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Troenecc on irce) nio Tavares re Jodo Alves da Costa ‘De Portugal nao quero nada’ ENTREVISTA i A Bolaa Penthouse, comecan— KS a Popular, Pesan Belo Jorn OOD a paia. > da Sexologia. Foi guionista de ee tor (maldito?) por ser dos ane alarn ecPre sexo na capa dos seus livros. nO guna revolucionaria em cima do 25 ¢ nae em Carne Viva. Desaparecido, pret com mil vidas. Como 0s gatos — todos negros! Joao Alves da Costa ‘De Portugal nao quero nada, nem as mulheres!’ TEXT Afonso de Melo roroGraria Bruno Goncalves 20 WWE 19MARGO 2022 ové-lo afastar para fundo da mesa a malga de sopa, + deixando-aa arrefecer, re- cordei-me logo dos nossos jantares de redacao, no Bair- ro Alto, a maior parte das 'vezes na Tasca do Manel, ou na Cochelra Alentejana, e de como delta- va duas pedras de gelo nos caldos fume- antes. O Jodo ¢ uma figural Uma figura! Sempre fol diferente. E sempre cultivou essa diferenca, ~ Quando ful para A Bola, vindo do Did- ro Popular, as pessoas embirravam por eu usar camisas de tr€s cores e lago ao pes- coc0, Nao ¢ felt de encontro as normas estabelecidas, Esta minha frente, de camisaas rscas, detiés corese com um aco vermelho hom, isivel. Nio nos viamos ha anos, Nos ave trabalhamos juntos numa das melhores redagdes que existiram em Portugal ~ Bama coisa. Algo de absoltanen te extraordinario! Os velhos meson ‘eu pao Alfredo Farinha,ofTomers ere Ba, Pio, oCatos Miranda, ocheg on, ‘or Santos. Monstros! E jovens que ancy Pontavam através dos ensin Jes. Algo sem igual! oa O lofo vivia todas as suas taretas, por» ENTREVISTA JOAO ALVES DA COSTA ‘Vem ai uma enxurrada de russas e de ucraniana: Vao ser negocios de milhées de doélares. Nem ei se podes escrever isto’ ‘mais banais que fossem, como se se tratas sem de mais um Caso Watergate, nao ti vesse ele estudado jornalismo na Ameéri ca, Entrava pela sala da chefia, com os culos redondos dependurados no nariz. com as melenas baloucando atras dele e, batia com a caneta na secretaria mandante das tropas desse dia, dizendo: «Isto é para estoirar! Temos aqui mate rial para estoirar!» So faltava acrescentar: «Parem as rotativas!» Depois entregava ~se a maquina, matraqueando o AZERT, partindo na sua sempre fascinante aven- tura das reportagens e entrevistas com 0 estilo endemoninhado que era 0 seu car- Wao de visita De ha uns anos para c4, desapareceu. ‘Trocamos uns mails, ele nao anda com 0 inferno do telemovel no bolso, fui a pro ura dele. Conversamos e rimos. Mantém © sentido de humor fininho, afiado como ‘um bisturi. Tem, no meio da sala de estar, ‘uma bateria que lembra, de repente, um élefante na loja das porcelanas. Ele que foi baterista, e catita, no tempo incomensu. avel dos Jets. 22 Luz 19 MARCO 20202 - Que fazes agora? - Fstoureformado, claro, 4 tenho mais doque tempo para estar reformado (o Joao asceuem Janeiro de 1948). Vivo tranqui- Jocomaminha enfermeira gaticha (Adria- na) que adora gatos e tem para ali, para as traselas, uma espécie de hospital de bi chanos, com 16 ou mais, Nodia 24 de Abril de 1974, Joao Alves da Costa publicou um livro que iria mexer coma juventude portuguesa da época Isso foi uma chatice! © Améri- caem Came Viva vinha mexer com tudo o que erao puritanismo nacional. Tinhamos deter cuidado. Nao sabiamos como ia ser recebido pela censura. Havia partes intei- rnsescritas em inglés para desnortear essa gente. Masa censura acabou logo a seguir. - Estavas nos Estados Unidos, na Univer sidade do Kansas, quando comecastea es- «revé-lo. Depots como foi o trabatho de 0 publicar num Portugal tio retrogrado? ~AMaria Antonia Palla ajudou-me mui- {ol Muito! Eh pa, aquilo era diferente de tudo, De tudo! Um livro sem virgulas! ja imaginaste? Uma revolucao. Curlosamen- te,fiza reportagem do julgamento dela, quando foi acusada de ofensa a moral pu- blicae incitamento ao crime por causa do [ograma de televisio Aborto Nao é Crime. = Nesse tempo trabalhavas no Diario Popular, - Sim. Ful muito, mas muito felizno Did- ‘ioPopula. Mas contfesso que tinha o sonho eA Bola, porque o meu pal trabalhava la. O pai do Joao era o Aurélio Marcio, a quem a gente tratava carinhosamente por Straureio. 