP), compr nd ndo os crim s (a) contra a vida ou lib r-
dad do Pr sid nt da R pública, (b) contra o patri1nônio ou a t'
Logo, as condutas d finidas como crim s m 1 is p nais brasilei-
pública da União, Distrito F deral, Estados Municípios, de em-
ras, r alizadas no todo ou m part no t rritório do Estado brasil iro,
ou que produzam - ou devam produzir - o resultado nesse território,
pr sa pública, oci dad d conomia mista, autarquia ou fundação
do Pod r Público, (c) contra a adm inistração pública, por autor a
são sub1netidas à juri dição penal brasileira.
s rviço público 19 •
A d finição do lugar do crime ' nec ssária na hipót se d açõ s
Art. 7°, CP. Ficam sujeitos à Lei brasileira, embora
criminosas realizadas no espaço territorial de dois ou mais Estados,
cometidos no estrangeiro:
por x mplo: a ação s r aliza no Brasil, 1nas o resultado ocorr na
Arg ntina ou no Uruguai, ou vic -v rsa 18 • ssa hipót s s, a duplici- I - os crimes:
dad de punição é evitada por norma expressa da lei p nal brasileira: a) contra a vida ou a liberdade do Presidente da Re-
Art. 8°, CP. A pena cumprida no estrangeiro atenua pública;
a pena imposta no Brasil pelo mesmo crime, quando b) contra o patrimônio ou a fé pública da União, do
diversas, ou nela é computada, quando idênticas. Distrito Federal, de Estado, de Território, de Municí-
pio, de empresa pública, sociedade de economia mista,
autarquia ou fundação instituída pelo Poder Público;
II. Critério da extraterritorialidade c) contra a administração pública, por quem está a seu
serviço;
O crit ' rio da extraterritorialidade compr nd as xc çõ s à
ss ca o , a punição do ag nt p la 1 i brasil ira ind p nd
r grada territorialidade, d finidas p los princípios da proteção (ou da
de absolvição ou de condenação no strangeiro.
defesa), da personalidade (ou da nacionalidade) da competência penal
universal (ou da cooperação penal internaciona~ . Art. 7°, § 1°, CP. Nos casos do inciso L o agente é
punido segundo a lei brasileira, ainda que absolvido
ou condenado no estrangeiro.
17
RI, Manual de direito penal, 1999, p. 84. 19 ALBUQUERQUE MELLO, Curso de direito internacional público, 200 1, l Y1 edição,
RAGO O . Lições de direito penal (parte geral), 2003, p. 138-1 40, n. 106 . p. 951.
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2. Princípio da personalidade Art. 7°, CP. Ficam sujeitos à Lei brasileira, embora
cometidos no estrangeiro:
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Art. 7°, CP. Ficam sujeitos à lei brasileira, embora e) não ter sido o agente perdoado no estrangeiro ou, por
cometidos no estrangeiro: outro motivo, não estar extinta a punibilidade, segundo
a Lei mais favorável.
I - os crimes:
d) de genocídio, quando o agente for ( . .) domiciliado
no Brasil.
II - os crimes:
III. Extradição
a) que, por tratado ou convenção, o Brasil se obrigou
A extradição é o processo jurídico-político p lo qual um Estado
a reprimir.
ntr ga o autor d fato punív 1 a outro Estado, comp t nt para apli-
(..) car ou para executar a p na criminal r sp ctiva, fundado m tratado
c) praticados em aeronaves ou embarcações brasileiras, bilat ral ou prorn ssa d reciprocidade, observadas d terminadas
mercantes ou de propriedade privada, quando em ter- condiçõ s (art. 76, L i 6.815/80) 23 •
ritório estrangeiro e aí não sejam julgados. 1. Condições de concessão. A concessão da extradição exige as se-
N ssas hipót s s, a aplicação da 1 i p nal brasil ira dep nd guint s condiçõ s cumulativas: a) compet "ncia jurisdicional do Estado
de determinadas condições objetivas de punibilidade, xpr ssam nt r qu r nte para aplicação x cução da pena; b) condenação à p na
indicadas na lei: a) ingresso do autor no território brasileiro; b) pu- privativa d liberdad tran itada em julgado, ou prisão autorizada
nibilidad do fato no Brasil e no país strang iro resp ctivo; c) fato por Juiz, Tribunal ou autoridad comp t nt do Estado r qu r nt
punível p rtencente à categoria dos crimes extraditáveis, segundo a (art. 78, I II, da Lei 6.815/80).
lei brasileira; d) ausência de absolvição ou de cumprimento de pena 2. Compromissos do Estado requerente. A ntr ga do extra-
no strang iro; ) ausência de p rdão no estrangeiro, ou de extinção ditando é condicionada aos s guintes co mpromissos do Estado
da punibilidad , s gundo a 1 i mais favoráv 1. r qu r nt (art. 91, L i 6.815/80): a) n ão pr nd r ou julgar o
Art. 7°, § 2°, CP. Nos casos do inciso Il a aplicação da extraditando por fato diverso do pedido; b) comp utar o tempo d
lei brasileira depende do concurso das seguintes condições: prisão no Brasil, por causa da xtradição (no Brasil, o xtraditando
a) entrar o agente no território nacional; aguarda preso a d cisão definitiva do Supremo Tribunal Fed ral
sobr o p dido d xtradição); c) comutar v ntual p na de mort
b) ser oJato punível também no país em quefoi praticado;
ou p na corporal m p na privativa d lib rdad ; d) não ntregar o
c) estar o crime incluído entre aqueles pelos quais a lei xtraditando a outro Estado, xceto com cons ntimento do Brasil;
brasileira autoriza a extradição; ) xcluir agravação da p na por motivos políticos.
d) não ter sido o agente absolvido no estrangeiro ou não 3. Exclusão da extradição. A extradição, instituto jurídico-político
ter aí cumprido a pena; r s rvado a strang iros, ' xcluída nas guint s hipót (art. 77,
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L i 6.815/80): a) autor brasil iro do fato punível, xceto brasileiro xtradição dissimulada, excluindo a deportação para a Inglat rra ou
naturalizado, por fato anterior à aquisição da nacionalidade ou por para qualquer outro Estado de onde fosse possível extradição, com o
tráfico de drogas (nesse caso, art. 5°, LI, C R); b) fato atípico egundo resultado da posterior libertação de Ronald Biggs, pela óbvia impos-
a l i p nal brasileira ou do Estado requer nt (obs rvação: fato atípico sibilidad d xecução da d portação. Em 1997, após formalização
do Estado requerent exclui a formulação do pedido de xtradição); c) d tratado bilar ral de xtradição ntr Brasil e Inglat rra, o Supr mo
compet "ncia da justiça brasil ira para julgar o fato obj to do p <lido Tribunal F deral nego u p <lido d extradição do gov rno britânico
de xtradição; d) fato punív 1com p na de prisão igual ou infi rior a contra Ronald Biggs (Extradição 721/97, TF), fundado na xtinção
1 ano, pela lei p nal brasileira; e) xistência d proc sso criminal ou da punibilidade da pretensão executória, segundo a lei penal brasil ira.
d ant rior cond nação ou absolvição criminal da justiça brasileira,
pelo fato objeto do pedido d extradição; f) extinção da punibilidad
por pr scrição, gundo a 1 i mais favoráv l; g) crim s políticos ou d B) Validade da lei penal no tempo
opinião (ness caso, art. 5°, LII , CR); h) julgam nto por Tribunal ou
Juízo d xceção, no Estado requ rent .
I O critério geral: princípio da legalidade
4. Proibição de extradição dissimulada. A 1 gislação brasil ira
tamb ' m xclui a xtradição dissimulada, nas hipót s s m qu a O critério geral d validade da lei penal no t mpo ' definido pelo
deportação (art. 63, L i 8.615/80) ou a expulsão (art. 75, I, Lei princípio da legalidade, na pl nitud d suas dim nsõ s constitucionais
8.615/80) d estrang iro t nha o significado de extradição proi- incidentes sobre crimes, penas medidas de proteção, definidas como
bida, como ocorre nos casos em que a alternativa compulsória do (a) !ex praevia (proibição d retroatividade da l i p nal), (6) lex scripta
estrangeiro deportado ou expulso seja o ingresso no Estado de sua (proibição do costume como fundam ruo d crim sou d p nas), (c)
nacionalidad ou em outro Estado que cone <leria a xtradição. !ex stricta (proibição da analogia como m ' todo de criminalização ou
S. Um caso histórico. O cidadão britânico Ronald Arthur Biggs, de p nalização de açõ s humanas), (d) !ex certa (proibição de inde-
cond nado a 30 anos d prisão p la Justiça ingl sa por participar do finições nos tipos 1 gais e nas sançõ s penais) 25 .
roubo do tr m postal Glasgow-Londres no dia 8 d agosto d 1963, Art. 5°, XXXIX - não há crime sem lei anterior que o
fugiu da prisão ingressou no Brasil com o nome falso d Micha 1 defina, nem pena sem prévia cominação legal.
John Hayn s24 • o Brasil, pr so por ord m do Ministro da Justiça
A 1 i p nal brasil ira cont 'm disposição id "ntica, qu inaugura
do Governo Militar m 1974 , por aus "ncia d tratado bilateral d
o Código Penal:
extradição ntre Brasil Inglat rra, subm tido a proc sso de deporta-
ção, imp trou habeas corpus no antigo Tribunal F d ral d R cursos Art. 1°. Não há crime sem lei anterior que o defina.
(HC 3.345/74, TFR), sob al gação d imin nte pat rnidad de Não há pena sem prévia cominaçáo legal.
brasil iro d extradição dissimulada sob a forma d d portação. O O p rincípio da legalidade so1n nt ' afastado p lo crit ' rio es-
Tribunal n gou o habeas corpus, m as r conhec u a possibilidad d
24 Enciclopédia da luta contra o crime. Editor: Victor Civita. Abril tural, ão Paulo, 25 RO Strafrecht, 1997, p. 98, ns. -11; JE HE K/WET . D, Lehrbuch des
SP, 1974,p. 78s. Strafrechts, 1976, p. 131 -142; GROPP, Strafrecht, 2001, p. 45, n. 2-3.
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pecífico de retroatividade da lei penal mais favorável, aplicável s m de ex cução m nos rigoroso etc. 26 .
exceção em crim s, penas e m edidas de p roteção, independentemente
2.2. A hipót s d combinação de leis sucessivas obj to d controv /r- I
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emerg nciais ' inconstitucional2 9 . ultra-atividad da lei excepcional ou temporária é controvertida, como
indicam as seguintes teorias:
b) s gundo, um probl ma prático: d cidir se o compl m nto
posterior favorável ao autor (por x mplo, a do nça foi xcluída do catá- a) t oria dominant admit a ultra-atividad das 1 is p nais
logo) ' r troativo ao fator alizado na vig"ncia d complem nto ant rior temporárias ou excepcionais m prejuízo do r'u, sob o argumento uti-
prejudicial ao autor (na 'poca do fato, a do nça constava do catálogo )30 • litário d qu in vitáv is dilaçõ s processuais imp diriam a aplicação
da lei durante o tempo ou o acontecimento determinados 32 ou sob o
Ess problema prático ' r solvido p la r troatividad da lei
argum nto t 'cnico d qu o tempo ou o acontecimento int grariam o
penal mais benigna porqu o complemento da lei p nal em branco '
el m ento do tipo obj tivo e, portanto, integra a 1 i penal, s gundo a tipo 1 gal3 3, xcluindo, 1n ambas a hipót s s, ar troatividad da l i
s guinte lógica: se o tipo d injusto não exist sem o co1nple1n nto penal mais favorável;
1 gal ou administrativo - o Pod r L gi lativo, ind p nd nt m nt b) r sp itáv 1 t oria minoritária r j ita o atributo d ultra-ati-
da inconstitucionalidade da del gação d pod r s, autoriza a <lição vidad das leis p nais temporárias ou excepcionais m prejuízo do r ' u,
do compl m nto da 1 i p nal, por outra 1 i ou por ato adminis- sob o argum nto sist mático convinc nt da natur za inco ndicional
trativo -, então o complem nto ' elemento do tipo d InJusto , da xc ção constitucional d retroatividad da lei penal mais favorável
na h ipó t se d complem nto posterior mais favorável, r troativo 31• (art. 5°, XL), com a invalidação do art. 3°, do Código P nal, que não
2. Leis penais temporárias e excepcionais. As leis penais temporárias, teria sido recepcionado pela Constituição da R pública d 1988 34 •
ditadas para vig"ncia durant t mpo d t rminado, as leis penais 3. Leis processuais penais. A submissão das leis processuais penais ao
excepcionais, ditadas para vig"ncia durante acont cim nto determi- princípio constitucional da proibição de r troatividad da lei penal
nado (calamidad s públicas, como inundaçõ s, terr motos, pid mias m prejuízo do réu tamb 'm é controvertida:
te.), tariam subtraídas da exc ção d r troatividad da lei penal mais a) a teoria dominant xclui as leis processuais penais da proibição
favorável porque teriam ultra-atividade segundo nonna específica da
d r troatividade m prejuízo do réu, porqu s riam regidas pelo prin-
1 gislação p nal: cípio tempus regit actum, com aplicação da 1 i vig nte no mom nto
Art. 3°, CP. A lei excepcional ou temporária, embo- do ato processual respectivo, e não da lei processual vigente ao tempo
ra decorrido o período de sua duração ou cessadas as do fato punível objeto do processo penal 35 ;
circunstâncias que a determinaram, aplica-se ao Jato
6) convincent teoria minoritária subordina as leis processuais
praticado durante sua vigência.
penais à proibição d r troatividad m prejuízo do réu, sob o argu-
Não obstant , a ficácia d ssa norma esp cífica sobr a chamada m nto d qu o princípio constitucional da lei penal mais favorável
condiciona a l galidad proc ssual p nal, sob dois pontos d vista: b 1)
29 Ver Z ~FARO I, BATI T ALA L KA D ireito penal brasileiro, 2003,
§ 10, II, 7; igual men te, PIZZA PELU O, Retroatividade da Lei penai benéfica: a causa
da diminuição de pena do art. 33, § 4°, da Lei n. 11.343106 (Lei de Tõxicos) , in Boletim GO O, Comentários ao Código Penal, 1977, v. 1, p. 139, n. 30;
IBCCRlM ano 15, n. 175 junho/ 07 p. 2-3. YRl K DA TA, D ireito Penal (parte geral), 2005, p. 457-459.
30 A favo r da retroatividade do om plem ento mais favorável, I OS, 33 E TIERI, Manual de direito penal, 1999, p. 74.
D ireito penal (a nova parte geral), 1985, p. 52; contra a r troatividade d o complemento 34 N esse entido, Z ARONI, BATISTA, ALA IA e L KAR, D ireito penal brasileiro,
mais favorável, M TI .RI Manual de direito penal (parte geral), 1999, p. 75 . 2003, § 10, V, 5; tam bém LUISI, Os princípios constitucionais penais, 1991, p. 23 .
31 ncid , T E WERTH, Strafrecht, 2000, p. 50, n. 8. 35 P r t o , MARQUES, Elementos de direito processual penal, 1961, v. I, p. 48.
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pritn iro, o primado do direito penal substancial determina a extensão 5. Jurisprudência. A lit ratura penal admite a xt nsão do p rincípio
das garantias do princípio da legalidade ao subsistema de imputação da legalidade e seus derivados cons titucio nais à jurisprudência dos
(assim co1no ao subsistemas de indiciamento e de execução p ena~ Tribunais, mas a opinião 1najoritária rejeita essa exte nsão 40 •
porqu a coerção processual ' a própria r alização da coação punitiva36 ; A t oria majoritária r jeita subordinar a jurisprudência ao
b2) s gundo, o gênero lei penal abrang as esp 'ci s lei penal material princípio da proibição d r troatividad em p rejuízo do autor, sob
Lei penal p rocessual, regidas p lo m smo princípio fundam ntal 37 • o argum ento de que a lei penal somente agora seria co rretam ente
4. Lei de execução penal. A lei de execução penal (L i 7.210/84) conh cida - mas admit a possibilidade d erro de proibição inevi-
tamb 'm tá subm tida ao princípio con titucional da lei p enal mais tável fundado na confiança do cidadão na jurisprud "'ncia ant rior41 .
favorável- ou da proibição de retroatividade m prej uízo do réu, ap sar A t oria minoritária d fin a aplicação da 1 i penal como
de controvérsia insust ntável: atividad d construção da realidade social por juízos atributivos
a) o argum nto d qu a ressocialização do condenado pr val c fundado s em regras legais (tipo s d injusto normas proc ss uais)
sobr o princípio constitucional da lei penal mais favorável ' mora- metarregras ( st r ótipos outros m canismos inconsci nt s do
lizador, r pr ssivo antici ntífico: ningu ' m pod s r r ssocializado psiquismo do int 'rp r t ), q u · transformam o cidadão m crimi-
segundo crit ' rios morais alh ios, a pr venção esp cial negativa (r pres- noso, co m estigmatização social, mudança d status formação d
são n utralizant ) é incompatív 1 co1n a pr venção esp cial positiva carr iras criminosas d finitivas 42 - não co mo resultado ascético
( x cução r ssocializant ) , por último, a história do sist 1na p nal d r gras lógicas d subsunção. Assim, mudanças da jurisprud "' ncia
indica o fracasso irr v rsív 1do projeto t 'cnico-corretivo da prisão; em p rejuízo do réu - por ex mplo, inv rsão d posição absolutória
b) ao contrário, 1 is d execução penal são 1 is penais m sen- para posição condenatória - r pr s ntam 1 são do p rincípio da con-
fiança nas manifi taçõ s do Tribunai (porqu a jurisprud "' ncia
tido strito, porqu a execução da pena, como obj tiva concr to da
cominação e da aplicação da pena, é o centro nuclear do princípio da ' a 1 i do caso concr to), com cons q u "' ncias para a vida real d
legalidade s us incondicionais d rivados constitucionais, como a s r s humanos d carn osso, quival nt s à r troatividad da
aplicação retroativa da lei penal mais favorável aos fatos ant riores
1 i p nal em p rejuízo do réu, proibida pela Constituição. Afinal, s
manifes taçõ s do Pod r Judiciário não são indit r n t s ao hom m
"ainda que decididos por sentença condenatória transitada em julgado"
(art. 2°, parágrafo único, CP) 38 ; do povo, ntão a p roibição de retroatividade inclui mudanças d
jurisprud "' ncia dominante m pr juízo do autor, sob o argum nto
c) finalm nt , o primado do direito penal substancial st nd as d qu a confiança na jurisprudência equival à confiança na lei43 .
garantias do princípio da legalidade ao subsist ma d execução penal,
com a limitação dos poderes discricionários da prisão 39 . 40 Ver RK •RTH, Stmfrecht, 2001, 4a edição, p. 58-59, ns. 28 -31; também
ZAFFARONI, BATI T , ALAGIA e SL R, D ireito penaL brasileiro, 2003, § 10,
11 2- .
41 ROXI , trafrecht, 1997, p. 1 2 n. 1· TENWERTH, traji-echt, 200 1, 4ª
36 TTA, Principi del diritto penal mínimo. Per una teoria dei diritti umani come edição, p. 58, n. 30; também Z • ONI, BATI T , GIA e L KAR, Direito
oggettie limitidelío.legge p enale, inDei Delittiedelle Pene, 1991, n . 1,p. 450. penal brasileiro,. 2003, § 10, VII, 2-3.
37 ONI, BATI T , SL , Direito penai brasileiro, 2003, § 1O, V, 8. 42 B TTA, Criminologia crítica e crítica do direito penaL, 2000, p. 104- 106;
38 ZAFFARONI, BATI TA, ALA: IA e L Direito peruzi brasilei'ro, 2003, § 10, V, 9. ALBRE 1-: T, Kriminologie, 1999, p. 41-43.
39 B T TA, Principi del diritto penal mínimo. Per una teoria dei diritti umani come 43 N entid , H/ZIPF, tm/recht, 1, 1992, 8ª cdi ão, 12, II, n. 8, p. 159:
oggetti e limiti dei/a legge p ennle, in Dei Delitti e delle Pene, 1991, n . 1, p. 450. ''Mas existem casos de firme jurisprudência superior, que tem função equivalente ou
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Capítulo 3 77
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1. Técnicas d.e interpretação lei - por exemplo, o conceito de causa definido no art. 13, CP; b) a
interpretação autêntica paralela, como esclarecimento dos motivos e
A abordag m s mântica, sintática pragmática da linguagem indicação dos propósitos do legislador, aparece nas Exposições de Mo-
jurídica não vita probl mas de ambiguidades ou polissemias no texto tivos qu acompanham as leis p nais mais important s - por x mplo,
da 1 i, qu pod m r liminadas ou r <luzidas por técnicas tradicionais a Exposição de Motivos do Código P nal.
de int rpr tação da lei: Hteral, sistemática, histórica teleológica. A interpretação judicial é produzida por Juízes e Tribunais na
A interpr ração literal é uma aplicação especial da abordagem d cisão d casos concr tos, constituindo a jurisp rudência criminal sob
s mântica, cujo objetivo ' sclarec r o significado da linguagem scri- as formas d d cisõ s isoladas, jurisprud "ncia dominant , súmulas da
ta da lei, que pode s r empregada m s ntido comum ou em s ntido jurisprud "ncia dominant e, atualmente, também úmulas vinculantes
técnico na nonna jurídica; a interp retação sistemática t m por objetivo do Supremo Tribunal F d ral.
esclarecer o significado da norma isolada no contexto do sistema de A interpr tação científica 'produzida por p ciali t da ciência
normas respectivo, que estrutura os conceitos e os institutos jurídicos; a ju ídic -p nal repr s ntados por autor s d livros, artigos, confi -
interpretação histórica t m por obj tivo selar e r a intenção do legislador r "ncias e aulas de Direito P nal, que d fin m cat gorias científicas
no processo de criaçã a ma ju ídi a m dian a áli d b t necessárias ou úteis para a t oria e a prática do Direito Penal.
parlam ntares, dos ant proj tos d 1 i das xposiçõ s d motivos
qu caract rizam o processo l gislativo; a interpretação teleológica t m
por objetivo esclarec r a finalidade social da lei, como realização d 3. Resultados da interpretação
proibições, 1nandados e permissões prescritas pelo legislador7 .
A aplicação das técnicas de interp retação para esclarecer o sentido
da 1 i produz r sultados (a) declarativos, (b) restritivos ou (e) extensi-
2. Sujeitos da interpretação vos do significado da lei, assim explicados: a) resultados declarativos
indicam corr pond "ncia do significado com a linguag m da lei, no
A interpr ração da nonna jurídica pode ser r alizada p lo Poder s ntido d que !ex dixit quam voluit (a 1 i diss o qu qu ria diz r); b)
L gislativo, pelo Poder Judiciário por specialistas do Dir ito (ou ju- resultados restritivos indicam redução do significado da linguagem da
ristas), originando três segmentos principais de int rpretação segundo 1 i, nos ntido d qu lexdixitplusquam voluit(al i diss mais do qu
o sujeito respectivo: interpretação autêntica, interpretação judicial e qu ria dizer); e) resultados extensivos indicam ampliação do significado
int rpretação científica do Direito 8 . da linguagem da lei, no sentido d qu !ex dixit minus quam voluit
A int rpr ração autêntica ' produzida p lo l gislador, d dois (a lei disse menos do qu queria diz r) - int rpr ração proibida pelo
1nodos principais: a) a int rpr ração aut "ntica contextual, como d - princípio da 1 galidade dos crimes e das p nas 9 .
finiçõ s d cone itos empr gados na l i, aparec no próprio t xto da
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4. Analogia e interpretação interp retação e de analogia da lei penal: a igualdade lógica dos proc s-
sos cognitivos incide sobre objetos diferentes, que definem os limites
da interpretação p ermitida e da analogia p roibida e1n Direito Penal.
O conceito de analogia dev ser d finido m comparação com
o conceito d interpretação da lei penal, para dib r nciar entre inter- 4.2. Teorias diferenciadoras. As t orias desenvolvidas para definir os
pretação admissível analogia proibida d l i p n l 10 • limit s da int rpr ração permitida da analogia p roibida 1n Dir ito
Penal são as seguintes:
4.1. Igualdade lógica entre interpretação e analogia. A moderna
t oria da lei p nal afirma a igualdad lógica entre interp retação e ana- a) a t oria do sentido da 1 i p nal: qt1 tá onform ao ntido da lei
logia no proc sso d conh cim nto aplicação do Dir ito. R alm nt , p nal ,' int rpretação p ermitida; o qu está d sconform ao sentido da lei
interpretação e analogia tê1n por objeto grupos de casos previstos p n 'anal giap roibida 13 - uma teoria proble1nática pela subjetividad
não pr visto p la 1 i p nal - portanto, compara1n grupos d casos: do ntido atribuído a 1 i p nal·
a interp retação identifica grupos d casos pr vistos p la lei penal; a b) a t oria da literalidade d · ] i p n l: qu á e nfi rm ' li ralidad
analogia id ntifica grupos de casos não previstos, mas sem lhant s da lei p nal constitui interpretação p ermitida; o qu está desconforme
aos casos pre 1 n I i p nal 11 • à literalidad da lei p nal constitui analogia p roibida 14 - u1na t oria
O limite da interpretação d 1 · penal ' d mi ad p l ig- adequada ao princípio da legalidad do Estado Democrático de Direi-
nificado das palavras empregadas na linguagem da lei p nal, que não to, porq u a pafav u m significados obj tivos r sponsáv is p la
indicam quantidades expressas m núm ros, medidas ou pesos, mas comunicação cial. ria da literalidade também resolv o dilema
valores cujos s ntidos d v m s r det rminados pelo int ' rpr t : por um ntre int rpr ração restritiva interpretação extensiva da lei penal: o
lado, o 1 gislador d fin nonnas p nais utilizando palavras para cons- princípio da legalidade proíbe qualquer interpretação extensiva da lei
truir a lei penal; por outro lado, o Juiz decide casos concretos fundado p nal, resolv ndo todos os casos d dúvida conform a interpr tação
no significado das palavras empregadas pelo legislador para definir a restritiva da lei penal - aliás, a única compatível co1n o princípio in
1 i p nal. Como indicado, as técnicas empr gadas p lo int 'rprete para dubio p ro reo, hoj de aplicação universal no Dir ito P nal1 5.
det rminar o significado dos valores da l i p n al (lit ral sist m ' tica 4.3. Analogia proibida e analogia permitida. A analogia pode ser
histórica e tel ológica) pesquisam o significado das palavras da lei pensada como argumento a sím ile como argumento a maiori ad minus.
penal, a função da norma isolada no sistema de normas penais, as
representações do legislador no processo legislativo de criação da lei 4.3. 1. Analogia a símile. anal gia m rgwn n t a símile significa
p n ] fin lidad ocial a ] i p nal1 2 • aplicaçã a 1 i nal fatos difi r nt s dos pr vistos, mas s m lhant s
aos previstos 16 • esse sentido, a analogia constitui um juízo de pro-
M ald d l 'gica ão p rmit confundir os cone itos d
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habilidade próprio da psicologia individual, qu não pertence nem à ídas com base nos precedentes legais: o sistema do case law, vigente na
lógica clássica/dedutiva, nem à lógica moderna/indutiva 17 • Inglaterra e nos Estados Unidos, por ex mplo 20 ; b) no Direito Civil
brasileiro, a analogia é expressainente admitida para solução de casos
4.3.2. Analogia a maiori ad minus. A analogia como argum nto
a maiori ad minus significa que a norma jurídica v' ida para uma não disciplinados m 1 i.
class g ral de fatos é iguahnent válida para fatos speciais da 1n s-
ma categoria. Aqui, a teoria da igualdade lógica entre interpretação
e analogia da lei p nal é decidida p lo significado da analogia para o III. O silogismo como lógica de subsunção jurídica
caso concr to: s o significado concr to r pr s ntar prejuízo para o
r 'u, constitui analogia proibida; se o significado concr to representar
1. O silogismo é o processo lógico d aplicação da lei p nal, constitu-
benefício para o réu, constitui analogia (ou interpretação) permitida.
ído d duas premissas (uma maior outra m nor) de uma conclusão,
Essa t oria r monta à distinçã R 18 , hoj gen ralizada na
assim r !acionadas: s as premissas são verdadeiras, e se a conclusão
lit ratur p nal qu d hniu a , b da analogia proibida e da analogia
stá itnplícita nas pr missas, então a conclusão ' verdad ira 21 • S -
permitida em Direito Penal:
gundo KELSEN, o silogismo é uma s quência de declarações pela
a) a analogia in malam partem - compreensiva da analogia praepter qual a v rdad do cont údo da conclusão ' xtraída da v rdad do
legem e da analogia contra legem - é absolutamente proibida p lo cont údo das pr missas 22 .
Dir ito P n : a ub unção d açõ sou d omissão d açõ s nos tipos
1.1. O silogismo clássico ' assitn formulado: a) todos os homens são
legais e a aplicação ou agravação de sanções penais em casos concretos
mortais (pr 1nissa 1naior); b) Sócrates é um homem (pr 1nissa 1nenor);
exclu m a anal gia m toda hip 't
c) Sócrates é mortal (conclusão).
b) a nal gia in bonam partem - a chamada analogia intra legem - '
1.2. O silogismo jurídico t m a mesma strutura: a) homicídios
permitida pelo princípio da legalidade, sem nenhu1na restrição: nas
são punidos com pena de reclusão de 6 a 20 anos (pr 1nissa maior);
justificaçõ s, nas xculpaçõ s m qualqu r hipót s d extinção ou
b) Ypraticou homicídio contra X (pr missa menor); c) a pena de reclusão
de redução da punibilidade do comportam nto humano 19 •
de 6 a 20 anos é aplicável contra Y(conclusão).
4.4. Necessidade da an ogia. A analogia é necessária para o funcio-
2. A lógica do silogismo, como lógica da subsunção jurídica, stá pr -
namento do ordenamento jurídico de d t rminados Estados nacionais
s nte m toda d cisão judicial. Mas a lógica d subsunção jurídica do
- assim como para a aplicação de alguns ramos do próprio ordenam n-
silogismo pode apresentar problemas relacionados com a subjetividade
to jurídico brasil ir : a) n . paí an I - axônicos, as d cisõ s dos
do julgador, consist nt s m duas sp 'ci s d • rros, incid nt s sobr
Tribunais em proc ssos criminais são fundadas em analogias constru-
objetos diti r ntes:
a) o erro d interpretação da nonna jurídica é det nninado por falhas
P, On inductive logic, in Philosophy of cience, 1945, v. XII p. 72, apud
KE , Allgemeine Theorie der Normen, 1990, p. 218.
18 M YER, Der allgemeine Teil des deutschen trafrechts, 1915, p. 27.
19 J• H K/ 1 D; Lehrbuch des Strafrechts, 1996, § 15, III, n. 2d, p. 136;
M H/ZIPF, Strnfrecht, 1992, p. 127-128 , ns. 21-22; RO T tra.frecht, 1997, 20 TRAT RTH, trnfrecht, 2000, p. 58-59, n. 31.
p. 1 ~ 2~ 114, ns. 40-44; ZAFFARO I, BATIST AL G LOKAR, D ireito penal 21 Assim, SUSAN STEBBING, A modern elementary logic, 1957, p. 159.
brasileiro, 2003, § 1O, III, 4-6. 22 K.E Allgemeine 1heorie der Normen, 1990, p. 181-182.
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ou defeitos de conhecimento científico do Direito; As fontes fo rmais do Direito tamb 'm são classificadas em dois
grupos: a) as fontes escritas, que compreendem a lei, a jurisprudência
b) o rro de análise da p rova dos autos é det rminado por defi itos d
e a doutrina; b) as fontes não escritas, que compreendem os costumes,
r pr s ntação do fato (definido como silogismo regressivo) 23 •
os princípios gerais do direito e o poder negocial ntre cidadãos 26 .
A Criminologia explica esses proble1nas como produtos de
metarregras (ou basic rufes), fenômenos psíquicos mocionais (em ge- O Dir ito P nal, co1no sist ma d nonnas constituídas d
preceito e de sanção, possui uma única e exclusiva fonte fo rmal: a Lei
ral, inconsci ntes) qu det rminam o significado concr to da d cisão
penal, nas dimensões caract rísticas do princípio da Legalidade, como
judicial: preconceitos, est reótipos, traumas outras idiossincrasias
lex scripta (proibição do costum ), Lex p raevia (proibição d r troa-
p ssoais ou distorçõ s ideológicas qu informam as percepçôes
tividade), Lex strícta (proibição de analogia) e Lex certa (proibição de
atitudes do julgador, desencadeados por indicadores sociais nega-
ind terminação) .
tivos d pobr za, d s mpr go, 1narginalização, moradia 1n fav las
etc. - r sponsáv is p la seletividade da clientela do sistema penal-,
constituiriam as determinaçõ s emocionais d cisivas do processo d
criminalização, conforme SACK24 .
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SEGUNDA PARTE
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CAPÍTULO 5 conforme dois mod los difer nces: a) o modelo etiológico conceb a
criminalidade como realidade oncológica pré-constituída, explicável
FATO PUNÍVEL por defeitos pessoais determinados por causas individuais (teorias
biológicas, g n 'ricas, instintivas te.) ou por causas estruturais
(t orias sociológicas d desorganização social, d aprendizag m ,
mulcifatoriais te. ); 6) o mod lo político conceb a criminalidad
I Definições de crime como criminalização, mostrando o crime como b nômeno social
criado p la lei penal, o criminoso co1no suj ito stigmatizado p la
A teoria do Jato punível é o seg1nento principal da dogmática Justiça criminal a criminalidad como criminalização s 1 tiva das
penal, o sise ma d cone itos construído para d ser ver o Dir iro camadas sociais oprimidas nas sociedades fundadas na contradição
P nal, co1n o s cor do ord nam nto jurídico qu institui a política capital/ trabalho assalariado.
criminal - rectius, a política penal - do Estado, o programa oficial d
Definiçó s materiais mostram o fato punível como lesão do
r tribuição e d prev nção da criminalidade. Ness sentido, par e
bem jurídico protegido no tipo legal - por exe1nplo, o ho1nicídio
não hav r contradição entre dogmática penal e política criminal, qu
como destruição da vida humana, a 1 são corporal como destruição da
s co1nportam como as faces d uma só 1n sma mo da, int grada
int gridad corporal te. D finiçõ s formais mostram o fato punív 1
numa relação de recíproca complem entação: a dogmática penal é a
como violação da norma legal am açada com p na - por xemplo, o
sise matização d conceitos xtraídos d um programa de política
homicídio como violação da norma não deves matar etc.
crüninal fonnalizado na 1 i p nal, todo prograina 1 gislado d polí-
tica criminal depend d uma dogmática specífica para racionalizar D finiçõ s operacionais mostram o fato punív 1como cone iro
disciplinar sua aplicação 1 • analítico truturado p lo compon nt do tipo de injusto da cul-
pabilidade - por x mplo, o homicídio como injusta produção da
Uma t oria do fato punív l d v com çar p la d finição d
more d algu ' m por um autor culpável.
seu obj to de estudo, o cone ito de fato punív 1. Do ponto de vista
sociológico, as d finições de u1n cone iro pod 1n t r natur za real, A ciência do Dir ito P nal pr ocupa-se specialm nt com
material,farmal ou operacional, conforme mostrem a origem, os feitos, d fini ções operacionais d fato punível - também d nominadas
a natureza ou os caracteres constitutivos da realidade conceituada2 . definições analíticas do crim - capaz s d indicar os pressupostos
de punibilidade das ações d scricas na lei p nal como crimes, de
D fini ções reais xplicam a gên s da criminalidade, impor-
funcionar co1no critério de racionalidade da jurisprudência criminal
tant s para d limitar o obj to da Criminologia, hoj estudado
, acima de tudo , d contribuir para a segurança jurídica do cidadão
no Estado Democrático d Direito 3 .
omparar R XI , trafr chr, 1997, § 7, I, n. 1, p. 145 e V ns. 69-70, p. 174- A dogmática p nal cone mporân a trabalha com duas cat gorias
17 ; cam 'm GT BER T RD IG, Hat die trafrechtsdogmatik eine Zukunft?,
Z rW 82 (1970), p. 405 s.
2 Ver HWE DT R, rman e Ju.lia. D efensores da ordem ou guardiã s dos
direiros humanos? ln: TAYLOR, Ian; WALTO , Paul; YOUNG, Jo k (editores) .
riminologia crítica. Tradu ão de Juarcz irino dos amos e érgio Tancredo. Ri d 3 J H 1 , Lehrbuchdes trafrechts, 1996, § 21 I, 2, p. 195. o Br il ,
Janeiro: RAAL, 1 p. 144. v r FRAGOSO, Lições de Direito Penal, 1985, n. 119, p. 146- 147.
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elementar s do fato punível : o tipo de injusto e a culpabilidade4 . Essas bipartido o mod lo tripartido d crim ; no resto da Europa na
categorias elementares concentram todos os elem entos da definição América Latina, o modelo tripartido de fato p unível é dominante. 6
analítica de fato punível, mas a operacionalização da definição analí-
1. Modelo tripartido de crime. O modelo tripartido d fato punív 1
tica r qu r o desdobramento daqu las cat gorias g rais nas cat gorias tamb ' m admit os conceitos de tipo de injusto e de culpabilidade
mais simpl s qu as constitu m: a) o conceito d tipo de injusto, cons- co1no categorias le1nentar s do fato punív 1, mas cone 6 o tipo de
tituído p la xist "'ncia correr ta d uma ação típica antijurídica, stá
injusto como categoria formada por dois conceitos autônomos: o tipo
na base da controv ' rsia ntr os mod los bipartido tripartido d legal (d scrição d proibiçõ s abstratas) a antijurídicidade (valoração
crime; b) o conceito de culpabilidade alcançou u1n relativo cons nso, n gativa concr ta, xcluída nas justificaçõ s) . Assim, a cone pção
constituído d capacidade penal, d conhecimento do injusto (r al ou tradicional assum o modelo tripartido do cone ito d crime, como
potencial) de exigibilidade de comportamento diverso 5• ação típica, antijurídica e culpáv 1, reproduzindo, ao nível da valoração
cone itual, os stágios do proc sso analítico do fato punív 1.
a cone pção tripartida de crim o tipo 1 gal cumpr as s guint s
11. Os sistemas de Jato punível funções: uma função t 'cnica d d scrição do comportamento punível
(tipo d d lito); uma função sist mática de indicar a antijuridicidad
A v rificação concreta d um fato punív 1passa, n e ssariam nt , do fato (tipo d injusto); e urna função política d formalização 1 gal
pelo procedim nto s q u ncial r pr sentado p los stágios da tipicida- do princípio da l galidad (tipo d garantia). Por sua vez, a antijuri-
d , da antijuridicidad da culpabilidad - ou s ja, no Dir ito P nal, dicidade cumpre a função d d finir o valor n gativo do fato típico
a r l vância d um comportam nto típico d p nd d sua r alização (desvalor social), d t rminado pela danosidad social do fato - ou
antijurídica por um autor culpáv 1, como s v rá. Na ciência p nal, ja, a xi t "' ncia do tipo 1 gal ' in ufici nt para configurar a anti-
xiste cons nso sobr a construção do cone ito d crirn mediant as juridicidad , porque exist m inúm ras xc ções à proibição g ral do
categorias básicas do tipo de injusto e da culpabilidade, considera- tipo 1 gal, qu autorizam a produção d um d t rminado dano social
das cat gorias 1 m ntar s do fato punív l; não obstant , xist uma concreto , fundadas m valor s sup riores ao valor 1 sionado. Ess s
controv' rsia dogmáticas cular sobr o cont údo do tipo de injusto valores superior s qu autorizam o dano social correr to definido no
- ou s ja, sobre a qu stão da unidade ou da autonomia conceitua! dos tipo 1 gal são as justificaçõ s legais supralegais: a 1 gítima d t sa,
stágio analítico da tipicidad da antijuridicidad no tipo d injusto o estado d n cessidade, o strito cumprim nto d d v r 1 gal o
- , r sponsáv 1pela construção tripartida p la construção bipartida xecício r guiar d dir ito (justi.ficaçõ s 1 gais) o consentimento do
do conceito de crime. titular do bem jurídico (justificação supralegal) .
Na atualidade, a lit ratura al m á stá dividida entre o 1nod lo Assim, na cone pção tripartida, a antijurídicidade é uma ca-
t goria analítica qu s rv para catalogar as situaçõ s concr tas qu
4 Assim, por ex m lo J T , Lehrbuch des Strafi'echts, 1996, § 39, xclu ma antijuridicad - m outras palavras, a antij uridicidad s rv
I, 1, p. 194; OTTO, Grundkurs tmfrecht, 1996, § 5, III 1, n. 23, p. 46.
5 Ver HE K/WEJ D, Lehrbuch des trafrechts, 1996, § 39, I, p. 194-1 95;
RO trafrecht, 1997, § 7, n . 7-8, p. 148; /B KE trafrecht, 1998, n.
83, p. 22. No Bra il, R.AGOSO, Lições de D ireito Penal, 1985, n. 122, p. 148- 15 1; 6 No Brasil, recentemente, JU Z TAVARE aderiu ao conceito bipartido de crime,
M l Manual de D ireito Penall, 1999, p. 105. cf. Teoria do D elito. São Paulo: Estúdio Editores.com, 20 15, p. 31 s.
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para apresentar a juridicidad , repr s ntada pelos preceitos permissivos de um acontecim nto contrário às proibições e permissões do orde-
que excluem a indicada contradição da ação típica com o ordenamen- namento jurídico; d) a culpabilidade é um conceito psicológico, sob
to jurídico. Aqui reside o principal argumento de defesa do modelo as fonnas de dolo e imprudência, que concentra todos os elementos
tripartido d fato punível: a p rmissão concreta d r alizar proibiçõ s subj ti vos do fato punível 11 •
abstratas não autoriza identificar ações atípicas com ações típicas jus-
1.2. O mod lo neoclássico d fato punív 1é o produto da d sint gração
tificadas: matar alguém em legítima d fi sa não parec o m smo qu do modelo clássico de fato punível 12 e de sua reorganização sistemática
matar um ins to 7 . Assim, a validad do cone ito de tipo de injusto, conform novas cone pções 13: a) a ação d ixa de s r naturalista para
como unidade sup rior compreensiva do tipo legal e da antijuridicidade, assumir significado valorativo, r d finida como comportamento huma-
não p rmitiria niv lar difi r nças ntr comportam ntos justificados, no voluntário 14; b) a tipicidade perde a natureza descritiva livr de
qu devem s r suportados pela vítima, comportamentos atípicos, valor para admitir el m entos normativos (documento, motivo torp
qu pod 1n variar d sd açõ s insignificant s at' açõ s antijurídicas 8 • te.) subjetivos (a int nção d apropriação, no furto, por x mplo) '5;
O sistema tripartido de fato punível, ainda dominant na dog- e) a antijuridicidade troca o significado formal d infração da nonna
mática contemporânea9, define crime como ação típica, antijurídica jurídica pelo significado material de danosidade social, admitindo
culpável, um cone ito formado por um substantivo qualificado p los graduação do injusto conform a gravidad do int r ss 1 sionado;
atributos da ad quação ao modelo 1 gal, da contradição aos pr e itos d) a culpabilidade psicológica incorpora o significado normativo, com
proibitivos p nn1ss1vos da reprovação d culpabilidad . Na linha r provação do autor p la fonnação d vontad contrária ao d v r: s o
do sistema tripartido d fato punível, a dogmática penal conh ce comportam nto proibido pod ser r provado, então pod s r atribuído
três modelos sucessivos de fato punível: o modelo clássico, o modelo à culpabilidade do autor 16 •
neoclássico e o modelo finalista (ou teleológico), cujos traços essenciais
1.3. O mod lo finalista (ou teleológico) d fato punív 1, introduzido
pod m s r assim nunciados: no Dir ito Penal por WELZEL na d' cada d 50' do s 'culo 20, r vo-
1.1. O mod lo clássico d fato punív 1, conh cido como mod lo d lucionou toda as ár as do cone ito d crim , com bas nos guint
LISZT/BELI G/RADBRUCH, originário da filosofia naturalista do princípio m todológico: a ação ' o cone ito central do fato punív 1 a
s 'culo 19, parec claro simpl s: a) a ação ' um movim nto corporal strutura final da ação humana fundam nta as proibiçõ s mandados
causador d um resultado no inundo xterior; b) a tipicidade ' a d s- das normas p nais 17 •
crição obj tiva do acontecim nto 'º; e) a antijuridicidade ' a valoração
11 LI ZT, Lehrbuch des D eutschen Strafrechts, 188 1, p. 105 s.
12 RO , trafrecht, 1997, § 7, III 14-5 p. 151-1 52.
7 Vir WELZEL, Das Deutsche trafrecht, 1969, § 14, I 1, p. 81. 13 Ver J . . ...,,J~,.,, l Lehrbuch des trafrechts, 1996, § 22, III, p. 204-208 .
8 RO , Strafrecht, 1997, § 10, ns . 16-23, p. 232-236. 14 im, MEZGER, Moderne Wege der trafrechtsdogmatik, 1950, p. 12.
9 BA /WEB RI IT H, trafrecht 19 .. S § 16 n. 14 25· B KE MAN / 15 FI H ER, D ie Rechtswidrigkeit mit besonderer Berucksichtigung des Privatrechts, 1911,
VOLK, trafrecht, 1 7, 1 · DREHER/TRO DLE, trafgesetzbuch 1995, nota p. 138; HE LER, Die Merkmale des Verbrechens, Z tW 36 (1915) p. 27; MEZGER,
preliminar ao§ 13, n . 8; H K/ I trafrecht, 1996, § 25, 1, II I, p. 244 D ie subjektíven Unrechtselemente, 89 (1924), p. 20 .
.; URA H/ZIPF, trefrecht 1, 1992, § 24, I 2, p. 333; RO , trafrecht, 1997, 16 Ne e enci o, K, Uber den Aujbau des chu/dbegriffi, 1907,. p. 11.
§ 10, n. 16 s., p. 232; ~ .. ~ ..... ..,.,, D as D eutsche trafrecht, 1969, § 10, III, p. 52 s.; 17 Ver AR H R MA D ie Ontologische Begrundung des Rechts, 1965;
/ K , trafrecht, 1998, n. 129, p. 38. No Br il T, RI , Manual J ◄ 1(/\ 1 E , Lehrbuch des trnfrechts, 1996, § 22, V 1, p. 210. o
de D ireito PenalI , 1999, p. 106- 107; tam bém, ZAF FARO 1/PIERAN LJ, Manual Bra il, I RI, Manual de Direito Penall, 1999, p. 112-114; ompara.r, també m,
de D ireito Penal brasileiro, 1997, n. 179- 189, p. 390-406. ZAFFARONI/Pl ; GE l Manual de D ireito Penal brasileiro, 1997, n. 198-199,
10 BELI G, D ie Lehre vom Verbrechen, 1906, p. 178 s. p. 416-419.
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A ação hu1nana ' exercício de atividade final ou, como obj ti- O mod lo teleológico de fato punív 1generalizou-se na lit ratura
vação da subj etividade, realização do propósito: o homem pode, em e na jurisprudência contemporâneas, com diferenças de detalhe que
certos limites, por causa do saber causal, controlar os acontecimentos não afetam a estrutura do paradigma, além de influenciar diretamente
dirigir a ação para d t rminados fins, conform um plano 18 . A ação algumas l gislaçõ s mod rnas, como ar forma p nal al m ã (1975)
final compr nde a proposição do fim, a escolha dos meios de ação n - a nova part g ral do Código P nal brasil iro (1984).
e ssários a realização da ação no mundo r al 19 - uma definição qu 2. Modelo bipartido de crime. O modelo bipartido d fato punível
corresponde ao mod lo teleológico d ação d s nvolvido p la sociolo- d fin o tipo de injusto como uma unidade cone itual formada p lo
gia20. O cone ito d ação final produziu as s guint s transformações no tipo legal p la antijurídicidade - qu ad1nit m op racionalização
cone ito d crim : a) introduziu o dolo ( outros 1 m ntos subj tivos)
analíticas parada, mas não constitu m categorias struturais diferen-
no tipo subj tivo dos delitos dolosos, como vontad consci nte d tes do fato punív l: o tipo l gal é a descrição da lesão do bem jurídico
r alização do fato; b) mant v a consciência do injusto como 1 m nto
por um comportamento agr ssivo concr to; a antijuridicidad ' o
e ntral da culpabilidad , que fundam nta a r provação do autor p la
nec ssário juízo de valoração do co1nportam nto descrito no tipo legal,
formação defeituosa da vontade 21; e) instituiu nova disciplina do erro cuja in tegração conceituai com o tipo legal forma o tipo de injusto26 .
m corr spond "ncia com ssas mudanças sist máticas: na ár a do tipo, Logo, o cone ito d tipo d injusto ' formado p la unidad da ação
o erro de tipo xclud nt do dolo , por xt nsão, xclud nt do tipo; típica antijurídica concr ta, d finida pelas proibiçõ s (tipos 1 gais)
na área da culpabilidad , o erro de proibição xcludent ou redutor da p las p nnissões (tipos p nnissivos, ou justificações), int grando
r provação de culpabilidad 22; d) pro1nov u a subj tivação da antijuri-
os estágios analíticos concretos da tipicidade e da antijurídicidade no
dicidad m diant a struturação subj tiva obj tiva das ju tificaçõ s; conceito unitário do tipo de injusto. Assim, o conceito de crime é
e) r <luziu a culpabilidad a um cone ito normativo, como reprovação constituído pelas categorias do tipo de injusto e da culpabilidade,
d um suj ito imputável p la realização não justificada d um tipo d
qu configuram o modelo bipartido d crim - agora introduzido no
crime, com consciência do injusto (real ou possível), m situação de
t xto como mod lo formal d compr nsão do fato punív 1, mbora
exigibilidade de comportamento diverso 2 • Complementarmente, per- já pr nt na última diçõ d st livro.
mitiu r d finir a omissão de ação como xp ctativa frustrada d ação 24
a imprudência como r alização defeituosa d uma ação socialm nt Na cone pção bipartida d crim o tipo d tnJusto cumpr as
p rigosa, com l são do dever de cuidado ou do risco permitido r alizado s guintes funções: uma função t 'cnica de descrição do comportamento
no r sultado d 1 são do b m j urídico 25 • punív l (tipo d d lito); uma função política de formalização l gal
do princípio da legalidade (tipo d garantia).
Historicam nt , essa cone pção r monta à famosa teoria dos
18 WELZEL, Das Deutsche Strafrecht, 1969, § 8, p. 33. elementos negativos do tipo de ADOLF MERKEL, 27 que unifica as
19 WELZEL, Das D eutsche trafrecht, 1969, § 8, p. 34.
20 HABERMA , 1heorie des kommunikativen Handelns. uh rkamp 1995, v. 1, p.126-7 cat gorias do tipo l gal da antijuridicidad , r sp ctivam nt , como
e V. 2, p. 306-7.
21 J H~ 'l , Lehrbuch des Strafrechts, 1996, § 22, V 3, p. 211-212. as dim nsõ s d descrição d valoração do conceito d tipo integral de
22 JE CH K/WEI D, Lehrbuch des trafrechts, 1996, § 22, V, 36, p. 212.
23 omparar RO Strnp-echt, 1997, § 7, III, 17-20, p. 152-1 53 .
24 Ver I KA FMAN , Die Dogmatik der Unterlassungsdelikte, 1959, p. 92 s.
25 ~ r JE HE K/WEI D Lehrbuch des Strafrechts, 1996, § 22, V, 4, p. 212; 26 Ver OTT O, Grundkurs Stra echt, 1996, § 5º, n. 28, p. 47 .
MA RA H/ZIPF, Strafrecht l, 1992, § 16, n. 48, p. 205. 27 - riginária d LF · , Lehrbuch des deutJchen traftechts, 1889, p. 82.
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zn;usto - u1n conceito m que as justificaçõ s stariam separadas dos 3. O modelo de fato punível adotado. O modelo d fato punív 1
tipos legais apenas por motivos técnicos, porque todo tipo de injusto desenhado no texto é formado pelos conceitos de tipo de injusto e de
deveria ser lido assim: matar alguém, exceto em legítima defesa, em estado culpabilidade, cujos elementos constitutivos são assim distribuídos:
de necessidade etc. A inclusão das justificaçõ s no tipo 1 gal transforma 3.1. O tipo de injusto, como concreta d scrição do injusto do fato,
os pr e itos permi sivos em características negativas do tipo d injus-
co1npr nd os 1 1n ntos funda1n ntador s da danosidad social
to, nquanto o tipo 1 gal d screv as características positivas do tipo (real ou am eaçada) do comportamento, excluídos os fundamentos da
de injusto 28 • Logo, um homicídio em legítima d fi sa s ria uma ação r provação do autor (culpabilidade). Ness s ntido, o tipo de injusto
atípica - e não uma ação típica justificada29 , confonn a estrutura do
co1npr nd os s guint s 1 1n nto : a) a ação como r alidad psico -
sist ma bipartido d fato punív 1: o tipo de injusto a culpabilidade. somática do cone ito d crim ; b) a tipicidade como ação humana
O mod lo bipartido de fato punível tem partidários d prestígio adequada ao tipo legal, nas dim nsõ s de (1) tipo objetivo, constituído
na dogmática mod rna30 - par e lógico, s gundo vários argum ntos: p la causação do resultado p la imputação do resultado, d (2) tipo
a) os tipos dolosos apresentam, cada vez mais, el mentos próprios da subjetivo, fonnado pelas cat gorias do dolo ( outros elementos subje-
antijurídicidade - xpressos em palavras como injusto, irregular, grave tivos especiais) e da imprudência/ c) a antijurídicidade, afinnada nas
te.-, cuja aus "ncia xdui o tipo (por x mplo, o carát r injusto do mal, proibições xcluída nas permissões, como cat goria dogmática com-
na am aça); al 'm disso, e rtos tipos dolosos não admitem justificação, pr nsiva das justificações, studadas nos cone itos corr spond nt s
porqu a sitnpl sr alização do tipo l gal det nnina a antijuridicidad d situação justificante d ação justificada, ta1nb /m 1n dimensõ s
concr ta do fato: por exemplo, no stupro, tipicidad antijurídici- subjetiva e obj tiva.
dade se confundem31 ; finalmente, a antijurídicidade penal só pode
3.2. A culpabilidade, como juízo d reprovação p la r alização do
existir sob a fonna do tipo legal e, inversamente, a tipicidade não é
tipo de injusto, compr nd (1) a imputabilidade ( xcluída ou r duzida
mais do qu a antijuridicidad tipificada na forma da l i p nal; b) nos por menoridade por doenças mentais), (2) a consciência da antijurí-
crim s d imprudência o tipo 1 gal som nt pod s r d finido p lo dicidade ( xcluída ou r <luzida m hipót s s d erro de proibição),
cone ito d (1 são do) dever de cuidado - ou ja, por uma valoração (3) a exigibilidade de comportamento diverso ( xduída ou r <luzida m
da antijuridicidad ; c) igualm nt , nos crim s d omissão de ação o situações de exculpação I gais e supral gais).
tipo 1 gal so1nent podes r definido pelo conceito d (1 são do) dever
de agir- ou s ja, tamb 'm por uma valoração da antijuridicidad . 3.3. As categorias compl m entar s d autoria/participação, de ten-
tativa/consumação de unidade/pluralidade d fatos puníveis, como
desenvolvimentos da teoria do tipo, são apresentadas em capítulos
28 ROXI , trafrecht, 1997, § 10, n. 14, p. 23 1. o Brasil, TAV: R Teoria do injusto ind pendent s.
penal, 2000, p. 165 s.
29 OTTO, Grundkurs tra-{recht, 1996, § 5º, 11. 24, p. 46.
30 E I H , Tatb 'Strmdsín·tum und Verbotsir-rtum bei Rechtfertigtmgsgrunden, Z tW
70, 1958, p. 56; ART R UFMANN, Tatbestand, Rechtfertigungsgrunde und
l rrtum, JZ 1956, p. 353 e 393;_ OTT , (!rundkurs tra/r~cht, 1996, § 5, 11 . 23 s.,
p. 46 .; H E Emfohrung m das trafrechtlzche ,ystemdenken, 1994;
,.,._.. . "-'-',.,.,~RG, Erlnubnistatbestandsirrtum und Deliktsaujbau, JA 1989, p. 243 s.
o Brasil, HAD D ireito criminal: parte geral, 1987, p. 119; REALE JR.
Instituições de direito penai (parte geral), 2002, p. 139-1 40 .
31 RG, Erlaubnistatbestandsirrtum und Deliktsaufo'/111, JA 1989, p. 245 .
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III Teoria do tipo A d scob na de elementos subj tivas por FISCHER35 , MAYER36
e outros mostra que o tipo de injusto pode depender do psiquismo do
autor, co1no e comprovou nos elementos subjetivos das justificações
, depois, no próprio tipo 1 gal (a int nção d apropriação nos cri-
1. Conceito e funções do tipo
m s patrimoniais, ou a t nd "ncia lasciva nos crim s s xuais) 37 . Com
o adv nto da t oria teleológica da ação, preparada por WEBER38
O cone ito d tipo, introduzido por BELING na dogmática GRAF ZU DOHNA39 introduzida pl nam nt por WELZEL40
penal3 2 , pod ser d finido de tr "s dit r ntes pontos d vista: a) como no Dir ito Penal, compl ta-se a subj tivação do conceito de tipo: a
tipo legal constitui a d scrição do comportam nto proibido, com to- vontad consci nt d r alizar os l 1n ntos obj tivos do fato ' r tira-
das suas características subjetivas, objetivas, descritivas e normativas, da da culpabilidade para integrar a dim nsão subj etiva do tipo 1 gal,
realizada na pane especial do CP; b) co1no tipo de injusto compreende co1no dolo d tipo. Assim, g n raliza-s o mod lo d compr nsão
a r alização não justificada do tipo l gal, com a pr s nça dos elemen- dos tipos legais nas corr spondent s dimensões subjetiva e objetiva,
tos positivos (d scrição da conduta proibida) aus "ncia dos elem entos sob as d signaçõ s simplificadas d tipo subjetivo de tipo objetivo.
negativos (justificaçõ s) do tipo d injusto; e) como tipo de garantia
r aliza as funçõ político-criminais atribuída ao princípio da 1 gali- A id ntificação d el m ntos normativos no tipo 1 gal por
dade (expr sso na fórmula nullum crimen, nulla poena sine lege) e ao MAYER41 (por x mplo, o carát r alheio da coisa, no furto) d sca-
princípio da culpabilidad ( xpr sso na fórmula nullum crim en sine ract riza a n utralidad do tipo livr d valor de BELI G. Os 1 -
culpa), compreendendo, tamb ' m, as condições objetivas d punibili- mentos normativos do tipo 1 gal são el m ntos da antijuridicidad ,
dad os pr ssupostos proc ssuais 33 . que integram a tipicidade porque devem constituir objeto do dolo42
e podem ser objeto do erro de tipo (em conjunto com os elementos
descritivos). Os 1 mentas normativos do tipo 1 gal são numerosos,
conform d monstrou WOLF 43 : m smo supostos puros cone itos
2. Desenvolvimento do conceito de tipo
d scritivo , como homem ou coisa, ão tamb ' m cone ito normativo
porqu xig m uma valoração jurídica ori ntada para a antijuridicidad
O conceito d tipo, nos ntido d Tatbestand (situação d fato) (por ex 1nplo, a ext nsão do conceito de coisa m r lação aos animais
do mod lo causal do s ' culo 19, ' d finido por BELI G co1no ob- à n rgia), assün como o juízo sobr a xist "ncia (já ou ainda) d
j tivo e livr de valor: objetivo, porqu todos os elementos subjetivos
integraria1n a culpabilidade; Livre de valor, porque a tipicidade seria
n utra, toda valoração l gal p rtenc ria à antijuridicidad 34 . Manual de D ireito Penal brasileiro, 1997, n . 227-229, p. 452-456.
35 FI H ER, D ie Rechtswidrigkeit mit besonderer Berucksichtigung des Privatrechts, 1911.
36 . E. , traftecht, 1915, p. 185-188.
37 Assim , R trafrecht, 1997, § 10, n. 8, p. 228.
32 BELI , D ie Lehre von Verbrechen, 1906. 38 B , Z um Aujbnu des traftechtssystems, 19 35.
33 OTTO, Grundkurs Strafrecht, 1996, § 5, n . 20, p. 45; ROXI I , trefrecht, 1997, § 10 39 D , Der Aufbau de Verbrechenslehre, 1936.
I, n. 1 s., p. 225; WE ELS/B ULKE trafrecht, 1998, n. 11 7, p. 35 . o Bra il, ver 40 WELZEL, D as neue Bild des Stnzfrechtssystems, 196 1, 4a edição . N o Bras il, ver
Z F RO I/PJ l Manual de D ireito Penal brasileiro, 1997, n. 210-220, ME T I RI, Manual de D ireito Penal I, 1999, p. 119.
p. 445-447; TAVARE , Teoria do injusto penal, 2002, p. 172 s. 41 • E. YER, trafrecht, 1915, p. 182-185.
34 BELI , D ie Lehre von Verbrechen, 1906, p. 11 2 e 147. No Brasil, v r ME TT 42 RO Strafrecht, 1997, § 10, n . 10, p. 229.
Manual de D ireito Penal I, 1999, p. 118-119; tam bém, ZAFFARO I/P 43 WOLF, D ie Typen der Tatbestandsmiissigkeit, 1931, p. 56-61.
um ser humano, como objetos d proteção do Direito P nal, não po- legal descreve as caract rísticas positivas do tipo de injusto, enquanto
dem ser reduzidos a elementos meramente descritivos 44 • O tipo legal os preceitos permissivos constituem características negativas do tipo de
é uma complexa estrutura de elementos pertencentes às categorias injusto, eparadas dos tipos legais por motivos técnicos - afinal, seria
n okantianas do s r do valor, conform d monstrou MEZGER45 : impraticáv 11 r o tipo de injusto dess modo: matar alguém, xc to em
"O ato de criação legislativa do tipo ( . .) contém legítima defesa, em estado de necessidade etc.
imediatamente a declaração de antijuridicidade, a
fundamentação do injusto como injusto especialmente
tipificado. O legislador cria, através da formação do 3. Adequação social e exclusão de tipicidade
tipo, a antijurídicidade específica: a tipicidade da ação
não é, de modo algum, a mera ratio cognoscendi, mas a A t oria da adequação social, formulada por WELZEL, xprim
própria ratio essendi da (especial) antijurídicidade. A o pensamento de qu ações realizadas no contexto da ordem social histó-
tipicidade transforma a ação em ação antijurídica, sem rica da vida47 são ações socialmente adequadas - e, portanto, atípicas,
dúvida não por si só, mas em vinculação com a ausência ainda que correspondam à d scrição do tipo l gal.
de fundamentos especiais excludentes do injusto. ,,
As 1 só s corporais ou homicídios compr ndidos nos limites do
A cone pção do tipo como ratio essendi da antijuridicidad dever d cuidado ou do risco permitido na circulação de veículos, no
não simples ratio cognoscendi, pr dominante na literatura brasileira - ' funcionam nto d indústrias, ou na prática d sport s, por x mplo,
muito difundida na ciência mod rna do Dir ito Penal e está vinculada não pr nche1n nenhum tipo 1 gal d 1 são, por força d sua adequação
à teoria das características negativas do tipo, bem como à discussão da social. Igualm nt , açõ s abrangidas p lo princípio da insignificância
autonomia ou da unidad dos conceitos d tipicidad e de antijuridi- ( Geringfugigkeitsprinzip) não são típicas: a ntrega de pequ nos pr -
cidad , com as r sultant s cone pções bipartida tripartida do sistema sent s d final de ano a mpr gados m s rviços públicos de coleta
d fato punív 146 . A t oria das características negativas do tipo unifica d lixo ou d corr ios, m fac d sua g n ralizada aprovação, não
o tipo 1 gal a antijuridicidad , como descrição valoração da ação constituem corrupção; jogos de azar com pequenas perdas ou ganhos
humana realizada ou omitida, no cone ito d tipo de injusto: o tipo não são punív is; manifestaçõ s injuriosas ou difamatórias no âmbito
fa1niliar são adpicas48 . S o tipo 1 gal descrev injustos p nais, ntão,
evident ment , não pod incluir açõ s socialm nt ad quadas.
44 ROX.l , Strafrecht, 1997, § 10, n . 11, p. 229 .
45 MEZGER, Vom Sinn der straftechtlichen Tatbestande, 1926, p. 187. A opinião do1ninant compr nd a adequação social co1no
46 C m rar RO , Straftecht, 1997, § 10, n. 12, p. 230; OITO, Grundkurs traftecht,
hipót s d xclusão d tipicidad 49 , mas xist m s tores que a con-
1996, § 5, n. 23, p. 46. o B il, apen para exempli car, RAND ~ O , Introdução ao
Direito Penal 2002, p. 115, emende qu 'a tipiddade, por ser portadora de urna valoração
foicial conduz à antijuridicidade, sendo o meio tUravés do qunl ela pode ser conl.ecida, sua ratio
cognoscendi '· também M TIERI Manual de Direito PenalI, 1999, p. 119, admite ape-
n a função de ratio cognos endi da tipicidade em relação ' antijuridi idade. m posição
47 WELZEL, Das Deutsches trafrecht, 1969, § 10, p. 56.
e n trária MACHADO Direito criminal: parte geral, 1987, p. 90-91, consid ra o tipo ratio 48 ROXI , Straftecht, 1997, § 10, n. 40, p. 243 . No Br il. omp rar
essendi da antijuridicidad , nÍI rme a e oria elementos negativos do tipo; igua1menc ManuaLdeDireitoPenalI, 1999, p. 138-139.
REAL JR, Instituições de Direito Penal (parte gerai}, 2002 v. 1, p. 139-1 40, considera que 49 JES HE K/WEINGEND, Strafrecht, § 25, IV, p. 251 .; RA H / ZIPF,
o tipo "não é apenas a ratio cognoscendi da antijuridicídade, mas a sua ratio essendi." Strafrecht 1, 1992, § 17, n. 23, p. 222; , Strafrecht, 1994, p. 53.
sid ram como justificante 50 , como exculpante 51 , ou como princípio normativos porque d pendentes d valorações jurídicas (o 1n nc10-
geral de interpretação da lei penal 52 . Sem dúvida, a adequação social nado conceito de coisa, por exemplo).
é um princípio geral que orienta a criação e a interpretação da lei
p nal, mas sua atribuição à antijuridicidad pr ssupõ a ultrapassada
concepção do tipo livre de valor, sua compr nsão como xculpant 5. Modalidades de tipos
pr ssupõe uma inaceitável identificação ntr a ad quação social d
d t rminadas açõ s a natur za proibida do injusto 53 .
Al'm da organização dos tipos 1 gais p la natur za do b m ju-
rídico prot gido (a sim, o Código P nal), os tipos 1 gais pod 1n s r
classificados conforme outros critérios.
4. Elementos do tipo legal: objetivos, subjetivos,
5.1. Tipos de resultado e de simples atividade. S gundo ar lação
descritivos e normativos entr ação resultado, os tipos pod m s r assim classificados: a) tipos
de resultado, com s paração spaço-t mporal ntr ação resultado,
O tipo d conduta proibida constitui uma unidad subj tiva ligados por relação de causalidade (homicídio, furto, estelionato etc.);
obj tiva d el m ntos descritivos normativos. O studo do tipo uma categoria sp cial de tipos d r sultado ' formada p los tipos
1 gal como tipo objetivo tipo subjetivo, int grado por component s qualificados pelo resultado - hoje, clara1n nte inconstitucionais-, m
d scritivos normativos, hoj g neralizado na ciência do Dir iro qu a r alização d um tipo-bas (1 são corporal simpl s, roubo te.)
P nal, par e uma n e ssidad m todológica d t nninada por r la- produz, d 1nodo causal, r ultados especialin nte graves, corno a
ções d congru "' ncia subjetiva e obj tiva, como dolo erro de tipo , mort da vítima (art. 129, § 3° art. 157, § 3°); b) tipos de simples ati-
por exemplo. É importante sab r que os 1 mentos constitutivos vidade, m que ar alização da ação não produz r sultado ind pend nt
do tipo s ntr cruzam: 1 m ntos obj tivos pod m s r d critivos (a violação de domicílio (art. 150), o falso test munho (art. 342) te.).
(coisa) ou normativos (alheia); 1 m ntos subjetivos tamb m pod m I
A distinção possui int r ss prático porqu r lação de causalidad
s r d scritivos (o dolo) ou normativos (a intenção de apropriação, na (entre ação e resultado) somente existe nos tipos de resultado, não
xpr ssão para si ou para outrem, do furto). E1n alguns tipos 1 gais as nos tipos d simples atividad 55 .
dimensõ s subj tiva objetiva estão ntr laçadas: assim, o artifício,
5.2. Tipos simples e compostos. S gundo a quantidad d b ns ju-
ardil ou fraude, no est lionato (art. 171), r fi rem acont cimentos
rídicos protegidos, os tipos pod m ser simples e compostos: a) os tipos
xt rnos impensáveis sem a cansei "' ncia int rna do ngano 54; por
simples prot g m ap nas um b m jurídico, como o homicídio (vida),
outro lado, elementos d scritivos possu m, tamb 'm, component s
a lesão corporal (int gridad ou saúd corporal), o dano (patrimônio)
te., b) os tipos compostos prot g m mais d um b m jurídico, como o
50 H MI DHAU ER, Lehrbuch, 1975,p. 9-26. roubo, a xtorsão mediant sequ stro te., qu prot g mo patrimônio
51 ROEDER, D ie Einhaittmgde sozialadãquaten Ri ikos, 1969 . ..
52 H IR H , oziale Adaquanz und Unrechtslehre, Z rW, 74, 1962. D OLLIN , D ie a liberdade individual, assim como a integridade corporal a vida,
Behandlung der Korperverletzung im 1JOrt im rystem der tmfrechtlichen ozialkontrole,
TsW, 96, 1984, p. 55 .
53 RO T , Strafrecht, 1997, § 10, n. 36, p. 241.
54 RO , Strafrecht, 1997, § 10, n. 53, p. 250. No Brasil, ver O, Introdução 55 OTTO, Grundkurs trafi"echt, 1996, § 4, n. 8-10, p. 40; RO , Strafrecht, 1997,
ao D ireito Penal, 2002, p. 11 2-117. § 10, n. 102- 104, p. 274; L,JJ.L,L...] / , Strafrecht, 1998, n. 22-24, p. 7.
na modalidades qualificadas p lo resultado (art. 15 7, § 3° e 15 9, a ilegitimidade da incriminação m áreas adjac ntes à l são do bem
§§ 2º e 30) 56 _ jurídico. Em outra posição, destacando a potencial p roteção de bens
jurídicos dos tipos de perigo abstrato - aparentemente indissociáveis
5.3. Tipos de lesão e de perigo. S gundo o tipo d ser va uma lesão
do obj to de proteção ou um perigo para a integridade do obj to d d políticas comprom tidas com o quilíbrio cológico, o control
prot ção, distingu -s ntre tipos d lesão e tipos d perigo: a) os tipos das atividad s conômicas -, HORN BREHM 63 pro pó m fundar
de lesão - a maioria dos tipos legais - caracterizam-se pela lesão real
a punibilidad do perigo abstrato na contrariedade ao dever, como um
do objeto da ação, como o homicídio, a 1 são corporal etc.; b) os tipos perigo de resultado ( n ão como um resultado de perigo) FRI CH 64
pr tende compre nder os delitos de perigo abstrato como delitos de
de perigo d ser v m som nt a produção d um p rigo para o obj to
aptidão (Eignungsdelikte), fundado na aptidão concr ta ex ante da
de prot ção, distinguindo-se, por sua vez, m tipos de perigo concreto
e tipos de perigo abstrato. conduta para produzir a cons quência lesiva.
pod m ser r alizados por qualquer p ssoa, como homicídio, lesão § 1°), r alizado com emprego d veneno (art. 121 , § 2°) 68 . Enfim,
corporal, furto; b) os tipos especiais somente podem ser realizados os tipos independentes ( também chamados delictum sui generis) pos-
por sujeitos portadores de qualidades descritas ou pressupostas no suem seu próprio conteúdo típico: o roubo (art. 157) em relação
tipo l gal, como a qualificação d funcionário público no p culato ao furto (art. 155) ao constrangim nto il gal (art. 146) cont 'mas
(art. 312), na concussão (art. 316), na corrupção passiva (art. 317) características d ss s últimos dois tipos, mas p la combinação d ssas
te. Compl m ntarm nte, distinguem-s os tipos esp ciais m pró- características constitui um tipo l gal ind p nd nt ; também o in-
prios impróprios: a) tipo sp cial próprio, s a qualidad special do fanticídio (art. 123) m r lação ao homicídio (art. 121 )69 .
autor fundamenta a punibilidade (os crimes do funcionário público
5.7. Tipos de ação e de omissão de ação. S gundo as formas básicas
contra a administração m g ral); b) tipo sp cial impróprio, s a do comportamento humano, os tipos pod m ser d ação ou d omissão
qualidad especial do autor apenas agrava a punibilidade (a qualidad de ação: a) os tipos de ação corr spond m a comportam ntos ativos,
d funcionário público na falsificação d docum nto público ou na
d scritos m forma positiva no tipo legal, como o furto (art. 155), o
falsidade id ológica) 66 . Finalment , exist m alguns tipos chamados d stupro (art. 213); 6) os tipos de omissão de ação corr spondem a co1n-
mão própria, porqu somente pod m s r realizados por autoria dir ta, portamentos passivos, que podem se apresentar como omissão p rópria
como o falso t st munho (are. 342) - , portanto, constitu m xc ção
ou como omissão imprópria: b 1) a omissão própria ' d scrita d forma
à r gra d qu todos os tipos p nais pod m s r r alizados por autoria n gativa no tipo 1 gal caract riza-s p la simpl s omissão da ação
dir ta ou m diata67 . mandada, que infring o d v r jurídico d agir, co1no a omissão d
5.6. Tipo básico, variações do tipo básico e tipos independentes. socorro (art. 135) ou a omissão d notificação de do nça (art. 269);
Segundo descreva os pressupostos m ínimos de punibilidade, ou 62) a omissão imprópria (ou comissão por omissão) constitui o reverso
contenha detalhes qualificadores ou atenuadores do tipo de injusto, dos tipos de ação e caracteriza-se pela atribuição do resultado típico a
os tipos pod m s r assim agrupados : a) tipo básico, qu r pr s nta suj itos m posição d garantidor do 6 m jurídico qu , com infração
a forma fundam ntal do tipo d injusto (1 são corporal, furto te.); do d v r jurídico d agir, omit m a ação mandada para imp dir o
b) tipo privilegiado ou qualificado, conform indiqu caract r liga- r sultado, como o pai qu , podendo salvar o filho qu caiu na piscina,
dos ao modo d x cução, ao mpr go d c rtos m io , às r laçõ s consci nt m nt , não imp d sua mort por afogam nto 70 .
entre autor e vítima ou a circunstâncias d t 1npo ou d lugar, qu 5.8. Tipos dolosos e imprudentes. S gundo a natureza do l 1n nto
atenuam ou agravam a punibilidad do fato (por x mplo, homicídio
subj tivo, a ação a omissão de ação podem s r classificadas m dolo-
privil giado ou qualificado, m r lação ao homicídio simpl s), porqu sas e imprudentes: a) as ações omissões dolosas são produzidas p la
ssas variações típicas constitu m !ex specialis em relação ao tipo bási-
vontad consci nt do autor; 6) as ações e omissões imprudentes são
co, xcluído como norma g ral. Em caso d xist "ncia simultânea d
produzidas pela l são do d v r de cuidado ou do risco p rmitido m
formas qualificadas e privil giadas, preval cem as formas privilegiadas ações socialm ent perigosas. Essa classificação permit sist matizar os
(homicídio por motivo d relevante valor social ou moral (art. 121,
68 ROXI trnfrecht, 1997, § 10, n . 131 -2, p. 284; ELS/BE LKE, trafrecht,
66 OTTO, Grundkurs Strafrecht, 1996, § 4, n . 19-20, p. 41; RO Strafrecht, 1997, 1998, n. 107-1 09, p. 31.
§ 10, n. 129-130, p. 283; WE /8 K StraJrecht, 1998, n . 39-40, p. 9. 69 ROXI , trafrecht, 1997, § 10, n . 134, p. 285 .
67 OTTO, Grundkurs trnfrecht, 1996, § 4, n . 21, p. 41; E / L , Strr,frecht, 70 OTTO, Grundkurs trafrecht, 1996, § 4, ns. 3-7, p. 39; L /BE E,
1998, n. 40, p. 9. Strafrecht, 1998, n. 34 s., p. 8-9.
Capítulo 5 111
t l ológico, stratégico, normativo, dra1natúrgico e co1nunicativo coord nação da ação (e) d socialização dos indivíduos 5•
de ação, definidos p la teoria sociológica. Entr os conceitos de ação 2. o Dir ito Penal a controv 'rsia sobr o conceito de ação também
des nvolvidos pela sociologia, apenas os mod los teleológico e comu- é intensa, mas limitada a definições de ação esp cíficas da dogmática
nicativo de ação são utilizados na dogmática p nal para definir a ação penal, cuja existência 'r suita à ci "ncia do D ir ito Penal - com exc -
co1no fundain nto psicossomático do cone ito d crime. ção do modelo teleológico de ação e do modelo comunicativo de ação,
1. 1. O mod lo teleológico d ação - conh cido na dogmática p nal d s nvolvidos p la sociologia. Assim, por x mplo, o c 'l br d bat
como teoria final da ação - define ação como r alização de um fim ntr o mod lo causal d ação, qu define ação como modificação
ou a ocorr "ncia d uma ituação d s jada, na m <lida m que o ator causal do mundo exterior, e o modelo final de ação (ou teleológico),
(a) seleciona os meios adequados e (b) emprega esses meios de modo qu define ação como r alizaçã d ati id d fin al min u a prim ira
apropriado para produzir o resultado ou a situação pr t ndidos. 1 m tad dos ' culo 20. Na segunda metad do 'culo 20, o surgim nto
de outras definições de açã n ogrn ática penal in iabilizou qual-
1.2. O mod lo estratégico de ação - uma ampliação utilitarista do
qu r cons nso sobre o t ma: o mod lo social de ação, uma spéci d
modelo teleológico d ação para áreas da conomia, da sociologia
tentativa de conciliação dos modelos causal e final, de.fine ação como
da p i ol ia o ial gu do t oria o - d fin ação co1no
comportam nto humano dominado ou dominável pela vontade, do-
projeção de um resultado conforme xpectativas de decisão dirigida ao
tado d relevância social; o mod lo negativo d ação d fine ação co1no
fim, d um ou mais ator s, com s 1 ção d m ios ad quados ao fim,
a evitável não evitação do resultado tipico; o modelo pessoal de ação
d p nt d vi ta da máxima utilidad u xp ta tiva d utilidade. 2
define ação como manifestação da personalidade humana. Existe1n
1.3. O 1nod lo normativo d ação não se relaciona, em princípio, ao ainda outras d finiçõ s d ação, cujo int r ss ci ntífico limitado ou
comportam nto de um ator isolado, qu ncontra m seu m io outros
atores, mas aos m mbros d um grupo social que ori ntam sua ação
, Theorie des kommunikativen Handelns. Frankfurt: uhrkamp, 1995, v.
4
rwin. Interactionsrituale, 197 1; do mesmo, D as índividuum im
ojfentlichenAustausch: 1974. ln: HAB , Theorie des kommunikativen Handelns.
1 HAB_L_,.........
Ll , Theoriedes kommunikativen Handelns. Frankfurt: uhrkamp, la edi ão, Frankfurt: uh rkamp, 1995, v. 1, p. 128.
1995, V. 1, p. 126- 127 e V. 2, p. 306-307. 5 HABE Theorie des kommunikativen Handelns. Frankfurt: uhrkamp, 1995, v.
2 P , TheStructureofSocialAction. New York: 1949, p. 75 s. 1, p. 128 e v. II, p. 208 s.
influência reduzida no Dir ito P nal não justificam descrição deta- O mod lo causal de ação possui estrutura objetiva: a ação
lhada: por exemplo, o modelo lógico-analítico, que define ação como humana, mutilada da vontade consciente do autor, determinaria o
emprego de regras da experiência, da lógica e da linguagem, confonne resultado como uma fonna se1n conteúdo, ou u1n fantas ma sem san-
HR 6 ; o mod lo d ação intencional, q u define ação como gue, conform xpr ssão de BELING; a voluntariedade da ação indica
atuação decisiva par ac n c·m n eg nd Kl HÃUSER7; o ap nas ausência de coação física absoluta; o resultado d modificação
modelo de ação significativa) que d fine ação como o sentido de um no mundo exterior ' elem nto do cone ito d ação - assim, não xist
substrato) conform VIVES ANTO 8 • açãos m resultado 11 • Como afirmaria mais tarde WELZEL, a teoria
causal da ação desconhece a fu nção constitutiva da vontade dirigente da
Assim, consid rando qu os 1nod los d ação causal, t 1 ológico,
ação , por isso, transforma a ação m simpl s p rocesso causal obj t1vo
social, negativo, pessoal e comunicativo stão vivos na lit ratura na
jurisprudência cont mporâneas, estruturando sist mas mais ou m - desencadeado por um ato de vontade qualquer 12 .
nos difer nte d fato punív 1, é n c ssário descrev r cada uma d ssas O mod lo causal d ação estrutura o sist ma clássico d e crim ,
definições do conceito d ação, bem co1no mostrar a importância assim cone bido: a) a dimensão objetiva da antijurídicidade típica é
teórica e prática do conceito de ação para compreensão e aplicação formada pelo processo causal exterior; b) a dimensão subjetiva da cul-
do Dir ito Penal 9• pabilidade '.constituída p lar lação psíquica do autor com o r sultado,
sob as formas d dolo imprud "ncia. Como s v", os lem ntos causais/
objetivos integra1n a antijuridicidad típica, os le1n ntos psíquicos/
subjetivos int grama culpabilidade 13 •
II. Definições do conceito de ação
O sistema clássico de crime d esintegra-se, progressivamente, a
partir d d scob nasci ntíficas qu r v 1am contradiçõ s m todo-
lógicas insanáv is: a) na t oria do tipo, a nec ssidad do dolo para
1. Modelo causal de ação
caract rizar a t ntativa d qualqu r crim doloso - s pr s nt na
tentativa, não pode d saparec r no fato consumado-, mostra que o
O mod lo causal d ação, laborado por LISZT, BELI G
tipo legal não pod cont r soment 1 m ntos obj tivas; b) na teoria
BRUCH- os fundador s do sistema clássico de fato punível, uma da antijuridicidade, a d scoberta dos cha1nados elem entos subjetivos do
construção teórica baseada nas categorias do mecanicismo do século
injusto (hoje, elementos subjetivos especiais, como intenções, tendencias
19 -, d fine ação como produção causal de um resultado no mundo atitudes especiais), revela uma dim nsão subjetiva no injusto, ntão
exterior por u1n co1nporta1n nto humano voluntário 10 .
r s rvado exclusivam nte aos elem ntos obj tivos; e) na t oria da
culpabilidad , a aus "ncia d relação psíquica do autor com o fato na
6 Ver H R , K.A, trukturen der Z urechnung, 1976, p. 13; do mesmo trafrecht nach
logúch-an_f!,lytischer Methode, 1988. 11 Nesse sentido , WELZEL, D as D eutsche trnftecht, 1969, § 8, III 2,. p. 39-42; ROXIN,
7 KINDHAU ER, l ntentionale Handlung, 1980, p. 202 s. trafrecht, 1997, § 8, n. 10-1 6, p. 187-189.
8 V] r O I, Fundamentos del sistema penal, 1996. 12 WELZEL, Das D eutsche Strafrecht, 1969 § 8, III 2, p. 40. o Brasil, ver a crítica d
9 Para uma xposiçã ríti de l!rnn d mod 1 er TAVARE Ar controvérsias M IERI Manual de D ireito Penal I, 1999, p. 11 1- 11 2; também, ZAFFARO NI/
em torno dos crimes omissivos, 1996, p. 13-30. PI RA GEU Manual de D ireito Penal brasileiro, 1997, n. 203-204, p. 42 1-427 .
10 LISZT, Strafrecht, 189 1, p. 128 . 13 Ver TAV , Teorias do delito, 1980, n. 22, p. 20.
imprudência inconsciente mostra uma falha no cone ito psicológico 2. Modelo teleológico de ação
de culpabilidade 14.
O sist ma clássico d fato punível do mod lo causal d ação 2.1. Conceito
evoluiu para o atual sistema neoclássico de fato punível1 5, um produto
da reorganização t 1 ológica do mod lo causal de ação segundo fins
O mod lo final d ação, d s nvolvido na sociologia como
e valores do Direito Pen al1 6 : a) o conceito de ação deixa de ser apenas
cone ito tel ológico de ação, fo i introduzido na dogmática penal
naturalista para s r, tamb m , normativo, red finido como comporta-
I
fin ação como realização de um fim, porqu o ator produz uma situação
t ntativa 18 ; c) a culpabilidade strutura-s como conceito psicológico-
desejada na m dida em que escolhe os meios adequados para produzir o
-normativo, com a reprovação do autor pela formação de vontade
resultado e os emprega de modo apropriado, como diz HABERMA 27 .
contrária ao d v r19 .
Assumindo ssa perspectiva, Z d fin nc 1 d ação como
O sist ma neoclássico de fato punível está presente em comen- realização de atividade final p l qual ab r cau al adquirid p 1
tários famosos da 1 gislação p nal orno DREH R- RÕ DLE20 , experiência e preservado como ciência, permite prever as consequências
ou em autores modernos como AU KE 21 , por exemplo, e na juris- possíveis da ação, propor diferentes fins e dirigir a atividade para reali-
prudência dominante dos tribunais alemães, com resultados muito zação do fim . r ulação clássica d LZ 28 •
m lhant ao d mai mod los - o qu d monstra qu não xist m
/1.çáo humana é exercício de atividade final Ação é, por
métodos certos ou errados, ap nas métodos m lhores ou piores.
isso, acontecimento final não meramente causal A finali-
dade ou o sentido final da ação se baseia no poder humano
de prever, em determinados limites, porforça de seu saber
causal os possíveis efeitos d.e sua ativida.de propor-se dife-
rentes fins e dirigir, pl.anifi adament , sua atividade para
realização destes fins. (...) Porque afinalidade se baseia na
14 Ver WELZEL, Das Deutsche Strafrecht, 1969, § 8, III 2, p. 39-40.
15 RO Strafrecht, 1997, § 7, III, 14-15, p. 151 -2.
16 JE H K/WET O, Lehrbuch des trafrechts, 1996, § 22, III, p. 204-208. No 22 WELZ EL, Dn.s Deutsche trafrecht, 1969, § 8, I , p. 33-34.
Brasil, ver TAVARE , Teorias do delito, 1980, n. 42-45,/. 42-43 . 23 RA H/ZIPF, Strafrecht I, 1992, § 16, n . 38-42, p. 201-203.
17 Assim, MEZ ER Moderne U'íége der trafrechtsdogmati , 1950, p. 12. 24 AR1 1 Zum tand der Lehre vom Personalen Unrecht, Wclzel-F ,
18 a base dessas mudan as estão os trabalhos de FI HER, Die Rechtswidrigkeit mit 1974, p. 393 .
besonderer Berucksichtigung des Privatrechts, 1911, p. 138; HEGLER, D ie Merkmale 25 TRATE WERTH, trafrecht I, 1981, n. 140.
des Verbrechens, Z tW 36 (1915) p. 27; MEZGER, Die subjektiven Unrechtselemente, 26 HIRS H, Der Streít um Handlungs- und Unrechtslehre, Z tW 93 (1981), p. 83 1.
GS 89 (1924), p. 207. 27 H 8 , , 7heorie des kommunikativen Handelns. Frankfurt: uh rkamp, 1995, v.
19
im F , Uber den Aujbau des chuidbegriffi, 1907, p. 11. o Brasil, ver 1, p. 126-127 V. 2, p. 306-307.
TAVARE , Teor_ias do delito, 1980, n. 48, p. 45-46. 28 WELZEL, Das Deutsche trefrecht, 1969, § 8, I, p. 33-34. o Brasil, ver a excelente
20 DR H R-TRO DLE, Strafgesetzbuch und Nebengesetze, 1995 . descricão do desenvolvim mo do mod 1 final d acão, em TAVARE Teorias do
21 A KE, Strafi"echt, eine einfahrung, 2000, n. 151-161, p. 258 -261. delito,'1980, n. 57-64, p. 52-60 . '
capacidade da vontade de p rever. em determinados limites 2) a seleção dos meios de ação para realizar o fim, determinados
as consequências da interven ão causal e, através desta regressivamente pela natureza do fim proposto (no tipo subjetivo, inte-
dirigi-1.a de modo planificado para a ri ttlização dofim a gram o dolo direto de segundo grau, se configuram resultados típicos).
vontade consciente do fim, que dirige o acontecer causal
Como a utilização dos meios scolhidos pode d t rminar outros
é a esp inha dorsal da a ãofinal "
h itos div rsos do fi1n, surge o probl ma da relação dess s efeitos
O mod lo final (ou teleológico) d ação part da distinção ntr colaterais ou secundários com a ação: objetivamente, em relação à
Jato natural ação humana: o fato natural ' fi nô1n no d tenninado natureza dos m ios, os efeitos colat rais pod m s r necessários ou pos-
pela causalidade, um produto mecânico de r lações causais c gas; a síveis; subjetivam nte, m relação à vontad conscient do autor, os
ação humana ' acont cim nto dirigido p la vontad con ci nt do h itos colat rais pod m r (a) incluído na vontad consci nt , (6)
fim 29 . Na ação humana, a vontade é a n rgia produtora da ação, incluídos na consci "ncia, mas excluídos da vontade, ou (c) xcluídos
nquanto a consci "ncia do fim ' sua dir ção intelig nt : a finalidad da consci "ncia e da vontade. Assim, a dimensão subjetiva da ação
dirige a causalidade para configurar o futuro conforme o plano do co1npr nde, secundaria1n nt :
autor. a t oria d WELZEL a vontad conscient do fim ' a espinha 3) a rep resentação dos efeitos colaterais n e ssários ou possív is
do rsal da ação30 , enquanto o acontecimento causal é a resultante casual ligados causalment aos m ios s lecionados: o autor pod dirigir a
d compon nt s causais pr x.istentes. A finalidade é, por isso - figu- ação para incluir ou para excluir ss s fi itos colat rais, conform as
rativamente falando - vidente, a causalidade, cega31. guint s alt rnativa :
a) os fi itos colaterais representados como necessários int grama
vontad consci nt do autor, ainda qu lastimados ou ind s jados: s
2.2. Estrutura
o autor os representa co1no necessários e realiza a ação, int gra1n sua
vontad conscient , portanto, a ação (no tipo subj tivo constituem
A unidad subj tiva e obj tiva da ação humana ' o fundamento o dolo direto de segundo grau);
r al da strutura subjetiva obj tiva do tipo de injusto. A homogenia
b) os efeitos colaterais r pr s ntados como possíveis integram
entre t o ria da ação (substantivo) e t o ria da ação típica (substantivo
a consci "ncia do autor, mas d p ndem da atitude pessoal d st para
adj eivado) ' um dos m 'ritos do mod lo final d ação. A dim nsão
int grarem a vontad : b 1) s o autor consente na produção dos fc itos
subjetiva da ação (ou projeto de realização), cuja espinha dorsal é a
colar rais repr s ntados co1no possíveis (conforma-se ou concorda com
vontad consci nt do fim, compr nd :
eles), então esses eventuais efc itos colaterais integram também a vontade
1) a proposição do fim, co1no conteúdo principal da vontade do autor , por xt nsão, a açã om a nt im nt fi nal (n tipo
consciente, que unifica e estrutura a ação (no tipo subjetivo, constitui subj tivo, constitu m dolo v ntual); 62) s o autor não consente na
o dolo dir to d prim iro grau); produção desses eh itos colat rais r pr sentados como possív is (não se
conforma ou não concorda com eles) - ao contrário, confia m sua não
29 As im MA H /ZIPF, 1992, Strafrecht I, § 16, n. 41, p. 202; WELZEL, D as ocorr "ncia, ou espera h n ament poder evitá-los pelo modo concr -
Deutsche Strafrecht, 1969, § 8, I, p. 34.
30 Ver LZEL, Das Deutsche Strafrecht, 1969, § 8, I, p. 34; MA RA H /ZIPF, 1992, to de xecução da ação-, então sses efeitos não integram a vontad do
Strafrechtl, § 16, n. 4 1, p. 202. autor, n 1n a ação co1no fi nô1n no struturado pela finalidade (podem
31 • Z L, Das D eutsche Strafrecht, 1969 , § 8, I, p. 33 .
s r atribuídos ao autor como imprud "ncia consciente, se existir o tipo a ação imprudente e a omissão d ação 36, parece inconsistente. A ação
respectivo). Efeitos colaterais necessários ou possíveis não representados imprudente é definível como execução defeituosa de ação permitida:
pelo sujeito não integram nenhu1na vontade consciente do autor e, o defeito da ação reside no modo concreto de sua realização, lesivo do
assim, stão xcluídos da ação como r alização do propósito (pod m dever de cuidado ou do risco permitido mações socialm nt p rigosas,
s r atribuídos ao autor como imprudência inconsci nt , se ex1st1r o porque o autor confia na evitação d consequências sociais indes jáv is,
tipo r sp ctivo). ou simpl sm nte não pensa nelas 37 . A omissão de ação, ao contrário da
A dim nsão obj tiva da ação (ou realização do projeto) r presenta ação dolosa (que não dev ria t r sido r alizada) ou da ação ünprudent
(que deveria ser r l' za.d de outro modo), deve ser pensada como
ua mat rialização no mundo r al: a utilização dos m ios s 1 cionado
ação mandada, um acont cimento social construído p la finalidade
para realizar o fim proposto, com ou sem repr sentação dos fi ito
colaterais necessários ou possív is 32 , constitui mat 'ria do tipo obj tivo. de proteger b ns jurídicos em situação de perigo: a inexecução da
ação mandada por um suj ito capaz d agir para imp dir o r ultado
A teoria final da ação contribuiu para identificar o fundamento proteg r o bem jurídico caracteriza a omissão de ação. Como s v",
psicossomático do conceito de crime: a unidad subjetiva e objetiva da a teoria final da ação permite compreender as ações dolosas como
açã hu an qual'fi ada p lo at ibu axi ló i o d ip d ·nju to x cução de ações proibidas, as açõ s imprud nt s co1no x cução
e da culpabilidade, como base real do cone ito de fato punív l. AI' m defeituosa de ação permitida e a omissão de ação como in xecução d
disso, a estrutura final da ação parec pressuposta na função atribuída ação mandada, dolosa ou imprudent 38 .
às normas p nais, qu s dirig m à vontade humana co1no proibições
ou como determinações de ação: a estrutura final da ação humana seria
constitutiva para o Direito P nal, cujas proibições ou mandados não 2.3. O trabalho como novo fundamento teleológico da ação
dirig ma proc s o causais cegos, mas à vontad humana capaz d
configurar o futuro 33 . A validade d ssa tes é reconh cida por setor s
Assumindo tes de LUKÁCS, 39 que define o trabalho como
significativo da doutrina mod rna. MA RACH/ZIPF d fin m a
transição do s r biológico para o s r social, m diante proposição de
estrutura final da ação humana como o component antropológico
fins e seleção de meios parar alizá-1 RE ATO GOMES propõe, de
da responsabilidad p nal34; EBERT destaca a concordância ntr o
modo original, novo fundam ntos filosóficos ociológicos para o
conceito final de ação e a função das nonnas penais, como proibições
mod lo teleológico de ação. 40
determinações de ação dirigidas à vontade humana, acr se ntando
qu a inclusão do conteúdo da vontade no conceito d ação p rmit
co1npre nd r o seu significado como ação típica e como ação injusta35• 36 Ne e en ido, a rícica. d J HE JK/ I D, Lehrbuch des Strafrechts, 1996,
§ 23, III , 26, p. 221; tamb'm, ROXl , trafrecht, 1994, § 8, n. 18-25, p. 185- 188.
A crítica de qu o modelo final- cuja capacidade xplicativa da
37 Ver RACH/ZIPF, Strafrecht I, 1992, § 16, n. 40-41, n. 202; WELZEL, Das
D eutscheStrafrecht, 1969, § 8, II, p. 37-38 e§ 18, p. 129 s. No Brasil, ver ZAFFARO I/
ação dolosa ' r conh cida por todos - t ria dificuldad s para xplicar P]ERANGELI Manual de Direito Penal brasileiro, 1997, n. 201, p. 421.
38 Y4 r WE Z l Das Deutsche traftecht, 1969, § 8, II, p. 38. o Brasil, também assim,
Ifil ·D ANTO , Teoria do Crime, 1993, p. 41-42; ME TIERI Manual de
D ireito Penal I, 1999, p. 11 3; ZAFFARO I/PI R.A LI, Manual de D ireito Penal
32 im, Das Deutsche Strafrecht, 1969, § 8, I , p. 34-35.
,l,Jlld~-'- , brasil~iro, 1997, n. 202, p. 422.
33 As im, WELZEL, Das D eutsche Strafrecht, 1969, § 8, II , p. 37. 39 L ·~ •-~~, Gyõr . Para uma ontologia do er Social. ão Paulo: Boi tempo, 2013.
34 RA H / ZIPF, 1992, Strafrecht I, § 16, n. 48, p. 205. 40 GOMES, Renato. Teorias da conduta: antecedentes, tendências e impasses. Ri d
35 EBERT, Stra.fi'echt, 1994, p. 22-3 . Janeiro: Revan, 2016, p. 295 s. (Trabalho ap resentado como Dissertação para obtenção
O trabalh como práxi o ial p ui natur za ontológica, / medido pelo tempo (valor d troca) . práxi o ial como 1nanipu-
estruturado pelo método teleológico, que define a proposição d fins lação teleológica da causalidade pelo processo de trabalho, é fundada
para satisfação de necessidades humanas, e pelo 1nétodo causal, que na reprodução consciente das leis causais - origem da relação sujeito/
decid sobre as 1 ção dos m ios para realizar o fim proposto - o qu bj - p I qual n i d r al apar e m sob a forma d
pr ssupóe (a) inv stigação das l is que d t rminam os obj tos naturais linguag m , necessária à r produção psíquica dor al à comunicação
e (b) c rto nív 1d conhecim nto d ssas leis naturais. A xperiência ocial corr spondente. 42
prática do I rabalho po í 1p lo conh cim nto científico das r laçó s Eis a r lação dial ' tica suj eito/obj eto: a) o suJeito, cuja ação
1neio/fim e pela consequente projeção e realização do fi1n mediante
t 1 ológica obj tiva (proc sso d trabalho) produz o futuro como uti-
aplicação dos meios s l cionados, é u1n proc sso tel ológico (dir ção lidade, está m transformação ontológica ubjetiva permanente p la
final da causalidade) sobre realidades ontológicas (emprego de meios adaptação à disciplina do trabalho e control progr ssivo dos instintos
obr o obj to do trabalho), assim con tituído: a) obj to do trabalho
- no capitalismo, a conjugação da disciplina do biopod r garantem
- mar / ria da natur za para transformação; b) m ios de trabalho - a
ar produção ampliada do capital, como mostra FOUCAULT43; b) o
tecnologia, ou instrumentos de transformação da natur za; c) proc sso objeto do trabalho, como natureza transformada pela tecnologia para
de trabalho - aplicação dos meios aos objetos mat riais para produzir
criar utilidad s satisfaz r necessidades sob a forma d m rcadoria,
os r sultados projetados. 41 distribuída no m reado como valor de uso dotado d v l d roca
No proc sso d trabalho, a consci "ncia hu1nana constitui a m <lido p lo t mpo d trabalho social n cessário. 44
apropriação psíquica do real natural (obj to do trabalho) e do r al Em MARX a d rição da natureza teleológica da ação de tra-
transformado (resultado r al id ad p 1 trab lhad ) - p acessos
balho - portanto, do agir p rodutivo, poderíamos dizer - aparece na
psíquicos que reproduzem o real co1no concreto pensado, como dizia
c /1 br comparação com a atividad da aranha da ab lha : a aranha
obre o método em economia poHtica. Em outras palavras, a r aliza operações iguais às do tecelão, e a abelha envergonha muito
cansei "ncia humana é a reprodução da r alidad por r pr s ntaçó s
arquit to na construção d sua colm ia; mas o pior arquit to sup ra a
neurônica d proc s o ontológicos d t rminados por causas naturai
m lhor ab lha, porqu projeta sua casa na própria cab ça, ant cipando
au ai ) i · ( rabalh h u an ). na r pr s ntação psíquica o r sultado final do processo de trabalho.
Assim, o binômio necessidade/satisfação que configura o s r Ness processo, o ho1nem não se lünita a modificar a natureza, 1nas
humano é 1nediado pelo trabalho, confonne a r lação: n cessidad r aliza s us fins na natureza, p lo conhecimento d modos d faz r
- trabalho - satisfação da n c ssidade. O pr ssuposto da r lação ' a conforme leis naturais, qu permitem subordinar a atividad produtiva
corretar produção psíquic das causalidades naturais a cons quent
progra1nação t l ológica do trabalho, pela qual o suj ito transforma o
mundo produzindo utilidades (val res de uso), cujo preço de mercado 42
TO , J. Prefácio. ln: GOMES, Renato. Teorias da conduta:
anc e d nc , t nd ncia impas . Rio d Jan. iro : Revan, 2016, p.1 3-21. ompare,
GO M E , Renato. Teorias da conduta: antecedentes, tendências e impasses. · de
do título de Mestre na UERJ , orientado pelo Prof D r. ILO BATI TA) . Janeiro: Revan, 2016, p. 309 s.
41 IR! T O , J. Prefácio. ln: O M E , Renato. Teorias da conduta: 43 FOU AULT, M ichel. Ilfout défendre Ít1 societé. ours au ollege de France, Leçon 17
anc ed nc . , e nd · n ia. impa. . Ri d Janeiro: Revan, 201 6, p. 13-21. ompar , de março de 1976.
GO MES, Renato. Teorias da condua antecedentes, tendências e impasses . ·o d 44 lRl O D TO , J. Prefácio. ln: GOMES, Renato. Teorias da conduta:
Janeiro : Revan , 201 6, p. 304 s. amec dente , rendên ias impa e . Rio de Janeiro: Revan, 2016, p. 19.
à sua vontad consci nte45, nquanto se transforma a si mesmo p la social da ação 48 . Essa característica permanece em definições atuais,
di ciplina do trabalho pelo controle dos instintos. com o acento sobre o componente final do cone ºto, qualificado pela
relevância social da ação, como WE EL /BEULKE, por exemplo:
a ação constitui comportamento socialmente relevante dominado ou
3. Modelo social de ação dominável pela vontade humana - um fator formador d s ntido da
realidad social, com todos os seus aspectos pessoais, finais, causais e
normativos49 . JESCHECK/WEIGE D mostram como o modelo
O mod lo social da ação funda o por EBERHARD H IDT
social de ação surg da busca de um cone iro unitário superior com-
des nvolvido por JE HECK, WE EL outros, ' uma posição
pr nsivo da ação da omissão d ação:
de compromisso ntre os modelos causal e final de ação e, talvez por
causa disso, par e s ramais difundida t oria da ação humana- assim '/Is fo rmas em que se realiza o intercâmbio do homem
como apresenta os maiores problemas de definição de conceitos e de com seu meio (finalidade no atuar positivo e dirigibi-
uniformização de linguagem. Nesse sentido, HAFT destaca as diversas lidade na omissão de ação) não são unificáveis ao nível
definições do conceito social de ação, ora apresentada como fenômeno ontológico, porque a omissão mesma não é final, pois o
social, ora como co1nportainento humano socialmente relevante- se1n emprego esperado da finalidade não existe nela. Ação e
esclarecer em que consiste o fenômeno social ou a relevância social da omissão de ação podem, contudo, ser compreendidas em
ação 46 . Essa r !ativa imprecisão do cone ito par e in vitáv 1, porqu um conceito de ação unitário, se conseguirmos encontrar
as teorias sociais da açãos riam teorias conciliadoras qu não excluem, um ponto de vista valorativo superior, que unifique no
mas incluem as t orias causal e final da ação 47• âmbito normativo elementos não unificáveis no âmbito
do ser. Esta síntese deve ser p rocurada na relação do
Não ' stranháv 1 qu as "nfas s r caiam m polos difer nt s comportamento humano com seu meio. Este é o sentido
desse cone iro difuso, com resultados, às vez s, divergentes, como do conceito social de ação. Ação é comportamento
obs rva EBERT: o 1nod lo social da ação ' uma moldura pr nchível, humano de relevância social. " 50
às vezes, pelo conceito causal de ação, como causação de resultados so-
A relevância social, introduzida como l m nto valorativo superior
cialmente relevantes e, as vez s, pelo cone ito final d ação, como fato r
formador de sentido da realidade social, ainbos incluídos no conceito
para apreender ação e omissão d ação, é u1n atributo axiológico do
tipo de injusto, responsável p la sei ção de ações d omissões de ação
no tipo legal - e não uma qualidade da ação. Como afirma RO
o atributo d relevância social d signa uma propriedade n e ssária para
45 ,Das Kapital. Berlim: Karl Oi tz Vi d ag, 2007, v. 1, p. 193 valorar o injusto, porque exist m açõ s socialm nte relevantes e açõ s
46 TAVARE , Teorias do delito, 1980, n. 100, p. 92, já indicava os problemas do modelo.
47 HAFT, tra_fi'echt, 1994, p. 3 1: '.í:I. teoria ociaJ da ão é, hoje, defendidn por manerosos socialmente não relevantes - ou seja, a relevância social é uma proprie-
autores, com ênfa.s 'S diferencüula.s, pela, quais existi m muitas definições pari cidas, -eralmente
não muito comp reensíveis nt1J quais a ação, por exemplo, é definlda como enôm no dade que a ação pode ter ou pode não ter e, ausent ssa propri dad ,
iaJ na ua pr dução de efeito deotro da realidad o ial (Eb. chmidt), ou como
comportam nto humano ocialm nt relevant Jescheck), pelas q11ais não se esclarece
imediatamente o que se deve entender por nôm no o ial ou p or relevãn ia ial. A coisa 48 EBERT, Strafrecht, 1994, p. 23.
fica ma;s clara quando se compreende que as teorias sociais da açtío são teorias conciliatkJras 49 ELS/B L Stra.frecht, 1998, n. 91, p. 24-25 e n. 93, p. 26. No Brasil,
que, em conclusão, não excluem mm in luem a t orlas c,w 11/ efinal de 11.çáo. Por este esforço TAV: RE , As controvérsias em torno dos crimes omíssivos, 1996, p. 30.
de mediação resulta inevitável uma certa imprecisão de conceito. " 50 J K/WEI , Lehrbuch des Strafrechts, 1996, § 23, 1, p. 223 .
não desaparece a ação, mas som nte sua significação sociaf 1• ou pré-jurídicas, como os modelos causal e final de ação.
Não obstant juízos complac ntes d qu a imprecisão do mod lo Ação é a evitável não evitação do r sultado na posição de garan-
social d ação d v ria ser tolerada 52 ou juízos críticos d qu o mod lo tidor59, compr nsív 1 como omissão da contradireção mandada pelo
social d ação ainda não stá d finido como os mod los causal final ord namento jurídico 60 , e111 que o autor realiza o que não deve realizar
d ação 53 algun au or s - por ex mplo, EBERT - são 1nais incisivos, (ação), ou não realiza o que d ver alizar (omissão d ação): u1n r -
afirmando a existência de somente dois sistemas de fato punível: o sultado é atribuível ao autor se o direito ordena sua evitação e o autor
sistema causal e o sist ma final, porque o mod lo social d ação não não o evita, mbora possa evitá-lo.
d s nvolv u um sist ma próprio, vinculando-s ora com o sist ma O fundam nto do modelo negativo d ação ' o princípio da
causal, ora com o sistema finaÍ' 4 . Seja como for, a única dii rença
evitabilidade do tipo d injusto - definido no § 13 do Código Penal
entre os cone itos social e final d ação - pelo menos m relação às
al mão 61 - por um autor com o poder de evitar o tipo d injusto - ou
definiç ,, d J H K/WEI , d / B_
seja, o autor t m o pod r d influir sobre o curso causal concreto
1nais pr stigiados r pr s ntant s da t oria social da ação na atualidad
d terminant do r sultado, m diant conduta dirigida pela vontad
- fica por conta daquela atribuída relevância social, uma característica
- mas não evita o tipo d injusto 62 .
normativa incorporada como 1 m nto superior unitário compr nsivo
da ação da omissão de ação. Na verdade, não existe n nhuma razão A possibilidade de evitar o comportamento proibido constituiria
ci ntífica parar j itar o 1nodelo social de ação, que utiliza a 1n sinas o pr ssuposto da obrigatoriedade da norma p nal, ind p nd ntem nt
categorias conceituais e adota os m smos princípios m todológicos de s r norma de p roibição ou norma d comando63 : ação omissão
do modelo final de ação para construir o conceito de fato punível 55 . de ação não s riam cone itos pr ' -típicos, laborados por uma t o ria
pré-jurídica ou ontológica da ação, mas conceitos p rt nc nt s ao tipo
de injusto. O ponto de partida do cone ito negativo d ação, portanto,
seria o exame da ação dentro do tipo de injusto, para saber se o autor
4. Modelo negativo de ação
t ria a possibilidade de influencia r o curso causal concr to conduc nt
ao resultado, mediante conduta dirigida pela vontade64 .
O mod lo negativo de açã lab rad p r H RZB RG 56 ,
B H D 57 outros - cuja aplicação sist mática 1nais notável O mod lo negativo d ação, do ponto de vista teórico, inverte o
par ce ser a obra de HARRO OTT0 58 -, define o conceito de ação inal da g ria positiva da ação, substituída p la cat goria negativa
d ntro da cat goria do tipo de injusto, r j itando d finiçõ es ontológicas da omissão de ação - a evitável não evitação do resultado; do ponto
de vistam todológico, d sloca a discussão d qu stõ s específicas do
51 ROXI J, trafrecht, 1997, § 8, 11. 32, p. 196. No Brasil, ver a crítica de ZAFFARONI/
PlE ELI, Manual de Direito Penal br11.siieiro, 1997, n. 206, p. 429. 59 H RZBER , Die Unterlmsung im trafrecht und das Garantenprinzip, 1972, p. 174.
52 e se en cid , HA , tmfrecht, 1994, p. 32-33. 60 B HRE Die Unterlassung im tra.frecht 1979, p. 143.
53 im, , trnfrecht, 1995, n . 240, p. 250. 61 § 13 - omissão por omissão. "Q}d,em omite evitar um resultado que pertence ao tipo de
54 EBERT, trafrecht, 1994, p. 24. uma lei penal, somente é punível conforme esta lei, se ele éjuridicamente responsável pela não
55 Ver, por exemplo, MA RA H/ZIPF, trafrecht I, 1992, § 16, 11. 68, p. 211. ocorrência do resultado, e se a omissão corresponde à realização do tipo Legal p or um fazer. "
56 HERZB RG, Die Unterlassung im trafrecht und das Garantenprinzip, 1972. 62 Ver OTTO, Grundkurs trafrecht, 1996, § 5, 11 . 39-40, p. 50.
57 B HR DT, Die Unterlassung im Strafrecht, 1979 . 63 im TTO, Grundkurs Strafrecht, 1996, § 5, n. 39, p. 50.
58 OTTO, Grundkurs Strafrecht, 1996, IV, 11. 32-42, p. 48-5 1. 64 OTTO, Grundkurs Strnfrecht, 1996, § 5, n . 40, p. 50.
conceito pré-jurídico de ação para a categoria jurídica da ação típica reflexos etc., não constitu m manifestação da personalidade; por outro
concreta. Essas inovações parecem criticáveis: conceitualmente, a lado, exclui pensamentos e emoções encerrados na esfera psíquico-
existência da ação humana independe da existência do tipo de injusto; -espiritual do ser humano porque não representam manifestação da
m todologicam nt , ' desaconselháv 1cong stionar a ár a compl xa personalidade6 7 .
do tipo de injusto com probl mas ou qu stõ s d natur za xtratípica.
A ação como manifestação da personalidade constitui a m ais
Uma varian psicanalítica do modelo pr p a p r B DT65 geral definição do conceito de ação, capaz de apreender todas as ob-
r !aciona o conceito da evitável não evitação do r sultado com as ma- jetivações da personalidade - como diz AR UR 68 - ,
nifestações da destrutividade humana, qu xprim 1n as pul õ s in tin- mas par e xcluir o traço humano específico qu distingu a ação d
tivas do id em o control do superego. a verdad , par e impróprio qualqu r fenômeno natural ou social: a r alização do propósito. Em
r duzir n it fundam ntai d P i náli a limit fun i nai outras palavras, a manifestação da personalidade como m ra r lação
do cone ito de ação (ou d ação típica): as cat gorias psicanalíticas ntre p nsam ntos/ moçõ s acont cim ntos ext rior s par ce n -
contêm um pot ncial t órico- xplicativo de natureza criminológica glig nciar a natureza constitutiva dos atos psíquicos para a estrutura da
que transcende os limites do conceito de ação (ou de ação típica), para ação humana, conhecimento já incorporado à teoria científica da ação.
t ntar apre nder os ntido concr to das açõ s humanas na pl nitud do Al 'm di limit r u d"fu d n it d perso-
significado incorporado por todos os atributos do cone ito d crime. nalidade69 não p nnit m atribuir todos os fenômenos d tiníveis como
Ern conclusão, o princípio da evitabilidade qu fu dam n ta o con- uas manifestações ao control do ego - a instância p rc ptiva cons-
ceito negativo de ação integra todas categorias do conceito d crime, ciente que controla o comportamento conforme exigências do superego
constituindo, portanto, um princípio geral de atribuição que não pod -, porque pulsões instintuais r p rimidas d id p d m as ai ar ego sob
r apr s ntado como caract rí tica específica do cone ito d ação 66 . a forma d obs só , fobias , m mo, atos falhos ou sintomáticos, qu
são manifestações da personalidade indep nd ntes de control do ego
indifi r nt s às conv ni "ncias do superego70 na dinâmica da r laçõ s
5. Modelo pessoal de ação ntre os s gm ntos do apar lho psíquico qu constituem a p rsonali-
dad humana71 • Em uma, n ma personalidade cuj manifestações
constitu 1n ação, s reduz ao ego n m e manifestações atribu-
O mod lo p essoal d ação d s nvolvido por ROXI d ção
ív is à er onalidade "estão sob controle do go, a instância de governo
como m anifestação da personalidade, u1n conceito capaz de abrang r
psíquico-espiritual do homem' , como afirma ROXI .
todo acont cim nto atribuív 1 ao cen tro de ação psíquico-espiritual
do hom m. A d finição de ação como manifestação da personalidade
permitiria xcluir todos os fi nômenos somático-corporais insusc tí-
v is d control do ego , portanto, não do m inados ou não domináveis 67 ROXIN, trafrecht, 1997, § 8, 11. 44, p. 202. No Brasil, verTAV: As controvérsias
em torno dos crimes omissívos, 1996, p. 27-29.
pela vontade humana: força física absoluta, convulsõ s, movim ntos 68 AR KA · , D ie ontologische Struktur der Handlung, 'kizze einer
personalen Handlugnslehre, H . Mayer-F , 1966, p. 79.
69 Ver EY E K, Crime and Personality, 1977, p. 19.
65 B H T, D ie Unterlassung im trafrecht, 1979, 132. 70 N ntido FRE D , Inibições, sintomas e ansiedade 19 , 1 GO, v. . 95-200.
66 Ver a crítica de ROXIN, trafrecht, 1997, § 8, 11. 40, p. 200. Outro d talh 71 Ver FR D, O Ego e o Id, 1 76 T G O, v. XIX, p. 23-83.
TAV , As controvérsias em torno dos crimes omissivos, ·o, 199 , p. 23-26. 72 ROXIN, Strafrecht, 1997, § 8, III 1, 11. 44, p. 202 .
Não obstante, é n cessário reconhecer a simplicidade da definição (m ' todo de interação ú ial) onft rm a seguint lógica: se a execu-
de ação como manifestação da personalidade, bem como a capacidade ção do plano pressupõ coordenação com outra pessoa, então o agir
dessa definição para executar as funções atribuídas ao conceito de ação co1nunicativo (como linguagem) prevaleceria sobre o agir teleológico
no âmbito do cone ito de fato punív 1. (como r al iz ção d fins) 74. Mas aqui surg o probl ma: a subordinação
da ação t leológica ao cons nso linguístico da ação comunicativa faz
desapar cera viol "'ncia histórica xterna (conquistas e subjugação d
6. Modelo comunicativo de ação povos), as contradições sociais int rnas (proprietários do capital v rsus
força de trabalho) e os conflitos individuais (crimes).75
O mod lo de ação comunicativa desenv 1 id p r HAB ' Em outra palavras, a racionalidade cons nsual da ação comu-
defin ação como int ração d dois ou mais ator s capaz s de fala nicativa concebe a mancipação humana como produto da ducação
de ação, em relação interpes oal através da linguagem/ discurso, como - ao contrário da razão instrum ntal da t oria crítica, para a qual as
1neio de compreensão (renovação do conhecimento cultural), de co- instituições jurídico-políticas do capitalismo são formas id ológicas
ordenação da ação (integração social) e de socialização (formação de estratégico-táticas que definem as condições históricas concretas da
identidad s pessoais). 73 luta d e class s, no cont xto da r lação capital/trabalho assalariado.
E, como todas as t orias cons nsuais, a t oria da ação comunicativa
Co1no se vê, a teoria da linguagem stá no c ntro da teoria
1 gitima a id ologia punitivista do populismo p nal cont 1nporâneo,
comunicativa da ação , nesse sentido, pod r pr s ntar o método da
compram tido com a d fesa da ord m social capitalista. 76
co1nunicação social (o como da co1nunicação), mas não é capaz d
apr nd r o conteúdo da comunicação (o que s comunica), som nt a verdade, os atos linguísticos locutórios, ilocutórios e perlo-
identificáv l p lo modelo teleológico. Assim, a ação comunicativa, cutórios do agir comunicativo t riam significados curio os no Dir ito
processada p los atos d fala da linguag m , pod assumir a natureza d Penal: a) a relação locutor/ouvinte atribui ao autor do crim um
atos linguísticos locutórios (o falant realiza a ação definida p lo v rbo), nunciado com pr t nsão d validad xtracons nsual; 6) a r lação
de atos linguísticos ilocutórios (o falante introduz a intenção de realiz r pro ssual-p nal onft r ao convencimento do Juiz pap 1 de mani-
um obj tivo comunicativo, como perguntar, p dir, acons lhar, avisar, fi stação jurisdicional de cons nso; e) ar lação suj ito/nonna xplica
prom t r) e de atos linguísticos perlocutórios (o efeito produzido p lo a punição do suj ito pela violaçã d um n rm n n ual. ntr -
falante no interlocutor pelo contúdo da fala, como encorajar, assus-
tar, conv nc r te.) , configurando um discurso d consenso avaliado 74 orno diz HABERMAS 1heoriedes kommuníkatíven Handelns. Frankfurt: uhrkamp,
conform a compr n ibilidad , v rdad , inc ridad corr ção. A l a edição, 1995, v. 2, p. 319: "Por isso, sem dúvida, aquelas interpretações e tomadas
de posição de sim/não entre partícipes da interação, que trazem um consenso de valor e
compr nsão linguística das r laçõ s ociais pr t nde subordinar o de reconhecimento de normas, seriam conduzidas ao centro da teoria da np ío. No ponto
central estariam, não mais a estrutura d fi m-meio do agi r, mas a formação de consenso
agir teleológico (atividade orientada pelo fim) ao agir comunicativo d~pendeme da linguagem, como aquele macanismo que coordena os planos de ação de
diferentes atores e, somente assim, torna possível a interação social." (tradução livre)
75 ompare G ME , Renato. Teorias da conduta: antecedentes, tendências e impasses.
Rio de Janeiro: Revan, 2016, p. 192 s.
73
RMA , 1heorie des kommunikativen Handelns. Frankf urt: uhrkamp, la edi ão, 76 T J D TO , J. Prefácio. l n: GOMES, Renato. Teorias da conduta:
1995, v. 1, p. 128-129. No Bra il, J R Z TAV. R a um a e ria omuni ati a ant d nt , t nd n i im a . Ri d Janeiro: Revan, 2016, p. 16. Ver GOME ,
d BERMA para d finir o on eim d ação - assim, por exemplo, TAV: Renato. Teorias da conduta: antecedentes, tendências e impas es. Rio de Janeiro:
Teoria do Crime Culposo. Rio d Janeiro: Lumen Juris, 2009, p. 212-213 . Revan, 2016, p. 180 s.
tanto, no homicídio com arma d fogo, por exemplo, teríamos um III. Funções do conceito de ação
enunciado destituído de validade comunicativa cons nsual, excluída
na destruição da vida humana, em que o processo penal produz u1n
A lit r tura p nal atribui ao con eito d ação, no sistema de fato
juízo stigmatizant . im m situações sociais probl máticas como o
punív 1, funçó s teóricas, 1netodológicas prática de unificação, d
crime (ou a propri dad privada dos m ios de produção, na política),
fundamentação e de delimitação das ações humanas, que não podem
não exist spaço para o cons nso iner nte à ação comunicativa: ao
ser cumpridas pelas categorias do conceito de crime79 •
contrário, as situações problemáticas som nte pod m ser apr endidas
por teorias tel ológicas (ou estrat 'gicas) da ação, caracterizadas pela 1. A função t órica d unificação pr t nd compr nd r a ação a
influência unilat ral, qu substitui o cons nso do discurso comuni- omissão d ação (dolosa imprudente) como espéci s de comporta-
cativo pelo conflito próprio das finalidades d violência, dinheiro, mentos hu1nanos. Em geral, o conceito de conduta é empregado co1no
pod r ou s xo da criminalidad (ou p lo conflito político no âtnbito gên rode ação e d omissão de ação, mas sse cone ito superior - cuja
das relações sociais d produção). A linguística, como teoria discursiva busca ng ndrou o conceito social d ação, por exemplo - parece d s-
da v rdad e n en u I dui a t oria ontológica da v rdade como n e ssário: a ação r alizada u mitida ' núcl positivo ou negativo
corr spondência entre r presentação do obj to obj to r pr s ntado, de todos os tipos de crim s dolosos e imprud ntes e, portanto, cons-
assumida p lo mod lo tel ológico. Curto grosso: o processo p nal titui o objeto ma rial exclusivo da pesquisa jurídico-penal. D fato,
como discurso d conv ncitnento recíproco ' inconvinc nt , porque a a p squisa no proc sso p nal não tem por obj to verificar a xistência
contradição do processo p nal mostra qu o conv ncim nto da outra do gênero conduta, mas a realização de uma ação proibida ou a omissão
part é unilat ral - não recíproco, m nos ainda consensual. 77 de uma ação mandada, dolosa ou imprudent .
Enfim, o modelo consensual do agir comunicativo oculta o 2. A função m todológica de fundamentação consist em configurar a
conflito d classes do modo de producão capitalista e parece repr - base psicossomática r al do conceito de crime, como unidade subjetiva
s ntar um r trocesso na t oria do d lito: s os lem ntos do mundo obj tiv q alificá el p los atributos d tipo de injusto (objeto d
da vida tão m int gração social, ntão a p rturbação do mundo da r provação) d culpabilidade (j uízo der provação): a ação r pres n-
vida p lo crim constitui anomia, como contradição ntr o mundo ta a substância capaz de portar os predicados do conceito analítico d
da vida (L bensw lt) e o sistema social fundado na relação capital/ crim , como tipo d injusto re lizado por um uj ito culpá L Assim
trabalho assalariado, qu promov a d sigualdad social inviabiliza a teoria da ação é a chave para compreender a teoria do fato punível,
a democracia r al - qu t o rias consensuais costumam ignorar. 78 co1no ação dolosa ou imprudente, proibida ou mandada, descrita sob
as formas positiva ou n gativa do tipo 1 gal.
3. A função prática d delimitação consist m id ntificar as ob-
j tivaçó s da subj tividad humana qu r alizam o cone ito d
ação - fi nôm no xclusivo de pessoas naturais, ind p nd nt d
77 Ver GOME , Renato. Teorias da conduta: antecedentes, tendências e impasses. Ri idade ou saúd m ntal 80 - , xcluindo acont cimentos (fi nôm nos,
de Janeiro: Revan, 2016, p. 197 s. Vi r também TRI DO O , J. Prefácio.
ln: ~OMES, Renato. Teorias da conduta: anteced nte , tendencia e imp . Rio de
Janeiro: Revan , 2016, p.14 s.
78 lRI O O TOS, J. Prefácio. ln: GOME , Renaro. Teorias da conduta: HE K/WEIGEND, Lehrbuch des Stmfi·echts, 1996, § 23, I, 2, p. 219.
ante edence , endên ia e impa e . ·o de aneiro: Revan, 20 16, p. 16. /B U · , Strafrecht, 1998, n. 94, p. 26-27.
movimentos ou comportam ntos) que não apresentam os caracter s sem o concurso da vontade consciente do autor, não constituem ação.
desse conceito.
b) Ações automatizadas (ou de curto-circuito): motorista d automóvel,
3.1. As hipót s s qu não ating mo status de ação- conh cidas como m velocidade d 90km/h, v" animal do tamanho de cachorro 1O a
ausência de ação na lit ratura - são as s guintes: 15 m tros à frente do veículo, gira o volant , bat na prot ção lateral
a) acont cim ntos da natureza, tais como terremotos, inunda- de cim nto passag iro 1norre. Disposições auto1natizadas apr ndidas
constituem ação, independente de sua utilidade ou dano 82 .
çõ s, t mp stad s, d sabam ntos, raios te.;
e) Reações instintivas de afeto: m movimento compulsivo, v ndedor
b) ataqu s d anitnais D roz s - qu pod m, contudo, s r usados
beija e morde seios d mulher, súbita e involuntariamente xpostos
como instrum ntos d agr ssão;
próximos à sua boca, durante ajust de medidas de vestido, na loja.
e) atos d p ssoas jurídicas: so1n nt as p ssoas naturais, co1no A satisfação d ilnpulsos instintivos d aD to constitui ação s gundo
órgãos representativos das pessoas jurídicas, podem realizar ações; qualqu r dos mod los.
d) pensamentos, atitudes moçõ s como atos psíquicos s m d) Ações sob hipnose: cumprindo sug stão hipnótica, hipnotizado
obj tivação; realiza fato definido como crim . A t oria dominan t admit ação
e) movim ntos do corpo co1no massa mecânica se1n controle: porque o hipnotizado não pode realizar ações reprovadas pela censura
stados d inconsciência, como d smaios, d lírios ou convulsões pi- p ssoal 83 , mas um s gm nto r p itáv 1 fala m aus "ncia d ação 84 .
1' pticas (a mãe sufoca ou l siona o filho na amamentação, ao sofr r A qu stão da hipnos pod ser selar id p r RE D iniciad
desmaio ou convulsão epil 'ptica); 1novimentos sob fo rça física absoluta na arte da sugestã hipn ótic por J A - A I H RCOT, qu
(A 1npurra B sobre uma vitrin , quebrando-a) - 1nas não sob fo rça d escobriu as causas psicológicas de 1nuitos distúrbios psíquicos,
compulsiva, que não exclui a ação (B quebra a vitrine sob ameaça séria influenciado por HIPPOLYTE BERNHEIM, cujas xp riências
de agressão de A). sobre sugestão pós-hipnótica lhe inspiraram a idéia de um incons-
ciente) r sponsáv 1pela maioria das açõ s humanas. a situação d
3.2. Os movim ntos refl xos, as açõ s automatizadas, as r açõ s
hipnose, o hipnotizado não tem consciência do mundo exterior,
instintivas de afeto e as ações sob hipnose podem ser controv rtidas.
ap nas ouve v" o hipnotizador, acredita em suas palavras e obedece
a) Movimentos reflexos: motorista prot ge co1n a mão olho atingido por s us comandos, d 1nodo alucinado. U1na p ssoa saudáv 1pod s r
inseto em curva de rodovia, perd o control do veículo produz aci- induzida a ver o que não exist (uma cobra), ou a não ver o que exist
dente. Ação, segundo a t oria p essoal de ação: movim nto de proteção (u1na pessoa), a sentir o cheiro de uma rosa imaginária ou a morder
d' igid fin 'dad p iquicam n 'nt m diad n itui manifestação uma batata p nsando s ruma p ra, mas existem limit s: uma jov m
da personalidadl- 1; ausência de ação, conforme a teoria final da ação: d cente não será induzida a d spir-s em público, assim como um
movimentos refl x d n ad d p r tÍmul u fi i - cidadão ducado não r aliza a sug stão d furtar coisas. A explicação
lógicos a partir do ist ma nervo o p riférico m ral incorpor dos
filogeneticament como r açõ s motora d det sa ou autoproteção,
82 ROXI , Strafrecht, 1997, § 8, n. 67, p. 212.
83 As im, MAURA H /ZIPF, Straftecht, 1992, § 16, n. 19, p. 195; também, ROXIN,
Strafrecht, 1997, § 8, n. 71, p. 21 4.
81 ROXI , Stmfrecht, 1997, § 8, n. 66, p. 211-212. 84 , / ~ L , Strafrecht, 1998, n. 98, p. 27.
é simples: o ego do hipnotizado pode estar sob o poder alheio, mas da ação humana. A causalidade é u1na lei geral da natureza, a relevância
o superego continua ativo no papel de censura sobre as ações do social pode existir ou não existir na ação, a evitável não evitação é um nó
ego, sob a forma de resistências psíquicas contra ações censuráveis. 85 conceitua!, a manifestação da personalidade parece transcender os limites
do ego como p rsonalidade cansei nte (inclui fenôm nos do id do
superego, dimensõ s inconscient s da personalidade, cujas manifestações
definem conflitos psíquicos incontroláv is) e a natur za consensual da
IV Conclusão ação comunicativa é incapaz d compre nder ti nômenos individuais
(crilne) ou sociais (luta de classes) fundados no conflito.
Considerando as funções teóricas, metodológicas e práticas do
conceito de ação, definido causalmente co1no causação d resultado
ext rior por comportamento humano voluntário, teleologiamente
como r alização de atividad final, socialmente como comportamento
social relevante dominado ou do1nináv l p la vontade, negativamente
como evitável não evitação do resultado na posição de garantidor,
pessoalmente como manih stação da p rsonalidad comunicativa-
mente como interação consensual de dois ou mai ator s atrav 's da
linguagem, ' possível concluir que a definição capaz de id ntificar o
traço mais esp cífico , ao m smo tempo, a característica mais g ral
da ação humana, par c ser a definição do modelo teleológico de ação.
A definição de ação como atividade dirigida pelo fim (nobre ou
abjeto, altruí ta u g í ta I gal u crimin ,) d taca traço qu
diti rencia a ação d todos os demais ti nômenos humanos ou naturais,
e permite delimitar a base r al paz de incorporar os atributos ax·oló-
gicos do cone ito de crim , como ação tipicament injusta culpável.
Ao contrário, a exclusão da finalidade, como propósito consciente que
unifica os movünentos parti ul s m u1n conjunto significativo, des-
trói a especificidade da ação como fenômeno exclusivam n t - human .
Os critérios da causalidade, da relevância social, da evitável não evitação,
da manifestação da personalidade ou da ação comunicativa não par ce1n
possuir o poder definidor próprio do critério da finalidade, que permit
in egrar qualquer equência de a i lad na unidade p i orná ica
11. Tipo objetivo 2 ROXI , trafrecht, 1997, § 11 , n. 1, p. 291; JAKO BS, traftecht, 1993, 7/46, p. 185 .
3 RO , Stmfhcht, 1997, § 11, n . 39-1 36 p. 310 s.; do m esmo, Gedanken zur
Problematik der Zurechnung im trafrecht, Honig-F , 1970; Pftichtwidrigkeit und
Erfolg bei fahrlassigen D elikten,. ZSrW, 74, 1962.
