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FORTALEZA, 2021
NOTA TÉCNICA 001/2021 - DIPAS/DIESP/SUPESP
EQUIPE:
5 INTRODUÇÃO
10 CONSIDERAÇÕES FINAIS
12 REFERÊNCIAS
APRESENTAÇÃO
ESTE ESTUDO VISA ORIENTAR AS ALTERAÇÕES QUE SE
FAZEM NECESSÁRIAS AOS SISTEMAS DE INFORMAÇÕES
DOS ÓRGÃOS VINCULADOS À SECRETARIA DE
SEGURANÇA PÚBLICA E DEFESA SOCIAL (SSPDS), BEM
COMO INFORMAR A ESSES ÓRGÃOS QUANTO AOS
CONCEITOS DE SEXO BIOLÓGICO, IDENTIDADE DE
GÊNERO E ORIENTAÇÃO SEXUAL.
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1. INTRODUÇÃO
status em que ela se baseie, como também
Sendo o Brasil signatário da Declaração manifestam sua preocupação com os atos de
Universal dos Direitos Humanos, o país segue violência e discriminação por orientação sexual
tratados e legislações internacionais que e identidade de gênero especificamente;
garantem a liberdade e dignidade humana.
Alguns dos direitos contemplados nesses III. Resolução da Organização dos Estados
documentos são relativos à orientação sexual e Americanos - AG/RES-2435 (XXXVIII-O/08)
à identidade de gênero. "Direitos Humanos, Orientação Sexual e
Identidade de Gênero", que em seu artigo 9°
Dentre as legislações internacionais referentes determina que “os Estados Partes
ao tema em que o Brasil firma compromisso, comprometem-se a garantir que seus sistemas
podemos citar as seguintes: políticos e jurídicos reflitam adequadamente a
diversidade de suas sociedades, a fim de
I. Os Princípios de Yogyakarta, que versam atender às necessidades especiais e legítimas de
sobre as normas de direitos humanos e de sua todos os setores da população, de acordo com o
aplicação referentes a questões de orientação alcance desta Convenção”;
sexual e de identidade de gênero. Dentre os
princípios abordados no documento, podemos No âmbito nacional, podemos citar ainda a
elencar a obrigação do Estados partícipes em promulgação da Resolução Nº 11, de 18 de
tomar todas as medidas legislativas, dezembro de 2014, pela Secretaria de Direitos
administrativas e de outros tipos que sejam Humanos. Tal norma jurídica designa os
necessárias para respeitar plenamente e parâmetros para a inclusão dos itens
reconhecer legalmente a identidade de gênero "orientação sexual", "identidade de gênero" e
auto definida por cada pessoa, bem como tomar "nome social" nos boletins de ocorrência
todas as medidas policiais e outras medidas emitidos pelas autoridades policiais no Brasil.
necessárias para prevenir e proteger as pessoas
de todas as formas de violência e assédio Entende-se que, ao orientar a inserção dos
relacionadas à orientação sexual e identidade de campos "orientação sexual", "identidade de
gênero. gênero" e "nome social" nos registros policiais,
separadamente, a Resolução Nº 11 permite
II. Resolução da Organização das Nações mensurar, de maneira mais fidedigna e
Unidas “Direitos Humanos, Orientação Sexual estratificada, os crimes de discriminação e
e Identidade de Gênero”, ratificada em 17 de intolerância contra esse público, além de
junho de 2011, em que os Estados reafirmam a garantir as prerrogativas que constam na
proibição da discriminação inscrita na Declaração dos Direitos Humanos.
