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--EMENTA: DIREITOR SINDICAL – DESINCOMPATIBILIZAÇÃO – PRAZO –

DURAÇÃO – REASSUNÇÃO. A desincompatibilização de diretor sindical é provisória,


e perdura até o dia das eleições finais

RELATÓRIO:

Cuida-se de consulta do presidente de entidade sindical, que, tempestivamente, se


desincompatibilizou do cargo para concorrer ao pleito municipal ao cargo de vice-
prefeito. Assim, questiona se sua desincompatibilização é provisória ou permanente,
ou seja, uma vez encerradas as eleições municipais e sendo eleito vice-prefeito para o
mandato 2017/2020, se o consulente poderá reassumir o cargo de diretor sindical, o
qual afastou para concorrer ao pleito eleitoral, e sendo positiva a resposta, a partir de
quando poderá reassumir o cargo diretivo.

DA FUNDAMENTAÇÃO

O Instituto da desincompatibilização é matéria trazida pela Constituição da República,


que preza, essencialmente em garantir equidade ao pleito eleitoral, de forma a impedir
que candidatos utilizem de seus cargos ocupados, ou que utilizem dos órgãos que
fazem parte, para angariar votos de forma desequilibrada. Ainda, pode ser entendida
como sendo a forma pela qual o candidato atende requisito legal concorrer a cargo
eletivo.

Na nossa Carta Magna, o Art. 14, §9 estabelece que:

§ 9º Lei complementar estabelecerá outros casos de


inelegibilidade e os prazos de sua cessação, a fim de proteger
a probidade administrativa, a moralidade para exercício de
mandato considerada vida pregressa do candidato, e a
normalidade e legitimidade das eleições contra a influência do
poder econômico ou o abuso do exercício de função, cargo ou
emprego na administração direta ou indireta.

Destarte, restou para a Lei Complementar 64, de 18 de maio de 1990, determinar


quais serão estas modalidades de incompatibilidade.
Neste sentido, dentre as diversas modalidades de desincompatibilização, temos que
algumas serão definitivas, como é o caso do magistrado, advogado geral da união,
ministros de estado, dentre mais, e outras serão de caráter transitório, temporário.

No caso em voga, temos que um presidente de entidade de classe se encaixa na


segunda modalidade e desincompatibilização, qual seja a temporária, já que sua
situação é prevista expressamente no Artigo 1°, II, “g” da LC 64/90, senão vejamos:

Art. 1º São inelegíveis:


[...]
II - para Presidente e Vice-Presidente da República:
[...]
g) os que tenham, dentro dos 4 (quatro) meses anteriores ao
pleito, ocupado cargo ou função de direção, administração ou
representação em entidades representativas de classe,
mantidas, total ou parcialmente, por contribuições impostas
pelo poder Público ou com recursos arrecadados e repassados
pela Previdência Social;

Ato contínuo, temos que o consulente, presidente de entidade de classe patronal, legal
e tempestivamente licenciou-se do cargo de dirigente sindical para concorrer ao pleito
de vice-prefeito, cujas restrições de desincompatibilidade são as mesmas para o cargo
de Presidente da República, citado acima, vejamos:

Art. 1º São inelegíveis:


[...]
IV - para Prefeito e Vice-Prefeito:
a) no que lhes for aplicável, por identidade de situações, os
inelegíveis para os cargos de Presidente e Vice-Presidente da
República, Governador e Vice-Governador de Estado e do
Distrito Federal, observado o prazo de 4 (quatro) meses para a
desincompatibilização;

Assim, uma vez direcionado os dispositivos legais aplicados ao caso concreto trazido
à análise, partiremos efetivamente ao objeto do presente. Neste sentido, partindo do
contexto em que o consulente de fato atendeu aos requisitos legal e temporal para a
desincompatibilização, resta saber agora até quando esta perdura.