Nos tipos dolosos d r sultado, a atribuição do tipo obj tivo pr s- 4 Ver, entre outros, BUR T · R, Das FahrLassigkeitsdelikt im tra.frecht, 197 4;
supõe dois mom ntos ss nciais: a causação do resultado, xplicada p la OTT , Grundkurs trafrecht, 1996, § 6, p. 52 s.; RUDOLPHI, Vorhersehbarkeit
und chutzzweck der Norm in der stra,fi-echtLichen Fahrlassigkeitslehre, Ju , 1969;
lógica da d terminação causal, a imputação do resultado, fundada no , Moderne Tendenzen in der Dogrnatik der Fahrldssigkeits und
Gefol. rdungsdelikte, J 1975; T ENWERTH, Bemerkungen zum Prinzip der
Risikoerhô"hung, allas- , 1973; WOLTER, Objektive und personale Zurechnung von
Verhalten, Gefahr und Verlezz un in einem fimktionalen traflats r;1stem, B 81; RI H
Ver JAKOBS, trafrecht, 1993, 7/1, p. 183; também, ELZ L, Das D eutsche Tatbestandsmdssiges Verhalten und Z urechnung des ErfoLgs,. 1988; no Brasil, TAVARE ,
Strafrecht, 1969, p. 63 . As controvérsias em torno dos crimes omissivos, 1996, p. 57-5 9.
natur za probabilística, pondo em xequ o conhecimento científico d stacando a pesquisa etiológica m criminologia: causa seria a presença
sobre relações de causa e efeito dos fenômenos naturais, assim como a combinada de condições isoladamente insuficientes, segundo GLÜECK. 9
concepção filo sófica kantiana, pela qual a causalidade não eria mera Assim, por exemplo: se A entregou a B o veneno para matar C, então
d t rminação mpírica do ser, mas categoria apriorística do p nsa- as açõ s d A d B são causas da mort d C ( m fatos dolosos); s
m ento. Todavia, a controv 'rsia sobr 1 is causais ou probabilí ticas um motorista embriagado dirig na contramão provoca uma coli-
da física nucl ar não par e reduzir o pod r explicativo do cone ito são, a ing stão de álcool dev s r definida como causa do acid nt ,
d causalidad , como cat goria filosófica ci ntífica n c ssária para pois, xcluída m ntalment ssa condição, o motorista t ria dirigido
compre nd r os fatos da vida diária 5. A causalidade, objeto de estu- na corr ta mão d direção, e o acidente não teria ocorrido (em fatos
do do s torda ci "ncia conh ciclo como Etiologia, d signa ar lação ilnprud nt s) .
de causa efeito qu determina os fatos concretos da vida real. 6 1 o 1.1.2. Críticas ao método. A teoria da equivalência das condiçõ s so-
Dir ito P nal, a t oria da equivalência das condições ' o principal
fr u críticas contund nt s, mas sobr viv u a todas. Primeiro, o crit 'rio
m étodo para d terminar relaçõ s causais, embora um s gmento da
da exclusão hipotéticas ria excessivo, produzindo um regresso ao infinito:
literatura adote a t oria da adequação, ambas a seguir d scritas.
no exemplo referido também seriam definíveis co1no causas do acidente
a vítima, o fabricante o comerciant do v n no, os pais dos prota-
gonistas te. , porque, xduídas ssas condiçõ s, o r sultado tamb 'm
1.1. Teoria da equivalência das condições
s ria xcluído 10 • Segundo, o método conduziria a rro m situaçõ s
de causalidades hipotéticas ou de causalidades alternativas, conform
1.1.1. Conceitos centrais. A t oria da quival''ncia das condiçõ s7,
exemplos históricos: a) em causalidades hipotéticas, o argumento de
dominant na lit ratura jurisprudência cont mporân as, pod s r
médicos acusados da morte de doentes mentais, em cumpritnento
r <luzida a dois cone itos centrais: a) todas as condiçõ s d t rminant s
de ord ns sup riores do regim nazista, d qu na hipót s d r cusa
d u1n r sultado são necessárias - por isso, são equivalentes no proc sso
p ssoal d cumprir tais ord ns outros m 'dicos as t riam cumprido do
causal; b) causa é a condição que não pode ser excluída hipoteticamente
m smo modo, conduziria a condu õ s absurdas: xduída a ação do
sem excluir o resultado 8 - ou s ja, causa é a conditio sine qua non do
m ' dico acusados, o r sultado p rman c ria igual p la ação hipot ' tica
r sultado ou a condição s m a qual o r sultado não pod xi tir. Ou,
dos m édicos substitutos - logo, o comportamento daqueles não s ria
causa do r sultado; por outro lado, co1no a ação hipot 'tica dos 1n ' -
dicos substitutos não t ria sido causa d n nhum resultado, a mort
5 obre causalidade e física quannca, ver a monografia clássica d WERNER
HEI ENBER , Quantentheorie und Philosophie, 1979, p. 63-64. Instrutivo, ROXI , das vítimas t ria sido sem causa; b) en1 causalidades alternativas, se A
, trafrecht, 199 7, § 11, n. 3, p. 292. B adicionam, ind p nd nt mente um do outro, dos s igualm nt
6 E notável a rítica de EINSTEIN sob re indeterminações da teoria quântica, in W
HEI ENBER , Quantentheorie und Philosophie, 1979, p. 39: 'íigora, seus pensamentos mortais d v n no na b bida de C, o r sultado não d sapar c com
se m ovem em uma direção muito p erigosa. O senhor fala mesmo do que se sabe sobre a
natureza, e não mais daquilo que a natureza realmente faz". E concl ui: 'E m ciência da
a xdusão alternativa daqu las açõ s: as dos s individuais d ven no
natureza trata-se ap enas disto, esclarecer o que a natureza realm~_nte faz." (Tradução livre)
7 Fundada por JULIU GLA ER, Abhandlungen aus dem Osterreichischen tra{recht,
1858 e d senvolvida por 1AXI I VON B Uber CausaLitat und deren 9 D EBUY T, hristian . EtioLogy ofVioLence. ln: Violence in society.- ollected
Verantwortung, 1873 . o Brasil ver a excelente exposi ão de TAVARES, Teoria do studi s in criminological research, Co uncil of Europe. 1976, vol. XI, p. 179-256.
injusto penal, 2002, p. 256-268 . 10 Mais detalh ROXIN , Strafrecht, 1997, § 11 , n. 5, p. 293 . No Brasil verTAVARE ,
8 Ver, por todos, KUHL, Strnfi·echt, 1997, § 4, n. 9, p. 25 . Teoria do injusto penal, 2002, p. 23.
t riam ficácia real , isoladam nt , d t rm1nanam o r sultado 11 • com a xclusão cumulativa das condiçõ s, então ambas as condições são
Terceiro, a teoria seria inútil para pesquisa da causalidade, porque causas do resultado. Finalmente, a crítica de ser inútil para pesquisa
pressupõe precisamente o que deveria demonstrar: para saber, por da causalidade é equivocada: para demonstrar se detenninado fator
x mplo, s o calmant Contergan (ou Talidomida) , tomado durant pod s r consid rado causa concreta d um r sultado, é indisp nsáv l
a gravid z, teria causado d formaçõ s no ti to, s ria inútil xcluir hi- prévio conh cim nto abstrato da eficácia causal g ral d sse fator de-
pot ticam nt a ingestão dom dicam nto, p rguntar s o resultado, t rminado, pr ssuposto lógico da fórmula d p squisa causal da teoria
então, d sapar c ria; para r spond r ssa perguntas ria pr ciso sab r da quival "ncia, qu não s confund com pesquisa de propri dad s
s o medica1n nto é causador de deformações no feto , s já xiste físicas ou químicas d el m ntos naturais.
ss conh cim nto, a p rgunta s ria ociosa: assim, a fónnula da x- 1.1.4. O critério na lei penal brasileira. a l i p nal brasileira, a
clusão hipotética par ce pressupor o qu soment através dela d veria fórmula da exclusão hipotética da condição para d t rminar ar lação
r p squisado 12 . d causalidad - mbora crit / rios ci ntíficos não d vam r fixados
1.1.3. Refutação das críticas. A crítica de ser excessiva, originando na 1 i - stá inscrita no art. 13, CP:
um regresso ao infinito, ou de ser insuficiente, no caso das causalidades Art. 13. O resultado, de que depende a existência do
hipotéticas, foram r furadas por SPENDEL 13 por WELZEL 14 , ao crime) som ente é imputável a quem lhe deu causa.
mostrar m qu a teoria trabalha soment com condições concretamente Considera-se causa a ação ou omissão sem a qual o
realizadas 15 - nunca co1n hipót s s: o r sultado aparece como produto resultado não teria ocorrido.
concreto de condiçõ s reais- e não d condições hipotéticas possíveis ou
A mod rna distinção entr causaçáo do r sultado imputação
prováveis, que não são ações reais, nem integram processos históricos
do r sultado, corr spondent aos processos d determinação causal
concretos; seja como for, a alteração de qualquer condição implicaria
d imputação p ssoal do r sultado, al ' m d ajudar a r solv r v lhos
mudança dor sultado concreto, que jamais s ria igual, co1no obs rva
probl mas da t oria da equivalência das condições, / int iram nt com-
SCHLUCHTER 16 sobr o x mplo d ENGISCH: B utilizaria a arma
patível com a legislação brasileira, observados os seguintes princípios:
de A, s não tiv utilizado a arma fornecida por C, para agr dir D.
Por outro lado, a fórmula aperfeiçoada da t oria r solv o probl ma da 1) O r sultado ' o produto real de todos os fator s qu o constitu 1n:
causalidades alternativas, co1no d 1nonstrou tamb 'm WELZEL 17 : se o no limit , a ação dom ' dico que protela a mort in virável do pacient
r sultado não d sapar c com a xclusão alternativa, 1nas d sapar c é condição do resultado de morte deste, porque inB.ui na existência r al
do acont cim nto concr to; mas como a causalidade não ' o único
11 Ver R XI , Strafrecht, 1997, § 11, n. 12, p. 296. critério d atribuição dor sultado, a m ra relação d causalidade não
12 OXI , trafrecht, 1997, § 11, n. 11, p. 295-296, qu , na ár a da au alid d trabalha p rmit atribuir o r sultado d mort ao m 'dico 18 •
com a teoria da equivalên ia; TAV: , As controvérsias em torno dos crimes omissivos,
1996, p. 53-54. 2) A relação d causalidad som nt / int rrompida por curso causal
13 PEN DEL, Die Kausalitdtsformel des Bedingungsthem·ie fa~· die Handlungsdelikte,
1948, p. 38. post rior absolutamente independente, qu produz dir tam nt o r -
14 WELZEL, Das Deutsche trafrecht, 1969, § 9, p. 44.
15 PEN DEL, D ie Kausalitdtsformel des Bedingung, theorie for die Handlungsdelikte, sultado, anulando ou destruindo os t itos do curso causal ant rior:
1948, p. 38.
16 HLU HTER, GrundfallezurLehrevonderKausalitdt, 1976, p. 518.
17 WELZEL, Das Deutsche trefrecht, 1969, § 9, p. 45. No Brasil, ver TAV. , Teoria
do injusto penal, 2000, p. 211-212. 18 Para uma análise ab rangente, RO , trafrecht, 1997, § 11, n . 20, p. 301.
antes de qualqu ração do v n no colocado por A na co1nida de B, este b) por açõ s dolosas ou imprudent s de terceiros entr a ação e o r sul-
morre em acidente de trânsito ao sair do restaurante ou varado pelo tado: 1) se o marido mata a mulher com veneno ntregu pela amante,
projétil disparado pela arma de C. Essa independência do novo curso a ação dolosa daquele não interro1npe a relação de causalidade entre
causal d v s r absoluta, não basta independência relativa: s o acid nt a ação da amant a morte da sposa, m smo qu aqu la d sconh ça
ocorr por causa do mal- star produzido p la ação do v n no, ntão a finalidad do ven no; 2) s o hósp de ntr ga ao camareiro casaco
a ação d A é fator constitutivo dor sultado concr to , d ss modo, com revólv r no bolso, ste mata o col ga d serviço ao pr ssionar,
causa dor sultado. Essa cons quência decorr das paração ntr cau- por brincad ira, o gatilho da arma m dir ção dest , a ação imprud nt
saçáo imputação do resultado, qu pennit admitir, se1n n cessidade do camar iro não interrompe ar lação de causalidad entre a ação do
d disfarces ou razõ s artificiosas, r laçõ s causais r alm nt existent s hósp d a mort da vítima21 ;
- como é o caso das hipótes s da chamada independência relativa -, c) por mediação do psiquismo de outrem entre ação r sultado, como
d ixando a qu stão da atribuição do r sultado para s r d cidida por
indicam as hipót s s d instigação ou d lesão patrimonial fraudul nta
outros critérios 19 . É importante notar qu a l i brasil ira consid ra
por erro da vítima, ind pendent m nte do ponto de vista sobre de-
a independência relativa do novo curso causal como exclud nte da terminação ou liberdade dos atos psíquicos: a possibilidade de outra
imputação do r sultado - não como xclud nt da relação de cau-
d cisão, que pod ria t r existido, 1nas qu não existiu, não xclui a
salidade, admitindo, portanto, a mod rna distinção ntr causação
causalidad porqu a d cisão concr ta / s mpr motivada por st ou
imputação do resultado: por aqu 1 fator 22 •
Art. 13, § 1°. A superveniência de causa relativamente
Essa r formulação da t oria da equival"ncia das condiçõ s, à
independente exclui a imputação quando, por si só,
luz da distinção ntr · causação imputação do resultado, conduz, na
produziu o resultado; os Jatos anteriores, entretanto,
prática, a oluçõ s s m lhant s à da t oria guida m t xto ant rior23 ,
imputam-se a quem os praticou.
mas sob nova linguag m com argum ntos mais convincentes.
3) Se a imputação do resultado depende da definição como realização
do risco criado, ntão pod -s r conh c r r lação d causalidade nas
s guint s hipót s s: 1.2. Teoria da adequação
a) por ncad amentos anormais ou incomuns de condiçõ s: 1) A fi r
B, qu morr no hospital por causa da an st sia, d rro m /dico ou A t oria da adequação 24 consid ra causa a conduta adequada
intoxicado pela fumaça d incêndio no hospital; 2) A dá um murro para produzir o resultado típico, excluindo condutas que produzem
m B, qu morr ao bat r a cab ça, fortuita1n nt , contra o m io-fio o r sultado por acid nt . A condição adequada l va a possibilidad
do pass io; 3) A produz pequ no fi rim nto m B, qu · morr por
fi ito d condição pr xist nt (h mofilia) ou post rior (gangr na, -1 Mais exemplos, ROXI N, trafrecht, 1997, § 11, n . 27-28, p. 304.
n glig "ncia da vítima) 2º;
22 ROXI , traftecht 1997, § 11, n . 30 p. 305 .
23 Ver, por ex l , lRI OS, Teoria do Crime, 1993, p. 31 -32, que
resolve esses problemas no âmbito do dolo, como é próprio do finali mo.
24 Fundad por J V ~
à D ie Prinzipien der Warscheinlichkeitsrechnung,
,~-~,
1886, m uito infl u nte no D ireiro Civil; no Direito Penal, s guida por autores
19 Instrutivo, RO I , Strafrecht, 1997, § 11, n. 29, p. 305 . importantes, como ENGI H , D ie KausaLitdt als MerkmaL der strafi'echtlichen
20 RO , Stmfrecht, 1997, § 11 , n. 26, p. 303-304 . Tatbestande, e CH/ZIPF, Straftecht, 1992, § 18, p. 240-263 .
de produção do resultado, segundo u1na prognose objetiva posterior, do resultado de lesão do b m jurídico ao autor, como obra dele. A ünpu-
ponto de vista de um observador inteligente colocado antes do fato, tação (objetiva) do resultado é analisada em dois momentos: primeiro,
co1n os conhecimentos gerais de u1n ho1nem informado pertencente a criação de risco para o be1n jurídico pela ação do autor; segundo, a
ao círculo social do autor, al /m dos conh cim ntos sp ciais dest : realização do risco criado p la ação do autor no r sultado d 1 são do
persuadir algu /m a uma viag m d avião, qu cai no mar pela xplo- bem jurídico. Em regra, a r lação de causalidad ntr ação r sultado
são d uma bomba, não constitui condição ad quada para a mort r pres nta realização do risco criado p la ação do autor e constitui fun-
da vítima, porqu um obs rvador int lig nt consid raria sse vento, dam nto sufici nt para atribuir o r sultado ao autor, como obra dele;
ant s da viag m, como int iramente itnprováv 1 - exceto se tivesse o r sultado tamb /m é atribuído ao autor na hipótese de desvios causais
conhecim nto da exist "ncia da bomba 25 . acidentais qu , na verdad , ampliam o risco d 1 são do b 1n jurídico: a)
Contudo, s causa ' condição adequada para produzir o re- a vítima é lançada do alto da ponte para se afogar nas águas do rio, mas
já morr ao fac lar a cab ça no pilar da pont ; b) a vítitna não morr
ultado típico, ntão a t oria da ad quação pr t nderia r solv r,
simultaneam nte, questões de causalidad qu stõ s d ilnputa- por eh ito dos disparos d arma d fogo, mas por infi cção d t rminada
ção: afinal, identificar a causa adequada para o resultado típico é, pela ass psia inadequada dos ferim ntos. Nessas hipótes s, o resultado
tamb / m, id ntificar o fundam nto da atribuição do r sultado ao não ' u1n produto acid ntal - ap nas o d svio ' acid ntal -, mas a
autor, como obra d le. Como nota ROXIN 26 , a t oria da ad quaçáo r alização normal do p rigo criado p lo autor, d finív 1como obra dele
s ria 1nais do qu uma t oria da causalidade, mas não constitui, , portanto, i1nputáveF 8.
ainda, uma t oria da imputação típica. A imputação do resultado como realização d risco criado pelo
autor tem a sua contrapartida teórica: se a ação do autor não cria risco
do resultado, ou se o risco criado pela ação do autor não se realiza no
2. Imputação (objetiva) do resultado r sultado, então o resultado não pod s r itnputado ao autor.
A imputação objetiva do r sultado consist na atribuição do a) a ação do autor não cria risco do r . sultado: A conv nc . B a
pass ar na praia d s rta durante t mpestad , na esp rança de qu um
25 R XI , trafrecht, 1997, § 11 , n . 34-35, p. 308-309; WE EL /B ULKE trafrecht,
raio o fulmine: a casual ocorr"ncia do resultado não ' definív 1como
1998, n. 169, p. 52.
26 Mais detalhes em RO , Strafrecht, 1997, § 11, n. 36-38, p. 309-310.
27 RO T , trafrecht, 1997, § 11 , n . 6, p. 365-366 § 12, n . 144- 145, p. 434-435;
JAKO BS, trafrecht, 1993, 7/4a, p. 184. o Brasil,TAV: , Teoria do injusto penal, 28 ROXI , trafi·echt, 2006, § 11. o Brasil, ver TAV: , Teoria do injusto penal,
2002, p. 252-254. 2002, p. 279 .
risco criado p lo autor, porque acontecimentos casuais estão fora d realizou no resultado - afinal, como diz ROXIN, a h ipó t se contrária
controle humano - portanto, o resultado não é atribuível ao autor indicaria que o ferimento da vítima teria aumentado o risco de morte
co1no obra dele (embora causalmente relacionado à sua ação) 29 ; em incêndio, o que seria absurdo 31 ;
b) a ação do autor reduz o risco do resultado: B consegu d s- b) o resultado é produto de substituição de um risco por outro,
viar da cab ça para o 01nbro d A viga que d sp nca da par de d ou s ja, u1n risco post rior substitui ou d sloca o risco ant rior: 1)
uma construção: a ação do autor reduz o preexistente risco para a a vítima ferida pelo autor com dolo de homicídio morre com o crâ-
vítima - portanto, o resultado tamb ' m não pod s r atribuído ao nio smagado no c ' l br acident d trânsito da ambulância que o
autor como obra dele ( mbora causalm nt r !acionado à sua ação). transporta para o hospital; 2) a vítima fi rida com dolo d homicídio
S gundo a literatura, situaçõ s de redução de risco tamb m pod m ser
I
morre por rro m édico na cirurgia (h morragia por incisão inad-
resolvidas no âmbito da antijuridicidad , justificadas p lo stado d vertida d art ' ria, administração de medicam nto contraindicado,
n c sidad ou p lo cons ntim nto presumido do ofi ndido, mas ss parada cardíaca d t rminada p la anest sia etc. ); m casos de erro
procedi1nento pressupõe definir como típicas ações qu m lhoram médico, ' pr ciso distinguir: a) se o resultado é produto xclusivo
a situação do bem jurídico protegido, o que parece impróprio. Hi- do risco posterior, então é atribuído ao autor do risco posterior -
pót s s de r dução do risco nos limit s ntr xclusão da atribuição o r sponsáv 1 p la falha m 'dica, por x mplo; b) s o r sultado '
típica ação justificada apar c m nas situaçõ s d substituição d um produto combinado d ambos os riscos (as 1 sõ s da vítima a falha
p rigo por outro 1n nos danoso para a vítima: o bomb iro lança a m dica), ntão pod ser atribuído aos resp ctivos autor s, embora
I
criança da jan la sup rior da casa m chamas, ferindo-a grav m ente, sob rubricas diversas: dolo imprudência 32 •
mas salvando-a de morte certa pelo fogo 30 . Finalment , hipót s s de contribuição da vítima para o r sultado
ão as im r olvidas p la t oria: a) o r ultado r alização xclu iva
I
III Tipo subjetivo representação ou p rcepção r al da ação típica: não basta conh cim nto
potencial ou capaz de ser atualizado, mas também não se exige um
conhecimento refletido, no sentido de conhecimento verbaHzado37 .
O 1 m nto subj tivo geral dos tipos dolosos ' o dolo, a en rgia
Esse el m nto int 1 ctual do dolo pod s r d <luzido da r gra sobr
psíquica produtora da ação incriminada34, qu nonnalm nt pr n-
o erro d tipo: s o erro sobr os el m ntos obj tivos do tipo 1 gal
che todo o tipo subjetivo. Mas aparecem, com frequência, ao lado do
xclui o dolo, ntão o conhecim nto das circunstâncias obj tivas do
dolo, elementos subj etivos especiais, sob a forma de intenções ou de
tipo 1 gal int gra o dolo 8 • O conhecimento (atual) das circunstâncias
tendências sp ciais ou d atitudes pessoais n c ssárias para pr cisar a
d fato do tipo obj tivo deve abranger os el m entos presentes (a vítitna,
imag m do crim ou para qualificar ou privil giar c rtas formas bá-
a coisa, o docu1n nto te.) futuros (o curso causal o r sultado) do
sicas d comportam ntos criminosos, qu tamb ' m int gram o tipo
tipo obj tivo. A delimitação do objeto do conhecim nto - portanto,
ubj tivo 35 . O studo do tipo subj tivo dos crim s dolosos t m por
do alcanc do dolo - r qu r algun selar cim ntos: a) os 1 m ntos
obj to o dolo (elemento subjetivo geral), e as intenções, tendências
descritivos do tipo legal (hom m , coisa etc. ), exist nt s como r alida-
ou atitud s p ssoais ( 1 m ntos subj tivos especiais), xist nt s m
des concretas perc ptíveis p los sentidos, dev m ser representados na
conjunto com o dolo m d t rminados delitos.
forma d sua exist Ancia natural; b) os 1 m ntos normativos do tipo
1 gal (coisa alh ia, docum nto te. ), xist nt s como cone itos jurí-
dicos 1npr gados p lo 1 gislador, deve1n s r repr sentados conforme
1. Dolo s u significado comum, segundo uma valoração paralela ao nível do
leigo - não nos ntido da d finição jurídica resp ctiva, porqu , ntão,
O dolo é a vontad conscient d r alizar um crim ou - mais som nt J·unstas
· · capaz s de do1o 39 .
s nam
t cnicament - a vontade consci nt d r alizar o tipo objetivo d um
b) Elemento volitivo. O compon nte volitivo do dolo (indicado na
crim , ta1nb 'm d finív 1como saber querer m r lação às circuns-
d finição 1 gal d crim doloso, art. 18, I, CP) consist na vontade -
tâncias de fato do tipo 1 gal. Assim, o dolo é composto de um 1 mento
informada p lo conhecimento atual - d r alizar o tipo obj tivo d um
intelectual (consci Ancia, ou repres ntação psíquica) d um 1 m nto
crim . O v rbo querer 'um v rbo auxiliar qu n e s ita d um v rbo
volitivo (vontade, ou nergia psíquica), co1no fator s fonnadores da
principal para xplicitar seu conteúdo: (qu rer) matar, ferir, stuprar
ação típica dolosa 36 •
te. - portanto, o compon nt volitivo do dolo d fin -s co1no querer
a) Elemento intelectual. O compon nt intelectual do dolo consist realizar o tipo obj tivo d um crime4° . A vontade, d finida como querer
no conhecimento atual das circunstâncias de fato do tipo obj tivo, como realizar o tipo objetivo de un1 crim , deve apresentar duas características
para constituir 1 m nto do dolo: a) a vontad d v s r incondicionada,
como decisão de ação já definida (se A pega u1na arma sem saber s c) o dolus eventualis42 . Em linhas gerais, o dolo direto de l º grau tem
fere ou ameaça B, não há, ainda, vontade de ferir ou d ameaçar um ser por objeto o que o autor quer realizar; o dolo direto de 2° grau abrange
humano - logo, não há dolo); b) a vontade deve ser capaz de influenciar as consequências típicas repre entadas como certas ou necessárias pelo
o acont cim nto r al, p rmitindo d finir o r sultado típico como obra autor; o dolo eventual compr nd as cons qu "ncias típicas r pr s n-
do autor, e não como mera esp rança ou des jo d ste (se A nvia B à tadas como possíveis por um autor qu consente em sua produção 43 •
floresta, durant a formação de uma t mp stad , na sp rança de qu
Essa tríplice configuração do dolo constitui avanço da ciência
um raio o fulmin , não exist vontad como 1 m nto do dolo, ainda do Dir ito P nal porqu agrupa difer nt s cont údos da consciência
qu , de fato, B seja fulminado por um raio, porqu o acont cimento da vontad . 1n distintas cat gorias dog1náticas, conform variaçõ s d
concr to situa-s al 'm do pod r de influ "ncia do autor) 41• A vontade, inten idad dos l m ntos int l ctual e volitivo do dolo - portanto, de
definida formalment como decisão incondicionada de realizar a ação comprometimento subjetivo do autor com o tipo d crim r spectivo44 •
típica r pr ntada, pod s r cone bida mat rialm nt como proj ção
O fundamento m todológico d ssa sist matização do dolo par c s r
de nergia psíquica dirigida à lesão de b ns jurídicos protegidos no
o modelo final d ação, cuja strutura d staca a base real daquelas
tipo l gal. categorias dogmáticas: a proposição do fim, como vontade consciente
qu dirig a ação; a escolha dos meios para realizar o fim, como fator s
causais n c ssários determinados p lo fim; e os efeitos secundários
1.1. Espécies de dolo r pr s ntados co1no necessários ou como possíveis 1n fac dos m ios
mpr gados ou do fim proposto - eis o substrato r al das cat gorias
A lei penal brasileira define duas espécies de dolo: dolo direto do dolo direto de 1° grau, dolo direto de 2° grau dolo eventual.
dolo eventual (art. 18, I, CP). A definição legal de categorias científicas Cone iro ci ntífico incorporado na 1 i d v m r int rpr tado
' inconv nient , p lo risco d fixar conceitos m d finiçõ s d h ituosas conform o progresso da ci "ncia: o dolo direto indicado na xpr ssão
ou superadas, como ' o caso da 1 i p nal brasil ira: n mo dolo dir to querer o resultado compr nd as cat gorias d dolo direto de 1° grau
'd finível pela xpr ssão querer o resultado, porqu xist m resultados
qu o ag nt não quer, ou m smo Lamenta, atribuív is como dolo di-
r to; ne1n a fórmula de assumir o risco de p roduzir o r sultado par ce 42 N sse sentido, JES HE K/WEIGE D, Lehrbuch des trafrechts, 1996, § 29, III,
p. 297-304; JAKOB , trafrecht, 1993, 8/ 15-32, p. 66-278. H / ZI PF,
adequada para d finir o dolo v ntual. trafrecht, 1992, § 22, n. 23-40; ROXIN, trafrecht, 1997, § 12, ns. 1-20, p. 366-371;
TRATE WERTH, trafrecht, 1981, n . 250; WELZEL, Das D eutsche tra{recht,
Art. 18. Diz-se o crime: 1969, § 13, p. 67-68; L /BE LKE, trafi'echt, 1998, ns. 2 10-230, p. 6'6-71.
43 Ver, por rodos RO J traftecht, 1997, § 12, n. 2, p. 364 . o Bras il, alguns aurores,
I - doloso, quando o agente quis o resultado ou assumiu como ]E U , D ireito Penal I, 1999, p. 28 , MIRABETE, Manual de D ireito
o risco de produzi-lo; Penal, 2000, p. 143, distinguem, por um lado, dolo direto ou indeterminado e, por
outro lado, dolo indireto ou indeterminado uma nomenclatura que pode engendrar
equívocos, porque o dolo mesmo como dolo eventual ou como dolo alternativo é,
Para começar, a rnoderna teoria p nal distingue três espécies d sem pre, determinado : no dolo ventual, o auto r .aceita (ou se conforma com) a produção
dolo: a) o dolus directus d 1° grau; b) o dolus directus d 2° grau; de determinado resultado representado como possível; no dolo alternativo, am bos
os resultados repre entados pela consciência do autor são determinados, apenas ua
produção é alternativa, ou s ja, reciprocamente excl udent (ver dolo even tual e,
também, do l al t rnativo , adiante) .
44 Sobre a teoria da ação, ver WELZEL, Das Deutsche trafrecht, 1969, § 8, p. 33 s. e§ 13,
41
p. 65 s.
e d dolo direto de 2° grau, r levant s para aplicação da p na; o dolo insolvência (motivo) 52 .
eventual indicado na fórm ula assumir o risco de produzir o resultado
pode ser interpretado no sentido de consentir na (ou aceitar a) produção
1.1.2. Dolo direto de 2° grau
do r sultado típico r pr s n tado como possívef 5•
d pende d identificar atitudes fundadas, m última instância, na mocional, por conformar-se com a ventual produção de ser sultado;
afetividade do autor. De modo geral, o dolo ventual constitui decisão b) a imprudência consciente caracteriza-se, no nível intelectual, pela
pela possível lesão do bem jurídico protegido no tipo, e a imprudência representação da possível produção do resultado típico e, no nível da
consci nt r pr s nta 1 viana confiança na viração do resultado d atitude mocional, por confiar na aus "ncia ou viração d sse r sultado,
1 são do b m jurídico 57 , mas a d finição das id ntidad s e das dift - p la h abilidad , atenção ou cuidado na r alização concr ta da ação.
r nças entr dolo eventual imprud /\ncia consciente r qu r a utilização
O caráter complementar-exdudent desses conceitos aparece nas
de crit 'rios mais pr cisos. seguint s correlações, ao nív 1da atitud mocional: qu m se conforma
O s tor dos efeitos secundários r pr s ntado como possíveis p lo com (ou aceita) o r sultado típico possível não pod , simultan am nt ,
autor constitui abas mpírica comum das teorias sobr dolo eventual confiar em sua evitação ou ausência (dolo ventual); inversament ,
e imprudência consciente: lementos particular s das dimensões int - qu m confia na evitação ou ausência do resultado típico possível não
1 ctual mocional d ss s conceitos marcam a sp cificidad própria pod , simultan am nt , conformar-se com (ou aceitar) sua produção
de cada teoria. A controvérsia sobr a qu stão é a história inacabada (imprudência conscient ) 61 .
da criação e do conflito desses crit ' rios - cujas diferenças, na verda-
O caso-paradigma da juri prud "ncia al má sobr dolo eventual
d , são mais v rbais do qu r ais, qu r pr s ntam, afinal ap nas, imprudência consciente 'o famoso L ederriemenfall, d 1955 (BGHSt
m ras indicações da xistência d uma decisão pela possível lesão do bem
7 /365), cuja discussão permite sclarec r o significado daquel s con-
jurídico, na pr cisa fonnulação d ROXI 58 .
ceitos: X Y d cid m praticar roubo contra Z, ap rtando u1n cinto d
Mod los úteis para discussão da matéria são as d finiçõ s dos couro no pescoço da vítima para faz "-la d smaiar c ssar ar sist"ncia,
proj tos oficial alternativo dar forma penal al má: no projeto oficial, mas ar pres ntaçáo da possív 1morte de Z com o empr go d ss m io
o dolo v ntual / d finido p la atitud ·d ·conformar-se com ar alização 1 va à substituição do cinto d couro por um p qu no aco d ar ia,
do tipo l gal r pr s ntada como possível p lo autor; no proj to alterna- m tecido d pano forma cilíndrica, com qu pr t nd m golp ar a
tivo o dolo v ntual ' d finido p la atitud d aceitar a r alização d cab ça d Z , com o m smo obj tivo. a x cução do plano alt rnativo,
uma situação típica r pr s ntada seriamente como possível p lo autor 59 . rompe-s o saco de ar ia, os autor s r tomam o plano original, afiv -
lando o cinto d couro no p scoço da vítima, qu c ssa ar sist "ncia
A lit ratura cont mporânea trabalha, no s tor dos efeitos secun-
dários (colaterais ou paralelos) típicos r pr s ntados corno possíveis, com
p nnite a subtração dos valores. Os autores d safivela.in o cinto do
os seguintes conceitos-par s para definir dolo eventual imprudência p scoço da vítima t nta1n r animá-la, mas s m êxito: conforme a
hipót s r pres ntada como possível, a vítima stá morta.
consciente6°: a) o dolo eventual caracteriza-se, no nível intelectual, por
levar a sério a possível produção dor sultado típico e, no nív 1da atitud No nív 1int 1 ctual, X Y levam a sério a possív 1produção do
resultado típico; no nível emocional, confiam na viração do r sulta-
do r pr s ntado como possív 1- o qu xdui conformação com (ou
injusto penal, 2000, p. 272-290.
57 R XI I , Straf,echt, 1997, § 12, ns. 25-26, p. 374. aceitação de) sua v ntual produção; ma o r torno ao plano original
58 ROXI , trafrecht, 1997, § 12, n. 29, p. 376.
59 omparar J H \ ·l Lehrbuch des Strafrechts, 1996, § 29, III, 3, p.
300-301; ROXI trafrecht, 1997, § 12, n. 29, p . 376.
60 Ver RO T , trafrecht, 1997, § 12, n. 29, p. 376;JE HE K/WEIGE D, Lehrbuch 61 Representativos da opinião do minante, J H~ T E D Lehrbuch des traftechts,
des Strafrechts, 1996, § 29, III 3, p. 299. 1996, § 29, III, 3c, p. 30 1; LZE , Das eutsche Stmfrecht, 1969, § 13, p. 68 .
indica mudança da atitude emocional, mostrando conformação com tual (que pod compr nd r, tamb '1n, resultados d sagradáveis ou
o (ou aceitação do) resultado típico previsto como possível (ainda que lam entados), implicando, portanto, transformar o dolo eventual numa
indesejável ou desagradável, como revela o esforço de reanimação da hipótese de dolo direto, como afirmam JE C HECK/WEIGEND 64
vítima), com lógica xdusão da atitud primitiva d confiança na vi- (s gundo a t oria, o caso do cinto de couro configuraria m era impru-
ração do r sultado: se os autor s ex cutam o plano, ap sar d levarem d "ncia conscient ); por outro lado, os xemplos citados s riam ações
a sério a possibilidad do r sultado típico, ntão conformam-se com objetivam nte conformes ao dir ito e, subj tivam nt , realizadas sem
(ou aceitam) sua v ntual produção, d cidindo-se p la possível 1 são dolo, como mostra ROXIN 65 • A reelaboração mod rna d ssa t o ria,
do b m jurídico, qu marca o dolo ventual. por BAUMA /WEBER66 , esp ecialm nt , por MAURACH/
Ess critério d definição do dolo eventual e imprudência cons- ZIPF 67 , atribuindo à aprovação do r sultado os ntido d inclusão d st
ciente, conh cido como teoria d Levar a sério (Ernstnahmetheorie) a na vontade do autor, par ce conferir-Ih significado prático próximo
à t oria dominant 68 .
possív 1produção dor sultado típico é dominant na jurisprudência
e doutrina alemã conte1nporân as 62 , mas não é único. Existem várias b) A teoria da indiferença ao bem jurídico, desenvolvida por
teorias diferenciadoras, fundadas na vontade ou na representação do E GISCH 69 , identifica dolo eventual na atitude de indiferença do
autor, at' 1n smo t orias unificadoras qu propõ 1n a abolição dos autor quanto a possív is r sultados colar rais típicos, xcluídos os
crit ' rios dit r nciador s. A d scrição dessas teorias justifica-s não só r sultados indesejados, marcados p la xp ctativa d aus"ncia. Con-
p lo int r ss acad "mico d mostrar o stado atual d di cussão da tudo , a crítica indica qu a indesejabilidade do r sultado não xclui
matéria, mas p lo inter ss ci ntífico m pr cisar o significado das o dolo ventual, como mostra o caso do cinto de couro - qu a t oria
categorias desenvolvidas para pensar a ques tão do dolo eventual e da da indiferença resolveria como hipótese de imprudência consciente70 ;
imprudência consciente. além disso, a ausência de representação do resultado, própria da impru-
1. Entr as teorias qu trabalham com critérios fundados na vontade
dência inconsci nte, pod indicar o m ais levado grau d indit r nça
stão a t oria do consentimento (ou aprovação), a t oria da indiferença m r lação ao b m jurídico prot gido 71 •
a t oria da vontade de evitação não comprovada. e) A t oria da não comprovada vontade de evitação do resultado (também
conh cida como t oria da objetivação da vontade de evitação do resul-
a) A teoria do consentimento, laborada por MEZGER63 , d fin dolo
tado), d senvolvida por ARMIN KAUFMAN 72 e1n bases finalistas,
v ntual p la atitud d aprovação do r sultado típico pr visto como
possív 1, qu d ve agradar ao autor. Assim, não age com dolo v ntual coloca o dolo ventual a imprud "ncia cansei nt na dep ndência
o 1nédico que realiza intervenção cirúrgica indicada pela experiência
profissional, mas Leva a sério a possibilidad d morte do paci nt , ou 64 J 1 E D, Lehrbuch des tmfrechts, 1996, § 29, III, p. 302-303.
algu 'm q u atira para salvar o amigo vítima d agr ssão e Leva a sério
65 R Stmfrecht, 1997, § 12, 11 . 34, p. 379 .
66 B , Strafrecht, 1985, p. 402.
a possibilidad d atingir o amigo. Mas, como d monstra a crítica, a 67 H/ZIPF, Strafrecht, 1992, § 22, 11 . 34.
68 Ver ROXIN, trafrecht, 1997, § 12 11. 36, p. 379-380.
aprovação do r sultado ' própria do dolo dir to não do dolo v n- 69 E I H, Untersuchungen uber Vorsatz und Fahrldssigkeit im Strafrecht, 1930.
70 J HECK/WEIGE D, Lehrbuch des tra.frechts, 1996, § 29, III, p. 303; ROXIN,
Strefrecht, 1997, § 12, 11 . 37, p. 380.
62 JE H K/WEI D Lehrbuch des trrzfrechts, 1996, § 29, III, 3a, p. 299-300; 71 Il u t rativ LZ L, Das Deutsche Strafrecht, 1969, § 13,y. 70 .
ROXI , Strafrecht, 1997, § 12, ns. 27-29, p. 375-376. 72 R U M , Der dolus eventualis im D liktsmybau. Die Auswirkungen der
63 MEZ ER, Strafrecht, 1949, p. 347. Handlungs- und der Schuldlehre auf díe Von11tzgrenze, Z tW 70 (1958), p. 73 .
da ativação de contrafatores para evitar o resultado r pr s ntado como ou p la consciência de um quantum de fatores causais produtor d sério
possível: imprudência consciente se o autor ativa contrafatores, dolo risco do resultado (SCHUMANN) 78 , ou como (r )conhecimento de um
eventual se não ativa contrafatores para evitação do resultado. A crítica perigo qualificado para o bem jurídico (PUPPE) 79 - para mencionar
indica qu a não ativação d contrafator s pod , tamb ' m, s r xplicada ap nas suas formulaçõ s mais mod rnas. A crítica aponta o carát r d
pela leviandad humana d confiar na própria str la , por outro lado, prognos intelectual d ssas d finiçõ s80 - um b nôm no de r fl xão raro
a ativação d contrafator s não significa, n cessariam nt , confiança m eventos dominados pelas moçõ s, como são os comportam ntos
na vitação do r sultado típico - como mostra, por x mplo, o caso criminosos-, capazes d s rvir como indícios da atitud p ssoal d levar
do cinto de couro, em qu os autor s s sforçam, concreta1nente, para a sério o perigo, mas incapaz s de funcionar como critério do dolo even-
vitar o r sultado73 . tual81. WELZEL- ora arrolado na t oria da probabilidad (ROXI )82 ,
2. Entr as teorias qu trabalham com crit 'rios fundados na represen- ora incluído na teoria da possibilidad (JESCHECK/WEIGEND) 83 -
afirma qu a t oria da probabilidad t m um asp cto positivo porqu
tação, hoj com pr stígio cr scent , pod m s r r b ridas a t oria da
a r presentação da possibilidad d influ nciar o resultado p rmit
possibilidade, a teoria da probabilidade, a teoria do risco e a t oria do
perigo protegido. distinguir o simples desejar do v rdadeiro querer, e um aspecto n gativo
porqu a vontade de realização não s ria simpl s ti ito do ato psíquico
a) A teoria da possibilidade simplifica o problema, r <luzindo adis- d r pr s ntar a probabilidad dor sultado, mas d contar com a produ-
tinção ntre dolo e ilnprud "ncia ao conhecimento da possibilidad ção d r sultado repres ntado co1no provável (confiar na evitação desse
d ocorr "ncia do r sultado 74, liminando a cat goria jurídica da r suhado constituiria imprudência conscient ) 84 •
imprudência consci nte porqu toda imprud "ncia s ria imprudência
inconsciente75 : a m ra representação da possibilidade do r sultado
c) A teoria do risco de FRISCH 85 (às vezes classificada como variante
da teoria da possibilidade) 86 , define dolo pelo conhecimento da conduta
típico já constituiria dolo, porqu uma tal r pr s ntação d v ria
inibir a r alização da ação; a não representação d ssa possibilidad típica, xcluindo do obj to do dolo o r sultado típico porqu a ação
constituiria imprudência (inconsci nt ). A crítica fala do intelectu- d conhecer não pod t r por obj to r alidad s ainda in xist nt s no
mom nto da ação; não ob tant , trabalha com o critério d tomar a
alismo da t oria, qu r duz o dolo ao compon nte int lectual, s m
qualqu r cont údo volitivo, ou qu s us r sultados práticos s riam sério o r sultado típico d confiar na evitação dor sultado típico para
sem lhant s aos da teoria dominante 76 - mas a t oria ' mais rigorosa, distinguir a decisão pela possível lesão do bem jurídico (dolo ventual)
porque xig m nos para configurar o dolo e, assim, admit dolo da m ra imprud "ncia consci nt , aproximando-s , por isso, da t oria
ventual em situaçõ s d finív is como imprud "ncia consci nt . dominant . A crítica à t oria concentra-s na qu stão do obj to do
dolo: a ausência do 1 mento volitivo tornaria artificiosa a atitud construção obj tiva da t oria subj etiva de levar a sério o p rigo: trata-
do autor; depois, seria inaceitável um dolo sem conhecimento das -se de reconhecer um perigo digno de ser levado a sério, e n ão de levar
circunstâncias de fato, especialinente do resultado típico, definido a sério um perigo reconhecido 90 • A crítica afirma não ser evidente que
pela t oria como m ro prognóstico - mbora s ja n ss s ntido qu um perigo prot gido exclua um perigo d spro t gido constitua dolo
o r sultado típico constitui objeto do dolo 87 • ventual, mas parec digno d aplauso o • forço d construir a bas
d) A teoria do perigo desprotegido de HERZBERG 88 (classificada, objetiva d crit ' rios tradicionalment subj tivos.
tamb m , como variant da t o ria da p robabilidade)89, igualm ent
I
A proposta d liminar o 1 m nto volitivo do dolo, própria das
r tira o 1 m n to volitivo do cont údo do dolo - a principal ca- t orias da r pr s ntação, xclui o fundatn nto emocional distintivo das
racterística da t oria da r presentação - fundam nta a distinção atitudes de levar a sério o ou de confiar na ausência do p rigo, que marca
entr dolo ev ntual e imprud "ncia consci nte com base na natureza a teoria dominante; contudo, se o dolo não exig aprovação do resul-
do p rigo, d finido como d sprot gido, prot gido d sprot gido tado, tamb 'm não pod s r r duzido à atitud d indifi rença absoluta
distant : a) o perigo desprotegido, caracterizado p la dependência d m fac d sse r sultado 91 . A xclusão do el m nto volitivo-emocional do
m eros fatores d e sorte-azar, configura dolo eventual, ainda que o dolo - qu HERZBERG d fine como elemento de prognose irracional
autor confi na aus "ncia do r sultado, como jogar roleta russa (com - r duz o dolo ao 1 m nto intelectual , dess modo, a d s jáv 1busca
risco d r sultado na proporção d 1: 5), ou praticar s xo com m - de crit 'rios obj tivos acaba por desfigurar o próprio f; nôm no real92 .
ninas d idad pr su1nív 1 int rior a 14 anos; b) o perigo protegido, 3 . Final1n nt , t orias igualitárias d s nvolvidas por ESER93
caract rizado p la vitação do possív 1r sultado m diante cuidado WEIGE D 94, fundadas nas dificuldades práticas dos critérios dife-
ou atenção do autor, da vítima potencial ou de terceiro, configura r nciador s, propó ma unificação do dolo ev ntual da imprud "ncia
imprudência consciente, com homicídio imprudente em hipótese de con ci nt m uma t rc ira cat goria ubj tiva (ou d culpabilidad ),
resultado d morte, nos seguint s ex mplos: o inexp ri nt s rv nte situada entr o dolo a imprud "ncia. A crítica r conh ce c nas
d p dr iro cai d andaim d pr ' dio m construção, ond subira
vantag ns, como a simplificação da aplicação do Dir ito P nal, mas
por ord m do m str d obras, s m usar qualqu r dispositivo d d staca d svantag ns, como a nivelação d difi r n ças qualitativas
gurança; o profi ssor p rmit aos alunos nadar m m rio p rigoso,
ap sar da placa d adv rt Ancia do p rigo e aluno morr afogado; c)
o perigo desp rotegido distante ass m lha-s ao perigo protegido, x- 90 Il u trativ HERZBERG, D ie Abgrenzung von Vorsatz und bewusster Fahrldssigkeit-
cluindo o dolo: o inquilino do apartam nto joga obj top sado pela ein Problem des objektiven Tatbestandes, JuS, 1986, p. 262; RO , Strafrecht, § 12,
ns. 59-63, p. 390-392.
janela, consci nt da possibilidad d atingir algu ' n1; a n1ãe deixa 91 O utros modernos oposi~~res do elemento volitivo:.. H OLLER, Das
m edicam nto tóxico no armário, cansei nte d qu o filho pod ria voluntative Vorsatzelement, OJZ 1982, p. 2 9 .; KI U ER, D er Vorsatz als
Zurechnungskriterium, ZSrW, 96 (1984), p. 1 .· . , Zur Wiederbelebung
ing ri-lo. A noção de perigo desp rotegido pr t nde fundam ntar uma des "voluntativen" Vorsatzelement durch den BGH, JZ, 1989, p. 427. O utros modernos
defensores do lemento volitivo: ZIE ERT, v0rsatz, chuld und Vorverschulden, 1987;
PE DEL, Z um Begriffdes Vorsatz Ladm r-F 1987 p. 167 .· PRITTWITZ Die
Anstecktmgsgefahr bei Al , JA, 1988, p. 427 s.; KUPPER, Zum Verhaltnis von dolus
87 Ver, sobretudo, ROXI , trafrecht, 1997, § 12, ns. 54-55, p. 387-388. eventualis, Gefohrdungsvorsatz und bewusster Fahrldssigkeit, Z tW, 100 (1988), p. 758;
88 ,.,._,,.,_..._.""', ...,RG, D ie Abgrenzung von Vorsatz und bewusster Fahrldssigkeit- ein Problem des HA EMER, Kennzeichen des Vorsatzes, Arm. Kaufm ann-G , 1989, p. 289.
objektiven Tatbestandes, JuS, 1986, p. 249 s.; também, D as Wollen beim Vorsatzdelikt 92 Insrrurivo, ROXIN, Strafrecht, 1997, § 12, ns. 66-67, p. 393.
und dessen Unterscheidung vom bewussten fahrldssigen Verhalten, JZ, 1988, p. 573 93 E ER, trafrecht 1 1980, n. 35 a.
89 JE CH E K/WEI END , Lehrbuch des Strafrechts, 1996, § 29, III, p. 302. 94 l • , Z wischen Vorsatz und Fahrlassigkeit, ZStW, 93 (1981) , p. 657 s.
entre hipóteses de decisão contra o bem jurídico protegido (dolo 1.3. A dimensão temporal do dolo
eventual) e hipóteses de leviana confiança na evitação do resultado
(iinprudência consciente) 95 .
O dolo, como programa subj tivo do crim , d v xistir durante
ar alização da ação típica, o qu não significa durant toda ar alização
1.2. Dolo alternativo da ação planejada, mas durante a realização da ação que desencadeia o
processo causal típico (a bomba, colocada no automóvel da vítima, com
dolo d homicídio, som nt xplod quando o autor já stá m casa,
Todas as spécies de dolo podem existir sob a forma de dolo dormindo). ão exist dolo anterior, n m dolo posterior à r alização
alternativo, caract rizado por u1na ação com alt rnativas típicas x- da ação típica: as situaçõ s ref. ridas como dolo antecedente (a arma m-
clud ntes. Ex mplos: a) A atira em B para matar ou, simplesment , punhada por B paras r usada contra A, d poi d pr ' via conv rsação,
f. rir; b) A atira para matar B ou, p lo m nos, matar o cachorro d B; dispara acidentalment e inata a vítima) ou como dolo subsequente (ao
c) A atira para matar o cachorro de B, mas cons nt na possibilidad r conh c rum inimigo na vítima d acid nt d trânsito, o autor s
pr vista d matar B, próximo do animal96 . ai gra com o r sultado) são hipót ses de fatos iinprudent s100 .
A controvérsia sobr dolo alternativo apar cena div rsidad d
soluções para as situações acima exemplificadas: a) punição soment
p lo tipo r alizado porque o autor pretende apenas um r sultado 2. Erro de tipo
típico 97 , com vários probl mas: s n nhum r sultado ' produzido,
não s sabe por qual crim punir; no caso da 1 tra c), se o autor O cone ito d dolo, d finido como conhecer querer as circuns-
mata o cachorro, a compet "ncia em matar o animal faz d sapar c r tâncias d fato do tipo 1 gal, stá exposto à r lação d exclusão lógica
a t ntativa de homicídio; b) punição p lo tipo mais grav (homi- ntr conhecimento erro : s o dolo xig conhecimento das circunstân-
cídio, consumado ou tentado), m todas as hipót s s98 : a crítica cias de fato do tipo legal, então o erro sobre circunstâncias de fato do
inv rt o argum nto porqu s o autor atirou no cachorro matou tipo legal exclui o dolo 1º1 • E1n qualqu r caso, o erro de tipo significa
o cachorro, por qu punir por ho1nicídio t ntado?; c) punição, m defeito de conhecimento do tipo 1 gal , assiln, xclui o dolo, porqu
concurso formal , por cada tipo ah rnativo t ntado, ou t ntado uma r pr sentação ausente ou incompleta não pode informar o dolo
consu1nado 99 - solução dominant na lit ratura. de tipo. Mas é preciso distinguir: o rro inevitável exclui o dolo a
imprud "ncia; o erro evitável xclui apenas o dolo, admitindo punição
95 ROXI , trafrecht, 1997, § 12, n . 68, p. 394.
por ünprudência. Essa regra está inscrita no Código P nal:
96 J ~ H K/ l Lehrbuch des trafrechts, 1996, § 29, III, p. 304; WELZEL,
Dos Deutsche trafrecht, 1969, § 13, p. 72. o Bras il, v r M TI RI, Manual de
Direito Penall, 1999, p. 132.
97 im, Z ER trafgesetzbuch, 1957, § 59 .
98 esse sen tido, OWAKOWSKI, Der alternative Vorsatz, JBl, 1937, p. 465;
OTTO, Grundkurs trafrecht, 1996, § 7, n . 22-26, p. 76; JOERDEN, Der auf die
Verwirklichung von zwei Tatbestanden geríchtete Vorsatz. Zugleích eine GrundLegung zum 1996, § 29, III, 4, p. 304; ROXIN, Strrifrecht, 1997, § 12, n . 85, p. 403 .
Problem des dolus alternativus, Z tW, 95 (1983~,. 565 . 100 ROXI , traftecht, 1997, § 12, ns. 80-8 1, p. 401; WELZEL, Das Deutsche trafrecht,
99 Ver, entre outros, WELZEL, Das Deutsche Stra echt, 1969, § 13, p. 72; JAKO BS, 1969, § 13, p. 71.
Strafrecht, 1993, 8/33, p. 27 - 7 ; ~ , LehrbuchdesStrafrechts, 101 ROXI , Strafrecht, 1997, § 12, n . 86, p. 405 .
Art. 20, CP. O erro sobre elemento constitutivo do tipo de representação das circunstâncias de fato do tipo obj tivo: a) no lusco-
legal de crime exclui o dolo, mas permite .a punição por -fusco do crepúsculo, A dispara o revólver contra a figura de suposto
crime culposo, se previsto em lei. espantalho - na verdade, contra a pessoa de B, que praticava tai chi
Aqui, os probl mas mais importantes são os s guint s: a) d finir chuan no pomar d r sid "ncia rural (falsa r pr s ntaçáo); b) C mantém
o cone ito d erro de tipo, distinguindo do simpl serro de subsunção, relações s xuais com D (m nor d 14 anos, mas com apar "ncia de idad
s m r 1 vância p nal; b) determinar a intensidade d repr s ntação sup rior), sem p nsar na idade da moça (aus"ncia der pr s ntação) .
(das circunstâncias d fato) n c ssária para configurar o conhecimento O rro d tipo pod ter por obj to 1 m nto descritivo ou
corno el 1n nto int 1 ctual do dolo. 1 m nto normativo do tipo obj tivo. Em ambos os casos, ' pr ciso
di tinguir o erro de tipo ( xdudent do dolo) do chamado erro de sub-
sunção (p nalmente irrelevante). O erro de subsunção ' mais comum
2.1. Erro de tipo e erro de subsunção nos 1 m ntos normativos do tipo porqu o cidadão comum não pod
conh cer todos os conceitos jurídicos mpregados pelo legislador.
O tipo legal ' um cone ito constituído d 1 mentos subj tivos N esse caso, a chamada valoração paralela na esfera do leigo pennitiria
obj tivos, mas o erro d tipo só pod incidir sobr elementos objetivos id ntificar os significados sociais ou culturais dos cone itos normativos
do tipo 1 gal - um cone ito m nos abrang nt do qu elemento cons- qu int gram a cultura comum ori ntam as d cisõ s da vida diária,
titutivo do tipo 1 gal, como diz a lei. O erro d tipo representa defeito como ocorr com o co ne ito d documento, por ex mplo: os traços
na fonnação int lectual do dolo, qu tem por obj to os elementos deixados pelo garçom no suporte de papelão do chope são sinais gráfi-
objetivos, pr s nt s • futuros, do tipo 1 gal: a ação, o obj to da ação, cos indicadores da quantidade consumida - e se o consumidor apaga
o resultado, a r lação d causalidade etc. ão pod m ser obj to d alguns desse traços para reduzir a conta, age com dolo de falsificação
rro (a) os 1 m ntos subj tivos do tipo (o próprio dolo as int nçõ s, de docum nto particular porque sua valoração paralela r produz, ao
t nd "ncias atitudes speciais d ação), (b) outros el m ntos que não nív 1 do 1 igo, o con e ito jurídico d docum nto: a opinião d qu
pertencem ao tipo objetivo (condições objetivas de punibilidade, fun- documentos seriam scritos com forma pr d t rminada constituiria
damentos p ssoais d xdusão d pena e pressupostos processuais) 102 • m ro erro de subsunção, s m r l vân cia p nal 103 - caso a hipót s não
fosse abrangida pelo princípio da insignificância, que descaracteriza
Em sínt s , conhecer as circunstâncias d fato formadoras do tipo
o tipo d injusto. Valoraçõ s jurídicas rrôn as d 1 m ntos do tipo
obj tivo significa representar a possibilidad d r alização correr ta do
objetivo repres ntam, em r gra, rro d subsun ção (às v z s, rro d
tipo 1 gal; logo, o erro sobr as circunstâncias d fato do tipo objetivo
proibição), mas podem significar, exc pcionalm nte, erro de tipo,
exclui a representação dessa possibilidade e, por isso, configura erro
como a subtração de coisa alheia repr s ntada como própria 104 • O
de tipo, corno defeito de conhecitn ento das circunstâncias de fato do
rro de subsunção sobre el mentos descritivos do tipo ' mais raro: s
tipo obj t1vo.
B esvazia o p n u do v ículo de A, co nvencido d qu o dano exig
O rro de tipo pode ocorrer por falsa representação e por ausência d struição da substância da coisa, incid m simpl s rro d subsunção,
102 om mais detalhes,. RO , Straftecht, 1997, § 12, ns. 11 9-1 20, p. 423 e n. 138, p. Strafrecht, 1997, § 12, ns. 89-91, p. 407-408.
430. , Strafrecht, 1997, § 12, ns. 91-3, p. 408-409.
105
.. , Strafrecht, 1998, n. 242, p. 74 .
106 ARN :ADT, D er Irrtum uber normative Tatbestandsmerkmale im trafrecht, Jus,
1978, p. 441.
107 T, Strafrecht, Fallrepetitorium zum Allgemeinen und Besonderen Teil, 1996, ns. 590 I !O
, Reflexbewegung, Handlung, Vorsatz. trajrechtsdog,natische Aspekte des
s., p. 11 3-11 4. Willensproblems aus medizinisch-psychologischer icht, 1972, p. 85 .
108 KUH LE , D ie Unterscheindung von vorsatzausschliessendem und 111 PLATZGU11_MER, D ie Bewusstseinsform des Vorsatzes, 1964, p. 4 e 83 .
nichtvorsatzausschliessendem Irrtum, 1987 . 112 HAU E R, Uber Aktualitdt und Potentialitdt des Unrechtsbewusstseins,
109 Ver J HE K/WEI D Lehrbuch des trafrechts, 1996, § 29, II, 2 p. 293; H . Mayer-F , 1966, p. 3 17.
RO T , trafi"echt, 1997, § 12, n . 111 , p. 418; WELZEL, Das Deutsche Strafrecht, 113 ARTH R UFMANN , D ie Parallelwertung in der Laiensphare, 1982.
1969, § 13, p. 64; WE..,,.,...JJ...,..,/ KE Strafrecht, 1998, ns. 238-240, p. 73 . 11 4 ROXI , Strafrecht, 1997, § 12, no ta 2 16, p. 419 .
3. Atribuição subjetiva do resultado em desvios causais realização do plano (dolo do autor) porqu a morte por afogarn nto
ou a morte por esfacelamento do crânio são resultados equivalentes;
no caso do incêndio do hospital, o imprevisível resultado concreto não
Sob o cone ito d desvios causais aparec m div rsas formas d
r pr senta realização do p rigo criado, nem correspond à r alização
alteração ou mudança no curso d acont cimentos típicos, cada qual
do plano do autor 117 .
com p culiaridad s crit ' rios próprios, classificáv is como desvios
causais regulares, situações de aberratio ictus, hipóteses de troca de dolo, b) Aberratio ictus. As hipóteses de aberratio ictus constituem casos
o chamado dolo geral e casos de erro sobre o objeto, assim r guiados no sp ciais de d svio causal do objeto d sejado para objeto difer nt ,
Código P nal: quacionado conform a natureza típica do obj to: o disparo d anna
Art. 20, § 3°. O erro quanto à pessoa contra a qual o d fogo contra B ating mortalmente C.
crime é praticado não isenta de pena. Não se conside- No caso d r sultados típicos equivalentes, a solução ' r pr -
ram) neste caso, as condições ou qualidades da vítima) s ntada por duas t orias: a) para a teoria da concretização 118 , o dolo
senão as da pessoa contra quem o agente queria praticar d v s concretizar m obj to d terminado: na hipótes , t ntativa d
o crime. homicídio contra B homicídio imprud nt contra C; b) para a teoria
a) Desvios causais regulares. O curso causal do acont citn n to da equivalência 119 , o dolo pod admitir resultado típico g n ' rico: na
típico, como uma circunstância d fato, constitui elemento objetivo hipóte e, homicídio doloso consumado porque B C são igualm nt
do tipo, cuja atribuição ao dolo d pende da previsibilidade d seu d - s r s humanos (t oria adotada p lo art. 20, § 3°, CP, qu ngloba
s nvolvitn nto 115 , conforme a exp ri Ancia geral da vida, constitu 1n: hipóteses de aberratio ictus e d erro sobre a pessoa) . Exc ções ocorr m
s A lança B da ponte para morr r afogado no rio , mas B já morr nas seguintes hipót s s:
ao sfac lar a cab ça no pilar da pont , xist homicídio doloso a) m caso de resultado imprevisível por curso causal anormal (B rra o
consumado porqu o r sultado concreto ' cons qu "ncia pr visív 1 tiro contra A, mas o projétil ricocheteia na par·ede do prédio e, após bater
do perigo criado, atribuível ao autor como obra dele; ao contrário, no hidrôm tro da calçada, Íl r C, qu transitava m rua transv rsal) :
desvios causais imprevisíveis constituem cursos causais irregulares ou apenas tentativa de homicídio contra A porque a anormalidade do desvio
anormais, não atribuív is ao dolo do autor: se B, ferido por A, com torna imprevisível o r sultado lesivo contra C, xcluindo atribuição d
dolo de homicídio, morre m incêndio do hospital após a cirurgia, o fato itnprud nt (a r grado art. 20, § 3°, CP, par c xc ssiva);
itnpr visív 1r sultado concr to não 'produto do p rigo criado, não
b) m caso d obj tos m situação jurídica distinta (B atira contra A
pod ser atribuído ao autor como obra dele 116 • S o crit 'rio de atribuição
do tipo obj tivo ' a realização do perigo, o crit ' rio d atribuição do
tipo subj . tivo é a realização do plano: no x . mplo da pont ., o possív .1 11 7 RO Strafrecht, 1997, § 12, n. 144, p. 434; também, WOLTER, Objektive
Z urechnung und modernes tmfrechtssystem, 1995.
p revisív 1 r sultado concr to (r alização do p rigo) corr spond à 11 8 Ver, entre outros, BA /WEB trn,J,-echt, 1985, § 21, n. 13; JAK B ,
trafrecht, 1993, 8/80 p. 303; H/ZIPF, tra{recht, 1992, § 23, n. 30; OTTO,
Grundkurs trafrecht, 1996, § 7, ,n . .; :TE ERTH , Strafrecht, 199 1,
n. 8 ; t /B l trafrecht, 1998, n. 250, p. 76.
115 Repr sentati vo da opinião dominante, ...,,..,,...,,_,.,, D as Deutsche trafrecht, 1969, 11 9 Embora minoritária, tem adeptos resp itávei : WEL L, Das D eutsche Strafrecht,
§ 13, p. 73. 1969, § 13, p. 72-74; KUHLE , D ie Unterscheindung von vorsatzausschliessendem
116 RO T , Strafrecht, 1997, § 12, ns. 140-1 42, p. 432 s.; LZEL D as D eutsche und nichtvorsatzausschliessendem I rrtum, 1987, p. 479 s. No Brasil, v r ME TIERI,
Strafrecht, 1969, § 13, p. 73. Manual de D ireito Penal I, 1999, p. 13 7.
em 1 gítima defesa, mas ating C sem justificação, situado atrás d B): homicídio qu pensa ter consumado, A lança o suposto cadáv r de B
tentativa justificada de homicídio contra A e homicídio imprudente no rio, determinando a morte da vítima). Alguns autores resolvem a
contra C (igualmente, parece inadmissível a solução do art. 20, § 3°, hipótese co1no tentativa de ho1nicídio, em concurso co1n homicídio
CP, porqu a natur za antijurídica do xc sso xt nsivo xduiria a imprud nt , porqu o dolo d v xistir ao t mpo do fato 121 • Mas a t -
justificação do homicídio imprud nte); oria dominant d fin a hipót s como homicídio doloso con umado,
c) em caso de resultado trágico para o autor (em briga de bar, B atira sob o argum nto da natur za acidental do d svio causal- abandonando
sobr A , por infelicidad , mata o próprio filho C, qu saltara sobre A o conceito d dolo geral porqu a aus Ancia de dolo (d homicídio) no
para d fi nd r o pai) : ap nas t ntativa d ho1nicídio contra A (par c s gundo fato não é suprível pela extensão do dolo d homicídio do
cruel a regra do art. 20, § 3°, CP, qu pune por crim consumado prim iro fato. Contudo, ' pr ciso distinguir: WELZEL 122 xig dolo
porqu o autor mata o próprio filho, não o adversário). unitário, abrangendo o primeiro e o segundo fato; ROXI 123 condi-
ciona a solução à natur za do dolo do prim iro fato: a) s dolo direto,
Finalm nt , a hipót se de aberratio ictus sobr obj tos típicos o r sulrado corr spond ao plano do autor (qu , e rtament , terá
não equivalentes 'incontrov rsa: B joga p dra para destruir vaso d p nsado no modo d se livrar do cadáver) - portanto, o desvio causal
porc lana chin sa da loja d A, mas atinge o mpr gado C , postado ' irrelevante, configurando homicídio doloso consu1nado: A pr t n-
ao lado do vaso (t ntativa de dano, com 1 são corporal imprud nt ). d u matar B , d fato, matou B; b) s dolo eventual, o r sultado não
e) Troca de dolo. A troca de dolo, qu pod ocorr r no curso dar ali- parec correspond r ao plano do autor (qu , certamente, não deverá
zação do tipo, constitui g ralm nt situação d mudança de objeto do t r p nsado no modo d s d sfazer do cadáv r) - portanto, o d svio
dolo (A derruba a jov m B, no parque, para roubar-Ih o relógio, mas causal torna-s relevante, configurando homicídio doloso t ntado m
prefere subtrair o valioso colar de p ' rolas, descoberto durante o fato ): concurso com homicídio imprud nt .
não há mudança no plano do fato, apenas troca d objeto do dolo, Casos ass m lha.dos, m qu o autor pr t nd consumar o fato
em geral irrelevante. A situação seria relevante se a troca de objeto som nt no segundo ato, mas produz o r sultado já na t ntativa do
r pres ntasse mudança no plano do fato capaz d d scaract rizar o primeiro ato, tamb ' m ão r solvido p la r gras do desvio causal: A
dolo (no exemplo citado, nfi itiçado pela beleza do rosto da vítima, qu r matar B som nt d pois d atordoá-lo com algumas pancadas
o autor subtrai a carteira d id ntidad para admirar a fotografia da na cabeça, mas o resultado já ocorre por efi iro das pancadas para
moça) 120 : a 1nudança no plano do fator pr senta desistência voluntária atordoar. A hipót s ' d homicídio doloso consumado porqu o
do roubo tentado, mas subsiste o constrangim nto ilegal. r sultado corr sponde ao plano do autor e, portanto, o d svio causal
d) Dolo geral. O cone iro d dolo geral t m por obj to acont cim n- ' irrelevante - desd que o r sultado ocorra no âmbito da t ntativa,
tos típicos r alizados em dois atos : no prim iro ato, o autor supõ não como fi iro d meras ações pr paratórias, qu produziria,
consumar o fato, mas o fato se consuma no segundo ato, r alizado ap nas, fato imprud nte: a vítima morr d disparo acidental durant
para ncobrir o fato (A, com dolo d homicídio, dispara o r vólv r
contra B, qu cai ao chão, inconsci nt ; em s guida, para ocultar o
121 Assim, KUHL, trt1frecht, 1994, § 13, ns. 46-48, p. 8; MAURA H/ ZIPF, trafrecht,
1992, § 23, n. 33, entre outros.
122 WELZEL, D as D eutsche trafrecht, 1969, § 13, p. 74. o Br il ME TI RI Manual
de D ireito Penall, 1999, p. 132.
120 RO Stmfrecht, 1997, § 12, n. 160, p. 441 -442. 123 ROXI , Strafrecht, 1997, § 12, n. 165, p. 444.
operação d limp za da arma, que o autor pret nd usar, d pois, dolo, sob a fonna d intenções ou de tendências especiais ou de atitudes
contra a mesma ví rima 124 • pessoais necessárias para precisar a imagem do crime ou para qualificar
e) Erro sobre o objeto. Os casos d erro sobr o obj to (error in objeto ou privilegiar certas formas básicas de comportamentos criminosos127 •
vel persona) constituem hipóteses de confusão do autor sobr o objeto Assim, não há furto na subtração d coisa alh ia móv 1s m intenção
do fato, cuja solução d p nd da equivalência ou não equivalência d apropriação; não há crime s xual se a ação típica não apar ce im-
pregnada d libido, como t ndência int rna voluptuosa te. Hoj , não
típica do objeto:
s discut a xist "ncia d ssas caract rísticas subj tivas speciais, ap nas
a) erro sobr objeto típico equivalente é irrelevant (A, p nsando sua inserção sistemática: o debate atual é polarizado por autores qu
atirar contra B, mata C, contundido com B, na scuridão da noite): distribu m ssas caract rísticas ntr o tipo subj tivo a culpabilida-
o dolo deve apre nd r o objeto do fato em g"nero, logo, erro sobr a de, e autores que atribu m tais características exclusivamente ao tipo
identidade concr ta d obj to típico equivalente 'irr 1 vant 125 (t oria ubj tivo.
adotada p lo art. 20, § 3°, CP, qu engloba hipót ses de erro sobre o
JESCHECK/WEIGE De ROXIN, por xemplo, 128 inserem no
objeto d aberratio ictus);
tipo subjetivo os componentes psíquicos r !acionados com o bem jurídico
b) rro sobr obj to típico não equivalente ' r 1 vant (A, na prot gido, na culpabilidad as caract rísticas psíquicas r !acionadas
escuridão da noite, p nsando atirar contra B, mata o cão pastor d s- aos motivos, sentimentos e atitudes do autor, qu qualificam o fato típi-
t , confundido com B porqu dormia na cama do dono): a hipót s co. C rtas atitudes pessoais são ainda diD r nciadas m autênticas (por
configura um erro d tipo invertido, tamb 'm d finív 1como ausência xemplo, má-fé, motivo torpe te.), qu pertenc riam à culpabilidad ,
de tipo ou situação d crime impossíve/; 26 • - porqu r pr s nta, na e não autênticas (a crueldade, por exemplo), que pertenceriam ao tipo
verdade, erro sobr a natur za (e não sobr a id ntidad ) do obj to e à culpabilidade, simultaneamente: ao tipo, o sofrimento da vítima; à
(art.1 7,CP) . culpabilidad , o sentim nto desumano do autor.
WELZEL 129 MAURACH/ZIPF 130 , ntr outros, atribu 1n ss s
1 m ntos psíquicos sp ciais ao tipo subjetivo, sob o argum nto de qu
4. Elementos subjetivos especiais
r alizam funçõ s d fundamentação ou d reforço do desvalor social do
fato: as intenções tendências esp ciais fundamenta1n o desvalor social
1. O dolo ' o 1 m nto subj tivo geral dos fatos dolosos, o programa do fato; os motivos as atitudes do autor, como caract r s subj tivos
psíquico que produz a ação típica, 1nas não ' o único co1npon nt qualificador s do dolo, r forçam o desvalor social do fato. a v rdad ,
subj tivo dos crimes dolosos. O 1 gislador p nal contemporân o parec inconv niente implantar características subj etivas relacionadas
in cr v , fr qu nt m nt , na dim nsão subj tiva dos crim s dolosos,
det rminadas caract rísticas psíquicas compl m entar s difi r nt s do
127 Ness sentido, mbora com difi rença JE CK/ ;;r, E , Lehrbuch des
trefrechts, 1996, § 30, I-III, p. 17- 21 · RA H/ZIPF, traftecht, 1992,. § 22,
ns . 51 -6, p. 317-319; RO , traftecht, 1997, § 10, ns. 70-86, p. 257-260;
124 Ver MA RA H / ZIPF, trafi·echt, 1992, § 23, n . 36; ROXI , trnfrecht, 1997, § 12, WELZEL, Das D eutsche trafrecht, 1969, § 13, p. 77-80 .
n . 170, p. 446; WE Z L Das D eutsche trafrecht, 1969, § 13, p. 74-75 . 128 J K/\ I , LehrbuchdesStrafrechts 1996, § 30, I, 3, p. 318. ROXIN,
125 RO , Strafrecht, 1997, § 12, n. 174, p. 448. trafrecht, 1997, § 10, n . 7 1, p- 258 . ROXI , Strafrecht, 1997, § 10, n . 71,. p. 258 .
126 RO , trafrecht, 1997, § 12, n. 181, p. ·2; IRI OS, Teoria do 129 WELZEL, Das D eutsche trafrecht, 1969, § 13, p. 77.
Crime, 1993, p. 25 . 13° CH/ZIPF, Strafrecht, 1992, § 22, n. 5 2, p. 318.
ao conteúdo ou à gravidad da lesão do bem jurídico - ou s ja, ao os seios de u1na mulher no 1 vador pode constituir crime s xual (se
desvalor social do fato - na culpabilidade porque tais características com tendência lasciva), crime de injúria (se com intenção de ofender
deve1n, preci amente, integrar o tipo de inju to para poderem con - a honra) ou crime de lesões corporais (se com dolo de ferir).
tituir obj to do juízo d culpabilidad . 2.3. Os tipos penais de atitudes caracterizam-se pela xistência d estados
2. A id ntificação dos tipos p nais co1n caract rísticas subj tivas sp - anímicos qu informa1n a din1 nsão subj tiva do tipo int nsificam
ciais é tarefa de interpretação da parte especial do Código Penal, mas ou agravam o conteúdo do injusto, mas não repreesentam um desvalor
como a x cução d ssa tar fa d v seguir princípios fixados na parte social ind pend nte, como a crueldade, a má-fé, a traição tc. 133•
geral, par e útil adotar um squ 1na utilizado por ROXIN 13 1 am- 2 .4. Os tipos penais de expressão caracterizam-se p la exist "ncia de um
pliado por JESCHECK/WEIGE D 132 , qu classifica os tipos penais processo intelectual interno do autor, co1no no falso teste1nunho: a
com caract rísticas subjetivas especiais em tipos p nais de intenção, ação incriminada não s funda na corr ção ou incorr ção obj tiva da
de tendência, d atitudes d expressão. informação, mas na d sconformidade ntre a informação a convicção
2.1 . Os tipos p nais d intenção (ou d tendência interna transcendente) interna do autor 134 •
caract rizam-s por propósitos que ultrapassam o tipo obj tiva, fixan-
do-s em r sultados qu não pr cisam s realizar concretament , mas
qu d v m existir no psiquismo do autor. Aqui, é necessário distinguir
ntr (a) tipos de resultado cortado, 1n qu o r sultado pr t ndido não
exige uma ação complementar do autor (a int nção d apropriação, no
furto) (6) tipos imperfeitos de dois atos, em qu o r sultado preten-
dido exige uma ação compl m ntar (a fal ificação do docum nto a
circulação do docum nto falsificado no tráfego jurídico) . A intenção,
como caract rística psíquica sp cial do tipo, apar c , g ralin nt ,
nas conjunçõ s subordinativas finais para) a fim de, com o fim de etc.,
indicativas d finalidad s transe nd nt s do tipo, como ocorr com a
1naioria dos crim s patrimoniais.
2.2. Os tipos penais de tendência caracterizam-se por uma tendência
afetiva do autor que impregna a ação típica: nos critnes sexuais, a
t nd "ncia voluptuosa ad r à ação típica, atribuindo o carát r sexual
ao comportam nto do autor, cuja ação apar ce carregada d libido. A
pr s nça d ssas caract rísticas psíquicas sp ciais d cid sobr a d fi-
nição jurídica d açõ s obj tivam nt id "nticas: agarrar com viol "ncia
; Straftecht, 1997, § 10, ns. 83- 87, p. 263-264. 133 J H l E D, Lehrbuch des trafi·echts, 1996, § 30, II, n. 4, p. 320.
, Lehrbuch des Straftechts, 1996, § 30, II, p. 319-320. 134 ROXI , Strafrecht, 1997, § 10, n . 86, p. 263-264.
* O substantivo culpa o adj tivo culposo são inad quados por vá.rias razôes: prim iro, 2 Vir , lRl O DO T O , Teoria do crime, 1993, p. 35; também, D ireito Penal, a
confundem culpa, m daJida e ubj ti a do tipo, com culpabilidade, elemento do nova parte geral, 1985, p. 165; e, ainda, As origens dos delitos de imprudência, in Revista
conceito de crime, exigindo a distinção complementar de culpa em sentido estrito e culpa de D i,:rito Penal, 23 (1 977), p. 55-65.
em sentido amplo, o qu ' anticientífico; segundo, induzem perpl xidad no cidacfão 3 S HUNEMANN, Moderne Tendenzen in der Dogmatik der FahrÜissigkeits- und
mum, para qual crime culposo parece mais grave que crime doloso, ampliando a Gefohrdungsdelikte, JA, 1975, p. 43 5 s.
incompr nsáo d cone itos jurídicos; terceiro, o substantivo imprudência e o adjetivo 4 ENGI H , Untersuchungen uber Vorsatz und Fahrlassigkeit im trafrecht, 1930.
imprudente exprimem a ideia de ksão do dever de cuidado ou do risco permitido com 5 RO T , Strafrecht, 1997, § 24, n. 4, p. 20- l; H , Strafi'echt, 1994, p. 162.
maior precisão do que os correspondentes culpa e culposo; q uarto, a d gmáLica alemã 6 N e ntido , JE CHECK/WEIGi D , Lehrbuch des Strafrechts, 1996, § 54, 1, 3,
usa o termo FahrÜissigkeit, que sionifica negligência ou imp rudência, mas a natur za da p. 64; WE Z L, D as D eutsche Stra{recht, 1969, p. 131; RO IN, Strafrecht, 1997, §
maioria absoluta dos fatos lesivos do dever de cuidado ou do risco permitido, na circulação 24, n. 87, p. 950. No Bras il, H EITÓ R CO STA JR. , Teoria dos delitos culposos, 1988,
de veículos ou na indústria moderna, parece melhor definível como imprudência. p. 55 ; ZAFFARONI/PIE N EU Manual de D ireito Penal brasileiro, 1997, n. 27 1,
1 ROXI , Strafrecht, 1997, § 24, n. 1, p. 919. p. 510-511 ; em posição diferente, TAV: , D ireito Penal da negligência, 198 5, p.
é idêntico ao tipo obj tivo do injusto doloso correspondente, e como loto de rally), exige menos de quem pode mais do qu a medida geral
os critérios de definição da imprudência se enraízam em normas ju- do tipo (no caso, o acidente só poderia ser evitado por um piloto de
rídicas, regras profissionais e dados da experiência, não parece haver rally), sob o argumento de que não seria exigível deste o que não é
1 são ao princípio constitucional da 1 galidad 7 • Afinal, como observam xigível de outros;
JESCHECK/WEIGEND, o 1 igo ' capaz de compr nder melhor o b) no nív l infi rior da capacidad individual (o autor ' um
comportamento imprud nte do que alguns conceitos jurídicos como motorista de idade avançada ou visão fraca), exige mais de quem pode
dolo ven tual, l gítima defesa te. 8 • menos do que a m didageral do tipo (um motorista idoso ou com vista
2. A d finição d imprud "ncia ' fundada m crit ' rio objetivos pr ssu- fraca não viraria o acid nt ) , sob o argum nto d qu a capacidad
põ uma correspond "ncia com a capacidade individual do ser humano. de agir conforme ao direito é probl ma de culpabilidade.
A capacidade individual do cidadão pode, concretament , ser inb rior
2.2. O crit'rio da individualização, r pr s ntado por STRATENWER-
(um motorista com visão fraca) ou superior (o motorista é um piloto TH outros, individualiza a medida objetiva do tipo de injusto:
de corridas) à medida da definição judicial de imprudência. A varia-
considera no tipo de injusto as diferenças d capacidad individual
ção da capacidade individual concreta em relação à medida abstrata
(intelig"ncia, scolaridad , habilidad s te.), com as seguint s cons -
de d finição da imprud "ncia d tenninou a controv 'rsia sobr o lugar /\ • ,1
quenc1as praticas:
. •
do tipo de injusto, prevalece a medida do tipo de injusto, segundo o do 15; b) o conceito de risco permitido, relacionado à teoria da elevação do
critério da generalização, sob o argumento de que a incapacidade de agir risco desenvolvida por ROXIN 16 , que define imprudência como lesão
diferente é um problema de culpabilidade; b) se a capacidade individual do risco permitido. As abordagens da imprudência pro1novidas por esses
'superior à xig "ncia geral do tipo de injusto, o autor dev empregar critérios são complementar s , por isso, a divergência é mais apar nt
essa maior capacidade, segundo o princípio da individualização, sob do que real: o conceito de dever de cuidado d fine imprudência do
o argum nto de que outra interpretação significaria vitimização des- ponto de vista do autor individual e indica a atitud exigida para situar
nec ssária d vidas humanas. a conduta nos limites do risco permitido pelo ordenamento jurídico; o
conceito de risco permitido define imprud "ncia do ponto de vista do
4. Do ponto d vista da r lação do d v r d cuidado ou do risco p r-
mitido com a capacidade individual, o critério da individualização ordenainento jurídico indica os limites objetivos que condicionam o
parece mais adequado - enquanto o crit 'rio d ROXIN valoriza apenas dever de cuidado do autor individual. Assim, pode-se dizer que o risco
permitido, d finido p lo ord nam nto jurídico, constitui a 1noldura tí-
a probl mática ficiência do Direito P nal.
pica primária de adequação do dever de cuidado, d modo que a lesão do
dever de cuidados mpr aparece sob a forma de criação ou de realização
de risco não p rmitido. Como se v", ss s cone itos não s xclu m,
III O tipo de injusto imprudente mas s integram m uma unidad sup rior, e sua utilização combinada
parece contribuir para 1nelhor compre nsão do conceito de imprud "ncia.
A 1 i penal brasil ira d fine o chamado crime culposo como re-
sultado causado por imprudência, negligência ou imperícia (art. 18, II, Sob qualquer desses conceitos, o tipo de injusto de imprudência
CP) - na verdade, uma enumeração de hipóteses de comportamentos é formado por dois elementos correlacionados: a) primeiro, a lesão
culpo os h rdada do mod lo causal, m contradição com os funda- do dever de cuidado objetivo, como criação de risco não permitido, que
mentos m todológicos do modelo final, paradigma teórico da reforma define o desvalor de ação; b) segundo, o resultado de lesão do bem
jurídico, como produto da violação do d v r d cuidado obj tivo ou
da part g ral do Código P nal 12 •
realização de risco não permitido, que define o desvalor de resultado.
Art. 18. Diz-se o crime:
II - culposo, quando o agente deu causa ao resultado
por imprudência, negligência ou imperícia. 1. O desvalor de ação: lesão do dever de cuidado ou
A literatura penal contemporân a trabalha com dois conceitos do risco permitido
para d finir ünprudência: a) o conceito d dever de cuidado, próprio da
posição dominante d sd WELZEL 13 at / JES C HECK/WEIGE D 14, O dever de cuidado / d limitado principalment por normas
que define imprudência como lesão do dever de cuidado objetivo exigi-
15 Critério dominante no Brasil: HEITOR O TA JR. , Teoria dos delitos culposos, 1988,
p. 60- 4· M 1 RI, Manual de Direito Penal I, 1999, p. 189- 190; TAV: ,
12 CIRIN D TO , Teoria do crime, 1993, p. 36. D ireito Penaldanegligêncía, 1985,p.1 38-1 44; ZAFFARO I/PI GELI Manual
13 WELZEL, Das Deutsche trafrecht, 1969, § 18, I 16, p. 134 s. de Direito Penal brasileiro, 1997, n. 275-276, p. 514-517.
14 J H , Lehrbuch des Strafrechts, 1996, § 55, I, p. 577 s. 16 ROXI , Strafrecht, 1997, § 24, n . 14, p. 924.
jurídicas, que definem o risco permitido em ações perigosas para bens jurisprudência e a pesquisa científica desenvolveram alguns conceitos
jurídicos na circulação de veículos, na indústria, no meio ambiente, e diretrizes Úteis para caracterizar a lesão do dever de cuidado ou - o
no esporte etc. A legislação de trânsito brasileira (Lei 9.503/97) é a que é a mesma coisa - a criação de risco não permitido, que definem
mais p rfeita ilustração dessa t se: primeiro, institui o dever g ral d o desvalor de .ação nos crimes d imprudência, como o modelo de
atenção cuidado na direção de veículo (art. 28); depois, d limita ess homem prudente, o princípio da confiança, c rtas correlações d risco/
dever de cuidado pelas normas jurídicas qu defin mo risco permitido utilidade etc.
na circulação de veículos (arts. 29 a 67): a circulação pelo lado direito, a) O modelo de homem prudente. O conceito de homem prudente,
as distâncias de segurança, a preferência dos veículos em rotatórias
construído como mod lo para d t rminar 1 só s do dever de cuidado ou
ou proc dentes da dir ita, a prioridade, livr circulação, parada do risco permitido 18 , é um referencial valioso para definir a natureza d
estacionamento de veículos de bombeiros, polícia e ambulâncias, comportam ntos humanos. Um homem prudente é capaz de reconhecer
o proc dim nto no d slocam nto lat rais, r tornos, conv rsõ s à
avaliar situaçõ s d perigo para b ns jurídicos protegidos, mediant
squerda e nos cruzamentos, os limites máximos d v locidad em observação das condições de realização da ação e reflexão sobre os pro-
vias urbanas e rurais, a ultrapassagem pela esquerda, as hipóteses d cessos subjacentes de criação e de realização do perigo: um motorista
proibição d ultrapassag m o co1nporta1n nto do v ículo ultrapas-
prud nt pode prev r a possibilidad de crianças, ped str s d sat ntos
sado, os sinais de trânsito a ordem d prioridad ntr 1 s, o uso do ou pessoas idosas ou deficientes ingressarem, in speradamente, na
cinto de segurança e o lugar das crianças nos v ículos, as condiçõ s d pista de rolamento das vias urbanas, e agir e1n conformidade com ssa
circulação e de segurança dos veículos de duas rodas, o princípio d
previsão. Ess modelo é construído p rguntando-se como agiria, na
r sponsabilidade d cr scente de segurança no trânsito, dos veículos situação concreta, um homem prudente pertencente ao círculo social do
maiores p los m nores, dos motorizados p los não motorizados e de autor e dotado dos conhecimentos especiais deste (por exemplo, sobre
todos pelo ped str . Em todas ssas situações, a d finição do risco
os perigos de determinado cruzamento ou sobre a presença de escolares
permitido delimita, concretamente, o dever de cuidado exigido para na rua, m d t rminados locais horários te.): s a construída ação
realizar a ação perigosa de dirigir veículo automotor em vias urbanas e
do modelo divergir da ação r al, exist lesão do dever de cuidado ou
rurais, explicando o atributo d objetivo contido no conceito de dev r
do risco p rmitido 19• O probl ma principal r sid na dificuldad d
de cuidado objetivo. definir o modelo adequado, e1n geral influenciado pelas xperiências e
A infração d u1na norma jurídica isolada constitui, m r gra, distorçõ s subj tivas do int ' rpr t , virando xig"ncias xc ssivas por-
criação d risco não p rmitido , assim, caracteriza 1 são do dever d qu ações socialmente perigosas são normais dentro de determinados
cuidado, mas, exc pcionalmente, pod ser insuficiente para indicar limites e, portanto, lesões do dever d cuidado so1n nte são ad1nissíveis
1 são do risco p rmitido ou do d ver de cuidado - assim como a ob- m casos de excesso do risco p rmitido 20 : s , em condições normais, o
s rvação strita da norma não garante conduta conforme ao cuidado
obj tivo, ou nos limites do risco permitido, se a observância concr ta 18 Ver BURG TAL ER, Das Fahrlassigkeitsdelikt im Stmfrecht, 1974 .
da regra el va o p rigo d um acid nt , por xemplo 17 • Por isso, a 19 J . l E , Lehrbuch des trafrechts, 1996, § 55, I, 26, p. 578; ROXIN,
trafrecht, 1997, § 24, n. 32, p. 931. WELZEL, Das Deutsche trafrechts, 1969, § 18,
I la, p. 132. No Brasil, HEITOR CO TA JR. , Teoria dos delitos culposos, 1988, p.
60; TAVARES, Direito Penal da negligência, 2003, p. 275-276, rejeita o conceito de
17 RO ; trafrecht, 1997, § 24, n. 15-16, p. ;J HE K/WE D, Lehrbuch homem prudente e consciencioso porque seria c9uivalcnte ao conceito de homo medius.
des Strafrechts, 1996, § 55, I, 3d, p. 582. 20 J • K/WEI , Lehrbuch des Strajrechts, 1996, § 55, I, 26, p. 579.
motorista urbano devesse sempre considerar a hipótese de pedestr s de ambulâncias, veículos de bombeiros ou carros de polícia no tráfego
invadirem a pista de rolamento, o tráfego urbano seria impossível. urbano, cuja necessidade e utilidade social são indiscutíveis 24 . A per-
missibilidade de ações perigosas depende do significado da correlação
b) O dever de informação sobre riscos e de abstenção de ações
perigosas. A realização d ações perigosas, especialmente em certas risco/utilidade: se o risco t m utilidade social, então o maior risco pod
ser p rmitido; s o risco tem utilidade meram nte individual, então
áreas ou setores sp cializados das atividades hu1nanas, itnpõe o d v r
o menor risco é proibido. esse sentido, é int r ssante o critério qu
de informação sobre riscos para bens jurídicos2 1, com omissão da ação
perigosa no caso de impossibilidad de informação, de informação classifica as açõ s perigosas em ações d luxo ou supérfluas, cuja r aliza-
ção pode configurar risco não permitido, ações socialmente úteis ou
indicadora d risco xc ssivo ou d incapacidad p ssoal d controle
do risco: dirigir veículo com defeito d visão, dificuldade de movi- necessárias, normalmente abrangidas p lo risco permitido 25 .
m entos, experi "ncia insufici nte, em estado d cansaço excessivo ou d) O princípio da confiança. A área de influência do princípio da
com informação deficiente sobr regras d circulação ( sp cialment confiança na construção dogmática do cone ito de imprudência varia
no strangeiro); realizar tratamento médico d doença grav s m ad - conforme sua d finição como silnples r gra costumeira comple1nentar,
quada informação sobre métodos de tratamento; aplicar anestesia total, segundo JESCHECK/WEIGEND 26 , ou como princípio de orientação
s m pr 'vio exa1ne, em paci nt co1n indicações claras d problemas capaz d indicar os limit s do d v r d cuidado ou do risco p rmitido
cardíacos - todas essas situações configuram lesões do dever de cuidado no trânsito, no trabalho cooperado e, até mesmo, em r lação a possíveis
ou do risco não pennitido, subsumív is na chamada "culpa de e1npr - fatos dolosos de t rceiros, confonne ROXIN 27 . Em geral, o p rincípio
endimento" ( Ubernahmeverschulden), regida pelo seguinte princípio: da confiança significa a xpectativa, por quem se conduz nos limites
quem não sabe, deve se informar,· quem não pode, deve se omitir1 2 • do risco permitido, de comportamentos alheios adequados ao dever
de cuidado, exceto indicações concretas e1n contrário 28 .
e) A correlação risco/utilidade na avaliação de ações perigosas. A
soei dades contemporân as caract rizam-se p la constant realização d Assim, veículos com preh rência de passagem em cruzamentos ou
açõ s p rigosas: o funcionam nto d máquinas p sadas na indústria, a d circulação m rotatórias, por x mplo, pod m confiar qu outros
uti]ização de m ios de transporte rápidos, as pistas autorizadas de alta condutor s respeitarão a preferência, sob p na de inviabilização do
v locidade, o uso de m dicamentos tóxicos na m dicina, o g neraliza- tráfego por subv rsão das r gras qu disciplinam a circulação de v ículos.
do 1nprego de d t nsivos agrícolas, a crescente utilização da energia Admit -s ação m conformidade co1n o p rincípio da confiança mesmo
nuclear te., cujo funcionamento, produção ou empr go d v observar na hipót se de pequenas lesões do risco permitido ou do dever d
o n cessário cuidado, controle ou vigilância para excluir ou minimizar
os riscos correlacionados23 • Contudo, são autorizadas algumas ações 24 ROXJ , trafrecht, 1997, § 24, n . 37, p. 933 .
fora dos limit s normais do risco p nnitido, por causa de sua signifi- 25 BUR STALLER, Das Fahrlassigkeitsdelíkt im trn-fi'echt, 1974, p. 58; também,
cação social - por exemplo, a prioridade de trânsito e livre circulação S H UNEMANN , Moderne Tendenzen in der Dogmatik der Fahrldssigkeíts- und
Gefahrdungsdelikte. JA, 1975, p. 575 s.
26 J H CK TGE D, Lehrbuch des trafrechts, 1996, § 55, I, 3d, p. 581.
27 ROXI , Strafi'echt, 1997, § 24, n. 21 -30, p. 926-93 0. o Brasil, TAVARE , D ireito
21 E GIS H , Untersuchungen uber Vorsatz und Fahr/Jissigkeit im trafi·echt, 1930, p. 306. Penal da negligência, 2003, p. 294.
22 RO , Strafrecht, 1997, § 24, n . 343-346, p. 932; também, JES H E K/ 28 J 1(/\ 1 E , Lehrbuchdes trnfi"echts, 1996, § 55 , I, 3d, p. 581 ; também,
WEIGEND , Lehrbuch des Strnfrechts, 1996, § 55, I, 3, p. 580. No Brasil, TAV, RE RO J , tr11ftecht, 1997, § 24, n. 21 , p . 926. Z Das Deutsche trafrecht,
D ireito Penal da negligência, 2003, p . 280-283. 1969, § 18, I la, p. 132- 134. No Brasil, TAVARES 1 D ireito Penal da negligência, 1985,
23 J H , Lehrbuch des Strafrechts, 1996, § 55 , I, 36, p. 580 . p. 148; HEITO R COSTA JR. , Teoria dos delitos culposos, 1988, p. 6 1.
cuidado: se a preferência de passagem pertence ao motorista alcoolizado intenções agr ssivas são reconhecíveis pela observação atenta d certas
A e o condutor B desrespeita essa preferência determinando um acidente indicações (que comete homicídio); retirar-se a mãe da casa, durante
de trânsito, inevitável mesmo na hipótese de A não estar alcoolizado, parto de filha solteira, sendo previsível infanticídio se a parturiente for
a punição de A soment pod rias fundar no inadmissível versari in re deixada sozinha (qu mata o próprio filho ): m todas essas hipót ses,
illicita29 . Todavia, o princípio da confiança não pod preval cer contra o conceito unitário d autor de fato imprudent d etermina a punição
crianças, idosos ou doent s, contra adol scentes com comportam ntos por homicídio imprudente (na última hipótese, com tido por omis-
estranhos, contra pedestr s evidentement d sori ntados ou outras são) - e não por participação imprud nte em fato doloso 33 - porqu
situações de injustificável expectativa de comportamentos adequados 30 . a ação não é coberta pelo princípio da confiança.
Igualmente, o princípio da confiança exerce função relevante no
trabalho cooperado ou de equipe, com distribuição d tar fas integra-
das para realização de obra coletiva: nas cirurgias m /dicas, os sup rior s 2. O desvalor de resultado: lesão do bem jurídico
são r sponsáveis p la escolha, direção e supervisão dos auxiliar s, os protegido
auxiliares devem observar as instruções recebidas, cada especialista
pod confiar no trabalho livre d falhas d outro specialista , em O r sultado nos crim s d imprud "ncia é a lesão do bem jurídico
qualquer caso, a correção de falhas alheias / sempr limitada pela protegido no tipo legal: vida, integridade ou saúde corporal do homem,
nec ssidad d r alização correta do próprio trabalho 31 • meio ambiente tc. 34 . Ar gra dos crimes de imprudência é o resultado
Enfim, o princípio da confiança permite definir como adequa- de dano, como o ho1nicídio ou a l são corporal itnprud nt s (arts.
das ao dever de cuidado ou ao risco permitido ações que podem s 121, § 3° e 129, § 6°, do Código Penal; arts. 302 e 303, do Código
r !acionar com fatos dolo os d t rc iros, como a v nda d armas d de Trânsito Brasileiro), ou o incêndio culposo em mata ou floresta
fogo , de bebidas alcoólicas etc. porque a exigência de omitir açõ s (art. 41, parágrafo único, da L i 9.605/98); contudo, no atual Dir ito
hipot ticam nt r !acionadas a crim s futuros t ria igual t ito in- Penal do risco, as exceções de criminalização da imprudência com
viabilizador da vida social moderna qu a renúncia à circulação de resultado de perigo são cada v z mais fr qu nt s: o tipo d injusto
v ículos, por xemplo 32 . Exceções seriam as hipót ses d promoção exaure-se na ação lesiva do risco permitido ou do dever de cuidado -
de disposição reconhecível para fato doloso, 1nediante contribuiçõ s por exemplo, o crime de substâncias tóxicas à saúde humana ou meio
causais imprudentes, como entregar faca a partícip d briga (com a a1nbi nte (art. 56, § 3°, da L i 9 .605/98).
qual comet homicídio); entregar ven no, m condições suspeitas, ao O resultado nos crimes de imprudência é, para a opinião domi-
amant (que nvenena a sposa); mprestar espingarda a amigo, cujas nante, elemento do tipo de injusto 35 , mas um segmento minoritário o
29 RO , Strafrecht, 1997, § 24, n. 24, p. 927-928 . 33 ROXIN, traftecht, 1997, § 24, n. 26-30, p. 2 -93 ; J
30 ROXI , Strafrecht, 1997, § 24, n. 23, p. 927. No Brasil, TAVARE Direito Penal da Lehrbuch des trafrechts, 1996, § 54, IV, 2, p. 573.
negligência, 2003, p. 295 . 34 J H K/WET E , Lehrbuch des Strafrechts, 1996, § 55, II, 1, p. 582 . o
31 J H K I , Lehrbuch des Strafrechts, 1996, § 55, I, 3de, p. 581-582; Brasil, TAVARE , Direito Penal da negligência, 2003, p. 301.
também, RO I Straf,echt, 1997, § 24, n. 25, p. 928. 35 J H CK/WEI END, Lehrbuch des trafrechts, 1996, § 55, II, 1 p. 582-583;
32 ROXI , Strafrecht, 1997, § 24, n. 26, p. 928-929. o Brasil, TAV. RES, Direito Penal ROXIN, Strafrecht, 1997, § 24, n. 7, p. 92 1; ZEL, Das Deutsche Strafrecht, 1969,
da negligência, 2003, p. 299-300. § 18, I 2, p. 135 .
defin como condição objetiva de punibilidade, fora do tipo de injusto, do cuidado objetivo exigido 40 ou a realização concreta de risco não
sob o argumento de que a norma implícita no tipo legal somente pode permitido 41, para ser definido como "obra do autor" e, assim, poder
proibir ações, nunca resultados típicos 36 . JE CHECK/WEIGE D, ser imputado ao autor.
ntre outros 37 , rejeitam essa teoria, mostrando a ligação entre ação 2. Realização do risco. O fundamento jurídico da imputação do resul-
r sultado nos tipos d imprudência: o d ver de cuidado é definido para tado é a realização do risco criado pela ação lesiva do d v r de cuidado
evitar determinados resultados típicos; o resultado deve ser o produto ou do risco permitido. O resultado somente é definível como realização
específico da lesão do d ver de cuidado; o resultado d ve s r p revisível do risco quando aparec como p roduto específico da 1 são do d ver de
no mo1n nto da ação; finalmente, o resultado determina se, porque e cuidado ou - o qu / a m sina coisa, d outro ângulo - como realização
como o autor d ve s r punido. concreta de risco não permitido 42 . Assim, a imputação do resultado
xige: primeiro, a ação lesiva do dever d cuidado ou do risco permitido
- o desvalor de ação criador do p rigo para o bem jurídico prot gi-
2.1. Imputação do resultado ao autor
do; s gundo, o resultado de lesão do b m jurídico como realização da
ação lesiva do dever de cuidado ou do risco permitido - o desvalor
A imputação do resultado ao autor (a) tem como pressuposto a de resultado como produto da lesão do d v r de cuidado ou do risco
relação de causalidade ntr a ação 1 siva do d v r de cuidado ou do permitido. Assim, a simpl s causalidad do resultado, d monstrada
risco permitido e o resultado de lesão do bem jurídico e (6) t m como pela xclusão hipotética da ação, é insuficiente para itnputar o resultado
fundamento a realização do risco criado pela ação lesiva do dever de ao autor: é n cessário que o r sultado seja o produto específico da ação
cuidado ou do risco permitido 38 (c) como condição - p lo menos lesiva do dever de cuidado ou do risco permitido.
para um setor importante da teoria - a p revisibilidade do resultado 39 .
1. Relação de causalidade. A r lação de causalidade entre ação r -
2.2. Exclusão da imputação do resultado
sultado é regida pela teoria da equivalência das condições, válida para
os crim s dolosos para os crim s imprud nt s. E assim como nos
crim s dolosos, a imputação dor sultado ao autor xig mais do qu A d finição dor sultado como realização do risco criado p la ação
a simpl s causalidad : o resultado deve ser o p roduto específico da lesão 1 siva do dever de cuidado ou do risco p rmitido / excluída nas hipó-
t s s (a) d fatalidad do resultado, (b) de resultados incomuns, (c) d
resultados fora da ár a de proteção do tipo, e (d) der sultados iguais em
hipot /ticas condutas conformes ao d ver de cuidado ou risco permitido.
36 RMT , Das Fahrldssige Delikt, ZfR, 1964, p. 41; do m smo, Zum
Stande der Lehre vom personaLen Unrecht, FS fur Welzel, 197 4, p. ; Zl · LII K.l, 2.2.1. Fatalidade do resultado. R sultados d 1 são do b m jurídico
Handlungs- und Erfalgsunwert im Unrechtsbegriff, 1973, p. 128 s. e 200 s.
37 JE CHE K/ El D, Lehrbuchdes trafrechts, 1996, § 55, II, 1, p. 583; também,
ROXI trafrecht, 1997, § 24, n. 7, p. 921. No Brasil, TAVARE , Direito Penal da
negligência, 2003, p. 302-303; HEITOR O TAJR., Teoria dos delitos culposos, 1988,
p. 69-70. 40 JE HECK/WEI E D, Lehrbuch des Strafrechts, 1996, § 55, II, 2, p. 583-584. o
38 ROXI r, Strafrecht, 1997, § 24, n. 5, p. 920 . Brasil, TAV: , Direito Penal da negligência, 2003, p. 308-310; HEITOR O TA
39 JE H K/WEI D Lehrbuch des Strafrechts, 1996, § 55, II, 3, p. 586-587; JR., Teoria dos delitos culposos, 1988, p. 65 .
WELZEL, Das Deutsche Strafrecht, 1969, § 18, I 2, p. 136; E /B,E E 41 RO , Strafrecht, 1997, § 24, 11 . 5, p. 92 1.
Strafrecht, 1998, n. 667. 42 ROXI , Strafrecht, 1997, § 24, 11 . 5, p. 920.
produzidos pela fatalidade de acontecimentos infelizes não podem s r d) danos psíquico-emocionais sobre terceiros; e) outras consequências
definidos como realização do risco imputável ao autor. Exemplo: sob danosas posteriores.
o itnpulso da força e1npregada para desprender-se das 1nãos da mãe, a
a) A autoexposição a perigo d fine situações em que o resultado é
criança cai sobr v ículo em movimento regular próximo ao m io-fio, atribuível à vítima não ao colaborador da ação , se aqu la conhec
sofr ndo lesão corporal. O m smo ocorre no caso d ped str que pula o risco xist nt na ação, mas ' imputável s a vítüna não p rc be o
na frente de veículo em movim nto nas vias urbanas, apesar de eventual
significado de sua decisão - neste caso, o colaborador cria risco não
excesso d v locidade anterior do veículo, porqu limit s de v locidad coberto pela vontade daquela46 . Ex mplos:
não são estabelecidos para determinar o espaço que, e1n certa unidade
de tempo, v ículos e p destr s dev m ocupar na circulação urbana, ou a 1) os motoqu iros A B d cid m disputar corrida d e motos
para retardar o momento do encontro de ambos em determinado lugar43 • numa rodovia deserta, na qual A morre em acidente causado por
imp rícia própria: a atribuição d r sultados viráveis, causados
2.2.2. Resultados incomuns. Às vezes, a 1 são do dev r de cuidado por lesão do dever de cuidado ou do risco permitido, não se aplica
ou a ruptura do risco p rmitido pode influir no r sultado, 1nas a
a hipótes s de cooperação em ações intencionais autop rigosas d e
natureza incom um do acontecimento também não permite defini-lo
vítimas conhecedoras do risco porqu o r sultado e taria fora da área
como realização do risco, no sentido d produto d lesão do dev r d de proteção do tipo 47 ;
cuidado ou do risco permitido. Ex mplo: a vítima morre de colapso
cardíaco por causa de lev acid nte de trânsito ou porque seu veículo foi a2) B, d p nd nte d drogas, apesar d conh c r o p rigo da
'(fechado" por outro, em manobra d ultrapassagem irregular no trânsito. ação, morr após injetar m si m smo heroína cedida por A: o autor
O perigo de colapso cardíaco pode aumentar por tensões inesperadas só responde p lo tipo correspondente da lei de drogas porque a auto-
ou por sustos resultantes de ações arriscadas de terceiros, mas a elevação xposição a perigo, sob responsabilidade exclusiva da vítima, imped
desse risco não par ce suficiente para fundamentar a atribuição do re- a imputação do r sultado a terc iro; contudo, é preciso distinguir: o
sultado ao autor, segundo WOLTER e ROXI 44, ou a forma concr ta resultado não é atribuível se a vítüna percebe o risco na mesma medida
do r ultado staria fora d qualquer pr visibilidad , como pr fer m do colaborador, mas é atribuív l se a vítima não perceb o significado
JESCHECK/WEIGE D, WELZEL WESSELS 45. de sua decisão - neste caso, o colaborador cria risco não coberto pela
vontade daqu la48 ;
2.2.3. Resultados situados fora da proteção do tipo. Existe1n hipóte-
ses d resultados fora da área d proteção do tipo legal, assim agrupadas: a3) paci nt morre após ing rir sup rdose d remédio de ação
a) autoexposição a perigo; b) exposição consentida a perigo criado psicotrópica para emagrecimento, receitado por médico: a atribuição
por outr m; c) p rigos situados tn área d r sponsabilidade alheia; do r sultado ao m 'dico, fundada no d v r d garantia da vida do
pacient , é excluída pelo argumento d qu o dev r de prot ção se
limita à doença do paci nte, sem incluir incontroláveis autolesões
43 JE CH E K/WEI END, Lehrbuch des traftechts, 1996, § 55, II, 2 bb, p. 586;
ROXI , Strafrecht, 1997, § 11, n. 69, p. 324. intencionai co1n os m ios de cura pr scritos 49;
44 WOLTER, Objektive und personale Z urechnung von Verhalten, Gefahr und Verletzung
in einem fimktionaLen trajtamystem, 198 1, p. 342; ROXIN , Strrtfi"echt, 1997, § 11 , n.
71, p. 325. 46 RO , Strafrecht, 1997, § 11, 11. 94, p. 337 s.
45 JE CH E K/WEI END, Lehrbuch des Strafrechts, 1996, § 55, II, 3, p. 586-587; 47 RO , Strafrecht, 1997, § 11, n. 92, p. 336.
WE ZEL, Das Deutsche Strafrecht, 1969, § 18, I 2, p. 136; E /B,E E 4s RO , Strafrecht, 1997, § 11, 11. 94, p. 33 7 s.
Strafrecht, 1998, n. 667. 49 RO , Strafrecht, 1997, § 11, 11. 95, p. 338 .
a4) B morre ao recusar, por motivos religiosos, necessária trans- de contaminação são responsáveis pela ação comum; ao contrário, o
fusão de sangue, após acidente de trânsito causado por A: o autor resultado de infecção por HIV pode ser atribuído ao autor, se este nega
responde so1nente por lesões corporais imprudentes porque a vítima a contaminação, se convence ou força a vítitna à relação sexual etc. 53 .
s xpõe à morte certa ou prováv I por decisão consciente própria 50 . e) Os perigos situados em área de responsabilidade alheia têm por ob-
b) A exposição consentida a perigo criado por outrem não é itnputável j to, m geral, funcionários públicos (bombeiros, policiais etc.) ou
ao autor, se corresponder à autoexposição a perigo, observado o se- profissionais (médicos, por exemplo), no âmbito de suas funções ou
guinte: o dano deve ser consequência do risco consentido e a vítima atividades, e incidem sobr cursos causais preexist ntes, podendo
d v t r a m sina compr nsão do r spon abilidad pelo p rigo qu xcluir a atribuição do r sultado ao autor d ant rior I são do risco
o autor 51• Exemplos: permitido ou do cuidado objetivo.
b 1) a vítitna, selar cida p lo barqu iro sobr os p rigos do mar Ex mplo: o bomb iro morr ao t ntar xtinguir inc "ndio pro-
agitado, insiste no passeio d barco e morre afogada porqu o barco vocado por imprudência do proprietário da resid "ncia. Definir se o
emborca sob a viol "ncia das ondas; autor do inc "ndio r spond por homicídio imprudente do bomb iro
ou se esse resultado se situa m ár a der sponsabilidade alheia, é uma
62) o passageiro 1norre e1n acidente de trânsito porque convence
questão espinhosa: a) para a opinião dominante trata-se de homicídio
o motorista a dirigir em velocidade não permitida, sob alegação de
compromisso inadiáv l; itnprudente atribuível ao autor do incêndio porque o resultado rea-
liza p rigo não pennitido, compre ndido no âmbito d prot ção do
63) apesar d enérgica recusa sob alegação da própria alcooliza- tipo 54; b) para outro setor da literatura - cujo ponto de vista interessa
ção, proprietário de veículo é convencido por companheiro de festa aqui considerar-, o resultado se situa em área de responsabilidade
a dar-Ih "carona", o qual morr m acid nt d trânsito r !acionado alh ia, fora do âmbito d prot ção do tipo, como indicam alguns ar-
à embriaguez do motorista. gum ntos: i) o risco funcional é livrement assumido com a escolha
N ss s casos, a itnputação do resultado ' excluída porqu a ví- da função o funcionário ' r mun rado pr cisam nt p lo risco qu
tima conhece o risco ao qual se expõe; ao contrário, o resultado seria assume; ii) a atribuição de resultados lesivos m ações de proteção e
imputável se o autor convence a vítima a enfrentar o mar, minimiza os salvam nto conflita com razõ s d política criminal porqu o risco d
p rigos da v locidad no trânsito ou disfarça o stado d mbriagu z novas incritninações induziria autores ünprudentes de incêndios ou
- porque, então, a vítima não poderia conhecer o perigo a qu irias de outros eventos lesivos a deixar d pedir a prot ção de bombeiros
xpor, as hipót s s não mais quival riam à autoexposição a perigo 52 • ou de policiais, com cons quências danosas certamente mais graves 55 .
Atualmente, a exposição consentida a perigo criado por outrem abrange, d) Os danos psíquico-emocionais sobre terceiros, como distúrbios psí-
tamb / m, casos d relações sexuai com portador s d AIDS (equiva- quicos ou emocionais determinados por sofrimento ou sentimento de
lentes à autoexposição a perigo) , se a1nbos parceiros conhecem o risco
infelicidade resultante de mort ou lesões corporais graves de pessoa ou possível produção de resultado igual, o resultado seria imputável
afetivamente próxima, por lesão do dever de cuidado ou do risco ao autor porque a lesão do risco permitido eleva a possibilidade de
permitido, não podem ser atribuídos ao autor: a proteção típica do sua produção e, no exemplo citado, a inobservância da distância
homicídio ou das 1 sões corporais não inclui responsabilidades penais correta teria reduzido a chance d preservação da vida do ciclista,
cumulativas por distúrbios psíquicos ou afetivos relacionados a abalo configurando, assim, r alização de risco não p rmitido; igualmente,
emocional d terc iro, ressalvado possív l r ssarcimento civil 56 • rejeita aplicação do princípio in dubio pro reo, porque se o autor trans-
e) As outras consequências danosas posteriores não são imputadas ao cende o risco p rmitido, 1 va o p rigo toleráv 1pelo ordenamento
jurídico, criando risco proibido r alizado no resultado concreto 60 •
autor, s r lacionadas à r dução da r sistAncia orgânica ou da capaci-
Na controv' rsia, a posição d ROXIN par c xc ssiva: prim iro, a
dade física, determinadas por ação 1 siva do dever d cuidado ou do
risco p rmitido: novo acidente relacionado à r dução de movim ntos certeza é incompatível com cursos causais hipotéticos, que somente
admit m r sultados prováv is ou possív is; segundo, o princípio in
pela amputação da p rna de vítima de acid nt anterior não podes r
dubio pro reo é a expressão processual do princípio constitucional da
atribuído ao r sponsável pelo primeiro fato 57 ; mas danos posterior s
relacionados causalmente a anterior ação lesiva do dever de cuidado presunção de inocência, que exclui toda e qualquer forma de presunção
de culpa, in rent m cond naçõ s duvidosas.
ou do risco p rmitido, indep nd nt ment do t mpo d corrido, são
atribuív is ao autor, pr sent s outros pressupostos: por exemplo, a
1norte da vítitna de acident de trân ito, depois de longo período d
2.3. A previsibilidade e a previsão do resultado
tratamento.
2.2.4. Resultados iguais em condutas alternativas conformes ao
A teoria dominante considera a previsibilidade do resultado
dever de cuidado ou risco permitido. A hipót d r ultado igual
condição para sua atribuição ao autor 61 , embora exista relativa im-
em conduta alt rnativa conforme ao dir ito exclui a imputação,
precisão sobre o que é ou não previsível, como d monstram esses
1nas os crit 'rios são controv rtidos, como mostra st x 1nplo: s m
xemplos contraditórios da jurisprud "ncia: a) o resultado é previsível
observar a distância n cessária, motorista de caminhão ultrapassa
se a vítima, levem ente ferida em acidente de trânsito, morre de embo-
ciclista embriagado que, numa r ação de curto-circuito determinada
lia por causa d tendência à trombos ou morr d d rrame c r bral
pelo álcool, puxa o guidão da bicicl ta para a squerda, sendo es1na-
por causa da excitação do acidente; b) o resultado não éprevisível se
gado pelo rodado traseiro do caminhão. JESCHECK/WEIGEND 58
a vítima morr d colapso cardíaco por causa d "fechada" abrupta
excluem a imputação na hipótes de provável ou possível produção
ou de leve acidente de trânsito 62 •
d igual resultado, em hipot 'tica conduta alternativa conforme ao
d v r d cuidado; ROXI 59 admite excluir a imputação soment ROXIN substitui a pr visibilidad p los crie rios d criação
na hipótese de certa produção do resultado: na hipótese de provável
60 ROXIN, Strafrecht, 1997, § 11, n. 78, p. 328. o Brasil, TAV: Direito Penal da
negligência, 2003, p. 332-333.
56 Ver RO I, Strafrecht, 1997, § 24, n. 43, p. 934. 61 J l(/\ I , Lehrbuch des Strafrechts, 1996, § 55, II, 3 p. 586-587;
57 ROXI , Strafrecht, 1997, § 24, n. 44, p. 934-5. WELZEL, Das Deutsche trafrecht, 1969, I 2, p. 136; ELS/BE LKE Strafrecht,
58 JE CHE K/WEI END, Lehrbuch des Strafrechts, 1996, § 55, II, 2, p. 584-585 . 1998, 11S. 667 C 667 S.
59 RO , Strnfrecht, 1997, § 11, n. 76-78, p. 327-328. 62 J • K/WEI , Lehrbuch des Strafrechts, 1996, § 55, II, p. 586-587.
de realização do perigo: mandar a namorada passear na praia deserta de bem jurídico representada como possível 6 5. Alguns autores, como
em dia de tempestade para ser fulminada por um raio - o que, de BOCKELMANN 66 , por exemplo, propõem retirar o caráter culpá-
fato, ocorre-, não é imputável ao autor porque ninguém pode criar vel da imprudência inconsciente porque a ausência de representação
riscos qu não controla - e não porque o r sultado é imprevisível; s do autor exclui a possibilidade de agir difi r nt . Contra a proposta
a vítima d acident de trânsito morr em incêndio no hospital, a argumenta-s que a culpabilidade não se baseia som nte no conhe-
imputação do resultado ' excluída porqu não constitui realização cimento da 1 são do bem jurídico, mas, tamb 'm, na possibilidade
do perigo criado pelo autor - e não por causa da itnpr visibilidad desse conhecimento, r sultant da consciência das circunstâncias
do incêndio 63 . fundamentadoras do p rigo: soltar cachorro agressivo que fer
Mas fundamentar a imputação do resultado na criação ou na criança constitui ação imprudent , ind pendentemente do autor
realização de risco criado pelo autor não afasta a categoria da previsi-
pensar ou não no resultado lesivo; além disso, a vida social con-
t mporân a xig cidadão capaz s d r conh c r d controlar
bilidade: afinal, a criação ou a realização do perigo ' imputáv 1porq u
o resultado é previsível e, por isso, controlável p lo autor. Na verdade, os perigos que criam 67 .
o conceito de risco (do resultado de lesão) pressupõe ou implica a 2.3.2. Imprudência consciente. A imprudência consciente configura-
previsibilidade objetiva do resultado, sem a qual não pod ser d finido. -s p la representação da possibilidade d lesão do risco p rmitido ou
A previsibilidade do resultado parece ser o fundam nto mínimo d do d ver de cuidado e pela confiança na evitação do resultado: o autor
irnputação da irnprudência, que unifica suas n1odalidades inconsciente representa a possibilidade de realização do tipo, 1nas confia na ausên-
e consciente: na imprudência inconsciente o autor não prevê resultado cia do resultado lesivo, ou porque subestima o perigo, ou porque
previsível; na imprudência consciente o autor prevê resultado previsível, superestima a capacidade pessoal, ou porque acredita na sorte. Não
que confia poder evitar64 . há consenso sobre o nível de intensidade da representação da possível
2.3.1. Imprudência inconsciente. A imprudência inconscient realização do resultado típico: r presentação mínima, para a opinião
dominant ; repr s ntação d perigo concreto, para JESCHECK/
d fin -s p la ausência de representação da 1 são do d v r d cuidado
WEIGE D 68 ; repr entação d perigo juridicamente relevante (sup rior
ou do risco permitido - o autor não representa a possibilidade de
r alização do tipo - constitui a modalidade m nos grav d im- ao risco p rmitido), para ROXIN 69 .
prudência: a lesão do risco pennitido ou do dever de cuidado é ob- Definir o conceito de imprudência consciente é relevante, entre
j tivamente id "ntica, mas ar pr sentação da possívellesão do risco outras razões, para fixar a linha diferenciadora do dolo ev ntual: im-
permitido ou do dever de cuidado na imprudência consciente pod prudência consciente e dolo eventual são conceitos simultan ament
d t rminar outra atitude do autor, o que não ocorre na imprudencia excludentes e complem ntar se sua distinção constitui u1na das 1nais
inconsciente; exc pcionalm nte, a imprudência inconsciente podes r difíceis qu stõ s do Direito P naF 0 porque fundam ntada na identifi-
mais grave, no caso de grosseira desatenção do autor, enquanto a im-
prudência consciente pode revelar extremo cuidado para evitar lesão
65 ROXl , Straftecht, 1997, § 24, ns. 59-61, p. 940-941.
66 BO KEL Verkehrsstrafrechtliche Aufidtze und Vortrdge, 1967, p. 213.
67 ROXI Strafrecht, 1997, § 24, n. 62, p. 942.
68 J HECKIWEI E D, Lehrbuch des trafrechts, 1996, § 54, II, p. 568-569.
63 ROXI , Strafrecht, 1997, § 24, n. 13, p. 923-924 . 69 RO , Strafrecht, 1997, § 24, n. 63, p. 942.
64 Ve M l RJ., Manual de D ireito Penall, 1999, p. 191. 70 WELZEL, D as Deutsche Strafrecht, 1969, § 13, I 2, p. 69.
cação de atitudes diferenciáveis, em última instância, p la afetividade É possív 1 identificar, em scala gradativa de intensidade dos
do autor. De modo geral, o dolo constitui decisão de lesão do bem elementos intelectual e emocional do tipo subjetivo, todas as modali-
jurídico protegido no tipo, e a imprudência consciente representa dades subjetivas de realização de ações típicas, desde o nível de 1naior
1 viana confiança na exclusão dor sultado d lesão 71 , mas a determina- int nsidade psíquica do dolo direto de 1º grau, at' o nív 1d m nor
ção das id n tidades das difi renças entre dolo eventual imprudência int nsidade psíquica da imprudência inconsciente, m um só e m s-
consciente xige crit 'rios mais pr cisos, conforme demonstrado no mo tipo objetivo: s A fere B ao respond r cumprimento segurando
estudo do dolo eventual. um canivete na mão, ' admissível todo o lequ de atitudes subjetivas
do dolo direto, dolo eventual, imprudência consciente e imprudên-
A ár a dos efeitos secundários r pr s ntados co1no possíveis p lo
cia inconsci nt , conform xista intenção d fi rir, ou conformação
autor parece constituir a base empírica comum das teorias sobre impru-
dência consciente dolo eventual, s paráveis por detalhes nas dim nsõ s com a produção do resultado típico representado como possível, ou
confiança na au "ncia dor sultado típico r pr s ntado como possív l
int lectual mocional desses cone itos. A lit ratura trabalha, na área
dos efeitos secundários típicos representados como possíveis, com os s - pelo cuidado na ação de cumprimentar, ou, simplesm nte, ausência
guintes conceitos para definir imprudência consciente e dolo eventual 72 : de representação dess s efeitos colaterais possíveis 74 . Na hipótese de
dúvida sobr o tipo subjetivo r sp ctivo, a solução és mpre indicada
a imprudência consciente caract riza-se, no nív 1 int lectual, pela
p lo princípio in dubio pro reo, aplicáv 1irr strita1n nt .
r presentação da possível produção do resultado típico , no nív 1da
atitude e1nocional, pela leviana confiança na ausência ou xclusão dess A intensidade da lesão do risco p nnitido ou do d v r de cuida-
resultado, por habilidade, atenção, cuidado etc. na r alização concr ta do também pode d terminar variações de gravidade da imprudência
da ação; o dolo eventual caracteriza-se, no nível intelectual, por levar consciente ou inconsciente, que oscila da leviandade, como o nível
a sério a possível produção do resultado típico e, no nível da atitude mais intenso, até a pequena imprudência, como o nível mais leve de
mocional, por conformar-se com ou consentir na ventual produção imprud "ncia. A leviandade é constituída pela imprudência grosseira
desse r sultado - pod ndo variar para as situaçõ s resp ctivas d contar das situaçõ s d leviana desatenção na r alização d açó s socialm nt
com o r ultado típico possível, cuja v ntual produção o autor aceita. p rigosa , ou d frívola desconsideração por b ns jurídicos prot gidos,
O carát r compl mentar/ xclud nt d ss s cone itos consist ou, ainda, d 1 ó s sp cialm nt s 'rias do risco permitido ou do dev r
de cuidado objetivo 75 . Por isso, a leviandade pode justificar 1naior rigor
no seguinte: qu m confia na exclusão ou ausência do resultado típico
r pr ssivo, mas sempre nos limites da imprudência, qu não deve jamais
possível não pod , simultan am nte, conformar-se com ou consentir na
produção dor sultado (imprudência consciente); qu m se conforma ser confundida com nem tratada como dolo eventual - sob pena
de se abolir a difer nça entre dolo eventual imprudência consciente-,
co1n ou consente no (ou aceita) resultado típico possível não pode, si-
1nultanea1n nte, confiar m sua xclusão ou aus "ncia (dolo v ntual)73 • conforme alguns equivocados d prim ntes julgados da jurisprud "ncia
brasileira (referidos como mod los, sem qualquer ressalva, por um setor
da literatura penal) 76 , em casos de resultados imprudentes produzidos
71 ROXI , Strnfrecht, 1997, § 11, ns. 25-27, p. 374-375.
72 VerRO trafrecht,1997,§ 11 ,n. 29,p. 76; JE H /WEl , , Lehrbuch
des Strafrechts, 1996, § 29, III, 3, p. 299-230.
73 Representativos da opi niã dominam J CHECK/WEI D, Lehrbuch des 74 RO , Strafrecht, 1997, § 24, n. 70, p. 944-945 .
Strnfrechts, 1996, § 29, III, 3c, p. 301; WELZEL, Das Deutsche Strafrecht, 1969, § 13, 75 ROXl I , Strafrecht, 1997, § 24, n. 75-76, p. 946.
I, 2, p. 68. 76 Ver, por exemplo, MIRAB , Manual de Direito Penal, 2000, p. 141.
por grave lesão do risco permitido ou do d v r de cuidado. Sobr isso é IV Tipo objetivo e tipo subjetivo
importante dizer o seguinte: o dolo eventual não pode ser definido de
1nodo abstrato, fundado exdusivainente em atitudes irresponsáveis do
Uma estrutura de tipo objetivo e tipo subjetivo nos crim s
autor - por exemplo, a irr sponsabilidade da v locidad xcessiva no
de imprudência, homogên a à strutura dos crim s dolosos, é ad-
trânsito-, mas sempre de modo concreto, m que a situação obj tiva d
missível na imprudência consciente, mas é objeto de controvérsia na
probabilidade/possibilidade de lesão de b ns jurídicos / precisament
imp rudência inconsciente.
representada pelo autor (momento intelectual), o qual consente na ou
aceita a produção do resultado (momento emocional) r presentado A imp rudência consciente possui um tipo obj tivo constituído
co1no provável/possível. Em outras palavras: é necessário que uma pela causação do resultado pela imputação do resultado, e um tipo
situação concreta objetivainente existente penetre no psiquismo do subjetivo integrado pela representação das circunstâncias de fato e pela
autor sob a fonna d r pr s ntação do r al p los m canismos p rc p- p revisão do resultado, no nível int lectual, e pela confiança na ausência
tivos conscientes (conhecimento) e, m face dessa situação concreta do resultado, no nível e1nocional - a contrapartida típica subj etiva em
representada, a conformação no autor de uma atitude interna definível r lação ao dolo v ntuaF 9 . A imprudência inconsciente possui id "nti-
como consentimento no ou aceitação do r sultado r pr s ntado co1no co tipo objetivo, mas a questão do tipo subj tivo é controvertida: a
provável ou possív 1 (vontade). Fora disso, a teoria do consentimento opinião majoritária nega a existência de tipo subjetivo, p la ausência
acolhida na legislação penal exclui o dolo eventual. de repr s ntação do tipo objetivo; um segm nto 1ninoritário afirma a
existência de tipo subjetivo, consistente na p revisibilidade de realização
Por outro lado, a p equena imprudência é constituída por leves
do tipo objetivo 80 ou no conhecimento dos fatores formadores do
descuidos presentes na vida dos cidadãos mais prudentes e, por isso,
risco 81 - nunca das circunstâncias de fato do tipo objetivo. A crítica
são fenômenos não elimináveis da experiência cotidiana, cuja descri-
argumenta que o conh cimento dos fatores fundamentadores do risco
minalização representa exigência de política criminal antiga, sob o
pod ser fr quente, mas não ' n c ssário, como nos casos comuns
fundam nto da inutilidad dar pr ssão d falhas individuais r !acio-
d inconsci "ncia do xc sso d v locidad ou da invasão d sinal
nadas à natureza dos processos psíquicos , portanto, ligadas à própria
vermelho, além das hipóteses de simples esquecimento 82 • Contudo,
conting "ncia humana, s ndo sufici nt · a xist "ncia d m canismos
a inconsciência ou o esquecimento de ações socialmente perigosas
civis compensatórios 77 • Propostas menos radicais de política criininal
são atos psíquicos qu configurain u1na atitude subjetiva m fac da
para a pequena imp rudência sug r m d sp nalização das 1 só s do
possibilidade representáv 1- mas não repres ntada - d lesão de bens
dev r de cuidado produzidas no contexto de atividades socialment
jurídicos: ssa atitude subjetiva constitui um stado psíquico necessa-
admitidas, punição no âmbito de açõ s sociahn nt desaprovadas, ou
nos crim s qualificados pelo resultado 78 - n ste caso, s o resultado for
previsível, porque resultados imprevisíveis não podem ser imputados 79 im, HAFT, trnfrecht, 1994, p. 155 , n . 4; ROXI , Strafrecht, 1997, § 24, n . 66,
sob nenhuma hipótese. p. 943. No Bra il, E TI RI Manualde D ireito Penall, 1999, p. 191- 192; também,
ZAFFARONI/PI E I Manual de D ireito Penal brasileiro 1997, n. 277,
p. 517. ontra a distinção entre tipo subjetivo e ripo objetivo, TAVARE D ireito
Penal da negligência, 2003, p. 78· FRAGO O, Lições de D ireito Penal, 1985, p. 231,
77 , Strafi-echt, 1997, § 24, n . 85, p. 950. n. 210; H EIT OR O STA JR. , Teoria dos delitos culposos, 1988, p. 69-72.
78 Ver, por exempl ARZT, Leichtfertigkeit und recklessness, chroder-GS, 1978, 80 HAFT, Stnzfrecht, 1994, p. 155, n. 4.
. 11 9; BURGSTALLER, D as Fahrliissigkeitsdelikt im Strafrecht, 197 4, p. 20 1; 81 STRUEN SEE, "Objektives" Rísiko und subjektiver Tatbestand, JZ, 1987, p. 53 s.
RATE ERTH, Strnfrecht, 198 1, n. 1.137. 82 ROXI , Strafrecht, 1997, § 24, n. 68, p. 944.
riamente difer nte da disposição psicológica mocional do dolo Enquanto isso, a literatura sugere limitações profundas na imputação do
da imprudência consciente, mas suscetível de ser definido como tipo resultado mais grave, somente admissíveis em ações levianas altamente
subjetivo da imprudência inconsciente. perigosas para a vida, definidas como intennediárias entre a simples
imprud "ncia o dolo d homicídio - como indica ROXI 85 :
"Desta forma, apenas ações altamente perigosas contra
V Crimes qualificados pelo resultado: combinações a vida seriam compreendidas como tipo fundamental
dolo/imprudência doloso antecedente dos delitos qualificados pelo resul-
tado, que representam um nível intermediário entre o
simples homicídio imprudente e o homicídio doloso e,
1. os crim s qualificados p lo r sultado, ar lação ntr ação re-
assim, justificam uma moldura penal especial."
sultado também s d sdobra em causação do resultado e imputação
do resultado, como 1n qualqu r crim de resultado: o r sultado Igualmente, JESCHECK/WEIGEND definem os crimes qualifi-
d v s r o efeito causal e o p roduto do risco criado p la ação dolosa cados pelo resultado como resíduo do versari in re illicita, afirmando
do autor (ROXIN) - ou a consequência previsível da ação do autor sua compatibilidade duvidosa com o princípio da culpabilidade, cuja
(JESCHECK/WEIGE D). p na ultrapassa os limit s da culpabilidad por imprud "ncia 86 •
Entretanto, os crimes qualificados pelo r sultado - cujo tipo 3. Assim, se a realização da ação típica dolosa ant ced nte contém
mais característico ' a lesão corporal com r sultado d mort (art. implícita 1 são do dever de cuidado ou do risco permitido, a imprud "n-
129, § 3°, CP) - constitu m r squício m di val do versari in re illici- cia contida na ação típica dolosa antec dent não é suficiente para
ta do Direito Canônico, como r sponsabilidad p nal sem culpa por imputação do resultado mais grave ao autor - ' n cessário, ainda, a
consequências resultantes da realização de uma ação proibida, como d finição do r sultado como produto do risco criado p lo autor ou a
informa ROXI 83 : previsibilidade dor sultado como cons qu "ncia prováv 1da ação.