Declaração Universal dos Direitos Humanos,
dando ênfase ao caráter injustificado de Destarte, a referida resolução estabelece no § 1°,
qualquer discriminação, independentemente do inciso I e II a definição de orientação sexual e
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identidade de gênero respectivamente e, no § b) Participação em reunião com representantes
2º, o que seria o nome social. Outrossim, no do movimento LGBTQIA+, através do
artigo 2°, indica que “a informação sobre a Departamento de Proteção aos Grupos
orientação sexual ou identidade de gênero Vulneráveis (DPGV) da Polícia Civil do Estado
do/da noticiante pode ser autodeclarada e, nesse do Ceará (PCCE), a fim de alinhar as ações
caso, isso deverá ser informado no momento do voltadas para combater os crimes violentos
preenchimento do boletim de ocorrência pela ocorridos contra esse grupo no Estado;
autoridade policial” (BRASIL, 2014, p. 2).
c) 8º Ciclo do Fórum Permanente de Segurança
Adiante, no artigo 3º, orienta que compete à Pública e Cidadania, que na edição de 2020
“delegacia de polícia ou à unidade de polícia debateu o tema “Ensinando o respeito à
fixar em local público e visível a definição de diversidade e às minorias na formação policial:
"orientação sexual", "identidade de gênero" e propostas para uma segurança pública
"nome social" para esclarecimento dos/das democrática”;
noticiantes” (BRASIL, 2014,p. 3).
d) Implantação da primeira ferramenta de
Em consonância com o que a legislação registro oficial de agressões contra pessoas
apresentada acima propõe, a Secretaria de LGBTQIA+, com a inclusão dos campos
Segurança Pública e Defesa Social do estado do “orientação sexual” e “identidade de gênero”
Ceará (SSPDS) tem desenvolvido ações que no sistema utilizado para registro de boletins de
visam atender as demandas da comunidade ocorrência;
LGBTQIA+ no estado, de modo a mitigar a
incidência de violência contra esse grupo, bem e) Reunião do secretário da Segurança Pública
como a orientar os agentes de segurança e Defesa Social (SSPDS), Sandro Caron, com
pública quanto ao respeito à diversidade social os representantes da Associação de Travestis do
e cultural, garantindo o bom atendimento às Ceará (Atrac) e da Associação Transmasculina
ocorrências de eventuais crimes de ódio. Nesse do Ceará (Atrans-CE),com o intuito de estreitar
sentido, podemos citar algumas ações o diálogo entre as entidades, objetivando a
realizadas pela SSPDS: criação de políticas públicas na segurança
pública que atendam ao público LGBTQIA+.
a) Seminário temático sobre “Diversidades
Sociais e Culturais” realizado pela Academia Em se tratando das políticas implementadas nos
Estadual de Segurança Pública do Estado do últimos anos pelo governo do estado do Ceará,
Ceará (Aesp/CE), com o intuito de conscientizar podemos citar a publicação do Decreto 32.226
os novos soldados sobre a importância do de 17 de maio de 2017, que dispõe sobre o uso
respeito à diversidade e a abordagem mais do nome social e o reconhecimento da
humanizada que o agente de segurança pública identidade de gênero de pessoas travestis e
deve ter ao atender ocorrências que envolvam o transexuais no âmbito da Administração
público LGBTQIA+; Pública Estadual Direta e Indireta e dá outras
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providências; a Lei Nº 16.946, DE 29.07.19, Em complementação ao tema, Glaad (2016)
que assegura o direito ao nome social nos traz o conceito de intersexualidade, fazendo
serviços públicos e privados no estado do referência às pessoas que nascem com anatomia
Ceará; e, em 2021, a criação do Conselho reprodutiva, sexual e/ou um padrão de
Estadual de Combate à Discriminação LGBT, cromossomos que não podem ser classificados
vinculado à Coordenadoria Especial de como sendo tipicamente masculinos ou
Políticas Públicas para LGBT, da Secretaria da femininos.
Proteção Social, Justiça, Cidadania, Mulheres e
Direitos Humanos (SPS). O novo órgão tem a
2.2 Identidade de gênero
finalidade de monitorar, fiscalizar e avaliar a
execução de políticas públicas voltadas para a Segundo a Resolução N° 11, de 18 de
população LGBTQIA+ no Ceará. dezembro de 2014, no Artigo 1°, inciso II,
identidade de gênero como é definido como
No entanto, dado que a presente temática sendo:
requer atualizações constantes, esta nota técnica
se presta a orientar acerca das nomenclaturas a profundamente sentida, experiência interna
e individual do gênero de cada pessoa, que
mais atuais e suas possíveis abordagens nos pode ou não corresponder ao sexo atribuído
no nascimento, incluindo o senso pessoal do
sistemas informatizados dos órgãos de corpo (que pode envolver, por livre escolha,
modificação da aparência ou função
segurança pública do estado do Ceará. Dessa corporal por meios médicos, cirúrgicos ou
forma, julga-se pertinente iniciar esse trabalho outros) e outras expressões de gênero,
inclusive vestimenta, modo de falar e
com uma sessão de esclarecimentos, que maneirismos.
