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Tomo V professor Jorge Miranda

2. O processo ou procedimento legislativo

69. Órgãos legislativos e processo ou procedimento

Independentemente do órgão competente, a lei resulta de um processo ou procedimento, de


uma sucessão de actos de vária estrutura e relativamente autónomos encadeados para um
fim, corresponde ao momento conclusivo desse processo ou procedimento. É necessário ter
em conta os elementos políticos que envolvem os elementos estritamente jurídicos, quer
aqueles que se manifestam no seio dos órgãos do poder quer os que brotam da dialéctica com
as influencias e as pressões vindas da sociedade civil.

II. há um processo legislativo no âmbito da Assembleia da República, com uma pluralidade de


formas; no âmbito das duas Assembleias Legislativas regionais, muito semelhante ao processo
legislativo parlamentar; e o processo dos decretos-leis do Governo – este com características
peculiares: dominado pela unidade política devido ao artigo 189 da CRP.

II. Procedimento legislativo governamental tem sido regulado pelo Regimento do Conselho de
Ministros

Regimento do XVII Governo constitucional nº 64/2006, 18 de Maio, previam-se 5 fases:

1º - Elaboração dos projectos;

2º - Consultas – internas, aos Ministros das Finanças, da Administração Interna, dos Negócios
Estrangeiros e ao Ministro responsável pela modernização administrativa, e externas, aos
orgaos do governo próprio das regiões autónomas e de entidades públicas e privadas, nos
termos da Constituição e da lei – estas últimas são ainda reguladas pelo Decreto-Lei nº
274/2009 de 2 de Outubro;

3º - Circulação pelos Ministros;

4º - Apreciação preliminar em reunião dos Secretários de Estado;

5º - Apreciação e aprovação pelo Conselho de Ministros

70. Regulamentação do processo legislativo parlamentar

As normas reguladores desta processo constam da Constituição, nos artigo 167 e segs., no
Regimento, artigos 118 e segs e ainda na intervenção de certos órgãos ou de algumas leus
ordinárias avulsas.

O regimento como lei interna com determinada eficácia, como acto a se, que não toma forma
de lei, nem a de resolução. É ele que dispõe sobre as suas alterações que tem de ser
aprovadas por maioria absoluta dos deputados presentes, artigo 288, numero 4. Além das
normas jurídicas escritas, existem também de base consuetudinária e ainda as praxes e
convenções.

II. Regimento Processos legislativos especiais – aprovação dos


estatutos das regiões autónomas, autorização e
Processo legislativo ratificação da declaração de estado de sítio ou de
comum estado de emergência, para a declaração de
guerra e de paz, autorizações legislativas.
Acrescem os processos das leis do plano e do orçamento, artigo 215 e segs.

Regra básica é a aplicação das regras do procedimento legislativo comum, salvo quando não
esteja estabelecido um processo especial. E essas regras valem a título subsidiário na revisão
constitucional, artigos 284 e segs da CRP e até nas alterações do regimento, artigo 288 e segs.

A Constituição, artigo 170 e o regimento, 284 e segs, admitem um processo de urgência.

III. A preteriação das normas constitucionais sobre procedimento legislativo determina


inconstitucionalidade com as inerentes consequências, artigos 277 e segs. da Constituição.

A preterição das normas regimentais, salvo das que produzam normas constitucionais,
equivale aos vícios interna corporis acta. A constituição não estende ao regimento a garantia
da constitucionalidade, nem cria nenhum regime específico.

71. As fases do procedimento

Cada fase ou período é fracção de um tempo longo, uma parte do iter a percorrer pela
Assembleia e pelos outros sujeitos previstos na Constituição em interdependência com ela,
artigo 111. Por seu turno, cada fase tem de ser entendida também como um procedimento a
se , com as suas próprias subfases. Tanto a unidade de cada fase com a unidade global do
procedimento deriva das regras jurídicas a partir das quais se congregam as vontades,
concordantes ou discrepantes, dos vários interveniente e se alcança ou não a lei como norma
ou conjunto de normas.

O procedimento tende a esse acto final e complexivo, mas a validade dos actos
correspondentes a cada fase é condição de validade do acto final.