ªHistoricamente, os delitos qualificados pelo resultado A lit ratura cont 1nporân a sobr os crimes qualificados pelo re-
p rovêm da teoria da assim chamada versari in re illi- sultado pod ser assim r sumida: ROXI condiciona a imputação do
cita (equivalente a permanecer em coisa proibida) resultado à sua definição como p roduto específico do risco criado pela
desenvolvida no Direito Canônico, por força da qual ação dolosa funda1nental 87 . OTTO indica o perigo específico do tipo-
cada um responde, ainda que sem culpa, por todas as
consequências que se originam de sua ação proibida. " modo, como contrários ao princípio da culpabilidade ou a.o prin ípio da. igualdad.e e, as. im,
como inconstitucionais; eles consideram que o conteúdo de desvalor d tais delitos pode ser
2. A crítica 1nod rna propõ a abolição pura simpl s dos crim s quali- plenamente preenchido com as regras da concorrência. Esta crítica é, em parte, justifica.da. "
85 ROXIN, Strafrecht, 1977, p. 277, n. 11 1.
ficados pelo resultado, por causa de sua moldura penal excessiva, lesiva 86 J H E K/WEI E D, Lehrbuch des tmfrechts, 1966, p. 571, III.
dos princípios constitucionais da proporcionalidad da culpabilidade84 . 87 ROXIN, trafrecht, 1997, § 10, n. 114 p. 278: '~ -- porque todo delito {até mesmo um
furto) pode conduzir a consequências graves atípicas (por exemplo, queda mortal na perse-
guição), o legislador dispôs um resultado qualificador apenas em determinados delitos, p or
causa de sua tendência geral à p rodução de consequências ma;s graves, correspondendo à
83 RO , Strefrecht, 1997, p. 281, n . 12 1. finalidade da lei aplicar o tipo Legai apenas em resultados que provêm do perigo espe (fico
84 RO , Strnfrecht, 1997, p. 276, n. 11 O: '~Os críticos, que advogam por sua abolição, do delito fimdmnental. Apenas tais resultados são comp reendidos pela finnlidtrde de prote-
censuram sobretudo a moldura penal excessivamente 'elevnda; que os mo tra, de certo ção dos delitos qualificados pelo resultado. "
Capítulo 8 207
O estudo do tipo de injusto de omissão de ação supõe duas distin- a) o crit 'rio da causalidade p l qual exi t ção se há d t rminação
çõ fundam ntais: primeiro, distinguir ação e omissão de ação, concei- u d resultado; existe 01nissão de ação se um juízo de val r indj
tos apar nt 1nent irredutív is a um d nominador comu1n; s gundo, qu algu 'm deveria ter agido5; b) o crit ' rio do risco, p lo qual xist ação
no âmbito do conceito de omissão d ação, distinguir omissão d se há criação ou l vação d risco para o b m jurídico; existe omissão
ação p rópria, fundada no d v r jurídico geral de agir, atribuível a todas de ação se não há criação ou el vação de risco para o b m jurídico 6; c) o
as pessoas, e omissão d ação imprópria, fundada no dev r jurídico critério do dolo p l qual xi t ação se há uma atividade dirigida con-
especial de agir, atribuível xclusivam nt a pe soas definív is como tra a vítima; existe omissão d ação se nã h' int rvenção m processo
garantidores de determinados bens jurídicos em situação de perigo. u al ind p nd nt riad r d n para a vítima7 .
Por x mplo, nos crim s d imprudência xist imultan idad
ntre ação e omissão de ação: a ação lesiva do risco p rmitido ou do
dever d cuidado correspond à omissão de ação ad quada ao dever d
11. Ação e omissão de ação uidado ou ao ri co permitido - mas a exi ência de determinação causal
do resultado ou de criação/elevação de risco do resultado atribuível ao
Ação e omissão d ação são cone itos contraditórios que ser !a- aut r indica n rmalm nt uma ação imprud nt . Ao contrário, xist
cionam, segundo c'lebre distinçã de R.AD BRUCH, como A não omissão de ação nos seguintes exemplos: a) a mulher busca o marido
A 1: s A significa r alizar uma ação proibida, não A significa omitir a bêbado no bar, mas por causa d uma discussão abandona o marido
r alização de uma ação mandada. A contradição ntre ação e omissão
de ação assume forma plástica em ENGISCH 2 , que defin ação como
emprego de energia em determ inada direção , e omissão de ação como 3 H FT, trafrecht, 1994, p. 167· HE K/ I E D L ehrbuch des trafrechts,
1996, ap. 2, p. 598; RO , trafrecht, 2006, § 31, n. 2, p. 627.
não emprego de energia em determinada direção. Desse modo, a ação 4 WE E S/B U KE trafrecht, 1998, n . 708, p. 225, f: am em "não realizar
seria uma realidade empírica conhecível pelos sentidos; a omissão de detenninada atividade juridicamente exigida". No Brasil, a exceleme monografia de
TAVARE ,As controvérsias em tornodoscrimesomissivos, 1996, n. 19, p. 60, fu ndamenta
ação não seria uma realidade mpírica, mas uma expectativa frustrada a omissão d ação no rit ri axioló i d dever de agir" ral ou p ia!.
5 HAFT, trnji-echt, 1994,p.167-16 ;J H · KJWEI ' D, LehrbuchdesStmftechts,
1996,. § 58, II, 2, p. 603; RO , trafrecht, 2006, § 31, n. 1, p. 627. o Brasil, ver
TAVARE , As controvérsias enz torno dos crimes omissivos, 1996, n. 14, p. 44-46.
1 Vc , tmfrecht, 1994, p. 167; também, W ELZEL, D as Deutsche trrrfrecht, 6 Ver OTTO, GrundkursStrafrecht, 1996, § 9, I 2, n. 2, p. 144-145; ROXI , Strafrecht,
1969, § 26, I, p. 200. 2006, § 3 1, n. 1, p. 627. o Brasil, comparar TAVARES, As controvérsias em torno dos
2 E GIS H , Tun und Unterlassen, Fcstschrift fur G li , 1973, p. 170; JES H E K/ crimes omissivos, 1996, n. 18, p. 57-59.
, L ehrbuch des Strafrechts, 1996, § 58, II, 1, p. 601. 7 ROXI , Strafrecht, 2006, § 31, n. 1, p. 627.
no m iodo caminho e este morr af; · ad n ; rrego ao tentar seguir deixar de prestar assistência ( . .) à criança abandonada ou extraviada, ou
sozinho para casa; b) após servir grand quantidad de bebida alcoólica à pessoa inválida ou ferida) ao desamparo ou em grave e iminente perigo
a 1notorista de caminhão, o proprietário do bar não ünpede o prossegui- etc.); b) a omissão imprópria, e1n que a ordem de realizar ações prote-
mento da viag m daquele, qu morr m acid nte ao re ntrar na rodovia; toras d b ns jurídicos estaria implícita nos tipos l gais d r sultado,
c) proprietário entrega v ículo a mig 6 "bado, que morr m acid nt cuja d scrição indicaria, simultaneam nte, a regra da ação a xc ção
porque aquele não imp diu o amigo d dirigir mbriagado 8 • da omissão imprópria (por ex mplo, art. 121, CP: matar alguém) 10 •
Entretanto, hipóteses d interv nção em processos causais Essa posição ' comum na lit ratura: ROXI d fi omi ão
pr xist nt s pod 1n s r controv rtidas: a) apar lho d r spiração d própria p la d scrição 1 gal do tipo; a omissão imprópria p la d dução
paciente em estado de coma irreversível é desligado (1) p lo médico de tipos d resultado, com responsabilidad pelo r sultado (fundada
qu o ligou, ou (2) por t rceiro: se pelo m édico, xiste omissão d na posição de garantidor) corr spond "ncia da omissão com um fazer
ação porqu ar 1 vância não r sidiria na ação d deslígar o aparelho, ativo 1 1• a prática, o crit 'rio distintivo é a posição de garantidor, qu
1nas na 01nissão da ação d continuar o tratamento; s por terceiro (por não existe na omissão própria, atribuível a qualqu rum, fundamenta
exemplo, a mulher do paciente, a pedido deste), existe ação; 6) B lança a omissão imprópria, atribuível exclusivamente ao garantidor. Em
corda para salvar C da ar ia mov diça, mas solta a corda C morr : linhas g rais, as diferenças pod m s r assim indicadas:
s antes d C agarrar a corda, xist omissão d ação, p la ausência
a) a omissão de ação própria corresponde, inversamente, aos tipos d
d criação/ l vação de risco ou p la conclusão d qu B d veria t r simpl s atividad t 1n por fundam nto a solidariedad hu1nana
agido; se depois de C agarrá-la, xiste ação, por determinação causal entre os membros da sociedade, que engendra o dever jurídico geral
do resultado ou por criação/ elevação de risco do resultado 9 • de agir, cuja lesão implicar p n bilid d p nal dolosa pela omissão
da ação mandada: o d v r d agir ' definido no tipo 1 gal r p cri-
vo, como a omissão de socorro (art. 135, CP), o abandono de incapaz
III Omissão de ação própria e imprópria (art. 133, CP) tc. 12 ;
b) a omissão de ação imprópria corresponde, inversam nte, aos tipos
O Direito P nal utiliza du t ' ni a dib r nt s para prot g r de resultado e tem por fundam nto a posição de garantidor do bem
bens jurídicos: m r gra, a norma p nal proíbe a realização de ações jurídico atribuída a d tenninados indivíduos, qu ng ndra o dev r
lesivas d 6 ns jurídicos; por xc ção, a norma p nal ordena a realiza- jurídico especial de agir, cuja lesão implicar sponsabilidade penal pelo
ção de ações protetoras de bens jurídicos. o âmbito da realização d resultado (doloso ou imprudentet como se fosse cometido por ação:
açõ s prot toras d b ns jurídicos, xist m duas ituaçõ s distinta : a) s o pai não imped , mas pod imp dir o afogam nto do filho menor
a omissão própria, 1n que a ordem d r alizar ações prot toras de b ns
jurídicos apar c explícita em tipos legais (por xemplo, art. 135, CP: 10 N sse sentido, TAV RE As controvérsias em torno dos crimes omissivos, 1996, n. 12,
p. 36.
11 RO J Strafrecht, 2006, § 31, n. 2 e 16.
8 Maior d calh , OXI , Stmftecht, 2006, § 31, n. 1-2, p- 627; HAFf, Strafrecht, 1994, 12 ROXl , trafrecht, 2006, § 31, n. 2 e 16; JE HE K/WEI E D, Lehrbuch des
p. 168-169; J.ESCH K/WEIGEND Lehrbuch des trt1frechts, 1996, § 58, II 2, p. 603. Strafrechts, 1996, § 58, III, 1-2, p. 605-606; HAFT, Straftecht, 1994, p. 167. o
9 HAFT, traftecht, 1994, p. 16 · JE H K/WEI D Lehrbuch des trafrechts, Bra il, comparar TAV RES As controvérsias em torno dos crimes omissivos, 1996, n. 20,
1996, § 58, II, 2, p. 603; OTTO, Grundkurs Strafrecht, 1996 § 9 I 2, n. 6-10, p. 146. p. 63-64.
na piscina doméstica, responde pelo resultado de 1norte por dolo ou a) se os tipos der sultado são lidos como descrição de ações produtoras
imprudência 13 - e não por simples omissão de socorro. do resultado, então a omissão de ação imprópria configura, necessa-
riamente, analogia proibida pelo princípio da legalidade porque a lei
penal não d fin a omissão d ação imprópria, cuja exist "ncia s ria
ilegalm nte deduzida dos tipos 1 gai 16 ;
IV A omissão de ação imprópria e o princípio da
6) se os tipos de resultado são Lidos como descrição simultânea de ações
legalidade de omissões de ação produtoras do resultado (por x mplo, matar al-
guém por ação proibida ou por omissão de ação mandada, na posição
A omissão de ação imprópria par c m conflito com o p rincípio da de garantidor do b m jurídico), então a produção do resultado por
legalidade, nas suas dimensões de proibição d analogia d proibição ação e a não evitação do resultado por omissão de ação constituiriam
d indeterminação p nal, como indica a dogmática cont mporân a 14 • equivalentes l só s de b ns jurídicos 17 , igual m nt compatíveis com
Mais ainda: um setor importante da literatura afirma a inconstitucio- o princípio da 1 galidad : a posição de garantido r s ria caract rística
nalidade dos crim s de omissão de ação imprópria porqu constituiriam típica geral de autoria dos tipos de resultado (art. 13, § 2°, CP), que
analogia proibida pelo princípio da legalidade e, ainda 1nais relevante, indep nd d r p tição nas d finiçõ s legais resp e tivas 18 •
porqu violariam a proibição de indeterm inação dos tipos l gais 15•
Como os tipos legais indicados admitem r alização por ação
por omissão de ação, a hipót s d analogia proibida parec xcluída.
bens jurídicos atribuíveis ao garantidor sob aquel s fundamentos legais o ponto de vista do p rincípio da determinação, não é
- ou seja, a lei penal não indica os tipos legais de resultado de lesão inquestionável, é também afirmado frequentemente
atribuíveis ao garantidor do bem jurídico. Esse defeito da legislação na literatura."
penal par ce infringir a proibição d indeterminação legal do princípio A lei penal alemã prevê, al ' m dos crit ' rios do dever de garantia,
da l gal· dad p rqu ningu 'm sab (a) s todos os b ns jurídicos dos tamb ' m uma cláusula de correspondência - p la qual a não evitação
tipos de resultado são atribuíveis ao garantidor - o que s ria absurdo, do resultado pelo garantidor d ve corr spond r à realização ativa
ou (b) s ap nas os b ns jurídicos mais important s - n ss caso, quais do resultado-, mas a crítica qu r sab r (a) quando o garantidor deve
e de que modo? Logo, não se sabe o que, nem quando critninalizar garantir e (b) quando a 01nissão co rresponde a um faze r, que a l i não
fundado na omissão d ação imprópria. indica. A lei penal brasil ira define apenas os fundam ntos do dever
Mais ainda, ar lação de causalidade entre ação omitida e resul- jurídico de vitar o r sultado (art. 13, § 2°, CP): igualm nt , não
tado típico '. hipotética - portanto, fundada m juízo de probabilidad d termina (a) quando os resultados de lesão dos b ns jurídicos po-
de xclusão do resultado pela realização imaginária da ação mandada 19 dem ser atribuídos ao garantidor e (b) quando a omissão corresponde
-, que pode ser definido como um juízo p róximo da certeza, mas será a um fazer ativo - também porque não exige nenhuma cláusula de
apenas juízo , ainda qu próximo da certeza, será n e ssariament , correspondência e m a l i ai má.
incerto 20 . Em face dessas vident s limitações legais, a única forma de
2.1. O probl ma da indeterminação legal dos r sultados d 1 são d bens conciliar a omissão de ação imprópria co1n a p roibição de indeterminação
jurídicos atribuíveis ao garantidor afeta também outras legislações, com do princípio da legalidade seria reduzir a responsabilidade penal
críticas semelhantes. Por exemplo, idêntica lacuna do Código Penal do garantidor aos b ns jurídicos individuais mais important s, como
al mão ' obj to d fr qu nt crítica, qu qu stiona a compatibilidade a vida e o corpo do sujeito garantido: a extensão da garantia a todos
do§ 13 com o p rincípio da determinação legal, como diz ROXIN 21 : os tipos de resultado de lesão, incluindo o patrimônio, a sexualidad ,
ou - ainda mais grave - o sist ma financeiro, o meio ambi nte te.,
ªPois a lei indica como p ressupostos da punibilidade
da omissão apenas os critérios do "dever de garantir" e mbora t cnicam nte possív 1, itnplicaria um d v r jurídico indeter-
da "correspondência': sem dizer quando se "tem .de ga- minável excessivo, incompatív 1com a Constituição da R pública 22 •
rantir que o resultado não ocorra': e quando a omissão 2.2. A chamada p robabilidade p róxima da certeza da omissão impró-
ªcorresponde" a um fazer. Que a regulação legal, sob pria - única possível em uma causalidade hipotética e, por isso, tam-
bém denominada quase causalidade - representaria crit 'rio de juízo
det rminado p la strutura da omissão de ação imprópria: a atribuição
19 Ver J I-j K./ l D, Lehrbuch des Strafrechts, 1996, § 58, IV, 3, p. 609. do r sultado ao garantidor do b m jurídico não podes bas ar m
20 O TA JU NIOR, Comentários ao código penal !, 1989, p. 134, fala em "desrespeito aos
princípios da certeza do direito e da legalidade", sugerindo previsão l al do ri u causalidade real - pres nt na r al ização concreta da ação mandada
admitem comissão por omissão.
21 ROXI I , Strafrecht. Beck, 2003, v. II,§ 3 1, IV, n. 32, p. 637: "D enn das Gesetz nennt
ausente na omissão de ação-, 1nas m causalidade hipotética fundada
ais Voraussetzungen der Unterlassungsstrajbarkeit nur die Kriterien des ''Einstehenmussens"
und des "Entsprechens': ohne zu sagen, wann man "dafur einzustehen hat, dass der Erfolg
nicht eintritt': und wann das Unterlassen dem Tun ''entspricht". Dass die gesetzliche 22 Nesse sentido, TAVARE As controvérsias em torno dos crimes omissivos, 1996, p. 8 1-
Regelung unter dem Gesichtspunkt des Bestimmtheitsgrundsatzes nicht unbedenklich ist, 82, resuinge o deve r de garantia, em todas as hipóteses de omissão de ação imprópria,
wird denn auch in der Literatur vielfach betont. " aos ''delitos contra a vida, a integridade corporal e a liberdade. ,,
em juízo de probabilidade próxima da certeza de exclusão do resultado riza-se por uma corr spond"ncia assimétrica, d finida por elementos
pela r alização hipotética da ação mandada. Assim, se o controlador típicos comuns e por elementos típicos específicos da omissão de
de tráfego ferroviário, por exemplo, não comunica a partida do trem - •
açao 1mpropna. I •
o motoqu iro 'atropelado porqu a cancela não foi fichada, pod r- Os lem ntos típicos comuns do tipo objetivo da omissão de ação
-s -ia afirmar que ar alização da ação mandada xcluiria o r sultado própria da 01nissão d ação imprópria são os s guint s: a) situação d
com probabilidade próxima da certeza, segundo a t oria dominante23 •
perigo para o bem jurídico; b) poder concreto de agir; c) omissão da
A hipót se funciona assim: se a realização da ação mandada evitaria ação mandada; o tipo objetivo da omissão de ação imprópria com-
o resultado com probabilidade próxima da certeza, ntão o resultado
pr nd , adicionalm nt , os 1 m ntos típicos específicos s guint s: d)
' atribuív 1ao autor; m caso contrário, o princípio in dubio pro reo
resultado típico; ) posição de garantidor do be111 jurídico 26 •
impede a atribuição do resultado. Mas é preciso esclarecer: a causali-
dad 'hipotética a xclusão provável dor ultado, ainda qu próxima O tipo subj tivo da omissão d ação tamb ' m ' assim' trico: na
da certeza, ' um simples juízo , portanto, s mpre 1nc no. omissão d ação própria, soment dolo; na omissão de ação imprópria,
dolo e imprud "ncia 27 •
Um método antigo para dl t rminar u lid d da omissão
imprópria 'a teoria da interferência, s gundo a qual a causalidad con-
sistiria na repressão do impulso de ação que liminar ia o fator excludente
1. O tipo objetivo da omissão própria e imprópria:
do resultado; a crítica indica qu não xist qualqu r interferência
na m dalida , d l d imprudência inconsci nte da omissão elementos comuns
imprópria. Hoje domina a teoria da condição regular (a chamada ge-
setzmiissige Bedingung), pela qual a não realização da ação excludente 1.1. Situação de perigo par.a o bem jurídico. A realidade determi-
do resultado constituiria a ligação legal com o resultado, quival nte nan t do d v r d agir 'a situação de perigo para o b m jurídico - ou
à causa do r sultado 24 . o CP brasil iro, a t oria da equivalência das situação típica, conforme a t oria dominant 28 , embora essa situação
condições, adotada p lo L gislador para a ação a omisão d ação, pa- constitua apenas um dos compon ntes do tipo - assin1 d finível:
r c xcluir a t oria da condição regular u alid d a) na omissão d ação própria a situação d p rigo para o bem
• ~ • I •
para a om1ssao 1mpropna. jurídico aparece explícita no tipo legal: deixar de prestar assistência ( ..)
à criança abandonada ou extraviada) ou à pessoa inválida ou ferida) ao
desamparo ou em grave e iminente perigo etc. (art. 135, CP);
V Estrutura dos tipos de omissão de ação
A strutura dos tipos de omis ão d ação própria imprópria ' 46, II, ns. 28-107, p. 188-209, e III , n. 108-120, p. 209-211 ; ~--~1B
formada, igualment , por dimensões objetiva e subjetiva25 e caract - trafrecht, 1998, § 16, II, 11. 707-732, p. 225-233.
26 ROXI , trafrecht, 2003, v. II § 31, VIII, n . 176-183.
27 ROXI , Strafrecht, 2003, v. II, § 31, VIII, n. 184-200.
28 Ver, por ex mpJo, J H K/WEI Lehrbuch des Strafrechts, 1996, § 59, I,
23 Ver, entr outr , HAFT, Strrtfrecht, 1994, p. 172. p. 6 15; RO , trafi"echt, 2003, v. II,§ 31, VIII, 11. 177; WELZEL, Das Deutsche
24 ROXI , Strafrecht, 2003, v. II,§ 31 , V, n. 37-43. Strafrecht, 1969, § 27, I , 1, p. 204. o Brasil, TAV. RE , As controvérsias em torno dos
25 RO , Strafrecht, 2003, v.. II, § 31, VTTT . n. 176-~ O· OTTO, Grundkurs Strafrecht, crimes omissivos, 1996, p. 77; no sentido do texto, IRl DOS SANTOS, Teoria
1996, § 9, I, 3, n. 13-14, p. 147; NIA RACH/GOSSEL/ZIPF, Strafr-echtII, 1989, § do crime, 1993, p. 42-45 .
b) na omissão de ação imprópria a situação de perigo para o poder d agir e, portanto, a ordem dos v rbos está invertida; segundo,
bem jurídico está implícita no resultado descrito no tipo legal - ou o dever jurídico de agir é um cone ito normativo fundado na realidad
seja, é deduzida de um tipo de resultado: matar alguém (art. 121, concreta do poder ou capacidade de agir e, portanto, a referência ao
CP), r sultado de lesão de bem jurídico produzív 1 por ação proibida dever seria d sn c ssária.
ou por omissão de ação mandada2Y. Por exemplo, a existência d um
ciclista t rido na rodovia indica a situação de perigo pr ssuposta no 1.3. Omissão da ação mandada. Ar aliz ção da ação mandada signi-
dever jurídico de agir da omissão de ação, m g ral. fica o cumprim nto do d v r jurídico d agir - logo, a não r alização
da ação de prot ção do b m jurídico em situação de perigo, por um
1.2. Poder concreto de agir. O pod r concr to de agir exprim a autor concr tam nt paz d a ir, significa o d scumprimento do d v r
capacidade de realizar a ação mandada, definida p la natureza da jurídico de agir, que define a 01nissão de açã m g r 31. No exemplo
ação condiçõ s p ssoais do autor: a) a ação mandada 'd t rminada citado, s o 1notorista não socorr dir tam nt o ciclista fi rido, n m
pelas circunstâncias objetivas da situação de p rigo: s o motorista chama um médico ou ambulanci nem a i a polícia, está caracterizado
não pode prestar auxílio direto ao ciclista fi rido, pod chamar um o tipo obj tivo da omissão d ação própria (a omissão de ação imprópria
médico ou uma ambulância ou avisar a polícia etc.; b) ar alização da xig , ainda, outros 1 m ntos), ind p nd ntem nte d o ciclista ferido
ação mandada d v s r pessoalmente possível, excluída em hipóteses d vir as r socorrido por outra pessoa ou morr r p r f: t d rro 32 •
impossibilidade objetiva (s o motorista passeia em Curitiba não pod
socorr r o ciclista Drido na Via Dutra) d incapacidade subjetiva
relacionada à força física, ao conhecimento técnico e ao potencial 2. O tipo objetivo da omissão de ação imprópria:
intelectual do autor (sujeitos inconscientes, algemados ou paralíticos; elementos específicos
incapacidad t 'cnica d op rar m ios d ajuda, como barco , xtintor
de incêndio, scadas automáticas; in xistência ou d feito dos m ios de
O tipo obj tivo da omissão d ação imprópria xig , como indi-
ajuda disponív is tc.) 30 . A 1 gislação brasil ira consagra ss r quisito
cado, mais dois lementos: o resultado típico e a posição de garantidor.
no art. 13, § 2°, CP:
2. 1. Resultado típico. O tipo d omissão de ação imprópria exig ,
Art. 13, § 2°. A omissão épenalmente relevante quando
ainda, a produção do resultado típico como consequência causal da
o omitente devia e podia agir para evitar o resultado.
omissão da ação mandada: o i lista ferido (r conh ciclo p lo motorista
Ar dação da norma ' d fi ituosa: primeiro, o dever pressupõe o como filho dele) morre porqu o motorista omite ar alização da ação
d prot ção. A imputação objetiva do resultado pr ssupõ o risco pr -
Strafrecht, 2003, v. II,§ 31, III , n. 16 e VIII, n. 177. xist nt na situação d p rigo (água, fogo, animais te.) ar alização
30 RO , trafrecht, 2003, v. II, § 31, VI 1 n. 1 1, fala m "capacidade individual do risco no r sultado típico - em r lação d causalidade material com
de ação"· HAF , trafrecht, 1994, p. 173 f: a m "possibilidade de ação", excluída
em situaçó s d "incapacidade geral" ou "individual"; ]E H E K/WEIGE D,
Lehrbuch des Strafrechts, 1996, § 59, II , 2, p. 6 16, também falam em "capacidade
individual de ação"·\: /BE LK , Stra{recht, 1998, n. 708 , p. 225, referem- 31 ROXI , trafrecht, 2003, v. II , § 31, VIII, n . 17 ; JK CHECK/WEIGE D,
se à "possibilidade fisico-real" de agir. o Bras iÍ. TAV , As controvérsias em torno Lehrbuch des Strafrechts, 1996, § 59, II , 1, p. 616; ..,...,,...,,_,,._, Das Deutsche Strafrecht,
dos crimes omissívos, 1996, p. 75, fala em "real possibilidade de atuar'; Z ARONI/ 1969, § 27, I, 2, p. 204. No Brasil, comparar TAVARES, As controvérsias em tomo dos
PlE GELI, Manual de Direito Penal brasileiro, 1997, n. 294, p. 540, referem-se à crimes omissivos, 1996, n. 24, p. 75 .
"conduta (. ..) fisicamen te possível". 32 Ver OTTO, Grundkurs Strafi"echt, 1996, § 9, I, 3, n. 12-5 , p. 147 .
a situação de perigo, mas 1n simples r lação de causalidade legal (ou b) o critério material ou moderno trabalha com duas font s
hipotética) com a omissão imprópria do autor33 . alternativas do dever de garantia: l) por um lado, garantia de prote-
ção/ guarda de pessoa determinada (ou de bem jurídico determinado)
2.2. Posição de garantidor. os tipos d resultado, o Direito P nal
utiliza duas técnicas para prot ção d bens jurídicos: por um lado, contra situações de perigo indeterminadas; 2) por outro lado, garantia
proíbe ações 1 sivas de b ns jurídicos; por outro lado, ordena açõ s
de s gurança/vigilância de fontes de perigo determinadas para prot g r
pessoas indeterminadas (ou bens jurídicos indeterminados) 36 •
protetoras de bens jurídicos - porque a não evitação do resultado por
omissão de ação mandada equivale à produção do resultado d lesão O crit / rio fo rmal oferece s gurança jurídica, mas a rigidez das
do b m jurídico por ação proibida. A equival "ncia da não viração cat goria par c xplicar a críticas da li t ratura: a) 1 is não p nais
do r sultado por omissão de ação à produção do resultado por ação não podem criar responsabilidade penal pela não evitação dor sultado
fundam nta-se no dever jurídico especial de agir para evitar o r sultado, d lesão do b m jurídico: a 1 i penal defin deveres de ação (a omis-
atribuído ao garantidor do b m jurídico, nos tipos de omissão d ação ão d socorro, por x mplo), mas não d fin dev r s d evitação do
imprópria. Assim, a pr s nça r al do garantidor do bem jurídico na resultado; 37 b) não seria o contrato que determina o dever d garantidor,
situação de perigo tem um duplo significado concreto: a) o titular do mas a assunção fática da garantia. O critério material é abrangente e
bem jurídico garantido pod xpor-s a p rigos qu , d outro modo, fl xív 1- , por isso, dominante na lit ratura -, mas a natureza difusa
viraria; b) todos os d mais garantes (por ex mplo, o pai/má qu das cat gorias conceituais qu o estruturam r duz a segurança jurídica38
d ixa o filho m nor sob os cuidados do professor d natação) podem , co1n 1nais razão, não pod funda1nentar ar sponsabilidad p nal
confiar na ação fetiva do garantidor do bem jurídico m situaçõ s pela não viração do resultado.
concretas de perigo - por isso, estão liberados do dever jurídico de A legislação brasileira adotou o critério formal para definir a
impedir o resultado 34 . po ição d garantidor, d s modo:
A posição de garantidor é 1 m nto do tipo da omissão de ação Art. 13, § 2°. (..). O dever de agir incumbe a quem:
imprópria - portanto, uma d finição 1 gal da posição d garantidor '
a) tenha po r lei obrigação de cuidado, p roteção ou
ig"ncia d p in ípio d l galidad 35 • d gmá ica p n 1d n olv u
vigilância;
dois crit ' rios para definir a posição de garantidor nos tipos de omissão
de ação imprópria: b) de outra forma, assumiu a responsabilidade de im-
pedir o resultado;
a) o crit 'rio formal ou clássico consid ra a lei, o contrato e a ação
precedente perigosa como fontes do dever de garantia; c) com seu comportamento anterior, criou o risco da
ocorrência do resultado.
33 RO , Strnfrecht 2003, v. II, § 3 1, II, n. 1 2 · J a) Obrigação legal de cuidado, proteção ou vigilância. A lei,
Lehrbuch des Strafrechts, l 996, § 59, III, p. 617-620; WES KE trafrecht,
1998, ns. 711-712, p. 226-227. No Brasil, TAVARE As controvérsias em torno dos
crimes omissivos, 1996, n. 24, p. 78-79 .
34 J H [ Lehrbuch des trajrechts, 1996, § 59, IV, 1, p. 620. 36 HAFT, tmfrecht, 1994, p. 176-178; J CHECK/WEIGE D, Lehrbuch des
o Brasil, TAVARE ; As controvérsias em torno dos crimes omissivos, 1996, n. 24, Strafrechts, 1996, § 59, IV, 2-5 , p. 621-628; OTTO, Grundkurs tra.frecht, 1996, § 9,
p. 78 -79. II-III, n. 48-86, 154-165.
35 omparar TAVARES ontrovérsias em torno dos crimes omissivos, 1996, n. 22, 37 Compare ROXIN , trafrecht, 2003, v. II,§ 32, II, n. 11.
p. 66-70. 38 Ver, por exemplo, OTTO, Grundkurs Straftecht, 1996, I, 4, n. 25-29, p. 149- 150.
como font mais geral da posição de garantidor, abrange as hipótes s às crianças etc. 42 ; b) as relações comunitárias estreitas, sob a forma de
de obrigação de cuidado, proteção ou vigilância, em especial no âmbito comunidades de p erigo (o guia em relação aos turistas ou participantes
das relações de farnília, entre casais, parentes em linha reta e irmãos 39 . de expedições) ou de com unidades de vida (o dono da casa e1n relação
Historicament , o d v r jurídico de cuidado tem por obj to as r laçõ s às pessoas acolhidas no âmbito dar sid "'ncia, excluída a m ra r lação
r cíprocas ntr ase nd ntes <lese nd ntes, cônjug s colat rais, de coabitação em p nsões ou r públicas; os prot ssor s m relação aos
para xcluir perigos contra a vida o corpo do garantido - mas não alunos no ambito durant o funcionamento da escola etc.)43 .
inclui os perigos criados p lo protegido contra terceiros (agressões) ou e) Comportamento ant rior criador do ri co do resultado.
contra si 1nesmo (suicídios), se definíveis como ações livres de sujeitos
O cone ito d comportamento co1npr nd a ação a 01nissão d
capaz s d compre nsão. Por outro lado, o d v r jurídico d p roteção
ação p recedente perigosa, desd qu o perigo de resultado seja obj -
e vigilância é atribuído aos pais ou responsáveis em relação aos filhos tivament previsív 144 .
1n nor s: d v r d p roteção contra p rigos para a vida o corpo dos
filhos; d ver de vigilância dos filhos m r lação a p rigos d stes contra A ação precedente perigosa, fundada na proibição geral d 1 são
a vida e corpo d terceiros40 . (neminem laede), d ve ser antijurídica45 ou contrária ao d v r46 , s -
gundo a opinião dominant - mbora r sp itáv 1opinião minoritária
Mas ' n e ssário 1 mbrar dois pontos: primeiro, a xig "'ncia tamb ' m admita criação de perigo conforme ao direito, porque açõ s
de lei como fonte da obrigação de cuidado, proteção ou vigilância
nos limites do d v r de cuidado ou do risco pennitido não xcluiriam,
significa lei fo rmal, corno ato do Pod r Legislativo, co1n xclusão
de modo absoluto, o dev r de s gurança, por x 1nplo, na conduta
de atos normativos infi rior s (d cr tos, r gulam ntos , r soluções , precedente justificada pelo estado d e necessidade47 • A hipótese mais
instruções etc. ); segundo, o princípio da legalidade exige lei fo rmal
importante de ação p recedente p erigosa, como fonte da posição de
de natureza penal, porque somente leis penais formais pode1n definir
garantidor, con ist no p rigo para vítimas d acid nt d trânsito,
a punibilidade da omissão de ação imputáv 1ao garantidor4 1• causado por lesão do risco p rmitido ou do dev r d cuidado: a mort
b) Assunção da responsabilidade de impedir o resultado. A da vítima d acid nt d trânsito d t rminada por omissão da ação
r sponsabilidad de impedir o resultado podes r assumida por ato d d prot ção do autor da ação p recedente perigosa, com consci "' ncia da
vontad (contratual ou xtracontratual) do garantidor, mas a assunção possibilidad dor sultado d mort daqu la, implicar sponsabilidad
fatica da proteção ' decisiva porqu a confiança na ação do garante cria por ho1nicídio doloso cometido por omissão porque constitui 01nissão
r laçõ s de d p nd "' ncia encoraja a exposição a riscos qu , de outro de ação fundada na posição de garantidor 48 - e não simpl s homicídio
modo, seriarn evitados. Essa font do dev r de agir inclui as seguint s
hipót ses: a) a livre assunção da p roteção do m 'dico em relação ao pa- 42 H FT, trefrecht, 1994, p. 17 ; J H CKJWEIGE O, Lehrbuch des tra{rechts,
ci nt , d al a-vidas m relação ao banhi tas, da baby-sitter m relação 1996, § 59, IY, 3c, p. 623; OTTO, Grundkurs Strtt_fecht, 1996, § 9, II, 3, 11. 64-66 .
43 JES HE K/WEI E D, Lehrbuch des traftechts, 1996, § 59, IV, 3b, p. 622-623;
OTTO, Grundkurs trafrecht, 1996, II, 1, 11. 48-61, 154-157, e II , 2, 62-63, p. 157.
44 OTTO, Grundkurs trafrecht, 1996, § 9, III, 1, n. 76-84, p. 16 1- 164.
45 LS/ L , Strafrecht, 1998, n. 725, p. 23 1.
39 As im, JESCHECK/WEIGE D Lehrbuch des trofrechts, 1996, § 59, IV, 3a, p. 622; 46 JE HEC K/WEI E D, Lehrbuch des __trafrechts, 1996, § 59, IV, 4a, p. 625 .
HAFT, Strnfrecht, 1994, p. 178; OTTO , Grundkurs tmfi'echt, 1996, § 9, II, 1, 11. 48- 47 Assim, por exemplo, H - O EL-ZIPF, Strafrecht II, 1989, § 46,
55 , p. 154-1 55. 11s . 95-99, p. 204-206; ver OTTO, Grundkurs trafrecht, 1996, § 9, III, 1, n. 79-82,
40 OTTO, Grundkurs trefrecht, 1996, § 9, II, 1, n. 56-60 e III 4, n. 92-93 . p. 162-164; com are RO I , Stra_fi"echt, 2003, v. II,§ 32, V, n. 186-188 .
41 ROXI , Strafrecht, 2003, v. II,§ 32, II, 11. 10-16. 48 Ver J J..L. ,'1.~a.,WEl Lehrbuch des Strafrechts, 1996, § 67, III, 4, p. 723 .
imprudente com p na agravada (art. 302, § 1°, III, CTB). Finalmente, e estradas em relação à sinalização de advert "ncia respectiva, (3)
ações dentro dos limites do risco permitido ou conformes ao dever do proprietário do veículo entregue a motorista não habilitado ou
de cuidado, assim como ações justificadas (lesão corporal produzida colocado em circulação sem condições de segurança, em relação
no agressor, m situação d legítima d fi sa), não ng ndram o dev r aos danos resultan t s de aciden t s de trânsito te. 53 .
especial d garantia da omissão d ação impróprias gundo a literatura
dominant 49 , mas não exclu mo d ver geral d socorro da omissão
de ação própria 50 • 3. O tipo subjetivo da omissão de ação
Hipót s controv rtida ' a v nda d b bidas alcoólicas m
r lação aos perigos criados pelo álcool para o bêbado ou do bêbado O tipo subjetivo da omissão de ação p rópria é o dolo, da
para terc iros: a) em relação aos p erigos para o bêbado, parece g ral omissão d ação imp róp ria, o dolo e a imprudência. Segundo a t oria
a tese de que o fornecimento de álcool cria o dever de garantia para dominante, o dolo não precisa ser constituído de consciência e de
o fornecedor (proprietários de bares ou restaurantes), se o estado vontade (co1no nos tipos de ação), em ambas modalidades de omissão
de alcoolização do freguês é evidente; b) em relação aos perigos do de ação: basta deixar as coisas correrem com conhecimento da situação
bêbado para t rceiros, as opiniõ s variam entre a proposta d excluir típica de perigo p ara o hem jurídico e da capacidade de agir (sufici nt s
a posição d e garante do forn e dor 51 e a proposta de condicionar na omissão de ação p rópria) , mais o conhecimento do resultado e da
ssa exclusão ao estado d ünputabilidad do bêbado 52 . posição de garante (n c ssárias na omissão d ação imp rópria) porqu
A om issão de ação precedente perigosa, como fonte da posição dolo como vontade consciente de omitir a ação mandada constituiria
de garantidor, tem por fundamento a confiança da comunidade na exceção rara (o médico decide recusar paciente em estado grave sob o
capacidad do ga ra nte d controlar p rigos produzidos por p s oas argumento de inexistência de leito livre) 54 .
submetidas ao s u poder ou de controlar perigos exist ntes em Na legislação penal brasileira, o conteúdo do dolo nos crimes
1n canismos, ng nhos ou animais m ár as sub1n tidas ao s u de om issão de ação não pode ser diferente do conteúdo do dolo nos
domínio - por x mplo: a) o proprietário não ilumina escada da crimes de ação porque se a consciência é a direção típica inteligente, a
r sid "ncia hósp d cai e quebra a p rna, ou não r para d efi ito vontade é a nergia psíquica que produz a ação e a omissão de ação
do telhado e u1na telha d spenca sobre a cabeça d convidado; típica dolosa - aliás, a única interpr tação compatível com a d finição
b) os p rigos criados pela omissão de control ou cuidado ( 1) do do dolo, no art. 18, I, CP
proprietário de animais ferozes em r lação a danos sobre tercei-
3.1. Espécies de dolo na omissão de ação. O dolo nos crim s d
ros, (2) dos responsáveis por obstáculos físicos m ruas, rodovias
omissão d ação existe sob as mesmas modalidades admitidas para os forma do art. 20, CP, mas, na omissão de ação imprópria, preciso dis- 1
crimes de ação: a) dolo direto de 1 ° grau, se o resultado típico coin- tinguir: o erro inevitável exclui o dolo e a imprudência; o erro evitável
cide com o fim proposto pelo autor; b) dolo direto de 2º grau, se o exclui somente o dolo, admitindo punição por iinprudência - sempre
r sultado típico ' repr s ntado como certo ou necessário p lo autor; possível, com a limitação da posição de garantidor à proteção da vida
c) dolo eventual, s o autor consente na produção de resultado típico do corpo 59 .
r pres ntado como possível efeito da ação omitida 55 •
3.2. Objeto do dolo na omissão de ação. O dolo na omissão própria
na omissão imprópria t m por obj to comum os s guint s 1 m nto VI Conhecimento do injusto e erro de mandado
do tipo objetivo: a) a situação de perigo para o bem jurídico (o u situação
típica); b) o poder concreto de ação para prot ger o bem jurídico m
O conhecimento do injusto, como 1 m nto e ntral d culpa-
ituação de p rigo; c) a omissão da ação mandada para prot ção do
bilidad , exist como conh cim nto do dever jurídico geral de agir,
be1n jurídico 56 .
na 01nissão de ação própria, , como conhecim nto do dever jurídico
O dolo na omissão de ação imprópria tem por obj to específico especial de agir para evitar o resultado, na omissão de ação imprópria.
os s guint s elementos adicionais característicos do tipo objetivo: a) o O rro sobr o dever jurídico d r alizar a ação 1nandada, m a1nbas as
resultado de lesão do bem jurídico; b) a posição de garantidor do bem modalidad s d omissão d ação, constitui rro sobr o dever jurídico
jurídico em p rigo 57 . de agir , portanto, erro de mandado - e não erro de proibição, co1no
3.3. O erro de tipo na omissão de ação. O dolo nos tipos de omissão ocorr nos crim s d ação.
de ação stá exposto à mesma r lação de lógica exclusão entre conheci- Nos tipos de ação, o dever de omitir a ação proibida é, geralmen-
mento e erro dos tipos dolosos d ação: se o dolo xige conh cim nto te, claro, mas nos tipos de omissão de ação o dever der 1z r ção
(a) da situação típica de perigo para o hem jurídico, (b) do poder con- mandada ', normalment , obscuro para o d in ário da orma p n l
creto de agir (c) da omissão da ação mandada (na omissão d ação - e pe ialment m rime omissivos próprios contra a ordem conômi-
própria e imprópria) e, adicionalmente, (d) do resultado típico e (e) ca, o meio ambiente ou outros setores do Direito Penal especial- e,
da posição de garantidor (na omissão de ação imprópria), então o rro por ss motivo, a evitabilidade do rro ' menor60 , d terminando a
sobr qualqu r d ss s le1n ntos do tipo d 01nissão d ação própria exclusão ou a redução do juízo d r provação. Ess problema - ' m
e imprópria (evitável ou inevitável) exclui o dolo 58 • da dificuldad ou da impossibilidad d distinguir erro de proibição
D fi itos de conhecimento por aus "ncia ou insufici "ncia d r pr - erro de tipo nessas áreas do Direito Penal especial - está na origem de
s ntação da realidad , como desconhecimento dos elem ntos fáticos, propostas d tratar o erro de mandado sobr d v r s tributários, por
descritivos ou normativos, do tipo legal, exclu m, sempre, o dolo, na xe1nplo, co1no erro de tipo, exclud nt do dolo 61 •
VII Tentativa e desistência na omissão de ação diferente passa, necessaria1nente, pela mudança da definição legal 67 .
furto de coisa de grand valor, assim como a realização do tipo básico a perspectiva vitimológica do 1 gislador da jurisprudência para
de um crime tem a mesma antijurídicidade formal de suas variaçõ s definir e interpretar tipos legais e hipóteses de redução do injusto
privilegiadas ou qualificadas porque são ações igualinente contrárias ou de exclusão da antijurídicidade do fato típico: por exemplo, a
ao Direito; mas a ext nsão variáv l da l são de b ns jurídicos m cada tipicidad da falsificação de mo da xige fabricação d dinheiro
uma d ssas hipótese determina dit rent s cont údos d injusto , por- com apar "ncia de verdad iro e, portanto, com pot ncial d viti-
tanto, div rsas antijuridicidades materiais: por x mplo, furto d coisa mização na circulação financeira, inexist nte m casos de falsifica-
de grand valor tem maior conteúdo d injusto que furto de coisa d çõ s grosseiras; o cons ntimento real do ofendido xclui a própria
pequeno valor; tipos qualificados possuem conteúdo de injusto 1naior necessidade de proteção do bem jurídico, como é o caso d lesões
qu tipos básicos ou privilegiados te. A distinção é important por corporais em cirurgias, sport s etc.; a auto xposição a p rigo ou a
várias razões: primeiro, indica diferenças conceituais entre antijurídi- xposição consentida a perigo de outrem imp dem a atribuição do
cidade (qualidad invariáv l qu xist ou não xi t na ação típica) tipo obj tivo; nfi1n, a provocação do agr dido pod xcluir ou, d
injusto (conteúdo variáv 1da lesão do b m jurídico) 3; segundo, por qualqu r modo, inRu nciar a legítima defi sa contra o agr ssor tc. 7 .
suas consequ "ncias práticas na aplicação da l i penal: a antijuridicidad 1.4. Unidade e áreas neutras do Direito. Os conceitos opostos de
abstrata (1n ra lit ralidade da lei) podes r desconsid rada m situaçõ s
juridicidad d antijuridicidad r lacionam-s a alguns t mas g rais,
sp cíficas d in xistência ou de insufici "ncia do injusto concr to,
como a qu stão da unidade do ordenam nto jurídico e o problema
co1no ocorre nas hipót ses d ações socialmente adequadas e, d modo da existência d áreas livres ou neutras no Direito.
sp cial, nos casos d d litos d bagat la abrangidos pelo p rincípio da
insignificância - por x mplo, 1 ó s corporais mínima (arranhá s, A unidade do ordenam nto jurídico parece constituir axioma
equimoses te.), furto d coisas d pequeno valor, injúrias no âmbito do pensamento jurídico moderno: a regra d que a juridicidade ou
familiar, jogos d azar co1n valor s módicos, doaçõ s ou pr s nt s antijuridicidad d qualqu r ação ' válida para o Dir ito, m g ral,
natalinos a funcionários públicos, como carteiros, lixeiros etc. 4 . xcluiria hipóteses de antijurídicidades sp cíficas, liminando, as-
sim, a possibilidad d contradiçó s no Dir ito. Entr tanto, autor s
1.3. Antijurídicidade e vitimologia. Além dis o, mod rnas mais antigos, como ENGISCH 8 , indicam qu ssa t s não staria
p qui as vitimológicas d stacam a contribuição ou inRu "ncia d finitivam nt d monstrada, autores cont 1nporân os, como
da vítilna para o fato crilninoso, indicando hipóteses em que o
GUNTHER9, por exe1nplo, 1nostram a co xist "ncia contraditória de
comportam nto da vítima pod d scaract rizar a tipicidad ou,
juridicidad e d antijurídicidade na mes1na ação: o cons ntim nto
no setor da antijurídicidade, r duzir o conteúdo d injusto da presumido d adol se nte relativam nte incapaz na r alização de dano
antijurídicidade material, ou xcluir a própria antijurídicidade
em objeto de sua propri dad não exclui a antijuridicidade civil ,
formal da ação típica 5. Nessa linha, SCHU EMA 6 d staca
portanto, obriga a ind nizar, mas pod justificar a ação típica d dano
e, portanto, ex luir a tijuridi idad p nal 1º.
A existência de áreas neutras ou livres em relação à juridicidad / dos setores do ordenamento jurídico de orig m das justificações, não
antijurídicidade também é controvertida: a teoria dominante nega a limitadas pelo Direito P nal. Existem hoj e dois grupos principais d e
existência de áreas jurídicas livres no âmbito das definições legais de teorias sobre o funda1nento das justificações: as teorias monistas e as
crimes porqu todo comportam nto típico 'ou antijurídico ou justi- t orias pluralistas.
ficado, mas estudos r c nt s indicam a possibilidad d uma t rc ira
As t orias m onistas apr senta1n a finalidade como princípio
hipót s , em conflitos r !acionados com situações de perigo comum ou
unitário fundamentador das justificações, sob diversas modalidades:
de colisão d dev r s11 , por xe1nplo: o alpinista da part sup rior corta a) a teoria do meio adequado para fins reconhecidos como justos p lo
a xtensão infi rior da corda, precipitando o companheiro no abismo,
1 gislador, d LISZT 14; 6) a t oria da maior utilidade do que dano, d
porqu a m sma ' incapaz d sust ntar a1nbos ao m smo t mpo; o pai
SAUER 15; e) a teoria da ponderação do valor, de NOLL 16; d) a t oria
somente pode salvar um dos dois filhos que, simultaneamente, estão do interesse p reponderante, d · MEZG ER 17 •
afogando, morr ndo o outro.
As mod rnas t orias pluralistas id ntificam o fundamento das
A t oria d áreas livres ou neutras no Direito t ria como funda-
justificaçõ s m e nos princípios sociais subjac nt s: na 1 gítima
m , nt mod lo d d mo r ia parlam t r, cuja liberdade do cidadão
d fesa, o princípio da p roteção individual garant a possibilidad d
' originária, não cone ssão do Estado: o povo ' o pod r constituint fazer a defc sa necessária, o princípio da afirmação do direito autoriza
do Estado, estruturado para o x rcício das funções de prot ção d
a det sa mes1no na hipótes de 1neios alt rnativos d prot ção, como
garantia da li6erdad , da paz do 6 m- star g ral1 2 • ssa p rsp ctiva,
d sviar a agr ssão ou chamar a polícia 18 ; no stado d n e ssidad
pod -s reconh cer qu certas áreas pr ' -típicas constituiriam spaços defensivo, os princípios da proteção e da proporcionalidade, e no
jurídicos livres, mas no ambito do injusto não existem áreas jurídicas
stado de n cessidade agressivo, os princípios da av liação de bens
livres porque o comportamento típico é valorado, alternativamente,
da autonomia 19 ; no con ntim nto do titular do 6 m jurídico, o
(a) ou como justificado, (b) ou como antijurídico mas exculpado, princípio da aus "ncia de inter ss na proteção do b m jurídico 20 te.
(e) ou finalm nt como antijurídico culpável1 3 .
dogmática causal e seu conceito objetivo d injusto da primeira RA H/ZIPF xi m al'md nh cim nt dasituaçãojustificant a
metade do s 'culo XX - e, ainda hoj por alguns autores isolados, vontade de defesa ou de proteção também com entimentos d raiva ou
como PENDEL21 - , é reconhecida pela literatura e jurisprudência vingança contra o agr r27 . É possível admitir a suficiência do conhe-
contemporâneas, qu discute apenas a natureza d ss s el m ntos22 . As cimento (ou cansei "ncia) da situação justificante, como limiar subjetivo
ações justificadas são constituídas d el m entas subjetivos obj tivos mínim ações justificadas, mas a vontad (d d ti sa, de prot ção
como qualqu r outra ação típica: s a unidade subj tiva e obj tiva etc.) é, s mpr n rgfa mo ional qu mobiliz ção d defesa ou
da ação determina a estrutura subj tiva e obj tiva da ação típica, de prot ção, informada p la esfera cognitiva do p iquismo individual.
então a ação justificada contém, necessariamente, elementos subj -
Por outro lado, o erro constitui f; nô1n no psíquico m oposição
tivos obj tivos 23 • Exist , assim, co1no r fi r HAFT 24 , uma r lação
d.iam trai ao conhecimento, como ua antít e n gati a , nas justifica-
de simetria entre tipos legais, ou tipos de proibição, e justificações,
çõe igualment te1n por objeto a situação justificante, tamb '·m definida
ou tipos de permissão. Como a ju tificaçõ xclu m não som nt o
como pressuposto obj tivo das justificaçõ s: s a situação justificante '
desvalor do resultado, mas o próprio desvalor da ação típica, a aus"ncia
objeto do conhecimento nas justificações, então ', n e ssariamente,
de l mentos subjetivos nas justificações significa dolo não justificado objeto do erro respectivo porque conhecimento e erro são fenômenos
d r alização do injusto 25 : a mulh r que, p nsando atirar no marido
psíquicos contrários xdud nt s. As principais t orias do rro sobr
qu r tornava da orgia noturna, ating o ladrão armado t ntando
a situação justificante são a teoria limitada da culpabilidad , a teoria
entrar na casa, age com dolo não justificado d homicídio - no caso,
rigorosa da culpabilidade a t oria das características negativas do tipo,
impunív l por aus "ncia d d svalor d r sultado, s gundo formu-
a s guir sumariadas.
laçõ s mod rnas.
A teoria limitada da culpabilidade, amplamente majoritária
Os elementos subjetivos nas justificações têm por objeto a situa-
na dogmática cont mporân a incorporada na vig nt 1 gislação
ção justi6cante (por x mplo, a agr ssão a ual e inju ta a bem jurídi o
penal brasileira (art. 20, § 1°, CP), distingue entre erro de proibição,
na 1 gítima d fc sa), toda discussão consiste m sab r s ' sufici nt
incid nt sobr a natur za proibida ou p nnitida do fato, qu pod
o conhecimento da ituação justificante ou ' nec s ária tarnb m a
xcluir ou reduzir a culpabilidade, erro de tipo permissivo, incid nt
vontade d d fc a, d prot ção te., m conjunto com outros stados psí-
sobr a verdade do fato, xdudent do dolo. A crítica d staca a clareza
quicos, para a ação justificada: autores como KUHL, OTTO e ROXI
político-crüninal da teoria limitada da culpabilidade, que equipara o
afirmam s r sufici nt o conh cim nto da situação justificant , mbora
erro de tipo permissivo ao erro de tipo, sob o argu1n nto de que o autor
com s ntimentos de m do, raiva ou vingança contra o agr ssor26 ; ao
qu r agir conform a norma jurídica - e, n ssa m dida, a representa-
contrário, autores como --·----, J • I D U- ção do autor coincide com a repres ntação do legislador-, mas erra
sobr a verdade do fato: ar pr s ntação da xist "ncia d situação jus-
21 PE DEL, Gegen den Verteidigungswi!Len ais otwehre,fordernis, Bockclmann-F , tificante exclui o dolo, que existiria como conhecimento da existência
1979, p. 245.
22 JE CHE K/WEI END, Lehrbuch des traftechts, 1996, § 31, IV, p. 328-331; das circunstâncias do tipo legal e da inexistência d circunstâncias
RO , Strafrecht, 1997, § 14, n. 94-100, p. 539-542.
23 CIRI O DO ANTO , Teoria do Crime, 1993, p. 50.
24 HAFT, trafrecht, 1994, p. 77.
25 Ver, entr outros, ROXI Strafrecht, 1997, § 14, n. 93, p. 539. 27 WELZEL, D as DeutscheStrafrecht, 1969, § 14, I 3, p. - · J CHE / IGE D,
26 KUHL, Strafrecht, 1997, § 6, n. 11, p. 123; OTTO, GrundkursStrafrecht, 1996, § 8, Lehrbuch des trafrechts, 1996, § 31, n. IV, p. 2 - l· MAURA H/ZIPF,. Strafrecht
n. 52, p. 107; RO , Strafrecht, 1997, § 14, n. 93, p. 539. 1, 1992, § 25, V, ns. 24-29, p. 348.
justificantes, cuja errôn a admissão significa qu o autor não sabe o suportar a ação justificada, ou scapar dela, cessando , d qualqu r
que faz- ao contrário do erro de permissão, em que o autor sabe o que modo, a agressão 32 .
fa:il . A teoria rigorosa (ou extrema) da culpabilidade considera o erro
sobr a situação justificant (ou sobr pr ssupostos obj tivas d uma
causa d justificação) como erro de p roibição, qu xclui ou r duz a
culpabilidad conform s ja inevitáv 1ou vitáv 1, respectivam nt - II Justificações
, assim, quipara rro sobr ar alidad a rro sobr a juridicidad do
fato 29 . Finalmente, a excitante teoria das características negativas do O estudo das justificações pode ser simplificado pelo método
tipo 30 r solv o probl ma do rro sobr a situação justificant co1no de organizar seus elem ntos constitutivos nas categorias de situação
a teoria limitada da culpabilidade, mas com fundamentos diferen- ju tificante d ação justificada: a) a situaçãojustificante compre nd
t s: consid ra o caract r d ip I I m I m n p 1 1 os os pr ssupostos obj tivos das justificaçõ s - por ex mplo, a agr ssão
as justificaçõ s como elem ntos n gativos do tipo d injusto e, por injusta, atual ou imin nt , adir ito próprio ou d t rc iro, na legítima
cons qu "ncia, defin o erro sobr a situação justificante como erro de d fesa; b) a ação justificada (d e d fesa, ou nec ssária, ou no xercício d
tipo, exclud nt do dolo - , por xt nsão, do tipo-, s in vitáv 1, dir ito, ou em cumprimento de dev r legal ou consentida p lo titular
admitindo imprud "ncia, s vitáv l3 1 (v r Teorias sobre conhecimento do b m jurídico) cont '1n 1 m ntos subj tivos obj tivos - às v z s,
do injusto e erro de p roibição, adiante). tamb ' m, 1 m ntos normativo , como a p rmissibilidad da d fi sa,
na 1 gítirna defesa.
de proteção 34 porque o direito não precisa ceder ao injusto, nem o lesão de bens jurídicos relacionada a ataques epilépticos ou estados de
agredido precisa fugir do agressor - excetuados casos de agressões não inconsciência (sono, desmaio ou embriaguez comatosa) - que podem,
dolosas, de lesões insignificantes ou de ações de incapazes, próprias da todavia, fundamentar o estado de necessidade - porque 1novimentos
l gítima d fesa com limitaçõ s 'tico-sociais35 . corporais m ram nt causais não constitu m açõ s humanas 39 •
2. Injusta ' a agr ssão imotivada ou não provocada p lo agr dido ,
nesse sentido, marcada por desvalor de ação e de resultado 40 , o que
1. Situação justificante xclui açõ s conform s ao d v r de cuidado ou ao risco permitido
açõ s justificadas - não há 1 gítima d fc sa contra l gítima d fc sa,
A situação justificante da l gítima d fesa caracteriza-s p la mbora se admita exculpação supralegal m determinados casos de
xist"ncia d agressão injusta, atual ou iminent , adir iro próprio ou provocação da situação justificante41.
alh i as im d finida n I j p nal:
3. Atual é a agr ssão em realização ou m continuação; iminente 'a
Art. 25. Entende-se em legítima defesa quem, usando agressão de realização imediata - assim, a 1 gírima defesa pr ssupõ
moderadamente dos meios necessários) repele injusta
agressão em r ali ação, em continuação ou imediata42 . O problema
agressão) atual ou iminente, a direito seu ou de outrem.
é definir os extremos desses cone itos (agressão imediata em con-
O significado dos componentes lem ntares do conceito d tinuação) porque o conceito de agressão em realização, situado entr
1 gítima d fc sa pod s r assim xplicado: aqu 1 s limit s xtr 1nos, não é problemática43 . O cone ito d imi-
1. Agressão ' toda ação humana de viol "ncia real ou ameaçada dirigi- nência ' definido por duas teorias: a) a teoria do começo da tentativa
da contra bens jurídicos do agredido ou d terceiro 36 . O conceito d de JAKOBS 44 pressupõe a maior proximidade possível da consuma-
agr ssão inclui (a) a omissão de ação, porqu nã há e igência concei ual ção - o qu pod tornar a d fc sa in ficaz (muito tard ) ou a ficácia
de um fazer ativo (se a criança está ameaçada de morrer de fome por da d fc sa pode implicar 1 só s mais graves do agr ssor; b) a teoria da
omissão d ação atribuív l à mã , as alt rnativas sã u lim 1
fase preparatória d SCHMID ·· USER45, com probl mas na dir -
criança, ou obrigar a mãe a alim ntar a criança)37, assim como (b) a ção contrária: uma agressão anunciada para o dias guint pode star
imprudência, porque o conceito d agressão não é restrito à violência m fas pr paratória, ma não é imin nt (muito m nos atual), n m
dolosa (o motorista qu insist m manobras imprudent s do veículo
em parque repleto de crianças deve suportar a legítima intervenção Penal I, 1999, p. 147; em posição contrária, mas in onvincent , ZAFFARO I/
de terceiro para impedir as manobras , s for o caso, tomar, tempo- P] RA I EU, Manual de D ireito Penal brasileiro, 1997, n. 330, p. 583, exigem
"agressã intenci n ", excluindo a "agressão culposa", porque seria "absurdo (... )
rariam nte, a chav do veículo) 38 ; mas exclui as chamadas não ações: causar um danos m proporção um ma ma nirud d maJ."
39 Assim, ROXIN.? Strafrecht, 1997, § 15, n. 8, p. 553-554, n. 8; em posi ão contrária,
REH TRONDLE, traJtesetzbuch und Nebengesetze, 1995 , § 32, n. 4· também,
LZ L, D ns Deutsche trtljrecht, 1969, § 14, II 1, p. 84-85.
3,1 Vir HAFT, .t:rafi"echt 1994 p. 84· ROXI , trn.frecht, 1997, § 15, n. 2, p. 550-551; 40 MA H /ZIPF, trafrecht 1, 1992, § 26, n. 8-21 , p. 355-360.
H JDHAU ER, Strnfi'echt, Studienbuch, 1984, 6/51. 41 im, HAI , trafecht, 1994, p. 84; R traftecht, 1997, § 15, n. 14, p. 556-557.
35 ROXI , trafrecht, 1997, § 15, n. 2, p. 550-1 e n. 49-50, p. 573-574. 42 Ver, entre outro , JE CHE K/WEIGE D, Lehrbuch des trafrechts, 1996, § 32, II,
36 JRJ O , Teoria do Crime, 1993, p. 50. 1, p. 338; também, / , traf,echt, 1998, § 8, p. 97, n. 328 .
37 esse sentido, ROXI , Strafrecht, 1997, § 15, n. 6- 11 , p. 553-555. 43 Ver RO , trnfrecht, 1997, § 15, n. 21, p. 560.
38 im, r emplo, JE HE K/WEIGEND, Lehrbuch des Stmfrechts, 1996, 44 JAKOBS, tr_a.frecht, 1993, 12/23, p. 389-390.
§ 32, II, la, p. 338. o Brasil, no mesmo sencido, lERl, Manual de Direito 45 CH IDHAUSER, Strafi"echt, Studienbuch, 1984, 6/61.
constitui agr ssão 46 . Um crit 'rio intermediário proposto por KUHL admitam a d fesa do ser social ou comunitário pelo indivíduo 51;
e ROXI 47 define iminência como o momento final da preparação, b) bens jurídicos do Estado, como o patrimônio público (destruição de
que integra o critério da defesa eficaz, inseparável do conceito de le- cabines telefônicas, danos em trens de metrô etc.), ad1nitem legítiina
gítima defc sa, com o crit ' rio do desencadeamento imediato, in rent defesa do particular - mas não a p ssoa jurídica do Estado porqu
ao cone ito d tentativa: a aproximação do agr ssor com um porr t par e in d quad ra rmar ºdadão em gu rr iro contra inimigos
na mão para agr dir ou o movimento da mão do agr ssor em direção do Estado ( spiões ou traidores, por exemplo) 52 •
à arma não configuram, ainda, t ntativa, mas o último mom nto da
fase preparatória, suficiente para caract rizar a iminência da agressão
, assiin, justificar a defesa. 2. Ação justificada
O cone iro de agr ssão em continuação é mais simpl s: a conti-
nuação da agr ssão ocorre no int rvalo entr a consumaçã b rmal A ação de defesa do agredido é a mesma unidade objetiva e
consumação ma rial do tipo d · ju o orno n rim d dur ção subjetiva examinada como ação, e1n seguida como ação típica e agora
ou pennanência (sequestro, violação de domicílio etc.) ou de estado como ação típica justificada (os adjetivos não modificam o substantivo).
(o furto, nquanto o ladrão fog com a coisa) 48 . A ação justificada d 1 gítima defesa conté1n lementos subjetivos, I -
4. Direito próprio ou de outrem são os bens jurídicos, as necessi- mentas objetivos e, em casos especiais de legítima defe a com limitações
dad s ou int r ss s individuais ou sociais qu r e b m prot ção do ' rico- ociais, o 1 m nto normativo da p rmi sibilidad da d fc sa.
Dir ito. O bem jurídico distingue-se do objeto da ação precisamente
como o cone iro de interesse distingue-se da coisa concreta em que s
2.1. Elementos subjetivos da ação de defesa
r aliza: a vida a propri dad privada são b n jurídicos, nquanto
o homem concreto a coisa respectiva constitu m objetos d ação 49 .
Todos os 6 ns jurídicos individuais são susc tív is d 1 gítima d fi sa Os el m ntos subj tivos da legítima defc sa têm por obj to a
(vida, saúde, lib rdad , honra, propri dade te. ), mas existe controvér- situação justi6cante (agressão injusta, atual ou iminent , a b 1n ju-
sia quanto aos b ns jurídicos sociais: a) b ns jurídicos da comunidade rídico próprio ou d t rc iro) consist m no conhecimento da itu-
(orde1n pú lica, paz so ial r gularidade do tráfego de veículos etc.) são ação justificante para a teoria dominant 53 , r pr s ntada por KUHL,
insuscetív is de 1 gítima d fi sa porqu a ação violenta do particular OTTO ROXI u n conhecimento da situação ju tificant na
produziria maior dano qu utilidade e, afinal, parece inconvenient vontade de d fc sa para respeitáv 1opinião minoritária 54, r presentada
atribuir ao povo tar fas próprias da polícia 50 , embora alguns autores
51 Por exempl9_, MA RACH/ZIPF, Strafrecht, 1992, § 26, n. 12-13, p. 357;
HAU ER, Straftecht, tudienbuch, 1984, 6/80.
52 Ver BLEI, trafiwht 198 , 9 U 4; J ECK/ l D, Lehrbuch des
trafrechts, 1996, § 32 II, 16, p. 339-340; RO , trafrecht, 1997, § 15, n. 40-4 1,
46 Para a crítica dessas teorias, ver RO , Stmfrecht, 1997, § 15, n. 22-23, p. 560-561. p. 568-569.
47 KUHL, trafrecht, 1997, § 7, n. 41; ROXIN, trafrecht, 1997, § 15, n. 24-25, p. 561-562. 53 KUHL, trafrecht, 1997, § 6, n. 11, p. 123; OTTO, Grundkurs trafrecht, 1996, § 8,
48 Ver RO , Strafrecht, 1997, § 15, n. 28, p. 563. n. 52, p. 107; ROXIN, trafrecht, 1997, § 15, n. 111-112, p. 604-605.
49 esse sentido, HAFT, Stmfrecht, 1994, p. 72-74. 54 WELZEL, Das Deuts he trafrecht, 1969, § 14, II 3, p. 8 -84 n. ; J K/
50 Assim, ROXI , Strafrecht, 1997, § 15, n. 36-39, p. 566-568 . o Brasil, ZAFF RONI/ WET .ND, Lehrbuch des trafrechts, 1996, § 31, n. IY, p. H/
PJ 1, Manual de D ireito Penal brasileiro, 1997, n. 334, p. 588. ZIPF, Strafrecht l , 1992, § 25, V, ns. 24-29, p. 348-349. o Brasil, RA 0S0, Li,ões de
por LZEL E H K/ IGE D MA CH/ZIPF - em m vez de matar 56 . Assim, a necessidade da defesa pode ser redefinida,
qualqu r hipóte com outros componentes psíquicos e emocionais, do ponto de vista estático, como necessidade dos meios de defesa em
co1no medo, raiva, vingança etc. O conhecimento (ou consciência) face dos meios de agressão, e do ponto de vista dinâinico, co1no e1n-
da situação justificant , como limiar subj tivo mínimo da legítima prego moderado dos m ios d d t sa necessários. A d finição da defesa
defesa, pode ser sufici nte, mas a vontade de d fesa, informada p lo necessária naqu la dupla dir ção utiliza um critério objetivo ex ante,
conh cim nto e condicionada pelas emoções do autor, ' a en rg1a conforme o juízo de um obs rvador prudente 57 : não atirar contra o
psíquica qu mobiliza a ação d d fi sa. agr ssor, s é suficiente mpurrá-lo ou fechar a porta para fazer c ssar a
agressão. Erros inevitáveis sobr a necessidade ou a moderação dos 1n ios
A aus "'ncia do 1 m nto subj tivo significa dolo não justificado
d d fi sa não afi tam ss juízo obj tivo ant rior , s gundo difundida
der alização do injusto e reduz a legítima defesa à xist"'ncia objetiva
da situação justificante (a mulh r pensa atirar no marido d r torno da orientação p lítico- riminal d vem ser interpretados contra o agressor:
xist 1 gítima d fi sa real- não m ra1n nt putativa - no disparo da
orgia noturna, mas ating o ladrão armado t ntando ntrar na casa),
vítima contra sequ strador que mpunha arma d scarregada porqu
com os s guint s d sdobram ntos: a) a ação típica dolosa não justifica-
da representa desvalor de ação atribuível à 1nulher, mas a existência da o juízo objetivo ex ante de um obs rvador prudente r presentaria a
arma carr gada58 •
situação justificante elimina o desvalor do resultado , porque o desvalor
de ação não pode se conv rter m desvalor de resultado, a hipótes ' Mas a defesa necessária não xig proporcionalidade ntr meios
d finível como tentativa inidônea (na 1 gislação alemã, punível); de defesa meios de agressão - a proporcionalidade na 1 gítüna d fesa
b) o desvalor de ação do comportamento típico doloso injustificado não tem por objeto bens jurídicos ou corr lações de dano ameaçado e
da mulher não permite ação justificada do agressor porque o com- produzido-, excluída pelo princípio da .afirmação do direito: é legítimo
portamento do agressor constitui a situação justificante que exclui o apunha! r agressor para evitar wna surra violenta- até porque o direito
desvalor do resultado na ação daqu la 55 . não precisa ced r ao injusto; não obstant , a ideia de proporcionalidade
ntre meios de defesa meios de agressão não pod ser int iram nt d s-
cartada porqu desproporcionalidades extremas são incompatív is com
2.2. Elementos objetivos da ação de defesa o cone ito d necessidade da defesa: não ' 1 gítimo atirar mm ninas
que furtam laranjas no quintal da casa 59 • B 60 , fundado
Os 1 tnentos obj tivos da ação justificada consistem no mpr go no d v r do Estado d prot g r a vida, limita o dir ito d matar m
moderado de m ios de d fesa necessários contra o agressor, ventual- 1 gítima d t sa às hipót s s de agressõ s contra a vida, o corpo (inclu-
ment examinados do ponto d vista da permissibilidade da det sa.
1. A necessidade dos meios d d fi sa ' d finida p lo pod r d xcluir 56 HAFT, Strafrecht, 1994, p. 84-85; ROXI , trttfrecht, 1997, § 15, n. 42-43, p. 569-
570.
a agr ssão com o menor dano possível no agressor: d fesa protetora, 57 ompar r J K!WEI EN ,. Lehrbuch des Str11frechts, 1996, § 32, II, 26, p.
343; ROXJ , Str:aftecht, 1997 § 15, n. 46, p. 572; WELZEL, Das D eutsche trafrecEt,
m v z de agressiva; am aça d violência, m v z d viol "' ncia; fi rir, 1969, § 14, II 2, p. 86.
58 RO J Strafrecht, 1997, § 15, n. 46, p. 572.
59 sim; HAFT, Stra{recht, 1994, p. 84-86; ROXlN Strafrecht, 1997, § 15, n. 47, p.
D ireito Penal, 1985, n. 164, p. 19 · MESTIERI Manual de Direito Penall, 1999, p. 145; 572-573. o B iÍ, i mparar RI, Manual de D ireito Penal I, 1999, p. 148.
Z F RONI/Pl RA 1, Manual de Direito Penal brasileiro, 1997, n. 335, p. 588. 60 BER MANN, Uberlegungen zur tiJdlichen Notwehr bei nicht lebensbedrohlichen
55 RO , Stmfrecht, 1997, § 15, n. 111-112, p. 604-605 . Angriffen, ZScW, 104 (1992), p. 326.
ídas a tortura e as privações de liberdade duradouras) a sexualidade, ético-sociais r lacionadas ao autor da agr ssão, às relaçõ s de garantia
com exclusão de todas as outras hipóteses: atirar no autor do furto, entre agressor e agredido, ao comportamento do agredido e à natureza
por exemplo, mesmo que seja o único meio de recuperar a coisa - da agressão 63 .
como ainda admit a opinião dominante - não pod s r justificado 1. Agressões de incapazes (crianças, adolescentes, doentes mentais
pela l gí rima defesa.
ou, 1nesmo, b "bacios s m sentido) cria1n para o agr <lido um l qu
A defesa necessária pode determinar alguns efeitos indesejados, de atitudes alternativas prévias, nas quais se concretizam as limitações
cuja justificação dep nde de sua adequação aos m ios necessários: ético-sociais da l gítima defesa, válidas para os d mais casos: prim iro,
fi itos ind s jados adequados ao m io nec ssário são ju tificados (um d sviar a agressão; s gundo, mpr gar d fi sas s m dano; t rc iro, p -
oco n ce sá..rio pode quebrar alguns dentes do agressor); efeitos indes - dir socorro aos pais, professores, polícia etc.; quarto, assumir o risco
jados inadequados ao meio n cessário não são justificados (a morte do de pequenos danos; quinto, s nada disso for possív 1, então - mas
agressor com um tiro d adv rtência descuidado) 61 • Efeitos ind sejados om nt ntão - a d fi a necessária pod , também, ser permitida64 .
de dispositivos de prot ção - por xemplo, a lesão de inoc ntes em
2. Agr ssões entr pessoas ligadas por r lações de garantia fundadas
armadilhas, cercas eletrificadas etc. - são sempre atribuíveis ao autor e,
na afetividade, no parentesco ou na conviv"ncia (marido e mulher,
m quaJqu r hipót o mpr go d m canismos d proteção mortais pais e filho s etc.), subordinam a l gítima defesa às mesmas limita-
é injustificáv 162 .
ções ético-sociais 1nencionadas e, em r gra, xcluem resultados d
2. A moderação no mpr go d 1neios necessarzos ' delünitada p la mort ou d lesõ s grav s - exc to no caso de risco d 1 só s s 'rias
extensão da agressão: enquanto persistir a agressão é moderado o uso (a mulher usa faca para defesa contra agressão do marido com
dos meios necessários; após cessada a agressão, a continuidade do uso objeto contundente) ou de maus tratos físicos duradouros ou
d m io d finidos como necessários torna- imoderada, configurando continuado (a r p tição d agr s ó s surra do marido contra a
excesso de legítima defi sa- que pode admitir exculpação, s der rmi- mulher, por ex mplo) 65 .
nado por m do, susto ou p rturbação. 3. Agr ssão provocada pelo agredido para agredir o agressor constitui
agressão dolosa injustificada contra o agressor e exclui a legítima
defesa - mas para respeitáv l opinião minoritária não exclui a legí-
2.3. A permissibilidade da legítima defesa
tima d t sa, ou porqu não afeta a antijuridicidad da agressão 66 , ou
porque o dir iro não pode criar situações sem saída, de renúncia à
O conceito de permissibilidade da defesa define limitaçõ sético- vida ou integridade corporal, por u1n lado, e de punição, por outro
-sociais excludentes ou restritivas do princípio social da afirmação do
direito qu fundam nta - com o princípio individual da proteção de
bens ou interesses - a legítima defi sa. A literatura contemporânea re-
conhece hipótes s de d fi sas nec ssárias não permitidas por limitações
63 onforme ROXI , trafrecht, 1997, § 15, n. 53-90 p. 575-594 .
64 ROXJ , Strafrecht, 1997, § 15, n. 57-58, p. 578.
65 As im, EIL , Eingeschrankte Notwehr unter Ehegatten?, JR, 1976, p. 314;
RX , D ie ''sozialethischen" Grenzen der Notwehr, 1979; ROXI , Strafrecht,
1997, § 15, n. 83-84, p. 591.
61 Ver RO I , Strafrecht, 1997, § 15, n. 45, p. 571-572. 66 im, B K LM , Notwehr gegen verschuldete Angrijfe, Honig-FS, 1970, p. 19;
62 Assim, também, ROXIN, trnfi·echt, 1997, § 15, n. 51 , p. 575. HILL KAM P, Vorsatztat und Opjerverhalten, 1981.
lado 67. Entretanto, agressão provocada pelo agr dido sem finalidade 3. Particularidades
de agredir o agressor condiciona a legítima defesa as limitações 'tico-
-sociais indicadas, mas é preciso distinguir a qualidade da provocação:
s constitui comportam nto antijurídico, como ocorr na maioria das a) Legítima defesa -d e outrem
situaçõ s d injúria, vias de fato, violação de domicílio, dano te., a
1 gítima d fesa ', m princípio, xcluída; s constitui comportam nto A legítima d fi sa de outr m d pende da vontad d d fc sa do
situado ainda no t rreno jurídico, como ocorr com gozaçõ s, troças agredido: só ' possível 1 gítima d fi sa d outr m se xiste vontade d
ou pilhérias lesivas de valor s 'tico-sociais, mas de anti juridicidade defesa do agredido. A ilnpossibilidade de defc sa contra a vontade do
1n nor, indefinida ou in xistente, subsist a I gítima defi sa co1n as agr dido resulta do princípio da proteção individual porque o agr dido
referidas limitações ético-sociais 68 . pode, por ex mplo, ser contra o uso d arma d fogo contra autor s
4. Agr ssõ s irrelevantes m diant contravençõ s, d litos de bagatela, d furto, t m r r presálias na hipót s d int rvenção d t rc iro
crimes d ação privada ou lesô s de bens jurídicos s m proteção p - (em caso de sequ stro, por ex mplo) ou, simpl sment , não d sejar
al também condic onam a l gí im de e limi ções ético-sociais a intromissão de terceiro, como em brigas de casal (com frequência,
r fi ridas, esp cialm nt m r lação à xclusão da mort ou d 1 sô s para resolver problemas d relacionam nto e r ncontrar a harmonia
grav s no agr ssor, corolário da n e ssidad d proteção da vida e d afetiva) 72 . Mas a vontade presumida do agredido autoriza a defesa d
r j ição d desp roporções extremas69 na justificação. A 1 gítüna d fi sa outr m, ind p nd nt m nt da v rificação n gativa posterior, qu não
em relação a coisas mostra a xtensão do dissenso ideológico na dog- d slegitima a ação de d fi sa já realizada, como indica um exemplo d
mática penal: para teóricos conservadores, como SCHMIDHÃU- JAKOBS 73: acua legi imamence quem a a vítima já inconsci nt d
SER70, nenhuma avaliação materialista de bens exclui a legítima defesa, tentativa de homicídio matando o agressor, embora se esclareça depois
justificando a morte m smo para proteg r bagat las; por outro lado, qu a vítima r conhec ra s u filho como agr ssor, ant s suportana a
SCHROEDER7 1 afirma qu a id ia d proporcionalidade na 1 gítima própria morte do que a mort do filho.
defi a exclui a mort ou 1 ô graves na deb sa d bagat las ou d
outras agr s ó s irr 1 vant s.
b) Extensão da justi6cação
O xc sso intensivo d 1 gítima deh sa (uso d meio desn e ssá- e) a alt ração 1 mbra ar pudiada proposta d uma antijuridicidad
rio) o xc sso extensivo d 1 gítima d h sa (uso imod rado d m io espe ial do uno on ário público, agora dusiva do agent d segurança
n e ário), b m como a legítima defesa putativa, não configuram pública, co1n d ploráv 1 xt nsão dos limit s justificador s, ampliando
situações de justificação, mas hipóteses de exculpação legal ou de o sentimento de imunidade e atitudes de arbitrariedade do agente.
erro de tipo permissivo, studadas na cat goria da culpabilidade (v r 3. Como s v ", os probl mas aparec m na locução risco de agressão, qu
Culpabilidade e exculpação, adiante). pr cisa s r d finida a partir do cone ito de risco, mas cuja natureza '
n bul : afinal risco expritne um conceito objetivo de potencialida-
d real d agr ssão, ou um cone ito subj tivo d construção psíquica
4. Legítima defesa de refém, por agente de m diant p rc pçõ s s nsoriais d h ituosas ou impulsos moc10nais
segurança pública idiossincráticos do ag nte d s gurança pública?
O cone ito de risco, s gundo todos os dicionários, significa peri-
1. A Lei 13.964/19 introduziu justificação esp cial para agente de se- go, ou possibilidade de u m acontecimento futu ro e incerto, mas implica
gurança pública, autorizado a repelir agressão ou risco de agressão contra 1 m nto quantitativos ind t rmináv is, r !acionados ao nível de risco
vítima r fi' m, assim definida: n e ssário para conv rsão no resultado d agressão: basta risco míni-
Art. 25 - Parágrafo único. Observados os requisitos mo, ' suficient risco médio ou ' n e ssário alto risco? Como s sab ,
p revistos no caput deste artigo, considera-se também em o Dir ito Penal trabalha com a ideia de risco, que strutura algumas
legítima defesa o agente de segurança pública que repele t orias - por x mplo, (i) a t oria do risco permitido na prática de açõ s
agressão ou risco de agressão a vítima refém durante a socialmente perigosas, ou (ii) a criação/realização de risco p roibido, na
prática de crimes. t oria da imputação objetiva do resultado, mas essas situaçõ s d risco
têm natureza obj etiva, porque o risco (de lesão) existe como dado
2. A sitnples leitura da d finição legal 1nostra problemas político-
• • • • • I •
do mundo da vida, indep nd nte dos proc ssos psíquicos do autor.
-cnm1na1s cone 1tua1s s nos:
Entr tanto, o cone ito d risco de agressão, d finido co1no perigo
a) 1nodifica abas da situação justi_ficante m diant substituição da defi-
de agressão - ou seja, a construção psíquica d um acontecimento futuro
nição legal rep ele injusta agressão, atual ou iminente (art. 25, do Código
e incerto - pod (i) corr sponder à obj tividad do r al ju tifi ando
Penal) p 1 'rmul ind rminá el repele agre. áo ou risco de agressão,
a ação, mas tamb ' m pod (ii) não corresponder à obj tividad do
com o acr 'scimo tamb 'm impr ciso d vítima mantida refém durante a
r al, por percepções defeituosas ou impulsos patológicos, excluindo
prática de crimes (art. 25, parágrafo único, CP), produzindo o esgarça-
a justificação, porqu o risco de agressão som nt xist no psiquismo
m nto d uma strutura con in1al stáv l univ rsal;
do autor. A fr quência d construçõ s psíquicas do risco de agressão em
b) o significado linguístico da locução risco de agressão, como proj - d sconformidad com a r alidad obj tiva, por p rcepçõ s d h ituo-
ção psíquica d uma situação hipot ' tica, d p nd das r pr s ntaçõ s sas ou impulsos patológicos d ag ntes d segurança pública, dev rá
intelectuais das reaçõ s emocionais do agente de segurança pública, apar e r na statística d mort s injustificadas d ser s humanos, r -
crud nd o alarmant g nocídi d jovens n gros pobres no Brasil. de prot ção de bem jurídico superior ao sacrificado) e como exculpação
4. m at n 61 d d fini ~o r E rid p nam r icad (para hipóteses de proteção de bem jurídico equival nte ao sacrificado)
- teoria adotada pela legislaçã penal alemã, por exemplo, que define
se o 1 gislador reproduzi a linguag m univ r al do e nceit I gítima
d fesa: por ex mplo, deveria falar (i) de agressão atual no lugar de agressão xpre am I d d n ce id de justificante(§ 34, CP) e o stado
de n c ssidade exculpante (§ 35, CP); b) a t oria unitária disciplina o
(ii) d iminencia de agressão em lugar de risco de agressão.
estado de n cessidade segundo um sistema único: ou como justifica-
Logo, uma alt rnativa h rm n "utica s ria (i) r d finir agressão ção, ou como exculpação - ind pend nt m nte d sup rioridade ou
como agressão atual (agr ssão em processo d r alização) (ii) rede- equival "n cia do b m jurídi o protegido em relação ao bem jurídico
finir risco de agressão como agressão iminente (agressão na fas final a rifi d - t ria ad tada p lal i p nal ra il ira qu d fin cad
da preparação), segundo a linguagem científica dominante. Mas, do de necessidade exclusivamente como justificação, no art. 23, I, CP 76 .
ponto d vista político-criminal, a m lhor solução s ria xduir ss
lastimável parágrafo da legislação pen 1.
5. Enfim, situações imaginárias produzidas por r pr sentaçõ s errô- 1. Situação justificante
n as da realidad , 1nas justificadas pl na1n nte p las circunstâncias,
podem constituir hipóteses de legítima defesa putativa, na forma do A situação justificante do estado de necessidade caracteriza-se
art. 20, § 1°, CP.
p la xist "ncia d perigo para o b m jurídico - d finido como atual,
involuntário e inevitável sem 1 são de outro b m jurídico-, assim
conceituada na lei penal:
B) Estado de necessidade
t. 24. Considera-se em estado de necessidade quem
pratica o fato para salvar de perigo atual, que não
Historicamente, o estado de necessidade tem sido pensado a
p rovocou por sua vontade, nem podia de outro modo
partir de tr "s difer nt s pontos d vista: primeiro, como espaço livre do
evitar, direito p róprio ou alheio, cujo sacrifício, nas
direito, fundado na impossibilidade do ordenamento jurídico discipli-
circunstâncias, não era razoável exigir-se.
nar conflitos determinados pelo instinto d sobreviv"ncia; s gundo,
corno justificação de conduta típica, fundada na preponderância ou a) O cone ito de perigo é definido pela probabilidade ou possibi-
equivalência do bem jurídico protegido; terceiro, como exculpação d lidade d 1 são do 6 m jurídico am açado 77 , s gundo um juízo obj tivo
conduta antijurídica, fundada na inexigibilidade de comportamento ex ante de um observador inteligente, combinado, eventualmente, com
conforme ao dir ito, em hipóteses d bens jurídicos quivalent s75. o juízo do especialista na ár a78 , como propõ HIRSCH: o observador
inteligente é representado por cidadão do círculo social do autor, com pode, justificadamente, fugir do local do fato para evitar perigo r al
os conhecimentos e informações especiais deste; o especialista sobr de agressão das vítimas 83 .
perigos, por exemplo, de fogo é o bombeiro, de construções o en-
d) Enfim, o p rigo d ve s r inevitável de outro modo, ou s ja,
genh iro, d doenças o médico etc. O p rigo pod ser d terminado não podes r evitado conform ao direito, ou não podes r sup rado
por acontecimentos naturais, como naufrágios, incêndios, inundaçõ s,
s m 1 são do b 1n jurídico sacrificado, ou, ainda m lhor, qu a 1 são
por fenômenos sociais como distúrbios civis, acid ntes , também, por
do bem jurídico é necessária para evitar o perigo 84 . O conceito de
outros comportamentos humanos, d sde qu não constituam a agressão inevitabilidade de outro modo abrang as situações d e estado de n -
injusta da l gítima defesa79 .
c sidad d ti nsivo agr s ivo: no stado d n c idad defensivo,
b) A atualidade do perigo no estado de n cessidade não e con- caracterizado pelo conflito ntre o sujeito ameaçado p lo perigo e o
funde com a atualidade da agressão na legítima defesa: a atualidad uj ito criador do p rigo, os int ress sou bens jurídicos do ameaçado
do p rigo justifica a proteção imediata - mas não xig a exi t'' ncia d prevalec m sobr interesses ou bens jurídicos do criador do perigo
dano imediato-, porque o adiamento da proteção ou s ria impossível (A mata/danifica o cachorro de B para vitar mordida); no estado d
ou determinaria maior risco ou dano, como no aborto necessário, necessidade agressivo, caracterizado pelo conflito entre bens jurídicos
por ex mplo, r alizado no t rc iro m "s de g stação para vitar dano do sujeito ameaçado p lo p rigo b ns jurídicos d suj itos stranhos
na 'poca do parto; igualm nte, pode ocorr r m perigos contínuos ou ao perigo, preval c o interesse de proteção do p rigo contra o int r sse
duráveis a u izáv is e1n dano a qualquer 1no1n nto - segundo aqu l do titular de bens jurídicos stranhos ao perigo, cuja destruição/dano
juízo objetivo ex ante -, como difícios em ruína, doentes m ntais ' n cessária para evitar o p rigo (A destrói o v · gu rda-chuva d
perigosos para a comunidade (neste caso, aguardar agressões antiju- B, para evitar a mordida do cachorro de C) 85 •
rídicas para proteção justificada pela legítilna defesa pode ser ineficaz
ou implicar lesão maior na área dos b ns jurídicos sacrificados) etc. 80 .
c) O p rigo d v s r involuntário, ou s ja, não pod s r provo-
2. Ação justificada
cado intencionalmente pelo autor para prot ção p ssoal às custas da
vítima, mas admite produção imprudente porqu a limitação 1 gal A ação de p roteção necessária também constitui a mesma unidade
restringe-se à vontade própria 8 1 a antigas nt nça quem cria perigo, subj tiva obj tiva studada como ação, d pois como ação típica
morra por isso82 stá ultrapassada: o barqu iro não pod impedir salva- agora como ação típica justificada, igualm nte compre nd ndo 1 -
ção d suicida arr pendido m s u barco, sob argumento d culpa na m ntos subj tivos, obj tivos nonnauvos.
produção da situação d n ecessidade; o motorista causador do acidente
79 esse sentido, ROXI , trafiwht, 1997, § 16, n. 13, p. 615 e§ 19, n. 16 p. 833 .
80 Ver R , trafrecht, 1997, § 16, n. 17, p. 61 7.
81 CIRI O DOS TO , Teoria do crime, 1993, p. 53; nes e entido, tam bém,
RAGO O, Liçóe. de ireito Penal, 1985, n. 168, p. 1 ; M I , Manual de 83 im, PER, D er ''verschuldete" rechtfertigende Notstand, 1983, p. 32 s.
D ireito Penal, 1999, p. 149; com restrições, H EITOR CO TA JR. , Teoria dos delitos 84 LE KNER, Das Merkmal der ''Nicht-anders-Abwendbarkeit" der Gefahr in den §§
culposos, 1988, p. 83-84; tam bém, TAV: RES D ireito Penal da negligência, 1985, p. 163 . 34, 35 StGB, Lackner-FS, 1987, p. 95; RO T , Strafrecht, 1997, § 19, n. 18, p. 834.
82 BINDING, H andbuch des Strafrecht I, 1885, p. 775. 85 , / ~ L , Strafrecht, C. F. M uller, 2000, n. 293 29 5, p. 95.
2.1. Elementos subjetivo da ação necessária b n jw·ídi o alh i nform• p nd ração de todas as circunstâncias
concretas ligadas aos bens jurídicos em conflito, à natureza do perigo
e à gravidade da pena88 .
Os el m ntos subj tivas do stado de n c ssidad têm por obj to
a situação justificante (p rigo atual, involuntário in vitáv 1de outro 2.2.1. O critério do bem jurídico. A pr ponderância d c nos valor s
modo) e consistem no conhecimento da situação justificante (teoria 1n r lação a outros pode ser d cidida p lo crit 'rio do b 1n jurídico:
dominante) ou no conhecimento da situação justificante e vontade de a) a preponderância do p erigo concreto em relação ao perigo abstrato ou
prot ção do b m jurídico (t oria minoritária)- m qualqu r hipót s , m r lação a outro perigo concreto: transportar fi rido grave para hos-
admit m outros compon ntes psíquicos mocionais, como ambição, pital m v locidad xc ssiva (art. 31 1, CTB) ou sob a inHu "ncia do
pagam nto, busca da glória, etc. 86 . Assim como na legítima d fi sa, o álcool, ou d outra substância psicoativa que d termina dep ndência
conh cim nto (ou consci "ncia) da situação justificant , como limiar (art. 306, CTB); b) a preponderância de valores da personalidade em
subjetivo mínitno do estado d necessidade, pode ser sufici nte, mas r lação a valores materiais: tomar chav d motorista para vitar qu
a vontade de prot ção, infonnada pelo conhecitnento e condicionada dirija mbriagado; c) a pr pond rância dos b ns jurídicos do corpo
pelas moções do autor, é a en rgia psíquica qu mobiliza a ação de da vida, perante todos os demais: quebra de sigi]o médico para evitar
~
86 Ver, entre outros, KUHL, trafrecht, 1997, § 8, n. 183-184, p. 303; também, ROXl ,
trnfrecht, 1997, § 16, n. 91, p. 654. No Brasil, pela necessidade de consciência e 88 Nesse sentido, ROXIN trafrecht, 1997, § 16, n. 7, p. 611 -612 e n. 22, p. 619-620.
vontade de proteção, GO O, Lições de D ireito Penal, 1985, n. 169, p. 197; 89 im, / I · H, Strnfrecht, 1995, § 17, n. 78; também, JAKOB ,
M T IERI Manual de D ireito Penal I, 1999, p. 149; ZAFFARO I/PI RA ELI Strafrecht, 1993, 13/25 , p. 422-423; ROXI , Strafrecht, 1997, § 16, n. 43-45,
Manual de D ireito Penal brasileiro, 1997, n. 342, p. 597. p. 629-630.
87 Ver RO , Strnfrecht, 1997, § 16, n. 19, p. 61 7-8 e§ 19, n. 21, p. 835. 90 ROXIN, Strafrecht, 1997, § 16, n. 23, p. 620.
em vítima sob ataque piléptico para evitar destruição de vaso valioso como xigência d quadrilha para evitar a 1nort de vários reféns 95 •
(mas não lesão corporal grave, como fratura ou comoção cerebral);
Situações d perigo comum xtraídas da literatura podem ajudar a
lesão grave ou morte para proteger a vida ou saúde, co1no a 1norte
selar c r a controvérsia: a) dois alpinistas ficam pendurados m corda
da criança no v ntre ma rno p ra al ar a vida da má - porqu s
capaz de ustentar apena um deles - e o alpini ta da po ição sup rior
ninguém é obrigado a suportar lesõ s s ' rias, e se não ' possív l desviar
corta a corda abaixo d 1 , pr cipitando o co1npanh iro no abismo 96 ;
ou p dir ajuda, abr -se aqu le espaço livre do direito que admite pond -
b) dois homens em balão defeituoso capaz de sustentar apenas um
ração d vida contra vida91; b) hipót s s d legítima defesa preventiva: d les - um lança o outro no espaço 97 ; c) barco com crianças m
proprietário de bar coloca narcótico na bebida de fregu ses que ouvira
corr d ira, sob p rigo d afundar por xc so d p so - o barqu iro
co1nbinar m assalto ao stab 1 cün nto - porqu xist p rigo atual
joga algumas crianças na água para salvar a vida das demais 98; d) após
(mas não existe agressão iminente para permitir legítima defesa), cuja 20 dias de fom s de em jangada com p daços de tronco do barco
prot ção post rior ou ria impossív 1, ou implicaria 1naior ri co d
naufragado, o capitão seu im diato sacrificam a vida do já enfra-
morte ou 1 são grav dos agressores 92 .
q u ciclo grumete para so br viver com seu sangu (o famoso caso do
2.2.4. O conflito de vida contra vida. A questão crucial do estado iate inglês Mignonette) 99 .
d n e ssidad r t r -se à ponderação d vida contra vida, qu parec 2.2.4.1. A teoria diferenciadora, que distingue entre estado de n ces-
não cab r em fórmulas comuns porqu , entr vidas m conflito, não
sidad justificante estado de n cessidade exculpante, admite apenas
xiste1n difi r nças d valor ou de quantidade:
exculpação nas situaçõ d rita afirmando r inju tifi át 1qualqu r
a) não existe diferença de valor entre vidas diferentes que au- ponderação entre vidas humanas, com os seguintes argumentos: a)
torize desligar aparelho de respiração/ circulação artificial de pacient uma ética racional do valor exclui cálculos avaliativos ou finalidades
com m nor s chanc s d obr viv"ncia, para ligá-lo m outro com racionais m r lação à vida humana, gundo WELZEL 100 ; b) valor s
maiores chanc s; ou qu permita matar paciente d pequ no t 1npo jurídicos não são valores utilitários, mas fusão de convicções morais
d sobreviv "ncia para ass gurar vida maior d outro com órgãos do fundam ntais da cultura, conform GALLAS 1º1; c) matar qu m mor-
cadáver daquele; ou qu justifiqu sacrificar vidas de valor inferior (as rerá de qualquer modo r presenta, do ponto d vista prático, uma
chamadas vidas sem valor vital) m proveito d vida d maior valor: arbitrária redução da vida humana, s gundo KUPER 1º2 , , do ponto
sacrificar doente mental m favor do prê1nio Nobel, ancião e1n favor de vista teórico, a 1norte 1natematica1nent certa seria mera construção
do jov m, crilninoso em favor do cidadão i lm n ú H93; do pensamento porqu ningu ' m pod conh cer, com c rteza, acont -
b) não existe diferença de quant"dade que permita, no conhe-
cido x mplo d WELZEL, d sviar um tr m d sgov rnado da linha 95 ROXIN, trafrecht, 1997, § 16, n . 30, p. 623.
principal, virando a morte d muitos, para uma linha secundária,
96 R , D ie Kollision rechtmiissiger l nteressen und die Schadenersatzpfiicht bei
rechtmiissigen H andlungen, 1895.
det rminando a mort d poucos 94 ; ou admitir a morte de uma p ssoa, 97 E E KER, Z wang und N otstand in rechtsvergleichender D arstellung, Bd. 1, 191 O.
98 K.L l H, D ie nationalsozialistische Euthanasie im Blickfeld der Rechtsprechung und
Rec~tslehre, M DR, 1950, p. 261.
99 PRO H EL, Die Fdlle des N otstands nach anglo-nmerikani.schem trnfrecht, 1975, p. 61.
91 omparar ROXIN, Strnf,-echt, 1997, § 16 n . 68-70, p. 642-643 . 100 Z L Mo1la tsschri{t fo r Deutsches Recht, 1949, p. 375.
92 Ver R I Strafrecht, 1997, § 16, n. 73-6, p. 644-645. 101 LL , Pj{ichtenkollision ais chuldauss hliesstmgsgrund, Mezg r-FS, 1954, p. 327.
93 ROXI , Strafrecht, 1997, § 16, n. 29, p. 622-623. 102 KUPER, Grund- und Grenzfragen der rechtfertigenden Pflichtenkollision im Stra.frecht,
94 WELZEL, Z um Notstrmdsproblem, Z cW, 63 (1951 ), p. 51. 1979, p. 57.
103
cim ntos futuros, conforme ROXI 2.2.5. Cláusula de razoabilidade. A ação d proteção necessária de bem
jurídico em perigo depende de condição definível como cláusula dera-
Não obstant , resp itáv 1opinião minoritária da própria teoria
zoabilidade: a nã razoável exigência - ou a razoável exigibilidade - de
diferenciadora consid ra justificada a ação d reduzir um mal in -
virável, com argumentos poderosos: a) primeiro, o direito não pod sacrifício do b m jurídico prot gido, nas circunstâncias (art. 24, CP).
proibir salvar u1na vida hu1nana, s impossív 1salvar duas, como dizia Art. 24, § 2°. Embora seja razoável exigir-se o sacri-
WEBER 10 4; b) segundo, o princípio da "usurpação de chance", desen- fício do direito ameaçado) a pena poderá ser reduzida
volvido por OTTO, para casos s melhantes, proíbe aniquilar chanc s de um a dois terços.
d sobr viv "ncia d vítitnas scolhidas m grupo maior- o barco com O cont údo da cláusula d razoabilidade da l i p nal brasil ira
crianças m corr d ira, por ex mplo -, mas não se aplica a vítimas sem não se confunde com o conteúdo da cláusula de apropriação da legis-
chance de sobrevivência, previamente escolhidas pelo destino, como no lação ale1nã, 1nas é equivalente: a não razoável exigência refere-se ao
caso da corda dos alpinistas 10 5; c) nfim, a irracionalidade d c rtas sacrifício do b m jurídico protegido e a aprop riação do meio r fere-s à
situaçó s existenciais permit qualificar todo comportam nto, sünul- capacidad da ação para xcluir o perigo, mas os dois casos r pr sentam
taneamente, como certo e errado, nos quais a decisão cabe à consciência critérios d vai r ção para definir a juridicidad da ação porqu xis-
d cada u1n, como pr p,. e AKl 106 • t m ações necessárias para proteção do b m jurídico qu são injustas,
2.2 .4.2. A teoria unitária da lei p nal brasil ira, que defin estado como a extração forçada de rim para transplante, por exemplo, em
d n cessidade xclusivam nt co1no justificação, ad1nit todos os qu s ria razoável exigir o sacrifício do b m jurídico am açado ou m
argumentos da posição minoritária da teoria diferenciadora, com qu o fato praticado constitui m eio inapropriado para xcluir o perigo.
os seguintes acréscimos: a) estudos recentes admitem áreas livres do A contrapartida da cláusula da não razoável xig "ncia d sacrifício do
direito m conflito r !acionado com ituaçõ s d p rigo comum ou bem jurídico am açado, para a justificação do stado d n cessidad ,
de colisão d d ver s - portanto, não pod m ser injustas açõ s qu ' a razoável xigência d sacrifício do b m jurídico ameaçado, para a
stariam fora da disciplina jurídica; b) admitir, na 1 gislação brasil ira, simpl s redução de pena.
a hipót se supralegal de estado de nec ssidade exculpante, nos mold s A crítica d que tais cláusulas seriam ociosas 108 ou d que r ali-
da t oria dit r n iadora da lei penal alemã, significa mutilar a hipót s zariam m ra função de control 109 não par ce pr judicar sua utilidade,
legal do estado de necessidad justificante da teoria unitária, r <luzindo mbora alguns crit ' rios alternativos ofereçam maior precisão, como
o alcanc d justificação legal em favor de hipot ' tica exculpação supra- a exigência de não 1 sionar a dignidade humana, por ex mplo, um
legal, m pr juízo do acusado 107 • valor absoluto vinculante de rodos os critérios 1I0 .
3. Posições especiais de dever rídico fundado na produção do perigo é objeto de controvérsia sobre
os componentes objetivos e subj tivos do comportamento 1 13 : a pro-
As sociedades contemporâneas definem algumas posições espe- dução do perigo deve ser objetivamente contrária ao dever (segundo a
ciais de dever qu obrigam d t rminado funcionários públicos ou opinião dominant ) 114 ou d ve ser objetiva e subjetivamente contrária
cidadãos comuns a assumir ou suportar o p rigo: a) o dever jurídico ao d ver (s gundo a minoria) 115 • S gm nto importante da lit ratura
de prot ção da comunidad ; 6) o d v r jurídico fundado na produção critica ambas posições: o dever de suportar o p rigo dependeria da
do p rigo; e) o d v r jurídico r sultant da posição d garant ; d) previsibilidade da situação de n cessidade resultant da produção do
o d v r jurídico de suportar perigos som nt vitáv is com danos perigo - afinal, a impl autoexposição a perigo não podes r proibida 116 :
d sproporcionais a t rceiros. o companh iro convidado p lo autor para pass io d barco . 1n 1nar
agitado morre no naufrágio do barco porque o autor se apodera da
Art. 24, § 1°. Não pode alegar estado de necessidade
única boia do bar p r I ar.
quem tinha o dever legal de enfrentar o perigo.
Problemas podem ocorr r nas situaçõ sem qu a determinação
3.1. Dever jurídico de proteção à comunidade. O d v r jurídico
e a exposição ao perigo relacionam-se a pessoas diferentes (o marido
especial de proteção à comunidade incumbe a c nas categorias d
coloca a família m p rigo , para prot g r a família, produz dano m
funcionários públicos que t "m o dever legal de enfr ntar o perigo,
terceiro) ou em que a p ssoa protegida det rmina o p rigo (a mulh r
como bomb iros policiais, mas tamb '1n se st nd aos magis-
do autor produz o p rigo, este a proteg co1n dano a terc iro): n -
trados, em geral, qu não estariam justificados a decidir deste ou
ses casos, a literatura reconhec a inexigibilidade do autor suportar
daquele modo lesivo ao dever, sob alegação de am aça de 1norte,
o perigo - logo, o dever resultante da produção do perigo difere dos
por ex mplo. Atualm nt , ss dever Legal d proteção à comu-
deveres legais especiais, que exigem suportar o perigo 117 .
nidad inclui algumas profissõ s lib rais, co1no a 1n dicina: um
1n 'dico não pode d ixar d atend r um do nt sob al gação d 3.3. Deveres jurídicos da posição de garante. Os dever s jurídicos
perigo de contágio pessoal 11 1• Os deveres de proteção a comunidade fundados na posição de garante r lacionam-s às comunidad s d
estão limitados aos perigos específicos da função ou profissão: vida de perigo: a) em comunidades de vida, a posição de garant
por exemplo, o policial em r lação aos perigos da perseguição do do pai/marido, m catástrofi s como inc ,., ndio, naufrágio ou m
autor de um crim , o médico em relação ao perigo de contágio d acidentes d trânsito, por xe1nplo, exige suportar pessoal1nente
do nças te. ão obstante, esse dever legal pod exigir estender o o p rigo para prot ger mulh r e filhos - o pai/ marido não pode
p rigo à família do obrigado: numa catástrofi , o policial não pod deixar de prot g r membro da família sob alegação d perigo
deixar de proteger a co1nunidade para salvar a mulher ou filhos,
por exemplo 1 12 •
113 RO , Strafrecht, 1997, § 22, n. 45-46, p. 845 .
3.2. Dever jurídico fundado na produção do perigo. O dev r ju- 111 Assim, MA RA H/ZIPF, tra.frecht l, 1992, § 34, n. 5; também, WE EL /
BEULKE, trafrecht, 1998, p. 126, n. 441.
115 J ' __ . ,._,,__,•L'\.I •• úhrbu h d~s trafechts, 1996 § 44, III, 2a, p. 485-486;
CHONKE/SCHRODER/LE C ER Strafgesetzbuch, Kommencar, 1991, § 35, n. 20.
116 ROXI , Stra.frecht, 1997, § 22, n. 45-46, p. 845 -846; BA B ,
Ili
im, ROXI Straftecht, 1997, § 16, n. 56-57, p. 636-637, e§ 19, n. 40, p. 843 . Strafrecht, 1995, § 23, n. 27; HR HKA, Strafrecht nach logisch-analytischer
o Brasil, v r E TIERI, Manual de Direito PenalI, 1999, p. 150. Methode, 1988, 286.
112 Ver RO , Strafrecht, 1997, § 22, n. 41-43, p. 843-844, e n. 52, p. 848 . 11 7 ROXI , Strafrecht, 1997, § 22, n. 50-51, p. 847-848 .
para a saúde ou integridad corporal próprias I18 , exceto hipóteses a teoria dominante, hipóteses de justificação I22 : o pai só pode salvar
de especial gravidade do perigo; b) em comunidades de perigo, os um dos dois filhos em perigo simultâneo de afogamento, com pere-
deveres de cuidado ou vigilância do guia de expedição na selva ou cimento do outro; o médico só pode atender um de dois pacientes
nas montanhas m r lação ao grupo ou do profi ssor m r lação aos m simultâneo perigo d vida, com morte do outro. A opinião d
alunos xigem prot ger m mbro do grupo ou da turma, suportando, qu constituiriam meros casos d xculpação 123 , sob alegação d qu
pessoalmente, o p rigo I 19 • escolhas pessoais r presentariam arbitrário abandono d vidas huma-
3.4. Dever jurídico de suportar perigos somente evitáveis com nas, par e inconsistent : a antijurídicidade supõe a possibilidade d
danos desproporcionais a terceiros. O d v r 1 gal d vitar danos co1nportamento jurídico alt rnativ final i t difi rença entre
o sforço para salvar um n nhu1n sforço para salvar n nhum I24;
desp roporcionais a terc iros para excluir p rigos próprios pode s r
assim equacionado: a) o autor não pod produzir a mort ou dano c) t rc iro, alguns crit 'rios d justificação, como a relação entre os
grav m inoc nt para vitar dano corporal reparáv I - contudo , deveres, o valor do bem jurídico, a gravidade do perigo te. podem
par c justificada a 1nort de terc iro para evitar dano corporal grave ser decisivos: 1) a relação entre os dever s: se os deveres são d si-
ou a morte de vários para evitar a própria morte; b) situações de guais, prevalece o maior; se iguais, qualquer deles; 2) o valor do
p rigo para o corpo, como am aça d qu brar um braço ou sofr r b m jurídico: m inc "ndio d e mus u, a salvação da criança, não
uma contusão s 'ria, admit m evitação mediant dano equival nte, do quadro valioso; 3) a gravidade do p rigo: proteg r a vítima de
1nas xclu 1n matar ou aleijar; c) situaçõ s de p rigo consistent s 1n l são grav , não a vítima d lesão l v ; 4) relações entre d v r es-
pequ na probabilidade d p rd r a vida podem justificar lesão, mas pecial de garantia e d ver geral de solidariedad : o pai d ve salvar
não a morte de terceiros 12º. o filho, e não a criança alheia, na hipótese de perigo simultâneo
de afogamento, pela precedência do dever de garantia; o pai deve
3.5. Limites do dever jurídico ligado as posições especiais de dever.
O d ver jurídico ligado às posições especiais de dever possui limites, salvar a criança alheia ferida gravem nte, e não o filho fi rido lev -
m nt , p la pr c d "ncia do valor do b m jurídico am açado m
pod ndo s r xcluído ou r <luzido por situaçõ s d conflito:
r lação ao d v r de garantia 12 5; 5) hipót s d culpa na produção
a) primeiro, o dever legal de enfrentar o perigo não é absoluto, ces- da situação d n c sidad , supondo igualdad do p rigo, são
sando em fac de certeza ou d p robabilidade d mort ou de lesão polêmicas: o m édico pode atender prim iro o culpado , depois, a
grave porque o direito não pod xigir r núncia à vida ou ac itação vítitna, ou vic -v rsa, indit r nt m nt 126 ; o 1n 'dico deve at nd r
de graves l sões à saúde ou ao corpo 12 1;
b) s gundo, conflitos de deveres de ação pod m constituir, conform
122 JAKOB S, Strafrecht, 1993, 15/6-15, p. 445-449; ROXIN, Strafrecht, 1997, § 16,
n. 10 1- 105 , p. 658-660; H / H~ D Strafgesetzbuch,
Kommentar, 1991, § 32, n. 7; L /B ULKE, tra.frecht, 1998, § 16, p. 234-
235, ns. 73 5-737.
118
HRÔDER/ ER, Strafgesetzbuch, Kommentar, 1991, § 34, 12 3 J m I E , Lehrbuch des Strafrechts, 1996, § 33, V, p. ; HAFT,
n . 34. trafrecht, 1994, p. 1O1.
119 Ver RO Strofrecht, 1997, § 22, n. 54, p. 849. 124 ROXl , Strafrecht, 1997, § 16, n. 105-1 06, p. 660 .
120 im, ROXI , Strafrecht, 1997, § 22, n. 54-5 5, p. 849-850. 125 Ver ROXIN, tra.frecht, 1997, § 16, n. 109-111 , p. 66 1-662.
12 1 ROXI , trafrecht, 1997, § 16, n. 56, p. 636-637. No Brasil, ver E IERI, Manual 126 CHÔ KE/ RÔD ~R/LE CK ER Strafgesetzbuch, Kommcm ar, 199 1, § 32,
de Direito Penall , 1999, p. 150-151. n. 74.
primeiro a vítima, depois o culpado 127 . Em qualquer caso, não há O estrito cumprimento d dever determinado por lei xclui 1 são
diferença qualitativa (bom/mau, novo/velho, inteligente/bobo) de direitos humanos fundamentais definidos em tratados e convenções
ou quantitativa (salvar u1n na direção sul, salvar dois na direção internacionais - por exemplo, homicídios dolosos para impedir fuga
nort ) ntr vidas humanas. de pr d b J im nt p naJ.
A 1 são do dever jurídico d suportar o p rigo d t nnina r - O estrito cumpritn nto d d v r fundado e1n ordem superior
dução da pena, em todas as hipóteses mencionadas, embora alguns pressupõe autoridade competente para emitir a ordem, objeto lícito e
autor s excluam hipót ses de l são d deveres jurídicos especiais, por forma adequada da ordem mitida, s gundo os requisitos de validade
razõ s d prevenção gera/1 2 ou por s r incompatív 1com o princípio dos atos administrativos. Não obstant - como ' óbvio-, admit
da culpabílidade 129 . um r strito dir ito d crítica do subordinado, cujo xercício 'limitado
xclusivam nte à legalidade da ordem, xcluindo razões ou argumen-
tos r !acionados a crit ' rios d oportunidade, de conv ni "ncia ou d
C) Estrito cumprimento de dever legal justiça da ordem.
A situação justificante do estrito cumprimento de d ver 1 gal ' A ruptura dos limites do dev r na aplicação da lei pelo funcio-
constituída p la xist"ncia d lei m s ntido amplo (1 i, d cr to, r - nário público, no emprego de coação ou na privação de liberdade,
gulam nto te.) ou d ordem de superior hierárquico, d t rminant d por exemplo, é frequente e inevitável do ponto de vista estatístico, e
dev r in ulant da ndut d fun i nári públi u m lhad 130 pode d terminar duas consequências imediatas: primeiro, excluir a
justificação da conduta; segundo, permitir a 1 gítitna defesa do cida-
dão agredido 131 . Para resolver esses problemas, a dogmática moderna
127 !}LEI, Strefrecht, 1983, § 88, I, 4a.
128 E a opinião de ROXJN, tra{recht, 1997, § 19, n. 56, p. 850. d s nvolv u o cone ito d uma antijurídicidade especial para o funcio-
129 esse sen tido, JE HE KlwEI E D, Lehrbuch des trafrechts, 1996, § 44, IV, 2,
p. 488 .
13° C mpara r ClRf DO NTO , Teoria do Crime, 1993, p. 55; também,
M l Manual de D ireito Penall, 1999, 151-152. 131 Ver ROX.I , Strafrecht, 1997, § 17, n. 1-2, p. 667-668.
nário público, cujos limites ampliados pod riam justificar ações que, dever, ou seja, com o emprego do cuidado devido, exclui o dolo e
dentro dos limites comuns do conceito, seriam antijurídicas 132 • Essa a imprudência - portanto, exclui o desvalor da ação, impedindo o
antijurídicidade especial do func· nári úblic t ria algun pressu- exercício da legítima defesa; mas o erro evitável do funcionário público
postos obj tiv : a) mp ncia m rial rri rial p r a ação, com não xclui o d svalor da ação autoriza o x rcício da l gítima d fi sa,
xclusão d açõ s fora das atribuiçõ sou fora do t rritório resp ctivo; mbora com as n e ssárias limitaçó ético-sociais 138 •
b) forma pr scrita m lei; c) obs rvância dos princípios da n cessidad
e da proporcionalidad 133 - liá princípio de difí il compreensão
é
pelo funcionário público. A juridicidade da ação não seria xcluída por 2.2. Cumprimento de ordens antijurídicas
rros nonnais sobr tais pr ssupostos obj tivos, ocorridos m xam da
situação conforme ao dever (por exemplo, o oficial de justiça entra na O cumprim nto d ordens superio res antijurídicas é r solvido
casa rrada para cumprir o mandado) - portanto, som nt rros grav s conform as alt rnativas d evidência/ ou d não evidência da natur za
indicadores de culpa gross iras riam capaz s de desl gitimar a ação 134 . típica da ord m: a) ord ns sup rior s il gais de evidente natureza
Contudo, a teoria de uma antijuridicidade especial parece criti- típica não vinculam a conduta não d v m s r cumpridas p lo su-
cáv l: prim iro, o conceito d antijuridicidade especial stá m contra- bordinado, que responde pelo injusto praticado, se cumpre a ordem:
dição com a dogmática p nal, que não trabalha com dois cone itos a autoridad policial ord na ao subordinado spancar susp ito para
d antijurídicidade - u1n norm al para o co1nun1 dos mortais, outro obt r confissão; o superior hierárquico determina ao subordinado
especial para o funcionário público; s gundo, interv nçõ s oficiais sem embriagado dirigir veículo automotor etc.; 6) ordens superior s
ob rvância dos pressupostos legais não geram dever de tolerância; il gais de natureza típica oculta ou duvidosa vinculam a conduta
terceiro, a boa-fé do funcionário público não exclui a antijurídicidade são obrigatórias para o subordinado, que não respond pelo injusto
da ação - assün, não faz o injusto virar justo 135 ; quarto, o sentim nto praticado, se cumpre a orde1n: prisões processualmente admissíveis;
d imunidad do funcionário público ampliaria práticas il gais ou disparo sobres qu stradores para lib rtar reféns; prisão d inoc nt
arbitrária do pod r 136; quinto, o E tado D mocrático d Dir ito fundado m fort susp ita tc. 139 •
garant r sp ito às lib rdad s do cidadão, xig strita obs rvância O cumprim nto d ord ns sup rior s il gais obrigatórias para o
da legalidade pelo funcionário público, não atribui ao funcionário subordinado (natureza típica oculta ou duvidosa) é objeto de controv ;rsia:
público o p rivilégio d rrar 137 • a) constitui justificação, sob o argu1n nto de qu a obrigação de cumprir
Em conclusão, pode-s dizer o s guint : o erro inevitável do a ord m ' incompatív l com a xposição do subordinado à 1 gítima
funcionário público, ocorrido e1n exame da situação confonne ao defesa 140; b) constitui exculpaçáo porqu o injusto nãos transforma em
justo o qu o sup rior não pod , o infi rior tamb ; m não pod 141 - so-
lução adotada p la l i penal brasil ira (art. 22, CP), qu pun som nt
132 im LENZ, D ie D iensthandlung und ihre Rechtmdssigkeit in § 113 StGB, Diss.
Bonn, 1987.
133 n id H T, tmfrecht, 1994, p. 113 . 138 Nesse sentido, ROXIN , trdfrecht, 1997, § 17, n. 13-14, p. 673-674.
134 LA , Strafgesetezbuch mit Erlãuterungen, 1995, 21" edi ão,§ 113, n. 12. 139 HAFT, Stmftecht, 1994, p. 113.
135 ROXI , Strafrecht, 1997, § 17, n. 9, p. 671. 140 JAKOB S, Strafrecht, 1993, 16/14, p. 458-459; JE HE K/WEI END, Lehrbuch
136 Ver THIELE, Z um Rechtmiissigkeitsbegriffbei § 11 , Abs. 3 StGB, JR, 1975, p. 353. des Strafrechts, 1996, § 35, II 3, p. 394-395 .
137 im p n ava JELLINEK, Verwaltungsrecht, 193 1, p. 373. 141 MA CH/ZIPF, Strafrecht l , 1992, § 29, n. 7, p. 408.
o autor da ordem (ver Culpabilidade e exculpação, adiante). injusto típico - ou s ja, d fato típico e antijurídico, o que exclui
ações preparatórias e ações justificadas, de difícil reconhecimento
para o cidadão comum; b) certeza 142 ou forte suspeita 143 de autoria
3. Elementos subjetivos do estrito cumprimento de do fato - o qu agrava as dificuldad s do cidadão comum; e) xt nsão
dever legal da justificação ap nas às ações indispensáveis para conduzir o preso
até a autoridad policial, compr endendo coação lesões leves, mas
xcluindo lesõ s grav s e o mprego d arma, ainda qu o cidadão
Os elem ntos subjetivos do estrito cumprimento de dever legal
possua porte de arma, obviamente lünitada a fins defensivos. Como se
consistem no conhecimento da ituação justificante (a exist"ncia d
v ", par c d sacons lháv 1o x rcício do dir ito d p risão em flagrante
dev r legal) ou no conhecimento da situação justificante e vontade
pelo cidadão comum, para evitar os riscos de ações descontroladas por
d cutnprir o d v r 1 gal, corno pr nd r, coagir te. - em qualqu r
p ssoas não tr inadas para nfr ntar ituaçõ s d viol"ncia. 144
hipótese, com outros componentes psíquicos e emocionais, como
1nedo, perturbação etc. A autoajuda parece melhor definív 1co1no hipótes de ex rcício
regular de direito, e compreende ações diretas sobre pessoas (prender,
liminar a r sist "ncia) ou coisas (tomar, d struir), fora dos casos d
D) Exercício regular de direito 1 gítima d b sa ou de prisão em flagrant , tamb 'm admitindo coação
1 só s 1 v s, 1nas excluindo lesões grav s mpr go de annas, p los
O exercício regular de direito justifica ações do cidadão comu1n
mesmos motivos: após o furto, o proprietário encontra o autor de
d tinidas como direito x reidas d modo regular p lo titular.
posse da coisa furtada, prende-o e recupera a posse da coisa 145•
1.2. Direito de educação. O direito de educação t m por obj to a
1. Situações justificantes ducação de crianças e de adolesc ntes no âmbito da família, compet
xclusivam nt aos titular s do poder familiar m r lação aos filhos -
mbora possa ser x reido, dentro de limit s stritos, por professor s
A dogmática mod rna r conh c duas hipót ses d situações
ducador s no âmbito da scola, com o cons ntlm nto xpr sso ou
justificantes definíveis como exercício regular de direito: a) a atuação
presumido dos r sponsáveis.
pro magistratu; b) o dir ito d ducação.
1.1. Atuação pro magistratu. A atuação p ro magistratu co1npreend 1.2.1. Os direitos da criança e do adolescente. Antes da Lei
situaçõ sem que o cidadão é autorizado a agir porque a autoridade 13 .O10/201 4 (Lei da palmada), os pais xerciam um dir ito d castigo
sobre os filhos, cujos fins ducativos excluíam o próprio tipo 146 , mas
não pod atuar m t mpo, como as hipót s s d p risão em flagrante
e de autoajuda.
A prisão em flagrante realiz da p lo i adão comum requer de- 142 JAKO B , Strafrecht, 1993 16/16, p. 45 · J CHECK/WEIG E D Lehrbuch des
Stref,echts, 1996, § 35, IV, 2, p. 398.
t rminados r quisitos relacionados ao fato, à autoria à xt nsão da 143 ROXJ , Strafrecht, 1997, § 17, n . 24, p. 679 .
144 im, ROXI , traftecht, 1997, § 17, n . 27, p. 681.
justificação, sem os quais não pod ser b tuada , d qualqu r forma, 145 ROXJ , Strafrecht, 1997, § 17, n . 29, p. 682.
com responsabilidade p ssoal pelo abuso do dir ito: a) existência d 146 EB . HMIDT, Bemerkungen zur Rechtsprechung des Bundesgerichuhofi zur Frage
des Zuchtigungsrechtes der Lehrer, 1959, p. 1 ; também, KIE AP . Kó"rperliche
para a opinião dominante constituía justificação 147 , e1nbora severas a criança ou adol scente.
críticas ao castigo corporal como método de educação familiar. Hoje,
o texto 1 gal, a d finição d castigo físico parec ad quada,
os pais exercem o direito de educação e de cuidados da criança e do
porqu caract rizada pelo empr go de força física produtora d so-
adol scent , m g r.al mas o ECA exclui toda forma d castigo físico, frim nto físico ou de I são corporal; mas a d finição de tratatn nto
ou de tratam nto cru 1 ou degradant , mpregados como correção, cruel ou degradant ' tautológica, porqu r d fine a ação proibida
disciplina ou ducação, por part dos pais, da família ampliada, dos mediante simples inversão das palavras do conceito: se tratamento
r sponsáv is, dos ag ntes xecutores d m <lidas socioeducativas, ou cruel é toda forma cruel de tratam nto, então ningu 'm pode saber
de qualquer pessoa encarregada de cuidar, tratar, educar ou proteger o significado d tratam nto cru 1- xc to qu ria uma fonna cru 1
a infância a j uven tud . de tratamento ... No lugar dessa tautologia, a lei deveria de crev r as
1.2.2. Limites do direito de educação dos filhos. Como se vê, a formas de tratamento cruel ou degradant , at' mesmo exemplificando
mudança l gislativa t m por obj to os m 'todos d ducação e d algumas ações dessa natureza, para satisfaz r o postulado político do
cuidados, v dando a agressão física (castigo) ou psíquica (tratam nto princípio da legalidad . Seja como for, as práticas educativas d .tinidas
cruel ou degradante), mas não interfere - ne1n pode interferir, em co1no exercício regular de direito dos pais e1n relação aos filhos, na
soei dad s d mocráticas - na d cisão dos pais sobr cont údos da lit ratura p nal ant rior (palmada , tapa puxõ s de or lha, confina-
ocialização, ou sobre obj tivos das práticas educativas de crianças m nto m quartos te.), não podem mais constituir açõ s ducativas
e d adol scentes, qu stõ s reservadas ao poder familiar no âmbito justificadas no Brasil.
da família monogâmica do dir ito patriarcal burguês. Assim, os pais
1.2.4. Sanções legais contra as ações proibidas. A r aliz ção das
preserv m ·nc ral m n direito de educar os filhos, definindo os
ações proibidas - cujo conteúdo a literatura e a jurisprudência deverão
conteúdos programáticos e os objetivos pedagógicos da educação, d finir -, d t rmina a aplicação d m <lidas sp dfica , m pr juízo
segundo sua concepção do inundo, crenças r ligiosas, convicções de outras sanções, conforme a gravidade do caso, assim d scritas:
ideológicas, val r s políticos princípios filosóficos.
a) encaminhamento das p ssoas indicadas no art. 18-B (i) a
1.2.3. Condutas proibidas contra crianças e adolescentes. Como programa social ou comunitário de proteção à família, (ii) a trata-
a 1 i proíbe d t rminadas condutas contra crianças e adolescentes, o mento psicológico ou psiquiátrico, ou (iii) a cursos ou programas de
prindpi da l galidad d ermina a · crição das ações proibidas, todas
on ntação;
xcluídas dos limit s do ex rdcio regular de dir ito, assim definidas
pelo legislador (art. 18-A, parágrafo único): b) obrigação (das pessoas r feridas no artigo) de ncaminhar a
criança a trata1nento esp cializado;
a) castigo físico ' toda ação disciplinar ou punitiva com empr go
de força física determinant de sofrimento físico ou de lesão; c) adv rt"ncia aos r sponsáv is.
b) tratam nto cru 1 ou d gradant ' toda conduta ou forma Os casos de castigo físico ou de trata1nento cruel ou degradante
cru 1de tratam nto qu humilh , am ac gravem nte ou ridiculariz contra crianças adolesc ntes s rão comunicados ao Cons lho Tutelar,
sem prejuízo d outras provid"ncias 1 gais (art. 13).
público, em geral, a articulação de políticas e de ações para coibir cas- do princípio do praz r, dominante em crianças adol scentes, para
tigo físico e tratamento cruel ou degradante, com difusão de formas o princípio da r alidade, exigido no comportam n to do adulto.
não violentas de educação, mediante (i) campanhas educativas, (ii)
int gração dos órgãos d promoção, proteção d fi sa dos dir itos
de crianças e adol se ntes, (iii) formação d profissionais d saúde
3. Elementos subjetivos no exercício regular de direito
educação para prev nir viol "ncia contra crianças ado] . e nt al ' m
de outras ações esp cíficas (art. 70-A).
O elem nto subj tivo do exercício regular de direito consist no
A importância social d açõ s públicas d selar ciln nto conhecimento da situação justificant (prisão em flagrante, autoajuda
de re ducação dos educadores é evid nte, em esp cial por causa da dir ito d educação) ou no conhecimento da situação justificant
constatação psicológica de que pessoas reprimidas nos proc ssos d e vontade de prend r, de recuperar a coisa ou de educar a criança
ocialização (no caso, os pais) tend m a r produzir os m 'todos r - ou o adol se nt - m qu alquer h ip óte e com outros compon nt s
pressivos nas práticas ducativas d socialização das g rações futuras psíquicos emocionais, co1no raiva, desgosto etc.
(no so o filho ) . s e d do psicanalítico recomenda toda cautela
na aplicação d sançõ s 1 gais contra as g raçõ s d pais nascidos após
a 2ª Gu rra, ainda educadas sob os métodos repr ssivos dominant s
E) Consentimento do t·tular do bem jurídico
no proc sso de socialização fa1niliar e escolar, ern qu as práticas de
palmadas ou de puxões de or lha eram normais - e métodos ainda O consentimento do titular do bem jurídico - ou consentimento do
mais agressivos eram comuns na zona rural do País, incluindo uso ofendido - con i ui cau supralegaL de xdusão da antijurídicidade ou
de chinelos, de varas flexíveis ou de outros objetos para disciplina de da própria tipicidade porque consiste na renúncia à proteção p nal de
criancas e adolescentes, no âmbito da família e da scola.
