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economia e extensão rural

TOFANELLI MBD; FERNANDES MS; CARRIJO NS; MARTINS FILHO OB. 2009. Levantamento de perdas em hortaliças frescas na rede
varejista de Mineiros. Horticultura Brasileira 27: 116-120.

Levantamento de perdas em hortaliças frescas na rede varejista de Mineiros1


Mauro BD Tofanelli; Marilaine de S Fernandes; Núbia S Carrijo; Oscar B Martins Filho
FIMES-ICA, C. Postal 104, 75830-000 Mineiros-GO; maurobrasil@fimes.edu.br

RESUMO ABSTRACT
No presente trabalho realizou-se um levantamento das perdas no Survey on fresh vegetables’ losses in the retail market of
mercado varejista de olerícolas in natura no município de Mineiros Mineiros, Goiás State, Brazil
(GO) a fim de fornecer informações que possam auxiliar em ações In the present work a survey was carried out to determine the
específicas ao setor para se diminuir as perdas de hortaliças frescas fresh vegetables losses at the retail market in Mineiros County, Goiás
no varejo local. Foram realizadas pesquisas em oito supermercados, State, Brazil, to supply information that may contribute to specific
duas quitandas e uma feira-livre, entre dezembro/05 e janeiro/06 me- actions to improve the quality and availability of vegetables at the
diante aplicação de questionários. Foram levantados os volumes local market. The survey was carried out at retail outlets (eight
comercializados, as dez maiores perdas na semana, o principal moti- supermarkets, two grocery stores and one street market) from
vo causador das perdas e as principais providências internas e exter- December 2005 to January 2006. A questionnaire with questions
nas no equipamento de varejo considerado. Dentre as hortaliças rela- about the weekly amount of losses in vegetables, the main cause of
cionadas pela pesquisa, o tomate, a melancia, a cenoura, a batata e o postharvest losses and the main internal and external strategies to
repolho foram as olerícolas que mais contribuíram para o volume de reduce postharvest losses of fresh vegetables was applied in the
perdas. Considerando-se o total de hortaliças comercializado, os su- retail shops. Tomato, watermelon, carrot, potato, and cabbage had
permercados, quitandas e feira-livre apresentam índices de perdas the highest losses. Supermarkets, grocery stores and the street market
discrepantes: 1,9; 4,2 e 21,5%, respectivamente. Conforme as infor- showed discrepancy among loss percentages: 1.9, 4.2, and 21.5%;
mações obtidas do varejo mineirense, o excesso na oferta de hortali- respectively. The main causes for losses were excess in the vegetable
ças nos mercados e as condições ambientais foram os principais offer by retail market and environmental conditions. The stock control
motivos causadores das perdas dos produtos olerícolas, o controle is the main strategy to be provided in order to decrease losses, and
de estoque é a principal estratégia a ser adotada pelo próprio estabe- prices reduction by wholesale market was related to be the main
lecimento para diminuir as perdas de hortaliças e a diminuição dos external providence to be taken in order to decrease vegetable losses.
preços no atacado seria a principal providência externa a ser tomada
para atenuar as perdas de hortaliças.

Palavras-chave: Hortaliças, perdas, comercialização, varejo. Keywords: Vegetables, losses, commercialization, retail.

(Recebido para publicação em 20 de dezembro de 2007; aceito em 27 de fevereiro de 2009)


(Received in December 20, 2007; accepted in February 27, 2009)

