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Vida e Obra de El Greco

Índice

1. Introdução
1.1 Notas

2. A introdução à arte
2.1 As mudanças na sociedade do século XVI
2.2 O maneirismo como forma de expressão
2.3 Michelangelo – o pioneiro e outros
2.4 O maneirismo na sociedade

3. A introdução a El Greco
3.1 Os primeiros anos
3.2 A mudança para Veneza
3.3 O “estrangeiro tolo” em Roma
3.4 A ida definitiva para Espanha – a ascensão de um artista

4. A arte de El Greco- Estilo e estética


4.1 A pintura
4.2 A arquitetura e a escultura

5. Análise de uma obra de arte


5.1 A obra na história e tema
5.2 Análise formal e subjetiva da obra
5.3 Referências da obra

6. Conclusão
1. Introdução

Este trabalho foi dado como proposta para a disciplina de História e Cultura
das Artes, sendo o projeto de final de ano, com o objetivo de aprender e analisar
um artista inserido em qualquer movimento ou tempo histórico.
Faço este trabalho com o propósito de estudar, compreender e dar a conhecer
um pouco do que foi a vida do artista escolhido, El Greco.
Neste seguimento, serão apresentados os precedentes do artista e do
movimento, factos sobre a arte maneirista e interesses, artistas do maneirismo e
respetivas obras, as circunstâncias da vida de El Greco e obras do mesmo.
No final do projeto será apresentado o estudo da obra escolhida, em conjunto
com imagens e curiosidades da mesma, com o objetivo de expor um trabalho
completo e de fácil compreensão.

1.1 Notas

Todas as imagens utilizadas têm como objetivo elucidar e tornar mais fácil o
entendimento do trabalho. Algumas também estão expostas para ser percetíveis as
diferenças entre as obras de artistas maneiristas, e destacar a arte de El Greco que, na
minha opinião, é a mais invulgar e desigual.
Qualquer artista, pessoa ou obra que não tenha uma obra em anexo, deve-se ao facto
de não haver informações suficientes sobre os mesmo e, portanto, são referidos
meramente como forma de referência, adicionando elementos esclarecedores para a
compreensão dos objetos em estudo.
2. A introdução à arte
2.1 As mudanças na sociedade do século XVI
O maneirismo foi um protesto contra o que era sentido como racional e as características
convencionais da Antiguidade Clássica. Surge aquando da Renascença, aproximadamente no início
no século XVI e termina ao mesmo tempo que esta, estima-se que um pouco depois do ano de
1600. Alguns historiadores consideram-no um movimento intermediário e transitório entre o
renascimento e o barroco, enquanto outros preferem vê-lo como um estilo, já que não era
influenciado por cânones ou qualquer tipo de regras. O certo, porém, é que o movimento
maneirista foi uma consequência de uma era em declínio, provocando uma profunda alteração na
sociedade e nos seus ideais. As ideias de que o Homem é a única medida do mundo, tudo tem der
ser perfeito e a positividade humanista, foram completamente erradicadas e substituídas por
negativismo, tensão e angústia. No campo da política, a invasão da Itália pelas tropas de Carlos V
levou a uma completa alteração no equilíbrio da Europa, culminando no Saque de Roma em 1527,
que causou uma enorme destruição e levou à emigração de intelectuais e nobres para outras
regiões, quer de Itália, quer do resto do continente, germinando a arte maneirista por toda a parte
(fig.1)

Fig.1- Recriação do Saque a Roma (à esquerda) e o retrato de Carlos


V, seu autor. (à direita)

Na religião, o início da Reforma Protestante por Martinho Lutero pôs um fim à hegemonia
do Catolicismo e do Papado, que contra-atacando, criaram a Contrarreforma numa tentativa de
suster a saída de fiéis para o lado rival e a perda de influência política da Igreja, resultando numa
visível agitação e confusão do povo. Da contrarreforma aparecem várias ordens religiosas, sendo a
mais famosa a dos Jesuítas (Companhia de Jesus) que trouxe novas formas de praticar e interpretar
a religião, criando outras hipóteses de escolha entre os crentes, dividindo-os ainda mais. (fig.2)

Fig.2- Recriação de Martinho Lutero a apresentar as 95 teses


protestantes; A Vulgata, Bíblia da Contrarreforma; Logótipo da
Companhia de Jesus.
Já na economia, a abertura de novas rotas comerciais devido à expansão e ao conhecimento
de novos lugares ricos, deixou a Itália fora do centro do comércio internacional, deslocando o eixo
económico e trazendo uma grave crise ao território. (fig.3)

Fig.3- Novas rotas marítimas comerciais.