J b ns jurídicos disponív is 149 - ou s ja, todos os b ns jurídicos individu-
ais, inclusive a vida, em determinadas condições. O consentimento do
titular d b m jurídic p d r real ou presumido, com div r n i na
2. Ação justificada lit ratura sobr os fi itos do consentimento real, m as ons no sobr a
natureza justificante do consentimento presumido. A opinião dominante,
A ação justificada na prisão em flagrante e na autoajuda, como r pr n da p r J H 1 MA R.ACH/ZIPF e ou-
explicado, limita-s às condutas típicas indispensáveis para conduzir tr b c:IJ \..-<CI.U a. m di · çã d RD d fin consentimento real d
o pr o à autoridad ou para r cup rar a po se da coi a furtada, dois modos distintos: a) o cons ntimento veal sob forma d concordância
como 1 são corporal leve, privação da lib rdad te., xcluindo 1 são (Einv rstandnis) t ria fi ito excludente do tipo; b) o consentitn nto real
corporal grave e emprego de armas 148 • A ação justificada no direito sob forma d consentimento (Einwilligung), t ria feito excludente da an-
de educação compr nde exclusivam nt p qu nas co rçõ s físicas tijuridicidade150 . A opiniã min rirária representada por ROXI tribui
constrangim ntos psíquicos indisp nsáv is para stimular a transição
149 CH/ZIPF, tnz/recht 1, 1992, § 17, III, 1, n. 36, p. 227.
150 Ver · , Einwill.igun,g und Einverstandnis des Vérletzten im m:
11s Ve M l RJ., Manual de D ireito Penall , 1999, p. 152. GA, Goltdammers Archiv tur Su afrecht, 1954, p. 2 2· J H D,
ao consentimento real exclusivo efeito excludente do tipo porqu configura 1. Consentimento real
exercício de liberdad constitucional de ação do portador do bem jurí-
dico 151 : se o consentimento real d p rtador do bem jurídico significa
O consentimento real do titular d b m jurídico disponível tem
exercício de lib rdade d ação, ntão nã p d ignificar çã úpica e m
ficácia xcludente da tipicidade da ação porqu o tipo 1 gal proteg
suas funçõ s d ratio essendi ou d ratio cognoscendi da n ijuridi idad
a vontade do portador do b m jurídico, cuja r núncia r pr s nta x r-
ap s de e cluída pela justifica ~ o do cons ntimento do ofi ndido.
cício de liberdade constitucional de ação 154 . Todos os bens jurídicos
Outros argumentos favoráveis à concepção do consentimento individuais, inclusive o corpo e a vida - como mostra a prática de
real como xclud nt do tipos riam os s guint s: a) o cons ntim nto sport s marciais -, são disponív is.
r ai, como renúncia à proteção p nal de bens jurídicos disponíveis,
exclui o desvalor de resultado e, por cons quência, a ação consentida
não r pres nta desvalo r de ação , d scaracterizando o próprio tipo d 1.1. Objeto do consentimento
crime; b) o consentimento real xprime desinter ss · do titular na
proteção do bem jurídico, indicando situação de ausência de conflito a) Liberdade, s xualidad e propriedade. O consentimento do titular
- ao contrário do sist ma d justificaçõ s, fundado na xistência d d bem jurídico individual disponível pode t r por obj to a liberdade
situaçõ s de conflito; c) enfim, o argum nto de que não xist difi - pessoal, no caso d sequestro ou cárcere privado consentido - pr ssu-
r nça s mântica entr concordância exclud nt do tipo consentimento posta a capacidad civil do titular do bem jurídico; a liberdade sexual,
exclud nt da antijuridicidade - por exemplo, na injúria, na privação nas r lações sexuais consentidas - s o titular do b m jurídico possui a
· · 152 . a
de liberdade, na reve1ação d e segre d os etc. -, parece d ec1s1vo idade mínima de 14 anos, xigida para excluir a violência presumida,
prática, não há diferença entre efeito destipificante e efeito justifican- xc to hipót s s d absoluta incapacidad d d cisão válida; a p ro-
te do cons ntimento r al porque o fundamento jurídico necessário p riedade p rivada, m subtrações ou apropriações cons ntidas d coisa
para d stipificar é o m smo xigido para justificar a ação, porqu alh ia móvel etc. 155 - se o titular é, p lo m nos, relativam nte capaz.
a cons qu "ncia jurídica da xclu ão do tipo ' idêntica à da xclu ão
b) Corpo humano: saúde e int gridade. O pod r de disposição d
da antijuridicidad . Mas, al ' m dos argumentos t óricos, a própria
b ns jurídicos relacionados ao corpo, como a saúd ou integridade
econo111ia dogmática aconselha atribuir ao consentimento real efeito
física, pode depender da extensão, da finalidade ou da adequação so-
xclud nt da tipicidad 153 , 1nbora nada itnp ça atribuir-Ih fi ito
cial da 1 são r sp ctiva: a) o cons ntim nto r al xclui a tipicidad d
de xclusão da antijuridicidade, como causa supralegal de justificação.
lesões corporais graves em esportes marciais regulamentados, como
box , carat", judô te., sp cialm nt no g"n ro d comp tição co-
nhecido como vale-tudo, apresentado ao vivo em tel visão, m r d s
Lehrbuch des trefrechts, 1996, § 34, I, p. 7 ~ 76; CH /ZIPF, Strafrecht 1, 154 CH/ZIPF, trafrecht 1, 1992, § 17, III, 1, n. 36, p. 227; ROXl , trafrecht,
1992, § 17, III, 1, n. 32, p. 225. 1997, § 13, n. 11- 14, p. 461 -462.
151 Ver R XI , Strafrecht, 1997, § 13, n. 12, p. 462. 1ss T ·J TO , Teoria do crime, 1993 , p. 5 · mparar F GO O, Lições
152 ROXI , Strafrecht, 1997, § 13, n. 17-22, p. 464-467. de D ireito Penal, 1985, n. 176, p. 199-100; E TlERl, Manual de D ireito Penall,
153 Outra posiçã , aqui m difi ada, m I I D O , Teoria do Crime, p. 57. 1999, p.1 52-15 3.
internacionais em competições de vale-tudo - embora não exclua a tran plant em cônjuge ou parente con angu.ín o até 4° grau, ob decidas
tipicidade de lesões corporais graves em brigas de rua; b) admite-se os requisitos da legislação especial (Lei 9.434/97) sobre capacidade do
efeito excludente da tipicidade em lesões sadomasoquistas consentidas doador, gratuidade da remoção, necessidade terapêutica co1nprovada do
ntr dul m dan ial r alizadas na est ra invioláv 1da vida r ceptor, aus"ncia d risco ou d mutilaçõ sou deformações inac itáv is
privada da p ssoa humana (art. 5º, X, CR). par d ad r nalmen p 'via autorização judicial, exceto no caso
de medula óss a. A limitação r pr s ntada p la exig "'ncia de conformi-
A legislação penal alemã (§ 226 a, CP) expressamente admite
o cons ntimento da vítima como justificação/exclusão da tipicidade, dade aos bons costumes ' in on titu ional, por ab oluta ind t rminação
do conceito: o que são bons costumes, e segundo quais princípios ou
xc to m hipót s s contrárias aos bons costum s 156 - um cone ito
ind terminável, sujeito a profundas distorções ideológicas. o caso d critérios d v m s r definidos?
1 sã rp ral n ntida a lih rdade de disposição do bem jurídico
pr vai ce sobre o valor do b m jurídico prot gido: como sclarec a
1.2. Remoção de 6rgãos, tecidos ou partes do corpo humano
lit ratura, o consentim nto da vítitna pode ter por objeto som nte o
(Lei 9.434/97)
risco para o corpo ou para a vida - e não o resultado de lesão ou de
mort - porque sp ra-s qu tudo corra b m 157 •
A remoção de órgãos, tecidos ou part s do corpo humano, m
No Brasil, a proibição 1 gal de tratamento m 'clico e de in e en-
vida post mortem, para fins d transplant tratamento, ' discipli-
çõ s cirúrgicas contrárias à vontade do paciente (art. 15, CC), m sino
nada p la Lei 9.434/97. Entr as condiçó s stab lecida p la l i,
em casos de risco de vida, institui o consentimento real do titular do
stão as seguint s: a) gratuidad da disposição d t ciclos, órgãos
bem jurídico como fundamento exclud nt da tipi idad nas cirurgias
partes do corpo hu1nano (art. 1O); b) exa1nes prévios do doador e
m ,'dicas in luindo e terilizaçõ , xtração d órgãos m p s oa viv
diagnóstico d infi cção int stação, xigidos p lo Minist 'rio da
para transplant , cirurgi rr tiva d an malias xuai m indivídu
Saúd (art. 2º, § único); e) r alização por quipe cirúrgica de remo-
trans xuais te., qu constitu m 1 só s corporais grav s. O Código d
ção e transplante autorizada pelo SUS, em estabelecimento d saúde
Ética M 'dica (i) d fine como princípio a subordinação das decisões do
pública ou privada (art. 2º).
médico às escolhas do paciente, nos proc dimentos diagnósticos t ra-
pêuticos re orne dado e (ii) ondiciona todo qualquer procedimento Al 'm i o a 1 i cab 1 e e ndições para remoção de tecidos,
1n 'clico ao consentimento do paciente, exceto risco imin nte de mort . 158 órgãos ou part s do corpo humano, m vida post mortem. No caso
A l i civil brasil ira proíb a disposição do corpo m hipótes s de cirurgias de disposição de tecidos, órgãos ou partes do corpo humano vivo
corretivas causadoras de redução permanente da integridade física ou para transplant ou tratam nto, a l i d t rmina condiçõ s sp cíficas
contrárias aos bon ostumes (art. 13, CC). P nnite, contudo, a xtra- relacionadas ao doador, ao receptor e ao objeto de disposição, assim
ção em vida de órgão duplo, de parte de tecido ou partes do corpo para d finidas: a) capacidad jurídica do doador - q u pod r vogar a
doação a qualquer mo1nento (art. 9º) ; b) o receptor deve ser cônjuge
156 "Quem efetua uma lesão corporal com consentimento do lesionado somente atua de modo
ou par nte consanguín o at' o 4° grau do doador - outras hipót s s,
antijurídico se o fato, apesar do consentimento, contraria os bons costumes"(§ 226 a, CP som nt com autorização ·udicial art. 9º) ; c) o objeto d doação dev
alemão).
1s7 ARZT/ BER, trafrecht, BT, 2000, § 6°, n. 28 e 35 . constituir unidade d órgão duplo, ou partes de órgãos, t ciclos ou
158 Resolu ão n. 1.9 1/ 9, ap.ícul I inci o e apírul I , Art. 22.
corpo humano cuja retirada não impeça a vida do doador, não cri concreta do significado e da extensão da ação consentida, ou seja, da
risco para sua integridade, não represente grave comprometimento d renúncia ao bem jurídico respectivo - o que significa conhecimento
suas aptidões vitais e saúde mental e não cause mutilação ou defor- concreto do risco consentido 159 -, determinável co1no questão de
mação inaceitáv l (art. 9º, § 3º); d) finalm nte, prova de n c ssidad fato, ind pend nt mente da idade do portador do b m jurídico 160
t rap "utica indispensáv 1do r c ptor (art. 9º, § 3º). ou do crit ' rio de capacidad civil. ão obstant , a idad é o prim iro
indicador da capacidade de consentimento exclud nte do tipo ou da
Complementarmente, a lei proíbe (a) publicidade de estabele-
c1m nto autorizado para transplantes e nx rtos, (6) apelo público d antijuridicidad , como demonstram os crimes sexuais, em que a idad
de 14 anos delimita a incapacidade/capacidade.
doação d t ciclos, órgãos ou part s do corpo humano para p ssoas
det rminadas ou indet rminadas, (c) apelo público para arrecadação Além disso o consentimento real deve ser expressão de vontade
de fundos para financiamento de transplantes ou nx rtos. livre do titular do b m jurídico, o qu significa exclusão do consen-
Entre as açó crimjn lizadas com p na de r clusão pela lei, tim nto por d feitos de vontad d t rminados por ngano, rro ou
violência. O engano exclui o consentimento s det rminar erro do
estão as seguint s: a) remoção d t cidos, órgãos ou partes do corpo
ofendido sobre espécie e extensão do dano ao bem jurídico ou so-
humano vivo ou m cadáver, contrária às normas legais (art. 14); b)
compra e venda de tecidos, órgãos e partes do corpo humano (art. br int nsidad do p rigo para o b m jurídico: B aplica inj ção d
tranquilizant m A, omitindo informação sobre feito pr judicial à
15); c) realização de transplante e/ou nxerto d t ciclos, órgãos ou
partes do corpo hu1nano, contrárias à legislação (art. 16); d) r colher, saúd ; o erro da vítitna exclui o consentitn nto s mpr qu xpritnir
guardar, transportar, distribuir partes do corpo humano, contrários quívoco p ssoal ou ngano provocado por terceiro; enfim, a violência
real ou ameaçada exclui o consentimento porque bloqueia a vontade
à legislação (art. 17); e) realizar tran plan te ou en erto contrário ao
artigo 10 §§ (art. 18). Outra açõ criminalizada com p na d d - do titular do be1n jurídico 16 1•
t nção ou som nt com p na d multa estão na ár a da criminalidad
d bagar la (artigos 19 20).
1.4. Manifestação do consentimento
Finalmente, a remoção de tecidos, órgãos ou partes do corpo
humano post mortem está submetida às s guint s condiçõ s compl -
A teoria da mediação psíquica - principal t oria sobr manifi sta-
1n ntar s: a) diagnóstico prévio d 1nort nc fálica, por 2 m 'dicos
ção do cons ntitn nto - xig prévia comunicação do cons ntitn nto
diferentes dos responsáv is pelo transplante/tratamento (art. 3º); b)
do titular do bem jurídico ao autor 162 : a comunicação do cons nti-
autorização do cônjuge ou parente e1n linha re a ou cola e al até o 2º
mento ' d cisiva porque a ação con entida deve se conter nos limites
grau da linha sucessória (art. 4°); c) r composição condigna do cadáver,
para ntr ga aos parentes s pultam nto (art. 8º).
do consentimento 163 , o que implica consentimento anterior ao fato da ação típica 166 - ao contrário do consentimento real, expressão de
- consentimento posterior é irrelevante; por outro lado, assim como o liberdade de ação do portador de bem jurídico disponível, que exclui
consentiinento deve ser manifestado antes do fato, essa manifestação a tipicidade da ação. Não há consenso sobre a natureza dessa cons-
de consentimento também pod s r revogada a qualquer mom nto. trução normativa: situa-se entre o consentimento r al e o estado d
Enfim, o consentim nto do titular do b m jurídico pode ser expresso n cessidad 167 , constitui sub spécie do estado d nec ssidade 168 ou
por palavras ou sinais - ou podes r simpl sment tácito, disp nsando uma combinação do estado de necessidade, do consentimento real
o uso de palavras ou sinais: na relação s xual, por exemplo, o con- da gestão de negócios 169 • O consentimento p resumido é subsidiário
sentimento pode ser manifestado de qualquer modo, co1no a reação e1n relação ao consentimento real: se o titular do bem jurídico mani-
positiva do portador do b m jurídico protegido 164 • fi sta cons ntim nto r ai, ntão não há o qu pr sumir; ao contrário,
Se o portador do b m jurídico é incapaz, o consentim nto se não existe consentimento real manifestado, então a existência
objetiva d cons ntim nto pod s r pr sumida. A ação com bas
pod r manifi stado p los pais ou r sponsáv is, como nas cirurgias
no consentimento pr sumido do portador do bem jurídico é, nor-
em filhos m nores: na hipót se der cusa abusiva de consentimento
dos pais em cirurgia necessária, o consentimento pode ser suprido malmente, ação no interesse alh io; a hipótese de consentimento
pr sumido justificador d ação no int resse próprio (por x mplo,
pelo Curador d M nor s ou, se impossív I, o próprio m ' clico
colh r frutas qu apodr c m no quintal do vizinho, qu viajou m
pode agir justificado pelo stado de necessidad ; na hipót se d
conflito entre r pres ntant legal e adolescente r lativa1nente capaz fi ' rias) é admitida pela opinião do1ninante 170 , mas rej irada co1no
risco excessivo p la minoria 171 •
de consentir, pr valece a vontad do adolescent - que, também,
deve ser a referência para a hipótese de consentimento presumido. Enfim, o consentimento presumido pode ser definido
Mas o representante legal não pode consentir pelo portador do bem mediante duas hipóteses clarificadoras, como 1nostra HAFT 172 :
jurídico nas chamadas decisões existenciais, como extração de órgãos a) o consentimento não foi obtido, mas o titular do bem jurídi-
para transplant ou r !acionadas ao núcl o da p rsonalidad , como co cons ntiria, s perguntado: por x mplo , cirurgia urg nt em
autorização para injúria , I ões corporais te. 165 • vítima inconsci nte de acid nt ; não ob tant , o cons ntim nto
não d v ser pr sumido, s a manifi ração d vontad do paci nt
pode, sem prejuízo, ser esperada); b) o consentimento do titu-
2. Consentimento presumido lar do b m jurídico pod ria s r obtido, mas ' d sn e ssário ou
m esmo absurdo: por exemplo, entrar na casa alheia para apagar
incêndio; contudo, o consentimento não pode ser presumido se o
O consentim ento p resumido ' construção normativa do p iquis-
1no do autor sobre a xist "ncia objetiva de consentitn nto do titular
do bem jurídico, que funciona como causa supralegal de justificação
166 J I E , Lehrbuch des trafrechts, 1996, § 34, VII , p. 38 5-6;
ROXJ , trafrecht, 1997, § 18, n . 3-4, p. 697.
167 ROXI , traftecht, 1997, § 18, n. 4 p. 697.
168 WELZEL, Stmfrecht, 1969, § 14, V, p. 92.
169 JAKOB , trafrecht, 1993, 15/17, p. 45 1.
170 J K/\ I , Lehrbuch des Strafrechts, 1996, § 34, VII, lb, 386-387;
163 HAFT, trafrecht, 1994, p. 102- 105. ROXI , Strafrecht, 1997, § 18, n. 17, p. 703.
164 ROXI , Strafrecht, 1997, § 13, n. 45-50, p. 478-480. 17 1 JAKOB S, traftecht, 1993, 15/18, p. 451-452.
165 Ver RO , Strafrecht, 1997, § 13, n. 633-636, p. 486-488. 172 , Strafrecht, l 994, p. 106.
autor conhec vontade contrária do portador do bem jurídico: o A forma ativa de realização da vontade (real ou presumida) da
proprietário não aceitaria, por razões pessoais, a entrada do autor vítima é criminalizada, embora com redução d pena: ou homicídio
na casa, em nenhuma hipótese. privilegiado (art. 121, § 1º, CP), ou participação em suicídio (art.
122, CP) - em outras palavras, a xtinçáo da vida por xig"ncia da
vítima, m diant interv nção dir ta ou ativa colaboração do autor
3. O problema da eutanásia no suicídio da vítima ( ntrega d m ios, por x mplo), ' proibida
de modo absoluto. ar lação médico/paci nt , o Código de Ética
A discussão sobre eutanásia - do grego eu (boa) + thanatos M 'dica proíb (i) abr viar a vida do pacient , mes1no atendendo
(mort ) -, co1no 1norte fundada no cons ntünento real ou presumido sua vontad , assim como (ii) d ixar d pr star cuidados paliativos,
do titular do direito à vida, começa na controvérsia sobre o suicídio: conforme vontade expressa do paciente, no caso de doença incurá-
1) posição cons rvadora supõe um d v r moral d iver a vida toda, v 1 t rminal, xc to açõ s diagnósticas ou t rap "uticas inút is ou
imposto p lo Dir ito natural a todo os r humanos; 2) posição obstinadas 175 .
moderna afirma a lib rdad d morr r m situaçõ s det rminadas por Em contrapartida, a forma passiva de realização da vontade da
exigências morais ou por razões de dignidade humana 173 . vítima é obj to d int r ssant discussão na lit ratura, sp cialm nt
A decisão sobre eutanásia, como homicídio por desejo da na relação m 'dico/paci nte, cujas linhas c ntrais são as s guintes.
vítima - um fato de p quena frequ"ncia statística -, d p nd d 3.2.1. Os deveres do médico. A posição do m 'dica 1n r lação ao
uma qu stão crucial: qu 1n d t rmina quem? O studo da eutanásia paciente é definida por dois deveres principais: o dever de prolongar a
com ça pelo xam da posição da vítima, caracterizada p la vontad vida do paciente e o dever d evitar/reduzir o sofrimento do paciente.
real ou presumida de morrer, termina p lo exam do comporta- Ess s d v r s pod m ntrar m conflito quando a vitação/r dução do
m nto do autor, fundado na . xclusiva vontad da vítima, m diant sofrim nto é incompatív 1com o prolongamento da vida - ou inversa-
ação (ou ajuda ativa) ou omissão de ação (ou ajuda passiva). m nt quando o prolongain nto da vida ' incompatív 1com a viração/
3. 1. Vontade real e presumida de morrer. A von tad real da vítima r dução do sofrim nto. est ponto, surg uma hipótese int r sant : se
dev xprimir um desejo atual de morr r, m diant dara comunica- tratam nt c ntra a vontad do paci nt são proibidos, então n nhum
ção oral ou escrita; a vontad presumida da vítima, cuja r levância ' pacient t mo dever de suportar int enções 1nédicas para manutenção
limitada a situações d inconsci "ncia, pod s r inD rida d indicador s da vida - logo, a ajuda pas. iva consentida m suicídio do paci nt não
reais anteriores relativos a hipóteses futuras indesejáveis - por exemplo, podes r proibida 176 •
vida vegetativa, paralisia etc. 174 . 3.2.2. Os direitos do paciente. A vontad real d pac1 nt s capazes
3.2. Ajuda ativa e ajuda passiva do autor. O pap l do autor pode de manifestação ou a vontade presumida de paci ntes incapazes d
assumir uma forma ativa (ação) ou uma forma passiva (omissão d manifi stação r al, sobr continuar ou int rromp r o tratam nto m ' -
ação) na utanásia. dico, merece respeito absoluto. Assim posta a qu stão, trata-s d
173 RZT/\VEBER trefrecht (BT), 2000, § 3, n. 2. FM n. 1931 /09, art. 41 e parágrafo único.
174 ARZTl" B R, Strafrecht(BT), 2000, § 3, n. 11-12. BER, Strafrecht (BT), 2000, § 3, n. 6.
saber a extensão do dir ito/ dever dom ' dico de prolongar situações d F) Justificação nos tipos de imprudência
sofrimento indignas para o paciente - porque ampliar um sofrimento
indigno constitui tortura psíquica imposta ao paciente. O problema da justificação nos tipos d imprudência resulta da
3.2.3. Princípios da lex artis médica. A relação médico/pacient ' combinação d duas ord ns d fator s: prim iro, o ntr laçam nto
disciplinada por princípios r !acionados à t rapia médica e à vontad ou interpenetração ntr tipo antijurídicidade é maior nos tipos d
do paciente. imprudência do qu nos tipos dolosos; s gundo, a construção judicial
dos tipos abertos d itnprud "ncia leva 1n consid ração a situação corr-
O princípio r !acionado à terapia médica é definido pelos d ver
er ta qu funda1n nta as justificaçõ s 177 . Mas a lit ratura r conh e
de manutenção da vida de redução do sofrimento já referidos - ,
algumas j ustificaçôes, como a legítima d fi sa, o estado de necessidad
no caso de conflito entre esses d veres, a prioridade compete à redução
o cons ntin1 nto do titular do b n1 jurídico ofendido.
do sofrim nto, ap sar do risco d r dução da vida.
1. A legítima defesa nos tipos de imprudência tem por objeto efeitos
O princípio relacionado à vontade do paciente distingu o se-
não dolosos produzidos como riscos típicos dos m ios mpr gados na
guint : a) em pacientes capazes de vontade declarada, respeito absoluto
1 gítima defi sa dolosa. Exemplos: a) o agr ssor ' ferido por disparo
à d cisão d int rrotnp r ou r <luzir o tratam nto; b) m paci ntes
acid ntal de pistola utilizada p lo agr dido como obj to contund nt
inconscientes ou incapazes de declarar a vontade, respeito à vontade
contra o agressor; b) soco de d fesa contra o braço ating , não in-
pr sumida d int rromp r ou r <luzir o tratam nto. Em n nhuma
tencionalmente, o queixo do agressor, det rminando lesão e rebral;
hipót se a terminação da vida admit int rv nções diretas, mediant
e) o agressor é ferido acid ntalmente por disparo de arma do agredido
ajuda ativa no suicídio do paci nte.
co1n finalidade de intitnidação. O fundamento da legítima defesa,
No caso d pacientes terminais, com 1 só s irr v rsív is d n ssas hipót s s, é indiscutível: se o resultado não doloso da situação
órgãos ou funçõ s vitais, admite-se o s guint : a) a omissão ou int r- de legítima defesa seria justificado por dolo, então, com maior razão,
rupção d m <lidas de prolongam nto da vida pressupô concordância 'ju tificado por imprudência 178 •
do paci nt ; b) na hipót s d c rt za d breve mort do pacient , por
A questão dos ele1nentos subjetivos na legítima defesa impru-
lesões irreversíveis de órgãos ou funções vitais, é admissível a ajuda
dent não é clara: segundo HAFT, se o tipo de imprud "ncia não t m
passiva para permitir morte com dignidade- ainda que tecnicamente
el m ntos subjetivos, ntão, por r lação d sim tria, as justificaçõ s
possív 1prot lar a mort .
(e a antijuridicidade) também não têm elem ntos subj tivos 179 ; para
No caso d paci ntes com prognóstico desfavorável, mas ainda ROXIN o l mento subj tivo da 1 gítitna defi sa ünprud nt consist
ind finív is como pacient s t rminais, dep nd da vontad do pacien- na consciência da situação de legítima defesa e da necessidade da ação
t : a) a d cisão d mudança do tratam nto, consid rando a volução da de defesa- mas não do resultado indesejado porque excluiria a legítima
doença e a redução do sofrimento; b) a decisão de 1nanter/prolongar
a ·da com medicin palia i a.
177 Ver DONATS H, orgfalt. bemessung und Erfolg beim Fahrldssigkeitsdelikt, 1987, p.
76.
178 ROXI , Stmfrecht, 1997, § 24, n. 93-94, p. 95 1-952. o Brasil, no mesmo sentido,
TAVARE , Direito Penal da negligência, 2003, p. 363; comparar HEITOR O TA
JR., Teoria dos delitos culposos, 1988, p. 78-80.
179 , Strafrecht, 1994, p. 78.
defesa da imprudência inconsciente 180 , em qu não há representação necessária para salvar a vida d vítüna inconsciente, mas com ins-
do resultado possível. Um problema sério r !aciona-se à ação impru- trumental inadequado e medidas de cuidado insuficientes, em que a
dente objetivamente justa, mas sem consciência da situação de legítüna concreta violação da !ex artis determina danos à saúde do paciente 183 •
defi sa: a) disparo m man jo imprud nte d arma fi r o agr ssor no
mom nto da agressão, s m consciência do agredido sobr a situação
de agr ssão; 6) em manobra lesiva do cuidado, e sem cansei "ncia da
situação de l gítima defesa, motorista atropela assaltant que simu-
lava acidente de trânsito parar alizar assalto. A teoria dominante diz
o guinte: a ação imprud nte não é justificada, mas também não '
punível porque não existe desvalor do resultado, apenas o insuficiente
d svalor d ação 181 •
2. O estado de necessidade nos tipos de imprudência pode ocorr r
em ações de proteção que lesionam proibição de perigo (abstrato ou
correr to) ou d r sultado: a) b "bado atrop la ped stre ao conduzir
acidentado grav para hospital, evitando mort e rta deste; b) ciclista
d svia para o pass io, ao perceb r aproxünação perigosa d carro no
s ntido contrário da ciclovia, ferindo pedestre 182 •
3. O consentimento do titular do em jurídico nos fatos de impru-
d "ncia tamb 'm pod . r r alou pr sumido. O con ntim nto r al do
ofendido em fatos d imprudência é raro porqu não d ve s limitar
ao p rigo criado p lo autor, mas abrang r o próprio r sultado l sivo
r presentado como possível, não exclui somente a antijuridicidad
- como afirma a opinião dominante -, mas a própria tipicidad da
ação ünprudente, nos casos d exposição consentida a perigo criado por
outrem: a vítüna, esclarecida p lo barqu iro sobre os perigos do mar
agitado, insiste no passeio de barco e morre afogada porque, d fato,
o barco emborca sob a viol "ncia das ondas (v r O tipo dos crimes de
imprudência, acima). O cons ntim nto presumido do ofendido xdui
a antijuridicidade da ação: operação urgente no local do acidente,
O cone iro psicológico d culpabilidade ' fonnado por dois pela violação da norma de dever, mas admite exculpar o autor por
elementos: a) a capacidade de culpabilidade (ou imputabilidade), como inex igibilidade de motivação conforme a norma de dever.
capacidade geral ou abstrata de compreender o valor do fato e de querer
1.2.2. lnexigibilidade e exculpa~o. o começo do 'cul 20,
conform a compre nsão do valor do fato, excluída ou reduzida em HAL cone be o oncei o de inexigibilidade como fundamento
1
r duzida aos componentes normativos dos juízos de reprovação e d tem por funda1n nto um dado indemonstrável, ntão a culpabilidade
exculpação 14 • Assim, o conceito normativo de culpabilidade inaugura- não pode servir de fundamento da pena. Por essa razão, o juízo de
do pela teoria finalista da ação caracteriza-se pela seguinte estrutura: culpabilidade não pode ser um conceito ontológico, que descreveria
a) capacidad d culpabilidad ; b) conh cim nto r alou possível do uma qualidad do suj ito, mas um cone ito normativo, que atribui
injusto; c) xigibilidade d comportam nto conform a norma 15 • uma qualidad ao sujeito 17 • Hoj , a tes da culpabilidade como
A univ rsalidade dessa estrutura do cone ito não é gratuita: d fin fundamento da pena foi substituída p la t s da culpabilidad como
culpabilidad como reprovação d um sujeito imputável (o suj ito limitação do poder de punir, com a troca de uma função metafisica
pode saber [e controlar} o que faz) qu realiza, com consciência da de legitimação da punição por uma função política de garantia da
antijuridicidad (o suj ito sabe, realmente, o que faz) m condiçõ s lib rdad individual 18 • Essa substituição não r pr s nta silnpl s
de normalidade de circunstâncias (o sujeito tem o poder de não fazer variação terminológica, mas uma mudança de sinal no conceito de
o que faz) , um tipo d injusto. culpabilidad , com cons qu "ncias político-criminais r l vant : a
culpabilidad como fundamento da p na legitima o poder do Estado
Todavia, a redefinição d culpabilidade como reprovabilidade tem
a natureza de uma definição formal, com a substituição de uma pal ra contra o indivíduo; a culpabilidade como limitação da pena garante a
liberdad do cidadão contra o poder do Estado porqu s não xist
por outra palavra, s m xplicar porque o sujeito é culpáv 1ou porqu
culpabilidad não pode xistir p na, n m int rv nção statal com
o sujeito ' reprováv 1. Explicar porque o suj ito é culpável ou porque '
r provável significa 1nostrar a g"n s r al do juízo der provação, uma fins exclusivament prev ntivos 19 • A definição d culpabilidad co1no
lim itação do pod r d punir contribui para red finir a dogmática
tarefa atribuída às definições mat riais do conceito de culpabilidade.
p nal como sistema de garantias do indivíduo m fac do pod r pu-
nitivo do Estado, capaz d excluir ou de reduzir a interv nção statal
na sb ra d lib rdad do cidadão.
2. Definições materiais do conceito normativo de
culpabilidade As principai teoria con truídas para d finir o conceito mat rial
da culpabilidad ão a s guint s: a) t oria do pod r d agir difer nt ;
O fundamento mat rial da culpabilidad (tamb ' m chamado b) t oria da atitud jurídica r provada ou d fi ituosa; e) t oria dar -
fundamento ontológico da culpabilidade) é definido pela capacidad ponsabilidade pelo próprio caráter; d) t oria do d feito d motivação
d livre decisão do suj ito - aqui está o probl ma: a t s da Liberdade jurídica; ) t oria da dirigibilidad normativa.
de vontade do conceito de culpabilidade é indemonstrável 16 . Se a pena 2.1. A t oria do poder de agir diferente (andershand lnkonnen) d
criminal pr ssupó culpabilidad s a r provação d culpabilidad WELZ L ARTHUR F e outros, dominante na literatura
e na jurisprudência alemã, fundamenta a reprovação de culpabilidad tam nto 1n ara t rí ti s da p r nalidad · b) s und E H 27 ,
no poder atribuído ao sujeito de agir de outro modo 20 : o autor é r - a responsabilidade pelo caráter implica o dever de tolerar a pena; c) con-
provado porque se decidiu pelo injusto, tendo o poder de se decidir forme HEI ITZ28 , todos respondem pelo que são, independentemente da
pelo direito. A base int rna desse pod r do autor r sid na atribuída multiplicidade de fatores condicionantes. O propósito louváv 1d xcluir
capacidade d livr decisão, que assum como v rdade a hipót s aba me afí ica d juízo d reprovação não evita problemas m fac
ind monstrável da liberdade d vontad 2 1, de início em persp ctiva do princípio da culpabilidade: prim iro, culpabilidade pelo caráter é cul-
concreta, depois m persp criva abstrata: a) na variant concr ta, o pabilidad sem culpa; s gundo, culpabilidade p elo caráter par c supor
pod r de agir dit rente atribuído ao autor individual é, simplesmente, um Direito P nal om finalidad pr ventivas; terceiro, punição com
ind monstráv l; b) na variant abstrata, o pod r d agir dit r nt ' finalidad s p reventivas anula o significado político d garantia individual
atribuído a uma pessoa imaginária colocada no lugar do autor reaF 2 • (limitação do poder de punir) atribuído ao princípio da culpabilidade29 .
2.2. A t oria da atitude jurídica reprovada (r chdich missbilligt 2.4. A teoria da culpabilidade como defeito de motivação jurídica
G innung) d J H K/ 23 ou da atitude defeituosa (Manko an r chtlich Motivierung), de JAKOBS 30, vinculada ao sist ma
(fehlerhafte Einstellung) de WESSELS/BEULKE 24 fundamentam a funcional de LUHMANN, fundamenta o Direito Penal na p revenção
r provação de culpabilidad na livr autod t rminação d uma atitud geral positiva atribuída à p na criminal, consistent na estabilização
reprovada ou defeituosa do autor na realização do tipo d injusto. Ess das expectativas normativas da comunidade, obtida mediante punição
crit ' rio, u1na variante da t o ria do poder de agir diferente, ta1nb ' 1n xe1nplar d fatos puníveis. O cone ito de defeito de motivação jurídica
assum como v rdade a hipótes indemonstrável da liberdade de par c próximo da t oria da atitude defeituosa d WE L /B UL .
vontad igual1n nt mm tra a g .. n real do juízo de reprovação ou da teoria do poder de agir diferente de WELZEL, igualmente sem
- porque o autor é reprovado-, parecendo outra definição fo rmal de explicar a gênese r al da ulpabilidad 31 •
culpabilidad por simpl s substituição de palavr : atitude defeituosas 2.5. A t oria da dirigibilidade normativa (normativ Anspr chbarkeit),
ou atitud s reprováveis pod m d ser v r, mas não pod m xplicar o cunhada por NOLL32 , fundam nta a r provação d culpabilidad (a)
conteúdo do juízo de culpabilidade25. na normal determinabilidade através de motivos, segundo LISZT33 , ou
2.3. A t oria da responsabilidade pelo próprio caráter (Einst henmuss n (b) no estado psíquico disponível ao apelo da norma xistent na maioria
fur d n eigenen Charakt r), cujas bases detenninistas remontam a dos adultos saudáveis e n.f; rm a f;' rmttl m d rna d ALBRE HT 34 ,
SCHOP HAUER26 . fundam nta: a) a responsabilidade p lo compor- ou (c) na capacidade de comportamento conforme a norma, segundo
ROXI 35 - situaçó u e nstituirian1 dad da xp ri "ncia i ntífica de culpabilidad ou d reprovação fundados na liberdade de vontade
independentes da hipótese indemonstrável da liberdade e, em princípio, perderam toda e qualquer base científica: a ideia de livre-arbítrio como
aceitáveis por deterministas e indeterministas. A culpabilidade seria um expressão de absoluto indeterminismo foi excluída da Psicologia e da
conceito formado p lo 1 m nto empírico da capacidade de autodireção Sociologia modernas r presentaria, na m lhor das hipótes s, um
p lo 1 m nto normativo d autodireção conforme normas, cumprindo sentimento pessoal, segundo a Psicanális 39 . Por outro lado, a respon-
a t r fa imult" n a d fundam to da responsabilidade p lo compor- abilidad p lo próprio comportam nto não pod r uma qu tão
tam nto ocial d garantia política d limitação do poder punitivo, m etafísica, dep ndent d pressupostos ind monstráveis, porque ' um
no moderno Estado D emocrático de Direito. Mas existem críticas de problema prático ligado à r id d d vi i 1.
amb d.ir ções: de deterministas, sobre a identidade nc itual entr a v rdad , o hom m ' r sponsáv l por sua açõ porqu vive em
dirigibilidade normativa e liberdade de vontade16 ; de indeterministas, ociedade40 , um lugar marcado pela xistência do outro, em que o suj iro
porqu a lib rdad d vontad , d finida como capacidade de autodeter- ', ao m smo t mpo, ego alter, d modo qu a sobr viv"'ncia do ego só
minação espiritual, pod s r concretam nte ind monstrável mas eria 'pos ív l p lo r sp ito ao alter não por causa do atributo da lib rdad
elemento de reconstrução comunitária da realidade37 , acima d qualqu r de vontad : o p rincípio da alteridade - e não a presunção de liberdade -
qu stionam nto 38. Não obstant , a d finição de culpabilidad como dev r fundam no m rial da p n b"Hdad i 41 e, portanto,
dirigi-bitidade normativa p e digna d r gistro: pr s rv i a função d d - qualqu -r juízo de reprovação p ssoal p lo comportam nto o ·a1.
garantia política do princípio da culpabilidad , como limitação do poder
O princípio da alteridade permitiria fundamentar a responsa-
de punir, e indicaria as bases mpíricas normativas da responsabilidad
bilidad p lo co1nportam nto o ial na normalidade d fonnação da
pes oal pelo comportamento o ial, em ne e sidade de pr s upostos
vontad do autor de um tipo d injusto: m condições normais o sujeito
m etafísicos indemonstráveis.
imputáv 1 sabe o que faz (conhecimento do injusto) e, em princípio,
t m o poder de não fazer o que faz ( xigibilidad d comportam nto
3. O princípio da alteridade como base da diverso); logo, condições anormais de formação da vontad concretizada
no tipo de injusto podem excluir a cansei "ncia da antijuridicidad (erro
responsabil ·dade social
de proibição) ou a exigibilidade de co1nport .,.. ..... ,..'"' di erso (situações
A responsabilidade p ssoal p lo comportam nto social - o d exculpação) . E1n última instância, o studo da culpabilidad consist
r conhecimento do m 'rito por açõ s o i lm nt Út is - par c im- na pesquisa de defeitos na formação da vontad antijurídica: a) na ár a
pr scindív l à sobr viv"ncia da soei dad cont mporân a, mas juízos da capacidade de vontade, a pesquisa d d fc itos orgânicos ou fancio -
35 RO , Straftecht, 1997, § 19, n. 36-46, p. 740-745 . o Brasil, TAVARE , Ascontrovér- 39 Ver, por todos, PO , D ie Unzuldnglíchkeit der Freiheitsbeweise, 1987, p. 321 s.
sÍIIS em tomo d1Js crimes omissivos, 1996, p. 100: 'Na verd&ie ofundamento do j uízo de en- 40 im, FERRI, D as Verbra chen 11./s sociale Erscheinung, 1896, p. 297.
sum da culpabilidnde deve residir na capacidade de 11wtivaçdo do agente conforme th- exigências 41 Ver a feliz intuição de BATI TA, Matrizes ibéricas do sistema penal brasileiro I, 2000,
da ordem jurfdi '11. niío no seu a priori indemonstrável d r a!tir d urro modo.,, p. 22: "Relações jurídicas são sempre relações entre mais de um sujeito. A categoria da
36 FRI TER, Die Struktur des ''voluntativen schuldelements", 1993, p. 99 s. r rid~d mereceria ter-se deslocado da metafisica de ristóteles para um bairro central
37 H , Die Funktion des Schuldprinzips im Praventionsstrafrecht, in: da filosofia do direito, levando consigo a difi re nça (que não a constitui mas a assimila)
ch unemann (H rsg.). Grundfragen des modernen Strafrechtssystems, 1984, 163-166. e a diversidade (que, ao romper a identidade a inaugura), até porque essa filosofia se
38 R' H R KAUFMANN, Unzeitgemasse Betrachtungen zum Schuldgrundsatz im construiu muito sobre o solo sempre intersubjetivo do direito privado; um filosofar que
Strafrecht, Jura, 1986, p. 226. principiava pelo Meu e pelo Teu, como em Kant."
nais do aparelho psíquico; b) na área do conhecimento do injusto, a CP) - um critério cronológico mpírico, mas preciso; m complemen-
pesquisa de condições internas negativas do conhecimento real do fato, to, a lei p nal pressupõe indivíduo portador de aparelho psíquico livr
expressas no erro de proibição; c) na área da exigibilidade, a pesquisa de de defeitos funcionais ou constitucionais, excludentes ou redutores
condiçõ s externas n gativas do p oder de não fazer o quefoz: as situações de da capacidad d compr nd r a natur za proibida d suas ações ou
exculpaçáo produzidas por conflitos, pre só , perturbações, medos te. 42 . de orientar o comportam nto de acordo com essa compr ensão (art.
26 e parágrafo único, CP) - um critério ci ntífico controvertido, por
causa do conflito da Psiquiatria sobr o conceito d do nça m ntal43 .
11. Estrutura do conceito de culpabilidade Por ss crit 'rio , indivíduos com 18 anos d idad compl tos,
m condiçõe d normalidad p íquica, são portadores da capacidade
A estrutura do conceito de culpabilidade é constituída por um geral ou abstrata de culpabilidade; a capacidade p nal ' excluída ou
conjunto d l m ntos cap d xplicar porque o suj iro ' r provado:
reduzida m indivíduos portadores d psicopatologias constitucionais
primeiro, a capacidade de culpabilidade (ou imputabilidade), excluída ou ou adquiridas det rminantes da exclusão ou dar dução da capacidad
reduzida p la m noridade ou por doenças e anomalia m ntais; segundo, de compreender a proibição de ações ou de orientar o comportamen-
o conhecimento do injusto, xcluído ou r <luzido p lo erro d proibição; to d acordo com ssa compr nsão. Em conclusão: a capacidad d
t rc iro, a exigibilidade de conduta diversa, xcluída ou reduzida por culpabilidad ' presumida m indivíduos com 18 anos de idad
an rmalidad e nfigurad n i u ções de exculpação. excluída ou reduzida em indivíduos portadores de psicopatologias x-
cludent sou redutoras da capacidade de compreensão da proibição ou
de orientação correspondente. Assim, o critério legal para determinar
1. Capacidade de culpabilidade a capacidade de culpabilidade é negativo, funcionando como regra/
exceção: o Estado presume a capacidad de culpabilidade d indivídu-
O estudo do conceito de capacidade de culpabilidade (ou impu- os maior s d 18 anos (r gra), xduída ou r <luzida m hipót ses d
tabilidade) 'n e ssário para selar c r as situaçõ s d incapacidad d psicopatologias constitucionais ou adquiridas ( xc ção).
culpabilidad ou de capacidad r !ativa de culpabilidad , b m como
os probl mas político-criminais da emoção da paixão da chamada
1.1. Incapacidade de culpabilidade
actio libera in causa.
A capacidade de culpabilidade é atributo jurídico de indivíduos A incapacidade de culpabilidade (ou inimputabilidade p na!) ,
com d t rminados nív is d desenvolvimento biológico d normalidade como ausência das condiçõ s pessoais mínimas d d s nvolvim nto
psíquica, n c ssários para compreend r a natureza proibida de c nas biológico e d sanidade psíquica, ocorr nas seguint hipóteses:
açõ s orientar o comportam nto conforme essa compre nsão. A lei
1. Indivíduos m nor s de 18 anos não possu m o d s nvolvim nto
p nal brasil ira xig a idad d 18 anos como marco d d s nvolvi-
biop i ológico o ial n ·e ário para compr nder a natureza cri-
m nto biológico mínimo para a capacidad de culpabilidad (art. 27,
ruinosa de suas ações ou para ori ntar o comportamento de acordo a epil psia, e (3) a desagregação da p r onalidad por arteriosclerose ou
com essa compreensão: atrofia cerebral; b) as psicoses endógenas compreendem, fundamen-
t. 27. Os menores de 18 (dezoito) anos são penalmen- talmente, a esquizofrenia e a paranoia45 , por um lado, e a megalomania
te inimputáveis, ficando sujeitos às normas estabelecidas a mania, por outro.
na legislação especial 3. O desenvolvimento mental incompleto ou retardado co1npr nd todas
O critério político-criminal do legislador corr to: m nores d
I as hipóteses de oligofrenias, como defeitos constitucionais do órgão
18 anos são capazes de compr nder o injusto de crim s graves, como cerebral: a) as debilidades mentais, qu admit m frequ Ancia a escolas
homicídio, 1 só s corporais, roubo, furto, stupro, por x mplo, mas sp ciais ou r alização d atividad s práticas, 1nas não o x rcício d
são incapazes de compreender o injusto da maioria dos crimes comuns profissões; b) as imbecilidades, com xigência de cuidados esp ciais da
definidos no Código Penal e, praticamente, d nenhum dos crimes família ou d instituições, mas sem possibilidade d vida independente;
definidos m l is especiais (crimes contra o m io ambi nt , a ord m c) as idiotias, marcadas p la n cessidad d custódia , fr qu nt m nt ,
conô1nica tributária, as r laçá s de consu1no, o sist ma financ iro p la incapacidad d falar46 .
te.); mais important ainda: em todas as hipót s s acima r fi ridas 4. A embriaguez completa por caso fortuito ou força maior, pelo álcool
são incapazes d comportamento conforme a eventual compreensão ou substâncias análogas, também constitui stado psíquico patológico
do injusto, por insuficiente d senvolvim nto do poder d control xcludent da capacidad de culpabilidade.
dos instintos, impulsos ou moçõ s44 .
Art. 28, § 1°. É isento de pena o agente que) por
2. Igualm nt , a doença mental o desenvolvimento mental incompleto embriaguez completa, proveniente de caso fortuito ou
ou retardado determinant s d incapacidad de compreender o injusto força maior, era, ao tempo da ação ou da omissão, in-
do fato ou de agir conform ssa co1npr nsão constitu 1n hipót s s teiramente incapaz de entender o caráter ilícito do Jato
de exclusão da capacidade de culpabilidade: ou de determinar-se de acordo com esse entendimento.
Art. 26. É isento de pena o agente que, por doença 5. Enfim, a atual lei de drogas ta1nb m considera o efeito fortuito ou
I
mental ou desenvolvimento mental incompleto ou d força maior d droga obr o apar lho psíquico, a dependência
retardado) era) ao tempo da ação ou da omissão, intei- d droga (estados psíquicos de angústia pela privação da droga, com
ramente incapaz de entender o caráter ilícito do Jato profundas mudanças da personalidade) como situações patológicas
ou de determinar-se de acordo com esse entendimento. agudas ou crônicas excludentes da capacidade d culpabilidade.
A doença mental (hoje r definida como transtorno psíquico) Art. 45 (Lei 11.343/06). É isento de pena o agente
co1npreende as hipótes s d patologias constitucionais ou adquiridas que, em razão da dependência, ou sob o efeito, prove-
do apar lho psíquico, d finidas co1no psicoses exógenas endógenas: a) niente de caso fortuito ou força maior, de droga, era,
as psicoses exógenas compreendem ( 1) as psicoses produzidas por
traumas (1 só s) por tumor sou inflamaçõ s do órgão cer bral, (2)
45 Ver W] TER, Handbuch der fo rensischen Psychiatrie, editado por Gõppinger e Witter,
1972, v. I, p. 477 s. e v. II, p. 1.039.
46 Assim, NEDOPIL, Fo rensische Psychiatrie, 1996, p. 60 s. o Brasil, v r E Tl ERI,
44 Ver ROXIN, Strafrecht, 1997 , § 20, n. 52, p. 780. M anual de Direito Penal I, 1999, p. 173.
ao tempo da ação ou da omissão, qualquer que tenha torno mental (a antiga doença mental das medidas de segurança)ou
sido a infração penal praticada, inteiramente incapaz por desenvolvimento mental incompleto ou retardado é a aplicação de
de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se medida de proteção da Lei 10.216 /2001 - e não mais a internação em
de acordo com esse entendimento. casa de custódia d tratam nto psiquiátrico, do Código Penal (arti-
Parágrafo único. ,Quando absolver o agente, reconhe- gos 96, I-II, e 97, CP); no caso d incapacidad de culpabilidad por
cendo) porforça pericial que este apresentava) à época do dependência de droga, a on equ "ncia 1 g l ' o tr tam nto m r gim
Jato previsto neste artigo, as condições referidas no caput d internação hospitalar ou m regime extra-hospitalar (art. 52, pa-
deste artigo, poderá determinar ojuiz, na sentença, o seu rágrafo único, da Lei 11. 343/06); enfim, na hipótese de incapacidade
encaminhamento para tratamento médico adequado. d culpabilidad por fi ito do álcool ou de droga, fortuito ou de força
maior, não há aplicação de nenhuma m <lida de segurança.
A exclusão da capacidade de culpabilidade nas hipóteses (a) de
doença mental ou de desenvolvimento mental incompleto ou retardado,
(b) de embriaguez completa por caso fortuito ou força 1naior, (c) de 1.2. Capacidade relativa de culpabilidade
e.feito fortuito ou por força maior d droga sobr o aparelho psíquico,
e (d) de dependência d droga, pressupõ dois momentos: primeiro, A capacidade relativa d culpabilidade indica redução da capa-
id ntificação da pacologi con ti ucional ou dquir·da do ap r lho cidad de compr nd r o injusto do fato ou d agir conform ssa
psíquico ou d outro estado patológico, crônico ou agudo, produzido compreensão, caracterizada pela maior ou menor dificuldade de dirigi-
p lo álcool, p la droga ou p la d p nd"ncia da droga; s gundo, v rifi- bilidade normativa, d t rminada (a) por p rturbaçã d úd m l
cação do efeito excludente da capacidade de compreender o injusto do (art. 26, parágrafo único, CP), e (b) por todas as demais hipóteses
fato ou d agir conform essa compr ensão, produzido p la patologia d scritas no it m 1.1, acima: desenvolvimento m ntal incompl to
constitucional ou adquirida r sp ctiva, p lo álcool, p la droga ou p ]a ou r tardado, restrito aos casos 1 v s d debilidade mental (art. 26,
dep ndência da droga. Em teoria, ocorr divisão d trabalho entr parágrafo único, CP); embriagu z p lo álcool ou análogos, fortuita
peritos e juízes: os peritos identificam a patologia psíquica v rificam ou de força maior (art. 28, § 2°, CP); efeito de droga, fortuito ou de
s u feito sobr as funções de repr sentação de vontade do aparelho força maior, d p nd "ncia d droga (art. 46, da L i 11.343/06), cuja
psíquico; os juíz s formulam um juízo definitivo sobr a capacidade d r produção ' desn c ssária.
compreensão do injusto e de controle do comportamento conforme
ssa compr nsão 47 ; na prática, os p rito são v rdad iro juízes para-
Art. 26. Parágrafo único. A pena pode ser reduzida
de um a dois terços) se o agente, em virtude e pertur-
lelos, cujo poder resid no ex rcício d um saber sp cializado, imun
bação da saúde mental ou por desenvolvimento mental
à crítica d 1 igos 48 .
incompleto ou retardado não era inteiramente capaz de
6. A cons qu "ncia 1 gal da incapacidad d culpabilidad por trans- entender o caráter ilícito do Jato ou de determinar-se
de acordo com esse entendimento.
47 RO , trafrecht, 1997, § 20, n. 27 , p. 768.
48 FOUCAULT, Vigiar e p unir, 1977, p. 21-25. o Brasil, ver o estudo crítico de 1. O conceito de perturbação da saúde mental designa psicopatologias
GOME DA ILVA, Transtornos mentais e crime: reflexões sobre o complexo diálogo entre m nos graves do que a doença mental, como estados patológicos do
a ~siquintria e o , ireito Penal, _in D ireito e ociedade (Revista do Ministério Público do
Estado do Parana), v. 2, n. 2, Jnl.ldez. 2001 , p. 81-121. apar lho psíquico constituídos por d f◄ itos esquizofr"nicos, manifi sta-
ções de demência senil, art riosclerose ou atrofia cer bral formas l es I - a emoção e a paixão;
de epilepsia, traumas cerebrais de efeitos psíquicos mínimos, formas II - a embriaguez) voluntária ou culposa, pelo álcool
leves de debilidade mental, psicopatias e neuroses49 . ou substância de efeitos análogos.
2. A cons quência legal da capacidad r !ativa de culpabilidade 1.3.1. Emoção e paixão. A emoção e a paixão, na lei penal brasileira,
por pertu rbação da saúde mental ou por outros stados patológicos, não xdu ma capacidad d culpabilidad , mas pod m privil giar o
transitórios ou permanentes, do aparelho psíquico, é a redução da tipo de injusto ou atenuar a pena. A emoção d fin xcitações psicos-
pena d um a dois terços: a redução da pena é obrigatória, pois se a somáticas ligadas à sobrevivência individual, produzidas por r açõ s
p na não pod ultrapassar a m dida da culpabilidad , ntão a r - químico-neurônicas compl xas, como impulsos, instintos ou afi tos,
d ução da ca pacidad de culpabilidade determina, n c sariam n te, que os gregos denominavam pathos e os romanos, passio - donde
a redução da p na 50 . Argumentos contrários à r dução da pena são a popularização do tenno paixão para indicar sentimento ou amor
inconvinc nt s desumanos: a) a reduzida s nsibilidade à p na d intensos. As moçõ s ou sentimentos infonnam os pensa1nentos
psicopatas déb is 1nentais aconselharia aplicação d pena int gral; as decisões da psicologia individual e col tiva, como forças motoras
b) a reduzida capacidade de autocontrole de psicopatas e débeis primárias mais ou menos inconscientes das ações humanas 52 , cuja
m ntais d v ria s r comp nsada com circunstâncias d l vação in vitáv 1 influ "ncia nos ato psíquico na conduta social do s r
da culpabilidade, m casos de cru ldad , por exemplo. A lógica do humano precisa ser compatibilizada com o princípio da culpabilidade
argu1nento é circular contraditória porqu o mesmo fator d ter- nos programas político-criminais cont mporân os.
minaria, simultaneam nte, ar dução da culpabilidade (psicopatias
ou debilidades mentais explicariam a crueldade) e a agravação da Originalment , DT las ih. ou a moções em 3 par s
culpabilidade (a crueldade do psicopata ou débil mental como fator fundamentais: prazer/despraz r, excitação/inibição, t nsão/solução 53 ;
de agravação da pena) 51. hoj , xist uma lista adicional d 16 emoçõ s distintas: alegria, tris-
teza, raiva, medo, nojo, gratidão, vergonha, amor, orgulho, compai-
xão, ódio e susto - e ainda algumas outras, como satisfação, alívio e
1.3. Problemas político criminai especiai sentim nto de culpa. 54
a v rdade, a dinâmica de formação, agravação e descarga agres-
A disciplina jurídica da legislação penal brasileira sobre duas siva de emoções ou afetos representa grave perturbação psíquica não
situaçõ s psíquicas anonnais ligadas à capacidad d culpabilidad patológica que, assim como outras situaçõ s xtremas de esgotam nto
está, para dizer o menos, m r lação de tensão com o princípio da ou fadiga, pode xcluir ou r duzir a capacidade de culpabilidade, como
culpabilidad . pr v,. _ , por x mplo, a legislação p nal al 1nã55 • Atitud s d r pr ssão
Art. 28. Não excluem a imputabilidade penal·
52 V◄ r F , O ego e o id, Imago, v. XIX, p. 25- 83, esp. 80-83; do mesmo, Além do
princípio do prazer, Imago, v. XVIII, p. 17-85.
49 Ver ROXI , Strafrecht, 1997, § 20, n. 32, p. 77 1. 53 D , Grundriss der Psychologie, 2004.
50 Ver BA MANN BER trafrecht, 199 5, § 19, n. 25; também, ROXIN , trafrecht, 54 PRE HT, Wer bin lch - und wennja, wie viele?, Goldmann , 2005 , p. 74-84.
1997, § 20, n. 36, p. 77 ; T TENWERTH, Strafrecht, 1981, n. 546. 55 Ver RO T trafrecht, 1997, § 20, n. 13- 18, p. 761-764; também, ELS/
51 RO , Strnfrecht, 1997, § 20, n. 38-42, p. 774-776. B KE, Strafrecht, 1998, n. 410, p. 117- 118.
intransig nte às pulsões fundamentais do hom m parec m inad qua- base no direito costumeiro 59 : ssa t oria parece incompatível com o
das: as manifestações da afetividade humana devem ser avaliadas no princípio da legalidade, que exclui o direito costumeiro como incri-
onre to da a ui ições da moderna psicologia, que o siste1na de justiça minação de condutas, e co1n o p rincípio da culpabilidade, porque
criminal não pode ignorar 56 . Por ex mplo, não é possível confundir dolo e imprudência não d t rminam o fato, nem fundam ntam a
afetos fones (ou estênicos), fundados no instinto de destruição, como reprovação de culpabilidade6°; b) a t oria do tipo fundamenta a atri-
ira ou ódio, por um lado, afi tos fracos (ou a t "nicos), fundados no buição do r ultado típico ao autor no mom nto d capacidad d
instinto de sobrevivência, como medo, susto ou perturbação psíquica, culpabilidad anterior ao fato, como d t rminação der sultado típico
por outro lado, cujo poder determinante das ações humanas não pode doloso ou imprudente- e não no momento posterior (de incapacidade
s r desconsiderado pelo Direito P nal. de culpabilidade) do fato - e, assim, não abre exceção ao p rincípio da
coincidência ntre capacidad d culpabilidade r alização dolosa ou
1.3.2. Actio libera in causa. O conceito de actio libera in causa pr s-
supõe capacidade d culpabilidad na ação p recedente, em que o autor imprudente de um tipo de injusto 61 •
coloca m stado d incapacidad d culpabilidad , com int nção a) Em fotos imprudentes a t o ria da actio lib ra in cau a não ncontra difi-
de r alizar (d lo) ou ndo previsív 1 a possibilidade d r alizar (im- culdad s, p la id ntidade strutural ntr ainbos os cone itos: a 1 são do
prudência) foto típico posterior determinado: no caso de dolo, o autor dever de cuidado ou do risco permitido é anterior em relação à produção
ing re grand uantidad d álc l para up rar inibiçõ s agr dir a do r sultado típico 62 . Por ex 1nplo: s o marido, ncol rizado contra a
vítima; no caso de imprudência, o autor ingere grand quantidade de mulh r, mbriaga-se e a agrid , mas sem t r pensado pr viament em
álc I rn r pr sentar a possibilidad de agr dir lgu ' m u e nfi 1d agredir a mulh r em estado d incapacidad d culpabilidad , o ato d
l vianam nt na hipót s d não agredir ninguém57 • im a actio lib ra mbriagar-se r pr sentaria simples criação de risco não permitido contra
in causa consist na autoincapacitação t mporária (a) com o propósito a int gridad física da mulh r- e, n sse o, a agr ssão à mulher s ria
de praticar crime d terminado ou (b) em situação de previsibilidade de ar aliz ção do risco criado, caracterizando o tipo de lesá p ral im-
praticar crime detenninado (ação anterior) - crime realmente praticado prudent/'3 . Aqui, é n e ssário um selar cim nto da maior significação
no estado subs quent d incapacitação t mporária (ação posterior) 58 . prática: se o autor, na ação precedente, não tem o propósito (dolo direto)
Existem duas t orias sobre a actio libera in causa: a) a teoria ou não admit · a po sibilidad (dolo v ntual) d realizar d terminado
da exceção considera a actio lib ra in causa uma exceção ao princípio tipo d crüne e1n tado d incapacidad d culpabilidad , ntão o resul-
da capacidad d culpabilidad no momento do foto, justificada com tado típico produzido na ação posterior não pode ser atribuído por dolo,
independentemente de ser int j n (o sujeito quer se e1nbriagar) ou
imprud nte (o suj ito se mbriaga, progr ssiva m inad ertidam nt )
56 Ver, p ialm nc , a rfri de T] RI, Manual de Direito PenalI , 1999, p. 178- o ato d se e1nbriagar. Por isso, o princípio da culpabilidade detennina
17 , e m ra magnífica conclu ·ão: "Ora, o problema, como é bem de ver, não se resolve
pela simples desconsideração da emoção e da paixão, negando-se-lhes eficácia no plano d.tt
imputabilidade; se hd dificuldades em estabel.ecer, com maior precisão, o conteúdo e natureza
desses estados, aprimore-se a ciência. e, p or outro lado, a pesquisa empírica judiciária é 59 HRU H , trafrecht nach logísch-analytischer Methode, 1988, p. 39 s.
defi ient ou superficial. permitindo absolvi óes inaceitdveis, aprimore-se o sistema, a técnica 60 Assim, PUPPE, Grundzuge der actio libera in causa, JuS, 1980, p. 346.
judiciária. Mas, simplesmente negar efeitos a realidades tão importantes como a emoção e a 61 ROXI , Strofrecht, 1997, § 20, n. 56, p. 78 2; para uma visão geral dos modelos,
paixão é comportar-se como o ave. truz di-rmte de uma situação de perigo. Aqui, o perigo é a , Z urechnung und "Vorverschulden", 1985, p. 24 s.
nossa ainda s11perlativa ignoranâa dm fenómenos da alma humana. " 62 H , Actio libera in causa - eine notwendige, eine zuldssige Rechstjigu.r?, A, 1969,
57 omparar RO I Strafrecht, 1997, § 20 n. 55, p. 78 1. p. 289 s.
58 • /B U , Strafrecht, 1998, n. 41 5, p. 119-1 20 . 63 Ver ROXIN, Strnfrecht, 1997, § 20, n. 58, p. 783 .
a seguinte interpretação do art. 28, II, do Código B nal: mbriagu z, o erro de proibição, incid nt sobre a proibição do tipo d injusto, no
voluntária ou culposa, não exclui a imputabilidade penal mas a imputa- sentido de valoração jurídica g ral. as a moderna dogmática identi-
ção do resultado por dolo ou por imprudência depende, necessariamente, fica uma terceira espécie de erro, que participa, simultaneamente, da
da exist,ê ncia real (nunca presumida) dos l mentas do tipo subj tivo natur za do erro de tipo do erro de proibição: o chamado erro de tipo
r sp crivo no comportam nto do autor. permissivo, incid nt sobr pr ssuposros obj tivos d causa de justifi-
cação, consistente m errôn a repr s ntação da situação justificante65.
b) Em Jatos dolosos, a teoria dominante da actio libera in causa diz o
s guinte: a) o 1 m nto int l tu l d d 1 d v representar as caract - O srudo da matéria do conhecimento do injusto (ou da consciên-
rísticas d um tipo d critn d t rminado (homicídio, 1 sã rp ral cia da antijuridicidade) t 1n por fim id ntificar as situaçõ s n gativas
etc.), cujo resultado dev ser produzido em estado de incapacidade d desse conh cimento, r pres ntadas pelo erro de proibição direto, pelo
culpabilidad (e1nbriaguez); b) o el mento emocional do dolo dev erro de proibição indireto e pelo erro de tipo permissivo, segundo a teoria
querer a r alização d crim der rminado (dolo dir to) ou conformar- limitada da culpabilidad adotada p lo 1 gislador.
-se com ar alização de crim detenninado (dolo eventual) no estado
posterior de embriaguez, no sentido de autocolocação em estado de
incapacidade t mporária d culpabilidad . Dess modo, na ação prece- 2.1. Conhecimento do injusto
dente o dolo t m por obj to a autocolocação em estado de incapacidad
d culpabilidad , ness srado, a r alização d fato der rminado; na A legislação anterior à reforma penal d 1984, em conformidad
ação posterior, o autor r aliza, em estado d incapacidade d culpabi- com o mod lo causal d crime, distinguia ntr erro de Jato xclu-
lidade, o faro determinado objeto do dolo 64 . Outra interpretação é d nt do dolo e erro de direitos m r 1 vância p nal g n raJiz sob
inco1npatível co1n o princípio da culpabilidade. o brocardo error juris nocet. A rigid z do crit 'rio s ria at nuada por
outra distinção no âmbito do erro de direito, entre erro de direito penal,
igualm nt irr 1 vant , erro de direito extrapenal (por x mplo, coisa
2. Conhecim ento do injusto e erro de proibição alheia, no furto), com h ito excludente do dolo 66 . Os problemas d ss
t m ram : a) difi uld d d dif. r nciação ntre rro de dir iro
A correlação conhecimento do injusto e erro de proibição, na teoria penal erro d dir iro extrapenal porqu o cone ito d coisa alheia,
da culpabilidad , corr sponde à correlação conhecimento do Jato erro por exemplo, é igualmente de direito penal e de direito extrapenal; b)
de tipo, na teoria do tipo, porque conhecimento e erro constituem esta- a relevância do erro de direito (penal ou extrapenal) dependeria de
dos psíquicos m r lação d lógica xdusão: o conh citn nto xdui o um fator acidental: a posição do conceito respectivo dentro ou fora
erro e o rro indica d sconhecimento sobre obj tos. No Direito Penal do Direito P nal67 ; e) a t nsão entre o caráter irrelevante do rro d
existem duas espécies de erro: o erro de tipo, incident sobre circuns- direito penal inevitável e o princípio da culpabilidade6 8 •
tâncias ou 1 m ntos obj tivos, fáticos ou normativos, do tipo 1 gal;
65 Comparar ROXI trafrecht, 1997, § 21 , n. 1-2, p. 793; ELS/BE LKE,
6-i sim, J KOBS, trafrecht, 1993, 17/65-66, p. 507-508; também, RO Strefrecht, 1998, n. 457, p. 133.
1997, § 20, n. 65-67, p. 7 6-788; HÔ K / CHR D 66 Assim, K H LRAUSCH, l rrtum und chuldbegrijfim trafrecht, 1903, p. 118.
Strafgesetzbuch, Kommentar, 1991, § 20, n. 36; LS/ UL 67 F N , D as Strafgesetzbu h fur das Deutsche Reich, 1931, § 59, III, 2.
1998, n. 41 7-418, p. 120-121. 68 Ver ROXIN, Strnftecht, 1997, § 21 , n. 5, p. 794.
2.1.1. Teorias sobre conhecimento do injusto e erro de proibição. 2.1) A teoria rigorosa da culpabilidade, desenvolvida por LZEL
A posição sistemática do conhecimento do injusto (ou da consciência predominante entre finalistas, atribui as mesmas consequências a to-
da antijurídicidade) co1no integrante do conceito de dolo ou co1no das as modalidades de erro de proibição: o erro de proibição inevitável
1 mento do cone ito d culpabilidade está na base, r spectivamente, xdui ar provação d culpabilidade; o erro d proibição evitável r duz
da teoria do dolo e da teo ria da culpabilidade. ar provação d culpabilidade, na medida da vitabilidad do rro 72 .
1) A teoria do dolo considera o conhecimento do injusto elemento do 2.2) A teoria limitada da culpabilidade, dominante na literatura e
dolo, constituído pela consciência (e vontade) do fato pela consci- jurisprudência cont mporâneas, atribui consequências difi rentes ao
"ncia ( vontad ) do desvalor do fato, co1n as s guint s cons qu "ncias: erro de proibição: a) o erro de proibição direto, qu t m por obj to a lei
a) a consci "ncia e vontade do fato do desvalor do fato configura o penal, consid rada do ponto d vista da existência, da validade do
chamado dolus malus, que fundam nta a definição do crim doloso significado da norma, exclui ou reduz a reprovação de culpabilidade;
como rebeldia contra o direito; b) o rro sobr o foto ou o desvalor do b) o erro de proibição indireto (o u erro de permissão), qu t m por
fato xclui o dolo - não exist a corr lação dicotômica (a) erro de foto! objeto os limites jurídicos de causa de justificação 1 galou a existência
erro de direito e (b) erro de tipo/erro de proibição69 . de causa de justificação não prevista em lei, também exclui ou reduz
2) A teoria da culpabili ade, vinculada a teoria finalista da ação, s - a reprovação de culpabilidade; e) o erro de tipo permissivo, qu t m por
objeto os pressupostos objetivos d justificação legal- portanto, xiste
para conhecimento do foto e conhecimento do injusto do fato, dess modo:
co1no errôn a r pr s ntação da situação justificante-, incid sobr a
a) a consciência vontade do fato constitu m o dolo, co1no 1 m nto
subjetivo geral dos crimes dolosos; b) a consciência do injusto é o ele- r alidad d fa p ri clui o dolo - não apenas ar provação
de culpabilidade -, funcionando como verdadeiro erro de tipo, com
mento especial da culpabilidade, como fundamento concreto do juízo
d r provação. As paração ntr conhecimento do fato conhecimento punição alt rnati a por imprudência, se existir o tipo respectivo 73 .
do injusto do foto determina a distinção ntr erro de tipo, qu exclui o A equiparação do erro de tipo permissivo ao erro de tipo r alizad
dolo, erro de proibição, qu xclui ou r duz ar provação, u1na n c s- p la t oria limitada da culpabilidad bas ia-s no argu1n nto d qu
sidad lógica da estrutura dos conceitos de dolo d culpabilidade70 . o autor quer agir conforme a norma jurídica - e, nessa m <lida, a r -
O erro de proibição, como rro sobr injusto do fato, t m por obj to a pres ntação do autor coincid com a r pr s ntação do legislador ou
natur za proibida ou p nnitida da ação típica: o autor sabe o que faz, co1n o direito obj tivo xist nt 74 -, 1nas erra sobre a verdad do fato:
1nas p nsa, erroneament , que é p rmitido, ou por cr nça positiva na a representação errôn a da situação justificant xclui o dolo, como
permissão do fa o ou por alta d r presentação da proibição do fato 71 • decisão fundada no conhecimento das cir un n ia do tipo l gal no
A teoria da culpabilidade apres nta duas variantes, a t oria rigorosa desconhecimento da inexist "ncia da situação justificant - cuja errôn a
(ou extrema) da culpabilidad a t oria limitada da culpabilidad .
72 Assim, · ~Lz L, Das Deutsche trefrecht, 1969, p. 168; MAU CHI Ó EL/ZIPF,
trafrecht 2 § 44, 11. 6 1, p. 165; comparar ROXI trafrecht, 1997, § 21, n. 63 -64,
69 Partidários da teoria do dolo, BINDIN , Die Normen und ihre Ubertr tur?g, v. II, p. 527. No Brasil, ver R Rl - · Teoria da culpabilidade, 2004, p. 95-102.
1916, § 125; BAUMANN/WEBER, tmfrecht, 1985, p. 4 · SCHMIDHAU ER, 73 JES HE K/WEIGEND, Lehrbuch des Strafrechts, 1996, § 41 , II-IY, p. 456-467;
traftecht, tudienbuch, 1984, 7 /89 s., o grand defensor da teoria do dolo na RO , Stmfrecht, 1997, § 14, n. 54-55, p. 523 e§ 21, n. 20-24, p. 802- 04; t mb 'm,
amalidade. WE E /BEULKE Strnfrecht, 1998, n. 469-470, p. 137-138 e 11. 482 e 484, p. 142-
70 VirJ H /WEI E D, Lehrbuch des trafrechts, 1996, § 41, I, 1-2, p. 452-453. 143 . o Brasº I, er RODRJ UE , Teoria dtt culpabilidade, 2004, p. 102-112.
71 J H , Lehrbuch des Strafrechts, 1996, § 41, II, 1, p. 456 . 74 K/'\ l E Lehrbuch cfes 'tmfi·echts, I 99 4 , I , 1d, p. 464.
admissão significa que o autor não sabe o que faz-, ao contrário das (ver Erro de p roibição na lei penal brasileira, adiante).
outras espécies de rro de proibição, cujo autor sabe o que faz, mas
2.1.2. Objeto da consciência do injusto. D finir o objeto da
erra sobre a juridicidade do fato 75 . Esse tratamento diferencial do
cansei "ncia do injusto p rmit r spond r a s guint p rgunta: o
rro d proibição ' xplicado por critérios objetivos de valoração do qu o autor d ve saber para conh c r o injusto do fato? Sem definir
comportamento: a) s o comportam nto r al do autor é ori ntado
o obj to da consciência do injusto, qualquer p squisa sobr rro d
por critérios iguais aos do legislador, os defi itos d repr s ntação do
proibição é inútil.
autor pod m ter por obj to a situação típica (erro de tipo) ou a situa-
ção justificante (erro de tipo permissivo): ambas as hipóteses excluem A definição do objeto da consciência do injusto - ou seja, do
o dolo admit ma possibilidad d punição por imprud "ncia; 6) s substrato psíquico mínimo de conh cimento do injusto necessário para
o comportamento r l d autor é orientado por critérios desiguais aos configurar a consciência da antijurídicidade do fato - é controvertida
do l gislador, os d fi itos d r pr s ntação do autor som nt pod m na lit ratura p nal cont mporân a, distinguindo-s , p lo m nos, tr "s
t r por obj to a valoração jurídica geral do fato (erro de proibição), teonas:
com o fi ito de excluir ou d r duzir a reprovação de culpabilidade, a) a teona tradicional, repres ntada por JESCHECK/
conforme a natur za inevitável ou evitável do rro 76 • WEIGE D 79 , indica a antijurídicidade material como obj to da
Como selar cim nto compl mentar, a teoria das características consciência do injusto, definida como conhecimento da contradição
negativas do tipo 77 r solve o proble1na do rro sobr a ituação justi- ntr comportamento real a ordem comunitária, qu p rmitiria ao
ficante do m smo modo qu a teoria limitada da culpabilidade, mas 1 igo saber qu s u comportam nto infringe o ordenamento jurídico
com fundamentos diferentes: considera os componentes do tipo legal (público, civil, p nal etc.) ou moral, ind p ndentement de conhecer
co1no elementos positivos e as justificações como ele1nentos negativos a 1 são do bem jurídico lesionado ou a punibilidade do fato;
do tipo de injusto , por consequência, d fin o rro sobre a situação 6) a t oria mod rna, r presentada por OTTO 80 , apr s nta a
justificant como erro de tipo, xclud nt do dolo - , por xt nsão, punibilidade do fato co1no obj to do conh citn nto do injusto, ou
do tipo d inju to-, inevitáv 1, admitindo imprudência, s vitáv 178 . s ja, consciência do injusto significa 'conhecimento da punibilidade do
A 1 gislação p nal brasil ira disciplina o erro de tipo (art. 20, comportamento através de uma norma legal penal positiva" e, portan-
CP), o erro de tipo permissivo (art. 20, § 1°, CP) e o erro de p roibição
(art. 21, CP) s gundo os crit ' rios da t oria limitada da culpabilidad
79 J K/\; 1 E , Lehrbuch des t:rnfi-echts, 1996, § 41, I, 3a, p. 453-454:
co nsciência do injusto significa co nhecer que "o comportamento contradiz as exigências
da ordem comunitária e, por esse motivo, é juridicamente proibido", ou seja, é suficiente
75 es e s ntido, ROXI , Strafrecht, 1997, § 14, n. 62-68, p. 526-529. co nh c r "a tlntijuridicidcule materh11", omo onh cimento I igo "de lesionar uma
76 ncido, J H K/ 1 D, Lehrbuch des Strafrechts, 1996, § 41, 1-IV, norma jurídica penai, civil ou pública", sem necessidade de consciência "da norma
p. 452-467; RO , Straftecht, 1997, § 21, n. 8, p. 796; /B KE. jurídictl lesionada ou. tÍll punibilidade do fato"; no mesmo sentido, LZEL, Das
trafrecht, 1998, n. 471, p. 138. Deutsche trafrecht, 1969,p. 17.
77 Ver, entr outros, HROTH, Die Annahme und tÍtls "Fur-Moglich -Halten" von 80 OTTO, Grundkurs trofrecht, 1996, § 13, IV, 16, n. 41, p. 203: "conhecimento
Umstdndem, die eínen anerkannten Rechtfertigung.rgnmd begrunden, Llf ufmann- , do inju to, no entido de conheciment da antijuridi idade, é conhecimento da
1993, p. 5 5; H E , Die deutschsprachige trafrechtswissenschafi nach der punibilidade do comportam nto a avés de uma normal gal penal posºtlva", em
tra{rechtsreform im piegel des Leipziger Kommentars und des W'iener Kommentars, l. que 'não é necessário o conhecimento preciso dos parágrafos da lei, mas o conhecimento
Tei[ Tatbestands- und Unrechtslehere, GA, 1985, p. 341. de infringi.r uma prescrição penal" (grifado no original); no mesmo sentido,
78 ~ rJ H l E D, Lehrbuch des trafrechts, I 996, § 41, IV, lc, p. 464; GROTHEGUT, Norm - und Verbots(un)kenntnis, 1993, § 17, p. 111 ; também,
ROXI , Strafrecht, 1997, § 14, n. 70, p. 529. D er Verbotsirrtum (§ 17 StGB), JuS, 1993, p. 795.
to, consciência "de infringfr uma prescrição penal", embora não exija consciência do tnJusto pode ser divisível m tipos que protegem
"conhecimento preciso dos parágrafos da lei" infringidos; diferentes bens jurídicos: no roubo, se o autor toma com violência
coisa própria em poder do devedor em mora, existe conhecitnento
e) a teoria tal z dominant , r pr sentada por ROXI 81 , situa-s
em posição intermediária, sob a alegação de que conh cera danosidade do injusto r lativo à viol Ancia do constrangim nto ilegal, mas pod
xistir rro d proibição m relação à subtração· em ·p quali do
social ou a imoralidade do co1nporta1n nto, segundo a teoria tradicio-
o autor pode conhec r o injusto do tipo básico, mas ncontrar-s em
nal, seria insuficiente, mas conhecer a punibilidade do Jato, conforme
a t oria mod rna, seria desnecessário: assim, obj to da consci Ancia do rro de proibição quanto à circunstância qualificadora83 - o probl ma
subsistente é definir a natureza evitável ou inevitável do erro.
injustos ria a chamada antijurídicidade concreta, co1no conh cim nto
da específica lesão do bem jurídico compreendido no tipo legal respectivo, Por outro lado, refl xão específica sobre a antijuridicidad do
ou seja, o conh cimento da p roibição concreta do tipo d injusto. a comportam nto durante a realização do fato punív 1 ' incomum
v rdad , a teoria dominant aproxima-s da t oria moderna porqu porque autores de fatos puníveis rarament são atormentados por
conhecer a específica lesão do bem jurídico comp reendido no tipo legal scrúpulos ou outros s ntim ntos altruístas. ão obstante, a consci-
equivale ao conhecimento da punibilidade do fato e, assim, a teoria ência ou conhecimento do injusto deve ser atual, sendo insuficiente
tradicional apar c m posição isolada e oposta m relação às outras. conh cim nto atualizável, mbora sse conh cimento possa xistir
na forma da chamada co-consciência, que tamb 'm é sufici nte para a
A literatura brasil ira geralmente não menciona a controvérsia
consci Ancia atual do dolo, cuja d b cção produz o erro de tipo. Assitn,
sobr o objeto da consci "ncia do injusto, litnitando-s à difusão par ial
da teoria tradicional 82 , cuja amplitude excede os limites do objeto do m crimes patrimoniais, a consciência do autor pod não star na proi-
bição do furto ou do roubo, mas no sucesso da ação ou nas vantagens
conhecimento do injusto: assim, essa lit ratura não apresenta a teoria
dela resultantes: a chamada co-consciência consiste, precisamente, na
dominant , do conh cim nto da lesão específica do bem jurídico com -
p reendido no tipo legal, e ignora a teoria moderna do conhecimento da influência desse conteúdo sobre a realização da ação, atrav 's de cuida-
dos ou pr cauçõ s para vitar susp itas ou, esp cialm nte, a prisão 84 .
punibilidade do comportamento através de norma legalpenal positiva, ou
s ja, do onhecimento de infringir uma prescrição penal , portanto, do 2. 1.4. Dúvida sobre a proibição. Entre as situaçõ s psíquicas
conh cim nto da punibilidade do fato - na v rdad , o cone ito mais xtr 1nas d conhecimento (do injusto) d erro (d proibição) xi t
co1npatível com o p rincípio da culpabilidade que caracteriza o Direito toda uma escala de estados psíquicos int rmediários, d progr ssiva
P nal n m d rn E tad Democrático d Dir ito. r dução da nitidez das repr sentações do significado de det rminados
2. 1.3. Divisibilidade e formas de conhecimento do injusto. A fatos, até o estado oposto de pl no erro, como aus Ancia de conh cimen-
to do significado - ou, em sentido inverso, de progressiva ampliação
da clareza das representações do significado de determinados fatos, até
81 Ver ROXI , trafrecht, 1997, § 2 1, n. 12- 16, p. 798-800, esp. n. 16, p. 800: 'a
antijurídicidade é objeto da consciência do injusto (. . .) não como proibição abstrata, mm
apenas em relaçiío com o injusto con reto do tipo respectivo. Existe consciência do injusto se
o autor conhece como injusto a específica lesão do bem jurídico compreendida no tipo legal 83 As im, JE HECK/ EIGE D L ehrbuch eles Strafrechts, 1996, § 41 , I, 3d, p. 455;
considerado"; no mesmo s n1:ido, RUDOLPH I, Unrechtsbewusstsein, Verbotsirrtum und tamb ' m, ROXT , trafrecht, 1997, § 21, n. 16, p. 800-80 1; /BE L E,
Vermeidbarkeit eles Verbotsirrtums, 1969, p. 56. Strofrecht, 1998, n. 428, p. 124.
82 Ver, por exemplo, JE U , D ireito Penal I, 1999, p. 485 ; IRA.BE E Manual de 84 N nrid , P TZGRUMMER, D ie Bewusstseinsform des Vorsatzes, 1964;
D ireito Penal, 2000, p. 202. também, SCHEWE, Bewusstsein und Vorsatz, 1967.
o estado oposto de plena consciência, como conhecimento int gral nado) com a qu stão mpírica da evitabilidade do rro, na medida em
do significado, que constituem o espaço de exist "ncia psicológica do que a dúvida, como conhecimento eventual ou condicionado do injusto,
fenôrneno da dúvida na atividade humana. Esses estados de dúvida determina ou implica erro evitável sobre o injusto do fato) ressuscitando
s ins r m, portanto, nos limit s ntr o conhecimento e o erro so- o arcaico errar juris nocet, nterrado p lo princípio da culpabilidade.87
br o injusto do fato, indicando situaçó s qu já ão po eriam s r De fato, definir a dúvida como conhecimento do injusto condicio-
definidas como pl no erro d proibição, mas que ainda não podem nado (submetido a condição) ou eventual (assumido como possível)
s r definidas como pl no conhecimento do injusto. Como r solver as significa admitir como xist nt uma cognição in xist nt ; d <luzir
situaçó s psíquicas da dúvida, em face do conhecimento do injusto da situação psíquica de inexistente cognição do injusto a conclusão
pressuposto na r provação d culpabilidad ? mpírica sobr a natur za vitáv 1do rro p rv rt a co r "ncia lógica
A t oria e a jurisprudência ainda dominant s d finem a dúvida ntre premissas e conclusão do silogismo jurídico.
sobre proibição como hipót s d conhecimento condicionado ou even- O 1nérito do trabalho de LEITE stá 1n d scobrir o caminho
tual do injusto, sob o argum nto de incompatibilidad entre dúvida inverso: define a dúvida como rro de proibição a partir da natureza
erro - ou seja, que1n está em dúvida sobre a proibição, não pode alegar evitável ou inevitável do erro. Em outras pal r : não é a definição
erro d proibição. Do ponto d vista dogmático, ssa posição pod s r da dúvida como eventual ou co ndicionado conh cim nto do injusto
im ti rmu da: se a dúvida quivaJ, n im nt eventual ou con- que determina a evitabilidade do erro, mas a natureza evitáv 1 ou
dicionado do injusto, então o rro de proibição s ria setnpr evitável, in vitáv 1do rro qu p rmit d finir a dúvida como rro d proibi-
com xtensão prática da proibição a fatos de dúvida, ou exigência d ção. O crit ' rio jurídico para medir a evitabilidade do rro ' d finido
omissão de condutas permitidas. Essa posição repressiva foi desa.fiada p lo dever de informação sobr a natur za da ação futura, ob dois
pelo jovem jurista brasileir ALAOR LEITE, que ousou romper com pressupostos básicos: a) garantia do Estado de que o cu1nprilnento
a teoria dominante na literatura na jurisprudência, demonstrando do d v r d informação produz s guro conh cim nto do injusto; b)
qu toda dúvida sobr a proibição configura autêntico rro d proibi- d v r de informação individual prévio m situaçó s d ação rápida
ção. 85 Assim, com ça mo trando qu a t oria dominant 'inco rent , ou instantânea, cotn a culpabilidad pela omissão ou negligência do
porqu não 1 va sua pr mi sas às últimas cons qu "ncias: por x mplo, d v r d informação no comportam nto ant rior.
aceita ates contrária da dúvida como erro de proibição nas hipótes s Destacando as vantagens da proposta, pela simplicidade teórica e
d (a) rro sobr validad da 1 i p nal, (b) rro d proibição indir to, p la co r "ncia do des nvolvimento das pr missas, o autor parana ns
(e) rro por informações jurídicas quivocadas e (d) erro determinado discute casos sclarec dor s: 88
por jurisprud "ncia contraditória ou vacilante.86 AI ' m disso, confund
a qu stão cone itual do conhecimento do injusto (eventual ou condicio- a) X , portador d arma d fogo r gistrada, atend p <lido da
vítima Z para p rs guir Y, qu fugia com o bon' subtraído daqu 1 .
X stá na dúvida se atira ou não m Y: a) se não atira, o ladrão fog ;
a r. Dúvida e erro sobre a proibição no direito penal. São Paulo: Atlas,
b) se atira para não ferir, stá justificado; c) se atira para ferir a perna,
2° edição, 2014. Dissertação aprovada com a nora máxim na Universidade Ludwig-
Max.imüians, em unique, orientada por LAU ROXI com a qual o autor obteve
o título de M srre cm Direito. 87 LEITE, Diívidn e rro sobre a proibição no direito penal 2° edição, 2014, cap. 3 e 4, p. 25 s.
86 Ver LEITE, Dúvida e erro sobre a proibição no direito penal, 2ª edição, 201 4, cap. 6, p . 88 Ver, para discussão dos casos, LEITE, Dúvida e en·o sobre a p roibição no direito penal, 2ª
100 e s. edição, 2014. cap. 6, I V, p. 98 s.
não há justificação pela desproporção ntre as lesões, mas xiste erro o T RF não seria gestão t m rária, mas sim para o STF: erro de proi-
de proibição evitável; d) se atira para matar, não há justificação, nem bição evitável; c) decisões div rgentes entre turmas do STF: erro de
erro de proibição. proibição inevitável. Em todas hipóteses, o cu1nprimento do dever
b) X, policial m função na fronteira, percebe Y cometer furto de informação não produz s guro conhecim nto do injusto - o
Estado não pode punir, se o cidadão se orienta por crit ' rios oficiais.
m loja fugir m dir ção à front ira. X está na dúvidas dispara a
arma ou não: a) se dispara para não ferir, ou para ferir na perna, as
soluções são id Anticas às do problema anterior; b) se dispara para
2.2. Consequências legais do erro de proibição
1natar, há rro d proibição evitável por d cisão in tantân a fundada
em violação do dever de informação na conduta anterior.
As consequências legais do erro de proibição, segundo o crit ' rio
e) X, mpr sário d importação/ xportação, stá m dúvida 1 gislado da t oria limitada da culpabilidade, são difi renciadas con-
sobre a tributação d det rminada operação , cumprindo o d v r forme a categoria do erro de proibição, por sua vez d t rminada pelo
de informação, solicita parecer d advogado esp cialista na área, qu objeto do rro respectivo:
conclui pela não tributação. Confiando no par c r, r aliza a op ra-
1) o erro de proibição direto, que t m por objeto a 1 i penal, e o erro
ção, sendo processado por descaminho: a hipótese configura erro d
de proibição indireto, qu t m por obj to a existência d justificação
proibição inevitável.
in xistente ou os litnit s jurídicos d · justificação xist nte excluem ou
d) X, sócio-g r nt d indústria de cosm 'ticos na área r r m reduzem a reprovação de culpabilidade porqu o comportamento real
dúvida sobre a licitud do tratam nto de resíduos industriais, pela do autor é ori ntado por crit 'rios desiguais aos do 1 gislador: o rro
possibilidad de poluição ambiental das águas d um rio próximo, inevitável exclui e o erro evitável reduz a reprovação de culpabilidade 89 .
(art. 54, da L i 9.605/98), cumpr o dever de informação solicitando
2) o erro de tipo permissivo, qu tem por obj to a situação justifican-
esclarecimentos do departainento jurídico da empresa, que conclui pela
t , constitui xc ção à r gra: o rro inevitável (plenamente justificado
·n n titu i nalid d d an. 54, por indeterminação da proibiçã l gal
pelas circunstdncias) xclui o dolo , por xt nsão, o crime a pena; o
l i nand o prin ípio da l galidad . essa hipótese, haveria erro d
rro evitável xclui o dolo, mas admit a atribuição por imprudência, s
proibição, inevitável ou evitável, conforme as circunstâncias concretas,
prevista em 1 i (art. 20, § 1°) -, mambos os casos, porqu o compor-
diz o autor; s a conclusão d · in n titu i nalidade fosse bas ada na
tam nto r al ut ✓ tad p critérios iguais aos do 1 gislador.
reflexão pessoal do empresário, haveria rro de proibição evitável, por-
que questões jurídicas complexas não podem ser decididas por leigos. Art. 20, § 1°. É isento de pena quem, por erro plena-
mente justificado pelas circunstâncias, supõe situação
) X, sócio-administrador de instituição financeira privada,
de fato que, se existisse, tornaria a ação Legítima. Não
em dúvida sobre a licitude de n gócio de risco cujo Axito produziria
há isenção de pena quando o erro deriva de culpa e o
grand s lucros s ria consid rado obra de gênio, mas cujo fracasso
Jato é punível como crime culposo.
produziria grande pr juízo e s ria consid rado ,g estão temerária,
cumpr o d ver d informação consultando a jurisprud Ancia dos tri-
bunais, ncontrando decisõ s diverg ntes: a) para o RF ri g ão
t m rária, mas não para o STF: erro d proibição inevitável; b) para 89 ROXIN, Strafrecht, 1997, § 21, n. 69-70, p. 824.
do fato ligada à lesão anterior do cuidado 96 . juridicidade da ação, como mostra um caso da jurisprudência al má:
dois trabalhadores rurais foram absolvidos da acusação de relações
Algumas t orias sobr o xame da juridicidad da ação sus-
sexuais consentidas com mulher doente mental, por erro de proibição
t ntam posiçõ s xtr mas: ou são rigorosas d mais, xigindo xam
inevitável, porque não tinham dúvida sobre a juridicidade da ação,
ant cipado da juridicidade de cada ação 97 - uma xigência irr alista
não tinham consci "ncia d dano contra a mulh r , finalm nt , o
capaz de paralisar a vida social; ou são muito tol rant s, ao excluir
cons ntim nto da mulh r afastava qualqu r motivo d pr ocupação
a possibilidade prática de informação no caso de ausência de dúvida
sobre a juridicidade do comportam nto 101 •
sobr a proibição no psiquismo do autor98 . Um critério interm di-
ário par e razoáv l: xistiria motivo para xam da juridicidad da 4. A confiança em informações de jurisprudência ou de profissionais
ação nas hipóteses (a) de dúvida sobr sua juridicidade concreta, (b) da ár a jurídica (advogados, profc ssores d dir ito) pod s r d cisiva:
de consciência de atuação em ár a regida por normas especiais, e (e) rro de proibição inevitável no caso d tipo d · injusto realizado com
de consci "ncia da possibilidade de dano individual ou col tivo 99 . a bas m jurisprud "ncia unânim ou dominant dos tribunais rro
hipót se d dúvida sobre a juridicidade, a atitud de não levar a sério de proibição evitável no caso de div rg "ncia de tribunais d igual
a dúvida ou de leviana admissão da juridicidade da ação é suficiente jurisdição; igualment , a confiança na ori ntação d advogados ou
para configurar erro evitável; na hipót s d atuação em áreas regidas outros profissionais do direito pode funda1nentar erro de proibição
por normas especiais (crimes contra o m io ambi nt , o consumidor inevitável: prilneiro, porque são profissionais 1 galm nt habilitados
te.), o erro d profissionai ou de mpr sários da ár a ' n rmalm nt para. o x rcício da profissão; segundo, porqu o 1 igo não t m con-
evitável, mas o erro do cidadão comum seria, normalmente, inevitá- dição de avaliar a apacidad g ral, nh cim n p cífico a
vel; na hipótese de consciência da possibilidade de dano individual corr ção ou não das informaçõ s.
ou coletivo (por exemplo, a consciência de que determinada ação na Entretanto, a reflexão do cidadão comum não oferece o mesmo
era nego ial poderá pr judicar número indet rminado d p ssoas), nív 1d confiabilidad , por causa d uma contradição apar nt m nt
qualqu r 1 são a normas sociais 1 m ntar s configura erro evitável'ºº. insolúvel: por um lado, o 1 igo é incapaz de resolver questõ s jurídi-
3. O erro d proibição inevitável ' 1nais prováv 1 no Dir ito P nal cas qu não conh e ; por outro, a 1 i p nal não pod s r inac ssív 1
especi , m qu o cidadão comum tem maior dificuldad d r co- à compreensão do homem do povo 102 • Por isso, em soei dades com
nhecer o injusto concreto do tipo r spectivo os próprios profissionais 1 vadas taxa de exclusão do mercado d trabalho e do sist ma escolar
sp cializados não conh e ma totalidad das incrin1inaçõ sr sp cri- - ou seja, marcadas pela pobr za p la ignorância, como é o caso da
vas; por outro lado, o rro d proibição evitável mais fr quente no I
soei dade brasil ira-, a fr quência do rro de proibição a imprecisão
Dir ito Penal comum, xceto quando não há motivo para xame da dos crit 'rios de evitabilidade/inevitabilidad do erro r lamam atitud
d mocráticas na sua avaliação: bitola larga para a inevitabilidade, bitola
str ita para a evitabilidade do erro d proibição.
96 P,.ssim, RO trafrecht, 1997, § 21, 11. 46-48, p. 813-814.
97 E a posição do BUJ1desgerichcshof ( upremo Tribunal Federal) alemão.
98 im, , Verbotsirrtum und Vorwerjbn.rkeit, 1969, p. 1 5; tamb m, K
Der Verschuldete Verbotsirrtum, Ju , 1990, p. 893.
99 Assim, RO , Strafrecht, 1997, § 21, 11. 53, p. 16; tamb'm, TRA' TH,
Strnfrecht, 198 1, n. 585.
10º ~ r JE HE K/WEI E D, Lehrbuch des trafrechts, 1996, § 41, II, 26, p. 458; 101 ROXI , Strafrecht, 1997, n. 59, p. 818.
RO Strnfrecht, 1997, § 21, n. 53-57, p. 816-8 18. 102 Assim, RO Strafrecht, 1997, § 21, n. 61-65, p. 818-821.
2.5. Erro de proibição na lei penal brasileira qu deve se adequar à 1 i, mas a 1 i que d v se adequar ao p rincípio da
culpabilidade, sob quaisquer critérios de interpretação 1º4.
1. A lei penal brasileira (art. 21, CP) permite identificar as seguintes
t. 21. O desconhecimento da lei é inescusável O erro
m alid d d erro de p roibição, segundo o critério da teoria limi-
sobre a ilicitude do fato, se inevitável, isenta de pena;
tada da culpabilidad : a) erro de proibição direto, incid nt sobr
se evitável, poderá diminuí-la de um sexto a um terço.
a xist "ncia, validad significado da lei p nal; b) erro de proibição
indireto (ou rro d p rmissão), incid nt sobr justificação inexis- 3. O quívoco da literatura p nal doméstica sobr erro de p roibição direto,
tente ou sobr limites jurídicos d justificação xist nt ; c) erro de tipo na modalidade de ign,orância da Lei n e de arbitrária oposição dos con-
permissivo, incident sobr a situação justificante (ou pressupostos e itos d desconhecimento do injusto d desconhecimento da Lei -qu não
obj tivos d justificação l gal) . se recobrem reciprocamen ·e, mas também não se excluem inteiramen e
porque a ignorância da lei pode fundamentar a ign,orância do injusto em
2. Essa sist matização do erro de p roibição na l i p nal br il ir bas i -
tipos p nais não coincid nt s com dir it human fundam nra· .
na premissa de qu a regra da inescusabilidade do desconhecimento da
pr tensa oposição n tr desconhecimento do injusto desconhecimento da
lei (art. 21, CP, prim ira part ) é limitada pelas exceções repre en adas
lei é sim formulada por TOLED0 105 : o desconhecimento do injusto,
pelo erro de proibição inevitável ( t. 21, ,CP, segunda parte) - o erro d
definido como conhecimento falso do injusto, poderia constituir erro d
proibição evitável ap d a · provação. A cotnpre nsão d qu a
proibição escusável; o desconhecimento da Lei, como ign.orância total da
regra da in cusabilidad do d sconhecim nto da lei não p r val sobr
1 i, não constituiria erro de p roibição, n m s ria escusável, mas simpl s
a exceções do rro de proibição inevitável p rmit superar a t nsão entr
circunstância atenuante por causa da obrigatoriedade/generalidade da 1 i
uma quivocada posição d política criminal e oprincípio da cupabilidade
p nal, como norma do pod r 1 gislativo do Estado 106 • Esse quívoco da
m matéria d erro de p roibição direto b a m dalidad d desconheci-
lit ratura dominant pod s r d monstrado como s gu .
mento da lei penal, na literatura e jurisprud "nci n l
Dir ito P nal do moderno Estado D mocrático d Direito ass nta no
princípio da legalidade (expresso na fórmula nullum crimen sine lege)
do erro de proibição direro; FLÁVI Erro de tipo e erro de proibição, 1999,
no prindpio da culpabilidade ( xpr sona fórmula nullum crim n in p. 134, aErma que 'a ignorância ou a má compreensão da lei" não se co nfunde com ''erro
de proibição" n irnindo, n m' ·m , "circunstância atenuante"(p. 132 e nota 147) .
culpa), ntão a 1 i ordinária não pod , m n nhuma hipót , contrariar 104 Em posição de r i te ia e 'rica, M I RI, Manual de D ireito Penall , 1999, p. 182,
esses princípios - , portanto, o p rincípio da culpabilidade não pod deplora a orientação dominante, "em franca oposição ao moderno princípio da culpabili-
dade o qual exige(..) não apent1S o conhecim nto da regra como a estruturação da vontade
ser cancelado para garantir a eficácia da 1 i p nal, e m pretende um de maneira reprovável"; igualmen e inci i , GOSO, Lições de D ireito Penal, 1985,
ecor da lit ratura penal brasHeira 103 • ão 'o princípio da culpabilidade n. 193, p. 212, reconhece a tendência de 'atribuir eficácia" ao desconhecimento da lei,
''tendo em vista que ll solução adotada viola o princípio da culpabilidade, à base de ficçtío in-
tolerável"; MUNHOZ NETO, ignorancia da antijuriáicidadeern mtttériapenal, 1978,
p. 1, aind na i ência da lei anr rior, já admitia que "desconhecer a l.ei possrt implicar em
103 Assim, por exemplo, JE US, D ireito Penal, 1999, p. 485, considera inescusável o não saber da existência dn. norma que impõe ou proíbe determinado comportamento " e 'se o
desconhecimento da lei - que, segundo diz, "não se confunde com a faltn de consciência autor ndo possuir 'Otzhedm nto de que, pela vontade do Direito PenaL a conduta, ndo poderia
da ilicitude do Jato" - , atri bui ndo-lhe natureza de atenuante genérica função de ter lugar, 'Sle en·o, se invencível deverá revestir-se de eficácia. "
garantir a ''eficácia" do sistema legal, com implícito cancelamento do princípio da 105 Nesse sentido, TOLEDO, Erro de tipo e erro de proibição no projeto de reforma penal,
ulpa il'd d ; l B , Manual de Direito Penal, 2000, p. 202, afirma que o RT 578/29 1: "Só uma enonn confusão poderia ;dentijicar duas coisas diferentes como
desconhecimento da lei ''é circunstância atenuante", que ''não coincide perfeitamente com estas - o desconhecimento do injusro e o desconhecimento da norma I gal" (também
a ignorância da ilicitude"· RE T PRADO , Curso de D ireito Penal brasileiro, 1999, p. irad r IRAB T , Manual de D ireito Penal, 2000, p. 202).
242, reproduz o conceito de que o desconhecimento da lei 'ntío se confunde corn a falta 106 Ver, por exemplo, MlRAB T Manual de D ireito Penal, 2000, p. 201 -202, utilizado
de consciência da ilicitude", sendo simples atenuante genérica e, assim, reduz a extensão om model d análi e ub equent , p rque representativo da opinião dominante.
3.1. A obrigatoriedade/generalidade da 1 i p nal n da t ma er com a forma de tipo legal (ou tipo penal), co1no descrição do comportamento
o erro de proibição direto: a lei penal é geral e obrigatória em qualquer proibido. Mais: pr i am nt porque injusto penal lei penal represen-
ordenamento jurídico, e tais caracteres não impedem que a inevitável tam, respectivamente a d]m o õ concr ta ab trata d proibições ou
ignorância da lei p nal, ou r pr s ntação da invalidade da I i p nal comancÚJs do Direito Penal é possível, no Dir ito Penal co1nwn ter ou
ou int rpr tação falsa/errada d l i p nal n icu m alid d d atingir o conhecimento da lei através do conhecimento do injusto mas
erro de proibição direto plenam nt escusáv i na Al m nha n tália, no Dir ito P n p ial ', qu nt m nt , impossível ter ou atingir o
por exemplo - dond conclui-se que brocardos do tipo ignorancia conhecimento do injusto, xceto através do conh cimento da lei penal.
legis neminem excusat107 perderan1 todo prestígio em face do princípio .4 . Algun autores 110, para mo trar qu ign.orância da lei não constitui
da culpabilidade e não val m mais como conomia d anális . modalidade d erro de proibição direto, tentam extrair da posição d
3.2. ão é a ignorância total ou parcial da 1 i ou ar pres ntação falsa JESCHECK sobr o conteúdo mínimo de conh cimento nec ssário para
ou equivocada do injusto qu d t rmina a relevância ou irrelevância caract rizar a consciência do injusto o disparar lógico de qu a ignorância
do erro de proibição, mas sua natureza evitável ou inevitável: erro d da lei não ia modalidade de desconhecimento do injusto - portanto, não
proibição inevitável exclui a reprovação, erro de proibição evitável seria espécie de erro de proibição direto (ver Objeto da consciência do injus-
pod r duzir ar provação, em todas as hipót ses - xceto no erro de to, acima). Ao contrário- rep lindo sse óbvio quívoco d int rpretação
tipo permissivo, m que transforma o fato doloso em fato imprudente, in ·gn jw-i ta al má afirma qu 'este erro (d proibição direto) pode
s gundo a t oria limitada da culpabilidad (art. 20, § 1°). Assim, s ria se basear no seguinte que a norma de proibição não é conhecida pelo
rro de proibição evitável a alegação simplória d não aber qu é "ilícito autor, ou que, na verdade, o autor a conhece, mas a considera inválida, ou
matar, subtrair coisa alheia, falsificar documento etc. '"º8, cuja proibição a interpreta erroneamente e, por isso, não a considera aplicável'11 11 • Como
jurídica todos conh e m gundo J H K/ I 109 ; mas se vê, não é possível extrair da tese de JESCHECK sobre o conteúdo
em crimes contra o meio ambiente ou outro setor do vasto Direito mínimo n c ssário para positivo conh cim nto do injusto (cansei "ncia
Penal especial o erro de proibição direto do cidadão comum, na mo- da contradição entr comportam nto e ord m comunitária), ates di-
dalidad d ignorância da l i, ' normal , fr qu nt m nt , inevitável: ferente de que o inevitável desconhecimento da lei ' inescusável, sendo
por x mplo, qu m pod ria sab r qu ' crim ter em depósito ou guardar ap nas circunstância atenuante. Afinal se não é possív l t r ou obt r o
madeira, lenha, carvão e outros produtos de origem vegetal, sem licença conhecimento da lei - p cialm nt m ár as d '"'".....,.......,inód ncia ncre
da autoridade competente? (art. 46, parágrafo único, da Lei 9.605/98). tipos penais e ordem moral n quai nh cim n d inju
3.3. Difi r nciar conh cimento do injusto conh cim nto da lei para nec ariar ente, pelo conh cim no da lei 112 - , então exist rro d
atribuir rel vância ao desconhecimento do injusto penal ·irrelevância ao proibição dir to, na modalidad d inevitável desconh cimento da lei,
desconhecim nto da lei penal' ignorar que o injusto penal só pode xistir
como injusto tipificacÚJ na lei hoj g n ralizado b n ito d tipo de 110 Por exemplo MIRABETE, Manual de Direito Penal 2000, p. 202: "não pode escusar•se o
agente com a simples 11.legaçãoJonnai de que não sabia haver lei estabel.ecendo punição para ofato'~
injusto qu , por força do princípio da legalidade, aparece na lei penal o 111 J K/WEI E , Lehrbuch des Stmfrechts, 1996, §4 1, II, 1 a, p. 456:
"Beruhen kann dieser Irrtum darauJ das die ¼ rbotsnonn dem Tater nicht bekannt
ist oder dass er síe zwar kennt, aber als ungultig ansíeht, oder dass er sie falsch ausgelegt
107 im, MI T , Manual de Direito Penal, 2000, p. 201; também, JE U , Direito hat und deswegen nicht fur anwendbar haft}} (grifei) .
PenalI, 1999,p.485. 112 IRABETE, Manual de Direito Penal, 2000, p. 202, afirma que a "intuição do que
108 ~ r MI B T -, Manual de Direito Penal, 2000, p. 202. é proibido", existente no indivíduo como "membro da sociedade }}, pode evitar crimes
109 J H K/WEI , Lehrbuch des Strafi-echts, 1996, § 41, I, 36, p. 454. ou ''violações da ordem jurídica}}, até na hipótese de descoincidência entre "tipos penais }}
qu xclui a reprovação de culpabilidade. da lei determina o desconh cim nto do injusto. situações de ignorância
da lei d t rminant d in it ' el ignorância do injusto - próprias do
3.5. S o 1 gislador pr tendia excluir o erro de proibição direto, na
Direito Penal e p cial m fac da requente descoincidência entre tipos
modalidad d ignorância da lei, do quadro do rro d proibição da
legais ordem moral ou, m lhor, direitos humanos fundamentais -, não
t oria limitada da culpabilidade, ins rindo a regra da ficácia da 1 i
p nal ao lado das exceções do rro d proibição d t rminadas p lo podem ser obscurecidas com situações próprias do Direito P nal co-
mum r rizad pel coincidência ntr tipos legais direitos humanos
princípio da culpabilidade, ntão diss menos do qu qu ria, ou
fundamentais (por exemplo, matar alguém, furtar, falsificar documento
diss coisa diversa, porqu os cone itos corr !acionados na l i p nal
etc.). O artifíci g neralizad na literatura penal d mé tica de utilizar
comportam-se como regra/ xceção, ap sarda intenção do legislador.
Em conclusão, a regra da in seu abilidad do desconhecimento da situações de necessário conhecimento do injusto (a proibição de matar
alguém, por x 1nplo) para ncobrir situaçõ s rn qu o conh cim nto
lei, como expr ssão da natur za geral obrigatória da l i p nal, não
do injusto depende d nh cLm n d 1 i p nal (a proibição de guardar
t m o pod r d susp nd r o princípio da culpabilidade xpr sso na
lenha ou carvão, sem licença da autoridade competente, por x mplo)
exceção do erro de proibição direto, na modalidad de d sconh -
criou um buraco negro no princípio da culpabilidade do Direito P nal
cim nto inevitável sobre a xi t Ancia da lei p nal. Um argum nto
brasil ir n qual , ão desapar cendo todos os casos d condenação
definitivo vem da Corte Constitucional da Itália: ar grado Código
rimina1 m i u ção de ignorância da lei determinant d inevitável
P nal italiano sobr "ignorancia da lei penal" (art. 5), mod lo da l i
brasil ira (art. 21, CP, prim ira parte), foi declarada ilegíf ma pela d conh cim nto do injusto.
Cort Constitucional da Itália (S nt nça 364/ l 988), pr cisam nt
porqu não admit a hipót se d ''l'ignoranza inevitabile". 11 3 2.6. Espécies de erro de proibição na lei penal brasileira
3.6. Em conclusão, não é possív 1 utilizar crit 'rios sobr · o conteúdo
1. Erro de proibição direto. O erro de proibição direto tem por objeto
da cansei Ancia do injusto, r pres ntado por aqu 1 limiar mínimo d
conh cim nto da danosidade social da ação, ou da punibilidade do fato, a lei p nal, pod xistir tanto m forma positiva, de representação
ou da antijurídicidade concreta do tipo de injusto-, para afirmar a irre- da juridicidade (s x e n ntid m dé il m ncal r pr sentado como
levância do desconhecimento do injusto por ignorância da lei, ou seja, d jurídico), co1no m fonna n gativa, de não repr s ntação da antiju-
desconhecim nto do injusto m situações em que o conh citnento do rídicidade do comportam nto (o cidadão ing"nuo qu não p nsa na
injusto depende do conh cimento da 1 i ou m qu o d sconh cim nto juridicidade da ação) 114 • O erro de proibição direto pod incidir obr
a existência, sobre a validade e sobre o significado da 1 i p nal:
a) O rro sobre a existência da 1 i p nal ' a modalidad mais co-
''ordem moral", por causa da xig·ncia d informação sobre a ''regularidade jurídica"
dos próprios aros (grifei).
mum de erro de proibição, com fr qu "ncia inv rsam nt proporcional
113 O ódigo Penal icalian (ar . 5) b a ubrica lgnoranza della legg p nale, diz in- ao nív 1cultural do povo: quanto menor o nív 1d scolarização, maior
te: Nessuno puó i':vo~are a P,;opria scustt (ígr101:anM. de/la k ~ P;.nale (Dichiarato illegittimtJ
.
dai/a orte Coshfu;-tonale ~iel/11'. pa~t~, m cu, non esclude dali mescusabilitá dell'ignomnz11: a frequ "ncia do rro (caboclo dar gião do e rrado é pr so m flagran-
dei/a l -e p na/e l rgnoraza mevttabtl.e - Sentenzn 64/1988). Ti du ' o livre: Ninguém
pode i~v ~ para própria cus ignorância da l i p nal (Declarado ilegítimo pela orte
. n u~uc1_ 11: "~ ,Pat;te em que não e~ Ju.i d in u bilidad d igp rância da I i nal
a 1 n ranc1a m vira e! - mença 364/1988). No B il TA J I R omentdrios 11 4 . senti.d o, entre outro , J
N esse p re 1s0 HE K/ [ D, Lehrbuch des trofrechts,
ao có~igo pena!I, 1989, p. 191, já mencionava essa decisão a im inteti1.ada:" ign rância 1996, § 4 1, II, Ia, p. 456; RO , Strafrecht, 1997, § 2 1, n. 20, p. 802; WE l /
da 1 penal nao scusa, meno que trat de ignorância in vitável" {grifei) . B KE, Strafrecht, 1998, n. 461, p . 134.
t pela autoridade florestal ao retirar pedaços de casca de árvore em ou os limites jurídicos de causa de justificação exist nte: no erro sobre a
mata ciliar, para preparar remédio para a sposa; estudante holandês, existência de justificação inexistente, o autor supõe existir causa de justifi-
em viagem de férias pelas praias brasileiras, traz na mochila pequena cação não reconhecida na lei (castigar crianças alheias por grosserias, no
provisão d cannabis sativa, adquirida para uso próprio no m reado suposto xercício de dir ito d corr ção); no erro sobre limites jurídicos
r gular d Am rdã, desconh e ndo a proibiçã l gal rasil; ig- de justificação existente, o autor atribui à justificação limites diferentes
norando a incriminação do estupro presumido, o jovem roe iro e sua do atribuídos p lo 1 gi lador: ao r alizar prisão m flagrant , o cidadão
bela caipirinha de 13 anos d idade se un m m apaixonada r lação comum produz 1 sã rp ral gra na pessoa do preso 118 •
sexual, na véspera da partida daquele para o serviço militar, sendo 3. Erro de tipo permissivo. O rro d tipo permissivo tem por objeto
surpr endidos e levados à autoridad policial p lo padrasto da 1n nina). a situação justificante porqu consi t m r pr s ntação rrôn a dos
b) O erro sobr a validade da lei penal supõ o conhecimento pressupostos obj etivos d justificação legal, como ocorre na hipót s
da proibição, consid rada inválida ou nula por contrariar dir itos d legítima defesa putativa ( au o r ma p r al n e ran eu n e
fundam ntais, o princípio da legalidad ou outros princípios jurí- apressado qu pr t nd p rguntar as horas, o d rruba com viol nto
dicos superiores: a invalidade da lei deve se basear em funda1nentos golp d carat "). O erro de tipo permissivo constitui rro sobr a v r-
r conhecidos p lo ordenam nto jurídico, não m convicçõ s dade do fato em que o autor não abandona a posição de fidelidade
pessoais, políticas ou religiosas do autor 115 (o estudante d direito, ao dir ito; ao contrário, qu r agir s gundo a d t rminação da norma,
convencido p la doutrina ou pela jurisprud "ncia da invalidade da mas erra sobre os pressupostos fáticos respectivos 119 •
incriminação da posse d drogas para uso próprio, porque fer a O rro sobr a situação justificante pod originar situações de
garantia constitucional de privacidade e o princípio da legalidade - excesso determinadas por defeito na dimensão intelectual ou por
o perigo de autolesão é impunível -, não pode ser reprovado pelo defeito na dim nsão emocional das açó s humanas.
consu1no de cannabis sativa na sfera privada da vida) 116 •
3.1. Excesso de legítima defesa por erro de representação. O ex-
e) O rro sobr o significado da li p nal tamb ' m upõ o o- ce so por d fi ito na dim nsão intelectual da conduta constitui rro d
nh cimento da p roibição, mas incide sobre a interpr tação do tipo representação, pelo qual o sujeito representa como existente realidade
1 gal, fr quent em 1 is tributárias ou d tipos 1 gais com cone itos in xist nt (por exemplo, a continuação d agr ssão e ssada), confi-
nonnativos complicados (na tergiversação ou patrocínio infiel, o gurando erro de tipo permissivo, co1n im diata xdusão do dolo
advogado int rpr ta erron am nt a exist "ncia d causas distintas - - podendo excluir também a imprudência, se "plenamente justificado
não da mesma causa) . essas hipóteses, a confiança em informaçõ s pelas circunstâncias" (art. 20, § 1°, CP) -, pod ocorr r na 1 gítima
especializadas ou em decisões judiciais pod s r decisiva - ainda qu d fi sa real na 1 gítima d b sa putativa.
1nais tard s r vel 1n erradas 117 •
3.1.1. O xc sso d legítima defesa real por erro de representação pod
2. Erro de proibição indireto (ou rro d p rmissão). O rro d p roibi- s r intensivo ou ex tensivo: no xc sso intensivo de 1 gítima d fi sa r al
ção indireto t m por objeto a existência d cau a d justificação in xistent
118 RO T , trafrecht, 1997, § 21, n. 2 1, p. 803; WE ELS/B L , trafrecht, 1998,
115 im, por exemplo, ROXI , trafrecht, 1997, § 21, n. 24, p. 804. n. 482-483, p. 142.
116 ~ r RA Penas, delitos e fantasias, 1991 p. 121-1 37. 119 ~ r JESCHE K/WEI :r E D. Lehrbuch des Strafrechts 1996, § 41, IY, ld, p. 464. o
11 7 ROXI , Strafrecht, 1997, § 2 1, n. 22-23, p. 803-804. Brasil, ver R DR! U • , Teoria da culpabilidade, 2004, p. 147-162.
o autor erra sobre a intensidad da agressão e, por isso, utiliza m io da ação (ou da exigibilidade jurídica) pressupõe-s a exist Ancia de um
de defesa superior ao necessário (disparo sobre o peito do agressor, sujeito normal, portador dos atributos pessoais de maturidade e sani-
quando bastava atirar nas pernas); no excesso extensivo de legítima dade psíquica necessários à constituição da capacidade de culpabilidade,
defesa real o autor rra sobr a atualidade da agressão, que ainda não qu permit m atribuir ao autor as cons qu Ancias p nais d suas ações;
é atual (disparo sobre o agressor que se preparava para a agressão) ou
b) além di o ne e nív 1 stá d 1nonstrado qu o suj ito por-
já não ' mai atual (pontap 's m agr ssor caído inconsci nt ).
tador da capacidade de culpabilidade (portanto, imputável) nh i
3.1.2. O exc sso d 1 gítima d fesa putativa constitui hipót s d duplo o injusto do fato concr to ou teve a possibilidade de conhecer o injusto
erro: o autor utiliza meio de defi sa desnecessário por rro ( 1) sobr a do fato concr to: o conh citn nto concr to da proibição limina a
atualidade da agr ssão, (2) sobr a intensidade da agr ssão, s r alm nt hipótese do erro d proibição inevitável, excludent da r provação
xist nte: logo após viol nta discussão, mulh r atira no peito do marido d culpabilidad ; a alternativa do desconh cimento da proibição por
(intensidad da agressão) ao ve-lo entrar no quarto com um taco d rro d proibição evitável não xclui a reprovação d culpabilidad por
b is bol na mão, supondo qu s ria agredida (atualidade da agr ssão) 120 • causa da possibilidade de conh cimento do injusto por r flexão ou
3.2. Excesso de legítima defesa por defeito emocional. Ao contrário, infonnação - exceto na hipótese de erro de tipo pennissivo;
o exc sso d 1 gítima d fi sa real ou putativa por defi ito na dim nsão ) finalm nt últim tági d p qui a d juízo de culpabili-
emocional da açõ s humanas, produzido por medo, susto ou p rtur- am da normalidade/anormalidade d ircunstâncias
bação (os chamados afi tos astênicos, ou fracos), determinantes d d r alização do tipo d injusto por um autor capaz de culpabilidade,
d scontrol psicomotor do suj ito, não constitu 1n hipót s s d erro com conh cim nto real ou possível da proibição concreta: circunstân-
de proibição, mas situações de exculpação legais por inexigibilidade de i normais fundamentam o juízo de exigibilidade de comportamento
comportamento diverso (ver Excesso de legítima defesa [real e putativa} conforme ao direito; circun tâncias anormais pod m con tituir situações
por defeito emocional, adian t ) . de exculpação que exclu m ou reduz mo juízo de exigibilidade de com-
portamento conforme ao direito: o autor r prováv l p la r allização não
justificada d um tipo de crim , com conhecimento real ou possív 1da
3. Exigibilidade de comportamento diverso
proibição concreta, é exculpado p la an rmaH ad d ircun tânci
do fato, que exclu 1n ou reduze1n a exigibilidade de conduta diversa.
3.1. Normalidade do fato e exigibilidade jurídica
120
mparar, entre outro H , Stra/recht, 1994, p. 135-137; ROXI Strafrecht, 1997, §
21,n.54-60,p. 823-825; LS/B ULKE, Strafrecht, 1998, n. 484-485, p. 143-144. HAL, Schuld und Vorwuif im geltenden Strafi"echt, 1922, p. 7.
da Segunda Guerra Mundial, é r jeitada como fundamento supralegal antigos argumentos de WELZEL: a) circunstâncias externas podem
de exculpação. Em 1 49 BERHARD HMIDT u re a neces- impedir a livre determinação da vontade (a coação irresistível, por
sidade de despertar a inexigibilidade do sono de bela adormecida 122 , exe1nplo); b) o instinto de conservação pode afetar a capacidade de
apar cendo mais rec ntem nte propostas d retomada do cone ito d agir conform ao dir ito (o excesso d legítima defesa por medo, susto
inexigibilidade como cláusula g ral d exculpação supralegal, deduzida ou perturbação); e) pressões psíquicas exc pcionais podem limitar o
do princípio da culpabilidade123 ou do princípio de justiça do E tado pod r d motivação jurídica (a ob di "ncia hi rárquica) 126 •
de Dir ito 124 • A crítica acrescenta qu o conceito de culpabilidade não Em s gundo lugar, as situações de exculpação constitu 1n hipótes s
pode abrigar a questão da renúncia à punição, manifestada apesar da
de dupla redução da culpabilidade e do injusto, conform JE H K/
existência da reprovação de culpabilidad 125 .
WEIGEND: r dução da culpabilidad por força da pressão psíquica
Entretanto, o reconh cim nto progressivo de novas situações do acontecimento concr to; r dução do injusto, porqu a lesão de um
de exculpação fundadas na anormalidade das circunstâncias do fato b m jurídico t m por obj tivo prot g r outro b m jurídico 127 •
no princípio geral de inexigibilidade de comportamento diverso par c
Em terceiro lugar, as situações de exculpação configuram casos
tornar cada v z 1nais difícil negar à exigibilidade a natur za g ral d
de desnecessidade d pr venção g ral ou esp cial, s gundo a teoria dos
fundamento supralegal de exculpação como categoria jurídica necessá-
fins da p na d ROXI 128 •
ria ao dir ito positivo vigent . S ja como for, m smo na p rsp criva
da teoria dominante, a anormalidade das circunstâncias do fato que D um m d al id i d inexigibilidade de comportamento
fundamenta a inexigibilidade de comportamento diverso incide sobr diverso pode funda1nentar situações d exculpação legais e supralegais,
situações de exculpação concr tas, nas quais atua um autor culpável ou confonne previsão explícita ou implícita no ordenamento jurídico.
reprovável qu , contudo, d v s r ex- ou desculpado porque o litnit 3.3.1. Situações de exculpaçáo legais. As situações d exculpação
da exigibilidade jurídica é determinado pelo limiar mínimo de dirigi- legais co1npreende1n (a) a coação irresistível, (b) a obediência hierár-
bilidade normativa ou de motivação confonne a norma, excluída ou quica, (e) o excesso de legítima defesa real o excesso de legítima defesa
r <luzida em situações de exculpação I gais ou supral gai . putativa - ambos d t rminados por medo, susto ou p rturbação.
a) Coação irresistível
3.3. As ituações de exculpação
A coação irresistível caract riza-s pelo 1npr go de força ou d
Em primeiro lugar, as situações de exculpação constitu m hipót - ameaça irr sistível contra o coagido para r alizar fato definido como
s s concr tas de inexigibilidade de comportamento diverso porque po- crim . O mprego d força, tamb /m conh cida como vis compulsiva, não
dem excluir ou reduzir a dirigibilidad normativa, como demonstram nfu d m ham da força absoluta (ou vis absoluta) qu xclui
a vontad , portanto, a própria ação: r pr nta viol n ia fí i capaz
122 B RHARD HMI , Suddeutsche Juristische Z eitung 1949, s ção 568.
123 im, '.: TIG, Der ubergesetzliche huldauss hliessungsgrund der Unzumutbarkeit
in verfassungsrechtlicher Sicht, JZ, 1969, p. 546. o Bra il, CHAD , D ireito
Criminal:partegeral, 1987, p. 146-148. 126 Ver WELZEL, D as Deutsche trafrecht, 1969, p. 178-179.
124 esse sentido, LU KE, D er Allgemeine chuldmmchliessungsgrund der Unzumutbarkeit 127 omparar JE · HE K/WEIGEND, Lehrbuch des trafrechts, 1996, § 43, III, 26,
ais metl.odisches und verfassungsrechtliches Problem, JR, 1975, p. 55 . p. 478; ROXIN, Strafrecht, 1997, § 22, ns . 7-9, p. 829-830 .
125 ROXI , Stmfrecht, 1997, § 22, n. 143, p. 886. 128 Ver ROXIN, Strafrecht, 1997, § 22, ns. 7-11, p. 829-830.
reféns; prisão d moe nt fundado em fort susp na tc. 134 • c) Excesso de legítima defesa real por defeito emocional
Em ualqu r o obediência devida p l fu i n ' ri públ"
O excesso de legítima defesa pod s r xculpado por d Dito na
circunscrita ao estritos limit da ord m, r pond ndo o ubordinado
dimensão emoc·onal do tipo de injusto, d t rminado por medo, susto
por excesso doloso ou imprudente. O dever de obediência nos limit s
ou perturbação na p d ut (aí( t t ni /fr ) - m não
estritos da ord 1n, d um lado, ar sponsabilidad por excesso doloso ou
por ódio ou ira (afetos estênicos/fortes), s gundo várias t orias: a teoria
imprudent , d outro, fundam nta um r strito, mas n c ário, direito
da redução do controle da vontade d MAYER138 ; a t oria da situação
de crítica da legalidad da ordem pelo funcionário público subordina-
psicológica excepcional de BLEY139 • a t ria atualm nt d minant da
do. O ex rcício desse direito, s mpre condicionado à pr s rvação do
dupla redução do injusto e da culpabilidade (defc sa contra agr ssão an-
princípio da autoridade, não pod t r por obj to qu stõ s mat riais
tijurídica e presença d af◄ to têni o ) d H IG
de oportunidade, d conveniência ou de justiça da ordem superior, mas
e outros 140; a teoria da desnecessidade de prevenção especial e geral (autor
exclusiva1n nt a contradição formal entre o Jato concreto e o conjunto
ialme integrad e u ênci d 'm uJ à imi ação) de ROXJ 141 •
das proibições (tipo l gais) permissões (justificaçõ s) do ord nam nto
A · mit - m i ualdade d n diçõ s, de ah tos fortes
jurídico, l vando m conta a capacidade intelectual do subordinado,
fracos 142 m opinião domin nt xig up riorid d do afc to ·
delimitada pelo nível de inteligência e de cultura respectivos 135 •
nicos 143 • Na verdade, os estados afetivos d medo, susto ou perturbação
t. 22. Se o fato é cometido (. .) em estrita obediência podem explicar ar dução dos contr 1 a an rmalidad p i ológi , a
à ordem) não manifestamente ilegal de superior hierár- r dução da culpabilidad ou a d snecessidad d pr v nção indicadas
quico, só é punível o autor (. .) da ordem. pelas diferentes teorias e, assim, como emoções insuscetíveis de controle
O fato punív 1praticado m situação d obediência hierárquica ' consciente, fundamentam a exculpação do excesso d 1 gítima d fi sa,
antijurídico - porque o injusto nãos transforma em justo, e o que o indep nd nt mente de pr visá legal - m ão pre i tas em egi lações
sup rior não pod , o inh rior tamb 'm não pod 136 - , mas o subordina- penais mod rnas, como o§ 33 do CP al mão 144 •
do pod s r exculpado por s ncontrar em situação de inexigibilidade 1. Excesso consciente e inconsciente. O xcesso d 1 gítima d fesa,
de conduta diversa, determinada pelo conflito entre sofrer um mal, do ponto de vista subj tivo, pod s r inconsciente ou consciente: ateo-
representado por sanções administrativas e penais, e causar um mal, ria dominant admit tanto o xc sso inconsciente como o consciente,
r pres ntado pelo fato punív l objeto da ord m 137 ; n sse caso, o fato
é atribuível obj tiva e subjetivamente ao sup rior hierárquico autor
da ordem , que domina ar alização do fato p lo controle da vontade 13 8 H. MA , trafi·echt, 1967, p. 101.
139 BLEY, trt1fi'echt, 1983 § 62.
do subordinado, que também atua sem lib rdade. 140 J H • . I Lehrbuch des trafrechts, 1996, § 45, II, 2, p. 49 1;
......, .., ............,/BE , Strafrecht, 1998, n. 446, p. 128.
141 ROXI , Stra/recht, 1997, § 22, n. 68, p. 855.
134 K R J ., Obediência hierárquica, 2003, p. 8-100; t mb m T, tmfrecht, 142 Ver O O , érenzen der strajloset?. ubet · hreitung der otwehr, § 33, B Jura, 19 7 p. 606.
1994, p. 113. 143 N ntid , DR H RONDLE, trafgesetzbuch undNebengeseteze, 199 5 § 33,
135 Ass im, K R JR., Obediência hierárquica, 2003, p. 102 e 106. n. ; tam b 'm JE HE K/ I E D; Lehrbuch des Str11frechts, 1996, § 45, II, 2,
136 MA RA H /ZIPF, trttfi'echt 1, 1992, § 29, n. 7, p. 408. p. 491; MA CH /ZIPF, trnfrecht 1, 1992, § 34, n. 30, p. 466; ROXl , trafrecht,
137 Assim, F OSO , Lições de D ireito Penal, 1985, n. 204, p. 221-222; também, 1997, § 22, n. 80, p. 860.
M I RI, Manual de Direito Penal I, 1999, p. 186. Ao contrário, JE U , D ireito 144 do P alemão dispõe: "Não é punível o autor que exceda os limites da legítima
Penall, 1999, p. 496, fundamenta a exclusão da culpabilidade cm erro de proibição; no defesa por perturbação, medo ou susto. " (Uberschreitet der Ta.ter die Grenzen der
me rn enrido, IRAB ·, Manual de D ireito Penal, 2000, p. 208 . Notwehr aus Vervvi rrung, Fur ht oder Schrecken, so wird er nichc bestraft .
sob o argumento convincente da dificuldad de distinção entre dolo c) agr ssóes inexistentes (ainda ou já) não produzem a dupla redução
e imprudência em situações de necessidade de ação rápida, em que a do injusto e da culpabilidade 150 . Contudo, respeitável opinião minori-
presença de emoções como medo, susto ou perturbação pode excluir ou tária admite o excesso extensivo de legítima defesa, afirmando inexistir
r duzir a capacidad de compreensão e de control , portanto, pod difc r nça entr xcesso intensivo extensivo: não há difc r nça ntr dar
det rminar xc sso doloso ou imprud nt 145 ; a teoria minoritária só um golpe duas vezes superior ao nec ssário ( xcesso intensivo) dar
admit exc sso inconsciente e, portanto, imprud nt 146 . outro golpe normal após c ssada a agr ssão (excesso ext nsivo). Assim,
2. cesso intensivo e extensivo. O xcesso d 1 gítima defesa, do o mesmo fundam nto do exc sso intensivos ria válido para o xcesso
extensivo, sob duas condiçõ s: dano exclusivo contra o agr or; igual
ponto d vista obj tivo, pod s r intensivo ou extensivo . O xc sso in-
tensivo caract riza-s pela utilização d meio de defesa desnecessário: por influ "ncia dos afi tos astênicos 15 1 • l i p nal br il ira 1g1r uso
moderado dos meios necessários (art. 25, CP), admite o excesso extensivo
exemplo, o emprego dos punhos repres nta a d fesa n e ári m
d 1 gítitna d fc sa, caract rizado p lo uso imoderado d 1n io necessário,
agredido utiliza arma d fogo contra o agressor. sse caso, pod ocorr r
specialm nte claro no excesso xtensivo posterior.
guin al r ativas: a) o exc sso inconsciente o exc sso consciente
determinado por afi to a têni o de medo, susto ou perturbação (isolados Entretanto, o excesso crasso de legítima defesa, caracterizado pela
ou m conjunto com ab tos st"nicos d ira ou ódio) são xculpáveis; desproporção absoluta ntr defi sa agressão, ' punív 1: o agr <lido
b) o xcesso consciente pr duzid p r t, an mata o agressor com um tiro, m defesa d um tapa. Embora alguns
igualm nt xculpáv l; e) o xcesso consciente o exc sso inconsciente autor s admita1n xculpação m hipót s d d sproporção absoluta 152,
produzido somente por afetos est "nicos de ira ou ódio são puníveis 147 . a opinião dominante a rej ita porque a desproporcionalidade absoluta
exclui igualmente a justificação e a exculpação 153 .
O excesso extensivo caracteriza-se pelo uso imoderado de meio
necessário, configurado na d coincid"ncia temporal ntr d fc sa
agressão, nas s guintes situações: defi sa posterior à agr ssão (novo d) Excesso de legítima defesa putativa por defeito emocional
disparo sobr o agr ssor caído, incapaz d continuar a agr ssão); d -
fc sa anterior à agr ssão (disparo sobr pugilista na fase pr paratória d O excesso de legítima defesa putativa também pode s r excul pado
aqu cimento dos músculos para agr ssão) 148 . O xc sso extensivo d por defeito na ditnensão emocional do tipo de injusto, determinado
1 gítima defesa, objeto de grande controv 'rsia na dogmática cont m- por medo, susto ou perturbação na p ssoa do autor (ah tos fracos) - mas
porân a, ' r j itado pela opinião majoritária, com os s guint s argu- não por ódio ou ira (afetos fort s).
mentos: a) cone itualm nte, a in xistência da situação justificante d
1 gítima defesa exclui a possibilidade d excesso; b) agressões acabadas
não produze1n a pressão psicológica própria das situações traumáticas 149 ; 150 J I E , Lehrbuch des Strnfrechts, 1996, § 45, II, 4, p. 493;
H/ZIPF, trafrecht 1, 1992, § 34, n. 27, p. 465; ~ ... ~~/BE
trafrecht, 1998, n. 447, p. 1 9; TRATE RTH, trafrecht, 1981, n. 448.
151 im, BAU /WEBER, trafrecht, 1995, § 23, n . 42; JAKOB , trafrecht,
145
im, MI .. U ER, Strafrecht, J9 4, § , n. 1; R/ 1991, 20/31, p. 584;. TTO, Stra.frecht, 1996, § 14, II 2a, p. 209 (somente o excesso
LENCKNER, trafgesetzbuch, Kommentar, 1991, § 33, n. 6. extensi':.º posterior); ROXIN, trafrecht, l 997, § 22, n. 88-89, p. 6 · H KE/
146 WELZEL, Das Deutsche trafrecht, 1969, § 14, II 5. HR RI E ~ R, Strafgesetzbuch, Kommentar, 1991, § 33, n. 7.
147 ROXI , Strofrecht, 1997, § 22, n. 84, p. 862. 152 im DREHER/ RONDLE, Strafgesetzbuch und Nebengesetze, 1995, § 33, n. 3.
