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SÍNTESE DE CONTEÚDOS – I TRIIMESTRE

Filosofia - 11ª Classe


I. Introdução à Filosofia
Conteúdo Desenvolvimento
- A filosofia surge na Grécia, nos começos do século VI a. C. Como nas demais culturas antigas, a cultura
grega assentava no mito, transmitido e ensinado pelos poetas educadores do povo, especialmente Homero
e Hesíodo. O mito oferecia respostas orientadoras acerca da natureza e destino do ser humano, acerca da
origem e das normas da sociedade em que o indivíduo humano se encontrava inserido e acerca do
Surgimento da Filosofia surgimento e estrutura do cosmos (universo). Em consonâ ncia com as transformaçõ es de cará cter cultural
e social, as inteligências mais despertas sentiram a necessidade de substituir as explicaçõ es míticas por
outro tipo de explicaçã o justificada de um modo racional. Surgiu assim a filosofia como tentativa de
racionalizar a interpretação do homem e do universo, das relações dos homens entre si e destes com a
natureza.
ETAPAS DA FILOSOFIA GREGA CLÁSSICA
1. O Período Cosmológico A pergunta dos primeiros filó sofos gregos (pré-socrá ticos) é, desde o primeiro momento pela natureza
a) A Escola de Mileto: (physis): Qual é o princípio (ou a origem), o substrato ú ltimo e a causa de todas as coisas?
 Tales; Os primeiros a responderem a esta questã o foram os filó sofos da Escola de Mileto e os seus modelos de
 Anaximandro; e explicaçã o sã o os seguintes:
 Anaxímenes.
 Tales de Mileto (~624-546 a. C): a água para ele é o princípio (arkhé) de tudo. Segundo Aristó teles,
Tales quereria dizer que todas as coisas sã o ou se compõ em de á gua; que a terra flutua sobre a á gua;
que a á gua entra na constituiçã o de todos os seres; que a á gua é indispensá vel à vida.

 Anaximandro de Mileto (~610-545 a. C): discorda da soluçã o de Tales, para ele, de um elemento tã o
concreto e já determinado como a á gua nã o podem derivar outros elementos tã o concretos como o
ar, a terra, o fogo e as outras substâ ncias físicas. Na origem de todos os seres deve estar antes um
elemento não determinado, que nã o é nem se confunde com nenhuma das substâ ncias já
determinadas, mas contém em si todas as possibilidades de determinaçã o, sendo infinito na duraçã o,
imortal, indestrutível, em movimento perpétuo, infinitamente criador. Esse elemento é apeiron – que
significa precisamente indeterminado, infinito.

 Anaxímenes de Mileto (~582-528 a. C): a resposta dada por ele parece um retrocesso relativamente
à de Anaximandro, ao propor o ar como substâ ncia originá ria. A explicaçã o dada por Anaxímenes,
segundo Hipó lito, é esta: O ar infinito é o princípio sobre o qual provêm todas as coisas que estã o a
gerar-se, e que existem, e que hã o-de existir. Com o aumento da densidade ou da rarefaçã o, o ar toma
diferentes aspectos: quando se dissolve no que é mais subtil, torna-se fogo, enquanto os ventos sã o,
por sua vez, ar condensado, e a nuvem é produzida a partir do ar por compreensã o. Quando se
condensa ainda mais, produz água; com maior grau de condensaçã o produz-se terra… donde resulta

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que os componentes com maior influência na geraçã o sã o contrá rios, a saber, o calor e o frio.
 Heraclito de Éfeso (~544-484 a. C): Na sua perspectiva, o Universo é um contínuo devir, isto é,
todas as coisas se encontram submetidas a uma contínua transformaçã o. Todo o devir se encontra
b) Escola de É feso:
submetido a uma lei, a um logos, responsá vel pela ordem de toda a realidade em mutaçã o. As coisas
 Heraclito de É feso
estã o permanentemente em transmutaçã o devido à contradição que nelas. Tudo é possível graças ao
fogo. Heraclito diz mesmo que o Universo é fogo.