1 Bola, a despelto de ser, na altura, um dos andes espacos da liberdade de escrita da ‘mprensa nacional. ;Maseutrabalhava muito, Muito Tinha ‘obrigagao de honrar o nome do meu pal, ‘™esmo que muita gente, ainda hoje, ndo ‘Saiba que fui filho dele. = ~ Estamos a falar de que ano = Ora, espera... 1979. Entrei para A Bola €m 1979, em Novembro. = Mas 0 pior nao fol a tua entrada, fol a tua saida, ~ Um processo horrendo que durou dez 0s. Otha, serviu-me para escrever 442~ "otivros. - Kafkiano, pelos vistos, lembro-me bem esses tempos. Mas, afinal, por que ¢ que foste despedido? ~ Deum dia parao outro, a administra~ ‘G€o do jornal decidiu que eu nao sabia es- rever. Nao tinha qualidade para escrever textos para A Bola. Consideraram-me ile sivel. E acrescentaram que eu nao tinha Contactos. Fu que tenho milhares de con actos. Se quiseres mostro-te, Abro af um caixote e tenho milhares e milhares de Contactos no mundo todo. Ah! Eque tam- bem nao tinha jeito para fazer futebol Conclusao? Foram obrigados a readmitir-me, mas enfiaram-me num canto sinistro, no ter~ ceiro andar, sem luz de jeito, sem acesso a internet. O meu trabalho resumia-se a ouvir radio ea escrever em papel todas as noticias de desporto do dia, Enfim, segun- do eles nao set escrever. = Uma espécie de telex humano. Por fa- Jar nisso, o teu pai nao falhava uma sesta de dez minutos na sala dos faxes e dos te- exes, logo a seguir ao almoco. = Verdade. E desde que o meu pai del- xou de escrever n’A Bola, nunca mais pe- ‘guei no jornal, nunca mais 0 i, Nao que. ro saber. O meu pai também me quis n’A ‘olapara poder deixar-mea quota que nha quando morresse. Vendeu-a muito antes disso, Era uma vez na América America em Carne Viva tornou-se um ll- ‘vro chocante. Helena Vaz da Silva escre- ‘veu sobre ele no Expresso: « uma pedra~ dano charco da mediocridade ambiente Estamos perante uma narrativa escrita ‘numa prosa atrevida e ginasticada em que Ccujas qualidades existe um humor dcido edoloroso». ~ Foi o teu livro mais importante? - Eh pa, isso no sei, Foi importante, fot diferente. Mexeu com as pessoas. Mas ‘quem sou eu para dizer isso, afinal nao sel escrever, como eles dizem, - Publicaste nas grandes editoras deste pais? E agora? ~ Agora ndo publico nada em nenhu- ‘ma editora portuguesa, $6 na Amazon. Tenho um contrato de exclusividade com eles, escrevo maioritarlamente em inglés, o meu proximo livro esta para sair, = Como se chama? = Em inglés, Lady Vampires in the Web, Em Portugués nao sei ao certo, ainda vamos ver. Fles depois de terem os livros na net, procuram novos mercados etraduzem-nos. = Mas entdo nao vamos ter nada teu nas livrarias portuguesas? ~ Fot uma decisdo que tomeie ponto fi- nal, Nunca voltaret a publicar em editoras Portuguesas. Que se lixe = Mas chegaste a conseguir grandes ti- ragens... = Sim. As Bruxas a Portuguesa foram 20s 50 mil exemplares, Nesse ano, melhor do que isso s6 o Saramago. ~ Mas safste zangado com as editoras. Eh pa, vou-te dizer uma coisa: em Por- tugal nada! Nao quero nada de Portugal! ‘Nem sequer as mulheres! » ‘N’A Bola despediram-me porque, disseram, nao sabia escrever. Eu nao sei quem escreve n’A Bola agora. Que se lixe! Nao sei escrever!’ ls eal 19 MaRGO 2022 we 23, ENTREVISTA JOAO ALVES DA COSTA Logo tu, que gostas tanto de mulheres? E para esquecer!E para esquecer! As mulheres portuguesas falta-Ihes tudo, Fal ta-Ihes erotismo, falta-thes sensibilida- de, Mulheres portuguesas, nao obrigado! Nunca mais! (Derepente lembrei-medo Almada Ne greiros eda Cena do Odio - «Seaomenos {sto tudo se passasse/numa Terra de mu- Theres bonitas!/Mas as mulheres portu- ‘Desisti por completo das mulheres po: BRUXAS um cartaz do filme de Robert van Acke ren, Die Flambierte Frau, A Mulher em Chamas. Teimou em explorar 0 erotismo ‘em todos os livros que escreveu como As Diabruras do Menino Hamlet, sobre o qual Urbano Tavares Rodrigues arrancou uma recensio efervescente: «Nao hesita 0 au- tor ante a desvelacao da sexualidade, se~ nao que gostosamente se precipita num ‘magma de evocacées e invocacdes er6ti roc Pasta NaN) - No fundo, sentes-te mais jornalista oq mais escritor? ~ A minha escrita vive do ritmo. Eues- forgo-me para que ela seja uma escrtaqu traga para o papel o ritmo do yé-yé ou da rock. Que tenha Kings e Beatles. Que te- nha uma batida fantastica. © problemae que comecei a chatear uma data de mal- ta. As vezes, a Maria Augusta, telefonistade Bola, vinha dizer-me ~ «Jodo, estaoal esas. Nao tém erotismo nem sensibilidade"’ guesas/sio a minha impoténcia!» Enfim, foium paréntesis, vamos andando), = Percebo-te. Até certo ponto. Na brin- ‘adeira costumo dizer que estas no dark si- {eof the moon. Como € que te surgiu esse in- teresse tio grande pelo sexo? ~ O meu pai comprava a Playboy e a Penthouse quando eu era garoto, Confesso ‘Que nao ligava grande coisa as fotos, Mas lia ‘stextos todos até ao fim. Coisas incriveis! ‘Quando fiqueia saber quea Marilyn Mon- toe davapuns na cama enquanto fazia sexo, percebi que estava perante o desvendar dos ‘Segredos dos mitos, Era arrasador. Ojo sempre foi um tipo culto, Daque- Jacultura, como ele costumava dizer, que ho se toma de manha em comprimidos. Cultura a sério, de ler muito e em varias Unguas, ele que tirou o curso de alemao hho Goethe institut, por exemplo, e tinha olado na parede, atras da sua secretaria, 24 wuz te MARCO 2002 cas, através das quais a suainfancia ea sua adolesctncia se Vio constituindo-recons~ timindo no plano do texto, usa, de uma ctiagio paralela, de uma criaglo nova». Ee recorda ~ Quando estudei no estrangeto, sobre tudo na Europa, na Austria, na Alemanha ‘eem Inglaterra, em Cambridge continuel areceber a Penthouse que o meu paime en- viava juntamente com A Bolae com o Did- ri Popular Os jomalisias da Penthouse wt lizavam uma linguagem fantéstica de nao- ~flecio que tenteilevar para os lugares em ‘que trabalhei E tive sempre um desejo muito grandede escrever para essa evic, ‘a, Oqueacaboupor acontecer Entei pe. Jos caminhos do New Journalism aimeei. ano, 0jomalismo de Tim Wolfe. ocontar de Riri verdaeiras mas com een cas lterarias, Um caminho Complicado, erage complicada Uns senhores para falar consigo». Fra gen- te incomodada, vé bem. E houve inveis como ha sempre em Portugal. Muita de- ols de eu ter escrito As Bruxas a Pottu- ‘Guesa. Quero dizer, sei 14 se escrevi. Hes ‘que nao sei escrever... Mas que hou ve inveja, houve. Muital Saudades dos Jets Decada vez.que olho para a bateria é com? se olhasse para a néspera do Mario Het” rique Leiria. Nao ha nenhuma velha Po! Perto, no entanto, ~ Tem os mesmos o ratos do que uma Daterias do Ringo Star, diz Joao. ~ Portanto, nio tens nenhuma 4o teus tempo de jornais? N30 Pal Claro que agora estamos aot! AGmmversar e lembro-me de alguma : nal de A Bola, da gente se divert” fazia.o methor jornal do mud das conversas na redac¢ao. De nos rirmos muito, Mas do que tenho mesmo sauda de do tempo da musica Continuo de olhos fixos na bateria que see encontra no meio da sala, muito ca- Jada, a ver o que acontecia. Consigo ima ginar o Jodo a entornar energia sobre ela ‘0 unico album editado pelos Jets, um EP, teve uma capa psicadélica que foi a melhor de sempre. Da autoria do pintor surealista Carlos Fernandes, editado pela Tecla, do maestro Jorge Costa Pinto. So~ ‘hamos em tornar-nos profissionais. 