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Abrir portas onde se erguem muros Director: Manuel Carvalho Sábado, 26 de Fevereiro de 2022 • Ano XXXII • n.º 11.626 • Edição Lisboa • Assinaturas 808 200 095 • 1,90€
GLEB GARANICH/REUTERS

Cerco a Kiev
Forças russas atacam e cercam capital ucraniana • Quem é Zelenskii, o alvo número um de Putin • As
ameaças à Suécia e à Finlândia • Ucrânia quer falar sobre cessar-fogo e paz Destaque 2 a 18 e Editorial

Caso Bolama Alqueva

Reportagem
Alentejo e Ribatejo
A
Tribunal fixa Espanha está a P
Paisagens
indemnização debitar caudais Para quem é precário, a e culturas
de 110 mil euros abaixo do reforma é um privilégio
o ccontadas através
a queixoso mínimo fixado Há quem tema não ter o que comer ou quem se
imagine a trabalhar a vida toda Sociedade, 32 a 35
d
da cortiça
Sociedade, 29 Local, 36/37 F
Fugas
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2 • Público • Sábado, 26 de Fevereiro de 2022

Página dois

SEMANA SIM INQUÉRITO PÚBLICO PROVA DOS FACTOS

DANIEL ROCHA
Volodimir A linhagem BA.2 é mais
Zelenskii Este é
o rosto da transmissível e “poderá
coragem e da ser ligeiramente mais
vontade de
resistir ao invasor. A força pode
agressiva” do que
levar a sua avante, mas a razão a Ómicron original?
ficará nos ucranianos que neste
momento difícil tiveram, até A frase
agora, um Presidente à altura. “Aparentemente [a BA.2, uma
linhagem da Ómicron] será um
bocadinho mais transmissível e
António Costa aparentemente poderá ser
Ao escancarar a ligeiramente mais agressiva.”
porta aos Graça Freitas, directora-geral da
refugiados da Saúde, ontem em conferência de
invasão da imprensa
Ucrânia, o primeiro-ministro
assinalou devidamente o que se
deve esperar de Portugal na crise
que se avizinha. A solidariedade
não deve ser uma palavra vã.

Boris Johnson Verdadeiro

Talvez por ser
acusado de ter O contexto
tido apoios da Graça Freitas referia-se a duas das
Rússia, foi do linhagens consideradas da
Governo inglês que vieram cenário fosse evitado. Em mais a perder, se continuar a variante Ómicron: a original,
algumas das medidas mais duras segundo lugar, acredito, sim, que apostar numa via de decisões designada “BA.1”; e uma que
para com os oligarcas russos, de este resultado tenha vindo da unilaterais. surgiu depois, a BA.2, sobre a qual
tal maneira que até o Bloco de determinação do Presidente Ainda existe espaço para a ainda há poucos dados no mundo
Esquerda os cita como exemplo! russo, Vladimir Putin, de fazer as diplomacia ou agora será que a permitam caracterizar.
coisas à sua maneira. Posto isto, preciso um gesto de força? Os factos
A diplomacia falar em falhanço diplomático é Ora, nós já temos uma posição Quanto à transmissibilidade,
SEMANA NÃO não falhou. um erro. Antes disso, temos de ter
em conta que a decisão de Putin
por parte da NATO, que terá de
proteger sempre o seu território.
estudos têm já vindo a mostrar
que a BA.2 tem uma “vantagem

Vladimir Putin
Putin é que em enviar tropas para invadir a
Ucrânia — passado tanto tempo
A Ucrânia não faz parte ainda
deste território, mas é evidente
de crescimento” em relação à
BA.1, referiu a Organização
O Presidente
russo pode
tomou o de ameaças consecutivas — se
baseou apenas numa plataforma
que teremos de considerar que,
nesta questão, a Rússia terá de
Mundial da Saúde (OMS). A BA.2
tem vindo a substituir a BA.1 como
achar que esta
foi a “sua
caminho de compromisso inteiramente
favorável aos seus interesses. (...)
respeitar aquilo que são as
vontades dos países que a
linhagem dominante em
diferentes países, incluindo em
semana”, mas para a história do
mundo decente ficará o gesto de
errado Creio que foram feitos todos os
esforços para dar margem a que
rodeiam. Não poderá ter em
conta apenas a sua própria
Portugal. Assinalando que há
investigações em curso para se
um autocrata que não hesita em
trilhar o caminho da guerra para
António se negociasse um acordo que
tivesse em conta os princípios e
determinação de impor fórmulas
que vão, tendencialmente, de
perceber as razões dessa
vantagem, a OMS indicou que os
manter e ampliar o seu poder. Monteiro valores de toda a região, acordo com os seus interesses. dados iniciais sugerem que a BA.2
garantindo uma solução pacífica Neste caso, impedindo a Ucrânia “aparenta ser inerentemente mais
O diplomata e antigo ministro dos para aquilo que foram as queixas de entrar na NATO ou de ter o seu transmissível do que a BA.1”.
Jerónimo de Negócios Estrangeiros António russas em relação aos seus apoio — que é aquilo que Vladimir Mesmo assim, a diferença entre
Sousa Algumas Monteiro considera que a próprios interesses. Putin está a fazer. E é aqui que as duas linhagens parece ser mais
vezes, por razões diplomacia nunca falhou entre os Não tenho dúvida nenhuma de está a margem de negociação, pequena do que era entre a BA.1 e
certas, o PCP foi actores do actual conflito na que, como todas as situações de numa linha vincada entre o que a a Delta. Sobre a severidade da
o motorista na Ucrânia. Diz, inclusivamente, que conflito, esta também terminará Rússia pretende e o que possa ser BA.2 dados preliminares de um
auto-estrada que viu todos os a diplomacia foi fundamental e com um acordo de compromisso. considerado admissível para estudo laboratorial no Japão
outros a vir em contramão. Desta que o será ainda mais no decorrer Só espero que esse acordo possa garantir a paz e a estabilidade de apontam que “a BA.2 pode causar
vez, perante a agressão russa, desta crise, bem como quando atender a algumas preocupações todos os países envolvidos neste doença mais severa em hamsters
ficaram mesmo isolados no terminar. Acredita também que russas, como a questão da conflito. Ainda assim, isto será em comparação com a BA.1”.
sentido errado da história. será através de sanções pesadas neutralidade da Ucrânia, do muito difícil de atingir enquanto Dados do mundo real sobre a
que Moscovo chegará à poderio militar e das armas houver, por parte de Moscovo, a severidade clínica do coronavírus
conclusão de que o seu instaladas em território ucraniano. falta de noção de que a via que na África do Sul, Reino Unido e
Emmanuel comportamento actual não levará O que pode acontecer, e que decidiram tomar será muito mais Dinamarca “não reportaram
Macron a bom porto aquilo que tanto espero vivamente que não prejudicial para os seus interesses diferenças de severidade entre a
A diplomacia é pretende — a neutralidade da aconteça, é que tenhamos de ser a curto, médio e longo prazo. BA.2 e a BA.1”.
sempre o melhor Ucrânia e a garantia de segurança obrigados a viver com um Diktat Então, é mais do que correcta Em resumo
caminho, mas o para a Rússia. por parte de Moscovo, sobretudo esta primeira reacção que Sim, é verdade que se tem vindo a
resultado do esforçado Em que falhou a diplomacia para se puser em causa vidas humanas consistiu em aplicar sanções considerar que a linhagem BA.2 é
Presidente francês e de outros termos chegado aqui? e toda a segurança e paz da muito pesadas que levem a um pouco mais transmissível do
líderes europeus com Putin foi Em primeiro lugar, vinco que não região — como está a pôr. Nesta própria sociedade civil a que a original. Restam mais
uma derrota em toda a linha. creio que a diplomacia tenha situação terá de existir uma compreender que o caminho que dúvidas quanto às diferenças
falhado e que acredito que tudo resposta muito firme e que Putin está a tomar é o caminho entre ambas relativamente à
Por David Pontes tenha sido feito para que este mostre a Moscovo que terá muito errado. Guilherme Pinheiro severidade. Teresa Serafim
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Purificação
D
a guerra se diz que
Grande puriÆca. Tal como as
angular tempestades e as
grandes chuvas, que,
depois de passadas,
deixam o ar puro, as
terras lavadas e os espíritos serenos,
também as guerras teriam esse
efeito redentor de eliminar o
António Barreto
acessório e destruir a poluição
política, concentrando no essencial
e obrigando as pessoas a tomar
partido pelo que é importante,
clariÆcando e esclarecendo. Não é
verdade.
A guerra é odiosa, mata e
envenena. Destrói e deixa feridas
incuráveis. Vidas, famílias, casas,
cidades e países: nada é poupado.
Civis e soldados, novos e velhos ou
culpados e inocentes: todos são
atingidos. É verdade que há guerras
justas e de libertação, bem
diferentes das injustas e de opressão
ou conquista. Mas, na sua maioria,
são feitos macabros de violência e
irracionalidade. Uma guerra põe
entre parêntesis o que de melhor
tem a humanidade: a moral, o
direito, a bondade, o belo e o amor.
Para já não falar da razão e da
justiça.
Pode especular-se muito, mas não
se sabe quanto tempo vai durar esta
guerra, a quantos países poderá
alastrar, quantas serão as suas
vítimas mortais, quanto vai ser o
sofrimento, nem quanta vai ser a
destruição infligida às pessoas e às
cidades. Mas sabe-se que tem na
origem a desmedida ambição de um
déspota e de uma elite política.
Esta guerra, iniciada, feita e
conduzida pelas piores razões, não
escapa a uma das suas regras:
A convicção de que depois da destruição, nada ficará
a Rússia estava de
melhor, a não ser o poder bruto de
alguns. Parece ser verdade que a
joelhos e de que Ucrânia mantinha em deliberado
era possível pôr
atraso social e económico as regiões
ditas “separatistas”. É também
verdade que a Rússia se sentia
em prática uma cercada e ameaçada pelo
estratégia absoluta democrático, isto é, pelo crescente
número de membros da aliança
de cerco e de inimiga, a NATO de todos os
alargamento da pesadelos russos e soviéticos. São 14
(em 30) os antigos estados
NATO revelou-se comunistas hoje membros da
perigoso erro
A
NATO. Mas nada disso justifica a
guerra.
Rússia recupera a sua
A crença no posição no mundo:
diálogo e uma das grandes
potências. Era a
cooperação com as situação em que se
ditaduras está a encontrava a grande
Rússia czarista e a Rússia soviética.
dar resultados Desde o Æm do comunismo, da
Guerra Fria e do muro de Berlim, a
nefastos Rússia entrou num processo de
decadência absoluta: o seu poder
político a diminuir, o seu poder
militar deÆnitivamente
ultrapassado pelo dos Estados
Unidos e o seu poder económico
superado pelo da China. A sua
projecção no mundo esbateu-se e,
ao contrário da China, o número de
países seus clientes e satélites foi
reduzido à mais ínÆma espécie. A
humanidade olhava para os Estados
Unidos e para a China por causa do
poder. Para a Europa, pela cultura e
as férias. Para a China, ainda, pelo
trabalho industrial. Da Rússia,
repetidamente humilhada, nada
mais se esperava. Mas foram dez ou
vinte anos minuciosamente
aproveitados para refazer uma
potência, para aÆrmar o poderio do
gás e do petróleo e para intervir em
conÇitos periféricos.
O ditador Putin revelou uma
enorme plasticidade sem
escrúpulos, um empirismo sem
remorsos nem dogmas ideológicos.
Tentou a parceria com os Estados
Unidos, o que Trump estava
disposto a conceder, mas a derrota
eleitoral deste último desfez os seus
sonhos. Virou-se para Xi Jinping,
que aceitou o ridículo mas
utilíssimo papel de “compère”. Nada
de muito perigoso, mas o efeito foi
devastador.
A China e a Rússia, condenadas
desde sempre a desentender-se e a
rivalizar, encontraram Ænalmente
uma plataforma temporária, débil,
aparente, mas que mete medo.
Aquelas duas grandes nações, que,
como impérios ou como ditaduras
comunistas, sempre se desaÆaram,
encontraram forma de aterrar o
mundo e dizer aos Estados Unidos
que já não estavam sozinhos no
T
comando. E, sobretudo, de dizer à
Europa que esta já não contava.
alvez convenha não
esquecer umas breves
lições que se podem
retirar para já. A Europa
paga muito caro a sua
insigniÆcância militar. A
sua decisão, com várias décadas, de
Æcar dependente dos Estados
Unidos e de privilegiar sempre a
despesa social, em detrimento da
defesa, tem enormes e negativas
consequências.
A decisão europeia de se deixar
amarrar a uma excessiva
dependência energética da Rússia
(e de outros…) retira liberdade e
põe em perigo a autonomia
europeia e dos respectivos países. A
aceitação do domínio absoluto dos
Estados Unidos na área da defesa
ocidental teve consequências
aÇitivas, a começar pela
subalternidade do nosso
Público • Sábado, 26 de Fevereiro de 2022 • 3
IMPORTA-SE DE REPETIR?
Tenho vergonha
continente. de ser europeia,
As múltiplas decisões europeias hoje. Infâmia e
de se deixar arrastar para uma
cobardia
absoluta dependência industrial
relativamente à China ajudaram à Ana Gomes, diplomata
vulnerabilidade da Europa e das aposentada
respectivas democracias.
A convicção europeia (e
americana) de que a Rússia estava
deÆnitivamente de joelhos e de que
era possível pôr em prática uma
estratégia absoluta de cerco e de
alargamento da NATO até às suas
fronteiras revelou-se perigoso erro.
Quando substituem o diálogo e a
Tem 13
cooperação, quando são pobres
alternativas à força da negociação,
segundos para
as políticas de acatamento e
conciliação são perigosíssimas. A
condenar a
Europa compactuou com as
ditaduras russa, chinesa, árabes e
Rússia
africanas para além de todos os Augusto Santos Silva
limites da decência democrática. O Ministro dos Negócios
realismo político tem muitas vezes Estrangeiros, no Parlamento,
destas surpresas: vira-se contra nós. em debate com João Oliveira,
A excessiva voracidade do do PCP
capitalismo e da democracia
ocidental têm consequências: os
cleptocratas não são apenas
dependentes, são também
ameaçadores.
A crença europeia e americana de
que é ilimitada a capacidade de
diálogo e cooperação com as
ditaduras está a dar resultados
nefastos: os ditadores pensam que é
possível abusar e que a
interdependência lhes é favorável.
Até os Ænanceiros do terrorismo
internacional consideram a Europa
um continente afável e
complacente.
Depois de 40 anos
Sem democracia, repousando de escrita, é muito
sobretudo na cleptocracia, o
governo russo conseguiu fazer uma
mais difícil levar
caminhada com apreciável êxito. até ao Äm o que
Não para a democracia, com
certeza, mas para a recuperação do
quer que seja. Há
lugar da Rússia no concerto das um sentimento de
potências.
A Rússia de Putin Æcará na
repetição
história como um caso de êxito de Luísa Costa Gomes, escritora
planeamento estratégico furtivo.
Durante décadas, dezenas de
Não há mais
decisões inofensivas prepararam o
regresso do país à primeira Æla espaço para
mundial. As infra-estruturas
zangas
espaciais e os projectos multilaterais
fazem parte desse plano. Tal como a Nuno Melo, eurodeputado
do CDS
espionagem e a intrusão digital. A
exploração e a exportação de gás e
petróleo, transformando o país no
segundo maior produtor do [Interesse da
mundo, imprescindível para um
grande número de países europeus
NetÅix] É uma
democráticos, foram as armas oportunidade que
económicas que sustentaram uma
política. O armamento foi outro
Lisboa não pode
trunfo: está a ver-se. recusar
Carlos Moedas, presidente
Sociólogo da Câmara de Lisboa
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4 • Público • Sábado, 26 de Fevereiro de 2022

Guerra na Ucrânia
MIKHAIL PALINCHAK/EPA

Sofia Lorena

O
dia de ontem começou com
Kiev a ser alvo de mísseis e
os seus habitantes a tenta-
rem perceber de onde
vinham os sons de explo-
sões e acabou com a capital
ucraniana debaixo de ataques
aéreos e a sentir-se cercada, com
notícias de combates a pouco mais
de três quilómetros do Parlamento
e da central Praça Maidan.
“Esta noite [ontem] vai ser a mais
dura. O inimigo vai dar tudo. Temos
de resistir. A noite vai ser muito
dura, mas vamos chegar ao nascer
do sol”, aÆrmou o Presidente ucra-
niano, Volodomir Zelenskii, numa
mensagem aos ucranianos ao início
da madrugada. “Muitas das nossas
cidades estão sob ataque; Chernihiv,
Sumy, Kharkiv, os nossos rapazes e
raparigas no Donbass, as cidades do
Sul, atenção especial a Kiev”, disse
o chefe de Estado. “Não podemos
perder a capital.”
No entanto, o cerco a Kiev não
estava completo — a maioria das
unidades russas, vindas da Bie-
lorrússia, avançava para a cidade
por norte e ocidente, outras, mais
afastadas, progrediam de leste, vin-
das da Rússia —, prevendo-se que
uma operação para a tomar não
acontecesse sem o círculo estar
completo.
“Estamos aqui. Estamos em Kiev.
Estamos a defender a Ucrânia”, aÆr-
mara horas antes Zelenskii, num
vídeo que publicou nas redes sociais
onde surgia acompanhado do pri-
meiro-ministro e dos seus mais pró-
ximos colaboradores, diante do
edifício da presidência. “Os nossos
soldados estão aqui. Os cidadãos

“Estamos aqui.
estão aqui e nós estamos aqui. processo de “desmilitarização” do
Defendemos a nossa independên- país.
cia”, assegurou. Washington considerou as inten-
Este apelo chegou horas depois ções como duvidosas, aÆrmando
de o Ministério da Defesa ter enco- que “estas não são as condições
rajado os habitantes da capital a para a verdadeira diplomacia” e exi-
prepararem cocktails Molotov e a gindo que a Rússia parasse antes de
prepararem-se para resistir. Cente-
nas de milhares de ucranianos estão
em fuga — a ONU estima que cem
mil pessoas tenham deixado as suas
casas logo na quinta-feira e diz que
“mais de 50 mil refugiados fugiram
Estamos em Kiev. bombardear a Ucrânia. “Estamos
prontos para conversar assim que
as forças ucranianas aceitarem o
apelo do nosso Presidente de deixa-
rem de lutar”, esclareceu, em Mos-
covo, o ministro dos Negócios

Estamos a defender
do país em menos de 48 horas”. Estrangeiros Serguei Lavrov.
“Tomem o poder, será mais fácil
para chegarmos a um acordo”, “Forte resistência”
pedia por seu turno, Vladimir Putin, Apesar do evidente desequilíbrio de
dirigindo-se aos militares ucrania- forças, tanto o Pentágono como o
nos. chefe dos serviços secretos militares

Depois de um telefonema com o
Presidente chinês, Xi Jinping, em
que o chefe de Estado russo terá
dito que estava “disponível para ini-
ciar negociações de alto nível de alto
com a Ucrânia”, o Kremlin explicou
que Moscovo poderia enviar de ime-
diato uma delegação para Minsk, na
Bielorrússia, onde poderia iniciar-se
um diálogo que teria de se focar na
declaração da Ucrânia como um
Estado “neutral” — abdicando da
intenção de se juntar à NATO — e no
a Ucrânia”
britânicos, tenente-general Jim
Hockenhull, garantem que “as for-
ças ucranianas oferecem forte resis-
tência, focando-se na defesa de
cidades-chave”, uma resistência que
Washington assegura estar a sur-
preender os militares russos e a
atrasar os seus avanços.
Para além dos arredores de Kiev;
Com o cerco a fechar-se à capital da Ucrânia, EUA e UE do sul, onde os russos tentam pro-
anunciam sanções ao líder russo. NATO activa pela primeira vez gredir a partir da Crimeia (a penín-
sula anexada por Moscovo em 201),
a Força de Resposta e envia reforços para o Leste da Europa e da cidade portuária de Odessa; do
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Ivankiv
Tropas ucranianas
entram em confronto
com tanques russos
Confrontos armados
Bombardeamentos
Áreas onde foram ouvidas explosões
Áreas onde foram ouvidos tiroteios
Movimentos das tropas russas
Buchal
Tiroteios na
ponte de Havana
5km
Fonte: BBC; Middle East Eye; Mapbox; OpenStreetMap
leste, através do Donbass (onde se
situam os territórios separatistas
que Putin aÆrmou inicialmente que-
rer proteger); os combates conti-
nuam acesos em torno de Kharkiv,
a segunda maior cidade do país. O
Pentágono conÆrmou que a Rússia
lançou um “ataque anfíbio” em
Mariupol, cidade portuária na costa
do mar de Azov, no Sudeste da Ucrâ-
nia.
Depois de lamentar que os ucra-
nianos tivessem sido “deixados sozi-
nhos” para se defenderem, celebra-
va as garantias de “sanções mais
fortes, assistência concreta de defe-
sa e uma coligação antiguerra” que
acabara de receber do Presidente
norte-americano, Joe Biden.
Pouco depois, a Casa Branca con-
Ærmava que os Estados Unidos iam
impor de imediato sanções contra
o Presidente russo e o seu ministro
dos Negócios Estrangeiros, incluin-
do o congelamento dos bens (medi-
da que raras vezes terá visado um
líder mundial), seguindo assim os
passos da União Europeia e do Rei-
no Unido.
Apesar do simbolismo, e do carác-
ter provocador, a medida não terá
grandes efeitos práticos: não se sabe
Dimer
Rio
Dniepre
Ponte destruída
em Vishgord
Aeroporto
de Hostomel
Tomado pelos
russos
Kiev
Aeroporto
de Juliani
Parlamento
Tropas russas
Boiarka estão a 3,4km
Kozin
onde Putin tem o seu dinheiro, mas
ninguém acredita que seja nos EUA
ou em países da UE.
Ao contrário dos europeus, os
norte-americanos optaram por
impor também impor restrições de
viagem a Putin, disse aos jornalistas
a porta-voz da Casa Branca, Jen
Psaki, admitindo que ainda não dis-
punha de mais pormenores. “Há
muito poucos exemplos em que isto
foi feito, como sabem, mas faz par-
te”, aÆrmou.
“Fazer o que for preciso”
Ao mesmo tempo que se esforça por
mobilizar os ucranianos, Zelenskii
faz os possíveis por espicaçar os
europeus, descrevendo a invasão da
Ucrânia como uma agressão à Euro-
pa: trata-se do “início da guerra
contra a Europa”, aÆrmou, mas “a
Europa tem força suÆciente para
parar esta agressão”. Pouco depois,
questionada sobre o facto de a Fin-
lândia e a Suécia terem sido convi-
dadas a participar como observado-
res na cimeira extraordinária da
NATO, ontem, a porta-voz do Minis-
tério dos Negócios Estrangeiros rus-
so ameaçou os dois países com
“sérias repercussões políticas e mili-
Kiev
UCRÂNIA
Rio
Desna
Obolon
Localização de
tropas russas
Brovari
Pozniaki
Aeronave
derrubada
Aeroporto de
Kiev-Borispil
Vorokov
Actualizado às 20h30 de 25 de Fevereiro
Infografia | PÚBLICO
tares” caso decidam aderir à Alian-
ça Atlântica.
“A Finlândia e a Suécia não devem
basear a sua própria segurança pre-
judicando a segurança de outros
países”, sublinhou Maria Zakharo-
va, durante uma conferência de
imprensa. Mais tarde, citada pela
agência de notícias russa Interfax,
Zakharova descrevia as relações da
Rússia com os EUA e o Reino Unido
como próximas de um “ponto de
não retorno”.
“Os objectivos do Kremlin não se
limitam à Ucrânia”, aÆrmou o secre-
tário-geral da NATO, Jens Stol-
tenberg, no Ænal da cimeira em que
os países-membros decidiram
enviar reforços militares para a
Europa de Leste e activar, pela pri-
meira vez, a sua Força de Resposta,
que conta com 40 mil soldados.
“Não deve haver espaço para
erros de cálculo. Vamos fazer o que
for preciso para proteger e defender
cada um dos nossos aliados e cada
centímetro do território da NATO”,
aÆrmou Stoltenberg. “O mundo res-
ponsabilizará a Rússia e a Bielorrús-
sia pelas suas acções”, assegurou
ainda. “A Rússia como agressor, a
Bielorrússia como facilitador.”
Público • Sábado, 26 de Fevereiro de 2022 • 5
Em caso de adesão à NATO
Kremlin ameaça
Finlândia e Suécia com
consequências militares
Paulo Narigão Reis
A
Rússia ameaçou ontem a
Finlândia e a Suécia com
“sérias repercussões políti-
cas e militares” caso os dois
países nórdicos decidam
aderir à NATO. O aviso foi
feito pela porta-voz do Ministério dos
Negócios Estrangeiros russo, Maria
Zakharova, durante uma conferência
de imprensa em Moscovo, um dia
depois de o secretário-geral da Alian-
ça Atlântica, Jens Stoltenberg, ter
convidado as duas nações para parti-
ciparem como observadoras na
cimeira extraordinária da organiza-
ção, que teve ontem lugar.
“A Finlândia e a Suécia não devem
basear a sua própria segurança pre-
judicando a segurança de outros paí-
ses”, afirmou Zakharova. Na quinta-
-feira, a primeira-ministra Ænlandesa,
Sanna Marin, admitiu que a invasão
russa da Ucrânia poderia “mudar o
sentido do debate” sobre a adesão à
NATO do país, cuja fronteira com a
Rússia se estende por mais de 1300
quilómetros.
Nas suas declarações, a porta-voz
da diplomacia de Moscovo deu o que
parece ser uma resposta directa às
palavras de Marin. “Olhamos para o
compromisso do Governo Ænlandês
com uma política de não-alinhamen-
to militar como um factor importante
para assegurar a segurança e a esta-
bilidade no Norte da Europa”, disse
Zakharova, prometendo que uma
possível adesão quer da Finlândia
quer da Suécia à NATO, que “é acima
de tudo uma aliança militar”, mere-
ceria “uma resposta da Rússia”.
Também na quinta-feira, o Presi-
dente da Ucrânia agradecera a Ænlan-
Sanna Marin abriu a porta a uma
eventual adesão à NATO
deses e suecos a ajuda militar, técnica
e humanitária prestada. “Agradecido
à [Finlândia] por dar 50 milhões de
dólares em ajuda. É uma contribuição
efectiva para a coligação antiguerra.
Continuamos a trabalhar. Precisamos
de aumentar as sanções e o apoio à
defesa [da Ucrânia]”, escreveu Volo-
dimir Zelenskii na sua conta no Twit-
ter, meio que utilizou também para
agradecer aos suecos: “A Suécia for-
nece assistência militar, técnica e
humanitária à Ucrânia. Grato [à pri-
meira-ministra sueca, Magdalena
Andersson] pelo seu apoio efectivo.”
A Suécia não tem fronteira terrestre
com a Rússia, mas a ilha de Gotland,
situada no centro do mar Báltico, é de
grande importância estratégica no
que à defesa diz respeito. Em Janeiro,
perante a crescente mobilização mili-
tar russa junto à fronteira da Ucrânia,
o Governo de Estocolmo decidiu
reforçar a presença militar na ilha.
Apesar do seu estatuto de neutrali-
dade, Finlândia e Suécia são, na prá-
tica, aliados da NATO, e a sua eventual
adesão seria vista por Moscovo como
mais uma ameaça à sua segurança.
Na quinta-feira, o secretário-geral da
Aliança Atlântica, Jens Stoltenberg,
aÆrmou que, embora não esteja para
breve a adesão dos dois países à orga-
nização, ambos “acreditam que a
NATO não deve assinar qualquer tipo
de acordo com a Rússia” que impo-
nha limitações quanto a futuros alar-
gamentos.
“Para a Finlândia e para a Suécia, é
uma questão de autodeterminação e
do direito soberano de escolher o seu
próprio caminho e, potencialmente,
no futuro, de candidatarem-se à ade-
são à NATO”, disse Stoltenberg, antes
de vincar que a organização “valoriza
bastante a parceria” com os dois paí-
ses nórdicos.
A abertura do Governo Ænlandês
para debater a eventual adesão à NATO
não é, para já, partilhada pelo país
vizinho. “A Suécia não faz parte de
alianças há muito tempo e a opção tem
servido bem os interesses do país”,
aÆrmou na quinta-feira a primeira-mi-
nistra, Magdalena Andersson.
Condenando a invasão da Ucrânia
pela Rússia — “entrámos num novo e
negro capítulo na história da Euro-
pa”— Andersson afastou qualquer
hipótese de mudança de rumo por
parte da Suécia. “Numa situação
como esta, é importante que a políti-
ca de segurança de longa data da Sué-
cia permaneça Ærme. Que sejamos
previsíveis e claros”, disse a líder do
Governo sueco.
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6 • Público • Sábado, 26 de Fevereiro de 2022
Guerra na Ucrânia
O Presidente russo, Vladimir
Putin, e o seu ministro de
Negócios Estrangeiros,
Serguei Lavrov, serão agora
sancionados
Activos financeiros serão congelados Rita Siza, Bruxelas
Presidente
N
um gesto, largamente sim-
bólico, de responsabiliza-
ção directa de Vladimir
da Rússia já figura
Putin e da cúpula de poder
do Kremlin pela guerra na
Ucrânia, os parceiros euro-
na lista de sanções peus votaram, ontem, por unanimi-
dade, a inclusão dos nomes do Pre-
sidente da Rússia, do primeiro-mi-
da União Europeia nistro, Mikhail Mishustin, do
ministro dos Negócios Estrangeiros,
Serguei Lavrov, e do ministro do
Interior, Vladimir Kolokoltsev, na
lista dos indivíduos cujos activos
Ænanceiros em território da União
Europeia serão congelados.
A proposta para alargar o conjunto
de personalidades e entidades russas
Ministros dos Negócios Estrangeiros que serão objecto de sanções, apre-
sentada pelo Alto Representante
europeus votaram por unanimidade para a Política Externa e de Seguran-
ça da UE, diÆcilmente impressionará
para congelar os bens que Vladimir quer Putin, quer Lavrov, cuja expo-
sição pessoal ao sistema Ænanceiro
Putin, o seu primeiro-ministro e o chefe europeu será muito limitada. Josep
da diplomacia da Rússia detenham em Borrell não se mostrou minimamen-
te preocupado com isso. “Não é pro-
instituições Änanceiras europeias blema meu”, observou.
EUA também
sancionam Putin
O
s EUA anunciaram ontem
que vão também impor
sanções económicas ao
Presidente russo, Vladimir
Putin, e ao ministro russo
Negócios Estrangeiros, Serguei
Lavrov, em retaliação pela
invasão da Ucrânia. “Os EUA
unir-se-ão (à União Europeia)
para sancionar Putin, o
ministro Lavrov e o resto da
equipa de segurança russa”,
disse a porta-voz da Casa
Branca, Jen Psaki. As sanções
contra Putin e Lavrov incluem
uma proibição de viajarr para os
Estados Unidos, disse Psaki,
casiões
insistindo em várias ocasiões
que os detalhes dessa
punição serão reveladosos
posteriormente. Putin
poderá, no entanto,
viajar para a sede da
ONU, em Nova Iorque.
MIKHAIL SVETLOV/GETTY IMAGES
O ministro dos Negócios Estrangei-
ros, Augusto Santos Silva, reconhe-
ceu que, mais do que a cúpula polí-
tica russa, o congelamento de bens
decidido ontem pelos ministros da
UE, atingirá fortemente a clique eco-
nómica que gravita em torno de Vla-
dimir Putin.
“Não estou a par, nem estou inte-
ressado em saber, qual é a fortuna
do Presidente da Rússia ou do minis-
tro Lavrov. Mas o conjunto de muitas
centenas de personalidades russas,
designadamente os membros da eli-
te política, do aparelho de segurança
e os oligarcas, representam muitos,
mas mesmo muitos, milhares de
milhões de rublos [ou centenas de
milhões de euros] que passarão a ser
congelados”, observou o chefe da
diplomac
diplomacia portuguesa.
O Pres
Presidente da Federação
Russa e o seu chefe da diploma-
cia foram,
fo contudo, poupa-
dos à proibição de viagens
pel território da UE, que
pelo
ta
também está incluída
nas sanções individuais
n
aplicadas pelos 27.
a
Reunidos em Bruxe-
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Perguntas e respostas O que é o SWIFT e porque é que tantos querem expulsar dele a Rússia?
Entre o vasto espectro de
sanções a aplicar à Rússia
discutidas pelos países
ocidentais, um dos pontos de
discórdia passa pela remoção
de Moscovo do sistema
bancário SWIFT. Desde o Reino
Unido até à República Checa, e
a começar pela Ucrânia, foram
vários os apelos para que a
Rússia seja bloqueada do
sistema. Mas a medida foi, para
já, afastada por Joe Biden e
pelo chanceler alemão, Olaf
Scholz, que não se deixaram
convencer pela sugestão de
Boris Johnson na reunião do
G7.
O que é o SWIFT?
O SWIFT — Sociedade
Mundial de
Telecomunicações
Financeiras Interbancárias —
é o principal sistema de
comunicação que os bancos
utilizam para realizar
transacções transfronteiriças
seguras e rápidas. Fundado
em 1973, o sistema contava
com 239 bancos de 15 países.
Actualmente, a infra-estrutura
está em todos os continentes
do mundo e conta com mais
de 11 mil instituições de mais
de 200 países e territórios,
tendo-se tornado no principal
mecanismo de financiamento
do comércio internacional.
Quem gere o SWIFT?
A sociedade cooperativa tem
sede em La Hulpe, na Bélgica.
Tem governação e supervisão
las, no terceiro Conselho dos Negó-
cios Estrangeiros da semana, os
ministros adoptaram o segundo
pacote de sanções e medidas restri-
tivas discutido na véspera pelos
chefes de Estado e de governo da
UE, e que contempla acções em cin-
co pilares: no sector Ænanceiro,
energia, aviação, controlos de
exportações tecnológicas e política
de vistos.
“É um novo pacote de sanções
muito duro e a uma escala nunca
vista”, aÆrmou Santos Silva, salien-
tando o facto de as novas medidas
se dirigirem “ao coração da activi-
dade económica da Rússia” e cons-
tituírem “uma limitação muito seve-
ra da sua capacidade de acção”.
“Esperamos que as autoridades
russas compreendam que os custos
que pagam — e continuarão a pagar
—, enquanto não pararem a agressão
militar à Ucrânia, são elevados, e
serão cada vez mais elevados”, sub-
linhou o ministro.
O pacote Ænanceiro passa pela
inclusão na lista de entidades bancá-
rias russas sujeitas a interdição de
quaisquer relações de natureza eco-
internacional e permanece neutra
em disputas comerciais. Os
accionistas do SWIFT elegem um
conselho composto por 25
directores independentes que
governam a empresa e
supervisionam a sua gestão.
Quais as consequências de
impedir a Rússia de usar o
SWIFT?
No entender dos defensores da
medida, como a Ucrânia ou o
primeiro-ministro britânico, Boris
Johnson, bloquear a utilização do
SWIFT poderia debilitar a
economia russa. Como
ferramenta que agiliza e facilita as
trocas comerciais, a
impossibilidade de as instituições
da Rússia utilizarem o SWIFT
obrigaria a que as transacções
tivessem de ser realizadas entre
bancos ou, em alternativa, com
recurso a sistemas idênticos, mas
menos utilizados — resultando em
atrasos nos negócios e custos
acrescidos.
O reverso da medalha é que a
medida afecte mais os países de
Ocidente que a própria Rússia. O
20
A Rússia ficará privada de 20 mil
milhões de euros anuais com a
importação de petróleo refinado
por alguns países da UE
2
novos bancos russos passam a
estar impedidos de manter
relações económico-financeiras
na UE: Alphabank e Otkritie
bloqueio das instituições russas
poderia significar uma migração
destas para outros sistemas de
pagamentos e países que não
imponham sanções — o caso da
China, por exemplo, que até
criou o seu próprio serviço
semelhante ao SWIFT.
Paralelamente, e ainda que
algumas das sanções europeias
possam passar por cortar vias
comerciais, a Rússia é um
grande importador de bens de
países como a Alemanha, Itália
ou os Países Baixos — o próprio
chanceler alemão, Olaf Scholz,
afastou a hipótese de bloquear o
acesso russo ao sistema global
de comunicações bancárias e
financeiras SWIFT.
Há registo de outros bloqueios
de países no SWIFT?
Não há registo de muitos casos
de condicionamentos por parte
da sociedade, que, quando
pressionada para banir
instituições, tem acenado com a
neutralidade que defende ter.
Em 2014, por exemplo, quando a
Rússia invadiu a Crimeia, o Reino
Unido também defendeu o
bloqueio da Rússia da rede
SWIFT, mas o pedido foi negado
pela sociedade.
Em 2012, a empresa cedeu a
pressões europeias e
norte-americanas para eliminar
instituições e indivíduos
iranianos, a propósito de
sanções relacionadas com o
programa nuclear de Teerão.
José Volta e Pinto
nómico-Ænanceira no espaço da UE
de dois novos bancos, o Alphabank
e o Otkritie, e as empresas por eles
controladas, bem como duas entida-
des estatais ligadas à defesa e à cons-
trução naval.
Em termos de controlos à expor-
tação, os 27 decidiram interditar o
comércio de bens de duplo uso civil
e militar, entre os quais software,
bem como a venda de equipamentos
e componentes tecnológicos como
semicondutores, chips, sensores ou
lasers, que contribuem para promo-
ver a indústria de defesa russa. Estas
proibições aplicam-se imediatamen-
te, com o objectivo de impedir o des-
envolvimento da capacidade indus-
trial militar.
As restrições das exportações apli-
cam-se também ao sector da aviação
— a venda e leasing de componentes
para aviões e os serviços de manu-
tenção Æcam interditos à aeronáutica
russa — e da energia. As medidas pre-
vistas, por enquanto, estão circuns-
critas à proibição de tecnologias
especíÆcas relacionadas com a reÆ#
nação de petróleo, que a Rússia dei-
xará de conseguir fazer de acordo
Público • Sábado, 26 de Fevereiro de 2022 • 7
com os standards europeus. Com
isso, Æcará privada de receitas na
ordem dos 20 mil milhões de euros
anuais da importação de petróleo
reÆnado por alguns países da UE. No
entanto, os ministros não avançaram
com quaisquer restrições à venda de
crude ou gás natural — no actual con-
texto de escassez e alta dos preços
da energia, essa decisão acabaria por
penalizar fortemente a população
europeia.
“A arma nuclear Änanceira”
De fora voltou a Æcar a medida mais
reclamada pelo Presidente da Ucrâ-
nia, Volodimir Zelinskii, a chamada
“mãe de todas as sanções” ou, na
designação do ministro das Finan-
ças da França, Bruno Le Maire, “a
arma nuclear Ænanceira”: a exclu-
são da Rússia do sistema de transfe-
rências monetárias internacionais
SWIFT, que desligaria todas as ins-
tituições russas do sistema Ænancei-
ro global e imediatamente suspen-
deria todas as relações comerciais
com o país.
Os 27 não excluem o recurso a
essa medida, mas não para já. Como
lembrou o ministro dos Negócios
Estrangeiros, as duas rondas de san-
ções que já foram aprovadas “vão
no sentido de atacar todos os laços
da Rússia com a economia interna-
cional, e essa dinâmica continuará
a ser seguida”. No entanto, a preo-
cupação é “atingir os interesses da
Rússia sem criar boomerang sobre
os nossos próprios interesses” — que
inevitavelmente serão afectados,
directa e indirectamente pelas san-
ções e contra-sanções que as auto-
ridades decidirem aprovar em reta-
liação.
“Sabemos que estamos a criar
diÆculdades adicionais à nossa eco-
nomia. Agora, no ponto a que as
coisas chegaram, não é possível rea-
gir de outro modo”, disse Augusto
Santos Silva.
Além da luz verde ao segundo
pacote de medidas restritivas, os
ministros pediram ao Serviço de
Acção Externa da UE para desenhar
sanções contra indivíduos e entida-
des da Bielorrússia com envolvi-
mento activo na ofensiva contra a
Ucrânia, e também mandaram avan-
çar os preparativos para um terceiro
pacote contra a Rússia. “Infelizmen-
te, a agressão militar não cessa de
se intensiÆcar”, observou Santos
Silva. “O senhor Putin já fez tudo o
que era inaceitável que pudesse
fazer. O mais importante é ele ter a
certeza de que a UE reagirá a uma
só voz e não se deixará intimidar
pela Rússia”, declarou.
De resto, a reunião serviu para os
ministros dos Negócios Estrangeiros
dos 27 conÆrmarem o seu compro-
misso e concentração no que diz
respeito ao acolhimento de cida-
dãos ucranianos refugiados nos
Estados-membros e ao apoio e assis-
tência humanitária no território da
Ucrânia.
BE pressiona Governo
Há russos
punidos pela
UE com activos
em Portugal?
David Santiago
O
Bloco de Esquerda enviou
ontem perguntas ao Gover-
no sobre várias dúvidas que
subsistem quanto aos activos
detidos em Portugal por
cidadãos russos. As pergun-
tas assinadas pela deputada Mariana
Mortágua e pelo líder parlamentar
Pedro Filipe Soares começam por
questionar o executivo sobre se “já
fez o cruzamento entre os nomes da
lista de sanções oÆciais da União
Europeia e os detentores de activos
em Portugal” e sobre “quais os nomes
identiÆcados e qual a natureza e o
montante dos activos associados”.
“Quantos dos indivíduos identiÆca-
dos acederam ao regime de ‘vistos
gold’ ou do Residente Não Habitual?
Quais os seus nomes e os investimen-
tos associados?”, pergunta a parla-
mentar do BE. A lista dos beneÆciá-
rios do regime de “vistos gold” não é
pública. Os deputados do BE querem
ainda saber “quantos dos indivíduos
identiÆcados, e entidades a si associa-
das de forma directa ou indirecta,
estão registados na Zona Franca da
Madeira” e “quais os seus nomes”.
As perguntas dirigidas aos minis-
tros dos Negócios Estrangeiros, das
Finanças e da Economia e da Transi-
ção Digital surgem depois de ontem
o PÚBLICO ter escrito que o Governo
continua sem revelar se algum dos
cerca de 400 cidadãos russos incluí-
dos na lista de sanções aprovada pela
UE é beneÆciário dos chamados “vis-
tos gold”.
E depois de na quinta-feira o minis-
tro dos Negócios Estrangeiros, Augus-
to Santos Silva, ter dito na reunião da
comissão permanente da Assembleia
da República que os cidadãos de
nacionalidade russa residentes em
Portugal ou beneÆciários de “vistos
gold” que sejam sancionados por Bru-
xelas Æcarão “sujeitos à limitação de
movimentos em Portugal e ao conge-
lamento de activos Ænanceiros”.
Ao PÚBLICO, a deputada Mariana
Mortágua lamenta a demora entre o
anúncio e a imposição das sanções e
lembra que o hiato entre uma coisa e
outra deu “tempo à oligarquia russa
para transferir o seu património”.
A Lusa avançou ontem, com base
em dados do Serviço de Estrangeiros
e Fronteiras, que o investimento com
origem na Rússia captado pelo pro-
grama de “vistos gold” ascende, em
nove anos, a mais de 277,8 milhões de
euros. Entre Outubro de 2012 e Janei-
ro de 2022, 431 cidadãos russos bene-
Æciaram deste regime.
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8 • Público • Sábado, 26 de Fevereiro de 2022
Guerra na Ucrânia
Conflito
Pode haver resistência
à Rússia num cenário
de guerra urbana
mas aumentarão as baixas
Clara Barata
Há quem diga que a guerra
da União Soviética e do
Afeganistão pode ser um
modelo, mas isso implicaria
contornar regras
O
Exército ucraniano comba-
te os invasores russos, que
avançam cada vez mais
sobre as cidades, cercando
a capital Kiev, enquanto o
Pre sidente Volodimir
Zelenskii e os seus ministros apelam
à população para que pegue em
armas, que lute contra os invasores.
Traça-se um cenário de guerra urba-
na, o que pode prolongar o conÇito
e torná-lo mais dramático. “Este con-
Çito torna-se mais difícil e potencial-
mente mais trágico se deixarmos de
ter este tipo de operações, como
temos vindo a ter até agora, que são
bastante cirúrgicas, e entrarmos
numa escala mais larga, por exemplo
com um mecanismo de guerra urba-
na”, diz Ana Santos Pinto, investiga-
dora do Instituto Português de Rela-
ções Internacionais (IPRI-Nova).
O cenário pode tornar-se realidade
e têm-se multiplicado nos media nor-
te-americanos análises que imaginam
uma resistência armada na Ucrânia,
fazendo comparações com o atoleiro
em que se transformou o Afeganistão
para os soviéticos, na guerra de 1979-
1989 — com os resistentes apoiados
nos bastidores pelos Estados Unidos.
Artigos de opinião como o de Dou-
glas London, um operacional da CIA
reformado que fala russo, e que diz
ter gerido operações para controlar
revoltas, na revista Foreign Affairs.
London imagina que, se a Rússia
tentar ocupar a maior parte do ter-
ritório da Ucrânia e tentar instalar
um regime fantoche em Kiev,
“enfrentará uma revolta longa e san-
grenta que poderá espalhar-se para
lá de múltiplas fronteiras, chegar
talvez até à Bielorrússia”. Ou deses-
tabilizar outros países na órbita da
Rússia, como o Cazaquistão, ou a
própria Rússia.
Mas, para isto acontecer, seria
necessário que Washington se dedi-
casse ao grande jogo da desestabili-
zação, apoiando de forma encoberta
e de várias formas a resistência arma-
da na Ucrânia. Aproveitando tacita-
mente o facto de a Ucrânia estar
rodeada de países da NATO, que
teriam simpatia por esta resistência.
Só que isto é transpor o cenário do
Afeganistão na década de 1970 para
a Europa dos anos 2020, onde a tole-
rância é menor para golpes abaixo da
linha da cintura e as transacções sob
a mesa — como a aliança feita por
Washington com o ditador militar do
Paquistão Zia ul-Huq para apoiar os
mujahedin afegãos, e com a Arábia
Saudita, que ajudou a Ænanciar a
revolta contra o regime afegão apoia-
do por Moscovo, recordada por Bru-
ce Riedel, da Brookings Institution.
“A vulnerabilidade da Ucrânia nes-
te contexto é signiÆcativa, pelo seu
posicionamento geográÆco, pelo dife-
rencial militar [em relação à Rússia],
e pelo facto de existir um conjunto de
regras internacionais que condicio-
nam o apoio militar externo”, subli-
nha, por seu lado, Ana Santos Pinto.
“Acho que é importante explicar isto,
tanto a NATO como a União Europeia
ou as Nações Unidas estão condicio-
nadas pelas regras internacionais e
pelo direito internacional em intervir
na Ucrânia”, frisa.
Há riscos sérios em actuar fora
desse quadro. “A última coisa que
queremos mesmo que aconteça é
um confronto entre a Aliança Atlân-
tica e a Federação Russa. Se fosse
Tanto a NATO como
a União Europeia ou
as Nações Unidas
estão condicionadas
pelas regras
internacionais e pelo
direito internacional
em intervir na
Ucrânia
Ana Santos Pinto
Investigadora do IPRI-Nova
tomada uma decisão à revelia das
regras internacionais de ter forças
da NATO no território ucraniano,
isso signiÆcaria obrigatoriamente
um confronto com a Federação Rus-
sa. Isso teria efeitos trágicos não só
para a Europa mas do ponto de vis-
ta geral”, sublinha a investigadora.
O Presidente Volodimir Zelenskii
disse não ver ninguém disposto a vir
ajudar os ucranianos a combater os
russos. E tem razão. “A Ucrânia está
muito só para se defender. E a Fede-
ração Russa sabe disso perfeitamen-
te”, diz Ana Santos Pinto.
Isto não quer dizer que a Ucrânia
não possa resistir à invasão russa. “É
nesse sentido que o Presidente ucra-
niano apela a ter recursos humanos,
sejam reservistas ou pessoas que
estejam disponíveis para combater.
Está a prever a possibilidade de uma
maior escala do conÇito militar. Mas
é preciso ter bem presente que essa
maior escala signiÆca quase obriga-
toriamente um maior número de
baixas civis e militares”, sublinha
Ana Santos Pinto.
Mas há outras formas de tentar
resistir ao avanço da invasão orde-
nada por Vladimir Putin. “A Ucrânia
é a parte mais frágil neste conÇito,
e não lhe restam muitas outras
opções. Mas pode usar e tem usado
instrumentos que não são os da
guerra convencional: a dimensão
ciber, por exemplo, e a dimensão da
informação, que é muitíssimo
importante nos conÇitos”, diz. “Não
é só os serviços de informação, mas
este Çuxo de informação pública.
Isto faz parte dos conÇitos e pode
continuar a existir para a comuni-
dade internacional, para pressionar
a via diplomática. Porque esta é a
única forma de a Ucrânia sair do
Com o avanço de forças russas
conÇito, através da via diplomática
e não através da via militar”, consi- na direcção a Kiev, as
resolvida, e quem está envolvido,
como é o caso da Federação Russa,
dera a especialista em segurança
internacional.
autoridades ucranianas
pediram à população que
de uma forma indirecta, não os quer
resolver, para poder activar automa-
Mas estará a Rússia preparada
para enfrentar um conÇito prolon-
resista aos invasores ticamente quando for do seu interes-
se. Mas a intervenção que a Federa-
gado na Ucrânia, encontrando resis- ção Russa está a fazer na Ucrânia não
tência? Ou esperaria Vladimir Putin
uma intervenção rápida? “Aquilo
é um conÇito congelado”, explica
Ana Santos Pinto.
que tem sido o padrão de comporta-
mento na Federação Russa é promo-
Estamos num pico de conÇituali-
dade. Que tem demasiados custos
ver aquilo a que chamamos conÇitos
congelados. É quando temos uma
para ser longo. “Sabemos que este
tipo de operações militares não se
conÇitualidade que acontece, tem pode prolongar muito no tempo.
picos, depois Æca ali latente, não está Porque é muito caro, e porque exi-
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Público • Sábado, 26 de Fevereiro de 2022 • 9

