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RESUMO
Em um cenário de crescente restrição orçamentária do setor público, novas formas de custeio dos serviços de drena-
gem urbana das águas pluviais são discutidas. Como alternativa ao tradicional financiamento por meio de impostos sobre
propriedade, surge a possibilidade de uma cobrança individualizada dos serviços via taxa de drenagem. Esta poderia impli-
car em ganhos de justiça tributária e eficiência alocativa. Mas as peculiaridades econômicas da drenagem urbana, ofertada
em regime de monopólio natural e com características de bem público, dificultam a individualização do débito. Este artigo,
em uma abordagem teórico-conceitual, discute estas peculiaridades, a viabilidade de criação da taxa à luz da teoria econômi-
ca e qual a metodologia tarifária mais adequada para este fim.
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Cobrança pela Drenagem Urbana de Águas Pluviais: Bases Conceituais e Princípios Microeconômicos
dução, em outros termos, economias de escala até o biente urbano (Debo & Reese, 1995:11). Cada pro-
limite da capacidade. prietário de imóvel urbano é um consumidor deste
Estas características implicam em um com- sistema, e sempre que ele aumenta a área imperme-
portamento econômico diferenciado daquele dos abilizada de sua propriedade, gera demandas extras
bens ou serviços privados. Algumas peculiaridades pelo serviço. Ressalte-se que a drenagem urbana é
relacionadas à oferta, demanda, produção de exter- um bem essencial. Embora alguns o utilizem mais
nalidades e determinação do valor dos serviços são ou menos, é impossível deixar de usufruí-lo.
mostradas a seguir. A grande variabilidade na intensidade, du-
ração e freqüência das precipitações reflete em uma
Características de oferta “demanda” estocástica pela drenagem com grande
variação ao longo do tempo (durante o ano, o mês,
O dimensionamento dos sistemas de drena- o dia e até mesmo a hora). Em conseqüência, o
gem ocorre por meio de avaliação hidrológica e sistema é dimensionado para operar freqüentemen-
hidráulica. A estimativa de cenário futuro de im- te com capacidade ociosa.
permeabilização ou a impermeabilização máxima Normalmente bens e serviços essenciais,
prevista em legislação municipal é utilizada como sem substitutos e que são ofertados por um único
parâmetro nestas avaliações. prestador apresentam demanda inelástica em rela-
A partir deste dimensionamento, a rede de ção ao preço: preços maiores não afetam significati-
drenagem é implantada e os serviços disponibiliza- vamente as quantidades consumidas. Esta inelastici-
dos à população. Eles são oferecidos na mesma dade ocorre na drenagem urbana e é predominante
“quantidade” para todos os beneficiários. Os indiví- nos serviços de infra-estrutura. Ela é uma das princi-
duos podem avaliar a drenagem de maneira desi- pais variáveis utilizadas na regulação de preços das
gual ou terem diferentes participações na demanda empresas de utilidade pública para garantir o equi-
agregada dos serviços por meio da propriedade dos líbrio de interesses entre ofertante (aumentar o
terrenos e impermeabilização dos mesmos, mas lucro) e usuários (diminuir o pagamento).
todos têm disponíveis a mesma quantidade para Apesar da inelasticidade, é possível que a
consumo. São indivisíveis na ótica da oferta, mas cobrança específica pelo uso dos sistemas de drena-
divisíveis na perspectiva da demanda. gem leve ao uso mais “racional” do solo urbano - ou
Como ocorre com freqüência nos serviços a uma maior consciência do impacto daquela pro-
públicos, a provisão da drenagem urbana envolve priedade nos custos envolvidos na drenagem - do
custos fixos elevados, essencialmente os investimen- que a cobrança via impostos gerais. Uma das princi-
tos na implantação das redes de drenagem, com pais funções da taxa ou tarifa é exatamente fazer
longo prazo de maturação, e custos marginais pe- esta ligação entre oferta e demanda. Ademais, pre-
quenos, quase nulos. Nestas condições, um preço de sume-se a existência de alguma sensibilidade, ainda
eficiência econômica, aquele que se iguala ao custo que pequena, da demanda em relação a variações na
marginal dos serviços, pode não ser capaz de cobrir taxa sobre os serviços.
