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Py rel race 1 RESPONSABILIDADE INTERNACIONAL DO ESTADO POR VIOLAGAO DE DIREITOS HUMANOS André de Carvalho Ramos RESUMO ‘Analisa 0s avangos da responsabilidade internacional do Estado por volagdes de ciritas humanos, na teria e patca. Para tanto, descreve os ‘lemeraas caracterizadores de ais volacdes, bem como as formas de repaazéoe sancéo possves. ‘Alega que. no Brasil o tema passou.a constar da agenda nacional aps 0 reconhecimento da juriscigao obrigatora da Corte Inieramericana de Diretos Humanos. Assim, afrma ser urgente a conscientizacio ce todos os agentes publicos acerca da necessidade de cumprimento dos compromissos imtenacionais assumidos pelo Brasil e da adogao de medidas para preven novas violagdese reparar os danos causados &s vias, PALAVRAS-CHAVE Direto Internacional; Estado; responsabilidade; Corte Intramericana de Dirltos Humanos; Cony Fhumanos; sane; eparac. 140 Americana de Dicltos Humanos; direitos el SSS CE, rsa, 28, . $863, abun. 2005 53 LINTRODUGAO: RESPONSABILIDADE INTERNACIONAL E DIREITOS. HUMANOS C=: ‘undo suas obrigacoes interacionais? Em tese, ha so- mente essas duas op¢des aos Estados, mas varios deles aprovel tama inexistencia de tibunais inter- rnacionais de jurisdicao obrigatoria e criam uma terceira: nao cumprir, mas sustentar (perante 0 publico interno e externo) que cumprem! Essa magica de ilusionista ¢ possivel por ser a sociedade internacional paritaria e descentralizada, na qual o Estadoe, ‘ao mesmo tempo, produtor, destina- tario e aplicador da norma, ou seja, seu intérprete pode descumprir uma brigacao internacional, mas afirmar que, Sob sua dtica peculiar, est cum- prindo-a fielmente. Ocorre que tal liusionismo ja € velho, e 0 truque, co- nhecido, Para combaté-lo, ha um an- tdoto eficaz: a criagao de mecanis- ‘mos jurisdicionais nos quais as con- dutas dos Estados serdo avaliadas por julzes neutros e imparciais, que poderao verificar se o Estado cum- pre a obrigagao previamente acorda- da, Assim, as interpretagoes unilate- rais dos Estados serao apresentadas aos julzes internacionais e, se des- cabidas, nao serao aceitas, ¢0 Esta- do sera condenado por violacao de seus compromissos internacionais. Por isso, varios Estados, inclusive 0 mais poderoso na atualidade, de- ‘monstram receio de aceitar qualquer Jurisdicao intemacional obrigatoria. O pprestidigitador odeia ver seu passe de magica revelado. No entanto, esse ilusionismo ‘nao possui mais espaco notocante a0 Brasil e a Convencao Americana de Direitos Huranos. O Brasil, em 1998, reconheceu a jurisdi¢ao obrigatoria da Corte Interamericana de Direitos Hu- manos, e, assim, submete-se a suas sentengas. J4nao ha lugar para a tra- dicional postura do Estado na maté- ria: ratficar 0s tratados internacionais de direitos humanos e continuar per- mitindo violacoes dos direitos prote- gidos em seu terrtsrio ou, ainda, pos- tergar medidas duras de reforma de legislagoes e de instituicdes para pro- mover e garantir os direitos de sua populagao. Caso 0 Brasil mantenha uma conduta inerte, sera condenado na Corte Interamericana e tera de implementar as senteneas, que podem conter inclusive obrigacdes de refor- ma cle nossa Constituicao. Assim sendo, a responsabili- dade internacional do Estado ganha 54 importancia aos olhos dos estudio- os, na exate medida da adesao a ‘mecanismnos judiciais internacionais de sua afericdo, uma vez que os pai- ses, finalmente, responderao pelos ‘compromissos internacionats vidos, mas violados, devendo reparar os danos causados as viimas ou softer sangbes de coercao. Destarte, vé-se que a respon- sabllidade interacional do Estado Consiste, para parte da doutrina, em Luma obrigacao internacional derepa- ragao em face de violacao previa de rnofma internacional’. Aresponsabil dade ¢ caracteristica essencial de um sistema juridico, como pretende ser osistema internacional de regras de conduta, tendo seu fundamento de Direito internacional no principio da igualdade soberana entre os Estados, Com efeito, todos os Estados reivin- ddicam 0 cumprimento dos acordos tratados que os beneficiam e, por consequéncia, ndo podem recusar-se a cumprir os acordos etratados, uma vez que todos eles so iguais*. Sen- do assim, um Estado ndo pode rei- vindicar para si uma condica0 jurai ca que nao reconhece a outro! Por seuturno, ajurisprudéncia intemacional determinou que arespor- sabilidade internacional do Estado lum principio geral do Direito Interna- cional. Para citar algumas decisoes Judiciais, ve-se que, no caso do S.S. Wimbledon, decidiua entao existen- te Corte Permanente de Justica nter- nacional que o descumprimento de uma obrigacao intemacional gerava a obrigacéo de efetuar reparacao, 0 que, para a Corte, constituia-se em Lum principio de Direto Intemacionaf. ‘A Core Permanente de Justiga In- ternacional consagrou esse principio na andlise dos fatos envolvendo a Fabrica de Chorz6u, determinando que o Estado deve, na maxima ex- tensao possivel, eliminar todas as Consequncias de um ato legal eres tabelecer a sitiacao que existria, com toda probabilidade, caso 0 citado ato nao houvesse sido realizado*. Observadas essas definicoes doutrinarias ejurisprudenciats, consi dderamos, em esséncia, que arespon- Sabiidade internacional do Estado ¢ uma reagao juridica, qualficada como Sendo instituicdo, principio geral de direto, obrigacdo jurdica ou mesmo sitagao juridica pela doutrina e jris- prudénela, pela qual o Direitointer- nacional justamente reage as viola~ {Goes de suas normas, exigindo a pre~ Servagao da ordem juridica vigente por meio da reparacao aos danos causados’. No caso da protecao de direl- tos humanos, nao mais se discute, na atualidade, a forca vinculante do Direito Internacional dos Direitos Hu- manos. Esse ramo do Direito interna- ional consiste no conjunto de dire tose faculdades previsto em normas interacionais, que assegura a digni- dade da pessoa humana e beneficia ‘se de garantias intermacionais institu cionalizadas®. Sua evolucao nessas Ultimas décadas ¢ impressionante: desde a Carta de Sao Francisco de 1945 ¢ a Declaragao Universal dos Direitos Humanos de 1948, dezenas de tratados e convengdes consagra- rama preocupacao intemacional com a protecao de direitos de todos os Individuos, sem distinga0?, Comisso, consolidou-se no Dire Internacional contemporaneo um catalogo de direi tos fundamentais da pessoa; tambem foram estabelecidos mecanismos de supervisao e controle do respeito, pelo Estado, desses mesmos direi- tos protegidos"*. Ao Estado incumbe, entdo, respeitar e garantir os direitos elencados nas normas intemacionais. Por outro lado, o problema grave de nosso tempo, na leitura de Bobbio, nao é mais declarar ou fundamentar os direitos humanos, mas sim prote- gé-los com efetividade, ou seja, implementa-los", Nesse diapasao, podemos observar que, na Declara- Gao ¢ Programa de Agao da Confe- rencia Mundial de Direitos Humanos de Viena de 1993, foi frmado o dever dos Estados de implementar os di- reltos previstos nos tratados e con- vvencées internacionais*, No Progra ma de Agao de Viena ha um capitulo sobre "Métodos de implementacaoe controle”, no qual constam diversas recomendagtes para aumentar 0 grat de aplicacao das normas internacio- nais de prote¢ao dos direitos huma- Porém, resta aberta a ferida, que é a continua violagao das normas internacionais, Afinal, basta uma mera lembranca das diversas situacoes de desrespeito aos direitos humanos no mundo, para se constatar a amplitu: ‘de da missao de implementagao pra- tica dos direitos humanos. Esse novo foco (implemen- tagao dos direitos protegidos) da pro- te¢aointernacional dos direitos huma- nos exige acurada andlise da respon: sabilidade internacional do Estado, gracas a0 institute da responsabil dade internacional do Estado que podemos obsservar como 0 Direito In ternacional combate as violacoes a suas normas juridicas ¢ busca a re- paracao do dano causado. Portanto, CED, Basin. 