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Lazarsfeld e Merton
Lazarsfeld e Merton
O programa do texto é o seguinte: 1) investigar o que se sabe a respeito dos efeitos, 2) examinar a propriedade e
estrutura dos media, 3) ter um conhecimento relativo aos efeitos dos conteúdos particulares. O texto articula-se em
três aspectos: A) Presença e poder dos media. Trata-se de um poderoso instrumento usado para fins positivos ou
negativos. Os autores destacam estes últimos; na falta de controlo há propaganda. As técnicas de manipulação
incluem as relações públicas, o patrocínio de programas de rádio, os concursos com distribuição de prémios, as
fundações culturais. Lazarsfeld e Merton temem os efeitos dos media na cultura popular e no gosto estético dos
públicos. B) Funções dos media. Os autores são funcionalistas; por isso, conferem funções aos media: 1) atribuição
de estatuto, dado que os media conferem estatuto a entidades individuais ou colectivas, elevando a imagem [ou
também a destruindo]; 2) execuções de normas sociais, pois, ao revelarem desvios ou situações sociais discordantes,
estão a apontar ou projectar o conformismo social; 3) disfunção narcotizante, que opera no sentido oposto ao de uma
norma, com os media a tornarem as pessoas insensíveis aos problemas, mas apenas de um ponto de vista superficial.
Há, aqui, o início da crítica à teoria dos efeitos ilimitados, substituídos por uma teoria mais benigna. C) Propaganda
com objectivos sociais. Os media são poderosos somente em três condições: 1) monopólio, quando há um controlo
total do que se escreve por parte do Estado ou de uma entidade económica 2) canalização [prefiro o termo
orientação], exemplificada na publicidade que procura convencer; 3) suplementação [prefiro o termo suplementar],
através da conjugação dos efeitos dos media com a eficácia dos contactos pessoais.
com o relevo a dar à posição de líderes de opinião, que filtram as mensagens segundo a concepção dos “dois passos
do fluxo de comunicação”. Outro ponto importante do texto. Pela estrutura de propriedade dos media avalia-se o
reforço do conformismo social, dado que os media são financiados por interesses económicos [ou políticos] e
contribuem para a manutenção de um dado sistema social. Os media comerciais estão mais interessados em estimular
Crítica ao texto ---- -Após a longa duração do paradigma administrativo ou teoria dos efeitos limitados, constatou-se
que o poder dos media era mais elevado, em especial devido ao impacto da televisão. A revisão foi dada pelos
contributos das teorias dos efeitos cognitivos, a partir dos anos de 1970. Por outro lado, Lazarsfeld e Merton deram
relevo à comunicação interpessoal, em equilíbrio com a comunicação mediática, o que implicaria uma interligação
Leitura: Paul Lazarsfeld e Robert Merton (1978). “Comunicação de massa, gosto popular e acção social organizada”. No
livro de Gabriel Cohn (org.) Comunicação e indústria cultural. S. Paulo: Companhia Editora Nacional (texto original de
1948).
TEORIA FUNCIONALISTA
Interacção_____Afastado o receio da teoria dos efeitos ilimitados, em décadas anteriores, em que se julgava que a
mensagem atingia completamente o receptor ou audiência, equacionava-se o efeito limitado da mensagem dos meios
de massa sobre a audiência. Contudo, a expansão da televisão – que começou a sua época de ouro nos Estados Unidos
nos anos 50 – fazia abandonar a ideia de considerar o meio electrónico como instrumento de formação, educação e
informação, mas acentuava o espectro da influência negativa, como autismo, dependência e delinquência.
Sucederam-se investigações para aprofundar a questão. Um dos autores com maior notoriedade seria Wilbur Schramm,
ligado à universidade de Stanford. Em 1961, após três anos de investigação bem financiada, em que entrevistou seis
mil crianças e dois mil pais, publicou resultados. O contributo de Schramm e do grupo de Stanford a si associado
salientaria a interacção entre a televisão e os tespectadores. Isto é: a televisão seria perigosa para uns e benéfica
para outros, o que não adiantou muito, portanto. E o conceito de interacção do meio com a audiência, apesar de
Análise funcional
Dentro da ideia de interacção, de que Schramm foi um dos agentes, Robert Merton definiria como análise funcional a
sociedade vista enquanto sistema que tende para o equilíbrio. A sociedade constitui um sistema, composto de
subsistemas funcionais, que se propõem resolver problemas no seu interior. Ao invés, uma actividade (social, por
exemplo) desempenha uma parcela no conjunto do sistema. Resumindo: a sociedade consiste em conjuntos complexos
cujas actividades parcelares se inter-relacionam, umas apoiadas nas outras. Merton publicou textos importantes como
Social theory and social structure (1949) e On theoretical sociology (1967). Nele, um sistema diz-se funcional se a
prática contribui para manter essa estrutura, ao passo que disfuncional é uma prática de ruptura. Além disso, distingue
investigação que atendia aos contextos e à interacção social dos receptores. O destinatário deixava de ser receptor
A teoria dos usos e gratificações insere-se em tal lógica: há influência social se um grupo social tem um interesse e se
relaciona com o interesse de outro grupo. Mauro Wolf (Teorias da comunicação) analisou esta teoria. Para ele, as
funções dos media são: 1) fornecer informação; 2) fornecer interpretação; 3) exprimir valores culturais e simbólicos;
4) fornecer entretenimento. Os media podem reforçar a posição social dos seus leitores e reforçar as normas sociais.