os custos de implantação e operação do sistema: o
custo marginal tende a ser menor do que o custo Externalidades
médio. O ideal microeconômico de que a receita
com a venda de uma unidade adicional de produto Externalidades são efeitos econômicos cola-
seja igual ao valor dos recursos que foram utilizados terais de um processo de produção ou consumo que
para produzi-la não permite a viabilidade financeira não são considerados na formação de preço de mer-
do empreendimento. cado do produto (Lanna, 2001). São efeitos que
Como solução, a tendência é que a adminis- interferem no consumo das pessoas ou na produção
tração pública (o regulador) defina um preço que das firmas, porém de difícil quantificação pela não
permita o ponto de equilíbrio para a prestadora: existência de um mercado para eles.
produzir em um nível onde o preço se iguale aos O sistema de drenagem pluvial é um grande
custos médios de produção. produtor de externalidades, negativas e positivas. A
alteração de regimes hidrológicos, assoreamento,
Características de demanda poluição de corpos d’água, presença de metais pe-
sados na água são exemplos de externalidades nega-
Quando ocorre a demanda pelos serviços de tivas. Como exemplos positivos, o emprego de bacias
drenagem urbana? Quando é lançado no sistema de de detenção com o desenvolvimento de áreas verdes
drenagem o escoamento superficial gerado no am- e terrenos para esporte e os efeitos benéficos da
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drenagem sobre a saúde da população (Baptista & de gerar valores sociais relevantes, como áreas para
Nascimento, 2002:35). lazer e beleza ambiental, com aumento do bem estar
da população. Por outro lado, a canalização de um
O valor nos serviços de drenagem urbana córrego pode ser adequada sob uma ótica privada,
mas originar problemas ambientais. É possível agre-
Os mecanismos de mercado não funcionam gar valor a uma área, construindo medidas que mi-
bem na alocação dos bens públicos. Os consumido- nimizem as inundações locais, mas diminuir valores
res não podem comprar quantidades ou qualidades a jusante, transferindo o problema da enchente para
diferentes do bem ou serviço público, por exemplo, outra região.
de uma praça ou de segurança pública: de algum No caso de bens privados transacionados via
forma, eles (ou a administração pública ou o presta- mercado a determinação do valor (de troca) não é
dor) têm que decidir a viabilidade da oferta de de- muito problemática. Em função de suas necessida-
terminado serviço público, em que nível deve ser des, preferências e capacidade de pagar, as pessoas
oferecido e com quais características qualitativas. decidem individualmente as quantidades consumi-
Para isto a análise do valor é fundamental. das de determinado bem e serviço. Supostamente
Existem principalmente três classes de valor maximizam a utilidade que encontram no consumo
associadas aos bens e serviços (Lanna, 2001; Daun & dessas quantidades conforme permitem os seus or-
Clark, 2000): valores de uso, valores de opção de uso çamentos. Cada consumidor, ao resolver o quanto
e valores de existência. A primeira refere-se aos be- comprar dos vários bens e serviços, leva a um padrão
nefícios adquiridos com o uso físico do bem. Por geral de consumo de eficiência econômica, a um
exemplo, nadar em um rio, práticas de lazer em um nível “ótimo” de consumo e oferta dos bens. A hipó-
parque e a Floresta Amazônica enquanto fonte de tese central desta teoria é de que o consumo de um
madeiras nobres. O valor de uso não possui uma indivíduo não afeta a utilidade das outras pessoas, o
relação direta com o valor de troca. Um bem pode que pressupõe a inexistência de externalidade de
ser essencial, mas não ser “vendável”, não ter nin- consumo.
guém disposto a pagar por ele. A atmosfera é um Nos serviços com características de bem pú-
exemplo. Geralmente, o valor de troca está associa- blicos, como a drenagem urbana, tal processo de
do a uma situação de escassez do bem. A água, antes definição de valor ocorre de maneira diversa. Apesar
percebida como abundante e de livre acesso, sem de cada indivíduo perceber os valores de maneira
valor econômico, hoje é considerada bem escasso. diferente, portanto avaliar os bens de maneira dife-
Por isso o atual debate sobre formas de avaliar o seu rente, suas utilidades estão inexoravelmente ligadas,
valor de troca e precificá-la. uma vez que todos são obrigados a dispor do mesmo
O valor de opção de uso relaciona-se ao uso nível de bem. Neste caso, os mecanismos de merca-
potencial de um bem. Há um certo desconhecimen- do dificilmente funcionam na definição de sua pro-
to do seu valor de uso corrente, mas se espera o seu visão eficiente.