 Parménides de Eleia (~540-470 a. C): Fez a distinçã o entre a via da verdade/razã o (alétheia) e da
aparência/opiniã o (doxa). Ele é crítico de Heraclito, pois na sua perspectiva, nenhuma realidade nova
poderá surgir, ou seja, “toda a mutaçã o é ilusó ria” (“… tudo o que é nã o pode alterar-se, pois
c) Escola de Eleia:
implicaria tornar-se no que nã o é”). Portanto, há que negar toda a transformaçã o, o movimento e a
 Parménides de Eleia
pluralidade – pois sã o puras ilusõ es dos nossos sentidos. O Ser, uno, nã o-gerado e imutá vel é a causa
da criaçã o deste mundo e de toda a realidade que nele habita. A partir destes pressupostos,
Parménides infere “o que é, é e o que nã o é, nã o é” (O Ser é, o Não-ser não é).
2. O Período Antropológico Na primeira etapa, os filó sofos preocupavam-se em dar uma explicaçã o para a origem e fundamentos da
natureza (physis). Neste período, o centro das investigaçõ es é o Homem (anthropos), abre-se assim a
perspectiva antropocêntrica, particularmente com os trabalhos dos sofistas (sophos = sá bio) em Atenas.
O objectivo dos sofistas era formar jovens com saberes enciclopédicos com o domínio da palavra para
persuadir e convencer massas (Retó rica). Estes jovens eram preparados para a vida pú blica/política, por
isso deviam tornar-se oradores e “bons cidadã os”. Entretanto, os sofistas valorizavam saberes relativistas
e cépticos, para eles as normas morais, as leis e os costumes possuem carácter convencional. Entre os
a) Os Sofistas:
sofistas os que se destacaram foram:
 Protá goras; e
 Protágoras de Abdera (490-421 a. C): ele difundia particularmente o relativismo, que é a
 Gó rgias corrente que defende que nã o há verdade absoluta e universal, mas uma diversidade de opiniõ es, é
nesta perspectiva que afirmava “O Homem é a medida de todas as coisas” (homo mensura).
 Górgias de Leontinos (487-380 a. C): era apologista do cepticismo, que é a corrente segundo a
qual nã o é possível conhecer a verdade absoluta, o homem nunca tem o conhecimento certo. Este
posicionamento é realçado pela sua frase “Nada existe e que, mesmo existisse, nã o poderia ser
conhecido”.
b) Só crates  Sócrates (470-399 a.C.): em oposiçã o aos sofistas, Só crates propõ e novos métodos de ensinar a
juventude e outros princípios morais. O seu ponto de partida é este imperativo: “Homem, conhece-
te a ti mesmo”, pois a busca do conhecimento (o filosofar) consiste em examinar-se a si mesmo e aos
outros. Mas a auto consciência é insepará vel do reconhecimento de que se é ignorante, daí a
afirmaçã o “Só sei que nada sei” (douta ignorâ ncia), implicando a procura do saber.
Para a busca do saber, Só crates privilegiava o diálogo usando dois métodos:
1. Ironia: consistia na interrogação, onde Só crates procurava provocar no seu interlocutor o
reconhecimento da ignorância (sobre aquelas realidades que presumiam conhecer/saber).
2. Maiêutica: depois de reconhecida a ignorâ ncia, seguia-se a formaçã o de um novo saber
(verdadeiro), mediante uma série de questõ es. Assim, tendo Só crates como facilitador (somente) o

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interlocutor descobria a verdade que já trazia em si. Daí a sua tese: “A verdade reside no interior
de cada um”.
ETIMOLOGIA E DIVERSAS PERSPECTIVAS DE DEFINIÇÃO DA FILOSOFIA
1. Definiçã o Etimoló gica: Philos + Sophia, que significa “amor, amizade ou gosto pelo saber.
2. Diferentes posiçõ es sobre o conceito de Filos:
 Aristó teles: a filosofia é a contemplaçã o e investigaçã o dos primeiros princípios e as causas
ú ltimas de todas as coisas;
 Cícero: define a filosofia como sendo o estudo das causas humanas e divinas;
 Descartes: afirma que a filosofia ensina a raciocinar bem;
A Etimologia da palavra Filosofia  Hegel: concebe a filosofia como saber absoluto;
 K. Marx: a filosofia é prá tica de transformaçã o social e política;
&  Jaspers: a Fil. significa estar a caminho, ou seja, é demanda e nunca posse da verdade (do saber);
