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FACULDADE DE ITÁPOLIS

ASSOCIAÇÃO EDUCACIONAL E CULTURAL DE ITÁPOLIS

PÓS – GRADUAÇÃO LATO SENSU EM DEFICIÊNCIA


INTELECTUAL

DIFICULDADES E DISTÚRBIOS DE
APRENDIZAGEM

Jaqueline Brócco Paião

ITÁPOLIS
2012
JAQUELINE BRÓCCO PAIÃO

DIFICULDADES E DISTÚRBIOS DE
APRENDIZAGEM

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como


exigência para obtenção do Certificado de Especialista
em Deficiência Intelectual da Faculdade de Itápolis.

ITÁPOLIS
2012
Dedico este trabalho a todos os meus
familiares, pelo apoio constante e paciência,
que foram de suma importância para que
pudesse ter êxito na elaboração.
AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus Todo Poderoso que nos deu muita determinação, sabedoria e saúde para
chegar até aqui.
A todos os nossos familiares, pela paciência no dia-a-dia, nos apoiando para que pudéssemos
desenvolver este Trabalho.
“Estratégia é a arte ou ciência de saber
identificar e empregar meios disponíveis para
atingir determinados fins, apesar de a eles se
oporem obstáculos e/ou antagonismos
conhecidos”.
Sun Tzu
RESUMO

É preciso que o aluno compreenda a relação existente entre o que esta aprendendo e a
sua vida, desta forma, a aprendizagem causa verdadeiramente uma efetiva alteração de
comportamento e maior expansão do seu potencial. O aluno deve ser levado a conseguir
reconhecer as situações em que poderá utilizar os novos conhecimentos e habilidades que
estão em aprendizado. Atualmente, a família é quem propicia as primeiras experiências
educacionais de uma criança, orientando-a e dirigindo-a. Tais experiências acontecem em um
nível consciente, mas, inúmeras vezes isso pode acontecer sem nem ao menos terem
consciência de estão influenciando o comportamento de seus filhos. O papel do professor é de
fundamental importância, assim como dos pais nos processos fundamentais do
desenvolvimento humano como educadores que são. O trabalho aqui desenvolvido tem por
objetivo mostras as principais dificuldades e distúrbios da aprendizagem no que diz respeito
ao cotidiano escolar.

Palavras-chave: Aprendizagem, Problema, Dificuldade, Professor/Aluno.


SUMÁRIO

INTRODUÇÃO..........................................................................................................................8
1 CAUSAS DOS DISTURBIOS DE APRENDIZAGEM.......................................................10
2 MÉTODO DE ENSINO.........................................................................................................14
3 DISTÚRBIOS DE APRENDIZAGEM.................................................................................17
CONSIDERAÇÕES FINAIS....................................................................................................21
REFERÊNCIAS........................................................................................................................23
INTRODUÇÃO

O termo desenvolvimento, em um primeiro momento, remete ao pensamento do


aumento de estatura, de peso, a mudanças orgânicas na constituição física, mas, no entanto,
este é um termo bastante vasto e complexo.
O desenvolvimento é responsável por definir o processo constante e ordenado que
principia a vida desde a sua concepção, englobando todas as mudanças que acontecem no
organismo e na personalidade, isso engloba os comportamentos mais sofisticados que
resultam do amadurecimento e crescimento físico e da estimulação do ambiente.
É preciso tomar como base a Psicologia do Desenvolvimento, de forma paralela aos
problemas de aprendizagem, o ambiente e a hereditariedade, a maturação e a aprendizagem
são aspectos que possuem grande importância no quesito desenvolvimento.
Isto quer dizer, que os estímulos ambientais atuam em conjunto com as condições
estruturais e orgânicas para que seja possível se estabelecer o processo de desenvolvimento
em todas as suas etapas. São diversos os fatores que servem de intervenção para o processo de
aprendizagem, são eles os fatores psicomotor, físico, intelectual, e social; mas é realmente o
fator emocional que engloba uma fatia bem maior na educação infantil.
É de grande importância que o aluno consiga relacionar o que está aprendendo com a
sua vida, para que assim a aprendizagem cause uma alteração concreta de comportamento e
para que isso amplie verdadeiramente seu potencial.
No que diz respeito às novas habilidades e conhecimentos adquiridos, o aluno deve ser
capaz de reconhecer as circunstâncias em que os utilizará, tanto quanto possível, aquilo que é
aprendido deve ser significativo para ele.
O ser humano para aprender a falar preciso possuir órgãos motores, sensoriais e de
articulação em prefeito estado, e ainda, possuir um procedimento normal de evolução do
sistema nervoso, assim, com todos estes elementos como base ele desenvolverá uma
linguagem adequada, lógica e evidente, imprescindível à sua integração social, de um modo
geral, o ambiente no qual a criança se desenvolve ‘fornece’ o clima emocional, os modelos
verbais e as experiências infantis.
Oferecem influência positiva no desenvolvimento das fases iniciais da vocalização e
balbucio um ambiente descontraído e a segurança afetiva; os fatores ambientais também
influenciam e muito, assim como, as condições biológicas, a hereditariedade e o estado de
saúde no desenvolvimento da linguagem.
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Seja qual for o problema de aprendizagem apresentado pelo aluno, é de