2.2 O maneirismo como forma de expressão


Assim, os artistas viram-se forçados a alterar o modo de como viam o mundo e começaram a
criar obras de arte que representassem o que sentiam verdadeiramente, criando labirintos e espirais
de proporções estranhas, estilizando as figuras exageradamente e caprichando nos detalhes. Com o
aparecimento de um novo movimento, surgiu a necessidade de arranjar um nome e então, Giorgio
Vasari utiliza o termo ‘maniera’ (maneira), palavra italiana com conotações positivas, afirmando que
é uma arte amaneirada, cheia de graça, leveza e sofisticação. Para além disso e alguns anos mais
tarde, Raffaello Borghini utiliza o termo para definir se um artista possui ou não um talento superior
e primordial.
O maneirismo caracterizou-se, portanto, pelo individualismo e pela valorização do
expressionismo, renovando e criando obras completamente originais e controversas. Na pintura, ao
contrário do que acontecia no Renascimento, nota-se um experiencialismo da obra, um imaginário
insólito e adotou-se a subjetividade como objeto, ou seja, cada um poderia interpretar a arte da
forma que quisesse, que nunca estaria errado.
"Os pintores (…) maneiristas do século XVI eram menos "realistas" do que os seus antecessores da
Alta Renascença, mas eles reconheceram e ensinaram muito sobre como a vida pode tornar-se motivo de
perplexidade: através da sensualidade, do horror, do reconhecimento da vulnerabilidade, da melancolia, do
lúdico, da ironia, da ambiguidade e da atenção a diversas situações sociais e naturais. As suas conceções
tanto reforçaram como refletiram a preocupação com a qualidade da vida quotidiana, com o desejo de
experimentar e inovar, e com outros impulsos de caráter político. (…) É possível que toda arte apresente
esta postura, mas o Maneirismo tornou-a especialmente visível".. - Murray Edelman, psicólogo, cientísta
e político sobre a arte maneirista - traduzido do inglês
2.3 Michelangelo – o pioneiro e outros
Michelangelo de Buonarotti foi, provavelmente, dos primeiros artistas a apresentar obras
amaneiradas, sendo a primeira delas o Juízo Final, na parede do altar da capela Sistina (fig.4.) Esta
obra apresenta a rutura da arte renascentista para a maneirista na medida em que as figuras não
apresentam tanto rigor anatómico, aparecendo ligeiramente alongadas e torcidas (fig.5), havendo a
perceção da beleza e elegância como ornamentos não idealizados e a presença de um pathos
acentuado nos retratados (fig.6). Também se pode denotar a prevalência de cores frias, ditas como
artificiais por certos críticos.

"A torção em profundidade, a luta para escapar do aqui e agora do plano do quadro, que sempre
distinguiu Michelangelo desde os gregos, tornou-se o ritmo dominante de suas obras posteriores ao
Renascimento. Esse pesadelo colossal, o Juízo Final, é composta de tais lutas. É o acúmulo mais
avassalador em toda a arte de corpos em movimento violento".. – Kenneth Clark, historiador de arte –
traduzido do inglês

Fig.4- Juízo Final, Afresco numa Fig.5- Detalhes de figuras do afresco


parede da capela Sistina (1535-
1541)

Fig.6- Detalhe de figura expressiva


do afresco
As características gerais da pintura maneirista são:
- A presença de temas hereges e religiosos;
- A permanência da beleza, elegância, graça como características ornamentais;
- O menosprezo da proporcionalidade, perspetiva e simetria;
- A importância dos resultados subjetivos e na retratação de expressões emocionais fortes;
- O rompimento do ideal clássico de beleza idealizada;
- O retrato de figuras delgadas e serpenteadas;
- O uso de cores que não representam fielmente a natureza como ela é;

Estas características notam-se mais acentuadas em obras tardias do movimento, criadas por
artistas que nasceram quando este já estava implantado, tais como Tintoretto (fig.7), Parmigianino
(fig.8), Paolo Veronese (fig.9), etc. Apesar de se ter iniciado em Itália, foi também expandido pelo
resto da Europa e um pouco pelo resto do mundo, havendo vestígios desta forma de arte em algumas
colónias antigas da América e em alguns países do Oriente, sendo que de território para território
algumas das características acima apresentadas se alteram um pouco. Alguns exemplos de artistas
estrangeiros (fora de Itália) são o artista escolhido, El Greco – Grécia (fig.10), Cornelis Ketel - Países
Baixos (fig.10), Joseph Heintz - Suíça (fig.12), etc.

Fig.7- Jacopo Robusti


(Tintoretto)

São Marcos resgatando um


sarraceno do naufrágio
(pintura a óleo sobre tela)

(1562-1566)

Fig.8- Girolamo Francesco


Maria Mazzola
(Parmigianino)

A visão de São Jerónimo


(pintura a óleo sobre
painel)

(1526-1527)
Fig.9- Paolo Caliari Veronese
(Paolo Veronese)

Marte e Neptuno (pintura a óleo


sobre tela)

(1575-1578)

Fig.10- Domecicos
Theotocopoulos (El Greco)

A purificação do templo
(pintura a óleo sobre tela)

(1595-1605)

Fig.11- Cornelius Ketel


(Cornelis Ketel)

A companhia de Captain
Dirck Jacobsz Rosecrans e
Lieutenant Pauw (pintura
a óleo sobre tela)

(1588-1588)

Fig.12- Joseph Heintz

Diana e Aktaeon (óleo


sobre cobre)