148 Vc r J OB , Strafrecht, 1991 , 20/3 1, p. 584;. RO , Strtr.frecht, 1997, § 22, n. 84, p. 862. 153 Nesse sentido, JAKOBS, Strafrecht, 199 1, 20/29, p. 583; RO N trafrecht, 1997, §
149 lL Notwehr und Notwehrexzess, Jura, 1981. 22, n. 79, p. 860.
a legítima defesa putativa não existe agressão real, mas (art. 5°, VI CR). n rma nstitu ional prot g a livr formação e
agr ssão imaginária determinada por erro de representação: o autor manifestação de crença de consciência, limitadas somente por outros
representa a existência de agressão inexistente, atual ou iminente, direitos fundamentais individuais (vida, liberdade, integridade cor-
a b m jurídico próprio ou d terc iro. o excesso de legítima defesa poral etc.) ou col tivos (paz interna, xistência do Estado te. ), mas
putativa por defeito emocional, d t rminado por afetos ast"nicos d não pela lei penal 157 . Assim, o Jato de consciência define a experi "ncia
medo, susto ou perturbação, o autor (a) utiliza meio d defi sa desne- xi t ncial d um ntim nto int rior d d v r incondicional, cuja
cessário, se xistent a agr ssão (uso d arma, sendo suficient defi sa proteção coo i ucional impede aloração como certo ou errado - o
com os braços, s r al a agressão), ou (b) utiliza de forma imoderada julgamento do Jato de consciência deve se reduzir à correspondência
1neio de d fi sa nec ssário (novo disparo sobr agressor caído, incapaz entre conduta mandamentos morais ou r ligi da p r nalidad
de continuar a agressão, se realmente existente) 154 . liinitados xclusivam nte por outros direitos fundam ntais col tivos.
A opinião dominant rej ita o excesso d 1 gítima d fesa puta- Logo, m tipos p nais qu prot g m direito humano fundamen-
tiva, com o seguinte argumento: se não exist a situação justificant tais, a xculpação do fato de consciência ' condicionada à prot ção do
de legítima defesa real, então não existem limites suscetíveis de serem b m jmídi o por uma alt rnati a n urra: por ex mplo, a recusa do pai à
xc didos. Essa posição é criticada por s tores importantes da doutrina necessária transfusão de sangue no filho menor, por motivos religiosos,
porqu r pres ntação errônea d agressão in xist nte produz fi itos ' suprida por d t rminação do Curador d M nor s ou p la ação do
psíquicos iguais à r presentação corr ta d agressão xistent 155 : s médico, sob estado d n cessidade; a recusa do médico, por motivo
a vítima simula agressão contra o autor, a repr sentação rrônea d de consciência, de realizar aborto necessário, é suprida pela ação de
agressão inexistente não impede a exculpação do excesso contra o falso outro m 'dico etc. Em nenhuma hipótese oJato de consciência exculpa a
agressor (nunca, porém, contra terceiro) porque agressão aparente Íl tiva lesão de bens jurídicos individuais funda1nentais - co1no a vida,
quival à agressão r al no psiquismo do suposto agredido. por exemplo - porque a omissão da ação protetora privaria a vítima
de todos os direitos: os pais deixam 1norrer o filho menor porque sua
3.3.2. Situações de exculpação supralegais. As situações de ex- cansei "ncia religiosa imped transfusão de sangue; o m 'dico d ixa
culpação supralegais compr nd m (a) o fato de consciência, (b) a morrer a paciente porque sua consciência pessoal não permite realizar
provocação da situação de legítima defesa, (c) a desobediência civil, aborto. Exceções seriam as chamadas lesões periféricas de bens jurídicos,
(d) o conflito de deveres. qu pr rvam a livr d cisão da vítin1a: o marido d on lha a po
por motivos religiosos, a realizar transfusão de sangue 158 •
a) Fato de consciência
O fundam nto da is nção d p na do fato de consciência 'contro-
O fato de consciência tem por objeto d cisões morais ou r ligiosas vertido: por um lado, xclui a tipicidade, s exist alternativa neutra d
ntidas como deveres incondicionais vinculant s da conduta 156 - m prot ção do bem jurídico ou exclui a antijurídicidade porqu o ex rcício
g r g r n id p la liberdade de crença d consciência da Constituição
de direitos fundamentais não pode ser antijurídico 159 ; por outro lado, a ord m vigent - exceto obstruções e danos limitados no t mpo -
não exclui a antijuridicidade porqu d i ó d on ci n ia on trária apresentem relação reconhecível com os destinatários respectivos 164 •
ao direito não podem ser jurídicas I 60 . a dogmática conte1nporânea,
Autor s d fatos d finido como desobediência civil ão possuido-
atitud s contrárias ao dir ito - expr ssão do princípio democrático da
res de dirigibilidade normativa- portanto, capaz s de agir conform ao
maioria - não são autorizadas, mas podem ser exculpadas por situações
dir ito - mas a xculpação bas ia-s na xist "ncia obj tiva d injusto
anormai xdud nt sou r dutora da dirigibilidad normativa 161 . mínimo na xi t "ncia subj tiva de motivação pública ou col tiva
rel vant ; al ' m disso, a punição ' desn e ssária porque os autor s não
b) Provocação da situação de legítima defesa são criminosos - e as funçõ s d retribuição e d pr v nção atribuídas
à p na criminal não r solv m conflitos sociais 165 •
Em princípio, a p rovocação da situação de legítima defesa exclui
xculpaçõ s, por motivos evid nt s. Mas a moderna teoria tem pro-
d) Conflito de deveres
curado flexibilizar esse ponto, argumentando com a impossibilidad
de desvio da ação de defesa provocada: se é impossível ao provocador Casos dás icos d conflito de deveres fundado na escolha do mal
d viar a ação d d fi a do agr dido (por x mplo, fugindo do local), menor são os seguintes: a) o caso da eutanásia d doentes mentais
então seria ad1nissível a xculpação do agressor por ações in viráveis durante o regitne nazi ta, em que o sacrifício de 1ninoria selecionada
d prot ção porqu o Estado não pod xigir d ningu 'm a r núncia d do ntes m ntais t ria sido realizad p r alvar a 1naioria porqu
ao direito de viver I62 , nem criar situações s m saída, m que as alt r- a r u a · al d ump ir a rdem superior determinaria a morte
nativas são ou d ixar-se matar ou sofr r pena rigorosa 163 . de todos os do ntes m ntais por médicos substitutos fiéis ao r gim ;
6) para vitar colisão com tr m d pa sag iros, d t rminando a mort
c) Desobediência civil de muitos, funcionário da Íl rrovia desvia trem de carga d sgovernado
para trilho difer nt , causando a mort certa de alguns trabalhadores;
A desobediência civil t m por obj to ações ou demonstrações públicas
c) m 'dico sub titui paci nt com menor s chanc d obr viv "ncia por
d bloqu io , ocupaçõ te. realizadas e1n defe a d bem comum ou de
paciente co1n 1naiores chances de sobrevivência em máquina de respira-
qu stõ s vitais da população ou e1n lutas coletivas por dir itos hu1nanos
ção/ circulação arfficial. ssas hipót s s, o argumento da escolha do mal
undam ai m grev d · e balh res, protestos d presos e, no
menor pod undam n r j ificação do estado de n cessidad ou a
Br il, o Movimento dos Trabalhadores Rurais em-Terra (M T ), desde
xculpação supral gal do conflito de dev res, d sse modo: a) se a lei não
qu não n tituam manifi taçõ s de resist'' ncia ativa ou viol nta contra
pode proibir a redução de um mal maior, n tão a ação dos m 'dicos s ria
justificada p lo tado d n c sidad , s gundo a opinião minoritária I 66 ;
159 Ass im, PETER , Bemerkungen zur Rechtsp rechung der Oberlandesgerichte zur 6) se qualqu r pessoa no lugar dos 1n 'dicos escolheria o mal menor, ntão
Wehrersatzdienstverweigerung aus Gewissensgrunden, 1966, p. 2 6; ambém, ,
H ilfipflicht und Gütubensfreiheit in stra{rechtlicher icht, chwing -F , 1973, p. 11 5.
a ação dos autores teria ocorrido em situação de exculpação supralegal por
160 EBERT, D er Uberzeugungstdter in der neueren Rechtsentwicklung, 1975, p. 49 s.;
RO , Strafrecht, 1997, § 22, n. 12 1, p. 877.
161 EBERT, D er Uberzeugungstater in der neueren Rechtsentwicklung, 1975, p. 63; ROXI ,
trafrecht, 1997, § 22, n. 123, p. 877-878.
162 esse sentido, ROXI , trafrecht, 1997, § 22, n. 93, p. 865. No Brasil, ver DOTTI, 164 Ver DOTTI, Curso de D ireito Penal: parte geral, 2001 , p. 428.
Curso de D ireito Penal: parte geral, 200 l, p. 427-428 . 165 Comparar ROXIN, trafrecht, 1997, § 22, n. 130- 133, p. 880-881.
163 JE C HECK/WEI END, Lehrbuch des Straftechts, 1996, § 32, III , 2a, p. 346-347. 166 im, TTO, Pflichtenkollision und Rechtswidrigkeitsurteil, 1978 .
conflito de deveres, conforme a opinião dominante 167 . capaz d contribuir para d m ratizar Direito B nal r uzindo a inju ta
Situaçõ d conflito de deveres . d mais r 1 vant ã muns n riminalização d uj ito p nalizado p las condiçõ d vid o ial. Nesse
ponto, direito justo é direito desigual porque considera desigualmente sujeitos
cont xto d ondiçõe. ociai adve m m qu viv · ria d p v, i-
concretainente desiguais171 •
1 ir - máxima n gação da normalidade da situação deJato pressuposta no
juízo de exigi.bilidade - nas quais uabaJlh d r marginalizad d m r d Hoj , como valoração compensatória dar sponsabilidad d in-
d tr balh p ialm · t r cl( it d p líti n" mi r e ssiv: d divíduos inferiorizados por condiçõe ociais adv rsas 172 , ' admissív 1
ár p rife' ric , impo p lo in r h mônico d.a 0 1 bali ão do a t s da co-culpabilidade da soei dad organizada 173 , r sponsáv 1p la
capital ão con trangido a romper vínculos normativos comunitários (ou injustiça das condições sociais desfavoráveis da população m arginali-
ja, d v r jurídi d mi ão d açô pr ibi ) para pr rvar valores zada, d tenninant s d anormal motivação da vontade nas d cisõ s da
concretamente superiores168 (por xemplo, o d ver jurídico de garantir a vida, vida. i d d pit r a , a lt n ti as de comportam nto
aúde, moradia alimentação colarização do filho ) como indicam - individual s ria1n direta1n nt d p nd nt s do status social d cada
taósticas cr cente de crimes patrimoniais cometido por ex-empr gados indivíduo, com distribuição desigual das cotas pessoais de liberdade e
de: indú uia do om 'r io da agri ultura para imp dir a d int graçáo determinação conforme a posição de das e na e cala ocial : indivíduo
d famíli a p rostituição das filhas e a pivetiza.çáo dos filho depois de d status ocial uperi r, maior lib rdad ; indivíduos de status social
ano de frustradas enta i . de reins rção no m rcad de trabalho, , b a inferior, maior detenninação. Concluindo, se a motivação anormal da
tortura da fome, da doença da in egurança, da angústia, d d pero 169 . vontade em condições sociais adversas, insuportáveis e insuperáveis pe-
Quand ondiç" d "n ia ial ad r d ixam d r a o los m io conv ncionai pode configurar situação d conflito de deveres
ran i ór" para gr tant d 'd d m mi rabilizad d jurídicos, ntão o cone ito d inexigibilidade de comportamento diverso
i dad fundadas na r la -o capitaVtrabalho a/,ariado, ntão o crün encontra, no flagelo real das condições sociais adversas que caracteriza
pode constituir resposta normal de sujeitos em situação social anormal. " r-~.,_., a vida do povo das fav las bairros pobr s das ár as urbanas, a bas
ndiç~ rit 'ri n rmais d val ra . . d mp rtam t individual de uma nova hipót se d xculpação supral gal, igualmente d finív 1
d v m mudar u · ii.an auras p i nais inexigjbilídade para fund - co1no escolha do mal 1nenor - at ' porqu , 1n situaçõ s s m alterna-
m n hip ' supralegai· de exculpação por onjlito de deveres, porque, tivas, não exist spaço para a culpabilidad 174
afinal d.ir ito é r grada vida 170 . r hwnan concreto, expressão "bio-
-p íqui - m i nal" d fonnada der laç- dais d umanas r ntra
a violência da estrutura econômica da sociedade, instituída pelo Direito
garantida p lo poder do t do utilizando a única al e nativa real de sobr -
viv"ncia animal disponível a viol "ncia individual. A ab rtura do cone ito
d inexigibilidade para as ondições reais d vida do povo par e alt rnati a 17 1 Crítica ao programa de Gotha, in Tcxros 1, Edições So iais, 1975.
172 Vi r BARATTA, La. vida y e! laboratorio del derecho: a propósito de la imputación de respon-
sabilidad en el proceso penal, in CapíheÚJ Criminólogico, n. 16, 1988, p. 69-92.
167
, tmfrecht, 1969, p. 184. 173 Assim, ZAFFARONI/PIE GELI, Manual de D ireito Penal brasileiro, 1996, n.
168
and TZA, Techniques ofneutralization: a theory ofdelinquency, in American 353,p. 613; BU T ' RAMf E7. Manualdederechopenalespaftol, i 1 p. 40;
o i logi I Review, 22 (1 957), p. 664. BATI TA, Introdução crítica ao Direito Penal brasileiro, 1999, p. 105; R 1
Rl · E ,
169 Ver RI TO S, As raízes do crime (um estudo sobre as estruturas e as Teoria da culpabilidade, 2004, p. 26-29.
instituições da violência}, 1984, p. 86-96. 174 - I RI H , Epoché und Schuld. Uber den von strafrechtlicher Schuld
170 Ver IRI D O , Teoria do crime, 1993, p. 71. ausgeschlossenen Raum, Barmann-F , 1975, p. 600.
Capítulo 12 353
punível; se as diferenças de contribuição subjetiva objetiva expri- tipo de injusto-, mas tem o d feito de não explicar as hipóteses d
mem a culpabilidade pessoal, então são consideradas na pena - e a autoria mediata (o herdeiro entrega bombom envenenado à tia rica,
sanção penal aparece em Íntima correlação com a personalidade do através do filho menor, para apressar o recebimento da herança) e
autor; nfim, se não xist difi rença entr autor s partícip s, então de coautoria (B distrai a at nção da tia rica para qu A possa colocar
a aplicação do Dir ito Penal é bastante simplificada, no caso concr to. ven no no café dela)7 .
Mas as desvantagens da teoria unitária de autor parecem mais re-
1 vantes: se as contribuições causais para o fato punível são equivalentes,
ntão (a) todos os suj itos nvolvidos no tipo d injusto são niv lados, 3. Teoria subjetiva de autor
desaparecendo diferenças objetivas e subjetivas na produção do desva-
lor de ação e do desvalor de resultado que d finem o tipo de injusto, A t oria subjetiva distingu autor e partícipe pelo crit 'rio da
e (6) suj itos nã qual"ficad p d m r au r s d delitos sp ciais vontade: a) o autor realiza, com vontade de autor, a contribuição
(por xemplo, a qualidade de funcionário público, no peculato) ou causal para o tipo de injusto: quer o fato como próprio ou age com
de delitos de 1não própria (o falso testemunho), o que representa u1n animus auctoris - mesmo sem realizar ação típica (se A, com ânimo
contrass nso. A natureza gross ira da t oria unitária d autor xplica de autor, garant as gurança d B, na ação de homicídio de C, são
s u abandono progressivo, mesmo naqu las legislações - como abra- ambos coautores); b) o partícipe realiza, com vontade de partícipe, a
sileira - que, por in 'reia ou co1nodismo, ainda a adotam 5. contribuição u al para o tipo d injusto: qu r o fato como alheio
ou age com o chamado animus socii - apesar de realizar ação típica
(homicídio realizado por incumbência da máfia ou do serviço secreto,
2. Conceito restritivo de autor por exemplo) 8 •
A crítica aponta dois problemas principais da teoria subjetiva
O conceito restritivo de autor é a prim ira t ntativa ci ntífica d de autor: crit ' rios bas ados em fi nô1n nos psíquicos (int l ctuais ou
distinguir autor e partícipe, com base no critério objetivo-formal da ação emocionais), como vontade ou ânimo de autor ou de partícipe, não
típica: o autor realiza a ação típica (a ação de matar, no homicídio; a são d termináv is diretament e, portanto, são imprecisos; em tipos
ação d subtrair, no furto te.); o partícipe realiza ação de instigação qu xcluem autoria 111ediata (delitos de mão própria, por xemplo),
ou de ajuda extratípica para a realização do tipo de injusto, punível sujeitos não qualificados não podem s r autores sujeitos qualificados
por xt nsão da punibilidade da ação típica6 .
O mérito do conceito restritivo de autor reside em fundamen- 7 N sse sentido, a crítica, por xcmplo, d JE HECK/WEIGEND, Lehrbuch des
tar a distinção de autor e partícip na produção do fato típico - um Strafrechts, 1996, § 61, III, p. 648-649; KUHL, trafi-echt, 1997, § 20, n. 24, p. 670.
No Brasil, ver a excelente monografia de BATI TA, Concurso de agentes, 2004, 2ª
crit ' rio formal rigoroso em todas as hipóteses de autoria direta do edição, n. 10, p. 31; também, ZAFFARONI/PIE GELI, Manual de Direito Penal
brasileiro, 1997, n . 392, p. ; omrár·o, RAB Manual de Direito Penal,
2000, p. 231, adota o critério objetiv fi rmal d e nc ir restritivo de autor para todas
as hipóteses de autoria e participação.
5 ROXI r, Strafrecht, 2003, v. II, § 25, n. 4; J H I ·, Lehrbuch des 8 RO , trafrecht, 2003, v. II, § 25, n. 18-26; JE HE K/WEIGEND, Lehrbuch
Strnfrechts, 1996, § 61, II, p. 645-646; WE EL / B ULK.E trafrecht, 1998, n .. 506, desStrafrechts, 1996, § 61, IV, p. 649-650; KUHL, Strafrecht, 1997, § 20, n. 22-23, p.
p. 150 . 69-67 ; L /B ULKE, Stmfrecht, 1998, n. 512, p. 152. No Brasil, comparar
6 RO , Stra_fi-echt, 2003, v. II,§ 25, n. 5; KUHL, Strafrecht, 1997, § 20, n. 24, p. 670. BATISTA, Concurso de agentes, 2004, 2ª edição, n. 27, p. 67.
não podem ser ap nas partícipes, por mais que queiram o fato como autor e partícipe da teoria do domínio do fato ' a r alização da ação
próprio ou como alheio, respectivamente9 . Apesar da crítica científica, típica: o autor domina a realização do tipo de injusto, controlando a
a teoria subjetiva do autor parece indicar estados psíquicos caracte- continuidade ou a paralisação da ação típica; o partícipe não domina
rísticos d autores e de partícip s , por isso, ainda hoj ' dominant ar alização do tipo de injusto, não t m control sobr a continuidad
na jurisprud"ncia al mã 10 . ou paralisação da ação típica 14 •
Mas, é preciso esclarecer: segundo ROXIN, a teoria do domínio
do Jato é capaz d diferenciar autores e partícip s somente nos delitos
4. Teoria do domínio do fato d autoria geral, qu pod m s r r alizados por qualqu r p ssoa - a
maioria dos delitos, chamados Herrschaftsdelikte -, em que o autor
A t o ria do domínio do fato (tamb 'm chamada t o ria objetiva domina a r alização do tipo e o partícipe ap nas influ ncia o acon-
material ou teoria objetivo-subjetiva), desenvolvida essencialmente tecimento típico; nos delitos de dever (os chamados Pflichtdelikte),
por ROXI 11 - e1nbora, anterionnente, WELZEL tivesse falado em somente o portador do dever jurídico (por xe1nplo, o funcionário
domínio final do fato 12 - , parte da premissa de que teorias somente público) pode ser autor- os demais, podem ser partícipes; nos delitos
objetivas ou som nt subjetivas não of; r cem crit ' rios s guros para d mão própria (os chamados eigenhandigen Delikte), o autor r aliza o
identificar autor e partícipe do fato punível. A teoria do domínio do tipo pelas próprias mãos- os d mais soment pod m s r partícip s15 •
fato - hoj dominante na dogmática penal - int gra o crit 'rio obje- Assitn, naqu 1 s delitos gerais, a teoria do domínio do fato par e
tivo do conceito restritivo de autor (qu vincula o conceito de autor adequada para definir todas as formas de realização ou de contribuição
à ação do tipo legal), com o critério subjetivo da teoria subjetiva de para r alização do tipo d injusto, compreendidas nas categorias de
autor (que incorpora a vontade como energia produtora do tipo de autoria d participação, a sim cone bida :
injusto), mas supera os limit s d ambas as teorias porqu consid ra a
ação na sua strutura subj tiva obj tiva, pr ssuposta no controle do 1) autoria ob a mod idad ( ) direta, como r zação p oal
tipo d injusto necessária para mostrar o fato como obra do autor: do tipo d injusto, (b) mediata, como utilização d outr m parar i-
ubjetivam nt , o projeto d r alização (a vontad criadora) do tipo zar o tipo de injusto, e (c) coletiva, como d ecisão comum e realização
de injusto; objetivamente, a (1nagnitud das contribuições para) rea- comum do tipo de injusto;
lização do proj to d tipo d injusto 13• A ideia básica para distinguir 2) participação, sob as formas (a) d instigação, co1no det rmi-
nação dolosa a fato principal doloso d outr m, (b) de cumplicidade,
9 ROXI , trafrecht, 2003 , v. II, § 5 n. 22 .; JE CHE K/WEI O Lehrbuch co1no ajuda dolosa a fato principal doloso d outr m.
des Stra.frechts, 1996, § 6 1, n. IV, 3, p. 651 ; K HL, trafrecht, 1997, § 20, n. 23, p.
67 · ~ EL /B L. ', Stra(!-e~ht, 1998, n. 51 3, p. 152. No Brasil, ver BATISTA, A lei p nal brasileira adota, ainda, a t oria unitária d autor,
Concurso de agentes, 2004, 2ª cctiçao, n. 28, p. 68.
10 ROXI , trafrecht, 2003, v. II 2 . 18-26· J K/WE , Lehrbuch mas a introdução legal de critérios de distinção entre autor e partí-
des trafrechts, 1996, § 6 1, N, 2, p. 650.
11 ROXI I , Strafrecht, 2003, v. II,§ 25 , n. 13.
12 WE ZEL tudien zum ,ystem des trafrechts, Z tW, 58 (1939), p. 49 1.
13 Ver J H l E D, Lehrbuch des Strafrechts, 1996, § 61, V, 1, p. 65 1-2. 1999, p. 202-203; ZAFFARO I/ P( , Manual de D ireito Penal brasileiro,
o Brasil, ver BATI TA, Concurso de agentes, 2004, 2ª edição, n. 29-30, p. 69-71; 1997, n . 394, ,P· 670.
também ,. BITE O U RT, Lições de D ireito Penal, 1995 , p. 8-99; FRAGO O , Lições 14 ROXIN, Strajrecht, 2003, v. II ,§ 25, n. 10.
de D ireito Penal, 1985, n. 243, p. 263-2 4; 1 , Manual de D ireito Penal I, 15 ROXIN, Strafrecht, 2003, v. II,§ 25, n. 13-15.
ticar inc Andio 20 ; d) ação exculpável do instrumento, por obedi Arreia dos por agent s do Estado, m p ríodos de ditaduras militares ou de
hierárquica ou sob coação irresistível do autor mediato 2 1; d) ação do surtos temporários de estados policiais, realizados no cumprimento de
instru1nento em erro de proibição inevitável induzido ou mantido pelo ordens superiores. as situações de autoria mediara, a pena do autor
autor mediato: policial com t crime m cumprim nto d ord m mediato ' agravada o instrumento ', m r gra, impunív 1- xc to
de superior hierárquico, sem possibilidad de conh cimento da il - na hipótes d aparelhos de poder organizado, m qu o x cutor da
galidade da ord m 22 ; f) ação do instrumento sem a intenção especial ord m ilegal é autor imediato do fato.
exigida p lo tipo legal, por rro provocado p lo autor mediato: o autor 1) No domínio da vontade por força de erro do instrumento,
1nediato apropria- d obj to alh io ubtraído rroneamente, pelo o autor induz ou mant 'm 1n rro o instrum nto: o 1n 'dico induz
instruiu n to 23 •
a nferm ira, como in trum nto inconsci nte (s m dolo), a aplicar
O critério moderno, des nvolvido por ROXI , fundado na no pacient inj ção mortal previam nte pr parada (erro d tipo)25;
natureza do domínio da vontad do instrumento p lo autor m diato, b) o policial com t crim em cumprimento d ordem d sup rior
classifica todas as hipót s s de autoria medíata em três categorias, assim hierárquico, sem possibilidad de conhecitn nto da il galidad da
definidas: a) domínio da vontade por força de erro do instrumento, ordem (erro de proibição) 26 .
d t rminado à r alização do crim s m consci Ancia da tipicidad 2) o domínio da vontade por força de coação (irresistível) sobre o instru-
( rro d · tipo) ou da proibição do fato ( rro de proibição); 6) domínio
mento, o autor domina a realização do fato pelo domínio (da vontade)
da vontad por força de coação (irr sistível) sobr o instru1nento,
do instrum nto, qu atua sem liberdade: sob am aça d mort o autor
forçado à realização do tipo; e) domínio da vontade por força d
mediato obriga o instnun nto a praticar fal o t t munho - n t caso, a
aparelho de poder organizado, em que o instrumento (neste caso: int nsidad da coação necessária para definição como in-esistível dep nde
autor itnediato) é detenninado à realização do tipo no cumprimento
das p oas nv 1 id a n tur d m ça do fato coagido 27 .
de ord ns sup riores 24 . Est critério parec pr ferível, pelo m nos por
duas razó s: prim iro, organiza todas as hipót s s m tr As cat gorias; 3) o domínio do fato por força de aparelho de poder organizado,
s gundo, redim nsiona o cone ito d obediência devida, agora in erido o autor mediato domina a r alização do fato pela fungibilidade do
no cont xto d aparelhos de poder organizado, m qu a fungibilida- autor imediato - mera engrenagem substituível do aparelho de pod r,
de do ex cutor garante a realização do fato e fundam nta a autoria cuja recusa implica substituição automática, d cisões individuais
mediata do sup rior hi rárquico autor da ord 1n - important para contrárias do autor itn diato não exclu mo fato-, cuja punibilidad
determinar responsabilidad s por autoria mediata em crimes com ti- não exclui a punibilidade do autor mediato: a execução das ordens
de ho1nicídio de Hitler e Eichmann era assegurada pela fungibilidade
do ex cutor; o domínio da Junta Militar arg ntina sobre o aparelho m instigador: o autor p nsa incumbir doent mental de produzir
de poder do Estado tornava irrelevante a identidade do executor d incêndio, mas o autor imediato é capaz de culpabilidade e, portanto,
cada u1n dos 30 mil homicídios de opositores políticos do regime 28 ; responsável pelo tipo de injusto como autor direto. A hipótese inversa,
igualm nte, o comando dos g n rais-Pr sid ntes sobre a organização de erro sobr a capacidad de culpabilidad d pistol iro contratado
do poder statal no período da ditadura militar brasileira garantia para r aliz r h mi ídi que em e nh cimen d n ra an '
a execução dos assassinatos das torturas nos porõ s dos órgãos d do nt m nt 1, on titui obj ti ament , autoria m diata, mas o d s-
r pressão política dos anos de chumbo, p la fungibilidad do x - conhecimento do domínio do fato p lo autor mediato mant , m sua
cutor das ordens. posição de instigador32. Por outro lado, o erro do instrumento sobre o
obj to da ação r pr s nta aberratio ictus para o autor m diato porqu
A autoria mediara por força d aparelho de poder organizado
não pode ser estendida às empr sas conômicas, segundo ROXI , o instrumento é equiparado a simples mecanismo, como uma arma
qu . rra ai o: coagido sob am aça d mort ao homicídio d Y, o
ob dois argumentos: a) aus "ncia de fungibilidad do ex cutor; b)
instrum nto mata Z, confundido com Y na scuridão da noite 33 .
inexistência de desvinculação ao Direito 29 - ou seja, empresas econô-
micas são organizações vinculadas ao Direito. Mas é admissível, sob 2.2.2. Excesso. O excesso do instrumento, por iniciativa própria ou
outros fundamentos, ar sponsabilidad d dirig nt s de mpr sas por por erro sobr as tar fas ou finalidad sr sp crivas, ao contrário, não '
crimes permitidos, exigidos ou não imp <lidos (d modo contrário ao atribuível ao autor mediato, por ausência de control sobre o xcesso
d ver) d rnpr gados da mpr sa30 • Ern conclusão, a autoria mediata do instrumento 34 .
por força de aparelho de poder organizado está r strita aos crimes d 2.2.3. Tentativa. A tentativa na autoria mediara, caracterizada pelo
abuso de poder do Estado - além de organizações criminosas de tipo
início d r alização do tipo segundo o plano do fato, é controvertida:
1nafioso, cujo conceito continua controvertido ou indeterminável -,
a) para alguns autor s, a t ntativa já ocorr no in tant da lib ração
xcluindo empr sas conômicas e simples organizações hi rárquicas, do instrumento para realizar o tipo d injusto, sob controle do autor
s gundo a lit ratura 31 . m diato 35 - uma t o ria qu inclui, claram nt , atos pr paratórios; b)
para outros, a tentativa som nt ocorr no instant em qu o instrumen-
to inicia a r alização da ação típica36 - uma int rpr tação compatív 1
2.2. Problemas especiais
cotn o Direito Penal do tipo porqu enquanto o instrumento, como
mecanismo subm tido ao pod r do autor mediato, não cria perigo
2.2.1. Erro. O erro na autoria mediata pode ocorrer na pessoa do
autor mediato na pessoa do instrum nto. O erro do autor mediato
32
ím, JES HE K/ EIGEr D Lehrbuch des Strafrechts, 1996, § 62, III, 1, p. 671;
sobr caract rísticas qu faz 1n do autor imediato um instrum nto nas LA KNER, Strafgesetzbuch, § 25; RO , Tti.terschaft und Tnthen-schaft, 1994, p. 267.
tnãos daqu 1 xclui o do1nínio do fato transfonna o autor m diato 33 J~ K/ l E , Lehrbuch des trafrechts, 1996, § 62, III, 1, p. 67 1-672;
ROXIN, Ttiterschaft und Tatherrschafi, 1994, p. 215; WE EL / BEULKE, trafrecht,
1998, n.550 p. 165.
34 J HECK/\ .. I E D, Lehrbuch des Strafrechts, 1996, § 62, III, 3, p. 672;
CHI O EL/ZIPF, trafrecht II, 1989, § 48, n. 45, p. 268-269; WES EL /
2s RO , Strafrecht, 2003, v. II,§ 25, n. 105-109. KE, Strafrecht, 1998, n. 545, p. 163.
29 RO , Strafrecht, 2003, v. II,§ 25 , n. 129- 132. 35 J H CK I END, Lehrbuch des trafrechts, 1996, § 6~_, IV, 1, p. 672-673.
30 RO , Strafrecht, 2003, v. II,§ 25, n. 105-109. 36 KUHL, trefrecht, 1997, § 20, n. 97, p. 7 2; lVIA RA H /GOSSEL/ZIPF, Strnfrecht
31 RO , Strnfrecht, 2003, v. II,§ 25, n. 139. II, 1989, § 48, n. 115, p. 284 .
direto para o bem jurídico com o início da r alização do tipo, não 3.1. Decisão comum para o fato
pode haver tentativa.
A decisão comum para o fato significa convergência de consciên-
2.2.4. Omissão de ação. A autoria m diata por omissão de ação '
cia e d vontade dos coautor s para tipo d injusto d t rminado, qu
tamb ' m, controvertida: r sponsáv 1por instituição d tratamento psi-
fundamenta a atribuição conjunta do f: to integral : a decisão comum
quiátrico não itnpede agressão d doent m ntal sobr outro int rno.
d ncad ia adi tribuição d tare indi id uai ne e ária à p rodução
Um setor da teoria considera o garante autor mediato por omissão
do resultado comum - por isso, nos crim s de imprud "ncia, do ponto
de ação 37 ; outro setor r jeita autoria mediara por omissão d ação e,
d i ta n itual u t ria impossível e, do ponto de vista práti-
I
d slio-a o al m un1 t rc iro coautor garante a retirada, u1n quarto subjetivas e objetivas, bem como as hipót ses d excesso de contribui-
coautor controla as vítimas com a arma, um quinto coautor apanha ção ou de contribuições de menor importância para o tipo de injusto
o dinheiro e, ainda, um sexto coautor pode ter planejado, organizado co1num, como se demonstra.
ou dirigido a cooperação no fato comum 41 - cuJa· · ~
pun1çao s ra' agra- 3.3.1. Responsabilidade pelo excesso. Em r gra, o excesso em r -
vada, conform o art. 62, I, CP. A contribuição obj tiva do coautor
lação ao tipo de injusto obj to da d cisão comum só ' atribuív 1ao
dev s r nec ssária para promov r o tipo d injusto comum, mas '
seu autor; por exceção, pode ser atribuído aos demais - coautores ou
sufici nt contribuir para des nvolver o plano criminoso, ind pen- partícipes -, na hipótese de previsibilidade do r sultado mais grav ,
dentement da presença físi a 1110 local do crim mbora a nrrega
na forma xclusiva d aum nto at' m tad da p na do crim m nos
d armas ou instrum ntos para o fatos ja, por si só, insufici nte para
grav , conforme a seguint regra compl m ntar, igualmente aplicável
a coautoria42 . a' coautona
.
a' part1c1paçao:
. . ~
partícipe) - uma resultant do p rincípio da culpabilidade, qu exclui comuns poderiam caract rizar coautoria por omissão de ação 49 . Por
qualquer responsabilidade penal objetiva. outro lado, hipóteses de atuação positiva de um coautor, enquanto o
outro, de modo contrário ao dever, omite a ação de impedir a atuação
3.3.2. Tentativa na coautoria. A tentativa d tipo de injusto em coau-
toria ' d finida por duas teorias: a) a t oria dominante ( Gesamtló'sung) positiva do primeiro, não s riam casos d coautoria, mas d autoria
de participação, p la posição subordinada do omitent em r lação
propô u1na solução geral caract rizada p lo início de realização do
ao autor (o vigia não impede o furto no stab 1 cim nto vigiado) 50 •
programa típico comum por qualquer dos coautores 45; 6) a teoria mi-
noritária (Einzellosung) propô uma solução individual caracterizada 3.3.4. Coautoria em tipos especiais próprios. Em tipos que
p lo início d r aliz ção da contribuição típica d cada coautor r sp c- xig m qualidad s p ciais do autor, a atribuição típica pr ssu-
tivo46. Os argumentos dessas teorias par e m igualmente r levantes: s põe coautor qualificado: não existe coautoria ou participação em
dois coautores projetam roubo em residência alheia a tentativa com ça d elitos de mão própria sem realização p essoal do tipo d injusto
para ambos no mom nto m que qualqu r d 1 s soa a campainha da (falso t st munho); não xist coautoria ou participação m d litos
casa ou força a abertura da porta (Gesamtlo ung); mas s um coautor speciais próprios s m coautores com as qualidad s necessárias
deve falsificar um documento, que outro coautor deverá colocar em (peculato, concussão etc. ); não existe coautoria ou participação
circulação d pois, o início da falsificação do docu1n nto configura m crim s patrimoniais s m a intenção especial d apropriação te.
t ntativa ap nas para o primeiro coautor, sendo mero ato pr paratório (furto, roubo tc.) 51 - uma cons quência do princípio da tipicidade
para o s gundo (Einzellosung) - o q u par ce mostrar a n cessidad qu funda1n nta a teoria do autor.
de subordinar a solução do problema da tentativa à natureza da ação
descrita no tipo legal (ver Tentativa e consumação, adiante).
3.3.3. Coautoria por omissão de ação. A possibilidad d coautoria IV. Participação como contribuição acessória dolosa
por omissão de ação é r j irada por ums tor minoritário47 , mas admitida
p los tor do1ninant da lit ratura48 . Ex mplos: omissão d ação co-
em Jato principal doloso de outrem.
mum do pai da má em relação aos cuidados do filho r c 'm-nascido;
vários dirig ntes d mpr sa omit mar tirada dom reado d produto A participação configura contribuição ac ssória dolosa m fato
nocivo à saúd da população. Segundo a teoria dos delitos de dever, na principal doloso de outrem , assim, depende da xist "ncia do fato prin-
omissão d cuidados do pai da mãe, cada garante seria autor inde- cipal, co1no a parte d pend do todo. A dep nd "ncia da participação
pendent por omissão de ação - e não coautor por omissão d ação; m fac do tipo de injusto significa os guinte: prim iro, a participação
entretanto, no caso dos dirigentes de empresa, atribuiçõ s estatutárias tem por objeto o tipo de injusto porque não tem conteúdo de injusto
próprio - , por isso, assum o cont údo d injusto do fato principal;
s gundo, a participação ' acessória do tipo de injusto, qu x1st
45 JAK B , trttfrecht, 1993, 21/61, p. 62 · J C E K/ EIGE D Lehrbuch des
trn/rechts, 1996, § 6~.' IV, 1 p. 681 ; KU HL, traftecht, 1997, § 20, n. 123, p. 713-
714; MA RA H /G O SEL/ZIPF, Strafi"echt ll , 1989, § 49, n. 100, p. 308.
46 irn ROXI , LK(Roxin), 1992, § 25, n. 199.
47 WELZEL, Das D eutsche trafi-echt, 1969, p. 206. 49 Nesses ntido, ROXIN , LK(Roxin), 1992, § 25, n. 206.
48 JE.. H K/WEI E Lehrbuch des Strafrechts, 1996, § 63, IV 1; MAURACH/ 50 Vt r J I
H .. I D Lehrbuch des trafrechts, 1996, § 63, IV, 2, p. 682.
GO SEL/ZIPF, Strafrecht II , 1989, § 49, n. 86 s., p. 306; RO I. , Tdterscl.aft und 51 REH - RONDLE, Strafgesetzbuch, § 25, n. 6; /BEU KE, Strafrecht,
Tatherrs haft, 1994, p. 469 . 1998, n. 530, p. 15 8.
como fato principal - por essa razão, a acessoriedade da participação ' A dependência da participação, xpressa na natureza acessória da
limitada ao tipo de injusto - não se estende à culpabilidade do fato participação em face do tipo de injusto, explica a ausência de domí-
rinci al que não é objeto da participação. A dependência da partici- nio do fato do partícipe, com duas consequências importantes: a) o
pação Limitada a ti tnJus d fa prin ipal e n ti ui ham da partícip não pode com ter excesso m r lação ao fato obj to do dolo
acessoriedade limitada da participação (a antiga acessoriedade extrema, comum porqu xc sso pr ssupõe domínio comum do foto , portan-
hoj abandonada, exigia, também, culpabilidad do fato principal) 52 . to, coautoria; b) a participação delimita a ár a das contribuições d
A definição da participação como contribuição acessória d tipo menor importância, n cessariam nte incompatív is com a existência
do domínio do fato - embora nem toda participação seja de menor
d injusto doloso xclui a possibilidad d participação m crün s d
imprudência: na imprud "ncia inconsciente não há pr visão dor sultado importância , às v zes, a participação s ja tão important quanto a
nem possibilidad de domínio do foto para distinguir ntr autoria autoria, como ocorre em algumas situações de instigação (homicídio
m diant pagam nto, por x mplo) .
participação; na imprudência consciente xist pr visão dor sultado
pod ocorrer domínio do fato, mas a punição não se fundam nta na Art. 29, § 1°. Se a participação fo r de menor importân-
distinção entre autor e partícipe, e sim na lesão individual do dever de cia) a pena pode ser diminuída de um sexto a um terço.
cuidado ou do risco permitido 53 . A hipót se da morte d p d str por A natur za dependente da participação condiciona ua punibili-
viga lançada na rua pela ação conjunta de dois op rários de construção dade à exist"ncia de tipo d injusto doloso, consumado ou tentado:
constitui autoria colateral ind p nd nte d homicídio ünprud nte 54 :
os op rários cooperam na ação d lançar a viga, mas a lesão do dev r
Art. 31 . O ajuste, a determinação ou instigação e o
auxílio, salvo disposição expressa em contrário, não são
de cuidado ou do risco permitido é realizada individualmente por
puníveis, se o crime não chega, pelo menos, a ser tentado.
cada operário 55 .
Enfim, a participação pod contribuir para o tipo d 1nJusto
doloso d dois modos: m diante provocação do dolo do tipo d 1nJusto
52 esse sentido, JES HE K/WEI.. END, Lehrbuch des Straftechts, 1996, § 63, VII no autor; mediante apoio material para realização do tipo de injusto
1-2, p. 655-656· :MA RA H/GO EL/ZIPF, Straftecht II, 1989, § 53, n. 854-859, p lo autor 56 . Em suma, a participação pod existir sob as formas d
p. · WE /B KE Strafrecht, 1998, n. 551-554, p. 165-166. No Brasil,
BATISTA, Concurso de agentes, 2004, 2ª edi ão, n. 67, p. 161-165; BITE COURT, instigação para e de cumplicidade em tipo de injusto doloso.
Lições de Direito Penal, 1995, p. 104· FRAGOSO, Lições de Direito Penal, 1985, n.
247, p. 2 6- 67; 1 l Rl ManualdeDireitoPenall, 1999, p. 203; ZAFFARONI/
PT RA 1, Manual de D ireito Penal brasileiro, 1997, n. 403, p. 685-686;
curiosam nt lRABET , Manual de D ireito Penal, 2000, p. 232-233, não menciona
a natureza acessória da participação; JE U , Direito Penall, 1999, p. 41.3-414, além da 1. Instigação
aces oriedad limitada e extrema, distingu , ainda uma ac sso ri dade mínima uma
hiperacessoriedade, sem sign ifica ão dogmática no moderno Direito Penal.
53 Ver JE HE K/WEIGEND, Lehrbuch des tra.frechts, 1996, § 63,_ _ , . 654- A instigação significa d t rminação dolosa do autor a r alizar
655; WELZEL, Das D eutsche trafrecht, 1969, p. 9 ; MAURA H/GO EL/ZIPF,
trafrecht ll , 1989, § 47, n. 102, p. 251. tipo d injusto doloso : o instigador provoca a d cisão do fato m -
54 im arualm m JE H K/WEI ND Lehrbuch des trafrechts, 1996, § 61, VI
p. 655.
55 MlRAB T , Manual de Direito Penal, 2000, p. 235, define essa hipótese como
56
coautoria de crime culposo, apesar de exigir para a coauto ria (p. 229) "um liame im JES HE K/WEIGEND, Lehrbuch des trafrechts, 1996, § 64, I, 2, p. 685;
psicológico entre os vários autores, ou seja, a consciência de que cooperam numa ação KUHL, trafrecht, 1997, § 20, n. 132, p. 7 18-719; WE /BEU , Strafrecht,
comum" - portanto, um conceito aplicávd exclusivan1.en te aos crimes dolosos. 1998, n. 552,p. 165.
diant influência psíquica sobre o autor, mas não tem controle sobre pelo traficante em pod r do consumidor está excluída60 ;
a realização do fato, reservado exclusivamente ao autor 57 . Os meios
b) o dolo do in tigador, dir to ou v ntual, dev s r concreto,
de influência do instigador no psiquismo do autor são inúmeros:
nos ntido d t r por obj to autor d t rminado fato d terminado:
persuasão, p didos, pr sent s, am aças, prom ssas d recompensa, um .autor indeterminado para realizar o tipo de injusto ou um tipo de
pagam ntos, at ' simpl s xpressóes de des jo pod m constituir insti-
injusto indeterminado paras r r alizado p lo autor (co1n xc ção d
gação (o pagamento a prom ssa d recomp nsa agravam a pena do detalhes de tempo, lugar ou outros dependentes do desenvolvimento
instigador do autor, na forma do art. 62, IV, CP).A influ "ncia sobr posterior do fato) não são compatíveis com a instigação 61 ;
o psiquismo do autor para determinar decisão de realizar um tipo d
1n1usto par c pr ssupor ação, xcluindo a hipót s d instigação por c) a ação d instigação d ve d t rminar a d ecisão do autor para
omissão de ação 58 . o fato : autores inclinados para o fato podem ainda ser instigados, mas
autor s já decididos não pod m mais s r instigados, admitindo-s , n-
O dolo do instigador caract riza-s por um duplo obj to: im - tr tanto, cumplicidade psíquica, como reforço d d cisão já exist nte6 2 •
diatam nte, t m por objeto criar a decisão de realizar um tipo d
injusto doloso no psiquismo do autor; mediatamente, tem por objeto
ar alização do tipo d injusto doloso p lo autor 59 . 1.2. O dolo do instigador e o fato do autor
Sobre a r lação entre dolo do instigador d cisão do fato no a) a punibilidad da instigação também pr ssupõ tipo d InJu to
psiquismo do autor, ' pr ciso selar c r alguns pontos: consumado ou t ntado (art. 31, CP);
57 E /BEULKE, trafrecht, 1998, n. 567-570, p. 169-170. No Brasil, ver 60 sim, por mpl J CKfWEl E D, Lehrbuch des trafrechts, 1996,
BATI TA, Concurso de agentes, 2004, 2ª edi ão, n. 76, p. 181-1 83 · BITE O URT, § 64, II, 26, p. 688; MAU H/ O EL/ZIPF, trnfrecht ll, 1989, § 51, n. 35,
Lições de D ireito Penal, 1995, p. 106; l RA O O, Lições de D ireito Penal, 1985, n. 248, p. 349-350. No B , il a vor da punição do agente provocador, na hipótese de crime
p. 67- 68· MESTIERI, Manual de D ireito Penal I , 1999, p. 203-204; ZAFFARO NI/ impossív 1, ob o ar um nro d id ntidad ntre 'o dolo do delito e o dolo da tentativa':
PI ], Manual de D ireito Penal brasileiro, 1997, n. 41 2, p. 695. ZAFF O I/P 1, Manual de D ireito Penal brasileiro, 1997, n. 414, p. 697 .
58 ROXI , Ttiterschaft und Tatherrschaft, 1994, p. 484. 61 omparar JES H E K/WEIGEN D, Lehrbuch des trafrechts, 1996, § 64, II , 26,
59 ~ r JE HE K/WEI E__ D, Lehrbuch des trttfrechts, 1996, § 64, II , 26, p. 687; p. 688; ROXI , LK(Roxin), 1992, § 25, n. 46.
também, H /GO SSEL/ZIPF, trafrecht II, 1989, § 51, n. 19, p. 346. 62 J K/WEI , Lehrbuch des Strafrechts, 1996, § 64, II, 2c, p. 689 .
autor r aliza stupro contra a proprietária qu dormia sozinha na c) o erro de execução do autor sobre o objeto da ação instigada
residência); no excesso quantitativo, o fato principal maior é atribuí- (A mata B, confundido com C, na escuridão) resolve-se pelas regras
do ao autor, e o fato menor da instigação é atribuído ao instigador63 da aberratio ictus, para o autor e para o instigador: segundo a teoria da
(instigado ao furto, o autor r aliza roubo): a xceção da regra ' r - concretização, dominante na lit ratura, t ntativa d homicídio contra
presentada p la hipót se d p revisibilidade do r sultado mais grave, C, em concur o com homicídio imprud nte de B66 ; s gundo a t oria
qu determina aum nto até m tad da pena do crime m nos grav da equivalência genérica do r sultado típico, adotada na 1 i brasileira,
(art. 29, § 2º, s gunda parte); homicídio consumado (art. 20, § 3°, CP).
d) nos d litos qualificados p lo r sultado, a atribuição dor sul-
tado mais grav ao in tigador pressupõe, no mínimo, imprudência
d t , fundada n ri t ' ri d aut ria e lat ral 64 • 2. Cumplicidade
aberta, mas a oferta do instrumento fortaleceria a decisão daquel )68 pelo autor76 . esse sentido, t m por objetivo a consumação do fato
par ce exagerada: afinal, o cúmplice não contribuiu para o fato - principal - não, apenas, a tentativa - precisa ser concreto, referindo-
o reforço do dolo constitui mera presunção 69 . -se a autor determinado e fato determinado (exceto detalhes, também
b) O momento da ajuda material ' amplo: pod ocorrer d sd d ixados por conta do autor).
a preparação do fato ( ntrega d chav da casa, para o furto) at' a Iguahn nt , a punibilidad do cúmplic d p nd d fato princi-
consumação material (obtenção da vantagem, na extorsão mediante pal consumado ou tentado (art. 31, CP), pressupõe correspondência
s qu stro, por ex mplo) 7º. ntr nt údo d dolo do úmpli o fato prin ipal on um do
c) A possibilidad de ajuda dolosa por omissão d ação ' con- ou t ntado do autor, não abrang excessos qualitativos (fato princi-
trovertida: um setor da literatura rejeita cumplicidade por omissão pal dib r nt ) ou quantitativos (fato principal mais grave) do autor77 ,
d ação 71 ; outro s tor admit cumplicidad por 01nissão d ação s o val ndo tamb ' m para o cúmplice a regra do art. 29, § 2°, CP.
cúmplic 'garantidor do bem jurídico 72 ; uma t rc ira posição parec O erro de tipo e o erro de tipo permissivo do cúmplice são r solvi-
melhor porque considera o garante autor por omissão d ação impró- dos como no caso do instigador: o erro de tipo exclui o dolo; o erro de
pria - não simplesment cúmplice (funcionário r sponsáv 1 p lo tipo permissivo (incident sobr pr ssupostos obj tivas d justificação
trabalho externo de presos tolera a realização d furto; propri tário d para o autor) xclui o dolo 78 .
bar permit lesão corporal d freguês dentro do estabel cimento) 73 .
d) A ação de ajuda mat rial d v p romover o fato principal, no
s ntido der pr sentar contribuição causal para o r sultado 74 ou d ele- 3. Concorrência de formas de participação
var o risco d produção do resultado 75 (venda d chave de parafuso por
lojista, sab ndo de s u mpr go para com t r determinado furto etc.). É possível a concorrência de várias formas de participação,
formando cadeias de instigação ou de cumplicidade, compreendidas
no cone ito de cumplicidade mediata no tipo d injusto. A cadeia de
2.2. O dolo do cúmplice e o fato principal
instigação ' formada p la instigação à instigação ao tipo d injusto 79 ;
Assim ,como o dolo do in tigador, o dolo do cúmplic caractenza- a cadeia de cumplicidade ' formada p la instigação à ajuda ao tipo d
-s por u1n duplo obj to: o obj to itn diato ' a própria ação de ajuda injusto, p la ajuda à instigação ao tipo d injusto p la ajuda à ajuda
ao autor, o obj to m diato é a r alização do fato principal doloso ao tipo d injusto 80 •
A reunião das posições d autor d partícip do tipo de injusto
na m sma pessoa é frequent : o autor do fato principal instiga terceiro que o partícipe deve, concr tament , provocar ou ajudar - contudo,
à coautoria ou à participação no tipo de injusto - e, nesse caso, a forma na tentativa de participação não existe nenhuma promoção do fato
superior absorve a forma inferior: instigação absorve cumplicidade, principal, nem por instigação, nem por cumplicidade83 .
autoria absorve instigação ou cumplicidad 81 •
83 Assim, BATI TA, Concurso de agentes, 2004, 2ª edição, n. 71, p. 175; também,
81 J H I .. , Lehrbuch des Strefrechts, 1996, § 64, IV, 1-2, p. 697 . O O, Liç~es de Direito Penal, 1985, n . 247, p. 266.
82 Ver MAURACH /GO SEL/ZIPF, trafrecht li, 1989, § 50, n. 7 s., p- 315-318; 84 MA RACH/GO EL/ZIPF, trafrecht II, 1989, § 49, n. 112, p. 310; ROXI
RO T LK(Roxin), 1992, § 25, n. 38; WELZEL, D as D eutsche Strajrecht, 1969,
j Triterschaft und Tatherrschaft, 1994, p. 288.
p. 5 7· / U KE, Strafrecht, 1998, n. 587, p. 176. 85 J K/WEI , Lehrbuch des Strafrechts, 1996, § 63, II, 4, p. 657-659 .
Capítulo 13 383
objetivo-subjetiva do mod lo final d rim da l i p naF . Em conclu- o feritn nto produzido na vítima constitui lesão corporal consumada
são, urna teoria mod rna da tentativa deve partir da representação do ou homicídio tentado 4 .
Jato pelo autor e mostrar (a) que o plano do autor se manifesta no
início de execução da ação típica, e (b) qu a ausência do r sultado '
independente da vontade do autor.
1.2. Teoria objetiva material
2. Teoria subjetiva ta tiva, conhecida co1no teoria objetiva individual 13 , possui uma
dimensão subjetiva consensual e uma dimensão objetiva contro-
A teoria subjetiva define tentativa pela representação do autor8 : vertida: a) a ditnensão subjetiva do conceito, constituída pela re-
açõ r pr ntada como executivas no plano do autor caract rizam presentação do fato (ou plano do autor) om ] m n in I ual
t ntativa porqu seriam portadoras d vontad hostil ao dir ito 9 ; açõ s do dolo , ' o aspecto incontroverso da teo ria objetiva i ndividual;
r pr s ntadas co1no preparatórias no plano do autor não caract rizam b) a dimensão obj tiva do conceito, constituída p la ação que d fin
t ntativa. É óbvio qu a natur za pr paratória ou x cutiva das açõ s o começo da tentativa, contém u1na controv 'rsia repres ntada por duas
r alizadas dep nd do plano do fato e, portanto, da representação do vanantes:
autor, mas a ausência d parâmetros obj tivos para id ntificar a r - a) a variante dominante exige posição de imediata realização do
presentação do autor cria problemas insup ráv is: amplia a tentativa tipo(" ... zur \/( rwirkli hun d Tatbestandes unmittelbar ansetzt'') 14,
punível na dir ção da t ntativa inidônea e reduz o espaço das açõ s manifestada m atividad atípica ligada diretamente à ação do tipo,
pr paratórias, p rmitindo, por x mplo, a punição da t ntativa d s gundo o plano do autor 15 - u1n crit ' rio qu par c conjugar a teoria
aborto com meio ineficaz m 1nulher não grávida, sufici nt para con- subjetiva com a teoria objetíva material;
figurar a vontade hostil ao direito contida na representação do autor 10 .
b) a variante minoritária exige comportamento típico manifi s-
tado e1n ação de execução específica do tipo ("tatbestandssp zifisch
Ausführungshandlung"), s gundo o plano do autor 16 - u1n crit'rio
3. Teoria objetivo-subjetiva (ou objetiva individual)
que acopla a teoria subjetiva com a teoria objetiva fo rmal.
A teoria objetivo-subjetiva fundamenta a definição de tentativa A variante dominant da teoria objetiva individual admite as
na realização de vontade antijurídica (a) produtora de p erigo para o m smas críticas da teoria objetiva material: antecipa a punibilidad
bem jurídico, segundo a teoria do autor11 - cujo conteúdo d staca o da tentativa pelo recuo da linha que separa ações preparatórias e
pap I d p roteção de bens jurídicos atribuído ao Dir ito Penal no Esta- açõ s executivas, incluindo açõ s exteriores ou anteriores ao tipo 1 gal,
do Democrático de Direito - ou (b) produtora de abalo da confiança com lesão do princípio da 1 galidade; além disso, ações exteriores ou
comunitária no Direito, gundo a teoria da imp ressão 12 - cuja raíz s anteriores ao tipo 1 gal não têm potencialidade Lesiva do bem jurídi-
re1nontam à função de estabilizar as expectativas normativas atribuída co, cuja colocação em p rigo d p nd d ação típica specífica do
ao Dir ito Pen 1p las t orias fun ionali ta .
A formulação mod rna da t oria objetivo-subjetiva da ten- 13 A teoria objetiva individual exprime o conceito legal de tentativa do ódigo Penal
al mão (§ 22), as im traduzív l: Tenta um fato punível quem, segundo sua representação
do fato, se posiciona imediatamente para realização do tipo. (Ein e Srraftat versucht, wer
nach seiner Vorstellung von der Tat zur Verw irkli hun d Tatbestandes unmittelbar
8 mparar , ~L /B LKE, trafrecht, 1998, n. 597, p. 180. ansetzt). Assim, adotar a teoria objetiva individual, na variante dom inante na dogm ática
9 Ver JE HEC K/WEI END , Lehrbuch des trafrechts, 1996, § 49, II, 2 p. 513. al má, como critério para defini r t ntativa na I i p nal r il ira, ignifi a di ipl inar
10 J H~ l , LehrbuchdesStrafrechts, 1996, § 49, II, 2, p. 513 . a tentativa no Brasil segundo o § 22 do Strafgesetzbuch ai mão, e não pelo art. 14, II,
11 Ass im, E G I H , D er Unrechtstatbestand im trafrecht, DJT-Fest ch rift, 1960, do ódigo Penal brasileiro, que exige início de execução do progran1a típ ico.
p. 43 5. 14 J H CK/ 1 E D Lehrbuch des trafrechts, 1996, § 49, IV, 1-3, p. 51 9.
12 Ver JES HE K/WEI ~_ND, Lehrbuch des Strafrechts, 1996, § 49, II , 2 p. 51 3; 15 Nesse enci<lo, /B LKE, trafrecht, 1998, n. 598, p. 180-1 81.
também,. MA RA H /GO SEL/ZIPF, trafrecht, 1989, § 40, n. 40, p. 22; ~ / 16 Assim, VO GLER, D er beginn des Versuchs, F e hrifi fur W tree und J. Wesscls,
UL , Strafrecht, 1998, n. 594, p. 179. 1993, p. 285 ; do mesmo, LK( Vogler), 1985, § 22, n. 60.
autor: se o resultado típico depende, ainda, da vontad do autor - tipo (el mento objetivo); e) ausência de resultado (el m nto n gativo) 19 •
no xemplo, a ação de pressionar o gatilho -, então a ausência do
1. A decisão de realizar o crime - ou s ja, o plano do fato ou p rograma
resultado não decorre de circunstâncias alheias à vontade do autor 17 •
típico - ' o l m nto subj tivo da t ntativa, formado p lo dolo , às
Ao contrário, a variante minoritária da t oria objetiva individual vezes, por outros elementos subjetivos especíais do tipo , xatam nt
r torna o Direito Penal do tipo, que litnita a punibilidad pela legali- igual ao deli o on umado: o dolo tem por obj to os el mentos do tipo
dade e oferece um critério que permite definir tentativa como início objetivo, e pode ser direto ou eventual - nesse caso, se suficiente para
de execução do tipo objetivo, segundo o plano do autor, ou s ja, como o tipo de injusto respectivo porque d cisão de ação típica dependente
início de execução do p rograma típico manifc stado m ação de execução da ocorr"ncia d condição ', tamb 'm, dolo ( ntrar na casa alh ia com
específica do tipo, como propõe VOGLER 18 • Assim, constitui t ntativa intenção de subtrair alguma coi a, se encontrar algo d valor, ' tentativa
de homicídio anestesiar criança para cortar as veias do pulso; tentativa d furto) 20 ; os elementos subjetivos especiais são tão importantes quanto
de r u dar inal luz qu inicia o assalto ao v ículo d trans- o dolo para construção do tipo d crim resp crivo (por ex mplo, a
porte d valor s; t ntativa de furto subir no stribo do caminhão para intenção de apropriação no furto) 2 1•
furtá-lo (se não possuir travas contra furto); entretanto, constituem
2. A ação de execução específica do tipo tem por obj to o comportamento
m ras açõ s pr paratória : diri ir-. p ra o lo al do furto, ainda qu típico, s gundo o plano do foto, como concr ta representação do acon-
portando armas; montar o m canismo d arrombamento no local do
t cimento típico pelo autor22 • Açô s estreitamente ligadas à ação típica 23 ,
furto qualificado; procurar médico para realizar aborto te.
ainda qu imediatamente anteriores às caract rísticas do tipo obj tivo,
como propõe a versão dominante da teoria objetiva individual24, são
insufici ntes. Em tipos qualificados pelo resultado, a tentativa pode
4. O tipo de tentativa com çar p la caract rística qualificadora (a admini tração do v n no
ou a asfixia da vítima, na tentativa d homicídio qu lificado pelo m io
A t ntativa ' comportamento dirigido parar alizar tipos penais utilizado, por x mplo) 25 .
concretos: existe como tentativa de homicídio, de furto, de estupro etc. 3. A ausência do resultado típi d ve ser independente da vontade do autor:
É possív 1falar d um tipo de tentativa e m g n ralização d carac- a consuma -o do tipo d injusto transforma a tentativa de lesão do bem
t rísticas d toda t ntativa, constituído de tr "s el m ntos: a) decisão de jillídico ( ituação d p rigo concreto) e1n resultado de lesão do b 1n jurídico.
realizar o crime (elem nto subj tivo); 6) ação de execução específica do
5. Consumação formal! e material 2. Nos crimes de omissão de ação, parece claro que a tentativa de omissão
só pode ser concebida como omissão da tentativa de realizar a ação
mandada ou de impedir o resultado 28 . Mas a teoria dominante diz o
A consumação do tipo d in\isto pod r formai e material: a con-
seguint : a) a t ntativa d omissão de ação própria ', s mpr , t ntativa
suma -- o formai do fato pwúv ufi.ci nt para aplica -- da p na int gral
inidônea - qu , como qualqu r tentativa inidônea no Dir ito P nal
ocorr com ar alização d todos os elementos de sua definiçálJ legal (an. 14, I,
brasil iro, é impunível (art. 17, CP); b) a t ntativa d omissão de ação
CP); a G nsumaçáo material do tipo de injusto (tamb 'me nh cida como
imprópria sbarra no problema de caracterizar o começo da tentativa:
término ou exaurimento do fato) co· ncíde normalmente, com acon wnaçáo
o critério legal tem por objeto a ação, e não a ornissão de ação 29 - o
formal m p de er p eri r: n e or ão median e equ ro, a privaç--o
qu cria um obstáculo 1 gal para a punição da t ntativa d omissão de
da lib rd d 1t1m fim d obt r an m n unu n um -
ação. Por causa disso, a literatura alemã dominante, apesar da maior
, -o formal; a obt nção da vanta m pr t ndida (intençiilJ especial do tipo)
fl xibilidad da d finição 1 gal d t ntativa, pr cisa reinterpretar o cri-
nstitui GOn uma - o material- ou seja, a consumação formal ocorre com
tério legal para imaginar a tentativa de omissão de ação: a tentativa d
a produção do r ultado típico, mas p rman em cado d con tunação
omissão de ação se configuraria no momento da criação ou da elevação
material enquan dura inv ã da área pr tegida p 1 rip l gal at'
do perigo para o objeto prot gido 30 , consist nt na perda da primeira
realização da intenção especial que informa a ação do autor. . 1· cinção te1n
possibilidade para r alizar a ação mandada31 ou na perda do último
int r pr 'tic par participação, o concurso d crimes, a atribuição
momento para impedir o resultado, que 1narcaria a ind p nd "ncia do
d cara ter qualificador - po sí eis no interr gno ntr a consumação
proc sso causal m relação ao autor32 •
formal e o érm.ino da consuma • o material- em como para prescrição
e d d "n i , cujo r o começa a fluir a partir da nsumação materiaP . Na legislação brasileira, o critério do início de execução do programa
típico (art. 14, II, CP) tem por objeto, exclusivainente, os tipos dolosos
de ação: os tipos de 01nissáo de ação, caracterizados p la aus "ncia d
6. Objeto da tentativa qualqu r processo executivo, som nt pod m admitir início de execução da
ação mandada, qu significa cumprim nto do dev r jurídico d agir. Em
conclusã d p nt d i n itual a t ntati a d omissão d · ação
A definição de tentativa como início de execução do comporta-
'iinpossív l· do ponto de vi ta da I galidade a punição da tentativa de
mento típico, manifc stado mação de execução específica do tipo, s gundo
omissão d ação é inconstitu ional - e qualquer solução difc r nt passa,
o plano do Jato, tem por obj to exclusivo os tipos de injustos dolosos de
ação, xcluídos os tipos de imprudência os tipos de omissão de ação.
1. os crimes de imprudência, o r suhado ' 1 m nto sencial do tipo:
] 1 Rl, Manual de D ireito Penal I, 1999, p. 216.
o tipo d injusto d p nd do desvalor do resultado como realização 28 WELZEL, D as D eutsche Strafi·echt, 1969, p. 206; ARMI
concr ta do desvalor de ação, expresso na lesão do dever de cuidado Unterlassungsd-elikte, p. 204.
29 Assim, também em r lação à lei penal alemã, JE HE K/WEI END, Lehrbuch des
ou do risco permitido 27 . Strafrechts, 1996, § 49, IV, 5, p. 521.
30 JAKOB , trafrecht, 1993, 29/ 118, p. 85 -85 · MA H-GÔ EL-ZIPF, Strafrecht,
31
1989, § 40, n. 106, p. 34; 654;_ J.J,Jv~'-'J/ , rrrifrecht, 1998, n. 741, p. 237.
~; Assim, JE . HE K/WEIGE D, Lehrbuch des trafi·echts, 1996, § 49, III, 3, p. 518. 32
H RZBER , D er Versuch be~m unechten Unterlassungsdelikt, MDR, 1973, p. 89.
- ~s_se scm1~0'. BITE OURT, Lições de D ireito Penal, 1995, p. 80· RAGOSO, R UF , Dze Dogmatik der UnterLassungsdelikte, 1959, p. 210;
Lzçoes de D ireito Penal, 1985, n. 237, p. 254; JESUS, D ireito Penal I, 1999, p. 334; WELZEL, Das D eutsche Strafrecht, 1969, p. 221.
nec ssariatnente, pela prévia mudança da definiçã l al33 . penal, s gundo a teoria .do autor36 ; b) s o Direito Penal tem por tarefa
3. Por outro lado, os tipos qualificados pelo resultado admitem tentativa estabilizar as expectativas normativas da população, então o fundamento
na s guint s situações: a) s o resultado qualificador imprudente ' da punibilidade da tentativa seria o abalo da confiança da comunidade
determinado p la r alização da ação típica dolosa: t ntativa de estu- no direito, s gundo a teoria da impressão 37 • Como s pod v r, o p ri-
pro det rminant de resultado de morte da vítima, s m realização da go para o bem jurídico pode ser der rminado concretament , mas o
conjunção carnal (art. 213 223, parágrafo único); 6) s o r sultado abalo da confiança da comunidad no direito, ainda dominante na
qualifi ad r doloso pretendido não é determinado pela realização da jurisprudência al mã, par ce uma abstração indet rmináv 1, incom-
ação típica dolosa: 1 ão corporal grav com o obj tivo frustrado d patível com o direito penal do fato. A pena da tentativa é igual à pena
inutilizar sentido ou função da vítima (art. 129, § 2º, III) 34 . do crim consu1nado, r duzida d um a dois t rços:
4. Em tipos de simples atividade, a t ntativa par c xduída: a t ntativa Art. 14, parágrafo único. Salvo disposição em con-
d falso t st munho no começo do depoimento, admitida p la variant trário, pune-se a tentativa com a pena correspondente
dominant da teoria objetiva individual (se a atividade não determina ao crime consumado, diminuída de um a dois terços.
a consumação) 35, ' r j irada p la variant m inoritária porqu ou o
ações preparatórias são impuníveis porque a distância entr
comportamento típico ocorre na ação de execução específica da declaração
preparação e consu1nação não p rmit id ntificar o perigo para bens
falsa ou nada oco rr .
jurídicos protegidos na lei p nal. Mas, por razões político-criminais
sp ciais, ações p reparatórias pod m s r punidas como tipos ind p n-
d nt s, como o crime de p etrechos para fab ricação de moeda (art. 29 I)
7. Fundamento da pu ºbºl"dade da te tativa ou d títulos e papéis públicos (art. 294) 38 .
do fato, então a punibilidad da tentativa exig ação capaz de produzir nulidade do ato de no1neação como funcionário público 42 .
o resultado típico 39 . A exigência de perigo objetivo de lesão do bem
A teoria da impressão (própria da variant dominante da teoria
jurídico (teoria do autor) - sem o qual não pode existir início de execu-
objetiva individual), pun a t ntativa inidôn a como manifi stação
ção do tipo objetivo - r pr s nta corr ta d cisã p lític -criminal d de vontade hostil ao direito, suficient para abalar a confiança da co-
1 gislador , por outro lado, 'compatível com a variante minoritária da munidade no ord nam nto jurídico, mas admite a exclusão d pena
t oria objetiva individual, qu xig comportamento típico manifi stado
da tentativa absolutamente inidônea no caso de grosseira insensatez do
em ação de execução específica do tipo. autor (não por falsa representação da r alidade, mas por representações
Art. 17. Não se pune a tentativa quando, por ineficácia despropositadas d r laçõ s causais conh cidas por todos) ou no caso
absoluta do meio ou por absoluta impropriedade do de tentativas inteirament irreais: no prim iro caso, t ntar derrubar
objeto, é impossível consumar-se o crime. um avião com um tiro de pistola ou t ntar praticar aborto com chá
A t ntativa inidôn a por ineficácia absoluta do meio ocorr , por d camomila; nos gundo caso, tentar matar o inimigo com métodos
xemplo, nas seguint s hipót s s: tentativa d aborto com analg 'si- mágicos ou mediante imaginários pactos com o d mônio 43 . S gundo
cos; t ntativa d homicídio com arma d scarr gada te. A t ntativa a teoria, nessas hipóteses a tentativa inidônea não abalaria a confiança
inidônea por impropriedade absoluta do objeto ocorreria nas seguintes na inqu brantabilidad do Dir ito porqu indivíduos normalm nt
situações: tentativa de homicídio sobre cadáv r; t ntativa de furto, sem instruídos não tomariam o fato a s 'rio 44 .
conh cim nto do pr 'vio cons ntiln nto do propri tário na subtração
da coisa te. 40 . É possív l a concorrência simuhân a d in ficácia abso-
luta do m io d impropri dad absoluta do objeto no m smo fato: 9. Delito de alucinação
t ntativa d aborto com analg 'sicos m mulh r não grávida. Mas a
t ntativa é punível m caso d relativa in ficácia dom io ou d relativa O chamado delito de alucinação designa a hipótese d r pr -
impropriedad do objeto por causa da pot ncial eficácia do m io ou entação rrôn a da punibilidad d comportam nto atípico 45: favo-
pot ncial propri dad do objeto para produção do r sultado típico: r irn n to p ssoal no auxílio à fuga d autor d contravenção penal;
v n no em quantidad infi rior à n c ssária; vítima d homicídio com crim em relações homossexuais cons ntidas; acusado considera crime
vida meramente vegetativa41 • Por fim, admite-se tentativa inidônea por d claração falsa no int rrogatório etc. Na tentativa inidônea ' impossí-
aus "ncia da qualidad d autor xigida no tipo l gal, rron am nt vel a consumação do crime porque exist um erro de tipo ao contrário:
autoatribuída: reahzação d d lito funcional m conh cim nto da o autor supõ a ficácia d ação in ficaz ou a propri dad d obj to
impróprio; no delito de alucinação ' impo ív l a consumação do crim
39 Ver JE HECK/WEIGE D Lehrbuch des Strafrechts, 1996, § 50, 1, 2 p. 530. o 42 DREHER/TRÔNDLE, trafgesetzbuch, 1995, § 22, n. 28;JESCHE KIWI.ICE D,
Brasil, ver BITE OURT, Lições de D ireito Penal, 1995, p. 85-86; JE U , D ireito Lehrbuch des Strafrec&ts, 1996, § 50, I, p. 529-530, e III, 1, p. 534.
Penal I, 1999, p. 349, fala em teoria objetiva temperada· M TIERl Manual de 43 Ver MAURACH-GO EL-ZIPF, tra{recht, 1989 § 40, n. 91, p. 31.
D ireito Penal, 1999 p. 222-223, critica as teorias subjetiv · MI B T Manual de 44 J H /WEI E D, Lehrbuchdes trafi"echts, 1996, § 50, I, 5, p. 531.
D ireito Penal, 2000, p. 167, fala em teoria objetiva pura. 45 Assim, JE CHECK/WEIGEND, Lehrbuch des Strafrechts, 1996, § 50, II, 1,
40 Vi r CJRI D S1 TO , Teoria do Crime, 1993, p. 83. p. 532; também, WE E /BE L E, trafrecht, 1998, n . 621, p. 188. o Brasil, ver
41 CIRIN T OS, Teoria do Crime, 1993, p. 83. · l RJ, Manual de D ireito Penal, 1999, p. 223-224 .
porqu existe um erro de p roibição ao contrário: o suj ito imaginas r a teoria: a) a prom ssa de exclusão d pena não xerc ria influência
crime a ação atípica realizada46 . sobre a decisão do autor e em g ral, s ria de conh cidada população49 ;
b) a prática judicial parece indicar que a desistência da tentativa pode
O delito de alucinação (também chamado delito de loucura) não
é punível porque a d terminação da punibilidad dep nd da 1 i - ter todos os motivos possív is, m nos suprimir uma p na já efi tiva 50 .
não d p nd dar pr sentação do autor47 • 1.2. A t oria da graça consid ra a exclusão d p na da desistência da
tentativa uma recompensa ao autor por suspender a execução ou evitar
o r sultado do tipo de injusto (ou, pelo menos, se sforçar s riamente
para vitar): a supr ssão do p rigo para o b m jurídico produzido p la
III Desistência da tentativa tentativa justificaria a indulgência sobre o autor, ou, d outra forma,
a atitude do autor na r alização do tipo de injusto seria comp nsada
O cone ito d desistência da tentativa ' útil como cat goria p lo m 'rito da d sist''ncia ou da vitação do r sultado, d sde qu
compreensiva das espécies de desistência voluntária e de arrependimento voluntária, mas independent de 1notivos d valor ético 51 .
eficaz, d finidas como causas p ssoais d xtinção de p na no dir ito
1.3. A t oria dos fins da pena reconh e na desistência da tentativa
brasileiro.
uma insuficiente vontade antijurídica para prosseguir na xecução do
fato ou permitir a produção do resultado; cons qu ntemente, a pena
não se justificaria por motivo d pr v nção geral ou especial, n m por
1. Teorias sobre desistência da tentativa qualquer utra exigência de ju tiça 52 .
não de mais açõ s para consumar o fato 53 . se a produção do resultado depende de outras ações, então tentativa
inacabada, permitindo desistência voluntária; se a produção do re-
Na tentativa inacabada as açõ s r alizadas são r pr sentadas
sultado independe de outras ações, então tentativa acabada exigindo
como insuficientes para o resultado - ou s ja, o autor ainda não rea-
lizou todo o nec ssário para produção do resultado, s ndo sufici nt vitação do resultado p lo arrependimento eficaz55 .
a desist''ncia das açõ s futuras: facada no pescoço r conhecida co1no
sem perigo para a vida da vítima.
3. Estrutura da desistência da tentativa
Na tentativa acabada as ações r alizadas são repres ntadas como
suficientes para o r sultado - ou seja, o autor já realizou todo o ne-
cessário para produção do resultado, cuja ocorrência d pende, apenas, A d sistência da tentativa inacabada d v existir como desistência
da ação nonna1 do fator s causais postos p lo autor, s ndo n c ssária voluntária de continuar a ex cução do fato (art. 15, prim ira part ).
nova atividade para evitar o r sultado: a ação de strangulam nto ' A desistência da tentativa acabada deve existir como arrependimento
c ssada porqu · o autor acr dita que a vítima morr rá 54 . eficaz, mediante evitação voluntária da consumação do fato (art. 15,
segunda parte).
Art. 15. O agente que, voluntariamente, desiste de
prosseguir na execução ou impede que o resultado se
produza, só responde pelos atos já praticados. 3.1. Desistência voluntária
Podem ocorrer problemas de definição em hipótes s de va-
riação da representação do autor entre os momentos do plano do A desistência voluntária possui compon nt s objetivos subjetivos:
Jato e da execução do Jato: a) no momento do plano do Jato o autor a) do ponto de vista obj tivo, o autor d v parali ar x cução do fato;
representa a nec ssidad de ap nas um golpe contra a vítima, mas no b) do ponto d vista subj tiva, a desistência do autor d ve s r voluntária.
mom nto da execução do Jato v rifica a n c ssidad d vários golp s:
Objetivamente, a controvérsia entre desistência definitiva56 ou
facada no p ito da vítima consid rada, no mom nto da x cução
simples desistência concreta57 parece decidida em favor da última
do fato, insuficiente p lo autor; b) no mom nto do plano do fato o
hipótese: afinal, se a lei xig ap nas a atitud concreta da desistência
autor repr senta a nec ssidade de várias ações, mas no 1nomento
parece exc ssivo xigir d sistência definitiva, colocando condição não
da execução do fato int rro1np a açãos m xaurir as possibilidad s
pr vista m l i para x luir a p n . Al 'm di d i t "n i concreta
planejadas: tiro na cabeça do inimigo abandonado no local para
é u1n fato r al u rível de prova, enquanto a desistência definitiva é
1norrer. N ssas hipóteses, o critério deve mudar do plano do Jato
uma hipót s futura insusc tív 1d prova.
para o da representação do autor no momento da execução do fato:
Subjetivam nt o conceito de voluntariedade é representado por ond ' ncontrada d sfal ida., ocorrida a] a;. o autor chamam' di o
motivos autônomos - excluindo motivos heterônomos ou causas obri- de urgência para atender vítima de envenenamento, sem informar
gatórias de iinpedimento de prosseguir na execução - em que o autor sobre a administração do veneno.
diz: posso, mas não quero, conform a cél br h' rmula d K 58 . Subj tivamente, o cone ito d voluntarieda.de no arrep ndimento
Contudo - s gundo a repr s ntação do autor -, se a consumação '
eficaz é meno proble1nático do que na d sist "ncia voluntária por causa
impossível, s p rdeu significado, se repr s nta desvantagem exc ssiva
do papel ativo do autor para evitar o resultado: somente a descoberta
(o autor d siste do estupro porqu a vítima o reconhec u), não xist do fato pode descaract rizar a voluntariedade do arr p ndim t fi
desistência voluntária, ma impl tentativa falha. Não obstant , admite-
m diant nova ação do autor para virar o r sultado. M ar gra t m
-s a desistência voluntária d 1natar uma vítilna, para matar outra vítima
xc ções, nas hipóte es d crimes violentos, m qu o descobrim nto
no lugar da primeira. Em suma, a desistência é voluntária fund d do fato p la vítima é n cessário, b m como nos casos em qu o autor
m dó ou pi dad , m motivo d consci"ncia, s ntim nto d v rgonha,
ignora a descoberta do fato 61 •
medo da p na etc. - nãos exig cont údo de valor ético r conhecido; a
desistência é involuntárias ocorr para evítar o flagrante ou por rec io Finalm nte, o resultado d ve ser xduído pelo autor, dir tam nt
d bl qu io d ia d fug u p rqu o fato foi descoberto tc.59 . ou com ajuda d t rc iro: a) resultados evitados pela ação xclusiva
da vítima ou de terceiro não isentam de pena - xceto hipóteses de
s ' rio e intenso sforço do autor para vitar o resultado; b) se, apesar
3.2. Arrependimento eficaz da atividade do autor, ocorre o r sultado, não há is nção d p na: o
arrependimento, apesar de voluntário, é inefica~ 2 .
O critério para definir tentativa folha é o conhecimento do autor nvenenamento, punição por lesão corporal grav etc.). Os tipos de
sobre obstáculos objetivos ou subjetivos para consumação do fato, no perigo concreto produzidos dentro da tentativa desistida são abrangidos
final da ação executiva: a arma nega fogo, na tentativa de homicídio; pela suspensão de pena porque constitue1n fase anterior necessária do
o autor perd o poder de reçáo, no sforço físico da tentativa d estu- delito de lesão r sp ctivo 69 .
pro64. Mas existe controvérsia sobre xist "ncia de tentativa folha ou d
foto atípico na hipótese d lt ração dos fundamentos jurídicos do fato
típico resp ctivo: o proc dimento da vítima d t ntativa d stupro 6. Desistência da tentativa no concurso de pessoas
convence o autor da existência de consentimento na relação sexual65 .
A d sistência da tentativa no concurso de pessoas d v distinguir
as posiçó s do partícip e do coautor.
S. Extensão dos efeitos da desistência da tentativa
Capítulo 14 407
7. Arrependimento posterior
CAPÍTULO 15 níveis chama-s concurso material (art. 69, CP), a pluralidade simul-
tânea de fatos punív is denomina-se concurso fo rmal (art. 70, CP) e a
UNIDADE E PLURALIDADE DE pluralidade continuada de fatos puníveis aparece sob a designação de
crime continuado (art. 71, CP).
FATOS PUNÍVEIS
da vítima do crime patrimonial etc. ações de subtração etc.), d sd qu a repetição constitua simples au-
mento quantitativo do tipo de injusto - mas independente da natureza
2. A crítica ao uso exclusivo do cone ito d ação par e consist nt :
prim iro, não xistiriam unidades pré-jurídicas d ação como obj tos d em jurídic , p dend atingir ben jurídic per naH imo de
pré-constituídos d r ferência jurídica; segundo, o crit ' rio da unidade de dit r ntes portador s9, assim como, finalment , (e) em situaçõ s d
decisão não xcluiria pluralidade de ações (furtar a anna, matar a vítirna
contínua r alização da ação típica por atos sequ nciais de aproximação
roubar um carro para a fu , por exemplo) - por ant seria necessário progr ssiva do resultado, como o tráfico de drogas, por ex mplo 10 •
o conceito complementar do tipo legal para delimitar ações omissõ s
d ação no continuum do comportam nto humano4 . Assim, a fórmula
ad quada staria na fusão do conceitos d ação e de tipo Legal, integra- III. Pluralidade material de Jatos puníveis
dos na unidade do conceito de tipo de injusto: a id ntificação, naqu l
continuum, d unidad d tipos de injusto não pod s r reali da, isolada-
A pluralidade material de Jatos puníveis xiste e1n situações d
1nente, n 1n p lo conceito de ação, nem pelo conceito d tipo Legal ma
sucessividade de tipos d injusto independentes, iguais ou d siguais,
pelo conceito de tipo de injusto, em que a ação aparece como conteúdo
julgados no mesmo processo 11: furto de veículo e lesão corporal impru-
o tipo l gal como fo rma do tipo de injusto, existent m pluralidad
d nt ; dirigir mbriagado fugir do local do acid nt te. Como s v",
mat rial formal ou continuada no Direito P na1 5•
a pluralidade material de Jatos puníveis t mos s guintes pr ssupostos:
3. D ss ponto d vista, xist unidade d tipo d injusto (a) m tipos a) pluralidade de açõ sou de omissões d ação típicas determinantes
legais divisíveis em pluralidade de atos, como o aborro6, (b) em tipos d pluralidad d r sultados típicos; b) julgamento de vários fatos
legais qu pr u ó m pluraHdad d ato , e mo o upro (violência punív is ind p nd nt s no m smo proc sso. A cons quência penal '
conjunção carnal) o roubo (viol "ncia subtração)?, (c) m tipo 1 gais regida pdo princípio da cumulação, assim aplicado: soma das p nas
de duração, caracterizados pela criação ou manutenção d situaçõ privativas d liberdad ; simultaneidade ou sucessividade das p nas
antijurídicas, como violação d domicílio ou dirigir v ículo automotor restritivas de direito, dependendo de sua compatibilidade ou não -
em via pública sem habilitação ou em estado de mbriaguez8 te.; por xc to s aplicada p na privativa d lib rdad não susp nsa a um dos
outro lado, xist tamb 'm unidade d tipo d injusto 1n sentido am- crim s do concurso, hipót s qu imp d a substituição da privação
plo, (d) em situaçõ s de rep tição da ação típica m rápida sequência de liberdade por restrição de dir itos 12 •
mporal prevista no tipo (mo d fal ri a e.) u não p revista no tipo
Art. 69. Quando o agente, mediante mais de uma ação
(r messa de escrito com várias injúrias, fur o m diante pluralid d d
ou omissão, pratica dois ou mais crimes, idênticos ou
não, aplicam-se cumulativamente as penas privativas de
4 M H/ Ô EL/ZIPF, traftecht, II, 1989, § 54, n. 38, p. 4 J 1; J E K/ liberdade em que haja incorrido. No caso de aplicação
WEIGE D, Lehrbuch des trafrechts, 1_~96, §66, I 3, p. 711.
5 esse preci o encido MAURA H/ O EL/ZIPF, Strafi·echt, II, 1989, § 54, n. 39,
p. 412.
6 ~ r JESCHE /WEIGE D, Lehrbuch des Strafrechts, 1996, § 66, II 1, p. 711. 9 DREH R/TRÔ DLE, trafgese-rzbuch, 1995, nota preliminar 2, § 52;
7 H/GÔSSEL/ZIPF, Strafrecht, II, 1989, § 54, n. 47, p. 416; WESSEL / STRAT RTH, trafrecht, II, 198 1, n. 1214.
echt, 1998, n . 760, p. 243. 10 J,. K/WEI E , Lehrbuch des trafrechts, 1996, § 66, III, 2, p. 713.
8 .• Ô DLE, Strafgesetzbuch, 1995, nota p reliminar 41, § 52; MA 11 mparar J H K/ T Lehrbuch des Stra.frechts, 1996, § 68, I, 1, p. 726.
GOSSEL/ZIPF, Straftecht, II, 1989, § 54, n. 55, p. 418. 12 Ver FRAGOSO, Lições de Direito Penal, 1985, n. 355, p. 365-366.
cumulativa depenas de reclusão e de detenção, executa- apesar da existência xt rior de uma única ação 15. De qualquer ponto
-se p rimeiro aquela. de vista, os pressupostos do concurso fo rmal são os seguintes: a) uni-
§ 1 ° Na hipótese deste artigo, quando ao agente tiver dade de ação típica; b) pluralidade de resultados típicos; e) identidade
sido aplicada pena p rivativa de Liberdade, não suspen- parcial da ação ex cu tiva dos tipos obj tivos r sp crivos (por xemplo,
sa, por um dos crimes, para os demais será incabível a roubo xtorsão, com violência para subtrair valores e para constranger
substituição de que trata o art. 44 deste Código. a vítima a entregar valor s; lesão corporal r sist "ncia, m agressão
ontra ofi ial d ju tiç m umprim nto d mand do judicial t .) 16 •
§ 2° Quando forem aplicadas penas restritivas de di-
reitos, o condenado cumprirá simultaneamente as que 2. A pluralidade fo rmal de resultados típicos apar e d duas man ira :
fo rem compatíveis entre si e sucessivam ente as demais. a) uma ação produz uma pluralidade de r sultados típicos iguais, po-
dendo atingir ben ·urídico p er o nalí imo (corpo, vida, liberdad
te.) ou patrimoniais: um só disparo de arma de fogo produz mort
lesão corporal m p ssoas diferentes; uma só ofensa v rbal constitui
IV Pluralidade formal de resultados típicos injúria contra duas pessoas; 6) uma ação produz uma pluralid d de
r sultados típicos desiguais: um disparo d arma d fogo d t rmina os
A pluralidade formal de resultados típicos ocorre em situações de resultados típicos d homicídio de dano 17 .
unidade d ação com pluralidade de resultados típicos iguais ou d 1gu 1 A lit ratura d staca alguns casos sp ciais d unidade de ação com
de lesão ou d simpl s atividad 13 • pluralidade de resultados típicos: a) unidade de ação simultaneamente
Art. 70. Quando o agente, mediante uma só ação ou dolosa e imprudente: r a1ização de dano doloso com simultânea lesão
omissão, pratica dois ou mais crim es, idênticos ou não, p al imp rudente18 (v r n. 5, abaixo); 6) unidad de omissão de
aplica-se-Lhe a mais grave das p enas cabíveis ou, se ação dolosa imprud nte: guardião participa, por omissão de ação
iguais, somente uma delas, mas aumentada, em qual- dolosa, d roubo d banco d ixando d fc char a porta dos fundos do
quer caso, de um sexto até metade. As penas aplicam-se, stab lecimento, sem r presentar a possibilidad do incêndio impru-
entretanto, cumulativamente, se a ação ou omissão é dente ocorrido por causa do mat rial proc dimentos utilizados para
dolosa e os crimes concorrentes resultam de desígnios abertura do cofre 19 . Mas a opinião do1ninante exclui concurso fo rmal
autônomos, consoante o disposto no artigo anterior. ntre tipos de ação d om issão de ação porqu atividad passividad
1. As teorias sobre a pluralidade formal de resultados típicos afirmam
teses se1nelhantes de perspectivas diferentes: segundo a teoria unitária, R/TRÕ N DLE, trafgesetzbuch, 1_~9 5, nota preliminar 4, § 52.
uma única ação pode produzir apenas um fato punível, apesar da plu- 16 É a opinião do minam : RACH /G OSSEL/ZIPF, Strafrecht, II, 1989, § 55 , n.
72, p. 447; WELZEL, Das Deutsche trafrecht, 1969, p. 231; ,._,__,,..,.L,L.,.,J /B ,
ralidade de resultados típicos 14; segundo a t o ria pluralista, a realização trafrecht, 1998, n. 777, p. 248 . No Brasil, comparar BITENCO URT, Lições de
de vários resultados típicos conduz à admissão de vários fatos puníveis, Direito Penal, 1995, p. 17; FRA O O, Lições de Direito Penal, 1985, n. 356-357, p.
66-3 7; · I PRAD , Curso de Direito Penal brasileiro, 1999, p. 280.
17 Ver, entre outro , JE CHE K/WEIGE D, Lehrbuch des trafrechts, 1996, § 67, II,
1, p. 720.
18 Assi m, JAKOBS, Strafrecht, 1993, 33/6, p. 91 O; LACKNER, Strafgesetzbuch, I 995,
/WEI ..E D, Lehrbuch des tmfrechts, 1996, § 67, II, 1, p. 719-720. § 52, n. 7.
14
RACH /GOSSEL/ZIPF, Stra_ft'echt, II, 1989, § 54, n. 23-24, p. 407-408. 19 J K/WEI , Lehrbuch des Strafrechts, 1996, § 67, III, 4, p. 723 .
não s recobr m parcialmente20 : por x mpl fuga d lo al d a i- qu atinge mortalm nte C, postado atrás daqu le; s a pessoa visada
dente e homicídio doloso cometido por omissão da ação d proteção também é atingida, configura-se concursoformal de homicídio doloso
da vítima pelo autor do acidente, na posição de garantidor do be1n (tentado ou consumado) e homicídio imprudente (ver Atribuição
jurídico fundada na ação pr c d nt p rigosa 21 . subjetiva do resultado em desvios causais, acima) .
3. A consequ"ncia p nal do concurso formal ' r gida p lo princípio Art. 73. Quando, por acidente ou erro no uso dos meios
da exasperação, com agravação da pena comum ou da pena mais de execução, o agente, ao invés de atingir a pessoa que
grav , d um s xto até m tade; a exc ção é representada pelo falso pretendia ofender, atinge pessoa diversa, responde como
concurso formal, 1n qu a pluralidade d r sultados típicos ' produ- se tivesse praticado o crime contra aquela, atendendo-se
zida por desígnios autônomos (pluralidade de fins), mas m unidade ao disposto no § 3º do art. 20 deste Código. No caso de
de ação dolosa, r solvida como concurso material (art. 70, gunda ser também atingida a pessoa que o agente pretendia
part ) : movida p lo ciúm , C lança substância corrosiva para atingir, ofender, aplica-se a regra do art. 70 deste Código.
sitnultan amente, os rostos de A e de B, produzindo dano estético Casos de aberratio ictus sobre objetos típicos diferentes, com
permanente em ambas as vítimas 22 • desvio causal do obj to visado para obj to difer nt , são atribuídos
4. A majoração da pena det rminada pelo princípio menos rigoroso como crime imprudente, se previsto em lei: B atira pedra para destruir
da exasperação não pode xced r a qu resultaria do princípio mais o vaso d porc lana chin sa pert nc nt a C, mas rra o alvo t r
rigoroso da cumulação, para vitar as guint cons qu "ncia p nal ab- o proprietário atrás do vaso; se o obj to visado também é atingido,
surda: no concurso de homicídio simples e lesão corporal, o princípio configura- concurso formal d dano doloso 1 são corporal imprudente
da exasperação do concurso formal determinaria pena mínima de 7 (v r Atribuição subjetiva do resultado em desvios causais, acima) .
ano (ou s ja, 6 ano p lo homicídio, mai 1/6 p la 1 ão corporal), Art. 74. Fora dos casos do artigo anterior, quando,
enquanto o princípio da cumulação d concur o material de erminaria por acidente ou erro na execução do crime, sobrevém
p na d 6,3 anos 23 . resultado diverso do pretendido, o agente responde por
Art. 70, parágrafo único. Não poderá a pena exceder culpa, se o fato é previsto como crime culposo; se ocorre
a que seria cabível pela regra do art. 69 deste Código. também o resultado pretendido, aplica-se a regra do
art. 70 deste Código.
5. Hipót s s d aberratío ictus sobr obj tos típicos iguais, co1n d svio
causal da p ssoa visada para pessoa dit rent ( rro sobre a p ssoa), são
r solvida como s não tiv ss xi tido rro d x cução (art. 20, § 3°,
CP): homicídio doloso consumado no disparo de revólv r contra B, V Unidade continuada de Jatos típicos
20
im L ER, trafgesetzbuch, ] 9 , § , n. 7· TENWERTH, trafrecht,
II, 1981,n.1245.
1. A disciplina legal
21 Vi r J H . / D, Lehrbuch des Strafrechts, 1996, § 67, III, 4, p. 723.
22 amparar BITE OURT, Lições de Direito Penal, 1995, p. 17; também · I
RAD , Curso de Direito Penal brasileiro, 1999, p. 280. Situações de pluralidade de fatos típicos de igual esp ' cie, produzidos
23 V◄ r ERREI , Aplicação da pena, 1995, p. 15 · FRAGO O, Lições de Direito Penal,
1985, n. 357,p. 267. por pluralidad d açõ s ou d omissões de ação, realizadas m con-
diçõ s d t mpo, lugar, modo d execução e outras indicadoras d qu fo único, r gula exdusivament a relação d continuação em crim s
os fatos típicos posteriores são continuação do primeiro configuram dolosos viol ntos contra vítimas diferentes.
unidade continuada de tipo de injusto (ou crime continuado), regida
p lo princípio d exasperação da pena.
2. O paradigma objetivo/subjeti o do crime continuado
Art. 71. Quando o agente, mediante mais de uma ação
ou omissão, pratica dois ou mais crimes da mesma espécie
e, p elas condi óes de tempo, lugar, maneira de execução oba ' gid do antigo paradigma causal d fato punív 1, o crit ' rio do
e outras semelhantes, devem os subsequentes ser havidos 1 gislador para determinar relação de continuidade delitiva deveria ser,
como continuação do primeiro, aplica-se-lhe a pena de n c ssariam nt , objetivo - ou s ja, ar lação de continuação d açõ s
um só dos crimes, se idêntí as, ou a mais grave, se diversas, típicas d vias r int rpr tada d um ponto d vista obj tivo. Adotado
aumentada, em qualquer caso, de um sexto a dois terços. o sist ma finalista como paradigma da parte g ral do Código P nal,
a estrutura das ações típicas continuadas - como, aliás, a strutura
O legislador penal brasileiro instituiu, também, a possibilidad
de qualquer ação típica, inclusive das ações típicas em concorrência
d continuação m tipos dolosos violentos contra vítimas diferentes.
material formal - ' constituída d 1 1n ntos objetivo subj tivos,
Art. 71, parágrafo único. Nos crim es dolosos, contra cujo exame ' necessário para d t rminar não só a xist "ncia de crimes
vítimas diferentes, cometidos com violência ou grave da mesma espécie, mas tamb 'm para v rificar a exist "ncia dar lação d
ameaça à pessoa, poderá o juiz, considerando a culpabi- continuação da ação típica ant rior através das açõ s típicas post riores.
lidade os antecedentes, a conduta social e a personalidade Em conclusão: o novo modelo de estrutura do fato punív 1 , portanto,
do agente, bem como os motivos e as circunstâncias, o novo paradigma objetivo-subjetivo d construção d interpr tação
aumentar a pena de um só dos crimes, se idênticas, ou a da 1 i p nal r qu r uma nova leitura do crit 'rios 1 gais, capaz d in-
mais grave, se diversas, até o triplo, observadas as ri -gras tegrar as dimensões objetiva e subjetiva do fato punível no conceito
do parágrafo único do art. 70 e do art. 75 deste Código. d Jato punível continuado - ind p nd nt da opinião do 1 gislador,
Como s v", xist m ap nas dois r quisitos legais para a unidade m interpretação paralela obviament equivocada, sobre aus "ncia d
continuada d tipo d inj u to: a) plur lid d d fato típico d igual maiores inconvenientes da t oria obj tiva do crim continuado 24 .
sp 'cie; b) r lação d continuação ntr a priin ira as post rior s açõ s ssa p rsp ctiva - qu romp co1n o inexplicáv l objetivismo
típicas, indicada por condiçõ s d tempo, lugar, modo de ex cução dominante na literatura penal finalista brasileira em matéria de crime
u ra .. E1n suma, qual u r tipo de injusto doloso, por ação ou omissão continuado 25 -, crim d igual sp 'ci constitu m tipos d injusto
de ação clandestina, fraudulenta ou violenta, 1 sivo d qualquer bem
jurídico protegido na lei p nal, inclusiv contra portadores diferentes,
pode aparecer sob a forma do crime continuado, preenchidos os re- A Ver n. 59, da Exposição de Motivos da Lei n. 7.209/84 .
25 Assim por x mplo, BITE O U RT, Lições de D ireito Penal, 1995, p. 22 , afirma
quisitos l gais ob rvada a div rsidad d p na. A diferença ntr que a teoria obj etiva "é adotada pelo nosso Código Penal"; amb, R I P D ,
as duas regras sobre crime continuado é a seguinte: o art. 71, caput, Curso de D ireito Penal bra.sileiro, 1999, p. 282, admire a despropositada interpretação
a I la ·o legi lad r, ao repetir que 'o critério da teoria puramente objetiva não revelou
abrang todas as hipót s s d crime continuado, m nos a hipót s d na prática maiores inconvenientes"; ao contrário, ZAFFARO 1/PIE ~ LI,
crim s dolosos viol ntos contra vítiinas dif◄ r nt s; o art. 71, parágra- Manual de D ireito Penal brasileiro, 1997, n. 439, p. 726-729, exigem dolo unitário,
como 'Jator psicológico ou fator final", no crime continuado.
equivalentes do ponto d vista do tipo objetivo e do tipo subjetivo. modo de ex cução etc. A tese d que a relação de continuação supõe
um projeto anterior - que é, evidentemente, representado pelo dolo
2.1. A equival "nci d tipo objetivo ' indicada p l guine rr lações:
- implica excluir a imprudência da área do crime continuado: se a rela-
a) lesão d igual b m jurídico, mbora m diversos estágios d realização
(t ntativa e consumação) ou nív is distintos de proteção (furto simples ção de continuação supõe um projeto ant rior, ntáo a imprudência ',
nc i alm n inc mpa í 1com a categoria do crime continuado 30
qualificado) ou me mo protegido por diferen es ipo legai (injúria e difa-
-, apesar d algumas opiniões important sem contrário 31 •
ma ,. furto e apropriação indébita), definido como unidade de resultado
injusto 6; b) a ,. o típica igual p r car ct r mun d t mp (durant a
noit m d t rmin d horári diurn t .) d lugar (n r id "ncia ou
no local de trabalho da vítima em e tacionamento de veículos, em up r- 3. Unidade de injusto e unidade de pena
mercados etc.), d modo de execução (ação ou omissão de ação, m 'todos
de &aud , i n i u l nd ·ni d d ação te.), indicadores A unidade do tipo de injusto continuado implica unidade de pena,
d ontinuidade objetiva da primeira atrav ' d posteriores aç .. ípi també1n regida pelo princípio da exasperação, mas com diferenças : no
definidas em conjunto como unidade de ação injusta 7. crime continuado comum (art. 71, CP), agravaçáo de um sexto a dois
2.2. A quival "n ia d · tipo subjetivo é indicada por um dolo unitário t rços da p na comum, se idêntica, ou da mais grav , s div rsas; no
abran nt d nj une da aç,. tÍpicas m continuação m u crime continuado especial (art. 71, parágrafo único), agravação até o
caract rísticas co1nuns d t mpo, lugar, modo d · x cução outras triplo da p na comum, s id "ntica, ou da p na mais grav , s div r a ,
semelhantes, indispensável para integrar a pluralidade d ações típicas observada a culpabilidade, anteced ntes, conduta social, personalidad
na unidade do crime continuado, definido pela literatura como unidad do agente, motivos e circunstâncias do crime continuado.
d injusto p ssoal28 : hav ria dolo de continuação no programa d r 1iz · A unidad continuada de fatos puníveis produz, também, cons -
uma s ' rie mais ou menos d t rmináv 1de stelionatos - não, por ' m , qu Ancias penais e proc ssuais sp cíficas: cada tipo de injusto specífico
no programa d r alizar o maior número possível d t lionatos d d - da relação de continuação dev ser provado porque d t rmina a medida
t rminado modo; contudo, hav ria dolo de continuação em programar o da pena; a sentença abrange todos os tipos de injusto da continuação,
furto do maior núm ro possível d bicicl t no estacionam nto d uma conhecidos ou desconhecidos; a prescrição, contudo, s gundo correta
fábrica, por exe1nplo - não, por ' m n plan d furtar ári bi i l e m jurisprudência brasileira, inicia em e incide sobre a p na d cada tipo
circunstâncias desconhecidas de tempo, lugar, modo d x cução tc. 29 • d injusto isolado dar lação d continuaçáo32 •
A necessidade de um dolo geral ou de continuação é determinada
pela própria natureza do crime continuado: a relação d continuação
só pode existir no contexto de um programa ou projeto de realizar
d t rminadas açõ s típicas m condiçõ s comuns d t mpo, lugar,
30 N sse s ntido JE HE K/WEIGE D , Lehrbuch des trafrechts, 1996, § 66 V, 3d,
ER, tra -esetzbuch, 1995, nota preliminar n. 15 , § 52.
31 ' tm, H/ l/ZTP , trafrecht, II, 1989, § 54, n. 81, p. 426.
26
D Lehrbuch des Strafrechts, 1996, § 66, V, 36, p. 716. 32 TRÕNDLE/FISCHER, Strafgesetzbuch, 2000, § 78a, nota 1O, a.firma que, na unidad
27
h des traftechts, 1996, § 66, V, 3 e 36, p. 715-716. de fato ''corre para cada delito o prazo de prescrição previsto para o mesmo". OTTO,
28
Lehrbuch des Strafrechts, 1996, § 66, V, 3c, p . 716. Grundkurs trafrecht, 2000, § 23, p. 333, n . 20, a.firma que, no crime continuado, ''a
29 , ehrbuch des Strafrechts, 1996, § 66, V, 3c, p. 7 17. prescrição começa, em geral, com o último ato parciar
VI A pena de multa na pluralidade de Jatos A aplicação de penas privativas de liberdad pode exceder o limit
legal, mas a execução das penas privativas de liberdade aplicadas não
punzvezs
,I' •
atropelado morre por falta d o orro do autor do atropelamento, 4. Antefato e pós-fato copunidos
responsável pela evitação do resultado na qualidade de garante do bem
jurídico em perigo, conforme o tipo de omissão de ação ünprópria) 42 .
O antifato e o pós-foto copunidos estão, ralm nt , m r lação
de consunção com o fato principal 48 : são punidos m conjunto com o
fato principal. Assim, o porte ilegal de arma constitui antifato punido
3. Consunçáo em conjunto com o homicídio praticado; a apropriação, o consumo
ou a destruição da coisa furtada não constitui apropriação indébita ou
3.1. O critério da consunção resolv e nfüt apar nte ntr tip num·- dano, mas pós-foto punido no furto porqu r pres nta r al" ação da
dor tip e n umid : e nt úd d inju to d , ti principal consome o vantagem objeto do elem nto subjetivo especial do furto, tipo consu-
e n úd d injust d tip cundári rqu o tipo consumido constitui midor49; igualm nt , a venda da coisa furtada a t rc iro d boa-fi' não
meio reguiar (não necessário) de realização do tipo consumidor43 ou o tipo constitui estelionato punível - mas foto posterior punido em conjunto
consumido não está em relação de necessidade Mgica (como na especialidad.e co1n o furto-, ainda que lesione novo bem jurídico 50 : a pena do furto
ou na subsidiariedade) m em relação de regul.aridadefenomenológica com abrange os atos próprios de apropriação, inclusive a venda da coisa
o tipo consumidor44 (kx onsumens derogat kgi consumptae). furtada , portanto, punir p lar alização da intenção especial do furto,
3.2. A consunção por relação de regularidade feno menológica entr o l m nto subjetivo determinante do tipo d injusto, significaria dupla
punição p lo m smo fato 51•
tipo consumido e o tipo consumidor ocorr , por ex mplo, em alguns
fatos: a lesão corporal e1n relação ao aborto; o dano ou a violação de
domicílio m r lação ao furto qualificado por destruição ou rompi-
mento de obstáculo ou mpr go de chav falsa tc.45 . Na atualidad ,
o critério da consunção stá imerso em controvérsia irr v rsível
a tend "ncia par c s r sua própria consunção por outros crit 'rios,
especialmente pelo critério da especialidade e pelo antifato e pós-
-fato copunidos: a lit ratura cont mporânea oscila entr posições d
aceitação r ticent 46 d rejeição absolu ta 47 do crit 'rio da consunção,
no conflito aparente de leis penais.
T EORIA DA PENA
I O discurso oficial da teoria jurídica da pena a filosofia idealista ocidental é retributiva 13• T (1724-1804) d -
fine a justiça retributiva como lei inviolável, um imperativo categórico
pelo qual todo aquele que mata deve morrer, para que cada um receba
1. A pena como retribuição de culpabilidade o valor de seu fato a culpa do sangue não r caia sobr o povo qu
não puniu seus culpados 14; HEGEL (1770-1831) defin crim como
negação do direito p na como negação do crime - portanto, como
1. Conceito. A pena como retribuição do crime representa a imposição
reafirmação do direito - e consid ra a justiçar tributiva a única digna
de u1n 1nal justo contra o 1nal injusto do crirn , necessário para r alizar
do ser humano: criticou a teoria da coação psicológica d F ERBACH
justiça ou r stab 1 c r o Dir ito 8, segundo a fórmula d SE ECA:
(1775-1833) porqu não tratava o hom m como s r "dotado de honra
punitur, quia peccatum es/J. A sobrevivência histórica da pena retribu-
e liberdade", mas como um cão ameaçado com um bastão 15 . Quarto,
tiva - a mais antiga mais popular função atribuída à pena criminal
o discurso retributivo bas ia-s na l i p nal, qu consagra o princípio
- par ce inexplicável para o discurso oficial: a pena como expiação
da retribuição: o legislador d t rmina ao juiz aplicar a p na conform
d culpabilidad l 1nbra suplícios fogu iras m di vais, cone bidos
necessário e suficiente para reprovação do crime (art. 59, CP) - por ssa
para purificar alm d e nd nad · a p n e m compensação d
via, o discurso r tributiv a1 nça a jurisprud"ncia crüninal, para a
culpabilidade atualiza o impulso d vingança do ser humano, tão
qual a p na criminal 'retribuição atrav's da imposiçã, d um mal 16 •
v lho quanto o mundo 1º.
2. Crítica jurídica. A crítica jurídica da função retributiva t 1n por
A literatura penal possui várias explicações para a sobrevivência
objeto a natureza xpiatória ou compensatória da pena criminal: retri-
da função retributiva da p na rim·nal. Primeiro, a psicologia popular,
buir, como m étodo de expiar ou de compensar um mal (o crime) com
vid nt m nt r gida p lo talião, pod rias r abas antropológica da
outro mal (a pena), pode corresponder a u1na crença - e, nessa medida,
penar tributiva: ar taliação xpressa no olho por olho, dente por dente
constituir um ato de fé-, mas não ' democrático, nem ci ntífico 17 •
constitui m canismo comum dos seres zoológicos e, por isso, atitud
Não ' d mocrático porqu no Estado D mocrático d Dir ito (a) o
g n ralizada do hom m, ss zoon politikon 11 • S gundo, a tradição
pod r ' ex reido m nom do povo - não em nom d D u -,
religiosa judaico-cristã ocidental apresenta uma irnage1n retributivo-
(6) o Dir ito P nal t m por obj tivo prot g r b ns jurídicos - não
-vingativa da justiça divina, qu talvez constitua a influência cultural
realizar vinganças. Por outro lado, não é científico porque a retribuição
1nais pod rosa sobre a disposição psíquica retributiva da psicologia
popular-portant d ri mm · ial d qu bi l 'gi a 12 • Terceiro,
13 N ncido, BRA D~ O, Introdução ao direito penal, 2002, p. 1 6-1 · e mbém,
BU ATO/HUAPAYA, Introdução ao direito penal (fundamentos para um sistema penal
democrático), 2003, p. 207-209.
14 . , Me!haphysik_ der itt,;n (I 797), p. 331. essa passao-em, a célebre hipótese
da d1sso luçao da sociedade: 'Mesmo se t1 comunidade de cidn~os, com a con ordância
8 Vir BRE HT, Kriminologie, 1999, p. 48; GROPP, trafecht, 2001, p. 32, n. 101- de t~dos os membros, se dissolvesse, o último assassino encontrado na prisão deveria ser
102; ROXI , Strafrecht, 1997, § 3 n. 2, p. 4 1. No Brasil, ver B · ~ I ntroducão pr:71zamente executado, par~ q_ue _c~da um re~eba o valor de seu foto e a culpa do sangue
ao direito penal, 2002, p. 152-156. ' ' nao pese sobre o povo que nao insistiu na punu;ão. "
9 ENE A, De ira, Livro 1, 16, 21 (punido, porque pecou); ver NA KE, trafrecht, 15 HEGEL, Rechtsphilosophie (1821), § 99 .
2000, n. 139, p. 32. 16 N esse s~n~ido, , também, o Tribunal F deral on ti u i nal ai mão (22, 132): "toda
10 BRAN , O , Introducão ao direito penal, 2002 p. 21 a 29 pena crzmznal e, por nature2A retribuição através tÍA imposição de um mal", in ROXI ,
11 RO T Strafrecht, 1997, § 3, n. 2, p. 41. ' · Strafrecht, 1997, § 3, n. 6, p. 43.
12 Ver ROXIN, Strafrecht, 1997, § 3, n. 5, p. 43 . 17 ROXIN, Strafrecht, 1993, § 3, n. 8, p. 43-44.
do crime pr ssupõe um dado indemonstrável: a liberdade de vontade de neutralização (ou inocuização) do condenado, consistente na
do ser humano, pressuposta no juízo de culpabilidade - presente em incapacitação para praticar novos crimes durante a execução da
fórmulas famosas como o poder de agir de outro modo de L EL18 pena 21 ; por outro lado, a prevenção especial positiva de correção (ou
-, não admit prova empírica. Assim, a p na como retribuição do ressocialização) do cond nado, r alizada p lo trabalho d psicólogos,
crime fundam nta-s num dado ind monstrável: o mito de liberdade sociólogos, assistent s sociais outros funcionários da ortopedia moral
pr ssuposto na culpabilidade do autor. A impossibilidad d demons- do stabelecim nto p nitenciário - segundo outra fórmula antiga:
trar a liberdade pr ssuposta na culpabilidad d terminou mudança na punitur, ne peccetur .
função atribuída à culpabilidade: a culpabilidade perde a antiga função
2. Crítica jurídica. A pr v nção sp cial negativa d n utralização do
d fundamento da pena, qu 1 gitima o pod r punitivo do Estado 1n
condenado parec indiscutível: a incapacitação seletiva de indivíduos
face do indivíduo, para assumir a função atual de limitação da pena, consid rados perigosos constitui efeito vidente da xecução da p na
qu garant o indivíduo contra o pod r punitivo do Estado - uma
porqu imp d a prática de crimes fora dos limit s da prisão 23 - as-
mudança d sinal dotada d important significado político 19• sün, a neutralização do condenado seria uma das funçõ s declaradas
cumpridas pela pena criminal.
A crítica jurídica da prev nção esp cial positiva fala da supressão
2. A pena como prevenção especial
de direitos não atingidos pela privação de liberdade, da necessidad
de r sp itar a autonomia do preso d limitar os progra1nas d r s-
1. Conceito. A função de prevenção especial da p na criminal, domi- socialização a casos individuais voluntários: afinal, o condenado não
nante nos séculos 19 e 20, é atribuição legal dos sujeitos da aplicação pode ser compelido ao tratamento penitenciário, o Estado não tem o
e da execução penal: primeiro, o programa de p revenção especial é defi- dir ito d melhorar pessoas gundo crit 'rio morai próprios , nfim,
nido p lo juiz no mom nto de aplicação da pena, através das ntença prender p ssoas fundado na n cessidade d m lhoria t rapêutica '
criminal individualizada conform necessário suficiente para prevenir injustificáv F4 .
o crim (art. 59, CP); s gundo, o programa de prevenção especial d -
finido na s nt nça criminal ' r alizado p lo técnicos da execução da 21 Ver A , Strafi'echt, 2000, p. 33-34 , n. 14 1; RO , Stra.frecht, 1997, § 3, n. 7,
pena criminal - os chamados ortopedistas da moral, na concepção de p. 43; BRE H , Kriminologie, 1999, p. 51-52 e 56 s.; GROPP, Strafrecht, 2001 ,
p. 104-105, n. 106. No Brasil, comparar BU ATO/HUAPAYA, Introdução ao direito
FOUCAULT20 - , co1n o obj tivo d pro1nov r a harmônica integração penai (fundam ntos para um sistema penal democrático), 2003, p. 220-4. ~
social do condenado (art. 1°, LEP). 22 E E A, De ira, Livro I, XJX.7 (punido, para que não peque), r fi rindo PLATAO
(427-347 a. .) que, por sua vez, invocava PROTA RA (4 - 15 ..): <'Nam, ut
A x cução do programa d prevenção especial ocorr m doi Plato ait, nemo prudens punit quia peccatum est, sed ne peccetur". Ver RO , trafrecht,
1997, n. 11, p. 4-45; t mbém, LBRE HT, Kriminologie, 1999, p. 51-52 56 s.;
processos silnultân os, p los quais o Estado sp ra virar crimes GROPP, Strafrecht, 2001, n. 106, p. 34.
23 Ver KUNZ, Kriminologie, 1994, n. 19, p. 286.
futuros do condenado: por um lado, a prevenção especial negativa A KU Z, Kriminologíe, 1994, n. 40, ,P· 294. " om isto, a execução ressocializa,dora
contém um novo fundamento, além tÍtl Jmalidade de evitação da criminalidade através da
"melhoria" (do condenado). Por um lado, fica claro que o pensamento de ressocialização
ligado à compensação dos danos colaterais da execução da p ena não justifica - como
18 WELZEL, Das D eutsche trafrecht, 1969, p. 138. sempre se verifica - mant r pes oas presa fimdado na nece. sidade de tratamento. Po r outro
19 BRE H~, Kriminologie, 1999, p. 49-50. No Brasil, 1R1 DO T O ,A lado, um tratamento custodiai conforme uma terapia pseudomédica de melhoramento, é
m oderna teoria do Jato p unível, 2004, p. 209-15. excluída; a execução terapêutica deve respeitar a autonomia pe. soai do preso e se limitar à
°
2 FOUCAULT, Vigiar e punir, 1977, p. 15. oferta de programas de ajuda com base em reivindicações vofuntdrias. "
O reconhecim nto da ineficácia corretiva da prev nção esp cial subsidiária (existem outros meios mais efetivos) e fragmentária
positiva e dos efeitos nocivos da prevenção especial negativa atribuí- (proteção parcial dos bens jurídicos selecionados); b) JAKOBS
dos à pena privativa de liberdade são diluídos, segundo PIL RAM/ concebe a prevenção geral positiva de modo absoluto, excluindo as
STEINERT25 , por fr quent s d claraçõ s simplistas de que ainda não funções declaradas d intimidação, de corr ção d r tribuiçáo do
temos nada melhor do q u a prisão 26 • discurso punitivo: a pena ' afirmação da validade da norma penal
violada - d finida como bem jurídico-pena/3°, cat goria formal
substitutiva da categoria r al do bem jurídico -, aplicada com o
3. A pena como prevenção geral objetivo de estabilizar as expectativas normativas e de restabelecer a
confiança no Direito, frustradas p lo critn 31 •
1. Conceito. A função d prevenção geral atribuída à p na criminal 2. Crítica jurídica. A crítica jurídica t m por objeto a dim nsáo negativa
i ualm n m por ob · i o evitar crimes futuros mediante uma forma a dim nsão positiva da função d pr vençã g ral da p na riminal .
negativa antiga e uma forma positiva pós-moderna. 2.1. A crítica da pr v nção g ral negativa d staca a ineficácia da ame-
1.1. A prevenção geral negativa aparece na forma tradicional de aça penal para inibir comportam ntos criminosos, conform indicam
intimidação penal, expr ssa na célebr teoria da coação psicológica d a inutilidade das cruéis penas corporais medievais a nocividade
FEUERB CH (1775-1833) 27 : o Estado espera que a ameaça da pena das p nas privativas de liberdade do Direito Penal moderno. Aliás,
des stimul p ssoas d praticar m crim s28 . afirma-s q u não ' a gravidad da p na - ou o rigor da x cução
penal -, mas a certeza (ou a probabilidade) da punição que pode
1.2. A prevenção geral positiva - também chamada t oria da pre-
desestimular o autor de praticar crimes - uma velha teoria já enun-
venção/integração - surg no final do s 'culo 20 pr t nd r pr -
ciada por BECCARIA (1738-1794) 32 , s mpr r tomada como t oria
sentar o novo fundamento do sistema penal. A base sociológica da
mod rna pelo discurso de teóricos do contr l o i l. AI 'm di
teoria foi desenvolvida por LUHMAN , que atribui ao Direito as
pr v nção g ral negativa possui dois d fi itos grav s: prim iro, a falta
funções (a) de stabilização do sist ma social, (b) d orientação da
de critério limitador da pena transforma a am aça penal em t rrorismo
ação (e) d institucionalização d xp ctativas normativas. N ssa
statal3 3 - como indica a lei de crimes hediondos, essa infi liz invenção
linha, aparecem duas variantes: a) ROXIN 29 cone b a pr venção
do legislador brasileiro; segundo, a natureza exemplar da pena co1no
g ral positiva no cont xto d outras funçõ declaradas da p na
prev nção g ral negativa viola a dignidad humana porqu acusados
criminal, legitimada pela proteção de bens jurídicos, de natureza
reais são punidos de forma exemplar para influenciar a conduta d
acusados potenciais - em outras palavras, aumenta-se injustamente
25 PILGRA / T IN RT, Pladoyer for bessere Gru.nde fur die Ab chaffimg der
Gefangnisse, in H. Ortner (Editor), Freiheit scatt Srrafe. Frankfurt a. M . (198 1), p. o sofrimento de acusados r ais para desestÍlnular o comportam nto
133-154. criminoso de acusados potenciais 34 .
26 R, What works: nothing or everything? Measuring the ejfectiveness of sentencing, in
Res arch Bulletin 30 (199 1), p. 3-8 .
27 FEUERBA H, Lehrbuch des gemeinen in D eutschland geltenden peinlichen Rechts,
18 1 (1966 _e. 38). 30 JAKOB , trafrecht, 1993, n. 5, p. 36-37.
28 Vc , Introdução ao direito penal, 2002, p. 160; BU ATO/HUAPAYA, 31 JAKOB , trafrecht, 1993, ns. 3-4, p. 35-36 s., ns. 7-8, p. 37-38.
Introdução ao direito pennl (fundamentos para um sistema penal democrático), 2003, 32 B RIA Dei delitti e dei/e pene (1764), 1973 (reimpressão), p. 73 .
p. 2 16-217. 33 RO , Strafrecht, 1997, § 3, n. 32, p. 52-5 3.
29 RO , Strafrecht, 1997, § 2, n. 38-39, p. 25 . 34 ROXI , Strafrecht, 1997, § 3, n. 32, p. 52-53.
2.2. O carát r formal-cer brino do discurso de integração/prevenção correção do autor p la ação p dagógica da execução p nal al 'm de
par ce descrever um mundo irreal: a) por exemplo, a superposição prevenção especial negativa como segurança social pela neutralização
de efeitos político-criminais de ROXI : o efeito sociopedagógico de do autor e, finalmente, (e) prevenção geral negativa através da intimi-
x rcício m fidelidade jurídica produzido p la atividade da justiça dação de criminosos potenciais pela am aça p nal prevenção g ral
penal; o feito d aum nto da confiança do cidadão no ordenam nto positiva como manutenção/reforço da confiança na ord m jurídica etc. 40 .
jurídico pela perc pção da imposição do Direito; o feito de pacifi- Atualmente, as teorias unificadas predominam na legislação,
cação social p la punição da violação do Direito , portanto, solução na jurisprud "ncia na literatura p nal ocid ntal. Por ex mplo,
do conflito com o autor35; 6) mais grav , o formali mo ab trato da o CP al mão adota as teorias unificadas da p na criminal: o § 46
linguag m h nn 'rica d JAKOBS: a pr v nção g ral positiva como
do Strafgesetzbuch define culpabilidade como fundam nto da pena
dem onstração de validade da norma, necessária para reafirmar as ex-
(r tribuição), d terminada conform os efeitos esperados para a vida
pectativas normativas frustradas p lo comportam nto criminoso 36 ,
fatura do autor na comunidad (pr v nção esp cial); o § 47 m n cio-
s ria x rcício de confiança na norma (sab roque esperar na interação
na o obj tivo de defesa da ordem jurídica (prevenção g ral) 41 - n ss
social), de fidelidade jurídíca (reconhecimento da pena como efeito sentido, o Tri unal n titu ional al mão atribui à pena criminal a
da contradição da norma) e d aceitação das consequências jurídicas
função absoluta d r tribuição d ulpabilidad , a im orno funçõ s
(con xão do comportam nto criminoso com o d v r d suportar a
relativas d pr venção do crim d ressocialização do d linqu nte4 2 .
pena) 37 - na verdad , postulados do contrato social dos ' culo 18, com No Brasil, o CP consagra as teo rias unificadas ao d tenninar a apli-
ac itação das normas sociais na qualidad d membro da soei dad
cação da pena ''conforme seja necessário e suficiente para reprovação e
ac itação da punição na qualidad d infrator da normas sociais 38 . prevenção do crimen (art. 59, CP): a reprovação exprime a ideia de
retribuição da culpabilidade; a p revenção do crime abrange as 1noda-
lidad s de prevenção especial (corr ção n utralização do autor) d
4. As teorias unificadas: a pena como retribuição e prevenção geral (intimidação manut nção/r forço da confiança na
,.,
prevençao ord m jurídica) at "buída ' n riminal.
Em outra p rsp ctiva, essa tríplic função atribuída à p na cri-
1. Conceito. As teorias unificadas da p na criminal conjugam as teo- minal corresponderia aos três níveis d r alização do Direito Penal: a
rias isoladas co1n o obj tivo de sup rar as defici ,._ ncias particulares d função d pr venção g ral n i a corresponde à cominação da am aça
cada t oria, m diant fusão das funçô s declaradas d retribuição, d p nal no tipo 1 gal; a função de retribuição e a função de prevenção
prevenção geral e de prevenção especial da p na crim"nal39 . Então, a pena geral po itiva corr spondem à aplicação judicial da pena; as funçõ es d
r pres ntaria (a) retribuição do injusto realizado 1n diant compensação prevençã p ial p itiva n gativa corr spond m à execução p nal43 .
ou expiação da culpabilidade, (6) pr v nção esp cial positiva 1n diant
2. Crítica jurídica. Os defeitos das teo rias isoladas não d sapar cem marxista em criminologia, formada por P U I 48 , RUSCHE/
nas teo rias unificadas da pena criminal, com a reunião das funções (a) KIRCHHEIMER49 , MELOSSI/PAVARJ JSº BARATTA51 - para
de compensar ou expiar a culpabilidade, (6) de corrigir e neutralizar o citar os mais conhecidos-, com a contribuição relevante do estrutu-
criminoso, (c) d intimidar autor s pot nciais d manter/reforçar ralista FOUCAULT 52 .
a confiança no Dir ito. Por outro lado, a admissão d diferent s fun-
ções da pena criminal, mediante cumulação d t orias contraditórias
e reciprocam nt xclud nt s, significa adotar uma pluralidade d A) A crítica negativa/agnóstica da pena
discursos legitimant s capazes de racionalizar qualquer punição pela
criminal
scolha da t oria rnais ad quada para o caso concr to 44 .
A crítica pod s r sintetizada m dois argumentos: primeiro, o 1. A t oria negativa/amóstica da p na riminal m p r fundam nt
fc ix de funçõ s conflitant s das teorias unificadas não p rmit sup rar mod los id ais d estado de polícia e d estado de direito, co xi tentes no
as debilidad s specíficas de cada função declarada da pena critninal interior do Estado mod rno em relação d xclusão recíproca 53 assim
- ao contrário, as teo rias unificadas significam a soma dos defeitos das sintetizados:
t orias particular s; s gundo, não xiste nenhum fundam nto filosófico a) o mod lo id al d estado de polícia caract riza-s pelo exercício
ou científico capaz d unificar concepções p nais fundadas m teorias de poder vertical e autoritário e pela distribuição d justiça substancia-
ntrad it ' ri m finaJ id d pr ' t i r ciprocam nte xcludentes45 •
lista de grupos ou class s sociais, xpressiva d dir itos m ta-humanos
paternalistas, qu suprim os conflitos humanos m diante as funçõ s
manifestas positivas de retribuição e de p revenção da pena criminal,
II O discurso crítico da teoria criminológica da pena conform a vontad h g mônica do grupo ou class social no pod r 54;
b) o mod lo id al d estado de direito caracteriza-se pelo exercício
O discurso crítico da t oria criminológica da p na ' produzido de pod r horizontal/democrático p la distribuição d justiça p rocedi-
por duas teorias principais, com propósitos comuns, mas métodos mental da maioria, xpressiva de direitos humanos fra ternos, que resolve
difc r nt s: a) a t oria negativa/agnóstica da p na, fundada na dicotomia os conflitos humanos conform r gras democráticas estabelecidas, com
estado de direito/estado de polícia, elaborada pelo trabalho coletivo de
RAÚL ZAFFARONI ILO BATISTA46 (com a contribuição atual
reais oculro do sistema punitivo (reprodução das relações de produção e da massa
d GIA e A. SLO R); ) t ria materialista/dialética da criminalizada), demonstrando que o fracasJO histórico do sistemtl penal limita-se aos
p na, fundada na distinção ntr funçõ s reais funçõ s ilusórias da objetivos id ológicos aparentes, porque os obj tivos reais o ultos do sistema punitivo
representam êxito histórico absoluto desse aparelho de reprodução do poder econômico e
ideologia p nal nas soei dad s capitalistas47 , d s nvolvida p la tradição político da sociedade cnpitnlistn. "
48 P KAN I Teoria geral do direito e o marxismo, 1972.
49 RU CHE/KIR H H EIMER, Punishment and social structure, 1939.
44 Z ~FARO I/BATIST L KAR, D ireito penal brasileiro, 2003, p. 114. 50 MELO I/PAV RI I, Cárcelyfábrica, 1980.
45 RO , trafrecht, 1997, § 3, n. 35, p. 5 · e mparar RT, tmfrecht, 2001, p. 235 . 51 BARATTA, Criminologia crítica e crítica do direito penal, 1999 .
46 Z FARO I/BATI TA/ALA KAR, D ireito penal brasileiro, 2003 . 52 FO U AULT, Vigiar e punir, 1977.
47 Ver [RI O D TO , A criminologia radical, 2006, p. 128: ':4 Criminologia 53 ZAFF ONI/BATI T I GW L KAR, D ireito penal brasileiro, 2003, p. 94-
Radical distingue objetivo id lógi o ap re ntes do sistema punitivo (repressão da 95 .
criminalidade, controle e redução do crfrne e ressocialização do criminoso) e obj tivos 54 ZAFFARO I/BATIST W L KAR, D ireito penal brasikiro, 2003, p. 94 e 99.
redução ou limitação do pod r punitivo do estado de polícia55 . democratização do sistema punitivo na periferia do sistema político-
-econômico globalizado-, justifica a t oria negativa/agnóstica da pena
2. Do ponto d vista ci ntífico, a t oria negativa/agnóstica da p na
criminal como teoria crítica, humanista e democrática do Direito
criminal é, ant s acima de tudo, uma t oria negativa das funçõ s
declaradas ou manifestas da p na criminal, expr ssas no discurso oficial Penal, cr d nciada para influ nciar proj tos d política criminal a
d retribuição d prevenção g ral e sp cial (positivas e n gativas), prá i jurídico-pen 1 n méríca ina. naJ d nir p na como
ato de poder político, atribuir à pena o mesmo fundamento jurídico
rejeitadas como falsas pelos autores 56 - que recuperam conceito de
T B· TO para d finir p na criminal como ato de poder da guerra e rejeitar como falsas as funções manifestas ou declaradas da
pena criminal significa ruptura · dica! finiti a co1n o discurso de
político corr spond nt ao fundamento jurídico da guerra 57; m s gun-
do lugar, é uma t oria agnóstica das funçõ s reais ou latentes da p na lei e ordem do pod r punitivo 61 •
criminal porqu renuncia à cognição dos obj tivos ocultos da p na 5. Assim, (a) consid rando o humanismo filosófico os objetivos
criminal, qu s riam múltiplos h terog "n os 58 • político-criminais d mocráticos da t oria negativa/agnóstica da p na
criminal, (b) agindo com a p rspectiva declarada de ampliar a con-
3. Do ponto de vista político-criminal, a teoria negativa/agnóstica
vergência teórica e metodológica entre a teoria negativa/agnóstica e a
da pena tem por obj tivo ampHar a s gurança jurídica d todos os
t o ria materialista/dialética da p na criminal, (c) 1 vando m conta
habitantes mediante redução do poder punitivo do estado de polícia
qu n nhuma t oria ci ntífica nasce acabada do e' r bro humano, mas
corr spond nte ampliação do estado de direito, pelo reforço do poder d
adquire status ci ntífico pelo d bate crítico coletivo, parec recon1 n-
d cisão das agências jurídicas59 - fundado 1n conceito ôntico limitador
do sistema punitivo-, capazes de limitar, mas incapazes de suprimir dáv l fazer os s guintes comentários complementares:
o estado de polícia, cujo poder maior transcenderia a pena criminal 5 .1. Do ponto de vista cone itual, o componente negativo da teo-
para v1g1ar, r gi trar controlar id ias, movim ntos di id "ncia 60 . ria negativa/agnóstica da p na criminal, como r j ição da funçõ s
declaradas ou manifestas atribuídas à p na p lo discurso oficial, po-
4. O objetivo de conter o poder punitivo do estado de polícia intrínseco
m todo estado de direito, proposto p la t oria negativa/agnóstica da d ria s r assumido p la t oria materialista/dialética da p na - qu
p squisa as dimensõ s d realidade de ilusão da id ologia penal nas
pena criminal - produzida pela inteligência criativa de EUGENIO
soei dad s capitalistas - porque t m por objeto a dim nsão ilusória
RAÚL ZAFFARONI d ILO BATISTA, comprom tidos com a
da ideologia penal; mas o compon nt agnóstico do conceito, co1no
renúncia d cognição das funçõ s reais ou latentes do sist ma p nal,
55 ZAFFAR I/BATI TAJALAGIA/ L KAR Direito penal brasileiro, 2003, p. 94-95 na medida m qu indica desint r ss científico sobre realidades
e 100. ocultas por detrás da aparência de instituiçõ s sociais, par c romp r
56 ZAF I/BATIST /ALAGIA/ L KA , Direito penal brasileiro, 2003, p. 99 e
108-109. com a tradição histórica da Criminologia Crítica - n ss caso, em
57 ZAFF I/BATIST ALAGIA/ L KA , Direito penal brasileiro, 2003 , p. 109. contraste com a inegável natureza crítica do trabalho intelectual dos
58 ZAF~, I/BATI TA/ALAGIA/SL KAR, Direito penal brasileiro, 2003, p. 99-
100: Trata-se de um conceito d e p na que ' negativo por duas razões: a) não concede autores, que xplicam a r pressão penal pela seletividade fundada
q_ual1uer fi:nção positi~a à pena: b) !, obtido por exclusão (..). É agnóstico quanto à sua
junçao, pozs confessa nao conhece-la. m estereótipos des ncad ados por indicadores sociais negativos d
59 ZAFFARO I/BATI T /ALAGIA/ L KAR, Direito penal brasileiro, 2003 , p. 108-
109 e 110-112.