II. critérios da ordem funcional para as distinguir:

1º consiste no grau de eficiências das diversas fases perante a lei como acto final total,
enunciados uma fase de iniciativa ou de instauração do procedimento, uma fase constitutiva
ou perfectiva e uma fase integrativa de eficácia.

Por nos propomos quatro fases:

1. iniciativa;
2. Apreciação ou consulta;
3. Deliberação ou discussão e votação; - fase constitutiva ou perfectiva
4. Promulgação e controlo
Outra: publicação – diz respeito à norma em si, desprendida do acto legislativo
A promulgação faz parte do processo porque os processos e procedimentos jurídico-
constitucionais são quase sempre heterogéneos, porque há uma dialéctica entre
deliberação do Parlamento promulgação e veto e porque o princípio constitucional é
de separação e interdependência de órgãos de soberania – artigo 111. (No entanto na
sua falta não se considera inexistente, apenas no caso de falta de aprovação
parlamentar).
Processo legislativo parlamentar está sujeito às vicissitudes provocadas pelo desencadear de
um processo de referendo. Artigo 115, números 2, 4, 5 e 10 – pode acontecer que num
processo legislativo parlamentar já em marcha se enxerte, suspendendo-o, num processo
referendário – artigo 4 da Lei nº 15-A/98. Se a resposta submetida a pergunta a referendo por
positiva então o processo terá de ser retomado, caso contrário o processo será encerrado. –
artigos 241 e 243 da Lei nº 15-A/98.

72. Iniciativa legislativa e competência legislativa

Iniciativa legislativa significa propor a lei e competência decretar a lei.

Em órgãos singulares, o momento da iniciativa de um acto de decisão e o de decisão podem


coincidir ou, mesmo quando coincidam, não se distinguir juridicamente.

Em órgãos colegiais, nos quais a competência tem de ser sempre dinamizada por algum ou
alguns dos seus titulares ou a partir do exterior, já não.

Sem a iniciativa não se desencadeia o procedimento, mas fazer a lei é obra do Parlamento
como um todo, como órgão do Estado.

II. Tal contrataste verifica-se no Direito Português entre as Constituições do século XIX e do
século XX, entre as Constituições da monarquia liberal e as republicanas. Nas primeiras a
iniciativa directa das leis somente pertencia aos Deputados. Os Secretários de Estado podiam
apresentar projectos, que depois de examinados por uma comissão das Cortes poderiam ser
convertidos em projectos de leis, artigo 105 da constituição de 1822, artigos 45 e 46 da Carta
Constitucional e artigo 64 Constituição de 1838.

Contrariamente, na Constituição de 1911 a iniciativa de todos os projectos de lei competia a


qualquer dos membros do Congresso ou do poder executivo, devendo, porém, em certas
matérias o processo começar na Câmara dos Deputados, artigo 23 e 28. Na de 1933 ao
Governo ou a qualquer dos membros da Assembleia Nacional, artigo 97 e na Constituição de
1976 compete aos Deputados, ao Governo, às assembleias legislativas regionais o que seja
respeitante às regiões autónomas, artigo 167, aos grupos parlamentares (após a revisão de
1982) e a grupo de cidadãos (após a revisão de 1997).

IV. Verifica-se um maior volume de iniciativas provenientes do executivo do que dos membros
do parlamento, visto também que a lei se reveste de conteúdo ou de implicações de ordem
política e porque Presidente ou Governo para cumprir os seus objectivos de programa carecem
de leis que lhes sejam adequadas, o trabalho legislativo parlamentar propende a sofrer, em
todos os seus países, o seu influxo constante e predominante. Em Portugal, desde 1976, a
iniciativa legislativa tem acompanhado as variações do sistema político. Em épocas de Governo
minoritário ou sem base parlamentar observa-se o aumento das leis de iniciativa dos
Deputados, ao passo que em Governos maioritários, sobretudo de um só partido, se regista o
seu declínio em favor do papel dirigente das propostas governamentais. Para além destas
razões, existem deficiências nos trabalhos dos Deputados, o Parlamento não tem aproveitado
a contratação de especialistas ou a celebração de convénios com instituições científicas e
universitárias para a preparação de anteprojectos e estudos legislativos.
73. Iniciativa legislativa e impulso legiferante ou legislativo