0 maior sucesso foi Let Me Live My Life. Tinha~ Mos um apoio muito forte do Ricardo Levy, guitarrista, com fortes ligacdes as Caves Alianca, éramos to populares como 5 Sheiks, onde cantava o meu colega de lieu, o Carlos Mendes. ~ Gente finissimal ~ Pois! E convencemos, vé 1a, a Maria Joao Santos a cantar connosco o Tous les Garcons et les Filles de mon Age. Disso tenho algumas saudades. Agora dos jornals, pa, ‘melhor ¢ esquecer. Nos Jets, éramos €u, Ricardo, o Julio Gomes e 0 Mario Au- Busto, o batxista, que ja morreu. Olha, ue queres que te diga dos jornais. Digo- te o mesmo que me disseram: nao sei ~ Continuas magoado com A Bola, isso é nitido. ~ Que fazer, meu querido? Que queres que te diga. Quando tive o AVC, a minha filha Marcia foi a sede do jornal para ten~ tarativar o seguro de saude. Nadal Ha mais, de vinte anos que n3o descontavam. Isso 1a comportamento de gente decente? S30 coisas que marcam, que ficam ca dentro. = Mas, no fim de tudo, acabaste por re- ‘ceber uma boa indemnizacio... = Depois de me terem enfiado naquele sotao cheio de cotdo. E andar sofrer du: rante dez. anos para me reconhecerem 0 direito de ser jornalista. Recebi, sim. 850 ‘il euros. O advogado do jornal fot ter com, ‘omeuamendigar, que nao podiam pagar ‘mais, que A Bolaia a faléncia, eoraio, Uma tristeza. Se alguma vez estas coisas acon- ‘teciam quando o Guerreiro Nunes era ad- ministrador, Ou mesmo no tempo das ‘duas senhoras, a Maria Herminia, filha esse enorme senhor que fol o Vicentede Melo, e a Maria Margarida, filha do gran- de Ribetro dos Reis, outro dos fundado- res, com 0 Cindido de Oliveira. Antiga~ ‘mente eu sabia quem ¢ que podia e devia escrever n’A Bola, Bastava ler a primeira frase. Havia uns que eram logo para deitar fora. Punham virgulas entre 0 sujeito ¢ 0 predicado. Ao menos eu nao punha vir- gulas. Uma vez, 0 Vicente de Melo disse- me: «Deixe ld isso das virgulas. Nao se preocupe. Escreva 0s textos e espalhe as vvirgulas por cima como se fossem sal pi- menta». Agora nem sequer sei quem es: ‘creve n’A Bola. Ha para ld nomes que nun- ‘aouvi falar. Nao lio. Nao me interessa. E gente que nao sabe nada de nada. Tenho acerteza de que nao estou a perder gran- de coisa, Olha, mas] esta, ndo sei escre- ver, dizem. Se calhar também nao seller. Nao faz mal, se nao sei escrever em por- ‘tugués, escrevo em inglés, owem frances, ou em alemao. Felizmente aprendi mul: tas linguas. = Eu, um bocado mais novo do que tu, ainda aprendi muito de jornalismo com aqueles que apelidvamos, com carinho, de os Velhos de A Bola. E felizmente tra- alhei com eles. Carlos Pinh3o, por ‘exemplo, dizia sempre que uma virgula ‘mal colocada é como uma pedra no cami- ‘nho: acabamos por tropecar nela. Como» 19MARQO 2022 Luz 25, aprendia ero Jacques Ferran Jacques Thi bertouo Patrick Urbin, do Equipe. Ecom ‘nosso querido amigo Jean-Philippe Ré- thacker, um principe, na vida ena escr- ta. com o Assis Pacheco, que fezo favor deme ensinar uma ou das colsas. Quals foram os teus mestres? Tenhiode artegacar as mangas. Foram muitos. Aprendl muito com o meu pal primero. Com todosos grandes de A Bol, dos quals ja falamos, mas ainda posso acrescentar o Fernando VazeoSiva Re Sende. Como Abel Pereira, como Jacin- to Baptista, com o Baptista Bastos, com ‘sque me apoiaram enquantocestive fora de Portugal Douglass Cater, num Semi nario de Mass Media, em Salzburgo. Charles Guggenheim, assessor