28, p. $363, abr. 2005 ainternacionalizagao da tematica dos ireltos humanos implicou a concor- dancia com a responsabilizacao in- ternacional dos Estados faltosos. Caberia, logo, a implementacao pra- tica dos citados direitos universais positivados por melo da respon sabilizagao do Estado infrator e de ‘sua condenacéo a repara¢ao do dano. ‘Assim, 0 estudo da protecao internacional aos direitos humanos esta intimamente relacionado ao es- tudo da responsabilidade internacio- nal do Estado, pois tal responsa- bilzacao ¢ essencial para reafirmar a Jutidicidade das normas internacionais ‘de direitos humanos. Com efeito, a negacao dessa responsabilidade acarreta a negacao do carater juridi- coda norma internacional. Além dis- 50, a existencia de regras de respon sabilizacao para 0 Estado infrator tem cefeito de evitar novas violagoes de normas internacionais e, com isso, assegurar 0 desenvolvimento das re- lagoes entre Estados com base na paz ena seguranca coletiva, Destarte, 0 estudo da respon- sabilidade internacional do Estado tambem ganha importéncia na medi- ‘da em que sao justamente os meca- nismos de responsabilizacao do Es- tado que conferem uma carga de ineditismo e relevancia aos diplomas normativos internacionais de direitos humanos"*.O Direito interno brasilei- r0jé reproduz, em linhas gerais, 0 rol internacional dos direitos humanos protegidos, devendo agora o estudo Fecair sobre as formulas internacionais que obrigam o Estado a proteger tals direitos, 2OSELEMENTOS DA RESPONSABILIDADE. INTERNACIONAL, De acordo coma pratica inter- nacional, sao res os elementos da responsabilidade internacional do Estado. O primeiro deles € a existé ia de um fato internacionalmenteili- ito. O segundo elemento ¢ oresul- tado lesivo. O terceiro é 0 nexo causal entre 0 fato e o resultado le- sivo, No caso da protecao internacio- nal dos direltos humanos, 0 ato inter. nacionalmente ilfcito consiste no descumprimento dos deveres basi- cos de garantia e respeito aos direi- tos fundamentais inserides nas deze- nas de convencoes internacionais ralificadas pelos Estados. Ja 0 resul- tado lesivo 6 toda a gama de prejul- 205 materiais e moras causados a vitima e familiares e, quanto ao ter- ceiro elemento, observamos que a CES, Basi, 29, p. 83:63, ben. 2005 imputabilidade consiste no vinculo enire a conduta do agente e 0 Esta- doresponsavel Com efeito, o Estado comete atos violadores do Direito Internacio- nal por intermedio de pessoas e ¢ ‘sempre necessério avaliar quais atos por elas cometios podem vincular 0 Estado'®. Essa operacao de discrimi- nagao entre os diversos fatos do mundo fenomenico é consubstan- clada no conceito juridico de imputa- ‘G0, que, longe de ser uma mera ope- Facao causal natural, ¢ simplesmen- te oresultado de uma analise logica efetuada por uma regra de direito. A imputacdo é um nexo juridico e nao natural entre determinado fato (acao ‘ou omissao) e um Estado. Dessa for ma, nao ha atividade propria de Es. tado, fruto da natureza das coisas. Pelo contrario, a imputacao de certa conduta ao Estado , antes de tudo, uma operagao juridica, Talimputagao ‘ocasiona a responsabilidade do Es- tado por violacao de direitos huma- nos, nao importando a natureza ou 0 tipo de ato. Consequentemente, mes- moa decisao judicial transitada em Julgado ou a norma constitucional ‘podem gerar aresponsabilidade in- ternacional do Brasil. Conforme voto do Juiz Cancado Trindade, cualquier acto u omision del Estado, por parte de cualquier de los Poderes ~ Ejecutivo, Legislative o Judicial - 0 agentes del Estado, independien- temente de sujerarquia, en violacion ‘de untratado de derechos humanos, .genera la responsabilidad intemnacio- rnal del Estado Parte en cuestion’®. Veremos a seguir de que forma os atos dos Poderes do Estado ensejam aresponsabilidade do Brasil SATOS QU OMISSOES QUE ACARRETAM A RESPONSABILIZAGAO INTERNACIONAL DO ESTADO 3.1 RESPONSABILIDADE INTERNACIONAL PELACONDUTA DOPODER EXECUTIVO,COM ENFOQUE ESPECIAL SOBRE OS ATOS ULTRA VIRES E A OMISSAO EM FACE DE ATOS PARTICULARES ‘Sao os atos do Estado-Admi- ristrador, quer comissivos ou omis- sivos, que ensejam, em geral, a res: onsabilidade internacional por viola- ‘Gao de direitos humanos, uma vez que Gabe ao Estado respeitar e garanti ais direitos. Essas duas obrigacoes bas cas ensejam a responsabilizacao do Estado quando seus agentes violam direitos humanos ou se omitem, injustificadamente, na prevencao ou repressao de violagoes realizadas por particulares". Nesse sentido, estabe- leceu a Corte interamericana de Dir tos Humanos ser imputavel ao Estado toda violagao de direitos reconhecidos pela Convencao Americana de Direi- tos Humanos realizada por ato do Po- der Publico ou por pessoas ocupan tes de cargos oficiais™. Por outrolado, ha dois aspectos crticos da respon- sabilidade internacional do Estado por ato do Poder Executive que merecem atengao. O primeiro refere-se a con duta de um agente pablico atuando de modo ultra vires; 0 segundo diz respeito a ocorrencia de um ato de particular, mas que ¢imputado a0 Es- tado pela omissao injustificada dos agentes publicos, ( ato uttra vires de determina- do orgao estatal deve ser atribuido ‘a0 Estado em razao de sua propria conduta, ao escolher agente que ul- trapassou as competencias oficiais do 6rgao, Os funcionarios exercem 0 poder somente porque estao a servi- G0 do Estado, que deve, entéo, res- ponder pela escolha daqueles””. 0 Estado responde por ato ultra vires como consequencia de estar 0 ato sob autoridade aparente do funciona (...) oestudo da protecao internacional aos direitos humanos esta intimamente relacionado ao estudo da responsabilidade internacional do Estado, pois tal responsabilizacao ¢ essencial para reafirmar a juridicidade das normas internacionais de direitos humanos. Com efeito, anegacao dessa responsabilidade acarreta a negacao do cardter juridico da norma internacional 55 rio ou como consequencia de ter sido praticado 0 ato (apesar de clara falta de competencia do agente para as sim atuar) em virtude dos meios disponibilizados ao agente pelo Es- tado”. A leitura dos casos internacio- nais de violacdes de direitos huma- nos demonstra serjustamente a atua~ (680 ultra vires, abusiva e arbitréria, que acarreta, em geral, a responsa- bllidade internacional por violacao de direitos protegidos®. No caso de atos de particula- res, observa-se que, em determina das hipoteses, o ato de um mero par- ticular pode acarretar a responsabil- ‘dade intemacional de Estado. O pon- torelevante € a responsabilizacao do Estado quando seus orgos sa0 omis- 0s quanto & realizacao dos atos de particulares. Essa omissao consiste ho descumprimento de um de dois everes: dever de prevencao ou de- ver de puni¢ao. Foi o que decidiu a Corte Interamericana de Direitos Hu- manos no caso Godinez Cruz, in verbis: Com efoto, um fatoinicialmen- tendo 6 imputavel diretamente aum Estado, por exemplo, por ser obra de um particular..., pode acarretar a res- ponsabilidade internacional do Esta- do, ndo por esse fato em si mesmo, mas porfata da devida diligéncia para prevenir a violacdo (..)*.Essa devi- da diligencia constitui um agir razoa- vvel para prevenir ou punir situacoes de violagao de direitos humanos”. A prevencao consiste em medidas de Carater juridico, politico e administra- tivo, que promovam 0 respeito aos direitos humanos ¢ que sancionem os eventuais violadores®*, Na falta des se agir razoavel de prevenir ou punir 0 infrator, 0 Estado deve reparar os danos causados, podendo, ¢ claro, cobrar regressivamente do particular que cometeu o ato. Um dos casos mals famosos contra o Brasil, nasins- tancias internacionais, 0 caso José Poreira, 6, na esséncia, de respon sabilizagao internacional por ato de particular. O Brasil reconheceu sua Fesponsabilidade por ter-se omitido ‘em prevenir o trabalho escravo e por nao ter conseguido punir os respon- sdveis por essa pratica odiosa, gra- as a falencia de nosso sistema de justica penal e do obsoletismo de ‘nossa estrutura legal de persecucao penal 3.2 RESPONSABILIDADE INTERNACIONAL PELACONDUTA DO PODER LEGISLATIVO: O CONTROLE DE CCONVENGIONALIDADE DE LEISE DACONSTITUIGAO 56 Nada impede que uma et apro- vada pelo Parlamento local viole os tos humanos. Portanto, mesmo se asleis tiverem sido adotadas de acor- do com a Constituicao, ¢ em um Es- tado democratico, sso nao as exime do confronto com os dispositivos in temacionais de protecao aos direitos humanos®. A razao de ser do Direito Intemacional dos Direitos Humanos ¢ justamente oferecer uma garantia sub- Sididria e minima aos individuos, em especial 8s minorias Forma-se, entao, 0 chamado “controle de convencionalidade de eis perante 0 Direito Internacional dos Direitos Humans”. Ha o crivo direto de leis internas em face da norma- tividade internacional dos direitos humanos, na medida om que sua aplicagao possa constiuirviolacao de um dos direitos assegurados pelos tratados de direitos humanos", No caso Suarez Rosero, a Corte Inter- americana de Direitos Humanos es- labeleceu que o art. 114 do Codigo Penal equatoriano, ao privar os acu- ssados de taficoilegal de entorpecen- tes ilegais da