A primeira sendo em si um acto político, situa-se no interior do procedimento legislativo. O


impulso legislativo está na génese do processo, mas queda-se exterior a ele. Este seundo ou
factor determinante, estimulante ou condicionante da decisão de legislar, ou seja, da abertura
do procedimento legislativo, decorre directa ou indirectamente de uma norma jurídica, a qual
torna essa decisão necessária ou obrigatória e outras vezes situa-se na dinâmica política e
social, dependendo das relações entre os órgãos do poder e entre as forças políticas e sociais –
Impulsos jurídicos VS políticos – cfr quadro das páginas 268 a 270.

Ainda pode-se considerar impulsos difusos ou correspondentes aos grupos de pressão, às


associações, à opinião pública, à comunicação social, às comunidades religiosas enquanto
influenciam a produção legislativa.

E ainda impulsos contra-legiferantes ou legiferantes negativos como impulsões, oposições,


pressões para que não se elabore certos diplomas, que devem ser distinguidos dos limites de
constitucionalidade e de legalidade que estão sujeitos os actos legislativos.

Este impulso legislativo pode ser considerado uma faceta da occasio legis – artigo 9, numero 1.
Este determina ou é acompanhado de trabalhos preparatórios, de estudos legislativos de
carácter estritamente jurídico ou técnico, feitos nas instâncias parlamentares ou
governamentais ou encomendados a outras entidades públicas ou privadas. O acesso a estes
documentos podem levantar problemas de direitos fundamentais, por exemplo documentos
administrativos, artigo 268, n2.

IV. Quanto à intervenção do Presidente da Republica nos processos parlamentares tendentes


ás autorização de declaração de estado de sitio ou de emergência e da declaração de guerra
ou feitura da pez, materialmente falando ela poderia reconduzir-se a iniciativa até porque a
declaração compreende elementos de acto legislativo, mas formalmente trata-se de um
pedido sob a forma de mensagem fundamentada, pois a mensagem é o meio normal de o
Presidente da Republica comunicar com o parlamento – art. 24 da Lei n 44/86 de 30 de
Novembro.

74. Tipos, formas e limites da iniciativa legislativa

Iniciativa da lei cabe: aos Deputados, aos grupos parlamentares – revisão de 1982, ao Governo,
às Assembleias Legislativas regionais – a partir de 1976 e a grupos de cidadãos eleitores ou
iniciativa popular – a partir de 1997, regulamentada na Lei 17/2003 de 4 de Junho, necessita
de um mínimo de 35000 cidadãos, art. 6 desta lei, podendo incluir os cidadãos recenseados no
estrangeiro desde que a iniciativa tenha por objecto matérias que lhes digam respeito, artigo
2. - artigo 167.

A iniciativa popular difere da petição por desencadear um procedimento, legislativo ou outro,


obrigando o órgão competente a tomar uma decisão de fundo e não simplesmente a tomar
conhecimento de uma questão para eventual decisão. E distingue-se ainda do veto popular por
implicar uma faculdade de impulsão: na iniciativa popular uma parte do povo pretende levar
os seus representantes a estatuir sobre determinada matéria, no veto popular o povo é
chamado a pronunciar-se sobre uma lei antes tomada, com vista à sua não entrada em vigor
ou à revogação resolutiva.

II. A iniciativa dos Deputados, individual ou colectiva – limite de 20 – artigo 123, n1 do


Regimento, e dos grupos parlamentares, podendo ser conjunta de 2 ou mais, é iniciativa
interna e traduz-se em projectos da lei. A do Governo e das Assembleias Legislativas Regionais
como iniciativa externa, como base numa relação inter-orgânica e que toma a forma de
propostas de lei.

Podem os Governos de gestão ou Governos antes da apreciação do seu programa pela


Assembleia da República ou após a sua demissão, artigos 186, n5, 195, exercer iniciativa
legislativa?

Diogo Freitas do Amaral: iniciativa legislativa deve considerar-se um dos actos relativamente
proibidos a esses Governos e que eles só podem praticar em caso de necessidade, urgência e
com fundamentação expressa de uma e outra. Mas parece que tal só importa quando a
matéria dela objecto recaia na reserva de iniciativa do Governo.