responsabilidade do professor, junto à família, verificar as situações causadoras e buscar
características, com o objetivo mor de descobrir o que está representando dificuldade ou
empecilho para que o aluno aprenda.
Cabe ao professor encontrar as características próprias do comportamento infantil em
cada faixa etária, com o objetivo de garantir o desenvolvimento da criança voltada para a
liberdade e a autonomia, tudo isso feito de forma gradativa visando à superação de cada crise
de desenvolvimento.
Um grande e importante fator que auxilia para que a criança se desenvolva de forma
plena é um ambiente afetivo equilibrado, onde ela receba amor autêntico e onde lhe
possibilitam suprir as necessidades próprias do seu estado infantil.
O conceito dificuldades de aprendizagem mostra inúmeras definições, portanto parece
confuso, mesmo assim, é de suma importância que se tente determinar à que se faz referência
com tal expressão ou etiqueta diagnóstica, de uma forma que seja possível diminuir a
confusão com demais termos tais como, por exemplo: anseios educativos especiais,
inadaptações por déficit socioambiental etc.
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1 CAUSAS DOS DISTURBIOS DE APRENDIZAGEM

Um processo complexo que envolve diversos sistemas e habilidade é a aprendizagem


da leitura e da escrita, assim não é possível que se determine apenas um único fator como
sendo o responsável pela dificuldade de aprender.
São múltiplas as causas dos distúrbios de aprendizagem, é de responsabilidade de um
profissional a realização de um diagnóstico para tanto, é preciso se evidenciar a área que está
mais comprometida e recomendar a abordagem terapêutica mais indicada para que seja
possível a superação.
É preciso o conhecimento correto do corpo para tal habilidade, ou seja, é preciso ter
conceito de corpo; o esquema corporal; e a própria imagem corporal. É pelo corpo que a
criança é capaz de interagir com o mundo que cerca, assim, torna-se indispensável o conceito
de imagem corporal para qualquer tipo de aprendizagem, isso por que, se tal pré-requisito
estiver bem formado na criança ela passa a ter seu corpo como um ponto de referência.
A criança toma seu corpo como ponto de referência para suas aprendizagens, ele
servirá de alicerce para que a criança absorva todos os conceitos indispensáveis à
alfabetização, como, em cima, embaixo; frente, atrás; esquerda, direito; alto, baixo; assim
como possibilitará o desenvolvimento do equilíbrio corporal e do freio inibitório.
Graves problemas podem surgir caso a criança não consiga desenvolver sua imagem
corporal, como problemas em orientação espacial e temporal, nos conceitos descritos no
parágrafo anterior, no equilíbrio postural, desenvolverá dificuldades de se locomover em um
espaço predeterminado, ou até mesmo escrever obedecendo aos limites de uma folha.
Todo sujeito possui um lado preferencial do corpo para a realização das atividades;
este uso refere-se ao olho, mão e pé; os destros são os que se utilizam do lado direito do corpo
para desenvolver suas atividades e os canhotos são os que se utilizam do lado esquerdo do
corpo.
De acordo com Morais (2006, p. 35), além destas duas classificações, também, se
podem encontrar indivíduos com:

• Lateralidade contrariada: refere-se às pessoas, geralmente, canhotas, que


foram obrigados a mudar a preferência manual devido às “pressões” sociais e/ou
familiares;
• Lateralidade cruzada: quando não existe uma determinada homogeneidade na
preferência de um dos lados do corpo;
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A diferença entre a lateralidade contrariada e a cruzada é que nesta última, não


ocorreu a pressão ambiental para mudar a preferência lateral. Se essa pressão tivesse
ocorrido, então, já não seria considerada cruzada, mas, contrariada.
• Lateralidade indefinida: refere-se as crianças que ainda não se decidiram pelo
uso da preferencial de um lado do corpo, sendo é esperado a dominância lateral
estabelecida por volta dos quatro anos de idade.
• Ambidestria: referem-se às pessoas que se utilizam ambos os lados do corpo
com a mesma habilidade e destreza.