garantia judicial da du ragao razoavel do processo, violou 0 at 2° da Convengao Americana de Direttos Humanos. De modo inovador, a Corte Interamericana de Direitos Humanos decidiu que a violacao da Convencao Americana de Direitos Humanos ocorre mesmo sem api cacao conereta do ctado art. 114.04 seja, @ Corte proferiu uma decisao analisando, em abstrato, a compat bilidade de determinado dispositive legal com a Convencao Americana de Direitos Hurranos®. O Estado 6, as- sim, responsavel pelos atos dolegis- lador, mesmo quando ndo toma qul- quer medida concreta de apiicacao da citada norma, Basta a possibili- dade de aplicacao dai. E, no caso de auséncia desta, aresponsabilida ‘de do Estado também ¢ concretiza- da, tendo em vista 0 seu dever de asSegurar os direitos humanos. Bus- ca-se, comisso, o aumento da prote 40 20 individuo, ja que a mera edi: a0 de lei (auto-aplicvel ou nao) de- monstra descumprimento da obriga- a0 internacional de preven¢ao, ndo Gevendo ser esperada a concre: tizagao do dano ao panticular®. Como consequéncia do ja ex posto, mesmo normas constitucionals podem ser sujetas a um controle de onvencionalidade por parte de uma instancia internacional de direitos hu- manos, como ocorreu no caso Open Door and Dubin Well Woman, daCor- te Europeia de Direitos Humans”, ou no caso da censura ao filme A Uttima Tentagao de Cristo, no qual Chile foi condenado pela Corte Inter americana de Direitos Humanos a al- terar 0 art. 19 de sua Constituicao, que violava aliberdade de expressao garantida na Convencao Americana de Direttos Humanos*. Assim, cami- nha-se para a mesma soluco dada a0 ato legislative comum. As instan- Cias internacionals apreendom as leis internas, inclusive as normas consti- tucionais, comomeros atos, analisan- do se houve ou nao violacao das obri- {gacoes internacionais assumidas pelo Estado™. 8.3 RESPONSABILIDADE INTERNACIONAL PELACONDUTA DO PODER JUDICIARIO, COM ENFOQUE ESPECIAL SOBRE A IMPUNIDADE DOS VIOLADORES DOS DIREITOS Para 0 Direito Internacional, ato judicial 6 um fato a ser analisado como qualquer outro®. A respor sabilizagao internacional por violacao de direitos humanos pela conduta do Poder Judiciario pode ocorrer em duas hipsteses: quando a decisao Judicial ¢ tardia ou inexistente (no ‘caso da auséncia deremédio judicial) ou quando a decisao judicial é tida, no seu mérito, como violadora de di reito protegido* Na hipotese de decisao tardia, ‘argumenta-se que a delonga impede Uma presta¢ao jurisdicional uti e efi- caz. A doutrina consagrou a expres: 40 "denegacao de justica” (ou deni de justice), que engloba tanto a inexistencia do remédio jucicial (re- cusa de acesso ao Judiciario) como as deficiencias deste, o que ocorre, por exemplo, quando ha demora na prolacao do provimento judicial devi do ou quando inexister tribunais™, Um exemplo interessante de dene ‘gacao de justica analisado por érgaos internacionais de direitos humanos foi ‘caso Genie Lacayo, no qual a Nica ragua foi acusada pela Comissao Interamericana de Direltos Humanos de delonga injustificada na prolaao de sentencas contra os responsaveis pelo desaparecimento e morte de Jean Paul Genie Lacayo™. A Corte Considerou que a morosidade judicial {e conseqdeente impunidade dos au ores do delita) violava a Convencao ‘Americana de Direitos Humanos”. “Jé a segunda hipotese de vio- lagao de obrigacao internacional por ‘ato judicial ocorre quando a decisa0 judicial, em seu mérito, éinjusta e vio- la direito internacionalmente protegi- do. A hipotese abre espaco para uma CEL, asian. 28, p. 53-63, abt. 2005, valora¢ao internacional doIitigiodife- rente da valoracao interna, Talresponsabilizacao do Esta- do por ato judicial sempre foi tema explosivo € merecedor de crticas, ‘Alega-se que nao depende do Poder Executivo a “aceleracao" de proces- sos udiciais demorados (no caso de delonga) ou a reforma de decisbes Judiciais consideradas “injustas’, em Virtude das normas constitucion: insttuidoras da separacao dos Pode- res, Tais alegacoes S40 encontradas em diversas passagens de manifes- tagoes de Estados, em especial no campo ora em estudo, da responsa- biidade internacional por violacao de direitos humanos. Por exemplo, no caso Villagran Morales (0 caso dos meninos de ra), a Guatemala, Esta- do-réu, alegou, ém sua defesa quan- to a violacao do art. 25 da Conven- ‘cao Americana de Direitos Hurnanos (direito a protecao judicial), que tal violagao fora ocasionada pelo Poder Judiciério, o qual seria "independen- te" do Poder Executivo, Todavia, n8o 6 0 Poder Executivo 0 ente responsa~ bilizado por descumprimento de obri- {gacao internacional, mas sim 0 Esta- do como um todo, no qual se inciul, por certo, também o Poder Judicia fio, Por sua vez, decidiu a Corte Interamericana de Direitos Hurnanos que es un principio basico det derecho de la responsabilidad inter- nacional del Estado, recogido por el ‘Derecho intemacionaldelos Derechos Humanos, que todo Estado es inter- rnacionalmente responsable por todo y cualquier acto u omision de cualesquiera de sus poderes u ‘erganos en violacion de los derechos intemacionalmente consagrados*.No mesmo sentido, sustentou 0 Juiz Cangado Trindade, em voto concor- rente, que la distribucion de competencias entre los poderes y ‘érganos estatales, yel principio de ia separacion de poderes, aunque sean de la mayor relevancia en el émbito del derecho constitucional, no condicionan la determinacion de la responsabilidad internacional de un Estado Parte en un tratado de derechos humanos *. Quanto ao caso da decisa0 ju- dicia injusta ou contraria aos direitos humanos, ¢ comum a alegacao de respeito a coisa julgada como escu- saa responsabilizacao do Estado por violacao de direitos humanos. Essa escusa baseia-se no cardter imutavel que adquire uma sentenca judicial transitada em julgado, insuscetivel, por definicao, de ser alterada pornova apreciacao do caso. Todavia, ene- CE), Beal 29,p. $3-63, tun, 2005, cessario que se assinale, de maneira lara, que, para 0 Direito Internacio- nal, ha a constatagao da responsabi: lidade do Estado por violagao de di- reitos humanos, em vitude de qual: quer fato a ele imputavel, quer judi- cial ou nao, devendo o Esiado implementar a reparacao porventura acordada. Assim, 0 6rgao internacio- ral que constata a responsabilidade internacional do Estado nao possuio carder de um tribunal de apelacao ou cassacao, contra 0 qual possa ser ‘posta a excecdo da coisa julgada ©. Logo, quando analisa aresponsabili- dade internacional do Estado nao fica sujeito as limitacdes de um tribunal nacional (que deve respeitar a coisa Julgada local), mas somente aquelas Impostas pelo Direito Internacional. ‘Afinal, uma analise mais acu- rada do instituto da coisa julgada, que fundamenta a pretensa imutabilidade das decisoes internas, demonstra a impossibilidade de utilizarmos tal ins- tituto em sede internacional, ja que seria necessaria a identidade de par- tes, pedido e causa de pedir entre a causa locale a causa internacional, 0 que nao ocorre. Na juriscicao interna Clonal, as partes eo conteuido da con- troversia $80, por definicao, distintos dos da jurisdicao intera, Nesta, ana~ lisa-se se determinado individuo vio- loutelintema, por exemplo, cometen- do certo delito, enquanto na jurisdi ‘¢a0 internacional discute-se a possi- ‘vel conduta violadora do Estado dian te de suas obrigacdes intemnacionais, tendo o Direito Internacional como nova causa de pedir, podendo gerar decisao internacional oposta 8 deci- 540 judicial interna, Portanto, as instancias intema: clonais nao reformam a decis4o inter- na, mas sim condenam 0 Estado in- frator a reparar o dano causado ®.No caso Cesti Hurtado, a Corte Inter- ‘americana de Direitos Humanos refu- tou a excecao preliminar de coisa Jjulgada apresentada pelo Estado pe- ruano. De fato, 0 Peruargumentou que a pena privativa de liberdade impos: ta ao senhor Cesti Hurtado revestia- se do manto da imutabilidade, ja que ‘a sentenca penal condenatéria tran- sitara em julgado. Considerou o Peru talsentenca comoitreversivel, deven- doa Corte arquivar o caso. Entretan- to, a Corte reconheceu que, para 0 Direito Internacional dos Direitos Hu- ‘manos, naoha identidade de deman- das, como visto acima, sendo impos- sivel a alegagao de res judicata *. Com isso, a possibilidade de um Estado ser condenado internacio- nalmente a reparar violacao de direi tos humanos perpetrada pelo Poder Judiciario deve ser aceita de maneira natural, mesmo diante de eventuais resistencias internas. Resta analisar o sensiveltema da impunidade, relacionado