Considera ainda Wolf que a hipótese dos usos e gratificações explica o consumo e os efeitos dos meios de
comunicação de massa em função das motivações e das vantagens recebidas pelo destinatário.
Credita-se a Herta Herzog, antiga colaboradora de Lazarsfeld, a designação dos usos e gratificações. Num artigo seu,
publicado em 1944, ela analisou o trabalho que fez junto de ouvintes de radionovelas. Mais do que medir a influência
exercida pelas novelas transmitidas pela rádio, Herzog quis conhecer as razões e experiências destas fãs, os seus
usos e gratificações. E descobriu que as mulheres que ouviam as novelas o faziam por: 1) prazer emocional; 2)
Os anos de 1930 assistiram a um ambiente de forte conturbação – social, económica e política, com o surgimento dos
totalitarismos. Ao mesmo tempo, os media – imprensa, rádio – registavam um grande desenvolvimento. Nascia a
primeira teoria da comunicação, baptizada de efeitos ilimitados, da agulha hipodérmica (designação originada em
Harold Lasswell) ou da bala. Entendia-se que os meios de comunicação (imprensa, rádio) exerciam um efeito poderoso,
conhecido pelo seu modelo de comunicação: quem diz o quê a quem, por que canal e com que efeito. O primeiro quem
controla a mensagem, o segundo quem é a audiência ou receptores, o quê é a matéria comunicada, o canal conduz à
Um dos mais importantes trabalhos de Lasswell foi Propaganda technique in world war (1927), em que desenvolve o
conceito de propaganda. Para Lasswell, a propaganda tem quatro objectivos prioritários: 1) mobilizar o ódio contra o
inimigo, por meio de histórias de grande atrocidade; 2) manter a amizade dos aliados; 3) preservar a amizade e
procurar a cooperação dos que se mantêm neutros; 4) desmoralizar o inimigo. A propaganda, segundo Lasswell, é a
técnica de influenciar a acção humana através da manipulação das representações, como símbolos, por meio de
Lasswell estudou particularmente a campanha governamental que fez alterar a opinião pública americana de uma
posição anti-guerra para uma de pró-guerra e contra a Alemanha (I Guerra Mundial). Ele via na propaganda um utensílio
essencial para a gestão governamental da opinião, isto é, a necessidade de gerar o apoio das massas ao seu governo.
Mais tarde, Carl Hovland e um grupo de psicólogos de Yale editavam um livro, onde se descreviam experiências
efectuadas durante a I Guerra Mundial sobre o exército americano, também a propósito da propaganda (1949).
Estávamos no começo da Mass Communication Research, a cargo de Lasswell, e centrada em dois eixos: os efeitos
das mensagens dos media e a análise de conteúdo para descobrir as razões da influência directa total sobre as
audiências, então atribuída aos media. A teoria linear da agulha hipodérmica – um modelo directo de causa e efeito –
Lasswell foi, sucessivamente, professor nas universidades de Milikan, Chicago, Columbia e Yale.
Menos interessado em dividir o acto de comunicação nas várias partes e mais interessado em examinar o todo face ao
processo social global, Lasswell considera as três funções do processo de comunicação: 1) vigilância sobre o meio
ambiente, que revelam ameaças e oportunidades que afectam a comunidade, em termos de valores; 2) correlação de
forças entre os componentes da sociedade, 3) transmissão da herança social (Lasswell, 1978: 117).