 E. Kant: a filosofia é a ciência dos fins ú ltimos da razã o.
O carácter pluralista do conceito de  L. Wittgenstein: entende a filosofia como sendo a aná lise e clarificaçã o da linguagem, de modo a
Filosofia (Filos). nã o tornar-se turva e nem vaga;
 Whitehead: julga que seja a tarefa da filosofia fornecer uma explicaçã o orgâ nica do universo;
 Hegel: a filosofia é um saber absoluto;
 Ngoenha: a filosofia é uma disciplina que tem em vista resolver algum problema de uma
determinada colectividade humana e é um instrumento de emancipaçã o;
 Hountondji: a filosofia é uma disciplina científica, teorética e individual.
 Anyanw: a filosofia tem a missã o de explicitar i implícito, tomar a consciência do inconsciente.
1.Paternidade do Termo: considera-se ter sido Pitágoras (582-500, séc. VI a.C) a usar o termo pela
primeira vez, chamando-se a si mesmo filósofo (philosopho) – o que procura a sabedoria - em
contraposiçã o a sábio (sophos), que só se aplica a Deus (Deuses);
Paternidade da Filosofia 2. Paternidade da atitude: Sócrates (470-399 a. C), é o considerado pai da atitude filosó fica, com a sua
célebre afirmaçã o “Só sei que nada sei”.Esta afirmaçã o revela-nos a humildade, consciência de que nada
se sabe, como tal, princípio para se superarem as ilusõ es do falso saber, e isto implica a demanda da
verdade/do saber, esse estar-a-caminho.
O Objecto; 1. Objecto: Totalidade do real (material e imaterial).
O Método; e 2. Métodos: a) Crítico-analítico (aná lise crítica);
As Funçõ es da Filos. b) Justificaçã o ló gico-racional (especulativo).
3. Funçõ es:
a) Plano teó rico (saber pensar), implica: ordenar as ideias de forma coerente; questionar de forma
inteligível; ordenar discursos argumentativos; tomar a consciência da amplitude, complexidade e
profundidade do real; questionar-se sempre de novo sobre a coerência, a inteligibilidade do seu
pró prio pensamento…
b) Plano prá tico (saber agir), implica: saber aplicar o saber pensar; ter atitude racional perante a
realidade que o rodeia; ser tolerante perante as diferenças; dedicar-se e trabalhar para a paz, para o

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bem comum, para a justiça, para o respeito, para a ordem pú blica, para a liberdade e autonomia do
Homem…
- Procura a raiz e a origem dos problemas (aprofundamento do problema e nã o a busca de soluçõ es
A Radicalidade das Questõ es
imediatas);
Filosó ficas.
- Insatisfaçã o com todas as respostas.
- Metafísica, que divide-se em:
 Metafísica Geral (Ontologia): estudo do ser enquanto ser - do ser em geral (Onto significa ser);
 Metafísica Especial: estudo das manifestaçõ es do ser e compreende:
i. Cosmologia Racional: estudo do mundo exterior, o tempo e o espaço, a matéria e a vida (interpretaçã o
e explicaçã o racional da natureza das coisas, sua essência, origem e causa).
ii. Psicologia Racional: estudo dos fenó menos psíquicos (psique = alma);
iii. Teodiceia (Teologia Racional): estudo de Deus à luz da razã o.

- Teoria de Conhecimento (Gnosiologia): trata dos problemas do conhecimento (possibilidade, origem,


valor do conhecimento);
- Epistemologia: aná lise crítica do conhecimento científico;
As disciplinas da Filosofia.
- Ló gica: estudo das leis e formas de pensamento de pensamento vá lido.
- É tica: é a reflexã o sobre a constituiçã o das normas e sobre a finalidade do agir humano (é a reflexã o
sobre a moral)1.
- Antropologia Filosó fica: procura compreender a natureza do homem, as suas dimensõ es, a especificidade
e o sentido da sua existência.