A s olerícolas constituem um impor-


tante alimento para a população
devido a seus componentes nutricionais
destacam-se: a) as condições ambientais
(altas precipitações, altas temperaturas
e elevadas taxas de umidade do ar) que
Silva et al. (2003) mencionaram que
é de grande importância a transparência
nas relações entre os agentes da produ-
como vitaminas, sais minerais, são favoráveis ao desenvolvimento de ção, agroindústria, atacado, varejo e
carboidratos, fibras e outras substâncias fungos e bactérias que depreciam a qua- consumidor final de modo que as infor-
que contribuem para a saúde humana lidade das hortaliças no campo; b) em- mações sobre a participação de cada elo
(Filgueira, 2003). balagens inadequadas, manejo, manu- sejam do conhecimento de todos para
O Brasil é importante produtor de seio e acondicionamento incorretos du- evitar, por exemplo, as perdas pós-colhei-
hortaliças, mas as perdas são igualmen- rante o fluxo de comercialização; c) es- ta dos produtos agrícolas que podem re-
te altas. Estima-se que cerca de 35 a 45% trutura e instalações dos equipamentos fletir em desarticulação nestes sistemas.
destes produtos vegetais são perdidos de comercialização insuficientes; d) Para Vilela et al. (2003b), esses estu-
ou desperdiçados, desde a classificação agrotecnologia insuficiente no campo, dos são importantes para a definição de
e seleção das olerícolas na propriedade classificação e padronização estratégias e prioridades de um progra-
rural até a sua utilização pelo consumi- insatisfatórias; e) distância dos forne- ma de transferência de tecnologia para
dor final (Luengo et al., 2001; Vilela et cedores (Andreuccetti et al., 2005; Lana redução de perdas, além de fornecer sub-
al., 2003a; Vilela et al., 2003b). et al., 2002; Lourenzani & Silva, 2004; sídios para os formuladores e os diri-
Dentre os fatores que provocam per- Luengo et al., 2001; Luengo et al., 2003; gentes de políticas agrícolas e sociais,
das de produtos olerícolas in natura Vilela et al. 2003a; Vilela et al., 2003b). considerando que podem servir como

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Apoio: Faculdades Integradas de Mineiros/Fimes

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Levantamento de perdas em hortaliças frescas na rede varejista de Mineiros