conhecimento futuro e de que ele seja relevante. A Esta situação é exemplificada por Variam
percepção deste valor está presente nas estratégias (1997): existem três colegas de quarto, um fumante
de preservação ambiental: a Floresta Amazônica, por e dois não fumantes. A quantidade de fumaça seria
sua diversidade biológica, pode vir a ser uma grande um bem público e os não fumantes reivindicam o
fonte de medicamentos. direito ao ar puro. O fumante pode propor que eles
O valor de existência ou de não-uso ocorre troquem um pouco do ar puro por uma compensa-
pela própria existência do bem, independente de ção financeira. Surgem dilemas: os não fumantes
sua utilização física. Sua presença e imagem já lhe têm que concordar entre si o quanto dessa fumaça
conferem valor. Ele está ligado a aspectos afetivos, seria permitida e qual deveria ser a compensação.
psicológicos ou ambientais: parentes, amigos, pesso- Os dois colegas podem possuir preferências e recur-
as em geral, patrimônio histórico, preservação am- sos muito diferentes, um pode ser mais sensível ou
biental etc. mais rico do que o outro. Extrapolando-se este e-
As três classes de valor existem nos serviços xemplo para uma região percebem-se as dificulda-
de drenagem. O valor de uso é claro pela necessida- des para um acordo sobre o valor e o nível adequa-
de de se drenar o escoamento gerado pela imper- do de um bem público. Qual deveria ser a poluição
meabilização do solo. As possíveis externalidades permitida em um rio? Como o poluidor poderia
positivas geradas pelo sistema agregam mais valor compensar a sociedade por ter diminuído a quali-
aos serviços, de uso e de não uso. Uma alternativa dade da água? Qual deve ser o nível de preservação
local, como a construção de bacia de detenção, po- ambiental? Qual deve ser o período de retorno utili-
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empreendimento. A receita gerada pela prestação do serviço. Sendo estes divisíveis, parece a me-
dos serviços constitui parte da composição do capital lhor política cobrá-los. (grifo nosso) (Bastos,
a ser empregado no investimento e define a maior op.cit., p.167)
ou menor necessidade de recursos financeiros com-
plementares. A cobrança pelos serviços públicos pode ser
A sexta função, a utilização da taxa sobre os via tarifa – ou preço público – ou taxa. A primeira
serviços públicos como instrumento de redistribui- opção é utilizada quando o serviço implica alternati-
ção de renda, está ligada a alguns objetivos sociais va, quando o indivíduo pode escolher entre usá-lo
mais amplos (Andrade, 1998): ou não. É o que ocorre nos serviços de transporte
público, telefonia ou distribuição de energia elétrica
· assegurar um padrão mínimo de vida a to- domiciliar.
dos os indivíduos (objetivo da base míni- A segunda alternativa, a cobrança via taxa,
ma); está presente nos serviços públicos com utilização
· contribuir para diminuir os problemas da obrigatória pela população, independente de seu
distribuição de renda, objetivo a ser perse- uso efetivo. Basta apenas que os serviços tenham
guido por qualquer política governamental, sido disponibilizados à sociedade pela administração
qualquer que seja seu objetivo principal pública. Nos termos da Constituição Federal (1988),
(objetivo de equalização subsidiária); artigo 145, inciso II:
· reforçar a igualdade de oportunidades en-
tre os indivíduos (objetivo da meritocracia). Art. 145. A União, os Estados, o Distrito Federal
e os Municípios poderão instituir os seguintes
No Brasil, uma das principais formas de uti- tributos:
lização social da tarifa ou taxa sobre os serviços pú- (...)
blicos ocorre via concessão de subsídios dos usuários II. Taxas, em razão do exercício do poder de polí-
de maior poder aquisitivo para os de menor, assim cia ou pela utilização, efetiva ou potencial, de
como dos grandes para os pequenos usuários. A serviços públicos específicos e divisíveis, prestados
Companhia de Saneamento de Minas Gerais – CO- ao contribuinte ou postos a sua disposição.