(1590-1595)
2.4 O maneirismo na sociedade
Apesar de ser, na minha opinião, uma das artes mais estimulantes ao intelecto, como se
viviam tempos de divisão religiosa e na época a igreja detinha maior poder, numa tentativa de
controlar a população, aplicou regras à arte. Por isso, Alessandro Farnese, também conhecido como
Papa Paulo III, convocou o Concílio de Trento, o mais longo da história da Igreja Católica (1545-1563),
que levou ao fim da liberdade nas relações entre a Igreja e a arte. Os conhecimentos teológicos
assumiram o controle e estabeleceram limitações às extravagâncias maneiristas, em busca de uma
recuperação do decoro (adequação ou não de um estilo a um tema), de uma maior
compreensibilidade da arte pelo povo e de uma uniformização do estilo. Desde então, tudo devia
ser submetido de antemão ao crivo dos censores, começando no tema, até à forma de tratamento e
ainda à escolha das cores e dos gestos dos personagens. Por isto, algumas das obras acima
apresentadas foram bastante criticadas pela igreja, principalmente o Juízo Final de Michelangelo.
Ele foi acusado de ser insensível ao decoro em relação à nudez e a outros aspetos do trabalho, tanto
como de ser apoiante e praticante do maneirismo, desobedecendo à descrição bíblica dos eventos
retratados nos afrescos. No seguimento disto, o Conselho disse:

Toda a superstição deve ser removida... todas as lascívias devem ser evitadas; de tal modo que os
números não devem ser pintados ou decorados com uma beleza e emocionante luxúria... nada visto que
seja desordenado, impróprio ou confusamente organizado, nada do que é profano nem nada indecoroso,
vendo que a santidade convém a casa de Deus. E que estas coisas possam ser o mais fielmente observadas,
o Santo Sínodo ordena, para que a ninguém seja permitido colocar, ou fazer com que sejam colocadas,
quaisquer imagens incomuns, em qualquer lugar ou igreja, da forma como forem isentos, exceto que a
imagem tenha sido aprovada de pelo bispo. - Traduzido do italiano

Assim, criou-se a Inquisição em Itália que agia pela seguinte regra:


"As imagens nas Capelas Apostólicas devem ser cobertas, e aquelas noutras igrejas devem ser
destruídas, caso apresentem qualquer coisa que seja obscena ou claramente falsa".

O Juízo Final teve, portanto, de ser alterado. Daniele de Volterra, discípulo de Michelangelo
(fig.13) foi então quem restaurou uma das suas obras primas, defendendo sempre o seu mentor mas,
em obrigação, alterando todas as obscenidades que a Igreja mandava. (fig.14)

Fig.13- Tentativa de Fig.14- O antes e o depois do restauro


reconstituição do retrato
de Daniele de Volterra
3. A introdução a El Greco
3.1 Os primeiros anos

Foi então que, neste contexto, nasceu Domecicos Theotocopoulos (fig.15) em Creta, na Grécia
(fig.16) a 1 de outubro de 1541. É conhecido como El Greco ou El Grego em tributo ao seu país de
origem e é tido como um dos maiores nomes do movimento maneirista, tenho obras no campo da
pintura, da escultura e da arquitetura. Sabe-se muito pouco sobre sua vida. Apesar disso, conhecem-
se algumas das suas características, devido aos poucos documentos que restaram. Também
analisando as suas obras pode-se lhe atribuir uma personalidade perturbadora e impulsiva, de
atitude distinta perante o mundo. Pertencia a uma família católica respeitada em Creta e, embora
não se saiba nada sobre a sua mãe, descobriu-se que o seu pai, Geórgios Theotocopoulos, trabalhava
como cobrador de impostos e era também comerciante. Em conjunto com o pai trabalhou o seu
irmão mais velho, Manoússos Theotocopoulos, como negociante. Pensa-se que tenha sempre tido
uma boa relação com a família sendo que sempre a ajudou e, nos anos finais de vida do irmão, o
acolheu e tratou em sua casa.

Fig.15- Auto-retrato de El Greco Fig.16- Mapa de Grécia


em tela de lona

3.2 A mudança para Veneza


Foi desde cedo um aficionado das artes, tendo iniciado os seus estudos onde nasceu.
Começou por treinar a pintura de ícones na Escola cretense, o principal centro de arte pós-bizantina
de Itália, o que influenciou muito as suas primeiras obras (fig.17). Além da pintura, estudou
provavelmente os clássicos da Grécia Antiga, e talvez os clássicos Romanos, igualmente. Como Creta
era, na altura, uma colónia ultramarina da República de Veneza, era influenciada culturalmente pela
mesma e muitos que queriam vingar na vida mudavam-se para a “capital”, onde encontravam mais
oportunidades. Deste período da sua vida sabe-se pouco mas em aproximadamente 1560 mudou-se,
eventualmente, para Veneza, como seria de esperar e lá foi aprendiz de Ticiano (fig.18). Em Veneza
conheceu artistas como Tintoretto (fig.7), Veronese (fig.9), e Bassano (fig.19) e diz-se também que
começou aí o seu contacto com o maneirismo do centro de Itália, quando encontrou e estudou obras
de Domenichino (fig.20) e Parmigianino (fig.8).
Fig.17- À esquerda A morte da Virgem de El Greco, ícone pintado a têmpera sobre ouro; à direita
uma pintura do período pós-bizantino

Fig.18- Ticiano Vecellio (Ticiano)

Bacanal de Andros (pintura a óleo


sobre tela)

(1523–1526)

Fig.19- Jacopo da Ponte (Bassano)

O bom Samaritano (pintura a óleo


sobre tela)

(1562-1563)
Fig.20- Domenico
Zampieri (Domenichino)

A ascensão de Maria
Madalena ao céu (pintura a
óleo sobre tela)

(1617-1621)

Numa das suas primeiras obras conhecidas em Veneza (fig.21) podem ver-se as influências
que Ticiano exerceu sobre ele:

- O uso dramático da recuo das figuras em


primeiro plano;
- A despreocupação pela estética simplesmente
agradável ao olhar;
- A luminosidade intensa e dramática;
- A utilização de cores claras e brilhantes;

Fig.21- A cura do cego (pintura a óleo sobre tela)

(1566-1570)

3.3 O “estrangeiro tolo” em Roma


Em 1570 decide mudar-se para Roma, se calhar em busca de mais conhecimento artístico e
por influência dos artistas da capital com quem havia tido contacto em Veneza. Ficou hospedado
no Palazzo Farnese (Palácio Farnésio), tornado pelo Cardeal Alessandro Farnese no centro de vida
intelectual e artística da cidade. Ali conheceu vários constituintes da elite pensante romana, incluindo
o humanista Fulvio Orsini que, mais tarde, veio a ter na sua coleção sete pinturas do artista. Não
obstante a estar em Roma, todas as suas pinturas lá produzidas apresentavam mais características
venezianas do que propriamente romanas. (fig,22); (fig.23); (fig.24); (fig.25).
Semelhante à escola veneziana, El Greco usou a cor para dar forma às obras e tentar transmitir
sensações e sentimentos, com o objetivo de interpretar a arte pela pigmentação utilizada.
Conta-se que pintava e trabalhava num quarto pouco iluminado, pois acreditava que as
sombras conduziam melhor as suas ideias do que a luz do dia, que perturbavam o seu "brilho
interior".

Fig.22- Um menino soprando uma


brasa para acender uma vela Fig.23- Monte Sinai (pintura óleo e têmpera
(pintura a óleo sobre tela) sobre painel)

(1571-1572) (1570-1572)

Fig.24- Retrato de Giulio Clovio (pintura a Fig.25- Pietà (A lamentação de Cristo)


óleo sobre tela) (pintura a têmpera sobre painel)

(1570-1572) (1571-1576)
Em 1572 abriu o seu próprio estúdio e contratou como assistente o pintor Lattanzio
Bonastri de Lucignano que nunca chegou a ser reconhecido para além de ser ajudante e aprendiz
de El Greco.
No tempo em que esteve em Roma, Michelangelo, Rafael e Da Vinci já tinham morrido, mas
os seus exemplos continuavam a inspirar os jovens aprendizes pintores, como continuam ainda
hoje e como, lá no fundo, inspiraram El Greco, mesmo antes de ter ido para a capital (fig.26);
(fig.27).

Apesar disso,paradoxalmente ,por querer imprimir a sua própria marca e defender sua
visão artística, estética e estilo, criticou fortemente os ex-libris do Renascimento, dizendo que não
tinham cabeça própria para pensar a arte e não eram verdadeiros aquando de passar os seus
sentimentos para a tela.

Fig.26- Comparação de detalhes entre uma Fig.27- Comparação de detalhes entre uma pintura
pintura de El Greco - A cura do cego (fig.21) (à de El Greco- A cura do cego (fig.21) (à esquerda) e
esquerda) e uma pintura de Rafael- A escola de um afresco do teto da capela Sistina (à direita)
Atenas (à direita)

“Deves estudar os Mestres, mas guarda o estilo original que bate dentro da tua alma”
- El Greco num dos seus diários escritos em Roma – traduzido do italiano
Ele considerava Michelangelo "um bom homem que não sabia pintar" e até se ofereceu para
repintar o 'Juízo Final' (fig.4) na Capela Sistina, de acordo com um novo e mais rigoroso pensamento
católico, mantendo sempre a sua originalidade maneirista. Após estes acontecimentos foi muito
criticado em Roma, onde ficou conhecido como o “estrangeiro tolo” e arranjou bastantes inimigos,
o que o forçou a emigrar, sendo que a sua arte deixou de ser bem aceite lá. Posto isto, mudou-se
para Veneza durante um ano (1575-1576) até emigrar para fora do país definitivamente.
3.4 A ida definitiva para Espanha – a ascensão de um artista
Em 1577, El Greco emigrou para Madrid (fig.28). Durante a década de 1570, o enorme
mosteiro-palácio de El Escorial (um município na província de Madrid) ainda estava a ser construído
e Filipe II de Espanha estava à procura de um pintor à altura do seu edificado, a fim de o decorar.
Porém, Ticiano tinha morrido, e Tintoretto (fig.7) e Veronese (fig.9), dos artistas com mais renome
na altura, recusaram a oferta.
Apesar de por fim ter contratado um jovem pintor, Juan Fernándes de Navarrete (fig.29), este
acabou por falecer em 1579. Obra do destino ou não, isto foi favorável a El Greco, que após ter sido
recomendado ao rei por um amigo humanista e agente do mesmo, foi aceite para o cargo. A
trabalhar para Filipe II conheceu vários intelectuais, sendo o mais importante Luís de Castela, filho
do deão (cardial importante) da capital de Toledo (fig.26), que lhe arranjou as primeiras
encomendas para esse território, onde mais tarde acabaria por ficar até à sua morte.

Fig.28- Mapa da Península Ibérica

Fig.29- Juan Fernándes de


Navarrete (El mudo)

O batismo de Cristo (pintura a


óleo sobre painel)

(1565-1568)
As suas únicas obras encomendadas pela realeza foram a Adoração do Santo Nome de Jesus
(fig.30) e o Martírio de São Maurício (fig.31).