Como dito, a Lei é clara em determinar quais serão as desincompatibilidades


permanentes e temporais, não restando dúvidas que a inelegibilidade trazida pela LC
64/90 aos dirigentes sindicais, prevalece por prazo determinado, afinal assim
determina o Artigo 1°, II, “g” da LC 64/90, citado alhures, que é expresso em
mencionar que é inelegível aquele que “dentro dos 4 (quatro) meses anteriores ao
pleito”, tenha sido diretor sindical.

Neste sentido, também entende o Egrégio Tribunal Superior Eleitoral:

Desincompatibilização. Ocupante de cargo ou função de


direção, administração ou representação em entidades
representativas de classe. Contribuições compulsórias. A teor
da Lei de Inelegibilidade – Lei Complementar n° 64, de 18 de
maio de 1990 – o ocupante de ‘cargo ou função de direção,
administração ou representação em entidades representativas
de classe, mantidas, total ou parcialmente, por contribuições
impostas pelo poder público ou com recursos arrecadados e
repassados pela Previdência Social’, deve, para concorrer a
cargo de governador, senador, deputado federal ou estadual,
desincompatibilizar-se 4 (quatro) meses antes do pleito.
Precedentes: AgRgREspe n° 23.448, rel. Min. Carlos Velloso,
publicado em sessão de 6.10.2004; RO n° 568, rel. Min.
Sepúlveda Pertence, publicado em sessão de 5.9.2002 e
REspe n° 20.018, rel. Min. Fernando Neves, publicado em
sessão de 17.9.2002.1

É clarividente que esta delimitação temporal possui termo inicial e final, sendo este a
data das eleições, e aquele 4 (quatro) meses antes desta. Em suma, levando em
consideração a data das recentes eleições, a desincompatibilização, no caso em voga,
perdurou do dia 02/06/2016 à 02/10/2016, sendo este do termo a quo e ad quem,
respectivamente, de duração do afastamento como diretor sindical, já que na cidade
onde ocorreu o pleito, Brumadinho, foi decidida em primeiro turno.

Assim também entende o TSE:

"CONSULTA. INELEGIBILIDADE. ELEIÇÃO MUNICIPAL


PRAZO DE DESINCOMPATIBILIZAÇÃO. 1) O prazo de
afastamento remunerado do servidor público candidato,
compreendido no artigo 1fi , II, I, Lei Complementar n° 64/90,
será sempre de 3 (três) meses anteriores ao pleito, seja quão o
pleito considerado: federal, estadual ou municipal; majoritário
1 Resolução TSE n° 22.168 Rel Min Marco Aurélio
ou proporcional. 2) O servidor público com cargo em comissão
deverá exonerar-se do cargo no prazo de 3 (três) meses antes
do pleito. 3) O dirigente sindical deverá desincompatibilizar-
se no prazo de 4 (quatro) meses antes do pleito para
candidatar-se ao cargo de prefeito ou vereador2. (grifamos)

Destarte, uma vez ultrapassado o prazo de desincompatibilização, o candidato, eleito


ou não, poderá retornar ao seu cargo diretivo a qualquer momento a partir do dia
seguinte às eleições finais (1° ou 2° turno), desde que ainda esteja dentro de seu
mandato eletivo na entidade sindical da qual faça parte, já que a desincompatibilização
não suspende este mandato.

Cumpre esclarecer que tanto afastamento, quanto a reintegração ao cargo diretivo


deverão constar em ata, dando força e vigor legais aos atos.

CONCLUSÃO

Face ao que foi consultado, pelos fundamentos acima expostos, somos de parecer no
sentido de que a desincompatibilização de diretor sindical, ao pleito de vice-prefeito, é
temporal, perdurando do dia 02/06/2016, até a eleição final, seja em primeiro ou
segundo turno, atendendo ao preceito legal de 04 meses antes das eleições. Assim,
poderá o diretor reassumir o cargo na entidade sindical, o qual afastou para concorrer
ao pleito eletivo municipal.

2 Resolução TSE n° 20.623, Rel. Min. Maurício Corrêa

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