base para orientar a formulação de tra- cação de tecnologias pós-colheita e trei- e respostas objetivas e opcionais para
balhos educativos de redução de per- namento de pessoal. Para Lourenzani & cada questão, de forma que respondes-
das entre os agentes envolvidos na pro- Silva (2004), as altas perdas de hortali- sem oralmente ao objetivo da pesquisa
dução e na comercialização. ças no varejo podem ser atribuídas, na nos equipamentos varejistas no perío-
A alta perecibilidade é um dos fato- sua maioria, ao manejo e acondiciona- do compreendido entre dezembro/05 e
res que mais contribui para os altos índi- mento inadequados, bem como também janeiro/06 (Fagundes & Yamanishi, 2002;
ces de perdas em tomate no mercado à classificação e padronização dos pro- Vilela et al., 2003a). A aplicação de um
(Vilela et al., 2003a; Lourenzani & Silva, dutos insuficientes. modelo próprio de questionário baseou-
2004). Porém, há de se considerar tam- Mineiros possui uma população de se em entrevistas realizadas com o en-
bém o efeito proporcional do alto volume 43.961 pessoas, conforme estimativa rea- carregado do setor de FLV (Frutas, Le-
comercializado desta hortaliça, pois quan- lizada para o primeiro semestre de julho/ gumes e Verduras), no caso dos super-
do este foi levado em conta, observou- 05 (IBGE, 2005) e é considerada um dos mercados, com cada proprietário das
se que 6,2% do tomate foram perdidos, o principais municípios de Goiás, onde a quitandas/sacolões e diretamente com
que atenua os 47,4% citados anteriormen- agropecuária baseada na produção de os feirantes nas bancas ou barracas de
te. Em outras regiões brasileiras foram grãos e fibra (soja, milho, sorgo e algo- venda da feira-livre, executadas pela
relatadas perdas em volumes bem acima dão), bovinocultura (leite e carne) e avi- equipe de entrevistadores do Instituto
dos levantados neste trabalho, como em cultura constitui sua principal atividade de Dados Estatísticos e de Pesquisas
Minas Gerais, onde observou-se perdas econômica. Sócio-Econômicas (INDEP) pertencen-
em torno de 27, 42 e 40% para cenoura, O objetivo do presente trabalho foi te às Faculdades Integradas de Minei-
pimentão e tomate, respectivamente (Fun- realizar levantamento de informações ros mantidas pela Fundação Integrada
dação João Pinheiro, 1992). sobre perdas de hortaliças frescas, bem Municipal de Ensino Superior (FIMES)
Na cidade de São Paulo, constatou- como as suas causas e soluções, con- de Mineiros (GO).
se 34,4% de perdas para tomate no vare- forme os principais agentes varejistas Objetivou-se com a aplicação do
jo (SAASP 1995; citado por Vilela et al., do município de Mineiros. questionário, obter as informações: 1)
2003b) e no Distrito Federal observou- Volume das principais olerícolas
se 25% de perdas para olerícolas, sendo MATERIAL E MÉTODOS comercializadas no equipamento; 2) As
deste porcentual; 13% para cenoura, dez maiores perdas semanais entre as
30% para tomate e 20% para pimentão principais olerícolas comercializadas no
O trabalho constou de pesquisa rea-
(Lana et al., 2000). equipamento; 3) O principal motivo cau-
lizada na cidade de Mineiros, localizada
A participação da feira-livre na sador das perdas de olerícolas, e 4) As
no sudoeste do Estado de Goiás às mar-
comercialização de frutas e hortaliças é principais providências que poderiam
gens da rodovia BR-364 a 108 km a leste
muito relevante porque estes equipa- ser tomadas para diminuir as perdas de
da cidade de Jataí (GO) e a 90 km a oeste
mentos proporcionam conseqüências hortaliças conforme o equipamento va-
da cidade de Santa Rita do Araguaia
diretas ao produtor mediante a valoriza- (GO) (divisa com o estado do Mato Gros- rejista, sendo consideradas “micro”
ção do seu produto (Luengo et al., 2001). so). As capitais estaduais mais próximas aquelas ações ou atitudes internas ou
A feira-livre tem como característica bá- são Goiânia a 420 km, e Cuiabá a 500 km. de responsabilidade do próprio varejis-
sica a comercialização de agroalimentos ta e que poderiam ser providenciadas
O estudo foi realizado nos principais
produzidos nas propriedades rurais e no seu equipamento e “macro” aquelas
equipamentos varejistas da cidade de
áreas vizinhas, ou seja, o feirante realiza externas ou de responsabilidade indire-
Mineiros: oito supermercados de médio
compras diretas do produtor, podendo ta do varejista.
a pequeno porte, duas quitandas (co-
ser às vezes a mesma pessoa (Silva et nhecidas localmente como “frutarias”) Os resultados obtidos com as pes-
al., 2003). e uma feira-livre; seguindo classificação quisas in loco foram tabulados calcu-
Lana et al. (2002) desenvolveram proposta por Barros et al. (1978), cita- lando-se as médias aritméticas e
estudo para identificar as causas das dos por Silva et al. (2003). Os supermer- porcentuais e organizados em planilhas
perdas de cenoura no varejo de Brasília cados foram classificados conforme processadas pelo INDEP/FIMES.
e demonstraram que o aspecto do pro- metodologia utilizada por Fagundes &
duto (qualidade) é o principal motivo Yamanishi (2002) que adotaram a divi- RESULTADOS E DISCUSSÃO
para as perdas e que danos mecânicos, são proposta pela Associação de Super-
defeitos no formato e doenças foram os mercados de Brasília (ASBRA), que es- A comercialização de hortaliças nas
principais responsáveis pela deprecia- tabelece o porte do estabelecimento de cidades brasileiras interioranas é
ção da qualidade da cenoura. Já acordo com sua área, sendo pequenos comumente pouco organizada e
Andreuccetti et al. (2005), estudando a (0 a 500 m2) e médios (501 a 5.000 m2). deficiente de informações, além de ser
comercialização de tomate na CEAGESP, A metodologia utilizada foi visitação reflexo do fluxo das grandes centrais de
mencionaram que as perdas pós-colhei- in loco para aplicação oral de questio- abastecimento pela dependência no for-
ta desta olerícola na cadeia nário constituído de perguntas elabora- necimento. Não é comum encontrar na
mercadológica deste equipamento serão das conforme as informações qualitati- literatura científica dados sobre o comér-
diminuídas caso seja realizada maior apli- vas e quantitativas a serem levantadas cio e perdas de hortaliças no varejo das

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MBD Tofanelli et al.