por cer- to com a atividade judicial criminal. Impunidade, conforme o conceito da Corte Interamericana de Direitos Hu- manos, ¢ a falta, em seu conjunto, de investigagao, persecucao criminal, condenagaoe detencao dos respon: sveis pelas violacdes de direitos humanos*. ‘A Conferéncia Mundial de Di- reitos Humanos de Viena de 1993 dis Cutiu profundamente a impunidade, que serve como estimulo certo de novas violacoes. No § 60 do Progra- ma de Acao, ficou estipulado que os Estados devem ab-rogar leis con- ducentes 2 impunidade de pessoas responsaveis por graves violacoes ce direitos humanos, como a tortura, € ‘punir criminalmente essas violacdes, proporcionando, assim, uma base sslida para 0 Estado de Direito®.Com isso, existe o dever do Estado de re- primir a impunidade por todos os meios legals disponiveis, evitando a repeticao cronica das violacoes de direitos humanos. Para dissipar qual- Para o Direito Internacional, o ato judicial é um fato a ser analisado como qualquer outro. A responsabilizacdo internacional por violacao de direitos humanos pela conduta do Poder Judiciario pode ocorrer em duas hipdteses: quando a deciso judicial ¢ tardia ou inexistente (no caso da ausencia de remeédio judicial) ou quando a decisao judicial ¢ tida, no seu meérito, como violadora de direito protegido. 57 quer dtivida, rago a colagao impor- tante passagem de sentenca da Cor- te Intoramericana de Direitos Huma- nos, na qual folrealcado que 0 Esta- do tem a obrigacao de combater tal situa¢o fimpunidade] por todos os ‘meios legals disponiveis, j8 que a impunidade propicia a repeticéo cro- nica das violagdes de direitos huma- ros @ a total falta de defesa das vit mas @ de seus familiares Logo, talvez para espanto de alguns, a a¢ao penal ¢ considerada um dever fundamental do Estado, ‘especialmente necessétio para a pre- vencao de crimes contra os direitos humanos, na medida em que seus violadores ndo mais terao a certeza da impunidade"”.Desse modo, a in- vestigagao de fatos e a persecugao criminal dos responsaveis por viola- oes de direitos humanos decorrem da obrigacaode assegurar orespel- toaesses direitos. No Brasil, Flavia Piovesan sustenta que, (.) em um Estado democratico de Direto, a vit- ‘ma de um crime tem o direito funda- ‘mental proto¢ao juctical,néo poden- doa lei exclu da apreciagao do Po- der Judiciariolesa0 ou ameaca a di- reito (como prevé a propria Consttui- 40, no artigo 5°, XXXV). Ensina, ‘com a habitual maestra, a ctada Pro- fessora: Ao principio do livre acesso 20 Poder Judiciario conjuga-se 0 de- ver do Estado de investigar. proces- sar e punir aqueles que cometeram delitos®. Sendo assim, 0 Estado pode ser também responsabilizado pela omissao.em pun, o que carac- terizaria denegacao de justica, com © nascimento da sua responsa- bilizagao internacional. A ausencia de punigao aos agressores geraria, no minimo, um dano moral a vtima ou a sous familiares. Nesse diapasio, a Corte interamericana de Direitos Hu- manos ja decidiu que a ausencia de investigacao por parte das autorida- des publics gera um sentimento de inseguranca,frustracao @ impotencia, que coneretiza o dano moral" E necessétio mencionar que a cobrigacao de investigar e punir é uma obrigacao de meio e nao de resulta- do, conforme jé reconheceu reitera- damente a Corte Interamericana de Direitos Humanos. Assim, provado que 0 Estado brasileiro, por meio do Ministerio Publico, desempenhou a Ccontento seumister, mesmo como fra ‘casso das investigacoes, o Estadonao ser responsabilizado por sso™. AAREPARAGAO 4. CONCEITOE RESTITUIQAO NA INTEGRA 58 Areparacao ¢ conseqaencia maior do descumprimento de uma obrigacae internacional. Logo, aque- le Estado que descumpriu obrigacao internacional prévia deve reparar os danos causados®. Porreparacaoentenda-se toda qualquer conduta do Estado infra torpara eliminar as consequencias do fato internacionalmente ilicto, o que ‘compreende uma série de atos, inclu- sive as garantias de nao-repeticao. Com isso, oretomo aostatus quo ante € aessencia da reparacao, mas nao exclui outras formulas de reparacao do dano causado, ‘Anecessidade de reparacao foi _amplamente mencionada em diversos textos internacionals de direitos hu- manos. Com efeito, a Declaragao Uni- versal de Direitos Humanos, peca- chaveno arcabouco internacional pro- tetor dos direitos humanos, estabele- ce que toda pessoa vitima de viola- (Gao de sua esfera juridicamente pro- tegida tem direito a um recurso efeti- vo perante os tibunaisnacionais, para aobtencao de reparacao. No seio da Organizacao das Nacoes Unidas, Gite-se 0 trabalho desenvolvido por Theo Van Boven, relator especial da Comissao de Direitos Humanos para aredacao de resolucao contendo os Principios Basicos do Direito a Repa- racao das Vtimas de Violagoes de Direitos Humanos e do Direito Inter- nacional Humanitario™. Inicialmente, a vitima tem o di- reito de exigir do autor do ato interna- nalmente ilicito a restitutio in integrum, ou seja, 0 retomo ao status quo ante. Essa forma de reparacaoé Considerada pela doutrina e jurispru dencia internacional a melhor férmula na defesa das normas internacionais, Ja que permite a completa eliminacao ‘da conduta violadora e de seus efei- tos. Busca-se, prioritariamente, por meio dos mecanismos da responsa- bilidade internacional do Estado, 0 retorno a situacao internacional ante- Tior a violacao constatada**. No caso de violagoes de direitos humanos, a pprimazia do retomo ao status quo ante 6 de grande importancia, ja que os direitos protegidos referem-se, por definigao, a valores fundamentais & dignidade humana, sendo dificil a preservacao desses valores pelo uso de formulas de equivalencia pecu- niatia, Tals formulas, entao, s6devem ser utiizadas como ultina ratio, quan- ‘do 0 retorno ao statu quo ante for im- possivel. ‘Aeliminagao de todos os efei tos da violacao.é uma tarefa herculea, que leva a reparacao do dano emer- gente e dos lucros cessantes. Atual- mente, discute-se uma nova concep- cao de lucros cessantes © danos emergentes, que seria mais adequa- daa dimenséo da protecao intemacio- nal dos direitos humanos. Essa nova concepeao denomina-se "projeto de vida" e vem a sero conjunto de op- 0es que pode ter o individuo para Gonduzir sua vida e alcancar 0 desti- no.a que se propoe*. Esse concelto € distito do conceito de dano emer. gente, jé que néo corresponde a le- 50 patrimonial derivada imediata © diretamente dos fatos. Quanto aos lucros cessantes, observamos que estes se referem a perda de ingres- sos econémicos futuros, o que é pos- sivel quantificar a partir de certos in- dicadores objetivos. J4 0 projeto de vida diz respeto toda realizacao de umindividuo, considerando-se, além dos futuros ingressos economicos, todas as variavels subjetivas, como voca¢ao, aptidéo, potencialidades © aspiragoes diversas, que permitem razoavelmente determinar as expec: tativas de alcancar o projeto em si. ‘Assim, as violacoes de dire tos humanos interrompem o previsi- vel desenvolvimento do individuo, mudando drasticamente o curso de sua vida, impondo muitas vezes cir unstancias adversas que impede ‘a concretizacode planosque alguem formula e almeja realizar. A existen cia de uma pessoa ve-se alterada por fatores estranhos a sua vontade, ‘que the a0 impostos de moco arbi trario, muitas vezes violento, einvaria- velmente injusto, com violacao de seus direitos protogidos e quebra da confianga que todos possuem no Es: tado (agora violador de direitos hu- manos), criado justamente para a busca do bem commu. Por outro lado, 0 Direito inter- nacional nao aceita a impossibilida de do Direito interno como justificat va para onao-cumprimento da repa ‘aco. Pelo contario, exige-se a acap- taco do Direito interno e a elimina ‘cao das barteiras normativas nacio: nals com vistas & plena execucao da reparacao exigida. No sistema inter- americano de prote¢ao dos direitos humanos, 0 Juiz Cancado Trindade declarou em voto concorrente queno existe obstaculoo imposibilidad jur- dica alguna a que se apliquen directamente en el plano de Derecho interno as normas internacionales de proteccion, sino o que se requiere es ‘a voluntad (animus) del poder pabil- 0 (sobretodo eljudicial) de aplicarias, fen medio a la comprension de que de ese modo se estara dando expre- CES, Basan. 2, p. 53-63, abun, 2005, sion conereta a valores comunes su- Periores, consustanciados en la salvaguardia eficaz de los derechos humanos®. 4.2ACESSACAO DOILICITO Estado violador de obriga- .