tratará, didaticamente, sobre as categorias sexo
biológico, identidade de gênero e orientação Do ponto de vista das Ciências Sociais e da
sexual. Adiante, serão discutidos os conceitos Psicologia, principalmente, “gênero significa
relativos à sigla LGBTQIA+ (lésbicas, gays, que homens e mulheres são produtos da
bissexuais, transgêneros, transexuais e travestis, realidade social e não decorrência da anatomia
queer, intersexo, assexuais e outras de seus corpos” (BRASIL, 2009, p.39). Nesse
possibilidades de orientação sexual e identidade sentido, pode-se conceituar identidade de
de gênero que existam). gênero como a forma que o indivíduo se
reconhece dentro dos padrões sociais de
gênero: feminino, masculino ou, quando não se
2. SEXO BIOLÓGICO, GÊNERO E identifica com esses dois padrões, pode se
SEXUALIDADE reconhecer como agênero ou não-binário.
2.1 Sexo Biológico
De forma a evidenciar didaticamente as
De acordo com Reis (2018), em termos possibilidades de identidade de gênero,
simples, o sexo biológico diz respeito às trazemos abaixo, no Quadro 1, os principais
características biológicas que a pessoa tem ao termos usados nessa categoria e o detalhamento
nascer, isto é, seus cromossomos, sua genitália, acerca de cada um.
sua composição hormonal, dentre outros.
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2.3 Nome Social 2.4 Orientação Sexual
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3. HISTÓRICO DO MOVIMENTO ção das bandeiras de luta e dos personagens
LGBTQIA+ NO BRASIL E envolvidos nas reivindicações.
ESCLARECIMENTOS SOBRE A SIGLA
Em 2018, o movimento LGBTQIA+ Os esforços empreendidos para que a
organizado comemorou 40 anos de atuação no população LGBTQIA+ goze de direitos plenos
Brasil. A historiografia consolidou como marco conquistou, nas últimas décadas, resultados
fundador da militância homossexual no país a positivos como a possibilidade da realização do
criação do grupo Somos – Grupo de Afirmação casamento entre pessoas do mesmo sexo¹, a
Homossexual –, em 1978. Desde o seu adoção de crianças por casais homossexuais², a
surgimento, o movimento social de luta pelo retirada da homossexualidade da lista de
reconhecimento da diversidade sexual e de doenças do então Instituto Nacional de
gênero passou por transformações profundas Assistência Médica da Previdência Social
(FERREIRA; SACRAMENTO, 2019). A (Inamps), a garantia de uso do nome social
articulação de coletivos inicialmente pelas pessoas transexuais, travestis e
identificada como o Movimento Homossexual transgêneras usuárias dos serviços judiciários,
Brasileiro (MHB) passou a se denominar de magistrados, estagiários e trabalhadores
Movimento LGBTQIA+ reflexo da multiplica- terceirizados do Poder Judiciário, em seus re-
______________________________________
1 - Resolução n. 175, de 14 de maio de 2013 (BRASIL, 2013).
2- No Brasil a adoção é regida pelo Estatuto da Criança e do Adolescente, o qual foi alterado recentemente pela Nova Lei
da Adoção, a Lei nº. 12.010/09, em que está disposto no artigo 42 sobre os requisitos para o deferimento da adoção e, por
sua vez, não faz ressalva sobre a orientação sexual dos adotantes. Para suprir tal lacuna e tornar a ordem jurídica mais
justa, grande parte do Poder Judiciário vem se orientando pelo realismo jurídico, o qual busca enquadrar o direito à
realidade social. Nesse sentido, há diversas decisões reconhecendo a união estável de casais homossexuais e deferindo
pedidos de adoção por eles (RIBEIRO, 2019).