- Filosofia Política: pesquisa a melhor forma de organizaçã o de uma sociedade, estabelece por isso, regras
e normas de conduta para a vida em comunidade.
- Estética: estuda o Belo, a sua natureza e os fundamentos da arte.
- Axiologia: estuda a problemá tica dos valores;
- Filosofia da Natureza: estuda a natureza das coisas, ou seja, o que sã o as coisas (essência) donde vêm
(origem) e, a partir daí, explica os seus movimentos (causa).
A Atitude Filosó fica. A atitude filosófica caracteriza-se pelo:
 Espanto: segundo Aristó teles, a Filosofia origina-se no espanto, na estranheza e perplexidade que os
homens sentem perante os enigmas da natureza, isso os leva a formular perguntas e os conduz à
procura das respectivas soluçõ es.
 Dú vida: ao filó sofo exige-se que duvide (reflicta) de tudo aquilo que é assumido como verdadeiro. O
que era natural torna-se problemá tico.
 Rigor: a crítica filosó fica é feita com rigor, nã o admite compromissos com as ambiguidades, as ideias
contraditó rias, os termos imprecisos.
 Insatisfaçã o: consiste na procura do saber, que nã o se satisfaça com nenhuma conclusã o, queira saber
sempre mais.

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A Moral é o conjunto das normas de uma dada comunidade, cultura, sociedade, etc.
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As questõ es filosó ficas compreendem quatro aspectos fundamentais:
 Universalidade: os problemas filosó ficos dizem respeito a todos os homens (em todas as culturas e
em todas as localizaçõ es geográ ficas) e nã o apenas a realidades particulares;
 Radicalidade: procura das causas ú ltimas (da raiz do problema) e o aprofundamento do problema e
A Natureza das Questõ es Filosó ficas nã o a busca de soluçõ es imediatas;
 Autonomia: é a liberdade de raciocinar na busca da verdade e de fundamentos, distanciando-se de
ideias pré-concebidas e do que a histó ria terá definido;
 Historicidade: apesar da natura universal, as questõ es filosó ficas sã o particulares e reflectem as
vivências e experiências pró prias de uma época, cultura ou situaçã o histó rica específica.
- A Filosofia é a mã e e origem de todas as ciências;
- A Filosofia e as outras ciências têm uma relaçã o de complementaridade:
 A Filosofia fornece à s ciências os princípios em que elas se baseiam, legitima, critica e defende-as;
 As outras ciências por seu turno, fornecem os dados a partir dos quais a Filosofia se eleva a
explicaçõ es mais profundas.
- A Filosofia é uma ciência radical, no sentido e que ela vai à s raízes das questõ es muito mais
profundamente do que qualquer outra ciência; lá onde as outras se dã o por satisfeitas, ela continua a
indagar e a perscrutar.
A Filosofia difere das outras ciências nos seguintes aspectos
Dimensão Filosofia Outras Ciências
O Lugar da Filosofia no Universo das  Reflecte sobre a natureza  Determinam as leis dos fenó menos
Ciências. humana; naturais;
Objecto de
 Investiga a essência e o  Explicam o comportamento e a constituiçã o
estudo
fundamento ú ltimo das coisas. física dos fenó menos físicos e humanos e as
leis que as regem.
Método de  Aná lise crítica (crítico-analítico);  Experimentaçã o (ensaios e testes);
estudo  Especulativo (ló gico-racional).  Observaçã o, induçã o, generalizaçõ es…
Compreensivo: Explicativo:
Tipo de
Procura compreender os princípios Tentam explicar o funcionamento da
conheciment
e a finalidade da existência humana realidade.
o
e do real.

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II. A Pessoa como Sujeito Moral
Conteúdos Desenvolvimento
1. Definiçã o etimoló gica: “Pessoa” deriva do grego “prosopon” e do latim “personare”, significa
“má scara”.
2. Diversas Perspectivas de definiçã o de Pessoa:
3.
O Conceito de Pessoa. a) Boécio: a Pessoa é uma substâ ncia individual de natureza racional;
b) Sã o Tomá s de Aquino: define a Pessoa como um subsistente de natureza racional;
c) Cícero: define a Pessoa como sujeito de direitos e deveres;
d) M. Buber, E. Levinas, E. Mounier: definem a Pessoa como um ser de relaçõ es com os outros e com
abertura ao transcendente – Deus.