¢80 internacional deve interromper imediatamente sua conduta ilicita, sem prejulzo de outras formas de re- paracao. A cessacao da conduta Violadora do Direito Internacional 6 considerada exigencia basica para a completa eliminacao das conse- quéncias do fatoilcito internacional, podendo servir como preservacao do ‘comando da norma primaria median- te a utiizacdo das normas secun- datias da responsabilidade internacio- nal do Estado®. Com efeito, a violagao de nor- ma de Direito Internacional pode ensejar, se aceita pelo Estado lesa- doe pelos Estados da comunidade internacional, uma modificagao do proprio Direlto Internacional. Nesse sentido, a cessacao da conduta il- cita interessa a todos os Estados que nao desejem a alteracao da norma internacional para 0 sentido obtido pela violacao. Assim, em termos teo- Ficos, a cessacao da conduta ilicita esté na encruziihada entre as normas primarias e as normas secundarias de responsabilidade internacional do Estado. No caso de violagoes de direi- tos humanos, como 0 de detengao arbitraria ou ilegal, 6 certo que otem- po de prisao influenciara na repara- ¢80 dos danos materiais e morais Sofridos pelo detento. Como exemplo de reparagao mediante a cessacao do ilicito, cite-se 0 caso Loayza Tamayo, no qual a Corte Interame- ricana de Direitos Humanos decidiu pela libertacao da Sra. Maria Elena Loayza Tamayo em um prazo razo vel. A Corte profatou sua decisao em 17 de setembro de 1997, atestando a llegalidade da detencao da Sra Tamayo, ¢, em 16 de outubro de 1997, Estado peruano cumpriu tal deci sao, libertando a vitima®, 43 SATISFAGAO A satisfagao € considerada come um conjunto de medidas, aferidas historicamente, capazes de fornecer formulas extremamente fle- xiveis de reparagao a serem esco- Ihidas, em face dos casos concre- internacional. Entao, a satisiacao nao é definida somente elas formas de dano que visa repa CES, Basti, 29, p. 3-63, trun. 2008, rar, mas tambem pelas formas tradi- Clonais que assume®. Logo, podemos citar tes mo- dalidades distintas de satisfacao ad- mitidas na pratica historica do Direito Internacional ‘A primeira ¢ relativa a deciara- G0 da infracao cometida e possivel demonstracao de pesar pelo fato. Nessa categoria incluem-se as obri- ga¢des do Estado violador de reco- nhecer a ilegalidade do fato e decla- rar seu pesar quanto ao ocorrido. ‘Asegunda modalidade consis- te na fixagao de somas nominais indenizacao punitiva, os chamados “punitive damages", nos casos de sérias violacoes de obrigacao inter- nacional. O valor a ser pago, entéo, seria proporcional a gravidade da ofensa. No caso das violacdes de di- reitos humanos, cabe aqui a ressalva de que toda a quantia apurada deve ser revertida a vitima: Aterceira modalidade refere-se as diversas obrigacoes de fazer, no inclusas nas categorias acima men- cionadas, que permitem um amplo leque de escolha ao juiz internacio- nal, como veremos a seguir® De fato, ha uma série de obri .gacoes de fazer que servem parare- parar adequadamente as vitimas de violagées de direitos humanos, sen- do abarcadas pelo elastico conceito de satisfacao visto acima A primeira delas é a reabili- tagao, que vem a ser o apoio meci coe psicologico necessario as viti- mas de violacoes de direitos huma nos. A reabiltacao pode ser feita mediante reinsergao da vitima no meio social, através do retomo.a seu trabalho, coma anulagao de todos os registros desabonadores oriundos da violacao constatada de seus direitos. No caso Loayza Tamayo, a vitima solicitou que a Corte Interamericana de Direitos Humanos ordenasse sua reincorporacdo a todas as atividades docentes de carater publico que exer- cia antes de sua detencao ilegal. A Conte decidiu, entao, queo Peru esta obrigado a realizar todas as gestdes necessarias para reincorporar a vit- ma a suas atividades docentes ante- riores a detencao. Também ordenou ‘a anulaco de quaisquer anteceden- tes penais da vitima, estabelecendo, ‘lem disso, que nenhum efeito nega- tivo poderia ser-Ihe oposto em virtu de de sua detencao™ A segunda espécie de obriga- cao de fazer vista na pratica interna~ ional ¢ o estabelecimento de datas comemorativas em homenagem as vitimas. Finalmente, ¢ possivel pre- vver a obrigacao de inciuir em manuais escolares textos relatando as viola: 0es de direitos humanos. Por seu tumo, a preocupacao com a educa a0 ea saude dos filhos das vitimas tem gerado interessantes obrigacoes, de fazer, tais quais as observadas no caso Aloeboetoe, no qual a Corte Interamericana de Direitos Humanos determinou a abertura de um posto médico e escolar na comunidade it digena a qual pertenciam as vtimas*. 4.4 INDENIZAGAO No caso dea violagao nao po- der ser completamente eliminada pelo retorno ao status quo ante, deve 0 Estado violador indenizar pecuniaria- ‘mente a vitima pelos danos causados. Aindenizacaotem-se mostra- do como a forma corrente de repara cao de violacdo de direitos humanos, Porque possibilta reparar a lesao por meio do pagamento de valores pecuniarios* Aindenizacao deve ser utiiza- da como forma complementar aresti- tuicao na integra, se esta ultima for insuficiente para reparar os danos constatados. Como jé vimos, a inde- nizacao so deve ser aplicada como Com efeito, a violacao de norma de Direito Internacional pode ensejar, se aceita pelo Estado lesado e pelos Estados da comunidade internacional, uma modificacao do proprio Direito Internacional. Nesse sentido, a cessacao da conduta illcita interessa a todos os Estados que nao desejem a alteragao da norma internacional para o sentido obtido pela violacao, 59 forma de reparacao caso seja cons. tatada a impossibilidade material do retomo ao status quo ante, Somente ‘quando for impossivel o gozo do di reito ou liberdade violados, deve a indenizacao ser 0 conteudo da repa: ragao devida®, No caso Sudrez Rosero, por exemplo, a Corte Interamericana de Direitos Humanos decidiu ser impos- sivelo retorno ao estado anterior, vis- to sera demanda relativa ao direito & liberdade e a um proceso de dura- (cao razoavel. Logo, a violagao de tais direitos fol reparada, no entender da Corte, pelo pagamento de uma justa indenizagao. Segundo aquele orgao, es evidente que en el presente caso a Corte no puede disponer que se garantice al lesionado en el goce de Su derecho o libertad conculcados. En cambio, es procedente la repara- cion de las consecuencias de la situacion que ha configurado la violacion de los derechos espectficos eneste caso, que debe comprender una justa indemnizacién y el resar- cimiento de los gastos en que la victima o sus familiares hubieran incurrido en las gestiones relaciona- das con este proceso". Essa impossibilidade material existe também no tocante @ repara~ G0 dos danos morais. Na classica decisao do caso Lusitania, a decisao final sustentou a existéncia de danos morais, salientando que o fato de se- rem dificeis de mesurar em termos monetarios nao os tornam menos reais e nem proporcionam uma razao pela qual a vitima ou seus familiares hao possam ser compensados, a0 ‘menos financeiramente® {45 AS GARANTIASDE NAO: REPETIGAO As garantias de nao-repeticao consistem na obtencao de salvaguar- das contra a reiteracao da conduta Violadora de obrigacao internacio- nal. Sendo assim, as garantias de nao-ropetigao nao sao aplicavels a todo ato itemacionaimenteilcto,so- mente quando oxiste @possibildade da repeticao da conduta E importante ainda ressaltar que todas as outras formas de repa- racaotambem possuem, de maneira feflexa, um aspecto preventivo. O Carater autonomo dessa forma de re- paracdo repousa na sua naturezaex- Clusivamente preventiva de novos ‘omportamentos licitos, sendo, por Suto lado, uma verdadeira forma de repara¢ao, pois exige uma prévia Vi lacao de obrigacao internacional 60 No tocante ao tema em estu- do, ve-se que, diante da gravidade das condutas Ge violacao de direitos humanos, pode ser fixado o dever do Estado de investigar e punir 0s res- ponsaveis pelas violacoes, de modo a evitar a impunidade e prevenir a ocorréncia de novas violagoes. Tal objetivo de prevencao da ocorrencia de novas violacbes insere o chama- do “dever de investigar, processare uni” como forma de garantia de nao- repeticao, ‘A Corte Interamericana de Di- reltos Humanos, no célebre caso Velasquez Rodriguez, sustentou que tal dever de investigar, processar e unir ¢ fruto do disposto no art. 1.1 da Convengao Americana de Direitos Humanos®. Ora, tal artigo impoe aos Estados a obrigacao de garantir ores: peito aos direitos protegidos pela Conveneao, 0 que significa dizer que abe aos Estados prevenir a ocoren- cia denovas violagoes, Assim, 0 “dever de investigar, processar e punir” imposto