UMIT BEKTAS/REUTERS

Estratégia militar
Radioactividade em
Tchernobil aumentou “Poder aéreo russo neutralizou
Forças Armadas Ucranianas”
H
á um aumento de
radioactividade na região
da central nuclear
desactivada de
Tchernobil, que na quinta-feira depois de passarem por Tchernobil ao longo do território ucraniano pos-
Nuno Ribeiro
foi tomada por soldados nesta quinta-feira. Aliás, com evi- sam existir algumas bolsas de resis-

ge, mesmo em regimes autoritários,
como é o caso da Federação Russa,
ter uma legitimidade perante a sua
população”, salienta a investigado-
ra. O que implica, para Moscovo,
“investir numa solução mais robus-
ta, no sentido militar”.
Se houver uma resposta do povo
ucraniano, “seja através da resistên-
cia cívica, seja através da resistência
militar”, sugere Ana Santos Pinto,
pode “causar um condicionamento
e um obstáculo signiÆcativo aquilo
que sejam as ambições do regime
russo”.
russos, confirma a Agência
Internacional de Energia
Atómica (IAEA na sigla em
inglês). As autoridades de
regulação nuclear ucranianas
atribuem esse aumento à
passagem de veículos militares
pesados, que fazem levantar
no ar solo e poeiras
radioactivas, na zona de
exclusão delimitada após o
acidente nuclear de 1986.
Ainda assim, diz a IAEA, o
nível de radioactividade é
reduzido — “até 9,46
microSieverts por hora, o que é
baixo e se mantém dentro do
nível operacional medido na
zona de exclusão desde que foi
estabelecida, e assim não
representa um perigo para a
população”. Como termo de
comparação, quando se faz
uma radiografia aos dentes
recebe-se uma radiação na
ordem dos 100 microSieverts.
“A radiação está a começar a
aumentar. Não é perigoso, para
Kiev, por enquanto, mas
estamos a monitorizar”, disse,
por seu lado, o Ministério do
Interior ucraniano.
As forças russas e ucranianas
disputaram na quinta-feira o
controlo de Tchernobil, o local
do mais grave acidente nuclear
do mundo e um dos factores
que influenciaram o colapso da
União Soviética, e onde ainda
há níveis de radioactividade
acima do normal.
“Os nossos defensores estão
a dar as suas vidas para que a
tragédia de 1986 não se repita”,
disse o Presidente ucraniano,
Volodimir Zelenskii, num tweet
antes de a central nuclear
agora extinta ter sido
capturada pelas forças russas.
Ao conquistar Tchernobil,
segundo os analistas militares
ocidentais, a Rússia estaria
simplesmente a assegurar o
caminho mais rápido para
chegar a Kiev, que é a partir da
Bielorrússia — um aliado de
Moscovo e um porto seguro
para as tropas russas. “Era o
caminho mais rápido de A para
B”, resume James Acton do
think tank Fundo Carnegie para
a Paz Internacional. O general
americano na reforma Jack
Keane diz que, tirando esse
detalhe, Tchernobil “não tem
qualquer importância militar”.
U
ma das imagens mais escla-
recedoras da situação que
se viveu na manhã de ontem
na capital ucraniana é a
ultrapassagem, numa radial,
de dois tanques russos a um
autocarro articulado de transporte
público vazio. É um símbolo de uma
realidade que, hora a hora, piora.
“O poder aéreo russo neutralizou
as Forças Armadas Ucranianas, que
Æcaram sem aviões, helicópteros e
algumas pistas”, analisa, ao PÚBLI-
CO, o general na reforma Raul
Cunha. Em síntese, sem Força Aérea,
a capacidade de resiliência dos mili-
tares de Kiev pouco resistiu. Foi essa
a estratégia de Vladimir Putin, chefe
do segundo exército mais poderoso
do mundo, enquanto o oponente
ucraniano está no 22.º lugar do
ranking desta lista mortífera. Os
números marcam a diferença, numa
comparação estilo David e Golias.
Basicamente, de acordo com o
oÆcial português, esta estratégia foi
a materialização da diferença abissal
de meios no terreno. Os russos têm
11 vezes mais caças, numa proporção
de 772 face a 69, 544 helicópteros de
ataque contra os 34 de Kiev. A utili-
zação desta superioridade militar
aérea foi decisiva para marcar uma
diferença nas primeiras 24 horas do
conÇito. Com defesa aérea diminuta,
os céus da Ucrânia foram “passadei-
ra vermelha” para as tropas do
Kremlin. Destruída a capacidade de
defesa aérea, bem como de alguns
dos seus aeroportos e pistas, a debi-
lidade ucraniana foi evidente.
Na análise do Instituto Internacio-
nal de Estudos Estratégicos, as dife-
renças continuam gritantes. A Rússia
tem um exército de 280 mil homens,
que sobe para 900 mil se incluirmos
os reservistas, o que compara com
125.600 militares ucranianos no acti-
vo. Outros índices são esclarecedo-
res: a Rússia tem três vezes mais
tanques do que os ucranianos,
enquanto os blindados de Kiev não
ultrapassam as 1212 unidades (os
russos são 5180).
Raul Cunha, com experiência em
missões internacionais de paz em
cenários complexos como os Balcãs
ou o Afeganistão, e que na Croácia
comandou oÆciais russos e ucrania-
nos que ali estavam como observa-
dores, não tem dúvidas. Não há for-
ças armadas terrestres que comba-
tam sem apoio aéreo.
“As tropas russas na Ucrânia são
mais do que suÆcientes”, anota o
general, registando a sua rápida pro-
gressão rumo à capital ucraniana,
dente sinal político, as tropas de
Moscovo começaram a concentrar-
-se esta manhã no designado “bairro
governamental”, onde estão sedia-
dos os ministérios e o poder político
da Ucrânia, marcando uma espécie
de fronteira informal entre o norte
e o resto da capital ucraniana. As
próximas horas serão decisivas para
ver a progressão das forças russas,
às quais, segundo as últimas infor-
mações, se juntarão 12 mil tchetche-
nos, conhecidos pela sua “ferocida-
de militar”. Actuarão como força
dissuasora de uma possível luta
urbana em Kiev, sem regras.
Aliás, o apelo à resistência civil,
entre os quais o recurso de “cocktails
molotov” contra os tanques e blinda-
dos da Federação Russa, seria herói-
co, mas de duvidosa eÆcácia. “Isso
não afecta os materiais dos novos
tanques, é mandar gente para a mor-
te e, a estas horas, não se vislumbra
uma resistência dessas, de guerrilha
urbana”, comenta Raul Cunha.
A denominada defesa territorial
seria, deste modo, insuÆciente.
No entanto, o militar admite que
Como os exércitos da Ucrânia e da Rússia se comparam
MILITARES NO ACTIVO
Um ícone = 10.000 activos
125.600 280.000*
UCRÂNIA
RÚSSIA
VEÍCULOS BLINDADOS
Um ícone = 200 activos
1212 5180
DEFESAS AÉREAS
Um ícone = 100 activos
81 1520
*Mais 34.000 separatistas estimados
Fonte: Instituto Internacional de Estudos Estratégicos
tência. “Das quais não temos infor-
mação”, salienta. A possibilidade da
sua manutenção, porventura actuan-
do por detrás das forças russas, em
acção de contra-ataque, é uma
incógnita, apesar de propalada pela
diplomacia ucraniana. Mas, até ao
momento, não existem dados con-
cretos sobre a sua progressão.
A distribuição de armas, que terão
chegado às mãos de cerca de 20 ou
30 mil civis, quando o exército de
Kiev parece pouco eÆciente, não
permite a compreensão da posição
das autoridades. Ou seja, se admitem
render-se ou enveredam pela guer-
rilha urbana, que teria custos em
baixas e na destruição da cidade.
Quanto à comparação das “forças
em presença”, apesar do reforço de
material das Forças Armadas Ucra-
nianas por parte do Ocidente,
nomeadamente dos EUA, a partir de
2014, há uma gritante desigualdade,
como já foi referido.
“Os ucranianos foram atropela-
dos”, sintetiza, ao PÚBLICO, um
militar com vasta experiência em
missões internacionais.
TANQUES
Um ícone = 100 activos
858 2927
ARTILHARIA
Um ícone = 500 activos
1818 4894
MÍSSEIS BALÍSTICOS
Um ícone = 10 activos
90 150
PÚBLICO
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10 • Público • Sábado, 26 de Fevereiro de 2022
Guerra na Ucrânia
O humorista foi eleito com 73% dos votos
Zelenskii, de Presidente improvável
a símbolo da resistência de um país
Perfil
Alexandre Martins
Ao permanecer em Kiev
após a invasão russa, o
Presidente é hoje um líder
respeitado, um cenário
impensável há três anos
E
m menos de três anos, o
conto de fadas do cidadão
ucraniano Volodimir
Zelenskii — um humorista
que Ængia ser Presidente do
seu país numa série de
comédia, e que acabou por ser
eleito para o cargo na vida real —
transformou-se num pesadelo que
o atirou para o centro de um dos
períodos mais dramáticos da
História moderna da Europa.
Zelenskii, de 44 anos,
desempenhou o papel mais
importante da sua vida na noite de
quarta-feira, quando surgiu na
televisão para avisar que o país
estava prestes a ser atacado e
invadido pela Rússia. Ao apelo
emocionado, em russo, para que
Vladimir Putin recuasse à última
hora, o Presidente ucraniano
juntou uma declaração de firmeza
que fez títulos um pouco por todo
o mundo: “Quando nos atacarem,
verão as nossas caras, e não as
nossas costas.”
A cena não podia ser mais
implausível aos olhos dos
ucranianos até há bem pouco
tempo, quando Volodimir
Oleksandrovich Zelenskii, um
humorista de sucesso no seu país,
brilhava na televisão no papel de
Vasil Holoborodko, um modesto
professor de História, do
secundário, que chega a
Presidente da Ucrânia por causa
de um vídeo viral em que surge a
fazer um discurso inflamado
contra a corrupção.
Antes de ter chegado à política,
o momento mais crítico que
Zelenskii teve de gerir aconteceu
num dos episódios da série “Servo
do Povo”, em que o Presidente
ficcional da Ucrânia impede o seu
Governo de criar uma conspiração
para travar um protesto.
Forçado a aumentar o imposto
sobre a venda de bebidas
alcoólicas por pressão do Fundo
Monetário Internacional, o
Governo inventa uma queda
iminente de um meteorito e
consegue desmobilizar a
Quando nos
atacarem, verão as
nossas caras, e não
as nossas costas
Volodimir Zelenskii
Presidente ucraniano, eleito em
2019
manifestação. O diálogo que se
segue — quando o Presidente
Holoborodko pergunta aos
ministros, furioso, como é que
tinha surgido aquela ideia da
queda de um meteorito — levanta
o véu sobre a permanente tensão
entre a Ucrânia e os seus vizinhos.
“Eu sugeri levantar a questão
das duas línguas”, diz um dos
ministros, referindo-se ao difícil
debate, na Ucrânia, sobre a
adopção do russo como segunda
língua oÆcial nacional. “Também
não é preciso chegar a extremos”,
responde o primeiro-ministro.
Da sátira à política
Nascido numa cidade no sudeste
da Ucrânia, em 1978, numa família
judia que falava russo em casa,
Zelenskii trocou uma possível
carreira de advogado ao
abandonar a universidade, em
meados da década de 1990, pela
paixão do humor e da
representação.
Com o seu colectivo de comédia,
o Kvartal 95, fez parte da geração
ucraniana que começou a pôr em
causa a herança soviética que fazia
REUTERS
da sátira política um pecado
capital.
“A melhor forma de garantir que
os ucranianos não se conformam
com o estado das coisas é
apresentar-lhes o absurdo da
política num novo formato”, disse
Zelenskii, em 2016, num artigo da
revista Foreign Policy sobre o
sucesso da sua série.
Eleito em Abril de 2019 com 73%
dos votos, numa segunda volta em
que se apresentou como o
candidato de uma Ucrânia aberta
e virada para o Ocidente — contra
o candidato do sistema, o oligarca
Petro Poroshenko —, Zelenskii não
teve tempo para saborear a
surpreendente vitória e a sua
meteórica ascensão na política.
Desde que a Ucrânia se tornara
independente, em 1991, após o
desmembramento da União
Soviética, nenhum outro
Presidente ucraniano tinha obtido
um mandato tão expressivo e tão
claro: à boleia de um esmagador
apoio popular, Zelenskii assumiu a
tarefa de encerrar o viveiro de
oligarcas em que o país se tinha
transformado nas três décadas
anteriores, e de “deixar para trás
os tempos de escuridão”, como
prometera na campanha eleitoral.
No caminho de Trump
Logo no arranque do mandato, em
Maio de 2019, o inexperiente
Presidente ucraniano foi arrastado
para a conturbada e impiedosa
política de bastidores nos Estados
Unidos.
Nessa altura, o então Presidente
norte-americano, Donald Trump,
tentava ligar a mal explicada
contratação do Ælho de Joe Biden
por uma empresa ucraniana, a
Burisma, a alegações de corrupção
que nunca tinham sido provadas —
o que, por associação, envolveria o
nome do seu adversário político
num possível escândalo de
corrupção internacional.
A trama seria exposta em
Setembro de 2019, numa queixa
de um funcionário do Governo
norte-americano que daria origem
ao primeiro processo de
destituição de Trump, em
Dezembro do mesmo ano (Trump
seria absolvido da acusação no
julgamento no Senado, em Janeiro
de 2020).
A transição de Zelenskii de
humorista para Presidente da
Ucrânia, entre 2019 e 2020, foi
angustiante e reveladora das
diÆculdades que aguardavam um
líder inexperiente ensanduichado
entre a Rússia de Putin e a
América de Trump.
Durante dois meses, entre
meados de Julho e 11 de Setembro
de 2019, a Administração Trump
congelou um pacote de quase 400
milhões de dólares em ajuda
militar à Ucrânia, previamente
aprovado pelo Congresso dos
EUA, numa altura em que os
combates prosseguiam nas
províncias do Donbass, contra os
separatistas pró-russos.
Dois anos mais tarde, em Ænais
de 2021, o início das manobras
militares russas na fronteira com a
Ucrânia apanhou o Presidente
ucraniano no seu pior período em
termos de popularidade.
Com o passar do tempo, a
imagem do líder que ia Ænalmente
salvar a Ucrânia de uma
permanente tensão consigo
própria e com a Rússia — e, pelo
caminho, ia livrar a Ucrânia dos
oligarcas — foi-se perdendo num
misto de inacção, lentidão nas
medidas de combate à corrupção
e numa obsessão com os seus
índices de popularidade.
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Público • Sábado, 26 de Fevereiro de 2022 • 11

Invasão da Ucrânia abala ordem internacional

ao plano geopolítico.
Análise “As elites chinesas operam de um
modo em que a política prevalece
sobre as vantagens económicas”,
diz também ao Guardian Zeno
Leoni, professor no King’s College,
Jorge Almeida Fernandes
de Londres. “Até agora, o objectivo
atenção o comportamento
americano perante a Rússia,
consciente de que a reacção
americana em caso de ataque a
Taiwan seria muito mais forte do
que no conÇito ucraniano. Noutra
versão, resume um director da
antiga Guerra Fria. Nos últimos
anos houve tentativas falhadas de
interpretar a competição
sino-americana com a “nova
guerra fria”. Desintegrada a União
Soviética, ela regressava pela mão
da China. Era uma comparação
quatro décadas, que dividiu todos
os continentes entre dois blocos
político-ideológicos. A ideia da
“nova guerra fria” era apelativa,
como todas as analogias históricas,
mas extremamente perigosa: tende
a interpretar à luz de um mundo

A
invasão da Ucrânia terá
uma inÇuência nas
relações de forças à
escala mundial e não
apenas na Europa.
Moscovo forçou a coesão
do bloco ocidental, que defende a
actual ordem internacional. Por
outro lado, tornou-se patente que
duas grandes potências, a China e a
Rússia, pretendem transformar
essa ordem. Mais do que as
reacções imediatas, teremos de
aguardar os ainda incógnitos
efeitos da invasão a médio e longo
prazo.
Deste ponto de vista, devemos
interrogar a atitude chinesa,
caracterizada por contradições e
Çutuações. Como se sabe, a China
defende a integridade e a soberania
nacionais como princípios
sagrados. É a sua posição pública
no conÇito russo-ucraniano. No
entanto, logo a seguir a uma clara
reaÆrmação dos princípios pelo
MNE chinês, uma porta-voz do seu
ministério negava a existência de
invasão, reduzida a uma “acção
especial da Rússia”.
Numa conversa telefónica entre
Xi Jinping e Vladimir Putin, na
sexta-feira, o líder chinês reaÆrmou
que Pequim “respeita a soberania e
a integridade territorial de todas as
nações”. O russo respondeu de
uma forma que agradará a Xi:
“Queremos travar conversações de
alto nível com a Ucrânia.” São
palavras para satisfazer a
recomendação chinesa de resolver
o conÇito por meios diplomáticos.
Sublinhando as Çutuações da
posição de funcionários ou dos
jornais chineses, o correspondente
do Guardian em Pequim diz que
estas narrativas mostram “a corda
bamba em que a China caminha”.
A sinóloga Bonny Lin, directora
dos assuntos chineses no Centro de
Estudos Estratégicos e
Internacionais, de Washington,
tem uma opinião mais clara: “Para
lá de todos os esforços para
conciliar os seus variados
objectivos, todas as indicações dão
a entender que, neste momento, a
China dará prioridade à sua relação
com a Rússia.”
A invasão da Ucrânia embaraçou
Pequim, que não se quer ver
apanhada numa armadilha russa.
Mas apontou as culpas para os
adversários comuns, os EUA
e a NATO. Ou seja, deu prioridade
da China tem sido enfraquecer a
ordem liberal liderada pelos EUA.
Isto signiÆca que pode aceitar
algumas perturbações e continuar
a apoiar a Rússia em nome do
objectivo principal.”
No entanto, se houver risco de
escalada de tensões militares na
Europa, a China poderá mudar de
atitude, numa região vital para os
seus interesses económicos. Não
há nenhum bloco sino-russo. Não é
uma aliança, é um “casamento de
conveniência”, em que a Rússia é o
parceiro pobre.
Reporta o correspondente,
citando um alto funcionário sob
anonimato: “Estamos no meio de
uma maciça mudança [geopolítica]
e, se olharmos em volta, muitos
países foram aventureiros nos
últimos anos. Para a China, é uma
oportunidade e igualmente um
desaÆo.”
Claro que Pequim estuda com
Xinhua, a agência oÆcial chinesa, a
China deu apoio moral e emocional
a Moscovo, mas “sem pisar os pés”
dos Estados Unidos e da União
Europeia.
“A credibilidade americana está
muito mais em jogo na Ásia, na
questão de Taiwan, do que na
Europa por causa da Ucrânia”,
escreve o correspondente da
Economist na Ásia. “Perder Taiwan
signiÆcaria o Æm da ordem de
segurança que a América lidera
desde a II Guerra Mundial, e ceder
à China o papel de potência
incontestável na região.” Observa,
no entanto: “Até agora, mais do
que ilustrar a sabedoria da política
externa de Xi, a guerra da Ucrânia
mostrou os seus limites.”
A ilusão de outra guerra fria
Um dos aspectos mais
interessantes desta crise é a
tentação de nela ver a sombra da
disparatada com um conÇito de antigo um conÇito novo, a
rivalidade sino-americana, o que
leva a uma espécie bem conhecida
de cegueira.
Agora, a tentação volta a ser
grande. Já não se pensa na China,
onde o jogo é outro, mas no
regresso de Moscovo e do
imperialismo russo. Mas, uma vez
Se houver risco de mais, tudo é diferente. Porque a
Rússia já não é a União Soviética.
escalada de tensões O politólogo francês Phillippe de
Lara fala numa “situação análoga à
militares na Europa, da Guerra Fria” (ver Telos-eu, 24 de
Fevereiro). E logo esclarece: “A
a China poderá conÆguração presente é
mudar de atitude profundamente diferente: já não
estamos num confronto entre dois
numa região vital blocos separados por uma guerra
ideológica e uma rivalidade
para os seus imperial.”
Em primeiro lugar, a Rússia já
interesses não é um regime ideológico e
económicos muito menos um modelo, mesmo
se os autoritarismos continuam a
MARK RALSTON/POOL/REUTERS
atrair pessoas. Os russóÆlos
ocidentais são hoje muito mais
movidos por dinheiro do que por
qualquer ideologia. “Já não há
partido comunista, mas muitos
compagnons de route”.
A União Soviética era um
verdadeiro império, “enquanto a
Rússia de Putin é um sonho de
império”, que procura renascer
invadindo a Ucrânia.
“Territorialmente diminuída,
demograÆcamente exangue, com
uma estrutura económica de
terceiro-mundo, a Rússia só tem a
seu favor o estatuto de potência
nuclear e um exército reconstruído
a alto preço.”
A ideia das sanções é elucidativa.
Jamais seria possível aplicar
sanções económico-Ænanceiras à
URSS, cujo bloco funcionava de
forma quase autárcica. Hoje, a
Rússia faz parte do sistema
Ænanceiro mundial e está integrada
na globalização.
Vladimir Putin justiÆca a
agressão com a grande mentira da
ameaça da NATO. A desproporção
de forças militares na Europa não
favorece a NATO; bem pelo
contrário, a superioridade é
marcadamente russa. A ameaça
que Moscovo verdadeiramente
temeria seria a integração da
Ucrânia na União Europeia, muito
mais perigosa do que a NATO para
a estabilidade do regime russo.
Jornalista
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12 • Público • Sábado, 26 de Fevereiro de 2022

Guerra na Ucrânia

O avanço das tropas russas ao segundo dia de invasão

O Exército russo continua a atacar a Ucrânia em três frentes: a norte, ao longo da fronteira com a Bielorrússia; a 1. Responsáveis ucranianos
leste, na região do Donbass já controlada em parte por separatistas apoiados por Moscovo; e pelo sul, da anunciam a captura de
Crimeia. O avanço faz-se em direcção à capital, Kiev, onde forças russas entraram ontem Tchernobil pelos russos

Ataques 2. Combates intensos pelo

controlo da base aérea militar
Territórios ocupados pela Rússia de Hostomel, alvo de ataques
BIELORRÚSSIA contínuos por ar com
Rotas de invasão helicópteros. A Rússia anuncia
a sua captura
População Kursk
3. Todos os soldados ucranianos
que defendiam a pequena ilha
6 12 Zmiinyi, ou Ilha das Serpentes,
1 D no mar Negro, são mortos. O
POLÓNIA Vesiolaia Lopan
Tchernobil 14 8 Presidente ucraniano,
Soloti Volodimir Zelenskii, anuncia
G 5 que irão receber o título de
2 3.000.000 RÚ SSIA
C Kharkiv “Heróis da Ucrânia”, a maior
Kiev 4 A 9 honra que um líder ucraniano
13 pode conceder
720.000
H 1.400.000
Lviv E 4. Fortes explosões abalam Kiev.
E S LO VAQ U I A UC R ÂN I A 980.000 F Lugansk Pelo menos um avião militar
russo é abatido. Tropas
9 Dnipro ucranianas tentam repelir o
Donetsk avanço do Exército russo nas
estradas de acesso à cidade
910.000
HUNGRIA
720.000 11 5. Forças russas entram no
B 7 distrito de Obolon, um
Zaporizhia
M O L D O VA subúrbio a poucos quilómetros
1.000.000
a norte do centro de Kiev
10
3 6. Combates intensos, com
registo de vários mortos, à
ROMÉNIA Odessa
entrada de Chernihiv, a norte,
situada a cerca de 130
CRIMEIA quilómetros da capital, Kiev
135 km
7. Combates intensos nos
arredores de Melitopol, onde
SÉRVIA Mar Negro uma base área é bombardeada
por aviões russos

Fontes: NYT; El País; The Guardian

Tropas russas avançam tempos idos que poucos acreditariam anos, o marido, o Ælho e o cão, esta-
António Rodrigues
voltar a ouvir na Europa do pós-Guer- vam ali desde manhã a tentar arranjar

Kiev, cidade em “Como podemos estar a

viver isto no nosso tempo?
ra Fria. “Como podemos estar a viver
isto no nosso tempo? Putin devia
arder no Inferno com toda a sua famí-
espaço nalgum comboio, sem suces-
so. “É perigoso furar uma multidão
com uma criança. O cão tem medo.
Putin devia arder no
guerra: “Mamã, Inferno”, exclamava uma
habitante da cidade
lia”, exclamava Oxana Gulenko, var-
rendo os vidros quebrados das jane-
las, num prédio de dez andares junto
Para ser sincera, estamos exaustos”,
contava.
“Os civis estão aterrorizados com

vamos morrer?” ao aeroporto. uma possível escalada do conÇito”,

O
presidente da Câmara de
Kiev, Vitaliy Klitschko, reco-
nhecia ontem que a situação
na capital ucraniana é, “sem
exagerar, ameaçadora” e
que a madrugada de hoje se
SERGEY DOLZHENKO/EPA
antevia difícil pela proximidade das
tropas russas. O Governo russo anun-
ciou que as suas forças haviam toma-
do o controlo do aeroporto militar de
Hostomel, 35 km a norte de Kiev, base
para um ataque sobre a capital e o
objectivo de derrubar o Presidente
Volodimir Zelenskii.
“Ouvem-se tiros e explosões em
alguns bairros. Sabotadores já entra-
ram em Kiev”, afirmou Klitschko,
citado pela Reuters. Numa mensagem
publicada no Telegram, o presidente
da câmara referiu que há equipas de
segurança em todas as pontes de
Kiev, tentando evitar que sejam alvo
desses “sabotadores”.
Pelo segundo dia consecutivo, as
sirenes de raides aéreos ecoaram pela
Os restos de um avião russo abatido durante a noite em Kiev cidade, recuperando memórias de
Oxana Gulenko estava, quando o
ataque aconteceu, escondida num
abrigo antiaéreo por baixo de um dos
prédios do bairro, para onde fugiram
centenas de pessoas depois do aviso
televisivo de bombardeamentos.
“As crianças estão apavoradas, cho-
ram e perguntam: ‘Mamã, vamos
morrer?’”, conta Alla, uma mulher de
40 anos, à repórter da Reuters.
O Presidente ucraniano, Volodimir
Zelenskii, denunciou os bombardea-
mentos russos que atingem zonas
civis, “terríveis explosões” que nunca
se tinham visto desde a II Guerra
Mundial. “A última vez que a nossa
capital experimentou algo assim foi
em 1941, quando foi atacada pela Ale-
manha nazi”, disse, por seu lado, o
ministro dos Negócios Estrangeiros,
Dmitro Kuleba.
Tentativa de fuga
Na estação, milhares buscavam forma
de embarcar para fugirem da cidade,
muitos não conseguiam. Maria, de 30
disse, em conferência de imprensa
em Genebra, a porta-voz do Alto
Comissariado das Nações Unidas
para os Direitos Humanos. “Muitos
deles estão a tentar deixar as suas
casas e a refugiarem-se da melhor
forma possível”, acrescentou Ravina
Shamdasani.
O Governo ucraniano actualizou
no dia de ontem o balanço dos mor-
tos desde a invasão russa para 137,
total aquém do real, porque, como
referiu Shamdasani, “há uma guer-
ra de informações”, e como andam
a circular muitas mentiras, é difícil
contabilizar o número exacto. Há
também notícias de que os jornalis-
tas estão a ser impedidos de traba-
lhar na zona de conÇito, o que diÆ#
culta ainda mais o apuramento da
verdade.
No meio do medo do ruído dos tiros
e das explosões, a história dos heróis
da ilha das Serpentes (Zmiinyi) — os 13
soldados ucranianos que mandaram
o navio de guerra russo “levar no tra-
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Público • Sábado, 26 de Fevereiro de 2022 • 13

Instalações militares e de defesa aérea da Ucrânia alvo de ataques

Imagens de satélite tiradas antes do início da ofensiva mostram alguns
8. Forças russas assumem o dos locais atingidos pelos ataques aéreos.
controlo da cidade de Sumy,
estrategicamente localizada
numa estrada que conduz a
Kiev do leste

9. Aperta-se o cerco russo a

Kharkiv, a segunda maior
cidade da Ucrânia, com um
total de 1,4 milhões de
habitantes

10. A luta prossegue nos arredores

de Kherson, junto ao rio
Dnieper, depois de tropas
russas terem invadido a partir
da Crimeia

11. Combates intensos também à A Kharkiv B Zaporizhzhia C Zhytomyr D Chernihiv

volta de Mariupol, com o seu Edifício residencial em Chuhuiv Aeródromo de Melitopol Aeródromo de Ozerne Aeródromo de Nizhyn
porto estratégico, perto da
linha de contacto que separa
as regiões do Leste controladas
por separatistas russos das
regiões ainda sob controlo de
Kiev. Há registo de novos
desembarques anfíbios de
tropas russas junto à cidade

12. Forças russas vindas da

Bielorrússia tomam a cidade de
Konotop, a norte

13. Há relatos de combates

intensos perto da estrada
principal que liga Zhitomyr a
Kiev

14. Combates significativos perto E Khmelnytskyi F Donetsk G Kiev H Khmelnytskyi

da cidade de Ivankiv, localizada
a 65 quilómetros a noroeste de Aeroporto de Khmelnytskyi Aeroporto de Kramatorsk Aeroporto de Hostomel Unidade militar em Starokostiantyniv
Kiev

Infografia | PÚBLICO

seiro” e morreram de armas na mão

vão ser condecorados post mortem
como heróis da Ucrânia pela sua bra-
vura, anunciou o Presidente Volodi-
mir Zelenskii — e dos milhares que se
apresentam para ajudar na resistên-
cia, dão alento e orgulho aos ucrania-
nos, abalados por uma invasão que
parecia impensável, mesmo depois
do que se passou na Crimeia em
2014.
Na estação de comboios, mesmo
“Não precisamos de ter heróis mortos”
Em Poltava não aconteceu nada
Testemunho
o durante a noite. Anteontem acordei
com os aviões a passarem por cima
das nossas cabeças, quando
rebentou a situação. Hoje já não,
felizmente não houve nada. Estava a
Alexandre Pinto
pensar que hoje será um dia
acontecer guerra que podemos lá
estar meses, auto-suÆcientes. Vou
fazer a vontade à família e passar lá a
noite e ver o que é que se passa esta
noite. Toda a gente está à espera que
Kiev seja tomada hoje à noite. Não
vejo outra opção.
meandros de tudo isto. Deixa de ter
a escola, deixa de ter tudo, Æca
conÆnada a casa e agora, com o
recolher obrigatório, ainda pior.
Para já, não pondero ir para
Portugal. A não ser que as coisas aqui
tenham um volte-face muito, muito

no desespero de uma multidão de
milhares de pessoas que procuravam
arranjar um bilhete de saída de uma
cidade atacada, as palmas de entu-
siasmo soaram quando um esqua-
drão de soldados passou por ali e
ecoou de forma emocionada esse gri-
to de “Glória à Ucrânia!”, a que os
militares responderam com um “Gló-
ria aos heróis!”, a resposta tradicional
nestes casos.
“É importantes que toda a gente
mantenha um espírito forte. Esta é a
nossa terra. Não desistiremos”, escre-
veu no Facebook a vice-ministra da
Defesa ucraniana, Ganna Malyar.
“Como é que se empreende uma
guerra contra um povo pacíÆco”, per-
guntava incrédula Viktoria, de 35
anos, à jornalista da Reuters. A seu
lado, dormiam em cima dos seus
casacos de Inverno os seus Ælhos de
cinco e sete anos.
H
oje [ontem] não dormi
muito, porque realmente
estava à espera que alguma
coisa acontecesse.
Entrámos nesta situação de
recolher obrigatório e é um
silêncio surdo durante a noite.
Quando ouvia passar um carro
destacado que estava a quebrar a lei,
já toda a gente pensava que era o
barulho de um avião que ia a passar
ou qualquer coisa que se parecesse.
É um bocadinho stressante.
Eu não estou em Kiev agora, estou
em Poltava. Foi para cá que vim ao
início, depois desenvolvi um
negócio e abri também escritórios
em Kiev, tenho casa lá e outra aqui.
Ando sempre para trás e para a
frente. Vim-me embora de Kiev
antes de começar esta confusão
toda e agora não penso ir para lá.
Nem há maneira de entrar.
complicado. Agora entendi que o
Putin aceitou negociar com a
Ucrânia, não sei se é ganhar tempo
ou se será algo de positivo.
Mas não parece: os tanques estão
a três quilómetros do centro da
cidade, não sei o que é que há aqui
para negociar. Estava a ler que
também o Putin estava a dar um
conselho aos soldados ucranianos
para que tomassem o poder pelas
mãos deles, que iria evitar uma data
de problemas, de maneira que estas
negociações parecem fantochada.
A minha família está um bocado
nervosa. Hoje vou ter de lhes fazer a
vontade e vamos para a casa do
campo, a 20 quilómetros daqui,
onde estão os pais da minha mulher,
para que a família passe a noite toda
junta. É uma zona muito fora da
cidade, há bunkers, há poços de
água, batatas e cebolas. Pode
Nos supermercados está tudo
vazio. A minha esposa hoje foi ao
supermercado e mandou-me duas
fotograÆas: passaram lá e limparam
tudo. Por que carga de água é que
alguém compra cinco ou seis quilos
de sal? Nos multibancos estão a dar
só 3000 hrivnia por cartão, o
equivalente a menos de 100 euros. É
muito pouco. As bombas de gasolina
só estão a autorizar abastecer 20
litros por carro — com isso, alguns
carros fazem 200 quilómetros, no
meu caso só fazia 100. Há Ælas
enormes, de quilómetros. É muito
difícil. Uma coisa que me preocupa
bastante é a minha Ælha de 13 anos,
porque é muito sensível, é muito
menina. Olha para a televisão, vê
umas quantas barbaridades e
começa a chorar e a perguntar
porque é que há gente tão má no
mundo. É muito difícil explicar os
negativo. O que me assusta mais
neste momento não são
propriamente os tiros — é a defesa
que a Ucrânia tem, que é muito fraca.
Fico abismado como é que aparecem
tanques no centro da cidade de Kiev.
De onde é que eles vieram? Não
vieram a voar, não foram lançados
por aviões. Onde é que estão as
defesas? Estas dezenas de
helicópteros a sobrevoar e a atacar a
30km da cidade... Onde é que está o
sistema aéreo defensivo? Como é que
isto aconteceu? A permeabilidade é
grande.
Nem pensava ver tanques nas
ruas. Estamos no século XXI. É uma
coisa que realmente não faz sentido.
A Ucrânia foi abandonada por toda a
gente e está sozinha.
Testemunho recolhido por
Cláudia Carvalho Silva
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14 • Público • Sábado, 26 de Fevereiro de 2022

Guerra na Ucrânia
DADO RUVIC/REUTERS

Sanções

“Contra-ataque”
económico do
Ocidente pode ser
lento a atingir o alvo
leo, que entretanto se registou nos
Sérgio Aníbal
mercados, a economia reduziu o
endividamento com o exterior a um
Não pondo a hipótese
valor de apenas 32% do PIB, com a
de deixar de comprar dívida pública a Æcar-se pelos 17,9%
petróleo e gás à Rússia, do PIB.
Europa e EUA enfrentam Depois, houve o cuidado de apro-
veitar parte das receitas provenientes
mais dificuldades
da venda de petróleo para fortalecer