IV. Projecto e proposta de lei significam iniciativa originária ou de abertura do processo


legislativo: com qualquer projecto ou proposta de lei desencadeia-se um processo legislativo,
com vista a uma modificação de ordem legislativa. E há também iniciativa superveniente, que
se traduz em propostas de alteração – proposta de emenda, substituição, aditamento ou
eliminação – artigo 154 do Regimento - e também em textos de substituição – textos
apresentados pelas comissões parlamentares, sem prejuízo dos projectos e das propostas de
lei a que se referem, quando não retiradas, artigo 167º, nº8 da constituição e artigo 139 do
Regimento.

O que os distingue é o carácter primárias dos projectos e das propostas de lei, definidores do
objecto do processo legislativo e o carácter secundário das propostas de alteração e dos textos
de substituição. Até a votação na especialidade podem ser apresentadas propostas na
alteração.

V. A iniciativa de lei dos Deputados, dos grupos parlamentares e do Governo, assim como a
dos cidadãos é uma iniciativa genérica, ou seja, pode versar sobre quaisquer matérias, salvo as
reservas e os limites que a Constituição estabeleça. Contrariamente a esta a das Assembleias
Legislativas Regionais, originária ou superveniente, é específica – pode versar apenas sobre as
matérias concernentes às respectivas regiões autónomas: artigos 167, n1; 226, n1 e 4; 227, n1
alínea e) e f), sobre finanças regionais, artigo 164, alínea t) e 229, n3 e porventura ainda sobre
as águas territoriais, ZEE e fundos marinhos contíguos, (estas 3 últimas não é reservada) tendo
em conta o direito de participação das regiões na definição da correspondente política, artigo
227, n1 s), mas NUNCA sobre lei de âmbito nacional.

VI. Em princípio a iniciativa legislativa é concorrencional: propostas e projectos de lei podem


versar sobre as mesmas matérias. Mas há também outras que a iniciativa seja reservada a
certos órgãos, embora atingindo apenas a iniciativa originária.

A iniciativa específica é em principio igualmente uma iniciativa reservada. Ex.: Assembleias


Legislativas Regionais: reservada – estatutos, leis eleitorais relativamente a essas assembleias,
etc e não reservada a relativa às águas. Iniciativa reservada do Governo: leis de grande opções
dos planos de desenvolvimento económico e social, do orçamento, de autorização e
empréstimos e outras operações de crédito – artigos 161 g) e h), 91 n 1 e 106 n2. Reservada ao
Governo e ALRegionais quanto à iniciativa das leis de autorização legislativa artigo 198 n1 a)
Regimento.

VII. Em geral, a iniciativa legislativa é livre, só excepcionalmente pode não o ser. Por exemplo é
obrigatória, tenha ou não o país norma constitucional expressa, é apresentada e aprovada nos
prazos fixados na lei – artigo 106, n2 CRP e Lei nº 91/2001, bem como a iniciativa do plano de
desenvolvimento económico e social artigo 105, n2. Ainda são também obrigatórias os
impulsos legiferantes jurídicos, assim as leis destinadas a conferir exequibilidade a normas
constitucionais, mormente depois de o Tribunal Constitucional ter verificado a omissão, artigo
283º; as das leis destinadas a dar cumprimento a decisões referendárias, artigo 115, e as de
transposição de actos jurídicos da União Europeia, artigo 112, n8.

VIII. A reserva iniciativa se confina à iniciativa originária, porque o essencial se encontra nesta,
porque a colaboração de vários órgãos e sujeitos de acção parlamentar no aperfeiçoamento
do texto originário pode relevar-se muito útil, porque a própria ideia de racionalidade ligado
ao debate parlamentar o impõe. Podendo os restantes órgãos susceptíveis de apresentar uma
alteração a esta, iniciativa superveniente. A única restrição à iniciativa superveniente
corresponde às propostas de lei de alteração do orçamento, pois neste caso, os Deputados, os
grupos parlamentares e as Assembleias Legislativas Regionais não podem apresentar
propostas de alteração, pelo menos propostas que envolvam aumento de despesas ou
diminuição de receitas, tem de ser o Governo a determinar as possíveis alterações. – artigo
167, n2, mas para o ano decorrente nada obsta que seja apresentada para o ano subsequente,
desde que contemplados no próximo orçamento e sobretudo a que apresentam propostas de
alteração à proposta de lei orçamental sem limite. A mesma regra vale para as propostas de
alteração de decretos-leis submetidos a processo de apreciação parlamentar, artigo 169, e
para os projectos de proposta a referendo, artigo 167, n3.