Tabela 1. Perdas semanais de hortaliças frescas comercializadas em Mineiros-GO (weekly fresh vegetables’ losses commercialized in
Mineiros-GO, Brazil). ICA/Fimes, Mineiros-GO, 2006.
Supermercados Quitandas/Sacolões Feira-livre Total
Hortaliça PE PR VC PPV PE PR VC PPV PE PR VC PPV VPG PR VC PPV
(kg) (%) (kg) (%) (kg) (%) (kg) (%) (kg) (%) (kg) (%) (kg) (%) (kg) (%)
Tomate 148,1 36,5 4.774 3,1 340 72,3 3.000 11,3 2 1,3 80 2,5 490,1 47,4 7.854 6,2
Melancia 2.400 3.600 150 95,5 600 25 150 14,5 6.600 2,3
Cenoura 62 15,3 1.538 4 48 10,1 940 5,1 110 10,6 2.478 4,4
Batata 65 16 3.524 1,8 37,5 8 750 5 102,5 9,9 4.274 2,4
Repolho 41,6 10,3 1.740 2,4 45 9,6 1.250 3,6 86,6 8,4 2.990 2,9
Beterraba 22,8 5,6 700 3,3 240 22,8 2,2 940 2,4
Abobrinha 18 4,4 100 18 400 4 2,6 40 10 22 2,1 540 4,1
Cebola 18 4,4 4.472 0,4 400 1 0,6 10 10 19 1,8 4.882 0,4
Pepino 18 4,4 760 2,4 620 18 1,7 1.380 1,3
Abóbora 12 3 1.640 0,7 12 1,2 1.640 0,7
TOTAL 405,5 100 21.648 470,5 100 11.200 157 100 730 1.033 100 33.578
PPVT % 1,9 4,2 21,5 3,1
PPVTG % 39,3 45,5 15,2 100
PE= Volume de perdas semanais da hortaliça no equipamento em kg; PR= Perda relativa; VC= Volume comercializado da hortaliça semanal-
mente; PPV= Porcentagem de perdas em relação ao VC da hortaliça (PPV=PEx100/VC); VPG= Volume de perdas total geral; PPVT=
Porcentagem de perdas em relação ao volume total do equipamento (PPVT=Vptotalx100/Vctotal); PPEVTP= Participação das perdas do
equipamento em relação ao volume total de perdas (PPVTG=PEx100/VPG).
PE= Volume de perdas semanais da hortaliça no equipamento em kg; PR= Perda relativa; VC= Volume comercializado da hortaliça semanal-
mente; PPV= Porcentagem de perdas em relação ao VC da hortaliça (PPV=PEx100/VC); VPG= Volume de perdas total geral; PPVT=
Porcentagem de perdas em relação ao volume total do equipamento (PPVT=Vptotalx100/Vctotal); PPEVTP= Participação das perdas do
equipamento em relação ao volume total de perdas (PPVTG=PEx100/VPG).