60 ZAFFARO I/BATISTA/ALAGIA/ LO KAR; Direito penal brasileiro 2003 p. 99- 61 ZAFFARONI/BATI T /ALA W LOKAR, Direito penai brasileiro, 2003, p. 98-
103 108. ' ' 100 e 108-109.
da ord m so ial capitali ta64 . A síntes do materialismo histórico foi inaugurada por P I m A teoria geral do direito e o marxismo
formulada por MARX no e 'l bre Prefácio de 1859, que apresenta (1924), que inicia uma tradição de pensamento crítico em teoria jurí-
o 1nétodo de estudo das formações sociais modernas. egundo essa dica e crilninológica, na qual se inserem contribuições fundamentais
concepção, o Dir ito e o Estado não pod m ser compr ndidos por da teoria marxista sobr crim control social.
si mesmos, mas pelas relações da vida material da sociedad civil, cuja
essa tradição crítica, RUSCHE/KIRCHHEIMER, m Pu-
anatomia é r pr sentada pela conomia política. a produção da vida
nishment and social structure (1939) 66 , formulam a tese de que todo
o ial o hom n ntram m relações de produção d t rminadas e ne- sistema de produção tende a descobrir punições que correspondem às
c ssárias, cujo conjunto constitui a estrutura econômica da sociedade,
suas relações produtivas, d monstrando ar lação mercado de trabalho/
a bas r al sobre a qual s 1 vam superestruturas jurídicas políticas, sistema de punição: o trabalhador integrado no mercado de trabalho
e à qual correspondem determinadas formas de consciência social. O ' controlado pela disciplina do capital, enquanto o trabalhador
modo de produção da vida mat rial condiciona os proc ssos da vida
fora do m reado d trabalho é controlado p la disciplina da prisão.
ocial p lí ka e in elec ual, em geral: não ' a cansei "ncia dos hom ns Igualmente, FOUCAULT, m Surveiller et punir (1975), define o
qu determina os r r c'al qu d rmi a on i i . sistema punitivo como fenômeno social concreto ligado ao processo
cone ito de modo de produção conté1n a dial 'tica d forças produtivas
d produção, m nos p los t itos negativos d r pr ssão mais p los
relações de produção: a princípio, as relações sociais d produção - ou fi itos políticos positivos de dominação/ xploração - uma economia
r lações d propriedade - corr sponde1n às forças produtivas mat - política do corpo programada para produzir corpos dóceis úteis con10
riais (ho1nens, t enologia natur za), mas m d terminado estágio
disciplina da força de trabalho 67 - , cujo êxito histórico aparece na
de desenvolvimento as forças produtivas entram em contradição gestão diferencial da criminalidade, com repressão das camadas sociais
com as r laçõ s d produção, que s transformam m entraves ao seu subalternas e imunidade das elites de poder econômico e político da
d s nvolvimento, abrindo um p ríodo histórico d r volução social.
sociedade capitalista68 . Na m esma 'poca, MELOSSI/PAVARI I m
Nesses períodos de transformação histórica deve-se distinguir a mu- Cárcere e fábrica ( 1977) 69 , defin m a r lação cárcere/fábrica como a
dança das condições econômicas de produção, que permitem verificação matriz histórica do capitalismo, d monstrando que a r laçõ d
ci ntífica rigorosa, por um lado, e a alteração das formas ideológicas,
trabalho da fábrica, principal instituição da strutura social, dep n-
jurídicas e políticas pelas quais os homens definem e disciplinam os dem da disciplina do sist ma penal, principal instituição d controle
conflitos sociais, por outro lado. Essas 'pocas históricas não pod m social do capitalis1no, para mant r r produzir as r laçõ s sociais d
r av Jiad p r u i "ncia j ur' dica, polí ·ca o filo ó6ca, m dominação/ exploração d class : a prisão produziria um novo tipo
pelas contradições da vida material, constituídas p lo conflito entr humano, o chamado capital variável - capaz de produzir u1n valor
forças produtivas relaçõ s d produção 65 . sup rior ao s u preço de m reado -, r pres ntado pelo trabalho
3. A explicação mat ri ista da retribuição equivalente da p na criminal,
com o mprego de categorias científicas desenvolvidas para explicar
a r lação capital/trabalho assalariado das soei dad s apitalist foi 66 R /KI HHEIMER, Punishment and social structure, 2003, p. 5: "Every
system of production tends to discover punishments wich correspond to its productive
relationships'~
67 FOU AULT, Vigiar e punir, 1977, p. 26-32 e 125-152.
RX, Anti-Duhring, 1876,. p. 78 . 68 FOU AULT, Vigiar e punir, 1977, p. 244-248. . . . .
65
, Contribuição para a crítica da economia política (Prefácio), 1973 . 69 MELOSSI/PAVARl 1, Cárcel y fabrica (los orígenes del sistema pemtenczarw), 1980.
6. A analogia da pena criminal com a mercadoria na sociedad pitali - Conclusão: se a pena constitui retribuição equivalente do crim ,
ta pode incluir, também, a dim nsão de valor de uso da mercadoria: se medida pelo tempo de liberdade suprim ida segundo a gravidade do
o valo r de troca da pena criminal existe, na fórmula de P I , crime realizado, determinada pela conjunção de desvalor de ação e
como retribuição equivalente do crim , ntão o valor de uso da p na d desvalor de resultado , então a p na como retribuição equivalente
rimi 1 xi iri a . unçô s de pr venção especial d prev nção r pr senta a forma de punição esp cífica e caract rística da sociedad
geral, no s ntido d funçô s utilitárias declaradas atribuídas ao valor capitalista, que d v p rdurar nquanto subsistir a soei dad d pro-
de troca da p na criminal, m dido p lo t mpo de lib rdade suprimida dutor s d mercadorias 78 - gost mos ou não disso.
do cond nado:
a) a prevenção e pecial negativa d n utralização do cond nado
e a prev nção esp cial positiva d correção do cond nado vinculam 2. A prevenção espec ·ai como garantia das elações
• •
a retribuição equivalente da p na criminal às funções reais/latentes d SOClaJ.S
disciplina da class trabalhadora;
6) a pr v nção geral negativa d intimidação d criminosos po- 2.1. Prevenção esp cial negativa. A pr v nçã p i negativa d
t ncia1s a pr venção ral positiva d integração/prevenção da p na n utralização do cond nado m diant privação de lib rdad - a inca-
criminal, co1no afirmação da validade da norma, na linha de JAKO- pacitação seletiva de indivíduos considerados p rigosos -, m princípio
BS, ou como afirmação dos valores comunitários, na linha d ROXI , incontestável porque imped a prática de crimes fora dos limites da
vinculam a retribuição equivalente da pena criminal às funçõ s reais/ prisão, i ualm nt possui asp ctos contraditórios, como d tnonstra
latentes de preservação da ordem social fundada na relação capital! a crítica criminológica79 :
trabalho assalariado da soei dad s cont mporân as. a) a privação d lib rdad produz maior r incid "ncia - portan-
Contudo, se o valor de troca da retribuição equivalente caracteriza a to, maior criminalidad -, d t rminada pelos r ai f; itos nocivos da
função real da p n riminal, o valor de uso atribuído à pr v nção especial prisão;
e geral apresenta funções declaradas in ficaz , ma funções reais eficazes 6) a privação d liberdad
x rc influ "ncia n gativa na vida
de garantia das condiç' fundam n ai d ci d d ca itali ca: garan- real do condenado, m diante desclassificação social obj tiva, redução
tetn a separação força de trabalho/meios de produção sobr q al na das chances de futuro comportamento legal e formação subjetiva da
o modo de produção fundado na contradição capital/trabalho assala- autoimagem de criminoso - portanto, habituado à punição;
riado. Oi o de outr maneira: o valor de uso . ribuído à pena criminal
e) a x cução da p na privativa d lib rdad r pre en a a m áx ima
·nút' d p nt d · te da funçô s declaradas do sistema p nal, ' útil
do ponto d vista das funçõ s políticas reais da n riminal precisa-
m nt porqu a desigualdade ocial a opressão d elas do capitali m o
78 P I , Teoria ger:al do direito e o marxismo, 1972 p. 207: "Enquanto a fórmula
é garantida p lo discurso penal da correção/neutraliz ação individual da mercantil e a forma jurídica que dela resulta continuarem n imprimir a sociedade a sua
intimidação/rejo~ o da fidelidade jurídica do povo77 • marca, a ideia d que a gravidade de cada delito pode ser calculada e expressa em meses ou
anos de prisão ( ..) conservará na prática judiciária, a sua força e a sua significação reais. "
79 KU Z, Kriminologie, 1994, ns. 2 1-24, p. 286-287 e ns. 42-46, p. 295-296;
ALBRECHT, Kriminologie, 1999, p. 41-47 60-62; BARATTA, Criminologia crítica
77 p l A teoria geral do direito e o marxismo, 197 2, p. 18 5 s. e crítica do direito penal, 1999, 2ª dição, p. 173 e s.
desintegração social do condenado, com a perda do lugar de trabalho, O governo administrativo da riminalidad introduziu um novo
a dissolução dos laços familiares, afetivos e sociais, a formação pessoal vocabulário no sistema de controle social: o sistema não trabalha mais
de atitudes de dependência detenninadas pela regulamentação da vida co1n os conceitos jurídicos de imputação, ou de responsabilidade penal,
prisional, além do estigma social d x-condenado; ou d pena justa ou merecida, todos substituídos p la linguagem d
gerir grupos sociais conforme riscos criminais. O método ' a identificação
d) a subcultura da prisão produz d formações psíquicas e1no-
e distribuição difi renciada de grupos sociais conforme riscos crimi-
cionais no condenado, que excluem a reintegração social e realizam
a chamada selffulfi!ling prophecy, como disposição apar ntement nais - por ex mplo, negros, latinos, pobres etc.-, para incapacitação
seletiva dos mais p rigosos. O critério do novo método não é mais a
in vitáv l d carr iras criminosas;
observação científi.ca da personalidade para correção do condenado,
e) prognoses negativas fundadas e1n indicadores sociais desfavo- próprio da política criminal tradicional, mas o cálculo estatístico de
ráv is, como pobr za, d s mpr go, scolarização pr cária, moradia m risco d grupos sociais d viant s da política criminal atuarial, guiado
favelas etc. d sencad iam stereótipos justificadores de criminalização pela idéia da predição da criminalidade82 .
para correçã · di idual p r p n p i ativas de liberdad , cuja x -
Esse prognóstico de criminalidade futura e baseia em diagnósticos
cução i nifi a p ri n i ub ultural d pri ion li ação, d formação
pessoal e ampliação de prognósticos negativos d futuras reinserçõ s da criminologia multifatorial exemplificados em alguns perc ntuais
dos chamados crimes pr datórios, por exemplo : no exame do com-
no sistema de controle;
porta1n nto antissocial d 985 adolesc ntes, verificou-se que 7,5%
f) finalm nt , o grau de d sadaptação social do cond nado ' dos jov ns era responsável por 61 % dos delitos registrados; na cri-
proporcional à duração da pena privativa d liberdad : quanto maior minalidade patrimonial comum, 15% dos autores seria responsável
a experiência do preso com a subcultura da prisão, maior a reincid" ncia por 50% dos criines de furtos e roubos cometidos. Logo, a tarefa dos
criminal e a formação de carr iras criminosas, conforme d monstra atuários - que substituíram criminólogos p nalistas - consiste em
o labeling approach 8º. identificar ess s autor s da criminalidade futura para incapacitação
Não obstant , a prev nção especial negativa ressurg como s l tiva dos mais perigosos e correspond nte r dução das taxas psíquicas
novo fundamento penal no Sistema de Justiça Criminal america- da e imina id de prognosticada. O juízo statístico d p rigosidad
no, atualm nte orientado para a incapacitação seletiva de grupos social, assumido p la justiça criininal americana, se baseia na ideia de
sociais perigosos, s gundo o discurso da Política Criminal Atuarial. qu a identificação do criminoso no com ço da carr ira p rmit vitar
Agora, esse discurso afirma que o cárcere funciona contra a crimi- a formação de carreiras criminosas, por meio de m <lidas de segurança
nalidade - e qu pod funcionar ainda m lhor, virando ou, p lo para iinputáveis - e não mais por s ntenças detenninadas -, respon-
menos, r <luzindo a reincid "ncia criminal, m ediante incapacitação sáveis p la incapacitação seletiva dos futuros autor s83 .
ou neutralização s letiva de grupos sociais perigosos, que devem ser
id ntificados, classificados geridos 81 •
154-15 7.
82 PAV T, Punir os inimigos - criminalidade, exclusão e insegurança, 2012, p. 157-
80
BRE H , Krimínologie, 1999, p. 1- 7 e 6 ~ 2· mbém, K Z Kriminologie, 159.
1994, ns. 21-24, p. 286-287. 83 D IETER, Política criminal atuarial - a criminologia do fim da história, 2013, p. 81 s.;
81 DIETER, Política criminal atuarial - a criminologia do fim da história, 20 13, p. 81 s.; PAVARl l, Punir os inimigos - criminalidade, exclusão e insegurança, 2012, p. 157-
também PAVARI l, Punir os inimigos - criminalidade, exclusão e insegurança, 2012, p. 159.
ativa na transformacão>
do cidadão em criminoso 91 • O crime como p oal d desculturação pelo desapr ndizado dos valores normas de
realidade social construída, a criminalização como bem social negativo convivência social, e de aculturação pelo aprendizado de valores e normas
e o sistema de justiça criminal como instituição ativa na distribuição de sobrevivência na prisão96 , a violência e a corrupção - ou seja, a prisão
social da criminalização podem ser xplicados p la lógica m nos ou só nsina a viv r na prisão. Em p pai ras. a pri ão pri ionatiza o
mais inconscient das chamadas metarregras - ou basic rufes, segun- pr soque, d pois de aprend r a viv r na prisão, r torna para m ma
do I UREL92 - , mecanismos psíquicos de natureza emocional condições sociais adversas que d t rminaram a criminalização anterior.
atuant s no e ' r bro do operador do Dir ito, constituídos d ester ó- Em síntes , o processo simultân o de desculturação de acultura-
tipos, preconc itos, idiossincrasias e outras deformações ideológicas
ção d scrito por BARATTA d signa aqu 1 s 1n canismos d adaptação
do intérpr t 93 - d finidos por SACK como o momento decisivo do
pessoal à subcultura da prisão de encadeados pela rotulação oficial do
p rocesso de criminalização 94 -, capazes de esclarecer a concentração da
cidadão como criminoso, que transformam a autoimagem deformam
r pr são p nal m s tor ociai margin lizado ou ubalterno , ou a personalidade do cond nado, r condicionada como produto d nova
na área das drogas, ou do patrimônio, por ex mplo - não nos crim s
(re) construção social, ori ntada pelos valores e normas d sobr vivência
contra a economia, a ord m tributária, a ecologia etc., próprios das na prisão, como indica o labeling approach97• Cumprida a pena, o re-
lit s de pod r conô1nico e político da soei dade 95 •
torno do cond nado prisionalizado para as m smas condiçõ s sociais
3. Enfim, a crise da execução da p na, como r ização do proj to técnico- adv rsas d t rminantes da criminalizacão >
ant rior ncontra um novo
-corretivo da prisão, ' irr v rsív 1. E a explicação da cris ' simpl s: co1npon nt : a atitude dos outros. A xp ctativa da comunidad d
a prisão introduz o condenado em duplo proc sso de transformação qu o estigmatizado s comporte conforme o estigma, ou seja, que
assuma o papel de criminoso praticando novos crimes fecha as supostas
91 Comparar BARATTA, Criminologia crítica e crítica do direito penal, 1999, 2ª edição, possibilidades de reinserçã ial mpl m d I qu ncial d
p. 159-70; ZA 'ARO I/BATI TN W L R, D ireito penal brasileiro,
1993, p. 49-5 3.
formação d carreiras criminosas, realizando a chamada selffulfilling
92 I U L, Basic and normative rufes in negotiation ofstatus and roles, in prophecy, m qu o cond nado assum as caract rísticas do rótulo,
(Editor), 1970, p. 4-45.
93 Ver LOPE JR. , Introdução crítica ao processo penal, 2004, p. 74-8 p ialm m p. concretizando a previsão d autorr alização 98 confirmando a t ona
76-78, com o seguinte trecho antológico: "Aqui está um outro grave problema: o juiz da construção da personalidade no proc s o d int ração social.
que assume "uma cultura subjac nt , de farte conotação de defesa social incrementada
pela ação persistenfe dos meios de comunicação, reclamando menos impunidade e maior
rigor penal (..). E aquele juiz que absorve esse discurso de limpeza ocial e assim passa
4. Co1no visto, o fracasso histórico da prisão ret r -s à função de-
a atuar, colocando-se no papel de defensor da lei e da ordem, verdadeiro guardião da clarada d correção (d ressocialização, d reeducação etc. - e1n suma,
segurança pública e da paz social. (..) Esse juiz representa uma das maiores ameaças ao
processo penal e à própria administração da justiça, p ois é presa fácil dos juízos npriorísticos do qu ' d finido como ideologia re) 99 do cond nado, atribuída à
de inverossimilitude das teses defensivas; (..) introjeta com facilidmie os discursos de p na criminal p la ideologia do sist ma punitivo, porque a função
"combate ao crime" ( . .) e transforma o processo numa encenação inútil, p ois desde o início
já tem definida a hipótese acusatória como verdadeira. Logo, invocando uma vez mais real de controle seletivo da criminalidad , fundado em indicador s
CORDERO, esse juiz, ao eleger de início a hipótese verdadeira, não faz no processo mais sociais negativos, e de garantia de relações sociais desiguais, fundadas
do que uma encenação, destinada a mllJ arar a hábil alquimia de transformar os Jatos em
suporte da escolha inicial. Ou seja, não decide a partir dos Jatos apresentados no processo,
senão da hipótese inicialmente eleita como v~rdadeira. A decisão não foi construída a partir
da prova, p ois ela já foi tomada de início. E o prejuízo que decorre do pré-juízo. " 96 Ver BARATTA, Criminologia crítica e crítica do direito penal, 1999, 2ª edi ão, p. 184.
9/4 A K, Neue Persp ektiven in der Kriminologie, in Kriminalsoziologie, organizado por 97 BE KER, Outsiders: tudies in the ociology of Deviance, 1963, p. -1 ; an 'li e mpla
R. Konig e F. Sack, 1968, p. 469. em BERGALLI , La recaída en e/ delito: modos de reaccionarcontra elin, 1980, p. 215-243.
95 Vi r B R.ATTA, Criminologia crítica e crítica do direito penal, 1999, 2ª edição, 98 LEMERT, H uman D eviance, Social Probíem.s and ocial Control, 1972, p. 62-92.
p. O -10 · B T, K riminologie, 1999, p. 82-83. 99 Vc r ZAF ~ O !/BATI TNALA KAR D ireito penal brasileiro, 2003, p. 116.
na r lação capital/trabalho assalariado, constitui incontestáv 1 êxito representa negação da norma penal, que reduz a confiança no Dir ito
histórico co1no assinala FO ULT 100 • - e não porque seria uma lesão de bem jurídico; e define a pena como
reação contra a violação da norma, às custas de um autor competente:
atar fada p na nãos ria xcluir ou vitar a 1 são do 6 m jurídico, mas
3. A prevenção geral como afirmação da ideologia afirmar a validad da norma, como r ação simbólica contrafática d
preservação ou manut nção da confiança na norma ou da fid lidad
dominante
jurídica do cidadão 103 • Acrítica ao fancionali mo sistemico pod s r fc ita
de pontos de vista (a) político criminal, (6) ideológico (e) sociológico.
1. Prevenção geral negativa. A prev nção geral negativa da ameaça
p nal pod t r fi ito d s stimulant m crim es de reflexão (crim s Do ponto de vista político-criminal, abandona a teoria lib -
econô1nicos, ecológicos, tributários etc.) , característicos do Direito ral do crime como 1 são do bem jurídico da culpabilidade como
Penal sim bólico, mas não t ria Dito m crimes impulsivos (viol "ncia limitação da p ena, substituída pela prot ção de funções da teoria
pessoal ou sexual, por ex mplo) 10 \ próprios da criminalidade comum sistêm icofuncionalista, que não ofer ce nenhuma prot ção contra
stampada nos m ios de comunicação d massa. Logo, a inibição d a punição do Estado. O Direito Penal é utilizado para proteger os
impulsos antissociais pela ameaça penal somente seria rel vant no chamados complexos funcionais dos sist mas conômico, financ iro,
Dir ito P nal sim bólico- um direito d stituído d ficácia instrumental tributário, ecológico etc. , m qu o indivíduo d ixa d ser o centro
e instituído para l gitimação retórica do poder punitivo do Estado, do Dir ito ou da soei dad , para ser um subsiste1na psicofísico d
1nediant criação/difusão d ilnag ns ilusórias d efici "ncia r pr ssiva simpl s imputação penal, avaliado confome o papel funcional para
na psicologia do povo-, mas é absolutam nte irr 1 vante no Dir ito o sistema social - ou seja, é reduzido ao papel de bode expiatório,
P nal instrumental, cujo objeto é delimitado pela criminalidade comum, existente como sujeito de responsabilidade penal, mas como mero
ár a d incid "ncia xdu iva dar pr s ão p nal s 1 tiva 102 • objeto do sist ma social 104 • E a t nd"n i ' fi nida p l 1va
admi nistrativização d o ireito enal - int graçáo do ireito P nal
2. Prevenção geral positiva. A prevenção geral positiva, redefinida
a intere e . adm ini tra ivo do tado - , de loca o papel atribuído
como integração-prevenção, pr t nde ser o novo fundamento do
a u e1 P n I d proteção subsididria de b jurídi para d
sist 1na p nal. A t o ria, originária d LUHMANN, cone b o D i-
reafirmação da validade da norma ·nd p d n on ú d ta.
r ito como instrumento (a) de stabilização do sist ma social, (b) d
ori ntação da ação (c) d institucionalização d xpectativas. Essa Do ponto d vista ideológico, a crise da função d prevenção
definição oculta que a relação capital-trabalho assalariado é o parâ- especial positiva atribuída à prisão, d corr ção ou d ressocialização
1netro de estabilização do sistema social, que determina os valores de do condenado - qu , ao contrário, ' socialinente desinserido e margi-
orientação da ação ng ndra a id ologia r sponsáv 1p las expectativas nalizado pela instituição - , par e t r d t rminado a r vitalização da
institucionalizadas. Com base naqu le cone ito, JAKOBS defin a função de prevenção especial negativa de neutralização do condenado
violação da n rm p nal ( rim ) orno disfuncional ao sistema, porqu - a outra função atribuída à prisão-, r forçando a ênfase em pr ven-
10° FOUCAULT, Vigiar e punir, 1977, p. 244-248 . 103 JAKOB S, rrafrecht, 1993, n 3, p. 6.
101 BRE H , Kriminologie, 1999, p. 64-65. w-1 B TTA, Integrazione-prevenzione. Una 'nuova"' fandttzione dei/a pena al/'ínterno
102 ALBRE H , K riminologie, 1999, p. 74-7 5. de/la teoria sistemica, in Dei dditti delle pene, 1984, n. 1, p. 13.
ção geral positiva do discurso sistêmico de integração-prevenção, qu 2.1. Em síntese, a análise do discurso de JAKOBS - a mais ortodoxa
dep nde da prisão de condenados para legitimar o conceito de pena aplicação da teoria da integração-prevenção - permite as seguintes
co1no reação contrafática de reafinnação da validad da n rma. a conclusões: primeiro, a definição formal de crime como violação da
persp ctiva da t oria da integração-prevenção, a prisão precisa ficar norma parec r <luzir crim à 1 são da vontade do poder, qu pr scind
r <luzida à função de neutralização d condenados para 1 gitimar o da lesão de bens jurídicos como fundam nto constitucional d punibili-
conceito de pena como afirmação da validade da norma nec sária para dad 108 ; s gundo, d finir pena como reação contra a violação da norma
estabilizar as expectativas normativas d sestabilizadas pelo crim , con- -ou s ja, como contradição à contradição da norma, qu reafinna a va-
creta negação da valid d d n rm v· lada. E ·m t m b m l gir·m 1
lidade da norma violada às custas do comp etentelresponsável'º 9 - parece
a xpansão do Estado P nal para controlar a população 1narginalizada t r por obj tivo garantir a fidelidade do cidadão à vontade do pod r 11 0;
do mercado de trabalho (ou em posição precária nesse mercado), movi- terceiro, se a punição do criminoso aumenta a confiança no Direito,
1n ntos d prot stos políticos (o MST, por x mplo), t rrorismo tc 105 • r forçando a fidelidade jurídica do povo , ao contrário, a não punição
do criminoso dim inui a confiança no Direito, r <luzindo a fidelidade
Do ponto de vista sociológico, a t oria da integração-prevenção
jurídica do povo, então a tarefa do Direito Pen al parece consistir em
revigora um modelo tecnocrático de controle ocial, em que a dogmática
jurídico-p nal, rigida sobr o sist ma jurídico positivo, fortal e a
satisfazer os impulsos punitivos da população - um obj tivo irra-
i nal ( ub tituti o da p roteção de bens jurídicos), qu atr la o Dir ito
função de cons rvação-reprodução da r al' dad i 1. m m-
Penal à barbári dos instintos pritnitivos; quarto - e não obstant
pr , a r po t p nal ontr f:' ti a n ão surge no local da produção do
d p nd r da neutralização como função de prev nção especial negativa
conflito (a estrutura d desigualdade social da relação capital/trabalho
atribuída à prisão, o mod lo t cnocrático da integração-prevenção
as alariad ), m a n local da manifestação do conflito (a criminalidade
i l n ta p al xual pacrim nial) e m resposta sintomatológica parec pr ssupor outras funçõ s da pena criminal1 11: assim, pr ssupõ
a am eaça penal como intimidação, xist co1no x rcício comunitário
r pr ssiva, justificada pelos supostos efi itos positivos de integração
de retribuição 112 e, pelo menos na concepção de ROXI in lui
social d aum nto da confiança institucional - qu ncobre os r ais
fi ito n gativos d d agr gação ocial do pr so d funcionam nto prevenção especial positiva de correção do condenado 113 •
seletivo desigual do sist ma p nal, qu introduz o cond nado m 2.2. Na v rdad , a t oria da integração-prevenção ' t nôm
no vincu-
carreiras cri1ninosas 106 . Assim, nq uan to o discurso da in t gração/ lado à crescent administrativização do Direito P nal, produzido p la
pr v nção 1 gitima ar pr ssão s l tiva das camadas subalt rnas ga- pr ssão corporativista d sindicatos, associaçõ s d class s, partidos
rante a imunidade das lit s d poder econômico político, oculta a políticos, organizações não governamen ai e e., com a · mbóli cri-
relação da repressão s letiva co1n a reprodução das relaçõ s sociais desi- 1ninalização de situações sociais p roblemáticas nas ár as da econo1nia, da
guais, pr cisam nte mediant a gestão difer ncial da criminalidad 107 l gia d n 'ti utra m q u tad ão par ce in t ressado
em soluç ~ s eia.is reais mas m luções penais simbólicas, com o efeito especialmente contra a força de trabalho marginalizada do mercado, sem
p rverso de subordinar direitos humanos a exig"ncias d funcionalidade função na reprodução do capital - porque, pelo menos no nível simbóli-
do siste1na econômico, tributário etc., como denunciava BARATTA114 • co, o Direito Penal eria igual para todos 118 • Ali' , o di cur efici nti ta
Corno s sab , o Direito Penal realiza funções instrumentais d da pr v nção g ral positiva permite justificar a redução ou xclusão d
fi tiva aplicação prática funçõ s simbólicas d proj ção d ünag ns garantias constitucionai d liberdad , de igualdad , d pr sunção d
inocência e outras garantias do pro . o p nal ci ilizado 119 , cuja cons-
na psicologia popular, mas o segmento legal conhecido como Di-
r ito Penal simbólico, caract rizado pela criminalização do risco m tante supr ssão histórica mostra a constante existência simultânea d
ár as cada v z 1nais distant s do bem jurídico, par c d sprovido d wn Estado de Dir ito para la h g mônica (propriedade e poder)
qualquer função instrumental, cumprindo ap nas função simbólica d d um Estado d P lí ia para a amada ubalc rna ( pl ração
1 gitimação do pod r político.. a área das situações sociais problemáti- opressão) - al 'm d cam r u i f rçar a relação da criminalidade
com a estrutura de desigualdade da soei dad n li b raJ cone m p r'' n
cas, o Dir ito Penal par c r <luzido ao pap 1id ológico de criação d
instituída pelo Direito e garantida pelo poder do Estado. 120
símbolos no imaginário popular, co1n o objetivo oculto de legitimar o
poder político do Estado e o próprio Direito Penal como instrumento 3. Por último, a função declarada de prevenção geral negativa (intimi-
d p lítica ial1 15 • A 1 gitimação do pod r político do Estado ocorr dação p la ameaça p nal) ou d pr v nção g ral positiva ( stabilização
pela criação d uma apar"ncia de eficiência repressiva na chamada luta das exp ctativas normativas m diante afirmação da validade da norma),
contra o crime - d finido co1no inimigo comum-, qu garante a 1 al- atribuíd la id l gia d i t ma p nal a p na rimi al ' di u:r
dade do leitorado , d quebra, r produz o pod r político 11 6 - assim, ncobridor da função real da pena criminal, d garantia da ord m ial
o lastimável apoio de partidos populares a projetos de leis repressivas capitali t fundada na paração força de trabalho/meios de produção,
no Brasil é explicável por sua conversibilidade em votos, ou seja, por que institui e reproduz relações sociais desiguais e opressivas.
s us en itos políticos d conservação/reprodução do poder.
A l gitimação do Dir ito P nal p la criação d símbolos no ima-
ginário popular é simbólica, porque a penalização das situações proble- 4. Conclusão
máticas não significa solução social do problema, mas solução penal para
satisfação r tórica da opinião pública 117 ; dess 1nodo, legitima o Dir ito 1. O discurso crítico da teoria criminológica da p na d fine o Dir ito
P nal como programa desigual de contr 1 ial ag ra revigorado para Penal como i tema dinâmico desigual em todos os nívei de uas fun-
a repressão seletiva contra fav las e bairros pobr s das p riferias urbanas, çõ s: a) ao nív l da definição de crimes constitui proteção s l tiva d
114 B TTA, Integrazione-p revenzione. Una ''nuova" fandazione della pena all'interno
delía teoria sistêmica, in Dei dditti e delle pene, 1984, n. l · também ALBR H , HT, Kriminologie, 1999, p. 69-70.
Kriminologie, 1999, p. 66-67 . HT, Kriminologie, 1999, p. 68-80.
11 5 BATI TA, Prezada senhora ½égas: o anteprojeto de reforma no sistema de penas, in 120 Posicã em lhante, ma e m encid formal-ide i ra, e não no sentido cstrucural-
Discursos sediciosos, n. 9-1 O, p. 105, fala da "constatada incapacidade do sistema penal mat~rialista de luta de classes, aparece em ZAFF RONI/BATISTNAL
para resolver conflitos que lhe são atirados por um Le~s!l1dor que oferece ao público uma L , D ireito penal brasileiro, 2003, p. 41: ''Não há nenhum estado de direito
solução simbólica (a criminalizarii.o primária do conjtito) como se fora uma solução real" puro; o estado de direito não passa de uma barreira a represar o estado de polícia que
116 TTA, Criminologia crítica e crítica do direito penal, 1999, 2ª edição, p . 207; invariavelmente sobrevive em seu interior. (..) O estado de direiro é concebido como
BRE H , Kriminologie, 1999, p. 7 4-7 5. o que submete todos o habitantes à lei e opõe-se ao estado de folícia, onde todos os
11 7 ALBRE H , K riminologie, 1999, p. 74-75. habitantes estão subordinados ao poder daqueles que mandam.
bens jurídicos representativos das necessidades e inter sses das classes trabalh não qualifi ado) e mo ariável interveniente - e imunização
hegemônicas das r lações de produção/circulação econômica e dopo- penal das lit de poder conômico po ítico 123 •
der p lític das iedad capitali tas; b) a nível da aplicação de penas 3. Em r sumo: a) a p na criminal cumpr a função de retribuição
constitui estigmatização s l tiva d indivíduos x Juíd d relaçõ s d equivalente do crime nas sociedad s modernas, pr cisam nte m -
produção d pod r político da formaçã ·a1• ) a ' l da execução diant a neutralização d cond nados r ais durant a ex cução da
penal constitui r pressão seletiv mar inaliz d i i d m reado
pena - eventualmente, com a função complementar de intimidação
d trabalh portanto, d sujeitos s m utilidade real para xpandir d autores pot nciais; b) as outras funções (i) de correção individual
capital nas relações de produção/ distribuição n1at rial da vid ocial - (pr v nção sp cial positiva, d struída p la xp ri "ncia histórica
mbora com utilidade simbólica no proc so d reproduçã d e ndiçõ s arquivada pelo labeling approach), e (ii) d afirmação da validade da
sociais desiguais e opressiva d ca i ali m 12 1• norma (prevenção g ral positiva, m contradição com a corr lação
Essa cone pção mo ra o igni6cad de n ervação de reprodu- sistema penal/mercado de trabalho) constitu m r tórica ncobridora
çã ial aliz p 1 programa desigual e seletivo do Dir ito Penal, das funções reais da pena criminal, de garantia da desigualdade social
cujas sanções estigmatizantes r i am dupl · unção: de um lado, a fun- e da opressão de classe fundada na relação capital/trabalho assalariado
ção política d garantir r produzir a cala ial vertical, como função das sociedad s cont mporân as.
r al da id ologia p nal; d outro lado a função ideológica d encobrir/
4. Por isso, a função de retribuição equivalente do crim , fundada no
imunizar co1nportamento dano o das elit d od r econômic e
valor de trocam dido p lo tempo (a) d rrabalh i 1n ári n
político da sociedade, como funçã ilu ' ria da id l gia p nal 122 • economia, e (b) de liberdade pessoal suprimida no Direito, legiti-
2. esse contexto, a desigualdade do Dir ito Penal exprime a relação ma a pena segundo a 16gica do capital, manifestada na ideologia
dos mecanismos seletivos do pr e d ri in ali ção com a leis de qu institui r produz ssa r lação ocial desigual - não, por / m,
desenvolvimento histórico da formação conômica capitalista: a) ao segundo a lógica do trabalho assalariado, cuja id ologia conhec
nív 1da criminalização primária, a id ologia da prot ção d b ns jurí- ( d nuncia) a função r ai d garantia da d sigualdad social x cu-
dicos oculta a realidad da prot ção sel tiva de inter sses privilégios da p 1 p na rimin 1- produtora d um Dir ito P nal d igual,
das class s sociais h g mônicas, m duas dir çóes: criminalização d como programa de criminalização seletiva de marginalizados sociais
comportamento tí ico das elas e o iai · ubaltern (e pecialmence do mercado d trabalho, ori ntado por indicadores sociais negativos
1narginalizados sociais) xdusão dos compor am n ialm n (pobreza, d s mprego, subsocialização etc.) qu ativa1n estereótipos,
danosos das classes h g mônicas da for maçã , ial · ) ao nível da cri- preconc itos, idiossincrasias p ssoais e todo o sist ma ideológico dos
minaliZAÇáOsecundária, a posição social do acusado repres nta a variável agentes d controle social, excluindo ou reduzindo a função d critério
decisiva do proc o p nal tamb ' rn m duas dir çõ s: cone ntração da de racionalidade atribuída à dogmática penal 124 •
criminalização nos marginalizados ociais no SL bproletariado - com a 5. Então, por qu faz r dogmática p nal? A dogmática / um sist -
posição precária no mercad d cr balh (d cupação, subocupação e ma d conceitos d duzido do sist ma jurídico positivo, portanto,
12 1 Ver ARATTA, Criminologia crítica e crítica do direito penal, 1999, 2ª edição, p. 161; 123 B TTA, Criminologia crítica e crítica do direito p enal, 1999, 2ª edição, p. 165- 167.
amb ·m, B , K riminologie, 1999, p. 44-45. 124 Nesse sentido, ZAFFARONI/BATIST / AGIA/ LOKAR D ir:eíto p enal brasileiro,
122 B TTA, Criminologia crítica e crítica do direito penal, 1999, 2ª edição, p. 167. 2003, p. 44 s.
Capítulo 16 465
fo rça de trabalho, como a família, a escola, a Igr ja, os sindicatos, os 1 gislador, rimin liz ção seletiva de sujeitos com indicadores sociais
meios de comunicação etc. 9. negativos e, finalmente, a prisão como instituição n ral d controle
social formal da sociedade capitalista.
im, d poi d Punishment and social structure, d RUSCHE
e KIRCHHEIMERIO, que descobre a relação mercado de trabalho!
prisão na gên s histórica da soei dad capitalista; d pois de Vigiar e
Punir, de FOUCAULT 11, que mostra a disciplina como mecanismo II A relação cárcere/fábrica
de poder na produção de suj itos dóceis e úteis na economia e no con-
tr l o ial· d i Cárcere efáb rica, d MELOSSI PAVARI 112 ,
A p risão, aparelho de privação de liberdade do sistema de control
qu descobr a raízes da disciplina na contradição capital/trabalho
o ial afáb rica, apar lho d produção conômica da strutura social,
assalariado materializada nas r laçõ s de produção da fábrica; enfim,
são as instituiçõ s básicas das soei dad s capitalistas contemporâneas 15,
depois d Criminologia crítica e crítica do direito penal, d BARAT-
m refação d d p ndência r cíproca: as r lações de produção mat riais,
TA13, qu d monstra a função d reprodução social do sist ma p nal
fundadas nas paração trabalhador/ 1n ios d produção, a disciplina
unifica as contribuições críticas em uma concepção de política criminal
do trabalho na fábrica, organizada com objetivo de lucro, dependem
alternativa fundada na ampliação da d mocracia r al na r dução
dir tam nt da prisão, principal instituição d control social; in-
do pod r p nal - d pois d ss s mom n tos decisivos da história do
versam nt , os fins r tributivos e pr ventivos da prisão garantem as
Dir ito P nal da Critninologia, não ' 1nais possív l explicar a prisão
r lações sociais baseadas na contradição capital/trabalho assalariado,
pela ideologia p nal, expr ssa no discurso oficial da retribuição, da
nquanto o m ' todo punitivo da prisão obj tiva transformar o sujeito
prevençã pecial d p evenção geral do crime 14; igualmente, não é
real (cond nado) m suj ito ideal (trabalhador), adaptado a dis iplina
1nais possív 1 pU a p n rim'nal p l, m p rtamento criminoso,
do trabalho na fábrica, principal instituição da strutura dai 16 • A
porqu exprime a criminalização seletiva de marginalizados sociais,
corr lação fáb rica/cárcere - ou, d 1nodo 1nais geral, a corr lação ca-
xcluídos dos pro o d trabalho d on un10 so ial r alizada p lo
pital (estrutura social) e prisão (controle social) - é a matriz histórica
sist ma de justiça riminal (p líc'a, ju tiça prisão); nfim, tamb ' m
d ocied de capitali ta 17 , qu xplica o apar cim nto do apar lho
não ' pos ív l xplicar o crim p la simpl s l são d b ns jurídicos,
carc rário na prim iras soei dad s industriais (Holanda, Inglat rra,
porque exprime a proteção seletiva de valores do sistema de pod r
Estados Unidos e Franç ) l 'm de pli r o ·g d cadên ia
conô1nico político da fonnação social. Ao contrário, som nt a
dos múltiplos sist mas d xploração da força d trabalho carc rária.
lógica contraditória da r lação social fundam ntal capital/trabalho
assalariado pod explicar a proteção sel tiva de b ns jurídicos p lo
III A origem da penitenciária tinental2 2 : o 1nodelo de Rasphuis - cujo nome provém da ação de
raspar madeira (reduzir o pau-brasil, proveniente de nosso País, a pó
de serragem) para produzir tintura -, institui o trabalho obrigatório
Ar lação capital/trabalho assalariado é a clave para compr ender
como m 'todo pedagógico para reconstruir o homo oeconomicus, com
a instituição carcerária: xpropriados dos m ios d produção xpulsos
duas xigências: a) xclusão de penas breves, pela apr ndizagem insu-
do campo - o violento processo de acumulação p rimitiva d apital n
ficient ; b) exclusão d penas perpétuas, pelo d sinter sse de aprend r
séculos 15 e 16 -, os camponeses se concentram nas cidades, onde a
- inaugurando as teorias da p revenção especial, cujo obj tivo de corr ção
insufici nt absorção d mão d obra p la manufatura a inadaptação
determina a duração das penas criminais 23 .
à di ciplina do trabalho as alariado originam a ormação de massas
de d socupados urbanos 18 • Essa massa d d socupados forçados , con- O desenvolvimento de formações sociais capitalistas multiplica
v rtida numa população d m ndigos, vagabundos, ladrõ s outro o modelo de Rasphuis na Europa, mas os modelos clássicos de prisão
delinquentes dos centros urbanos - um produto de determinaçõ s om nt surgirão nos Estados Unid da Am ' rica, rm çã ial
struturais interpr tado co1no expressão d atitud s individuais d - capitalista 1nais desenvolvida da modernidade: o modelo de Filadélfia,
feituosas 19 - é tangida para as workhouses, uma inv nção do século 16 instituído na famosa prisão de Walnut Street (1790) e o modelo de
para resolver problemas d exclusão social do capitalismo ascendente: Auburn, m w York (1819) 24. A instituição penitenciária mod r-
casas de trabalho forçado d ca1npones s expropriados dos 1neios d na caracteriza-se por dois aspectos principais: economia de custos
subsistência material, com a finalidade de disciplina e adequação trabalho carcerário. A strutura arquitetônica do stabel cün nto
pessoal para o trabalho assalariado. A p nitenciária moderna começa penit nciário adota o modelo panótico, o dispositivo id al do pod r
nas workhouses, instituiçôe de • baJho forçado do período de germi- disciplinar, constituído de torre central e anel periférico, com distribui-
nação do capitalismo - carent de mão de obra disposta ao trabalho ção dos corpos confonne exigências de separação e visibilidade, que
assalariado 20 - , criadas para a tarefa de disciplina da força de trabalho reduzem a força política e aumentam a força útil dos condenados25 .
da manufatura , d poi , da indú tria, reforçando o pap l da família, A prisão, apar lho d punição por privação d lib rdad caract rístico
da escola e de outras instituiçõ s sociais 21 • d i d d capitali t ia- n prin ípi d menor elegibilida-
de para d s timular comportam ntos criminosos: o nív l d vida da
A estrutura celular de Rasphuis, casa de trabalho forçado fundada
prisão dev estar abaixo do nív I de vida da classe trabalhadora mais
em Arnsterdam, no início do século 17, s ria o mod lo d apar lho
int rior da população livr 26 .
carcerário para disciplina da força de r balh ci a da uropa con-
22 MELO I/PAVARINI, Cárcel y fábrica {los orígenes del sistema penitenciario), 1980,
p. 32-33.
23 FOU AULT, Vigiar e punir, 1977, p. 107.
18 MELO 1/PAVARI I Cárcel y fabrica (los orígenes del sistema penitenciario), 1980, 24 FOU AULT, Vigiar e punir, 1977, p . 107 e 11 0; MELO SI/PAVARlN l, Cárcel y
p. 29-30. fábrica (los orígenes del sistema penitenciario), 1980, p. 179.
19 MARX, O Capital, 2005, 20ª edição, Livro 1, v. 2, p. 848; ver MELOSSI/PAVARI I, 25 FOU AULT, Vigiar e punir, p. 17 -199; mparar lRI OS, D ireito
Cárcel y fábrica (los orígenes del sistema penitenciario), 1980, p. 31. penal: a nova parte geral, 1985, p. 279.
20 MELO 1/PAVARI I, Cárcel y fabrica {los orígenes del sistema penitenciario), 1980, 26 RUS HE/KIR HHEIMER, Punishment and social structure, 2003, p. 108: "The
p. 165-1 66. upp er margin for the maintenance of the prisoners was thus determined by de necessity of
21 MELO 1/PAVARl 1, Cárcel y fabrica (los orígenes del sistema penitenâario), 1980, keeping the prisoners, living standard below the living standard of the lowest classes ofthe
p. 36-43 . Jree population. "
Na sociedade de produção de mercadorias, a reprodução am- tivo, de pequeno capital fixo e r duzida produtividade 29 .
pliada do capita] pela expropriação de mais-valia da força de traba-
O prindpai i r m d u balh carc rári d modelo de Filadélfia,
]ho - a energia produtiva capaz de produzir va]or superior ao seu
m qu o Estado organiza controla os proc ssos produtivos e xerc
va]or d troca (salário) - xig o control da dass trabalhadora: na o poder disciplinar na instituição carc rária, são os s guintes 30 :
fábrica, a coação das nec ssidad s conômicas subm te a força d
trabalho à autoridade do capitalista; fora da fábrica, os trabalhador s a) o state-use, com mpr goda força d trabalho na produção d
marginalizados do m reado d trabalho - a chamada superpopulação manufaturas na prisão, consumidas p la própria administração peni-
relativa, sem função direta na reprodução do capital, mas necessária t nciária e estatal, com produtividad r <luzida em relação ao mercado
livre, mas sem oposição de sindicatos ou moralistas - na v rdad , o
para mant r os salários m nív i ad quad à máxima val rização do
istema hoj e pr dominant d trabalho rcerário na Am ' rica Latina;
capital-, são controlados pelo cárcere, que funciona como instituição
auxiliar da fábrica 27 . Logo, a disciplina como política d co rção do b) o public work, m qu a força de trabalho ' mpregada m
apar lho carcerário para produzir sujeitos dóceis e úteis, na formulação obra públicas, na construção d stradas, fc rrovias, prisõ s te., com
de FOUCAULT, descobr suas determinaçõ s materiais na relação v ncual po ição de sindicatos pela concorr"ncia no m reado d
capital/trabalho assalariado, porqu xist como ad stratn nto da força trabalho livre;
de trabalho parar produzir o capital , portanto, como fenôm no d e) o public account, em que o sistema carcerário se converte
economia política, na definição de MELOSSI/PAV: l2 8 • m empr sa pública: o Estado compra a mat 'ria-prima, organiza os
proc ssos produtivos e v nde os produtos a preços competitivos no
m reado, com todas as vanrag n d trabalh rc rário - mas os
reduzidos custos d produção, determinados por salários inferior s
IV. O modelo filadelfiano de penitenciária pela aus "ncia d tributos d s stimulam a concorr "ncia xt rna
geram a oposição de entidad s sociais, sindicatos partidos políticos.
O modelo filadelfiano de instituição penitenciária do final do Mas o modelo de Filadélfia entra em decadência na era da indus-
s 'cu]o 18, inspirado na concepção r ligiosa Quaker, foi a alt rnativa trialização, pois a soei dad industrial xig u1na política de control
para o trabalho carc rário no p ríodo da produção manufatur ira: bas ada no trabalho p rodutivo do ncarc rado. O trabalho isolado m
de um fado, o panótico de Bentham, como arquitetura disciplinar da e la individuais, justificado como in trum nto t rap "utico, imp d
instituição p nal; d outro, o confinamento m celas individuais para o trabalho coletivo n cessá.rio par.a indu trializa.r a pri ão, com duas
oração tr balh como nova pedagogia da corr ção. fund nalidad consequências negativas: é antieconômico e priva o mercado de força
do panótico pai·a instituiçõ s de contro]e - logo também para scolas, de trabalho útil3 1 •
hospitais e fábricas - e a redução de custos ad1ninistrativos explica a
rápida difusão do modelo filadelfiano d prisão no capitalismo primi-
29 MELO I/PAVARI I, Cárcel y fábrica {los orígenes del sistema penitenciario), 1980,
p. 167-169.
30 Ver MELOS I/PAVARI I, Cárcel y fábrica (los orígenes del sistema penitenciaria),
27 MELO 1/PAV: RI I Cárcel y fábrica (los orígenes del sistema penitenciario), 1980, p. 1980, p. 176- 177.
66-70. 31 MELO I/PAVARI 1, Cárcel y fábrica {los orígenes del sistema penitenciario), 1980,
28 MELO SI/PAVARI I, Cárcely fábrica (los or!genes dei sist-ema penitenciaria), 1980, p. 70. p. 170-172.
34 MELO I/ PAV RI T Cárcel y fabrica (los orígenes del sistema penitenciario), 1980,
p. 177-1 78.
32 MELO 1/PAVARI I Cárcel y fábrica (los orígenes del sistema penitenciario) , 1980, p. 35 MELO SI/PAV. I, Cárcelyfdbrica(losorigene. delsistemo.penitmciario), 1980,p.179.
172-173. 36 WA QU , A ascensão do Estado penal nos EUA. Discursos sediciosos (crime, direito
33 MELO SI/PAVARI I, Cárcelyfdbricn(losorígenesdelsistemapenitenciario), 1980,p. 179. e sociedade) , 2002, n. 11, p. 30.
vi 1 ntos m UJ D.to id ai clis iplinado m câ.ni os37 . Em outras como força de trabalho cativa40 .
palavra , o criminoso encarcerado representa o não proprietário encarcera-
A qu stão da xploraçã d tr alh carc rário por empresas
do, mostrando o cárcere como instituição coercitiva para transformar o
privadas parec clara: n nhuma mpresa privada é constituída com
criminoso não proprietário no proletário não perigoso, aqu 1 sujeito de fins humanitários, mas com objetivos de lucro. Existe uma contradição
necessidades reais ad pcad cli ·plina d cr alh as lari d 38 ntre prisão pública e empresa p rivada: todos os sist mas d xploração
capitalista do trabalho carcerário produzem mudanças nos programas
de educação e disciplina da prisão, cancelando os parâmetros legais de
VI Indústria do encarceramento: atualidade e x cução p nal. A prioridad do trabalho produtivo origina pressõ s
sobr o Poder Judiciário para aplicação d penas longas e introduz
perspectivas critérios econômicos para decisõ s judiciais sobre livram nto con-
Ar construção histórica do sistema p nit nciário seus modelos dicional, progressão de regim s, comutação ou redução de penas
outros direitos do preso. Resumindo, a prisão, instituição d control
de xploração da força de trabalho carcerária mostra algumas coisas
importantes: a) o fracasso da penitenciária como célula p rodutiva no social, não pode se transfonnar e1n e1npresa, instituição econômica
da strutura o ial.
modelo da fábrica: a prisão pode propor-se, segundo a ideologia oficial,
como mecanis1no de produção de sujeitos ideais, mas não é um aparelho Mas o desastr histórico da exploração privada do trabalho car-
de produção de 1nercadorias; b) a relação xist nt ntre os modelos cerário não xtinguiu projetos mpr sariais d valorização ac l rada
de trabalho na prisão e o nível d d senvolvimento dos proc ssos d do capital, aprov itando a chanc de extrair gordas taxas de m ais-valia
produção econômica do mercado livre: a manufatura produziu o con- da força de trabalho concentrada nas prisões, repetindo o mesmo dis-
finam nto solitário do m odelo de Filadélfia, r pr s ntado p lo public cur o utilitário para ncobrir o obj tivo r al d lucro p uro impl .
account; a indústria engendrou o trabalho m comum do modelo de
N cualid d a p líti am ricana
criminalização da pobreza,
Auburn, r pr s n tado p lo contract p lo leasing39 •
determinada p lo desmonte do estado social e sua substituição pro-
Os extremos do emprego da força de trabalho carcerária podem gressiva pelo estado penal, quintuplicou a população carcerária daquele
s r assim definidos: a) os sistemas de organização e disciplina do tra- país no período de vinte anos: de 500 mil presos em 1980 para 2,5
balho carcerário p la administração penitenciária caracterizam-se por milhões de presos m 2000, aproximadam nt 41 • Por outro lado, o
produtividade reduzida, mas preservam a força de trabalho encarce- leitorado americano, em geral entusiasmado com programas oficiais
rada - ou seja, os presos continuam seres hu1nanos; b) os sistemas de de "guerra contra o crüne" - e apesar de não encarar com simpatia os
organização e disciplina do trabalho carcerário pelo empr sário privado custos carcerários da cresc nte criminaliz ação da pobreza no país, que
aumentam a mais-valia p lo incremento da produtividad , com des- exigem a construção de uma nova prisão com 1.000 vagas a cada 6
truição dos s r s humanos ncarc rados - os pr sos são red finidos dias -, ignorou o fracasso histórico da exploração lucrativa do traba-
lho carc rário, , paradoxalm nt parece apoiar o programa oficial
37 M ELO 1/PAV: I, Cárcel y fabrica (los orígenes del sistema penitenciario), 1980,
p. 188-1 90. 40 O S, D ireito penal: a nova parte geral, 1985, p. 283 .
38 MELO SI/PAV. RI I, Cárcelyfiibrim (losorigeneulelsisternapmitenâario), 1980, p. 232. 41 WA QUANT, A ascensão do Estado penal nos EUA . D iscursos sediciosos (crime, direito
39 MELO SI/PAVARI I, Cárcelyfdbricn (los orígenes de/sistema penitenciario), 1980, p. 179. e sociedade), 2002, n. 11, p. 14.
de p risões/empresas, retomado m 1983 por novo conluio de governo VII A privatização de presídios no Brasil
e empresários americanos. Desde então, a indústria do encarceramento
privado cresceu de 3.100 presos em 1987 para 85.000 presos em 1996 1. A Lei 7.210/84 (Lei d Ex cução Penal) de.fine o rabalho do nd -
( m 25 dos 50 estados am ricanos), atingindo 276.000 pr sos em nado como dever social condição de dignidade humana (art. 28 §§,
2001, nos EUA42 . Atualment , as mpr sas desse r cuperado ramo LEP), r alizado sob gerência de funda ão ou empresa pública com o
do mercado trabalham no sist ma d full-scale management - ou objetivo de formação profissional do condenado (art. 34, LEP) - o qu
s ja, de gestão total do estab 1 cimento penit nciário - e, amplian- parece excluir a privatização do trabalho carc rário, porque se a gerência
do a área de reprodução do capital, con troem as próprias prisõ s, do trabalho carcerário é exclusividad d Jundaçáo ou empresa pública
a x mplo das 1npr sas privadas Correction Corporation of America stá condicionado ao objetivo d formação profissional do condenado,
(com 68 prisões e 50 mil presos) e a Wackenhut (com 32 prisões e n tão nem empresários privados pod m gerenciar o trabalho carc rário,
22 mil pr sos) 43 - aliás, ambas cotada no índic ASDAQ da Bolsa n m a força d trabalho encare rada pode ser obj to d exploração
de Valores americana. Tamb 'm a Inglaterra, hoj d cidida imitadora lucrativa por mpr sas privadas. Ess r gim pr val e u at' d z mbro
das práticas políticas p nais americanas, aderiu às prisões com fins d 2003, quando a Lei 10.792/03 acrescentou o atual§ 2° do art. 34
lucrativos, com quatro p nit nciárias privadas m funcionam nto da L i d Ex cução P nal, que admite conv"nios do pod r público
muitas outras m construção 44 • com a iniciativa privada para implantação de oficinas de trabalho em
Em su1na, o d n1ont do estado social produziu o estado penal instituições penais, p rmitindo a privatização d pr sídios no Brasil.
e m a criminaliz ção da pobr za e o indet ctív 1sist ma de full-scale Não obstante, o Pod r Público brasileiro se ant cipou à mu-
management das prisões, nos EUA e na Inglaterra. E o mais inquie- dança da legislação para implantar o sistema de prisões privadas no
tante: a relação cárcere/fábrica de MELOSSI/PAVARI I voluiu para País, m diant terceirizaçáo dos processos produtivos da disciplina
a simbiose fábrica/cárcere, m qu a fábrica é construída sob a forma carc rária, ao inaugurar a Penitenciária Industrial de Guarapuava, no
d cárc r , ou inversam nt , o cárc re assum a forma da fábrica, E tado do Paraná, m 12 d nov mbro d 1999, com capacidad para
configurando o id al d xploração capitalista do trabalho humano, 240 (duzentos e quarenta) cond nadas em r gime fechado, assiln
qu r aliza o trágico vaticínio d PAVARI I. detidos dev m r struturada: a) a exploração da força de trabalho encarcerada ' atri-
trabalhadores; os trabalhadores dev m ser d tidos45 . buída a mpr sa privada da ár a conô1nica; b) as gurança int rna da
prisão é atribuída a mpr sa privada da ár a d segurança; c) ap nas
a dir ção a fiscalização da s gurança é x reida por funcionários
públicos estaduais. Atualm nt · t m 12 p nit n iária p ivatizadas
no Brasil, assim distribuídas: 6 penit nciárias no Paraná, 3 no Ceará,
2 no Amazonas e 1 na Bahia.
42 WA QU T A ascensão do Estado penal nos EUA. D iscursos sediciosos (crime, direito 2. Entr tanto, a possibilidad d convênio com capitais privados para
e sociedade), 2002, n. 11, p. 30.
43 WACQU T, A ascensão do Estado penal nos EUA. Discursos sediciosos (crime, direito implantar oficinas de trabalho em instituições penai (art. 34, § 2°,
e sociedade), 2002, n. 11, p. 30-31. LEP) não inclui a terceirimçáo da disciplina carc rária, porqu o pod r
44 WA QU T, A tentação penal na Europa. Discursos sediciosos (crime, direito e
sociedade), 2002, n. 11, p. 9. disciplinar no sistema penit nciário continua monopólio xclusivo do
45 MELOSSI/PAVARINI, Cárcel y fabrica (los orígenes dei sistema penitendario), 1980, p. 232.
Estado: no caso de faltas disciplinares médias ou leves, a l i atribui o nutenção das funçõ s d direção e d coordenação do sistema penal
poder disciplinar à autoridade administrativa da prisão - ou seja, ao - assim como do poder de polícia na prisão - nas mãos do Estado
Poder Executivo (art. 47, LEP); no caso de faltas disciplinares graves, a parece indispensável para estabelecer limites à exploração predatória
l i atribui o poder de aplicar d terminadas sançõ s ao juiz da execução da força d trabalho carc rária por mpr sas privadas.
penal - ou seja, ao Pod r Judiciário (art. 48, parágrafo único, LEP).
Logo, sistemas de trabalho carcerário que submetam a força de
trabalho ncarcerada ao poder disciplinar de qualquer outra autoridad
difc r nt do Estado - por x mplo, mpr as privadas d s gurança
prisional - são il gai . Além disso, a própria privatização do traba-
lho carc rário por convênio com empresas privadas parec infringir
o princípio constitucional da dignidade da pessoa humana (art. 1°,
CR), por u1na razão !ementar: a força d balh , n arcerada não
tem o direito de rescindir o contrato de trabalho, ou seja, não possui
a única lib rdad r al do trabalhador na r lação d mpr go , por
isso, a compulsória subordinação de ser s humanos ncarc rados a
empr sários privados não r presenta, ap nas, simpl s dominação do
homem pelo homem, mas a própria instituciona.liz ção do trabalho
escravo na prisão, como a história da ascensão, queda e ressurreição
da privatização de presídios demonstra. e o programa de retribuição
de prevenção do crime •' d tinido p lo Estado na aplicação da p na
criminal p lo Pod r Judiciário (art. 59, CP), então a r alização d ss
programa polí rico-criminal constitui d ver ind l gável do Pod r
Ex cutivo, vinculado ao objetivo d · harmônica integração social do
condenado (art. 1°, LEP), com exclusão de toda qualquer fonna d
privatização da x cuçã penal.
Os problemas da privatização do sistema penal, permitida pelo
art. 34, § 2° da LEP, parec m ter sensibilizado o L gislador, que atrav' s
da L i n. 13.190/ 15, introduziu o art. 83-B na LEP, tornando inde-
legáveis as funções de direção, chefia e coordenação do sistema penal,
assim como todas atividad s de poder de polícia r !acionadas à prisão,
m sp cial (a) classificação d cond nados, (6) aplicação d sançõ s
disciplinar s, (c) controle d r b liõ s (d) transport de presos para
órgãos do Poder Judiciário, hospitais e outros locais ext rnos. A ma-
cumulativa ou alternativa à p rivação d liberdade; por exceção, Art. 33. A pena de reclusão deve ser cumprida em
podem s r aplicadas em carát r substitutivo das penas privativas de regime fechado, semiaberto ou aberto. A de detenção,
liberdade (art. 60, § 2°, P). em regime semiaberto, ou aberto, salvo necessidade de
transferência a regime fechado.
Vt-s qu a pena privativa de liberdade é o e ntro d gravidad
da política p nal brasil ira3; as p nas restritivas de direitos r pr s ntam 2. A xecução da p na privativa d liberdade, sob forma de reclusão
a assimilação parcial de críticas à prisão, como a violência, a corrupção ou d detenção, nos r gim s t chado, miab no ou ab no, xig d -
a d gradação pessoal moral do preso, sint tizadas no cone ito d finição dos regimes de execução das formas d progressão d regressão
prisionalização 4 . ntr os regimes de execução, instituído p la Lei d Execução P nal
(L i?.210/84),qu implantouonovomodelojurisdicionalde x cução
p nal no BrasiF.
Art. 33, § 1º· Considera-se:
II. Penas criminais
a) regime fechado a execução da pena em estabeleci-
mento de segurança máxima ou média;
1. Penas privativas de liberdade
b) regime semiaberto a execução da pena em colônia
agrícola, industrial ou estabelecimento similar;
1. A pena privativa d lib rdad ' a espinha dorsal do sist 1na p nal5,
exist nte nas formas d reclusão e d detenção. A dif◄ rença principal ntr c) regime aberto a execução da pena em casa de alber-
reclusão detenção r t r -se aos r gim s de x cução: a pena de reclusão, gado ou estabelecimento adequado.
cominada m crim s mais graves, ' xecutada nos r gim s t chado, Tran sitada m julgado as nt nça criminal cond natória xp -
s miab no ab rto; a p na d detenção, cominada em crime m nos dida a guia de recolhimento (art. 105-7, LEP), o cond nado à privação
grav s, ' x cutada nos r gim s s 1niab no ab no - o r gim t chado de liberdade é submetido ao regime inicial de execução, fixado provi-
' xc ção d t rminada p la n e ssidad (art. 33, caput, CP). Dif. r nças soria1nente na sentença judicial (art. 33, § 3°, CP, e art. 110, LEP).
s cundárias, agora abolida p la Lei 10.2 16/2001, s riam as seguintes:
em crimes d reclusão, a m dida d s gurança aplicáv l s ria a de in-
ternação m hospital d custódia tratam nto psiquiátrico; m crim s 1.1. Regimes de execução
de detenção, s ria a d tratamento ambulatorial. Além disso, m crim s
d reclusão, a fiança so1n nte pod s r cone dida p lo juiz; m critn s
1.1.1. Progressão e regressão de regimes
d detenção, pod s r cone dida tamb 'm p la autoridad policial te. 6 •
privativa d lib rdad , segundo duas variáv is: o m ' rito do condenado carcerário comprovado p lo Diretor do estab lecimento (art. 112,
e o tempo de execução da pena (art. 33, §§ 2°, 3° e 4°, CP). O regime LEP), mediante decisão judicial motivada precedida de manifestação
inicial de execução da pena privativa de liberdade é determinado na do Ministério Público e da D efesa (art. 112, § 1°, LEP).
s nt nça criminal cond natória (art. 59, III, CP): o r gim fechado § 1°. A decisão será sempre motivada e precedida de
dep nde exclusivam ent da quantidade da p na aplicada; o regim manifestação do Ministério Público e do defensor.
semiaberto o r gime aberto dep nd m da quantidade da p na aplicada
e da p rimariedade do condenado 8 • A r gra da progressividade fundada no tempo de execução no
comportamento do condenado admit mudanças m relação aos con-
Art. 33, § 2°. As penas privativas de liberdade de- d nado por crim s contra a administração pública (art. 33, § 4°,
verão ser executadas em forma progressiva, segundo o
CP), e por crim s h diondos quiparados (art. 2º, da Lei 8.072/90).
mérito do condenado, observados os seguintes critérios
Em crimes contra a ad1ninistração pública, a progressão de regiln
e ressalvadas as hipóteses de transferência a regime mais
d p nd da condição co1npl m ntar de r paração do dano ou d
rigoroso.
devolução do produto do criin .
a) o condenado a pena superior a 8 (oito) anos deverá
Art. 33, § 4°. O condenado por crime contra a ad-
começar a cumpri-la em regime fechado;
ministração pública terá a progressão de regime do
b) o condenado não reincidente, cuja pena seja superior cumprimento da pena condicionada à reparação do
a 4 (quatro) anos e não exceda a 8 (oito), poderá, desde dano que causou, ou à devolução do p roduto do ilícito
o princípio, cumpri-la em regime semiaberto; praticado, com os acréscimos legais.
c) o condenado não reincidente, cuja pena seja igual Em crimes hediondos e quiparados 9 (tortura, tráfico ilícito de
ou inferior a 4 (quatro) anos, poderá, desde o início, drogas e terrorismo), a progressão de regim e pressupõe o cu1nprimento
cumpri-la em regime aberto; de 2/5 da pena para o condenado primário, de 3/5 da p na para o
§ 3°. A determinação do regime inicial de cumprimento condenador incident (art. 2°, § 1°, da Lei 8.072/90) - ainda uma
da pena for-se-á com observância dos critérios previstos violação do princípio constitucional de igualdad e p rant a l i (art.
no art. 59 deste Código. 5°, I, CR), porqu r pr s nta discriminação fundada no tipo d autor.
2. O movim nto de progressão ou de regressão do pre o nos regimes 2.2. A regressão o r torno do pr so parar güne ant rior d 1naior rigor
I
de execução pr ssupõ v rificação d condições específicas e dep nd d punitivo, pode ocorr r nas hipó teses (a) d prática d fato d finido
decisão judicial motivada, pr c dida de manit stação do Minist 'rio como crim doloso ou de falta grave, e (b) d nova pena por crim
Público da D t sa. ant rior, cuja soma d t nnin incompatibilidad com o r gim atual
(art. 118, I II, § § 1° 2 °, LEP) .
2.1. A p rogressão r pr s nta a passag m do pr so d r gim d maior
rigor parar gim d m enor rigor p unitivo, após cumprim nto mínimo
de 1/6 (um sexto) da pena no r gime ant rior bom comportam nto
9 Em 23 d fi vereiro de 2 ,o PRE RIB RAL reconheceu a
inconstitucionalidade da proibição d progressão de regim es cm crimes hediondos
8 Co mparar BITE OURT, Tratado de direito penal, 2003, 8ª edição, p. 422-423 . (H 82.959, Rei. Min. MARCO A RELI ).
Art. 118, LEP. A execução da pena privativa de liber- como variáv l qualitativa (art. 33, § 2°, CP); b) r forçam a justificação
dade ficará sujeita à forma regressiva, com a transferên- da privação de liberdade sob o argumento de maior adequação aos
cia para qualquer dos regimes mais rigorosos, quando objetivos preventivo da pena criminal; e) finalmente, revalorizam a
o condenado: atividad judicial, vinculando o r gim inicial d ex cução às nt n-
I - praticar fato definido como crime doloso ou falta ça criminal cond natória, rigida em prognóstico d ressocialização
grave; (art. 33, § 3°, CP).
II - sofrer condenação, por crime anterior, cuja pena,
somada ao restante da pena em execução, torne incabível 1.1.2. Espécies de regime
o regime (art. 111).
§ 1°. O condenado será transferido do regime aberto
a) Regime fechado. O r gim fechado d x cução da p na privativa
se, além das hipóteses referidas nos incisos anteriores,
d liberdad ' o mais rigoroso: cumprido m • stab lecimento d
frustrar os fins da execução ou não pagar, podendo, a
segurança máxima ou m 'dia, d stina-se aos cond nadas a penas su-
multa cumulativamente imposta.
P rior s a 8 anos (art. 33, § 2°, a, CP), s caract riza pelo trabalho
§ 2°. Nas hipóteses do inciso I e do parágrafo anterior, comum int rno (r gra) ou m obras públicas xt rnas durante o dia
deverá ser ouvido, previamente, o condenado. ( xc ção), pelo isolam nto durant o r pouso noturno (art. 34,
É funda1n ntal selar c r duas coisas: primeiro, a falta de pa- §§ 1°, 2° e 3°, CP).
gam nto da multa cumulativa (art. 118, § 1°, LEP) não d t rmina Art. 34. O condenado será submetido, no início do
regr ssão de regime, mas resolve-se m dívida de valor, regida p las cumprimento da pena, a exame criminológico de clas-
normas da dívida ativa da Fazenda Pública (art. 51, CP, co1n a redação sificação para individualização da execução.
da Lei 9 .268/96); segundo, s a progressão de r gim exig d cisão § 1°. O condenado fica sujeito a trabalho no período
judicial motivada, pr e dida d manifestação do Minist 'rio Público diurno e a isolamento durante o repouso noturno.
da D fesa (art. 112, § 1°, LEP), então - com maior razão - a
§ 2°. O trabalho será em comum dentro do estabele-
regressão d r gim tamb 'm d v r d t rminada por d ci ão judi-
cial motivada, com prévia 1nanifestação do Ministério Público e da cimento, na conformidade das aptidões ou ocupações
anteriores do condenado, desde que compatíveis com a
D t sa, s ndo insufici nt a simpl s audi "ncia do cond nado (art.
execução da pena.
118, § 2°, LEP, acima) 10 •
§ 3°. O trabalho externo é admissível, no regime fecha-
Vt -s qu os r gim s d x cução das p nas privativas d lib r-
do, em serviços ou obras públicas.
dad fora1n cone bidos para cu1nprir várias funçõ s: a) condicionam
ar cup ração d cotas de lib rdad suprimida, s gundo duas variáv is: Ar alidad carcerária do regime fechado constitui n gação abso-
o tempo de prisão como variáv l quantitativa o esforço do condenado luta do programa do legislador: o trabalho interno comum é privilégio
de poucos cond nadas, o trabalho xterno em serviços ou obras públicas
10
esse sentido, decisão do SU P~~~.~R RlBUNAL DE JU T I A (H 37. 164/ ,
' raríssimo o isolamento durant o r pouso noturno ' xcluído p la
6ª Turma, DJ 22/1 1/2004), Rei. Min. N ILSON NAVES.
superpopulação carcerária 11 • liberdade restringida durant a noite e dias de folga, m ediant recolhi-
b) Regime semiaberto. O r gim semiaberto d x cução da p na m ento em casa de albergado - ou na própria residência do condenado
(art. 36, § 1°, CP) 12 • A penni são de recolhimento noturno e nos
privativa de lib rdad possui rigor int rm diário, ntre os r gim s
t chado aberto: cumprido em colônia agrícola, industrial ou similar dias d folga na própria casa do condenado aparec como alternativa
d stina-s , imediatamente, aos cond nados primários a p nas priva- prática, n c ssária e justa para vitar os b itos nocivos da prisão sobr
tivas de liberdad superiores a 4 e infl riores a 8 anos, e, mediatamente, a personalidad do pr so, m fac da aus "ncia gen ralizada d casas
aos condenados subm tidos ao regim t chado (art. 33, § 2°, b, CP), de albergado no Brasil.
p lo crit ' rio d progr ssividad dos r gim s d x cução. O r gün Art. 36. O regime aberto baseia-se na autodisciplina
semiaberto caract riza-se p lo trabalho comum interno ou xterno e senso de responsabilidade do condenado.
durante o dia p lo recolhim nto noturno, p rmitindo a frequência § 1°. O condenado deverá, fora do estabelecimento e
a cursos supl tivos profissionalizant s, d instrução d s gundo grau sem vigilância, trabalhar, frequentar curso ou exercer
ou superior (art. 35, §§ 1° 2°, CP). outra atividade autorizada, permanecendo recolhido
Art. 35. Aplica-se a norma do art. 34 deste Código, durante o período noturno e nos dias de folga.
caput, ao condenado que inicie o cumprimento da pena § 2°. O condenado será transferido do regime aberto,
em regime semiaberto. se praticar Jato definido como crime doloso, se frustrar
§ 1°. O condenado fica sujeito a trabalho em comum os fins da execução ou se, podendo, não pagar a multa
durante o período diurno, em colônia agrícola, indus- cumulativamente aplicada.
trial ou estabelecimento similar. O ingr s o no regime aberto pr ssupõ (a) cond nado traba-
§ 2°. O trabalho externo é admissível, bem como a lhando (o u em condições de trabalho ünediato), (6) possibilidade de
frequência a cursos supletivos profissionalizantes, de ajustam nto ao r gim , (c) ac itação do programa das condiçõ s
instrução de segundo grau ou superior. impostas pelo juiz (arts. 113-11 4, LEP). As condiçõ s do regime aberto
pode1n s r especiais (det nninadas p lo juiz) e gerais (obrigatórias),
c) Regime aberto. O r gime aberto de ex cução da pena p rivativa de
qu são as s guint s: a) permanência no local d signado, durant · o
lib rdad é o 1n nos rigoroso: dev s r cumprido m casa de albergado
destina-s , imediatamente, aos cond nados primários a p nas iguais repouso noturno e dias de folga; 6) observância dos horários d saída
de retorno ao estabelecim nto; c) não se ausentar da cidade sem
ou int rior s a 4 (quatro) anos, e, mediatamente, aos condenados
autorização judicial; d) compar cimento m juízo para informar
subm tidos a outros regim s (art. 33, § 2°, c, CP), segundo o crit'rio
justificar atividad s (art. 115, LEP) . Por fim, o condenado pod rá s r
da progr ssividad . O r gime aberto t m por fundam nto a autodis-
transferido dor gime aberto para regime mais rigoroso se (a) praticar
ciplina o s nso d r sponsabilidad do cond nado (art. 36, CP)
fato d finido como crim dolo o, ou (6) frustrar os fin da x cução
caracteriza-s p la lib rdad sem restrições para o trabalho ext rno,
(art. 36, § 2°, CP) - excluída a hipótese de não pagam ento da pena
fr qu "ncia a cursos outras atividad s autorizadas durante o dia pela
d multa cumulativa à privação d lib rdad aplicada por cond nado
11 Ver BITEN OURT, Tratado de direito penal, 2003, 8ª edi ão, p. 423. 12 Comparar BIT ENCOURT, Tratado de direito penal, 2003, 8ª edição, p. 424-425 .
solvente, que agora s convert e1n dívida de valor não em privação ord m ou à disciplina; f) realização dos trabalhos, tarefas e ordens;
de liberdade (art. 51, CP, modificado pela Lei 9 .268/96). g) higiene e asseio pessoal e da cela ou alojamento; h) conservação de
d) Regime especial para mulheres. As mulh r s cumpr m p na pri- objetos de uso pessoal.
vativa de liberdad em estab lecim nto próprio, com dir itos d v r s c) Trabalho do condenado. O trabalho do cond nado (art. 39, CP),
adequados à sua condição p ssoal, aplicando-s as regras g rais dos d finido como dever social condição de dignidade humana, realizado
regimes de execução, na medida de sua compatibilidade (art. 37, CP). com objetivos educativos e produtivos (art. 28, LEP), não é regido
Art. 37. As mulheres cumprem pena em estabelecimento p las normas da CLT, mas a organização e os m 'todos d trabalho
próprio, observando-se os deveres e direitos inerentes ubordinam- às r gra g rai d higi n d s gurança no trabalho.
à sua condição pessoal, bem como, no que couber, o Art. 39. O trabalho do preso será sempre remunerado,
disposto neste Capítulo. sendo-lhe garantidos os benefícios da previdência social.
Art. 28, LEP. O trabalho do condenado) como dever
social e condição de dignidade humana, terá finalidade
1.2. Direitos e deveres do condenado
educativa e produtiva.
d) Remição penal. Ar mição da pena constitui m canismo d re-
a) Direitos do condenado. A 1 i p nal brasileira ass gura ao pr so,
dução parcial do t mpo d x cução da p na privativa d lib rdad ,
formalmente, todos os direitos humanos não atingidos pela privação
m r gim t chado ou miab rto, por trabalho ou por estudo (art.
d lib rdad , sp cialm nt o r sp ito à int gridad física moral do
126, LEP), disciplinada d modo minucioso na 1 gi lação, como s
cond nado (art. 38, CP) - mbora continu im n a a distância ntr
mostra: a) 3 (três) dias de trabalho correspondem a remição de 1
lei e realidade na xecução p nal brasil ira 13 •
(um) dia d p na, nquanto 12 (doz ) horas d fr qu "ncia scolar
Art. 38. O preso conserva todos os direitos não atin- (divididas, no mínimo, m 3 dias) corr pond m à r mição de 1 (um)
gidos p ela perda da liberdade impondo-se a todas as dia d pena (art. 126, § 1°, LEP); b) a atividade d studo admit
autoridades o respeito à sua integridade física e moral. as modalidad s pr sencial d n ino à distância, c rtificadas p la
b) Deveres do condenado. O cond nado ' sub1n tido ao dever autoridad comp tent dos cursos fr quentados (art. 126, § 2°,
geral d ob di "ncia p ssoal às normas de x cução p nal (art. 38, LEP); c) as horas de trabalho e de estudo serão definidas de fonna
LEP), sp cificado nos seguint s deveres particulares (art. 39, LEP): co1npatív 1à sua cumulação (art. 126, § 3°, LEP); d) o b n fício da
a) comportam nto disciplinado; b) cu1nprimento fi 1das nt nça; c) r mição p rsi t na hipótese de acid nt qu imp ça a continuação
ob diência ao servidor público; d) r speito e urbanidad nas r laçõ s do trabalho ou do estudo (art. 126, § 4°, LEP); • ) a conclusão d
com outros condenados ou com qualqu r pessoa; ) oposição p ssoal nsino fundam ntal, m ' dio ou sup rior durant a x cução da p na
a movirn ntos de fuga (individual ou col tiva) ou d subv rsão à detennina o acréscimo d 1/3 (um terço) da pena remida por estudo
(art. 126, § 5°, LEP); f) o cond nado ar gim ab rto ou s miab no
ou em lib rdad condicional pod remir parcialm n t a x cução da
13 Ver CARVALH Pena e garantias, 2003, 2ª ed ição, p. 170; "Muito embora introduzido p na p la fr qu "ncia a curso d nsino r gular ou d ducação pro-
normativamente, não se pode afirmar tenha ocorrido o câmbio esperado no que diz à
concepção doutrinária e jurisprudencial quanto à natureza jurídica da execução penal " fissional (art. 126, § 6°, LEP); g) a prisão caut lar admit aplicação
int gral das normas sobr re1nição da pena (art. 126, § 7°, LEP); 1 gal (art. 28, LEP). Por isso, s o condenado pr tende cumprir o dever
finalm ente, a remição da pena é declarada pelo Juiz da Execução, social de trabalhar, promovendo a própria dignidade humana, então o
ouvido o Ministério Público e a D efesa (art. 126, § 8°, LEP). direito de remir parcialmente a pena privativa de liberdade pelo trabalho
Por outro lado, a prática d falta grave d t rmina r vogação d não pod s r cassado ou d n gado pela administração p nit nciária,
at' 1/3 (um t rço) do t mpo d p na r mido, r co1n çando a conta- sob alegação d inexi tência d trabalho produtivo no estabel cim nto
gem da data da infração disciplinar (art. 127, LEP). O tempo remido penal. N ssa hipót s , par c suficient a comprovação substitutiva d
trabalho artesanal para remição de 1 dia de pena, a cada s quência d
1
computado como p na cumprida, para todos os feitos 1 gais (art.
128, LEP). As autoridad s admini trativa ncaminharão ao Juiz da 3 dias em que o condenado s apres ntar para o trabalho produtivo -
Ex cução cópia do r gistro dos cond nados qu trabalham ou estu- porque a dignidade humana não é simpl s garantia legal, mas um dos
dam, com as h oras de trabalho ou d b qu "ncia scolar e/ou atividad fundamentos do Estado Democrático d Dir ito 15.
de nsino d cada um (art. 129, LEP). O cond nado autorizado ao Para finalizar, admit -s a remição da p na para ant cipar a pro-
estudo em estabel cimento xterno d verá apr sentar comprovação gressão parar gime 1nenos rigoroso, sob o seguinte argum nto: s o
1nensal de frequência e aproveita1nento (art. 129, § 1°, LEP). Enfim, condenado pode antecipar a liberdade definitiva ou condicional pela
a d claração ou at stação falsa d pr stação de s rviço para instruir remição parcial da p na, n tão pod acel rara progr ssão parar gim
pedido d remição contitui falsidad documental (art. 127, LEP) - o m nos rigoroso, desd qu comprovado o r quisito subj tivo do bom
qu par c s limitar à remição da p na p lo trabalho, excluindo a comportamento carcerário n c ssário para a progr ssão (art. 112, LEP) 16 •
hipót se da r mição pelo studo.
A xt nsão da r mição p nal ao studo do cond nado culminou 1.3. A disciplina penal
por 1 gitimar jurisprud "n cia do Tribunai up rior , qu já admitia
r mição parcial pela fr qu "ncia a cursos supletivos profissionalizant s, A disciplina penal é definida como dever geral do preso pro-
d instrução d s gundo grau ou sup rior, m mo sob a forma d t 1 - visório do cond nado à pena privativa d lib rdad ou r stritiva
curso, fundado na analogia ntr trabalho estudo, sob o argum nto
de direitos, consistent nas seguint s obrigaçó s: colaboração com
de que a educação é a mais eficaz forma de integração do indivíduo a a ordem, ob diência às d t rminaçó s e d s mpenho no trabalho
sociedade - aliás, a finalidade do instituto da remição, s gundo int r-
(an. 44 parágrafo único, LEP). O princípio da 1 galidade xige pr ' -
pretação teleológica da norma legal1 4 .
Entretanto, subsiste1n os 1notivos para analogia entre trabalho
15 Ver ' Tl RI Manual de direito penal, l 999, v. 1, p. 269: " endo o trabalho carcerário
produtivo trabalho artesanal para bito d remição parcial da pena, na direito e dever do conclenado, e reconhecendo-se legalmente o efeito da remição da pena,
hipótese de inexist "ncia de trabalho produtivo na instituição p nal: afinal, o Jato de o Estado mostrar-se cronicamente desaparelhado para atender à demanda de
trabalho interno ou externo dos presos não pode e não deve redundar em prejuízo do interno
o direito ao trabalho não constitui faculdad ou privil 'gio do cond nado, e do reconhecimento da remição. "Nesse sentido, a jurisprudência majoritária, cf. Bol.etim
do IBCCRJM, n. 5, (1997), p. 189, in KUEH E, Lei de Execução Penal Anotada.
mas dever social condição de dignidade humana, nos t rmo da d finição Juruá, 2003, 3ª edição, v. I, p. 88-89 . Em posição contrária, mas inconvincenre,
BITE OURT, Tratado de direito penal, 2003, p. 442: «Concluindo, somente terão
direito à remição os condenados que efetivam nte realizarem o trabalho prisional, nos
14
css entido, o U PERIO R RIBU no .62 inta termos estabelecidos na legislação específica. "
Turma), Relator o Min. GILSON DIPP; igualmente, no R 58 cxta 16 a do TAR , Ag. 296.005 .044, Relator Juiz JOSÉ ANTÔNIO
Turma,), Relato r o Min. HAMILTON ARVALHID O . , in RT, 729/648 .
via expr ssa d finição legal das faltas e das sanções disciplinares (art. direito de defesa decisão motivada no procedimento disciplinar por falta
45, LEP), com proibição específica de (a) sanções coletivas, (b) celas grave, durante o qual a lei admite isolamento celular preventivo, no
escuras, e (e) expor a perigo a integridade física e moral do condenado interesse da disciplina e da apuração do fato (arts. 59 e 60, LEP). O
(art. 45, §§ 1°, 2° 3°, LEP). pod r disciplinar ' x reido pelo dir tor do stab l cim nto p nal,
m proc sso disciplinar contraditório (art. 47 e 54, LEP) 17, xc to
1.3.1. Faltas disciplinares. As faltas disciplinares são classificadas
nas categorias de faltas leves, médias e graves (art. 49, LEP): as faltas m hipót ses de falta grave e d aplicação do regime disciplinar dife-
1 v s médias são d finidas p la legislação stadual; as faltas grav s renciado, subm tidos à d cisão judicial fundamentada pr 'via, com
ão d finidas p la L i d Ex cução P nal, con id rando a natur za manifi stação do Ministério Público e da D fi sa do condenado (art.
privativa de liberdade (art. 50, LEP), ou restritiva de direitos (art. 51,
54, §§ 1° 2°, LEP).
LEP) da pena aplicada. O pod r disciplinar - definido como ontologicamente inquisitorial
As faltas graves das penas privativas d lib rdad são as s guint s por CARVALH0 18 - controla a população carc rária p la aplicação
(art. 50, LEP): a) incitar ou participar d movim ntos d subv rsão de sanções disciplinares consistentes m advertência v rbal, r pr nsão,
suspensão ou restrição de dir itos, isolamento celular e, finalmente,
à ord m ou à disciplina; b) fugir; c) posse indevida d instrum nto
capaz de ferir a int gridad corporal de outr m; d) provocar acid nt ss novo produto da imaginação r pr ssiva do l gishdor, o r gim
de trabalho; e) violar os d ver s d ob di "ncia aos rvidor e resp iro a disciplinar difi r nciado (art. 53, LEP), as guir sumariados.
outras p ssoas d xecução dos trabalhos, tar fas ord ns. a) Advertência verbal e repreensão. A advertência verbal a repreensão
As faltas graves das p nas restritivas de direito são as s guint são sançõ s disciplinar s aplicáv is m faltas leves e médias, r sp cri-
(art. 51, LEP): a) descumprir s m justificação a restrição de dir itos vam nte, d finidas p la 1 gislação stadual.
aplicada; b) r tardar s m justificação o cumprim nto de obrigação b) Suspensão ou restrição de direitos e isolamento celular. A suspen-
imposta; e) violar os deveres de obediência ao servidor e respeito a são ou restrição de direitos e o isolamento celular são sanções disciplinares
outras p ssoas; d) in x cução dos trabalhos, tar fas e ord ns rec bidas. aplicáv is no caso d faltas graves, obs rvados o limit máximo d 30
(trinta) dias , no caso do isolamento celular, a imediata comunicação
ao juiz da ex cução (art. 58 parágrafo único, LEP).
A prática d fato d finido como crime doloso constitui, igual-
ment , falta grave - contudo, s produzir o r sultado d subversão da e) Regime disciplinar diferenciado (RDD). O regime disciplinar
diferenciado ' aplicáv 1 a presos provisórios ou cond nados, nas hi-
ordem ou da disciplina int rnas d t rmina, s m pr juízo da sanção
penal corr spond nt , a mais grav sanção disciplinar da L i d Ex - pót s s (a) d crime doloso qu d t rmin subversão da ordem ou da
disciplina internas, (b) d alto risco para a ord m a s gurança do
cução P nal brasil ira: a aplicação do regime disciplinar diferenciado,
instituído pela Lei 1O. 792/03 (art. 52, LEP).
1.3.2. Sanções disciplinares e regime disciplinar diferenciado. 17 Pena e garantias, 2003, 2ª edição, p. 192, diz o seguinte: "Apesar de a
As sanções disciplinares são aplicadas considerando (a) a natureza, os LEP assegurar taxativamente algumas garantias no procedimento - devido processo, reserva
legal direito de defesa, motivação da decisão - , (..) a lógica do sistema não corresponde
motivos, as circunstâncias cons qu "ncias do fato, (b) a p ssoa do à estrutura principiológica conformadora de um direito democrático, gerando focos de
ilegalidades (toleradas)."
condenado, (e) o t mpo de prisão (art. 57, LEP), com garantia do 18 V Pena e garantias, 2003, 2ª edição, p. 184.
estabeleci1n nto penal ou da soei dad , (c) d fundadas suspeitas d 'indeterminável a quantidad d alteração da normalidade necessária
envolvimento ou participação em organizações criminosas, quadrilha para configurar o conceito de subversão da ordem ou da disciplina (art.
ou bando (art. 52, §§ 1° e 2°, LEP). 52, LEP); segundo, é indeterminável a quantidade de risco definível
As caract rísticas do regime disciplinar diferenciado são as s - como alto para a ord m s gurança da prisão ou da soei dad (art. 52,
§ 1°, LEP); terceiro, ' ind finível o conceito d fundadas suspeitas d
guint s: a) duração máxilna d 360 (tr z ntos s ss nta) dias - s m
nvolvimento ou participação m organizaçõ s criminosas, quadrilha
prejuízo d repetição da sanção disciplinar, no caso de falta grave
de m sma spéci , até o limit de 1/6 (um sexto) da pena aplicada; ou bando (art. 52, § 2°, LEP).
b) cu1nprim nto da sanção di ciplinar m e la individual; c) visi-
tas s manais de 2 p ssoas (mais crianças), com duração d 2 horas;
1.4. Individualização da execução: classificação e exame
d) saída para banho d sol, por 2 horas diárias (art. 52, I-IV, LEP).
criminológico
O regime disciplinar diferenciado ; aplicado m procedimento
disciplinar instaurado por r qu rim nto circunstanciado do dir tordo
O programa de individualização da x cução penal (art. 6°, LEP)
stab 1 cim nto (ou outra autoridad administrativa), com manit s-
comp t à Comissão Técnica de Classificação, pr sidida pelo dir tordo
tação do Minist 'rio Público garantia do dir ito d defesa, mediant
stab 1 cim nto int grado por dois chefes d s rviço, um psiquiatra,
decisão fundamentada e pr'via do juiz co1np tent , no prazo de 15
um psicólogo um assist nt social (art. 7°, LEP) 19 •
dias (art. 54, §§ 1° 2° art. 59, LEP). Por xc ção, a autoridad
administrativa pode decretar, até o máximo de 1O dias, o isolamento 1.4.1. Classificação dos condenados. Os condenados a p nas pri-
preventivo do preso, mas a inclusão do pr so no regime disciplinar vativas de liberdade são classificados conforme os s guint s crit 'rios:
diferenciado d p nd d d spacho do juiz comp t nt , fundado no prim iro, com bas nos antecedentes na personalidade do cond nado,
interesse da disciplina da averiguação do foto, garantido o cômputo do para orientar a individualização da xecução penal (art. 5°, LEP); s -
t mpo d isolamento preventivo no p ríodo d cumprim nto da sanção gundo, com bas • m exame criminológico do cond nado, realizado para
disciplinar d finitiva (art. 60, parágrafo único, LEP). adequara classificação a individualização da x cução (art. 8°, LEP).
O regime disciplinar diferenciado d isolamento m cela individual 1.4.2. Exame criminológico. O exame criminológico d signa o con-
até 1 ano - r novável por mais 1 ano, at' o limite de 1/6 (ums xto) junto d xam s clínicos, morfológicos, n urológicos, psicológicos,
da pena - ' inconstitucional, por várias razõ s: a) constitui violação psiquiátricos sociais do cond nado 20 , r alizados para ad quar a clas-
da dignidade da pessoa humana, um dos princípios fundamentais do sificação do condenado e pr cisar a individualização da execução penal
Estado D mocrático d Dir ito, d finido no art. 1° da Constituição (art. 8°, LEP). ss s ntido, o exame criminológico ' a operacionali-
da República; b) r pres nta instituição d pena cruel, expr ssam nte zação d proc dim ntos t 'cnicos da criminologia tiológica individual
xcluída p lo art. 5°, XLVII, 1 tra ,e ", da Constituição da R pública; para testar a capacidade criminogênica d ·condenados a p nas privativas
c) a ind terminação das hipót ses de aplicação do regime disciplinar d lib rdade. O exa1n criminológico, como diagnóstico para formular
diferenciado infringe o princípio da 1 galidade (art. 5°, XXXIX, da
Constituição da R pública), porqu subordina a aplicação da sanção 19 Ver CARVALHO, Pena e garantias, 2003, 2ª dição, p. 185.
disciplinar a crit 'rios judiciais subj tivos idiossincráticos: primeiro,
20 PITOMBO, Os regimes de cumprimento de pena e o exame criminológico, in Revísta dos
Tribunais, n . 583, p. 315.
prognósticos comportam ntais, repr senta juízo de probabilidade refra- (m diant extração d ácido desoxirribonucleico) d cond nados
tário à verificação científica e, por isso, constitui avaliação inquisitória por crimes violentos de natureza grave contra pessoa, ou por crimes
insuscetível de refutação jurídica no contraditório processual2 1• previstos no art. 1° da Lei n. 8.072/90 (Lei dos crün es hediondos),
Após o adv nto da Lei 10.792/03, o exame criminológico para para efi ito d armaz nam nto m banco d dados sigi]osos (§ 1°),
progr ssão d r gitn foi substituído por at stado d bom comporta- podendo a autoridad policial, fi d ral ou tadual, no caso d inqué-
mento carcerário expedido pelo diretor da instituição, reduzindo a psi- rito instaurado, r querer ao juiz compet nte, o ac sso ao banco d
quiatrização da execução penaP- 2, p la qual a decisão do juiz d x cução
dados para id ntificação do p rfil gen "tico dos indiciados (§ 2°). A
acabava transti rida para funcionários da ortopedia moral - psiquiatras, identificação do perfil genético de cond nados r p res nta clara adesão
psicólogos assistent s sociais do sistema p nal -, cujos p rognósticos do l gislador às t o rias etiológicas do positivismo criminológico, qu
moralistas s gr gador s23 costumavam r ssuscitar excresc "ncias po- xplicam o comportamento criminoso por defeitos p ssoais do autor,
ind p nd nt s da trutura social d sigual das 1 tividad do ist ma
itivistas do tipo personalidade voltada para o crime, cujo primitivismo
lombrosiano ainda depõe contra a ciência p nal brasileira. de justiça criminal das modernas soei dad s capitalistas n olib rais.
b) m crim s imprudentes, ind pendent da duração da pena privativa por uma pena restritiva de direitos e multa ou por duas
de liberdade aplicada (art. 44, I, CP); restritivas de direitos.
c) m crim s dolosos com tidos com viol "ncia ou grav am aça à 2.2.3. Condições limitadoras e excludentes. A aplicação da p na
pessoa, com pena privativa de liberdad inferior a 1 ano (art. 54, CP). restritiva de direitos pod ser limitada ou xcluída em d terminadas
Art. 44. As penas restritivas de direitos são autônomas hipót s s:
e substituem as privativas de liberdade, quando: a) a reincidência m crime doloso imp de a aplicação de pena
I - aplicada pena privativa de liberdade não superior a 4 restritiva d direitos (art. 44, II, CP), xc to m hipót s d reincidência
(quatro) anos e o crime não for cometido com violência genérica d substituição socialmente recomendável da p na privativa
ou grave ameaça à pessoa ou) qualquer que seja a pena de liberdad por pena restritiva d direitos (art. 44, § 3°, CP);
aplicada, se o crime for culposo. b) são indicadores judiciais de suficiência para aplicação d pena
II - o réu não for reincidente em crime doloso; restritiva d dir itos: a culpabilidad , os ant ced nt s, a conduta so-
cial, a personalidade, os motivos do ag nte a circunstâncias do fato
III - a culpabilidade, os antecedentes) a conduta social e a
(art. 44, III, CP);
personalidade do condenado, bem como os motivos e as cir-
cunstâncias indicarem que essa substituição seja suficiente. Art. 44, § 3°. Se o condenado for reincidente, o juiz
poderá aplicar a substituição, desde que, em face de
Art. 54. As p enas restritivas de direitos são aplicáveis)
condenação anterior, a medida seja socialmente reco-
independentemente de cominação na parte especial em
mendável e a reincidência não se tenha operado em
substituição à pena privativa de liberdade, fixada em
virtude da prática do mesmo crime.
quantidade inferior a 1 (um) ano, ou nos crimes culposos.
c) o tráfico d drogas crim s ass m lhados xduem penas r s-
2.2.2. Aplicação pela duração da pena. A aplicação da pena restriti-
tritivas de dir itos (art. 33, caput § I 0 , 34 a 37, da L i 11.343/06).
va de direitos fundada na natureza do crime ocorr . m duas hipót s s:
a) no caso de pena privativa d lib rdad igual ou inferior a 1 ano,
possibilidad d substituição por multa ou por uma p na r stritiva d 2.3. Espécies de penas restritivas de direitos
dir itos (art. 44, § 2°, CP);
b) no caso d pena privativa de lib rdad sup rior a 1 ano, possibi- A 1 gi lação p nal brasil ira pr v" 5 (cinco) p 'ci s d p na
lidade d substituição por pena restritiva d direitos e multa ou por restritivas de direitos, a saber: a) prestação pecuniária; b) perda de bens
duas penas r stritivas de direitos (art. 44, § 2°, CP). valores; c) prestação de serviços à comunidade ou ntidades públicas;
Art. 44, § 2°. Na condenação igual ou inferior a 1 d) int rdição t mporária d dir itos; ) limitação d fim d s mana
(um) ano, a substituição pode ser feita por multa ou (art. 43, I-II-III, CP).
por uma pena restritiva de direitos; se superior a 1 (um) 2.3. 1. Prestação pecuniária. A pr stação p cuniária consist no
ano, a pena privativa de liberdade pode ser substituída pagam nto em dinheiro, a vítima ou descendentes, ou a ntidade
pública ou privada com d stinação social, de um valor fixado p elo
JUlZ,entr o mínimo de 1 o 1náximo de 360 salários mínimo , co1no Art. 45, § 3°. A perda de bens e valores pertencentes
reparação do dano resultante do crime (art. 45, §§ 1° e 2°, CP). aos condenados dar-se-á, ressalvada a legislação espe-
cial em favor do Fundo Penitenciário Nacional, e seu
Art. 45, § 1°.Ap restação pecuniária consiste no pa-
valor terá como teto - o que for maior - o montante
gamento em dinheiro à vítima) a seus dependentes ou
do prejuízo causado ou do provento obtido pelo agente
a entidade pública ou privada com destinação social,
ou por terceiro, em consequência da prática do crime.
de importância fixada pelo juiz, não inferior a 1 (um)
salário mínimo nem superior a 3 60 (trezentos e sessen- A literatura dominant define a perda de bens e valores como
ta) salários mínimos. O valor pago será deduzido do silnples pena de confisco, banida do moderno Dir ito P nal2 9, 1nas '
montante de eventual condenação em ação de reparação n cessário distinguir as hipótes s resp crivas: a perda de bens e valores
civil, se coincidentes os beneficiários. at' o limit do prejuízo causado com o crim , m favor do Fundo
Penitenciário acional, constitui realm nte confisco de bens valor s
A lei pr v " a possibilidad de reparação do dano d outra forma
- como, por x mplo, a dação em pagamento (art. 356, CC) - , s o do cond nado , porqu não possui natur za d indenização ou ressarci-
mento da vítima; mas a perda de bens e valores at' o limit do provento
b n ficiário consentir , obviament , o cond nado r qu r r. Pr staçõ s
obtido com o crim não significa confisco, porque b ns e valor s obtidos
de outra natureza não ti r mo princípio da 1 galidad das p nas - como
m ediante prática de crime não integra1n o patrimônio do condenado
afirma um torda lit ratura28 - , por duas razõ s principais: prim iro,
, portanto, não pod m s r obj to d confisco.
porqu substituem a pena privativa d lib rdade aplicada - r gida pelo
princípio nulla poena sine lege; s gundo, porqu beneficiam o cond - 2.3.3. Prestação de serviços à comunidade ou a entidades públicas.
nado - logo, não podem ser excluídas pelo princípio da legalidade, A prestação de serviços à comunidade ou a entidades públicas é apli-
instituído para prot ção do acusado. cável m condenaçõ s sup rior s a 6 m s s de privação d lib rdad
§ 2º. No caso do parágrafo anterio 0 se houver aceitação
(art. 46, CP) cons1st m tar fas gratuitas atribuídas conform as
do beneficiário, a prestação pecuniária pode consistir aptidõ s do cond nado distribuídas à razão de 1 hora d trabalho
em prestação de outra natureza. por dia d condenação, s m prejuízo da jornada normal d trabalho,
m entidad s assistenciais, hospitais, scolas, orfanatos e instituições
2.3.2. Perda de bens e valores. A p rda d bens valor s tem por
cong "n r s, 1n progra1nas comunitários ou statais (art. 46 §§ 1°,
obj to o patrim ônio do cond nado , tem por limite o valor maior, ou
2° 3°, CP). a hipót s d cond nação superior a 1 ano, a p na
do pr juízo causado ou do prov nto obtido com a prática do crime,
substitutiva podes r cun1prida 111 ten1po m nor do qu a p na subs-
s d stina ao Fundo P nit nciário acional, xc to disposição l gal
tituída, r sp irada a m etad da pena privativa d lib rdad aplicada
m contrário (art. 45, § 3°, CP).
(art. 46, § 4°, CP).
28 Por exemplo, BITE OURT, Tratado de direito penal, 2003, 8ª edição, p. 464: "Essa
prestação de ou.tra natureza é, na verdade, uma pena inominada, e pena inominada
é pena indeterm inada, que viola o princípio da r a I gal"; igua.lm n , l
PRAD , Curso de direito penal brasileiro (parte geral), 2004, 4ª edição, p. 569: 29 Nesse s ntido, BITEN OURT, Tratado de direito penal, 2003, 8ª edi,áo, p. 462-
'.ti denominada prestação pecuniária inominada é exemplo de inconteste violação ao 46 · RE l P O, Curso de direito penal brasileiro (parte geral), 2004, 4ª edição,
princípio da legalidade dos delitos e das penas." p. 569-570.
Art. 46. A prestação de serviços à comunidade ou a Municípios, parecem d monstrar int r ss ou r ceptividad à id ia
entidades públicas é aplicável às condenações superiores de admitir a prestação de serviços substitutiva da privação da liberdade
a 6 (seis) meses de privação de liberdade. de indivíduos estigmatizados por sentenças condenatórias do siste1na
§ 1 °. A prestação de serviços à comunidade ou a enti- d justiça criminal.
dades públicas consiste na atribuição de tarefas gratuitas 2.3.4. Interdição temporária de direitos. A int rdição t mporária
ao condenado. de direitos consiste nas seguintes proibições: 1) proibição do exercício
§ 2°. A prestação de serviços à comunidade dar-se-á d cargo, função ou atividad pública, bem como d mandato 1 tivo
em entidades assistenciais, hospitais) escolas) oifanatos (art. 47, I, CP); 2) proibição do x rcício d profi são, atividad ou
e outros estabelecimentos congêneres, em programas ofício que d pendam d habilitação esp cial, d lic nça ou autorização
comunitários ou estatais. do poder público (art. 47, II, CP); 3) suspensão d autorização ou d
habilitação para dirigir v ículo (art. 47, III); 4) proibição d fr qu ntar
§ 3°. As tarefas a que se refere o§]º serão atribuídas
determinados lugar s (art. 47, IV, CP).
conforme as aptidões do condenado, devendo ser cum-
pridas à razão de 1 (uma) hora de tarefa por dia de Art. 47. As penas de interdição temporária de direitos são:
condenação, fixadas de modo a não prejudicar a jornada I - proibição do exercício de cargo, função ou atividade
normal de trabalho. pública, bem como de mandato eletivo;
§ 4°. Se a pena substituída for superior a 1 (um) ano, II - proibição do exercício de profissão, atividade ou
éfacultado ao condenado cumprir a pena substitutiva ofício que dependam de habilitação especial, de licença
em menor tempo (art. 55)) nunca inferior à metade da ou autorização do poder público;
pena p rivativa de liberdade aplicada.
III - suspensão de autorização ou de habilitação para
Compete ao juiz d signar a instituição de trabalho gratuito do dirigir veículo;
cond nado, comunicando-Ih dia horário d cumprim nto da
IV - proibição de frequenta r determinados lugares.
pena, cuja x cução s inicia no dia do prim iro co1npar cim nto
(art. 149 e parágrafos, LEP). As ntidades beneficiárias apr s ntarão Na hipót se (a) d proibição do x rcício d cargo, função,
relatórios 1nensais das atividades e comunicarão ausências ou faltas atividad pública ou mandato 1 tivo (art. 47, I, CP), a autoridad
disciplinar s ao juízo da x cução (art. 153, LEP). judicial comunicará a pena aplicada à autoridade competente, que
baixará ato iniciando a execução (art. 154, § 1°, LEP); na hipótes
A prestação de serviços à comunidade ou a entidades públicas r - (b) de proibição do x rcício de profissão, atividad ou ofício d p n-
pr s nta a mais ad quada g n rosa modalidad d pena restritiva de dent s d habilitação, licença ou autorização do pod r público, ou d
direitos cone bida para substituir a pena privativa d lib rdad , mas
susp nsão de autorização para dirigir v ículo (art. 47, II III, CP), a
sua aplicação ' dificultada por 1am ntáv is obstáculos comunitários
autoridad judicial d t rmina a apr nsão do docum nto r !ativos ao
ou oficiais: n m a comunidade, r pr s ntada por ntidades assist n- xercício do dir ito int rditado (art. 154, § 2°, LEP). As autoridad s
ciais, hospitais, scolas, orfanatos etc., nem as entidades públicas, administrativas d v rão, qualqu r pr judicado pod rá, comunicar ao
r pr ntada p lo órgão do pod r da União, do E tado do juízo da execução o descumprimento da pena aplicada (art. 155, LEP).
2.3.5. Limitação de fim de semana. A litnitação d fi1n d s mana -, hoje generalizado nas 1 gislações penais.
assemelha-se, parcialmente, ao regim aberto de execução da pena As vantag ns da pena de multa são videntes: a) o condenado
privativa de liberdade, e consiste na obrigação de pennanência, aos pr s rva os contatos familiar s e sociais, garant a continuidad das
sábados domingos, durant 5 horas diárias, m casa de albergado - s r laçõ s d trabalho vita os t itos nocivos da prisão; b) o Estado
não houv r casa de albergado, ntão na própria r sidência do cond - conomiza custos d x cução penal garant r cursos financ iros
nado, segundo a jurisprud "ncia -, com possibilidad de participar para o sistema penitenciário 32 - s m prejuízo da ficácia retributiva
de cursos, pal stras outras atividad s ducativas (art. 48, parágrafo pr v ntiva da p na. As d svantag ns são despr zív i : v ntual r dução
único, CP). da capacidade de indenizar a vítüna pelo dano do crime e incerteza
Art. 48. A limitação de fim de semana consiste na obr a identidad r al do pagador33 .
obrigação de permanecer, aos sábados e domingos, por
5 (cinco) horas diárias, em casa de albergado ou outro
3.1. Cominação da pena de multa
estabelecimento adequado.
Parágrafo único. Durante a permanência poderão ser
A pena de multa ' cominada de modo indeterminado nos tipos
ministrados ao condenado cursos epalestras ou atribuídas
atividades educativas.
1 gais de crüne, aplicada conforme critérios d finidos na parte geral
do Código P nal, d forma alt rnativa ou cumulativa com p nas pri-
O juízo da execução cientificará ao condenado local dias e vativas d lib rdad s d stina ao Fundo P nit nciário (art. 49, CP).
horários d cumprim nto da p na, cuja xecução s inicia, também, Existem duas exc çõ s d aplicação d p na d multa ind pend nt d
no prim iro compar cim nto (art. 151, LEP). O tab 1 cim nto cominação na part special (art. 58, parágrafo único, CP): a hipótes
designado apr s ntará r latórios mensais comunicará aus "ncias ou d p na d multa isolada substitutiva d p na privativa d lib rdad
faltas disciplinar s ao juízo da execução (art. 153, LEP). igual ou inferior a 1 ano (art. 44, § 2°, CP, pritn ira part - não art.
44, parágrafo único, como erroneamente diz a lei), ou de pena de multa
cumulada com pena restritiva de direitos, substitutiva de pena priva-
3. Pena de multa tiva de lib rdad superior a 1 ano (art. 44, § 2°, CP, segunda parte) 34 .
30 J H / , Lehrbuch des trafrechts, 1996, 5" edição,§ 73, I, 1, p. 767- H Lehrbuch des trafrechts, 1996, 5ª edição,§ 73, I, 4, p. 769.
768: "No ano de 1991 foram aplicadas penas de multa em 84% de todos os condenados'~ 33 omparar J ·I Lehrbuch des trafrechts, 1996, 5ª edição, § 73,
31 Z FARO I, D erecho penal (parte general), 2002,. 2ª edição, 63, n. 2, p. 974, § 63, n. I, 4, p. 769.
2. o Brasil BITENCOURT, Tratado de direito penal, 2003, 8ª edição, p. 533. 34 Comparar BITENCOURT, Tratado de direito penal, 2003, 8ª edição, p. 458 .
tipo de injusto e a culpabilidade do autor; segundo, a det nninação pena igual, porque consid ra desigualm nte indivíduos concr tam nt
do valor do dia-multa, definido conforme a capacidade econômico- desiguais; na prática, a seletividade do processo de criminalização, con-
-financeira do autor35 . A pena de multa aplicada é o produto aritmético centrada na população pobre e excluída do mercado de trabalho e das
da multiplicação da quantidade d dias-multa (art. 49, CP) p lo valor r laçó s d consumo, frustra a aplicação igualitária da p na d multa.
do dia-multa (art. 49, § 1°, CP), atualizáv 1p los índic s de corr ção Art. 60. Na fixação da pena de multa o juiz deve
monetária, na 'poca da x cução (art. 49, § 2°, CP). atender, principalmente, à situação econômica do réu.
a) A quantidade de dias-multa. A quantidade d dias-multa varia § 1°. A multa pode ser aumentada até o triplo, se ojuiz
ntr o mínimo d 1O o máximo d 360 dias-multa, conform o considerar que, em virtude da situação econômica do
tipo de injusto e a culpabilidade do autor, medida p las circunstâncias réu, é ineficaz, embora aplicada no máximo.
judiciais (art. 59, CP), circunstâncias legais (arts. 61, 62 65, CP)
causas especiais de aumento ou de diminuição de pena, qu compõ mo
processo trifásico de aplicação da pena. 3.3. Execução da pena de multa
Art. 49. A pena de multa consiste no pagamento ao
fundo penitenciário da quantia fixada na sentença A pena d multa é x curada pelo pagam nto, no prazo d
e calculada em dias-multa. Será, no mínimo, de 1 O 1O dias do trânsito e1n julgado da nt nça cond natória (art. 50,
(dez) e, no máximo, de 360 (trezentos e sessenta) prim ira parte, CP) - ou em qualquer tempo depois desse prazo.
dias-multa. O pagam nto pod ser feito m pare las mensais, se o condenado
b) O valor do dia-multa. O valor do dia-multa ' calculado com bas requerer e as circunstâncias indicarem sua conv ni "ncia (art. 50,
no maior salário mínimo da 'poca do fato, d ntro dos s guint s limit s: segunda part , C P) . Admite-s d sconto nos ven ci m ntos ou sa-
mínimo d 1/30 (um trig 'simo) do m aior alário mínimo máximo lários do cond nado, se a pena d multa ' aplicada isoladam ent ,
de 5 vezes o maior salário 1nínimo da época do fato, detenninado o u cumulativam nt com p na r stritiva d dir ito ou com p na
conform a capacidade econômico-financeira do cond nado. privativa de liberdade suspensa condicionalinente (art. 50, § 1° e
alín as, C P): o d sconto ' limitado p la n cessidad de pr servar
Art. 49,. § lo. O valor do dia-multa será fixado pelo
r cursos indisp nsáv is ao sust nto do cond nado d sua família
juiz não podendo ser inferior a um trigésimo do maior
(art. 50, § 2°, CP); no caso de aplicação cumulativa com p na
salário mínimo mensal vigente ao tempo do fato, nem
superior a 5 (cinco) vezes esse salário.
privativa d lib rdad n ão susp nsa condicionalm nt , o juiz pod
determinar desco nto proporcional aos salário s do co nd enado
A situação econômica dor' u (art. 60, C P) autoriza ampliar a p na (art. 170, LEP).
d 1nulta at' o triplo da cominação máxitn a, s a aplicação do máxitno
da p na d multa cominada parec r inefi caz (art. 60, § 1°, CP). ss A p na d multa, após o trânsito m julgado das nt nça con-
denatória, será considerada dívida d valor ex curada perante o juiz
s ntido, a p na de multa seria modalidade punitiva d finível como
da ex cução p nal, aplicadas as normas sobr dívida ativa da Faz nda
Pública, inclusive quanto à suspensão int rrupção da prescrição (an.
35 __ im camb 'm n i t ma alemão, cf EBERT, Strafrecht, 2000, 3ª edição, p. 24 1;
KOHLER, Strafrecht, 1997 p. 626-627. 51, CP), constitui título x cutivo judicial (art. 164, LEP).
Art. 51. Transitada em julgado a sentença condenató- 4. Conversibilidade executiva das penas criminais
ria, a multa será executada perante o juiz da execução
penal e será considerada dívida de valo,; aplicáveis as
A conversão executiva d p nas criminais é o proc sso judicial
normas relativas à dívida ativa da Fazenda Pública,
de transformação d uma p na restritiva de direitos em p na privativa
inclusive no que concerne às causas interruptivas e
de liberdade, no caso d d scumprim nto injustificado da r strição
suspensivas da prescrição. (Alt ração introduzida p la
aplicada (art. 44, § 4°, CP).
L i 13.964/ 19).
Art. 44, § 4°. A pena restritiva de direitos converte-se em
Em caso d mora no pagamen to da p na d multa, a Faz nda
privativa de liberdade quando ocorrer o descumprimento
Pública pode r qu r r a citação do cond nado para pagar o valor da
injustificado da restrição imposta. No cálculo da pena
multa ou nomear bens à penhora, no prazo d 1O dias, admitindo-s o
privativa de liberdade a executar será deduzido o tempo
pagam nto pare lado, m pr stações mensais, iguais e sucessivas; se o cumprido da pena restritiva de direitos, respeitado o saldo
cond nado não pagar a p na d multa ou não nom ar b ns à p nhora, mínimo de 3 0 (trinta) dias de detenção ou de reclusão.
no prazo 1 gal, s rão p nhorados b ns do cond nado sufici nt s para
garantir a execução, prosseguindo-se na ação conforme a legislação O crit 'rio 1 gal da d dução do tempo cumprido da pena restritiva
proc ssual civil (art. 164, § 2°, LEP) 36 . de direitos, assim co1no da obs rvação do saldo mínimo de 3 0 dias de
detenção ou de reclusão, na conv rsão da p na restritiva de direitos m
Art. 50. A multa deve ser paga dentro de 1O (dez) dias
p na privativa de liberdade, som nt é aplicável nos casos d p nas
depois de transitada em julgado a sentença. A reque-
restritivas de direitos d t nninadas por tempo (a pr stação d s rviços
rimento do condenado e conforme as circunstâncias,
à comunidad ou a ntidad s públicas, a limitação de fim d s mana
o juiz pode permitir que o pagamento se realize em
a int rdição t mporária d direitos), mas não pod s r aplicado nos
parcelas mensais.
casos d p nas restritivas de direitos d finidas por valores (a pr stação
§ 1 °. A cobrança da multa pode efetuar-se mediante pecuniária e a perda de bens e valores, instituídos pela Lei 9.714/98),
desconto no vencimento ou sa/,ário do condenado quando: por 1 sionar o princípio da 1 galidad .
a) aplicada isoladamente; Excluída a conversão m p nas privativas de lib rdad , na hi-
b) aplicada cumulativamente com pena restritiva de pótes d descumprimento injustificado d p nas restritivas d direitos
direitos; d finidas por valores (a prestação pecuniária a perda de bens e valo res),
d v ser aplicado o m smo crit 'rio da inadimpl "ncia da pena de multa,
c) concedida a suspensão condicional da pena.
por analogia in bonam partem: a p na r stritiva d dir itos d finida
§ 2°. O desconto não deve incidir sobre os recursos in- em valores, após o trânsito 1n julgado da s ntença cond natória,
dispensáveis ao sustento do condenado e de sua família. transforma-s igualment m dívida de valor, com aplicação das nor-
mas sobre dívida ativa da Fazenda Pública (art. 51, C P), legitimada
para a ação d x cução civil comp t nt .
36 O arr. 161 ~a LEP _a~ri ~uj ao M inis té~·io Público, mas a jurisprudência atribui à
Fazenda Publica a lcg1t11111dade para cobrança da pena d multa ( TJ, REsp 97. 85/
SP, DJ 07/04/2003, Rel. Mi n. FELIX FI HER).
5. Cominação das penas criminais em quantidade inferior a 1 (um) ano, ou nos crimes
culposos.
e) a duração da p na r tritiva d dir ito ' igual à duração da p na
As penas privativas de liberdade, cominadas nos litnites míni-
privativas d liberdade substituídas, nas hipót s s d p nas restnt1vas
mo máximo p lo 1 gislador, ind p nd m d r gras d cominação
d direitos d t rminadas por tempo (incisos IV, V VI, do art. 43,
(art. 53, CP) - ar h r "ncia as us limit s legais ' ociosa.
CP), com exceção do art. 46, § 4°, CP;
Art. 53. As penas p rivativas de liberdade têm seus
Art. 55. As penas restritivas de direitos referidas nos
limites estabelecidos na sanção correspondente a cada
incisos IIL I V, V e VI do art. 43 terão a mesma duração
tipo legal de crime.
da pena privativa de liberdade substituída, ressalvado
Ma a função substitutiva atribuída à p nas restritivas de direitos o disposto no § 4° do art. 46
e a cominação indeterminada das penas de multa explicam as regras
d) a aplicação da pena de interdição temporária de direitos (art. 47,
d cominação.
1-III, CP) ' obrigatória nas hipót s s (a) d violação de deveres m
crim s com tidos no xercício de p rofissão, atividade, ofício, cargo ou
5.1. Regras de cominação função - m qu pod funcionar como p na ac ssória (art. 56, CP),
(6) de crim s culposos d trânsito (art. 57, CP).
Art. 56. As penas de interdição, previstas nos incisos
As r gras d cominação das p nas restritivas de direitos são as
I e II do art. 47 deste Código, aplicam-se para todo o
s guint s:
crime cometido no exercício de profissão, atividade,
a) a aplicação judicial d p na restritiva de direitos ind p nd d co- ofício, cargo ou função, sempre que houver violação dos
minação específica ao lado de cada tipo de crime (art. 54, CP); deveres que lhes são inerentes.
b) a aplicação de pena restritiva de direitos ' d terminada p la pena Art. 57. A pena de interdição, prevista no inciso III
privativa de liberdade aplicada, conform os seguintes critérios: b 1) do art. 47 deste Código, aplica-se aos crimes culposos
no caso de pena privativa de liberdade inferior a 1 ano, aplica-se pena de trânsito.
r stritiva d dir itos isolada, tanto m crimes dolosos como m crim s
imprud nt s (art. 44, § 2°, CP, acima); 62) no caso d p na privativa
d lib rdad igual ou sup rior a 1 ano, aplica-s p na r stritiva d di- 5.2. Cominação das penas de multa
r itos som nte m crim s imprud nt s, mas com aplicação cumulativa
de p na de multa, ou d outra pena restritiva de direitos (art. 54, CP); As penas d multa, cujos limit s 1 gais são fixados m 1 i
Art. 54. As penas restritivas de direitos são aplicáveis) (art. 49, §§ 1° . 2°, CP), são cominadas d modo indeterminado nos
independentemente de cominação na parte especial, tipos 1 gais r spectivos.
em substituição à pena privativa de liberdade) fixada
Capítulo 18 519
tipo de injusto e de culpabilidade .al ' m do pressupostos relativos ao consequências jurídicas do fato punível, compre ndendo a escolha da
foto e ao processo penal, acima indicados. Esse fundamento material pena aplicável, a quantificação da pena escolhida 2 e (em caso de pena
é necessário, mas não é suficiente para condenação criminal, porque privativa de liberdade) a decisão sobre regime inicial de execução, ou
inúm ras il galidad s ou nulidad s ligadas ao processo legal devido, a substituição da p na aplicada por p na r stritiva d dir itos (art.
como violaçõ s d garantias constitucionais 1 gais do acusado no 59, CP), ou, alt rnativam nt , a suspensão condicional da execução
processo penal, podem imp dir a cond nação criminal. A natureza da pena aplicada.
subsidiária do Dir ito P nal, on bido orno in trumento d ultima Art. 59. O juiz, atendendo à culpabilidade, aos ante-
ratio da política social, mostra qu as ntença criminal condenatória cedentes, à conduta social à personalidade do agente,
dev ser o produto da xclusã d t d a hip 't e (a) d absolvição do aos motivos, às circunstâncias e consequências do crime,
acusado, por não se caracterizar o conceito de crime, por inexistência bem como ao comportamento da vítima, estabelecerá,
do pr s upostos r !ativos ao fato ao proc so, ou por au "ncia d conforme seja necessário e suficiente para reprovação e
prova sufici nt para condenação, ou (b) d invalidação do proc sso prevenção do crime:
p nal por ileg ·lidades ou nulidades vin uladas o prin ípio geral do
I - as penas aplicáveis dentre as cominadas;
proc sso 1 gal devido.
II - a quantidade de pena aplicável dentro dos limites
No mom nto de formação da s nt nça criminal condenatória,
previstos;
ant rior ao proc sso intel ctual d aplicação da pena riminal aparece
o seguinte quadro no aparelho psíquico do julgador: a) a dimensão III - o regime inicial de cumprimento da pena privativa
de tipo de injusto do fato punível, como ação típica e antijurídica de liberdade;
concreta, constitui conceito demonstrado pela prova; 6) a dimensão IV - a substituição da pena privativa da liberdade
de culpabilidade do fato punív 1, como reprovação do autor pela aplicada, por outra espécie de pena, se cabível.
r alização do tipo de injusto, xist som nt como qualidade do fato
E sa norma xprim a cone pção político-criminal fundam ntal
punível- ou s ja, ainda não exist como quantidade de reprovação, isto
do Direito Penal brasileiro, imple1nentada pelo juiz através da sentença
', como medida da p na criminal 1, ap nas det rmináv 1no proc sso
criminal condenatória, que d fin a necessidade e a suficiência da pena
intelectual trifásico de aplicação da pena, com base nas circunstâncias
como retribuição equivalente da culpabilidad como prevenção especial
judiciais, nas circunstâncias legais nas causas especiais d aum nto ou
geral do crim da criminalidade.
de redução da pena.
1. Culpahi idade qualitativa e quantitativa. A atividade int lectual
d aplicação da p na criminal tem por obj tivo stabel c r a p na
necessária e suficiente para reprovação e prevenção do crime, conforme
11. O método legal de aplicação da pena o guint m ' todo (art. 68, CP): a) d finição da p na-bas , fundada
nas circunstâncias judiciais (art. 59, CP); b) agravação ou atenuação
A aplicação da p na criminal ' ato judicial d d t rminação das
da pena-base, fundada nas circunstâncias Legais (arts. 61, 62 e 65, CP); 3. 1. A primeira indicação 1 gal para o juiz aplicar a pena necessária e
c) fixação da pena d finitiva, fundada nas causas especiais d dimi- suficiente para reprovar e prevenir o crime é a moldura penal do tipo de
nuição e/ou de aumento da pena, da parte geral e da parte especial injusto realizado: o mínimo e o máxirn da pena co1Tiinada são lirTiites
do Código Penal3. l gai d uma e cala contínua de gravidad pr definida p lo legislador6 •
Ness quadro, o juízo qualitativo da culpabilidade como cate- 3.2. As gunda indicação legal para o juiz apli ar a pena necessária
goria do crime transforma-se no juízo quantitativo da culpabilidade e suficiente para reprovar e prevenir o crime refere-se ao conteúdo da
como medida da pena - garantia individual excludent de xcessos moldura 1 gal do tipo de injusto: as circunstâncias judiciais, as circuns-
punitivos fundados m pr v nção g ral ou sp cial4 . tâncias Legais as causas especiais d aum nto d diminuição d p na.
2. Objetivos de reprovação e prevenção do crime. Os objetivos Art. 68. A pena-base será fixada atendendo-se ao cri-
d reprovar d prevenir o crim atribuídos p lo 1 gislador ao juiz tério do art. 59 deste Código; em seguida serão consi-
criminal (art. 59, CP) são r alizados pelas funções d retribuição da deradas as circunstâncias atenuantes e agravantes; por
culpabilidade de prevenção da criminalidade atribuídas à p na crimi- último, as causas de diminuição e de aumento.
nal - logo, especulações judiciais sobr teorias p nais estão excluídas Parágrafo único. No concurso de causas de aumento
da sentença criminal: a lei penal brasileira assume explicitamente as ou de diminui 'áo previstas na parte especial pode o juiz
teorias unificadas da pena crilTiinal, porque o objetivo d reprovação Limitar-se a um só aumento ou a uma só diminuição, pre-
' !TI dido p la retribuição equivalente, por um lado, o obj tivo d valecendo, todavia, a causa que mais aumente ou diminua.
prevenção abrange a prevenção especial (nas dimensões de correção e
4. Os processos intelectuais e emociona.is do julgador. A d limitação
de neutralização do cond nado) e a prevenção geral (nas dimensões
da moldura penal e a indicação do método Legal de preenchimento da
d intimidação d reafirmação da ordem jurídica) por outro lado 5 .
moldura penal não pode1TI determinar a pena necessária e suficiente para
3. Pena necess:ária e suficiente. A necessidade e a suficiência da pena reprovar e prevenir o crime, segundo a ideologia penal - nem xistem
são d t rminadas pelos o bj ti vos de reprovar e d prevenir o crim , fórmulas matemáticas para d t rminar a p na criminal. Som nt os
atribuídos à pena criminal. O significado dos conceitos de necessidade processos int lectuais emocionais do juiz criminal podem empr gar
de suficiência da pena pode ser assim d tinido: a) a necessidade da p na o método 1 gal para d finir o conteúdo criminal da moldura p nal,
r b r -s à natureza da pena aplicada: p na privativa d liberdade, p na determinando a pena necessária e suficiente para reprovar e prevenir o
r stritiva de direitos ou pena de multa; b) a suficiência da p na refere-s cnm , conform o programa oficial:
à extensão da pena considerada necessária para reprovar ou prevenir o
a) em prim iro lugar, a reprovação do crime 'realizada p la retri-
crime: a duração da pena privativa de lib rdade, com substituição ou
buição de culpabilidade !TI dida pela pena criminal aplicada;
não por p na restritiva de direitos, e o valor da pena de multa.
b) e1TI segundo lugar, a prevenção do crime deves r realizada p la
função d correção d neutralização atribuída à pr v nção p cial
3 TRÔNDLE/FI HER, trafgesetzbuch und Nebengesetze, 2001, 50ª edição,§ 46, n. 13.
4 M H/ZIPF, Strafrecht, ~_989, 7127; JES HE K/WEIGE D, Lehrbuch des
Strnfrechts, 1996, § 82, IV, 6;TRO DLE/FI HER, Strafgesetzbuch und Nebengesetze,
2001, 50ª edicão, § 46, n. 16. 6 JE .. H K/WETGE D Lehrbu h des trafrechts, 1996, § 82, II, n. 1, p. 872;
5 Em relação a~ Direito Pe111 al mão, v r , Lenckner FS, 1988, p. 781. TRO DLE/FISCHER, Strafgesetzbuch und Nebengesetze, 2001, 50• edição, § 46, n. 16.
e, secundariamente, pela função d intimidação e de reafirmação da de partida para fixação da p na-base deve ser o mínimo Legal da pena
ordem jurídica atribuída à prevenção g raF. cominada, conforme democrática prática judicial contemporânea.
Ess ' o discurso oficial da t oria jurídica da p na. Mas o dis- As circunstâncias judiciais, d finidas no art. 59 do CP, são obj to
curso oficial xpr sso na t 'cnica d aplicação da p na não canc la o d arbítrio xclusivo do juiz 12 e compr nd m 1 m ntos do agente
conflito ntr objetivos declarados objetivos reais do sist ma p nal (culpabilidade, ant c d nt s, conduta social, p rsonalidad 1noti-
nas sociedades contemporâneas 8 . A prevenção da criminalidade é vos), do fato (circunstâncias e consequências do crime) e da vítima
r furada p la exp ri "ncia histórica da prisão a p na criminal s (comportam nto da vítima).
r duz à função d retribuição equivalente m dida p lo t mpo d A definição da p na-base dev ria ser r gida desse modo:
supr ssão da lib rdade pessoal. a) regra: p na-ba no mínimo 1 al porque exprime o desvalor norm al
do fato; b) exceção: p na-bas sup rior ao 1nínimo 1 gal, m casos d
desvaloradici nal do fato. Contudo, p squisa mpírica sobr aplicação
1. Definição da pena-base: circunstâncias judiciais da pena- cujas constataçó s principais s rão r fi ridas nest Capítulo
(la fase) - indica o contrário: a) p na-bas sup rior ao mínimo 1 gal, m 61%
dos casos; b) p na-base no mínimo legal, m 38% dos casos 13 •
A definição da pena-base, como produto de operacionalização
das circunstâncias judiciais do art. 59, CP, com ça com a fixação do
1.1. Elementos do agente
ponto de partida do proc sso intel ctual d d t rminação da p na cri-
minal. A fixação do ponto de partida d ss processo int 1 ctual é d ti-
Os 1 m ntos do ag nr são os compon nt s mais 1mportant s
nida por dois crit 'rios: a) crit ' rio antigo, fundado m lógica 1nat má-
das circunstâncias judiciais (art. 59, CP), definindo quas toda a pena-
tica, propó a m ' dia ntr o mínimo o máximo da p na cominada 9 ;
-base, como s gue:
b) critério moderno, fundado em razões hu1nanitárias, propõe a
pena míniina 10 • A d cisão sobre os crit ' rios ' simpl s: se o critério
antigo d t rmina aplicação d p na maior , inv rsam nt , o crit ' rio a) Culpabilidade
moderno d t rmina aplicação d p na m nor, então o argum nto
humanitário pr val c sobr o argum nto mat mático - outra atitud 1. A culpabilidad constitui circunstdncia judicia/introduzida p lar forma
viola o princípio da culpabilidade, que proíbe aplicação ou agravação n d 1 4 m ub tituição ao crit 'rio da ''intensidade do do/,o ou grau
de penas sem fundamento empírico concreto 11 • Conclusão: o ponto
interpretação extensiva escolhendo um método que venha prejudicar o réu, embora até mais
7 Ilustrativo, J D Lehrbuch des trafrechts, 1996, § 82, II, III, IV, lógico e racional. "
p. 872-882. 12 N ntido ERREI , Ap licação da pena, 1995, p. 70; tamb 'm J H K/
8 J H / D Lehrbuch des Strafrechts, 1996, § 82, IV, 4, p. 878-879. WEI END , Lehrbuch des Strafrechts, 1996, § 82, II, 1, p. 87 1.
9 , Ap licação da pena, in Revista Forense, 901525. 13 Ver MA HADO, Vinícius. l ndividua/iwpío da pena - o mito da punirão humanizada.