corriquei- famente aos Estados contratantes da Convencao pela Corte Interamericana de Direitos Humanos, desde os cha- mados casos hondurenhos, é moda- lidade de "garantia de nao-repeticao™. Conforme ja expus em livro anterior, a questa da investigacao e punicao enquanto reparacao especi- fica de violacao de direitos humanos aponta para a necessidade de pre- vencao de futuros abusos. Como se sabe, uma sociedade que esquece suas violacées presentes e passadas de direitos humanos esta fadada a repeti-las®, Para Jete Jane Fiorati, a Corte demonstrou, assim, que éde- ver dos Estados prevenir, investigar punir as violacdes dos direitos con- sagrados na Convencao" 5 AS SANQOES ‘A comunidade internacional pode langar mao de sancoes para coagir 0 Estado a respeitar os direi- toshumanos, alcados agora ao status ‘de obrigagao internacional. A sano unilateral ou contra- medida ¢ conduta de um Estado, que. endo fosse justiicada como reacao a prévia violacae de obrigacao inter: nacional por parte de outro Estado, seria, por seu tuma, icita em face do Direito Internacional”. O uso de contramedidas na defesa de direitos humanos ¢ polemico e questionavel, pois surge 0 perigo do abuso de poder por parte de Estados mais for- tes, redundando em seletividade e double standard. Tal risco de mani pulaca0 da defesa dos direitos huma- hos pode erodir a legitimidade do tema no cenério internacional”. Por outro lado, as sancées co- letivas so aquelas oriundas de or- ganizagées internacionais e visam Coagir os Estados infratores a cum- prir obrigagdes internacionais viola- das. Cabe a cada organizaga0 inter- nacional identficar a violaga0 da obri- _ga¢ao intemacional pelo Estado infra {ore adotar as medidas de reacao e suas formas de implementacao”. Por sangées das organizacoes intemacio- nais entenda-se toda medida adota- dda em reacao a violaco prévia de obrigagao internacional, quer tenha a medida carater de mera retorsao (ou seja, danosa aos interesses do Estado infator, porémlicta aos olhos do Direito Intemacional) ou de repre- sélias (medida que seria iicta, caso nao houvesse sido tomada em rea- {¢40.a0 comportamento icito anterior do Estado infrator. No caso interamericano, que interessa ao Brasi, cabe lembrar que © golpe haitiano foi o impulso final para a redacdo do Protocolo de Washington de 14 de dezembro de 1992, que reformou a Carta da OEA. Gragas a esse Protocolo, deu-senova redacao ao art. 9° da Carta, permitin- dosuspender qualquer Estadomem- bro cujo governo tenha sido destitut- do pola forca, por maioria de dois ter os". No Direito Internacional dos Direltos Humanos, otermo"sangao" @ aplicado tambem a chamada “pres: '580 moral ou social” (mobilisation de la honte), tanto por parte de Estados quanto por parte da denominada “opi niao publica mundial’. Tal sancao social, usando a expresso de Lattanzi, consiste na pressao moral ou politica de grupos de Estados, em face de ours Estados” em que pese nao ser vinculante, pode ser util para onvencer 0 Estado infrator a adotar medidas reparadoras de vioia¢0 dos direitos humanos. 6 CONSIDERACOES FINAIS Aresponsabllidade intemnacio: nal do Estado brasileiro por violagao de direitos humanos deixou de ser um tema para “iniciados” e passou a constar da agenda nacional, emes- ecial apés 0 reconhecimento da ju Fisdigao obrigatoria da Corte Inter- americana de Direitos Humanos. Urge, assim, a conscientizacao de todos os agentes publicos, e, entre eles, os magistrados, da necessida- de de cumprimento dos compromis- RCE), Beslan. 2, p, 5363, oben, 2008, ‘sos internacionais assumidos pelo Brasil, especialmente a Convengao ‘Americana de Direitos Humanos, de ‘modo a evitar futuras condenagdes da Corte interamericana de Direitos Hu- manos. Os mais de cem casos con- tra o Brasil perante a Comissao Interamericana de Direitos Humanos mostram a necessidade da adocao de medidas imediatas voltadas a pre- venir novas violacées e a reparar os danos causados as vitimas. ‘REFERENCIAS 1 Eoque exp6e Combacay, tmando que La resporsabilt, e0 dtot international, ‘comme aileus,consiste dans fa mise aa chaige dun syjet dune obfigation oe ‘peer es consequences dun dommage. COMBACAU, Jean: SUR, Serge. Droit International Public. 2. ed. Paris Mortchresion, 1995. p. 673 2 RAMOS, André de Carvalnio. Respon- sabiidade internacional por vilago de ‘rates humanes, Pio de Janero: Renovar, 2008. 3. Para Cohn, Un Eat ne peut pas avot fe dot daccomplr eners daues un acte ‘Uil re veut pas flier de eur part. Ce Tatimaque un élement purement ogtve, ‘qu peut ete utile pour fa constataton ‘dea responsabiteifernabonale. COHN, MG. La théorie de la responsabilité inlemationale, & Acuel des Cours de Theadémie de Orot internationale de Je Haye (1980), p. 270. 4 Deacerdo com Dupuy © est préciserment ‘parce que (ous joulssent formellement une gale souveraineté que chacun a lectotce darancera"aute de ‘réponcte” de ses actes, c’esta-aire déire ‘responsable. DUPUY, Piore-Marie. La ‘esponsabilténtemationale des Eats, 188 Fecuel des Cours de Academie do Drot International de La Haye (1988), P10 5 Corte Permanente de Jusiga Interna. ‘ional casa SS, Wimbledon, PCL Series An. 1923, p16, 6 Corie Permanente de Jusica Interna: clonal, ease concerning the factory at CChoredw (Juscktion,sentenga de 26 Jul de 1927, PCL, Series A n.8,p 2t.€ Corte Permanente de Justiga Interna Clonal, case concerning the factory at (Ghorzdw (Meris), ulgamento de 13 de Set. de 1928, ACI. Series An. 17, 2 7 RAMOS, 0p. of..p.74 8 RAMOS, Ancré de Carvalno. Processo internacional de direitos humanos ~ ‘andlise dos sistemas de apuracao de violagses cos dirsitos numanos e a implerentagaa das decisdes no Bras Fio de Janevo: Renovar, 2002_p. 25, 9 Para Gangado Trindade, 0 desenvol viento hstéico da protegao interna onal dos dreos humans gracueiments syeerou bareas do passad compreer ‘eu'se, poveo & potion, que a protegso (e8 areos basicos da pessoa humana ‘ase esgeta, como ro podria esgota- se, na atuagd do Estado, na prensa & CED, Basia, n 29, p. 5363, abun, 2005 10 2 15 16 ” indemonstravel ‘competncia nacional exclusiva (TRINOADE, Anttnio Augusto Cangado, 4A protegde internacional dos direitos fhumanos: Fundamentos @ instumentos bésiove. Sd0 Pacio: Saraiva, 1991. p. 9) Sobre processo de intomacionaizagao do tema de direitos humanos, ver TRINDADE, Anténio Augusta Cancado, Tretado de eto iteracional dos dretos humanas. V. 1, Porto Alegre: Sérgio nino Fabris, 1987. RAMOS, Andre de Carvaino. Teoria geval dos direitos furans a orem ieracional Eo de aneir: Renovar, 2006 (no pret). De acerca com BobbO, no se tata do ‘saber quais © quanto sio esses dts, ‘qual é sua natwreza e seu fundamento, Se so dretos naturals ou nistorcas, absoutas ou relatos, mas sim qual é 0 ‘modo mais Seguro para gaartios, pare limpesir que, apeser das soiones d's racoes, oles sejam continuamente voiados. @OBBIO, Norberto. A era obs ‘rotos. Trad. de Cxtos Nelson Couto. Fo de Janere: Campus, 1992. p. 25) Consta do 613 da Decaracdo de Viena: Os Estados © as cxganizagses interna- cionais, em regime de cooperacdo com fas organizagdes ndo-governamentais, Seven ciias condicdes favoréveis nos Isis nacional, regional internacional ‘para garantt 0 ploro @ efetvo execico {0s dts huranos. Os Estados deve eliminar todas as vitagées de diretos humans e suas causas, bem como os ‘obstacles realzspao desses dros. No mesma sentoo expe enfaticarente Eustathiades: On n'a jamais songé a rier ‘ete responsabité sans nier en méme temps fe caractéve abigatole db dt (EUSTATHIADES, Constantin. Les suets ‘lu Dra international tla responsabiite intematonale: nouveles tendances, 24 ‘cue es Cours de Paoadémie de Dot International de La Haye (1958), p. 403) Por sua vez, Max Huber estabeleceu, om sei lado aria no cas0 das reclama- ‘ges brittnicas no atual Martocos. que Laresconsadit ostiecorlare nécessaie di aot Touts dots oie iniematonsl ‘nt pour conséquence une responsabilité intermationaio. Ver Ailaire des biens bfilanniques au Maroc espagnol. In ecu des Sentences Abirales, publi ‘eagao da Organizacdo das Nagies Unidas, vol 2.9. 681, RAMOS. Responsabifidade intemacio- tal, op. cit, . 20, SHAN, Malosim.tmatonalLaw. 3°. ed, Gambriaga: Grotius Publications / Cambridge Unversity Press, 1995. 