Ambidestria e lateralidade possuem uma diferença indefinida, ou seja, na primeira o


sujeito tem a preferencial lateral definida, mas, caso necessite, pode utilizar-se com a mesma
habilidade e destreza do outro lado do corpo.
Um conceito intrinsecamente ligado ao conceito de imagem corporal e de lateralidade
é o conceito de esquerda e direita, isso possibilita à criança a capacidade de distinguir o lado
direito e o lado esquerdo em si mesma, nas outras pessoas e nos objetos. Consonante
Ajuriaguerra (1977) diz que é por volta dos seis anos que a criança passa a reconhecer em si
mesma estas noções.
De acordo com Quirós e Della Cella (1965) apud Morais (2006, p. 43):

Piaget afirma que a aquisição destas noções passa por três estágios progressivos. No
primeiro estágio, entre cinco e oito anos de idade, a criança consegue distinguir
direito e esquerdo nela. O segundo estágio, entre oito e onze anos de idade, estas
noções passam a ser percebidas do ponto de vista do outro, a criança consegue
distinguir qual o lado esquerdo e direito em pessoas situadas na frente dela. O
terceiro estágio, que compreende o período entre os onze e doze anos, a criança
diferencia o lado esquerdo e direito nos objetos.

A aquisição de tais conceitos é fundamental à criança, em especial no momento da


aprendizagem da leitura e da escrita, isso pode implicar na orientação espacial, a criança pode
apresentar dificuldades para conseguir discriminar letras que diferem quanto à posição
espacial, por exemplo: b-d; p-q. Desta forma, o aluno poderá ler e escrever “toba” ao invés de
“toda” ou “pueijo” em vez de “queijo”.
O sentido direcional da leitura e da escrita também podem ser uma dificuldade neste
caso. Em nossa sociedade a leitura e a escrita acontece da esquerda para a direita, se a criança
não possuir tais noções ela não conseguirá respeitar esse sentido.
Ao se falar em orientação espacial é de grande importância que se realize a
diferenciação entre posição no espaço e relações espaciais.
Segundo Frostig, Horne e Miller (1980, p. 54):
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A posição espacial é a relação entre um objeto e o observador. A criança com uma


boa imagem corporal pode perceber a posição que os objetos ocupam, usando como
ponto de referencia o seu próprio corpo. Ela consegue discriminar as diferentes
posições espaciais que os objetos ocupam, compreendendo conceitos relacionados
com a posição espacial, como: atrás, à frente, esquerdo, direito, em cima, embaixo,
etc.

A capacidade que um observador tem para perceber a posição de dois ou mais objetos
em relação a si mesmo e em relação de uns com oi outros é o que caracterizam as relações
espaciais. O conceito de posição espacial é preciso ser adquirido pela criança para que ela
possa adquirir o conceito de relação espacial.
No caso da criança que não adquiriu as noções de posição e orientação espacial ao
iniciarem o processo de alfabetização passa a confundir letras que se diferem quanto à
orientação espacial e possuem algumas dificuldades em respeitar a ordem de sucessão das
letras nas palavras e das palavras nas frases.
Já a orientação espacial está diretamente ligada às atividades visuais, a orientação
temporal tem relação com a audição.
Para Condemarín e Blomquist (1970):

Quando se fala em tempo, sempre se engloba dois conceitos essenciais, ou seja,


duração e sucessão. Todos os fatos que ocorrem no tempo apresentam uma
determinada duração e uma determinada sucessão, isto é, uns acontecem antes e
outros depois.