As características da pessoa sã o:
 Singularidade: cada ser humano é uno, original, autêntico, irrepetível e insubstituível;
 Unidade: apesar tenha diversas partes, a pessoa é uma totalidade, as diferentes partes formam um
todo, coeso.
 Interioridade: em cada Pessoa há um espaço de reserva e de intimidade, inacessível e inviolá vel: é a
consciência moral.
 Somaticidade: à Pessoa se lhe atribuem características físicas e mentais, mas ao mesmo tempo nã o se
As características da Pessoa:
resume ao corpo nem à alma;
 Autonomia: a Pessoa tem a capacidade de autogovernar-se ou autodeterminar-se;
 Projecto: a Pessoa tem de se tornar como tal; ser Pessoa é uma das possibilidades humanas que cada
um deve realizar por si. Ou, a Pessoa nã o é um produto acabado, mas antes um processo dinâmico
tendo em vista a pró pria realizaçã o;
 Valor em si: a Pessoa é um valor absoluto e, como tal, nã o pode ser usada como u meio ao serviço de
um fim (Kant). Estar-se-ia a coisificar a Pessoa.
1. A Relaçã o consigo pró prio: refere-se a questã o moral do ser humano, na forma como o indivíduo
olha para si e se vê enquanto pessoa, e nesse objectivo, a forma como julga as suas acçõ es e
finalidade de vida.
2. A relaçã o com o outro: A relaçã o com o outro pode ser entendida em dois â mbitos:
i. Relação com outro como um tu-como-eu (como pessoa): o outro é um eu (um semelhante), mas
As Diferentes Formas de Relaçõ es que nã o sou eu; eu sou eu na minha relaçã o com o outro. Nele eu me reconheço e me projecto como
entre Pessoas e com o Meio Ambiente. pessoa. Por isso, reconhece e a aceita-se o outro tal como ele é (como pessoa).
ii. Relação com outro como contrato: a relaçã o com o outro é estabelecida mediante um contrato que
estabelece um conjunto de regras que vinculam uns aos outros, estabelecendo acordos de vontade;
esses acordos estã o na base da nossa vivência social (originando-se, portanto, a justiça social) onde
cada um tem responsabilidade pelo bem pró prio do outro e pelo mú tuo benefício.
3. A relaçã o com o trabalho: o homem na sua qualidade de Pessoa, é chamado a tornar o mundo cada

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vez mais habitá vel, hospitaleiro e confortá vel; pelo trabalho, o homem dignifica-se: a natureza
humana nã o nasce perfeita…, ela aperfeiçoa-se, tempera-se, afina-se, enriquece-se através do
trabalho.
4. A relaçã o com a Natureza : o homem é criatura e criador do seu ambiente, que lhe assegura a
subsistência física e lhe dá a possibilidade de desenvolvimento intelectual, moral, social e espiritual,
através das transformaçõ es que ele faz na natureza. Mas esse uso do meio ambiente (da natureza)
deve ser racional, por isso a necessidade de se fazer um contrato com a natureza, que consiste na
exploraçã o cuidada dos recursos que a Natureza possui de forma a manter o equilíbrio natural e a
pensar no futuro das geraçõ es vindouras – o chamado desenvolvimento (relação) sustentável.
Os aspectos da ética individual resumem-se nas formas de fundamentais de co-existência com os outros e
Aspectos da É tica Individual: sã o:
 Amor;  O Amor: implica a afirmaçã o e promoçã o do outro como sujeito, isto é, como pessoa na sua
 Ó dio; e originalidade e unicidade. Esta afirmaçã o e promoçã o é incondicionada e desinteressada.
 Indiferença;  O Ó dio: é o oposto do amor, isto é, negaçã o e rejeiçã o do outro.
 A Indiferença: implica a “ausência” (afectiva) do outro em relaçã o a mim.