48, Cote Inteammericana de Diets Huma fos, 2350 La Utima tertacién de Ciso, voto concorrente do Juiz Cancado Tindade, sentenca de mérto de § 02 fev de 2001, Serie Cn. 73, § 40. De fat, contre a econneceu a Corte intecamericana de Dieltos Humans, 3 ‘prigagao de gatantr 9 livre @ pleno ‘rarciio dos delios hurnanos no se ‘esgola na existéncia de uma ordem normativa teérica, mas sim abrange tambéen a necessidade do ume condita _governamertal que assequre a exsténce, a reaigade, de uma eficaz garantia do 8 9 20 at 22 23 24 ie € pero ererccio dos dios huma- ‘nas, Carte Ineramericana de Dieitos Humane, caso Godinez Cruz Mario, sentenga de 20 dean. ce 1989, Série C, 1.5, 8-176, tradugao live. Vor os Comentésios 20s casos contenciosos © ‘censultvos da Corte Interamericena de Dirt Humanos, In: RAMOS, André oo Carvath. Datos humanos em juz0 S80 aul: Max Limonad, 2001). Para a Core Ineramercana de Dreiios Humanos, es, pues, claro que, en principio, és imputable al Estado toda \olacién a los derechos recanocitos por la Convencion cumpiga por un acto det ‘poder pbco o de personas que actdan prevaiias de fos poderes que ostenan por su cadoter ofa In Corte intrame- ficana de Direitos Humanos, case Velasquez Roctiguez, sntenga de 28 de jul do 1988, Série C.n. 4, § 172, p70. ANZILOTT, Dionisio. Cours de Droit Intemational Tad. de Giber Gicel Pars Ske, 1929. 9.75. Sobre 0 ato uitia vies, ver RAMOS, Fesponsabildade internacional. op. ct ptseess A Corte Interamericana de Dirsitos Humanos consider ser um principio do Dito Internacional aresponsabiizacéo do Estado pelos atos ula vies de seus agentes. Segundo a Con, (.) & um principio de Dito inemecional que o Estado respande pelos atos do sous agentes realzados amparados por suas tungées oficsis © pelas omssdes dos Imesmos, mesmo se atuarem fora dos limes de suas comperéncias ou em Vviolagdo 20 Direto infemo, Corte Inet- lamericana de Direitos Humanos, caso Velasquez Rodriguez, sentenga de 29.de |, do 1988, Série C, 4, § 170, p. 70 ttacugto Ee Cone Interameicana de Ditetos Huma ros, e880 Godinez Cruz, sentena de 20 1 jan. de 1989, SéreC, n 5, § 182, p 74, tradugao lve. Este oersnamento mencionsdono vota issicente conjnio de Cangago Trindade, Agdar-Aranguren © Picado Sotela, para fs quas, a devia dilgéncia inode 20s Estados 0. dover do prevoncdo razoavel raquelas sivactes ~ como agora sub juice ~ que podem redundar, inctusie por omissdo, na supresséo da invola Diieage do diet & vida. (Come Iner- americana de Dirsitos Humanos, aso Gangaram Panday, sentonca de 21 de jan, de 1994, Ee C,n. 16, voto ssicente Conjunto dos juizes Anténio Augusto Gangado Trindade, Asciubal Aguiar. ranguren @ Sonia Picado Sote, p. 35, vracugao line} NNesse dlapaséo, cte-se que. no caso Velasquez Rochiguer, deciaiu a Corte Interamsreana se Diretos Humanos que ef deber de prevencion aberca todas laquelas mecioas de caréter juice, politico, administrative y curursl que promevan a sabaguards de los devachos humanaos y que eseguren que les fevertuals veeciones alos mismos sean fetoctvamente considereacas y tatadas ‘come un hecho cto que, com fa, es ‘suscepiile de acarear sanciones para ‘quien las cometa, asi como a oblgacén 61 0 indemnizar a las vctimas por sus Cconsecuencias parualciies (.). (Corte Interamericana de Direitos Humanos, (Caso Velasquez Roorguez, senenca ce 29 de jl. de 1982, Séxe Cn. 4, $175, ert) 25. Ver o caso Jasé Pereira, envolvendo a cmissao em investgare puni os respon slvels pela submisséo de trabalhador & condigao andloga de escravo. No més {de outubro de 2008, em aucténcia em Washington, 0 Bras atfiooy perante & Comisede Interamericana de Diritos Humanos da Organzagao dos Estados ‘Amareanes (OBA) 0s teres do Acordo ‘e Soup Aristosa lcangad n0 0280 José Pereira vs. Brasil. No acordo Celebrado pelo Brasil com os repre- Ssentantes da vima, ficou reconhecida @ responsabilidede estatal pela volagdo de ‘reitosrecennecidos em vatadosintema- onals de diiios hurmanos dos quais Brasil é parte, tendo sido também _aseurridos comprrrissos de combate 2c trabalho escravo © concessio de inde- rizagao a viima em tela Foi ecitaca, na estera do aoordo, @ Lei n.10.706/2003, tule an. 1° cps: At. Fica a Unigo —autorizada a concede indenizagdo de RS £52.000,00 a José Persia Ferre, portacor ca cartera de dentidsde RG n4.895.763 fe ingorto no CPF sob o n. 78.604 242. 168, por have sido submatido & condigso andioga & do escravo & haver soffido lesdes corpora, na fazence denominada Espo Sano, localzade no Suldo Estado 0 Par, em setembro de 1889. 28 Para a Cotte, entdo, poderiam ser Imencionadas stuagdes histéricas nas ‘quas alguns Estados promugaram ies de ‘confamidace com sua estutura juritca, ‘mas que nao ofereceram garantias adequadas pera 0 exercio dos dvtas hhumanos, impando restigbes inace taveis, ou simolesmente Gesconside- rand-08. (Corte Interamericana de Diretos Humenos Parecer Consultvo sobre cettas atnbuigdes da Comisséo Interamaricana de Direitos Humanos — ads. 41, 42,44, 46,47, 80 051 -Pareoer 1, 1370, de 16 ce jul. de 1994, Sie A. 13,5 28, p13, radugéo le, Ver maior andlse scbce esse Parecer. Ir: RAMOS, Diretos humanos em jo... of. ct, p. 48059), 27 TRINDADE, AntOnio Augusto Cangado (Ora). A incorporagao das normas intemacionais de proterdo dos ctretos humans a Ove brasioro,BrastiatS30 ‘Jose DH, 1996, 9. 216 28 05 98 da sentenca da Conte Intrame- fieana de Diatios Humanios ¢ revelador ‘asta tendca: 98.) A Core observa. ademas, quo, @ seu juzo, essa norma per 80 viol 0 artigo 2 da Convencso ‘Americana, independentemente de que enna sido apicade ao presente caso. (Corte Inteamericana de Diretos Huma fos, cas0 Suérez Rasero, sentenga de ‘2denov. de 1997, § 88, p 90, tradugo lve) 29 Neo podemas dexar de mensionar que CCangado Trindade considera esse 350 ‘come uma cause élebre do astema interamerieano, pols coneretza 0 dever de prevengto constante nos ars. 1° & 62 0 a 32 33 34 35 36 37 2° da Comengio Americana de Dietos Humans. (TRINDADE, Antério Augusto Cangado, Thoughts on recent ‘developments inthe case aw ae ter- [American Court of Human Rights: selected aspects. In: American Society (of International Law - Proceecings of he Sand Annual Meeting, Abr. ~ 1888, . 200) ‘Corte Europa de Dretos Humanos, caso Gpen Doorand Dubin Wel Woman versus ‘anda, julgamento de 29 de out. de 1982 Série An. 246, § 80. Corte ‘Interamerioana de Dirsitos Humanas, caso La Utima Tentacién de Cristo, sentenga de mento deS de fev. de 2001, Série C,n. 73, § 40. ‘Nesse sentido, a Conte nteramaricana de Diretos Humanos estabeleceu que no mbito internacional, o que interessa ‘torminaré se una el volaas abvigagdes Intemscionais assumidas por um Estado ‘em vac de um tatado. (Conte Intera- mericana de Drstos Huranos, Pazocer Consutvo sobre certas atrbuicses da Comissao interamericana de Diretos Humanos as. 4, 42,44, 46, 47, 502 51, Parecer n. 13/94, de 16 de ju de 1994, Seria A. 13, §90.p. 14). No sentido do testo, ver VERDROSS, Aled, Derecho internacional Pabico. Trad, de A, Truyaly Sara, Mahi: Agu, 1987. 281 Para Cangado Tndad, @ possivel que 08 érgdoe 00 superviséo venham a cuparse, no exame des casos con- eros, eg, de eras de fate ou de creto ‘cometigos pelos tabunats nternos, na ‘medida em que tas eros parecam ter resuitedo em vilagdo de um dos diets ‘assequrados pls tratedos de aires humanos, TRINDADE, A incorporacs.. 9p. cit, p 216). "No mesmo sentido, De Visherpreleciona que le déni de justee,sticto sensu, est constitué par le relus d/acces aux tibunaux os par les retards ou entaves Inustiiés ooposés au platisur éranger. (QEVISSHER, Charles, Le déni de justin en dat intemationl, 52 Racuelldes Cours {e Academie do Brot irtemationa de La Haye, 1885, p. 386). Core nterarmericana de Dittos Hums- Fs, 280 Geni Lacayo, sentonca de 29 9 jan co 1897, § 80, 9 23, Pata a Corte, aié @ avaicade em que, fodlavia, nfo fol pronunciada sentenca final, tanscevecam-se mas de cinco anos de processo, lanso que esta Corte considera que uitrapassa os limtes de razcabiideds previsos no artigo 8.1 08 Convngéo, (Corte Interamericana de Dieios Hurnanos, caso Genie Lacayo, sentenga de 29.60 jan, do 1907.5 81 p 23, tradvgao le). Ver mais sobre o caso. in: RAMOS, Dietos humanos em uo. 0p oft, p. 287 ess Para @ Cora iveramericana de Diritos Humanos, de fo exquesto se colge que Guatemala no puede excusarse oe la responsabiicadetaconada con ios actos Vomisiones de sus autorcades juices, ya qe fal acid resutaria contara ao ‘lspuesio por el artoub 1-1 en conexin ‘con es arieuos 25 y 8 do 'a Convencion. {Core interamercana de Diretos Huma- fos, caso Villagran Morales y tos, 9 0 “ 2 43 “4 45 6 “8 ry 50 st sentenga de mérita sentenga de 19 de ov. 62 1009. § 221, Corte Interamericana de Direitos Humanes, caso La Utina Tentacién de Cito, vote cancarente do iz Cangado Trindade, santenga de meio de § defo de 2001, Série Cn. 73,840. RAVOS’ Resoonsabdsde