X. a iniciativa dos cidadãos não pode versar sobre amnistias e os perdões genéricos , nem
sobre matérias de reserva do artigo 164, salvo sobre bases do sistema do ensino, artigo 3 da lei
nº 17/2003 e outras matérias vedadas artigo 115, n4 CRP. Pode-se entender a limitação
quanto às duas primeiras, mas não quanto ao artigo 164.

75.Requisitos e processo da iniciativa

A iniciativa está sujeita a requisitos materiais e formais. Não são admitidos os projectos e as
propostas de lei e de alteração que infrinjam a Constituição, as normas de Direito
Internacional, de Direito da união europeia e as leis reforçadas, ou também aqueles que
também não definam concretamente o sentido das modificações, artigo 120, n1 do Regimento

Os projectos e propostas de lei devem ser apresentados por escrito, redigidos de forma
articulada, traduzindo sinteticamente o seu objecto principal e são precedidos de uma breve
justificação ou exposição de motivos, artigo 124, n1.

II. Na iniciativa, originária, sucedem quatro fases ou subfases:


1. Entrega dos projectos e propostas na Mesa da Assembleia;
2. Admissão pelo presidente e publicação no Diário da Assembleia, artigo 125, n1 do
Regimento. No prazo de 48 horas o Presidente da Assembleia comunica ao autor ou
ao primeiro signatário a decisão de admissão ou rejeição, artigo 125, n2, tendo em
vista as normas constitucionais e regimentais.
3. Após admitido é enviado à comissão competente em razão da matéria, e o Presidente
comunica o facto à Assembleia, artigo 126, n1. Até ao termo da reunião subsequente,
qualquer Deputado pode recorrer, por requerimento escrito e fundamentado, da
decisão do Presidente, artigo 126, n2.
4. Eventualmente, quando a comissão elabora parecer é agendado a votação do mesmo
na reunião plenária subsequente ao termo daquele prazo, artigo 126, n4.

III. O momento preparatório, de formulação da iniciativa legislativa, não tem relevo quando se
trata de projecto de lei de Deputado ou de Deputados. Quando a iniciativa é de grupos
parlamentares, embora não haja norma constitucional ou regimental directa há normas
internas do grupo ou dos partidos políticos que lhe correspondem a regular o modo de
formação dos projectos, bem como do princípio constitucional da democraticidade, artigos 10,
n2, 51 n1 e 5. Quando é da Assembleia Legislativas regionais, a formação é disciplinado pelos
estatutos das regiões autónomas e pelos regimentos das Assembleias.

Desta ideia decorrem várias consequências – páginas 284 – 285.

Havendo uma rejeição de qualquer projecto ou proposta de lei, não pode o Governo
transformá-lo em decreto-lei durante a mesma sessão legislativa. Mas e, depois de aprovada
uma lei, poderá vir a ser apresentado, na mesma sessão legislativa, um projecto ou proposta
de lei de sentido revogatório? Só por cortesia constitucional não deverá o Governo revogar a
lei de origem parlamentar, sobre matéria concorrencional, votada na sessão legislativa em
curso.

VII. O regimento prevê o cancelamento da iniciativa e, nesse caso, mudança de autoria por
adopção. Admitido qualquer projecto ou proposta de lei ou de alteração, pode os seus autores
retirá-las até á votação na generalidade, artigo 122, n1 e pode ainda ser adoptada por outro ,
artigo 122, n2.

VIII. Última vicissitude vem a ser a caducidade – caducam com o termo da legislatura, artigo
167, n5, em geral. Mas em especial, as propostas de lei do Governo caducam com a demissão
destes, artigo 167, n6 e as das Assembleias Legislativas Regionais caducam com o termo das
respectivas legislaturas, mas se já tiverem sido objecto de aprovação na generalidade caducam
apenas com o termo da legislatura da Assembleia da República, artigo 167, n7. Nada se prevê
quanto à caducidade dos projectos de lei de Deputados e de grupos parlamentares.