10 R l Aplicação da pena, 1995, p. 64. Florianópolis: Editora Mod lo, 20 1O, p. 11 O (Pesquisa empírica realizada ,em 2006-
11 FERREIRA, Ap licação da pena, 1995, p. 65: "Com tal demonstração fica claro que o 7, em 36 varas criminai d Brasília obr amo tra aleatória d 9 3 processos
método do termo médio, embora racional, prejudica o réu. E como a lei em momento de um universo de 21.881 processos de competência de Jufa ·ngular, Júri,
algum disse qual seria o método a ser adotado, penso que o juiz não pode fazer uma entorpeccnt e uân ito) .
de culpa" da 1 i ant rior 1nas m p ição incômoda: a culpabilidade do como quantidade de reprovação, isto ' , como medida da pena crimi-
autor pela realização do tipo de injusto não é mero elemento info rmador nal 16, pr ssupõe as determinações psíquicas e emocionais do cérebro
do juízo de reprovaçã , m róprio juízo de reprovação pela realização do juiz, conforme os seguintes parâ1netros:
do tipo de injusto (o qu 'r provado no autor), cujos ndamen são a a) o nível d consciência do injusto no psiquismo do autor varia
imputabilidade, a consciência do injusto e a exigibilid&ie de comportamento
numa scala graduáv 1 ntre os xtr 1nos de pleno conhecimento do
diverso (porqu o autor é r provado) 14 • A inclusão da ulpabilidad como
injusto (que define plena reprovação) e de erro de proibição inevitável
circuns"táncia judicial d formulação do juíZ,{) de rep rovação constitui impro- (qu define ausência de reprovação), passando por todos os níveis
priedade metodológica, porque o juízo de culpabilidade, como elemento do int rm diários das gradaçõ s d evitabilidade do erro de p roibição,
cone ito d crim , não pod ser, ao m mo t 1npo, simpl s circunstância
n cessariam nt mensuradas na rep rovabilidade do autor e expressas
judicial de informação do juíw de culpabilidade 15•
na medida da p na 17;
I ' m di o ruísmo do legislador (Exposição d Motivos , b) o grau de exigibilidade de comportamento diverso d autor
n. 50) d que "graduável é a censura" parece d sconhec r que objeto
conscient do tipo d injusto varia numa scala graduáv 1 ntre o
da censura é a atitude do agente, definível em dois momentos: a) no
xtr mo d plena no rmalidade das circunstâncias do tipo de injusto
tipo de injusto, como dolo ( nergia psíquica produtora do tipo d (qu define a plena dirigibilidade no rmativa), como máximo poder
injusto) ou imprudência (atitud defeituosa m açó s socialment
pessoal de não faz er o que faz, e o extremo de plena ano rmalidade das
p rigosas), int grantes do objeto de rep rovação (o qu ' reprovado);
circunstâncias do tipo d injusto (qu d fin ausência d dirigibilida-
b) na culpabilidade, como imputabilidade (o autor é capaz desa- de normativa), como inexistência do poder pessoal de não fazer o que
ber e controlar o que faz), como consciência do injusto (o autor sabe
faz, expressa nas situações de exculpação legais e supralegais, passando
realmente o que faz) e como exigência de compo rtam ento diverso (o
por todo os grau int rm diários da gradaçó d normalidade!
autor tem o poder de não fazer o qu faz), int grant s do juízo de anormalidade do tipo d injusto, qu reduzem o poder pessoal d
rep rovação (porqu o autor ' r provado), cuja conjugada int nsidad
não faze r o que faz, n e ssariam nt 1n nsuradas na exigibilidade de
variáv 1d t rmina o nív 1d r provação pe soal do autor - ou s ja,
comportamento diverso e, portanto, expr ssas na medida da pena 18 •
a graduação da e nsura. A crítica ' válida para todas as situaçó s
em que o conceito d culpabilidade funciona como lem nto d co ·e d culpabilidade constitui, m conjunto com o conceito
ori ntação d d cisõ s judiciais: no concurso de pessoas (art. 29, CP), d tipo de injusto, o cone ito d fato punível- por razão, não ' r dutível
nas penas restritivas de direitos (art. 43, III, CP), no crime continuado a simples circunstância judicial, equival nt a outros elementos informado-
(art. 71, parágrafo único, CP), na suspensão condicional da pena (art. res da pena-base, como os antecedentes, a conduta social, a personalidade e
77, § 2°, CP) te. os motivos do autor, ou co1no circunstâncias ou consequências do fato, ou,
ainda e m comportamento da vítima, de val r id n men infc rior 19 •
Não obstante - ou apesar disso -, a transformação da culpabi-
lidade, ainda existent como qualidade do fato punív 1, isto é, como
reprova?º do autor p la r alizaçáo do tipo de injusto, m culpabilidad 16 TRÔ DLE/FI CHER, trafgesetzbuch und Nebengesetze, 2001, 50ª edição, § 46, n. 5.
17 !RI . , TO , A moderna teoria dofoto punível, 2004, p. 227-229.
18 1 J O , A moderna teoria do foto p unível, 2004, p. 202-204 e 248-250.
14 CIRJNO D T O , D ireito penal (a nova parte geral) , 1985, p. 239. 19 Posição diferente, aqui r fi rmulada m CIRI O DO TO , D ireito penal
15 Ver RRE RA Aplicação da pena, 1995, p. 79-80. (a nova parte geral), 1985, p. 238-239 .
2. P squisa empírica mostra que a culpabilidade é a circunstância judi- al mã orienta-s no sentido de considerar maus antecedentes somente
cial 1nai requ nte, der rminando pena-base superior ao mínimo legal a existência de penas criminais anteriores - e, portanto, ausência de
em 76,5% dos casos, co1n frequente fundam entação inerente ao tipo penas criminais significaria bons antecedentes, com efeito redutor da
- um m 'todo il gal consist nt na rep tição do tipo 1 gal imputado: p na 24 . Em qualqu r hip ' a ria juri prudência modernas
no furto, porqu o autor subtraiu o bem de outra p essoa; no homicídio, condicionam a v Jidad d antecedentes ao prazo d 5 (cinco) anos,
porqu o autor tirou a vida de alguém tc. 20 • por aplicação analógica do prazo de validade da reincidência (art. 64,
I, CP) 25 .
2. Dados empíricos mostram que a conduta social determina pena-base da categoria abstrata repres ntada pelo conceito de p rsonalidade32 .
superior ao mínimo legal apenas em 17,4% dos casos 30 .
Finalment , a personalidade como natureza correr ta d suj itos
reais ' um produto histórico m proc sso d constant formação ,
d) Personalidade transformação deformação, de modo que v ntuais traços de carát r
constitu m cortes simplificados, itnpr cisas e transitórios da natureza
]. nc iro d p r onalidad ' bj e d n rm e ncrov'rsia m humana, como pr du b" qui'-v»,>v ....i l d nju o a dações
Psicologia ou Psiquiatria 1nod rnas, por seus limites Ílnpr cisos ou históricas concretas do indivíduo.
difusos. Não há consenso sobre as s guint s questões: a personalidade
2. P squisa mpírica mostra que a personalidade det rmina p na-bas
(a) seria d limitada p lo ego, como o p rc ptivo-consci nt responsável
superior ao mínimo legal em 47,7% dos casos, na maioria das vezes
pelas decisá s ações da vida diária? (b) abrangeria o superego como
co1n fórmulas vazias: o acusado possui personalidade voltada para o
instância d control ou c nsura p ssoal? (e) enfi1n, incluiria as pulsá s
crime, ou apresenta personalidade distorcida, ou t m personalidade
instintuais do id, como fonte inconsciente da energia psíquica, regida
comprometida com a prática de delitos tc33 .
pelo princípio do praz r?
Em geral o operadores do sistema de justiça critninal carecem
) Motivos
de formação acadêmica em Psicologia ou Psiquiatria para d cidir
sobr o compl xo cont údo do cone ito d personalidade , por ssa
1. O motivo, no sentido d móbil do crime, designa o aspecto dinâmico
razão, a jurisprudência brasil ira t m atribuído um significado 1 igo ao
de pulsá s instintuais do id, atualizadas em estímulos internos determina-
conceito, como conjunto d sentimentos/emoções p ssoais distribuídos
do 4 d egoís1no, cól ra, prepotência, lu úria, gan " ncia avidez, cobiça,
ntre os polos d emotividade/estabilidade, ou d atitudes/reações indi-
vingança etc., que conferem qualidades negativas a condu a, ou, a] er-
id ai na fa sociabilidade/agressividade, que pouco indicam sobr
nativamente, de gratidão, sentimento de honra, revolta contra injustiças
a personalidade do cond nado - hoje, com a introdução do princípio
t . qu indi am qualid po itivas da conduta, r 1 vant p r
da identidade física do juiz no processo penal, fora1n liminados os
fixação da p na-bas 35 . Os motivos, como raíz p íqui o-ati ti as do
fi itos d sastrosos do sist ma ant rior, e1n qu o int rrogatório podia
fato, tamb 'rn pod m constituir circunstâncias agravant s ou at nuant s
ser realizado por um e a sentença podia ser proferida por outro juiz
genéricas, ou fundam ntos qu ificador sou privilegiant s do tipo b ' ico
criminal3 1• A 1 gislação jurisprud "ncia al más d staca1n a atitude
de crim : motivo torpe, motivo fútil, 1notivo de relevante valor social ou
concreta do autor na realização do fato punív 1, indicadora de rudeza
moral etc. N e as hipót ses, são r gidos p la proibição d dup/,a valoraçá{):
ou d brutalidade, d má-fé ou d peifídia, d infâmia ou d abjeção, d
motivos que int gramas características do tipo de injusto, ou que são
desconsideração ou de crueldade, por exemplo, capazes de revelar traços I • ~
32 VerTRÔ DLE/FIS HER, tra.fresetzlmch und ebengesetze, 2001, 5?ª edição, §_46,, n. 2_8.
33 MA HADO , Individualização dn pena - o mito da punirão humamzndn. flon anopolis:
3o MA Individunliz.açáo da pena - o mito da punição humaniZlldn. Florianópolis: Editora Modelo, 201 O, p. 117.
Editora Modelo, 2010, p. 11 7 e 129. 34 p HE/PONTALI , Vocabulário da psicanálise, l 986, p. 363-364.
31 ERREI , Aplicação da pena, 1995, p. 88-90. 35 RR.EIRA, Aplicação da pena, 1995, p. 91.
ou inconscientes) da vítima para a realização do crim , reduzindo a) Natureza das circunstâ cias. As circunstâncias agravantes
ou excluindo o tipo de injusto ou a r provação do autor, mediant (arts. 61 e 62, CP) e circunstâncias atenuantes (arts. 65 e 66, CP)
provocação, estímulo, negligência, facilitação etc. previstas na parte geral possuem duas características funda.rnentais:
A contribuição da vítima para o crim pode ser nenhuma, no caso a) são genéricas, porqu aplicáv is a todos os fatos puníveis; 6) são
obrigatórias, porque d v m agravar ou at nuar a p na, se v rificadas
de vítimas inoc nt s; pod ser parcial no o de ítima ingênu (em
crimes sexuais), ou de vítimas descuidadas (em crimes patrimoniais); concr tam nte- ex to con tit m qualificam ou pri il giam o tipo
pode s r equiv l nt ntr'buição do autor n d provocação d injusto, hipótes s m que o próprio legislador pr vê a ampliação
ou redução da pena no tipo legal d crim , excluindo a agravação ou
m crim s viol ntos; pod , finalm nt , s r total ou absoluta, no caso
da situação justificante da legítima defesa, por exemplo 43. A inclusão at nuação judicial.
do comportamento da vítima entre circunstâncias judiciais formaliza Por isso, as circunstâncias agravantes ou atenuantes g n 'ricas (ou
I galm n m Im n ri n açã judi iaJ in rp rad prática circunstâncias legais) caract rizam a sp cificidad concreta do fato
judiciária (nos crim s sexuais, por xemplo) r conh ciclo xpr am nte co1no acont cim nto histórico, ampliando ou reduzindo o cont údo
em hipóteses de crimes privilegiados (violenta emoção provocada por do tipo de injusto e/ou a reprovação de culpabilidade do autor, ex-
ato injusto da vítima) ou d situaçõ s justificant s ou xculpant s. pr ssas na p na criminal aplicada.
2. Dados empíricos 1nostram qu o comportamento da vítima determina 6) Valor das circunstâncias. Finalm nte, é nec ssário esclarecer
p na-bas sup rior ao mínitno 1 gal m 14,2% dos casos44 . o valor atribuído às circunstâncias legais no cálculo da p na: o valor das
circunstâncias legais na dosim triada pena do fato punív 1, consistent
m quantidades de agravação ou de atenuação da pena-base já d finida
2. Circunstâncias agravantes e atenuantes genéricas p las circunstâncias judiciais, ' d t rminado exclusivamente p lo arbítrio
(2a fase) do juiz, mas d p nd d fundamentação concreta, como toda decisão
judicial (art. 93, IX, CR). A prática judicial t m atribuído um valor
qu oscila entr 1/5 (um quinto) 1/6 (ums xto) da pena-bas para
A atividade judicial d fixação da p na-bas r pr s nta a primei-
cada circunstância g n 'rica45.
ra fase do processo de aplicação da pena criminal (art. 68, primeira
parte, P). A conclusão do processo judicial de individualização da
p na d pend da op racionalização das fas s s guintes, influ ntes na 2.1. Circunstâncias agravantes
mensuração da pena: a segunda fase, r pr sentada pelo xame das cir-
cunstâncias agravant s at nuant s g n 'ricas (art. 68, s gunda part , A lei p nal brasil ira d fin as s guint s circunstâncias agravantes
CP); a terceira fase, r pr s ntada p la v rificação da cau a sp c1a1s gen'ricas (art. 61, CP):
de diminuição ou de aum nto de pena (art. 68, parte final, CP).
Art. 61. São circunstâncias que sempre agravam a pena,
quando não constituem ou qualificam o crime:
43 Vt r , Aplicação da pena, 1995, p. 99.
44 MA HADO, Individualização da pena - o mito da punição h1mumizadn. Florianópolis:
Editora Modelo, 2010, p .. 11 7. ,Aplicação da pena, 1995, p. 101-102.
I - a reincidência)· (art. 63, CP). Assim, a reincid "ncia pressupõ : a) condenação por crime
II - ter o agente cometido o crime: anterior - portanto, qualqu r p na apl icada, xcluída a contrav nção;
b) trânsito em julgado da condenação anterior - portanto, ünutabilidade
a)por motivo fútil ou torpe; da d cisão por sgotam ento ou preclusão d r cursos; e) prática de
b) para facilitar ou assegurar a execução) a ocultação, novo crime após transitar em julgado a condenação anterior - portanto,
a impunidade ou vantagem de outro crime; a nova conduta criminosa d v s r post rior ao trânsito em julgado da
e) à traição, de emboscada, ou mediante dissimulação) condenação criminal ant rior.
ou outro recurso que dificultou ou tornou impossível a Art. 63. Verifica-se a reincidência quando o agente
defesa do ofendido; comete novo crime, depois de transitar em julgado a
d) com emprego de veneno, Jogo) explosivo, tortura ou sentença que, no País ou no estrangeiro, o tenha con -
outro meio insidioso ou cruel ou de que podia resultar denado por crime anterior.
perigo comum; Art. 64. Para efeito de reincidência:
e) contra ascendente, descendente, irmão ou cônjuge; I - não prevalece a condenação anterior, se entre a
f) com abuso de autoridade ou prevalecendo- e de relações data do cumprimento ou extinção da pena e a infração
domé. ticas d coabitação ou de hospitalidade, ou com posterior tiver decorrido período de tempo superior a 5
violência contra a mulher na forma da lei específica; (cinco) anos, computado o período de prova da suspensão
ou do livramento condicional, se não ocorre revogação;
g) com abuso de poder ou violação de dever inerente a
cargo, ofício, ministério ou profissão; II - não se consideram os crimes militarespróprios epolíticos.
h) contra criança, maior de 60 (sessenta) anos, enfermo 2. Reincidência fleta e reincidência real. A d finiçã l gal d rein-
ou mulher grávida; cidência descr v hipótese formal irrelevante e scamot ia situação
real relevante: a) d screve a hipót s formal irrel vant da reincidência
i) quando o ofendido estava sob a imediata proteção
fleta, porque o trânsito em julgado de condenação anterior indicaria
da autoridade;
presunção de periculosidade, u1n cone ito car nte d cont údo ci n-
j) em ocasião de incêndio naufrágio, inundação, ou tífico; b) escamot ia a xp ri "ncia concreta r levante da reincidência
qualquer calamidade pública, ou de desgraça particular real, porqu o novo crim 'produto da ação d formadora da prisão
do ofendido; sobr o condenado, através da ex cução da p na do crim anterior.
l) em estado de embriaguez preordenada. 3. Crítica. O reconhecimento oficial da "ação criminógena" do cárcere
(EM , n. 26), demonstrada pela pesquisa criininológica univ rsal,
exig r d finição do conceito de reincidência criminal, excluindo a
a) Reincidência hipót s fonnal irrelevante da reincidência fleta, incapaz de indicar a
indefinível presunção de periculosidade, e d finindo a situação concreta
1. Conceito. A reincid "ncia significa prática d novo crime depois
relevante da reincidência real como produto da ação criminóg na da
do trânsito m julgado d s nt nça criminal condenatória ant rior
execução da pena (e do processo de criminalização) sobre o cond - da reincidência), a r lação de gravidade entre os crimes te. 48 .
nado, por falha do projeto técnico-corretivo da prisão. A questão '
4. Área de influência. Dados mpíricos indicam que a reincidência
sitnples: se a prevenção especíal positiva de correção do condenado é
' a circunstância agravant mais fr quent : em 97,37% dos casos d
in ficaz, e se a prevenção especial negativa d neutralização do con- incidência d circunstâncias agravant s a reincidência está prsente49 . A
denado funciona, r alm nt , como prisionalização deformadora da
inAuên ia irracion al da reincidência criminal exclui, r duz ou afeta d
personalidade do condenado, então a reincidência real não pod
m d · n itu i n l u · al muito d" reitos individuais:
constituir circunstdncia agravante46 .
a) constitui circunstância agravante obrigatória (art. 61, I, CP);
É n c s ário r conh c r: a) s novo crim ' com tido após a
passagem do ag nte pelo sistema formal de control social, com efetivo b) d t rmina r gime inicial fechado em hipót ses d r gim
cumprimento da pena criminal, o processo d d formação mbrut - semiaberto de execução da pena privativa de lib rdad (art. 33, § 2°,
cim nto p ssoal do sist ma p nit nciário deveria induzir o legislador b): dados de pesquisa indicam esse efeito em 56% dos casos 50 ;
a incluir a reincidência real entre as circunstâncias atenuantes, como c) determina regitne inicial semiaberto ou regjme inicial fechado
produto específico da atuação deficiente e predatória do Estado sobre m hipót s s d r gim aberto (art. 33, § 2º, c): dados d pesquisa in-
suj itos criminalizados; b) s novo crim ' com tido após simpl s dicam ess feito, respectivam nte, em 44% e em 34% dos casos; 51;
formalidade do trânsito em julgado d cond nação ant rior, a reinci-
d) xdui a suspensão condicional da pena m crim s dolosos
dência ficta não indica qualqu r presunção de periculosidade capaz d
(art. 77, I);
fundamentar circunstância agravante. Em conclusão, nenhuma das
hipóteses de reincidência real ou de reincidência ficta indica situação ) imped a substituição de p na privativa d liberdade por pena
de rebeldia contra a ordem social garantida pelo Direito Penal: a rein- r stritiva d dir itos ou 1nulta (art. 44, II, 62, § 2°) - ss b ito
cidência real d v ria ser circunstância atenuante a reincidência ficta desastroso ocorre em 85,5% dos casos, segundo dados empíricos 52 ;
', d fato, um indiferente p nal. f) constitui circunstância preponderante, na concorrência d
Al 'm di reincidencia (ficta ou real) significa dupla punição circunstâncias agravantes e at nuantes (art. 67);
do crim ant rior: a prim ira punição ' a p na aplicada ao crime an- g) amplia os prazos do livramento condicional (art. 83) da
t rior; a segunda punição é o quantum de acr 'scimo obrigatório da prescrição da pretensão executória (art. 11 O);
pena do crim posterior, por força da reincid "ncia47 . h) interrompe o prazo da pr scrição (art. 117, VI);
A literatura e jurisprudência brasileiras dominantes, apesar de
r conh cer a maioria dess s problemas, agravam a p na com bas
na reincidência, considerando alguns pr ssupostos para determinar 48 Ver F RREIRA, Aplicação da p ena, 1995 , p. 11 0- 111 .
49 HAD l ndividualizaçiío da pena - o mito da punição humanizada. florianópolis:
o quantum da agravação: a xecução da p na ant rior, o spaço d Editora Modelo, 2010, p. 138 ..
t mpo ntr o crime anterior o novo crim (resp itada apre crição 50
HAD , Individualização da p na - o mito da punirão humanizada. Florianópolis:
Editora Modelo, 2010, p. 142.
51
HAD , Individuniizaçiio da p na - o mito da punipio humanizada. Florianópolis:
Editora Modelo, 2010, p. 141 -1 42.
52 1-IAD , Individualização da pena - o mito da punição humanizada. Florianópolis:
46 CTRT O D TO , D ireito Penal a nova parte geral, 1985, p. 244-246.
47 ERREI ,Aplicação da pena, 1995, p. 107. Editora Modelo, 2010, p. 143.
i) determina a revogação da r abiliração; previstos como circunstâncias agravant s ou ar nuantes não podem
j) xcluiprivilégios legais especiais (art. 155, § 2°); ser considerados na fixação da pena-base 55 .
k) xclui o perdão judicial na r ceptaçã ulp (art. 180, § 3°);
1) cancela o direito de apelar em Liberdade (art. 594, CPP); c) Facilitar ou as egurar a ecução, ocultação, impunidade ou
vantagem d outro crime
m) exclui afiança, m crim s dolosos (art. 323, III, CPP);
n) xclui a transação penal a suspensão condicional do p rocesso A circunstância agravante designa a prática de um crime com
da L i 9.099/95. a finalidad d facilita r ou assegura r (a) a execução d outro crim ,
S. Prova da reincidência. A reincid "ncia é d monstrada por certidão como ameaça ou constrangimento ilegal sobre terceiros em certos
de trânsito m julgado da cond nação anterior e se xtingu pelo crim s xuai , (b) a ocultação d outro crim , como am aças contra
d cur d razo d 5 anos ntr o cu1npritn nto ou xtinção da t st munhas, (c) a impunidade d outro crime, como alt ração, falsi-
pena do crime ant rior o novo crime, incluído o prazo d susp nsão ficação ou d truição d provas, ou coação sobr t stemunha te.,
ou livram nto condicional não r vogados (art. 64, I, CP). Por fim, (d) a vantagem d outro criln , como a1n aças contra t st munhas 56 .
são d sconsid rados, para fi iro d r incid "ncia, os crim s militar s
próprios (definidos no Código Penal Militar) e os crimes políticos
d) Traição, mboscada,. dissimulação ou outro recurso que
(art. 64, II, CP).
dificulte ou impossibilite a defesa da vítima
53 sim O O , Lições de direito penal (parte geral), 2003 , p. 419-420 , 11. 324; 55 TRÕ DLE/FI H ER, trafgesmbuch imd ebengesetze, 200 1, 50ª edição,§ 46, 11. 77.
também, ME TIERI , Manual de direito penal (parte geral), 1999, v. I, p. 286-287 . 56 F RR IRA, Aplicação da pen.a, 1995, p. 112; F O O , Lições de direito penal
54 n id > RREJ , Aplicação da pena, 1995 , p. 111 -11 2; também, (parte geral), 2003, p. 420.
FRAGOSO, Lições de direito penal (parte geral), 2003, p. 420, 11. 324. 57 omparar RREIRA, Aplicação da pena, 1995 , p. 112-114.
e) Emprego de veneno, fogo, explosivo, tortura ou outro meio g) Abuso de autoridade ou prevalecimento de relações
insidioso ou cruel, ou de que possa resultar perigo comum domésticas, de coabitação ou de hospitalidade, ou com violência
contra a mulher, na forma da lei específica
A circunstância agravante d staca det rminados meios de ação
O conceito de autoridade responsável pelo abuso, ou a natureza
scolhidos p lo autor para r alizar o fato punív l, definív is corno
das relações obj to d prevalecimento, p rt nc m ao Dir ito Civil: a
(a) insidiosos, caract rizados por ação imp rceptív l ou inevitável -
o veneno, por x mplo, (b) cruéis, caract rizados p la produção d
autoridade produtora do abuso e as relações re erida ão d natureza
privada, cir u e i a "m mi ili u r id ial e m 1 cal
sofrimento intenso, excessivo ou desnecessário à vítima - o fogo, os
d int r mbi r gido p lo Direito d Família, p lo Direito do Trabalh
explosivos, a tortura te. , finalm nt , (c) capaz s de produzir perigo
ou outros ramos do dir ito privado, como locais de moradia conjunta
comum, d finido pela possibilidad d dano g n ralizado a b ns jurí-
(coabitação), ou espaços físicos caracterizados por certos poderes/deveres
dicos col tivas ou sociais indet rminados 58 .
n r laç ,. d h pit idad (r sidência), d · trabalh • ( mpr sa) ou d
vida ( scola), como mpr gadores, profc ssores, tutor s, curadores tc. 61•
f) Vitimização de ascendente, descendente, irmão ou cônjuge
A Lei 11.340/06, qu instituiu os Juizados d Viol "ncia Doméstica
Familiar contra a Mulh r, ditada no t rmos do art. 226, § 8°, da CR,
A circunstância agravante te1n por obj to ar lação d par nt sco
da Conv nçáo sobre Elitninação da Discriminação contra Mulheres da
natural entr ascendentes/descendentes irmãos, por um lado, e a relação
Convenção Interam ricana para Pr venir, Punir Erradicar a Violência
de casamento civil entre os cônjuges, por outro lado: a) a r lação d
contra a Mulh r introduziu no Direito P n:al um amplo on ito d
parentesco natural entre ascendentes, descendentes e irmãos fundam n -
v ,l "n ia m algum hi ót d difí il u impo í l d t rminação.
-s na consanguinidade, com xclusão de outras formas de par nt sco
civil- como a adoção, por x mplo -, porque a l galidade penal proíb 1. O conceito de viol "ncia contra a mulh r compr nde ações omis-
a analogia in malam partem59 • b) o vín lo afeti os ntre cônjuges sões de ação d terminant s de mort , l sã c rporal friment fí ic
fundam ntam-s no casamento civil, ou com fi itos civis, nquanto e u p ic l 'gi d n m r e a rim nial (art. 5°) - ap sar da
durar a i dad nju al m clusã d utra Í◄ ,r ma d união n rm n p rim nial ]and ti &audul u produzido
estável, como companh iro amásio concubinos te., tamb '1n porqu sem constrangim nto pessoal não pode integrar o conceito de violência.
a legalidad p nal exclui a analogia in malam partem 60 . 2. O âmbito de violência contra a mulh r compr nde os paços
(a) doméstico, como local d convívio p rman nt de p ssoas com
ou s 1n vínculo familiar, incluindo agr gados, (b) familiar, co1no
a1nbi nt fonnado por co1nunidad s d indivíduos apar ntados - ou
assim considerados - por laços naturais, de afinidade ou de vontade
58 ERREl RA. Aplicação da pena, 199 5, p. 1 ; F· OSO Lições de direito penal expressa, e (c) de relações íntimas de afeto com convívio atual ou
(parte geral), 2003, p. 421.
59 nrr ~ J Aplicação da p 1111, 1995, p. 11 -116· F GO O, Lições de anterior, ind p ndent de coabitação (art. 5°, I-III).
direito penal (parte geml), 2003, p. 422-423, n. 329.
60 e cmid OSO, Lições de direito penal (parte geral), 2003, p. 422, n. 328;
FERREIRA Aplicação da pena, 1995, p. 115- 11 6; RE l PRA.D Curso de direito
penal brasileiro, 2004, p. 492. mi o, ERREIRA, Aplicação da pena, 1995, p. 116.
3. A viol "ncia contra a mulher pode assumir forma física, psicológica, n tituci nal on1. poderes e deveres oficiais cujo abuso ou violação
xual, patrimonial e moral ass im definidas: constituem circunstância agravante, se não constituírem ou qualificarem
o crime; o ministério designa atividades religiosas profissionais, com
a) a viol"nciafísica: nn a' int gridad o u úd e rporal (art. 7°, I);
poder s d ver s d natureza mística atribuídos p lar ligiosidad po-
b) a violência psicológica: produzir dano m i al com redução pular a padr s, pastor guia p u uai m g ral m e nfi ão, a
da autoestima; prejudicar ou p rturbar o pl no d senvolvim nto; penit "ncia e o perdão dos p cados, a unção de enfermos te.; a profissão
d gradar ou controlar ações, comportam ntos, cr nças ou d cisó s designa atividades 1 galmente r conhecidas, cujo ex rcício d p nde d
mediante am aça d constrangim nto, humilhaçó s, isolam nto, habilitação especial, ou de licença ou de autorização do poder público,
vigilância constante, p rs guição contumaz, insulto, chantag m, como advogados, 1nédicos, ngenheiros, nfi rm iros etc. 62 .
ridicularização, exploração, limitação do dir iro de locomoção, ou
qualqu r 1n io d t rminant d pr juízo à saúd psicológica à au-
i) Vitimização de criança, de maior de 60 anos, de enfermo ou
tod t rminação (art. 7°, II);
de mulher grávida
c) a violência se uai: constranger a presenciar, mant r ou paruc1par
A circunstância agravante fundam nta-se na maior vulnerabi-
der lação sexual ind sejada, m diante intilnidação, a1n aça ou uso d
lidade, fragilidad ou incapacidade d e resistência ou de defi sa d
força; induzir a comercializar ou a utilizar de qualquer modo a sexua-
criança, d pessoa maior de 60 anos, de enfermo ou de mulher grávida,
lidad ; imp dir a utilização d qualqu r m 'todo contrac privo; forçar
assim definidos: a) criança é todo s r humano até a idade de 12 anos
ao matrimônio, gravidez, aborto ou prostituição m diant coação,
incompletos, nos t rmo do art. 2°, da L i 8.069/90 (Estatuto da
chantag m, suborno ou manipulação; limitar ou anular o exercício
Criança e do Adolescente); b) maior de 60 anos indica o marco cro-
de dir itos sexuais ou reprodutivos (art. 7°, III);
nológico qu defin a pessoa considerada idosa, na forma do art. 1°,
d) a violência patrimonial: r ter, subtrair ou destruir total ou par- da Li 10.741/03 (Estatuto do Idoso) que determinou o piso etário
cialm nte objetos, instrum ntos de trabalho, docum ntos p ssoais, da circunstância agravante no Código P nal; e) enfermos são indivíduos
bens, valores, direitos e recursos conômicos, incluindo os destinados portador s de patologias orgânicas ou psíquicas, crônicas ou agudas,
à satisfação d nec ssidad s (art. 7°, IV) - como ' óbvio, a violência t mporárias ou p rman nt s, d t rminant s d sofrim nto físico ou
dessas condutas pressupõe sua natur za dolosa; psíquico, ou der dução/cessação d funções orgânicas, fisiológicas ou
) a viol "' ncia moral: aç ' d ·nid om 'n·a dif: m ção injúria psicológicas, em geral; d) m ulher grávida designa o estado de p renhez
(art. 7°, V ). da mulh r durant a g stação, iniciada co1n a nidificação ou fixação do
ovo ou zigoto no Útero materno e enc rrada com a ruptura da bolsa
amniótica, qu marca o início do proc sso d parto 63 .
h) Abuso de poder ou violação de dever inerente a cargo, ofício,
ministério ou profissão
j) Vítima sob imediata proteção da autoridade Al 'm di embriaguez p reordenada distingue-se da embriaguez
voluntária ou culposa e da embriaguez fo rtuita ou resultante de força
A circunstância agravante t m por obj to a violação d garantias maior, pelo seguinte: a) a embriaguez voluntária ou culposa consiste
legais, explícitas ou implícitas, de agentes do poder público, a pes- na progressiva intoxicação p lo álcool, ou substância quival nt , s m
soas sob imediata p roteção da autoridade pública, mediante guarda propósitos agr ssivos ou d struidor s: não exclui a r spon abilidad
(o cidadão sob prisão t mporária ou d finitiva), ou custódia (o do nt penal, pr servando a imputabilidade p lo artifício da actio libera in
m ntal int rnado m hospitais públicos), ou outras formas d prot ção causa (art. 28, II, CP), que d sloca a inimputabilidad do m omento
qu ampliam ou reforçam a confiança da vítima na inviolabilidad d posterior d prática do crime para o momento anterior ao processo de
dir itos pr t id p 1 1 i p nal 64 . mbriagu z, ainda caract rizado pelo poder d livre disposição da
vontade consciente, em relação a ações criminosas futuras não previs-
1) Ocasião de calamidade pública (incêndio, naufrágio, ta , ma pr visív is , n s ca o, som nt punív i por imprud "ncia,
inundação etc.) ou de d graça particular da vítima segundo o princípio da culpabilidad ; 6) a embriaguez fo rtuita (ou
acidental), assim como a p roveniente de força maior, pode is ntar d
ituaç d cal ·d ,d púbr , incêndios, inundações, ou pena o autor d fatos puníveis (art. 28, § 1°, CP) ou r <luzir a p na
1nesmo naufrágios, ou de desgraça particular, como acidentes de trânsito, aplicada (art. 28, § 2°, CP), conform exclua ou reduza (a) a capaci-
r pr ntam condiçõ s concr t d r a qu r duz m ou xclu 1n a ca- dade d co1npr end r o caráter ilícito do fato, ou (6) de detenninar-s
pacidade de proteção p oal ou patrimonial das vítimas, aumentando a d acordo com ssa compr nsão, qu d fin m a ünputabilidad 66 •
r provabilidad d ações 1 iv b n j rídi p nalm nt prot gidos65.
r duzid nas ituações de inimputabilidade ou d semi-imputabilidade; no promessas, com distribuição difer nciada da responsabilidade penal,
nível da consciência da antijurídicidade, como conhecim nto real do que maior para o indutor e m enor para o induzido.
faz, excluído ou reduzido no erro de proibição; no nível da exigi-bitidade de
comportamento diverso, como poder de não fazer o que faz, excluído ou
c) ln ugar ou det rminar ao crim pes oa depend nt ou
r duzido nas situ.a óes de exculpação l gai supra! gais. As circunstâncias
impunível por condição ou qualidade pe oal
agravantes do concurso de pessoas na 1 i p nal br il ir. ão guint :
Art. 65. São circunstâncias que sempre atenuam a pena: inferior a 21 anos, não a (antiga) incapacidade civil do agente 71• Al ' m
I - ser o agente menor de 21 (vinte e um), na data do disso, decisões do legislador civil não podem invalidar critérios do
foto) ou maior de 70 {setenta) anos, na data da sentença; legi lad r penal. Igualmente, é irrelevante a antecipação da maioridade
civil por emancipação, casam nto, ex rcício de empr go público, con-
II - o desconhecimento da Lei;
clusão d curso sup rior, stab l cimento civil ou com rcial ou relação
III - ter o agente: de emprego (art. 5°, 1-VI, Código Civil): não excluem a circunstância
a) cometido o crime por motivo de relevante valor social atenuante do menor d 21 anos, nem antecipam a imputabilidad
ou moral- p nal para id d in~ rior a 18 ano .
b) p rocurado, por sua espontânea vontade e com eficiên- S gundo, o fundam nto legal que determinou a adoção da idade
cia, Logo após o crime, evitar-Lhe ou minorar-lhe as con- de 60 anos, d finida no art. 1°, da L i 10.741/03 (Estatuto do Idoso),
sequências, ou ter, antes do julgamento, reparado o dano; para caract rizar a circunstâ ncia agravante do art. 61, II, h, do Código
Penal, com maior razão p nnit considerar a idade de 60 anos - e não
c) cometido o crime sob coação a que podia resistir, ou
a idade de 70 anos, referida na lei - para caracterizar a circunstância
em cumprimento de ordem de autoridade up rior, ou
atenuante do art. 65, I, CP, porqu a nalogia in bonam partem ' in-
sob a influência de violenta emoção, p rovocada por ato
injusto da vítima; teiramente compatível com o princípio da Legalidade p nal.
no erro de tipo permissivo, m qu o rro virável exclui a forma dolosa moral, como asp cto dinâmico d pulsô instintuai do id, tem por objeto
e permite punição por imprudência, se previsto em lei - segundo a determinações primárias da conduta humana, fundadas m interesses
teoria da culpabilidade limitada, adotada pelo legislador 72 . de significação objetiva para a vida da comunidade ou do Estado - por
Logo, o princípio da culpabilidade d termina a seguint disciplina x mplo, danificar xp rim nto rural d produção d s ment s trans-
gênicas capazes d dano in i ri mi o ' col gi ' aúd h man
do erro de proibição direto na modalid d de desconhecimento da lei: a) s
inevitável, isenta de pena- apesar do inconvincente discurso repressivo configura ação por motivo d r 1 van te alar soei e não constituir ação
sobr eficácia d l i p nal73 ; b) s evitáv 1, r duz a pena- nessa hipót s justificada (estado de n cessidad ) ou ituação d xculpaçã u ralegal
(fato de consciência); ou ações fundadas em sentimentos de nobreza,
pod ria constituir circunstância atenuante, ma razô s m todológicas
exigem sua valoração como causa especial d diminuiçã d p na. Afinal, d altruísmo, ou d indignaçã p al d · i nifi . ção subj tiv p a
não ' o princípio da culpabilidade que d v se adaptar à norma isolada indivíduo - por exemplo, o sequestro do estuprador, pelo pai da vítima
da ação d stupro, configura ação por motivo d r 1 vant vai r moral 75 .
do desconhecimento da lei m r síduo scl rosado do sistema causal
qu deve se adaptar ao prin ípio da ulpabilidade, como indica qualqu r
interpretação sistemática da lei penal. A literatura brasileira mais escla- d) Ação espontânea, imediata e eficiente, para itar ou reduzir
r cida, inda sob influ "ncia d brocardos antigos do tipo ignorantia legis as consequênci.as do cdme, ou I"eparação do dano ante do
neminem excusat dmit ara i nalidad d rgum nt não ousa julgamento
ro1np r com a irracional tradição repr ssiva, sacrificando o p rincípio da
culpabilidade a supostas exig "ncias de eficácia da lei penal 74; A circunstância atenuante tem por obj to duas situações distintas
r !acionadas à vítima:
c) Motivo de relevante valor social ou moral a) ação de natureza espontânea do autor do fato (ou seja, ação
fundada m motivo autô nomo, d iniciativa própria ou não forçada
A cir un tân ia at nuant d motivo d rel vant val r social ou do agent ), imediata (ação r alizada s m int rvalo, ou logo após o
crim ) eficiente (ação r alm nt ficaz) d prot ção da vítima,
realizada com o objetivo de evitar ou de reduzir os feitos de crime
72 Ver CIRI O DO TO , A m oderna teoria do fato punível, 2004, 3ª edição, consumado - a ár a d incid "ncia da at nuant , qu a distingu
p. 237-246.
73 JE U , D ireito penal, 1999 p. 485· igua1m nre, MIRABETE Manual de direito do arrependimento eficaz, causa de is nção de pena da tentativa
penal, 20 00, p. 202. acabada, m qu o crim ainda não stá consumado 76 ;
74 Por exempl , RREI , Aplicação da pena, 199 5, p. 132: "Quando o erro se dá
por ignorância da lei essa circunstância também não deveria excluir a cuLpabiiitÚlde? A
princípio, .a resposta só poderia ser positiva. Entretanto, a adoção de um entendimento
b) reparação do dano, pelo pagamento ou qualqu r outra forma
assim p oderia trazer sérias consequências à existência do Estado. A vida social depende da de indenização, antes da sentença - exceto nos crimes de menor poten-
observância das regras de conduta, sendo nece shio para estabilização das relações sociais
qu tlJ normas jurídicas sejam rigorosamente cumpridas. Daí quase todas as legislações cial ofensivo da L i 9.099/95, com pena máxima abstrata p rivativa de
terem adotado o p rincípio nemo consentur ignorare legem ou ignorantia legis non
excusar, isto é a Lei se aplica aos que a conhecem e nos qtte a ignoram; a ignorância da
lei não escusa. "; igualmente, STJ . RI Manual de direito penal (parte geral}, l 999,
v. I , p. 290: "Estudamos ser o desconhecimento da lei inescusável na atual sistemática 75 Ver F RREI.RA Aplicação da pena, 1995, p. 1 3; F O O, Lições de direito p enal
do Código {art. 21, CP), muito embora tal p ostura esteja em contraste com um conceito (par_~e gera[), 2003, 16ª edição, p. 430, n. 341 .
realmente normativo-finalista da culpabilidade"; também, FRA O O, Lições de direito 76 TRONDLE/FIS HER, trafgesetzbuch und Nebengesetze, 2001 , 50ª edição, § 46,
penal (parte geral}, 2003, 16ª edição, p. 429-430, n. 340. ns. 46-48.
liberdade até 2 anos (após a Lei 10.259/01), em que a reparação do dano motivado, sem xplicação razoáv 1etc.) da vítima, situado em nível infe-
possui ficácia maior: a composição civil dos danos da conciliação rior ao da agressão injusta da 1 gítima defesa: a natureza da ação da vítima,
judicial extingue a punibilidade; a reparação dos danos da transação co1no simples ato injusto ou como agressão injusta e atual (ou iminente) a
penal entre Ministério Público e autor constitui substitutivo penal, bem jurídico, d cid sobr sua ficácia justificante ou at nuante 80 .
cujo cumprim nto tamb ' m xtingue a punibilidad 77 .
f) Confissão espontânea de autoria de cr· me perante autoridade
e) Coação resistível, cumprimento de ordem de autoridade
superior ou violenta emoção provocada po ato · justo a víti a A confissão espontânea de autoria d crim , ou d participação
em crim , realizada p rant autoridade, constitui circunstância atenu-
A lei descr v tr "s hipót s s distintas d circunstâncias atenuantes, ante porqu indica admissão d r sponsabilidad p lo fato, ac itação
analisadas isoladam nt : de suas cons quências jurídicas e, eventualmente arr pendim nto do
autor ou partícip . A 1 i xig ap nas duas condiçõ s: a) a confissão
a) a coação resistível r pr s nta, m r lação à ituação d x-
dev s r espontânea, ou s ja, fundada em d cisão autônoma do autor,
culpação legal da coação irresistível, nív l infi rior de potencialidade
independent da natureza da motivação ( goísmo, altruísmo, nobr -
lesiva e m enor int nsidade de repercussão psíquica sobre o coagido:
za etc.) - o que exclui determinações heterônomas, como confissões
a natureza resistível da coação, det rmináv 1 concr tamente pelas
obtidas por pr ssão, ou m face de provas irrefutáv is, mas admit -s
condiçõ s objetivas da viol "ncia real (surras, spanca1n ntos te.)
confissão spontânea em caso de prisão m flagrant 8 1; b) a confissão
ou ameaçada (anúncio d mal injusto e grav ) pelas condiçõ s
dev ocorr r perante autoridade, em s ntido amplo, incluindo, além
subj tivas de coator e coagido, decidem sobre sua eficácia exculpante
da autoridade judi ial poli ia1 tamb 'm o Ministério Público 82 •
ou m ram nte atenuante78 ;
b) o cumprimento de ordem de autoridade superior descreve nível
g) Influência de multidão em tumulto não provocado
inferior de obediência devida e1n face da situação de exculpação da
obediência hierárquica (art. 22, CP): a natureza evidente ou oculta da Situaçõ d multidão em tumulto p d m lib rar in tint r s ivos
ilegalidade da ordem de superior hierárquico decide sobr a ficácia individu i - normalment contidos pela ação controladora do superego-,
exculpante ou simplesmente atenuante da obediência hi rárquica, estimulados pela pressão da massa e pelo anonimato pessoal, que reduzem
no âmbito das r laçõ s d subordinação funcional do Dir ito Ad- o pod r de control sobr o comportam nt , ri , fun i nam m
ministrativo79; circunstância atenuante, ag nt não provocou o tumulto 83 .
c) a emoção violenta constitui alteração int nsa da stabilidad
afi tiva do autor, como impulso agressivo produzido por ato injusto (não
80 im, FRAGO O, Lições de direitop nal (pane geral}, 2003, 16ª edi · o, p. 432, n. 344.
81 v◄ r GO O , Lições de direito penal (parte geral), 2003 , 16ª edição, p. 432-433,
77
irn, FRAGOSO, Lições de direito penal (parte geral}, 2003, 16ª edição, p. 430-431, n. 345.
82
mp rar RRET Aplicação da pena, 1995, p. J -137· -~ - ·--, RAG O O,
n . 342.
Lições de direito penal (parte geral), 2003, 16ª edição, p. 432-433, n. 345, para quem
78 o ncid d RREI , Aplicação da pena, 1995, p. 135 . autoridade significa ''autoridade policiar
79 \1◄ r FERREIRA Aplicação tÍll pentl, 1995, p. 135; KOER R JR. Obediência 83 No ntido r ·to, ERREI.RA Aplicação da pena, 1995, p. 1 7-1 8; RAGO O,
hierárquica, 2003, p. 139 s. Lições de direito penal (parte geral), 2003, 16ª edição, p. 433, n. 346.
2.4. Circun tâncias atenuantes inominadas 1 gais agravantes e at nuantes são de igual natureza objetiva ou d igual
natureza subjetiva, as circunstâncias agravantes são compensadas com
as circunstâncias atenuantes; b) se as circunstâncias legais agravantes
Finalment , as circunstâncias atenuantes não expressas admiti-
atenuantes são d naturez d igual preponderam as circunstâncias
das t xtualm nt no art. 66 do CP constituem outras caracterí ricas
subjetivas sobre as objetivas, assim consid radas as circunstâncias
relevantes do fato, anteriores ou posteriores ao crime, não previstas
relacionadas aos motivos do crim , a personalidad do ag nte e à
legalmente mas capazes de influir no juízo de reprovação do autor
r incid ncia.
A
p la r alização do tipo d injusto. D sse modo , crim s r alizad n
contexto de condições sociais adversas, por suj itos marginalizados do Art. 67. No concurso de agravantes e atenuantes, a
m ercado d trabalho do processo d consumo, insufici nt s para pena deve aproximar-se do limite indicado pelas cir-
configurar o conflito de deveres como situação d xculpação, pod m cunstâncias preponderantes, entendendo-se como tais as
caract rizar a circunstância atenuante inominada do art. 66, porqu que resultam dos m otivos determinantes do crime, da
xprimiriam hipót s s de co-culpabilidade da sociedad organizada no personalidade do agente e da reincidência.
pod r do Estado, pela on gação de iguais oportunidad s sociais84 . Na hipótes d várias circunstâncias qualificadoras r !acio n a-
Art. 66. A pena poderá ser ainda atenuada em razão de das aos motivos, aos meios, aos modos ou aos fins do fato punív 1
circunstância relevante, anterior ou posterior ao crime, (por exemplo, homicídio qualificado, art. 121, § 2°, I-V, CP), igual-
embora não prevista expressamente em lei. m nte definidas como circunstâncias agravantes, apenas uma das
circunstâncias qualificadoras ' consid rada para fi ito d qualificar
o crime, nquanto as restant s funcionam como circunstâncias
2.5. Concurso de circunstâncilas legais agravan tes genéricas 85 .
v rso: o princípio da Legalidade proíbe qu as circunstâncias agravantes 3. Alteradores especiais da pena: causas especiais de
excedam o limite máximo da pena cominada no tipo legal; aumento ou de diminuição da pena
2. O limit d atenuação da p na por circunstâncias legais ' contro-
vertido, pois exist m duas posições difi rentes: a) a posição dominante Al m da circunstâncias Legais agravantes e atenuant s, x1stem
I
na lit ratura na jurisprud "ncia brasil ira (cond nsada etn súmula outras situaç p iai d alt r ção da p na, chamadas causas espe-
do STJ) 87 adota como limite de atenuação da pena o mínimo da pena ciais de aumento ou de diminuição da pena, previstas na parte geral
privativa de liberdade cominada no tipo legal 88 ; b) não obstante, na parte especial do Código Penal cu·a computação no cálculo da
cr se n t posição minoritária admi t atenuação da pena abaixo do p na repr senta a terc ira e última fas da sua aplicação.
mínimo da pena cominada, por duas razões principais: primeiro, A causas esp ciais de aumento ou de diminuição d pena da
não xiste nenhuma proibição l gal contra at nuar a pena abaixo do parte geral do Código Penal ão aplicáveis a todos os crimes, co1no
mínimo l gal, porqu o princípio da Legalidade garant a lib rdad s indica: a) a tentativa (art. 14, II, CP); b) o arrependimento pos-
do indivíduo contra o pod r punitivo do Estado - e não o poder terior (art. 16, CP); c) o erro evitável sobre a ilicitude do Jato (art.
punitivo do Estado contra a liberdade do indivíduo 89 ; segundo, o 21, part final CP)· d) a r dução da p na no estado de necessidade
crit ' rio dominant qu bra o p rincípio da igualdade 1 gal (no concurso (art. 24, § 2°, CP); ) a semi-imputabilidade (art. 26 parágrab únic ,
de pessoas, o co-r ' u menor de 21 anos é prejudicado p la fixação da P)· f) a semi-imputabilidade fortuita ou forçada (an. 2 2 P) · g) a
p na no 1nínimo 1 gal, com base nas circunstâncias judiciais), porqu participação de menor importância (art. 29, § 1°, CP); h) a previsibilidade
direitos d finidos m lei não podem ser suprimidos por aplicação do re. ultado nzais grave, na participação em crime menos grave (art. 29, § 2°,
invertida do princípio da legalidade 90 • Aliás, a proibição de reduzir CP); i) a situação economica dv réu, na aplicação da pena de multa (art. 60 e
a pena abaixo do Limite mínimo cominado, na hipótese de circuns- § 1°, CP); j) o concurso ma -erial (art. 69, CP); 1) o concursofannaL(art. 70,
tâncias atenuantes obrigatórias, constitui analogia in malam partem, CP); m) o crime continuado (art. 71, CP) 91•
fundada na proibição d circunstâncias agravantes exc d r m o Li-
mite máximo da p na cominada - pr cisam nt aqu l processo d As causas especiais d aum nto ou d diminuição d p na
int gração do Dir ito P nal proibido p lo princípio da 1 galidad previstas na parte especial do Código P nal possuem caráter de s-
Mais não é preciso dizer. pecificidade e stão previstas ao lado dos tipos penais resp ctivos:
art. 121, §§ 1° 4°, art. 122, parágrafo único, art. 127, art. 129,
§§ 4° e 7°, art. 155, §§ 1° e 2°, art. 157, § 2°, art. 158, § 1°, e
outras hipót ses menores.
87 uperior Tribunal de Justiça: 'A. incidência de circunstância atenuante não pode conduzir
à redução da pena abaixo do mínimo legal" ( úmula 23 1). As causas especiais de aumento ou d r dução da p na, na parte
88 a linha d a p osição dominante, contra atenuação da pena abaixo do mínimo legal,
RRE1 , Aplicacãodapena, 1995 , p. 102-104. geral e na parte especial do Código Penal são identificadas por aumentos
89 a p osição minoritária, a favor de atenuação da pena abaixo do mínim l gal,
Acórdão da 5ª âmara riminal o TJR Apelação-crime 700 1073518 1/2005, our duçõ s mquantidad sfixas(por x mplo,ums xtodap na,um
Rel. D s. AMILTON BUE O D E ARVALH ; n m m mid om análi t rço da p na ou metade da p na) ou variáveis (por xemplo, de um
da j uri pru ência, RARD IVEI , "Pena aquém do mínimo legal
- circunstância atenuante", in Revista da Ordem dos Advogados do Brasil, n. 72,
p. 37-49, 200 1.
90 esse sentido, T U BE HLAK, Atenuantes - pena abaixo do mínimo, in James 91 omparar F I Aplicação da pena, 1995, p. 1 1- 1. ; RAG O SO , Lições de
Tu benchlak, Tribunal do j úri {contradições e soluções) , 1990, p. 28 5-289. direito penal (parte geral) , 2003, 16ª eai ão, p. 435-437, n. 350.
a dois terços da pena, de um sexto até metade da pena). O aumento b) Perda dos instrumentos do crime cuja fabricação, alienação,
ou a redução da pena d terminado por essas causas especiais deve ser uso, porte ou detenção constitua fato ilícito (art. 91, II , a, CP) e do
fundamentado concre amente: genéric sao inconstitucionais produto do crime, ou outros bens ou valores que constitua1n vantagens
(art. 93, IX, CR). Por outro lado, os aum ntos ou r duçõ s da p na r sultant s da prática do crime, m favor da União (art. 91, II, b,
previstos n ssas causas especiais são obrigatórios, apesar do legislador CP) - a xceção é r p r s ntada pelos dir itos do 1 sado ou d t rc iro
utilizar o v rbo "poderá", m r lação às hipót s s d redução da p na, de boa-fé, cuj a proteção ' prioritária (art. 91, II, s gunda parte, C P).
utilizar o verbo "será", m r lação às hipóteses d aumento da p na92 . Art. 91. São efeitos da condenação:
O limit
míniJno máximo da p n ominada no tipo gal I - tornar certa a obrigação de indenizar o dano causado
pod m er xcedidos p las causas especiais de aumento ou d dimi- pelo crime;
nuição da pena. A verificação da existência dessas causas conclui o
II - a perda em favor da União, ressalvado o direito do
processo d aplicação da p na criminal.
lesado ou de terceiro de boa-fé:
a) dos instrumentos do crime, desde que consistam em
coisas cujo fabrico, alienação, uso, porte ou detenção
III Efeitos da condenação constituam fato ilícito;
b) do produto do crime ou de qualquer bem ou valor que
A sentença riminal nd nat 'ria produz, al 'm dos efeitos penais constitua p roveito auferido pelo agente com a prática
sp cíficos, outros feitos d natureza civil ou ad1ninistrativa, ch a1na- do jato criminoso.
dos efeitos da condenação. Esses efeitos da condenação distribuem-se em 2. Efeitos específicos. Os efeitos específicos da sentença condenatória
duas categorias legais: a) efeitos genéricos independentes de declaração
dependem d d claração judicial (art. 92, CP), d v ndo s r motiva-
judicial (ou automáticos); 6) et itos sp cíficos dependentes d d ela- dos na d cisão judicial. São dependentes d declaração judicial os
ração judicial (o u motivados na s ntença) . s guint s fi itos:
1. Efeitos genéricos. Os efeitos genéricos das nt nça cond natória in- a) Perda de cargo, função pública ou mandato eletivo. Os efeitos
dependem de declaração judicial (art. 91, CP), resultando dir tamente
d perda d cargo, função pública ou m andato el tivo podem ocorr r
da cond nação critninal: m duas situaçõ s pr vistas m l i:
a) Obrigação de indenizar o dano produzido. A lesão do bem ju- a 1) na hipótese d aplicação de pena privativa d liberdade
rídico prot gido na 1 i p nal produz, geralmente, danos 1nat riais / igual ou superior a 1 ano, m crim s contra a administração
ou morais, cuja r paração xig ind nizaçáo. A cond nação criminal
pública praticados com abuso de poder ou violação de dever
transitada m julgado torna certa a obrigação d ind nizar o dano r - inerente a cargo, função pública ou 1nandato eletivo (art. 92,
sultan te do crime, limitando a controv ' rsia, xclusivament , à liquidez I, a, CP);
do valor do dano ind nizável (art. 91, I, C P).
a2) n hip ' d apli ção d pena privativa de liberdade sup rior
a 4 (quatro) ano , m todo os outro ca o (art. 92, I, b, CP) .
92 Ve Aplicação da pena, 1995, p. 143.
O cone ito de funcionário público, definido no art. 327 do CP, condenado (art. 93, CP), pr enchidos os requisitos legais do instituto
possui sen tido amplo: toda pessoa que exerce cargo, emprego ou fun- e r al" zados novos exames técnicos e psicotécnicos 95 .
ção pública, independentem ente de transitoriedade ou remuneração:
Finalment a d claração desses fi itos nas nt nça criminal e nd -
Art. 327. Considera-se funcionário público, para os natória dep ode, para pr venir direito garantias individuai de espe í:fica
efeitos penais, quem, embora transitoriamente ou sem concr ta motivação judi ial (art. 92 parágrafo único, P).
remuneração, exerce cargo, emprego ou função pública.
Art. 92. São também efeitos da condenação:
A lei quipara a funcionário público quem exerce cargo, empr go
I - a perda de ,cargo, função pública ou mandato eletivo;
ou função m ntidad para statal, ou trabalha m mpr sa contratada
ou conveniada para execução de atividade típica da adm inistração a) quando aplicada pena privativa de liberdade por
pública (art. 327, § 1°, CP). A perda de cargo, função pública ou tempo igual ou superior a 1 (um) ano) nos crimes pra-
1nandato eletivo, como fi ito secundário da sent nça condenatória, ticados com abuso de poder ou violação de dever para
com a Administração Pública;
admit reabilitação do cond nado (art. 93, CP), pr nchidos os r qui-
sitos legais, som ent para futuros cargo, mpr go ou função pública, b) quando for aplicada pena privativa de liberdade
sem r integração na situação anterior (art. 93, parágrafo único, CP) 93 • por tempo superior a 4 (quatro) anos nos demais casos.
b) Incapacitação para o pátrio poder, tutela ou curatela. Os efeitos II - a incapacidade para o exercício do pátrio poder,
de incapacitação para o xercício do pátrio pod r - hoj redefinido tutela ou curatela) nos crimes dolosos, sujeitos à pena de
como poderfamiliar p lo Código Civil-, tut la ou curat la d p nd m reclusão ometidos contra filho tutelado ou curatelado ·
dos r quisitos cumulativos de (a) crim doloso, (6) pena d reclusão III - a inabilitação para dirigir veículo, quando utili-
cominada no tipo 1 gal, (c) contra vítima filho, tutelado ou curatelado zado como meio para a prática de crime doloso.
do autor (art. 92, II, CP). A incapacitação para exercer o poderfamiliar,
Parágrafo único. Os efeitos de que trata este artigo não
a tutela ou a curatela admite reabilitação do conden ado (art. 93, CP), são automáticos) devendo ser motivadamente declarados
pr nchidos os r quisitos 1 gais, mas som nte para filhos, tutelados ou na sentença.
curatelados futuros, igualm n t s m reint gração na situação ant rior
(art. 93, parágrafo único, CP) 94 . 3. Efeitos complementares da Lei 13.964/19. O art. 91-A, introdu-
zido p la L i 13. 964/ 19, institui hipót lásticas d xpropriação
c) Inabilitação para dirigir veículo. O b ito de inabilitação para patrimonial, d cretando a perda, como produto ou como prov ito
dirigir veículo ocorre nas hipótes s d utilização de veículo automotor do crim , d 6 ns corr spondent s à difi rença ntr (i) o valor do
como meio parar alizar crime doloso (art. 92, III, CP). A inabilitação patrimônio do condenado (ii) o valor compatível com o rendimento
para dirigir veículo, como fi ito específico d clarado na senten ça con- lícito do condenado, em cond nação por infração com pena máxima
denatória, d finitiva, mas pode ser restabelecida p la reabilitação do
1
cominada superior a 6 (seis) anos de reclusão.
3.1. O conceito de patrimônio do condenado 'd finido pelos b ns (i)
93 Assim, também, BITE OURT, Tratado de direito p enal (parte geral), 2003,
8ª edição, p. 674; FERREIRA, Aplicação da p ena, 1995, p . 220-221.
94 Ver BIT EN OURT, Tratado de direito p enal (parte geral), 2003, 8ª edição, p. 674. 95
omparar FERREIRA, Aplicação da pena, 1995 , p. 222-223.
sob titularidade ou sob domínio e ben fício do cond nado, na data II - transferidos a terceiros a título gratuito ou mediante
da infração ou depois dela, ou (ii) transferidos a terceiro, de modo contraprestação irrisória, a partir do início da atividade
gratuito ou por contraprestação irrisória, desde o início da atividade criminal
criminal (§ 1°). § 2° O condenado poderá demonstrar a inexistência
3.2. A lei inv o ônus da prova, ass gurando ao cond nado a pos-
rt da incompatibilidade ou a procedência lícita do pa-
sibilidade de demonstrar (i) a inexistência de incompatibilidade, ou trimônio.
(ii) a proc dência lícita do patrimônio (§2°). § 3° A perda prevista neste artigo deverá ser requerida
3.3. A perd p trim nial pr vista no art. 91-A deve ser requ rida p lo expressamente pelo Ministério Público, por ocasião do
Ministério Público no mo1n nto de oferecimento da denúncia, com oferecimento da denúncia, com indicação da diferença
d monstração da dit r nça ntr os valor sr fi ridos (§3°). apurada.
3.4. O valor da diferença apurada e os b ns perdidos p lo cond nado § 4° Na sentença condenatória, o juiz deve declarar o
deverão ser declarados na sent nça condenatória (§ 4°). valor da diferença apurada e especificar os bens cuja
perda for decretada.
3.5. Serão d clarados perdidos m favor da União ou do Estado,
onform omp t'' n ia fu d ral ou tadual par a çã p nal o § 5 ° Os instrumentos utilizados para a prática de cri-
in trum ntos utilizados por organizaçõ s criminosas ou por milícias mes por organizações criminosas e milícias deverão ser
declarados perdidos em favor da União ou do Estado,
para prática de crimes, independent de risco para a segurança pes-
dependendo da justiça onde tramita a ação penal, ainda
soal, a moral ou a ordem pública, ou de risco sério de utilização para
que não ponham em perigo a segurança das pessoas, a
co1n t r novos crim s (§5°).
moral ou a ordem pública, nem ofereçam sério risco
Art. 91-A Na hipótese de ondenaçáo por infrações de ser utilizados para o cometimento de novos crimes.
às quais a lei comine pena máxima superior a 6 (seis)
3.6. A id ia ubj a nt a alterações introduzidas pela chamada lei
anos de reclusão, poderá ser decretada a perda, como
anticrime ' a absurda presunção d patrimônio ilícito d cond nados
produto ou proveito do crime, dos bens correspondentes
à diferença entre o valor do patrimônio do condenado e p r rim e m p na m áxim cominadas superior a 6 (seis) anos de
aquele que seja compatível com o seu rendimento lícito. reclusão, por várias razões:
§ 1 ° Para efeito da perda prevista no caput deste artigo, a) primeiro, porqu o critério l gal da xpropriaçã p rim nial-
entende-se por patrimônio do condenado todos os bens: d t rminado por p na cominada sup rior a 6 (s is) ano , é inteiramen-
te arbitrário: n nhum razã nômica cial u d p lí ·e crimin l
I - de sua titularidade, ou em relação aos quais ele tenha
pod xplicar a fixação l gal m 6 (s is) anos d p na cominada - xceto
o domínio e o benefício direto ou indireto, na data da
fatores idiossincráticos ou cabalísticos, que ta1nbé1n poderia1n optar
infração penal ou recebidos posteriormente; e
por 1, por 10 ou por 20 anos, conforme pret r "ncias p ssoais;
b) s gundo, porqu a d monstração da compatibilidad ou da
origem lícita do patrimônio, d pois de decorrido algum tempo, é pra-
ticam nt impossível ao cidadão comum, abrindo a possibilidade d deste Código, vedada reintegração na situação anterior,
autêntica expropriação violenta de patrimônios privados pelo Estado, nos casos dos incisos I e II do mesmo artigo.
em prática extorsiva de instituição inimiga do povo - em especial, do 3. Requisitos. O pedido de reabilitação pr upõ r paração do dano,
povo da p rifi ria dos c ntros urbanos, s 1 cionados para r pressão ou comprovação de impossibilidade absoluta de reparação, ou renúncia
penal por sua posição social origem racial. da vítima, ou novação da dívida (art. 94, 1-III, CP) , al ' m disso, xig
decurso de 2 anos em relação a cada uma das seguintes hipóteses: a) de
xtinçã da na (p r ualqu r u a) u t 'rmin d a cução,
co1nputado o t mpo de suspensão ou de livram nto condicional não
IV Reabilitação r vogados; b) de efetivo domicílio no país; c) de efi tiva d monstração
p rmanente de bom comportam nto público e privado.
1. Conceito. A reabilitação é providência judicial suspensiva de de- Em caso de ind fi rim nto da reabilitação, o pedido pod s r
t rminados efi itos da s ntença condenatória - que pod 1n, eventu- renovado em qualquer tempo, comprovados os requisitos exigidos.
alm nte, ser re tab lecidos -, não causa de extinção desses efeitos,
Art. 94. A reabilitação poderá ser requerida, deco1'ridos 2
como as causas d xtinção da punibilidad (entr as quais constava,
(dois) anos do dia em que for extinta) de qualquer modo,
na legislação p nal ant rior), qu produz m fi ito irreversív is.
a pena ou terminar sua execução, computando-se o perí-
2. Objeto e objetivos. A reabilitação tem por objeto qualqu r p na odo de prova da suspensão e do livramento condicional,
aplicada m s nt nça d finitiva (art. 93, CP), 1nas incid , xclusiva- se não sobrevier revogação, desde que o condenado:
ment , sobre alguns de seus efeitos secundários ou ac ssórios. N ss I - tenha tido domicílio no País no prazo acima referido;
s ntido, o objetivo da reabilitação é garantir o sigilo dos r gistros do
processo da cond nação riminal r stab 1 cer d t rminados dir itos II - tenha dado, durante esse tempo, demonstração
efetiva e constante de bom comportamento público e
do condenado e, desse modo, contribuir para sua reintegração na vida
privado;
social96 ; compl m ntarm nt , o objetivo pod s r canc lar o fi ito
d inabilitação para direção de veículo (art. 93, parágrafo único, CP), III - tenha ressarcido o dano causado pelo crime ou
quando utilizado para prática de crim doloso 97 . demonstre absoluta impossibilidade de o fazer, até o
dia do pedido, ou exiba documento que comprove a
Art. 93. A reabilitação alcança quaisquer penas aplica-
renúncia da vítima ou novação da dívida.
das em sentença definitiva, assegurando ao condenado
o sigilo dos registros sobre seu processo e condenação. Parágrafo ún ·co. Negada a reabilitação, poderá ser
requerida, a qualquer tempo, desde que o pedido seja
Parágrafo único. A reabilitação poderá, também, instruído com novos elementos comprobatórios dos re-
atingir os efeitos da condenação, previstos no art. 92 quisitos necessários.
Assitn, a r abilitação significa d claração judicial d cu1npri-
96 JE CHE K/WEI END, trafrecht, 1996, 5ª edição,§ 86, n. 6, p. 918. m nto ou d execução da pena aplicada, d bom comportamento do
97 Ver BITENCOURT, Tratado de D ireito Penal (parte geral}, 2003 8ª edicão '
p. 674-677 .
, reabilitando p lo p ríodo d 2 anos, de ressarcim nto do dano ou
Capítulo 19 571
explicações científicas, proveni ntes de p squisas empíricas, não pod m De fato, as condições insuportavelmente desumanas da super-
ser descartadas como ideologia ilusória porque refletem realidad ubje- lotação carcerária parecem legitimar a violência ilegal das rotineiras e
tivas (raz,.. humanitári ) e j tiva (raz,.. c·en tífic ) inc nte táveis, inevitáveis rev lta de pre n pri ,. e pe111itenciári públic - uma
mas xist m outras explicaç ,., funda as m ros argum ntos, qu forma des sp rada e xtrema d corr ção d distorçõ s do proc sso d
parec m constituir a xplicação real (ou latente) dos substitutivos p nais. criminalização d penalização s letiva d marginalizados dom rea-
do d trabalho da sociedade d consumidores, funcionando como
válvula d alívio das tensões cr scentes da superpopulação encarcerada
2. Teorias críticas nas instituições oficiais. Por outro lado, a soma da superpopulação
carcerária com a superpopulação encarcerável no Brasil, r pres ntada
As teorias críticas, d senvolvidas p la mod rna teoria jurídica por centenas de milhares de mandados de prisão exp didos e não cum-
criminológica sobr crime e pena, produziram abordagens fundadas pridos por in xi t "ncia d vagas 1n D 1 gacia d Polícia, Prisõ s
m outros argum nto como, por x mplo, a xplicaçõ s do sub - Penit nciárias do Estado, produz núm ros absurdos qu r forçam a
titutivos p nais ba adas m (a) superlotação carcerária, (b) crise fiscal, tese da superlotação carcerária como origem dos substitutivos penais.
e (e) ampliação do controle social.
Mas somadas as despesas do Sist 1na de Justiça Criminal com as 2.3. Ampliação do controle social
d spesas do legislador p nal da ustiça Criminal, em primeiro plano,
das Polícias estaduais e federal e do conjunto dos serviços de assistência A tes da ampliação do controle social fundamenta a xplicação
ao gr sso, o custo do preso ' ainda maior. Em situaçõ s conjunturais dos substitutivos penais m asp ctos contraditórios ncohertos p las
de r c ssão conômica, com retraçá do a i al produtivo financei- explicações tradicionais:
ro e queda na rec ita tributária, aumentam os cortes orçamentários
a) primeiro, a necessidade de supervisão da conduta do con-
nos s tor s ligados às atividades não produtivas - como o Sist ma d
d nado beneficiário do substitutivo p nal expande os m canismos d
Justiça Criminal formado pela Polícia, Justiça e Prisão -, privados d
control institucionais do Estado para ár as do mercado de trabalho
pod r político para influenciar nas decisões orçamentárias do Estado.
- e, portanto, de s tores não produtivos paras tor s produtivos, como
A t se da crise fiscal chama atenção para as transformações dos me- indica a t da crise fiscal do capitalismo monopolista;
canismos repressivos do Estado na ra da internacionalização do capital
b) segundo, a redução do t mpo d passage1n d sujeitos crimi-
financeiro das relações conômicas e comerciais ntr países centrais
naliz do p lo .it t ma p nit n iário , br novos spaços no sist ma d
e países periféricos do sistema econômico-financeiro glob 1· . do mo -
controle institucionalizado, cujo im diato preenchim nto - s mpr
trando duas t nd"ncias sue ssivas: m prim iro lugar, o deslocamento
m r gime de sup rlotação carcerária - coloca 1naior quantidad d
do control social de setores não produtivos do Estado para setor s
p ssoas e1n contato com a prisão, o núcl o do sist ma formal de con-
produtivos da indústria do comércio, xpandindo a área do control
trole: a redução dos malefícios da privação de liberdade em relação ao
social não institucionalizado, com a utilização intensiva de penas alter-
beneficiário do substitutivo penal significa a ampliação dos malefícios
nativas e de hipóteses legais de execução penal desinstitucionalizada, a
da prisão em relação aos novos encarcerados.
ampliação da d riminalização e da despenalização de condutas, que
marcou a política criminal do stágio final do welfare state nos país s Logo, a aceleração da passagem pelo sistema formal de controle, como
c ntrais do capitalismo cont mporân o, ainda caract riza a política m r r p ·dez na substituição d indi ídu p esos, r pr n um expansão
criminal dos país s p rifc' ricos do sist ma conômico-financ iro glo- (a) do contr 1 ial carcerário m m r qu tid d d encarcerados
balizado6; m s gundo lugar, o abandono das p nas alt rnativa da no 1n smo espaço de tempo, e (b) do control ial extracarcerário, co1n
política de desinstitucionalização des riminalização e despenalização maior quantidad d desencarcerados sob control das in tituiç .. an xas
do Estado do bem-estar social, substituída p la política d tolerância zero do sistema p nitenciário (patronatos, rviço ial etc.), ampliando e di-
do Estado penal dos países c ntrais do capitalismo cont mporân o, versificando a r d 6 rmal inti rmal d e ncroles - o fenômeno conhecido
com seu complemento e1npr i 1-p n l truturado para absorver como "net-widening" feito-, cujo centro continua sendo a prisão7 .
os contingent s humanos prov ni nt s da d senfreada criminalização
da pobreza o si ma p nal pri atizado - uma tendência qu com ça
a contaminar os país s periféricos do sist ma de pod r econômico
político do n olib ralis1no contemporân o.
r feridas, r quer a presença de certos pressupostos d concessão, exige a xecução da pena seria ah rnativa certamente pior 11•
o cumprimento de determinadas condições de execução - cujo des- Art. 77. A execução da pena privativa de liberdade,
cumprimento pode causar a revogação obrigatória ou facultativa do não superior a 2 (dois) anos, poderá ser suspensa, por 2
benefício-, o p ríodo d prova pod s r, eventualm nt , prorrogado (dois) a 4 (quatro) anos, desde que:
a ' m ' im e fin lm en e ump 1m n n rmal o itu i o
I - o condenado não seja reincidente em crime doloso;
penal xtingue a p na .
II - a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social
e personalidade do agente, bem como os motivos e as
1. Pressupostos específicos circunstâncias autorizem a concessão do beneficio;
Ili - não seja indicada ou cabível a substituição p revista
Os pressupostos de concessão da suspensão condicional da pena no art. 44 deste Código.
classifica1n-se em objetivos e subjetivos, com pequenas variações con- § l O • A condenação anterior a pena de multa não
forme a modalidade do sursis considerado. impede a concessão do beneficio.
a) Sursis comum. A susp nsão condicional comum da pena, carac- b) Sursis especial. A susp nsão condicional especial da pena, caracte-
t rizada p lo cumprimento cumulativo de pena restritiva de direitos rizada p la d sobrigação do cumprim nto cumulativo d p na r stri-
durante o período d susp nsão, constitui a modalidade mais rigorosa tiva d direitos durant o prazo da suspensão, constitui a modalidade
de sursis, co1n os seguintes pr ssupostos específicos: m nos rigorosa d sursis, com os s guintes pr ssupostos sp cíficos:
1) pressuposto objetivo: p na aplicada igual ou infi rior a 2 1) pressupostos objetivos: a) p na aplicada igual ou infi ri r a
anos de privação de liberdade - em correspondência com a extensão 2 anos de privação de liberdade - em correspondência com a extensão
da pena aplicada, o prazo da suspensão condicional pode variar entre da pena aplicada, o prazo da suspensão condicional pod variar entr
2 a 4 anos (art. 77, CP; 156, LEP); 2 a 4 anos (art. 77, CP; 156, LEP); b) reparação do dano resultante
2) pressupostos subjetivos: a) primariedad do agente em do crime, exceto impossibilidade material (art. 78, § 2°, CP);
crime doloso (art. 77, I, CP) - exceto se a condenação anterior for 2) pressupostos subjetivos: a) primariedad m crim doloso
somente a p na d multa (art. 77, § 1°, CP); b) a culpabilidade, os (art. 77, I, CP); b) indicador s do art. 77, II, CP, inteiramente favo-
ant cedent s, a conduta social a personalidad e os motivos do agente, ráveis, sob a seguint interpr tação autêntica parai la 12 : culpabili-
bem como as circunstâncias do fato d vem indicar a conv niência da dade mínima, antec d nt s irretocáveis (incluída a conduta social),
medida (art. 77, II, CP) - ness caso, a chamada prognose favorável p rsonalidade de boa índole, motivos relevantes circunstâncias (do
sobr os fi itos político-criminais do sursis é d cidida p lo princípio fato) favoráveis, capaz s d p nnitir a substituição da p na restritiva
in dubio pro reo, qu autoriza a concessão do b n fício m sino m de direitos pela aplicação cumulativa de (a) proibição de frequentar
face de incerteza sobre o comportamento futuro do beneficiário, pois
determinados lugar s, (b) proibição de ausentar-se da comarca sem mentário: na forma do art. 1°, da Lei 10.741/03 (Estatuto do Idoso),
autorização judicial, e (c) obrigação pessoal de comparecimento o limite etário de 70 anos deve ser reduzido para 60 anos, pela mesma
1nensal em juízo para informar e justificar as atividades realizadas razão que determinou a fixação desse marco etário para definir o ser
(art. 78, § 2°, ,CP) 13 . humano como idoso, alterando expr ssamente a circunstância agravante
do art. 61, h, CP, na hipótese de s r vítima de crime e, por extensão,
Art. 78, § 2°. Se o condenado houver reparado o
a circunstância atenuante do art. 65, I, CP, na hipót d r autor
dano, salvo impossibilidade de fazê-lo, e se as circuns-
tâncias do art. 5 9 deste Código lhe forem inteiramente de crime: a analogia in bonam partem é autorizada pelo princípio da
legalidade penal e, portanto, constitui direito do réu 14 •
favoráveis, o juiz poderá substituir a exigência do
parágrafo anterior pelas seguintes condições) aplicadas d) Sursis po azões de saúde. A susp nsão condicional da p na por
cumulativamente: razões de saúde - também chamado sursis humanitário - igualmen e
a) proibição de frequentar determinados lugares; caracterizada p la maior xt nsão da pena aplicada do prazo de sus-
pensão, po sui os s guint pr suposto sp cíficos:
b) proibição de ausentar-se da comarca onde reside, sem
autorização do juiz; 1) pressuposto objetivo: pena privativa d lib rdade aplicada
at' 4 anos - m correspond "ncia com a xt nsão da p na aplicada, o
c) comparecimento pessoal e obrigatório a juízo, men-
prazo da susp nsão condicional ' ampliado para prazo variáv 1 ntr
salmente, para informar e justificar suas atividades.
4 e 6 anos (art. 77, § 2°, CP).
c) Sursis etário. A susp nsão condicional etária da p na, caract ri-
2) pressupostos subjetivos: a) primari dad m crim s dolo-
zada pela maior extensão da pena aplicada e do prazo de suspensão, é
sos (art. 77, I, CP); 6) culpabilidad , ant ced ntes, conduta social,
concedida a condenado maior de 70 anos de idade, com os seguint s
p rsonalidade motivos do ag nte, bem como as circunstâncias do
pr ssupostos sp dficos:
fato indicarem a conv ni "ncia da 1n <lida (art. 77, II, CP); c) razõ s
1) pressuposto objetivo: p na privativa d lib rdad aplicada de saúde justificantes do substitutivo penal 15 •
até 4 anos - e1n correspondência co1n a extensão da pena aplicada, o
o caso do sursis por razões de saúde parece igualmente ne-
prazo da susp nsão O' di ·onal ' am liado para pr o variáv 1 ntr
c ário faz r os guint com ntário: a conce são da susp nsão con-
4 e 6 anos (art. 77, § 2°, CP).
dicional da pena por razões de saúde depende do exa1ne do conceito
2) pressupostos subjetivos: a) primariedade m crimes dolosos d saúde, d finido como ''completo estado de bem-estar físico, psíquico
(art. 77, I, CP); 6) culpabilidad , ant c d nt s, conduta social, p r- e social" pela Organização Mundial da Saúde 16 • Essa definição de
sonalidad e motivos do agent , bem como as circunstâncias do fato
indicarem a conveni"ncia da m dida (art. 77, II, CP); c) cond nado 14 A literatura brasileira ainda persiste no critério antigo do "maior de 70 (setenta)
maior d 70 (set nta) anos. anos", como, por ex mpl I PRAD . Curso de D ireito Penal Brasileiro, 2004,
4• dição v. 1 p. 645 .
o caso do sursis tário parece indisp nsáv 1fazer os guint co- 15 Assim, em li nhas gerais, BITE OURT, Tratado de direito penal (parte geral), 2003,
8ª edição, p. 631 .
16 Ver P REIRA M , Reflexões relativas à suspensão condicional da pena - alterações
introduzidas pela Lei 9.714198", in Boletim do IBCCR!M, n. 75, encarte especial,
p. IV; também, SILV: FRANC , Código penal e sua interpretação jurisprudencial,
13 Ver BITEN OURT, Tratado de direito penal (parte geral), 2003, 8ª edição, p. 630. 2001, ?ªedição, p. 1435.
saúde permit alguns desdobramentos important s: a) o bem-estar 2. Pressuposto geral da suspensão condicional da pena
físico é alterado por doenças corporais, em geral, s ndo suficiente o
efeito de reduzir o estado de completude da saúde corporal, segundo
Pressuposto g ral de concessão da susp nsão condicional da pena
crit 'rio judicial d avaliação dir ta ou m diante p rícia m 'dica facul-
' a impossibilidade de ubstituição da pena privativa d lib rdad
tativa - porqu a 1 i não exig sérios problemas de saúde 17 , não diz s r
aplicada por p nas r stritivas d dir itos, con id radas penas substitu-
nec ssário constituir doença grave 18 , menos ainda, doença terminal' 9
tivas de menor rigor repressivo e, portanto, de aplicação preferencial
e, finalmente, não exig perícia médica 20 , como afirmam s tores da (art. 77, III, CP).
literatura; b) o bem-estar psíquico é alterado, irnediatamente, por
perturbações mentais ou por desenvolvimento mental incompleto ou Vi rificados, a princípio, os pr ssupostos d cone ssão da usp n-
retardado determinant s do estado de semi-imputabilidade penal do são condicional da pena, juízes e tribunais são obrigados a se pronun-
cond nado, com r dução d um a dois t rços da p na aplicada (art. ciar, motivadamente, sobr a cone ssão ou d n gação do ben fício (art.
22, parágrafo único, CP), e, mediaram nt , por qualquer alt ração 93, IX, CR, art. 157, LEP) - porqu o sursis constitui direito subje-
funcional ou orgânica do aparelho psíquico capaz de reduzir o stado tivo público do cond nado 21 - , s m ignorar a influência do princípio
d completude da saúd 1nental; e) o bem-estar social ' at tado por in dubio pro reo, pois a e rteza dos eb itos danosos da x cução da p na
condiçõ s sociais adv rsas d xist "ncia do cond nado: m hipót s prevalece sobr a incerteza do comportamento futuro do ben ficiário 22 •
extre1nas, as condições sociais adv rsas podem xcluir ou r duzir a Exceçõ s são as hipóteses de tráfico de drogas e crimes asse1nelhados
dirigibilidad normativa, funcionando como situaçõ s d exculpa- (art. 44, da L i 11.343/06), qu o 1 gislador xcluiu do b n fício.
ção; m outras hipóteses, podem ser consid radas, para efi ito d
concessão do sursis humanitário, como expr ssão de patologia social.
3. Co dições egais de e ecução
t. 77, § 2 °. A execução da pena privativa de liberda-
de, não superior a 4 (quatro) anos, poderá ser suspensa, As condições de execução da suspensão condicional da p na ão
por 4 (quatro) a 6 (seis) anos, desde que o condenado sp cificadas nas nt nça cri1ninal cone ssiva da m dida (art. 78, CP)
seja maior de 70 (setenta) anos de idade, ou razões de e dependem da natureza do benefício concedido.
saúde justifiquem a suspensão.
a) o sursis comum, o b n ficiário dev cumprir, durant o primeiro
ano d xecução, alternativamente, ou ar strição d dir itos de pr stação
de serviços à comunidade ou a de limitação de fim de semana (art. 78,
§ 1°, CP; art. 158, § 1°, LEP).
17 obr isso, d modo correto, BITEN OURT, Tratado de direito penal (parte geral),
2003, 8ª edi ão, p. 63 1: "Contudo, condenação superior a quatro anos, ainda que o
condenado apresente sérios problemas de saúde, não será fundamento suficiente, por essa
previsão legal para concessão de sursis por essa razão. " 21 Assim, BITE COURT, Tratado de direito penal (parte geral), 2003, 8ª edi ão, p. 622;
18 Em sentido contrário, DOTTI, Curso de direito penal (parte geral), 2001 , p. 585. rambém, RAGOSO, Lições de direito penal (parte geral), 2003, p. 459, n. 377.
19 APEZ, Curso de direito penal, 2002, v. 1, p. 420 fala m "doença terminal". 22 J 1 · , Lehrbuch des Strafrechts, 1997, § 79, I, n. 4c, p. 836-837;
20 DOTTI, Curso de direito penal (parte geral), 2001, p. 585 , exige "perícia médica''. FRI' CH, Prognoseentscheidungen im Strefrecht, 1983, p. 49-53 .
Art. 78. Durante o prazo da suspensão o condenado S. Modificação das condições de execução
ficará sujeito à observação e ao cumprimento das con-
dições estabelecidas pelo juiz. As condições de execução da suspensão condicional da p na po-
§ 1°. No primeiro ano do prazo deverá o condenado d m r modificada p lo juiz da x cução (d ofício, ar qu rim nto do
prestar serviços à comunidade (art. 46), ou submeter-se Ministério Público ou por proposta do Conselho P nit nciário), com
à limitação defim de semana (art. 48). prévia audi "ncia do cond nado (art. 1 8 2°, L P). fi alização do
cu1nprim nto das condiçõ s da susp nsão condicional da p na ' atri-
b) No sursis especial, e1n substituição da prestação de serviços à
buição do Serviço S cial P nit nciário, d Patronatos ou de Conselhos
comunidade ou da limitação de fim de semana do sursis comum, o
d Comunidade - ou, ainda, das instituiçõ s d cumpriln nto das res-
b n ficiário d v cumprir as obrigaçõ cumulativa (a) d proibição
trições de direitos, no caso d aplicação concr ta (art. 158, § 3°, LEP). O
de frequentar determinados lugares, (b) de proibição de ausentar-
beneficiário dev rá comparec r à ntidad fis alizadora para comprovar
-s da comarca s m autorização judicial, (c) d compar cim nto
o cumprim nto da condiçõ s, a ocupação o salário ou prov ntos
mensal em juízo para informar e justificar as atividad s realizadas
d subsist "ncia , por s u turno, a ntidad fiscalizadora comunicará
(art. 78, § 2°, ,C P).
ao juízo da execução todo ato capaz de determinar revogação, prorro-
c) o sursis etário no sursis por razões de saúde o b n ficiário gação ou modificação das condições da suspensão condicional da pena
também está sujeito às condições obrigatórias do sursis comum (art. (art. 158, §§ 4° 5°, LEP).
78, § 1°, CP) ou, alternativament , do sursisespecial, se presentes os
a hipót s d cone ssão da suspensão condicional da pena (ou
pr ssupostos legais (art. 78, § 2°, CP), al '1n das condiçõ s facultativas
d modificação das condiçõ s ant rior s) p lo tribunal, as condiçõ s
det rminadas pelo juiz (art. 79, CP), obviam nte adequadas à situação
resp ctivas (ou as novas condições) serão fixadas pelo próprio tribu-
p ssoal do cond nado.
nal, qu pod rá atribuir sua fixação ao juízo da x cução, r sponsáv 1
pela r alizaçáo, m qualqu r hipót se, da audiência admonitória do
4. Condições judiciais de execução b n ficiário (art. 159 parágrafos, LEP).
da pena, será registrada em livro especial do juízo da execução, com a) no caso do inciso I, a condenação do beneficiário a pena d
averbaçõ s marginais sobre revogação do substitutivo ou extinção multa - ainda que irrecorrível e por crime doloso - não determina a
da pena substituída, observado o sigilo do registro e das averbações revogação do sursis, pois se a condenação a pena de multa não exclui
(art. 163, LEP). a concessão, ntão não pode d t rminar a revogação da suspensão con-
Finalmen e, a ficácia da suspensão condi ional da p na depend dici n 1 da pena 23;
de aceitação das condições obrigatórias e facultativas da sentença judi- b) no caso do inciso II, apenas a injustifi,cada falta de reparação
cial, pelo b neficiário do substitutivo p nal. Por isso, se o cond nado, do dano por beneficiário solv nte det rmina a revogação obrigatória do
r gularm nt intimado, injustificadam nt d ixar d compar c r à sursis, porqu a p na d multa, após o trânsito m julgado das nt nça
audi "ncia admonitória, a su pensão condicional da pena ficará sem condenatória, transforma-s em dívida de valor (art. 51, CP, com a
efeito e a p na privativa d liberdad s rá xecutada (art. 161, LEP). r dação da Lei 9.268/96) e, como tal, ' obj to exclusivo d ação d
xecução civil: a pena d multa p rd u a anterior capacidad direta d
conversão m privação de lib rdade e, portanto, não pode t r o eb ito
7. Revogação indireto de conversão em prisão por revogação obrigatória da suspensão
condicional da p na 24 .
A r vogação da susp nsão condi ional da p na pod r obriga- 2. A revogação facultativa da suspensão condicional da p na (art. 81,
tória ou facultativa, dep nd ndo do motivo da r vogação. § 1°, CP) pod ocorrer nas hipót s s (a) d descu1nprim nto de ou-
tras condições especificadas na sentença condenatória concessiva do
1. A revogação obrigatória da suspensão condicional da pena (art. 81,
sursis, e (b) de condenação irrecorrível a pena privativa de liberdade,
CP) ' d cretada nas hipót s (a) de cond nação irr corrível por crin1
ou r stritiva d dir itos, por crim imprud nt ou por contrav nção.
doloso, (b) de injustificada frustração da pena de multa ou da repara-
ção do dano, e (c) de descumprimento das obrigaç "' ah rn · as de Art. 81, § 1°. A suspensão poderá ser revogada se o
prestação de serviços à comunidade ou de limitação de fim de semana: condenado descumpre qualquer outra condição imposta
ou é irrecorrivelmente condenado, por crime culposo
Art. 81. A suspensão será revogada se, no curso do prazo,
ou por contravenção, a pena privativa de liberdade ou
o beneficiário:
restritiva de direitos.
I - é condenado, em sentença irrecorrível, por crime dnloso;
II - frustra, embora solvente, a execução de pena de
multa ou não efetua, sem motivo justifi,cado, a repa-
ração do dano;
III - descumpre a condição do § ]º do art. 78 deste
Código.
23 Assim, também BITE OURT, Tratado de direito penal (parte geral}, 2003, 8ª
As hipóteses referidas nos incisos I e II, do art. 81, CP, requerem edição, p. 634.
24 N ntido ramb 'm F GO O, Lições de direito penal (parte geral}, 2003,
algun dar cim nto : p. 465, n. 38 1; BITE COURT, Tratado de direito penal (parte geral), 2003,
8ª edição, p . 634 .
8. Prorrogação do prazo perior a 2 anos, com o objetivo de reduzir os mal fícios da prisão
e promover a reinserção oci do conden do cone dido p lo juiz
da execução penal em decisão 1notivada, precedida de manifes-
O prazo d xecução da suspensão condicional da p na '
tação do Minist 'rio Público e da D efi sa (art. 81, CP, art. 112,
prorrogado, obrigatoriam nte, at' decisão final definitiva, na hipót s
§ 1°, LEP) 25 . un livramentocondicionaLintr duzmudan execu-
d proc sso criminal ou contrav ncional contra o b n ficiário (art.
ção da pena, consistentes na tran i ,. o da xecução in titu i aliz da para
81, § 2°, CP).
a ex cução m liberdad da p na privativa de liberdad aplicada26 •
Art. 81, § 2°. Se o beneficiário está sendo processado
por outro crime ou contravenção, considera-se prorro-
gado o prazo da suspensão até o julgamento definitivo. 1. Espécies de livramento condicional
Alt r -ativam nte, a prorrogação do prazo de x cução até o
máximo - s não fixado anteriorm nte - pode evitar ar vogação fa- A lei penal brasileira prevê três modalidades de livramento con-
cultativa da suspensão ondi i nal da p na. dicional, d t rminadas p lo t mpo d execução da pena privativa d
liberdade aplicada (art. 83, I, II V, CP):
Art. 81, § 3°. Quando facultativa a revogação, o juiz
pode, ao invés de decretá-la, prorrogar o período de a) o livramento condicional especial, após execução de um terço
prova até o máximo, se este não foi o fixado. da p na aplicada;
b) li r m nto ndi ion l ordinário, após execução de metade
da pena aplicada;
9. Extinção da pena c) o livram nto condicional extraordinário, após ex cução de
dois terços da pena aplicada.
A extinção da pena privativa de liberdad substituída 'a cons qu-
t. 83. O juiz poderá conceder livramento condicional
"'ncia do cumprimento da susp nsão condi ional da p n n ondiçõ s
ao condenado a pena privativa de liberdade igual ou
sp cificadas dentro do prazo d terminado, com a realização dos ob-
superior a 2 (dois) anos, desde que:
jetivos político-criminais sperados, de xcluir os fi itos n gativos da
prisão e contribuir para a int gração social do condenado (art. 82, CP). I - cumprida mais de um terço da pena se o condenado não
for reincidente em crime doloso e tiver bons antecedentes;
Art. 82. Expirado o prazo sem que tenha havido revoga-
ção, considera-se extinta a pena privativa de liberdade. II - cumprida mais da metade se o condenado for rein-
cidente em crime doloso;
III - comprovado:
B) Livramento condicional a. bom comportamento durante a execução da pena/
ao contrário, a doutrina atual aconselha a concessão do b nefício julgado 29 ; b) a posição crítica considera maus antecedentes somente
fundada em razões d prevenção especial, mesmo na hipótese de dú- condenações criminais definitivas anteriores que não configurem rein-
vida sobre a possibilidade de reincidência-, co1n plena aplicação do cidência, excluindo outras hipóteses - a teoria mais compatível com
princípio in dubio pro reo, pois a certeza dos efi itos danosos da prisão o princípio da presunção de inocência (art. 5º, LVII, CR) 30 .
preval ce sobr in viráveis dúvidas m r lação ao comportam nto 2. Por outro lado, a lit ratura é impr cisa sobre o momento de existência
futuro do ben ficiário 28 • dos bons antecedentes xigidos p la lei: a) dev riam r contemporâneos
ao crime e reconhecidos na sentença gund FRAGOSO 31; 6) pode-
riam ser posteriores ao crime, 1nas anteriores ao início da pena, s gundo
2.2. Pressupostos específicos BITE COURT32 . Ambas posiçõ s par cem criticáv is, porque o
conceito de antecedentes tem por obj to d refer "ncia o Jato punível ,
Os pr ssupostos específicos do livram nto condicional t "m por portanto, s gundo o Dir ito P nal do fato, designa exclusivam nt
obj to as espécies d livramento condicional, assim indicados: acont cim ntos anteriores ao crim .
a) o livramento condicional especial pr ssupóe (1) xecução d 3. A validad de maus antecedentes ' limitada ao prazo d 5 anos, por
aplicação an lógica do prazo de validade da reincidência (art. 64, I, CP):
um terço da p na privativa d liberdade aplicada, (2) prilnariedad e1n
afin l 1 , bí ! limitar o prazo de validade da reincidência
crime doloso, (3) bons anteced ntes;
atribuir valid d il' mitad a maus antecedentes3 3 .
6) o livram nto condicional ordinário pr s upõ (1) x cução
4. Na hipótese de penas privativas de liberdad por infrações penais
d metade da p na privativa d lib rdade aplicada, (2) r incid "ncia
diversas, admite-se a soma das penas para concessão do benefício.
m crim doloso;
Art. 84. As penas que correspondem a infrações diversas
c) o livramento condicional extraordinário pressupõe (1) exe-
devem somar-se para efeito do livramento.
cução de dois terços da pena, (2) condenação por crime hediondo,
prática de tortura, tráfico d drogas e terrorismo, e (3) ausência d 5. O livramento condicional também constitui direito subjetivo público
reincidência específica nesses crimes. do condenado, obrigando o juiz da execução penal as pronunciar,
motivadamente, sobre a concessão ou d n gação do benefício, caracteri-
1. Os conceitos de primariedade de reincidência possue1n estrutura
t 'cnica pr cisa, mas o cone ito d bons antecedentes do livra1n nto con-
dicional especial também precisas r analisado na ótica das alternativas 29 omparar F RREIRA,Aplicaçáodapena, 1995, p. 83-85.
da prática judicial: a) a posição tradicional consid ra maus anteceden- 30 N entid , I, Das penas e seus critérios de aplicação, 2000, p. 208; BUENO DE
RV. LH O RV. LHO, AplicafáO da pena e 'tlrantismo, 2002, 2ª edi ão, p. 49-50.
tes a xist"ncia d inqu 'ritos, d proc ssos criminais, de absolviçõ s 31 RAGO O, Lições de direito penal (parte geral), 2003, 16ª edição, p. 477, 11. 389:
por falta d provas, de xtinção do proc sso por pr scrição abstrata, "Os bons antecedentes que a lei exige devem ter ocorrido na época do crime e devem estar
reconhecidos pela sentença. "
r troativa ou int rcorrent e de cond nação criminal sem trânsito em 32 BITE OURT, Tratado de direito penal (pnrte geral), 2003, 8ª edição, p. 649: "Devem
ser considerados antecedentes, para essa fina.lidtlde aqueles fotos o orridos antes do inf ío do
cumprimento da pena, mesmo que tenham ocorrido após o fato delituoso que deu origem à
prisão... "
33 im BOSCHI, Das penas e seus critérios de aplicação, 2000, p. 208; BUENO DE
28 e n ido J CH C / TGE D Lehrbuch des tmfrechts, 1997, § 79, I, n.
4c, p. 836-837, e II, 11. 4, p. 1· RI H, Dogmatische rundlagen der bedingten CARVALH CARVALH , Aplicaçdo dn pena e grtrantismo, 2002, 2ª edi ão, p. 49-5 0.
Entlassung, ZStW, 102 (19 90), p. 721 e 736-739 .
zados seus pr ssupostos legais 34 -, igualmente s m ignorar a influência ' ubm tido a 6 rvação cautelar e proteção do Serviço
decisiva do princípio in dubio pro reo, pois nenhuma incerteza sobre o Social Penitenciário, de Patronatos ou de Conselhos de Comunidade,
comporta1nento futuro do beneficiário pode prevalecer sobre a certeza com a finalidade explícita de garantir o cumpriinento das condições e
dos efeitos danosos da prisão 35 . de proteg r o lib rado atrav's de orientação e auxílio (are. 139, LEP).
A condições de execuçã d li ramento e ndicional ão fixadas A concessão do livram nto condicional ocorr em solenidad
p lo juiz da x cução na d cisão cone ssiva do b n fício (art. 85, CP, no stab 1 ciln nto d x cução da p na, com a 1 itura da s nt nça
ar . 1 2, P) e podem er d i cad em obrigatórias facultativtJS, concessiva perant o lib rando e demais condenados, nfatizando-se
1m fin• as condiçõ s d x cução sp cificadas nas nt nça, qu d v rão s r
1. As condições obrigatórias do livrain nto condicional são a eguintes:
fonnaltn nte ac itas p lo 6 neficiário, lavrando-se t nno e1n livro
a) obter, em prazo razoáv 1, ocupação lícita; b) comunicar ao juiz da próprio, subscrito p lo presidente da cerimônia e pelo liberando,
execução, periodicamente, a ocupação; e) não se mudar do t rritório co1n a expedição final da carta de livramento com cópia in egral da
da comarca da x cução do livramento condicional sem autorização s nt nça r sp ctiva (arts. 136 137, LEP). Em s guida, o lib rando
judicial (art. 132, § 1º, LEP). recebe o saldo do pecúlio, seus p rt nces p ssoais e a caderneta de libe-
rado condicional, com sua identificação, o texto impresso do capítulo
2. As condiçõ s facultativas do Ii ramen to ond icional ão as s guint s: sobr o livram nto condicional, as condiçõ s impostas na s nt nça
a) não mudar de residência sem comunicação ao juiz da execução cone ssiva e spaço para r gistro do cumprimento das condiçõ s
à autoridad r sponsáv 1 pela obs rvação caut lar prot ção; b) r - (art. 138, LEP).
colhim nto à habitação em horário fixado; c) não fr quentar lugar s
d t rminados na d cisão cone ssiva (are. 132, § 2º, LEP).
Art. 85. A sentença especificará as condições a que fica 5. Revogação
subordinado o livramento.
As ondiçõ s d x cução do li ram nto ondi ional pod m r O livram nto condicional pod s r r vogado p lo juiz da x cu-
modificadas pelo juiz da execução (de ofício, a r qu rimento do Mi- ção (de ofício, a requerim nto do Ministério Público ou representação
nist ' rio Público ou r pr s ntação do Conselho Penitenciário), ouvido do Cons lho P nit nciário), ouvido o lib rado (art. 143, LEP). A 1 i
o lib rado (art. 144, LEP). Durant prazo d li am n ndici nal penal define condutas ou f: o de erminan es de r vagação obrigatória
ou facultativa do b nefício, d pend ndo da natur za do fundamento
da revogação.
34
n id , tam ' m GOSO, Lições de direito penal (parte geral), 2003, 16ª
dição, p. 481, n. 391. 1. A revogação obrigatória do livram nto condicional ocorre na hi-
35 RI CH, Dogmati che Grundlagen der bedíngten Entlassung, in Z tW, 102 (1990) ,
p. 72 1 e 7 6-7 · J H K/ l E , Lehrbuch des trafrechts, 1997, § 79, I, pót e de cond nação irr corrív 1 a pena privativa d lib rdade por
n . 4c, p. 836-837.
Art. 90. Se até o seu término o livramento não é revo- 1. Transação penal
gado) considera-se extinta a pena privativa de liberdade.
1.1. Conceito
C) Os substitutivos penais da Lei 9.099/95: A transação penal é o ato jurídico proc ual p lo ual 1n1s-
a transação penal e a suspensão condicional do t , rio Público, m hipót s s d ação p nal pública condicionada (após
processo frustrada a conciliação), ou d ação p nal pública incondicionada -
se não for caso de arquivam nto -, propõe ao autor da infração ( seu
A Lei 9.099/95 instituiu os Juizados Esp ciais Criminais, co1n d ti nsor) a im diata aplicação d p na r stritiva d dir itos ou 1nulta,
competência para julgar contravenções crimes com pena máxima d natureza substitutiva da pena privativa d lib rdade abstrata até 2
abstrata privativa de liberdade até 2 anos (após o adv nto da L i anos (art. 76 e parágrafos, da L i 9.099/95).
10.259/01 ), criando uma causa de xtinção da punibilidad e dois Art 76. H avendo representação ou tratando-se de crime
substitutivos p nais, assim d tinidos: de .ação penal pública incondicionada, não sendo caso
a) a conciliaç:ão judi ial ntr autor vítima, nas hipót s s d de arquivamento, o Ministério Público poderá propor
ação p nal privada ou d ação penal pública condicionada à r presen- a aplicação imediata de pena restritiva de direitos ou
tação, constitui causa de extinção da punibilidade do fato (arts. 72-7 4, multas, a ser especificada na proposta.
da Lei 9.099/95);
b) a tran ação p nal entre Ministério Público e autor, nas h ipó- 1.2. Requ.i itos da transação penal
t s s d ação p nal pública condicionada ou incondicionada, constitui
substitutivo penal (art. 76 e parágrafos, da Lei 9.099/95); Os r quisitos xigidos para a transação penal são d natur za p nal
c) a suspensão condicional do processo, m crim s com pena e processual penal e podem ser classificados em positivos e negativos,
mínima cominada até 1 ano de privação de lib rdade, dentro ou fora conform admitam ou xcluam o substitutiv p nal.
da comp tência dos Juizados Especiais Criminais, também constitui 1.2.1. Requi ito po itivos. Os r quisitos positivos da transação penal
substitutivo penal (art. 89 parágrafos, da L i 9.099/95). têm por objeto a extensão da p na privativa d lib rdade cominada ao
Assim, a conciliação entre autor vítima em açõ s p nais pri- cnm a natureza da açã p nal a ·m d fi id : a) p m ' im
vadas ou açõ s p nais públicas condicionadas à r pr s ntação, com comi nada até 2 anos d privação de liberdade; b) crime d ação penal
composição dos danos civis homologada p lo juiz, não é simpl s pública condicionada ou incondicionada.
substitutivo penal, mas sentença irr corrív 1, com eficácia d título a) Pena máxima cominada até 2 anos de privação de liberda-
x cutáv 1 no juízo cív 1 (art. 74, da L i 9.099/95), d t rminando de. pena 1náxima cominada igual ou inferior a ano de privação de
renúncia ao direito de queixa ou de representação (art. 74, parágrafo lib rdad d fin as infrações de menor potencial ofensivo, d comp t "ncia
único, da L i 9.099/95) - logo, xtingu a punibilidad da infração dos Juizados Esp dais Criminais, instituídos pela Lei 9.099/95 am-
p nal. Todavia, a transação penal e a suspensão condicional do processo pliados p la L i 10.259/01, qu pod m ser objeto d transação p nal.
constitu m v rdad iros substitutivos penais, a seguir studados.
b) Crime de ação penal pública. O crime obj to da transação tos, de modo que a exclusão da transação penal pr ssupõe prognose
penal deve ser d natureza pública incondicionada ou condicionada - desfavorável fundada naqueles elementos - ou seja, aqueles elemen-
nesse caso, com a necessária representação da vítima ou representante tos devem contraindºcar a necessidade e a suficiência da 1nedida para
1 gal. ão obstant , a jurisprud "ncia t m admitido transação penal xcluir a transação p enal.
m açõ s penais privadas.
Por outro lado, o cont údo d ss s cone itos d ve s r d finido na
1.2.2. Requisitos negativos. Os requisitos negativos da transaçã p al ótica crítica descrita no capítulo sobre aplicação da pena: por exemplo,
determinam a exclusão do substitutiv n l m im di proposição som nt pod m s r consid rados maus antecedentes as condenações cri-
da ação p nal, stão xpr ssam nt d tinidos m 1 i: m inais definitivas anteriores qu não configur m r incid "ncia, porqu
o princípio da p resunção de inocência xdui todas as outras hipót s s
a) Condenação definitiva do autor a pena privativa de liber-
(art. 5°, LVII, CR) 36 .
dade por crime. A xig "ncia 1 gal d sdobra-s m tr "s asp ctos prin-
cipais: 1) a sent nça cond natória ant rior d v s r definitiva, ou seja, Finalm nt - d novo contrariando t nd "ncia r pr ss1va
não pod mais s r modificada por m io d r cursos; 2) a condenação da literatura p nal brasileira37 - , a avaliação dos ant c d nt s, da
dev r a p na p rivativa de liberdade, ou s ja, a p na d multa ou a conduta social, da p rsonalidad do agente, dos motivo das
substituição da pena privativa de liberdade aplicada por penar stritiva circunstâncias do fato na transação penal, que d vem fundamentar
de direitos não exclui a transação penal; 3) a cond nação anterior dev prognose desfavorável para xcluir o substitutivo penal, é decidida
s r por crime , portanto, cond nação por contravenção não xclui a p lo princípio in dubio p ro reo, qu autoriza a transação penal m sino
transação penal. Em qualquer caso, a cond nação definitiva anterior m face de incerteza sobre o comportamento futuro do acusado- com
a pena privativa de lib rdade por crime não exclui o benefício após o maior razão ainda do que no sursis, benefício fundado em prognose
d cur o do prazo d 5 ano ntr o cumprim nto ou xtinção da p na favorável daq u las circunstâncias 38 •
e o crim obj to de transação, porque s a r incid "ncia pr screve em d) Rejeição da tran ação p lo acu ado ou defensor. A transação
5 anos (art. 64, I, CP), ntão obstáculo fundado na r incid "ncia não p enal constitui ato jurídico proc ssual d n gociação ntr o Minist ' rio
pod · pr val c r após esse prazo.
Público e o autor da infração penal, cuja validade é excluída por quais-
b) Obtenção de igual benefício nos últimos 5 anos pelo qu r vícios ou d ti itos qu det rminam nulidad ou anulabilidad dos
acusado. O prazo d 5 anos, d efinido p lo legislador como prazo d at jurídi m g ral. a n n ual a ran çã p nal pr ssupõ
prescrição da reincidência criminal (art. 64, CP), também exclui os a aceitação do acusado do defensor do acusado, como maniti stação
efeitos impeditivos da transaçã p nal an ri r.
e) Os antecedentes, a conduta social e a personalidade do 36 Assim, BOS HI, Das penas e seus critérios de aplicação, 2000, p. 208; BUENO
autor, além do motivos e circunstâncias do fato contraindicarem DE ARV: LH RVALHO Aplicação da pena e garantismo, 2002, 2ª edição,
p. 49-5 0.
a necessidade e suficiência da medida. A transação penal não xig 37 Ver, por ex mplo BIT E O URT Tratado de direito penal (parte geral), 2003,
qu os antec d nt s, a conduta social, a p rsonalidade do ag nte, os 8ª edição, p. 586: "No entanto, considerando o grande alcance desse novo instituto, deve-
se agir com mais cautela na análise desse requisito; como aconselha j escheck, o risco a
motivos circunstâncias do fato indiquem a necessidade suficiência assumir, nessas hipóteses, deve ser prudencial, e, diante de sérias dúvidas, recomenda sua
.- -
nao concessao.
))
da m <lida, nos ntido d funda1nentar m uma prognose favorável 38 N ntido, , Prognoseentscheidungen im trnfrecht, 1983, p. 49-53;
à transação penal; pelo contrário, basta a neutralidade dess s el m n- J C ECK/, El E D, Lehrbuch des Strafrechts, 1997, § 79, I, n. 4c, p. 836-837.
de vontade livr consc1 nt de ambos, no sentido de vontad não recimento de denúncia, em atenção ao princípio do devido processo
viciada por erro, dolo, coação, simulação ou fraude. legal, em especial aos princípios do contraditório e da ampla defesa,
2,0 (art. 76). Não se admitirá a proposta se ficar confonne jurisprudência do upremo Tribunal Federal;
comprovado: b) a posição minoritária opta pela im diata conversão em priva-
I - ter sido o autor da infração condenado, pela prática ção d lib rdad - ori ntação inconstitucional, pois não xist pena
de crime, a pena privativa de liberdade, por sentença privativa de liberdade aplicada segundo o processo legal devido, ou seja,
definitiva; com obs rvância dos princípios do contraditório e da ampla defesa;
a1 'n1 di o, na hipót d r vogação por falta d pagam nto da p na
II - ter sido o agente beneficiado anteriormente, no prazo
de multa, o art. 51, CP (com a redação da L i 9.268/96), considera
de 5 (cinco) anos, pela aplicação de pena restritiva ou
a pena de multa, após trânsito em julgado da sentença cond natória,
multa, nos termos deste artigo;
m ra dívida de valor, xcluindo a antiga conversão 1 gal m privação
III - não indicarem os antecedentes, a conduta social da liberdade , portanto, revogando o art. 85, da Lei 9.099/95.
e a personalidade do agente, bem como os motivos e as
circunstâncias, ser necessária e suficiente a adoção da
medida. 2. Suspensão condicional do processo
§ 3°. Aceita a proposta pelo autor da infração e seu
defensor; será submetida à apreciação do juiz.
2.1. Conceito
§ 4°. Acolhendo a proposta do Ministério Público aceita
p elo autor da infração, o juiz aplicará a pena restritiva A suspensão condicional do processo é o ato jurídico pro sual
de direitos ou multa, que não importará em reincidên- pelo qual o Minist,. rio Público - no mom nto d ofi recimento da
cia, sendo registrada apenas para impedir novamente o d nún i ( gund a lic ralidad d ] i) u at ' a publi ção das nt nça
mesmo benefício no prazo de 5 (cinco) anos. (segundo a prática forense g n r lizada) após frustradas a tentativa
d conciliação extintiva da punibilidad a tentativa d transação
substitutiva da pena - propõe a suspensão condicional do processo pelo
1.3. Consequências jurídicas da transação penal prazo de 2 a 4 anos, em crimes com pena mínima cominada até 1 ano,
d ntro ou fora da comp t "ncia dos Juizados Especiais Criminais (art.
Cumprida a pena restritiva de direitos ou paga a pena d multa 89, da Lei 9 .099/95) 39 .
aplicadas na transação, em substituição da pena privativa de liberdade A suspensão condicional do processo tem pressupostos d cone ssão,
abstrata até 2 anos, xtingue-s a punibilidad da infração p nal. Mas condições d x cução causas d r vogação obrigatórias facu1tativas.
existe controv"rsia sobre as cons quências do d scumprimento da
p na restritiva de direitos ou da falta d pagam nto da p na d multa
aplicadas na transação, com duas posições na prática forens :
a) a posição dominante opta p la r vagação do ben fício ot - 39 Ver , M anual de direito p enal (parte geral), 1999, v. 1, p. 297-298 .
2.2. Pressupostos de concessão na senda utópica de descobrir qualquer coisa melhor do que o Direito
Penal, s gundo RADBRUCH 41•
Os pr ssupostos d cone ssão da suspensão condicional do pro-
b) Ausência de processo critninal ou de condenação or outro
cesso, examinados isoladamente a seguir, são definidos pela lei (art.
crime contra o acusado. Aqui é preciso sclarecer o seguint : pri-
89 e parágrafo único, da Lei 9.099/95): a) crimes com pena mínima
meiro, a condição legal não t r a presunção de inocência, porqu
cominada igual ou inferior a 1 ano; b) ausência d processo criminal
ser acusado ou condenado não é idêntico a ser considerado culpado,
ou de condenação por outro critne; c) r quisitos qu autorizaria1n a
vedado p lo princípio; segundo, o verbo no particípio passado
susp nsão condicional da p na; d) ac itação da suspensão condicional
"não esteja sendo processado" cont 'm implícito o adj tivo criminal,
do processo p lo acusado s u defensor (art. 89, da L i 9.099/95).
pela vinculação por conjunção alternativa com a segunda parte da
a) Crimes com pena mínima cominada igual ou inferior a 1 ano. oração "ou não tenha sido condenado por outro crime" (art. 89, da Lei
O substitutivo p nal é g n roso, pois abrang a maioria dos fatos 9.099/95); terceiro, a eficácia da cond nação "por outro crime" não
puníveis definidos na 1 i penal, cuja pena mínima abstrata é igual ou pode ultrapassar o prazo d 5 anos de prescrição da reincid "ncia
inferior a 1 ano, incluindo homicídio culposo ( xceto na direção de criminal. Logo, dúvidas da literatura sobre essas questões parecem
veículo automotor, d finido no CTB), 1 sões corporais grav s, omissão inconsist nt s42 .
de socorro, furto simpl s, est lionato, apropriação ind 'bita, falsidad
id ológica, prevaricação te. o caso d t ntativa, ainda pod atingir e) Requisitos que autorizariam a suspensão condicional da pena.
crimes com p na mínima superior a 1 ano s a r duçã máxima d A maioria dos r quisitos qu autorizaria1n a suspensão condicional da
2/3 (dois t rços) p rmitida pela tentativa d terminar pena mínima pena é inaplicável à suspensão condicional do processo, por contradição
abstrata dentro do limite legal de ] ano. dir ta com seus pressupostos43 - e, portanto, deve ser desconsiderada,
conform d monstrado:
A suspensão condicional do processo constitui instrumento redutor
da pr dação social inútil promovida p la p na criminal, ben ficiando 1) a suspensão condicional da pena te1n por objeto penas pri-
p ialn1 nt s gm nto ubalt rno humild da população bra- vativas de lib rdad aplicadas at' 2 anos - nquanto a susp nsão
sil ira; valoriza a constatação critninológica d qu as vítimas d ssa condicional do processo t m por objeto crimes com pena mínima
criminalidade miúda estão mais interessadas e1n ressarcimento do privativa de liberdade cominada até 1 ano;
dano do qu m puniçõ s; r solv conflitos humanos p la t 'cnica 2) a xig "ncia d b neficiário não reincid nt
m crim doloso
civilizada do cons nso, evitando a r pressão in i uci n d jei da suspensão ndicion da pena ' menor do que o pr ssuposto d
punidos por condições sociais adversas; contribui para de p naliz r aus "ncia d proc sso criminal ou d · cond nação por outro crim da
conflitos sociais atrav 's da desprocessualização de litígios humanos; susp nsão condicional do processo;
enfim, r aliza parcialmente o ideal do Direito Penal mínimo mediant
nec ssária despenalização -que deve ser estimulada, e não temida40 - ,
41 RADBRU H, Filosofia do direito. oimbra m~nio Amado ditor, 1961, v. II,
p. 97.
42 omparar BITE OURT, Tratado de direito penal (parte geral), 2003, 8ª edição,
40 É injustificada a preocupação com "despenalização maciça" expre a por penali e
de p. 601 -603.
incontestável orientação democrática, como BITEN OURT, Tratado de direito penal 43 Ver a crÍtica de BITEN OURT, Tratado de direito penal (parte geral), 2003, 8ª edição,
(parte geral), 2003, 8ª edição, p. 600-601. p. 605-608.
3) a possibilidade de aplicação de pena r stritiva d dir itos § 7°. Se o acusado não aceitar a proposta prevista neste
exclui a suspensão condicional da pena porque é mais favorável ao artigo, o processo prosseguirá em seus ulteriores termos.
condenado, mas constitui pena criminal 1nais grave do que a suspen-
sã condici nal d proc sso, que xclui a aplicação d qualqu r p na;
2.3. Condições de execução
4) finalin nt , o único r quisito da susp nsão condicional da
pena aplicável à suspensão condicional do processo: a culpabilidade,
As condiçó s de ex cuçáo da suspensão condicional do processo
os ant c d nt s, a personalidade, o duta o ial os motivos e as
podem ser legais e judiciais, conforme s jam determinadas pela 1 i
circunstâncias do fato - mas o cont údo d s cone itos d v r
ou sp cificadas p lo juiz.
definido na persp ctiva crítica desenhada no estudo das circunstâncias
judiciais, no processo d aplicação da pena (v r Aplicação da p na, aci- a) As condições de execução Legais são as s guintes: a) reparação do dano
ma) . A qu stão dos ant ced nt s precisas r sp cialm nt xaminada r sultant do crim , salvo impossibilidad ; b) proibição d frequ ntar
na ótica das alternativas da prática judicial: a) a posição tradicional determinados lugares; c) proibição de ausentar-se da comarca de resi-
considera maus antecedentes a existência de inquéritos, de processos dência sem autorização judicial; d) informação e justificação pessoal
criminais, d absolviçõ s por falta d provas, d xtinção do proc sso em nsal das atividad s, em juízo (art. 89, § 1°, da Lei 9.099/95).
por prescrição abstrata, retroativa ou int rcorrent de cond nação Art. 89, § 1°. Aceita a proposta pelo acusado e seu de-
criminal sem trânsito e1n julgado; b) a posição crítica considera maus fensor, na presença do juiz, este, recebendo a denúncia,
antecedentes som nte condenações criminais d finitivas anteriores qu poderá suspender o processo, submetendo o acusado a
não configurem reincidência, excluindo outras hipóteses - a teoria período de prova, sob as seguintes condições:
1nais compatível com o princípio da presunção de inocência (art. 5°,
I - reparação do dano, salvo impossibilidade de
LVII, CR), qu informa todas as situaçó s proc ssuais anteriores ao
fazê-Lo;
trânsito m julgado de s nt nça riminal ond na óri 44 .
II - proibição de frequentar determinados Lugares;
t. 89. Nos crimes em que a pena mínima comi na-
da for igual ou inferior a 1 (um) ano, abrangidas ou Ili - proibição de ausentar-se da comarca onde reside,
não por esta Lei, o Ministério Público, ao oferecer a sem autorização do juiz;
denúncia, poderá propor a suspensão do processo, por IV - comparecimento pessoal e obrigatório a juízo,
2 (dois) a 4 (quatro) anos, desde que o acusado não mensalmente, para informar ejustificar suas atividades.
esteja sendo processado ou não tenha sido condenado
b) As condiçó s de xecução judiciais são specificadas pelo juiz na
por outro crime, presentes os demais requisitos que au-
torizariam a suspensão condicional da pena (art. 77 suspensão condicional do processo e devem ser adequadas ao fato e à
do Código Penal). situação pessoal do acu ado (art. 89, § 2°, da L i 9.099/95).
Art. 89, § 2°. O juiz poderá especificar outras condições
a que fica subordinada a suspensão, desde que adequa-
44
esse sentido, BOSCHI, Das penas e seus critérios de aplicação, 2000, p. 208; também, das ao fato e à situação pessoal do acusado.
B E O DE CARVAL O ARV: O Aplicação da pena e garantismo, 2002,
2ª edição, p. 49-50.
Capítulo 20 611
2.4. Revogação
de ser s humanos portadores de transtornos psíquicos, ignorando d retroatividad ) . a Alemanha, por ex mplo, as medidas d seguran-
a natureza problemática, tautológica e amorfa do conceito de ça são regidas pelo princípio da proporcionalidade, mas a subordinação
periculosidade criminal, como dizia BARATTA. 1 ao princípio da legalidade é limitada às dimensões de lei escrita, de lei
Em resumo , a crise das medidas de segurança xprim a cns estrita d 1 i certa, xcluída a dim nsão d 1 i prévia, caract rística
do prognóstico d p riculosidade e da eficácia da int rnação psiquiá- do tipo d injusto.
trica para transformar condutas ilegais de autores inimputáveis em No Brasil, a literatura dominante tem rejei tado essa sub-
condutas 1 gais d cidadãos r sponsáv is. A inconsist "ncia ci ntífica missão parcial, propondo a subordinação integral das m edidas d
comprovada d laudos psiquiátricos sobr p riculosidad criminal x- gurança ao p rincípio da legalidade, para r duzir 1 só s d dir itos
plica a convicção generalizada sobre a n cessidade d r dução radical individuais vinculadas à sua aplicação, sob o seguint argumento:
das m didas de segurança detentivas, sp cialment em prognósticos o princípio da legalidade (a) como Lex praevia proíbe aplicação r -
n gativos construído sobr autor s d crim s de bagat la ou d troativa d m dida de s gurança contra autor s inimputáv is d
crimes patrimoniais não violentos, em que a aplicação d m edida tipos de injusto, (b) como lex scripta proíbe aplicação d m dida d
de segurança privativa de liberdade ' injustificável; igualmente, segurança fundada no costume, (c) co1no lex stricta proíbe aplicação
prognósticos d crim s futuros indeterminados ou de crim s futuros d m dida d s gurança fundada m analogia prejudicial ao autor
ap nas possíveis não 1 gitimam int rnaçó s compulsórias m insti- (d) como lex certa proíb a xistência de m edidas d s gurança
tuiçó s psiquiátricas. Em todos ss s casos, a aplicação de m dida indeterminadas ou indefinidas.
d s gurança detentiva infringe o princípio da proporcionalidade,
A plena legalidade das medidas de segurança, por causa das
porque não tem relação com o tipo de injusto realizado, nem com a
cons qu "ncias jurídicas invasivas do inconfiáv 1 prognóstico d
precária objetividade de prognósticos de fatos criminosos futuros. periculosidade criminal d autor inimputável d um tipo d inju to,
Afinal, como tem afirmado a crítica sp cializada, som ent a pro- ' tão importante quanto a pl na legalidad das penas criminais,
babilidade d fatos p un ív is relevantes, caract rizados por violência
como cons qu "ncia jurídica da r alização d crim por cidadão
ou ameaça de violência contra a pessoa, pod ria justificar a aplicação responsáv l; por outro lado, a 1 galidade do pr ssuposto de tipo de
d m dida d s gurança detentivas contra autor s inimputáv is.
injusto para aplicação de medida de segurança a autor s inimputáveis,
ta1nb 'm ' id "ntica à 1 galidad do pr ssuposto do tipo de injusto
2. Os problemas de legalidade das medidas de segurança
para aplicação de penas criminais a autor s imputáveis, ou s ja, a
r alização d ação típica e antijurídica concreta.
No Direito P nal cont mporân o, a subordinação das m didas
ão obstant , a posição da lit ratura brasil ira constitui, na
de segurança ao princípio da Legalidade é parcial: ap nas as dim n-
m lhor das hipóteses, a expr ssão d s ntim ntos p ssoais dos int ' r-
sõ s d lex scripta (proibição do costum ), d Lex stricta (proibição d
pr t s, porqu não xist n nhuma norma qu vincul as m didas
analogia) d Lex certa (proibição d ind t erminação) são admitidas,
d · segurança ao princípio da legalidade na 1 i p nal brasil ira - como
enquanto par ce geral a exclusão da dimensão de !ex praevia (proibição
x1st m relação a crimes penas, por ex mplo. Mais do qu isso,
a disciplina 1 gal das m didas d s gurança n a 1 i p nal brasil ira
1 BARATTA, Principi dei diritto penal mínimo. ln: Dei Delitti e delle pene, n. 3, s mpre foi d fiei nte: a) prim iro, as medidas d s gurança não são
1985.
formalm nte subordinadas ao princípio da legalidade; b) s gundo, os como crime (art. 97, CP) com o conceito de tipo de injusto da
pressupostos de aplicação das medidas de segurança não são definidos dogmática penal, porque o inimputável pode realizar ações típicas
em lei: a realização do tipo de injusto e a periculosidade criminal do autor. justificadas por legítima defesa, estado de necessidade ou outra
Por x mplo, som nt 'possív 1sab r qu o pr ssuposto da m <lida d jus tificação, cuja pr s nça d scaract riza o tipo de injusto , assim,
s gurança é Jato previsto como crime, por d dução do disposto no art. xclui o pr ssupos to das medidas d s gurança.
97, s gunda part , qu diz: "se, todavia, o fato previsto como crime for Sobre essa questão, contudo, existe controvérsia: um segmen-
punível com detenção, poderá ojuiz.. . "; além disso, 'possív 1sab r qu to da lit ratura brasileira excl ui m <lidas d s gurança m hipót ses
a periculosidade é pressuposto da medida de segurança por inferência d erro de proibição inevitável ou d inexigibilidade de comporta-
do art. 97, § 1°, que diz: /1 internação, ou tratamento ambulatorial, mento diverso de autores inimputáveis, sob o m smo argum nto de
será por tempo indeterminado, perdurando enquanto não for averiguada, isenção de pena d autor s imputáveis. ão obstante, a p rgunta
mediante perícia médica, a cessação da periculosidade ".
obr a capacidad de autor inimputável atuar m erro de proibição
Não obstante - e por óbvias e indiscutíveis razõ s políticas ou m situações de exculpação par cer t r resposta negativa : se o
práticas -, é indispensável pressupor a plena regência do princípio da defeito do aparelho psíquico do inimputável significa incapacidade
legalidade sobre as m <lidas d s gurança, conform o mod lo adorado in t 1 ctual d "entender o caráter ilícito do fato", ou incapacidad
para crim se p nas, na linha proposta p la ht ratura dominante. vol itiva d "determinar-se de acordo com esse entendimento'', então
o inimputável não pode ter conhecimento da proibição, ou não
III. As medidas de segurança da legislação penal pod determinar o comportam nto pelo conhecimento da proibição
- estados psíquicos pressupostos no erro de proibição-, nem pode
possuir dirigibilidade normativa - estado psíquico pressuposto na
1. Pressupostos das medidas de segurança exigibilidade de comportamento diverso, xcluído ou r <luzido nas
situações de exculpação. Logo, autor s inimputáveis por incapacidade
A aplicação de medidas de segurança d pend da xist "ncia d penal d t rminada por doença mental ou desenvolvimento mental
dois pr ssupostos 1 gais, cuja xist "ncia imultân a pr t nd constituir incompleto ou retardado não pod m atuar em erro de proibição
garantia individual: a) a realização de Jato previsto como crime; b) a xcludent ou r dutor da culpabilidade, nem agir m situações de
periculosidade criminal do autor, por inimputabilidad p nal. exculpação, xclud nt s ou r dutoras da dirigibilidade normativa,
qu fundamenta a xigibilidad d comportamento div rso.
1.2.1. Presunção legal de periculosidade criminal. A presunção legal O conceito de perturbação da saúde mental d signa um stado
de periculosidade criminal de autores inimputáveis de tipo de injusto psicopatológico indeterminável do órgão cerebral, compreendendo
exprime o prognóstico de futura realização de fato previsto como crime, desde neuroses, psicopatias e formas leves de debilidade mental, até
por indivíduos portador s d doença mental ou d desenvolvimento d h itos squizofr "nicos d m "ncia s nil (v r Capítulo 11, II , 1.2.).
mental incompleto ou retardado, xdud nt da capacidad d conhecer
Em r gra, p ssoas consid radas s 1ni-imputáv is possu 1n ca-
o caráter ilícito do fato ou d determinar-se conforme ss conh ci- pacidade penal e, por isso, são p nalm nt r sponsáv is por ações
m nto (art. 26, CP) . criminosas, mas com punição reduzida d um a dois t rços da p na;
Art. 26. É isento de pena o agente que, por doença por xc ção, na hipót s d n c ssidad d especial tratamento cura-
mental ou desenvolvimento mental incompleto ou tivo (art. 98, CP), a p na privativa de liberdade podes r substituída
retardado) era) ao tempo da ação ou da omissão, intei- por m dida d s gurança - hipótese d aplicação do antigo sist ma
ramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato vicariante no dir ito penal brasil iro, caract rizado p la substituição
ou de determinar-se de acordo com esse entendimento. r cíproca ntr penas medidas de segurança.
O cone ito d doença mental (r d finido como transtorno mental Art. 98. Na hipótese do parágrafo único do art. 26
p la L i 10.216/\01), compre nd (a) a psicos s endógenas, como a deste Código e necessitando o condenado de especial
esquizofrenia e a paranoia, e (b) as psicoses exógenas, causadas por (i) tratamento curativo, a pena privativa de Liberdade pode
traumas, tu1nor s ou infeçõ s do órgão e rebral, (ii) a epilepsia (iii) ser substituída pela internação, ou tratamento ambu-
a art rioscl ros e r bral (v r Capítulo 11, II , 1.1.) latorial pelo prazo mínimo de 1 (um) a 3 (três) anos,
nos termos do artigo anterior e respectivos §§ 1° a 4°.
1.2.2. Determinação judicial de periculosidade criminal. A de-
terminação judicial d p riculosidad criminal xprim o prognóstico
d futura r alização d fatos previstos como crimes por autores semi-
-imputáveis de tipos de injusto , portadores de perturbação da saúde 2. Objetivos das medidas de segurança
mental ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado, condi-
cionant d incapacidade parcial d conhecer o carát r ilícito do fato As medidas de segurança foram instituídas na 1 gislação p nal
ou de determinar-se conforme esse conh cim nto (art. 26, parágrafo para r alizar os s guintes obj tivos xplícitos: a) primeiro, d tra-
único, CP), consid rados como nec ssitados de "especial tratamento tamento psiquiátrico compulsório d autor s inimputáv is d tipos
curativo" (art. 98, CP). de injusto, portadores de pericu losidade criminal presumida (art. 26
Art. 26, parágrafo único. A pena pode ser reduzida parágrafo único, CP) - co1n xc ção da hipó t s d determinação
de um a dois terços, se o agente) em virtude de pertur- judicial (art. 98, CP); b) . gundo, d segurança social d natur za
bação de saúde mental ou por desenvolvimento mental detentiva (int rnação m hospital de custódia tratamento psiqui-
incompleto ou retardado não era inteiramente capaz de átrico) ou ambulatorial (tratam nto psiquiátrico em lib rdad ).
entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se Por isso, as medidas de segurança Cm por obj tivo possibilitar
de acordo com esse entendimento. açõ s ou int rv nçõ s p iquiátricas ao nív 1 do sistema límbico da
p rsonalidad de autor s inimputáveis, co1no c ntro das rnoçõ s da
vida afetiva individual, segundo a Psiquiatria, ou ao nível do ego e do como crime for punível com detenção, poderá o juiz
superego do aparelho psíquico, segundo a Psicanálise, assim definidas: submetê-lo a tratamento ambulatorial.
a) no interesse do autor, para ampliar o controle das pulsõe instintuais
do id, como n rgia psíquica r gida p lo princípio do prazer; b) no
3.1. Hospital de custódia e tratamento psiquiátrico
interesse da sociedade, para imp dir açõ s antissociais de autor s inim-
putáv is d foto previsto como crime, m diant internação hospitalar ou
tratamento ambulatorial compulsórios. A internação m hospital de custódia e tratamento psiquiátrico
é xplicada pelos s guintes objetivos: a) garantir a sociedade contra
3. Espécies de medidas de segurança açõ s antissociais futuras d do nt s m ntais grav s, autor s d foto
previsto como crime; b) submeter o portador d doença m ntal internado
a tratamento psiquiátrico compulsório.