Apesar de toda a dedicação e esforço que demonstrou ao pintar as obras, o rei não gostou
dos trabalhos efetuados. A primeira pintura referida foi descartada e a segunda foi pendurada numa
sala pouco visitada, em vez de ser disposta no altar da capela para o qual tinha sido encomendada.
Não se sabem as razões exatas para a sua insatisfação em relação aos resultados, porém, alguns
estudiosos dizem que El Greco violou uma regra da Inquisição da Contrarreforma - a supremacia do
conteúdo sobre o estilo. Esta situação fez com que qualquer hipótese de patrocínio real a El Greco
fosse, agora, anulada.

Fig.30- Adoração do Santo Nome de Jesus Fig.31- o Martírio de São Maurício


(pintura a óleo sobre lona) (pintura a óleo sobre tela)

(1577-1579) (1580-1582)

Para além de obras parao rei, executou ao mesmo tempo as suas primeiras encomendas de
Toledo, destinadas, maioritariamente, à decoração de instituições religiosas do território. De entre
as 9 primeiras obras encomendadas, as que são consideradas mais importantes são El Expolio (fig.32),
A Santíssima Trindade (fig.33) e A Ascensão da Virgem (fig.34).
Fig.32- El Expolio (pintura a óleo sobre
lona) Fig.33- A Santíssima Trindade
(pintura a óleo sobre tela)
(1577–1579)
(1577-1579)

Fig.34- A Ascensão da Virgem (pintura a


óleo sobre tela)

(1577-1577)
Sem os favores de Filipe II, El Greco foi obrigado a permanecer em Toledo, onde tinha sido
anteriormente recebido, em 1577, como um grande e reconhecido pintor. Naquela época a cidade
era considerada a capital religiosa de Espanha e tinha já um elevado número populacional.
Praticamente todos os registos que foram encontrados da cidade descrevem-na como um lugar
com "um passado ilustre, um próspero presente e um futuro incerto", pelo que o artista não
refutou a sua estadia, tanto que foi nesta cidade que ficou até falecer. Lá abriu um estúdio próprio
onde produziu, principalmente, quadros para altares e estátuas com a ajuda do seu novo
discípulo, Francisco Preboste. Foi nesta época (1586) que concebeu o seu ex-libris, O Enterro do
Conde de Orgaz que retrata o enterro de um dos nobres mais queridos e importantes de Toledo no
século XIV (fig.35), pelo qual é mundialmente famoso. Seguidamente, entre os anos de 1597 a 1607
teve o seu período mais movimentado, sendo que recebeu pedidos de muitas figuras e esculturas
para todo o tipo de instituições religiosas que, na altura, tiveram um crescimento exponencial de
construções e/ou restaurações. (fig.36); (fig.37); (fig.38).

Fig.35- O Enterro do Conde de


Fig.36- Vista de Toledo (pintura
Orgaz (pintura a óleo sobre tela)
a óleo sobre tela)
(1586-1588)
(1596–1600)

Fig.37- A ressureição (pintura a Fig.38- O batismo de Cristo


óleo sobre tela) (pintura a óleo sobre

(1597-1604) (1597 - 1600)


Para além das solicitações que tinha, gostava de treinar o retrato e, por isso, produzia alguns
por puro divertimento, apesar de maior parte deles agora valerem milhões. (fig.39); (fig.40); (fig.41).

Fig.39- Retrato de Antonio de Covarrubias Fig.40- Retrato de uma senhora


(pintura a óleo sobre tela) (pintura a óleo sobre tela)

(1594-1594) (1595-1595)

Fig.41. O retrato do cardeal


Fernando Nino de Guevara (pintura
a óleo sobre tela)

(1598-1598)
Alguns registos de amigos e vizinhos identificam-no como inquilino de um terreno com três
apartamentos e vinte e quatro quartos que tinham pertencido ao Marquês de Vilhena, na altura.
Descreviam-no como um estudioso que se sabia divertir, vivendo dos prazeres e, algumas vezes,
contratando músicos para tocarem enquanto comia ou organizando grandes ceias em sua casa,
para os seus amigos. Foi também nesta casa que viveu com Jerónima de Las Cuevas (fig.40), com
quem nunca casou ou assumiu uma relação séria mas, com quem teve um filho, Jorge Manuel
Theotocopoulos, em 1578. (fig.42)

Fig.42- Retrato de
Jorge Manuel
Theotocopoulos por
El Greco

Embora parecesse estar tudo a correr bem para o artista, entre 1607 e 1608 viu-se
envolvido num problema judicial com as autoridades do Hospital da Caridade de Illescas, sendo que
estes não tinham pago as suas obras pictóricas e escultóricas, nem o planeamento arquitetónico de
um projeto. Esta e outras disputas legais contribuíram para as dificuldades económicas que
surgiram no final da sua vida. Em 1608 recebeu a sua última grande encomenda para o Hospital de
São João Batista, em Toledo. (fig.43)

Fig.43- A visão de São João (pintura a óleo


sobre tela)

(1608-1614)
A meio da execução desta última obra, El Greco ficou gravemente doente, vindo a falecer a 3
de abril de 1614. Poucos dias antes, a 31 de março, tinha posto o filho como seu herdeiro.