PASA/MG, por exemplo, utiliza a sistemática em
cascata na definição da sua estrutura tarifária. Exis- A divisibilidade é a característica essencial
tem tarifas diferenciadas segundo blocos de consu- dos serviços para que ocorra a sua individualização
mo de água e segundo a categoria do usuário – resi- (uti singuli) e, por conseguinte, a cobrança via taxa
dencial, pública, comercial, industrial ou residencial ou tarifa. Embora o sistema de drenagem seja “im-
com tarifa social. Algumas tarifas estão acima da posto” à população, é possível estimar a contribui-
tarifa média (subsidiadores) e outras abaixo (subsi- ção de cada terreno no escoamento pluvial lançado
diados). às redes. A indivisibilidade ocorre na oferta e não na
demanda. Pode-se identificar o usuário do serviço e
Definição jurídica da taxa a magnitude do uso. O mesmo não ocorre na segu-
rança pública ou na iluminação de praias. São servi-
A escolha de uma taxa como forma de re- ços voltados para uma pluralidade de pessoas, onde
muneração da drenagem urbana tem respaldo não não se consegue determinar qual seria mais direta-
apenas na esfera econômica, mas também no Direi- mente aquinhoada.
to Administrativo. Segundo Bastos (1994), os servi- A conclusão é que a remuneração por taxa
ços públicos dos serviços de drenagem, que têm caráter obrigató-
rio e divisibilidade de demanda, parece adequada
prestados sob a forma de fruição “uti universi” do ponto de vista tributário. Ressalta-se que a taxa,
são financiados pelos próprios cofres públicos, que ao contrário da tarifa, é um tributo, portanto sujeito
se abastecem fundamentalmente de impostos. Por às especificidades do Direito Tributário.
outro lado, a prestação “uti singuli” cobra-se dire-
tamente do usuário, exceto quando previsto em lei Definição metodológica da taxa
sua prestação gratuita, o que não é regra, mesmo
porque não atende ao princípio da boa política No início do artigo foi apontado que uma
tributária, que consiste em repartir tanto quanto cobrança pelos serviços que defina o preço igual ao
possível os ônus com aqueles que se beneficiem custo marginal não é viável em grande parte dos
serviços de utilidade pública, entre eles, a drenagem
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urbana de águas pluviais. Formas alternativas de o consumo é não excludente, pois se trata de bem
precificação podem ser utilizadas, seguindo objeti- público, os indivíduos, a fim de pagarem menos ou
vos de eficiência econômica ou sustentabilidade nada pela demanda do bem, ou mesmo por desco-
financeira. Algumas utilizam o custo marginal como nhecimento, nem sempre estão dispostos a revelar o
critério de cobrança, porém em uma base mais am- valor de seus benefícios. O resultado é uma arreca-
pla, com a incorporação de custos sociais, um hori- dação subotima de recursos que pode não ser sufici-
zonte temporal maior ou a viabilidade financeira do ente para financiar a provisão do serviço.
empreendimento. Outras têm a disposição marginal Nos serviços de drenagem urbana, esta op-
a pagar ou o custo médio como referência. ção poderia ser utilizada em obras locais de controle
de inundações quando os benefícios são mais bem
· Preço igual ao custo marginal social percebidos e os beneficiários estão mais sensíveis aos
danos. No caso de uma cobrança generalizada e
Esta forma de cobrança define o preço igual continuada pelos serviços clássicos de drenagem
ao custo marginal. Mas este não se restringe à mu- para fins de financiamento haveria dificuldades para
dança do custo de operação e manutenção com a sua operacionalização e implementação.
variação no número de usuários. Os custos sociais
decorrentes daquela atividade também são incorpo- · Regra Ramsey ou Regra de Preços Públicos
rados no cálculo, como problemas de drenagem,
aumento da insegurança em relação ao risco de Esta regra, que pode ser utilizada em firmas
inundações, poluição da água ou as enchentes a multiproduto ou quando é feita uma discriminação
jusante. de preços sobre serviços ou consumidores, possibili-
A adoção de uma tarifa via custo marginal ta a criação de uma estrutura de preços que leve à
apresenta restrições, pois pode implicar em perdas maximização do bem-estar social com a garantia de
financeiras para a prestadora dos serviços de drena- receita que cubra os custos.