cidades interioranas. Os estudos exis- varejo (47,4%), seguido da melancia provavelmente, em conseqüência da
tentes estão quase sempre restritos às (14,5%), cenoura (10,6%), batata (9,9%) estruturação encontrada nestes equipa-
centrais de abastecimentos, o que não e repolho (8,4%) (Tabela 1). O fato do mentos varejistas como, por exemplo, a
fornece dados específicos do contexto tomate apresentar alto índice de presença de câmara refrigerada para
mercadológico dos distintos municípios perecibilidade e alto volume armazenamento e prateleira refrigerada.
brasileiros. A falta de informação sobre comercializado foi determinante para que Já a feira-livre apresentou menor partici-
o complexo de comercialização de hor- esta hortaliça ocupasse a posição de pação no volume de perdas (15,2%),
taliças frescas no varejo da cidade de maior perda entre as olerícolas envolvi- devido o menor volume de hortaliças
Mineiros é realidade, pois não se tem das na pesquisa. Isso pode explicar tam- frescas comercializado por este equipa-
desenvolvido estudo mercadológico bém as perdas das outras olerícolas men- mento varejista.
que aborde esse assunto. cionadas anteriormente, com exceção da As hortaliças que obtiveram as maio-
O município de Mineiros, por ser ain- melancia que, normalmente, apresenta res perdas nos supermercados (PR) fo-
da pouco populoso, não comercializa um maior conservação pós-colheita, estan- ram o tomate (36,5%), a batata (16,0%), a
grande volume de hortaliças. Este fato do sua perda neste caso relacionada com cenoura (15,3%) e o repolho (10,3%) (Ta-
facilita toda a logística de mercado, con- o baixo poder de comercialização da fei- bela 1). Os produtos que obtiveram as
tribuindo para que se tenha bom con- ra-livre de Mineiros, já que a perda de maiores perdas também foram os que
trole das perdas de olerícolas frescas no melancia ocorreu apenas neste tipo de obtiveram os maiores volumes
varejo local, e também ajuda no estabe- varejo. comercializados nos supermercados,
lecimento de ações para a redução de Para os equipamentos isoladamen- com exceção da melancia (Tabela 1). No
perdas de hortaliças. Ações como abas- te, observou-se que as quitandas são entanto, a venda em maior volume não
tecimento oriundo praticamente de um as principais responsáveis pelo volume pode ser considerada fator isolado das
mesmo fornecedor e apenas duas vezes de perdas de hortaliças frescas (45,5%) perdas, já que analisando-se as porcen-
por semana, menor diversificação de (Tabela 1), fato este que pode ser expli- tagens de perdas em relação ao volume
produtos olerícolas e outras caracterís- cado pelo alto índice de perdas obtido comercializado de cada hortaliça (PPV),
ticas típicas de pequenos mercados con- para o tomate nestes equipamentos, já não observou-se relação forte entre as
tribuem para assegurar o baixo índice de que nenhuma das duas quitandas visi- duas características pesquisadas (PPV
perdas na rede varejista mineirense. tadas dispunha de câmaras refrigeradas. e PR), pois as hortaliças que obtiveram
Observando-se as olerícolas que Os supermercados, apesar do alto volu- as maiores porcentagens de perdas em
obtiveram as maiores perdas, o tomate me comercializado, obtiveram redução relação ao seu volume comercializado
foi a que apresentou o maior volume no no volume de perdas (39,3%) (Tabela 1), foram a abobrinha (18,0%), a cenoura

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Levantamento de perdas em hortaliças frescas na rede varejista de Mineiros