Apesar de, enquanto vivo a sua arte não ter sido homogeneamente admirada, o seu estilo
dramático encontrou grande estima no século XX, tendo sido considerado um precedente do
expressionismo e do cubismo (fig.44). Ao mesmo tempo, a sua personalidade e trabalhos foram fonte
de inspiração a poetas e escritores como Rainer Maria Rilke e Nikos Kazantzakis.
El Greco é agora apreciado como um artista tão extraordinário e peculiar que não parece
pertencer a nenhuma das escolas convencionais.

Sobre El Greco, Christiansen (famoso inventor) disse: "El Greco era espanhol por
excelência e um proto-moderno - um pintor do espírito", que rejeitava uma cultura materialista
e perseguia as construções "místicas internas" – traduzido do Dinamarquês

Fig.44- À esquerda o retrato de


José Manuel por El Greco (fig.39)
e à direita o retrato de um pintor
por Picasso, pintor cubista

Com a comparação acima apresentada conseguimos ver parecenças entre uma obra de El
Greco e uma obra de Picasso, separadas por quase 400 anos. Assim se comprova a influência deste
artista nos movimentos artísticos futuros da arte nova, sendo que nessa altura a mentalidade dos
pintores e dos recetores de arte era muito mais aberta ao inusitado e a uma estética fora do
normal.
4. A arte de El Greco- Estilo e estética
Sobre o seu portefólio de obras, o número de composições conhecidas variou muito ao
longo dos anos, tendo havido registo de 787, 285 e, por fim, 135 pinturas. Quanto às esculturas,
estas foram meramente decorativas e, portanto, não conhecidas a solo (exceto uma encontrada e
identificada há pouco tempo (fig.45)). No campo da arquitetura há registo de vários projetos
arquitetónicos de pequenas instituições em Toledo, não havendo também um número certo.
(fig.46)

Fig.45- Ecce Homo (escultura Fig.46- Santo Ildefonso - Hospital da Caridade


em madeira policromada) em Illescas, algumas salas foram desenhadas
por El Greco

O estilo de El Greco deu prioridade à imaginação e ao caráter subjetivo da obra, descartando os


ideais da Antiguidade Clássica. Ele acreditava que a graciosidade e a espontaneidade eram o maior
objetivo da arte e um pintor só os alcança quando consegue resolver os problemas mais complexos
procurando as soluções nas coisas óbvias do simples.

4.1 A pintura
"Acredito que a reprodução da cor é a maior dificuldade da arte." - escrito por El Greco
num dos seus manuscritos.
O artista acreditava que a cor era o componente mais importante e irrefreável da pintura e
declarou que a cor se impunha sobre a forma, um conceito da Escola Veneziana que ele utilizou em
todas as suas obras. Também a predileção de El Greco por figuras incrivelmente altas, esbeltas e
serpenteadas é considerada uma característica inegável da sua Obra. Ele acreditava que as formas
assim seriam muito mais expressivas e esteticamente mais agradáveis ao olhar, o que o levou a
desrespeitar as leis da natureza e a alongar as suas composições em grandes dimensões,
principalmente quando eram aplicadas em retábulos para altares. A anatomia do corpo humano
tornou-se assim, para ele, mais sublime até mesmo nos seus trabalhos mais antigos.
"Eu não ficaria feliz em ver uma mulher bem proporcional e bonita, não importa sob
qual ponto de vista, ainda que extravagante. Não apenas perderia sua beleza e ordem, eu
diria, quando aumentada em tamanho de acordo com as leis da visão, já não mais pareceria
bonita, mas, na verdade, seria monstruosa" - nota de rodapé escrita pelo artista no livro De
Architectura, de Vitrúvio

Outra característica da estética de El Greco é o uso e manipulação da luz. Entendidos da arte


comentam que cada figura parece ter luz própria ou a própria luz provém de um sítio de onde não
consegue ser vista. Fernando Marias e Agustín Bustamante García, dois dos diligentes que
transcreveram as notas manuscritas de El Greco, estabelecem uma ligação entre o poder que o
pintor expressa com a luz, às ideias do neoplatonismo cristão do Renascimento (fig.47).

Fig.47- Comparação entre uma pintura neoplatónica do renascimento ((A Natividade


Mística de Botticelli) à esquerda) e uma pintura maneirista de El Greco ((A Adoração do
Santo nome de Jesus (fig.30)) à direita)

Já nos retratos, El Greco não pôde pôr em prática algumas das suas características prediletas, mas
manteve o seu registo de originalidade, não pintando as características exatas do modelo, mas sim
expressando caráter do retratado. Apesar de ter um número de retratos significativamente menor
do que de pinturas religiosas, estes têm a mesma qualidade que todas as restantes obras . A seguir,
apresentam-se mais algumas obras e retratos do artista, para que as suas características sejam mais
percetíveis (fig.48); (fig.49); (fig.50); (fig.51); (fig.52); (fig.53).
Fig.49- O cavaleiro com a Mão
Fig.48- Tríptico da Modena (pintura a têmpera sobre
no Peito (pintura a óleo sobre
painel)
tela)
(1567-1568)
(1580-1580)

Fig.50- O Enterro de Cristo (pintura a Fig.51- A Anunciação (pintura a óleo


óleo sobre tela) sobre tela

(1570-1576) (1597-1600)

Fig.52- O Pentecostes Fig.53- A Virgem


(pintura a óleo sobre tela) da Imaculada
Conceição
(1597-1600)
(pintura a óleo
sobre tela)

(1607-1613)
4.2 A arquitetura e a escultura

Na arquitetura e na escultura, apesar de não ser reconhecido como tal, foi um grande
arquiteto de Toledo. Realizou o projeto completo de vários altares e salas, funcionando ao mesmo
tempo como arquiteto, escultor e pintor, pois projetava e decorava os espaços. Manteve os seus
ideais extravagantes, defendendo a liberdade da criação, a inovação, a diversidade e a
complexidade. O seu projeto arquitetónico mais famosamente conhecido é o Mosteiro de São
Domingo o Velho (fig.54).