IX. O termo da legislatura não acarreta a caducidade do projecto ou proposta de lei aprovada,
inclusive quando o respectivo decreto seja enviado depois desse termo ao Presidente da
República para promulgação. Mas, se o Presidente exercer o seu poder de iniciativa de
fiscalização preventiva, artigo 278, e se o Tribunal Constitucional se pronunciar pela
inconstitucionalidade, artigo 279, ou se o Presidente emitir veto político, será já a nova Câmara
a competente para deliberar sobre diploma e para vir ou não a reformá-lo ou a confirmá-lo.
77. A fase de apreciação, consulta, exame ou instrutória

 Apreciação interna: desenvolve-se no seio do Parlamento, através do exame em


comissão – esta é genérica: dá-se em todos os casos, quanto a todos os projectos e as
propostas de lei;
 Apreciação externa: realizam-se noutros órgãos constitucionais ou mesmo em
organizações da sociedade civil – esta é específica: só se dá quanto a matérias
previstas na Constituição, na lei ou no Regimento.

78. A apreciação interna

O exame em comissão cabe á comissão especializada, artigo 35 a) e 129, n1 e n3 do Reg. – se a


comissão considerar incompetente, artigo 130 Reg.

Admitido um projecto ou proposta de lei, o seu autor ou um dos seus autores podem o
apresentar perante a comissão parlamentar, artigo 132, n1 Reg. Artigo 136, n1, 2 e 3 Reg.:
aprovação ou não pela comissão; apreciação conjunta se forem enviados outros: artigo 138,
n1. A comissão pode apresentar textos de substituição na especialidade ou na generalidade:
artigo 167, n8 CRP e 139, n1 do Regimento.

II. Comissões podem proceder a estudos, requerer informações ou solicitar depoimentos, etc
artigo 102, n2 e 103 n3. Os membros do Governo podem participar nos trabalhos das
comissões, artigo 177, n3 CRP e 102, n1 Reg. A comissão competente pode propor ao
Presidente da Assembleia a discussão pública dos projectos ou propostas: artigo 140 Reg. Em
assuntos da sua competência pode o Provedor de Justiça tomar parte nos trabalhos da
comissão parlamentar competente, artigos 23, n2 da Lei n 9/91 de 9 de Abril. Ainda tratando-
se de projecto de lei de iniciativa de cidadão, é obrigatória a consulta da comissão dela
representativa, artigo 9, n 4 e art 7 da Lei n 17/2003.

79. Apreciação externa

Os órgãos de soberania têm de ouvir, respeitante a questões às regiões autónomas, os órgãos


de governo regional, artigo 227, n1 v) e 229, n2. Quanto ao exercício da competência
Legislativa da Assembleia da República, trata-se ou de legislação dirigida apenas a uma das
regiões ou de legislação de âmbito mais vasto, mas que assumam relevância regional, e os
órgãos a ouvir são as Assembleias Legislativas regionais, únicos órgãos legislativos a nível
regional e não os Governos regionais. Se está em apreciação uma proposta de lei de iniciativa
da Assembleia Legislativa regional não se justifica a audição, mas se forem apresentadas
alterações à mesma então já se justifica, de forma a não se frustrar a finalidade prevista nas
normas constitucionais.
Ao Presidente da Assembleia da Republica compete promover a apreciação pela Assembleia
Legislativa regional a efectuar num prazo razoável, artigo 142 do Reg. A audiência regional
deve ser entendida como mera consulta exterior e sem força vinculativa.

II. A revisão constitucional de 1989 substituiu o Conselho Nacional do Plano vindo de 1976,
artigo 94, por um Conselho Económico e Social, órgão de consulta e concertação no domínio
das políticas económica e social, artigo 92, n1, 1º parte, compostos por artigo 92, n2. Tem de
ser ouvido aquando da aprovação das leis das grandes opções dos planos, artigo 161, g), 1º
parte e a outros diplomas de conteúdo económico e social, artigo 2 b), d) e f) da Lei nº 108/91
de 17 de Agosto.