Tabela 2. Motivos causadores e providências para diminuir as perdas de hortaliças em Mineiros, conforme indicado pela rede varejista local
(causes and strategies to reduce vegetables losses in Mineiros). ICA/Fimes, Mineiros-GO, 2006.
% Relativa % Média
Parâmetros
Supermercados Quitandas Feira-livre geral¹
Motivo
Excesso de quantidade de oferta 12,5 50 25 21,3
Condições ambientais 25 0 25 21,3
Armazenamento inadequado 25 0 0 14,3
Padronização e classificação ineficientes 25 0 0 14,3
Baixa qualidade das hortaliças 12,5 0 0 7,2
Falta de assistência técnica 0 0 25 7,2
Más condições de transporte 0 0 25 7,2
Manipulação excessiva do consumidor 0 50 0 7,2
Providência (interna)
Controle de estoque 25 50 0 27,2
Compra de hortaliças mais frescas 25 0 0 18,2
Compra de hortaliças regionais 25 0 0 18,2
Diminuição dos preços no varejo 12,5 0 0 9,1
Cuidados na manipulação durante transporte 12,5 0 0 9,1
Manipulação excessiva do consumidor 0 50 0 9,1
Melhorar estrutura do estabelecimento 0 0 100 9,1
Providência (externa)
Diminuição dos preços no atacado 37,5 0 0 33,3
Fornecedores atacadistas mais próximos 25 0 0 22,3
Educação do consumidor final 12,5 0 0 11,1
Melhora da qualidade das hortaliças 12,5 0 0 11,1
Melhora das embalagens 0 100 0 11,1
Incentivar a olericultura local 12,5 0 0 11,1
1
Porcentagem média geral considerando a freqüência relativa de cada equipamento entrevistado.

(4,0%), a beterraba (3,3%) e o tomate taliças frescas não é tão expressiva, pois po, muitas vezes comercializados pelo
(3,1%), não se repetindo nem a ordem apenas 3,1% destes vegetais são perdi- próprio produtor, o que possibilita opor-
nem as hortaliças entre PPV e PR. Outro dos pelo varejo (Tabela 1). tunidade ao meio rural, bem como maior
aspecto relevante aos supermercados e Considerando apenas o volume de agregação de valor no produto.
que pode ser considerado como caráter perdas de hortaliças em relação ao volu- Conforme os varejistas de Mineiros,
explicativo para o fato destes terem ob- me comercializado pelo equipamento, os as principais causas para as perdas de
tido o mais baixo índice de perdas, é que supermercados demonstram que estão olerícolas frescas nos equipamentos são
este tipo de equipamento varejista tem se especializando como canal de distri- as condições ambientais (21,3%); o ex-
sido cada vez mais procurado pelos con- buição destes produtos diretos ao con- cesso na quantidade da oferta (21,3%);
sumidores para compra de produtos sumidor final, pois apresentaram apenas o armazenamento inadequado (14,3%);
hortifrutigranjeiros (Lourenzani & Silva, 1,9% de perdas. Neste tocante, as qui- e a padronização e classificação
2004), tornando o fluxo de prateleira mais tandas obtiveram 4,2% e a feira-livre ineficientes (14,3%) (Tabela 2).
eficiente. apresentou perdas de 21,5%. Estes re- Os supermercados indicaram estes
As quitandas e a feira-livre apresen- sultados, possivelmente, são reflexos do mesmos itens como os principais cau-
taram perdas em apenas algumas horta- preparo deficiente da feira-livre de Mi- sadores das perdas (12,5; 25; 25 e 25%,
liças: tomate (11,3%), cenoura (5,1%), neiros para a comercialização de hortali- respectivamente), porém citaram também
repolho (3,6%) e batata (5,0%) nas qui- ças frescas e revela que este tipo de va- a baixa qualidade das hortaliças (12,5%).
tandas; tomate (2,5%), melancia (25,0%), rejo precisa receber maior atenção, pois Nas quitandas, apenas o excesso de
abobrinha (10,0%) e cebola (10,0%) na além de possuir tímida participação na oferta (50%) e a manipulação excessiva
feira-livre (Tabela 1). Se comparado com comercialização de olerícolas, apresen- do consumidor (50%) foram citados
a média brasileira para perdas pós-co- ta excessivo índice de perdas destes como promotores de perdas. Já na feira-
lheita dos produtos olerícolas em toda produtos. livre, o excesso de oferta (25%), as con-
cadeia, que gira em torno 27 a 40% (Gon- A feira-livre tem um importante pa- dições ambientais (25%), a falta de as-
çalves 2005; Vilela et al., 2003b), pode- pel na distribuição de frutas e hortali- sistência técnica (25%) e as más condi-
se considerar que a participação da rede ças, pois, normalmente, são oferecidos ções de transporte proporcionadas pelo
varejista de Mineiros nas perdas de hor- produtos que vêm diretamente do cam- estado das rodovias e estradas rurais

Hortic. bras., v. 27, n. 1, jan.-mar. 2009 119


MBD Tofanelli et al.