Fig.54- Perspetivas do Mosteiro de São Domingo o Velho


5. Análise de uma obra de arte

Fig. 55- Laooconte (pintura a óleo sobre tela)

Dimensões: 142 x 193 cm

(1610-1614)

Depois da anterior apresentação do artista e a introdução à sua técnica e estética, achei


interessante falar sobre uma obra que se destaca de todo o reportório por ser a única que representa
um tema mitológico e ter sido das últimas obras dele, sendo que nem foi acabada (fig.55).

5.1 A obra na história e tema


Acredita-se que para produzir esta obra, El Greco se inspirou na escultura de Polydorus de
Rhodes, Athenodoros de Rhodes e Agesandro, da Antiguidade Clássica “Laocoonte e os seus filhos”
(fig.56). Ambas as obras encarnam a tragédia de um episódio mitológico da Guerra de Troia, um
conflito armado entre gregos e troianos (1260 a.C. – 1180 a.C), retratado na Ilíada de Homero e na
Eneida de Virgílio. Este episódio conta que Poseidon, apoiante dos gregos, exerceu uma punição
divina sobre o sacerdote troiano Laocoonte, que foi contra a entrada do cavalo de Troia nas muralhas
da cidade. O deus dos mares lança, por isso, enormes serpentes sobre os seus filhos. Ao aperceber-
se disto, Laocoonte corre ao seu socorro, acabando por morrer, o que cria, em ambas as obras, um
ambiente de terror e tenso.
Apesar de se ter inspirado nesta obra, El Greco pintou as figuras como subjugadas e inferiores
às cobras, ao contrário da escultura, que expõe Laocoonte e os seus filhos como heróis. Historiadores
também notam que a pintura não expressa tanta agonia e desespero como a obra original, sendo
que o revirar de olhos dos personagens mostra um sentimento de desânimo e conformação com a
morte iminente. Para além disso, também dizem que El Greco não captou bem a essência da relação
de amor entre pai e filhos sendo que nenhum deles dá conta do sofrimento dos outros, ao passo que
na escultura é notável a preocupação de Laocoonte com os filhos e vice-versa.
Fig.56- Laocoonte e os seus filhos (escultura em mármore)

5.2 Análise formal e subjetiva da obra


Na pintura aparece uma composição de cinco corpos nus distribuídos equilibradamente pelo
espaço, no entanto, criando uma certa tensão uns entre os outros. Também se podem observar
algumas habitações ao longe. As linhas estruturais da obra não são evidentes, sendo que este
trabalho não é apresentado em esboço, porém, penso que podem ser horizontais (uma
anormalidade para El Greco) pois a obra aparece-nos sem grande noção de perspetiva e
profundidade. Contudo, as figuras continuam a aparecer verticais e alongadas. As outras linhas
presentes servem como contorno e apresentam-se grossas e sinuosas.
Em primeiro plano, Laocoonte, que está no centro, está prestes a falecer em tormento nas
rochas ondulantes e escuras, enquanto uma cobra lhe tenta morder a cabeça. À sua esquerda, um
dos filhos dele está a contorcer-se de dor, enquanto tenta domar a serpente que vai em direção ao
seu abdómen. Do outro lado está o outro filho de Laocoonte que aparenta já estar morto. No
extremo direito da obra aparecem figuras não identificadas e incompletas, sendo que uma delas nem
aparenta ter braços. Alguns estudiosos puseram em questão estas figuras representarem Deuses, por
exemplo Apolo, Atena, Artemis (pois todos estes são deuses de algo relacionado com violência) e
ainda Poseidon, o culpado do sofrimento do trio troiano (fig.57).

Fig.57. Detalhe de primeiro plano da obra Laocoonte de El Greco


Para o segundo plano, que funciona também como plano de fundo, El Greco usou a vista de
Toledo, pois achava que o povo de lá era descendente de troianos. Entre o primeiro e o segundo
plano aparece o cavalo de Troia que vai em direção ao centro da cidade, provavelmente uma
metáfora lembrando que Laocoonte fracassou na tentativa de convencer os seus conterrâneos da
emboscada grega. (fig.58).

