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Podemos fazer muita coisa, porque nada está predeterminado. Mas não podemos fazer
qualquer coisa, porque tudo está condicionado. Por isso, é preciso conhecer a realidade e seus
condicionamentos para ter uma atuação realista.
A realidade se transforma a cada dia, em função de seus dinamismos, contradições,
atuações e lutas. Ela é transformada pela ação voluntária de pessoas, por meio de iniciativas
individuais e coletivas. O resultado final dessas iniciativas depende das forças de cada um:
elas podem somar-se ou anular-se. É o que chamamos correlação de forças.
A análise de conjuntura é um bom instrumento de conscientização. Ajuda a adquirir
um sentido crítico da realidade, a fazer opções, a tomar posição. Ela é um ato político.
Análise de conjuntura não é neutra. Se faz desde uma posição, a partir duma opção de
princípios e valores, em função de certos objetivos. Ela depende do que se quer compreender
em função dos objetivos e interesses de um grupo (ou uma pessoa).
Sua qualidade vem da prática habitual e regular. Por isso, o grupo não pode variar
muito. Grupo não precisa concordar em tudo, mas é indispensável partilhar um consenso
político básico: mesma visão e mesmos objetivos de ação.
Para o conhecimento da realidade, ela utiliza múltiplas fontes de informação: jornais,
revistas, relatórios, cartas, experiência própria, ouvir opiniões diferentes, conversa com
informantes qualificados. Mas não se reduz a reunir informações. As informações são matéria
bruta, sobre a qual a Análise de Conjuntura deve trabalhar para dar transparência ao real
(como as gemas e cristais: antes de serem burilados são opacos).
Considerar sempre:
1) Análise feita em grupo é muito melhor do que a feita individualmente, porque o
confronto de opiniões evita que se tome uma falsa pista de interpretação.
2) Para quem é feita a análise: ela só terá efeitos se o destinatário entender sua
linguagem e considerá-la plausível (corresponder à sua experiência prática).
3) A análise deve ter limites temporais: evolução de um mês, de um ano, entre 2
reuniões...
4) A análise pode ter pretensão globalizante, ou centrar-se sobre uma só dimensão da
realidade (econômica, política, social, religiosa, sindical, saúde, educação e muitas
outras), mas neste caso não pode ignorar que o particular é condicionado pelo geral.
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5) Pode ter como foco o âmbito local, regional, nacional, internacional ou mundial, mas
não deve isolar esse âmbito dos demais: “pensar globalmente, agir localmente”.
Análise se faz com rigor metodológico e científico, de maneira objetiva e sistemática.
Mas nunca é algo acabado, é instrumento que se aprimora com o uso. Dois grandes mestres
do método: Mao Tsedong: “quem não pesquisa, não pode falar na reunião”. A. Gramsci:
“pessimismo da razão, otimismo da vontade”.
Pode ser feita em três etapas, separadas por razão metodológica, mas que formam um
conjunto. Por isso, não é bom separá-las demais.
1ª Etapa: VER
● Fatos e acontecimentos mais relevantes do período;
● Problemas, tensões, conflitos, lutas e contradições mais fortes;
● Posições e atitudes dos atores, individuais ou coletivos;
● Considerar o que se vê e o que não aparece, o que se diz e o que se faz.
2ª Etapa: JULGAR
Análise de conjuntura não é resumir os acontecimentos. É apreciar, avaliar, criticar o
que vai acontecendo, para perceber o sentido das transformações: por onde e para onde
caminha o real?
Análise vem do grego analusein (decompor, separar e unir, ver as ligações, resolver).
Considerar os atores, seus interesses e suas forças não isoladamente mas em correlação, para
desvendar as contradições e os conflitos entre eles. Descobrir a estratégia (linha de ação
global) e as táticas (maneiras de agir mais adequadas ao momento ou circunstância) de cada
ator.
Aqui entra a importância das chaves de leitura fornecidas pela Teoria. Os
acontecimentos são expressão (resultados) da realidade que é complexa e invisível, mas
enganadora porque parece ser transparente ao senso-comum. São as Teorias que rompem com
o conhecimento de senso-comum e reconstroem a lógica do real, permitindo explicar as
relações entre os diferentes campos de ação humana (político, econômico, social, cultural,
ideológico, religioso, educacional, etc).
A Teoria fornece também o quadro de referência a partir do qual se pode perceber
(analisar) as mudanças, as transformações e as tendências: o que é estável e o que muda. Os
acontecimentos têm uma história. Relacionar os acontecimentos e atores com elementos e
forças permanentes, leva a entender a ligação entre o conjuntural e os estrutural.
3ª Etapa: AGIR
É o momento das iniciativas que a análise revela serem necessárias em função dos
objetivos e metas a atingir. A partir das tendências resultantes da atual correlação de forças, a
análise poderá indicar modos de intervenção com probabilidade de êxito. Uma boa análise
deve indicar prioridades para a ação, e até mesmo a estratégia mais conveniente no momento.
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