gem (custo médio maior do que o custo marginal, Segundo a regra de Ramsey, para se alcan-
mesmo o social). Outra dificuldade é a quantifica- çar o objetivo financeiro e de eficiência, deve-se
ção, em termos monetários, da ampla gama de cus- adicionar na cobrança via custo marginal uma mar-
tos incorporados ao cálculo da tarifa. gem sobre este custo na proporção inversa da elasti-
cidade-preço da demanda dos consumidores. Logo,
· Preço igual ao benefício marginal quanto menor for a elasticidade-preço da procura
pelo serviço, maior deve ser o preço cobrado em
Esta alternativa de cobrança ocorre nos bens relação ao seu custo marginal. Matematicamente,
públicos com consumo não rival e custos marginais
bastante baixos ou nulos. A provisão do bem deve
ocorrer, pois gera benefícios marginais positivos, e ¶c j
esta envolve custos fixos que precisam ser remune- ¶x j æ 1 ö
rados. A cobrança via benefício marginal aloca o pj - = açç ÷÷ (2)
bem de acordo com o retorno econômico para cada pj ç ej ÷
è ø
usuário. O seu preço efetivamente se iguala ao seu
valor para o usuário. Em termos matemáticos, Onde,
pj = preço do bem j
pi = ∂u / ∂q (1) ∂cj / ∂xj = custo marginal na produção do bem j
α= constante de proporcionalidade que reflete a
Onde, diferença relativa entre benefícios e custos margi-
pi = preço cobrado do usuário i nais
u = utilidade do bem para o usuário i εj = elasticidade-preço da demanda pelo bem j
q = quantidade consumida do bem pelo usuário i
A somatória destes desvios com os custos
A relação ∂u / ∂q reflete a disposição mar- marginais deve cobrir integralmente os custos de
ginal a pagar pelo consumo do bem. produção do serviço.
Esta alternativa tem complicadores. Primei- A alternativa de Ramsey, com qualidades fi-
ramente é necessário conhecer os benefícios margi- nanceiras e de eficiência econômica (evita-se o so-
nais individuais, o que apresenta dificuldades. Como brelucro), pode ser ineficaz do ponto de vista social,
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pois elasticidades menores levam a tarifas maiores. Como solução alternativa define-se uma taxa
Os usuários com menor nível de renda pagariam equivalente ao custo médio de produção, priorizan-
maiores tarifas pelos serviços públicos do que os de do o financiamento do sistema com a recuperação
maior rendimento, pois, por terem menores opções dos custos associados ao mesmo. Este é o procedi-
de consumo, usualmente possuem uma demanda mento usual na cobrança dos serviços de abasteci-
menos elástica. O mesmo ocorreria com os serviços mento de água. Ao priorizar o financiamento, a
essenciais em relação aos supérfluos (Andrade, eficiência é negligenciada, pois quaisquer que sejam
1998). Lanna (2001) mostra o exemplo da elastici- os gastos, inclusive as perdas, eles são rateados entre
dade-preço da procura de água pela indústria. Ela os consumidores.
tende a ser maior do que a do usuário doméstico, O Quadro 1, em anexo, sintetiza as alterna-
basicamente pelas opções tecnológicas de suas fun- tivas de cobrança discutidas.
ções de produção que permitem uma maior variabi-
lidade na demanda de água. Por conseguinte, os A cobrança pela drenagem urbana via
preços da cobrança de abastecimento doméstico custo médio dos serviços
seriam maiores do que os do usuário industrial.
Além disso, é necessária informação detalhada sobre A definição de uma taxa sobre os serviços de
as demandas individuais dos bens e as elasticidades- drenagem associada ao custo médio torna obrigató-
preço de demanda dos serviços de drenagem urbana rio o claro conhecimento dos custos associados a sua
são de difícil quantificação. prestação. Os custos dos serviços de drenagem ur-
bana para fins de financiamento podem ser dividi-
· Custos de Longo Prazo dos principalmente em dois:
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Determinação
de Tarifas Situação Vantagens Problemas
(Taxas)
Falta de interesse ou impossibi-
lidade de definir a tarifa a este
= Custo Margi- Maximização do bem–estar nível: monopólio natural; ma-
Mercado Concorrencial
nal social ximização de lucros por uma
empresa monopolista; tarifas
com funções redistributivas etc.
Aloca-se o bem de acordo
- Consumo não rival com o retorno econômico
= Benefício - Custo marginal nulo e para cada usuário. A capaci- - Omitir os verdadeiros benefí-
Marginal custo fixo positivo dade de pagamento do con- cios. Incentivo ao carona.
- Provisão monopolística sumidor é central na meto-
dologia.
- As tarifas podem ser indesejá-
Ramsey Prices. veis do ponto de vista distribu-
Discriminação de preços Maximização do bem-estar
A tarifa apro- tivo.
sobre serviços ou sobre social com garantia de recei-
xima-se do - Requer informações detalha-
consumidores. ta que cubra os custos.
custo marginal. das sobre as demandas indivi-
duais.