(25%) foram mencionados como princi- taliças, na melhoria das embalagens e FAGUNDES GR; YAMANISHI OK. 2002.
pais motivos causadores das perdas de na olericultura local (11,1% para cada Estudo da comercialização do mamão em
Brasília-DF. Revista Brasileira de
olerícolas (Tabela 2). Estes resultados item) (Tabela 2). Fruticultura 24: 91-95.
revelam a necessidade de se estruturar Dentre as macro-providências cita- FILGUEIRA FAR. 2003. Manual de
os mercados varejistas para promover a das como prioridades pelos mercados a olericultura: agrotecnologia moderna na
diminuição das indesejáveis perdas. produção e comercialização de hortaliças.
diminuição dos preços nos atacados e a
Viçosa: UFV. 412p.
Ações como evitar as compras excessi- disponibilização de fornecedores (ata- FUNDAÇÃO JOÃO PINHEIRO. 1992.
vas, prevenção contra os efeitos das cados) mais próximos foram as mais re- Avaliação das perdas de produtos
condições ambientais impróprias, quisitadas (33,3 e 22,3%; respectivamen- agrícolas em Minas Gerais. Belo
estruturação das condições de te) (Tabela 2). Horizonte. 122p.
armazenamento (instalação de sistemas Entretanto, isso não justifica a ocor-
GONÇALVES BS. (Coord. e Ed.). 2005. O
de refrigeração), melhorar a classifica- Compromisso das empresas com o combate
rência das excessivas perdas, muito me- ao desperdício de alimentos – banco de
ção e padronização dos produtos e in- nos inviabiliza as ações e atitudes ne- alimentos, colheita urbana e outras ações.
vestir em agrotecnologia para melhorar cessárias para o combate das perdas nos São Paulo: Instituto Ethos. 80p.
a qualidade dos produtos e reformas na mercados. Neste tocante, as informações JUNQUEIRA AH; LUENGO RFA. 2000.
malha rodoviária são passíveis de reali- Mercados diferenciados de hortaliças.
produzidas neste trabalho poderão ser- Horticultura Brasileira 18: 95-99.
zação para combater as perdas de horta- vir de subsídio à elaboração e implanta- IBGE - INSTITUTO BRASILEIRO DE
liças que ocorrem nos mercados varejis- ção de programas de combate às perdas GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. 2005.
tas de Mineiros. Tais ações proporcio- de hortaliças frescas no mercado de Estimativas de população. 2006, 13 de
nariam melhor articulação nos mercados Mineiros, com aplicação também em julho. Disponível em: ftp://ftp.ibge.gov.br/
e, além de combater a perda de alimen- Estimativas_Projecoes_Populacao/
outras regiões brasileiras. Estimativas_2005/UF_Municipio.zip.
tos, poderiam provocar queda na rela-
Constatou-se no presente trabalho LANA MM; BARROS D; MOITA AW;
ção volume perdido/comercializado o NASCIMENTO EF; SOUZA GS; VILELA
que, no municícipio de Mineiros, o merca-
que poderia refletir na diminuição dos NJ. 2000. Níveis de perdas pós-colheita de
do de hortaliças frescas apresenta índices
preços ao consumidor final, sem, porém, cenoura, tomate e pimentão em
de perdas abaixo da média nacional, sen- supermercados da rede varejista do Distrito
diminuir a lucratividade do varejo.
do as quitandas os principais mercados Federal. Embrapa Hortaliças. (Relatório de
Para 27,2% da rede varejista responsáveis pelas perdas. Os supermer- pesquisa).
mineirense, o controle de estoque é a prin- cados, proporcionalmente, são pouco LANA MM; MOITA AW; NASCIMENTO EF;
cipal providência a ser tomada pelo vare- participativos no volume de hortaliças fres- SOUZA GS; MELO MF. 2002. Identificação