É de grande importância que a criança consiga captar e saber discriminar a duração e a


sucessão dos sons, ela precisam dominar os conceitos temporais, como: ontem, hoje, amanhã,
dias da semana, meses, anos, horas, estações do ano, etc. Estes conceitos ajudam a criança a
se orientar no tempo durante a realização das atividades.
Dificuldade na pronuncia e na escrita das palavras podem surgir caso haja a ausência
do pré-requisito orientação espacial, ou seja, haverá troca de letras e até mesmo inversão;
pode ocorrer também à retenção de diversas palavras dentro de uma frase, de uma série d
ideias em uma história, a má utilização dos tempos verbais; e problemas na correspondência
dos sons com as respectivas letras que os representam, principalmente quando se trata da
realização de ditados. Esta habilidade se liga diretamente ao fator tempo, pois, o ritmo baseia-
se numa sucessão de elementos sonoros no tempo e que obedecem a uma determinada
duração. O ritmo é uma condição inata do ser humano, e é suscetível de educação, e o sentido
rítmico esta bastante desenvolvido em algumas crianças.
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É fato a importância de se trabalhar o ritmo no período da pré-escola, pois desta forma


se oferece à criança a percepção da ocorrência das pausas e dos sons, ou seja, da duração e da
sucessão.
A ausência de habilidade rítmica pode ocasionar uma leitura silabada, visto que a
leitura é uma sucessão de elementos gráficos que se traduzem em elementos sonoros. No
momento da leitura, a pontuação e a entonação que a criança dá também são consequências da
habilidade rítmica.
No que diz respeito à escrita, as dificuldades de ritmo, fazem com que a criança não
consiga respeitar os espaços em branco entre as palavras, escrevendo duas ou mais palavras
ligadas; dificuldades no ordenamento das letras dentro das palavras, ocasionando a supressão
ou adições de sílabas; e falhas na acentuação das palavras durante a leitura.
A habilidade rítmica é um pré-requisito essencial para a aprendizagem da língua
escrita. Nossa língua, a Língua Portuguesa, é uma língua alfabética, ou seja, cada letra
representa um determinado som. A decodificação das palavras, mais conhecida como leitura
inicial, geralmente acontece através de um processo analítico-sintético.
As dificuldades apresentadas pelas crianças no processo analítico-sintético,
provavelmente apresentarão problemas em alcançar o domínio das letras ou sílabas na
construção de palavras, isto quer dizer que, terão dificuldades em reconhecer as sílabas que se
repetem em diversas palavras diferentes e constituir novas palavras.
Para que seja possível a realização gráfica a criança precisa se capaz de reter os
movimentos motores; e ao ser introduzida no universo da leitura e da escrita, ou seja, no
universo simbólico, vão ficando gravados em sua memória, os diferentes movimentos
necessários para o traçado gráfico das letras.
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2 MÉTODO DE ENSINO