Os sentimentos sã o reacçõ es agradá veis ou desagradá veis, de relativa duraçã o e, geralmente, com
repercussõ es fisioló gicas discretas e suaves. Os outros factores psíquicos ligados aos sentimentos sã o:
 Emoçõ es: sã o respostas psicofísicas intensas, normalmente repentinas e imprevistas, ligadas a
acontecimentos que alteram bruscamente o equilíbrio do comportamento humano, e por isso,
Os Sentimentos e as: marcadas por modificaçõ es psicoló gicas comummente fortes.
 Emoçõ es;  Paixõ es: sã o estados afectivos intensos, duradouros e polarizadores da vida psíquica da pessoa,
 Paixõ es; e podendo chegar a dirigir todo o nosso pensamento, comandar os nossos juízos de valor, impedir o
 Humores. exercício imparcial do nosso raciocínio, absorver a inteligência, a imaginaçã o, o coraçã o e a vontade.
 Humores: sã o disposiçõ es de â nimo difuso, passageiros ou persistentes, sem objecto nem estímulos
bem precisos. Predispõ em as pessoas para um determinado comportamento emocional, inclinando-
as para a exaltaçã o ou a depressã o, a calma ou a tensã o, a alegria ou a tristeza, a euforia ou a
melancolia.
1. Liberdade: designa a capacidade que todo o homem possui de agir de acordo com a sua pró pria
decisã o; agir de acordo com a sua pró pria vontade, sem constrangimentos: é a capacidade de
autodeterminaçã o. Ela implica autonomia, consciência de acçã o e escolhas fundamentadas em
valores (é fundamento do agir humano). De acordo com os constrangimentos, existem vá rios tipos
Aspectos da É tica Social: de liberdades (psicoló gica, moral, exterior, socioló gica, física, política, etc.).
 Liberdade; 2. Responsabilidade: deriva do vocá bulo latino “respondere” que significa apresentar-se garante de
 Responsabilidade; uma promessa ou de um compromisso (Spondere = prometer).
 Justiça; - A responsabilidade (moral) é a característica em virtude da qual a pessoa responde pelos seus actos
perante os outros e perante a si mesmo, assumindo-os como seus.
- Um sujeito (moral) é responsá vel quando pratica uma acçã o moral, no gozo da sua liberdade e das
suas faculdades mentais (consciência de acção) com vista a um determinado fim (intenção).
3. Justiça: segundo Aristó teles, consiste na vontade firme e constante de dar a cada um o que é lhe
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devido por direito. Também entende-se (em termos jurídicos) como sendo concordâ ncia com a lei.
E exprime – segundo Carlos Herná ndez – uma tripla dimensã o: É tico-pessoal (referida ao homem justo),
É tico-social (é a sociedade/sistema político justo) e Jurídico-legal (é o sistema de leis que estabelecem o
que corresponde a cada um nas diversas circunstâ ncias e que utiliza os mecanismos adequados para a
sua realizaçã o e cumprimento).
4. Dever: segundo Immanuel Kant, é um imperativo categórico2, isto é, uma obrigaçã o que leva a
vontade a agir de determinada maneira, sem violentar, mas que, no entanto, se impõ e como
expressã o o cumprimento e o respeito pela lei moral.
Aspectos da É tica Social (cont.): - O dever fundamenta-se em diversas tendências tais como:
 Dever;  Tendência teísta: o fundamento do dever é Deus;
 Mérito; e  Tendência positivista: o fundamento do dever é a expressã o exercida pela sociedade sobre os
 Sançã o indivíduos; e
 Tendência racionalista: o fundamento do dever é a pró pria razã o humana.
5. Mérito: é valor moral adquirido por esforço voluntá rio para vencer as dificuldades que se oponham
ao cumprimento do dever.
6. Sançã o: é o prémio ou castigo infligidos pelo cumprimento ou violaçã o de uma lei.
A consciência moral (CM): é a funçã o que nos permite distinguir o bem do mal; orienta os nossos actos e
julga estes segundo o seu valor; em suma, é a capacidade que o sujeito tem de avaliar os princípios bá sicos
A Consciência Moral (CM). dos seus actos.