itemacionsl bor volagdo... op. cf, 181 Como exempio, ha a possiiidade ce slegagdo da excagio de coisa jugada internacional, quando o caso concreto de volagaa de deli hurancs [ative sido ‘apreciada em outra instancia interna ‘Gonal, como aberdado em obra antecior f0bre mecanismos colts oe aver ‘quagao da responsabildads ntemaconal 0 Estado par Violagao de diritos hhumanos. (RAMOS, Prooesso interna- ional de dtetos humanos.., op. cit, p275es9), RAMOS, Responsabildade itemacionss por vitapdo,.. op. ct, p. 182-183, Core Iteramericana de Diretos Huma- nos, caso Cest! Hurtado, Excegdes profminaes, sentenga de 26 de jah. de 1999, Ste C,n. 49, § 7, Cort intevamericana de Diretos Huma- fos, caso Paniagua Morales y ottos, senlenga de 8 oe margo de 1986, Série 6, n 37, §173. No § 91 do Programa de Agdo de Viena, estapeleceu-se que a Conferéncia ‘Mundial sobre Biretos Humanos v8 com preccupacio a questéo da imounidade os autores de violacées de direitos humanos apo 0s esforcas empre- ‘endidos pela Comisséo de Dirsitos Humanos 0 pela Comissdo de Prevarcao «a Discrminagao e Protecso de Minas, ra sentido de examirar todos 0s aspectos a questéo, Cone Interamercana de Dieitos Huma- os, caso Paniague Morales y otros, Sentenga de 8 de mar. de 1988, Série C, 1.37, $173, No sentido dotexto, jf apontava omeste Aocioly, em clissico estudo da década {de 50, a possiblidade da respons bilzagao internacional do Estado por auséncia de dligncia ra busca pela ‘Bunigho do incividuo cupado. Sogunao 0 jurista orasileiro, Etat pourra etre responsable aussi manque de ligence fen ce quiconcerne le punton de indy coulpable. (ACCIOLY, Hildebrando, Pincipes genéraux de la responsabilité internationale c'apeés la doctrine et ls jurisprudence, 96 Recued des Cours de Vreacémio de Drot international de La Hays (1959). p. 408), PIOVESAN, Fidvia, imunidade parla- rmentar. prerogatva cu prviégio, Fone de Sdo Pau, pi. A9, 4 de jul. de 2001 Nesee artigo, Piovesan combate fexisténcia da imunidade processual patlamentar para cme comum, mod ficada pela Emenda Consttucionan. 5, er RAMOS, Responsabildade inemacions! por violagéo. op. ci, p.181 Na sentenga de reparago do caso de ‘Nicholas Bake (alist nare-americano viima de desaperecmento forgada na (Guatemala), a Corte Interamericana de Direitos Humanos considerou que @ CED, Bastian. 28, p. $3.63, aj, 2005, omissao na investigacao e punigao acarrela dano moral. (Corte interame- ‘cana de Oeitos Humanos, caso Blake, Feparagies, sontenca de 22 de an. de 1990, Série C, n. 48, § 57. Ver mais comentros ste esse caso ern RAMOS, Diretos purmanos em juz0... op. ct.) 52 Ramos, Responsabiidade infenactonal ‘por volagdo.., op. ci, p.182. 52 Nesse sentido, a Corte Permanente ce Jlustiga Internacional decidiu que a ‘esponsabisdade internacional do Estado acareia a reparagio do ano sofido, Para.a Corte, it is a principle of International law that the breach of an lengagement involves an abligaton to ‘make reparation in an adequate form. (Cone Permanente de Justiga Inter- nacional, Case concerning the factory at Chareéw, Pubications PCI, Série ‘An. 17, ulgamento de 18 sat, de 1928. B47} 54 Texto original E/CN. 4/Sub 2/1993), enominado "Basic principles and ‘ulcelines on the night to reparation for victims of [Gross] violations of human Fights and international humanitarian Law’, Texto revisago E/ON.4/1997/108, Cave salentar que a Subcomissdo de Prevengio de Diseminagao © Protegao de Minoxas decid, em sua Resolugan 1199628, enviar o texto revisaco do projto de resolugao de Theo Van Boven § Comissao de Bieltos Humanos para ua consideraglo, A Comissao, por sou tuna, padlu comentrios aos Estados, tendo sido publicaco © conjunto deles ne documento E/CN.4/1 998/34 58 RAMOS, Responsabildade internacional por viola .. op. cit, p. 252 € ss 56 A Corte Interameticana de Dirsitos Humanas recanneceu esse conceito de "projelo ce vida" em sua recente sentonga ce reparagso no caso Loayza Tamayo. (Cone Interamericana de Dies Huma- nos, 880 Loayza Tamayo, Reparagses, Sentenga de 27 de nov. de 1988, Série ©, m3, 65 124-154), ‘57 Corte Intramericana de Directos Huma- nos, caso La Litima Tentzcin de Crist. voto concorrente do Juiz Cangado “rndede, sentenca de métito de 6 de fev, de 2001, Sere Cn. 73, § 40. 158 RAMOS, Responsabileds intemacional ‘Bor volagdo.., 09. cit, p- 267. 59 Nessa recente senienga de 17 de selemoio da 1997, 2 Corte constatou a violagio dos deltas estabelecidos nos as", 7°, 8.1,82,8.4625, combinados om 0 aft. 1.1 da Canvengao. (Corte Interamericana de Direitos Humanes, caso Loayza Tamayo, sentenga de 17 (9 set, 62 1997). 160. RAMOS, Responsabilade nternacional por viola... 0p. ct, p. 2706 61 Corte nteramarcana de Dretos Huma- ros, ea80 Albeboetoe e outros- Repa- ‘agdes, sentenga de 10 de set. de 1288, ‘Sere G.n. 15, 62 ParaaCorte, (..)0 Peru esté obigado @ oar todas as medidas de dreto interno ‘gue sejam orundas da deciaracao de ‘que 0 segundo proceso a0 qual fo! Submetige a vitima foi violatério da Convengéo. Por esse motivo, nenhuma resolugdo 2dversa emitida neste CEs, Basia. 29, p. 6:63, arn. 2005 processo deve produzir efeto legal ‘aigum, do qual emerge 2 anuilagdo de todos 08 antecedents respectvos. (Corte Interamericana de Direitos Humanos, caso Loayza Tamayo. Repsragses, eentenga de 27 de nov. do 1998, Série Cn. 42, § 122, radugao five. Ver mais comentarios sobre esse {aso em RAMOS, des humanos em {zo., 0p. ct) 68. Corte interameticana de Dietos Huma- nos, caso Aloeboetoe y otros Feparagses, contonca de 10 de set. de 1903, Série C, n. 15, §.96. p39, Ver mais comentirios sobre esse caso AMOS, Diets humanos em jizo, 0p, ot {64 RAMOS, Respansabiidade internacional ‘bor volagdo... op. ct, 0,285 8s, 65 No cas0, fol presumida a monte do festudante Mantredo Velasquez. (Corte Interamericana de Direitos Humanos, cas0. Velasquez Rodiiuez, sentenea de 28 e jul de 1988. Sere C, n.d, § 199,78) 66. Corie nteramericana de Diteltos Huma- nos, caso Sudres Rosero, sentenca de 12 de nov, de 1997, § 108, p. 31-32, 67 Reports of neroatonal Arbital Awards PIAA, The Lustana - United Statos And Germany Mixed Clams Commission, v 7.p.38ess, 68 RAMOS, Responsablidad interacionel or volagdo... op. cit, p. 200 es. 169 Aigo 1° - Otrigagdo de respstar os direitos. 1. Os Estados-partes nesta ‘Convengdo comaromatemse arespetar (os altos e Iberia nol econhecidos ‘28 garanti seu Ine e pleno exercicio a {ode pessoa que esteja sujeta a sua |unsaleso, sem dscvminacdo alguma. por motive oe aga, cy, sex, icioma, eo, ‘opinides polticas ou de qualquer ‘natureza, origem nacional ou social pposiogo econdmica, nascimento ou ‘uakquer uve conci¢ao soci 70. RAMOS, Diretos humans em juz0, op. Git, p. 148, 71 FIORAT, Jete Jane, A evolugao risoru- dencial dos sistemas regionaisintemna- lanals de protegao aos direitos hhumanos. Revista dos Tribunals, v.84, p. 20, dez. 1995, 72 RAMOS, Responsablilade internacional por voligéo.. p 327 9 ss. 73 Remiro-Bro%6ns ensina que. (..) sin vances insitucionaes, cuya progresion tes mucho mas afcutasa (.) poctan ‘parecer cabsigando falsos llaneros Ssaltaas - un papel af alcance solo de los Estados mas fuates ~ ocutando en fa sila, con fa envotura de principios superiores, intereses particuleres. REMIRO-BROTONS, Antonio. Derecho International Publica, Principios furdamentales Mactid:Tecnos, 1982. 64 74 RAMOS, Responsabiiad internacional por volagdo.., 0p. cit, p. 316 75 Idem, p. 394, 76 Idem, p. 297. 77 LATTANZ!, Fiavia, Garanci de it det" Lomo nel dito intnazionale generale. Milano: Giutr®, 1983, p. 61 Antigo recebido em 16/1/2005 ABSTRACT ‘The author analyses the advances of the State imematona iil for violations of human ghts, both In theory and practice. In order to achieve that, he describes ihe Charactersic elements of such viclatons, as ‘wall as possible forms of recovery and punishment. He ars that, in Braal, the matter was inserted into the national agenda ater he {clerowledgment of tie mandatory jscicion fl the Inler American Cour of Human Rights Henoa, te author states tobe urgent al pubic agents’ awareness of the need to full he international commiments taken over by Braz {and the adoption of measures in order 10 preventnew vitons as welas epal carages tothe veins KEYWORDS - International Law; Sat, Sabi, rtr-Amescan Court of Human Fights; ‘American Conventon of Human Righis; human ‘ight; sanction: repr. ‘André de Carvalho Ramos ¢ Procurador Regional da Republica e Professor do Curso de Mestrado da Universidade Bandeirante, em Sao Paulo-SP. 63

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