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SEIXAL
Ana Henriques
16 de Março de 2022, 20:54
Em causa estão serviços que vão desde a recolha de lixo no interior do recinto até à
orientação do trânsito em seu redor, passando pela desmatação de terrenos na zona
envolvente. Há muito governada pelo PCP, a autarquia alegou na altura tratar-se de
apoios que, além de aprovados por unanimidade por todas as forças políticas
representadas no executivo, eram igualmente facultados a outras instituições que
organizavam eventos no concelho. Mas recusou-se a explicar quanto gastava neste apoio
logístico anual.
“A notícia é de relevante interesse público”, concluiu. “Pelo menos até ao ano de 2017 a
força partidária CDU governou o município do Seixal em maioria absoluta, sendo
evidente a relação politico-partidária entre quem tem governado o município e o partido
politico que faz a sua rentrée politica na festa do Avante! e que tem lugar na quinta da
Atalaia, cujos terrenos são pertença do PCP”, enquadrou o magistrado, acrescentando
que o assunto dizia respeito “a dinheiro dos portugueses que é gasto por aqueles que
sendo eleitos o gerem no interesse destes”. E afinal de contas, assinalou também, a
Câmara do Seixal nunca desmentiu ter afectado meios logísticos dos munícipes e
funcionários seus ao evento, nem tão pouco ter pago horas extras pelo desempenho
desse serviço.
Porém, a autarquia recorreu uma vez mais. A decisão judicial que deverá pôr fim à
contenda de forma definitiva foi proferida no início deste mês pelo Tribunal da Relação
de Lisboa. Que, citando jurisprudência do Tribunal Europeu dos Direitos Humanos,
refere que o direito a informar sobre questões de interesse geral parece apenas estar
condicionado pela obrigação dos jornalistas de agirem de boa-fé, com base em factos
exactos. “De outro modo, poder-se-ia, ao sobrevalorizar a honra ou o prestígio das
pessoas singulares ou colectivas, converter o sistema de justiça penal num mecanismo
autocrático de intimidação e retaliação, numa forma camuflada de censura e mesmo de
auto-censura, ao invés de um garante dos direitos, liberdades e garantias”, escrevem as
desembargadoras Cristina Almeida Sousa e Florbela Sebastião Silva.
Que acusam ainda a autarquia de falta de transparência: “Tudo o este texto faz é colocar
questões que, além de pertinentes, dada a opacidade nos critérios de recrutamento dos
trabalhadores e no pagamento de horas extraordinárias”. E “foi a própria Câmara do
Seixal que optou por não lhes responder, não obstante lhe ter sido dada a oportunidade
de responder a questões muito concretas, cujas respostas até poderiam ter afastado
qualquer dúvida ou suspeita de relações promíscuas com o Jornal Avante! e organização
da respectiva festa, bem como acerca do rigor e do acerto das contas e dos gastos”.