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A Batalha de Aljubarrota Canto IV
A Batalha de Aljubarrota Canto IV
A Batalha de Aljubarrota Canto IV
O poeta realça logo o tremendo sinal de combate, dado pelos castelhanos, por meio
dos adjetivos horrendo, fero, ingente, temeroso, som terríbil. Com o fim de realçar o
efeito produzido por esse tremendo som da trombeta castelhana, há a personificação
de seres da natureza física (o monte, os rios) que, eles próprios, tremeram frente a
esse terrível sinal de guerra. Associada à personificação surge também a hipérbole: o
Guadiana atrás tornou as ondas de medroso;/ correu ao mar o Tejo duvidoso. Como
símbolo do medo e terror deste som da guerra, aparece a ternura das mães, aos peitos
os filhinhos apertando. O efeito deste sinal de guerra é ainda realçado pelos rostos
macilentos (quantos rostos ali se veem sem cor). Para destacar este pavor que
precedeu a própria batalha, o poeta afirma, em jeito de conclusão, que nos perigos
grandes, o temor/ é maior muitas vezes que o perigo.
32 Eis ali seus irmãos (D. Diogo e D. Pedro Pereira) contra ele vão,
(Caso feio e cruel!) mas não se espanta,
Que menos é querer matar o irmão,
Quem contra o Rei e a Pátria se alevanta:
Destes arrenegados muitos são
No primeiro esquadrão, que se adianta
Contra irmãos e parentes (caso estranho!)
Quais nas guerras civis de Júlio e Magno.
Descodificação do discurso: Avançam contra ele os seus irmãos, mas ele não se
espanta, porque é pior revelar-se contra o rei e a pátria do que querer matar o próprio
irmão. Há muitos renegados destes no primeiro esquadrão, que avança contra irmãos
e parentes, como sucedeu nas guerras entre César e Pompeu. Valor da pátria e
interesse geral acima dos valores individuais.
* (Nómada salteador da zona desértica, de que falam vários poetas antes de Camões.)
Descodificação do discurso: João, que como bom capitão vigiava e corria o campo
animando todos com presença e palavras, sentiu o aperto em que estava Nuno. Logo,
com um punhado de cavaleiros, acorreu à primeira linha, como a leoa que pariu e
sente que o pastor lhe roubou as crias, corre furiosa, atroando os montes. Falou aos
companheiros exortando-os a defender a terra com a lança.
Descodificação do discurso: Mostra-lhes como ele próprio corria à frente de todos, não
só como Rei, mas também como companheiro de armas, no meio dos inimigos. E
depois de dizer isto, balançando quatro vezes a lança, arremessou-a com tal força que
muitos morreram.
Descodificação do discurso: Mandam para o país dos mortos muitos que recebiam
golpes mortais. Morrem ali o mestre de Santiago, o mestre de Calatrava e também os
Pereiras traidores, maldizendo a sua sorte.
Descodificação do discurso: João (D. João I) esteve os três dias habituais no campo da
vitória, e seguidamente deu graças a Deus com ofertas e romarias. Todavia, Nuno
Álvares, que só pretende a glória da guerra, passa além do Tejo.
Atitudes dos heróis: D. Nuno Álvares Pereira parte para as terras do Alentejo, onde
recebeu as glórias depois de cumprido o seu dever na Batalha, pois não quer grandes
festas, mas deseja apenas ser lembrado pelo valor das suas armas. O vencedor ficou
três dias no campo de batalha, sendo acalmado pelo povo, que lhe fez ofertas e
romarias.
Síntese
A trombeta castelhana dá o sinal para a guerra e este ecoa por toda a Península
Ibérica, desde o Cabo Finisterra ao Guadiana, desde o Douro ao Alentejo. As mães
apertam os filhos contra os peitos. Há rostos sem cor e o terror é grande, muitas vezes
maior do que o próprio perigo. Durante o combate as pessoas, com o furor de vencer,
esquecem-se do perigo e da possibilidade de ficarem feridas ou mesmo de perderem a
própria vida.
Síntese
A guerra começa. Uns são movidos pela defesa da sua própria terra e outros pelo
desejo de vitória. Os inimigos são muito numerosos, mas os portugueses defendem-se
com bravura. D. Nuno Álvares Pereira destaca-se na luta. D. Diogo e D. Pedro Pereira,
irmãos de Nuno Álvares Pereira, estão a combater contra ele, “(caso feio e cruel)” – no
entanto, não tão grave como combater contra o rei e a pátria. No primeiro esquadrão
há portugueses que renegaram a pátria e combatem contra seus irmãos. D. João I,
sabendo que D. Nuno Álvares corria perigo, acudiu à linha da frente para apoiar os
guerreiros com a sua presença e palavras de encorajamento e, com um único tiro,
matou muitos adversários. Depois desta situação, os portugueses mais entusiasmados
lutam sem recearem perder a vida. Muitos são feridos, muitos morrem, mas a
bandeira castelhana é derrubada aos pés da lusitana.
Com a queda da bandeira castelhana, a batalha tornou-se ainda mais cruel. Sem
forças para combaterem, os castelhanos começam a fugir e o rei de Castela vê-se
derrotado e impedido de atingir o seu propósito.
Síntese
Os castelhanos fogem vencidos e encobrem a dor das mortes, a mágoa, a desonra,
maldizendo e blasfemando de quem inventou a guerra ou atribuindo a culpa à sede de
poder e à cobiça. D. João I passa alguns dias no campo de batalha para comemorar e
agradecer a Deus a vitória com ofertas e romarias, mas D. Nuno Álvares Pereira, que
só quer ser recordado pelos feitos bélicos, desloca-se para o Alentejo.