A legislação penal brasileira define duas spécies d m <lidas
de segurança, aplicáveis aos autor s inimputáveis d tipos de injusto, Todavia, a m edida de segurança detentiva de internação em
portadores de p riculosidad crilninal presumida (regra), ou aos s mi- hospital de custódia e tratamento psiquiátrico dev ria se fundar em
-imputáveis considerados perigosos por determinação judicial (exc - prognóstico d fatos puníveis com violência grave ou ameaça de
ção) : a) a m <lida d segurança detentiva d int rnação m hospital violência: s ria insufici nt a cominação d p na d r clusão no tipo
de custódia tratam nto psiquiátrico (art. 96, I, CP); b) a m edida de injusto r alizado, porque o prognóstico d crimes d bagar la ou
d s gurança ambulatorial d tratam nto psiquiátrico m r gim d d crimes patrimoniais como furto e st lionato, por ex mplo, não
liberdade (art. 96, II, CP) . ju tificaria aplicação d m <lida d s gurança detentiva, na linha da
melhor doutrina contemporânea. a verdade, a crise da m edida de
Art. 96. As medidas de segurança são:
s gurança detentiva não se limita à inconsistência do prognóstico d
I - internação em hospital de custódia e tratamento comportam ntos antissociai futuros, n m à ineficácia do tratamento
psiquiátrico ou, à falta, em outro estabelecimento psiquiátrico para transformar o comportam nto anti social futuro d
adequado; inimputáveis m co1nportam nto ajustado, mas nvolv o próprio con-
II - sujeição a tratamento ambulatorial. ceito de doença mental que ngendrou a Psiquiatria como esp cialidade
científica: existe profundo dissenso na Psiquiatria sobre o conceito de
A distribuição d autores inimputáveis (ou semi-imputáveis,
do nça m ntal, ou sobr os stados d anormalidade psíquica d finív is
n c ssitado d tratamento curativo) de foto previsto como crime p las
co1no do nça 1n ntal, co1no pr ssupõ o 1nodelo antilnanico1nial da
duas espécies de medidas de segurança depende da natureza da pena
L i n. 10.216/0 1, adiant xaminado.
cominada no tipo d injusto r alizado, conform as s guintes corr la-
ções legais (art. 97, CP): a) na h ipótese de pena de reclusão, internação Al ' m disso, o probl ma dos direitos humanos nas instituiçõ s
m hospital d custódia tratamento psiquiátrico; b) na hipót se d psiquiátricas - ainda mais grav do qu nas instituiçõ s p nit nciárias
p na d d t nção, tratamento ambulatorial m lib rdad . -, xplica a angústia da literatura p nal cont mporân a, expr ssa na
questão formulada por JESCHECK/WEIGE D: se a internação de
Art. 97. Se o agentefor inimputável, ojuiz determinará
autores de fatos puníveis portadores de do nça m ntal ou de anormalidad
sua internação {art. 26). Se, todavia, o fato previsto
psíquica em instituições apropriadas - pense-se especialmente nos psico- 4. Duração das medidas de segurança
patas, que integram o conceito de "outras graves anomalias psíquicas"
- , não produziria melhores resultados do que a internação em hospitais
O prazo mínimo d duração das m didas de s gurança d in-
psiquiátricos? Essa posição xprim o d ser' dito nos hospitais de custódia
ternação ou d tratamento ambulatorial' d 1 a 3 anos (art. 97, § 1°,
e tratamento psiquiátrico, na lit ratura sp cializada.
CP): a desinternação, na medida de segurança detentiva, ou a liberação,
na medida de segurança ambulatorial, dependem da cessação do atri-
3.2. Tratamento ambulatorial buído stado d periculosidade criminal, verificado por p rícia m édica
(an.97, § 2º, CP), com todos os probl mas ci ntíficos m todológicos
indicados. o sistema d m <lidas d s gurança da 1 gislação p nal,
A m dida d segurança d tratamento ambulatorial tamb ' m t m
o prazo máximo d duração das m didas d gurança detentivas ou
por obj tivo (a) prot g r a soei dad contra açõ s antis ociai futuras
ambulatoriais, é indeterminado.
de autor s inimputáveis d Jato p revisto como crime, mas com a diti -
r nça essencial (b) de realizar tratam nto psiquiátrico ambulatorial do Art. 97, § 1 º· A internação, ou tratamento ambu-
portador d do nça m ntal - com óbvias vantag ns para o inter ssado latorial, será por tempo indeterminado, perdurando
para a soei dad . enquanto não for averiguada, mediante perícia médica,
a cessação de periculosidade. O prazo mínimo deverá
Aqui, ' pr ciso nfatizar: a cominação 1 gal d p ena de deten- ser de 1 (um) a 3 (três) anos.
ção no tipo de injusto realizado ' fundam ento suficiente para aplicar
medida de segurança ambulante ao portador de doença m ental, por A duração indeterminada das m didas d s gurança detentivas
todas as razões indicadas. Afinal, a cominação de pena de detenção in- significa frequ ntement privação de lib rdade perpétua de s r s
dica pr cisamente aqu la criminalidade de bagatela, cujo prognóstico humanos, o qu r pr s nta violação da dignidade humana l são
não autoriza a aplicação d medida d s gurança detentiva, conform do princípio da p roporcionalidade, pois não existe correlação possível
a doutrina mai autorizada. Além di so, n nhuma di po ição l gal ntr a perpetuidade da int rnação a inconfiabilidade do prognóstico
impó critérios subjetivos adicionais para aplicar a m dida d s gu- d p riculosidad criminal do exam psiquiátrico. Ess probl ma '
rança d tratamento ambulatorial, como ''condições pessoais" ou prévia geral: na AI manha, por xemplo, a principal m dida d segurança
''compatibilidade" do ag nt te. , sug ridos por pr stigiados p nalistas. detentiva - pr cisa1n nt , a internação em hospital psiquiátrico (§ 63,
CP al mão) -, tem prazo ilimitado de duração. Hoj e, a lesão de direi-
A qu stão 'simpl s: a pena de detenção d t rmina o tratamento tos e garantias individuais re ultante da indeterminação das 1nedida
ambulatorial (art. 97, CP); d pois, durante a execução do tratamento
d s gurança detentivas ' r conh cida at' m smo p la Criminologia
ambulatorial, pod o juiz determinar a internação, s n e ssário, para etiológica - por x mplo, KAISER: ')issim como a medida da pena
fins curativos (art. 97, § 4°, CP), ou em caso de incompatibilidad é limitada pelo princípio da culpabilidade, a imposição de medida de
com o tratamento ambulatorial (art. 184, LEP).
segurança somente é permitida na proporção em que o sofrimento ligado
a ela não está fora de relação com a periculosidade do autor'~
No Brasil, a lit ratura sp cializada, b m como proj tos d r -
forma da 1 gislação penal, fundados nos princípios constitucionais da
dignidade humana da proporcionalidade, vinculam a duração máxima teressado, deves r proferida d ntro d 15 dias (art. 17 5, I-VI, LEP).
das medidas d segurança aplicadas ao máximo da pena privativa de
Por xc ção, o xame d p riculosidad criminal pod s r r ali-
liberdade cominada ao fato punível praticado. ontudo, jurispru- zado durante o prazo mínimo, m diant r qu rim nto fundam ntado
dência r c nt propôs crit ' rio m lhor: o limit m áximo da medida de do Ministério Público ou do interessado, observado idêntico proc di-
segurança aplicada d veria coincidir com a p na criminal aplicáv 1no
m nto, tamb 'm válido para xa1n s sue ssivos (art. 176-1 77, LEP).
caso concreto, se o autor foss imputáv 1. Afinal, pr ciso arrancar do
!
portal do manicômio judiciário, não obstant a d nominação ub mís- Finalm nt , a desinternação hospitalar ou a liberação do trata-
tica d hospital de custódia e tratamento psiquiátrico, o aviso colocado m nto ambulatorial, por cessação do stado de periculosidade criminal
por D ant na ntrada do Infi rno: lasciate ogni speranza) voi ch'entrate. d t rminante da m didade segurança, 'condicional durante o prazo d
1 (u1n) ano após a desinternação hospitalar ou a liberação ambulatorial:
A verificação de existência da periculosidade criminal, como a r alização d Jato indicativo da p rsist "ncia da periculosidade criminal
fundam nto d aplicação da medida de segurança - ou d persistência durant ss prazo d t rmina a reaplicação da m <lida d s gurança
da periculosidade criminal, como condição de continuidad , ou d
xtinta (art. 97, § 3°, CP), com r stab 1 cim nto da situação anterior.
cessação da periculosidade criminal, como condição de extinção da
medida d s gurança - , é r alizada por p rícia m 'dica (art. 97, § 1°, Art. 97, § 3°. A desint rnação, ou a lib ração, rá s mpr
CP), m tr "s mom ntos distintos: primeiro, no curso do proc sso condicional, d v ndo s r r tab 1 cida a situação ant rior
se o ag nt , ant s do d curso d 1 (um) ano, pratica fato
crin1inal, para d t nninar a inimputabilidade penal; depois, no final
indicativo d p rsist"ncia d sua p riculosidad .
do prazo mínimo (d 1 a 3 anos); enfim, anualmente, na hipót s
normal de persistência da periculosidade, ou em qualquer tempo, se
determinada pelo juiz (art. 97, § 2°, C P).
6. Substituição e conversão das medidas de segurança
Art. 97, § 2° A perícia médica realiz.ar-se-á ao termo do
prazo mínimo fixado e deverá ser repetida de ano em ano,
As p nas privativas de liberdade pod m s r substituídas por me-
ou a qualquer tempo, se o determinar o juiz da execução.
didas de segurança, d ofício, a r qu rim nto do Minist 'rio Público
ou d autoridad administrativa, na hipótes d sup rv ni "ncia d
5. Verificação de cessação da periculosidade criminal do nça mental ou de p rturbação da saúde mental do condenado (art.
4 1,CP;art. 183,LEP).
Em regra, o xam de verificação de cessação da periculosidade Art. 41. O condenado a quem sobrevém doença mental
deve ser recolhido a hospital de custódia e t:ratamento psi-
criminal, realizado no final do prazo mínimo, observa o seguinte pro-
quiát:rico ou, à falta, a out;ro estabelecimento adequado.
e dim nto: a) a autoridad administrativa r m t ao juiz da x cução,
com ant e d "ncia d 1 (um) mês da expiração do prazo, r latório A m <lida de s gurança de tratamento ambulatorial pod s r
instruído com laudo psiquiátrico, para d cisão sobre r vogação ou convertida em internação institucional, p lo prazo mínimo d 1 (um)
permanência da medida d segurança; b) a decisão judicial, pr cedida ano, se n cessário, para fins curativos (art. 97, § 4°), ou s o ag nte
d audi "ncia do Minist ' rio Público do curador ou d fi nsor do in- r velar incompatibilidad com a m <lida (art. 184, LEP).
Art. 97, § 4°. Em qualquerfase do tratamento ambula- nicomial) - um conflito qu dev s r resolvido pelo princípio da espe-
torial, poderá ojuiz determinar a internação do agente, cialidade, segundo o qual a lei especial (no caso, a lei antimanicomial)
se essa providência fo r necessária para fins curativos. afasta ou exclui a lei geral (no caso, a legislação penal manicomial do
Código P nal). Ess conflito apar nt , ab rto com a • ntrada m vigor
da nova lei, p rman ceu lat nt durant 17 (d zesset ) anos no Si tema
7. Prescrição das medidas de segurança d Justiça Criminal brasil iro, durant o qual a legislação manicomial
sobre m edidas de s gurança continuou em pleno vigor, nquanto a lei
A xtinção da punibilidad do Jato previsto como crime r alizado antimanicomial permaneceu inativa. E se o conflito aparent d 1 is
pelo inimputável (ou pelo semi-imputável, no caso do art. 98, CP), ' r solvido p lo princípio da especialidade, então a legislação manico-
xclui a aplicação d m dida d s gurança ou extingu a m dida d mial do Código P nal stá revogada, e a disciplina legal em todas as
s gurança aplicada (art. 96, parágrafo único), independ n t m nt da hipót s s d int rnação psiquiátrica por transtorno mental- inclusiv
causa d extinção respectiva: anistia, graça, indulto, descriminalização, a internação compulsória do Código Penal - ' r gida p ela lei antima-
pr scrição te. nicomial, que dev faz r valer sua plena ficácia de 1 i sp cial vig nte.
indicar, ou o adv nto da Lei antimanicomial introduziu um sistema novo mod lo , m vid nte contradição com o sistema o regim
moderno de disciplina da internação psiquiátrica ou tratamento de execução das medidas de segurança do Código Penal, demoliu
ambulatorial, com revogação tácita das normas conflitantes da os fundam entos ep istemológicos e os objetivos práticos do ana-
1 gislação p nal? crônico mod lo do hospital de custódia e tratamento psiquiátrico,
À prim ira vista, a aus"ncia d revogação específica das normas
m proc sso d d sintegração irrem diáv 1 por seus próprios
insuperáv is defeitos.
do Código Penal pela lei antimanicomial parece indicar a coexis-
tência d dois mod los distintos: a) o antigo mod lo das medidas
de segurança do Código P nal para autor s inimputáveis d fatos
2. Um novo conceito psiquiátrico: pessoas portadoras de
definidos como tipos de injusto; b) o novo mod lo das medidas
transtorno mental
de proteção da refonn a antimanicomial para cidadãos comuns
portadores de transtornos psíquicos, sob as novas dir triz s d saúd
1n ntal. Contudo, uma leitura sist mática da 1 i pro duz resulta- A nova legislação introduziu o cone ito de transtorno mental, em
do surpreendente: o legislador não teve audácia para revogar as substituição ao conceito de doença mental da legislação penal, atribuído
normas conflitant s sob re m <lidas d s gurança do Código P nal p la luta antimanicomial univ rsal a p ssoas com sofrimento psíquico,
( m esp cial, o art. 97 s us parágrafos), mas a lei antimanicomial agora ass guradas 1n diant proteção pessoal garantia d direitos s m
instituiu um novo sis tem a de medidas de proteção de p ssoas discriminação d raça, cor, s xo, ori ntação s xual, r ligião, opção
portadoras d transtorno mental, aplicáv 1 ao cidadão comum nas política, nacionalidad , idad , família, r cursos conômicos, grau d
hipóteses de internação voluntária e involuntária (art. 6°, I-II) , e gravidad ou t rnpo d transtorno ou outras.
aplicável ao cidadão infrator na hipótese de internação compulsó- Art. 1 ° Os direitos e a proteção das pessoas acometidas de
ria (art. 6°, III), com tácita revogação das normas contrárias da transtorno mental, de que trata esta Lei, são assegurados
legislação p nal. sem qualquer forma de discriminação quanto à raça, cor,
sexo, orientação sexual religião, opção política, nacio-
nalidade, idade, família, recursos econômicos e ao grau
1. Um novo modelo de saúde mental de gravidade ou tempo de evolução de seu transtorno, ou
qualquer outra.
A L i 10.216/01, chamada Lei antimanicomial, introduziu A sup rioridad do cone iro d transtorno mental sobr o con-
mudanças (a) no co ne ito d do nça m ntal, (b) nos dir itos ceito d doença mental do art. 26, CP, par ce clara: a natureza mais
na proteção de cidadãos po rtadores de transto rnos psíquicos, (e) compre nsiva menos stigmatizant do cone ito d transtorno mental
nas esp 'ci s obj tivos da internação psiquiátrica d p ssoas com permite humanizar o h nômeno psíquico ant . s d .signado por doença
transtornos m entais, d) na prioridade do tratamento ambulatorial mental, agora compr endido como possív 1anomalia do apar lho psíqui-
1n caso d crim d reclusão co m tido por inimputável, ntr co d p ssoas saudáv is, m g ral - uma anomalia qu pod s proj tar
outras alteraçõ s, qu instituíram um modelo revolucionário sob a forma destrutiva d agr ssõ s xt rnas (viol"ncia criminal), ou s
d d finição d tratam nto da saúd m ntal do cidadão . Ess introjetar sob a forma masoquista d agr ssões internas (suicídio).
3. Os direitos de pessoas com transtorno mental mação sobre doença tratain nto é pressuposto do cons ntimento do
paciente em intervenções médicas cirúrgicas, químicas ou psíquicas;
Outro grand avanço da Lei antimanicomial é a garantia d direi- h) tratam nto em ambi nt t rap "utico, com os m ios m nos
tos sp cíficos da p ssoa portadora d transtorno mental- qu dev rão invasivos- uma garantia em face da natureza n e ssariam nte invasiva
ser comunicados ao portador, aos familiares e/ou responsáveis-, d proc dim ntos cirúrgicos, químicos ou psíquicos sobr o corpo ou
assim definidos (art. 2°, parágrafo único): a mente do paciente;
a) ac sso ao 1n lhor tratam nto do sist ma d saúd , conform i) tratam nto p r fer ncial m s rviços comunitários d saúd
nec ssidades pessoais - um dir ito improváv 1no r gime de medidas m ntal - uma garantia de dignidade p ssoal d transpar "ncia insti-
de segurança da lei penal; tucional dos m étodos psicot rap "uticos empregados.
b) tratam nto humanitário r speitoso, no inter ss xclusivo Art. 2° Nos atendimentos em saúde mental, de qualquer
da saúde e ori ntado à recuperação do paciente mediante inserção na natureza, a pessoa e seus familiares ou responsáveis serão
família, no trabalho na comunidad - hipót se incotnpatív is com o formalmente cientificados dos direitos enumerados no
sist ma totalitário de internação em hospital d custódia e tratamento parágrafo único deste artigo.
psiquiátrico (art. 96, I, CP), uma m dida d prot . ção social viol n- Parágrafo único. São direitos da pessoa portadora de
ta, qu desconsid ra o interesse exclusivo da saúd e r cuperação do transtorno mental:
paci nt , p la ins rção na família, no trabalho na soei dad , como
I - ter acesso ao melhor tratamento do sistema de saúde,
espaços privil giados de int gração t rap "utica do paciente;
consentâneo às suas necessidades;
e) p rot ção do paci nt contra todo abuso xploração - o abuso
II - ser tratada com humanidade e respeito e no interesse
da s xualidad a xploração do trabalho, por x mplo, são práticas exclusivo de beneficiar sua saúde, visando alcançar sua
incontroláv is na promiscuidad das instituições manicomiais ainda recuperação pela inserção na família, no trabalho e na
extsten tes; comunidade;
d) garantia d sigilo das informaçõ p oais pr sradas p lo pa- III - ser protegida contra qualquer forma de abuso e ex-
ciente - um dir iro constitucional de privacidad assegurado a todos ploração;
os s r s humanos, com ou s m transtorno m ntal;
I V - ter garantia de sigilo nas informações prestadas;
) direito ao selar cim nto m 'clico pr s ncial sobr a n c ssi-
V - ter direito à presença médica, em qualquer tempo,
dad d · ho pitalização involuntária - um d v r mínimo da família
para esclarecer a necessidade ou não de sua hospitalização
da soei dad 1n fac d ações limitadoras da lib rdad do portador
involuntária;
de transtorno psíquico;
VI - ter livre acesso aos meios de comunicação disponíveis;
f) livr ac sso aos m ios d comunicação - um dir ito lem ntar
do cidadão m qualquer sociedad democrática; VII - receber o maior número de informações a respeito de
sua doença e de seu tratamento;
g) pl na informação sobre sua do nça e trata1n nto - a infor-
VIII - ser tratada em ambiente terapêutico pelos meios a) a internação a resp ctiva alta deverão ser comunicadas ao Minist ' -
menos invasivos possíveis; rio Público estadual, no prazo de setenta e duas horas, pelo responsável
IX - ser tratada, preferencialmente, em serviços comuni- técnico do estabelecimento re pectivo (art. 8°, § 1°);
tários de saúde mental. b) o t ' rmino da internação ocorre por solicitação escrita do familiar,
A simples indicação desses direitos é sufici nte para d monstrar do r sponsáv l legal ou do sp cialista responsáv 1p lo tratam nto,
a sup rioridad absoluta do mod lo das medidas de proteção da lei que solicitaram a internação involuntária (art. 8°, § 2°).
antimanicomial, m face do modelo das medidas de segurança da 4.3. Internação psiquiátrica compulsória. A internação psiquiátrica
1 gislação p nal. compulsória (art. 6°, III) ' d t rminada p lo juiz competente, d acordo
com a legislação vigente d v consid raras condiçõ s d s gurança do
stab l cün nto sobr a prot ção do paci nt , dos outros int rnados
4. Regra e exceção: o tratamento em liberdade e a
. ~ . ., .
1nternaçao ps1qu1atr1ca
dos funcionários (art. 9°). A norma sp cífica sobr internação compul-
sória, d terminada por juiz competente, conforme a legislação vigente,
r vogou as corr spond ntes disposições contrárias do Código P nal,
porqu (a) o juiz comp t nt para d t rmina-la 'o juiz crüninal, (b) a
A lei antimanicomial stab 1 c u tr "s modalidad s d
única hipótese de internação compulsória, segundo a Legislação vigente, é
int rnação psiquiátrica (art. 6°, 1-III): a int rnação voluntária,
a int rnação involuntária e a internação compulsória, como s a hipót s do suj ito inimputável qu pratica crim punido com p na
d r dusão, na forma do art. 97, CP, (c) a int rnação psiquiátrica só
descreve.
pod s r det rminada se os r cursos exrra-hospitalar s for m insufi-
cient s , finalm nt , (d) toda qualquer int rnação psiquiátrica xig
4.1. Internação psiquiátrica voluntária. A int rnação psiquiátrica indicação m laudo m ' dico circunstanciado.3 Como s v", a norma
voluntária ' r alizada co1n o cons ntün nto do paci nt (art. 6°, I), da internação compulsória é o vínculo legal que subordina as 1nedidas
mediante solicitação escrita do paciente ou do médico assistente, de- de s gurança da Legislação manicomial às m <lidas de prot ção da Lei
vidam nt r gistrado no CRM do local do stab I cimento (art. 8°) anti manicomial.
d v s r comprovada com d claração crita, a inada no mom nto da
Art. 6° A internação psiquiátrica somente será realizada
admissão hospitalar, de opção por esse regim de tratam nto (art. 7°) .
mediante laudo médico circunstanciado que caracterize
O t ' rmino da int rnação voluntária ocorr por solicitação do pacient
os seus motivos.
ou por d t rminação dom' dico assist nt (Art. 7°, parágrafo único).
Parágrafo único. São considerados os seguintes tipos de
4.2. Internação psiquiátrica involuntária. A internação psiquiátrica
involuntária 'r alizada sem o consentimento do paci nt (art. 6°, II), 3 Assim, também BRAN O, Thayara Castelo. A (de.5,) legitimação das medidas
por solicitação scrita d familiar, d r sponsáv 11 gal ou d sp eia- de segurança no Brasil. Belo Horizonte: D'Plácido Ed., 2016, p. 229: "Agora,
o referido artigo deve ser interpretado em consonância com o art. 4° da Lei
lista responsável pelo tratamento (também devidamente registrado no 1O.216/01 e, caso não seja possível aplicar os recursos extra-hospitalares, o juiz ao
CRM do local do estab 1 cün nto, cf. art. 8°), pressupõ os s guint s detenninar a internação deverá atender, obrigatoriamente, a exigência do art. 6º
que é a presença do laudo médico circunstanciado que caracterize os motivos reais
proc dim ntos compl m ntar : de tal necessidade. "
na lei antimanicomial, então ess s manicômios judiciários estão excluídos 6.2. Extinção das anacrônicas medidas de segurança. A segunda mu-
do sistema de internação compulsória da lei antimanicomial. dança radical é a revogação das medidas de segurança, concebidas para
Art. 4° A internação, em qualquer de suas modalidades, defesa da ociedade contra ações agressivas de suj eitos portadores de
só será indicada quando os recursos extra-hospitalares se doenças mentais, substituídas por medidas de proteção da saúd m ntal
mostrarem insuficientes. d p ssoas portadora d transtorno mental, pr stadas em instituições
ou unidad s de saúd pública.
§ 1 ° O tratamento visará, como finalidade permanente,
a reinserção social do paciente em seu meio. Art. 3° É responsabilidade do Estado o desenvolvimento
da política de saúde mental a assistência e a promoção
§ 2° O tratamento em regime de internação será estru-
de ações de saúde aos portadores de transtornos mentais,
turado de forma a oferecer assistência integral à pessoa
com a devida participação da sociedade e da família, a
portadora de transtornos mentais, incluindo serviços mé-
qual será prestada em estabelecimento de saúde mental
dicos, de assistência social psicológicos, ocupacionais, de
assim entendidas as instituições ou unidades que ofereçam
lazer, e outros.
assistência em saúde aos portadores de transtornos mentais.
§ 3° É vedada a internação de pacientes portadores de
transtornos mentais em instituições com características
asilares, ou seja, aquelas desprovidas dos recursos mencio- 7. Desinternaçáo programada de pacientes com
nados no § 2° e que não assegurem aos pacientes os direitos dependência institucional
enumerados no parágrafo único do art. 2°.
de suporte social, será objeto de política específica de alta são, pressupõem claramente a coexistência de sistemas paralelos
planejada e reabilitação psicossocial assistida) sob responsa- representados pelas medidas de segurança da lei manicomial e
bilidade da autoridade sanitária competente e supervisão pelas medidas de proteção da lei antimanicomial, porque enfatiza
de instância a ser definida pelo Poder Executivo, assegurada a aplicação das estratégias humanizadoras e do respeito aos direitos
a continuidade do tratamento, quando necessário. da lei antimanicomial às pessoas sujeitas a medidas de segurança
da legislação penal.
e psicossociais dotadas de autonomia psicoterapêutica, que de- 5. O processo de internação compulsória é jurisdicionalizado: o Juiz
cidem sobre a natureza do tratamento de pessoas portadoras de criminal competente acompanha o tratamento psiquiátrico para
transtorno mental que praticaram ações definidas como crimes, decidir sobre eventuais excessos ou desvios, mas não decide sobre a
com plena autonomia em relação ao Juiz criminal. internação psiquiátrica, reservada exclusivamente à equipe clínica e
2. A característica do programa é a superação prática do paradig- psicossocial do programa, que determina a necessidade terapêutica
ma da periculosidade criminal, determinando a substituição das da medida aplicada ao portador de transtorno psíquico que comete
perícias de cessação de periculosidade por avaliações pessoais de infração penal. O Ministério Público é responsável pela fiscaliza-
inclusão social do portador de transtorno mental. A explicação da ção/acompanhamento do procedimento judicial e do tratamento
mudança é o resultado da interpretação do art. 97 do Código Pe- psiquiátrico de pessoas portadoras de transtorno psíquico.
nal, cuja regra é a internação psiquiátrica, em conjunto com o are.
4° da Lei 10.216/2001, cuja regra é o tratamento extra-hospitalar: 9.2. A perspectiva de abolição do manicômio judiciário
o resultado da interpretação é a preferência do tratamento ambu-
latorial, excluindo a internação psiquiátrica, somente aplicável nas
hipóteses cumulativas (a) de recursos hospitalares insuficientes e A experiência inovadora e audaciosa do PAILI representa
(b) de recomendação da necessidade real de internação em laudo um notável avanço no tratamento de pessoas portadoras de trans-
médico circunstanciado. torno mental, cujas concretas medidas de proteção constituem um
3. Em qualquer hipótese de internação psiquiátrica, o programa do contraste radical com o desastroso sistema das medidas de segu-
PAILI observa (a) a finalidade permanente de reinserção do pacien- rança, fundadas na indefinível periculosidade criminal da rançosa
te no seu meio social e (b) a regra permanente de humanização do criminologia etiológica individual, definitivamente excluída da
tratamento mediante (i) estrutura interna de assistência integral prática institucional da Secretaria de Saúde do Estado de Goiás.
de portadores de transtorno mental através de serviços médicos e Esse é o novo modelo de tratamento de autores de fato
de assistência social, psicológica, ocupacional, de lazer e outras, e puníveis portadores de transtornos psíquicos determinantes de
(ii) exclusão de instituições asilares - cadeias públicas, prisões e os inimputabilidade penal, instituído pela Lei Antimanicomial no
tradicionais hospitais de custódia e tratamento psiquiátrico-, cuja Brasil - aliás, uma experiência legislativa anterior à famosa Lei
aplicação pode configurar o crime de tortura contra os portadores Basaglia, que extinguiu os manicômios judiciários na Itália.
de transtornos psíquicos (art. 1°, § 1° da Lei. 9 .45 5/97) .
4. As equipes clínicas e psicossociais, devidamente conveniadas
com o SUS, possuem autonomia para determinar a melhor te-
rapêutica aos portadores de transtorno mental, assessorados por
equipe multidisciplinar de advogados, assistentes sociais, psi-
cólogos, acompanhantes terapêuticos e auxiliar administrativo,
que realizam um trabalho de mediação entre o Juizo, o sistema
penitenciário e a rede de saúde mental.
2. Princípio da acusação. O prin ípio da acusação, xpresso na fórmula na pers guição penal (por razõ s de pr venção geral ou especial) 12 ,
nemo judex sine actore, determina a separação das tarefas de acusar ou em políticas criminais específicas para a criminalidade de menor
de julgar, atribuindo a tarefa de acusar a um órgão do Estado (Mi- potencial ofensivo (por exemplo, a transação penal, ou a suspensão
nist ' rio Público) - por exceção, ao ofi ndido ou r pres ntante 1 gal, condicional do processo). A frequ "'ncia cr se nt d hipót s s subm -
nos crimes d ação p nal privada-, a tarefa d julgar a outro órgão tidas ao princípio da oportunidade, como exc ções ao princípio da
do Estado (Pod r Judiciário), separando as funçõ s de acusação e d legalidade processual, r duz o âmbito d obrigatoriedade da acusação
julgamento - outrora cone ntradas na pessoa do juiz, pelo princípio penal pública 13 .
inquisitório do processo 1n dievaF.
5. Princípio da instrução. O princípio da instrução, tamb 'm d no mi-
3. Princípio da legalidade processual. O princípio da legalidade nado princípio da verdade material do proc sso penal - por oposição
processual - tamb 'm denominado princípio da obrigatoriedade, ou ao princípio da verdade formal do processo civil-, exprime o poder
da indisponibilidade da ação penal - d fin o d v r do Minist ' rio judicial d inv stigação pessoal do obj to da imputação proc ssual,
Público d apresentar acusação formal m caso de prova de existência s m vinculação às afirmações de acusação e d d fi sa, à confissão do
de fato punível e de indicações suficientes de autoria, em inquéritos acusado ou aos meios de prova propostos 14 .
policiais ou outros documentos r e bidos 8 - , portanto, cumpr a
função constitucional de excluir a arbitrariedade no processo p nal 9 .
Hoj , por força da fr qu "'ncia das exc çõ s ao princípio da legalidade 2. Princípios da prova processual
processual, no ambit da p quena da média criminalidad predomina
o princípio da oportunidade, examinado a seguir - denominações, aliás,
1. Princípio da livre valoração da prova. O princípio da livre valoração
inadequadas, porque o princípio da legalidade processual é confundido
da prova significa avaliação da prova segundo a convicção subj tiva
com o princípio da legalidade penal, e o princípio da oportunidade,
do juiz - por oposição à r gra das provas legais do proc sso medi val
mbora aplicado m hipót s s 1 gais stritas, par c xprimir crit 'rio
-, mas condicionada a parâmetros obj tivos: a convicção judicial ~
discricionário 10 •
suficiente para a sentença criminal, mas pressupõe a necessidade de
4. Princípio da oportunidade. O princípio da oportunidade defin correspondência com as indicaçõ s objetivas da prova 15. A corr spon-
exceções à regra do princípio da legalidade processual, co1n r núncia d "ncia ntre a convicção subj tiva do juiz as indicações objetivas da
do Minist ' rio Público d apresentar acusações formais em hipót s s prova define a objetividade da livre valoração da prova- determinada,
concretas na área da pequena ou da média criminalidad 11 , fundadas ntr outras razões, p lo princípio in dubio pro reo, qu seria canc lado
no princípio da insignificdncia, ou na ausencia de interesse público p lo subj tivismo da livre convicção ·udicial.
7 RO , trttfverfahrensrecht, 1995,. 24ª edição, § 13, n. 1-9, p. 75-76; HROEDER, 12 HR EDER, Strafi,rozessrecht, 1993, § 9º, n. 63, p. 37.
trnfprozessrecht, 1993, § 8°, n. 57, p. 32-33 e§ 44, n. 344, p. 225. No Bras il , ver 13 ROXIN, Strnfoerfah;ensrecht, 1995, 24ª edi ão, § 13, n. 6 p. 79· PFEIFFER,
LOPES JR., Introdução crítica ao processo penal, 2004, p. 150-174, esp. p. 154. Grundzuge des Strafoerfahrensrechts, 1991, 2ª edição, II, 4, p. 2-3.
8 ROXI , trafoerfahrensrecht, 1995, 24ª edi ão, § 13, A, 1, p. 78 e B, 1, p. 79; 14 ROXIN, Strafoerfahrensrecht, 1995, 24ª edição, § 15, A, 1, p. 88; PFEIFFER,
PFEIFFER, Grundzie des Strafoerfahrensrechts, 1991, 2ª edição, I, 3, p. 3. Grundzuge des trafoerfahrensrechts, 1991, 2ª edição, II, 5, p. 4; HROEDER,
9 HROEDER, trll rozessrecht, 1993, § 9º, n. 62, p. 36. Strafprozessrecht, 1993, § 27, n. 237, p. 144 e§ 44, n. 345, p. 225.
10 HROEDER, Stra rozessrecht, 1993, § 9º, n. 63, p. 36-37. 15 ROXIN, trafverfahrcnsrccht, 1995, 24ª edicão, § 15, A, 1, p. 90-91, n. 13;
11 PFEIFFER, Grundzuge des Stra.foerfahrensrechts, 1991, 2ª edição, II, 4, p. 2-3. CHROEDER, Strafprozessrecht, 1993, § 30, ~- 270, p. 167 s. e§ 44, n. 345, p. 225.
2. Princípio in dubio pro reo. O princípio in dubio pro reo, d duzido xtensão ao processo penal dos princípios do processo civil, em que
da garantia constitucional da presunção de inocência (art. 5°, LVII, a prova do fato constitutivo (do direito) incumbe ao autor, enquanto
R) - por rejeição à presunção de culpa - indica a regra funda1nental a prova de fato impeditivo, 1nodificativo ou extintivo (do direito)
da prova no pr e · p nal: dú id bre a realidade do fato d t r- incumb ao r'u (art. 333, CPC).
mina a absolvição do acusado. O princípio in dubio pro reo cont 'm
Mas ' pr ciso selar cer: o princípio in dubio pro reo ' limi-
desdobramentos importantes no Estado D mocrático de Dir ito,
tado à prova de fatos, sem influência na interpretação da lei, regida
assim definidos: p los princípios d int rpr tação d finidos pelas técnicas lit ral,
a) prim iro, o acusado não pr cisa provar o alibi apr s ntado - ist mática, histórica, t l ológica , xc pcionalm nt , p la analogia
ou seja, que não stava no lugar do crime, ou que não participou do in banam partem 18 •
fato imputado; ao contrário, a acusação d ve provar qu o acusado
realizou ou participou do fato imputado, com a dúvida d t rminando
absolvição;
III. Ação penal
b) s gundo, dúvidas sobr justificações (l gítima det sa, stado
de nec ssidad etc.), sobr exculpaçóes ( rro de proibição, obediência A ação penal constitui a forma específica de manifestação do
hierárquica, conflito de d veres etc.) ou sobre outras isenções de pena poder punitivo do Estado, ela sificada m duas cat gorias r !aciona-
(d sistência da t ntativa, por ex mplo) não podem fundam ntar con- das como regra e exc ção: a) ar gra é a açã penal públi a apli ada
denaçõ s, ou seja, tamb 'm determinam absolvição 16 ; à maioria absoluta dos crim s; b) a xc ção ' a ação p nal privada,
aplicada a uma p qu na minoria d crim s, m qu o Estado d 1 ga ao
c) terceiro, dúvidas sobre a natureza do fato, como tipo básico
particular o exercício do pod r punitivo, em hipót ses xpr ssam nt
ou qualificado ten a i a ou consumação, autoria ou participação, tipo
indicadas na 1 i p nal.
doloso ou imprudente, devem ser decididas em favor do acusado - ou
s ja, segundo a hipót s m nos grave 17 • Art. 100. A ação penal é pública, salvo quando a lei
expressamente a declara privativa do ofendido.
A orientação ainda dominante na jurisprudência e literatura
br il ir p la ual a prova da tipicidade do fato incumbe à acusação, O ex rcício da açã p nal d finid m dir ito abstrato d
nquanto a prova das • xclud nt s d antijuridicidade • d culpabili- agir - ou seja, como direito à jurisdição penal-, pr ssupõe a existência
dade incumb à d t sa, ' uma cons qu "ncia d sastrosa da ind vida de detenninadas condições de ação, tema controvertido no processo
penal contemporâneo:
16 ROXI , Strafoerfahrensrecht, 1995, 24ª edi ão,§ 15, n. 32, p. 97-98. No Brasil, ver a) a teoria tradicional, fundada na pre1nissa de u1na teoria geral
o excelente LOPE JR. , Introduçá(J crítica ao processo penal, 2004, p. 179-180, que do proc sso, propõ para o proc sso p nal as m sinas condiçõ s d
diz: ~o lado dafresunção de inocência, como critério prttgmdtico de solução de incertew
(dúvida) judicia, o princípio i11 dubio pro reo corrobora a atribuição da carga probatória ação do proc sso civil: int resse d agir, legitimação para a causa
ao acusador. ( . .) Isso significa que in umbe no acusador provar a presença de todos os possibilidad jurídica do p dido;
elementos que integram a tipicidade, a ilicitude e a culpabilidade e, logicamente, a
inexistência das causas de justificação. " im, também, TAV: , Teoria do injusto
penal, 2002, p. 116 e 310, destacando os efeitos proces uais do princípio da presunção
de inocência. 18 RO , Strafoe,fahrensrecht, 1995, 24ª edição,§ 15, 11. 41, p. 100; S HROEDER,
17 1m, ROEDER, Strafprozessrecht, 1993, § 30, 11. 274, p. 170 . Strafprozessrecht, 1993, § 30, n. 274, p. 170 e§ 44, n. 345, p. 225 .
exige, de representação do ofendido ou de requisição do disso, a hipótese de rejei ~ d d núncia in p tr ntrov 'r ias 23 •
Ministro da Justiça. Por outro lado, o exercício do direito de representação pelo ofen-
dido ou r pr s ntante 1 gal, como formalidad condicionante da ação
p nal pública, 'limitado no t mpo: o direito de representação d v s r
1.2. Ação penal pública condicionada
xercido no prazo de 6 (s is) meses, a partir da data de conh cim nto
A ação penal pública pode subordinar-se a determinadas con- da id ntidade do autor do crime pelo ofendido ou representante legal,
dições estab lecidas expressament pelo 1 gislador no int r ss do sob p na de decadência do dir ito de repr sentação- ou seja, d p rda
ofi ndido, ou do titular do b 1n jurídico 1 sionado: ' a ação p nal pú- definitiva do direito de representação, pois os prazos decadenciais são
blica condicionada r ferida na part final do dispositivo acima citado contínuos fatais, fluindo sem int rrupção ou susp n ão.
(art. 100, § 1°, s gunda parte, CP). A condição exigida p la 1 i para Art. 103. Salvo disposição expressa em contrário, o
exercício da ação p nal pública pod consistir (a) em representação do ofendido decai do direito de queixa ou de representação
ofendido, ou (b) em requisição do Ministro da Justiça (exceçõ s ao se não o exerce dentro do prazo de 6 {seis) meses, contado
princípio da oficialidad ). do dia em que veio a saber quem é o autor do crime,
1. A representação do ofi ndido (ou de quem t nha qualidad para ou, no caso do § 3º do art. 100 deste Código, do dia em
r presentá-lo) constitui ato formal de manifi stação d vontad do que se esgota o prazo para oferecimento da denúncia.
titular do b m jurídico 1 sionado, autorizando a proposição da ação 2. Ar quisição do Ministro da Justiça n ti ui t ~ rmal d ,ut ri-
penal pública condicionada p lo Minist 'rio Público. Ar pr ntação, zação do Poder Executivo F deral dirigida ao Ministério Público para
co1no 1nanifi stação fonnal d vontad do titular do b 1n jurídico 1 - x rcício da ação p nal pública condicionada, m hipót s s specíficas
sionado, depende do interesse do ofendido, podendo ser apresentada (art. 7°, I, c, e§ 3°, CP). Em Direito Administrativo o verbo requisitar
ou retirada confonne conveniências exclusivas daquele. Mas a retirada significa exigir, mas nesse caso possui o significado de pedir, porque
da representação pelo titular do bem jurídico lesionado, definida como o Ministério Público pr rva a xdusiva titularidad da ação p nal
retratação do ofendido, t m um limit processual intransponível, de- pública, cujo x rcício dep nd da pr sença da reb rida condição legal
pois do q ala repres ntação ' irretratáv 1: o ob recimento da denúncia d proc dibilidad 24 • Ar quisição do Ministro da Justiça - ao contrário
pelo Ministério Público (art. 102, CP) 22 • da repres ntação do ofendido - não está suj ita à decadência, podendo
t. 102. A representação será irretratável depois de r apr s ntada nquanto não xtinta a punibilidad do crim 25 .
oferecida a denúncia.
O crit'rio do oferecimento da denúncia - e não o do recebimento 1.3. A?o penal pública extensiva
da d ún ia juiz d tad n t ma ant r r forma de 1984
- , co1no limite pr ce ual da retratação da representação, é impreciso: '
A ação p nal públi e: extensiva ocorre m hipóteses d crimes d
impossív l sab r se significa (a) ntr ga da d núncia m cartório, ou (b)
ação n l privada compostos de elementos ou circunstâncias típicas
apr entação da d núncia ao juiz, para rec bim nto ou r jeição - al 'm
do dir ito d ação p lo d cw· o do prazo 1 gal d 6 m d natureza Parágrafo único. Importa renúncia tácita ao direito
contínua e peremptória, excluindo suspensão ou interrupção (art. 103, de queixa a prática de ato incompatível com a vontade
P), contado (a) da data do conhecimento da autoria do fato crüninoso, de exercê-lo; não a implica, todavia, o Jato de receber
ou (b) da xpiração do prazo para oh recim nto da d núncia, no caso o ofendido a indenização do dano causado pelo crime.
de ação p nal pri ada subsidiária da açã p nal p 'bt·ca28 . 3. O perdão do ofi ndido ' ato d magnanimidade p ssoal do que-
Art. 103, CP. Salvo disposição expressa em contrário) o relante qu xtingue a ação penal privada, s · ac ito p lo querelado
ofendido decai do direito de queixa ou de representação (art. 105, CP) - ou s ja, a recusa do p rdão p lo querelado itnped a
se não o exerce dentro do p razo de 6 (seis) meses) contado xtinção da ação penal privada (art. 106, III, CP) 30 , por duas razões:
do dia em que veio a saber quem é o autor do crime, primeiro, a aceitação do p rdão implica admissão d prática do critne;
ou, no caso do § 3 º do art. 100 deste Código, do dia em segundo, constitui direito d todo acusado demonstrar sua inocência
que se esgota o prazo para oferecimento da denúncia. no processo penal.
2. A renúncia ao ex rcício do dir ito de qu ixa significa desistência Art. 105. O perdão do ofendido, nos crimes em que
do ofi ndido ou repr s ntante legal de ex rcer a pretensão punitiva somente se procede mediante queixa, obsta ao prosse-
contra o autor de crim s d ação penal privada - portanto, d v s r guimento da ação.
exercida antes do início da ação penal2 9 - e pode ser expressa ou tácita O perdão do ofendido, assim como a renúncia ao dir ito d
(art. 104, parágrafo único, CP):
qu ixa, pod s r expr sso ou tácito (arts. 105 e 106, CP): a) o p r-
a) ar núncia expressa é a dedaração formal válida d r cusa ao dão expresso é a d claração formal válida do ofi ndido, xculpando
x rcício do dir ito d queixa, ind p nd nt dos motivos do ofi ndido o ofensor e declinando do direito d p rosseguir no exercício da ação
ou de seu repr sentant 1 gal - xcluída a renúncia obtida mediant p nal privada iniciada; b) o p rdão tácito ' r pr s ntado p la prática
viol "'ncia ou fraud ; d ato incompatív 1 com o pross guim nto da ação p nal (r laçõ s
b) ar núncia tácita significa a prática d ato incompatív 1 com de amizade, de convívio etc.).
a vontade de ex rcer o dir ito d queixa, como a manut nção der la- a hipót s d vários ofi nsor s, o p rdão cone dido a um d l s
çõ s d amizad , d convívio ou d coabitação consentida ntr autor aproveita a todos (art. 106, I, CP); na hipótese de vários ofendidos,
e vítima - mas o recebimento de indenização não significa renúncia o perdão concedido por um deles não prejudica o direito dos demais
tácita ao direito de queixa. Ar núncia ( xpr ssa ou tácita) ', n cessa- de pross guir na ação penal (artigo 106, II, CP).
riament , anterior ao xercício do dir ito d qu ixa.
Finalment , o limite pro ual d admi ibilid d d p rdão
Art. 104. O direito de queixa não pode ser exercido é indicado pelo trânsito em julgado da sentença penal condenatória
quando renunciado expressa ou tacitamente. (art. 106, § 2°, CP): at' o trânsito m julgado da s nt nça p n 1
condenatória, é possível o perdão; depois desse momento, o perdão
perd o pod r xtintivo da ação p nal privada, porqu o Estado s
28 BITEN OURT, Tratado de direitopenal, 2003, 8ª ed ição, v. 1, p. 697.
29 im1 ramb m , BITE O RT, Tratado de direito penai, 2003, 8ª edição, v. 1, p.
698. 30 Ver BITE OURT, Tratado de direito penal, 2003, 8ª edição, v. 1, p. 702 .
Capítulo 22 657
31
o mesmo sentido, BITE O URT, Tratado de direito penal, 2003, 8ª edição, v. 1, p.
702-703.
secundária do Poder Judiciário - e, por xt nsão, da criminalização uma coletividade de cond nadas, s lecionados p la natureza do crime
primária do Poder Legislativo-, realizada por ato do Poder Executivo, realizado ou pela quantidade da pena aplicada, com exigências com-
é permitido pelo art. 84 I, da Constituição da República, excluindo plementares facultativas, geralmente relacionadas ao cu1nprimento
1 são do princípio d s paração d poder s. par ial da p na· fin lm n mb 'm m p extinguir ou co-
mutar a pena aplicada - exceto no indulto sob condiçõ s, qu podem
1. A anistia - do gr go amnestía, qu significa squ cün nto, ou
ser r cusadas p lo indultado.
amnésia - constitui ato de competência do Poder Legislativo, tem
por objeto fatos definidos como crimes políticos, militares ou eleitorais O indulto pod , exc pcionalm nte, ser individual mas d pende
- portanto, não abrang faros d finidos como crim s comuns-, por d p tição do cond nado (ou do Minist "rio Público ou d autoridad
objetivo b n ficiar uma col tividade de autores desses fatos, sendo con- administrativa da xecução penal), d vidam nte instruída nca-
e <lida sob forma d lei descriminalizadora, anulando todos os fi itos minhada ao Ministério da Justiça para despacho do President da
penais da criminalização 2 ( xc to os feitos civis). A anistia pode s r R pública (arts. 188-192, LEP).
geral ou parcial, conforme compr nda ou não todos os fatos autor s
respectivos, e independe de consentimento dos anistiados - exceto
no o d ani tia ondi ional. A i nifi ação jurídi o- on titu ional
política da anistia aparece em t mpos de cris social aguda, como III. Descriminalização do Jato
r voluçõ s, guerras civis ou outros conflitos políticos int rnos, m qu
fund na como lemento indisp nsável de pacificação ci 13, mediant O advento d lei descriminalizadora do fato extingue a punibili-
correção de injustiças produzidas pela criminalização ou punição de dad indep nd nt da fas do proc sso d crüninalização ou do trânsito
determinados fatos 4. em julgado da sentença riminal ond nat 'ria; ioualm nt o ad ento
de lei penal mais favorável, segundo o critério concreto da aplicação da
2. A graça constitui ato d comp tência do President da República,
p na, incluindo circunstâncias legais, agravant s at nuantes, b m
t m por obj to crimes comuns com s nt nça cond natória transitada
como causas especiais d aum nto ou de diminuição d p na, aplica-s
m julgado, por obj tivo b neficiar pessoa d terminada m diante a
retroativamente aos fatos anteriores, inclusive com decisão transitada
extinção ou a comutação da p na aplicada, corrigindo injustiças ou o
m julgado (art. XL R) 6 .
rigor exc ssivo na aplicação da lei 5.
3. O indulto constitui igualmente ato de competência do Pr sident
da República, tem por objeto crimes comuns e por objetivo beneficiar
IV. Prescrição, decadência e perempção
2 e ncido, JE K/WEI , Lehrbuch des trafrechts, 1996, 5ª edição,
§ 88, I_, p. 923 . 1. Prescrição
3 Ver KOHLER, trafrecht, 1997, p. 693; também, DIMOULIS, Die Begnadigung in
vergleichender Perspektive. Rechtsphilosophische, verfassungs- und strafrechtliche Probleme,
1996. A p rescrição det rmina a perda do dir iro d exercer a ação p nal
4 Vc JR., Problemas de validade da lei de anistia brasileira (lei n. 6.683179),
UNIMEP (dissertação d m trad ) 2006, ~,.P cialmence . 87 s.
5 J H / T E O, Lehrbuch des Strajrechts, 1996, 5ª edição, § 88, I, p. 923;
tam bém, WELZ L, Das Deutsche Strafrecht, 1969, 11 ª edição, p. 263. 6 ROXI , Strafrecht, 1997, § 5, n. 62-65, p. 122-124.
por fatos puníveis, ou de executar a pena criminal aplicada contra au- II - em 16 (dezesseis) anos, se o máximo da pena é
tores de fatos puníveis, pelo decurso do t mpo: a) a perda do direito superior a 8 (oito) e não excede a 12 (doze);
de exercer a ação penal significa a prescrição da pretensão punitiva do III- em 12 (doze) anos, se o máximo da pena é superior
Estado; b) a perda do dir ito d executara p n riminal e ncretam a 4 (quatro) e não excede a 8 (oito);
aplicada significa a pr scrição da pretensão executória do Estado. O
fundam nto jurídico da prescrição resid na dificuldade de prova do IV - em 8 (oito) anos, se o máximo da pena é superior
a 2 (dois) e não excede a 4 (quatro);
fato imputado (no caso d pr scrição da ação p nal), ou na progr ssiva
dissolução da necessidade de pena contra o autor (no caso de prescrição V - em 4 (quatro} anos se o máximo da. pena é igual a
da p na criminal aplicada), o qu confere à pr scrição natur za pro- 1 (um) ano ou) sendo superior, não excede a 2 (dois);
cessual (impedimento de persecução) e material (extinção da pena)7. VI - em 3 (três) anos, se o máximo da pena é inferior
A l gislação brasileira sistematiza a complexa mat 'ria da pr - a 1 (um) ano.
crição to1nando como r fi r "ncia a sentença criminal, considerada nas
O prazo d pr scrição antes do trân ito m julgado da nt nça
seguintes perspectivas: a) a prescrição antes do trânsito em julgado da
criminal, como pr scrição da ação penal ou da pretensão punitiva,
s nt nça criminal; b) a pr scrição depois do trânsito m julgado da
co1n ça a fluir no dia (a) da consumação do crim , (6) da c ssação da
s ntença criminal cond natória. Fundada nesse crit 'rio, a prescrição
tentativa, (c) da c ssação da permanência nos crimes de duração, (d)
stá assim r gulad na l i p nal br il ira:
d nh im nt d f: t n rtm, d bigamia d fal ifi ação ou
de alteração d r gistro civil.
1. 1. P~escrição antes do trânsito em julgado da sentença
Art. 111. A prescrição, antes de transitar em julgado
criminal a sentença final, começa a correr:
I - do dia em que o crime se consumou;
A prescrição antes do trânsito e1n julgado da s nt nça criminal
II - no caso de tentativa, do dia em que cessou a ativi-
r pr senta a prescrição da ação penal ou da pretensão punitiva r gula-s
dade criminosa;
p 1 máximo da p n privativa de liberdade cominada ao crime, nos
egu1n e prazos: III - nos crimes permanentes, do dia em que cessou a
permanência.
Art. 109. A prescrição) antes de transitar em julgado
a sentença final, salvo o disposto no § I° do art. 11 O Vê-se que o prazo de prescrição da pretensão punitiva co1neça a
deste Código, regula-se pelo máximo da pena privativa fluir no 1nomento do resultado fo rmal ou material do fato punível,
de liberdade cominada ao crime, verificando-se: com a exc ção óbvia da hipót s d t ntativa, em qu Hui a partir do
término da ação criminosa, porque na tentativa xist tudo o qu
I - em 20 (vinte) .anos, se o máximo da pena é superior
a 12 (doze); xi t no crim consumado, m nos o r sultado.
1.2. Prescrição depois do trânsito em julgado da 1.3. Prescrição conforme os níveis de concretização da pena
sentença condenatória
A sistematização da prescrição fundada no critério antes e depois
A pr scrição depois do trânsito m julgado das ntença p nal con- do trânsito m julgado da sent nça criminal não p rmit id ntificar
denatória r pres nta a prescrição da pretensão executória regula-s pela todas as hipót ses de pr scrição. Um crit 'rio bas ado em nív is d
pena aplicada, regida pelo m mos prazos de pr scrição da p na ab trata concr tização da p na par c s r mais compr n ivo, porqu p rmit
(art. 109, CP), aumentado d um terço para condenados reincidentes. identificar todas as hipóteses: a) a prescrição da pena cominada; b) a
prescrição intercorrente da pena aplicada; c) a prescrição retroativa da
Art. 11 O. A prescrição depois de transitar em julgado pena aplicada; d) a prescrição da pretensão executória da pena.
a sentença condenatória regula-se pela pena aplicada e
verifica-se nos prazos fixados no artigo anterior, os quais 1.3.1. Pr~crição da pena cominada. A prescrição da pena cominada
se aumentam de um terço, se o condenado é reincidente. define a prescrição da ação penal - ou prescrição da pretensão puni~
tiva-, regida p I máxim da p n ab trata d tip 1 gal (art. 109, CP).
O prazo de prescrição depois do trânsito em julgado das ntença
penal condenatória, como prescrição da pretensão executória, começa a 1.3.2. Prescrição intercorrente da pena aplicada. A hipót s de
fluir do dia (a) do trânsito m julgado das ntença condenatória para pena aplicada sem trânsito em julgado da s ntença condenatória fun-
a acusação, ou para a acusação e d t sa, (b) dar vagação da susp n- dam nta a prescrição intercorrente, r gida p la p na concr tizada
são condicional da pena ou do livramento condicional - no caso do na sentença criminal.
livrainento condicional, o prazo / regulado pelo tempo r stant da 1.3.3. Prescrição retroativa da pena aplicada. A hipótese de pena
p na, (c) da int rrupção da x cução da p na, xc to computáv l aplicada com trânsito em julgado para a acusação, ou d pois de im-
na pena, nos casos de do nça mental superv niente, (d) da evasão do provido recurso da acusação, fundam nta a prescrição retroativa -
cond nado, ta1nb 'm r gulado p lo t mpo r stant da p na. uma criação original da juri prudência brasil ira-, r gida p la pena
t. 112. No caso do art. 11 Odeste Código, a prescrição concr tizada nas nt nça contada r tro pectivam nt at' a denúncia,
começa a correr: co1no causa de interrupção anterior.
I - do dia em que transita em julgado a sentença conde- Art. 11 O, § 1°. A prescrição, depois da sentença conde-
natória com trânsito em julgado para a acusação, ou
natória, para a acusação, ou a que revoga a suspensão
depois de improvido seu recurso, regula-se pela pena
condicional da pena ou o livramento condicional·
aplicada, não podendo, em nenhuma hipótese, ter por
II - do dia em que se interrompe a execução, salvo quan- termo inicial data anterior à da denúncia ou queixa.
do o tempo da interrupção deva computar-se na pena.
A Lei n. 12.234/ 1O, editada com a finalidade explícita d "excluir a
Art. 113. No caso de evadir-se o condenado ou de prescrição retroativa"(art. 1º ), 1nediante proibição inserida no final do
revogar-se o livramento condicional a prescrição é
§ 1º revogação do §2º do art. 11 O, CP, na v rdad , liminou so1n nt
regulada pelo tempo que resta da pena.
a prescrição retroativa antecipada (ou prescrição pela pena virtual ou
pena em perspectiva), 1nantendo, parcialm nte, a prescrição retroativa,
co1no s d mon tra:
a) antes, a interpretação dominante da prescrição retroativa - ori- autor menor d 21 anos, na época do fato, ou maior de 70 anos, na
ginalmente fundada na Súmula 146, do UPREMO TRIBU AL data da sentença.
F D RAL - admitia d i e ·í d prescricionais retroativos: a) o t. 115. São reduzidos de metade os prazos de prescri-
período entr o dia do fato e a data do recebimento da denúncia; ção quando o criminoso era, ao tempo do crime, menor
b) o p ríodo ntre a data do recebimento da denúncia a data da de 21 (vinte e um) anos) ou, na data da sentença, maior
sentença condenatória; de 70 (setenta) anos.
b) agora, a proibição legal de que a prescrição tenha "por termo inicial 1.4.1. Aqui, continuam válido o argumento o re os conceitos (a)
data anterior à da denúncia ou queixa"(§ 1º) - com a xpr ssa r va- d menor de 21 anos, (b) d cidadão idoso: o fundamento dar dução
gação do § 2º, que permitia a hipóte e proibida-, exclui o primeiro dos prazos d pr scrição 'o insufici nt d s nv lvim nt p i ial
período d pr scrição retroativa (dia do fato - data do recebimento de agente menor de 21 anos, na data do fato, ou a degeneração psíquica
da denúncia), mas deixa intacto o s gundo p ríodo d prescrição d ag nt maior d 70 anos, na data das nt nça. Mas ' n e ssário
r troativa (data do recebimento da denúncia - data da sentença r tomar a argum ntação para . vitar a g n ralização d t nd "ncias
condenatória), que continua inteiramente aplicável. r pr ssivas da lit ratura penal brasileira.
A mudança da disciplina legal da prescrição retroativa é criticável: Prim iro, a d finição legal da capacidad civil aos 18 anos
se a p na concretizada nas ntença (co1n trânsito m julgado para a (art. 5º, caput, Código Civil), não exclui a redução dos prazos de
acusação) pod pr ser v r retroativan1 nt no p ríodo ntre a data do prescrição para ag nt s m nor s d 21 anos: a r dução dos prazos
recebimento da denúncia e a data da sentença condenatória, então prescricionais tem por fundamento idade inferior a 21 anos - não a
a exclusão da prescrição retroativa entre a data do fato e a data do re- incapacidade civil do agente na data do fato 8 • Alérn di so decisóe do
cebimento da denúncia par e in xplicáv 1, porqu as situaçõ ão 1 gislador civil não pod m invalidar cri ério d legi lad r enal - e
idênticas. Afinal, m ambos os casos, a prescrição p la pena concr - qualqu r outra int rpr tação r pres ntaria analogia in malam partem,
tizada nas nt nça ocorr antes do v nto proc ssual int rruptor do proibida pelo princípio da legalidade penal.
prazo pr ri i n (a n . ça, ou a d núncia) -logos a sentença não
S gundo, na forma do art. 1°, da L i 10.741/03 (Estatuto do
pod int rromp r pr scrição consumadas gundo a p na concr tizada,
Idoso), o limite etário d 70 anos (na data da sentença), como funda-
então a denúncia ta1nbé1n não pode produzir esse efeito.
mento para redução dos prazos prescricionais, deve ser alterado para 60
1.3.4. Prescrição da pretensão executória. A hipótese de p na anos, p la mesma razão qu d t rminou a fixação d ss marco etário
aplicada com trânsito em julgado para acusação e defesa fundamenta para d finir o cidadão idoso, alterando xpr ssain nt a circunstância
a prescrição da pretensão executória, igualment r gida p la pena agravante do art. 61, h, CP, na hipótese d ser vítima d crim : a ana-
concr tizada na sentença. logia in bonam partem é autorizada p lo princípio da legalidade p n 1
Art. 11 O. A prescrição depois de transítar em julgado Art. 109, parágrafo único. Aplicam-se às penas
a sentença condenatória regula-se pela pena aplicada e restritivas de direito os mesmos prazos previstos para as
verifica-se nos prazos fixados no artigo anterior, os quais privativas de liberdade.
se aumentam de um terço, se o condenado é reincidente.
Outra vez os argum ntos contra a r incidência como circuns- 1.6. Prescrição da pena de multa
tância agravante na aplicação da p na ta1nb ' m são válidos contra a
r incid "ncia como ampliação dos prazos pr scricionais, na extinção
da punibilidade. A p na d multa pod pr ser v r m prazo fixo ou prazo variável,
d p nd ndo d sua cominação ou aplicação isolada, alt rnativa ou
a) prim iro, a 1 i não selar c s considera a hipótes irr 1 vant cu1nulativa com penas privativas de liberdad : a) prazo fixo de 2 anos,
da reíncidência fleta trab lhando om id i po iti i ta d presunção se cominada ou aplicada de forma isolada; b) prazo variáv 1conform
de periculosidade, ou a h ipótese da reincidência real, admitindo a id ia o prazo d pr scrição da p na privativa d lib rdad , s cominada d
da ação deformadora do cárc re sobr o cond nado , na linha da Ex- forma alternativa ou cumulativa com p na privativa d lib rdad , ou
posição d Motivos do Código P nal (n. 26); se aplicada de forma cumulativa com pena privativa de liberdade.
b) s gundo - xd uída a reincidência ficta, pela inadmissível presun- Art. 114. A prescrição da pena de multa ocorrerá:
ção de periculosidade -, o reconhecimento oficial da "ação criminógena''
I - em 2 (dois) anos, quando a multa for a única co-
do cárcer (EM, n. 26) xige red finição do cone ito de reincidência
mi nada ou aplicada,·
real, como produto da ação criminóg na da p na como falha do
projeto técnico-corretivo da prisão: se a prevenção especial positiva d II - no mesmo prazo estabelecido para prescrição da pena
correção do condenado é in ficaz, se a prevenção especial n gativa privativa de liberdade, quando a multa for alternativa
d neutralização do condenado exist , d fato , como prisionalização ou cumulativamente cominada ou cumulativamente
deformadora da personalidade do condenado, então a reincidência real aplicada.
não pod agravar p nas criminais, n m ampliar p razos pr scricionais.
em relação ao tipo de injusto pr ssuposto na medida de segurança 1°. A Lei 13.964/19 subvert alQ"Un rit ' rio tradici nais da 1 -
gislação penal, introduzindo novas hipóteses de suspensão do prazo
prescricional, sob o falso pressuposto de que o exercício do direito de
1.8. Causas impeditivas da prescrição r corr r d t rminaria a xtinção da punibilidad por pr scrição - e não
a morosidad dos Tribunais no julgam n to dos recursos, xplicáv 1
As causas impeditivas da prescrição são constituídas por pressu- por conh cidos fatores estruturais funcionais históricos.
postos ou acont cim ntos n c ssários para d cidir sobr a existência do
1. A hipót s d pendência de embargos de declaração parec inad -
crime ou sobr a aplicação da pena, cuj a xist"n cia impede o curso do
prazo pr ri i nal. causas impeditivas da prescrição são classificadas quada, porqu os mbargos indica1n ituação d não xaurim nto da
decisão, por ambiguidade, ob curidad , contradição ou omissão do
com base no trânsito em julgado da sentença criininal:
acórdão (art. 619 e 620, CPP), situações proc ssuais que não podem
a) causas imp ditivas da prescrição antes do trânsito em julgado er atribuídas ao acusado.
da sentença criminal são (a) as questó s prejudiciais (por xemplo,
decisão sobre a validade do casam ento anterior, em processo por bi- 2. A hipót se d recursos aos Tribunais Superiores, quando inadmis-
ív is, p naliza o exercício d um direito previsto em 1 i, que não
gamia), (b) o cu1nprim nto d pena no estrangeiro;
af◄ ta a origem da prescrição da pretensão punitiva ou da pret nsão
b) causa imp ditiva da pr scrição depois tran ito m julgad da xecutória, fundada no esqueciinento do fato na normalização social
ntença cond natória é uma só: a pri ão do cond nado por outro motivo. det rminados p lo decurso do te1npo.
t. 116. Antes de transitar em julgado a sentença 3 . O acordo de não persecução penal, nquanto não cumprido ou não
final, a prescrição não corre:
rescindido, repr nta m da idad p ífica de negócio penal intro-
I - enquanto não resolvida, em outro processo, questão de duzido na 1 gislação, qu constitui medida do int r ss do Estado,
que dependa o reconhecimento da existência do crime; geralmente imposta ao cidadão investigado pela a1n eaça da conhecida
II - enquanto o agente cumpre pena no exterior; overcharging penal e, por isso, não pod ria ter o efeito de suspender
o prazo prescricional.
III - na pendência de embargos de declaração ou de re-
cursos aos Tribunais Superiores, quando inadmissíveis; e 4 . O Ministério Público pode propor acordo de não persecução penal,
obs rvado o s guinte: a) se n cessário à r provação suficiente para
IV - enquanto não cumprido ou não rescindido o acordo
pr venção do crim ; b) m hipót s s de confissão circunstanciada
de não persecução penal (Al erações introduzidas pela
de crim , s m viol "ncia ou grav am aça p na máxima inb ri r a 4
Lei 13.964/ 19)
anos; c) com r paração de dano ou r stituição da coisa, prestação de
Parágrafo único. Depois de passada em julgado a serviços ou prestação pecuniária e outras (na forma do art. 28-A e§§
sentença condenatória, a prescrição não corre durante o do Código d Proc sso Penal); d) manife cação xpr ssa d disp nsa d
tempo em que o condenado está preso por outro motivo. produção de prova e d r núncia ao direito d recurso; e) possibilidad
d r duçã d d d p a alt r ção do r gim d ex cução ou
substituição da privação d liberdad por restrição d direitos, tudo
10
conform gravidad do crime, circunstâncias do caso e grau d cola-
boração do acu ad al ' m d utro d talh na f; rma. do art. 395-A muito menor no acusado, pressionado pelo medo. 11
e §§, do Código de Processo Penal).
5. A incorporação acrítica do mod lo d justiça n gocial americano, 1.9. Causas interruptivas da prescrição
r sponsáv 1pela superlotação carcerária daquel país, ' uma espéci
d e1nulação provinciana incompatível co1n os funda1n ntos do pro- As causas interruptivas da prescrição são representadas por acon-
cesso criminal brasileiro, que revela a pobreza político-criminal das t ciin ntos proc ssuais ou p ssoais qu interrompem o curso do prazo
propostas repressivas do Projeto anticrime. O plea bargaining, qu prescricional iniciado, cancelam o prazo d prescrição decorrido e de-
produz privação da lib rdad s 1n proc so p nal, s m contraditório terminam o início de novo prazo prescricional int gral a partir do dia
e s m prova criminal respond por 90% das condenaçõ s da justiça da interrupção - xc to na hipót s d continuação do cumpriin nto
americana, como método aplicado m 9 de cada 1O condenações. de p na (art. 117, V, CP, segunda hipótese), em que a prescrição é
6. Os probl mas do plea bargainingsão conhecidos: a) primeiro, exclui regulada pelo tempo restante da pena (arts. 113 e 117, § 2°, P).
a garantia da jurisdição, transferindo o control da p na do Pod r causas interruptivas da pr scrição são expr ssam nt indicadas
Judiciário para o Mini t ' rio Público, transformando acusadores m na lei (art. 117, 1-VI, CP): a) r cebim nto da denúncia ou queixa;
julgadores da justiça penal; 6) s gundo, o acusado não é livre para 6) pronúncia; c) confirmação da pronúncia; d) s nt nça cond na-
negociar penas, porq a d igu dad m f d inist 'rio Público tória r corrív l; ) início ou continuação do cumprim nto da p na;
xclui a voluntari dad da d cisão porqu o evid nt risco d 1naior f) reincidência.
punição submet o acusado aos termos do acordo proposto; c) t r-
Enfim, nos crim s conexos obj to do m smo proce so (por
ceiro, a acusação funciona como instrumento de pr ssão, produzindo
exemplo, m caso de concurso formal'; a interrupção da prescrição em
autoacu aç al d p · alu · gur ça pr,,...,.,c,c-C'ual,
relação a um deles generaliza-se a todos os demais (art. 117, § 1°,
capaz s de transformar o proc sso penal em v rdadeira gu rra, se o
segunda parte, CP).
acusador cusar a n gociação; d) quarto, o inqu 'rito policial, r fratário
ao contraditório e à ampla defesa, com natureza inquisitória sigilosa, Art. 117. O curso da prescrição interrompe-se:
surg como fonte única de todas as provas; e) quinto, toda negociação I - pelo recebimento da denúncia ou da queixa;
co1n ça pela confissão, spontânea ou coagida, com ou sem delação II - pela pronúncia;
de outros indiciados, qu substitui a tortura física do corpo pela tor- III - pela decisão confirmatória da pronúncia;
tura psíquica d penas el vadas, às vez s por d litos insignificantes,
IV - pela sentença condenatória recorrível;
ou mesmo inexistent s; f) s xto) culpados r cebem pena m enor pelo
acordo, nquanto inoc ntes ac itam maus acordos para evitar a ameaça V - pelo início ou continuação do cumprimento da pena;
de penas maiores; g) sétimo, last but not least, a natureza e extensão VI - pela reincidência.
da punição d pend m da capacidade de n gociação das partes, muito
maior no Ministério Público, assessorado por psicólogos e técnicos,
11 Ver, sobre toda a matéria, o excelente artigo de LOPE JR., Aury. "Adoção do plea
bargaining no projeto anticrime: remédio ou veneno?". n ui or Jurídico, 22.02.2019 .
§ 1° Excetuados os casos dos incisos V e VI deste artigo, inatividade, pela omissão ou p la negligência do autor na r alização de
a interrupção da prescrição produz efeitos relativamente atos processuais específicos, numerados no art. 60 do ,C ódigo de Pro-
a todos os autores do crime. Nos crimes conexos, que cesso Penal: a) deixar de promover o andamento de ação penal privada
sejam objeto do mesmo processo, estende-se ao demais a iniciada, durant 30 dias; b) ausência d substituição p roc ssual, no
interrupção relativa a qualquer deles. praz de 60 dias na hi ' e d fale ime o u incap i ação do qu r -
§ 2° Interrompida a prescrição, salvo a hipótese do lante; e) aus "ncia injustificada a ato proc ssual a qu deva comparecer;
inciso V deste artigo, todo o prazo começa a corre,; d) deixar d pedir a condenação do quer lado, n al gações finais12 •
novamente, do dia da interrupção.
1.10. Prescrição das penas menos graves com as mais graves V. Renúncia e perdão
A regra de qu as p nas mais leves pr ser v m com as mais graves 1. Renúncia. A renúncia do direito d queixa significa a desistência do
par e supérflua (art. 118, CP): se pretensões punitivas ou xecutórias ofendido ou representante le 1de exerc r a pret nsão punitiva contra
de penas mais graves estão pr scritas por decurso de tempo maior, o autor d critn s d ação p nal privada, pod s r expressa ou tácita
então pretensões punitivas ou ex cutórias d penas mais leves estão (art. 104, parágrafo único, CP):
n e ssariament pr scritas por pr'vio d curso d tempo 1n nor.
a) a renúncia expressa é a d claraçã f; rmal d r cusa ao exercício
Art. 118. As penas mais leves prescrevem com as mais do dir iro d queixa, ind pend nt 1nent dos 1notivos do ofi ndido
graves. ou de seu repr entante le al;
b) a r núncia tácita significa a prática d ato incompatív 1com
a vontad d exercer o dir ito de queixa, co mo a m anutenção d
2. Decadência
relaçõ s de amizad , d convívio ou de coabitação cons ntida ntr
A decadência significa p rda do dir ito d ação p nal privada autor vítima.
pelo decurso do prazo contínuo e peremptório de 6 meses, contado 2. Perdão. O perdão significa ato d magnanimidade pessoal do
(a) da data do conh cim nto da autoria do fato criminoso, ou (b) da ofendido, d exculpação do autor d crim s d ação p nal privada,
expiração do prazo para oferecim nto da d núncia, no caso d ação mas sua eficácia extintiva da punibilidade do fato depende d acei-
p nal privada subsidiária da pública (art. 103, CP). tação p lo ot nsor. Igualm nt , o p rdão pod s r expresso ou tácito:
a) o perdão expresso ' a declaração formal do ofendido exculpando
o ofensor pela prática de crime d ação p nal privada;
3. Perempção
b) o perdão tácito é repr sentado p la prática de ato incompatível
A perempção constitui t nôm no processual extintivo da pu-
nibilidad 1n açõ s p nais de in iciativa privada, caract rizado p la
12 Ver E , M anual de direito penal (parte geral), 1999, p. 324-325 .
com o prosseguimento da ação penal, como a continuação de relaçõ s VII Perdão judicial
de amizade, de convívio etc.
O perdão 'admissível at ' o trânsito em julgado da sent nça penal O perdão judi ial tem por objeto hipóteses l gais de exclusão ju-
condenatória (art. 106, § 2°, CP), quando o Estado se reincorpora na dicial da p na, determinada por circun tân ia , ondiçõ s, r sultados
titularidade do pod r r pr ssivo e o perdão perd o poder extintivo da ou consequências especiais do fato. im p r xemplo, a gravidade
punibilidade. das consequências para o autor, no homicídio e na lesão corporal
imprud nt s (art. 121 , § 5°, e 129, § 6°, CP); a provocação r pro-
vável da injúria a injúria como retorsão imediata de outra injúria
(art. 140, § 1°, CP); a primari dade do ag nt na rec ptação pr sumida
VI Retratação do agente (art. 180, §§ 3° 5°, CP) te.
A sentença concessiva do perdão não produz nenhum dos feitos
A retratação ' at p l qual aut r d - claração incriminada
da sentença cond natória, como ar incid "ncia e a certeza da obrigação
desdiz o qu diss , por scrito próprio ou t rmo nos autos, com o obj tivo
de ind nizar (art. 120, C P) 14 .
de d azer lesões típicas de bens jurídicos: o autor retifica o conteúdo ou
corrig o signifi,cado de d claração constitutiva de crime- portanto, co- Art. 120. A sentença que conceder p erdão judicial não
metido pela pala ra falad ou es rica - cuja ormalização pro e ual, a é será considerada para efeitos de reincidência.
a publicação da sentença cond natória, extingue a punibilidade do fato.
Os crimes contra a honra são casos específicos de admissibilidade
da retratação xtintiva da punibilidade: a retratação extingue a punibi- VIII A extinção da punibilidade nos tipos
lidade da calúnia da difamação, pois pod desfazer o dano à imag m
pú lica o ao co ne ito odal do ofi ndido mas não é admitida na in-
complexos) nos tipos dependentes de outros tipos)
júria, porque a ofensa ao sentimento da própria dignidade ou d coro nos tipos que pressupõem outros tipos) nos tipos
da vítima' irr tratáv l (art. 143, CP) . qualificadospelo resultado e nos tipos conexos
Algun rim omuns cometidos atrav' da pala ra falada ou
scrita, como o falso testemunho ou a falsa perícia, tamb 'm ad1nit m Nos tipos complexos, como tipos compostos de outros tipos (o
a retratação do agente, até a publicação da sentença condenatória roubo, constituído pelo constrangimento ilegal e pelo furto) , nos tipos
(art. 342, § 3°, CP) 13 . dependentes de outros tipos ou qu pressupõem outros tipos (a receptação,
em relação ao furto ou ao roubo) e nos tipos qualifi,cados por outros tipos
(o furto qualificado p lo dano na subtração da coisa) - m todos ss s
cas a extinção da punibilidade do tipo elementar (nos tipos compl xos),
do tipo pressuposto em outro tipo, ou do tipo qualificador de outro tipo,
Capítulo 23 679
ANEXO
684 A nexo
da pessoa jurídica - por causa da expressa referência a "punições com- causa de sua natureza d p rincípio geral da atividad econômica, então
patzvezs. com sua natureza " .
./
deveria incluir também - com 1naior razão - a propriedade privada,
a livre concorrência, a defesa do consum idor e e.., igualmen te referidos
Não ob tan t , sp ciali tas m ireito P nal3 afirmam qu ond a
Constituição fala de responsabilidade qu r dizer, simplesmente, respon- como princípio gerais da atividad conômica (art. 170, III, IV, V,
da Constituição da R pública), o qu seria absurdo.
sabilidade, sem adj tivos: a) a atribuição d responsabilidade na nonna
constitucional define um conceito jurídico geral, inconfundível com Curto e grosso: nenhum legislador aboliria o princípio consti-
a atribuição de responsabilidade penal, como conceito jurídico espe- tucional dar sponsabilidade penal pessoal de modo tão camuflado ou
cial; b) al 'm disso, o cone ito jurídico d punição não ' xclusivo do h rm / tico, como a Carta Constitucional foss uma carta en igmática
Dir ito Penal (como parec m pen ar os constitucionalistas): abrange, decifrável som nte por iluminados. Ao contrário, se o constituinte
também, sançõ s administrativas, com fins retributivos e pr ventivos tiv sse pr tendido instituir exceções à regras cular da responsabilidade
m lhant s às anções penais e, às vezes - como no caso das multas p nal pessoal t ria utilizado linguag m clara in quívoca, tanto obr
administrativas da L i 9.605/98 -, com poder aflitivo e, portanto, a natureza penal dessa responsabilidad , quanto sobre as áreas de in-
retributivo muito superior ao das penas criminais substituídas por cidência dessa excepcional responsabilidade penal, redigindo a nonna
p nas restritivas d dir ito, ou com início d x cução m r gim do art. 173, §5º CF d st modo, por x mplo:
aberto, por exemplo. /1. lei, sem prejuízo da responsabilidade penal indi-
E ainda mais import nt : a n rm n titu i nal br respon- vidual dos dirigentes da p essoa jurídica, estabelecerá a
sabilidade (sempre sem adjetivos) da pessoa jurídica - e das pesso responsabilidade penal desta, sujeitando-a às p unições
físicas dirig ntes da pessoa jurídica - tem por objeto, exclusivamente, compatíveis com sua naturez a,. nos crimes praticados
atos contra a ordem econôm ica e financeira contra a economia popular: contra a ordem econôm ica e fina nceira, contra a econo-
a norma do art. 173, §5°, da Constituição da R pública, não inclui m ia popular e contra o meio ambiente. '
o meio ambi nte. gum d gun e n itu i nali 4 d qu Mas a norma constitucional não está assim redigida: a Consti-
no ma incluiria meio am i nt porque a defesa do meio am biente tuição fala m responsabilidade - não em responsabilidad e penal; a
constitui um princípio geral da atividad conômica (art. 170, VI R) Constituição fala d atos - não d crimes; finalmente, a Constituição
é pr círio: afinal, se a norma con titu ional in lui o meio am biente, por delimita as áreas d incidência da responsabilidade pela prática d ss s
atos, exclusiva1n nt à ordem econôm ica e financeira à economia po-
pular, não inclui o meio am biente.
3
esse sentido, CER T H TAR , D ireito penal na Constituição, 1995, p. 155;
BITEN O URT, Reflexões sobre a responsabilidade penal da pessoa jurídica, in Em sínt s : a) s a Constituição fala m responsabilidade, ntão
Responsab ilidade P na! d Pessoa Jurídica e Medidas Provisó rias, RT, 1999, p. 51-7 1,
esp. p. 68; DOTTI, A incapacidade criminal da pessoa jurídica {uma perspectiva do o intérpr t não pod ler responsabilidade p enal - n m o legislador
direito brasileiro) RB RI . 11 , l 99 5 p. I 4 · PRAD , Crimes contra o ambiente, ordinário stá autorizado a instituir responsabilidades penais da p ssoa
RT, 1998, p. 20-2. · E JR. , A lei de crimes ambientais, RF n. 45, p. 12 1;
IRVJ , , Tutela penal do meio ambiente, 1998, p. 23. Exceções, entre penalistas, jurídica; b) s a constituição fala m atos, ntão n m o int ' rpr t ,
riam UJ JR. , ocietas delinquere potest, in Responsabilidade P nal d Pessoa
Jmídi a e M <lidas Provisó rias, RT, 1999, p. 72- 4; e RA, Resporzs:abilidade
penal da pessoa jurídica, 1999 .
4 nrid , AFO O D ILVA, urso de direiro consd tucional positivo, 1994, 5 Obse ação: as palavras cm negrito fo ram acrescentadas ao tcxro legal, com exceção
p. 7 18. da palavra crimes, que substitui a palavra atos.
nem o legislador ordinário pod 1n ler crimes; e) se a Constituição lógicas: a) as condutas de pessoas físicas sujeitarão os infratores a san-
circunscreve as exceções às áreas da ordem econômica e financeira e da ções penais; b) as atividades de pessoas jurídicas sujeitarão os infratores
economia popular, então nem o intérprete, nem o legislador ordinário a sanções administrativas. Co1no se vê, aquela leitura considera como
pod m incluir outras exceções, como o m io ambi nt , por xemplo, sinônimos palavras d cont údos s mânticos div rsos; esta 1 itura
l and qu u defesa con titui principio geral da atividad conômica atribui dit r nt s significados semânticos a difi r nt s palavras da lei.
- porqu d v ria incluir outros princípios gerais da atividade conômica Afinal, a 1 i não cont 'm palavra inú eis, e o mpr go d sinônimos
(a propriedade privada, a livre concorrência te.), como m ncionado. s ria uma inutilidad , incompatív 1com a t 'cnica 1 gislativa com a
intelig "ncia do L gislador.
2. Em s gundo lugar, a norma do art. 225, §3°, da Constituição,
struturada m conceitos pares claram nte correlacionados, pr v" A anális mais lem ntar do t xto constitucional mostra qu
sançõ s penais e administrativas contra p ssoas físicas ou jurídicas por a responsabilidade penal continua pessoal no Brasil: a Constitui-
condutas e atividades l sivas ao m io ambi nt , d ste modo: ção não instituiu a xc ção da r sponsabilidad p nal impessoal da
Art. 225, §3°, CR: '.í1s condutas e atividades conside- p ssoa jurídica. 10 Ates dar sponsabilidade penal da p ssoa jurídica
radas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, em crimes ambientais parece resultar de leitura apressada das normas
pessoasfísicas ou jurídicas, a sanções penais e adminis- constitucionais - não raro influ nciada p lo f; nôm no psíquico d
trativas, independentemente da obrigação de reparar proJ ção dos d s jos p ssoais do int 'rpret da 1 i.
os danos causado/'. L g a r'minali ção da p ssoa jurídica r alizada p lo L gis-
D novo on titucio nalistas e ambi ntali tas 6 proclamain a rup- lador ordinário em crimes ambientais (Lei 9605/98), como forma de
nua do princípio constitucional da responsabilidad p nal pessoal, r spon abilidad p nal impessoal, ' incon titucional: as normas do art.
m dian i rpr taçã qu uprim difc r nça em" icas d pala ra 173, §5° do art. 225, §3°, da Constituição, não in tituíram - n m
condutas atividad 'S,7 bitrariament considerad inônimo aplicáv is autorizaram o Legislador a instituir - a exceção da responsabilidad
indifer nt m nt ' p ..,.,..,,..,a., fí i jurídi 8 tainbém arbitrariamente p nal da p ssoa jurídica.
consideradas passíveis de iguais sançõ s p nais administrativas. 3. Seja como for, é necessário demonstrar que a estrutura legal da pessoa
Em contraposição, sp cialistas em Direito P nal9 rejeitam a jurídica não suporta as categorias cone ituais dar pon ab"lid ,d p n l
pretendida ruptura do princípio constitucional da responsabilidade pessoald s r s humanos: por um lado, colid com os princípios cons-
pen p 1, fundad diferenças semânticas das palavras condutas titucionais da legalidade da culpabilidade, que defin mo conceito
e atividades do t xto 1 gal, qu struturam as seguintes correlaçõ s de crime; por outro lado, colide com os princípios constitucionais da
personalidade da individualização da pena, qu informam o conceito
de pena. Essa demonstração ' importante para desfazer a ilusão de qu
6 Exceção notáv l JR. , Comentários à Constituição de 1988, 1993, v. 8, p. a p ssoa jurídica pod com t r crim s , assim, sup rar a t s absurda
4045 , cuja opinião, n ste aspecto, coincid co m a dos penalistas.
7 Por exemplo, PI fRA, oment1bio lt onstituiçdo Brasileira, 1995, v. 7, p. 302. da responsabilidade penal da p ssoa jurídica.
8 im HE AIRA Responsabilidade penal da pessoa jurídica, 1999, p. 119, para
qu m "os vocábulos conduta e atividade foram efflpregados como sinônimos."
10
9 Exceções, novamente, emr nali t : UJO JR., ocietas delinquere potest, in im, ra b ' m , H IARO, D ireito penal na Constituição, 1995, p. 144;
Responsab ilidade P n Ida Pessoa Jurídica e Medidas Provisórias, RT, ão Paulo, 1999, DOTTI, A incapacidade criminal da pessoa jurídica, in R vi ·ra bra il ira d ci 'n ia
p. 7 - · Responsabilidade penal da pessoa jurídica, 1999 . criminais, 1995, n. 11, p. 187.
III Problemas da responsabilidade penal da pessoa r alizado por qualqu r órgão da pessoa jurídica (empregados, geren-
tes, diretores, proprietários etc.); b) o tipo subjetivo do crime, como
jurídica dolo (decisão de realizar uma ação proibida pela lei penal) ou como
imprudência (d cisão d r aliz rum ação p rmitida, com 1 são do
A Lei 9605/98 instituiu um sist m a duplo d r sponsabilidad dev r d cuidado ou do risco permitido) dev ser atribuído ao r pr -
administrativa ivil p nal por crim amb· ntai : a) a responsabihda- sentant 1 gal ou contratual, ou órgão col giado da pessoa jurídica.
d da pessoa jurídica m ca o d infração com tida por decisão d
2.1. A decisão de representante legal ou contratual, tomada na quali-
r pr s ntant l galou contratual, ou d órgão col giado, no interesse
dad d p ssoa física individualizada, pod s r d t rminada d 1nodo
ou benefício da entidade (art. 3º); b) a responsabilidade das pessoas
pr ciso, nos seus conteúdos d dolo de imprudência, como qualqu r
físicas, isolada ou cumulativa, na qualidade de autoras, coautoras ou
caso de autoria individual ou de autoria coletiva de fatos puníveis.
partícip s dom smo fato (Parágrafo único) .
N ss s r sponsabilidad da pessoa jurídica (administrativa, civil
Art. 3°. As pessoas jurídicas serão responsabilizadas p n l) p d r'a r dmi id mas ; preciso esclar cer: so1nente como
administrativa, civil e penalmente conforme o disposto efeito da condenação d p o fí i indi idualizad n q ualidad d
nesta Lei, nos casos em que a infração seja cometida autora individual ou ol tiva d rim ambi ntal.
por decisão de seu representante legal ou contratual
ou de seu órgão colegiado, no interesse ou benefício
2.2. Contudo, a decisão de órgão colegiado - como ocorr m grandes
da sua entidade. mpresas, sp cialment soei dad s por açõ s, em qu as d lib raçõ s
são tomadas p r coletividad u as mbléias de aci ni t , e m votações
Parágrafo único. A responsabilidade das pessoas jurí-
in minad di idid u fr gm n d - não pode ser abordada pelas
dicas não exclui a das pessoas físicas, autoras, coautoras
cat goria analíticas do fato punív 1, por razõ vident : a) a autoria
ou partícipes do mesmo Jato.
da d cisão é ind t rminável; b) o tipo de injusto é ind monstrável,
Assim, do ponto de vista d scritivo, a imputação de crim à m sp ial na dim n õ ubj ti as do dolo da itnp rud "ncia; e) a
p ssoa jurídica pr ssupõ : a) r alização d infração (penal); 6) r lação culpabilidade, como juízo d r provação p la r alização do tipo d
causal ntr a infração decisão der pr ntant 1 gal u ntratual injusto, ' impossív l. razã ' impl : a p · u ídi a ' in paz d
ou d órgão col giado da p ssoa jurídica; c) xist'' ncia d interesse ação (tipo d injusto) incapaz d culpabilidade (j uízo d reprovação) .
ou benefício da pessoa jurídica na infração. Ess s 1 m ntos típicos
3. Por último, a infração (causada por decisão de r presentante ou de
pod m ser sumariados como segue.
órgãos da pessoa jurídica) deve ter sido r ali ada n interesse ou em
1. O cone ito d infração é um g "n ro qu co1npre nde fatos dolo- henefício da p ssoa jurídica, como fin idad específicas atribuídas ao
sos imprudentes, realizados por ação ou por omissão de ação, mas tipo de injusto (elemento subj tivo pe ial). ont údo mânti o d
definidos, nec ssariam nt , na L i d crim s ambi ntais - a única qu interesse significa o que é importante, útil ou vantajoso do ponto d ·vista
fala d responsabilidade penal da p ssoa jurídica. mat rial ial um ral 11; o cont údo s mântico d henefício significa
2. A relaçã d au alidad ntre a decisão (de representante legal
ou contratual, ou d órgão col giado da pessoa jurídica) a infração
significa os guinte: a) o tipo objetivo d um cri1n ambi ntal pod r 11 D icionário Houaiss da Língua Portugu esa, verbete interesse.
proveito, vantagem ou direito econômico, financeiro, publicitário etc. 12 injusto (consciência e vontade d realizar o fato) e da culpabilidade
(consciência e vontade de realizar o desvalor do fato) son1ent pod m
existir na pessoa física, nunca podendo existir na estrutura incorpórea
1. A pessoa jurídica e o conceito de crime da p ssoa jurídica: uma criação legal não dispõe da estrutura biológica
psíquica do ser humano, n cessária para decisões dolosas ou im-
prudent s, em condições de reprovação pessoal de culpabilidad . 14
A definição do conceito de pessoa jurídica é condiçã d qualqu r
proposta de criminalização, n e ssária para poder identificar o m odo b) gundo a teoria da r alidad , as dim nsões subjetivas
os meios p los quais tal ntidad praticaria crime . lei br il ira do tipo de injusto da culpabilidade pod m s r alizar na p ssoa
instituiu ar sponsabilidad penal da p ssoa jurídica, mas não d tiniu jurídica, portadora d vontade coletiva produzida m reuniões, delibe-
o conceito d p ssoa jurídica para fundam ntar a imputação d fatos rações ou votos, uma espéci de vontade pragmática qu dirige a ação
puníveis. Como se sabe, esse conceito é definido por duas teorias: a da empr sa. 15 Assim, a capacidade de ação da p ssoa jurídica teria por
teoria da ficção, de AVIG Y, e a teoria da realidade, d I fundamento a vontade coletiva sedim ntada em reuniões, deliberações
e votos, produtora da chamada ação institucional - um conceito de
A teoria da ficção considera a pessoa jurídica u1na criação da lei,
natur za sociológica, com o qual se pr t nd in.augurar uma p rspec-
à qual atribui simples vontade reflexa, formada no aparelho psíquico
tiva dicotômica de dupla imputação no Direito Penal: i) imp utação
de pessoas físicas e imputada à pessoa jurídica como responsabilidade
d ação humana às pessoas físicas; ii) itnputação de ação institucional
subsequente - ou s ja, como efeito da condenação das p ssoa físicas.
às pessoas jurídicas. 16
A teoria da realidade considera a pessoa jurídica um ser autônomo,
portador d uma vontade real formada p lo encontro de vontades indi- ão obstante, como todos sab m, essa vo ntade coletiva ou
viduais m r uniõ s, deliberaçõ s votos. 13 Uma tomada de posição m p ragmática produtora da ação institucional da p oa jurídica não
fac dessas teorias ' important , porqu permitiria desvendar muitas confunde com a vontade consciente do conceito d ação da pessoa
coisas obscuras: por xemplo, a sede do dolo da imprudência (tipo d física: a vontade coletiva da ação institucional não cont 'm os r quisitos
injusto) ou o fundamento do juízo de reprovação (culpabilidade) - ou internos da ação humana, como bas psicossomática do conceito d
s ja, as bases fáticas e normativas da instituída responsabilidade p nal crim , qu fund m ntam a natur za pessoal dar sponsabilidad p nal.17
das empr sas. Logo, a pritneira coisa a selar c r s ria sta pergunta:
o substrato psicossomático do tipo de injusto e da culpabilidade
exist na pessoa física , conform a teoria da ficção, ou xist na pessoa 1.1. A pessoa jurídica e o conceito de tipo de injusto
jurídica, s gundo a teoria da realidade?
a) Segundo a teoria da ficção, as dim nsões subjetivas do tipo de O cone ito d tipo de injusto, como ação típica e antijurídica
concreta, ' inviabilizado pela raiz: a incapacidade de ação da pessoa tos da criminalização da pessoa jurídica, 24 é capcioso: se a pessoa
jurídica impede a r alização do tipo de injusto. jurídica pode realizar a ação de contratar (por exemplo, um contrato
de compra e venda), então poderia, tamb ém, realizar uma ação
1.1.1. A incapacidade de ação. A ação, fundam nto psicossomático
do crim , ou substantivo qualificado pelos adjetivos do tipo de injusto criminosa - diz o argum nto. O d fi ito d sse argum nto r sid m
da culpabilidade, designa fenô1n no exclusiva1n nt humano , in-
equiparar os fundam ntos jurídicos dar sponsabilidad civil - qu
podem ser soment objetivos -, com os fundam entos jurídicos da
confundível com o conceito de ação institucional atribuído à pessoa
jurídica, como indica a teoria da ação: a) no mod lo causal, a ação r sponsabilidade p nal, qu são objetivos e subjetivos: a atribuição
do tipo objetivo se fundam nta na realização do risco e a atribuição
ria comportamento humano voluntário; 18 b) no mod lo final, a ação
é acontecimento dirigido pela vontade consciente do fim; 19 c) no modelo do tipo subjetivo se fundam nta na realização do plano (nos crim s
social, a ação ' comportamento humano de relevância social dominado ou dolosos) ou na lesão do dever de cuidado ou do risco permitido (nos
crim ilnprud nt s). 25 Como s v "', a ação de contratar d natur za
dominável pela vontade;2° d) no mod lo pes oal, a ação ' manifestação
civil, e a ação crim inosa de natur za penal são conceitos que não s
da p rsonalidad I etc.
recobr m. Na verdade, o sofisma da capacidade da pessoa jurídica
Em poucas palavras, se a ação m fu d i o máci para a ação de contratar, como d monstração de capacidad para ações
do conceito d crime ' fenômeno exclusivamente humano, então a criminosas, mostra qu a t s da r sponsabilidad p nal imp essoal da
pessoa jurídica, um ente jurídico constituído por seres humanos, mas p ssoa jurídica racha de alto a baixo o conceito d critn , mutilando
inconfundív 1com os seres humanos constituint s, ' incapaz de ação. os compon nt s psíquico-ti nomenológicos da strutura do tipo de
Por isso, qualquer manual de Direito Penal define os atos (ou a ativida- tnJusto da culpabilidade: suprim o component p i osso ial do
de) das pessoas jurídicas como situações d ausência de ação. 22 Logo, a Dir ito P nal, em suas dim nsões de repr sentação ( d vontad ) do
incapacidade de ação - no s ntido d ação realizada ou d ação om itida, fato der pr s ntação da proibição do fato.
as modalidad s concretas das p roibições ou comandos instituídos p la
1.1.2. O conceito de tipo de injusto. O tipo de injusto, como ação
norma p nal para prot ção d b ns jurídicos - ' o prim iro obstáculo
típica e antijurídica concr ta, compo to d um t"po obj ·vo configu-
insuperável da proposta d crim inalização da pessoa jurídica.
rado p la realização do risco de um tipo subjetivo configurado p la
Em s ntido contrário, um argumento usado para demonstrar realização do plano, também é incompatível co1n a pessoa jurídica,
a capacidade de ação da p ssoa jurídica, difundido na lit ratura p la qu r d finida co1no ficção , qu r d finida como realidade. 26
autoridade d TIED EMANN, 23 e assumido como axioma por adep-
1.1.2.1. O tipo de injusto doloso. os crim s dolosos, o tipo subjetivo
' constituído por fu nções esp cíficas do aparelho psíquico do ser hu-
mano, um órgão capaz de consciência (repres ntação do mundo) d
18 LI ZT, trafrecht, 189 1, p- 128. vontade (ação sobre o mundo) reais, que não existe na pessoa jurídica.
19 MA H/ ZIPF, trajrecht I, 1992, §16, n. 41, p. 202; ~ZEL, Das Deutsche
trafrecht, 1969, §8 I, p. 34.
20 JE H E K/WEI END , Lehrbuch des Strafrechts, 1996, §23, VI, p. 223 .
21 ROXI , trafrecht, 1997, §8, n. 44, p. 202. 24 Ver, po r exemplo, ARAÚJO JR. , Societas delinquere potest, in Respo nsabilidade
22 Ver Teoria da ação, ap. 6, p. 71. penal da pessoa juríd ica e Medidas p rovisórias e Di reito Penal, 1999, p. 89· também,
23 Assi m , TIEDEMANN , Responsabilidad penal de personas jurídicas y empresas en el HE AI RA, Responsabilidade penal da pessoa jurídica, 1999, p. 88 s.
derecho comparado, in Responsabilidad e p enal da pessoa jurídica e Medidas provisórias 25 ROXIN, Strafrecht, 1997, § 12, n . 144, p. 434.
e Di reho Penal, 1999, p. 36-37 . 26 ROXIN, Strafrecht, 1997, § 12, n. 144-148, p. 434-437.
Por ex m plo , a teoria da ficção exclui-se por si mesma: se ' fictícia, não cuidado ou do risco permitido, é inaplicáv l à pessoa jurídica - e não
é real; e a teoria da realidade não pode explicar de que modo a vontade p ode ser su bs tituído por critérios análogos, co m o o da capacidade
coletiva da pessoa jurídica, manifes tada em reuniões, deliberações ou empresarial (?), por exem plo.
votos, produziria os fi n ôm n os psíquicos da consciência da vontade Mais: a 1 são do dever de cuidado ou do risco permitido supõ
(dolo) d realizar um crime. D e fato, a cham ada vontade coletiva da
o 1nod lo contrário de homem prudente, capaz de obs rvação da
pessoa jurídica é incapaz d dolo, como vontade consciente de realizar reflexão sobre a criação/realização do risco: o modelo do homem
um crime: se a vontade é nergia psíquica individual p rodutora da ação prudente, parâmetro social para defin ir o comportamento imprudente, é
típica, e se a consciência é direção inteligente daquela nergia psíqui-
inaplicáv 1à p ssoa jurídica - igualm nt insubstituív l por m od los
ca individual, então ss s com ponent s não pod m existir no vazio análogos, como o de empresa prudente (?), po r xem plo.
psíq uico da impessoal vontade coletiva da pessoa jurídica. Em direta
corr lação com a incapacidad d dolo, a vontade coletiva da p ssoa Enfim, a previsibilidade do resultado , limiar mínim o d impu-
jurídica é incapaz d erro de tipo, fi nôm no psíquico negativo do tação do resultado nos crimes de imprudência, ' ti nômeno xclusivo
dolo, com o defi ito de r pres ntação de lem ntos ou circuns tâncias do aparelho psíquico individual quer o o imprudência inconsciente
obj tiva do tipo l gal. in pa idad d dolo - d erro de tipo - da (imprevisão d r sultado típico pr visív 1), qu r como imprudência
vontade coletiva ou pragmática da p ssoa jurídica decorre do mesmo consciente (confiança de evitar resultado típico previsto) .28
defeito d constituição: o aparelho psíquico produtor do dolo pas- 1. 1.2.3. O tipo de injusto omissivo. Igualm a vontade coletiva
sível d erro de tipo (d fe ito in t l ctual na fonnação do dolo), não ' ou pragmática da m ncionada ação institucional ' incapaz d omissão
órgão da p ssoa jurídica, m as órgão da p ssoa fís ica. A xistência r al de ação: se a pessoa jurídica ' incapaz de ação, como fundam nto
de aparelho psíquico co1no sede do dolo e contexto do erro de tipo psicossomático do con ceito de crime, então é, n cessariam ente,
xplica o princípio da coincidência t mporal entr a formação do dolo incapaz de omissão de ação, cujo pr ssuposto lógico ' a capacidade
(ou do erro de tipo) e a realização da ação típica - uma relação ini- concreta de ação, defin ida na literatura co1no capacidade individual
maginável na vontade coletiva atribuída à pessoa juríd ica, definida em de ação, ou como possibilidade físico -real de agir, 29 in xistent na ação
reuniões, deliberações votos, ou de qualquer outro modo imagináv ]. 27 institucional produzida pela indefinível vontade pragmática da pessoa
1.1.2.2. O tipo de injusto imprudente. A vontade coletiva ou pragmá- jurídica: s a pessoa jurídica não pode realizar ação, ntão também
tica da p ssoa jurídica ta1nb ' m ' incapaz d imprudência, ti nôm no não pod omitir ação.
fundado na capacidade individual (p lo sist ma d a generalização d 1.1.3. Conclusão. Assim , se a p ssoa jurídica é incapaz de realizar
JESCHECK/WEIGE D , ou pelo siste1n a da individualização d o tipo de injusto (a) doloso, (b) imprud nt (c) omissivo, então
T TENWERTH): o critério da capacidad individual utilizado a riminalização da pessoa jurídica infring a dimensão m aterial do
para d finir o tipo de injusto imprudente, com o 1 são do dever de princípio da legalidade, expr ssa na fórmula nullum crimen sine lege
(art. 5 XXXIX R).
27 Ver O tipo de injusto doloso de ação, Cap. 8; R XI trafrecht, 1997, §12, n . 4 p.
364, n. 80-1, p. 401, n. 86, p. 405 e §20, n . 56, p. 78 2; JE H /WET E 28 Ver O tipo de injusto imprudente, ap. 9; J Lehrbuch des tra-
Lehrbuch des Strafrechts, 1996, §29, II 2, p. 293; ..,..,/BE
~ , J L . , .. , trafrecht, Jrechts, 1996, §55, II 3, p. 586-587; t, 1998, n. 667;
1998, n. 203, p. 64; DOTTI, A incapacidade criminal da pessoa jurídica, in Revista 29 Ver O tipo de injusto de omissão de a 'áo, T , Lehrbuch des
brasileira d e ciên cias crim inais, 1995, n. 11, p. 194 Straftechts, 1996, §59, II 2, p. 616; ........,..,~~ wht, 1998, n. 708, p. 225.
1.2. A pessoa jurídica e o conceito de culpabilidade tal incompleto ou retardado) não podem ser diagnosticados naqu la
vontade coletiva ou pragmática das r uniões etc.
o p....,., ...,Q. jurídi
'incapaz de ação, pela mesma razão st ponto, a hipót s d uma vontade coletiva d lib rada m
' incapaz de culpabilidade: s a p ssoa jurídica não pode agir, tamb 'm reunião d pessoa jurídica formada por 2 sócios inimputáveis por
não t mo pod r de agir de outro modo, qu fundam nta o juízo d do nça 1n ntal (digamos, u1n é paranóico, outro ' squizofr"nico),
r provação. O princípio da culpabilidad , popularizado na fórmula conduziria a situações de delírio jurídico: a) se a responsabilidade
nullum crimen sine culpa, possui u1na strutura universal, assim d - p nal da p ssoa jurídica é independente da r sponsabilidade penal das
finida: a) a capacidade de culpabilidade indica s o suj i to ' capaz d p ssoas física dos ócios (art. 3°, parágrafo único, L i 9605/98), ntão
saber e de controlar o que faz - xcluída ou r <luzida nas hipót ses d 'preciso explicar d qu modo p ssoas físicas inimputáveis - ou s ja,
1n noridad ou d insanidad psíquica; b) o conhecimento do injusto incapaz s de vontade válida - pod m produzir u1na vontad col tiva
indica s o sujeito sabe realmente o que faz - xcluído ou reduzido válida imputável à pessoa jurídica; b) ao contrário, se ar sponsabili-
nas hipót s s d erro de proibição; e) a exigibilidade de comportamento dade p nal da p ssoa jurídica ' dependente da responsabilidade p nal
diverso, fundada na normalidad das circunstâncias da ação, indicas da pessoa física dos sócios, a situação ainda fica pior: então é preciso
o suj ito teria tido o poder de não fazer o que fez, xduído ou r duzido xplicar 1n qu consist ssa vontade coletiva ou pragmática d lib rada
em situações de exculpação específicas. 30 m reuniões da pessoa jurídica, na linha da teoria da realidade.
Ess cone ito d culpabilidad , como juízo de reprovação de um 1.2.2. S gundo, o conhecimento do injusto, como conh cim nto da
sujeito imputável (o suj ito é capazdesaberedecontrolaroquefaz) que antijuridicidade concreta conforme a teoria dominante, 31 ou da puni-
realiza um tipo de critne, com consciência do injusto (o sujeito sabe, bilidade do fato conform uma teoria moderna, 32 que permite dizer
realmente, o que faz), m condiçõ s de normalidade d circunstâncias qu o suj ito sabe (realmente) o que faz, ó pod xistir no ap elho
(o sujeito tem o poder de não fazer o que faz), exprime o poder de agir psíquico individual de p ssoas físicas: a suposta psique coletiva forma-
de outro modo do cone ito normativo d culpabilidad , atribuív l ao dora da vontade pragmática das r uniõ s, d lib raçõ sou votos ' uma
s r humano - mas impossív 1d ser atribuído à p ssoa jurídica, como ficção incorpóreas m xist"ncia r a], ·ncapaz der pr sentar a natur za
s demonstra. proibida do tipo d injusto, por n nhuma daqu las t orias.
1.2.1. Prim iro, a p ssoa jurídica não t m capacidade de culpabilidade st ponto, t mos o s guint probl 1na: s no tipo subjetivo,
porqu as condiçõ s pessoais d maturidade e d sanidade mental dos objeto de conh cim nto ' o fato d scrito no tipo de injusto, na cul-
s r s humanos não xist m na entidade incorpórea da p ssoa jurí- pabilidade, objeto de conhecimento é a proibição do fato descrito no
dica, a despeito da alegada vontade coletiva ou pragmática produzida tipo d injusto: a fragm ntada psique coletiva produtora da vontade
em reuniões, deliberações ou votos: a capacidade de culpabilidade não pragmática da pessoa jurídica não existe como aparelho psíquico capaz
pod ser suprida p lo tempo de registro d ial d p, .,_. . ,,,. d mpr gar reflexão ou utilizar informações para conhecer o injusto do
jurídica na Junta Comercial, por ex mplo; stados psíquicos anorma.i fato concr to. Daqui, s gu m d sdobram ntos important s:
como psicoses (do nça men al ou oligofrenias (d senvolvim nto m n-
a) a impossibilidad da psique coletiva funcionar como unidade a pressões ou perturbações e1nocionais excludentes ou r dutoras da
orgânica capaz de reflexão e de informação exclui a possibilidad de erro dirigibilidade normativa (como se denomina, hoje, a capacidade de
de proibição, como fenômeno psíquico negativo do conhecimento do agir conforme ao direito), próprias das situações de exculpaçáo concretas
injusto, consist nt em d feito d r pr s ntação da natur za proibida admitidas p la legislação penal.
do fato, por r flexão insufici nte ou informação d ficient ;
Ess s argu1nentos indicam qu o chainado modelo analógico de
b) a falta de aparelho psíquico como órgão do conhecimento culpabilidade, proposto por I D para a p'". . ~o.jur'dica 33 é pura
J ...
do injusto ( do erro deproibição) imp de a verificação do princípio da ficçã : afi al o defeitos ou falhas de organizaçã u fundam nt ri m
coincidência ntr a formação da consciência do injusto (ou a ocorr"ncia culpabilidade de empresa, nãos riam atribuív is à p ssoa jurídica (como
do erro de proibição) e a realização do tipo de injusto - um fi nôm no pr t nd o mod lo) , mas as p -soas fí kas 'rig nt d ta.34 Em re umo:
psíquico impossív l na chamada vontade coletiva ou pragmática, d finida o conceito de culpabilidade também é incompatív l com o cone ito
m reuniões, deliberações ou votos da pessoa jurídica; d p ssoa jurídica.
c) a impossibilidade d decidir sobr a natur za evitável ou inevi-
tável do rro de proibição - uma decisão d pend nte d component s
1.3. O modelo francês de responsabilidade penal
intelectuais emocionais do autor no momento der al·zação do fato-,
na incorpórea psique coletiva dessa vontade pragmática da pessoa jurídica;
no caso d vontade coletiva d lib rada e1n r união d p ssoa jurídica 1.3.1. O art. 121-2 do Código P nal franc "s35 instituiu, com xpr s-
constituída por 2 sócios, m situaçã individual d erro de proibição sa xclusão do Estado, a r sponsabilidad p nal das pes oas morais
inevitável (por exemplo, transporte de 1 nha s m licença da autori- por infrações cometidas por sua conta, através de s us órgãos ou
dad comp t nt : art. 46, da L i 9.605/98), t ríamo outra ituação repr s ntant - sem excluir a responsabilidade penal das p oas
delirant : a) s o erro de proibição inevitável das pessoas físicas exclui físicas, autora ou cúmplic s dos m smos fatos. a França (com as
ar provação da p ssoa jurídica, s ria n c ssário xplicar a autonomia xceções normais de homicídio doloso, estupro te.), as pessoas
processual da responsabilidade p nal da pessoa jurídica m relação à morais pod m s r d claradas p nalm nt r sponsáv is por quas
r sponsabilidad penal das pessoas físicas dos sócios; b) se o erro de todas as infraçõ s p nais, d sd qu xpr ssam nt pr visto na d -
proibição inevitável das pessoas físicas não exclui a reprovação da pessoa finição legal da infração, por ex mplo: a) crimes e delito contra a
jurídica, s ria n e ssário explicar de que modo um erro de proibição nação, o stado ou a paz pública: t rroris1no, corrupção, tráfico d
inevitável dos sócios pod produzir uma vontade coletiva reprovável da influ "ncia, moeda falsa, quadrilha te.; 6) crimes e delitos contra as
pessoa jurídica, que pressupõe conhecimento real ou possív 1do injusto. pessoas: crimes contra a humanidade, proxenetismo, homicídio
lesão corporal imprudent , poluição, tráfico d drogas etc.; c) crimes da pena (atingem dirigentes e sócios que não parti iparam da d
e delitos contra os bens: furto, extorsão, chantagem, fraudes, abuso p nas patrimoniais são r passadas ao consumidor, a dissolução da empresa
de confiança, receptação, lavage1n de dinheiro, delitos eletrônicos etc. 6 produz dese1nprego etc. 39 •
1.3.2. Na lit ratura francesa, os argumentos favoráveis à crimina- 1.3.3. E o mais impor n e, a li er u r pen I france a reconh ce qu
lização das pessoas morais par c 1n triviais, s comparados com os a p ssoa jurídica ' incapaz d com t r crimes int ncionais, admitin-
argumentos contrários - ou, conforme diz m O T T do que a lei instituiu um m canismo d responsabilidad p nal da
D HAMB 37 , "não são suficientes para fazer esquecer os numerosos p ssoa jurídica por ricochete da p ssoa física, ou, ainda 1n lhor, por
inconvenientes da solução", como s pod v rificar: empréstimo da pessoa física, como afirma SOYER40 :
1.3.2.1. Os argumentos favoráveis, alegando que não se discut a 285. O m ecanism o é aquele do empréstim o da crimi-
imputabilidade da p ssoa jurídica, mas a imputação de infrações à p ssoa nalidade. - Um a pessoa m oral, estando desp rovida
jurídica, (a) r solv m a controvérsia teórica assumindo que a pessoa de intenção) não é capaz de perpetrar uma infração
jurídica não 'uma ficção, mas uma realidade capaz der sponsa6ili- intencional Esta infração) necessariamente, é com etida
dade penal, (6) d sco6r m a existência d sanções penais adequadas por uma pessoa física, autor p rincipal.
às empr sas (a dissolução da mpr sa quival ria a pena de morte, A responsabilidade da p essoa m oral não pode, pois, se
por exemplo) e (c) atri6u m às pessoas jurídicas, r sponsáveis p la explicar, senão por um emp réstim o de responsabilidade
produção circulação da riqu za no s ' culo 20, as fonnas mod rnas feito da p essoa física pela pessoa m oral.
de infrações econômicas, ecológicas etc., cuja repressão e prevenção Logo, a hipótese s guint ' indiscutív l: se (a) a pessoa 1noral '
requer sançõ s penais. 38 desp rovida de intenção , portanto, não é capaz de perp etrar uma infra-
1.3.2.2. O argum n e ntrári afirmam ( ) qu ir ito B nal não ção intencional, q u som nt pod s r cometida por u ma pessoa física,
funda m prin ípio utilitários capazes de enfr n ar a criminalidad se (b) a responsabilidade da p essoa m oral só pode s r xplicada como
rnoderna, mas em p rincípios ético garantidore da d ign·dade humana, u m empréstim o de responsabilidade d p ,._.>,nJa. fí i p l p a m al
(6) que infraçó enai não podem er imp tadas d ir tamente às pe o então stá claro também para os frances s qu (a) a pessoa moral não
(in p es d cansei "ncia d ação) , mas soment às p pode praticar crimes (soment a p ssoa física) qu (b) a p ssoa
oro diri nr ou alari d d p as jurí i ( ) qu moral não é capaz de responsabilidade penal (soment a pessoa
criminalização da pessoa jurídica não é compatív 1com os fundam ntos física) , xplicando-s a r sponsa6ilidad p nal por um m ecanismo de
da r spon abilidad p nal, n m com as funçõ atribuídas à pena riminal, emp réstim o da p essoa física para a pessoa jurídica - nada mais.
(d) qu a punição d p ........,,v a.;, jurídicas apres nta problemas mai graves do
que a puniçã d p \...>.,) 'V a.J fí icas: ntrariam prin ípi da p r nalidad
39 Em síntese, essas são a on usõ . d O TE I TRE D CHAMBO D roit
Pénal General. Paris, Dalloz, 2000, p. 198, n. 369 .
36 Ver LARGUIER, D roit Penal. Paris, Dalloz, 2001, 18ª edição, p. 118-9; O R, 40 OYER D roit Pénal et Procédure Penal. Paris, L. .D.J., 2000, 15ª edição, p. 131: "Le
D roit Pénal et Procédure Penal. PaTis, L. G .D.J. , 2000, 15ª edição, p. 130. mécanisme é cel ui de l'emp rum de criminalité. Une personne morale, étant dépourvue
37 T e MAl RE D MB , D roit Pénal General. Paris, Dali -z., o , p. d 'intention, n'est pas capable de perpétrer urze inftaction intentionnelle. Cette infraction,
198, n. 369. nécessair: ment, ést commise par une p er. o,me p hysique ttut ur principal. La responsnbilité
38
im 1 T MAl TRE DU HAMB D roít Pénal General. Paris, Dalloz, de la p ersonne morale ne peut donc s'explíquer que par u n empnmt de criminalité fait à la
2000, p. 198, 11. 369 . personne physique par la personne morale.
Finaln1 nt se ' assim - e, de faro, assiln ' -, então rodo o 2.1. Lesão da técnica legislativa da ei penal
probl ma con i t m t r sido definido indevidam nte, como respon-
sabilidade penal (da pessoa jurídica) o que, reahnence, não constitui m b l i p nal '
n ituí a d n -
r p n abilid d nal m im l efeito da condenação de p ssoas ári d m qu a u "n i d qualqu r d l ar cc riz
físicas por infrações com tida por conta da p ssoa jurídica, como produção 1 gislariva como lei penal: a) o tipo legal, como d scrição
, ,.,
s us orgaos ou representantes. da proibição ou do comando contido no pr c ito, xpr o na fórmula
nullum crimen sine lege; b) a sanção penal, como d t rminação da
cons quência jurídica da culpável violação do preceito, expressa na
1.4. Conclusão sobre a relação pessoa jurídica/crime fórmula nulla poena sine lege. 41
A d monsrração da impos ibilidad ci ntífica m todológica d 2.1.1. A t 'cnica 1 gislativa utilizada p lo L gislador brasileiro, no as-
aplicação do cone iro d crime ao conceito d pessoa jurídica pod P cto sp cífico da penalização da pessoa jurídica p la L i 9605/98,
s r assim formulada: o conceito d crim , r pr sentado p las categorias ' defeituosa: a) as normas p nais são perfeitas para pessoas físicas,
do tipo de injusto da culpabilidade, construído xdusivamente para porque contêm preceito e sanção dirigidos a seres humanos, como
o ser humano, organização biopsíquica capaz d r pr s ntação e d toda l i p nal; 6) as normas penais são imperfeitas para pessoas jurí-
vontade (a) do fato (dolo) - xduído p lo erro d tipo - (6) do (des) dicas porqu cont "m preceito, mas não contêm sanção aplicáv l às
valor do Jato (conhecim nto do injusto) - xcluído ou reduzido p lo p ssoas jurídicas. Logo, não possu m o status constitucional d l i
erro d proibição -, não pode ser aplicado à pessoa jurídica, nem p nal , portanto, não são leis penais para p soas jurídicas.
como definida pela teoria da realidade (ou seja, entidade portadora de A v rificação do d t it ' impl : p nas d multa, d restrição
vontade coletiva ou pragmática produtora da chamada ação institucio- de direitos d prestação de serviços à comunidade, r fi ridas no
nal) nem orno d finid pela teoria da ficção (ou s ja, ntidad s m art. 21 da L i 9605/98, são genéricas indeterminadas- portanto, não
xist"ncia r al), por absoluta incapacidad d produzir os fi nôm nos apresentam os r quisitos d sanfáo penal, nos ntido do Princípio da
psicológicos emocionais exclusivos da pessoa física. L galidad : a) são p nas genéricas porqu a lei p nal não specifica
os tipos legais para os quais comina as p nas resp crivas, d 1nodo
que ninguém abe qual penas apli a qual ripo penal· b) ão penas
2. A pessoa jurídica e o conceito de pena indeterminadas porqu a 1 i não d t rmina os limit s mínimos
máximos de aplicação das p nas cominadas.
Al 'm dos probl mas r !acionados ao conceito de crime (a)
sobr a incapacidade de ação, qu imp d a configuração do tipo 2.1.2. Sobre isso, a dit r nça ntr a l i franc sa (1nodelo do l gislador
de injusto dos crim s dolosos, dos crim s imprudentes dos crim s brasil iro) a 1 i brasil ira, ' im nsa. Por x mplo, o Código P nal
omzsszvos, (6) sobre a incapacidade de culpabilidade, d t rminada francês (a) instituiu a responsabilidade p nal das p ssoas jurídicas (art.
pela impossív l configuração dos el mentos constitutivos do conceito, 121-2), (6) indicou as p nas criminai correcionais contrav ncionais
a critninalização da pessoa jurídica apresenta, m relação ao conceito
de pena, probl mas igualm nt insup ráv is.
41 Ver, entre outros, JE CHE K/WEI END, Lehrbuch des Strafrechts, Allgemeiner Teil,
1996, 5ª edição,§ 7, 1, p. 49 .
A generalidade a indeterminação das penas cominadas infringe cone ito d pessoa jurídica, d finido p la t oria da ficção (SAVI NY)
o princípio da legalidade, expr sso na fó rmula nulla poena sine lege:
afinal, se a lei atribui responsabilidade penal à pessoa jurídica, então
43 Assim,ZA FARO I, inParecer paraoMandadode egurançan . 200 1. 02.01.046636-
8, do Tribunal R ional Federal da 2ª Região,. impetrado por PETRÓLEO
42 Comparar SIR\/ , Tu tela p enal do meio ambiente, 1998, p. 23-26. BRAS ILEIRO IA - PETR BRAS .
ou pela teoria da realidade (GIERKE), não se confunde com o conceito únicos modos pelos quais alguém "concorre para o crime" (art. 29, CP)
de pessoa física - logo, não preenche o conceito de personalidade do são representados pela ação e pela omissão de ação - o que recoloca
princípio constitucional, nem pode realizar o conceito de autor ou a problemática da incapacidade de ação da pessoa jurídica-, então
de partícipe do proc sso p nal: pessoas jurídicas não pod m r alizar a pessoa jurídica não pode, de nenhum modo, concorr r para crim ,
fatos puníveis n m por autoria (direta, mediara ou col tiva) , nem por porque não ' capaz d ação, nem de omissão de ação - fi nômenos
participação (instigação cumplicidade) .44 exclusivamente humanos.
O princípio da personalidade da pena - garantia individual 2.2.2. AI' m dl 1plicação de p na criminal à p ssoa jurídica
contra a xt nsão do pod r punitivo do Estado a p ssoa div rsas do tamb 'm d t rmina 1 são do princípio da personalidade da pena, como
autor ou do partícipe do fato punível (art. 5°, XLV, CR) ou, inver- demonstra a seguint hipót se: acionistas minoritários vencidos em as-
samente, garantia política d ex rcício do pod r punitivo do Estado embléias gerais, ou sócios que não participaram da d cisão no âmbito
xclusivam nte sobr autores partícipes d fatos puníveis-, pressupõ da p ssoa jurídica, são atingidos p la pena criminal dom smo modo
s res humanos de carne e osso se rea1iza no processo p nal atrav's que acionistas majoritários ou sócios qu participarain da decisão. Ess
dos conceitos de autoria e de participação, estruturados com base argumento é banalizado por partidários da criminalização da pessoa
no comportam nto de pe soas naturais, ou s ja, d indivíduos por- jurídica, al gando qu penas criminais também ating m t rc iros,
tadors dos caract r i m~ti d h m m. AI'~ i d como a família ou d pend nt s do réu.45 Essa al gação confund
domínio do fato defin autor s partícipes pelo poder de controlar aplicação ou execução de pena critninal co1n efeitos socioeconómicos d
a realização do tipo de injusto, um critério fundado na int gração das penas criminais sobr a família do cond nado. A pena d privação
dimensões objetiva e subjetiva do comportamento humano. esse de liberdade do réu não significa privação de liberdade da família
sentido, o prono1ne indefinido "quem" do art. 29, do Código Penal ou de dependentes do condenado, assim como restrições de direitos
( do art. 2°, da Lei 9605/98), tem significado semântico in quívoco: do r ' u não significam penas restritivas de dir itos da família ou d
d signa seres humanos. d p ndent s do cond nado te. Os efeitos socioeconómicos da privação
Art. 29, CP - Quem, de qualquer modo, concorre para d lib rdad sobr a família dep nd nte do r ' u riam o m smo
o crime incide nas penas a este cominadas, na medida no ca o d d s mpr go, do nça ou mort do pai/ marido , portanto,
de sua culpabilidade. não r pres nta1n exc ções ao princípio da personalidade da pena,
pr s nt m todas as constituiçõ s mod rnas.
Em suma, se (a) o cone ito d pessoa jurídica não s confund
co1n o conceito d pessoa natural, (b) não preench o conceito de per-
sonalidade do princípio constitucional, (c) n 1n configura o cone ito
d autor ou d partícipe do proc sso penal, então p ssoas jurídicas não
pod m realizar fatos puníveis n m por autoria (em qualquer d sua
45 im H RA Responsabilidade penai da pessoa jurídica, 1999, p. 89-90: "Podem-
fonnas), ne1n por participação, como d 1nonstrado. Mais: se os dois se annfisar esses argumentos iniciando pelo principio da personalidade dtts penas. (. . .) A
Parte Geral do Código Penal prevê penas privativas de liberdade, restritivas de direitos e
multa. Nenhuma delas deixa de, ao menos indiretamente, atingir terceiros. Quando há
44 ã b ante, HE IRA, Responsabilidade penal da pe'SOn jurídi n, 1999, p. 130, uma privação de liberdade de um chefe de família, sua mulher e filhos se vêem privados
form ula o conceito híbrido de co-autoria necessária por autoria mediata, em que a daquele que mais contribui no sustento do lar. (..) Idêntico inconveniente ocorreria se a
empre a seria o autor mediato a p ,a naruraJ o instrumento. pena fosse de interdição de direitos (..). O mesmo argumento é válido para a multa. "
qualidade do fato punível - ou seja, como el mento do cone ito d di curso oficial. Por causa disso, o partidários da criminalização da
crime-, porqu a ntidade incorpór a da pessoa jurídica d provida d
I
pessoa jurídica d stacam a função de prevenção geral positiva da pena
aparelho psíquico capaz de saber e de controlar o que faz do ponto d criminal, d reforço dos valor s comunitários, ou de stabilização das
vista abstrato (imputabilidad ) e do ponto d vista concreto (conh ci- xp ctativas normativas des stabilizadas pelo crim te. 47 - n st caso,
m nto do inju to), ou d con ubstanciar o poder de não fazer o que faz ignorando qu a dün nsão positiva não pode existir s 1n a dimensão
( xigibilidad ), pr ssuposto no cone ito normativo d culpabilidad . negativa de intimidação do criminoso potencial: afinal, o conteúdo
gundo, o cone ito d culpabilidade não pode funcionar aflitivo da p na ' pres u posto da funções d confirmação da validad da
como critério de quantidade da pena criminal da pessoa jurídica: a norma, ou de contradição da n gação da norma às custas do autor te.
aus"ncia dos atributos graduáv is d capacidade de culpabilidade, de 2.4.3. Por último, a prevenção especial negativa d neutralização do
conhecimento do injusto e d exigibilidade de comportamento diverso, condenado mediant privação da liberdade pessoal, é impensável nas
qu informam a culpabilidade, xclui a mais important circunstância pessoas jurídicas: empresas não pod m s r encarceradas. Mais uma
judicial d mensuração da pena-base (art. 59, CP), d cisiva para o v z, os partidário da criminalização da p soa jurídica nfatizam apre-
proc so d individ alizaçáo da p n riminal. venção especial positiva como ressocialização do condenado - de novo
ignorando qu a pr v nção g ral positiva d corr ção do cond nado
pela xecução da p na 8 constitui programa pedagógico jamais r aliza-
2.4. Lesão das funções declaradas do discur o oficial da pena do na pessoa física, impossív l d s r r alizado na p ssoa jurídica. 49
Capítulo 24 711
2.5. Conclusão
714 Bibliografia
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estado d nec s idade 10 II B - efeito das ju uficações 10 l 4
lNDICE ALFABÉTICO REMI IVO - a - ju •fi d 10 II B 2 funda m n das j tifi ções 10 l 2
elementos subjetivos da ação 10 11
B 2.1 •O D P AS CRIMINAIS 19
- elementos objetivos e normativos da ação efe•to da condenação 9 lll
ne ' i, 10 11 B 2.2 - efeitos específicos 19 lll 2
O lgari mo rábi m n grito indi m apí ui lg rim romanos - pos1ç p 'ai d d er 10 II B 3 inabiliraçã para dirigir v í ul 19 III 2
indicam secõ o al ri mo arábi o normai indi am · n . situação justificante 10 II B 1 c
' trito rumprimento de dever legal 1011 - incapacitação para párri poder, rutelaou
- ação ju •ficada 10 11 2 curatela 19 lll 2 b
- cumprimento de orden antijur ídicas 10 perd a de cargo, fu n ção púb lica ou
11 C2.2 mandato d à vo 19 llI 2 a
A! 06 - princípios d a prova p rocessual 22
- ruptura d limic d d er 10 11 C 2.1 efeitos genéricos 19 lll 1
condusõ 6 lV 11 2
- elementos subjetivos 10 II C 3 mét do legal d apUca ·oda pen 19 II
definições do conceito de ação 6 11 princípio da livre valoração da prova 22
- situação j rificanc 10 II C 1 causas especia is d e aumento ou de
m delo causal 6 11 1 II 2 a
exerddo regular de direi.to 1011 D diminuição da pena 19 11 3
- m delo tel lógico (final 6 11 2 princípio ín dubio p ro reo 22 11 2 b
- ação j ·ficada 10 II D 2 circun tâncias agra am e atenuam 19
- conceito 6 II 2.1 princípios d e formação do processo 2211 1
- elememos subjetivos 10 II D 3 II 2
- estrutura 6 11 2 .2 princípio da acusação 22 II 1 b
- siruaçõe justificam 10 II D 1 cir unstân ia.e agravantes 19 11 2.1
regaria trabalho como refundação do princípio da instrução 22 II 1 e
- arua · o pro magistratu 1O 11 D 1 1 - abuso d aut ridad u pr valecimenc
modelo teleológico 6 11 2.3 prin ípio d legalid. d 22 11 1 c
- dir it d íg 10 11 D 1 2 de relaçó dom ' · e . 19 II 2.1 g
- modelo negativo 6 11 4 princípio d oficialidade 22 11 1 a
ju tificaçõ no tipo d imprud ~n ia 1011 F abuso d p d r u viol ão de dever
- m delo pe o 6 II 5 p rin ípio d op rrunidade 22 11 1 d
- consentimento do cinular do bem jurídico ine rente a cargo, oficio et: . 19 ll 2.1 h
m dl ·aJ 6 II3
10 II F 3 embriaguez preordenada 19 11 2.1 m
- mod lo omunicativo 6 II 6 RIDI IDAD E Sfl!FI
- estado de necessid ade 10 li F 2 emprego de veneno, fogo erc. ou outro
funçõe da ação 6 111 10
- legítima defesa 10 II F 1 meio insidioso ou cruel 19 II 2.1 e
del im itação 6 111 3 justmcaçõ 10 II
legítima defesa 10 II A - faci li tar ou assegurar a execução,
- fundam mação 6 lll 2 on ntlm n o do titul do b m jurídi o
- ação j u ti.ficada 1OII A 2 oc raçáo etc. de outro crime 19 11 2.1
- unificação 6 Ili 1 10 II E
- elementos subjetivos 10 11 A 2.1 c
intr dução6 I consemimenco preswnido 10 II E 2
- moderação no emprego dos meios motivo fútil ou mrp 19 II 2.1 b
consentimento r a1 10 11 E 1
A ·or n io 1 li .2 2 - oca! ião de caJamidade pública ou d
22 capacidade e defeito do consentimento
- necessidade dos meios de defesa 1O 11 desgra da vítima 19 11 2.1 1
ação penal 22 lll 1011 E 1 1.3
A 2.1. 1 - reincidência 19 II 2.1 a
- açã penal pri ada 22 Ill 2 di ciplin da Lei 9. /97 10 II E 1 1.2
permissibilidade da legírma defesa 10 tra ição, emboscada, dissimulação
açá nal privada subsidiária 22 llI 2.1 manifestação do consentimento 10 11 E
IIA2.3 ou outro recurso que d ificulte/
- extinção d o dir ito d qu ixa 22 III 2.3 1 1.4
- elementos objetivos 1011 A 2.2 impossibi lite defesa da vítima 19 II
ran m j ão d direito d e queixa 22 lll objeto d o conhecimento 10 11
- parti ularidad · 10 II A 3 2 .1 d
2.2 E 1 1. 1
- excesso de legítima d efesa 10 II vírima sob imedia ta proteção da
açã penal pú bli22 lll 1 problem a da e utanásia 1O II E 3
A3 c autoridad e 1911 2. 1 j
- a •o penal pública condicionada 22 lll ajuda ativa e ajuda passiva do autor
- extensão da j uscificaçáo 1 O 11 A v ir im i zação de ascendente,
1.2 10 II E3.2
36 descendente, irmão ou cônjuge 19 II
- a •o nal pública dever dom 'd i 10 IIE3.2.l
- legítima defesa de outrem 10 11 2.1 f
ação penal pública incondicionada 22 lll di reitos do paciente 10 11 E
A3a vitimizaçã d cri ança mai r d 60
1.1 3.2.2
limita - d m áti d pod r d punir princípios da /ex n.rtis m 'di 10
- si mação j usti.6can te 1O II A 1 an , n6 rm u mulher grávi a 19
teoria d.a antijuridi ·dad 10 l II 2.1 i
221 II E 3 .2.2
introdução 10 l 1 circW1Stâncias agravantes do concurso de
principio constitu ionai do pro es o penal vontad e real e p resum ida d e morrer
- e n.hecime 1co erro nas justificações 10 l p as 19 112.2
22 ll 1011 E 3.1
3 ir ou induzir à execução de crime
9
1m1iírn·mrn
786599 013317
1