22 de Fevereiro de 2023 21
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titucional declarou a inconstitucionalidade
de normas da lei da identidade de género de
2018. A acórdão teve votos favoráveis dos
juízes João Pedro Caupers, Gonçalo de Al-
meida Ribeiro, Pedro Machete , Maria de
Fátima Mata-Mouros, Joana Fernandes
Costa, Maria José Rangel de Mesquita e
Teles Pereira. Segundo eles, o artigo 12.º da
lei de 2018 só pode ser regulamentado pela
Assembleia da República — e não pelo Go-
verno, como estava prestes a acontecer.
O Constitucional pronunciou-se em respos-
ta a um pedido de 2019 de “fiscalização su-
cessiva” por parte de 86 deputados do PSD,
CDS e PS, que viam inconstitucionalidade em
algumas normas da lei de 2018. “A ideologia
de género, tal como qualquer outra ideologia,
pode ser promovida e discutida no espaço pú-
blico democrático. Mas a Constituição, muito
justamente, proíbe que o Estado promova no
sistema de ensino a propagação de ideologias,
religiões ou doutrinas”, justificou em 2019
o então deputado social-democrata Miguel
Morgado, em declarações à Agência Lusa.
Sublinhe-se que a lei de 2018, de 7 de
Agosto, substitui a primeiríssima das leis
portuguesas relativas à transexualidade: a lei
Projectos do PS,
Bloco e PAN vêm
estabelecer regras
sobre a transexualidade
nas escolas públicas e
podem mesmo
levar à criação de casas
de banho neutras
de 2011 que criava o “procedimento de mu-
dança de sexo e de nome próprio no Registo
Civil” e que à época teve como principais
entusiastas os deputados Miguel Vale de Al-
meida e José Soeiro.
O debate nas próximas semanas será influ-
enciado pelo que se passou em Espanha?
É provável. Em Espanha, o Congresso dos
Deputados aprovou na passada quinta-feira
— com 191 a favor, 60 contra e 91 absten-
ções — a chamada “lei trans”, um projec-
to do Ministério da Igualdade, liderado por
Irene Montero, do partido ultra-esquerdista
Podemos. O diploma autoriza a mudança de
sexo no Registo Civil a partir dos 16 anos (e
em certas condições a partir dos 12) através
de uma simples declaração administrativa,
sem exigência de qualquer parecer médico
ou prova de tratamentos hormonais. A “lei
trans” gerou intenso debate público no país
vizinho. Criou conflitos até no seio do go-
verno, com o PSOE de Pedro Sánchez a co-
lidir com o parceiro de coligação Podemos.
A resistência veio também de associações
feministas tradicionais, a que pertencem vá-
rias dirigentes do PSOE: defendem a reali-
dade biológica do sexo contra uma declara-
ção administrativa.
Claro que em Portugal não está em causa
a “autodeterminação do género” — que já
existe na lei de 2018 e só autoriza mudanças
a partir dos 16 anos, obrigando à apresenta-
ção de um relatório de médico ou psicólogo
para menores de 18. Mas é possível que, tal
como em Espanha, associações feministas e
até alguns sectores do partido do Governo
venham a contestar os projectos do PS, do
Bloco e do PAN.