- Privilegia-se a sustentabilidade
- Definição de tarifa não
- Necessidade de cobrir financeira. A maximização do
abusiva que garanta a viabili-
custos (custos marginais bem-estar social não é garanti-
= Custo Médio dade financeira da firma.
pequenos e custos fixos da.
- Relativa facilidade de im-
muito elevados) - Determinação dos verdadeiros
plementação.
custos da firma.
Eficaz, principalmente
quando, com o aumento Forma dinâmica de tarifação,
da escala de produção, com a incorporação de cená- - Dificuldades para conhecer os
= Custo Margi-
os custos marginais rios futuros de planejamen- custos marginais de longo
nal de Longo
aumentarem de forma to. Possibilidade de maximi- prazo (incertezas, mudanças
Prazo
mais acelerada do que zação do bem-estar social no tecnológicas etc.).
os custos médios do longo prazo.
sistema.
Forma dinâmica de tarifação,
com a incorporação de cená-
Forma dinâmica de - Dificuldades para conhecer os
= Custo Médio rios futuros de planejamen-
tarifação, com a incor- custos de longo prazo (incerte-
de Longo to. Possibilidade de garantir
poração de cenários de zas, mudanças tecnológicas
Prazo recursos financeiros para
planejamento futuros. etc.).
expansão do sistema no
longo prazo.
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Cobrança pela Drenagem Urbana de Águas Pluviais: Bases Conceituais e Princípios Microeconômicos
CONCLUSÃO
ANDRADE, Thompson A. Tarifas das Utilities em um
Contexto de Liberalização/ Privatização. In:
Compreender as características econômicas REZENDE, Fernando; PAULA, Tomás Bruginski
dos serviços de drenagem urbana é uma forma de (coord.). Infra-Estrutura: Perspectivas de Reor-
discutir o seu valor e custo para o usuário, algo ne- ganização e Financiamento. Brasília: IPEA,
gligenciado pela suposição de que o serviço de dre-
1998.
nagem é um bem público indivisível. Mas, se na
BAPTISTA, Márcio B.; NASCIMENTO, Nilo O. Aspectos
oferta dos serviços clássicos de drenagem a indivisi-
Institucionais e de Financiamento dos Sistemas
bilidade está clara, o mesmo não ocorre na deman-
da, onde é possível estimar o volume de escoamento
de Drenagem Urbana. RBRH-Revista Brasileira
lançado na rede de drenagem oriundo de cada ter- de Recursos Hídricos, Porto Alegre, RS, v. 7,
reno. n.1, p. 29-49, jan/mar 2002.
Identificar o usuário individual e sua de- BASTOS, Celso Ribeiro. Curso de Direito Administrativo.
manda pelos serviços, com a utilização da área im- São Paulo: Saraiva, 1994.
permeável de cada propriedade como parâmetro, BELO HORIZONTE. Prefeitura Municipal. Plano Diretor
possibilita uma forma mais justa de rateio dos custos de Drenagem de Belo Horizonte. Belo Horizon-
da drenagem urbana. A discriminação deste rateio te, 2001.
poderia vir sob a forma de taxa, o que não significa DAUN, Margaret C.; CLARK, David. Flood Risk and
o aumento do nível geral de tributos ou da receita Contingent Valuation Willingness to Pay Stud-
tributária. A taxa pode vir sob a forma de um acrés- ies: A Methodological Review and Applied
cimo no IPTU cobrado ou de uma redução no Analysis. Technical Report 6. Institute for Urban
mesmo conforme se impermeabilize o terreno mais Environmental Risk Management. Marquette
ou menos do que a média. Procura-se apenas sugerir University, Milwaukee, WI, August 2000.
uma alternativa de financiamento da drenagem DEBO, Thomas N.; REESE, Andrew J. Municipal Storm
urbana, com ganhos de transparência, racionalidade Water Management. Lewis Publishers: Boca
econômica e eficiência tributária. Raton, 1995.
Ao associar explicitamente custo e área im-
LANNA, Antonio Eduardo. Economia e Recursos Hídri-
permeabilizada, a taxa pode incitar ao uso racional
cos: Parte I. Universidade Federal do Rio Gran-
do solo urbano e sinalizar claramente que a urbani-
zação implica custos sociais.
de do Sul, Instituto de Pesquisas Hidráulicas,
As bases conceituais e microeconômicas pa- Programa de Pós-Graduação em Recursos Hí-
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ABSTRACT
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