Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
In: BETHEL, Leslie (Org.). The Cambride History of Latin America, c. 1870 to 1930.
Cambridge: Cambridge University Press, 1986. Pp. 779-830.
CAP. 21 BRAZIL…
- Bases dos poderes partidários: em São Paulo, havia grande convergência entre a
burguesia/oligarquia cafeeira e o PRP. O PRP representava muito bem os interesses da
economia cafeeira, em franca expansão e hegemônica sobre a incipiente atividade industrial.
O PRM, por sua vez, contava com dissidências internas correspondentes aos interesses
cafeeiros e de outras atividades econômicas; contudo, a nível nacional, o partido
frequentemente conseguia apresentar uma posição unificada. Também nesse estado havia
forte confusão entre o poder institucional e o partido, facilitando o atendimento dos interesses
econômicos por parte do governo estadual.
No Rio Grande do Sul, havia maiores dissidências, mas não dentro do mesmo partido.
A política estadual era marcada por fortes oposições entre o PRR e Liberais herdados do
período imperial. Por esse motivo, o partido tinha dificuldades para alcançar expressão
nacional durante a Primeira República.
Ao tratar dos estados do Nordeste, o autor relata que sua união era dificultada pela
concorrência por recursos e impostos. Porém, relata também que ao se unirem, os estados do
Nordeste interpuseram oposição aos interesses do Sudeste em matéria de empréstimos
estrangeiros, para a política de valorização do café de 1906.
1
“A derrubada da monarquia em 15 de novembro de 1889 foi o resultado de um golpe militar planejado por um
grupo de jovens oficiais do exército no Rio de Janeiro” (p. 811, tradução livre).
distanciamento e até mesmo valores conflitantes. Os oficiais queriam uma nação unificada,
homogênea e forte [pode-se dizer, centralizada], enquanto os poderosos de São Paulo queriam
o oposto disso (p. 800). A desassociação entre jovens oficiais militares e burguesia cafeeira
civil é dita neste trecho do autor: “O grupo republicano civil mais bem organizado,
representando a burguesia cafeeira de São Paulo, tinha poucos contatos com os militares e
questionava a conveniência de envolve-los em sua campanha” (p. 812, tradução livre).
[A questão é, como os militares foram de um golpe republicano com valores e
intenções centralistas para, três anos depois, uma constituição oligárquica descentralizada? A
resposta a essa pergunta pode ajudar a explicar a associação entre militares e burguesia ao
longo da história subsequente da república].
- O que fica do capítulo: aparentemente, o início da república foi conturbado demais para
procurar estabelecer um aspecto padronizado de política externa ou de qualquer política
pública. Em meio às inúmeras crises e à consolidação do novo regime, não seria possível
identificar – e nem exigir – uma política externa consciente, consistente, bem definida,
determinada e estrategicamente orientada. Em 1890-91, o país ainda redigia sua constituição,
em meio a trocas golpistas de poder. Desse ano até 1892-3, uma grave crise financeira e
especulativa gerou desconfianças e instabilidades sobre o país. Entre 1893 e 1895-6, inúmeros
conflitos armados internos agravaram ainda mais a instabilidade política. Entre 1889 e 1902, o
país teve onze diferentes ministros das Relações Exteriores. É por esse motivo que os
historiadores da política externa relatam que nesse período a principal missão da diplomacia
brasileira fora restaurar a imagem do país junto aos credores estrangeiros, nomeadamente
Grã-Bretanha, França e Estados Unidos.
Além dessa imagem do início da Primeira República, permanece e se reforça a
impressão de que havia uma incongruência entre a política nacional e a política externa. O
autor aqui relata que a política federal era completamente dominada pelos PR de SP e MG,
que por sua vez representavam organicamente os interesses da burguesia cafeeira de seus
respectivos estados. Por que, então, a política externa do Brasil endereçou a retórica anti-
imperialista contra a Grã-Bretanha e a França, sendo esses países os maiores financiadores da
expansão da produção e das políticas de valorização do café brasileiro, além de controlarem o
transporte, a distribuição e as vendas ao consumidor final? Apenas a parceria comercial e a
admiração ideológica explicam a aproximação do Brasil junto aos Estados Unidos em matéria
de Política Externa? Essa aproximação com os EUA não poderia haver ocorrido sem
antagonismos em relação às potências europeias?