Para se determinar qual seria o melhor método para o ensino da leitura e da escrita
vários foram os estudos realizados; Gray (1957) apud Morais (2006, 71), relatou que não é
possível se concluir qual seja o melhor método de ensino empregado nos dias atuais, mas, que
cada método desenvolve determinadas capacidades no aluno.
As crianças não alfabetizadas por um método global apresentam maiores resultados e
mais facilidade para identificar palavras, no entanto, essas crianças apresentam uma leitura
mais lenta e silabada sem muita preocupação a respeito do que estão decifrando.
O método integral quando apresentado na alfabetização proporciona às crianças mais
discernimento para entender a significação das palavras em interpretação de textos, porém,
essas crianças apresentam dificuldade em encontrar palavras, em especial as que não
conhecem. Tal dificuldade de compreensão e de decifração das palavras resulta na troca de
palavras do texto por outras imaginárias.
Os métodos analíticos-sintéticos têm sido os que vêm ganhando nas pesquisas, no que
diz respeito a resultados positivos, onde se desenvolve a identificação das palavras e a
compreensão do que se aprende.
São muitos os pesquisadores que defendem os métodos de orientação analítico-
sintéticos no que diz respeito à alfabetização, não só para decifração de palavras como para o
entendimento.
Os métodos analíticos vêm sofrendo diversas críticas no que diz respeito à
alfabetização, em especial quando utilizados com crianças que possuem dificuldades de
aprendizagem.
De acordo com Lampreia (1978) apud Morais (2006, p. 73), no que tange aos
distúrbios de aprendizagem e sua prevenção, é fato que o método global é capaz de causar
grandes confusões em crianças que são iniciadas no processo de leitura pelo tal método,
principalemente em que crianças que ainda não adquiriram os conceitos (alto-baixo; esquerda-
direita), os quais permitem fazer as distinções entre as diferentes palavras que lhes são
apresentadas. Pode haver por parte destas crianças uma confusão de palavras cuja
configuração geral se assemelha como no caso de “morte” e “norte”, ou “taça” e “faça”, ou
“ração” e “nação”.
A criança que é alfabetizada pelo método global, segundo Dehant e Gille (1974) apud
Morais (2006, p. 73) não obtém as automatizações que lhe possibilitam decodificar qualquer
tipo de palavra ou frase; ela somente poder “ler”, o que lhe foi apresentado na escola e este
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impedimento acaba rapidamente com o estímulo que este método causou no começo da
alfabetização.
No que se refere a este acontecimento, de que os métodos globais se relacionam com o
princípio psicológico de “Gestalt”, isso que dizer que a criança observa os objetos e as
palavras de forma global, referidos autores chegam a conclusão que a percepção global das
crianças, que estão na fase de 5 a 6 anos de idade é colocada em questão.
É fato que em alguns momentos a criança presta atenção na estrutura total de um
conjunto e, em outros nas partes que se compõem esse conjunto. Esta é uma fase em que a
criança necessita ser apresentada a uma atividade que a leve a examinar as palavras, para que
não aconteçam substituições entre palavras que se parecem na forma global.
O uso de métodos do tipo global não é aconselhado por Carraher e Rego (1981) apud
Morais (2006, p. 74), isso no que diz respeito à crianças que ainda não tenham superado
primeira fase do realismo nominal lógico.
As referidas autoras acreditam que os métodos de orientação global se apóiam bem
mais na memorização do que na compreensão da relação entre palavra falada e palavra
escrita, onde cada som é representado por uma determinada grafia.
No que tange a modificação de comportamentos utilizando-se os métodos globais, em
especial com crianças portadoras de distúrbios de aprendizagem, Dehant e Gille (1974) são
decisivos, eles confirmam que não devem ser utilizados nem com crianças regulares e, nem
tampouco com crianças disléxicas. A criança não estabelecerá relações entre os sons e as
grafias correspondentes apenas com a visão inserida das palavras.
O método fonético é o mais indicado para se trabalhar com crianças com dificuldades
em distinguir visualmente, crianças que misturam detalhes ou configurações abrangentes de
palavras e têm dificuldades de orientação espacial.
Assim, um método global é desaconselhado para este tipo de criança, pois ela mistura
palavras que possuem configurações gerais iguais e particularidades diferentes ou vice-versa.
Desta forma então, é preciso se propor uma mudança metodológica para enfatizar o
processo de aprendizagem.
De acordo com Morais (2006, p. 75), este período de desenvolvimento ideal para
iniciar a alfabetização depende de determinados fatores como:

• Fisiológicos: maturação física e crescimento normal, maturação cerebral


(neurológica), visual, auditiva e fala;
• Ambientais: experiências sociais que são acumuladas pelas crianças,
interação com o meio ambiente;
• Emocionais: motivação para aprender e a adaptação da criança;
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• Intelectuais: atividade mental em geral, raciocínio, pensamento.

Se para ocorrer à maturação para aprender é preciso desses fatores, não é possível se
presumir que todas as crianças cresçam ao chegarem a determinada idade cronológica. Desta
maneira, não é possível que utilize unicamente o critério cronológico para que uma criança se
incluída em uma técnica de ensino; portanto a variável idade, no caso de problemas de
aprendizagem graves, não são parâmetros para o sucesso do aluno em contato com as metas
observadas pelos programas das escolas.
O critério de idade cronológica, segundo Poppovic (1971) apud Morais (2006, p. 74),
não deve ser aceitável por si só, é preciso que se adote o critério “idade mental” ao se falar em
idade de inicio de alfabetização. A “idade mental” reune a potencialidade de cada criança; a
motivação para aprender; o grau de estimulação das habilidades básicas que são necessárias à
alfabetização; as experiências adquiridas pela criança na interação com seu meio ambiente.
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3 DISTÚRBIOS DE APRENDIZAGEM