Fig.58- Detalhes do fundo da obra Laocoonte de El


Greco

A sensação de volume é facultada pelo estudo do chiaro-escuro em sombra própria, jogando


entre as tonalidades mais escuros e mais claras da cor preta sobre os corpos de cor branca suja. Em
termos de pigmentação, todos os planos apresentam grandes manchas, sendo que no primeiro plano
as cores predominantes são o branco sujo dos corpos e derivantes da cor preta, como já foi referido
em cima. No plano de fundo derivantes de verde e castanho da terra são interrompidos pelo branco
das habitações e contrastam com as tonalidades azuis do céu.
O foco luminoso da obra parece vir das nuvens, que emitem a luz sobre a cidade, mas
maioritariamente sobre os corpos nus das personagens.
Portanto, Laocoonte reflete a influência maneirista e veneziana clara que El Greco tinha,
como se pode verificar nas figuras distorcidas e contorcidas do pai, dos filhos e dos supostos
deuses. É, para mim, o auge da época maneirista, acentuando todos as características numa
magnífica composição que, apesar de desequilibrada, faz todo o sentido. As linhas tortuosas, as
cores dramáticas e escuras e os corpos serpenteados apresentados em escorço, resultam numa
obra perfeita, aquilo que o artista mais desprezava.
Foram feitas várias interpretações desta obra e o objetivo que El Greco tinha ao produzir
algo fora da sua zona de conforto. Alguns dizem que artista pretendia representar, através do mito
de Laocoonte, um combate do homem contra o mal. Também foi sugerida a hipótese de que El
Greco queria criar uma obra metafórica que fazia alusão às condenações da inquisição a um
arcebispo conhecido de Toledo. Outra possibilidade é que o artista pretendeu superar a escultura,
o que era muito usual na época e era conhecido como paragone (competição das artes que
consistia em ver qual era melhor executada).
5.3 Referências da obra
Apesar do artista defender a originalidade e a espontaneidade das obras, neste quadro
podem-se verificar algumas referências a outros artistas e até mesmo a outras obras produzidas por
si próprio. Algumas que se podem apontar são a obra de Ticiano (fig.18) - São Marcos libertando o
escravo (fig.59), a escultura helenista A Gália caída (fig.60) e o quadro de São Pedro feito por ele
(fig.61).

Fig.59- Comparação de detalhes entre a obra de Ticiano – Marcos


libertando o escravo (à esquerda) e um dos filhos de Laocoonte na obra
de El Greco

Fig.60- Comparação de uma escultura helénica e Laocoonte na obra


de El Greco
Fig.61- Comparação entre a obra de El Greco- São Pedro e o detalhe
de Laocoonte na obra de El Greco

6. Conclusão

El Greco viveu uma vida praticamente inteira como um estrangeiro e ainda assim conseguiu
ser, eventualmente, bem-sucedido, vivendo uma vida prazerosa e despreocupada, sempre a fazer o
que gostava. Apesar de ter tido alguns inimigos, de não ter sido sempre afortunado no seu trabalho
e de ter sido fortemente criticado pela maneira ousada como via a vida e o mundo, foi um exemplo
enorme de perseverança e persistência, que nunca desistiu do que mais gostava, inspirando, em
pleno século XXI, milhares de pessoas e artistas. O seu estilo maneirista e intenso atravessa todas as
pessoas que observam a sua Obra, quer a compreendam ou não. Tornou a arte numa coisa tão
simples, e ao mesmo tempo fê-la complexa, de forma original e inusitada, mesmo que só tenha sido
reconhecido pelo seu talento mais tarde.
Eu escolhi este artista, não só por ser um dos meus favoritos e representar um dos
movimentos artísticos mais incrível e único que já houve, mas também por achar que se apresenta
como um verdadeiro exemplo de perspicácia e convivência com o mundo. Embora seja descrito como
uma pessoa traumatizada, individualista e paradoxal, é, para mim, uma inspiração a continuar no
mundo da arte e a manter-me verdadeira à minha essência e estilo, porque não importa o que os
outros acham, desde que para nós faça sentido.
Agrupamento de Escolas de Mangualde - Escola secundária Felismina de
Alcântara
Para a disciplina de: História da cultura e das artes
Professor/a da disciplina: Ana Cristina Garcia Cabral
Trabalho realizado por: Eva Santos, nº3, 10ºC, Artes Visuais
Bibliografia:

https://www.historiadasartes.com/nomundo/arte-renascentista/maneirismo/

https://pt.wikipedia.org/wiki/Maneirismo

https://pt.wikipedia.org/wiki/El_Greco

http://www.arqnet.pt/portal/biografias/greco.html

https://www.infoescola.com/biografias/el-greco/

https://www.infopedia.pt/$el-greco

https://pt.wikipedia.org/wiki/O_Enterro_do_Conde_de_Orgaz

https://prezi.com/elejqexaqi5z/a-inquisicao-e-a-contra-reforma/

https://pt.qwe.wiki/wiki/Laoco%C3%B6n_(El_Greco)

https://es.wikipedia.org/wiki/Laocoonte_(el_Greco)

Manual História da Cultura e das Artes – 10.º Ano – Raiz editora

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Foi um momento grandioso. Uma consciência pura e virtuosa que ficou sobre
uma das bandejas da balança, um império sobre a outra, e foste tu,
consciência do homem, que depositaste as escalas. Esta consciência será capaz
de comparecer perante o Senhor no Juízo Final e não ser julgada. Ela julgará,
porque a dignidade humana, a pureza e o valor encherão o próprio Deus com
terror… Arte não é submissão, nem regras, mas sim um demónio que esmaga
os moldes… O peito do arcanjo interior de Greco lançou-o sobre uma singular
esperança de liberdade selvagem, o excelentíssimo sótão deste mundo. - Nikos
Kazantzakis, filósofo – traduzido de grego

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