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gistros funcionais, sistemas e documentos³, ará, desde 2019, a SSPDS incluiu os campos
dentre outras importantes conquistas já "orientação sexual" e "identidade de gênero" ao
mencionadas no presente trabalho. Sistema de Informações Policiais utilizado para
A partir do que foi explanado anteriormente, registro de boletins de ocorrência em
podemos explicar de forma clara cada uma das delegacias.
letras que compõem a sigla LGBTQIA+:
Como vista a melhorar os sistemas
L: faz referência à orientação sexual informatizados para uma abordagem mais
lésbica; adequada às ocorrências criminais que
G: faz referência à orientação sexual gay; envolvam esse público e levando-se em
B: faz referência à orientação sexual consideração as informações do quadro 1 e 2,
bissexual; sugere-se que os campos destinados ao sexo e à
T: faz referência aos indivíduos com orientação sexual, nos sistemas de informações
identidade de gênero transgênero, por dos órgãos vinculados à segurança pública,
exemplo, transexuais e travestis; sigam as seguintes orientações:
Q: diz respeito ao termo queer, adjetivo
utilizado por pessoas cuja orientação sexual I. Manter os campos Orientação Sexual e
não é exclusivamente heterossexual e que Identidade de Gênero de forma desagregada e
não se identificam com nenhuma que seu preenchimento seja obrigatório;
identidade de gênero;
I: faz referência às pessoas que, por conta II. Inserir campo para informar o nome social;
de sua anatomia sexual, não podem ser
classificados como sendo tipicamente III. No campo Identidade de Gênero estabelecer
masculinos ou femininos, ditos as seguintes opções:
intersexuais; A. Cisgênero: pessoa que se identifica com
A: faz referência à identidade de gênero o gênero igual ao do sexo biológico.
agênero; a. Homem Cis;
+: símbolo que diz respeito à inclusão de b. Mulher Cis.
outras orientações sexuais e identidades de B. Transgênero: qualquer pessoa que se
gênero que não estejam contempladas nas identifique com um gênero diferente ao do
siglas anteriores. sexo de nascimento.
a. Homem Trans;
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS b. Mulher Trans;
c. Travesti.
Considerando o conteúdo da Resolução N° 11,
III. No campo Orientação Sexual estabelecer as
de 18 de dezembro de 2014, os tratados
seguintes opções:
internacionais que coadunam com a Declaração
A. Heterossexual;
Universal do Direitos Humanos, e o Decreto
B. Lésbica;
32.226 de 17 de maio de 2017 do estado do Ce-
______________________________________
3 - Decreto nº 8.727/2016 (BRASIL, 2016).
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C. Gay; A inclusão desses campos, de forma mais
D. Bissexual; detalhada, é de suma importância para a efetiva
E. Pansexual; adequação ao que está vigente tanto na
F. Assexual. legislação estadual, federal, quanto
internacionalmente, respeitando os acordos
O quadro a seguir sintetiza as informações: pactuados na Convenção Interamericana Contra
Toda Forma de Discriminação e Intolerância,
da Organização de Estados Americanos (OEA),
nos Princípios de Yogyakarta e na Resolução
da Organização das Nações Unidas, intitulada
“Direitos Humanos, Orientação Sexual e
Identidade de Gênero”.
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Disponível em: RIBEIRO, Raiane Celcina Pinho. A Adoção de
https://direito.mppr.mp.br/arquivos/File/princip Crianças Por Casais Homoafetivos. Âmbito
iosdeyogyakarta.pdf. Acesso em: 26 jan. 2021. Jurídico, Serrinha, p. 1-21, 2019. Disponível
em:https://ambitojuridico.com.br/cadernos/direi
REIS, T., org. Manual de Comunicação to-de-familia/a-adocao-de-criancas-por-casais-
LGBTI+. 2ª edição. Curitiba: Aliança Nacional homoafetivos/. Acesso em: 29 jan. 2021.
LGBTI / GayLatino, 2018.
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