B
eneÆciando da subida do pre-
ço do petróleo e da adopção
de políticas macroeconómi-
cas prudentes durante os
últimos anos, a economia
russa está agora mais bem
preparada para enfrentar as sanções
impostas pelas potências ocidentais
e, pelo menos, adiar os efeitos nega-
tivos. No entanto, há armas ainda por
usar pela Europa e pelos EUA com o
potencial para provocar danos mais
poderosos e imediatos.
Quando anunciaram as sanções
com que pretendem responder ao
ataque militar da Rússia à Ucrânia, os
líderes ocidentais não tiveram proble-
mas em elevar as expectativas em
relação ao impacto das medidas
tomadas. Ursula van der Leyen disse
que iriam “suprimir o crescimento
económico russo, aumentar os custos
de Ænanciamento e aumentar a inÇa-
ção” e Joe Biden acrescentou que
iriam “impor custos severos à econo-
mia russa” e “cortar para metade as
suas importações de tecnologia”,
entre outros efeitos pesados.
Do outro lado, contudo, são vários
os indicadores que revelam que a
Rússia não irá, desta vez, ser apanha-
da de surpresa pelas sanções impos-
tas. Em 2014, na sequência da anexa-
ção da Crimeia, os EUA e a UE tam-
bém impuseram diversas sanções
económicas à Rússia, que ainda se
mantêm em vigor, e o resultado foi,
as reservas, quer do banco central,
quer do fundo soberano. Neste
momento, as reservas de divisas
estrangeiras acumuladas ascendem a
600 mil milhões de dólares (535 mil
milhões de euros), cerca de 40% do
PIB, o que dá às autoridades do país
uma maior capacidade, face a 2014,
para defender a moeda, sem ter de
subir de forma radical as taxas de
juro.
Outra política importante do Kre-
mlin nos últimos anos tem sido a
redução da dependência da econo-
mia face ao dólar, passando alguns
dos compromissos Ænanceiros e algu-
mas das facturas para euros, rublos e
mesmo ouro.
O dilema das sanções
Do lado da Europa e dos EUA, existe
a esperança de que algumas das novas
medidas representem um golpe cer-
teiro em áreas fulcrais da economia
russa. Para além do alargamento do
número de oligarcas, empresas e ban-
cos que podem ver os seus activos
congelados no Ocidente, o sector
Ænanceiro russo e as grandes empre-
sas do país vão ter o acesso a crédito
nos mercados Ænanceiros internacio-
nais (com Wall Street e a City londrina
em destaque) bloqueado. Economia russa tem vindo, desde 2014, a preparar-se para uma nova vaga de sanções
Esta medida pode vir, de forma
progressiva, a diÆcultar a operação,
quer dos grandes bancos russos, Accionista russo do Finantia na lista de sanções do Reino Unido e EUA
como o Sberbank ou o VTB, quer de

combinado com a descida no preço
de petróleo que se registou na altura,
a entrada da economia russa em
recessão, com uma subida da inÇação
e uma depreciação do rublo que
endureceram fortemente as condi-
ções de vida no país. De acordo o FMI,
em 2015, as sanções contribuíram
para reduzir o PIB russo entre 1% e
1,5% no curto prazo e 9% no longo
prazo.
Terá sido por isso que, desde aí, a
Rússia adoptou políticas destinadas
a reduzir o risco de ocorrência de
cenários semelhantes no futuro. Com
a ajuda da subida do preço do petró-
O
empresas dos sectores petrolíferos e
metalúrgicos, que estão habituados
a suprir as necessidades de Ænancia-
mento junto de investidores interna-
cionais.
Outro tipo de novas sanções em
que o Ocidente deposita esperanças
é a limitação das vendas de bens de
alta tecnologia e farmacêuticos. Cer-
ca de 45% das importações feitas
pela Rússia destes produtos tem
origem na UE (e 6% nos EUA), pelo
que um corte completo deste Çuxo
pode criar constrangimentos, quer
ao nível do consumo, quer na pró-
pria produção de bens por parte das
banco russo VTB, que
detém 12,2% do banco
português Finantia (dados
do final de 2020, os mais
recentes), é uma das entidades
já visadas pelas sanções a
aplicar pelo Reino Unido e pelos
EUA na sequência da invasão da
Ucrânia. O controlo do banco
português pertence à Finantipar,
ligada a António Guerreiro (com
63%). O VTB, um dos maiores
bancos russos e
maioritariamente controlado
pelo Estado, é um accionista de
longo prazo da instituição
financeira criada em 1992, ligada
à banca corporativa e de
investimentos. De acordo com o
próprio banco, os mercados de
leste europeu são um dos seus
palcos de operação.
Na eventualidade de sanções
por parte da União Europeia,
segundo noticiou o Expresso
com base numa fonte do banco,
não identificada, isso poderia ter
consequências ao nível da
distribuição de dividendos, mas
também criar dificuldades numa
eventual venda da posição. O
banco tem um conselho
estratégico, que funciona como
órgão de aconselhamento, onde
têm assento representantes dos
accionistas. No caso do VTB,
são Igor Souvorov, Alexei
Mitrofanov e Riccardo Orcel,
sendo este último, de acordo
com o Expresso, um cidadão
espanhol com funções de topo
no VTB. O vice-presidente e
chairman do VTB, Denis
Bortnikov, também é alvo de
sanções a título pessoal.
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empresas russas.
Em qualquer dos casos, os efeitos
destas medidas, enquanto as autori-
dades russas tiverem os meios Ænan-
ceiros para assegurar a estabilidade
macroeconómica no país e puderem
contar com a China como alternativa
aos negócios com o Ocidente, tendem
a ser sentidos de forma progressiva.
Este contexto mais favorável per-
mite à economia russa, principalmen-
te tendo em conta que a Rússia conti-
nua a exportar petróleo a preços
(cada vez mais) elevados, resistir
melhor ao reforço das sanções agora
decretado pelos EUA, UE e Reino Uni-
do. Os impactos negativos não serão
evitados (e a economia russa manterá
certamente as debilidades estruturais
que a têm limitado a ritmos de cres-
cimento lentos), mas a entrada numa
situação de ruptura pode demorar
tempo a surgir. Certamente mais tem-
po do que aquele que é previsível
para a deÆnição da situação militar
no terreno.
No entanto, há medidas que não
fazem neste momento parte do paco-
te de sanções e que poderiam ajudar
a produzir um choque mais imediato
na economia russa.
A nível Ænanceiro, bloquear o aces-
so da Rússia ao sistema bancário
SWIFT — o principal sistema de comu-
nicação que os bancos utilizam para
realizar transacções transfronteiriças
— poderia ter um impacto severo na
capacidade de as instituições Ænan-
ceiras russas continuarem a funcionar
normalmente. Estudos feitos em 2014
pela Rússia, quando se pôs também
a hipótese de tomar esta medida (não
se avançando por oposição da Europa
e dos EUA), estimavam que poderia
conduzir a uma perda de 5% no PIB
do país.
E, depois, a derradeira arma eco-
nómica contra a Rússia seria o blo-
queio para a Europa e para os EUA
das vendas de petróleo e de gás natu-
ral da Rússia. O petróleo representa
neste momento 47% do total das
exportações russas e o gás natural
6%, e a Europa é, de longe, o principal
destino. Cerca de 70% das exporta-
ções da Rússia para a Alemanha são
de produtos energéticos. Principal-
mente ao preço a que estão actual-
mente, esta é uma receita de que a
economia russa não pode abdicar. E
encontrar alternativas à Europa como
cliente, como a China, tem a diÆcul-
dade de exigir mudanças nas infra-
estruturas que podem não ser possí-
veis de concretizar no curto prazo.
O problema, para a Europa e EUA,
é que estas medidas — as que mais
podem penalizar a Rússia — são tam-
bém aquelas que mais custos podem
implicar para si próprios. Os líderes
europeus têm receio do impacto que
um bloqueio à Rússia teria no funcio-
namento global do SWIFT. E, acima
de tudo, admitem que a dependência
energética é de tal forma signiÆcativa
que deixar de comprar petróleo e gás
à Rússia, mesmo em tempo de guer-
ra, não é ainda uma possibilidade.
Internacionalização
Empresas portuguesas na Ucrânia
dão prioridade ao apoio humanitário
Victor Ferreira
muito cedo para perceber que
É
impacto terá a invasão da
Ucrânia pela Rússia nos inte-
resses económicos de empre-
sas portuguesas, pelo que a
urgência está de momento na
questão humanitária e menos no
aspecto económico. Em síntese, esta
é a preocupação de empresas nacio-
nais que têm negócios na Ucrânia,
como a Parfois, que tem oito lojas
naquele país, nomeadamente na
capital Kiev, Odessa e Carcóvia.
Em declarações ao PÚBLICO, a
equipa de gestão da empresa portu-
guesa aÆrma que “a situação da Par-
fois no país era totalmente estável
até ao momento de explosão da
guerra”. “Nestes momentos, median-
te um panorama de tal gravidade
será prematuro detalhar os próximos
passos ao nível da operação. A
empresa está atenta ao desenrolar
dos acontecimentos e à situação
humanitária.”
Apreensão é o sentimento na Cor-
ticeira Amorim, que mantém rela-
ções comerciais quer com a Ucrânia,
quer com a Rússia. Ao PÚBLICO a
administração diz que acompanha
“atentamente nesta altura, e com
evidente apreensão, o evoluir do
cenário naquela zona do globo”. E,
embora se tema desde já impactos
económicos até pela via da desvalo-
rização do rublo, a prioridade é
apoiar quem trabalha para o grupo
Cadeia de abastecimento
“Preço do leite e da carne tem obrigatoriamente de subir”
Victor Ferreira
A
guerra na Ucrânia vai
repercutir-se na carteira
dos consumidores portu-
gueses, dada a importân-
cia que aquele país tem
no fornec imento de
cereais e óleos usados na alimenta-
ção da pecuária.
Mais dia, menos dia, dizem pro-
dutores ao PÚBLICO, os preços do
leite, da carne e mesmo dos ovos
terão de subir, visto que “os preços
praticados hoje não cobrem os cus-
tos de produção”, sendo o conÇito
entre Rússia e Ucrânia uma espécie
de “gota de água” que esgotou a
capacidade de encaixar mais subi-
das nos custos de produção.
Idalino Leão, que assumiu recen-
naqueles países. “Neste momento,
e mais do que qualquer atenção ao
negócio, a nossa preocupação está
centrada na segurança das pessoas.
Temos acompanhado, o mais de
perto quanto possível, a situação de
cada colaborador, nomeadamente,
no território russo, onde temos pre-
sença física. Também mantemos
estreito contacto com os nossos
clientes, nomeadamente, no terri-
tório ucraniano”, garante a empre-
sa.
Apoio aos que querem sair
Apoio aos portugueses que queiram
sair do país é o que envolve a fábrica
ucraniana da Fapomed, empresa do
sector têxtil de Felgueiras, que tem
Corticeira Amorim: preocupação agora é a “segurança das pessoas”
temente a presidência da Federação
Nacional das Uniões das Cooperati-
vas de Leite e Lacticínios (Fenalac),
diz que “o conÇito Rússia-Ucrânia
veio acrescentar ainda mais tensão
e instabilidade ao mercado, propor-
cionando terreno fértil para a espe-
culação bolsista”. Embora as com-
pras sejam feitas com três ou seis
meses de antecedência, no mercado
de commodities como estes cereais
“já está tudo a disparar”. “Preço do
leite e da carne tem obrigatoriamen-
te de subir”, conclui.
Cereais encarecem
Alguns destes bens que Portugal
consome vêm da Ucrânia, que for-
nece, por exemplo, 40% do milho
de que o país precisa, segundo
números de Jaime Piçarra, secretá-
Público • Sábado, 26 de Fevereiro de 2022 • 15
uma unidade industrial em
Hoshcha, a cerca de 300 quilóme-
tros da capital ucraniana e que é um
dos pontos de concentração orga-
nizados pela embaixada de Portugal
na Ucrânia.
A fábrica Æca a uns 200 quilóme-
tros a leste da fronteira ucraniana
com a Polónia. No Portal Diplomáti-
co, o Ministério dos Negócios Estran-
geiros aponta para esta unidade,
aconselhando “os cidadãos portu-
gueses a que saiam da Ucrânia atra-
vés das fronteiras terrestres com a
União Europeia, preferencialmente
na direcção da Polónia e da Romé-
nia”. Por isso, “em caso de necessi-
dade”, estes cidadãos poderão utili-
zar a fábrica da Fapomed ou o Hotel
NELSON GARRIDO
rio-geral da Associação Portuguesa
dos Industriais de Alimentos Com-
postos para Animais (Iaca).
Com a Ucrânia fechada e a Rússia
à beira de isolamento económico,
os preços que já vinham acelerando
desde 2020 acentuaram a tendência
de subida. Na última semana, como
exemplo, milho, trigo e cevada
encareceram 15 euros por tonelada,
na soja o aumento foi de 20 euros
por tonelada, e de 150 euros por
tonelada no óleo de soja. Colza e
No milho,
matéria-prima
principal para
fazer rações,
Portugal compra
à Ucrânia 40%
das necessidades
Tamerlan (no Sul, mais perto da
fronteira com a Roménia).
A Fapomed produz dispositivos
médicos de uso único, como batas
cirúrgicas, campos operatórios,
pacotes cirúrgicos personalizados e
equipamentos de protecção indivi-
dual — fatos e acessórios de protec-
ção. De acordo com a AICEP, é uma
das quatro empresas portuguesas
com investimento na Ucrânia, a par
da Parfois, Martifer e Voltalia Portu-
gal, uma empresa de origem france-
sa dedicada às energias renováveis.
Adiantar salários
Em Kiev, há também uma fábrica da
portuguesa Logoplaste, cuja preo-
cupação imediata foi a protecção
dos seus 16 trabalhadores. Ao Jornal
de Negócios, o presidente, Filipe de
Botton, disse: “[A prioridade é] aju-
dar os colegas que trabalham há
mais de dez anos connosco e que se
encontram fechados em casa numa
zona de guerra.”
“A prioridade número 1 foi ver
como podíamos fazer com que rece-
bessem três meses de ordenado
adiantado para poderem suprir todas
as necessidades. Ao mesmo tempo,
pusemos a possibilidade de irem para
a Polónia, onde também temos fábri-
cas e os poderíamos facilmente aco-
lher. O problema é que, agora, estão
impedidos de abandonar quer a cida-
de, quer o país”, disse o gestor.
Portugal tem 374 empresas expor-
tadoras para a Ucrânia.
girassol tiveram aumentos de dez e
15 euros por tonelada, respectiva-
mente.
Face a estes números, garante o
presidente da Fenalac, “é urgente e
fundamental que o poder político
da União Europeia e de cada Estado-
-membro tome medidas para salvar
a produção nacional”. “Há agricul-
tores portugueses a abandonar a
actividade, a abater animais muito
jovens, porque não aguentam
sequer alimentá-los”, garante.
A solução pode passar, em Portu-
gal, por uma “ajuda para aquisição
de alimentos para animais” — por-
que a seca não deixou nada nos
campos —, uma “ajuda para a ener-
gia verde e gasóleo agrícola” e “uma
isenção temporária dos pagamentos
à Segurança Social”.
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16 • Público • Sábado, 26 de Fevereiro de 2022
Guerra na Ucrânia
Lukashenko troca soberania pela sua sobrevivência
Bielorrússia, o país que a Rússia já absorveu
Sofia Lorena
Amanhã há referendo para
formalizar o domínio russo
e legalizar a presença de
armas nucleares no seu país
U
m dia, provavelmente não
muito em breve, a oposição
e a sociedade civil bielorrus-
sas vão prevalecer — é inevi-
tável, os últimos anos mos-
traram a sua força e cora-
gem. Por agora, a maioria dos
analistas descreve a Bielorrússia
como um país ocupado pela Rússia
de Vladimir Putin, com um líder que
trocou a soberania nacional pela sua
sobrevivência. Amanhã, Alexander
Lukashenko vai chamar os bielorrus-
sos a votar num referendo que visa
dar um embrulho de legitimidade a
essa ocupação, legalizando a presen-
ça do Exército russo e, a prazo, a pre-
sença de armas nucleares russas no
país.
“A invasão silenciosa e a ocupação
de facto pela Rússia podem ser o
maior triunfo de Putin na actual cri-
se. Dá aos militares russos a muito
desejada profundidade estratégica”,
aÆrmava há dias Jans Claas Behrends,
historiador no Centro Leibniz de His-
tória Contemporânea, em Potsdam,
ouvido pelo think tank Carnegie
Europe. “A Rússia salvou um autocra-
ta. A Bielorrússia deixou de ser um
Estado-tampão. Está Ærmemente
ancorado no domínio imperial de
Moscovo, e Lukashenko, em tempos
um jogador, está reduzido a um peão
no jogo geopolítico”, descrevia
Behrends, antes do início da inter-
venção militar russa na Ucrânia.
Durante muito tempo, Lukashenko
oscilou oportunisticamente entre
Moscovo e Bruxelas, aproximando-se
a um lado ou a outro, segundo as cir-
cunstâncias. Com as eleições que
tanto a União Europeia como uma
boa parte da população bielorrussa
consideraram fraudulentas, e que
oÆcialmente reelegeram Lukashenko
com 80% dos votos, em Agosto de
2020, tudo mudou. A violenta repres-
são aos protestos, o desvio de um
avião comercial europeu para pren-
der um dissidente e a promoção das
viagens de requerentes de asilo usa-
dos pela Bielorrússia para pressionar
as fronteiras da UE Æzeram o resto.
Moscovo passou a ser o único cami-
nho de Lukashenko, desta vez sem
retorno. Neste contexto, a Bielorrús-
sia servir de plataforma para a ofen-
siva russa de quarta-feira acontece
tão naturalmente como as novas san-
ções anunciadas por Washington e
por Bruxelas contra Minsk.
O Tratado sobre a Criação de Um
Estado da União da Rússia e da Bie-
lorrússia foi assinado em Dezembro
de 1999, estipulando uma colabora-
ção alargada entre dois Estados sobe-
ranos. Na altura, era Lukashenko que
acreditava poder dominar Boris
Ieltsin. Mas a integração, principal-
mente militar, acelerou muito nos
últimos dois anos, com exercícios
que aprofundaram a parceria e a cria-
ção de três centros de treino de com-
bate conjuntos, o ano passado. Em
Novembro, Lukashenko e Putin assi-
naram um decreto de integração
económica e militar (incluindo 28
programas de cooperação que vão do
sector Æscal às questões alfandegá-
rias, passando pela ciência) justiÆca-
do com o contexto de “pressão exter-
na sem precedentes”. “Para a Bie-
lorrússia, o Estado da União é a
prioridade das prioridades”, aÆrmou
Lukashenko.
No dia 20, soube-se que as 30 mil
forças enviadas para os mais recentes
exercícios iam permanecer indeÆni-
damente na Bielorrússia. “Podemos
considerar 20 de Fevereiro como a
BELTA/REUTERS
data da ocupação factual da Bie-
lorrússia”, diz Linas Linkevicius, anti-
go ministro da Defesa e dos Negócios
Estrangeiros da Lituânia, citado pelo
Carnegie Europe. “Já não é possível
distinguir entre as forças russas e bie-
lorrussas”, disse ao jornal The New
York Times o tenente-general Valde-
ramas Rupsys, chefe das Forças
Armadas lituanas, a propósito dos
últimos exercícios ordenados por
Putin e Lukashenko. “Antes, só a for-
ça aérea e os sistemas de vigilância
aéreos estavam integrados, agora
assistimos a uma integração e subor-
dinação sistemáticas das forças da
Bielorrússia às da Rússia”, descreveu
ainda Rupsys.
“Sem disparar um tiro”
Lukashenko precisa de Putin para
sobreviver económica e politicamen-
te. Putin, dependendo das opiniões,
pode querer o controlo absoluto do
país vizinho ou a sua absorção com-
pleta, é uma questão formal. “Num
mês, Putin conseguiu, na prática,
transformar um ex-Estado soviético
numa extensão do território russo, à
vista dos Estados Unidos e da Europa,
sem disparar um único tiro”, escre-
veu no início da semana Yasmeen
Serhan, na revista The Atlantic.
O passo seguinte é a votação mar-
cada para amanhã, um referendo
constitucional para preservar as fun-
ções e a autoridade do chefe de Esta-
do, acabando, ao mesmo tempo, com
os artigos que garantiam a neutrali-
dade da Bielorrússia e a sua obriga-
ção de permanecer livre de armas
nucleares. De acordo com a análise
do jornalista bielorrusso Igor Ilyash
no site openDemocracy, as alterações
são uma forma de Lukashenko asse-
gurar “um poderoso mecanismo para
uma transição autoritária de
poder”.
Assim, a nova Assembleia do Povo
de Toda a Bielorrússia, “um fórum
que reúne os seus apoiantes”, passa-
rá a ter poderes de emergência para
garantir “uma rede de segurança”,
caso “as pessoas erradas cheguem ao
poder”, podendo até, segundo Ilyash,
“remover o Presidente num cenário
de violação sistemática da Constitui-
ção ou de traição, assim como consi-
derar se umas eleições são legítimas”.
Aos 67 anos, Lukashenko, que já alte-
rara a Constituição para se prolongar
no poder, passa a poder governar até
2035, dois mandatos de cinco anos a
partir do Æm do seu actual, em 2025,
passando de futuro a ser esse o máxi-
mo permitido por lei.
Ilyash, e não é o único, sustenta
que estas reformas constitucionais
foram uma das exigências do Kremlin
em troca do apoio a Lukashenko nos
protestos de 2020, os maiores que já
enfrentara. Preocupados com a “cres-
cente rejeição popular” do Presiden-
te entre os bielorrussos, os russos
terão decidido forçar Minsk a expan-
dir os poderes no novo Parlamento,
dando a “elementos pró-russos a
maior inÇuência possível” e tornando
assim “mais previsíveis a política
doméstica e externa do país”.
Em termos práticos e imediatos, o
que os membros da NATO temem é
mesmo a possibilidade de ver forças
nucleares estacionadas na Bielorrús-
sia. Como os últimos acontecimentos
demonstram, não seria preciso
mudar a Constituição para nada dis-
so. Um autocrata não cumpre as leis.
Mas sabendo que o voto só pode ter
um resultado, Lukashenko escolheu
“fazer uma vaga tentativa de alinhar
os parâmetros constitucionais com
as suas necessidades pessoais”, até
porque assim “se torna mais fácil ao
Presidente russo legitimar uma maior
integração”, sustenta Gwendolyn
Sasse, directora do Centro para os
Estudos Internacionais e da Europa
de Leste de Berlim.
A nova Constituição, nota Sasse,
“vai explicitar o que já se tornou rea-
lidade: Lukashenko depende inteira-
mente dos seus laços com Vladimir
Putin”. Paradoxalmente, antecipa a
investigadora, a mesma Constituição
que agora facilita a vida dos dois líde-
res acabará por “servir de referência
ao descontentamento, quando este
voltar a poder ser expresso — possi-
velmente nas próximas eleições pre-
sidenciais, se não antes”.
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Regulamento e Formulário de Candidatura:

www.fundacaobial.com
Prazo de Candidaturas:
31 de agosto de 2022

Prémio BIAL de Medicina Clínica 2022 - €100.000 + Publicação primeira edição

Menções Honrosas (máximo duas) - €10.000

Visa galardoar uma obra intelectual, original, de índole médica, com tema livre e dirigida
à prática clínica, que represente um trabalho com resultados de grande qualidade e relevância.
Não são elegíveis trabalhos publicados sob a forma de artigos, livros ou teses.
Pelo menos um dos autores tem de ser médico nacional de um país de expressão oficial portuguesa.

Presidente do Júri - Manuel Sobrinho Simões

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18 • Público • Sábado, 26 de Fevereiro de 2022
Guerra na Ucrânia
Desporto
O futebol tenta lutar contra a subserviência
ao dinheiro vindo de Moscovo
Augusto Bernardino
Contratos e patrocínios
“rasgados”, eventos
deslocalizados e batalhas
jurídicas no horizonte,
num assomo de decência
O
futebol e a UEFA — a exem-
plo do que vai sucedendo
no desporto em geral — não
demoraram muito a reagir
e a responder com posições
e acções Ærmes à agressão
russa na Ucrânia, condenando a
declaração de guerra do Kremlin de
uma forma clara.
Clubes como o Schalke 04 e Man-
chester United removeram os patro-
cínios milionários de grandes empre-
sas russas como a Gazprom e a Aero-
Çot, respectivamente. A UEFA
transferiu a Ænal da Liga dos Cam-
peões de São Petersburgo para Paris,
ao mesmo tempo que as selecções da
Polónia, República Checa e Suécia
pedem à FIFA que apresente alterna-
tivas/soluções relativamente à reali-
zação dos jogos em solo russo refe-
rentes aos play-off e Ænal do apura-
mento para o Mundial do Qatar.
O futebol europeu vê-se, assim,
confrontado com uma situação que
clubes e organizações têm varrido
para debaixo do tapete, procurando
agora improvisar soluções urgentes
para evitar maiores constrangimen-
tos Ænanceiros.
Mas ao pretender eliminar sem
pré-aviso os patrocinadores russos,
os responsáveis não querem nem
podem ignorar as consequências
legais dos seus actos, o que abrirá
novas frentes de uma batalha jurídi-
ca de proporções imprevisíveis.
Contudo, dada a gravidade da
situação, avançam as primeiras
medidas, uma espécie de “sanções”
desportivas que já provocaram indig-
nação em Moscovo.
Este pode ser o momento para ava-
liar, quantiÆcar e estruturar o futuro
no que diz respeito a uma inegável
dependência de capitais e Ænancia-
mentos de Estados e regimes menos
transparentes, como é o caso Çagran-
te do Qatar, da China e da Rússia.
A própria escolha para a organiza-
ção dos principais eventos desporti-
vos tem estado dependente de capi-
tais duvidosos como o russo.
Presidente do Comité de Gover-
nação da FIFA durante dez meses,
entre 2016 e 2017, Poiares Maduro
tem sido uma voz crítica das políti-
cas da UEFA, em especial da permis-
sividade que tem levado aquele
A Gazprom, empresa russa,
é um dos principais
patrocinadores da Liga
dos Campeões
COI não quer provas desportivas na Rússia
O
Comité Olímpico
Internacional (COI) pediu
ontem a todas as
federações desportivas
internacionais que cancelem ou
mudem de local quaisquer
competições planeadas para
solo russo ou bielorrusso, na
sequência da invasão da Ucrânia
pela Rússia. O COI pediu ainda
que as bandeiras da Rússia e da
Bielorrússia não sejam
hasteadas em qualquer evento
internacional, ficando também
por tocar os hinos destes dois
países. O comunicado do órgão
de cúpula do olimpismo explica
que estes países violaram a
trégua olímpica, em vigor até 20
de Março, dado os Jogos
Olímpicos de Inverno Pequim
2022, serem seguidos dos
Paralímpicos. Em sintonia com
este pedido, a Euroliga de
basquetebol decidiu que todos
organismo a permitir que interesses
comerciais inÇuenciem a estrutura
das competições, favorecendo os
grandes clubes e principais países,
conforme referiu em entrevista à
agência Lusa.
À luz desta realidade, antes mesmo
da pandemia do novo coronavírus,
os jogos previstos para serem
disputados na Rússia sejam
realizados num outro território.
O Zenit-Barcelona de ontem foi
suspenso, tal como já o haviam
sido, na quinta-feira, o Bayern
Munique-CSKA Moscovo e o
Baskonia-Unics Kazan, embora,
neste caso, os russos sejam
visitantes. As reacções no
desporto à invasão da Ucrânia
levaram também a que o Grande
Prémio da Rússia de F1, previsto
para Sochi, em 25 de Setembro,
tenha sido cancelado. Também
no râguebi foram suspensos
todos os eventos da modalidade
em território russo e as
Olimpíadas de e xadrez,
xadr
drez,
ada
a mais prestigiadad
competição por orr
selecções da
modalidade
não se realizaráá
em Moscovo.
ANATOLY MALTSEV/EPA
aquele professor universitário perce-
beu que reformas como a tentativa
de afastar do Conselho da FIFA o
então vice-primeiro-ministro russo
Vitaly Mutko diÆcilmente poderiam
ser tomadas sem a intervenção da
União Europeia, já que a família do
futebol continua, de certa forma,
refém de pressões políticas.
Ora, neste momento, é evidente
que inúmeros clubes europeus come-
çam a fazer contas não só à supressão
de patrocínios indesejáveis — volun-
tária ou involuntariamente — mas
também à realidade com que alguns
oligarcas, detentores ou accionistas
maioritários de emblemas como o
Chelsea, o Bournemouth, o Mónaco,
o Cercle Brugge ou o Vitesse, se depa-
ram face às sanções económicas
impostas pelos membros da NATO.
O futebol parece disposto a dar o
exemplo. Mas a que preço e até que
profundidade? Os clubes em Portu-
gal, Espanha e Itália não enfrentarão,
à partida, pressões políticas por não
terem qualquer dependência da Rús-
sia a este nível. Na Alemanha, as
regras impedem que um clube seja
detido, maioritariamente, por um
accionista. Mas a questão dos patro-
cíni
cínios
os é distinta.
cínios
Sej como for, o futebol
Seja
eu
europeu tem nesta crise
uma oportunidade para
u
um
o momento de intros-
pecção que pode lançar
p traria todos os valores que a YLE
as bases de uma rege-
a defende”, aÆrmou Ville Vilén, daque-
n
neração.
Cultura
Rússia banida
do Festival
Eurovisão da
Canção de 2022
A
Rússia não irá poder parti-
cipar na 66.º Festival Euro-
visão da Canção, que se
disputa em Maio na cidade
italiana de Turim, anun-
ciou ontem o conselho
executivo da União Europeia de
Radiodifusão (EBU), argumentando
que, no contexto criado pela invasão
da Ucrânia, a presença de um con-
corrente russo resultaria no “descré-
dito da competição”.
A decisão foi divulgada a meio da
tarde de ontem, depois de um porta-
voz da EBU ter assegurado, na quin-
ta-feira, que a Rússia seria autorizada
a enviar um representante a Turim,
uma vez que, de acordo com justiÆ#
cação então apresentada, o festival
“não é político, mas sim um evento
cultural que une as nações e celebra
a diversidade através da música”.
Abrindo já a porta a possíveis
mudanças de posição, a EBU acres-
centava que iria, “naturalmente,
continuar a acompanhar de perto o
desenvolvimento da situação”.
No comunicado em que agora revê
esta sua primeira declaração, a União
Europeia de Radiodifusão diz que
seguiu recomendações da organiza-
ção do festival, “baseada nas regras
do evento e nos valores da EBU”, e
também do seu próprio departamen-
to de televisão.
Depois de, na quarta-feira, a emis-
sora pública da Ucrânia, a UA:PBC,
ter apelado à EBU, numa carta aber-
ta, para excluir a estação pública da
Rússia da União Europeia de Radio-
difusão, apelidando-a de “porta-voz
do Kremlin e uma peça-chave da pro-
paganda política Ænanciada pelo
Orçamento do Estado russo”, a orga-
nização começou a receber apelos
no mesmo sentido de outras televi-
sões europeias, incluindo a dos Paí-
ses Baixos, co-organizadora da últi-
ma edição do festival, que decorreu
em Roterdão.
Também as televisões públicas da
Dinamarca, da Suécia, da Noruega e
da Islândia Æzeram chegar aos res-
ponsáveis pela Eurovisão as suas
críticas pela decisão inicialmente
assumida de acolher a Rússia no fes-
tival. E as da Finlândia e da Estónia
foram mesmo mais longe e, noticiava
ontem o site americano Huètington
Post, anunciaram mesmo que aban-
donariam a competição caso a Rússia
fosse autorizada a participar.
“O ataque da Rússia à Ucrânia con-
la televisão Ænlandesa. PÚBLICO
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20 • Público • Sábado, 26 de Fevereiro de 2022

Espaço público

As sanções que revelam medo

D
epois do anúncio de um
Editorial primeiro pacote de sanções
à Rússia com pouco valor
para lá do seu simbolismo,
esperava-se que a segunda
vaga da retaliação contra a invasão da
Ucrânia fosse mais contundente. Foi,
Manuel Carvalho mas pouco. Muito pouco. Tão pouco
que o Presidente ucraniano acusou os
líderes europeus de terem as mãos
manchadas com sangue e protestou
contra o mundo que o deixa e ao seu
povo sem qualquer protecção perante
um ataque desproporcionado da
segunda maior potência militar do
planeta.
Pergunta-se então por que razão a
União Europeia e os Estados Unidos
Ao contrário dos não cumpriram a sua palavra e não
britânicos, os europeus avançaram com sanções pesadas após
e os americanos querem o ataque à Ucrânia. Os líderes europeus
responder a uma explicam que a sanção extrema, a
exclusão da Rússia do sistema de
gravíssima ameaça pagamentos SWIFT, poderá acontecer
militar sem tirar se o conflito se agudizar. Como
as pantufas perceber esta tese? Uma violação da
soberania de um Estado europeu feita
pela força das armas não é um caso
suÆcientemente agudo?
Quem deu uma resposta à altura da
gravidade da situação foi o Reino
Unido, que congelou actividades
bancárias, bens de oligarcas e apelou à
exclusão da Rússia do sistema SWIFT.
Talvez pela tradição histórica, os
britânicos foram exemplares e não têm
medo de existir e de responder com
contundência a ameaças — não é
Chamberlain que representa a essência
da sua política externa, mas Churchill,
embora neste episódio Boris Johnson
esteja a sacudir a pressão política sobre
a sua cabeça.
No caso da UE e dos EUA, a timidez
em responder com máxima dureza à
Rússia só se explica pelo calculismo e
pela falta de coragem das lideranças
políticas, sempre receosas em tomar
medidas difíceis. Expulsar a Rússia do
sistema de pagamentos SWIFT iria
penalizar as empresas alemãs que
exportam para Moscovo ou os
abastecimentos de gás a Itália. A Rússia
poderia contornar as diÆculdades de
pagamentos juntando-se à China.
Esta decisão teria por isso
consequências negativas na Europa e
na América: mas, a acreditar na própria
análise e interpretação dos europeus e
norte-americanos, a exclusão do
sistema SWIFT teria um efeito
devastador sobre a economia da Rússia.
Ao contrário dos britânicos, ambos
querem responder a uma gravíssima
ameaça militar sem tirar as pantufas.
Como se num conÇito pudesse haver
apenas lucros e nunca perdas.
Estando afastada uma resposta militar
da NATO, o Ocidente tem de assumir as
suas promessas de antes da invasão
para manter a sua credibilidade. Os
russos que corajosamente protestam
contra a brutalidade de Putin ou os
ucranianos que sofrem as agruras da
sua barbárie precisam de sentir que o
Ocidente os apoia. Com sanções gota a
gota prescritas pelo calculismo e pelo
medo, Putin ganhará.

CARTAS AO DIRECTOR
Pertencer
De tudo o que tem sido dito em
relação à guerra, pouco se tem
falado, no meu ponto de vista, de
duas coisas:
1) pertencemos a uma aldeia
global. Longe vão os tempos em que
notícias, vindas do outro lado do
mundo, mereciam um mero: isso
não me diz nada. Hoje vivemos
numa aldeia global, em que tudo é
inÇuenciado pelo que se passa em
todo o lado. As transformações são
várias. As consequências são
resultado das acções;
2) pertencer a alianças como a
NATO e como a União Europeia é,
efectivamente, o caminho. A esta
hora, caso a Ucrânia pertencesse a
alguma destas organizações, a
resposta teria sido já diferente,
acredito eu. Os partidos que são
contra o projecto europeu devem
neste momento reÇectir essas
posições. Dependemos de todos.
Todos dependem de nós.
Resta-nos, neste momento, ser
solidários. Mas as organizações,
locais, regionais, nacionais e
internacionais devem estar, a esta
hora, a perguntar o que podem
fazer para ajudar e fazê-lo
efectivamente. Acolher refugiados
ucranianos seria um bom começo.
Os portugueses devem ter os braços
abertos nesta hora difícil.
Pedro Perdigão, Lousada
A capa da cobardia
É surpreendente a capacidade do
ser humano, quando olha o seu
semelhante como um ser inferior, e
lhe retira pela força das armas o
direito à vida, quando se mostra
incapaz de dialogar, aceitando as
diferenças dos demais cidadãos ou
povos, o que é revelador da tirania
daqueles que se acham fortes
quando olham para os outros como
os mais fracos. Era expectável que
após a queda da União Soviética, e a
dissolução do até então designado
Bloco de Leste, se mantivessem
vivas as aspirações de reuniÆcação,
por parte de elementos da linha do
antigo regime, cujas preocupações
não seriam a salvaguarda dos
bem-estar dos povos mas Æcarem
na história pela sua valentia e pela
brutalidade das suas acções que não
poupam ninguém, causando
destruição e sofrimento a todos os
níveis. A invasão da Ucrânia com
todos os pretextos inventados só se
explica pela cegueira de um regime
totalitário que impõe restrições a
um povo, que não convive bem com
os opositores, que persegue e
castiga quem tem opiniões
contrárias à sua, e que procura
mascarar a realidade com discursos
que contrariam as suas acções, e
onde quem sofre são sempre os que
estão na frente de combate, porque
aqueles que detêm o poder e
ordenam escondem-se na capa da
cobardia.
Américo Lourenço, Sines
A paz e a democracia
Grande parte da população da
Europa Ocidental só tem ideias
concretas da própria Europa como
um continente, exemplo de paz e de
democracia, assumindo ser algo
eterno, onde nasceram, vivem e
virão a morrer. Nunca viveram
conscientemente em ditadura, nem
em guerra, nem com alguém que
tivesse estado em locais de guerra.
Logo, encaram estas duas situações
como inimagináveis. A
agressividade humana está muito
mais “desperta” no ser humano do
que parece. O poder pelo poder
agrada a muitos. E se houver uma
junção de agressividade com
vontade de “alcançar” ou “agarrar”
o poder, vale tudo para que
aconteça. Fazer a guerra para quem
assim actua é demasiado fácil.
Augusto Küttner de Magalhães, Porto
Jornadas Mundiais
da Juventude
Sem pôr em causa a correcção do
projecto de segurança para a
realização das JMJ, as certezas
evidenciadas pelos intervenientes
na reportagem de 23 de Fevereiro
no aterro de Beirolas suscitam-me
preocupação quando recordo os
acidentes em eventos como
Duisburg, em Julho de 2010, Mount
Meron em Israel, em Abril de 2021, e
Houston, em Novembro de 2021.
Contrariamente ao senso comum,
não são ataques de pânico que
geram os atropelamentos pela
multidão, são antes fenómenos de
turbulência e de ressonância na
movimentação aleatória das
pessoas que acabam por pressionar
acima do suportável membros da
multidão. A legislação (port.
135/2020) determina, para a
esperada aÇuência de 1,5 milhões
de pessoas, uma unidade de
passagem de evacuação por cada
300 pessoas, o que requer 3000m
de largura para as saídas de
emergência. Os terrenos da JMJ são
limitados pela via-férrea e por uma
via rápida (será que vai ser
interditado o transito nas duas?),
pelo Tejo, por uma ETAR, por ruas
sem a capacidade para tantas
pessoas. Seria portanto desejável
que fossem divulgadas as análises
de segurança. Igualmente se
desejaria ver debatidas as
alternativas à deslocalização do
terminal da Bobadela, que
movimentam anualmente 300.000
TEU e à possibilidade de
compatibilizar a desejada zona de
lazer ribeirinha com a manutenção
pelo menos da parte norte do
terminal para não prejudicar mais a
economia do porto de Lisboa.
Fernando Santos e Silva, Lisboa