1. De onde vem a ideia do “Bem” para o meu íntimo:
- Para Sócrates, a ciência ou conhecimento é que traduz a virtude, ao passo que o vício seria a privaçã o da
ciência, isto é, a ignorâ ncia. Daqui conclui-se que ninguém peca voluntariamente; ou seja, quem faz o mal,
fá-lo por ignorâ ncia do bem, pois é impossível conhecer o bem e nã o praticá -lo (intelectualismo
socrático).
2. Formaçã o da consciência moral:
a) Para os filósofos antigos: a CM era algo inato, que pertencia ao pró prio homem.
b) Para os modernos: defendem que a CM é algo adquirido pelo homem em sociedade, através da
socializaçã o (aprendizagem), na família, grupo social, escola, trabalho, etc.
- Destes destacaremos Jean Piaget (1896 - 1980) e Lawrence Kohlberg (1927 – 1987).
 Para Piaget a moralidade se desenvolve à medida que a inteligência humana se vai
desenvolvendo, passando por três etapas fundamentais:
1ª. Etapa: Heteronomia (entre os 2 e os 6 anos): as normas sã o exteriores à criança (moral de obediência),
há respeito unilateral absoluto para com os adultos.
2ª. Etapa: Moral de solidariedade entre iguais (entre os 7 e os 11 anos): há respeito mú tuo que supõ e
reciprocidade e a desenvolve-se a noçã o de igualdade entre todos, surge o sentimento de “honestidade” e
da “justiça”; as normas de conduta sã o aplicadas de uma forma rigorosa.
3ª. Etapa: Moral de equidade – autonomia (a partir dos 12 anos): aparece o altruísmo, o interesse pelo
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A formulaçã o do imperativo categó rico é a seguinte: Age apenas segundo uma máxima tal que possas, ao mesmo tempo, querer que ela se torne lei
universal (Kant).
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outro e a compaixã o, e a moral torna-se autó noma, por isso a convivência social entre os seres humanos
assume um cará cter pessoal.
 Para Kohlberg a consciência moral é formada num processo de aprendizagem social, que
atravessa três está dios de desenvolvimento:
1ª. Etapa: Nível pré-convencional: há obediência à s normas para evitar castigo ou ganhar recompensa;
2ª. Etapa: Nível convencional: há respeito pelas normas porque consideram importante que cada um
desempenhe o seu papel numa sociedade moralmente organizada;
3ª. Etapa: Nível pó s-convencional: há um esforço para definir valores ou princípios morais de validade
universal.
- O homem define-se pelo como escolhe, decide e executa as diferentes acçõ es. Cada Pessoa individualiza-
se neste processo.
- O Homem pratica dois tipos de actos: os que sã o comuns a outros animais (instintos – nutriçã o,
reproduçã o, fuga, agressã o) e os que só ele pró prio realiza (actividade reflexiva – pensar antes de
executar as acçõ es).

Tipos de acções
1. Acçõ es involuntá rias (ou actos do homem): sã o acçõ es que nã o implicaram qualquer intençã o do
sujeito. Sã o exemplos destes actos mastigar, ressonar, esticar o braço em autodefesa, envelhecer, gritar,
gritar, etc.
O Acto Humano
2. Acçõ es voluntá rias (ou actos humanos): sã o acçõ es que implicam uma intençã o deliberada de um
agente, de agir de determinado modo e nã o de outro. Aqui as acçõ es têm uma dimensã o moral que se
fundamenta na liberdade e na consciência da acçã o. Estas acçõ es sã o reflectidas, estudadas,
premeditadas, etc.
Por isso, toda a acçã o humana implica, necessariamente, os seguintes elementos:
 Agente: é o sujeito de acçã o, que é capaz de se reconhecer como autor da acçã o e que age com
consciência e é capaz de optar e tomar decisõ es livremente;
 Motivo: é a razã o que justifica a acçã o; o que nos leva a agir ou a fazer algo.
 Intençã o: diz respeito ao que o sujeito pretende fazer ou ser com a sua acçã o e responde a
pergunta “Que fazes?” ou “Que quer fazer aquele que age?”
A questã o central é: Quando é que uma acção é boa ou má?
