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Classes de Predicados

Numa democracia como a ateniense, cuja estrutura política da cidade exigia a

participação atuante dos cidadãos, favoreceu o aparecimento e desenvolvimento da arte da oração.

A articulação da palavra era o caminho de persuasão geral para as decisões que iriam definir os

destinos da pólis. E de fato nesse meio democrático, propício a pluralidade de tons de opinião,

surgiram os discursos capciosos que pela força retórica conduziam fatalmente as mentes fracas ao

engano.

Já presente na obra platônica, o uso da dialética, como instrumento da linguagem, que

parte de hipóteses em direção a verdade, já combatia os sofismas da época. Porém, pelo método de

divisões sucessivas dos conceitos, a buscada essência da ideia seria atingida apenas em última

instância. Algo que tendia ao ceticismo e abria o leque para intermináveis discussões.

Pertencente ao Organon, que é denominado o conjunto das obras do filósofo grego

Aristóteles dedicadas ao estudo da lógica e dos elementos da linguagem, os Tópicos apresentaram

um método eficaz para a construção do discurso dialético. A proposta era dar um caminho para se

chegar a conclusões seguras partindo de ideias que eram aceitas pela maioria dos cidadãos. Para

tanto, com efeito, é necessária a análise de alguns elementos gramaticais componentes do discurso,

que no livro I da referida obra, o filósofo apresenta e destaca a importância de distinguir os tipos de

predicação do sujeito da oração.

Para o filósofo um argumento é um raciocínio que a partir de premissas verdadeiras,

invariavelmente chegam a uma conclusão verdadeira. O raciocínio é demonstrativo, quando são

baseados em verdades primeiras, e é dialético quando parte de proposições que são aceitas por

todos, pela maioria ou por filósofos.

Entretanto, existem os argumentos contenciosos ou erísticos que usam premissas que

parecem ser aceitas, mas não são na realidade ou então parecem que raciocinam em função das

geralmente aceitas. Da mesma forma, outro tipo de falseamento do raciocínio são os paralogismos,
que não de má-fé, partem de uma premissa que apresenta ambiguidade de sentidos.

As proposições que compõem os raciocínios apontam particularidades das coisas do

mundo. São os predicados: o que se atribui algo àquilo de que se fala numa oração. Podem defini-

los, dar-lhes o gênero, um acidente ou uma propriedade. Para se compreender a diferenças desses

tipos de predicação, utilizamos a seguinte proposição de exemplo: O homem é um animal racional.

A definição é a parte da frase que apresenta a essência da coisa que se está falando, sendo

que se eliminarmos quaisquer dos elementos dela, se perde a definição dela. Pois do exemplo, se

retirarmos o termo racional ou animal a definição está errada ou incompleta, porque claramente,

apenas o ser racional ou animal não defini o que o homem é.

O gênero é aquilo que se predica, na categoria de essência, de uma variedade de coisas

com um atributo em comuns entre elas, porém possuem diferenças específicas. Da frase

exemplificativa, o gênero é apresentado por “animal”, pois, assim como outros, o homem é um

animal, pois a sua diferença em relação aos demais, é ser racional, e isso somado ao seu gênero, lhe

confere a sua essência, tão como a espécie.

Uma propriedade como indica o filosofo, é algo que se atribui a coisa como sendo própria

dela, mas não é sua essência, pois sem ela não deixaria de ser o que é. Assim, podemos considerar a

fala articulada como propriedade do homem, com efeito, conversivelmente, aquilo que fala

articuladamente é homem, porém não deixam de ser homem os mudos e as crianças que ainda não

desenvolveram esta habilidade.

Dos predicados, aquilo que não é sua essência, propriedade, nem seu gênero, é um

acidente. O que se pode atribuir ao sujeito temporariamente ou de forma relativa, pois uma pessoa

pode estar sentada, dormindo, como também ao lado, embaixo ou em cima de um ponto de

referência. São estados e posições do sujeito, sendo que as duas primeiras são temporárias e as

demais relativas, e que, não são próprios da espécie, não atribuem gênero, muito menos

apresentam a sua essência.

A apresentação criteriosa das diferenças das classes predicativas é importante segundo


Aristóteles, pois o conhecimento delas, numa discussão, podem munir o interlocutor para fazer bom

uso e identificar erros e consequentemente derrubar os argumentos com problemas desta ordem.

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