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ESCRITO NA PEDRA A desfeita
Cada guerra é
uma destruição Ainda ontem
do espírito
humano
Henry Miller
(1891-1980),
A
escritor Miguel Esteves Cardoso
cabo de conÆrmar, pela voz
do principal actor, uma
história que, como todas as
boas histórias, extravasa
os limites concretos
O NÚMERO e se torna uma história de
2
proveito e exemplo para todos os
portugueses.
Há um restaurante muito conhecido que,
de vez em quando, recebe, nos lugares
costumeiros da Net, críticas muito
minuciosas que, apesar de darem sempre a
nota máxima, embirram sempre com
determinado pormenor. De seguida,
oferecem uma solução simples e fácil,
Governo mantém rematando com um caloroso
comparticipação em Março, mas agradecimento.
testes gratuitos à covid-19 A certa altura, chegaram a desconfiar de
passam a dois por mês, em vez que era eu que estava a escrevê-las, apesar
dos quatro que estavam de ir lá pouco, por ficar muito longe da
definidos minha casa. Tanto tentaram convencer-me
ZOOM FESTEJAR O CARNAVAL NOS PAÍSES BAIXOS
Nas escolas holandesas, o Carnaval realizou-se mais cedo, com muitas crianças trajadas a rigor
a confessar-me, seduzindo-me com iguarias
proscritas aos clientes ocasionais como eu,
que estive quase a ceder.
Ainda bem que não cedi. AÆnal o autor
das críticas elogiosas era um grande e velho
amigo do patrão, ao ponto de almoçar
quase sempre com ele, entre risotas e
desaÆos e vai mais um copo e mais um
cigarro.
Mas, quando o patrão soube que era
ele o crítico, não fez mais nada: proibiu-o de
pôr os pés no restaurante. Chamou-lhe
traidor, disse-se injustiçado, chamou-lhe
víbora.
Descontou os elogios como falinhas
mansas, destinadas a disfarçar, para
embrulhar as “farpas” que lhe eram
destinadas.
Fui logo ler as críticas todas, à procura de
qualquer veneno oculto. Mas não encontrei
pingo de azedume. Eram, aliás, críticas de
chacha, com sugestões inócuas, como
oferecer mais um vinho ou outro na carta,
ou servir mais frequentemente um prato
qualquer de bacalhau.
Eram todas críticas ditas “construtivas”,
com que sonham as pessoas que não
aguentam crítica nenhuma.
Mas o patrão não perdoou.
Foi do segredo? Foi dos nomes falsos?
Ou foi apenas por ter sido “enganado”?
MARCEL VAN HOORN/EPA
Público • Sábado, 26 de Fevereiro de 2022 • 21
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22 • Público • Sábado, 26 de Fevereiro de 2022
Espaço público
Transportes gratuitos na gaveta de Moedas
O
Beatriz Gomes Dias
s transportes públicos são a
espinha dorsal da mobilidade
nas cidades. Com uma rede
ampla e eÆciente de
transportes públicos com
custos acessíveis a todas as
pessoas, conseguimos resolver alguns dos
maiores problemas que as cidades
enfrentam: o trânsito e as emissões de gases,
que poluem as ruas e aceleram o
aquecimento global. Em Lisboa, o caso é
grave. Todos os dias entram na cidade 370 mil
carros, que se juntam aos 160 mil que já
circulam nas suas ruas, fazendo com que se
desloquem diariamente na capital tantos
carros como habitantes.
Veio da esquerda o maior avanço das
últimas décadas para incentivar o uso do
transporte público: a unificação de centenas
O PCP, o Chega e a clareza que defendo
N
Francisco Mendes da Silva
a discussão sobre como
lidar com as repercussões
em Portugal da ascensão da
nova direita radical no
Ocidente, nunca percebi
bem a utilidade do exercício
de equivalência entre o Chega e a
extrema-esquerda, em especial o PCP.
Não que haja qualquer dúvida sobre a
natureza do PCP. Ela aí está, em toda a
sua ostensibilidade e obscenidade, no
alinhamento com a propaganda de Putin
sobre a Ucrânia. O PCP é um partido
moralmente defunto, cúmplice de alguns
dos piores regimes do passado e do
presente, que jamais abandonou a sua
afeição ao totalitarismo.
Também não esqueço a falácia sob a
qual o PS quis que vivêssemos desde 2015,
quando por puro oportunismo resolveu
inventar que o regime democrático
português estava dividido em dois blocos
estanques, com uma fronteira
fundamental entre o PS e o PSD. Foi uma
mentira, como a realidade trata de revelar
a cada dia. Segundo o parâmetro dos
de títulos de transporte num passe único e a
enorme redução do seu preço. Foi um dos
maiores aumentos de rendimento para as
famílias nos últimos anos e foi um passo de
gigante para a neutralidade carbónica. No
Parlamento, o PSD opôs-se e votou contra.
Nas últimas eleições autárquicas, o Bloco
de Esquerda defendeu a gratuitidade dos
transportes públicos para toda a gente, a
implementar num plano faseado e
quantiÆcado, começando pelas pessoas
desempregadas, pessoas com deÆciência,
jovens e maiores de 65 anos. A coligação
liderada por Carlos Moedas declarou que
também queria transportes públicos gratuitos
para “os mais novos e os mais velhos”.
Como seria expectável, o Bloco de
Esquerda, cumprindo o seu programa
eleitoral, redigiu uma proposta com a
colaboração de vários especialistas em
transportes e pediu o agendamento da sua
apresentação ao presidente da Câmara de
Lisboa. Durante a discussão do orçamento da
Câmara Municipal de Lisboa (CML), Carlos
Moedas anunciou querer avançar com a sua
medida de transportes públicos gratuitos
para “os mais novos e os mais velhos”.
Contudo, este anúncio da gratuidade dos
transportes públicos não passou de uma
nossos valores civilizacionais — e segundo
a visão que Portugal, em nome desses
valores, tem da sua inserção na ordem
mundial —, aquela fronteira foi sempre
entre a extrema-esquerda, de um lado, e
o PS e a direita democrática, do outro.
Aliás, havia de ser bonito assistir ao PS a
negociar neste momento um acordo de
viabilização do Governo com o PCP, ao
mesmo tempo que os dirigentes
comunistas andavam a derramar o
produto da sua alucinação anti-Ucrânia
em comunicados, discursos no
Parlamento e textos nas redes sociais.
Não é, portanto, a natureza do PCP que
está em causa. A razão da minha
perplexidade é outra. É ter visto tantas
pessoas, que achavam inaceitável o
entendimento do PS com o PCP (e o BE), a
passarem da noite para o dia a aceitá-la
como normal, só para poderem defender
um entendimento da direita democrática
com o Chega. Porque é que antes
denunciavam o oportunismo do PS,
quando se aliou a uma força que está fora
dos limites da democracia liberal, e de
repente passaram eles mesmos a desejar
aliar-se com um partido do grupo dos
populistas iliberais europeus? Das duas,
uma: ou porque são culpados do mesmo
oportunismo ou porque acreditam
naquilo em que o Chega acredita.
Sempre achei que o sentido útil da
comparação seria o oposto: se não
aceitamos o PCP, também não aceitamos
o Chega. Pronto Ænal. Trata-se de uma
declaração de intenções. Não só Carlos
Moedas não apresentou ainda qualquer
proposta, como tem bloqueado a proposta
do Bloco de Esquerda, impedindo o seu
agendamento. Em 126 dias de governo da
CML, a proposta do Bloco já passou 70 na
gaveta da coligação de direita, onde está
guardada desde 13 de dezembro, num
inequívoco incumprimento do que está
previsto no regimento da câmara.
A falta de democracia e de capacidade de
diálogo é tal, que o gabinete de Carlos Moedas
enviou um ofício a todos os outros partidos
dizendo que todas as matérias em que a
A proposta do Bloco já
passou 70 dias na gaveta
da coligação de direita.
Decidimos avançar
para tribunal contra
o presidente da CML
questão de coerência intelectual, mas
também de legitimidade: só quem se
opõe ao Chega tem credibilidade para se
opor ao PCP, assim como só quem se
opõe ao PCP tem credibilidade para se
opor ao Chega.
Da minha parte, não estou para
combater a extrema-esquerda enquanto
aceito um partido que, só para me Æcar
pelo tema da política externa da Rússia,
faz declarações piedosas sobre a Ucrânia
mas tem um vice-presidente (Tânger
Correia) para quem a culpa da invasão é
da própria Ucrânia, que provocou
Moscovo ao querer aderir à NATO (a
É uma questão de
coerência intelectual e
de legitimidade: só
quem se opõe ao Chega
tem credibilidade para
se opor ao PCP, assim
como só quem se opõe
ao PCP tem
credibilidade para se
opor ao Chega
direita também tenha proposta só serão
agendadas quando a direita quiser.
Assim, uma medida tão importante como
os transportes públicos gratuitos, um tema
em que parecia haver maioria na CML para
aprovar e decidir um caminho comum, foi
sequestrada pela direita, sem data para sair
da gaveta.
O Bloco de Esquerda não aceita entorses à
democracia e às suas regras e, por isso, face à
imutável posição de Carlos Moedas já
apresentou uma queixa formal na Provedoria
de Justiça, que considerou não ter
competência para decidir. Assim, decidimos
avançar para tribunal contra o presidente da
CML, por incumprimento das regras da
autarquia. Não aceitamos vetos de gaveta.
Parece longínquo mês de outubro de 2021,
tempo em que Carlos Moedas jurava ser um
homem de consensos. Pelo contrário, os
novos tempos da direita parecem ser de falta
de diálogo e de incumprimento das regras da
democracia.
Vereadora do Bloco de Esquerda
na Câmara de Lisboa
São José Almeida regressa
a este espaço a 12 de Março
mesma argumentação do PCP, da
propaganda russa e dos fantoches de
Trump nos media americanos).
A condescendência de que o PCP tem
beneÆciado explica-se, em boa parte, por
o eleitorado o ver como um partido
inofensivo, possivelmente moribundo ou
em fase de absorção pelo sistema. O
Chega, pelo contrário, é olhado como um
partido ainda em fase de aÆrmação e
confrontação com o sistema. O que as
pessoas viram nos últimos anos não foi o
tradicional PCP revolucionário, que faz
política com os sindicatos na rua, quer
nacionalizar tudo o que mexe e tirar
Portugal da NATO. Foi antes um partido
burguês e incremental, dedicado à
pequena mercearia do Orçamento dentro
dos constrangimentos parlamentares.
Neste intervalo, a real natureza dos
comunistas esteve escondida.
Tudo mudou com a crise na Ucrânia.
Ao colocar-se do lado de uma agressão
imperialista, autoritária e xenófoba, o
PCP aproveitou para revelar novamente,
a quem andava distraído, de que matéria
é feito. Com isso, transformou-se de facto
no maior normalizador do Chega. Como
evitar agora que mais pessoas passem a
achar que, mal por mal, se aceitamos um
desses partidos, então também podemos
aceitar o outro? Só há uma resposta:
quem quiser rejeitar o Chega tem de
rejeitar o PCP. É simplista? Não, é simples.
Advogado. Escreve ao sábado
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Olhar a cores, decidir a preto e branco
José Pacheco Pereira
Nestes tempos em que o
conforto de ver a preto e
branco domina as posições e
induz ao clubismo, nunca
quis deixar de ver a cores
E
ra de manhã cedo e uma
pequena delegação da NATO
estava à espera de ser recebida
no Ministério da Defesa russo,
pouco tempo depois do Æm da
URSS, com uma Federação Russa
ainda indeÆnida no seu novo estatuto de
ex-URSS, e existia a Comunidade de Estados
Independentes como instituição de
transição. Havia um português, eu, um
americano militar ligado aos serviços de
informação do exército, sempre à civil, um
holandês, e um general inglês, que alternava
a farda com roupa civil, e que trazia um
ajudante de campo que lhe transportava a
mala. Um grupo bizarro num tempo bizarro,
num sítio não menos bizarro e altamente
improvável.
Estava-se num período excepcional, em
que se deu uma genuína possibilidade de
transformar o Æm da Guerra Fria numa
relação pelo menos amigável entre os dois
blocos inimigos. Havia a Partnership for
Peace e uma vontade de aproximação que
durou pouco, e que talvez nunca tivesse
condições para durar muito. Ninguém era
imune às suas ilusões e, como se sabe, isso é
sempre muito perigoso. Houve depois uma
sucessão de erros que podemos identiÆcar a
posteriori, mas havia muita história
complicada, em cima e por baixo, e também
demasiada geograÆa. Lembrei-me muitas
vezes do ditado polaco que dizia “trocamos a
nossa gloriosa história por uma melhor
geograÆa”.
No meio do bulício da entrada, com
militares a passarem apressados, a
segurança nos portões e gente por todo o
lado, chegou uma senhora de bata branca,
um lenço branco na cabeça, uma mãe russa
com ar cansado, indiferente a tudo, vinda de
umas cozinhas algures no gigantesco
edifício, empurrando um carrinho com sopa
quente, com as canecas a fumegar. Dirigia-se
lentamente aos gabinetes do interior. Era
invisível, ninguém falava com ela.
Num daqueles momentos difíceis de
explicar, os homens sentados à espera, nós,
parámos de falar e houve um súbito silêncio.
O nosso americano, talvez o mais expansivo
de todo o grupo, quebrou-o, dizendo mais ou
menos isto: “Nós pensávamos que estávamos
a lidar com uma grande potência e
esmagámo-los.” Não havia uma ponta de
O ruído do mundo
arrogância na frase, havia uma estranha
pena. O “esmagámos” não era para os
militares, com fardas cheias de
condecorações, era para a senhora do
carrinho.
Ninguém disse nada e o silêncio tornou-se
incómodo. A URSS era uma grande potência
militar e aqueles homens sabiam disso muito
bem. Mas o nosso olhar, agora, via outras
coisas, as cortinas puídas, a água com um
sabor miserável, um enorme cansaço
colectivo todos os dias à vista nas ruas, com
homens e mulheres de saco na mão a
tentarem encontrar as coisas de que
precisavam e que umas vezes chegavam,
outras não. E nos contactos com os
poderosos, percebia-se uma brutalidade
inscrita nas relações de poder, que ia das
ruas ao topo da hierarquia. Não havia
pobreza? Aparentemente não, nas cidades
que conheci, pelo menos pobreza ostensiva,
embora houvesse alguns sinais de pobreza
escondida que se via nas Ælas de pessoas a
vender coisas que tinham em casa à porta
das estações de metro. Mas isto são
impressões. Havia felicidade? Claro que
havia, no meio daquilo tudo; as pessoas têm
uma capacidade inÆnita de se adaptarem e a
vida é única.
Mas, de um modo geral, a vida era difícil,
num grau de exaustão quotidiana que era o
dia-a-dia do russo comum, e em breve
tornar-se-ia ainda mais difícil quando as
experiências liberais, trazidas pelos
economistas de Chicago que tomaram conta
das Finanças, distribuíram a riqueza da URSS
em vouchers que não valiam nada e que
foram comprados em massa pelos novos
oligarcas em formação. Estes Æcaram com os
bens nacionais, numa distribuição em que a
família de Ieltsin teve um papel relevante, e
os que se portavam bem politicamente estão
hoje com Putin. Os outros estão na cadeia.
Seguiram-se as violentas expulsões de casas
apetecíveis no mercado e a ostentação mais
chocante. Já não sei se nessa viagem ou
noutra, recordo-me de ir a um dos novos
restaurantes na moda em Moscovo, com
uma menina que tocava harpa, comida
imitada dos restaurantes franceses e, de um
modo geral, tão má quanto cara, e cá fora
Ælas de carros de luxo e dezenas de
guarda-costas.
Quando subimos para o nosso encontro,
estava Shaposhnikov e passou Akromeyev,
cada um com a sua carga de história em
cima, no passado e no futuro. Ambos viriam
a ter, nesses anos de revolução, um papel
relevante. Yevgeny Ivanovich Shaposhnikov
viria a fazer a transição que muitos russos do
topo da hierarquia Æzeram, de ser o último
ministro da Defesa da URSS, o chefe das
Forças Armadas da CEI, para acabar nos
negócios de armamento à frente da poderosa
Rosoboronexport. Em vez de morrer das
Condeno a invasão da
Ucrânia sem
ambiguidades. Tentar
perceber a história
complexa não é ajudar
a legitimar Putin
Público • Sábado, 26 de Fevereiro de 2022 • 23
habituais maleitas, Shaposhnikov morreu
também com a história — de covid. Já Sergey
Fyodorovich Akhromeyev, um militar com
uma carreira brilhante, com um papel na
invasão do Afeganistão, era conhecido no
Ocidente pelas suas “explicações” do abate
do avião civil coreano pelos soviéticos em
1983. Também teve como futuro as habituais
armadilhas da história: participou no golpe
contra Ieltsin em 1991, e suicidou-se. Tudo
boa gente.
Numa altura em que Putin — um antigo
agente do KGB e depois do FSB, que
ascendeu ao poder com uma provocação
mortífera atribuída aos tchechenos
independentistas, para ter um pretexto para
“corrigir” a derrota militar que os russos
tinham tido em Grozny e acabar com a
independência da Tchechénia — está a
colocar a Ucrânia a ferro e fogo, lembrei-me
da frase do americano no Ministério da
Defesa e da senhora de bata branca.
Na verdade, nós não vimos muita coisa ao
“esmagá-los”, e não vimos o poder da
humilhação quando é sentida por todo um
povo. Não vimos o papel do patriotismo, por
exemplo. Uma coisa que achamos que temos
por cá, mas não temos nada. Mas os russos e
americanos têm, de formas muito diferentes.
O patriotismo russo é alicerçado numa
memória trágica de muitos milhões de
mortos e destruições sem paralelo, a maior
parte na Bielorrússia e na Ucrânia.
E se tivéssemos melhor conhecimento da
“máquina da historia”, perceberíamos que
há muito tempo Putin manifestou com
clareza a sua pena com o Æm da URSS, e
levou essa pena à prática na Tchechénia, na
Geórgia, na Crimeia, e recebeu de herança a
Transnístria na Moldova. E perceberíamos,
como quase todos os russos e todos os
ucranianos, o que signiÆca chamar “nazi”
aos dirigentes ucranianos, num país em que,
no lado ocidental, abundam os memoriais a
Stepan Bandera, e, no lado oriental, as
estátuas de Lenine Æcaram de pé.
Que Æque bem claro, antes de começarem
os disparates nas “redes sociais”, que eu
condeno sem ambiguidades a invasão da
Ucrânia, por razões que são mais do que
evidentes. Putin e a nostalgia imperial são
muito perigosos numa Europa sem defesa a
não ser os americanos. Acresce que, por
muito dividida que esteja a Ucrânia, a sua
independência é fundamental para conter a
Rússia e manter a face do direito
internacional, que, mesmo que seja apenas a
face, é importante para as democracias.
Mas a obrigação para quem tem uma
escrita pública é perceber que a
complexidade da história pode e deve ser
compreendida, e que não olhar para as
coisas a preto e branco não impede que se
tenha posição, bem pelo contrário. Nestes
tempos de enorme simpliÆcação, em que o
conforto de ver a preto e branco domina as
posições e induz ao clubismo político, nunca
quis deixar de ver a cores, ou seja, tentar
perceber a complexidade de qualquer
humano assunto. Isso não ajuda a legitimar
Putin, mas a combatê-lo com mais eÆcácia.
Historiador. Escreve ao sábado
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24 • Público • Sábado, 26 de Fevereiro de 2022

Espaço público

Como chegámos aqui?

se pretendia independente tanto da União
Soviética como do Ocidente. Os EUA, com o
entusiástico apoio da Alemanha, acharam
que era tempo de a Jugoslávia entrar em
colapso. Os graves conÇitos internos e as
crises Ænanceiras dos anos 1980 foram
aproveitadas para fomentar a divisão e o
ódio. Uma região onde antes Çorescera o
NATO e a “crise dos mísseis” de 1962,
quando os soviéticos tentaram instalar
mísseis em Cuba e os EUA, ameaçados na sua
segurança, prometeram defender-se com
todos os meios, inclusivamente a guerra
nuclear?
A resposta à pergunta sobre como e por
que chegámos aqui reside
caótica do Afeganistão ao medíocre
desempenho na pandemia, os EUA insistem
em fugas para a frente, e nessa estratégia
pretendem arrastar a Europa. Esta pagará
uma alta factura pelo que se está a passar. A
mais alta de todas recairá sobre a Alemanha,
o motor da economia europeia e a única
verdadeiramente concorrente dos EUA. É

A
convívio interétnico e inter-religioso fundamentalmente num erro estratégico dos fácil concluir quem beneÆciará com a crise
Boaventura de Sousa Santos
transformou-se num campo de ódios. A nova EUA e da NATO — o de não terem visto que que aí vem, e não me reÆro apenas a quem
soberania da Ucrânia não pode guerra dos Balcãs, no início da década de nunca estiveram num mundo unipolar por irá fornecer o petróleo e o gás. Por sua vez, a
ser posta em causa. A invasão 1990, transformava-se assim na primeira eles dominado. No momento em que tentativa de isolar a Rússia, sobretudo depois
da Ucrânia é ilegal e deve ser guerra em solo europeu depois de 1945. terminava a I Guerra Fria, crescia a China, de 2014, visa acima de tudo a China. Será
condenada. A mobilização de Violência inaudita foi cometida por todos os com o apoio entusiasta das empresas outro erro estratégico pensar que assim se
civis decretada pelo Presidente contendores, mas para o Ocidente os vilões norte-americanas em busca de salários enfraquece a China. A China acaba de
da Ucrânia pode ser eram apenas os sérvios, todos os outros baixos. Assim germinava o novo rival dos declarar que não há comparação possível
considerada um acto desesperado, mas faz povos eram nacionalistas heróicos. Os países EUA, e com isso a nova Guerra Fria em que entre a Ucrânia e Taiwan, porque, para ela,
prever uma futura guerra de guerrilha. Putin ocidentais (à cabeça, a Alemanha) estamos a entrar, aliás potencialmente mais Taiwan é território chinês. A implicação é
deveria ter presente a experiência dos EUA apressaram-se a reconhecer a independência séria do que a anterior. Apostados em não clara: para a China, a Ucrânia não é território
no Vietname: o exército regular de um das novas repúblicas em nome dos direitos reconhecer o seu declínio, desde a saída russo. Mas daí a pensar que se está a criar
invasor, por mais poderoso que seja, acabará humanos e da protecção das minorias. Em uma divisão entre a China e a Rússia será
por ser derrotado, se o povo em armas se 1991, o Kosovo exigia em referendo a sua pura auto-ilusão.
mobilizar contra ele. Tudo isto faz prever independência da Sérvia e oito anos depois a Não tenho dúvida de que para a Europa é
incalculáveis perdas de vida humana NATO bombardeava Belgrado para fazer melhor um mundo multipolar governado
inocente. Ainda mal refeita da pandemia, a cumprir a vontade dos kosovares. por regras de coexistência pacíÆca entre as
Europa prepara-se para um novo desaÆo de Qual é a diferença entre o Kosovo e grandes potências do que um mundo
proporções desconhecidas. A perplexidade Donbass, onde as repúblicas etnicamente exclusivamente dominado por um só país,
perante tudo isto não poderia ser maior. russas realizaram referendos em que se
Apostados em não porque, se isso alguma vez vier a suceder,
A pergunta é esta: como e porquê manifestaram a favor da independência? reconhecer o declínio, será à custa de muito sofrimento humano. A
chegámos aqui? Há 30 anos a Rússia (então Nenhuma, excepto que o Kosovo foi apoiado invasão da Ucrânia é inaceitável. O que não
União Soviética) saía derrotada da Guerra pela NATO e as repúblicas do Donbass são
da saída do Afeganistão se pode dizer é que não foi provocada. A
Fria, desmembrava-se, abria as suas portas apoiadas pela Rússia. Os acordos de Minsk de ao desempenho na Rússia, como grande potência que é, não se
ao investimento ocidental, desmantelava o 2014 e 2015 previam a grande autonomia devia deixar provocar. Será que a invasão da
Pacto de Varsóvia, o correspondente destas regiões. A Ucrânia recusou-se a
pandemia, os EUA Ucrânia é mais uma demonstração de
soviético da NATO, os países do Leste cumpri-los. Foram, pois, rasgados muito insistem em fugas para fraqueza do que de força? Os próximos
Europeu emergiam da subordinação antes de Putin fazer o mesmo. Qual a tempos o dirão.
soviética e prometiam democracias liberais diferença entre a ameaça à sua segurança
a frente e pretendem
numa vasta área da Europa. O que se passou sentida pela Rússia perante o avanço da arrastar a Europa Sociólogo
desde então para que o Ocidente esteja hoje PATRICK SEMANSKY/REUTERS
de novo a defrontar a Rússia? Dada a
diferença de poder entre a Rússia e as
potências ocidentais em 1990, a resposta
mais imediata será que tal se deve à total
inépcia dos líderes ocidentais para
capitalizaram os dividendos do colapso da
União Soviética.
Sem dúvida que a inépcia é patente e
caracteriza bem o comportamento da União
Europeia ao longo destes anos. Foi incapaz
de construir uma base sólida para a
segurança europeia que obviamente teria de
ser construída com a Rússia, e não contra a
Rússia, quanto mais não seja para honrar a
memória de cerca de 24 milhões de mortes,
o preço que a Rússia pagou para se libertar e
liberar a Europa do jugo nazi.
Mas esta resposta é insuÆciente, se
tivermos em mente a política externa dos
EUA nos últimos 30 anos. Com o Æm da
Guerra Fria, os EUA sentiram-se donos do
mundo, um mundo Ænalmente unipolar. As
potências nucleares que os podiam ameaçar
estavam neutralizadas ou eram amigas. As
ideias de correlação de forças e de equilíbrio
de poderes desapareceram do seu
vocabulário. Esta acalmia fazia
inclusivamente prever o Æm da NATO por
falta de objectivo. Mas havia a Jugoslávia, o
país que, depois do Æm da ocupação nazi em
1945, o general Tito tinha transformado
numa federação de regiões (Croácia,
Eslovénia, Bósnia-Herzegovina, Montenegro,
Sérvia-Kosovo, Macedónia), um regime que
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As sondagens e os oráculos
Coluna
do Provedor
José Manuel Barata-Feyo
A publicação de sondagens
em período eleitoral é antes
de mais uma questão política,
mas ela também interpela os
jornais que as divulgam
C
omo sempre que os portugueses
se preparam para votar, as
sondagens regressam à
actualidade. Foi o que
aconteceu no período que
antecedeu as eleições
legislativas de 30 de Janeiro passado. Todas
as sondagens foram largamente noticiadas e
objecto de múltiplos comentários.
O leitor Thomas Fischer escreve ao
provedor para “sugerir uma reavaliação da
prática de divulgar os resultados de
sondagens em tempos de campanha
eleitoral.” Escolheu enviar as suas reÇexões
ao PÚBLICO “por considerar que ele é o
medium mais aberto a reÇexões desta
natureza”.
Na sua carta, o leitor começa por referir as
eleições autárquicas de Setembro de 2021 e
invoca um artigo da jornalista Natália Faria
(edição de 27 de Set. 2021), com o título As
sondagens falharam? Não, desde que, como os
“testes covid”, sejam lidas como “uma
fotografia do momento”. Para as empresas
que as efectuam e para vários especialistas,
citados pela jornalista, “as sondagens não
falharam, a forma como são lidas é que está
errada, na medida em que elas “limitam-se a
apontar tendências e não resultados”.
O leitor continua o seu raciocínio: “Leio
que as diferenças entre os resultados
eleitorais e os resultados das sondagens
podem reÇetir as reações dos candidatos aos
próprios resultados das sondagens.” Mas,
acrescenta o leitor, como explicar então o
que aconteceu com as eleições legislativas de
30 de Janeiro passado?
“Olhemos para os resultados da sondagem
feita para a RTP, a Antena 1 e o PÚBLICO
cujos resultados foram divulgados às 20
horas do dia 27 (…). À altura da publicação,
sobrava um dia de campanha. As diferenças
entre os resultados das eleições e o resultado
da sondagem diÆcilmente podem ser
justiÆcados com reações dos candidatos aos
resultados da referida sondagem.”
“Começo por perguntar que valor tem este
estudo se foi realizado, segundo leio na Æcha
técnica, entre os dias 19 e 26 de janeiro? (…)
O que ganho como leitor ao saber a dois dias
das eleições como teriam votado os
portugueses se as eleições se tivessem
realizado dois, cinco ou oito dias atrás?”
“O PÚBLICO não poderia dar um sinal de
seriedade e serenidade desmarcando-se
desta prática e deixando de publicar
sondagens nas últimas duas semanas das
campanhas? Se esta opção fosse bem
explicada aos leitores, creio que o jornal
ganharia em credibilidade.”
Encaminhei as reÇexões e a sugestão do
leitor para o director-adjunto, David Pontes,
que a elas responde:
“O PÚBLICO não deixa e não deixará de
reÇectir sobre a importância e o impacto que
as sondagens têm, tomando boa nota das
sugestões dos seus leitores. Dito isto, julgo
ser necessário sublinhar que as pesquisas de
opinião são peças de informação útil e
relevantes e devem ser publicadas, dentro
dos limites temporais da lei, seguindo os
rigorosos procedimentos técnicos e legais a
que estão obrigadas. Olhando para o que
aconteceu nas últimas eleições, parece ser
útil sublinhar que as sondagens são um
retrato das intenções de voto à data da sua
realização, não são uma previsão do
resultado das eleições. Os políticos e os
leitores retirarão delas as interpretações que
acharem úteis e entende-se que em eleições
cujo resultado parece mais incerto as
sondagens se aÆgurem mais determinantes.”
Tudo em aberto, foi o título na primeira
página para chamada da última de quatro
sondagens, que o PÚBLICO fez durante esta
campanha. “’Tudo em aberto’ é como nós
acharemos sempre que estará até ao
momento do fecho das urnas. O voto é o
momento único, em que todos contamos o
mesmo para determinar o destino do país,
que nunca poderá ser substituído por uma
sondagem. É esta consciência que
gostaríamos que os nossos leitores tivessem,
acompanhada da certeza de que as nossas
sondagens são feitas com rigor e em total
independência.”
Resumindo, o PÚBLICO está atento ao
fenómeno das sondagens em período
eleitoral, mas continuará a divulgá-las.
A maioria dos jornais
publicados em regimes
democráticos divulga
sondagens nos períodos
eleitorais. Mas outros
há, como os franceses
Libération e Ouest
France, que optaram
por não o fazer
Público • Sábado, 26 de Fevereiro de 2022 • 25
A posição expressa por David Pontes não
“convence totalmente” o leitor: “A
justiÆcação de que ‘as sondagens são um
retrato das intenções de voto à data da sua
realização’ já foi avançada por uma
responsável por sondagens em setembro,
depois da surpreendente vitória de Carlos
Moedas em Lisboa. Tal justiÆcação acaba por
blindar as sondagens a qualquer crítica
resultante de comparações entre os
resultados das eleições e a ‘fotograÆa de
momento’ que considera intenções de voto
manifestadas, algumas delas mais de 10 dias
antes das eleições.”
Em democracia, as eleições são sempre de
actualidade. Às últimas virão juntar-se as
próximas e, por isso mesmo, o tema das
sondagens merece reÇexão. À semelhança
do PÚBLICO, a maioria dos jornais
publicados em regimes democráticos
divulga sondagens nos períodos eleitorais.
Mas outros há, como o diário francês
Libération, que optaram por não o fazer,
invocando que elas são pouco Æáveis e que
podem inÇuir no processo eleitoral. Igual
posição adoptou o Ouest France, um diário
com mais de 700 mil leitores por dia (menos
que o Le Figaro, mas à frente do Le Monde).
Em Outubro de 2021, a direcção do Ouest
France decidiu não publicar nenhuma
sondagem durante a campanha para as
eleições presidenciais que se realizam em
Abril próximo.
No editorial em que explica a sua tomada
de posição, a direcção do jornal recordou
que, em França, chegou a ser debatida a
hipótese de os candidatos a presidente
poderem vir a ser designados em função do
resultado de sondagens que seriam feitas
com esse propósito… Um pouco mais e a
escolha dos representantes das forças
políticas concorrentes às eleições e a
vontade livremente expressa pelo cidadão
nas urnas seriam vantajosamente
substituídas pelas intenções de voto
retratadas em sondagens, assim promovidas
a versão moderna dos oráculos da
Antiguidade.
Em Portugal, os estudos divulgados após
as eleições apontam para que uma grande
percentagem de indecisos só tenha decidido
em quem votar no último dia da campanha
eleitoral para as legislativas de Janeiro. Este
dado levanta naturalmente a questão de os
eleitores poderem ter sido inÇuenciados
pela publicação das sondagens. Por outras
palavras, se elas pesaram ou não no
resultado Ænal das eleições.
Esta incerteza tem uma enorme
relevância, em democracia, mas, para
efeitos da coluna do provedor, o que mais
importa é a sua faceta jornalística. Se as
sondagens, por um lado, são apenas uma
inevitavelmente desfocada “fotograÆa do
momento” e, pelo outro, falham na tentativa
de revelar com algum rigor a intenção de
voto do cidadão e, por Æm, são lidas
erroneamente pelos jornalistas e pela
opinião pública, então para que servem e
porque são feitas? Para informar e esclarecer
o eleitor, ou para quê?
provedor@publico.pt
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26 • Público • Sábado, 26 de Fevereiro de 2022

Política Direito de voto das diásporas

Portugal repete eleição na emigração

mas há países cujos emigrantes não votam
Se há países que não concedem o direito de voto aos seus cidadãos emigrados, outros países há que,
permitindo o voto da emigração, não o fazem para todas as eleições
NUNO FERREIRA SANTOS

Maria Lopes
Dentro de duas semanas, os 926.
376 portugueses eleitores no círcu-
lo da Europa vão ser chamados a
votar novamente para eleger os dois
deputados que faltam para comple-
tar o plenário da nova Assembleia
da República (AR). Os 400 eleitores
que escolheram, em Dezembro,
votar presencialmente nos consula-
dos, podem ir às urnas no sábado
(dia 12 de Março) ou no domingo
(13), ao passo que os restantes têm
de colocar o seu voto postal nos cor-
reios até dia 12. Só serão considera-
dos os votos que chegarem à Admi-
nistração Eleitoral em Portugal até
dia 23 de Março.
Se Portugal concede o direito de
voto aos seus emigrantes desde 1975,
há muitos países que ainda hoje não
permitem que os seus cidadãos des-
locados no estrangeiro tenham direi-
to de voto para o Parlamento. “A
decisão sobre se os emigrantes
devem ter a possibilidade de votar
não é pacíÆca, havendo um conside-
rável número de países que não [o]
permitem”, vinca um estudo de direi-
to comparado de 14 países feito em
2017 pelos serviços da AR.
Em 2007, um outro estudo muito
mais abrangente do Institute for
Democracy and Electoral Assistance
concluía que “70 países não confe-
rem o direito de sufrágio aos seus Nos dias 8 e 9 de Fevereiro os votos dos dois círculos da emigração foram contados nos pavilhões da FIL, em Lisboa
cidadãos a residir no estrangeiro,

como a Índia e Israel, sendo que 41
países europeus, 28 africanos, 20
asiáticos, 16 americanos e 10 da
Oceânia (num total, pois, de 115 paí-
ses) o permitem”. Mas nem todos os
países que permitem o voto de emi-
grantes o fazem para todas as elei-
ções. Só Portugal, Áustria, Colôm-
bia, Eslovénia, Moldávia, Peru,
Polónia, Ruanda, Tajiquistão, Ucrâ-
nia e Uzbequistão admitem esse
voto nas legislativas, presidenciais
e referendos.
“A favor do direito de votarem, as
diásporas habitualmente invocam
valores nacionalistas, designadamen-
te a sua ligação, com vínculo de cida-
dania, ao Estado a que pertencem”,
o que pode ter peso em países onde
as divisas que remetem “contribuem
signiÆcativamente para a economia
nacional”, descreve o estudo. A que
se soma o argumento do princípio da
universalidade do direito de sufrágio
dos regimes democráticos.
Já contra a atribuição do direito
79%
foi a percentagem da taxa de
abstenção nas legislativas de 30
de Janeiro no círculo eleitoral da
Europa. Teme-se agora que
a abstenção possa subir na
repetição da eleição
de voto aos emigrantes “é frequen-
temente esgrimido o argumento de
que é inaceitável uma população
que já não vive no país poder
inÇuenciar a eleição de órgãos de
soberania, com poderes legislativos
e de governação, quando não terão
de conviver quotidianamente com
os resultados de uma eleição que
ajudaram a formar”, prossegue o
estudo. A que se somam os custos
elevados para a organização das
operações eleitorais no estrangeiro,
o que se torna ainda mais difícil em
países com diásporas numerosas, e
a necessidade de prazos mais dila-
tados para todo o processo.
Voto telefónico já foi testado
Há diversas modalidades de voto
dos emigrantes nas legislativas nos
14 países analisados pelos serviços
da AR — deste grupo, apenas os emi-
grantes dinamarqueses não têm
direito de voto nas eleições legisla-
tivas. O voto pessoal no país de ori-
gem é a regra na Albânia, o que
pressupõe que o emigrante se des-
loque ao seu país para votar, mas os
emigrantes italianos e britânicos
podem fazê-lo de forma facultativa.
Croácia, Espanha, Hungria, Lituâ-
nia, Moldávia, Polónia e França per-
mitem que os seus emigrantes
votem presencialmente na embai-
xada ou posto consular, ou em local
de voto especíÆco.
O voto postal é permitido em
Espanha, França, Hungria, Itália,
Lituânia, Reino Unido, Polónia,
Holanda (são os eleitores que des-
carregam o boletim de voto da Inter-
net e o mandam pelo correio) e
Andorra (aos emigrantes que a cada
eleição o pedirem).
Já o voto por procuração existe
combinado com outros modos de
votação nos sistemas eleitorais de
França, Holanda e Reino Unido. A
Holanda chegou a fazer também uma
experiência de voto por telefone para
os seus emigrantes. O voto pela Inter-
net foi testado por Portugal num pro-
jecto-piloto não vinculativo nas legis-
lativas de 2005, mas é admitido na
Estónia, em parte dos três cantões
suíços e foi experimentado na Holan-
da em 2004 e na França em 2006.
O estudo da Divisão de Informa-
ção Legislativa Parlamentar foi ela-
borado para acompanhar a discus-
são de uma petição do movimento
Também Somos Portugueses, que
reclamava a “simpliÆcação das leis
eleitorais para os portugueses no
estrangeiro”.
Os subscritores pediam o recensea-
mento eleitoral automático aquando
da alteração da morada do eleitor
para o estrangeiro, o recenseamento
via postal e via Internet para os emi-
grantes e a introdução da modalidade
de voto electrónico para os portugue-
ses residentes no estrangeiro.
De todas estas medidas, apenas a
primeira foi posta na lei, fazendo
multiplicar por cinco o número de
eleitores nos dois círculos no estran-
geiro — de 242 mil para 1,466 milhões
— logo nas legislativas de 2019. Apesar
de a aÇuência eleitoral ter aumenta-
do bastante, a abstenção manteve-se
a rondar os 89%. Na Europa, que tem
uma fatia de dois terços dos eleitores,
foi de 88% em 2019 e de 79% em
Janeiro. E é esse aumento de interes-
se que agora se teme perder devido
ao conturbado processo de anulação
de 80% dos 193 mil votos que chega-
ram a Lisboa para a contagem.
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Público • Sábado, 26 de Fevereiro de 2022 • 27

Política

ERC dá razão a BE e CDU: debate na TVI

entre Moedas e Medina foi “discriminatório”
Liliana Borges
Deliberação da ERC diz
que no futuro não poderá
haver nenhum debate que
privilegie determinadas
candidaturas
A Entidade Reguladora para a Comu-
nicação Social (ERC) deu razão às
queixas do Bloco de Esquerda e da
Coligação Democrática Unitária
(CDU) e concluiu que o debate entre
Fernando Medina e Carlos Moedas
nas eleições autárquicas, transmitido
pela TVI, constituiu um “tratamento
discriminatório” em relação aos res-
tantes candidatos autárquicos.
Na deliberação a que o PÚBLICO
teve ontem acesso, a ERC delibera
que a TVI não poderá realizar deba-
tes nestes modelos que “privilegiam
determinadas candidaturas”, lê-se.
Em causa está o debate entre os
candidatos Fernando Medina e Car-
los Moedas transmitido pela TVI a 7
de Setembro, no âmbito das eleições
autárquicas.
Analisadas as queixas do BE e da
coligação entre PCP e Verdes, a ERC
deliberou que, “no futuro”, as tele-
visões — neste caso a TVI — devem
abster-se “de realizar debates entre
candidaturas, em período eleitoral,
em violação do artigo 7.º da Lei n.º
72-A/2015, de 23 de Julho, designada-
mente, privilegiando determinadas
candidaturas em relação às demais,
sobretudo quando estas preenchem
o critério de representatividade polí-
tica e social previsto na lei”.
Em reacção, o BE saúda a decisão
da ERC, “que dá razão ao Bloco e
conÆrma que a TVI optou por reali-
zar um debate discriminatório, em
violação da lei”. “Este debate nunca
devia ter acontecido. Não só lamen-
tamos que a TVI o tenha feito, como
lamentamos que o candidato da coli-
Tomada de posse de Moedas
gação PS-Livre e o candidato da coli-
gação de direita tenham aceitado
participar num debate que excluiu
as outras candidaturas, que, por for-
ça da lei, tinham de ser incluídas”,
aÆrmam os bloquistas numa nota de
imprensa enviada ao PÚBLICO.
“A decisão da ERC, ainda que infe-
lizmente não tenha chegado a tempo
de evitar a realização deste debate
discriminatório, contribui para que
esta situação não se repita”, conclui
o partido.
Na reclamação apresentada à
Comissão Nacional de Eleições (CNE)
— e reencaminhada à ERC —, o BE
alegava que a escolha de apenas dois
candidatos — PS e PSD — violava a lei
eleitoral ao promover o debate em
período de pré-campanha. “Dito de
outra forma: a liberdade editorial
não pode servir para justiÆcar uma
discriminação inaceitável”, lia-se.
À data, numa nota enviada às
redacções, a CDU declara que se
“dirigiu” à CNE para que seja assegu-
rada a igualdade das candidaturas.
“A tentativa de sobrevalorizar a can-
didatura de um candidato de um
partido, o PSD, que tem idêntico
número de vereadores eleitos quan-
to os da CDU, constitui um exercício
para credibilizar eleitoralmente
aquela candidatura num quadro em
que manifestamente revela não ter”,
podia ler-se.
Em resposta à CNE, a direcção da
TVI aÆrmou que “durante o período
da campanha eleitoral — mas já não
durante o período de pré-campa-
nha” — é que “vigora a obrigação de
suspender a colaboração regular de
candidatos ao acto eleitoral” ou
“impera a obrigação de observar
equilíbrio, representatividade e equi-
dade no tratamento informativo as
notícias, factos e acontecimentos de
relevo relativos às diversas candida-
turas”. A TVI justiÆcou tal decisão,
entre outras razões, com “a repre-
sentatividade social e política perce-
bida das várias candidaturas às elei-
ções para os órgãos autárquicos do
município de Lisboa”.

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O Instituto da Habitação e da Reabilitação Urbana, I. P.
procedeu à abertura de 3 procedimentos concursais com vista
ao recrutamento de Técnicos Superiores, com ou sem vínculo
de emprego público, na modalidade de contrato de trabalho
em funções públicas por tempo indeterminado:
1 Técnico Superior - Licenciatura em Engenharia
Eletrotécnica – Local de trabalho em Lisboa
1 Técnico Superior - Licenciatura em Engenharia
Eletrotécnica – Local de Trabalho no Porto
2 Técnicos Superiores – Licenciatura nas áreas CNAEF
Estatística, Matemática ou Matemática e Estatística – Local
de trabalho em Lisboa (1) e no Porto (1)

As candidaturas estão abertas até ao dia 4 de março de 2022.