Sã o duas as perspectivas morais de resposta a esta questã o: a teleoló gica (moral utilitarista) e a
deontoló gica (filosofia moral kantiana):
a) Perspectiva Teleoló gica (Moral Utilitarista): o ponto central desta reflexã o é o fim (telos). Toda a
acçã o – ú til - deve ter em vista (ou deve ter como finalidade) o desenvolvimento e a auto-
Qualificaçã o Moral da Acçã o Humana realizaçã o do ser humano. Esse fim ú ltimo que procura-se é a felicidade (estado de prazer e de
ausência de dor ou sofrimento). Portanto, sã o inú teis e erradas todas as acçõ es que dã o origem ao
sofrimento ou à privaçã o de prazer, pois impedem o alcance da felicidade. Esta perspectiva é
defendida por Aristó teles (384-322 a. C) e John Stuart Mill (1806-1873);
b) Perspectiva Deontoló gica (Moral Kantiana): dá primazia à conformidade da acção com dever,
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em detrimento das consequências (do fim) que possa vir a alcançar ao realizá -la (a acçã o).

Para Kant (1724-1804) o bem nã o é a felicidade (embora haja o direito de procura-la). A ú nica coisa que é
boa em si mesma é a boa vontade, que se deixa guiar ú nica e exclusivamente pela razã o.
A ética utilitarista, ao fazer depender a acçã o (certa ou boa) da finalidade (que é a felicidade), ela é
materialista, enquanto a ética kantiana é formal, isto é, propõ e-se a indicar a forma como
devemos agir, como devemos actuar em todas as situaçõ es.
Essa forma forma é dada pela razã o através do imperativo categórico, que é universal e a priori
(comum a todos os homens e anterior à realizaçã o de qualquer acçã o).
Existem duas formulaçõ es do imperativo categó rico:
1ª. Formulaçã o:
Age como se a máxima da tua acção devesse ser instituída pela vontade como LEI UNIVERSAL DA
NATUREZA;
Qualificaçã o Moral da Acçã o Humana
2ª. Formulaçã o:
Age de tal forma que trates a humanidade, tanto na tua pessoa como na de qualquer outro, sempre
simultaneamente como um fim, e nunca simplesmente como um meio.
A acçã o humana é sempre orientada por valores. É pró prio da natureza humana desejar e avaliar. O ser
humano, na sua interioridade prefere uns “objectos” em detrimento de outros, caso:
 de ver um filme em vez de ler um livro; de estar com amigos a estar sozinho;
O Conceito de “Valor”  de passar fome a ter de mendigar uma esmola; de perder um negó cio a trair um amigo.
A estas experiências de sentido e de preferência, tingidas de sentimentos pessoais e de desejos íntimos
designa-se de experiências axiológicas ou experiências valorativas. Portanto,
Valor é tudo o que contribui para a satisfaçã o das necessidades do ser humano.
Divisã o e Características dos Valores Os Valores caracterizam-se segundo:
 Polaridade: todo o valor enfrenta um contravalor, positivo ou negativo; os valores apresentam-se
em pó los opostos: (bom/mau), (belo/feio), (justo/injusto);
 Diversidade: existe uma pluralidade ou diversidade de valores. Na Axiologia consideram-se três
tipos específicos de valores:
i. Estético (belo/feio, gracioso/tosco, harmonioso/desarmonioso, elegante/deselegante),
ii. Éticos(bom/mau, justo/injusto, leal/desleal)e religiosos(sagrado/profano,
divino/demó nio, supremo/derivado, milagroso/mecâ nico). Consideram-se também os
valores úteis (abundante/escasso, necessá rio/supérfluo, caro/barato,
capaz/incapaz),vitais (sã o/doente, selecto/vulgar, enérgico/inerte, forte/débil),
iii. Intelectuais (conhecimento/ignorâ ncia, exacto/aproximado, evidente/prová vel), etc.
 Hierarquia: trata-se de reconhecer que há valores que têm mais valor do que os outros, sendo
necessariamente hierarquizá veis. Uma das hierarquizaçõ es mais adequadas foi proposta por Max
Scheler (1874-1928), a ordem decrescente da sua tabuada é: v. religiosos, v. éticos, v. estéticos, v.
ló gicos, v. vitais e por ú ltimos valores ú teis.
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