jo local para atenuar as perdas de produ- das causas de perdas pós-colheita de cenoura
cas perdido semanalmente, o que pode ser no varejo. Horticultura Brasileira 20: 241-
tos olerícolas (Tabela 2). O varejo ainda utilizado como característica para denotá- 245.
destacou a compra de hortaliças mais fres- los como mercados especializados no co- LOURENZANI AEBS; SILVA AL. 2004. Um
cas (18,2%) e regionais (18,2%) (Tabela mércio de olerícolas. Já a a feira-livre, ape- estudo da competitividade dos diferentes
2) como ações que poderiam combater as sar de pouco expressiva no comércio de canais de distribuição de hortaliças. Gestão
perdas. Fato interessante foi revelado e Produção 11: 385-398.
hortaliças, apresenta excessivo volume de
quando, apesar do item “processamento LUENGO RFA; MOITA AW; NASCIMENTO
perdas, o que revela a necessidade de EF; MELO MF. 2001. Redução de perdas
de hortaliças” ter constituído o questio- estruturação deste agente de pós-colheita em tomate de mesa
nário, este não foi mencionado como op- comercialização. Conforme o varejo de acondicionados em três tipos de caixas.
ção para o combate das perdas observa- Mineiros, para combater as perdas nas Horticultura Brasileira 19: 151-154.
das nos mercados varejistas de Mineiros bancas dos equipamentos varejistas é pre- LUENGO RFA; CAMARGO FILHO W;
(Tabela 2). Isso pode ser encarado como JACOMINO AP. 2003. Participação do
ciso evitar o excesso na oferta mediante o custo da embalagem na composição do custo
indício de insuficiência tecnológica de controle de estoque, priorizar a qualidade de produção e do preço de atacado do
aproveitamento pós-colheita dos alimen- das hortaliças, melhorar a verticalização e tomate de mesa. Horticultura Brasileira 21:
tos, pois, ou os mercados não são infor- articulação mercadológica, disponibilizar 719-721.
mados das possibilidades de fornecedores menos distantes, educar e SILVA CS; PEROSA JMY; RUA PS; ABREU
processamento (aproveitamento) dos CLM; PÂNTANO SC; VIEIRA CRYI
concientizar o consumidor final, melhorar
BRIZOLA RMO. 2003. Avaliação
produtos olerícolas para evitar as perdas a classificação, padronização e econômica das perdas de banana no
ou estes têm receio em realizar investi- embalamento, bem como o manejo, acon- mercado varejista: um estudo de caso.
mentos nesse sentido. Junqueira & dicionamento e armazenamento dos pro- Revista Brasileira de Fruticultura 25: 229-
Luengo (2000) consideraram que o dutos olerícolas. 234.
processamento de hortaliças promove VILELA NJ; LANA MM; NASCIMENTO EF;
MAKISHIMA N. 2003a. Perdas na
redução praticamente total das perdas. REFERÊNCIAS comercialização de hortaliças em uma rede
Os resultados obtidos pelo presente varejista do Distrito Federal. Cadernos de
trabalho ainda revelaram que os varejis- ANDREUCCETTI C; FERREIRA MD; Ciência e Tecnologia 20: 521-541.
tas mineirenses consideraram importan- GUTIERREZ ASD; TAVARES M. 2005. VILELA NJ; LANA MM; MAKISHIMA N.
Caracterização da comercialização de tomate 2003b. O peso da perda de alimentos para a
te investir na educação do consumidor de mesa na Ceagesp: perfil dos atacadistas. sociedade: o caso das hortaliças. Horticultura
final, na melhoria da qualidade das hor- Horticultura Brasileira 23: 324-328. Brasileira 21: 141-143.

120 Hortic. bras., v. 27, n. 1, jan.-mar. 2009

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