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28 • Público • Sábado, 26 de Fevereiro de 2022
Política
“Jorge Moreira da Silva é quem tem o
pensamento político mais consolidado”
Entrevista
Ana Sá Lopes
António Capucho
Acredita, porém, que Luís
Montenegro tenha mais
apoio nas bases. A chave
estará nos passistas
António Capucho acha que a “linha
vermelha” de Rui Rio em relação
ao Chega “não funcionou de forma
muito visível” nas legislativas, nem
Æcou clara para o eleitorado. O
histórico do PSD, que defende que
os autarcas não devem
candidatar-se à liderança, foi o
entrevistado do Interesse Público,
a que pode assistir no site do
PÚBLICO.
Como é que alguém que viveu na
primeira linha os anos dourados
do PSD olha para o que se está a
passar hoje?
Com alguma preocupação, mas
com a esperança de que as coisas se
resolvam com a eleição de uma
nova liderança e a aprovação de
uma nova estratégia antes do Verão.
E que o partido possa iniciar uma
nova caminhada refrescado, depois
de Rui Rio ter apresentado a sua
vontade de se afastar.
Há menos de um ano
aconselhava o PSD “a fazer uma
oposição mais acutilante”. Foi a
falta disso que ditou a derrota?
É um factor, mas muito secundário.
Foi essa a percepção da opinião
pública. Mas não foi isso que
conduziu ao resultado eleitoral. Foi
uma coisa completamente
diferente. Houve as sondagens a
indiciar um empate técnico entre os
dois grandes partidos. À esquerda
penalizou-se o PCP e o BE por terem
deitado abaixo o Governo e o
eleitorado de esquerda assustou-se
com a possibilidade de Rui Rio sair
vitorioso e haver uma maioria de
direita no Parlamento.
Uma maioria de direita com o
Chega… Acha que este risco
prejudicou o PSD?
Rui Rio pôs essa linha vermelha, eu
também a ponho. Com o Chega
nunca, jamais, em tempo algum.
Acha que os portugueses
perceberam que Rui Rio nunca
faria uma aliança parlamentar
com o Chega?
Não perceberam por duas razões:
porque essa linha vermelha não
funcionou de uma forma muito
visível. Pelo contrário, não
funcionou nos Açores. E Rui Rio,
que teve participações nos debates
eleitorais muito positivas,
nomeadamente contra António
Costa, neste aspecto do Chega não
foi suÆcientemente claro para o
eleitorado. E a prova disso é que o
eleitorado de esquerda teve medo
que houvesse não apenas um
entendimento com o Chega mas
que houvesse uma maioria de
direita. E pôs-se todo nos braços do
Partido Socialista.
Mas o que aconteceu para Rui
Rio dizer que a prisão perpétua
de André Ventura era mitigada?
No único debate frente a frente que
não correu bem a Rui Rio, que foi
com o Chega, deixou que o Chega
pusesse em cima da mesa as
questões de fundo e alimentou esse
debate. A questão da prisão
perpétua não estava em causa. O
PSD não tem de a discutir com o
Chega. Tem de recusar pura e
simplesmente essa discussão. Não
valia a pena tentar dar uma aula
doutoral a explicar que a prisão
perpétua não é tão perpétua como
isso. E isso incomodou os eleitores e
deixou algumas dúvidas.
Quem poderá ser o novo líder do
PSD?
Tenho pena de que não possa ser
um deputado. A oposição ao
Governo socialista vai ter como
palco principal a Assembleia da
República e seria muito desejável
que fosse um deputado. E há lá
deputados muito bem preparados
para isso como André Coelho Lima
e outros.
Está a imaginar André Coelho
Lima líder do PSD?
Estou simplesmente a dizer que era
desejável que fosse um deputado.
Até diria que era prioritário. Mas
infelizmente, devido à situação...
André Coelho Lima estava próximo
de Rui Rio e isso não lhe é favorável.
Agora que ele tem mérito absoluto
para ser líder, não tenho a mínima
dúvida. Está preparadíssimo. Mas
tenho a informação de que não há
nenhum deputado disponível para
se candidatar. Fora daí, sou
manifestamente contra a
candidatura de autarcas.
Estamos a falar de Ribau Esteves,
que já se posicionou?
Aveiro, Cascais e Lisboa. O
presidente da Câmara de Lisboa
tem mérito para exercer a liderança
— e provavelmente vai ter a
oportunidade de a disputar mais
tarde —, agora deve completar o
mandato. Ribau Esteves tem imensa
categoria como autarca, tem feito
uma obra notável, deve acabar o
mandato e abster-se de se
candidatar à liderança.
Miguel Pinto Luz, n.º 2 de
Cascais, não sabemos se
avança…
Desta vez não. Repare que o
NUNO FERREIRA SANTOS
presidente da Câmara de Cascais,
Carlos Carreiras, que está de braço
dado com Miguel Pinto Luz,
avançou com a hipótese surrealista
de Marques Mendes, que já o
mandou passear, como é óbvio.
Quando Carlos Carreiras avança o
nome de Marques Mendes, das
duas, uma: ou porque sabe que o
seu braço direito não está
interessado em avançar para já,
porque sabe que não tem grandes
hipóteses de ganhar, ou então
zangaram-se, o que não acredito.
Entre a hipótese de Miguel Pinto
Luz não querer avançar para já ou
de estar zangado com Carlos
Carreiras, acho que não está
interessado em avançar. Dos
putativos candidatos a líder sobra
um que está em Paris num lugar
fantástico, é director da OCDE…
Jorge Moreira da Silva…
É o que tem o pensamento político,
que eu conheça, mais consolidado e
com o qual eu mais me identiÆco.
Está na ala mais à esquerda dentro
do partido, é um social-democrata
de raiz, já pôs uma linha vermelha,
claríssima, radical, em relação a
qualquer contacto com o Chega.
Não faço a mínima ideia se está para
aí virado. Já esteve. E há
Montenegro, que já disputou a
liderança, tem uma experiência
política bastante alargada,
nomeadamente como líder
Rui Rio neste parlamentar, onde teve uma
prestação bastante positiva ao lado
aspecto do Chega de Pedro Passos Coelho. Diz-se que
não foi quer avançar e tem toda a
legitimidade para avançar.
suÄcientemente O que me interessa a mim, se os dois
claro para se candidatarem, é conhecer as
moções de estratégia de um e de
o eleitorado outro. Conheço bem o pensamento
político de Jorge Moreira da Silva,
mas depois verei o que Montenegro
André Coelho apresentará como estratégia.
Lima tem mérito Montenegro tem uma vantagem que
é estar muito próximo das bases do
absoluto partido. Está cá, enquanto o outro
para ser líder está em Paris. Há lá bases, mas não
são tão importantes. Vamos ver
como é o comportamento dos
Ribau Esteves tem passistas, se apresentam um
candidato ou não. Se Miguel Pinto
imensa categoria Luz não avança… Eles não estavam
como autarca, tem muito felizes com Montenegro,
tendo insinuado inclusive que ele
feito uma obra tinha contribuído para a vitória de
notável, deve Rui Rio. O que não é completamente
mentira, mas enÆm. Vários
acabar o mandato apoiantes de Montenegro foram
e abster-se de eleitos deputados.
Quando diz “passistas” está a
se candidatar falar dos apoiantes de Paulo
à liderança Rangel nas últimas directas…
Claramente.
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Público • Sábado, 26 de Fevereiro de 2022 • 29

Tribunal Marítimo estabelece indemnização a pagar Sociedade

Filho de vítima do naufrágio do Bolama

ganha acção na justiça 30 anos depois
Empresa responsabilizada por acidente suspendeu a actividade há vários anos. Juiz do Tribunal Marítimo
utilizou inversão do ónus da prova para condenar Ärma a pagar 110 mil euros ao queixoso
MARINHA PORTUGUESA

Ana Henriques
O Tribunal Marítimo mandou pagar
esta semana ao Ælho de um dos pas-
sageiros do navio Bolama, que nau-
fragou há três décadas, uma indem-
nização de 110 mil euros, por ter
Æcado sem pai aos quatro anos. Resta
saber se o armador da embarcação
terá ainda dinheiro para cumprir a
sentença: trata-se de uma empresa
com ligações ao grupo Salvador Cae-
tano que se dedicava ao comércio de
marisco, mas que tem a sua activida-
de suspensa há pelo menos seis anos,
muito embora tenha estado represen-
tada neste julgamento por um advo-
gado. O PÚBLICO tentou falar com
este representante legal da Ærma, mas
sem sucesso.
O mistério do afundamento do
Bolama mantém-se intocado, mesmo
após esta recente decisão judicial, a
última de várias que foram proferidas
nos tribunais portugueses ao longo
de todo este tempo. Tal como suce-
deu com os anteriores juízes, o magis-
trado do Tribunal Marítimo encarre-
gado de dirimir este litígio também
não conseguiu chegar a uma conclu-
são deÆnitiva sobre o que se passou
naquele fatídico 4 de Dezembro de
1991 para o navio ter arrastado consi-
go para o fundo do mar as 30 pessoas
que levava a bordo num lapso de tem-
po estimado em quatro curtos minu-
tos. Sem que tivesse sido emitido
qualquer pedido de ajuda, apesar de O navio Bolama afundou-se no dia 4 de Dezembro de 1991 e ainda permanece no mesmo local
haver equipamentos a bordo para
esse efeito. Nenhum dos oito corpos ções ao conhecido grupo do sector guiu concluir, porém, terem sido ónus da prova. Ou seja, cabia ao arma- A última comunicação que o Bola-
encontrados tinha colete de salvação automóvel, já este arrastão levava 22 estas transformações a causar o nau- dor, a Crustacil — que na altura do ma fez naquele dia, à hora de almoço,
vestido e os botes salva-vidas também anos de vida no mar. E adaptá-lo à frágio. Os vários relatórios elaborados acidente já não era dona do arrastão depois de partir da Docapesca de Lis-
não foram usados. pesca de camarão implicava altera- por peritos sobre o acidente apontam —, provar em tribunal que tinha toma- boa, não revelava nenhuma emergên-
Teria o afundamento sido provoca- ções estruturais de grande monta que outras causas, que vão desde o surgi- do todas as cautelas antes de fazer o cia. Só dois meses mais tarde a Mari-
do por um atentado da Mossad, os podiam fazer perigar a sua estabilida- mento de um cardume de apara-lápis navio zarpar para o mar. nha descobriu o local do naufrágio.
serviços secretos israelitas, para de. As primeiras, que tiveram lugar (estes peixes surgem em grupos de Deu com o navio pousado no fundo
impedir que a carga de urânio e armas ainda em terras vicking, incluíram um toneladas e arrastam as redes) até à Convidado a bordo do mar a mais de 115 metros de pro-
vinda de uma ex-república soviética acrescento de seis metros ao Bolama. hipótese de as redes terem Æcado pre- Mesmo não sendo pescador, António fundidade, entre o cabo Raso e o cabo
— e que o navio transportava de forma Mas foi já nos estaleiros do Seixal que sas num cabo submarino. Alegria foi um dos que embarcaram Espichel. Muito direito, como se por
dissimulada — chegasse à Líbia? Ou se Æzeram as mudanças susceptíveis Mas o juiz do Tribunal Marítimo naquela viagem que devia ter servido milagre ainda pudesse dali sair outra
será que a carga deste navio disfarça- de comprometer a segurança da que proferiu a sentença, ainda passí- para testar o recém-instalado sistema vez e voltar a navegar.
do de pesqueiro era, aÆnal de contas, navegação, como a colocação de 28 vel de recurso, não se atravessa por de recolha de redes. O arquitecto de Para afastar a sua presunção de
droga? O facto de o acidente ter ocor- toneladas de lastro no fundo do nenhuma destas teorias: “Várias cau- 37 anos seguia a bordo para uma culpa no acidente, a Crustacil tinha
rido sem explicação alimentou duran- porão, para assegurar a estabilidade, sas poderão ter concorrido para o almoçarada, como convidado do gen- de ter demonstrado que o afunda-
te anos várias teorias conspirativas. e a instalação de uma segunda grua naufrágio, actuando isoladamente ou ro de Salvador Caetano. Tinha come- mento não se tinha Æcado a dever à
Entre as vítimas estava um genro no tombadilho. Foram alterações rea- em conjunto, mas não se logra deter- çado a ganhar prestígio — foi um dos sua incúria, alega o Tribunal Maríti-
de Salvador Caetano, responsável lizadas sem estudo prévio e sem a minar, com exactidão, qual a concre- autores da pousada da juventude de mo. Ou seja, devia ter descoberto
pela aquisição da embarcação na devida supervisão técnica. ta acção que levou ao afundamento.” Almada — e alcançara uma situação aquilo que ninguém conseguiu até
Dinamarca e que os rumores surgidos “Não foram comunicadas à Inspec- Porém, o Código Civil classiÆca a confortável na vida. Era o principal hoje — as causas do sucedido — e não
depois do sucedido ligavam ao tráÆco ção de Navios e Segurança Marítima, navegação marítima como uma acti- sustento da família, embora a mulher ter-se limitado a avançar hipóteses.
de armas e estupefacientes. Quando nem participadas para Æscalização, vidade perigosa, equiparável ao fabri- também trabalhasse como educado- O Bolama continua submerso, no
foi comprado aos dinamarqueses pela tendo afectado a estabilidade do co de explosivos ou à navegação ra de infância. O casal tinha um Ælho local onde se afundou. E a guardar o
Crustacil, Ærma vocacionada para o navio”, pode ler-se na sentença do aérea, por exemplo. E nestes casos é de quatro anos, com quem tinha uma segredo do que se passou no seu últi-
comércio de marisco mas com liga- Tribunal Marítimo. Que não conse- permitida a chamada inversão do relação muito afectiva. mo dia de vida.
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30 • Público • Sábado, 26 de Fevereiro de 2022

Sociedade

Tribunal absolve todos os arguidos acusados

de burla e peculato no caso dos colégios GPS
PAULO PIMENTA

Sónia Trigueirão

O MP acusava os
administradores dos
colégios de se terem
apoderado de 30 milhões
de euros para uso pessoal
O Tribunal Central Criminal de Lis-
boa decidiu ontem absolver António
Calvete, antigo deputado do PS,
Manuel Madama, António Madama,
Agostinho Ribeiro e Fernando Cata-
rino, todos gestores arguidos no pro-
cesso dos Colégios GPS, que estavam
acusados de peculato, burla qualiÆ#
cada e falsiÆcação de documentos.
Segundo a juíza Catarina Caramelo
Silva, o colectivo tomou a decisão por
unanimidade. Para a magistrada não
se provou que os arguidos tenham
usufruído do dinheiro dos colégios a
nível pessoal, nem que tenham criado
um esquema para obter pagamentos
indevidos do Estado. “Não se provou
que tivessem falsiÆcado documentos
para enganar o Estado”, disse.
Pelo contrário, a magistrada sub-
linhou que, tendo em conta toda a
prova documental e os testemunhos,
deu-se como provado que os Colé-
gios GPS cumpriram os contratos
com o Estado e que as crianças tive-
ram as aulas. “As escolas funciona-
vam, os alunos tinham aulas, havia
projectos educativos ambiciosos”,
aÆrmou. Segundo a juíza, “há uma A investigação começou os arguidos serem acusados pelo cri- depois de o Ministério da Educação, associação com o Estado. No ano lec-
total ausência de prova de que os em 2012 e a acusação me de peculato. tutelado na altura por Nuno Crato, ter tivo de 2015/2016, segundo dados do
serviços não foram prestados”. Aliás, foi deduzida em 2018. Segundo a acusação do MP, os enviado ao MP os resultados de audi- Ministério da Educação, o grupo GPS
a magistrada diz que não se percebe Só ontem houve sentença administradores dos colégios torias levadas a cabo pela Inspecção- chegou a receber 21 milhões de euros
como é que as escolas funcionariam, tinham-se apoderado para seu uso -Geral da Educação a seis colégios do do Estado por 259 turmas, no âmbito
se fossem dados como provados os pessoal de 30 dos 300 milhões de grupo GPS em 2012. Inicialmente destes contratos. No ano passado
factos imputados pelo MP. euros que o GPS terá recebido do eram sete os arguidos envolvidos nes- recebeu pouco mais de sete milhões
Acresce que, para a juíza, as perí- Estado entre 2005 e 2013, através te processo e que chegaram a ser acu- de euros por 97 turmas distribuídas
cias que foram realizadas, a pedido dos chamados “contratos de associa- sados pelo MP, mas, depois do deba- por seis colégios.
do MP, às movimentações Ænanceiras ção” — os apoios que o Estado con- te instrutório, o juiz de instrução À saída do tribunal, o advogado
que ocorreram entre as sociedades cede ao ensino privado nas localida- criminal Ivo Rosa não pronunciou Mário Diogo falou em nome de todos
do grupo GPS não revelaram nada de des onde a oferta pública não existe, dois para julgamento: José Manuel os arguidos e sublinhou que, desde o
ilícito ou com relevância criminal. ou não chega para todos quantos Canavarro, ex-secretário de Estado início, disseram que o julgamento se
Pelo contrário, a magistrada sublinha estão na escolaridade obrigatória. adjunto e da Administração Educati- faria na sala de audiências. “A senten-
que essas perícias revelam que a ges- Esse dinheiro teria sido usado para va do Governo de Santana Lopes — ça só podia ser esta”, aÆrmou, acres-
tão dos colégios tem resultados “fran- pagar viagens, carros, mobílias, refei- que, depois de sair do executivo, foi centando que o julgamento “revelou
camente positivos”. ções, entre outros gastos. Entre 2005 trabalhar para o grupo GPS — e José que havia uma total ausência de pro-
Quanto aos eventuais gastos com
Chegarmos e 2012, o MP diz que os arguidos terão Maria de Almeida, ex-director regio- vas do que quer que fosse”.
viagens ou refeições, a juíza conside- a tribunal e ser gasto 44.012,60 euros só em refeições nal da Educação de Lisboa, que exer- Além disso, o advogado disse que
rou que são questões de gestão de — por exemplo, numa só refeição ceu o cargo entre 29 de Setembro de este processo “merecerá da parte dos
natureza privada e que não estava na
peremptório foram pedidas 36 garrafas de vinho 2004 e 26 de Maio de 2005. ditos agentes da Justiça, nomeada-
competência do tribunal avaliar. a ausência de com um preço total de 1440 euros. mente do Ministério Público, e de
A procuradora do Ministério Públi- O MP aÆrmou também que os Advogado pede reÅexão alguma comunicação social, uma
co tomou a palavra e disse que vai
qualquer facto que administradores terão gasto A acusação foi deduzida a 20 de Mar- reÇexão, talvez até profunda”.
recorrer da decisão do tribunal. Nas constitua crime 130.633,91 euros em viagens e esta- ço de 2018 e a decisão instrutória foi “Porque fazer julgamentos públi-
alegações Ænais, o MP tinha pedido a dias. Na lista de despesas constam conhecida em Novembro do mesmo cos, condenar as pessoas a este sacri-
condenação e prisão dos arguidos. A
não pode deixar ainda artigos como mobiliário ano. O julgamento começou quase fício, um calvário, durante oito anos,
procuradora do MP defendeu que a de merecer (64.500 euros), cortinados (5000 três anos depois, sem Setembro de para chegarmos a tribunal e ser abso-
natureza dos contratos dos colégios euros), livros, bilhetes de espectácu- 2021. lutamente peremptório a ausência de
com o Estado permite equiparar
uma reÅexão los e vinhos “generosos” que custa- O Grupo GPS, fundado por António qualquer facto que constitua crime
quem os executa ao estatuto de fun- Mário Diogo ram mais de 7000 euros. Calvete, antigo deputado do PS, che- não pode deixar de merecer uma
cionário público, podendo por isso Advogado de defesa A investigação começou em 2014, gou a ter 11 colégios com contratos de reÇexão”, defendeu Mário Diogo.
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Governo mantém comparticipação para
apenas dois testes gratuitos à covid por mês
Ana Maia
Segundo a Associação
Nacional de Farmácias,
desde o início do ano
as farmácias fizeram mais
de 4,2 milhões de testes
O Governo vai manter a compartici-
pação dos testes rápidos de antigénio
de uso proÆssional em Março. Mas
haverá uma alteração: cada pessoa
passa a ter acesso a dois testes gratui-
tos por mês em vez dos quatro que
estavam deÆnidos.
A redução está relacionada com a
situação epidemiológica do país e que
levou à alteração das medidas de
combate à pandemia, conÆrmou ao
PÚBLICO fonte do Ministério da Saú-
de. A diminuição do número de casos
positivos, a ausência de pressão nos
internamentos hospitalares e a eleva-
da taxa de vacinação de reforço nas
pessoas mais vulneráveis levaram o
Governo a alterar as regras, nomea-
damente na exigência de apresenta-
ção de um teste negativo para aceder
a determinados espaços.
Segundo as novas regras em vigor,
já não é preciso apresentar um teste
negativo para aceder a grandes even-
tos, recintos desportivos, bares e dis-
cotecas. Mantém-se a exigência de
Vacinação contra a covid-19 entra numa nova fase
e começa a transferir-se para os centros de saúde
Ana Maia
Os grandes centros
de vacinação vão sendo
encerrados. Portugal já tem
85% da população elegível
com dose de reforço
A partir de terça-feira o número de
centros de vacinação contra a covid-
19 vai ser inferior, passando dos
actuais 192 para 139 em todo o país.
O anúncio foi feito ontem pelo secre-
tário de Estado adjunto e da Saúde,
explicando que a transição da vaci-
nação para os centros de saúde se
deve ao elevado número de popula-
ção já com a dose de reforço. Segun-
do António Lacerda Sales, Portugal
já tem 85% da população elegível
com dose de reforço.
“Temos neste momento mais de
5,9 milhões de pessoas com a dose
teste para as visitas a lares ou doentes
internados em estabelecimentos de
saúde, mas apenas para as pessoas
que não têm ainda a dose de reforço
há mais de 14 dias.
Apesar destas alterações, a que se
junta também o Æm do isolamento
obrigatório para quem for considera-
do um contacto de alto risco de uma
pessoa infectada, a testagem continua
a ter um papel importante no contro-
lo da pandemia. Segundo a estratégia
de testagem, cuja norma foi recente-
mente revista pela Direcção-Geral da
Saúde (DGS), recomenda-se que os
contactos de alto risco continuem a
realizar testes rápidos de antigénio
para assegurar que não estão infecta-
dos. Motivo pelo qual este regime
excepcional de testes gratuitos se
mantém activo no próximo mês.
O valor da comparticipação tam-
bém será revisto. Actualmente, as
farmácias e os laboratórios aderentes
recebem 15 euros por teste ao abrigo
do protocolo com o SNS. A partir do
próximo mês, o valor da compartici-
pação volta a ser de dez euros. Este
era o preço inicialmente pago pelo
Estado, mas que acabou por ser revis-
to e levou a uma maior adesão das
farmácias e laboratórios.
Desde o início do ano até ao dia 22
deste mês, as farmácias já realizaram
mais de 4,2 milhões de teste gratuitos
de reforço, faltando vacinar cerca de
950 mil pessoas elegíveis à data.
Vivemos um tempo novo no que toca
ao alívio de restrições, mas também
do processo de vacinação que tem
de ser adaptado e paulatinamente
entrar na normalidade das nossas
vidas”, disse o responsável na confe-
rência de imprensa.
“Haverá uma alteração do dispo-
sitivo de vacinação, que já não care-
ce da resposta que tem sido dada”,
continuou António Lacerda Sales,
anunciando o “processo de transição
de grandes centros de vacinação
para os centros de saúde, sendo
mantidos os centros de vacinação
nos centros populacionais onde se
justiÆque”.
“Temos 192 centros de vacinação
e passaremos 139 a partir de 1 de Mar-
ço. Temos ainda 98 centros e unida-
des de vacinação que passarão a 145
a partir de Março”, explicou, referin-
A alteração das normas que
deixaram de exigir tantos testes
esteve na base desta decisão
O valor da
comparticipação
pelo Estado volta
a ser de dez euros
por cada teste
realizado
A partir de terça-feira ficam
apenas 139 centros a funcionar
Público • Sábado, 26 de Fevereiro de 2022 • 31
ADRIANO MIRANDA
ao abrigo do protocolo com o SNS.
Segundo dados da ANF, enviados ao
PÚBLICO na quarta-feira, em Janeiro
Æzeram-se 2,9 milhões de testes e este
mês mais de 1,3 milhões.
A par deste acordo com o Estado,
também as regiões autónomas dos
Açores e da Madeira e as autarquias
de Lisboa, Oeiras e Lagoa mantêm
protocolos activos com as farmácias.
De acordo com informação da ANF,
ao abrigo destas parcerias realizaram-
se 153.780 mil testes em Janeiro e
31.361 em Fevereiro (até ao dia 22).
Questionada pelo PÚBLICO sobre
se vai manter esta oferta de testes
do que o processo de vacinação, que
tem contado com o apoio dos milita-
res, será internalizado nos serviços
de saúde. Questionado sobre a vali-
dade das vacinas e o risco de desper-
dício, perante a redução de pessoas
elegíveis para vacinação, o secretário
de Estado adjunto e da Saúde garan-
tiu que “nunca desperdiçaremos
vacinas”. “Vão continuar a ser usa-
das, em doações ou revendas, sendo
este mecanismo em articulação com
a Comissão Europeia.”
Lacerda Sales lembrou que “os
grandes centros de vacinação têm
funcionado em espaços com outras
funções, como pavilhões desporti-
vos”, e que é importante devolvê-los
à população. “Também é importan-
te que os proÆssionais de saúde
regressem aos locais de origem e
possam dar o seu contributo na recu-
peração da actividade assistencial”,
acrescentou.
Sociedade
gratuitos, a Câmara Municipal de Lis-
boa explicou, no início da semana,
que “neste momento a situação está
a ser avaliada” e a autarquia “conti-
nuará a ajustar, em cada momento,
a oferta de testagem”. A mesma
adiantou que os custos do protocolo
estabelecido com as farmácias ascen-
deram a 779 mil euros em Janeiro e a
326 mil em Fevereiro (dados que vão
até ao dia 20).
Também a Câmara Municipal de
Oeiras explicou, em resposta enviada
por escrito ao PÚBLICO, que o muni-
cípio, “atento às condições sanitárias,
e acompanhando as orientações das
autoridades de saúde, suspendeu a
21 de Fevereiro o funcionamento dos
postos de testagem de Algés e Paço
de Arcos, bem como da unidade
móvel de testagem, sendo a continui-
dade da testagem assegurada nas
farmácias aderentes ao protocolo
com o município até ao Ænal do mês
de Fevereiro”.
Este modelo que agora termina
“permitiu a realização de 48.079 tes-
tes e orçou para o município em cerca
de 420.000 euros”, disse a autarquia,
especiÆcando que cerca de 150 mil
euros dizem respeito ao protocolo
com a ANF e cerca de 266 mil à uni-
dade móvel e postos Æxos (dos quais
250 mil foram para contratação de
enfermeiros).
O coronel Penha Gonçalves, coor-
denador do núcleo de vacinação,
não revelou quais os centros de vaci-
nação que irão encerrar, mas ques-
tionado sobre o centro de vacinação
de Lisboa instalado na FIL adiantou
que este “vai ser realojado em três
centros mais pequenos”. Quantos às
alterações que vão decorrer por todo
o país, explicou que o processo de
adaptação corre em duas frentes.
Por um lado, irão “manter centros
de vacinação localmente onde estão,
reduzindo capacidade com a Çexibi-
lização e redução de horários, e um
outro movimento que será fechar e
desmantelar alguns centros e realo-
cá-los nas unidades funcionais”.
“Este processo vai decorrer nas
próximas semanas e vai reduzir a
capacidade instalada [de vacinação]
de 625 mil para uma capacidade de
cem mil pessoas por semana”, expli-
cou Penha Gonçalves.
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32 • Público • Sábado, 26 de Fevereiro de 2022
Sociedade
Para quem é
Reportagem
Andreia Friaças
Cristina Sousa, de 47 anos, cresceu
em Soutilha das Aguieiras, uma
precário, a reforma pequena aldeia em Mirandela. Para
tomar conta dos cinco irmãos mais
velhos, foi obrigada a sair da escola
quando completou o sexto ano de
escolaridade. À revelia dos pais,
chumbou de propósito no ano
é um privilégio
escolar anterior na esperança de
ter mais um ano de aulas — mas
rapidamente teve de começar a
trabalhar. Durante a adolescência,
passava os dias na apanha da
azeitona, da batata e, no Æm do
Verão, não faltava às jornadas das
vindimas. Por vezes, viajava até às
pequenas comunas de
Nouvelle-Aquitaine, no Sudoeste
de França, para apanhar
Saltam entre trabalhos temporários, recebem “por baixo da morangos, kiwis ou tabaco.
Aos 18 anos, casou-se e trocou a
mesa” ou não saem do desemprego. Com poucos anos de pequena aldeia de Bragança pela
periferia de Lisboa. Encontrou casa
descontos para a Segurança Social, a reforma será uma batalha no Fogueteiro, em Setúbal, com a
DANIEL ROCHA
esperança de que o trabalho fosse
melhorar, mas seguiram-se várias
batalhas. Trabalhou num
restaurante onde preparava cerca
de 120 almoços por dia e no Æm do
turno recebia uma nota de 20
euros; saltou para outro
restaurante, em que entrava às 10h
e saía a meio da tarde, retomava
antes da hora de jantar e continuava
o trabalho até à meia-noite. “No
Ænal do dia, davam-me 40 euros
por baixo da mesa”, acrescenta
Cristina, que trabalhou também
numa pastelaria, apenas com uma
folga por semana, numa peixaria,
onde entrava antes de o Sol nascer,
e nas limpezas de uma igreja. O
emprego mais longo que conseguiu
foi numa marisqueira, onde
trabalhou durante cinco anos.
“Assinei um contrato e pensava que
pela primeira vez ia fazer
descontos. Mas enganaram-me.
Passado algum tempo, consultei a
minha actividade e nem durante
esses anos tinha descontado...”,
critica Cristina.
Aos poucos, foi-se apercebendo
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da situação em que estava
encurralada: com duas Ælhas para
sustentar, o pouco dinheiro que
recebia ao Ænal do mês não permitia
amealhar poupanças e, ao mesmo
tempo, depois de tantos anos sem
um contrato de trabalho e sem fazer
descontos para a Segurança Social,
sabia que Æcaria desamparada
quando envelhecesse. Mas se vida é
“tão corrida” no dia-a-dia, como é
que se pensa no futuro? “Só
pensava no dia seguinte. Nem tinha
tempo para pensar na reforma”.
“Não chega sequer
para eu comer”
Em Portugal, a Segurança Social
continua a ser fundamental na
arquitectura dos sistemas de
protecção social modernos e um
modelo de garantia de rendimento
ao longo da vida. Desde 1919 que já
se reÇecte sobre um sistema de
seguros sociais obrigatórios para
servir de amparo em situações de
doença, invalidez, velhice,
sobrevivência ou desemprego —
mas só em 1984 foi aprovada a
primeira Lei de Bases da Segurança
Social.
Para muitas pessoas, o número de
anos de trabalho continua a não
corresponder ao número de anos
de descontos na Segurança Social: é
o caso das pessoas que trabalham
sem contrato, com contratos
temporários ¯ como é o caso de 18%
da população, um número acima da
média europeia (12%), segundo o
Eurostat de 2019 ¯ ou os
trabalhadores independentes ¯ que
representam cerca de 16,5% dos
trabalhadores.
Isto significa que “uma parte
importante da força de trabalho
está especialmente vulnerável à
possibilidade de carreiras
contributivas descontínuas” e de
sub-reporte de rendimentos à
Segurança Social, explica Amílcar
Moreira, investigador e professor do
Instituto Superior de Economia e
Gestão da Universidade de Lisboa.
Consequentemente, para quem não
consegue sair do círculo vicioso de
empregos temporários, informais
ou desemprego, a perspectiva é
chegar à velhice com uma reforma
inferior ao expectável ou ter de
trabalhar durante mais anos.
No caso de Cristina, apesar de
trabalhar desde a adolescência,
assinou o seu primeiro contrato de
trabalho apenas aos 37 anos. Um
dia, ao acaso, foi ao site da
Segurança Social. “Foi aí que me
‘caiu a Æcha’. Fiz a simulação do
valor da reforma e só conseguiria
ter reforma aos 67 anos e meio.
Receberia 411 euros”, recorda
Cristina, que tinha de assegurar
sozinha as contas da família, depois
de o seu ex-marido sofrer um
aneurisma e Æcar com 85% de
incapacidade. “Depois de pagar as
contas, este valor não chega sequer
para eu comer”, conclui.
Por outro lado, a precariedade
não se fecha numa faixa etária.
Cerca de dois terços (64,5%) dos
trabalhadores temporários são
jovens e, entre 2019 e 2020, o
emprego jovem caiu 18,4%,
mostram os dados do Instituto
Nacional de Estatística.
Público • Sábado, 26 de Fevereiro de 2022 • 33
Xavier Ovídio
O jovem de 32 anos diz que a
ideia de reforma “é uma coisa da
geração dos pais e dos avós”
Ana Sofia Rosa
Há cerca de seis anos que está
desempregada, desde o
nascimento do filho, que tem o
diagnóstico de autismo
Sociedade
DUARTE DRAGO
Para Xavier Ovídio, de 32 anos, a
ideia de reforma “é uma coisa da
geração dos pais e avós”. “Nem
sequer é uma palavra que faça parte
do meu dicionário. Já assumi que
vou trabalhar a vida toda”, defende
o artista plástico.
Para pagar a licenciatura em
Pintura na Faculdade de
Belas-Artes, em Lisboa, o jovem
trabalhou em quiosques,
restaurantes e bares. Não fez
descontos em nenhum destes
trabalhos. Quando terminou o
curso, a instabilidade continuou.
“O meu trabalho começou por
funcionar assim: era convidado
para um projecto e tinha três meses
de muito trabalho. Depois voltava à
estaca zero e Æcava completamente
desprotegido de qualquer apoio do
Estado”, aÆrma Xavier.
Pensar no futuro
é um privilégio
Como explica Susana Peralta,
professora de Economia na
Nova SBE, a baixa 
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34 • Público • Sábado, 26 de Fevereiro de 2022
Sociedade
produtividade do país, bem como a
falta de partilha de rendimentos
entre diferentes sectores de
produção, leva a que a “economia
tenha diÆculdades em gerar
emprego de qualidade”. Como
agravante, o actual mercado de
trabalho é “pouco inclusivo para os
jovens”: “Temos uma economia de
desigualdades de capital humano
entre gerações, que está a excluir
esta força de trabalho. Os jovens
são o motor de crescimento e, ao
mesmo tempo, são os que sentem
que nunca vão conseguir ter um
bom emprego”, lamenta Peralta.
E há áreas em que o cenário se
agrava. No que diz respeito ao
sector da cultura, a maior parte dos
trabalhadores tem menos de 44
anos e sete em cada dez
profissionais independentes
trabalham exclusivamente por
conta própria, revelando um
padrão de precariedade,
informalidade e pluriactividade
nesta área profissional. Xavier foi
um dos milhares de trabalhadores
que tiveram dificuldades em ser
elegíveis para a prestação de apoio
de 438 euros durante a pandemia.
No caso do jovem, as contas estão
feitas: ao Æm de quase dez anos a
saltar entre empregos temporários
e o desemprego, contabiliza “dois
ou três anos de descontos”, aÆrma.
Ainda assim, com os ziguezagues
Ænanceiros do dia-a-dia, Xavier não
tem condições para desenhar
planos a longo prazo. “Isso é um
privilégio”, defende o jovem. No
entanto, se se esforçar por imaginar
a sua velhice, não vislumbra uma
vida descansada, a “beber chá” e a
desfrutar de “paisagens bonitas”.
“Imagino-me a trabalhar num
atelier”, aÆrma. “Só espero que
nessa altura já tenha dinheiro para
alugar um atelier e ter o meu espaço
para trabalhar.”
O desemprego e a reforma
O sistema de pensões português
depende da evolução demográÆca
do país, o que torna preocupante
os baixos níveis de fecundidade
dos últimos anos. Segundo os
dados do estudo Sustentabilidade
do Sistema de Pensões Português,
coordenado por Amílcar Moreira e
publicado pela Fundação
Francisco Manuel dos Santos, até
2070 haverá uma diminuição de
37% da população em idade activa
— e, no mesmo período, a
percentagem de pessoas com 65 ou
mais anos aumentará de 22% para
36%. Este cenário limitará o
crescimento da economia e as
projecções apontam que o período
de maior pressão na Segurança
Social será entre a década de 2030
e 2040. Prevê-se que o número de
pensionistas cresça de cerca de 2,7
milhões para 3,3 milhões.
Estas projecções sempre foram
uma preocupação para Ana Sofia
Rosa. Há cerca de seis anos que está
desempregada, desde o nascimento
do filho, que tem o diagnóstico de
autismo. João não consegue falar e
depende da mãe para todas as
actividades do dia-a-dia, até para ir à
casa de banho. Ao contrário das
outras crianças, não consegue ficar
na escola o dia todo e Ana Sofia tem
de o ir buscar à hora de almoço. “Às
vezes ele tem alguma crise e
ligam-me da escola para o ir buscar
mais cedo”, diz Ana SoÆa, de 38
anos, que vive em Olhão.
Antes do nascimento de João, Ana
trabalhou durante vários anos num
supermercado, mas, nos últimos
tempos, por mais que tente, nunca
é chamada para uma entrevista: o
problema, acredita a algarvia, é
dizer que tem um Ælho autista que
condiciona a sua Çexibilidade de
horário.
Como neste momento a família
vive apenas dos rendimentos do
marido, Ana tentou obter o estatuto
de cuidadora informal. “Fiz o
pedido do subsídio e desde Junho
que está em análise”, aÆrma. Ainda
assim, o ideal era conseguir voltar a
trabalhar. “O subsídio é 400 e tal
euros. Preferia receber o ordenado
mínimo para poder dar outra vida
ao meu Ælho.”
Perante este cenário, pensar no
futuro deixa Ana “em pânico”.
“Sem uma boa reforma, vivo de
quê? O João vai ser sempre uma
ADRIANO MIRANDA
pessoa dependente e quando
chegar a reforma posso não ter
condições para tratar dele”,
acrescenta. Se se esforçar por
imaginar a “reforma ideal”, não
pedia muito: “Quero apenas viver
dignamente. Que dê para pagar as
despesas e comer.”
“Viver de um dia
para o outro”
Mesmo para quem trabalha e tem
empregos qualiÆcados, a reforma
continua a ser uma preocupação.
No caso de Roberto Martins, desde
pequeno que se viu obrigado a
construir um “enorme sentido de
responsabilidade e de trabalho”,
recorda. É o mais velho de três
irmãos de uma família venezuelana
que aterrou em Portugal à procura
de uma vida melhor.
Depois de trabalhar num
supermercado durante a
licenciatura em Biologia e Geologia
na Universidade de Aveiro, Roberto
fascinou-se pelo mundo académico.
Conseguiu a sua primeira bolsa em
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Os conteúdos disponibilizados ao Utilizador assinante não poderão ser copiados, alterados ou distribuídos salvo com autorização expressa do Público – Comunicação Social, S.A.
2008 e, depois de mais de dez anos
a trabalhar como investigador,
aponta as várias diÆculdades que
este sector enfrenta para construir
uma carreira contributiva. Quem
trabalha em projectos de
investigação pode fazer descontos
para a Segurança Social, mas muitas
vezes apenas pode descontar uma
percentagem mínima.
“Corresponde ao patamar mais
baixo de descontos que pode ser
feito. No meu caso, era cerca de 130
euros por mês. Isto signiÆca que a
minha reforma irá corresponder à
pensão mínima da altura”, explica o
investigador de 37 anos.
Mafalda Escada, de 26 anos,
partilha uma história semelhante. É
licenciada em Ciência Política e
Relações Internacionais, fez
mestrado em Sociologia e há três
anos que trabalha em projectos de
investigação, sempre com bolsas de
curta duração. Até aqui chegar, a
jovem, natural de Vila Nova de
Milfontes, teve vários empregos em
restaurantes e hotéis. “Aquilo que já
trabalhei nunca vai corresponder
aos meus descontos. Hoje em dia a
forma como somos pagos é muito
plural. Somos uma geração que
recebe a recibos verdes, por
debaixo de mesa, que tem contratos
temporários”, lamenta a jovem que,
apesar de trabalhar
ininterruptamente desde os 18
anos, apenas conta quatro anos de
contribuições.
As expectativas que constrói em
redor da reforma e da velhice são
sempre contaminadas pelo
exemplo da sua mãe: é professora
desde 1997, mas ainda continua a
viver de contratos de seis meses ou,
no máximo, de um ano. “Se vemos
gente que trabalhou a vida inteira e
que irá receber uma reforma
miserável, como é que vai ser
quando a nossa geração se
reformar?”. E não é a única a quem
surge este receio: cerca de 83% dos
jovens mostram preocupação na
eventualidade de não vir a ter uma
pensão de reforma, segundo os
dados do estudo internacional Ser
Jovem Hoje: Que Caminhos Existem
para a Independência?, que
inquiriu cerca de 5 mil jovens entre
os 18 e os 30 anos, em seis países
europeus. “O que eu faço é tentar
focar-me no dia-a-dia como
estratégia de autodefesa. Se for
trabalhar a pensar na reforma, não
me levanto da cama”.
Consequentemente, a
instabilidade Ænanceira aliada às
faltas de expectativas de futuro
consegue afectar outras áreas,
como a saúde mental. “Acho que a
nossa geração é ansiosa e deprimida
porque não vê grande luz ao fundo
do túnel”, justiÆca Mafalda. No seu
caso, entristece-se por não
conseguir “comprometer-se com
nada”: quando se fala em viagens
no seu grupo de amigas, é a única
que não pode comprar um bilhete
para os próximos meses, pois não
sabe em que emprego estará ou se
terá dinheiro para ir. “Acabas a viver
apenas de um dia para o outro...”
Os futuros desafios
O direito à Segurança Social está
consagrado na Constituição da
Público • Sábado, 26 de Fevereiro de 2022 • 35
Roberto Martins
O jovem conseguiu a sua
primeira bolsa em 2008 e
sempre trabalhou com
descontos mínimos para a
Segurança Social
Mafalda Escada
A jovem, natural de Vila Nova de
Milfontes, teve vários empregos
em restaurantes e hotéis e
recebia “por debaixo da mesa”
Sociedade
RUI GAUDÊNCIO
República Portuguesa e só num
cenário “extremo” seria possível
“suspender ou limitar a protecção
constitucional a esses direitos”,
explica o economista Amílcar
Moreira. No entanto, o futuro
reserva vários desaÆos.
“Não faz sentido que a Segurança
Social continue a ser paga apenas
pelo trabalho. É preciso receber
outras formas de financiamento. É
preciso tributar a riqueza”, diz
Susana Peralta, dando como
exemplo a medida tomada nos
últimos anos de incluir a receita do
IMI nas contas da Segurança Social.
Apesar da falta de expectativas,
Mafalda e Roberto não põem em
causa a importância da Segurança
Social. “É fundamental para a
democracia”, defende Roberto.
“DesconÆar do sistema de
segurança social é muito perigoso”,
concorda Mafalda. “Tem existido
um discurso populista que se
aproveita da precariedade e
insatisfação das pessoas. A
Segurança Social é o princípio de
conÆança da vida democrática”.
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36 • Público • Sábado, 26 de Fevereiro de 2022
Local Capoulas Santos relativizou fenómeno da seca
As secas são
cíclicas mas
têm-se tornado
mais intensas
A história conÄrma: há uma maior
frequência e intensidade de fenómenos
climáticos extremos nos últimos 30 anos
Carlos Dias
As secas são cíclicas, relativizou
recentemente o ex-ministro da Agri-
cultura Luís Capoulas Santos. Uma
aÆrmação verdadeira mas incomple-
ta: esse ciclo está mais intenso e fre-
quente. O Observatório das Secas, do
Instituto Português do Mar e da
Atmosfera (IPMA), na descrição que
faz dos cenários de evolução climáti-
ca para Portugal continental ao longo
dos últimos 75 anos, regista 12 episó-
dios de seca signiÆcativos, que fre-
quentemente se estendem por mais
de um ano: 1943/1946, 1965, 1976,
1980/1981, 1991/1992, 1994/1995,
1998/1999, 2004/2006, 2008/2009,
2011/2012, 2014/2015 e 2016/2017. Isto
permite concluir que há uma maior
incidência dos fenómenos de seca a
partir de meados dos anos 90 do
século passado.
Também o relatório da Federação
Nacional de Rega (Fenareg) — Contri-
buto para Uma Estratégia Nacional
para o Regadio, publicado em 2019
— conÆrma que as situações de seca
“têm sido mais frequentes e mais
intensas nos últimos 30 anos”. Esta
leitura é partilhada pelo Ministério da
Agricultura no seu programa: “Rega-
dio 20/30 — Levantamento do Poten-
cial de Desenvolvimento do Regadio
de Iniciativa Pública no Horizonte de
Uma Década”, que esteve em consul-
ta pública até 21 de Janeiro.
Relação das secas desde os anos 40 do século passado
Secas mais longas (1943-46 e 2015-18)
100 Percentagem PDSI
Classes seca severa e extrema
80
60
40
20
1941 1943 1946 1949 1951 1954 1956
Fonte: IPMA
De referir ainda que, nas duas últi-
mas décadas do século XX, se obser-
vou “uma intensiÆcação da frequên-
cia de secas, em particular nos meses
de Fevereiro a Abril”. As regiões a sul
do Tejo “são as mais vulneráveis e as
que têm sido mais afectadas”, desta-
ca o relatório da Fenareg.
Alguns dos episódios sobressaem
pela sua duração e o número de
meses consecutivos em situação de
seca severa e extrema. As mais graves
e mais longas ocorreram em 1943-46,
1980-81, 1990-92, 2004-06, 2011/2012
e 2015/2018. A seca de 2004-06 foi a
de maior extensão territorial (100%
do território afectado) e a mais inten-
sa (tendo em conta os meses conse-
cutivos em seca severa e extrema).
Relativizar a seca
Instado a comentar as consequências As secas têm vindo a intensificar-se e estão ainda bem presentes na memória as secas dos anos 2004/2006, 2
de mais um ciclo de seca severa e
extrema que percorre o país de norte interpretação do ex-ministro da Agri- rios que armazenem água, para furos sidera uma “boa resposta ao proble-
a sul, o ex-ministro da Agricultura cultura: a sua frequência e amplitude que permitam fazer captações onde ma comum” que é a seca. Aliás, tor-
Luís Capoulas Santos, numa entrevis- têm aumentado nos últimos anos, é possível”. Acontece que um dos nou-se recorrente ouvir o apelo dos
ta ao Jornal de Negócios e Antena 1, no fenómeno a que tem acrescido uma dramas que afectam sobretudo o ter- agricultores que não estão abrangi-
dia 12 de Fevereiro, procurou “relati- diminuição tendencial das aÇuências ritório onde persiste a agricultura de dos pelas redes de rega, e sobretudo
vizar” o problema, aÆrmando que às diversas bacias hidrográÆcas nacio- sequeiro e a pecuária é a diÆculdade dos produtores pecuários, reclaman-
“há registos históricos de secas pro- nais. de responder à escassez de água com do o acesso à água e queixando-se da
longadas desde o século XV”. Para Capoulas Santos, a incidência as reservas dos aquíferos subterrâ- escassez de pastos.
E reforça o seu argumento aÆrman- das secas “não é um fenómeno novo.” neos, dado o progressivo esgotamen- A reserva estratégica de água, atri-
do que as observações meteorológi- Tem confrontado os portugueses e os to deste recurso, como está a aconte- buto que foi imputado a Alqueva, tem
cas comprovam que “costuma haver agricultores “desde sempre” e lem- cer no Alentejo e Algarve. servido para o regadio de um pouco
períodos de alguns anos de seca a brou que, quando esteve no Governo, E, por razões de natureza logística, mais de 100 mil hectares de olival,
cada dez, 13 anos”. Mas a realidade criou “apoios para equipamentos de não é viável recorrer à água da barra- amendoal e vinha, o fornecimento de
observada no século XXI contraria a transporte de água, para reservató- gem do Alqueva, que Capoulas con- água a 200 mil pessoas no Alentejo,
A de maior extensão territorial (100% do
território afetado) e a mais intensa (tendo
3.ª secas mais longas (1933-35, 1990-92 e 2011-12) 4.ª secas mais longas (1980-81 e 2004-06) em conta os meses consecutivos em
seca severa e extrema).
1959 1962 1965 1968 1971 1974 1977 1980 1983 1986 1990 1993 1996 1999 2002 2004 2007 2010 2012 2015 2017 2019
PÚBLICO
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2011/2012 e, em particular, a de 2015/2018
a produção de energia hídrica e
garantir o caudal ecológico no rio
Guadiana. Como disse um agricultor
da zona do Campo Branco ao PÚBLI-
CO no decorrer da seca de 2017/2018,
Alqueva é um condomínio privado
ao lado de um bairro de lata com cer-
ca de 2 milhões de hectares.
A capacidade do Alqueva para
suprir as necessidades crescentes
leva a concluir que no futuro a médio/
longo prazo deixa de ter condições
para irrigar quase 200 mil hectares,
de solos aráveis na região Alentejo. O
relatório da Fenareg lança o alerta:
os cenários de evolução climática
para Portugal até ao Ænal do século
XXI “apontam para condições pro-
gressivamente mais desfavoráveis
para a actividade agrícola e Çorestal”.
Perspectiva-se uma “redução da pre-
cipitação e aumento da temperatura,
do agravamento da frequência e
intensidade dos efeitos climáticos
extremos e do aumento da suscepti-
bilidade à desertiÆcação”.
Transvases
Alguns investigadores, nomeadamen-
te Francisco Gomes da Silva, ex-se-
cretário de Estado da Agricultura, já
MIGUEL MANSO
defendem a necessidade de um trans-
vase de caudais, cerca de 300 milhões
de metros cúbicos a partir do rio Tejo,
alegando que as necessidades de rega
em Alqueva superam a capacidade
do armazenamento desta barragem
com a água que vem de Espanha. A
Convenção de Albufeira prevê um
débito anual de 600 milhões de
metros cúbicos/ano e “não há garan-
tia de continuação, por parte de
Espanha, da adução de aÇuências
superiores aos valores estabeleci-
dos”, observa.
Esta nova realidade “tenderá a pro-
vocar um aumento do déÆce hídrico
na maior parte do território nacio-
nal”. Esta é, aliás, uma situação com
a qual os agricultores portugueses se
têm vindo a confrontar nos anos mais
recentes, realça a Fenareg.
Um relatório do Tribunal de Contas
Europeu concluiu que mais de 50%
da área total de Portugal continental
(5,5 milhões de hectares) está em ris-
co de desertiÆcação e cerca de 30%
do território apresenta uma vulnera-
bilidade “elevada” ou “muito eleva-
da” à desertiÆcação. Neste contexto,
é difícil “relativizar” os ciclos de seca
como o que está a ocorrer.
Convenção de Albufeira
Espanha está a debitar caudais para
Alqueva abaixo dos mínimos previstos
Carlos Dias
No dia 21 de Fevereiro, as autorida-
des espanholas escoaram para Por-
tugal através do rio Guadiana um
caudal de 1,66 metros cúbicos por
segundo e recentemente o volume
baixou para 1,35 metros cúbicos por
segundo, quando o valor mínimo
acordado na Convenção de Albufei-
ra é de 2 metros cúbicos. A redução
nos escoamentos de água para Por-
tugal observa-se, em contínuo, des-
de o dia 8 de Fevereiro.
Este incumprimento pontual nos
acordos de Albufeira poderá reÇectir
o que se passa na bacia hidrográÆca
do Guadiana em território espanhol.
É um contraste chocante. Alqueva
armazena neste momento 3813
milhões de metros cúbicos de água,
volume que supera em cerca de um
milhão o caudal (2823 milhões de
metros cúbicos) presente nas 34 bar-
ragens que as autoridades espanholas
instalaram na bacia hidrográÆca do
Guadiana. Não é uma situação nova.
Em 2021 observou-se algo idêntico.
A Empresa de Desenvolvimento e
Infra-estruturas do Alqueva (EDIA)
disse ao PÚBLICO que a diferença
observada nos volumes armazenados
nos dois países se deve a dois facto-
res. O primeiro tem que ver com a
ocupação do solo em Portugal que,
“contrariamente ao que foi estimado
nas décadas de 80 e 90, não é o milho
a principal cultura (que usa mais de
6000 metros cúbicos de água por
hectare), mas sim culturas perma-
nentes, em particular o olival (que
necessita de 3000 metros cúbicos
por hectare)”. A segunda razão tem
que ver com a “eÆciência dos siste-
mas de rega” que, cada vez mais,
estão a usar a água “estritamente
necessária às culturas, fruto de uma
monitorização por sensores, aliada a
uma gestão programada e assente nas
mais modernas tecnologias”.
O Relatório de Actividades do 3.º
trimestre de 2021 refere que o volume
total de água distribuída, até Setem-
bro de 2021, foi de 304 milhões de
metros cúbicos. Comparando esse
valor com o valor veriÆcado em 2020
(342 milhões de metros cúbicos), veri-
Æca-se uma diminuição de 37 milhões
de metros cúbicos, praticamente
metade da água destinada ao regadio
pela Convenção de Albufeira.
O megaprojecto de regadio do
Alqueva foi, assim, baseado em pre-
missas que não se veriÆcaram e agora
urge consumir a água vinda de Espa-
nha antes que as autoridades do país
vizinho a reclamem para si.
Neste momento, na bacia do Gua-
diana em território espanhol, o volu-
Público • Sábado, 26 de Fevereiro de 2022 • 37
me de água disponível para irrigação
e abeberamento do gado é de apenas
475 milhões de metros cúbicos. As
manifestações e os protestos das
populações, agricultores e produto-
res pecuários intensiÆcam-se. Nos
campos da Extremadura cresce a
preocupação depois da Agência
Meteorológica do Estado espanhol
ter divulgado que para o período de
21 de Fevereiro a 13 de Março “não se
prevê chuvas abundantes na região”
espanhola que faz fronteira com o
centro e o Norte do Alentejo.
Mal-estar em Espanha
A imprensa regional da Extremadu-
ra reÇecte o clima de mal-estar que
se vive no território percorrido pela
bacia do Guadiana. “As culturas de
sequeiro e as pastagens estão no
limite. E, se não chover nos próxi-
mos 15 dias, podem perder-se”, pre-
vê o presidente da Associação de
Agricultores da Extremadura (Asa-
ja), Ángel García.
O regadio também não passa por
um bom momento: se a situação de
seca que a Extremadura vive há duas
semanas não terminar, a produção
de tomate, arroz ou milho poderá ser
“seriamente” reduzida, reforçam
outras organizações agrícolas, con-
vencidas de que a situação de tornou
“insustentável”, pois até há “falta de
água para dar de beber ao gado”.
Também as “árvores frutíferas e
outras culturas permanentes estão
Os protestos
das populações,
agricultores
e produtores
pecuários na
Extremadura
intensiÄcam-se
ameaçadas”, acrescenta o presidente
da Associação de Jovens Agricultores
da Extremadura (Apag), Juan Metidie-
ri. O porta-voz do executivo regional,
Juan Antonio González, referiu à
Agência EFE que, “se não chover em
Fevereiro e Março, as restrições terão
de ser aplicadas. Não há recursos suÆ#
cientes para atender a todas as neces-
sidades agrícolas”.
No Empreendimento de Fins Múl-
tiplos do Alqueva (EFMA), a situação
está, “no que ao projecto diz respeito,
tranquila”, garante a EDIA, anteven-
do que, “a curto/médio prazo, não se
prevêem restrições signiÆcativas aos
usos previstos da água de Alqueva”.
“[A capacidade disponível neste
momento] dá-nos a garantia de água
para as próximas duas a três campa-
nhas de rega”, acentua a empresa,
que diz ter “há alguns anos um plano
de contingência com níveis crescen-
tes de restrição” em função do nível
de armazenamento na albufeira.
Contudo, este optimismo, que é
extensivo às culturas regadas e à
garantia de abastecimento de água a
cerca de 200 mil residentes no Alen-
tejo, não se projecta na área circun-
dante aos 120 mil hectares afectos ao
regadio.
Os agricultores de sequeiro e pro-
dutores pecuários estão confronta-
dos, tal como os seus colegas espa-
nhóis, com a falta de água e de pasto
para o gado. Alqueva, do ponto de
vista logístico, não consegue suprir
as carências de água que se esperam
até ao próximo Outono fora das áreas
regadas.
Um dos sinais imediatos associado
à previsível redução dos recursos
hídricos pode constatar-se nos pedi-
dos de água para os perímetros con-
Ænantes do EFMA (Roxo, Odivelas,
Campilhas, Vigia, Vale do Gaio e
Enxoé). A EDIA admite que “deverá
ultrapassar os 100 milhões de metros
cúbicos, se a situação de seca não se
alterar e não existir nenhum impre-
visto operacional”, um volume subs-
tancialmente superior ao registado
em 2021, quando foram debitados
para os perímetros de rega conÆnan-
tes pouco mais de 30 milhões de
metros cúbicos.
Os ciclos de seca intensa e prolon-
gada, como o que o país está a viver,
implicam aumentos nos consumos
de água para a agricultura e, conse-
quentemente, maiores débitos a
libertar por Alqueva para satisfazer
necessidades que serão crescentes.
A EDIA, em pleno mês de Feverei-
ro, está a levar água em contínuo às
albufeiras da Vigia, do Roxo (desde
20 Janeiro) e Odivelas (desde 8 Feve-
reiro).
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38 • Público • Sábado, 26 de Fevereiro de 2022