Os profissionais ligados ao ensino vêm se preocupando com várias questões


educacionais; os altos índices de evasão escolar e de reprovação registrados nas instituições
de ensino de nosso país, assim como o elevado número de crianças que recorrem ao
tratamento psicopedagógico por possuírem dificuldades de aprendizagem.
Por falar em dificuldades de aprendizagem vamos investigar um pouco sobre a
dislexia e algumas outras dificuldades.
Foi no começo do século XIX, que se passou a dar ênfase às crianças que possuíam
problemas de leitura e escrita e que não apresentavam fracassos nas demais disciplinas
escolares, nem tão pouco possuíam quaisquer deficiências que pudessem explicar as
dificuldades para ler.
O termo Cegueira Verbal Congênita usado por Pringle Morgan em 1986 para
caracterizar um rapaz de 14 anos de idade, que de forma alguam conseguia aprender a ler e a
escrever mesmo tendo visão normal, decorrentes desta dificuldade para ler e escrever era um
desenvolvimento defeituoso do “girus angularis” – giro cerebral localizado no lóbulo
temporal e responsável pela leitura.
O termo utilizado para designar crianças que invertiam letras e números durante a
leitura e escrita foi “Strephosymbolia”, termo utilizado por Orton em 1920.
Halgreen realizou em 1950 pesquisas em 276 crianças que eram consideradas
disléxicas quando comparadas a um grupo de crianças normais, a dislexia genética, foi o
termo utilizado para concluir que tal distúrbio é um fator genético.
Johnson e Myklebrest em 1983, assim como outros estudiosos, utilizaram o termo
Distúrbios Psiconeurológicos para caracterizar as dificuldades para aprender decorrentes de
uma disfunção cerebral em nível de sistema nervoso central.
Para Johnson e Myklebrest (1983, p. 41):

É importante ressaltar, que independente do tipo de aprendizagem, os distúrbios para


aprender ocasionalmente por uma disfunção neurológica, equivalem apenas a uma
dificuldade para ler, passível de reeducação, e nunca, a uma incapacidade para
aprender.

De acordo com Quirós e Della Cella (1965) apud Morais (2006, p. 92-93), quando há
distúrbios neurológicos na criança disléxica, estes se referem à Disfunção Cerebral Mínima
(DMC), a qual se caracteriza por:
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1. Hiperatividade: a criança encontra-se em constante movimento e não


consegue se concentrar por muito tempo em uma atividade;
2. Perturbações perceptuais: algumas dificuldades perceptivas a nível de
analise-síntese e figura-fundo;
3. Perturbações de imagem corporal: dificuldades em fazer representações
corporais e de orientar o corpo no espaço;
4. Perseverações: grandes dificuldades de passar de uma atividade para outra;
5. Sinais neurológicos: existência de determinados reflexos primitivos que não
deveriam mais existir;
6. Motricidade: dificuldades nos atos motores como correr, ficar parado num pé
só e defeitos a nível fonoarticulatório.

Os estudos realizados com o objetivo de afirma a existência de causa(s) neurológica(s)


que possam justificar ou mesmo caracterizar a dislexia, segundo Vellutino (1982) apud
Morais (2006, p. 93), não são suficientes e precisam de uma investigação mais profunda.
Vários autores utilizaram o termo Dislexia Especifica de Evolução para caracterizar
crianças com sérias dificuldades para ler e escrever. O termo “evolução” é usado por que os
sintomas que a criança apresenta desaparecem com tempo e, o termo “específica” por que as
dificuldades da criança delimitam-se ao campo da leitura e da escrita.
Outros distúrbios se associam às grandes dificuldades para ler e escrever corretamente
a língua falada.
A curto ou em longo prazo podem ocorrer Distúrbios da memória, onde a criança pode
ter dificuldades para recordar o que aconteceu, no momento anterior (curto prazo) ou a vários
dias (longo prazo).
Crianças disléxicas podem possuir dificuldades para recordar sequências e séries
como, por exemplo, os meses, os dias da semana, etc, são os chamados Distúrbios de
Memória para Sequências.
As dificuldades que aparecem na identificação dos lados do corpo, esquerdo e direito,
em si mesma e nos outros é chamado de Orientação esquerda-direita.
Os distúrbios caracterizados pela incapacidade da criança se situar no tempo, como
dificuldades em dizer horas, de identificar dias da semana, por exemplo, são os chamados
distúrbios de Orientação Temporal.
Ao observar o desenho precário de uma figura humana de uma criança pode-se
caracterizar de distúrbio de Imagem Corporal.
Uma criança disléxica com severos problemas de leitura que é incapaz de escrever,
que na soletração apresenta grande dificuldade para realizar análise-síntese de palavras ou
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frases dificultando, assim, o processo de ler e escrever é designado como distúrbio de Escrota
e Soletração.
Os Distúrbios topográficos se caracterizam pela dificuldade da criança ler, se situar em
mapas, globos e gráficos, calcular distância etc.
Distúrbios no padrão motor: estas dificuldades motoras são correr, saltar e manter o
equilíbrio num pé só.
Johnson e Myklebust (1983, p. 41), diferenciam dois tipos de dislexia:

1. Dislexia auditiva: caracteriza-se pela dificuldade em distinguir semelhanças e


diferenças entre sons acusticamente próximas e sons no meio de palavras.
2. Dislexia visual: caracteriza-se pela dificuldade em diferenciar, interpretar e
recordar palavras vistas visualmente, dificuldades de memória.

O disléxico consegue dominar as habilidades e destrezas para ler e escrever, na


maioria das vezes, por meio de uma reeducação e investimentos psicopedagógicos, mas
sozinho isso não é possível; no caso da dislexia severa os resultados não são nada animadores,
mesmo que haja ajuda de especialistas o disléxico conseguirá superar suas dificuldades em
sua totalidade.
O fracasso da criança disléxica é incompreendido, e isso afeta sua auto-imagem e
causa uma total desmotivação para aprender a ler e a escrever. Pais e professores poderão
ajudar a criança disléxica a superar os obstáculos de aprender a ler e escrever através de um
diagnóstico precoce.
Muitos são os distúrbios de aprendizagem, e dissertaremos agora alguns distúrbios
ligados a leitura.
A percepção das palavras envolve necessariamente a visão e a audição e a dificuldade
para tanto se caracteriza como sendo a Dificuldade para reconhecer palavras.
São várias as formas de leitura na leitura silenciosa as informações chegam ao cérebro
pela visão, na leitura oral são recebidas pela visão e audição, pela leitura ditada são recebidas
às informações pela audição. As informações são recebidas tanto pelos órgãos de audição
como pelos órgãos visuais na leitura oral, já que, à medida que os olhos visualizam as
palavras impressas, estas são articuladas e o som é captado pelas vias auditivas.
Na leitura as trocas que ocorrem devido às dificuldades de discriminação auditiva
envolvem sons acusticamente próximos caracterizam a leitura oral e as dificuldades
relacionadas a isso são as dificuldades de discriminação auditiva.
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É indispensável uma boa visão para que haja uma excelente discriminação visual, mas
uma boa discriminação visual depende também de outros fatores, a dificuldade quanto a isto é
chamada de dificuldade de discriminação visual. São quatro os conceitos essenciais para que
seja possível se discriminar as letras, palavras e números, quando o assunto é a leitura e
escrita; os conceitos de “em cima e embaixo, esquerda e direita”.
De acordo com Gonzales e Mira (1982) apud Morais (2006, p. 111), os “miscues”
podem definir-se como equivocações, respostas inesperadas, variações que não
correspondem, de forma exata, as informações gráficas, semelhantes ou sintáticas da
linguagem escrita; isto caracteriza a Análise dos “miscues”.
A Leitura silenciosa é uma atividade pedagógica em que o sujeito, tendo a sua frente
um texto deve lê-lo, usando apenas os olhos, sem movimentar os lábios, apontar com o dedo.
É esperado que tal leitura seja uma atividade muito mais rápida do que a leitura oral, pois não
engloba a articulação das palavras.
Pode ser divida em três níveis a compreensão da leitura, a compreensão literal, que
envolve a compreensão das ideias propostas no texto; a compreensão inferencial, que
pressupõe a analise das idéias que não possuem no texto, baseia-se na experiência do leitor; e,
por fim, a compreensão critica que é o posicionamento do leitor frente ao que esta sendo lido,
dificuldades, quanto a isso, é chamada de compreensão da leitura.
Muitas são as técnicas utilizadas para poder medir a compreensão do aluno, sua
capacidade de interpretar textos dentro de seus conhecimentos o que lê, exemplo é o teste de
“cloze”, técnica em que é apresentado ao aluno um texto para ser lido, em seguida apresenta-
se o mesmo texto, mas com lacunas para preencher palavras supridas.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS

São relativamente recentes os estudos voltados aos distúrbios de aprendizagem,


mesmo assim é possível se encontrar ideias erradas e ultrapassadas sobre o assunto, e tais
ideias passam a ser a base para pais e professores no trato com crianças que apresentam
dificuldades para aprender a ler e a escrever.
Diversas são as polêmicas enfrentadas que envolvem o processo de alfabetização,
mesmo nos dias atuais, podemos citar a ideia de que a interpretação de que ler e escrever são
frutos de um treinamento de determinadas habilidades básicas e também de que tal
dificuldade é fruto do desenvolvimento cognitivo.
Se a concepção de que a criança precisa interagir com o meio para aprender for o
ponto de partida, é dessa interação que ela constrói as estruturas cognitivas que lhe permite
reorganizar e conhecer o mundo que a cerca, a criança passa a ser vista como um ser pensante,
ativo.
Pais que incentivam seus filhos a ler e a escrever, que mostram figuras, que leem para
seus filhos, ou seja, que façam real a interação de seu filho com o mundo das letras, auxiliam
consideravelmente na aprendizagem de seus filhos; crianças que provém de ambientes
letrados têm mais facilidade em aprender a ler e a escrever do que crianças em ambientes não
letrados.
Já o ambiente familiar de crianças que possuem pais analfabetos ou que possuem
poucos conhecimentos culturais, de leitura e de escrita, não são capazes de transmitir
aprendizagem nesse sentido a seus filhos; para esta criança a aprendizagem certamente será
mais penosa e difícil.
O fracasso escolar é bem mais frequente em criança e adolescente com histórico de
delinquência, assim como nos estudos, muito mais do que as crianças que não apresentem tal
comportamento.
A área da matemática não é uma área a qual a criança com dificuldades para ler tem,
mas essa criança pode encontrar várias dificuldades para ler e compreender as questões, as
operações matemáticas não lhes proporcionam dificuldades.
Muitas vezes no momento em que a criança começa a apresentar dificuldades para
aprender, pais e professores esperam por um “despertar” dessa criança esperando que ela
apresente melhorias constantes.
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Se essa melhoria com o passar do tempo, à medida que o programa escolar vai se
tornando mais complexo não acontece, a criança passa a se sentir incapaz de superar suas
dificuldades, se sente incompetente e desastrada, assim ela passa a ser depreciada pelo meio e
pode vir a se recusar a frequentar o meio escolar.
Desta forma, nos dias de hoje é aconselhável que no primeiro sinal que a criança
apresentar de dificuldades, seja ela qual for, se realize um diagnóstico psicopedagógico para
se poder detectar a provável causa do déficit de aprendizagem, neste diagnóstico devem ser
avaliadas as habilidades cognitivas da criança, assim como, as habilidades motoras,
linguísticas e perceptivas que envolvem a leitura e a escrita.
O professor tem um papel de destaque não só no processo de diagnóstico como
também no processo reeducativo; é ele quem avalia a criança no início de sua aprendizagem e
reconhece suas limitações e deficiências, durante o processo ensino/aprendizagem, algumas
dificuldades como, por exemplo, ler, escrever, ortografia, lentidão para realizar as atividades
escolares.
A limitação do aluno deve ser respeitada pelo professor, este nunca deve realizar
comentários depreciativos a respeito das dificuldades apresentadas pelo aluno; este aluno não
deve jamais ser colocado em competição com outras crianças ou em situações que gerem
conflitos e ansiedade.
Geralmente a criança que possui algum tipo de dificuldade de aprendizagem possui
uma autoestima negativa, com o objetivo de ajudá-la pais e professores devem valorizar a área
de maior interesse desta criança, algo que ela realmente goste e se destaque, como pro
exemplo, música, pintura, etc.
Trabalhar com base nas habilidades que a criança possui desfocando de suas
dificuldades dá ao aluno o estímulo, a certeza de superação de seus obstáculos, pois se sentem
apoiados por quem confiam.
A diferença entre o sucesso e o fracasso escolar está no reconhecimento e na
identificação das dificuldades em aprender ler e escrever. Esta abordagem deve ser iniciada
pela definição da leitura e da escrita, seguida de análise das possíveis causas das dificuldades
de aprendizagem, como ausência de estimulação das habilidades básicas à alfabetização,
fatores de maturação, métodos de ensino, fatores emocionais, distúrbios específicos da leitura
e da escrita e dislexia, todos considerados como sendo casos clínicos.
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