III. O Conselho Superior da Defesa Nacional é o órgão especifico de consulta para os assuntos
relativos à defesa nacional e à organização, ao funcionamento e à disciplina das Forças
Armadas, artigo 274, n2 CRP. Compete-lhe emitir parecer sobre legislação atinente a estas
matérias, às condições de emprego das Forças Armadas em estado de sítio ou em estado de
emergência e à organização da protecção civil, artigo 17, n1 d), e), f), h, i), e j) Lei nº 31-
A/2009, de 7 de Julho.

IV. Diferente é a intervenção das assembleias municipais, antes de 1997, que se tratava de
consulta, mas de eficácia negativa. Diversa é a consulta prevista no Reg. Art 141.

V. As organizações representativas dos trabalhadores, das actividades económicas participam


na definição das primeiras medidas económicas e sociais, artigo 80 j) CRP.

80. Debate parlamentar

Debate na generalidade e na especialidade – artigo 168, n1 CRP. O primeiro versa sobre


princípios e o sistema do texto, artigo 147, n1 do Reg. E o segundo sobre cada artigo artigo
152, n1 Reg.

Período de funcionamento da Assembleia: 15 de Setembro a 15 de Junho, artigo 174, n2 CRP e


tem conhecido sempre prorrogações, artigo 174, n3.

III. fixação da ordem do dia pelo Presidente da Assembleia, artigo 176, n1 CRP e art. 16, n1 b)
do Reg., de acordo com os critérios materiais e formais, art. 59 e segs. Antes da ordem do dia,
o Presidente ouve a conferencia dos representantes dos grupos parlamentares, art. 59, n2 e
20, n3. Na falta de consenso, a conferencia prenuncia-se pela maioria, artigo 20, n4,
admitindo-se recurso ainda a plenário, art. 59, n 3 e 4.

IV. Domina a regra da maioria imposta pelo princípio democrática apesar de atenuada por
outras duas:

1) Pela definição regimental de prioridade de matérias, artigo 176, n1 CRP e art. 62 Reg.
2) Pela atribuição a cada grupo parlamentar do direito de determinação de certo número
de reuniões, segundo critérios a estabelecer no Regimento, ressalvando-se sempre a
posição dos partidos minoritário, artigo 176, n3 CRP, e a cada uam das reuniões
corresponde uma iniciativa legislativa, art. 64 do Reg.

Pode ainda ser solicitada prioridade para assuntos de interesse nacional e regional de
resolução urgente, artigo 176, n2 e 4 CRP e 63, n2 do Reg.

V. Projectos de iniciativa popular são agendados para uma das 10 reuniões plenárias seguintes
à recepção de parecer da comissão competente em razão da matéria ou do prazo assinado
para ela o emitir, art. 10º Lei nº 17/2003.

VI. Para a discussão de cada projecto ou proposta é estabelecido um tempo global, artigo 145,
n6 Reg,. Que é distribuído equitativamente, art. 145, n 2,3 e 4.
Os debates iniciam-se com intervenções dos autores dos projectos e propostas, art. 145, n1.
Texto de substituição da comissão é discutido na generalidade, art. 139, n2.

VII. até ao anúncio da votação no Plenário, podem 10 deputados requer a baixa do texto em
discussão a qualquer comissão para efeito de nova apreciação no prazo que for designado, art.
146.

81. A votação 168, n2 CRP

Na generalidade, onde se toma a decisão de legislar ou não – artigo148, n1 e 2 Reg., na


especialidade – art. 152 e 154 Reg. e votação final global – art. 155, n3.

III. O grupo parlamentar que exerça o seu direito de fixação da ordem do dia pode requer a
votação na generalidade, art. 64, n6 do Reg. E se for aprovada – art. 64, n7

Se a Assembleia assim o deliberar os textos aprovados na generalidade serão votados na


especialidade pelas comissões art. 168, n3 CRP. Limitações – n 4 do mesmo artigo. Votação na
especialidade pela comissão fala-se na formação de um costume constitucional, ainda que
contra legem.

IV. Votadas na especialidade pelo Plenário são também as disposições de certas leis,
autonomizadas por exigência de aprovação por maioria qualificada, artigo 160, n6 b) a f).

82. As maiorias de aprovação

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