Mundo Senado deverá conƊrmar escolha

Biden nomeia Ketanji Brown Jackson,

a primeira mulher negra no Supremo
O Presidente dos Estados Unidos disse que os tribunais do país têm de começar a espelhar “todos
os talentos e grandeza da nação”. A nomeação é criticada pelos sectores mais conservadores
MICHAEL REYNOLDS/EPSA

Alexandre Martins
O Presidente dos Estados Unidos,
Joe Biden, nomeou a juíza Ketanji
Brown Jackson para o Supremo Tri-
bunal norte-americano. Se a escolha
for conÆrmada pelo Senado,
Jackson, de 51 anos, será a primeira
mulher negra a chegar ao mais alto
tribunal do sistema judicial do país
em 233 anos de história.
“Há demasiado tempo que as nos-
sas instituições no Governo e os
nossos tribunais não se parecem
com a América”, disse Biden,
ontem, na cerimónia de apresenta-
ção da juíza Jackson.
“Chegou a hora de termos um tri-
bunal que espelhe todos os talentos
e a grandeza da nossa nação.”
Ketanji Brown Jackson Æcou
conhecida em todo o país em 2019,
quando decidiu que o antigo chefe
do gabinete jurídico da Casa Branca
Donald F. McGhan III tinha de obe-
decer a uma intimação do Congres-
so para testemunhar sobre as sus-
peitas de que Trump tinha obstruí-
do as investigações sobre a
interferência russa na eleição de
2016.
“Os presidentes não são reis”,
disse Jackson na sua decisão. “Não
têm súbditos ligados por lealdade
ou por sangue, cujo destino podem
controlar e decidir.”
A nomeação foi possível devido à
saída por reforma do juiz Stephen
Breyer, nomeado por Bill Clinton
em 1994. Breyer, de 83 anos, é um
dos três juízes liberais na actual
composição do tribunal, no meio de Jackson irá juntar-se a outras candidato do Partido Democrata à Ainda assim, Jackson irá juntar-se gan, prometeu nomear uma mulher
uma maioria de seis juízes conser- duas mulheres na minoria Casa Branca. a outras duas mulheres na minoria se fosse eleito. “Chegou a hora de
vadores, e deixará o seu lugar no liberal do Supremo, onde estão A conÆrmação da escolha de liberal do Supremo, onde estão Sonia uma mulher se sentar entre os nos-
Ænal do ano judicial, no início do Sonia Sotomayor e Elena Kagan, Jackson está praticamente garantida, Sotomayor e Elena Kagan, ambas sos maiores juristas”, disse Reagan,
Verão. nomeadas por Barack Obama porque a decisão é feita por votação nomeadas por Barack Obama. numa conferência de imprensa,
Ao apresentar a juíza Jackson no Senado, onde o Partido Democra- Quando Biden prometeu que iria numa altura em que estava a ser cri-
como a sua escolha para o Supremo, ta tem 50 senadores, mais o voto de escolher uma mulher negra para o ticado por se opor a uma emenda à
ontem, Biden cumpre uma promes- desempate da vice-presidente dos Supremo se fosse eleito Presidente Constituição para garantir direitos
sa feita há dois anos, durante a cam- EUA, Kamala Harris. Do outro lado, dos EUA, os sectores mais conserva- laborais iguais independentemente
panha para as eleições primárias no é possível que nenhum dos 50 repu- dores no país acusaram-no de ser o do sexo. Em 1981, Reagan nomeou
Partido Democrata. Nessa altura, A nomeação de blicanos aprove a nomeação da juí- primeiro candidato a decidir uma para o lugar a juíza Sandra Day
em Fevereiro de 2020, surgiram
rumores de que Biden podia estar
Jackson – uma za, embora três deles (Lindsey Gra-
ham, Susan Collins e Lisa Murkowski)
nomeação com base na cor da pele
e no género — uma crítica que foi
O’Connor.
E, em Setembro de 2020, o então
prestes a desistir da sua candidatu- mulher negra, com tenham votado a favor de Jackson, repetida, ontem, por várias Æguras Presidente dos EUA, Donald Trump,
ra, caso não tivesse uma série de
vitórias signiÆcativas.
um passado em 2021, para o Tribunal de Recurso
do Círculo do Distrito de Colúmbia.
do Partido Republicano e dos canais
de televisão mais conservadores,
anunciou que a sua próxima escolha
para o Supremo seria uma mulher.
Três dias depois de ter prometido de decisões A nomeação de Jackson — uma como a Fox News. “Vou apresentar uma nomeada
que iria nomear uma mulher negra
para o Supremo se fosse eleito Pre-
liberais — não vai mulher negra, com um passado
de decisões liberais noutros tribu-
Mas a deÆnição de um perÆl com
base em determinadas característi-
na próxima semana”, disse Trump,
num comício na Carolina do Norte.
sidente dos EUA, Biden obteve uma alterar a dinâmica nais — não vai alterar a dinâmica cas dos possíveis candidatos não é “Será uma mulher, muito talentosa
vitória esmagadora nas primárias da
Carolina do Sul, partindo de forma
do Supremo no do Supremo Tribunal no imediato,
sendo uma troca directa com outro
uma novidade nos EUA.
Em 1980, o então candidato repu-
e brilhante. Ainda não Æz a escolha,
mas temos muitas mulheres na lis-
decisiva para a nomeação como imediato juiz de inclinação liberal. blicano à Casa Branca, Ronald Rea- ta.”
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DÁ OUVIDOS A QUEM SABE

Assiste às PSuperior Talks, uma série de 8 conferências sobre os grandes temas da actualidade.
Escolhe o assunto que mais te interessa e ouve grandes especialistas em matérias como a ciência,
a criatividade e a tecnologia. Porque, para saber do que falamos, é importante ouvir quem sabe.

07 MAR Universidade do Porto & Porto Editora

Ensino digital: solução, fatalidade ou salvação?

14 MAR Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro & Google

O mundo digital, entre o excesso de informação, a desinformação e a banalização da informação

28 MAR Instituto Superior Técnico & NTT DATA

A inovação do Big Data e os limites da privacidade. Estaremos seguros?

04 ABR Instituto Superior de Economia e Gestão & Mediabrands

Realidades e percepções: o marketing como ferramenta para a construção do mundo

18 ABR Universidade do Algarve & Fuel

O poder da criatividade. De onde vem, como se estimula?

09 MAI Universidade de Aveiro & Fundação José Neves

A (in)felicidade de um diploma Vê aqui o programa

16 MAI Universidade Católica Portuguesa & Fidelidade

A sociedade de risco: como gerir as inseguranças do futuro?

23 MAI Nova Medical School & Bial

O poder da ciência nos progressos da medicina mudará as nossas vidas?

Mecenas fundadores: Mecenas educação: Mecenas empresas:

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40 • Público • Sábado, 26 de Fevereiro de 2022
Economia Contestação à coima da CMVM
KPMG tentou adiar mas já pagou coima
por falhas nas auditorias ao BES
Sanção de 450 mil euros foi paga em Fevereiro. Auditora invocou irregularidade e queria esperar
pelo desfecho para fazer pagamento ao Estado. Entretanto, repensou e cumpriu a sentença
Pedro Crisóstomo
A KPMG pagou este mês a coima de
450 mil euros com que foi sanciona-
da por ter infringido algumas regras
de auditoria durante o processo de
certiÆcação das contas do BES de
2012 e 2013.
A sentença do Tribunal da Relação
de Lisboa sobre este caso — que con-
Ærmou a condenação saída da pri-
meira instância, do Tribunal da
Concorrência — transitou em julgado
a 16 de Dezembro passado, mas a
auditora reclamou a irregularidade
desse acórdão justamente na parte
em que declarava o trânsito em jul-
gado da sentença e, em paralelo,
pediu ao tribunal da primeira ins-
tância que Æzesse um compasso de
espera até que houvesse um desfe-
cho quanto a essa questão. Só que,
como a sentença já transitara em
julgado, o Tribunal da Concorrên-
cia, Regulação e Supervisão (TCRS)
entendeu que nada havia a determi-
nar e que, assim, cabia à revisora
oÆcial de contas proceder ao paga-
mento voluntário da coima, o que a
KPMG acabaria por fazer entretanto,
a 14 de Fevereiro, cumprindo as
decisões judiciais.
A questão Æcou sanada, mas não
sem antes a Comissão do Mercado de
Valores Mobiliários (CMVM), na ori-
gem das contra-ordenações que a
KPMG contestou em tribunal, consi-
derar que a auditora estava a tentar
escapar ao pagamento da coima,
adiando-o ad aeternum.
Em Setembro de 2020, a CMVM
sancionou a auditora do antigo BES
com uma coima de um milhão de
euros pelo facto de a KPMG ter vio-
lado um conjunto de obrigações
legais de auditoria (por exemplo, por
não ter documentado factos impor-
tantes nos papéis de trabalho, por
não ter obtido prova suÆciente para
suportar determinadas opiniões, por
violação do dever de emitir uma opi-
nião com reservas ou pela prestação,
por duas vezes, de informação falsa
ao Conselho Nacional de Supervisão
de Auditoria).
Ao apreciar o recurso à decisão, o
TCRS fez uma uniÆcação das infrac-
ções com base no tipo de normas
violadas e reduziu o valor da coima
em 55%, para 450 mil euros (o recur-
so da auditora foi considerado “par-
cialmente procedente”, da mesma
forma que a decisão da CMVM foi
conÆrmada “parcialmente”).
DANIEL ROCHA
O banco liderado por Ricardo Essa sentença viria a ser conÆrma-
Salgado teve a KPMG como da na íntegra pelo Tribunal da Rela-
auditora durante vários anos ção de Lisboa em Dezembro passa-
do, transitando em julgado nesse
mês. Como, entretanto, a auditora
apresentou um requerimento nesse
mesmo tribunal a suscitar a irregu-
laridade do acórdão que transitara
em julgado, pediu ao Tribunal da
As informações Concorrência para aguardar por essa
descobertas pela decisão. E foi aí que a CMVM se opôs,
considerando que a empresa conde-
KPMG sobre o BES nada estava a fazer um pedido
em 2014 ajudaram “manifestamente abusivo” tendo em
conta que a sentença já tinha transi-
à atenuação tado em julgado e a decisão da Rela-
da coima ção ao requerimento só seria conhe-
PAULO PIMENTA
cido posteriormente aos prazos de
pagamento da sanção.
A CMVM considerou mesmo que a
KPMG estava a tentar não consumar
o pagamento, o que não se conÆrma-
ria. O advogado do regulador, José
Luís Dias Gonçalves, alegou: “Preten-
de a arguida que os autos aguardem
ad aeternum — ou seja, até à prescri-
ção da coima e do crédito por custas
— pelo proferimento de uma decisão
que bem sabe que apenas será profe-
rida depois de integralmente liquida-
das a coima e as custas processuais, a
cujo pagamento se pretende fur-
tar...”. Como a sentença já transitara
em julgado e o TCRS constatou isso
mesmo, não dando seguimento ao
que a KPMG pedira, esta acabou por
cumprir a sentença.
Dos 450 mil euros, 10% (45 mil
euros) têm como destino o Instituto
de Gestão Financeira e Equipamentos
da Justiça e 90% seguem para outras
entidades administrativas (405 mil
euros, dos quais 40% para a CMVM e
60% para o Estado, como determina
o Regime Jurídico da Supervisão de
Auditoria).
Obstáculos e atenuantes
Conhecida por ser uma das quatro
maiores a nível mundial, a KPMG foi
a auditora externa do banco liderado
por Ricardo Salgado durante vários
anos. A condenação que foi disputar
a tribunal dizia respeito à revisão das
contas individuais e consolidadas do
BES relativamente aos dois anos
anteriores à queda da instituição
Ænanceira.
Na sentença que viria a ser conÆr-
mada pela Relação, o TCRS conside-
rou, por um lado, que a incipiente
“documentação da actividade de
auditoria” pela KPMG acabou por se
tornar um obstáculo à “descoberta
das infracções praticadas” no BES.
Mas, por outro lado, teve em conta
factores atenuantes que levaram a
uma redução da coima original, apli-
cada pela CMVM.
O BES, notou o tribunal, era desti-
natário da “conÆança de um elevado
número de depositantes e investido-
res”, conhecido pela “solidez Ænan-
ceira” e pela “rectidão da respectiva
informação Ænanceira”, mas, aÆnal,
“várias rubricas” que foram analisa-
das pela KPMG “vieram a apresentar
perdas relevantes que contribuíram
para a degradação patrimonial do
BES”, sendo que “o risco de essas
perdas ocorrerem não foi detectado”
pela auditora relativamente aos anos
de 2012 e 2013 (“ou, pelo menos,
[não foram] sinalizadas as insuÆciên-
cias informativas com que se vinha a
deparar”).
No entanto, o tribunal também teve
em conta o facto de, já em 2014,
durante os trabalhos de revisão das
demonstrações Ænanceiras do primei-
ro semestre desse ano, no quadro da
resolução do BES, a KPMG ter “detec-
tado factos importantes que condu-
ziram à constituição de uma provisão
de 700 milhões de euros, aprovada,
unanimemente, pela gestão do BES”.
Essa descoberta pesou a favor da
auditora, tal como o facto de a reviso-
ra não ter antecedentes contra-orde-
nacionais nem ter obtido “benefícios
como consequência directa” das
infracções praticadas.
Quando o recurso subiu à Relação,
um dos três juízes que apreciaram o
processo divergiu do entendimento
dos restantes em relação a um ponto:
o facto de o Tribunal da Concorrência
ter alterado a qualiÆcação jurídica
dos factos ao uniÆcar as infracções
“tendo por base o tipo de norma de
auditoria alegadamente violada” pela
KPMG e, ao mesmo tempo, conside-
rado que as infracções imputadas
pela CMVM “eram, aÆnal, infracções
‘em execução permanente desde 2011
até 9 de Abril de 2014’”.
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Madeira atinge este ano meta
de 40% de energia verde
Márcio Berenguer
Região está a apostar na
instalação de centrais de
baterias para rentabilizar
a produção de energia
renovável
O objectivo é atingir 50% de energia
produzida a partir de fontes renová-
veis na rede até 2026, mas já este ano
a Madeira deverá chegar aos 40% de
energia verde.
A meta vai ser alcançada a partir
de Junho, quando a Central de Bate-
rias da Madeira (CBM) entrar em
funcionamento. Um investimento de
10,6 milhões de euros, co-Ænanciado
pelo POSEUR — Programa Operacio-
nal Sustentabilidade e EÆciência no
Uso de Recursos , que compreende
a instalação de um sistema de arma-
zenamento de energia eléctrica pro-
veniente de fontes renováveis, prin-
cipalmente eólica e fotovoltaica.
Esta infra-estrutura recorre a bate-
rias de iões de lítio de potência avan-
çada, e assenta num sistema, diz a
Empresa de Electricidade da Madei-
ra (EEM), que terá uma potência e
capacidade de energia de
22,5MVA/15,6MWh, respectivamen-
te. Vai permitir assim optimizar a
actual produção eléctrica, e integrar
na rede mais energia verde. Será a
segunda central de baterias no arqui-
pélago, depois da entrada em funcio-
Estado regista excedente de 1834 milhões de euros em Janeiro
O Estado registou um excedente em
contabilidade pública de 1,83 mil
milhões de euros (ME) em Janeiro,
uma melhoria de 1,08 mil milhões
face ao período homólogo, anunciou
ontem o Ministério das Finanças.
“No primeiro mês do ano, o saldo
das Administrações Públicas em con-
tabilidade pública melhorou 1085
milhões de euros face a 2021, atingin-
do 1834 milhões de euros”, explicou
o ministério tutelado por João Leão
em comunicado, em antecipação à
Síntese de Execução Orçamental da
Direcção-Geral do Orçamento
(DGO).
A evolução resulta de o crescimen-
to da receita de 17,3% ter sido supe-
rior ao da despesa de 1,1%, tendo a
despesa primária aumentado 1,4%.
A receita Æscal cresceu 19,2% face
ao mês homólogo, “tendo inclusiva-
mente ultrapassado o registado no
namento de uma infra-estrutura
semelhante no Porto Santo, no Ænal
de 2019.
O presidente do governo regional,
Miguel Albuquerque, que visitou em
Janeiro as obras de instalação da
CBM, que estão a decorrer na Central
da Vitória, oeste do Funchal, desta-
cou a importância do investimento
para atingir a meta de 40% já este
ano e elevou a fasquia.
“Vamos aproveitar o PRR [Plano
de Recuperação e Resiliência] para
procedermos a um conjunto de
investimentos muito importantes,
no sentido de assegurar nos próxi-
mos anos que a Madeira produza
50% da sua electricidade a partir de
fontes renováveis”, disse aos jorna-
listas, explicando que a região autó-
noma pretende investir 69 milhões
de euros no sector nos até 2026.
A verba será essencialmente apli-
cada na remodelação das centrais
hidroeléctricas de Serra de Água (15
milhões de euros) e da Calheta (seis
milhões de euros), no reforço das
centrais de baterias da Madeira (12
milhões de euros) e do Porto Santo
(10 milhões de euros), e na substitui-
ção de 150 mil contadores tradicio-
nais por contadores inteligentes (21,5
milhões de euros).
Francisco Taboada, presidente do
conselho de administração da EEM,
está entusiasmado. “A central de
baterias [da Madeira], actualmente
em fase de construção, vai permitir
mesmo período pré-pandemia ( Janei-
ro de 2020)”, aÆrmou o ministério,
destacando “a evolução do IVA (mais
38,6%), do IRS (mais 5,9%) e do IRC
(mais 65,1%)”.
“A receita Æscal líquida do subsec-
tor Estado iniciou o ano de 2022 com
uma evolução positiva, ao registar
uma subida de 590,1 milhões de euros
(mais 19,1%,) face ao período homó-
logo”, referiu, por seu turno, a
Direcção-Geral do Orçamento (DGO),
no comunicado emitido mais tarde,
associando esta evolução ao levanta-
mento das medidas de contenção da
propagação da pandemia e da recu-
peração da economia. A DGO conÆr-
mou ainda que o valor da receita
registado no primeiro mês do ano
ultrapassou o registado no período
pré-pandemia, “ao superar o valor da
receita Æscal em Janeiro de 2020 em
3% (mais 106,7 milhões de euros)”.
reduzir o número mínimo de gera-
dores térmicos na rede (que, para
efeitos de segurança de exploração
do sistema eléctrico, é actualmente
de quatro, passando para dois),
criando assim espaço para integrar
mais energia renovável”, diz ao
PÚBLICO. Explica que esta infra-es-
trutura será decisiva para alcançar o
objectivo de ter 50% de energia reno-
vável na Madeira, através do reforço
da componente fotovoltaica na
rede.
Taboada dá o exemplo do que já
está a acontecer no Porto Santo,
onde a central de baterias inaugura-
da em 2019 permitiu não só melho-
As contribuições para a Segurança
Social aumentaram 5,5% “em resul-
tado da evolução favorável do merca-
do de trabalho”.
O ministério liderado por João Leão
acrescentou ainda que, em Janeiro, a
“despesa com salários na Administra-
ção Central e Segurança Social
aumentou 3,2%, reÇectindo o impac-
to dos aumentos salariais e das valo-
rizações remuneratórias” com “par-
ticular impacto nas escolas (mais
4,9%) e no SNS (mais 4,9%), reÇectin-
do o reforço do número de proÆssio-
nais de saúde, que registou um
Receita fiscal
líquida do
subsector Estado
iniciou o ano de
2022 com um
crescimento de
590,1 milhões
Público • Sábado, 26 de Fevereiro de 2022 • 41
Investimento
69
milhões é o investimento
previsto até 2026, dos quais 15
milhões na remodelação da
central da Serra de Água
Arquipélago quer aumentar
produção de fontes renováveis
ANDREIA GOMES CARVALHO
aumento de 1,2% (mais 1753 trabalha-
dores) em termos homólogos”.
Covid custa 304 milhões
A despesa realizada pela Segurança
Social aumentou 4,3% “devido ao
impacto das medidas extraordinárias
de apoio (mais 38,6%) e aos acrésci-
mos nas prestações sociais, excluindo
pensões (mais 9,5%), destacando-se
o subsídio por doença (mais 127,2%)
e as prestações de parentalidade
(mais 36,1%)”.
No total, a despesa com apoios
ascendeu a 237 milhões de euros,
“destacando-se os apoios aos rendi-
mentos das famílias (124 milhões) em
particular associados ao subsídio de
doença (43 milhões), isolamento pro-
Æláctico (37 milhões) e apoio extraor-
dinário ao rendimento dos trabalha-
dores (22 milhões)”.
A resposta à pandemia custou
Economia
rar a eÆciência da central térmica da
ilha, como criar condições para uma
maior integração de electricidade de
origem renovável.
“Com a introdução da bateria,
com uma potência semelhante à de
um grupo gerador térmico, está a ser
possível operar o sistema eléctrico
da ilha, a todo o tempo, com menos
um gerador térmico”, diz, apontan-
do mais vantagens resultantes da
introdução da central de baterias. Ao
nível da estabilidade do sistema, a
rápida capacidade de resposta per-
mite “suavizar e corrigir” as intermi-
tências da energia de produção eóli-
ca, reduzindo as Çutuações e tornan-
do o sistema mais eÆciente.
“Por outro lado, ao operar o siste-
ma com menos um gerador térmico,
a potência de operação dos restantes
é superior, passando a trabalhar num
ponto de maior eÆciência, reforçan-
do assim o rendimento global da
central térmica, o que signiÆca que
é possível produzir a mesma energia
com menos combustível.”
Já este ano, a EEM lançou um con-
curso para a instalação de um novo
sistema que deverá entrar em fun-
cionamento mais para o Ænal de
2022. Com este reforço, Francisco
Taboada projecta uma “contribuição
de electricidade renovável superior
a 50%” que, a espaços — sempre que
houver energia verde “disponível”
—, pode substituir totalmente a ener-
gia de origem térmica.
304,1 milhões de euros ao Estado
em Janeiro, devido ao aumento de
237,5 milhões de despesa e à perda
de 66,6 milhões de receita, resumiu
a DGO.
“Em Janeiro, a execução das medi-
das adoptadas no âmbito do combate
e da prevenção da covid-19, bem
como as que têm por objectivo repor
a normalidade, conduziu a uma dimi-
nuição da receita em 66,6 milhões e
a um aumento da despesa total em
237,5 milhões”, indicou a Síntese da
Execução Orçamental.
As Finanças deram destaque aos
apoios às empresas “que atingiram
62 milhões, em particular no âmbito
dos custos com trabalhadores (38
milhões) e custos Æxos das empresas
ao abrigo do programa Apoiar (13
milhões), e para o Ænanciamento do
sector da Saúde (41 milhões). PÚBLI-
CO/Lusa
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42 • Público • Sábado, 26 de Fevereiro de 2022

Público

Iniciativas
Agenda “A estória aconteceu. No essencial, mais ou menos como se conta. As personagens
Sábado, 05 são de Äcção. Todas. Mesmo aquelas que fazem lembrar alguém”. Baseado em factos
Colecção Mil Folhas (mensal)
Vol. 11 – O Planalto e a Estepe, de verídicos, Äccionados por Pepetela, prémio Camões em 1997, O Planalto e a Estepe é
Pepetela
Passados quase 20 anos da um romance sobre o triunfo do amor, contra todas as vontades e todas as fronteiras
publicação da colecção Mil

A “curva para o amor”

Folhas, recuperamos a saudosa
chancela partilhando com os
nossos leitores 12 novos e
conceituados títulos da literatura
nacional e internacional. Uma DR
edição muito especial a não
perder. Livros
Colecção Mil Folhas
Vol. 11 - O Planalto e a Estepe,
de Pepetela
Sábado, 5 de Março
Por + 10,90 euros

“A minha vida se resume a uma larga

e sinuosa curva para o amor. Come-
çando por um caminho longo até
Moscovo. Não vos contarei todos os
detalhes dessa viagem. Houve outras,
também importantes, houve mesmo
muitas viagens. Mas essa primeira
viagem em arco amplo e súbitos des-
vios demorou mais, começou na Huí-
la, Sul de Angola, quando fui parido.
Nasci no meio de rochedos. A casa,
porém, era de adobe. Casa de adobe
com rochedos à volta. Título de qua-
dro? Era muito duro fazer uma casa
de pedra, como na aldeia de Trás-os-
Montes onde o meu pai tinha nascido.
A minha mãe era já de algumas gera-
ções huilanas e nascera numa mais
pequena que a nossa. Por isso se cons-
truiu a de adobe, quando casaram.”
Assim começa O Planalto e a Estepe,
de Pepetela, o penúltimo volume da
colecção Mil Folhas que agora é publi-
cado com o PÚBLICO.
Com a descrição “Angola, dos anos
60 aos nossos dias. A história de um
amor impossível”, a obra foi publica-
da em 2009 e centra-se na história de
Júlio Pereira, um jovem angolano des-
cendente de portugueses, que, sendo
educado entre negros e brancos, não
consegue conceber a existência do
racismo. Filho de família de classe
média, consegue obter uma bolsa
para estudar Medicina em Coimbra.
A sua vinda à metrópole será, porém,
o início de uma longa viagem que o
levará primeiro a Marrocos e depois
a Moscovo. Será na capital russa que
conhece Sarangerel, uma jovem da
Mongólia, Ælha de um importante
ministro de seu país, e daí nasce um
verdadeiro amor proibido. Os dois
começam a namorar às escondidas,
mas quando a jovem estudante engra-
vida, tudo se complica. O amor de
ambos é posto à prova e Júlio verá que
o racismo pode ter diversos contor-
nos. Júlio e Sarangerel acabam por se
separar, mas a sua história está longe
de ter terminado.
“A estória aconteceu. No essencial,
mais ou menos como se conta. As
personagens são de Æcção. Todas.
Mesmo aquelas que fazem lembrar
alguém”, refere o autor no início do
livro. Baseada em factos verídicos,
Æccionados por Pepetela, esta história
põe em evidência o vazio de discursos
ideológicos e palavras de ordem, que
se revelam sem relação com a prática.
Política internacional, guerra, solida-
riedade e amor, numa rota que liga
um ponto perdido de África a outro
da Ásia, passando pela Europa e até
por Cuba. Esta é uma viagem no tem-
po e no espaço, de uma geração can-
sada de guerra num mundo cada vez
mais pequeno. Maravilhoso e como-
vente, este é um romance sobre o
triunfo do amor, contra todas as von-
tades e todas as fronteiras.
Mais de Mil Folhas
“Passava pouco das 9h de ontem,
quando mais um cliente da Tabacaria
Orfeuzinho, na zona portuense da
Boavista, saía com as 478 páginas de
O Nome da Rosa, de Umberto Eco,
debaixo do braço e junto ao seu jornal
habitual. Aquele leitor, que se chama
Eduardo Coelho, já tem em casa um
espaço destinado aos 30 romances da
colecção Mil Folhas. ‘Para mim, os
livros seleccionados são muito bons,
mas o Saramago... ah, desse é que não
gosto!’, reclamou. A opinião foi parti-
lhada 300 metros adiante, por Catari-
na Gomes. A jovem remirou a capa
celeste do volume n.º 1 da colecção,
antes de confessar que o vai reler, por-
que ‘vale a pena’. Menos sorte teve a
leitora Fernanda Coutinho, que já não
conseguiu encontrar O Nome da Rosa
no seu quiosque habitual”, relatava
Nuno Passos, num artigo editado no
PÚBLICO a 23 de Maio de 2002, a pro-
pósito da “estreia” da primeira série
da Colecção Mil Folhas. “A corrida às
bancas levou a que os 120 mil exem-
plares da edição de ontem tenham,
inclusive, esgotado em várias cidades,
como aconteceu, por exemplo, em
Matosinhos e Santo Tirso. Em cada
um de muitos quiosques contactados
pelo PÚBLICO, pelo menos 15 pessoas
já reservaram os 29 romances do sécu-
lo XX que faltam para completar a
colectânea”, acrescentava ainda.
Publicada pela primeira vez em
2002, a Colecção Mil Folhas — homó-
nima do suplemento que o jornal
dedicava à literatura, mas também a
artes de palco e música clássica entre
2000 e 2007 —, foi um verdadeiro
sucesso: em seis meses vendou cerca
de dois milhões de livros. Além de um
marco nas colecções de literatura em
Portugal, foi um exemplo de massiÆ#
cação da cultura junto dos leitores,
uma vez que disponibilizou a um pre-
ço muito acessível algumas das mais
reconhecidas obras mundiais. Depois
dos primeiros 30 livros a colecção
conheceu ainda duas extensões até
totalizar 100 obras.
Quase duas décadas passadas, o
PÚBLICO recuperou a saudosa chan-
cela e ao longo dos últimos três meses
tem partilhado com os seus leitores
muito mais do que mil folhas distri-
buídas por 12 novos e conceituados
títulos da literatura nacional e inter-
nacional.
Além de O Planalto e a Estepe, de
Pepetela, foram já editados pelo
PÚBLICO A Gorda, de Isabel Figueire-
do, Os Interessantes, de Meg Wolitzer,
Némesis, de Philip Roth, O Pianista de
Hotel, de Rodrigo Guedes Carvalho,
Correcções, de Jonathan Franzen, Um
Cavalo Entra Num Bar, de David
Grossman, Sputnik, Meu Amor, de
Haruki Murakami, Pequena Abelha,
de Chris Cleave, e Os Versículos Satâ-
nicos, de Salman Rushdie. A última
obra desta colecção, e que fecha esta
selecção ecléctica de obras de alguns
dos maiores autores contemporâ-
neos, será Perguntem a Sarah Gross,
de João Pinto Coelho.
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Público ClassiÄcados • Sábado, 26 de Fevereiro de 2022 • 43

AVISO Nº 132/2021 AVISO Nº 133/2021

Área de Gestão de Recursos Humanos

MINISTÉRIO DA SAÚDE
CENTRO HOSPITALAR UNIVERSITÁRIO DE LISBOA CENTRAL, EPE 1.ª ALTERAÇÃO AO PLANO DE URBANIZAÇÃO DO COMPLEXO 3.ª ALTERAÇÃO AO PLANO DE URBANIZAÇÃO DE
DESPORTIVO DO ESTÁDIO DO MAR E SUA ENVOLVENTE MATOSINHOS/SUL, NA UNIÃO DAS FREGUESIAS DE
AVISO MATOSINHOS E LEÇA DA PALMEIRA
Conforme Despacho n.º 10125-A/2021 de 18-10, do Secretário de Estado PERÍODO DE DISCUSSÃO PÚBLICA
Adjunto e da Saúde, e para cumprimentos da alínea d) do n.º 1 do artigo 5.º Luisa Maria Neves Salgueiro, Presidente da Câmara Municipal de Matosinhos, torna PERÍODO DE DISCUSSÃO PÚBLICA
da Portaria n.º 207/2011, de 24-05, alterada e republicada pela Portaria n.º público nos termos e para os efeitos do disposto no nos n.ºs 1 e 2 do artigo 89.º Luisa Maria Neves Salgueiro, Presidente da Câmara Municipal de Matosinhos, torna
229-A/2015, de 03-08, e da alínea c) do número 1 da cláusula 7.ª do Acordo do Decreto-Lei n.º 80/2015 de 14 de maio, em reunião ordinária publica realizada público nos termos e para os efeitos do disposto no nos n.ºs 1 e 2 do artigo 89.º

4454-510 Matosinhos - Portugal

Av. D. Afonso Henriques

4454-510 Matosinhos - Portugal

Coletivo de Trabalho publicado no Boletim do Trabalho e Emprego n.º 48,
de 29-12-2011, alterado e republicado pelo Acordo Coletivo de Trabalho
publicado no Boletim do Trabalho e Emprego n.º 43, de 22-11-2015, e nos
termos da deliberação do Conselho de Administração de 25-11-2021, faz-
se público que foi publicitado pelo Aviso n.º 3875/2022, inserto no Diário da
República, 2. Série, n.º 38, de 23-02-2022, o procedimento concursal comum
conducente ao recrutamento de pessoal médico, para preenchimento dois
lugares vagos na categoria de Assistente Graduado Sénior de Patologia
a 30 de novembro de 2021, a Câmara Municipal deliberou mandar abrir o Período
de Discussão Pública, da 1.ª alteração ao Plano de Urbanização do Complexo
Desportivo do Estádio do Mar e sua envolvente, pelo prazo de vinte (20) dias uteis
contados a partir do quinto (5.º) dia após a data de publicação deste Aviso no Diário
da Républica.
Em cumprimento do disposto no n.º 1 do artigo 89.º e no n.º 4 do artigo 191.º
do Decreto-Lei n.º 80/2015 de 14 de maio será o presente Aviso publicado na 2.ª
Série do Diário da Républica, divulgado na comunicação social e na plataforma
colaborativa de gestão do territorial e no sítio eletrónico do Município de Matosinhos.
Av. D. Afonso Henriques
do Decreto-Lei n.º 80/2015 de 14 de maio, em reunião ordinária publica realizada
a 30 de novembro de 2021, a Câmara Municipal deliberou mandar abrir o Período
de Discussão Pública, da 3.ª alteração ao Plano de Urbanização de Matosinhos/Sul
pelo prazo de vinte (20) dias uteis contados a partir do quinto (5.º) dia após a data
de publicação deste aviso no Diário da República.
Em cumprimento do disposto no n.º 1 do artigo 89.º e no n.º 4 do artigo 191.º
do Decreto-Lei n.º 80/2015 de 14 de maio será o presente Aviso publicado na 2.ª
Série do Diário da Répública, divulgado na comunicação social e na plataforma
colaborativa de gestão do territorial e no sítio eletrónico do Município de Matosinhos.