Este texto, inicialmente impresso em 1948, mostra a transição feita pelo autor da teoria hipodérmica para a dos
efeitos limitados. Ele destaca os líderes grupais especializados, que desempenham papéis específicos de vigilância
sobre o meio e conduzem estruturas de atenção, proporcionando uma determinada condutibilidade da mensagem
(1978: 107). Além disso, as mensagens ocorrem dentro do Estado mas envolvem mais os canais familiares, a
vizinhança, os grupos e os contextos locais (1978: 109), podendo existir a comunicação em dois sentidos (a
retroacção). Estava-se na segunda função apontada pelo autor, a correlação de forças entre os componentes da
sociedade, e que conduz ao terceiro elemento do processo social: a transmissão de valores de geração para geração.
Ideais como esclarecimento, respeito ou bem-estar sucedem ao longo das gerações como valores pilares de uma
sociedade, os miranda (termo latino que designa os valores dignos de admiração e respeito), moldados e distribuídos
Leituras: Harold Lasswell (1978). “A estrutura e a função da comunicação na sociedade”. In Gabriel Cohn (org.)
LIVRO DE JOÃO PISSARRA ESTEVES (2002). Comunicação e sociedade.
Breve resenha histórica dos efeitos ilimitados ou teoria hipodérmica, a viragem iniciada por Paul Lazarsfeld, com a
teoria dos efeitos limitados ou orientação administrativa, de produção de conhecimento útil, o declínio desta e a
ascensão das teorias dos efeitos cognitivos (agendamento, newsmaking, diferencial cognitivo).
Depois, considera Pissarra Esteves, assistiu-se a um trabalho reconstrutivo, tendo por base a crítica ao paradigma
dominante e a partir de múltiplas direcções. Refere, nomeadamente, os interesses e os fins que dominam o sistema
dos média, as configurações e transformações institucionais, a sua repercussão nos universos simbólicos das
sociedades actuais e as relações estabelecidas com as aspirações e os interesses humanos. Pissarra Esteves
enquadra as teorias dos efeitos nas circunstâncias históricas e sociais dos anos 30 do século passado.
As tecnologias de difusão colectiva de mensagens estavam em grande desenvolvimento: imprensa de massa, rádio e,
depois, televisão. Havia a ideia do enorme poder dos meios de comunicação; daí se considerar que a comunicação de
massa exercia um efeito total, directo e irreversível sobre o público. O poder dos media tornava-se propaganda, numa
lógica de estímulo-resposta a uma mensagem. Harold Lasswell forneceu sistematização à teoria dos efeitos totais,
embora se considere que esta teoria foi mais um corpo de conhecimentos do que propriamente uma teoria (ver
também o livro de Mauro Wolf, Los efectos sociales de los media, editado em 1994).
Com a continuação de estudos empíricos, constatou-se que, afinal, as mensagens dos media não exerciam um efeito
total e manipulador. Passava-se a olhar os media como exercendo um efeito limitado. Paul Lazarsfeld, que apostou no
trabalho empírico, traçou a concepção do “fluxo de comunicação em dois níveis” e destacou o papel dos líderes de
opinião na formação dos efeitos das mensagens. A teoria dos efeitos limitados assumiria a posição de paradigma
dominante. As universidades americanas recebiam encomendas de estudos para saber o modo como um público ou
audiência reagiam à introdução de novos produtos ou a campanhas (publicitárias, políticas e outras). Depois, a partir
dos anos 70, com as transformações registadas, caso da expansão da televisão, o modelo de efeitos limitados era
posto em causa. Desde então, entende-se os efeitos dos media como indirectos e com carácter cumulativo.
Esta importante antologia, que divulga clássicos da sociologia da comunicação, traz textos de: Robert Park; Harold
Lasswell; Elihu Katz; Tichenor, Donohue e Olien; Gaye Tuchman; Todd Gitlin; e Elizabeth Noelle-Neumann.
Em Gitlin, é feita a crítica do paradigma dominante de Lazarsfeld, a sua ligação a Theodor Adorno e posterior
afastamento. Gitlin explora, nomeadamente, o ponto de vista administrativo do trabalho de Lazarsfeld (e dos seus
colaboradores), preocupado em especial com a realização de projectos de investigação em domínios comerciais. Por
exemplo, as publicações americanas Macfadden, detentoras da revista True Story, queriam conhecer o perfil das suas
leitoras. O projecto de Lazarsfeld, patrocinado por aquela entidade editora, trouxe informações sobre os gostos e o
sentido de compras das leitoras da revista, extrapolados para um público mais vasto em termos de escolhas e
consumo. Pissarra Esteves tem uma importante obra publicada, com destaque para A ética da comunicação e os
media modernos (1998) e Espaço público e democracia (2003). Seleccionou e apresentou o texto Niklas Luhmann: a