de im prensa do presidente Jonn F Kennedy. Fred Friendly, jornalista-professor da Universidade de Columbia, emerta gu raque desmascarouMecarihy ea sua fo- Dia anti-comunista nos EUA. James Ca- rothers, professor de Pos-Graduacio de Escrta Crativa, onde fol redigido As Da burs do Menino Hamlet, em ingles, € Aue ira serlancado, em 075:pela Ber, Mand, Haskell Springer, Professor de Li. 28 tz 19 MARCO 2020 teratura na Universidade do Kansas, em Lawrence, Kansas, meu mentor para Moby Dick, de Melville e Voando Sobre um Ninho e Cucos, de Ken Kesey, tema da minha dissertacao final na Faculdade de Letras (1973) ~ 15 valores, apos Semi- nario com a Professora Leonor de Telles e sempre apoiado pelo dr. José Ribeiro da Fonte, meu companheiro de Filologia Germanica e que me acompanhou, no Verdo de 1969, ao Tirol ea Baviera, no Goethe Institut, e com quem visitel 0 ‘Campo de Concentracao de Dachau, per- to de Munique, tendo, na época, eu redi- ‘gido uma reportagem premiada com fo- tos pelo Didrio Popular, na noite académi- ‘ca em que Neill Armstrong desembarcou naLua. Etambém Monique, a minha bela Professora de Frances no Kansas, minha ‘companheira de viagem para o Hair, em. Kansas City, com o cast original, sempre reocupada por, no campus de Lawren. e, 0s professores ndo poderem dar bo- leias a alunos. Eu disse-Ihe : «Vou para autoestrada, peco boleia e tu paras se me quiseres levar...Foi uma gargalha- da...». No regresso, de madrugada, ja de maos dadas e em francés, levou-me a casa. Mais nao conto. A n nnunea se esqueceu de mim. Esta do mais nao conto, o Aurélio Mar~ cio também usava. Nada de mais. al ai {al filho, Deixemos 0 mistério pairar so- bre o que se tera passado naquela noite Otho para a bateria e tomo notas. Quan- 0 0 Joao dispara numa das suas sendas de memoria, nao hesita e nao para. Mas ainda tem mats um nome para acrescen faralistadaqueles a quem se sente gra- to, um nome que bem conheco. ~ Astregildo Silva, pseudénimo de Al- berto da Silva, o correspondente de A Bolaem Inglaterra e Escécia, escritor d2 vida da dra. Margarida Ribeiro dos Reis. filha do tenente-coronel Ribeiro dos Refs. Livro empolgante sobre o percut- So da nossa dra. Guida, A Dona de A Bola - infaustamente falecida - mere cedor do prefacio literario de Urbano Tt vares Rodrigues, ~ Achas que A Bola tem futuro? ~ $6 nao tem futuro quem nao tem pas sado e quem nao tem presente. Naot! Nao sel escrever, ja o disse tantas Vers Eramos uma familia, Depois, os grand’ ‘homes comecaram a desaparecer e051 ena Monique 110 AVES DACOST. 0s foram-se perdendo. A parte cosmi- cae magnética daquelas cabecas que hoje mandam naquilo contribuiram de- finitivamente para a queda, O ideal mor- reu, mas ainda assim o belo nao passa de moda. aperfeicoa-se, cresce, morre, Cor- rige-se mas 0 casco da alma mantém a ferradura, ainda que ausente, mutilada por bigornas descrentes, mercenarias, adulteras, Tudo isso fomos e somos nés, diferentes, azougados e sempre perfei- tamente imperfeitos. ~Olha la, chegaste a estudar misica? - Nao. Mas tinha eu os meus 12 anos quando a minha mae me comprou um rato de bateria na Kermesse de Paris, Nunca mais o larguel. Deve ter amaldi- Goado muito o gesto porque tinha que Jevar com a minha barulhelra. O meu Pai, esse, nunca estava em casa. Safa Daa ir para o Diario Popular e depois ia Para A Bola ~Ecom quem comecaste a ler? ~Com ania Blyton, como jilio Verne. E, depois, claro, com 0 Eca de Queiroz. A bateria muda, no meio da sala. Precisamente no meio da sala. Ainda bem que as baterias ndo sdo como as Résperas que ficam deitadas, caladas, esperar o que acontece. Se nao ja ti- chegado uma velha que dirla: SMT LICL EC

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