(+351) 229 390 900

Contactos

(+351) 229 390 900

Clínica, da carreira médica e especial médica hospitalar, do mapa de pessoal
do Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Central, EPE, cujo prazo de
entrega das candidaturas é de 15 dias úteis, contados do dia seguinte ao da
publicitação do mesmo no Diário da República.
Para mais informações, consultar a página eletrónica do CHULC, EPE, http://
www.chlc.min-saude.pt/concursos-de-admissao-de-pessoal/, onde estão
O Plano encontrar-se-á disponível no Edifício dos Serviços Técnicos dos Paços do
Concelho e Internet.
As reclamações, observações ou sugestões, ou pedidos de esclarecimento, poderão
ser apresentadas nos Serviços Técnicos da Câmara Municipal de Matosinhos, no
FrontOffice da Loja do Munícipe, por e-mail: mail@cm-matosinhos.pt ou na página
da internet.
Para constar se publica o presente aviso na comunicação social, na página da
Contactos
O Plano encontrar-se-á disponível no Edifício dos Serviços Técnicos dos Paços do
Concelho e Internet.
As reclamações, observações ou sugestões, ou pedidos de esclarecimento, poderão
ser apresentadas nos Serviços Técnicos da Câmara Municipal de Matosinhos, no
FrontOffice da Loja do Munícipe, por e-mail: mail@cm-matosinhos.pt ou na página
da internet.
Para constar se publica o presente aviso na comunicação social, na página da

www.cm-matosinhos.pt
mail@cm-matosinhos.pt

www.cm-matosinhos.pt
mail@cm-matosinhos.pt
disponíveis as informações complementares para formalização do processo Internet da Câmara Municipal, sendo ainda afixado nos lugares de estilo e outros Internet da Câmara Municipal, sendo ainda afixado nos lugares de estilo e outros
de apresentação de candidaturas. de igual teor. de igual teor.
Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Central, EPE, 23 de fevereiro de 2022 Matosinhos e Paços do Concelho, 30 de dezembro de 2021 Matosinhos e Paços do Concelho, 30 de dezembro de 2021
O Diretor da Área de Gestão de Recursos Humanos A Presidente da Câmara, A Presidente da Câmara,
António Pedro Romano Delgado Drª Luisa Salgueiro Drª Luisa Salgueiro

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CAIXA DE CRÉDITO AGRÍCOLA MÚTUO DE LOURES, 
 

SINTRA E LITORAL, CRL 
 

 

 
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Sede: Rua Combatentes da Grande Guerra, n.º 8 A, 2670-426 Loures
Matriculada na Conservatória do Registo Comercial de Loures com o número 





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único de matrícula e pessoa colectiva 501055843
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ASSEMBLEIA GERAL ELEITORAL
Informação sobre a realização de Eleições para os
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Órgãos Sociais e Estatutários
Nos termos e para os efeitos do disposto no n.º 2 do artigo 2.º do Regulamento
Eleitoral em vigor, aprovado na Assembleia Geral de 26 de Maio de 2021,
informo os Associados da Caixa de Crédito Agrícola de Loures, Sintra e
Litoral, CRL, (doravante Caixa Agrícola) que irão ser realizadas eleições para
os Órgãos Sociais e Estatutários desta Caixa Agrícola, para o triénio 2022-
2024, durante o próximo mês de Julho de 2022, sendo para o efeito convocada,
oportunamente e com a antecedência legal e estatutária, a Assembleia Geral
que, entre outros pontos de agenda, conterá o ponto destinado à eleição dos
Membros dos Órgãos Sociais e Estatutários desta Caixa Agrícola.
O procedimento da apresentação e admissão de candidaturas está previsto
no artigo 5.º do Regulamento Eleitoral, o qual se encontra disponível, para
consulta, na sede da Caixa Agrícola e na sua página de internet consultável em
www.creditoagricola.pt.
Em consequência e a partir da data de publicação deste meu anúncio,
encontra-se em curso, nos termos do previsto no artigo 5.º do Regulamento
Eleitoral, o prazo para a entrega de listas candidatas às eleições aos Órgãos
Sociais e Estatutários da Caixa Agrícola, prazo esse que termina às 16 horas
do dia 24 de Março de 2022.
Também e a partir da presente data, qualquer Associado, no pleno gozo dos
seus direitos, poderá consultar, para fins exclusivamente eleitorais, a lista
actualizada dos Associados no pleno gozo dos seus direitos, nos termos
previstos nos n.º 3 e n.º 4 ambos do artigo 19.º dos Estatutos da Caixa Agrícola, *


 
+
  + 
 82
   9  , 5
bem como, querendo, solicitar-me, para esses mesmos fins, a disponibilização
dessa lista, o que poderá ser efectuado através de carta a ser entregue ou 012
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 4 5  676  .A%8

&
2
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enviada para a sede da Caixa Agrícola ou através de mensagem de correio  8%12
 
5
 
    
 3 

electrónico para o endereço louresdireccao@creditoagricola.pt 


%&. (/>!! 9-99
Só serão admitidas, preliminarmente, as candidaturas que, para além da 
  9 5
 , -: 
 
 5
, , *&/>-
respectiva entrada dentro do prazo mencionado, estejam em conformidade com 5


o disposto nos Estatutos e no Regulamento Eleitoral da Caixa Agrícola, bem =/99>9
como nas demais disposições legais e normativos em vigor, designadamente (%&./ !!!;<
na Instrução do Banco de Portugal n.º 23/2018 e no Aviso do Banco de Portugal
*&/; ?
)
/


)
n.º 3/2020, ao abrigo do qual todos os Candidatos se deverão vincular ao
cumprimento do Código de Ética e de Conduta do Grupo Crédito Agrícola e da =$&/>9
Política de Prevenção, Comunicação e Sanação de Conflitos de Interesses e de ?


8
/
41
)
Transacções com Partes Relacionadas do Grupo Crédito Agrícola. ?
)
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((
) .12

%5
)

Os Estatutos, o Regulamento Eleitoral, a Política Interna de Selecção e Avaliação
da Adequação dos Membros dos Órgãos de Administração e de Fiscalização +
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da Caixa Agrícola, o Código de Ética e de Conduta e a Política de Prevenção,  

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 3
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Comunicação e Sanação de Conflitos de Interesses e de Transacções com
Partes Relacionadas do Grupo Crédito Agrícola, estão disponíveis para
consulta na sede da Caixa Agrícola e na sua página de internet consultável em
www.creditoagricola.pt.
Igualmente, estarão disponíveis para recolha na sede da Caixa Agrícola a lista
de documentos e minutas de declarações exigíveis no âmbito da legislação e
dos normativos vinculativos actualmente em vigor e supra enunciados, os quais
serão entregues a Associados no pleno gozo dos seus direitos devidamente
identificados, podendo, também, os mesmos ser enviados por correio postal
ou correio electrónico, caso tal me seja requerido através de carta entregue
ou enviada para a sede da Caixa Agrícola ou através de mensagem de correio
electrónico para o endereço electrónico acima indicado.
Reitero que o prazo para a entrega das listas candidatas às eleições aos
referidos Órgãos Sociais e Estatutários da Caixa Agrícola termina às 16
horas do próximo dia 24 de Março de 2022.
Loures, 24 de Fevereiro de 2022
O Presidente da Mesa da Assembleia Geral
José Manuel Alvares da Costa e Oliveira
Fundada em 1988 pelo Professor Doutor Carlos Garcia, a Associação Portuguesa de Familiares e Amigos de Doentes de Alzheimer
- Alzheimer Portugal é uma Instituição Particular de Solidariedade Social. É a única organização em Portugal, de âmbito nacional,
especificamente constituída para promover a qualidade de vida das pessoas com demência e dos seus familiares e cuidadores. Tem
cerca de dez mil associados em todo o país.
Oferece Informação sobre a doença, Formação para cuidadores formais e informais, Apoio domiciliário, Apoio Social e Psicológico e Consultas Médicas da Especialidade.
Como membro da Alzheimer Europe, a Alzheimer Portugal participa ativamente no movimento mundial e europeu sobre as demências, procurando reunir e divulgar os
conhecimentos mais recentes sobre a Doença de Alzheimer, promovendo o seu estudo, a investigação das suas causas, efeitos, profilaxia e tratamentos.
Contactos
Sede: Av. de Ceuta Norte, Lote 15, Piso 3 Quinta do Loureiro, 1300-125 Lisboa - Telefones: 213 610 460 - Fax : 21 361 04 69 - E-mail: geral@alzheimerportugal.org
Centro de Dia Prof. Doutor Carlos Garcia: Av. de Ceuta Norte, Lote 1, Loja 1 e 2 Quinta do Loureiro, 1350-410 Lisboa - Telefone: 213 609 300 - E-mail: geral@alzheimerportugal.org
Lar, Centro de Dia e Apoio Domiciliário «Casa do Alecrim», Rua Joaquim Miguel Serra Moura, n.º 256 - Alapraia, 2765-029 Estoril - Telefone: 214 525 145 - E-mail: casadoalecrim@alzheimerportugal.org
Horário de Atendimento: Quartas e sextas, entre as 9h e as 13h
Núcleo do Ribatejo da Alzheimer Portugal: R. Dom Gonçalo da Silveira n.º 31 «A, 2080-114 Almeirim - Telefone: 243 000 087 - E-mail: geral.ribatejo@alzheimerportugal.org
Delegação Norte da Alzheimer Portugal: Centro de Dia «Memória de Mim», Rua do Farol Nascente, n.º 47A R/C, 4455-301 Lavra - Telefone: 229 260 912 | 226 066 863 - E-mail: geral.norte@alzheimerportugal.org
Delegação Centro da Alzheimer Portugal: Centro de Dia do Marquês, Urb. Casal Galego - Rua Raul Testa Fortunato n.º 17, 3100-523 Pombal - Telefone: 236 219 469 - E-mail: geral.centro@alzheimerportugal.org
Núcleo de Aveiro: Santa Casa da Misericórdia de Aveiro, Complexo Social da Quinta da Moita - Oliveirinha 3810 Aveiro, Telefone: 234 940 480 - E-mail: geral.aveiro@alzheimerportugal.org
Delegação da Madeira da Alzheimer Portugal: Avenida do Colégio Militar, Complexo Habitacional da Nazaré, Cave do Bloco 21 - Sala E, 9000-135 Funchal
Telefone: 291 772 021 - Fax: 291 772 021 - E-mail: geral.madeira@alzheimerportugal.org
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44 • Público ClassiÄcados • Sábado, 26 de Fevereiro de 2022

FIM DO LEILÃO: 28 DE MARÇO, 2ª FEIRA ÀS 11H00 FIM DO LEILÃO: 28 DE MARÇO, 2ª FEIRA ÀS 11H30 FIM DO LEILÃO: 31 DE MARÇO, 5ª FEIRA ÀS 11H00
Insolvência de Duarte de Albergaria Bastos Insolvência de João Carlos Batista Vaz Ferreira da Graça Insolvência de Juquel – Promoção Imobiliária, Lda.
Tribunal Judicial da Comarca de Aveiro - Juízo de Comércio de Aveiro – Juiz 1 Tribunal Judicial da Comarca de Setúbal - Juízo de Comércio de Setúbal – Juiz 1 Tribunal Judicial da Comarca do Porto Este - Juízo de Comércio de Amarante – Juiz 2
Processo nº 3376/21.2T8AVR & Insolv. de de Maria de Fátima Rocha da Silva Processo nº 4057/17.7T8STB Processo nº 102/20.7T8AMT
Trib. Judicial da Comarca de Aveiro - Juízo de Comércio de Aveiro - Juiz 2 - Proc. nº 3418/21.1T8AVR

T2 (110,70m2) MORADIA V5 (2 PISOS) 3 MORADIAS V3 (3 PISOS)

c/ garagem 905.700€ “Quinta do Perú” #0*.
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Área de Implantação 170m2;
62.267,93€ Área de Construção 340m2;
Área bruta privativa de 255m2

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MEALHADA
Urb. Quinta do Vale lote 5, R/C ESQ., São Romão
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 230.000,00€
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Leiloeira Paraíso • Rua Andrade 2 R/C, DTO. • 1170-015 LISBOA ,EILOEIRAÒ0ARA¶SOÒmÒ2UAÒ!NDRADEÒÒ2#Ò$4/ÒmÒ Ò,)3"/!Ò ,EILOEIRAÒ0ARA¶SOÒmÒ2UAÒ!NDRADEÒÒ2#Ò$4/ÒmÒ Ò,)3"/!Ò
Tel. 218 122 384 • Tlm. 916 855 363 • www.cparaiso.pt • inf@cparaiso.pt 4ELÒÒÒÒmÒ4LMÒÒÒÒmÒWWWCPARAISOPTÒmÒINF CPARAISOPT 4ELÒÒÒÒmÒ4LMÒÒÒÒmÒWWWCPARAISOPTÒmÒINF CPARAISOPT

TRIBUNAL JUDICIAL
DA COMARCA
DE LISBOA NORTE
ORDEM DOS ADVOGADOS Juízo Local Cível de Loures - Juiz 2
Processo: 1879/22.0T8LRS
EDITAL ANÚNCIO
ORLANDO CARVALHO LEITE, Presidente do Conselho de Acompanhamento de Maior
Deontologia do Porto da Ordem dos Advogados Portugueses, em Requerente: Ministério Público
Beneficiário: José Afonso Marques
cumprimento do disposto nos artigos 142.º e 174.º do Estatuto da das Neves
Ordem dos Advogados em vigor, aprovado pela Lei 145/2015, de 9 FAZ-SE SABER que foi distribuído
de setembro; neste tribunal, o processo de
Acompanhamento de Maior em que
Faz saber publicamente que, por Acórdão do Conselho de Deontologia é requerido José Afonso Marques
do Porto de 18 de junho de 2021, foi aplicada à Sra. Dra. Tânia das Neves, nascido em 19-08-1945,
Luísa Figueiredo Costa, que também usa o nome abreviado de filho(a) de José Alves das Neves e
de Rosalina Marques de Almeida
Luísa Figueiredo, portadora da cédula profissional n.º 48925P com Neves, natural de: Portugal - Lisboa -
domicílio profissional na Rua da Felicidade, 172, Carreira, Barcelos, a São Sebastião da Pedreira [Lisboa],
pena disciplinar de Suspensão, pelo período de 6 (seis) meses, com domicílio: Bairro Social do
Trigache, N.º 20, Pedernais, 1685-
suspensa na sua execução pelo período de 24 (vinte e quatro)
meses, por violação dos deveres previstos nos artigos 88.º e 91.º/e do
782 Famões, com vista à aprovação
de medidas que visam assegurar o
FIM DO LEILÃO: 18 DE MARÇO, 6ª FEIRA ÀS 11H00 FIM DO LEILÃO: 18 DE MARÇO, 6ª FEIRA ÀS 11H30
Estatuto da Ordem dos Advogados e dos artigos 37.º/2/a, 39.º/1 e 40.º seu bem-estar, a sua recuperação,
o pleno exercício de todos os seus Insolvência de José Pedro Moura Brandão Insolvência de Luís Forte Simões
do Regulamento de Inscrição de Advogados e Advogados Estagiários. direitos e o cumprimento dos seus
O Edital de 16 de fevereiro de 2022 que deu publicidade à pena deveres, salvo as exceções legais Tribunal Judicial da Comarca de Aveiro - Juízo de Comércio de Oliveira de Azeméis – Juiz 2 Tribunal Judicial da Comarca de Santarém - Juízo de Comércio de Santarém - Juízo 2
disciplinar de suspensão pelo período de 6 (seis) meses, sem ou determinadas por sentença. Processo nº 1469/21.5T8OAZ Processo nº 707/16.0T8STR & Insolvência de Elisabete Ferreira de Abreu
mencionar a suspensão da sua execução foi declarado nulo por N/ Referência: 151719648 Tribunal Judicial da Comarca de Santarém - Juízo de Comércio de Santarém – Juiz 3
despacho de 23 de fevereiro de 2022. Loures, 21-02-2022
T2(93,30m2

t
115.000€ Processo nº 1721/19.0T8STR

5
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O Juiz de Direito
Porto, 23 de fevereiro de 2022 Dr. Diogo Alves
A Oficial de Justiça
Orlando Carvalho Leite
Presidente do Conselho de Deontologia do Porto
Margarida Santos
Diretora de Serviços
Ana Maria Branco C. Corda
Público, 26/02/2022
c/ aparcamento na cave e acesso a piscina

CONVOCATÓRIA
& GARAGEM (39,70m2) (valor mínimo de venda)
Nos Termos do artigo vigésimo terceiro dos Estatutos, convoco os sócios da
Liga Portuguesa dos Direitos do Animal e dos núcleos AMIAMA e Instituto
Zoófilo Quinta Carbone para uma Assembleia Geral Ordinária a realizar no
dia 26 de Março de 2022 pelas 14h00, no abrigo do núcleo IZQC, sito na
Avenida Santo António de Tercena, Quinta das Lindas, Tercena. CONHEÇA
Se à hora marcada não estiver presente, ou legalmente representada, a
maioria dos Associados, com direito a participar na Assembleia-geral, no
AS NOSSAS
pleno gozo dos seus direitos associativos, a Assembleia realizar-se-á em COLECÇÕES DE
segunda convocatória, meia hora depois, no mesmo local e com qualquer
MÚSICA

número de Associados, nos demais termos do disposto nos Artigos

Vigésimo Primeiro ao Vigésimo Sexto dos Estatutos.
ORDEM DOS TRABALHOS
Ponto 1 – Informações de carácter genérico;
Ponto 2 – Análise de proposta de uma Fundação, ou algo similar, que
SÃO JOÃO DA MADEIRA TOMAR
acautele o património da Associação e votação; )"#*5"±°0
t
Rua Frederico Ulrich nº 174, 2º ESQ.
Ponto 3 – Apresentação e aprovação dos relatórios de actividades e contas
relativos ao exercício do ano de 2021 referentes à LPDA, Núcleos AMIAMA e IZQC;
("3"(&.
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Rua Frederico Ulrich nº 182, cave do bloco B 3VB
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Ponto 4 – Aprovação e demissão de sócios no âmbito dos Estatutos;
Ponto 5 – Eleição dos Corpos Sociais para o quadriénio de 2022 a 2025;
Ponto 6 – Tomada de posse dos Corpos Sociais eleitos; CA TÁ L O G O O N L IN E C AT ÁLO GO O NL I NE
Ponto 7 – Apresentação e aprovação do plano de actividades e previsão de Subscreva a nossa newsletter em www.cparaiso.pt Subscreva a nossa newsletter em www.cparaiso.pt
custos para o exercício de 2022 referente à LPDA e núcleos AMIAMA e IZQC;
Ponto 8 – Outros assuntos de carácter genérico.
Só podem votar os sócios que tenham as quotas actualizadas; estas
poderão ser actualizadas até meia hora antes do início da Assembleia-geral. ,EILOEIRAÒ0ARA¶SOÒmÒ2UAÒ!NDRADEÒÒ2#Ò$4/ÒmÒ Ò,)3"/!Ò ,EILOEIRAÒ0ARA¶SOÒmÒ2UAÒ!NDRADEÒÒ2#Ò$4/ÒmÒ Ò,)3"/!Ò
Tercena, 23 de Fevereiro de 2022 loja.publico.pt 4ELÒÒÒÒmÒ4LMÒÒÒÒmÒWWWCPARAISOPTÒmÒINF CPARAISOPT 4ELÒÒÒÒmÒ4LMÒÒÒÒmÒWWWCPARAISOPTÒmÒINF CPARAISOPT
Drª Cláudia Ferro, Presidente da Mesa da Assembleia-Geral INFO: 210 111 010
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Público ClassiÄcados • Sábado, 26 de Fevereiro de 2022 • 45

FIM DO LEILÃO: 21 DE MARÇO, 2ª FEIRA ÀS 11H00 FIM DO LEILÃO: 25 DE MARÇO, 6ª FEIRA ÀS 11H00 FIM DO LEILÃO: 25 DE MARÇO, 6ª FEIRA ÀS 11H30

Insolvência de Luis Filipe da Silva Lopes Carvalho Insolvência de Estação de Serviço S. Pedro, Lda Insolvência de Isabel Rute Coelho Unipessoal, Lda
E Maria José Filipe Moreira Carvalho Tribunal Judicial da Comarca de Viseu - Juízo de Comércio de Viseu - Juiz 2 Tribunal Judicial da Comarca de Portalegre - Juízo de Competência Genérica de Fronteira
Tribunal Judicial da Comarca de Lisboa Oeste - Juízo de Comércio de Sintra - Juiz 1 Processo Nº 2418/21.6T8VIS Processo Nº 108/20.6T8FTR
Processo nº 780/18.7T8SNT

MAFRA SÃO PEDRO AVIS

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RVJOUBM

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69.700€
125.000,00€ ESTAÇÃO DE SERVIÇO
c/ arrecadação (nº 29)
e estacionamento (nº25)
& BENS MÓVEIS
584.480€
(Área de Implantação 800m2
& Área de Construção 1.600m2) (C/ área de 480m2)
(Área de Construção 222,36m2)
Rua do Bairro do Serradão nº 29

POSTO DE
Praceta Joaquim da Conceição Gomes,
Nº 1, Bloco B, 1º DTO.
COMBUSTÍVEL
122.400€
ESTABELECIMENTO Rua Dr. José Correia de Oliveira nº 85
Ónus - Arrendamento

COMERCIAL CAVE/ARMAZÉM
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prorrogáveis por iguais períodos. 3FOEB
NFOTBM
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10450
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t Contrato de Cessão de Exploração –

(132,70m2)
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,00€ JOÓDJP

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QSPSSPHÈWFJT
QPS
QFSÓPEP
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t
-*73&4

2 frações autónomas no Bairro do

Serradão ou Bairro 1º de Maio nº 2
BENS MÓVEIS Fração A - Habitação T4 – rés-do-chão
(29,25m2) e 1.º andar (115,00m2)
Composto por: Elevadores, Fração B – Rés-Do-Chão Estabelecimento de
Máquina de Pneus, Alinhar Direção, Restauração e Bebidas (127,88m2)
Macacos Hidráulicos,
Ónus:
Máquina de Soldar, Compressor, 'SBÎÜFT
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JOÓDJP
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prorrogáveis por iguais períodos, renda 100€ e 150€.
Aspirador, Lavadora, Equipamento 'SBÎÍP
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JOÓDJP

QSB[P


Rua Serpa Pinto Nº 19 R/C de Restauração e Mobiliário anos, prorrogáveis por períodos de 50 meses, renda 800€ + IVA .
Renda Mensal : 700,00€ As rendas foram liquidadas até Março de 2023.
Início: Janeiro de 2016 (c/ aditamento em Maio de 2019) de escritório, etc.
1SB[P

BOPT
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BOP

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1. Imóveis, Vendedores e Preço: 4. Data da Escritura: O contrato definitivo de compra e

Os Imóveis a transmitir correspondem aos seguintes pré-
dios rústicos:
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6. Custos, Impostos e Despesas:ŏ+ +/ŏ+/ŏ1/0+/Čŏ%),+/0+/ŏ
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escritura de compra e venda e com os respetivos registos
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Público ClassiÄcados • Sábado, 26 de Fevereiro de 2022 • 49

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4. Data da Escritura: O contrato definitivo de compra e venda será
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5. Estado dos Imóveis:ŏ/ŏ )¨2!%/ŏ/!.Y+ŏ2!* % +/ŏ*+ŏ!/0 +ŏ!)ŏ-1!ŏ
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6. Custos, Impostos e Despesas:ŏ+ +/ŏ+/ŏ1/0+/Čŏ%),+/0+/ŏ!ŏ !/,!-
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50 • Público • Sábado, 26 de Fevereiro de 2022
Ciência A rede genealógica dos humanos mais detalhada até ao momento
Eis a maior
árvore da família
humana.
Estamos lá todos
representados
Equipa internacional de cientistas criou a mais
Teresa Sofia Serafim
E
stamos todos ligados. Se
detalhada rede genealógica da diversidade alguém tivesse dúvidas disso,
Æcam infundadas com uma
genética humana. E não vai Äcar por aqui: à investigação divulgada ontem
na revista cientíÆca Science.
medida que surjam novos dados, esta árvore Uma equipa de cientistas dos
da família humana vai crescendo Estados Unidos, do Reino Unido e da
Áustria criou uma nova rede genea-
lógica da diversidade genética dos
humanos modernos e antigos que
mostra como os indivíduos estão liga-
dos uns aos outros. Esta é a maior e a
mais detalhada árvore da família
humana feita até agora. Estamos lá
todos representados.
Os genomas dos humanos — tanto
dos actuais como dos mais antigos
— são ferramentas essenciais para se
saber mais sobre a nossa evolução.
Ao longo dos últimos anos, tem-se
vindo a recolher esse material gené-
tico codiÆcado no ADN em milhares
de amostras. Contudo, a forma como
é obtido, a qualidade com que isso é
feito ou as limitações nas análises
aplicadas (sobretudo do ADN antigo)
têm tornado as comparações entre
todos esses genomas um grande
desaÆo.
A equipa de Anthony Wilder Wohns
(agora cientista no Instituto Broad do
MIT-Harvard, nos Estados Unidos)
decidiu fazer frente a essa diÆculdade
e quis mapear todas as relações gené-
ticas entre os humanos através desses
genomas. O investigador explica ao
PÚBLICO que se começou por reunir
informações de oito bases de dados
diferentes de humanos modernos e
antigos no mundo.
Ao todo, essa recolha englobou
sequências genómicas com uma ele-
vada qualidade de 3609 indivíduos
(3601 de humanos modernos e oito
de antigos) de 215 populações, bem
como cerca de 3000 genomas antigos
com uma qualidade mais baixa. Esses
genomas do passado incluem amos-
tras com 1000 até 100.000 anos.
Embora estejam representados
“genes ibéricos” — como lhe chama
Anthony Wilder Wohns —, o investi-
gador diz que não teve acesso especi-
Æcamente a genomas de Portugal.
Depois, ao longo do estudo, a equi-
pa usou padrões da variabilidade
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genética nas bases de dados para esti-
mar como essas pessoas herdaram os
seus genes dos seus antepassados. E,
através de algoritmos, conseguiu-se
mesmo prever onde antepassados
comuns estavam presentes em árvo-
res Ælogenéticas (que representam as
relações evolutivas) e obteve-se uma
rede com quase 27 milhões de ante-
passados, indica-se num comunicado
sobre o trabalho.
O antepassado mais antigo estima-
do no trabalho tem 2.000.000 anos.
Para além disso, como se teve em
conta que cada geração teria entre 25
e 30 anos, foram consideradas nessa
rede 80.000 gerações (incluindo as
que foram previstas). Aí, estão incluí-
dos os designados “humanos moder-
nos” (Homo sapiens, que é a nossa
espécie), neandertais ou denisovanos
(outros grupos de humanos) — mes-
mo em pequeno número, também se
conseguiu ter genomas destes dois
últimos. Outros hominíneos, como o
Homo erectus, estarão, provavelmen-
te, aqui representados nos antepas-
sados estimados, mas não se o pode
aÆrmar com toda a certeza sem se ter
ADN antigo que o conÆrme — por ago-
ra, o genoma mais antigo tem os tais
cerca de 100.000 anos.
“O resultado foi uma ‘genealogia
genética’ que mostra como essas pes-
soas estão ligadas umas às outras num
certo ponto no genoma através dos
seus antepassados comuns”, indica
Anthony Wilder Wohns. “Todas as
peças do nosso genoma são herdadas
ou da mãe ou do pai e esta genealogia
mostra exactamente como as pessoas
herdaram todas as partes dos seus
genomas.”
Diversidade em África
Criou-se assim uma grande rede
genealógica da diversidade genética
humana — considerada a maior árvo-
re da família humana até agora. “Basi-
camente, construímos uma grande
árvore familiar, uma genealogia para
toda a humanidade que modela de
forma mais exacta possível a história
que causou toda a variabilidade gené-
tica que encontramos hoje nos huma-
nos”, esclarece Yan Wong, geneticis-
ta evolutivo do Instituto de Big Data
da Universidade de Oxford, no Reino
Público • Sábado, 26 de Fevereiro de 2022 • 51
UNSPLASH
Unido. “Esta genealogia permite-nos
observar como todas as sequências
genéticas das pessoas se relacionam
umas com as outras ao longo de todos
os pontos do genoma.”
Para que tudo Æque bem claro,
Anthony Wilder Wohns esclarece que
usa as expressões “genealogia huma-
na” e “árvore de família” (embora
possam ter signiÆcados diferentes,
são aqui usadas como sinónimos)
para se referir ao resultado do traba-
lho que mostra como a humanidade
se liga aos seus antepassados comuns.
O nome técnico para esta “genealogia
humana” ou “árvore de família” é
“sequência de árvores”, porque foi
feita uma árvore para cada parte do
genoma. Ou seja, não foi criada uma
única árvore como as que costuma-
mos ver de algumas famílias, mas algo
bem mais complexo com diferentes
ramos e raízes. “Este trabalho é a pri-
meira tentativa para se criar uma
única genealogia que capture as rela-
ções entre todos os indivíduos desde
os tempos mais recentes até à história
inicial dos humanos”, frisa o investi-
gador. Portanto, simpliÆcando, obte-
ve-se uma árvore das várias gerações
da grande família humana.
Ao longo do trabalho, conseguiu-se
mesmo estimar, a nível genético, de
forma aproximada, onde e quando
os nossos antepassados viveram.
Anthony Wilder Wohns exempliÆca
que se observou na árvore que as raí-
zes mais antigas da variabilidade
genética humana no Nordeste de Áfri-
ca, mais exactamente numa região do
actual Sudão, remontam há um
milhão de anos.
Mais: “Conseguimos ver que espé-
cies humanas antigas, como os deni-
sovanos, deixaram descendência
genética pelo mundo (isto é, fora de
África), mas com padrões diferentes”,
assinala o cientista. “Por exemplo, as
pessoas na Oceânia têm quantidades
bem maiores de ancestralidade deni-
sovana, mas até mesmo pessoas que
vivem na Europa têm alguma ances-
tralidade que se assemelha à de indi-
víduos antigos.” Estas observações já
tinham sido feitas antes, mas esta
De certa forma, árvore acaba por expô-las de forma
directa e simples.
estamos todos Além de se identiÆcar antepassa-
representados dos comuns, nesta árvore genealógi-
ca gigante recuperam-se aconteci-
nesta árvore, uma mentos-chave na história evolutiva
humana, incluindo a migração para
vez que o nosso fora de África (Out of Africa). “Tem
existido um grande interesse na com-
genoma pode não preensão do momento em que ocor-
estar lá, mas muitos reram as migrações [no passado] à
volta do mundo, em particular das
dos nossos populações das Américas e da Oceâ-
nia”, nota Anthony Wilder Wohns.
antepassados estão Este trabalho dá-nos algumas pistas
sobre esses momentos, esclarece o
Anthony Wilder Wohns investigador: “Os nossos resultados
Cientista aumentam a probabilidade de os
antepassados dos humanos moder-
nos terem ido para a Papuásia-Nova
Guiné [na Oceânia], ou lá perto, e
para as Américas mais cedo do que se
pensa de forma consensual actual-
mente, mas ainda não temos provas
suÆcientemente fortes, como fósseis
ou datação por radiocarbono [uma
ferramenta que permite saber quan-
do esses antepassados viveram].”
Explorar a genética médica
Anthony Wilder Wohns espera ago-
ra que outros cientistas usem esta
árvore genealógica gigantesca para
investigar várias questões relaciona-
das com a genética, como a origem
e a disseminação de doenças asso-
ciadas aos genes. O investigador
também espera que esta árvore
cresça ainda mais. “Esta estrutura
tornar-se-á maior e mais abrangen-
te à medida que mais dados genéti-
cos, tanto de humanos modernos
como de antigos, forem Æcando dis-
poníveis e os pudermos ir incluindo.
Também se irá tornando mais deta-
lhada à medida que os métodos
usados para fazer as estimativas
melhorarem ao longo do tempo.”
Por agora, Jasmin Rees e Aida
Andrés (ambas investigadoras na
área da genética da University
College de Londres e que não Æze-
ram parte do trabalho) consideram
num comentário ao artigo também
na Science que “o poder e a resolu-
ção dos métodos usados para os
registos nesta árvore prometem
ajudar a clariÆcar a história evolu-
tiva dos humanos e de outras espé-
cies”. AÆnal, este estudo pode tam-
bém ser adaptado — quem sabe — a
bactérias ou a outros primatas e
animais. Todo este conhecimento
pode vir a ter contributos na gené-
tica médica.
Anthony Wilder Wohns deixa
ainda uma mensagem para que o
público em geral possa compreen-
der esta árvore da família humana.
“A história da Humanidade está
escrita nos nossos genes e a genea-
logia é uma forma de se ‘ler’ essa
história, uma vez que nos mostra
como herdámos os nossos genes
dos nossos antepassados”, esclare-
ce o investigador. Portanto, pede-
nos que pensemos nesta árvore
como uma forma de os nossos
genes nos contarem a história da
nossa espécie (e não só) e mostra-
rem como estamos todos genetica-
mente ligados uns aos outros.
E de que forma nos podemos
encontrar nessa árvore? Anthony
Wilder Wohns indica que alguns
dos antepassados que todos parti-
lhamos estão nesta enorme rede.
“De certa forma, estamos todos
representados nesta árvore, uma
vez que o nosso genoma pode não
estar lá, mas muitos dos nossos
antepassados estão”, resume. AÆ#
nal, a menos que tenhamos o nosso
genoma directamente inserido na
árvore, não sabemos exactamente
qual o nosso lugar aí. No fundo,
podemos não saber onde indivi-
dualmente nos encaixamos, mas,
como Humanidade, estamos todos
representados nesta árvore onde
tudo está ligado.
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52 • Público • Sábado, 26 de Fevereiro de 2022
Cultura ArcoMadrid 2022
Paula Rego e
optimismo na
feira de Madrid,
mas “la guerre”
chegou
Numa feira ainda com máscaras e
certiÄcados, as galerias Äzeram um
esforço para mostrar boas obras.
A Marlborough recebeu uma Paula Rego
Isabel Salema, em Madrid
Já passaram “os anos de chorar” por
causa da pandemia, disse-nos o
galerista espanhol Fernando Corde-
ro, de La Caja Negra. E estávamos
todos prontos para isso nesta edição
de aniversário da ArcoMadrid, a
feira de arte contemporânea que
junta até amanhã 185 galerias de 30
países, entre as quais estão 17 por-
tuguesas, no recinto situado nos
arredores da cidade.
A palavra de ordem era, então,
“optimismo”, acrescentava Fernando
Cordero em frente às maravilhosas
gravuras de José Pedro Croft, que
espelham uma nova fase do artista
português. Esquecer a pandemia,
apesar das máscaras FFP2 e dos cer-
tiÆcados covid obrigatórios, com os
jornais espanhóis a focarem-se na
vagina cosida da artista trans peruana
Wynnie Mynerva, que exibe o vídeo
da sua operação na secção Opening,
dedicada às galerias mais novas. Fala-
va-se também do “regresso” à feira
do ditador espanhol Francisco Fran-
co (fotograÆas de Pilar Albarracín na
galeria portuguesa Filomena Soares),
dos “líderes favoritos de extrema-es-
querda” do primeiro-ministro Pedro
Sánchez (desenho de Riiko Sakkinen
na galeria Ænlandesa Forsblom), da
quase ausência (ou não) da arte em
formato NFT. Conversas que são
expressão de que a ArcoMadrid vol-
tava ao normal. E curiosidades ou
anedotas típicas de uma feira de arte
contemporânea que sempre procu-
rou estabelecer uma forte relação
com o público e que também podem
ser encaradas como uma ponte para
se falar de códigos mais intrinseca-
mente estéticos, digamos assim.
Mas no segundo dia de feira che-
gou “la guerre”, como comentou ao
PÚBLICO o galerista alemão Tho-
mas Levy, um veterano da ArcoMa-
MARISCAL/EPA
drid. O rei Felipe VI não compare-
ceu à inauguração marcada para a
manhã em que a Europa acordou
com o ataque russo à Ucrânia já em
marcha. É no espaço de Levy que
está à venda um conjunto extraor-
dinário da obra gráÆca e fotográÆca
de Man Ray, nome histórico do
movimento dadaísta e surrealista,
parte do qual já tinha sido vendido
no primeiro dia a um museu. Mis-
são, portanto, em parte cumprida.
“Mas com la guerre ninguém com-
pra…”, comentava baixinho Tho-
mas Levy ao PÚBLICO, acrescentan-
do que notava pouco movimento no
segundo dia desta edição que cele-
bra os 40 anos da inauguração da
ArcoMadrid em 1982.
Como não há galerias russas ou
ucranianas na feira espanhola,
seguimos, para já, o guião do opti-
mismo, porque ninguém quer falar
de guerra, principalmente numa
feira que viu, tragicamente, o seu
recinto transformado num hospital
de campanha durante os piores
meses da pandemia.
Compromisso Paula Rego
Não é todos os anos que se celebra vimos recentemente na Colômbia, gidas por dois italianos. A Monitor
um aniversário redondo, e a galeria
Para o com a despenalização aprovada há mostra as pinturas da luso-moçambi-
Marlborough de Madrid, sucursal da coleccionador poucos dias, como o assunto ainda é cana Eugénia Mussa, enquanto a
casa de Londres, apresenta uma relevante.” Nerea Pérez quer destacar Madragoa expõe as experiências foto-
extraordinária obra de Paula Rego,
português também o trabalho das artistas espa- gráÆcas do italiano Renato Leotta. Na
Girl with a Foetus (2005), um pastel Armando Cabral, nholas da galeria, entres as quais está secção Opening, há outra galeria de
sobre papel que pertence à série Soledad Sevilla, pioneira da abstrac- Lisboa com um só artista, desta vez a
sobre o aborto feita pela artista por-
há uma energia ção geométrica em Espanha e Prémio Foco, dirigida por um francês, que
tuguesa radicada em Inglaterra. Tem que cria boas Velázquez de Artes Plásticas 2020, em junta as aguarelas, tapeçarias e escul-
um preço de 800 mil euros. “Em linha com a vontade da directora da turas de Pauline Guerrier.
Madrid não temos normalmente
expectativas para ArcoMadrid, Maribel López, que des- Se as galerias brasileiras, como a
obras dela à venda, mas nesta edição a ArcoLisboa de que assumiu a liderança em 2020 Vermelho, não estão presentes este
estamos a reforçar o esforço interna- tem-se dedicado a tornar mais visível ano, há algumas europeias, como a
cional da galeria”, explica Nerea e presente o trabalho das artistas Neugerriemschneider, que regressa-
Pérez, responsável pela comunica- mulheres na Arco. ram depois de uma ausência de dez
ção. “Gostamos muito de Paula Rego Há duas galerias lisboetas no pro- anos, em movimentos que ainda se
e do seu compromisso político. É uma grama geral que organizam o seu explicam pelo efeito pandemia. A
das poucas mulheres da sua geração stand em redor de um só artista, com galeria de Hamburgo mostra três
nesta categoria. É assustador, como a curiosidade acrescida de serem diri- artistas consagrados da América Lati-
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Desenho de Riiko Sakkinen
na galeria finlandesa Forsblom,
à esquerda. Em cima,
a galeria Marlborough
de Madrid mostrou Girl with
a Foetus de Paula Rego(2005)
e pintura de Alice Morey
na Galeria Lehmann + Silva
CORTESIA GALERIA MARLBOROUGH
CORTESIA GALRIA LEHMANN+SILVA
na (Mario García Torres, Tomás Sara-
ceno e Jorge Pardo) num stand domi-
nado por uma instalação de chão da
artista brasileira Renata Lucas (Pré-
mio Pipa 2010). “Tornámo-nos mais
europeus durante a pandemia”, expli-
ca o galerista Burkhard Riemschnei-
der. Não deixaram de estar presentes
nas feiras de São Paulo e de Miami, a
última, organizada pela poderosa
ArtBasel e que disputa com a ArcoMa-
drid o mercado artístico da América
Latina. “É mais fácil planear uma fei-
ra em Madrid do que na Ásia, porque
podemos reagir mais Çexivelmente
neste novo cenário da pandemia.”
Numa colaboração com a galeria
espanhola Elvira González, os ale-
mães apresentam igualmente uma
instalação de luz do artista dinamar-
quês Olafur Eliasson, uma obra de
encher o olho e com ambições museo-
lógicas, exibida num grande espaço
entre os stands das duas galerias.
Uma certa energia
O coleccionador português Armando
Cabral, que no ano passado ganhou
um dos prémios de coleccionismo da
ArcoMadrid, acha que, em geral, “há
boas peças na feira”. Em particular,
destaca “as peças históricas muitíssi-
mo interessantes” da secção especial
dedicada ao aniversário, sem nomear
nenhum artista. “Não me parece que
haja tantos coleccionadores estran-
geiros, porque é normal no momen-
to em que estamos, mas há uma
certa energia que cria boas expecta-
tivas para a ArcoLisboa”, acrescenta,
referindo-se à feira congénere que
desde 2016 tem lugar na Cordoaria
Nacional, e que se prevê que inaugu-
re a 19 de Maio. “Há uma represen-
tação mais forte das galerias portu-
guesas, porque houve um investi-
mento grande dos galeristas.” As 17
presentes são um recorde dos últi-
mos anos, mas nas vendas que surgi-
ram nesta ArcoMadrid não consta
nenhum artista português.
Nas galerias nacionais, destaque
ainda, além das acima mencionadas,
para uma obra histórica de Alberto
Carneiro na 3+1, para as pinturas de
Jorge Queiroz na Bruno Múrias, para
uma instalação de Nuno Nunes-Fer-
reira na Balcony, para as fotograÆas
de Daniel Blaufuks na Carlos Carva-
lho, para as pinturas de Matt Mullican
na Cristina Guerra, para uma instala-
ção botânica de Adrien Missika na
Francisco Fino, para as pinturas de
Pedro Cabrita Reis na Miguel Nabi-
nho, para outra de Adam Pendleton
na Pedro Cera, para a instalação de
Suzanne Themlitz na Vera Cortês (há
também desenhos novos de Croft, tal
como a galeria espanhola Helga de
Alvear), para a pintura de Pedro Vaz
na Kubik, para os painéis de mármo-
re de Petrus Moris na Duarte Sequei-
ra, para as peças em cimento de Mar-
lon de Azambuja na Lehmann Silva
ou para as esculturas em paraÆna de
Carolina Serrano na Uma Lulik.
Mas, além de Paula Rego e Croft,
há trabalhos de outros artistas por-
tuguesas consagrados também pre-
sentes em galerias estrangeiras,
como Cabrita Reis na Juana de Aizpu-
ru, Julião Sarmento na Giorgio Per-
sano, Fernanda Fragateiro e Carlos
Bunga na Elba Benítez ou Ana Vidigal
no Espaço Mínimo. E há artistas por-
tugueses menos conhecidos, como
Inês Zenha, uma jovem de 27 anos
que mostrava os seus trabalhos numa
também jovem galeria francesa, a
Double V. Um deles era uma vagina
em cerâmica. Estava mesmo em
frente do vídeo e das pinturas da
celebridade da ArcoMadrid 2022, a
peruana Wynnie Mynerva.
A jornalista viajou a convite
da ArcoMadrid
Público • Sábado, 26 de Fevereiro de 2022 • 53
Aventuras de um
libertino libertário
Crítica de teatro
Don Juan
mmmnn
De Molière. Encenação de António
Pires. Por Ar de Filmes/ Teatro do
Bairro. Teatro do Bairro, Lisboa. Até
27 de Fevereiro.
Don Juan é um libertino, um sedutor,
de certo modo, um libertário, mas
principalmente um hipócrita e, à luz
dos tempos, um misógino que se vin-
ga das mulheres usando-as. Além, a
bem dizer, de ser um incréu capaz de
desdenhar das graças de Deus sem
hesitação de maior, o que, na França
de 1665, era, mais do que um pecado,
uma afronta ao poder da Igreja. Tam-
bém é, simbolicamente, um estereó-
tipo da nobreza, isto é, na perspectiva
do autor, alguém que pensa que as
regras sociais não se lhe aplicam, ou,
de maneira mais chã, que nem quer
saber delas — excepto quando lhe dão
jeito, claro. Quer dizer, pela luz da
dramaturgia, uma personagem que
tanto diverte como perturba, isto é,
um petisco para um encenador.
A personagem tornou-se um mito,
o que parece ter começado com El
Burlador de Sevilla y Convidado de
Piedra, de Tirso de Molina, aí por
1620, e prosseguido com variadas
versões italianas e francesas nos anos
seguintes e muitas outras ao longo da
História, entre elas, a brilhante ópera
de Wolfgang Amadeus Mozart e
Lorenzo Da Ponte, Don Giovanni,
para nem falar de outras interpreta-
ções mais ou menos felizes. Mito tor-
nado, Don Juan fez-se matéria-prima
de todas as imaginações, herói e/ou
vilão, conforme o ponto de vista,
anarquista sem freio, sujeito sem
moral nem respeito pelas regras
sociais, rebelde sem causa, poeta da
sensualidade, amante serial, sacríle-
go, enÆm… Molière (1622-1673), ata-
zanado com a proibição de Tartufo,
Cultura
carregado de inimigos, com a Igreja à
frente a fazer a cabeça a Luís XIV, que
o protegia, escreveu a peça como res-
posta a essa controvérsia. Não correu
bem. Cinco dias depois da estreia, no
Teatro Palais-Royal, em Paris, a obra,
perante o maremoto de reclamações,
saía de cartaz para nunca mais ser
representada, ou sequer publicada,
durante a vida do dramaturgo.
Este Don Juan (que, para o Teatro
do Bairro, também serve de comemo-
ração dos 400 anos do nascimento do
autor, encenador e actor), represen-
tado com graça por Jaime Baeta em
permanente, gracioso e cómico desa-
Æo ao seu criado Esganarelo, espécie
de Grilo Falante na peça e grande
dinamizador da acção, personagem
interpretada ainda com mais humor
e considerável dose de subtileza por
João Barbosa (em elenco que ainda
inclui Carolina Campanela, Carolina
Serrão, Catarina Vicente, Francisco
Vistas, Hugo Mestre Amaro, Luís Lima
Barreto, Mário Sousa e Sandra San-
tos), tem um carácter mais aproxima-
do ao de uma criatura que ama até ao
inÆnito e mais além e que, por isso, se
tornará vítima de si própria.
António Pires, por sua vez, constrói
a encenação sobre um soberbo cená-
rio concebido por Alexandre Oliveira
(desenhado e pintado por Jacqueline
de Montaigne), usando os telões
como quem recria um teatro barroco,
através de marcações simples e uma
dose de commedia dell’arte em conví-
vio com teatro clássico desenrolando
a intriga em que os amores e as trai-
ções do protagonista alinham com a
verdade e a mentira, mais a fantasia
de estátuas que aceitam convites para
jantar. E com a hipocrisia descrita
pelo original realçada nas falas dos
actores, principalmente nos magníÆ#
cos diálogos entre Don Juan e Esgana-
relo, sem descartar a dose de moral,
no entanto, mantendo incólume o
desejo de subversão de Molière e a
sua vontade de criar uma Ægura capaz
de personiÆcar o caos que a liberdade
carrega consigo. Rui Monteiro
MIGUEL BARTOLOMEU
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54 • Público • Sábado, 26 de Fevereiro de 2022
Cultura
Bestiário leva Lumina ao Teatro Viriato,
uma luz que vai à frente
Camilo Soldado
Colectivo estreia em Viseu
peça que teve como base
o desenho de luz,
numa reflexão sobre a luz,
a velocidade e o ruído
Há um certo modo de montar um
espectáculo que faz com que o dese-
nho de luz entre só numa fase avan-
çada do processo. “Por norma vemos
um ensaio quase feito, ou um esboço,
uma base em bruto do que vai ser o
objecto artístico, e depois metemos a
luz em cima”, explica o desenhador
de luz Manuel Abrantes.
Lumina tem a singularidade de sub-
verter esse princípio não escrito. Nes-
ta peça que se estreia hoje, no Teatro
Viriato, em Viseu, com direcção artís-
tica de Miguel Ponte e Manuel Abran-
tes, a base é o desenho de luz.
Mas para melhor entender este
novo trabalho do colectivo Bestiário,
fundado em 2018 por Afonso Viriato,
Helena Caldeira, Miguel Ponte e Tere-
sa Vaz, é preciso regressar a Umbra
(2019).
Umbra, explica Miguel Ponte, que
também assina o texto e a encenação
de Lumina, “partia de três conceitos:
Obras de Cruzeiro Seixas chegam ao mercado internacional
num leilão dedicado à arte surrealista em Londres
A leiloeira Bonhams vai
leiloar quatro trabalhos de
um dos mais importantes
protagonistas do
surrealismo português
Quatro obras de Artur do Cruzeiro
Seixas vão a leilão em Londres, a 8 de
Março, reÇectindo o crescente reco-
nhecimento internacional do artista
surrealista português, explicou uma
especialista da leiloeira Bonhams.
As obras, com valores estimados
entre 1000 e 7000 libras (1200 e 8400
euros), fazem parte de um leilão com
66 lotes dedicado ao surrealismo, em
que se destacam obras de Max Ernst,
Salvador Dalí, Yves Klein, André Bre-
ton ou Man Ray.
Segundo a directora de vendas da
Bonhams, Ruth Woodbridge, a lei-
loeira britânica é a primeira a levar
o trabalho de Cruzeiro Seixas a um
mercado global. “Antes vendido
silêncio, lentidão e escuridão”, sendo
que a ideia era trabalhar, despir, até
“chegar a um vazio”. Nesse projecto
entrou Manuel Abrantes, que conhe-
cia da Escola Superior de Teatro e
Cinema, que desenhou a luz. Repen-
sando esse projecto de 2019, surgiu a
questão: “E se Æzéssemos o espectá-
culo oposto, sobre luz?”
A partir daí, “o salto foi muito sim-
ples: se é um espectáculo sobre luz,
então a luz vai à frente”, recorda o
encenador. Convidaram Manuel
Abrantes para desenhar a luz e fazer
a sua primeira direcção artística. “Ao
início, havia o receio de ser um espec-
táculo de efeitos de luz”, diz Manuel
Abrantes. Não é. Mas também não foi
um trabalho como os outros. “O dese-
nho de luz é processo de solidão. Num
processo normal, eu estou a lutar
contra mim, ou para não fazer a mes-
ma coisa” ou, interrompe Miguel
Ponte, “para não responder a uma
ideia pré-feita” que o encenador tem
na cabeça. Lumina resulta de um tra-
balho colaborativo, em que o próprio
encenador e os intérpretes (Afonso
Viriato, Helena Caldeira, Joana Petiz
e Teresa Vaz) foram interferindo.
Também como base, é citado o
espectáculo Licht, de 2002, que sur-
giu de uma proposta da coreógrafa
principalmente em Portugal, os pre-
ços mais altos realizados por [traba-
lhos de] Seixas em leilão foram para
esculturas zoomórÆcas monumen-
tais, mas a contribuição para o movi-
mento surrealista em geral está ago-
ra a ser reconhecida graças à inclu-
são na actual exposição da Tate
Modern, Surrealism Beyond Bor-
ders”, disse.
A Noite sem Fim, um desenho a gua-
che e aguarela de 1977, tem um inter-
valo de venda entre os 6000 e 8400
euros, enquanto Estudo para um Dese-
nho Perdido, desenho a tinta-da-china
realizado em Angola em 1957, está
estimado entre 5400 e 7800 euros.
Uma obra sem título nem data, e
que consiste numa colagem num
envelope, está avaliada entre 2150 e
3000 euros, e uma outra obra, tam-
bém sem título, de 2013, realizada em
metal, tem um preço base entre 1200
e 1800 euros.
Woodbridge salienta o facto de Cru-
zeiro Seixas ser um “artista experi-
Nesta peça, as deixas vêm com o jogo de luz de Manuel Abrantes
Conny Jansen ao desenhador de luz
Reinier Tweebeeke, para criar um
espectáculo em que a luz precederia
a dança.
Obedecer à luz
Em Lumina, a dado ponto, a penum-
bra é interrompida por feixes de luz
que rasgam rectângulos luminosos no
chão do palco, enquanto o ambiente
sonoro se assemelha a uma vertigem
industrial. “Todo o espectáculo obe-
dece à luz. Temos centenas de deixas
A Noite sem Fim (1977). Estimativa de venda de 6000 a 8400 euros
mental que utilizou todos os meios,
seja pintura, desenho, poesia, cola-
gem ou escultura”, e cujo trabalho
“reÇecte as inÇuências de André Bre-
ton, Salvador Dalí e Giorgio de Chiri-
ESTELLE VALENTE
de luz, cronometradas com tempos
próprios e não são os actores que
mandam”, diz Miguel Ponte. “Nor-
malmente é ao contrário: a luz espera
pelos actores para entrar. Aqui, eles
estão a toque de caixa”, nota.
São os intérpretes que têm de res-
ponder às deixas automáticas para
continuar no jogo desenhado por
Abrantes. Quando, no processo cria-
tivo, “surgem estes rectângulos no
chão [percebemos] o potencial, com
signiÆcado sobre o quotidiano, com
CORTESIA BONHAMS
co, [que] podem ser vistas nas suas
paisagens alienígenas, ambientes
nocturnos e evocação de fantasmas
e monstros”.
O trabalho de Cruzeiro Seixas tem
flashes de coisas a acontecer”, conta
Miguel Ponte.
A peça debruça-se sobre a luz, a
velocidade, o ruído, um “excesso do
contemporâneo”. Num texto escrito
para aparecer como um “Çuxo de
consciência”, Lumina reÇecte “sobre
a multiplicidade das coisas, sobre
como as coisas nos acontecem todas
ao mesmo tempo e vamos a correr”.
Umbra e Lumina podem ser enca-
rados como um díptico. Tanto que o
colectivo procurou a oportunidade
para os apresentar como tal, mostran-
do os dois espectáculos ao público no
mesmo dia, apenas com umas horas
de intervalo diz Miguel Ponte. Isso só
acontecerá em Maio, na Black Box do
Centro Cultural de Belém, naquilo
que o encenador descreve como
“uma dor de cabeça logística e um
estoiro para os actores”. “Mas quere-
mos muito que aconteça. Há muita
coisa que achamos que se vai cruzar
e fazer sentido” entre os dois traba-
lhos, acrescenta.
Antes de Lisboa e depois de Viseu,
a 22 de Abril, Lumina passa pelo Cine-
Teatro Curvo Semedo, em Montemor-
o-Novo, localidade que marcou o
arranque dos trabalhos para a peça,
com uma residência artística no Espa-
ço do Tempo.
sido exposto internacionalmente nos
últimos anos em países como Espa-
nha, França e Estados Unidos.
O artista está representado na
exposição colectiva sobre o surrealis-
mo na Tate Modern, em que a escul-
tura O seu Olhar já não se Dirige para
a Terra, mas Tem os Pés Assentes Nela
foi colocada lado a lado com um tra-
balho de Marcel Duchamp.
O director da Perve Galeria, Carlos
Cabral Nunes, congratula-se pelo
“trabalho de divulgação da obra de
Cruzeiro Seixas” que tem vindo a
fazer, nomeadamente na edição do
ano passado da feira de arte interna-
cional Frieze, também em Londres.
“No seguimento dessa mostra, foi-
-nos solicitada a colaboração por
várias instituições, que Æcaram muito
interessadas em promover a obra de
Cruzeiro Seixas junto dos seus públi-
cos; a Bonhams foi uma delas, e nós
temos procurado ajudar nesse pro-
cesso de internacionalização”, disse
o galerista. Lusa
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Público • Sábado, 26 de Fevereiro de 2022 • 55

Guia
Os PJ Masks mergulham no Sea Life Porto
O “maior aquário do Norte do país” não deixa as
máscaras por mãos alheias. A partir deste sábado, e
durante dois meses, há uma aventura de
super-heróis à espera dos visitantes, que conta com
cinco desafios interactivos e os famosos PJ Masks,
crianças blogues.publico.pt/letrapequena/
para “acabar com a balbúrdia no mar”.

FIM-DE-SEMANA
Conhecer EM FAMÍLIA
o nosso FESTAS
Baile de Carnaval
LISBOA LU.CA — Teatro Luís

planeta de Camões. Amanhã (e dia 1/3),

das 15h às 19h. M/3. 3€
A tradição dos antigos bailes nos

e aprender teatros inspira a festa em que as

cadeiras da plateia dão lugar a
uma pista de dança, pronta para
acolher miúdos e graúdos. A

a cuidar dele comandar a folia, na cabina de

som, está o DJ Fernando Alvim.

Carnaval 2022
Andamos distraídos e não SETÚBAL Praça do Bocage
Amanhã (e até 1/3), das 15h
cuidamos da Terra. Somos às 18h. Grátis
Atirar bolas a latas, argolas e
“cabeças de vento”, dizem Inês pinos. Fazer uma corrida de sacos,
Pupo e Gonçalo Pratas esquis, três pés ou mini-andas.
Jogar à macaca ou minibowling.
Em Setúbal, a festa carnavalesca
tem os jogos tradicionais como
reis.

sobre a nossa acção sobre o res: “Este livro e disco pretende ser
Rita Pimenta MÚSICA
planeta. um ponto de partida; um convite a
“O livro e disco Cabeças “A consciência ambiental sair dos ecrãs e conhecer as árvores, Concerto de Carnaval
de Vento é um convite a tem vindo a ser um tema as ervas-de-cheiro, as maravilhas do LISBOA Centro Cultural de
sair de casa, a respirar ar cada vez mais central no mundo natural, a fauna e Çora da zona Belém. Amanhã, às 17h.
puro, a ir para a rua nosso dia-a-dia, mas aper- entre marés, o ciclo da água. Um con- 12,50€ a 25€
conhecer o planeta em cebemo-nos de que neste vite para todos a sermos um pouco Ao programa festivo da Orquestra
que vivemos”, dizem- assunto somos, como espé- menos cabeças de vento, enquanto Metropolitana de Lisboa
nos os autores do projec- cie, algo distraídos; cabeças de contemplamos e cantamos juntos, juntam-se as máscaras de
to musical, que amanhã se vento, porque sabemos o que deve enquanto redescobrimos como é intérpretes e espectadores na
transformará num espectá- ser feito, mas nem sempre o faze- viver a 100%.” plateia.
culo em Lisboa, no Teatro Maria mos”, dizem. O registo áudio traduz-se num pro-
Matos (11h), para toda a família. No poema/canção que dá título ao jecto folk rock que conta com a parti-
TEATRO
Inês Pupo e Gonçalo Pratas, num livro, pode ler-se: “Queremos defen- cipação de Alexandre Alves (bateria),
depoimento enviado ao PÚBLICO por der a Terra/ reciclar, mudar de vida/ António Quintino (contrabaixo), João A Revolta dos Brinquedos
email, contam como chegaram até aumentar a consciência, ganhar a tara Fragoso (bandolim e guitarras) e Malu LINDA-A-VELHA Auditório
aqui: “Depois de nos termos visto perdida. // Mas nisto o que é que Garcia (violino). O livro dispõe de um Municipal Lourdes Norberto
obrigados a estar mais tempo em casa, acontece?/ Com todo o nosso código QR que encaminha o leitor Sábado, às 16h. M/3. 5€
parece ser ainda mais importante talento e humanas capacida- para as plataformas digitais, onde O Intervalo Grupo de Teatro põe
pisar a terra, sentir a areia nos pés, des,/ somos cabeças de vento…// pode escutar as músicas. em cena a história de Solange,
subir a serra, estar em contacto com Queremos respirar ar puro, FotograÆas combinadas com uma menina de dez anos que vivia
a natureza, usufruir da experiência de mas poluímos a eito,/ quere- ilustrações registam paisagens e fechada no quarto, sempre ligada
nos sentirmos insigniÆcantes perante mos mergulhar no mar/ mas seres vivos de uma forma sere- ao seu iPad, sem sorrisos e sem
uma paisagem onde não há elementos o plástico dá jeito…/” na e poética. Dá mesmo vonta- amigos. Até ao dia em que os seus
construídos por humanos.” Cabeças de Vento promove de de sair para respirar. brinquedos resolvem contrariar o
Assim, esta dupla, já com vários assim o contacto com a natu- Na contracapa, escre- abandono que lhes estava
trabalhos, criou agora poemas sobre reza, o seu conhecimento, res- ve-se: “Estar neste destinado e arranjar forma de pôr
paisagens, seres vivos, mas também peito e protecção. Palavras dos auto- planeta. Cantar a ple- todos a brincar juntos.
nos pulmões e dan-
çar.” Bela sugestão.
VISITAS
Cabeças de Vento
Texto: Inês Pupo Nau Santa Maria e Caravela
e Gonçalo Pratas Vera Cruz
Ilustração: Ricardo Machado SETÚBAL Cais 2, junto à Doca
Fotografia: Inês Pupo dos Pescadores. Hoje e amanhã,
Fotografia: Gonçalo Pratas, João das 10h às 18h. Grátis
Fragoso e Constroisons, Lda No Porto de Setúbal, à espera de
Edição livro+áudio: visitantes e para explorar de proa
Constroisons, Lda a popa, estão réplicas de
30 págs., 12,50€ embarcações icónicas dos tempos
Espectáculo no Maria Matos: 8€ da expansão marítima ibérica.
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56 • Público • Sábado, 26 de Fevereiro de 2022
Guia
Cinema
Lisboa
Cinema City Alvalade
Av. de Roma, 100. T. 218413040
Pica e o Cristal Mágico M6. 11h05
(V.Port./2D); Morte no Nilo M12. 11h30,
17h55, 21h; Mães Paralelas M12. 17h; Sob as
Estrelas de Paris 13h20; O Bom Patrão M12.
15h; A Filha Perdida M14. 12h55, 15h15,
19h25; Um Susto de Família 2 M6. 11h10
(V.Port./2D); A Pior Pessoa do Mundo M14.
19h20; O Homem Que Matou Don
Quixote M12. 21h50; Belfast M12. 13h05,
15h05, 17h30, 19h55, 21h45; Cyrano M12.
15h30, 17h35, 21h55
Cinema City Campo Pequeno
Centro de Lazer. T. 217981420
O Bando de Ned Kelly M16. 18h45,
00h15; Pica e o Cristal Mágico M6. 11h45
(V.Port.); Morte no Nilo M12. 15h15, 18h20,
21h15, 23h55; Meu Querido Monstro M6.
13h40 (V.Port./2D); Cantar! 2 M6. 11h20,
15h55 (V.Port./2D); Clifford 11h15, 15h45
(V.Port./2D); Homem-Aranha: Sem Volta
a Casa M12. 11h40 (V.Port./2D); Licorice
Pizza M12. 21h50, 00h20; Nightmare
Alley M14. 21h45; A Filha Perdida M14.
19h; Moonfall 21h35; Marry Me M12.
13h20; Um Susto de Família 2 M6. 11h15,
13h25, 15h35, 17h45 (V.Port./2D); O Homem
Que Matou Don Quixote M12. 21h45,
00h25; Uncharted M12. 11h50, 13h30,
15h20, 16h, 17h50, 18h30, 19h20, 21h20,
23h45; Belfast M12. 15h, 17h, 19h55, 21h20,
23h30; Cyrano 15h10, 18h10, 21h10, 23h40;
Cinema Ideal
Rua do Loreto, 15/17. T. 210998295
Memoria M12. 14h; ...Até Tocar o Azul do
Mar M12. 16h30, 21h15; A Pior Pessoa do
Mundo M14. 18h45
Cinemas Nos Alvaláxia
Alvaláxia Shopping e Lazer. T. 16996
The King’s Man: O Início M14. 21h35;
Pica e o Cristal Mágico M6. 13h35, 16h
(V.Port./2D); Morte no Nilo M12. 13h10,
16h15, 19h, 21h50; Dune13h40; Encanto M6.
13h45, 16h20, 19h05 (V.Port./2D); West Side
Story M12. 18h; Homem-Aranha 14h, 17h25,
21h20; Matrix Resurrections M14. 17h40,
21h15; Gritos M16. 21h30; Nightmare Alley
M14. 14h20, 17h50, 21h10; Moonfall - Rota
de Colisão M12. 14h40, 21h40; Um Susto
de Família 2 M6. 13h25, 16h10, 18h40
(V.Port./2D); Prisioneiros de Ghostland M16.
18h45, 21h25; Uncharted M12. 13h15, 16h05,
18h55, 21h45; Belfast M12. 13h50, 16h30,
19h10, 21h55; Cyrano 14h30, 17h30, 21h
Cinemas Nos Amoreiras
Av. Engº Duarte Pacheco. T. 16996
Chico - Artista Brasileiro M12. 13h30; Morte
no Nilo M12. 20h50, 23h40; West Side
Story M12. 16h30; Homem-Aranha: Sem
Volta a Casa M12. 20h30, 23h50; O Bom
Patrão M12. 21h10, 24h; Nightmare Alley
- Beco das Almas Perdidas M14. 14h;
A Filha Perdida M14. 16h10, 18h50, 21h30,
00h10; Marry Me - Fica Comigo M12. 14h10,
17h10; A Pior Pessoa do Mundo M14.
13h10; O Homem Que Matou Don
Quixote M12. 13h50,
16h50; Uncharted M12. 13h20, 16h, 18h40,
21h20, 24h; Belfast M12. 13h40, 16h20, 19h,
21h40, 00h10; Cyrano 17h20, 21h, 23h50;
Cinemas Nos Colombo
Av. Lusiada. T. 16996
The King’s Man: O Início M14. 19h10,
22h10; Morte no Nilo M12. 16h30, 19h30,
22h20, 00h30; Encanto M6. 13h40, 16h10
(V.Port./2D); West Side Story M12.
14h; Homem-Aranha: Sem Volta a
Casa M12. 18h30, 21h50; Gritos M16.
24h; Nightmare Alley - Beco das Almas
Perdidas M14. 13h20; Moonfall - Rota de
Colisão M12. 20h40, 23h30; Marry Me
- Fica Comigo M12. 18h20, 21h20;
Um Susto de Família 2 M6. 13h, 15h20, 18h
(V.Port./2D); O Homem Que Matou Don
Quixote M12. 12h50, 15h40; Uncharted M12.
Estreias
...Até Tocar o Azul do Mar
De Jia Zhangke. China. 2020.
112m. Documentário. M12.
Um documentário realizado por
Jia Zhang-Ke que faz um retrato
da sociedade chinesa desde a
década de 1950 até hoje.
Belfast
De Kenneth Branagh. Com Jude
Hill, Lewis McAskie, Caitriona
Balfe, Jamie Dornan, Judi
Dench. GB. 2021. 98m. Drama,
Histórico, Biografia. M12.
Finais da década de 1960. Buddy,
de nove anos, vive com a família
em Belfast, Irlanda do Norte.
Com o irromper dos confrontos
entre católicos nacionalistas e
protestantes unionistas, o
pequeno vê o seu mundo tremer.
Cyrano
De Joe Wright. Com Peter
Dinklage, Haley Bennett, Kelvin
Harrison Jr., Ben Mendelsohn.
EUA/GB/CAN. 2021. 124m.
Drama, Romance, Musical. M12.
Com assinatura de Joe Wright,
esta é mais uma adaptação da
célebre peça escrita pelo poeta e
dramaturgo francês Edmond
Rostand.
Noite Incerta
De Payal Kapadia. FRA/Índia.
2021. 97m. Drama,
Documentário. M14.
Um documentário que se centra
nas cartas de amor que uma
estudante do Instituto de Cinema
e Televisão da Índia escreveu ao
seu namorado, após terem sido
separados.
Um Susto de Família 2
De Holger Tappe. Com Emily
Carey (Voz), Jason Isaacs (Voz),
Rainer Fritzsche (Voz), Bernhard
Völger (Voz). GB/ALE. 2021.
93m. Animação, Comédia. M6.
Todos os elementos da família
Wishbone têm de voltar a
transformar-se em monstros
para salvar um casal de amigos
raptados por uma temível
caçadora.
Chico - Artista Brasileiro
De Miguel Faria Jr.. BRA. 2015.
70m. Documentário. M12.
Trinta horas de entrevista com
Chico Buarque, bem como
testemunhos e imagens de
arquivo, sustentam este retrato
artístico e pessoal do compositor,
cantor e escritor brasileiro.
Cyrano
Cartaz, críticas, trailers
e passatempos em
cinecartaz.publico.pt
12h40, 15h30, 18h10, 21h,
23h40; Belfast M12. 13h30, 15h50, 18h40,
21h30, 23h50; Cyrano M12. 13h10, 16h,
18h50, 22h, 00h15; Uncharted M12. Sala
IMAX - 13h50, 16h20, 19h, 21h40, 00h20
Cinemas Nos Vasco da Gama
Parque das Nações. T. 16996
The King’s Man: O Início M14. 13h30; Morte
no Nilo M12. 17h, 21h, 23h55; Encanto M6.
10h40, 13h30 (V.Port./2D); Cantar! 2 M6.
11h, 13h50 (V.Port./2D); Homem-Aranha:
Sem Volta a Casa M12. 17h50,
21h20; Nightmare Alley M14. 13h40; A Filha
Perdida M14. 14h30; Marry Me - Fica
Comigo M12. 21h50; O Homem Que Matou
Don Quixote M12. 13h50,
17h10; Uncharted M12. 13h15, 16h, 18h45,
21h30, 00h20; Belfast M12. 16h45, 19h15,
21h40, 00h10; Cyrano 16h20, 19h10, 22h;
Medeia Nimas
Av. 5 Outubro, 42B. T. 213142223
Gente de Dublin M12. 20h; O Professor
Bachmann e a Sua Turma M12. 11h30; A Pior
Pessoa do Mundo M14. 15h30; Belfast M12.
22h; Noite Incerta M14. 18h
UCI Cinemas - El Corte Inglés
Av. Ant. Aug. Aguiar, 31. T. 213801400
O Bando de Ned Kelly M16. 13h20,
19h20; Às Coisas Que Nos Fazem
Felizes M14. 19h25; Morte no Nilo M12.
13h35, 16h25, 19h10, 22h, 00h20; Olá, é a
Mamã! M12. 13h25, 18h50; Casa
Gucci 15h30, 21h20; Cantar! 2 M6. 14h10,
16h05 (V.Port./2D); Mães Paralelas M12.
13h25; West Side Story M12.
13h15; Homem-AranhaM12. 16h05, 22h05,
23h40; Licorice Pizza M12. 13h15, 16h05,
18h50, 21h35; Sob as Estrelas de
Paris 13h30; O Bom Patrão M12. 16h30,
19h10, 21h50; Nightmare Alley 15h40,
18h40, 21h55; A Filha Perdida M14. 13h20,
19h, 21h50; Marry Me 16h50, 22h05,
00h25; Um Susto de Família 2 M6. 13h45,
16h15, 18h45 (V.Port./2D); A Pior Pessoa do
Mundo M14. 16h, 18h55, 21h40; O Homem
Que Matou Don Quixote M12. 13h20, 16h10,
19h, 22h; Belfast M12. 14h05, 16h40, 19h15,
21h15, 21h40, 24h; Cyrano M12. 13h30,
16h20, 19h05, 21h55, 00h20
Almada
Cinemas Nos Almada Fórum
R. Sérgio Malpique 2. T. 16996
Chico - Artista Brasileiro M12. 13h15,
15h55; O Bando de Ned Kelly M16. 20h55,
24h; The King’s Man: O Início M14. 17h50,
20h40, 23h45; Morte no Nilo M12. 12h40,
15h40, 18h30, 21h20, 00h10; Olá, é a
Mamã! M12. 13h50, 16h30,
18h45; Encanto12h45, 15h15 (V.P.); Cantar!
2 M6. 13h40, 16h20 (V.Port./2D); West Side
Story M12. 18h55; Clifford M6. 14h30,
16h50 (V.Port./2D); Homem-Aranha M12.
14h, 17h10, 20h30, 23h40; Gritos M16.
19h20, 21h50, 00h25; Nightmare Alley
- Beco das Almas Perdidas M14. 22h10;
A Filha Perdida M14. 12h55; Moonfall - Rota
de Colisão M12. 21h35, 00h20; Marry Me
- Fica Comigo M12. 15h35, 18h20, 20h50,
23h20; Um Susto de Família 2 M6. 13h20,
15h50, 19h (V.Port./2D); A Pior Pessoa do
Mundo M14. 14h10; O Homem Que Matou
Don Quixote M12. 118h25, 21h15,
00h05; Uncharted M12. 12h50, 15h30,
18h10, 21h, 23h30; Belfast M12. 13h, 15h20,
18h, 21h10, 23h50; Cyrano M12. 13h10, 16h,
18h50, 21h40, 00h20; Uncharted M12. 17h,
19h30, 22h, 00h30; Uncharted M12. Sala
4DX - 13h30, 16h10, 18h40, 21h30, 24h;
Amadora
Cinema City Alegro Alfragide
C.C. Alegro Alfragide. T. 214221030
The King’s Man: O Início M14. 21h,
23h40; Pica e o Cristal Mágico M6. 11h40,
15h50 (V.Port./2D); Morte no Nilo M12.
15h55, 18h45, 21h45, 00h20; Meu Querido
Monstro M6. 13h35 (V.P.); Encanto M6.
11h30, 16h10 (V.Port./2D); Cantar! 2 M6.
11h20, 13h50, 18h40 (V.Port./2D); Clifford
11h30, 15h40, 19h55 (V.Port./2D); Homem
-Aranha 11h15, 15h15, 17h40, 21h25,
23h40; Nightmare Alley - Beco das Almas
Perdidas M14. 20h40; A Filha Perdida M14.
19h05; Marry Me - Fica Comigo M12. 22h,
00h25; Um Susto de Família 2 M6. 11h35,
13h45, 15h35, 17h45 (V.Port./2D); Cães do
Árctico 11h10 (V.Port./2D); O Homem Que
Matou Don Quixote M12. 15h20, 21h20,
00h05; Prisioneiros de Ghostland M16.
13h40; Uncharted M12. 11h15, 13h, 15h20,
17h50, 18h30, 19h, 21h20, 21h50, 23h55,
00h20; Belfast M12. 13h25, 15h25, 17h25,
19h25, 21h25, 23h55; Cyrano M12. 11h10,
15h10, 18h20, 21h30, 24h
UCI Cinemas - Ubbo
Venteira.
Morte no Nilo M12. 16h15, 19h05, 21h50;
O Rapaz Atrás da Porta M16.
21h55; Encanto M6. 14h20, 16h50, 19h20
(V.Port./2D); Cantar! 2 M6. 13h30, 16h05
(V.Port./2D); Clifford - O Cão Vermelho M6.
13h20 (V.Port./2D); Homem-Aranha 15h,
18h20, 21h35; Moonfall M12. 21h30; Marry
Me - Fica Comigo M12. 13h45, 16h20, 18h50,
21h25; Um Susto de Família 2 M6. 14h,
16h30, 19h (V.Port./2D); Prisioneiros de
Ghostland M16. 18h45,
21h15; Uncharted M12. 13h20, 13h50, 16h,
16h25, 18h40, 19h10, 21h20, 21h45; Cyrano
13h25, 16h10, 18h55, 21h40
Cascais
Cinemas Nos CascaiShopping
Alcabideche. T. 16996
Morte no Nilo M12. 14h15, 17h, 20h,
23h; Encanto M6. 13h45 (V.Port./2D);
West Side Story M12. 14h; Homem-Aranha:
Sem Volta a Casa M12. 16h45, 19h45,
22h45; Gritos M16. 20h30,
23h15; Nightmare Alley 13h; A Filha
Perdida M14. 13h30; Moonfall - Rota de
Colisão M12. 17h30; Marry MeM12. 21h; Um
Susto de Família 2 M6. 13h30, 15h45, 18h15
(V.Port./2D); Uncharted M12. 12h40, 15h15,
18h, 20h45, 23h30; Belfast M12. 17h15,
19h30, 21h45 ; Cyrano M12. 16h30, 19h15,
22h30; Uncharted M12. Sala IMAX - 13h15,
16h15, 18h45, 21h15, 23h45
O Cinema da Villa - Cascais
Avenida Dom Pedro I. T. 215887311
Chico - Artista Brasileiro M12. 14h15,
19h20, 21h35; Morte no Nilo M12. 19h10,
21h35; Os Elfkins 11h (V.Port./2D); Cantar!
2 M6. 11h (V.Port./2D), 11h (V.
Orig./2D); Cantar! 2 M6. 11h (V.Port./2D);
O Bom Patrão M12. 14h30, 16h50, 19h10,
21h30; Um Susto de Família 2 M6. 11h, 15h,
17h05 (V.Port./2D); Belfast M12. 13h40,
15h35, 17h35, 19h35, 21h35; Cyrano M12.
14h20, 16h45, 19h10, 21h35; Hermitage
- O Poder da Arte 16h30
Caldas da Rainha
Cineplace La Vie
C.C. La Vie.
Pica e o Cristal Mágico M6. 14h10
(V.Port./2D); Morte no Nilo M12.
21h10; Cantar! 2 M6. 14h40
(V.Port./2D); Homem-Aranha M12. 15h,
18h10, 21h20; Marry Me M12. 17h; Um
Susto de Família 2 M6. 13h50, 16h20,
18h40 (V.Port./2D); O Homem Que Matou
Don Quixote M12. 18h50; Uncharted M12.
14h, 16h30, 19h, 21h30; Belfast M12. 19h20,
21h45; Cyrano M12. 16h10, 21h40
Carcavelos
Atlântida-Cine
CC. Carcavelos. T. 214565653
A Pior Pessoa do Mundo M14.
17h45; Belfast M12. 15h, 17h45,
21h; Cyrano M12. 15h, 21h
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Público • Sábado, 26 de Fevereiro de 2022 • 57

Jogos

Lazer Jogos Jogue também online.

Palavras-cruzadas, Euromilhões 10 13 24 30 42 1 5

bridge e sudoku em
1.º Prémio 54.000.000€ M1lhão GZH 36683
publico.pt/jogos
Esta informação não dispensa a consulta da lista oficial de prémios

TEATRO Cruzadas 11.626 Paulo Freixinho

Cinema Medo
LISBOA Cinema São Jorge.
Dias 26/2 e 28/2, às 20h, 21h,
22h, 23h e 24h (mais sessões em
www.cinemasaojorge.pt). M/16.
20€
Com a festa dos 72 anos do São
Jorge na tela, há uma outra
experiência em cena. É teatral,
imersiva, labiríntica e desaÆa para
“uma viagem-pesadelo às
entranhas” do edifício. Depois de
exibir uma curta-metragem de
terror, leva o público a percorrer
todos os espaços, sabendo que a
qualquer momento, em qualquer
esquina, corredor ou camarim,
pode ter encontros imediatos com
personagens aterradoras. Os
espectadores são também
jogadores a disputar, em equipas,
o prémio de visitar a sala secreta
onde se diz que a censura
operava. Nove actores dão vida à
produção do Projecto Casa
Assombrada, do Teatro ReÇexo
(em parceria com a EGEAC), que
tem o carimbo de Michel Simeão.
DANÇA
Seis Meses Depois
ALMADA Teatro Municipal
Joaquim Benite. Dia 26/2, às 21h.
M/12. 13€
Tendo como ponto de partida o
espectáculo Autópsia, que
gravitava entre a dor e o luto e
reÇectia sobre o impacto da
pegada humana no planeta, Olga
Roriz apresenta uma criação cujo
foco aponta para a “humanidade
que perdura em cada um de nós,
apesar desta sociedade que nos
consome, formata e massiÆca”,
refere a nota de imprensa.
EXPOSIÇÃO
Aqui Há Gato. Romualdo:
Pintura, Livros e Desenhos
SETÚBAL Casa da Avenida.
De 5/2 a 20/3. Quarta a domingo,
das 10h às 19h. Grátis
A mostra reúne trabalhos de José
Romualdo, descritos pela galerista
Maria João Frade como uma “festa
para os sentidos”, habitada por
“memória, celebração,
melancolia, surpresa e solidão”.
Entre eles estão livros de
diferentes épocas, que reÇectem
as várias facetas da obra do artista
e os desaÆos a que se propôs,
“fazendo das páginas espaços de
arte e jogando com a volumetria e
a materialidade”.
palavrascruzadas@publico.pt
HORIZONTAIS: 1. Atribui a vaga de ataques informáticos à Rússia. Unidade monetária
do Laos. 2. Símbolo de miliampere. Quinto imperador romano. Baga da videira. 3.
Fricção. Margens. 4. Abandonar. 5. Regato não permanente. Número de categorias
dos Óscares que vão ser pré-gravadas. 6. Pai do primo. “Apressado come (...)”. 7. Aço
inoxidável. Aguardente de cereais produzida e consumida principalmente na Rússia e
na Polónia. 8. Tântalo (s. q.). Chame em socorro. Internet Protocol. 9. Privilégio de estar
isento de uma coisa a que os outros estão sujeitos. 10. Mulher nobre. Dizer (...) e far-
rapos, ser má-língua. 11. Desgaste. Correia dupla que sustenta o estribo.
VERTICAIS: 1.Alguma. Postura. 2.(...) dos Santos, lançou o livro Untamed, The Mad
Nomad Texts, no festival Correntes d’Escritas. Atmosfera. 3. Trituro com os dentes. O
âmago. 4. Alento. Indígenas do Norte do Brasil. 5. Redução de Internet. Segundo.
Plutónio (s. q.). 6. Furioso. Cabeças de (...), audiolivro de Inês Pupo e Gonçalo Pratas,
com ilustração de Ricardo Machado (ver Guia crianças – Letra pequena). 7. «A» + «o».
Dar lustre a. 8. Escudeiro. Pequena porção de líquido (fig.). 9. Consagrado cineasta, foi
com a fotografia que decifrou o mundo. Haste horizontal da charrua. 10. Imposto
sobre o Valor Acrescentado. Desleal. 11. Espantou. Influência (fig.).
Solução do problema anterior
HORIZONTAIS: 1. Água. IV. CIP. 2. Transtagano. 3. II. Onerar. 4. Csi. Sra. Ria. 5. Ru. TI. 6.
Fórmula. 7. Arcas. Hum. 8. Ronco. Fota. 9. Sovou. Ui. Ug. 10. Aba. Lanegan. 11. DAX.
Oximoro.
VERTICAIS: 1. Ático. SAD. 2. Gris. Arroba. 3. UA. Ir. Covax. 4. Ano. Ufano. 5. SNS. Óscu-
lo. 6. Iterar. AX. 7. Vara. Mó. Uni. 8. Ga. Tu. Fiem. 9. Carrilho. Go. 10. In. Autuar. 11. Posar.
Magno.
João Fanha © Alastair Chisholm 2008
Bridge fanhabridge.pt Sudoku www.indigopuzzles.com
Dador: Sul Deixe ficar o Ás de copas no morto
Vul: Todos e corte a vaza. Tire o Ás e o Rei de
trunfo e depois o Ás e o Rei de paus
antes de dar a mão a Oeste no
terceiro trunfo. Em mão, Oeste terá
de nos oferecer a entrada para o
NORTE morto, onde temos o Ás de copas e
Ƅ 54
Ɔ A765 a Dama de paus para baldar os
Ƈ J106 nossos dois ouros perdentes.
ƅ Q765 Se os três trunfos estiverem em
Este, será necessário bater primeiro
OESTE ESTE o Ás de ouros antes de jogar o Solução 11.024
Ƅ Q109 ƄJ terceiro trunfo e, neste caso, a
Ɔ KQ104 Ɔ J9832 Dama de ouros terá que estar bem
Ƈ Q73 Ƈ 852 colocada, tal como o previsto no
ƅ 932 ƅ J1084 início para a primeira linha de jogo.
SUL Portanto, assim garantiremos o
Ƅ AK87632 jogo não só com os trunfos 2-2 ou a
Ɔ- Dama de ouros bem colocada, mas
Ƈ AK94 também quando for Oeste a ter três
ƅAK trunfos.
Considere o seguinte leilão:
Oeste Norte Este Sul
1Ƈ 1Ƅ
Oeste Norte
2
Este Sul1
2Ƈ
passo Ƈ
passo
passo ?
Problema 11.027 (Muito Difícil)
passo 2Ɔ passo 2Ƅ
O que marca com a seguinte mão?
passo 2ST3 passo 3Ƈ ƄJ76542 Ɔ94 Ƈ75ƅAK7
passo 3Ƅ passo 6Ƅ
Todos passam
Resposta: Passe. Com um naipe de
espadas com tão má qualidade,
Leilão: Equipas ou partida livre. 1 –
pode perfeitamente haver três ou
Forcing a partida; 2 – Relais; 3 –
quatro perdentes em espadas,
Cinco a sete pontos sem naipe
quando o contrato de dois ouros
comprido, nem apoio de três cartas
tem todo o ar de ser fácil de se
a espadas Solução 11.025
cartear.
Carteio: Saída: KƆ. Como chegar
às 12 vazas?
Solução: Uma possibilidade é a de
fazer já o Ás de copas e tentar a
passagem a ouros. Cumpriremos se
a Dama de ouros estiver bem
colocada ou se os trunfos estiverem
divididos 2-2. Mas é possível fazer
melhor. Como?
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58 • Público • Sábado, 26 de Fevereiro de 2022

Guia

CINEMA Televisão Os mais vistos da TV

Lady Bird
Hollywood, 13h45
Nomeada para cinco Óscares e
vencedora de dois Globos de
Ouro, esta comédia dramática
marcou a estreia na realização da
actriz Greta Gerwig, também
autora do argumento. A terminar
o liceu, Christine “Lady Bird”
McPherson (Saoirse Ronan) mal
pode esperar por entrar na
faculdade, de preferência bem
longe da cidade de onde nunca
saiu. Mesmo que a mãe ache a
ideia absurda, Lady Bird não
deixará de lutar por esse sonho.
Modelos
TVCine Edition, 22h
Oscarizado pela banda sonora —
que incluía a inesquecível Long
ago (and far away), de Jerome Kern
e Ira Gershwin —, este musical
romântico dos anos 1940 foi feito
por Charles Vidor à medida de
Rita Hayworth. A diva encarna
uma bela bailarina de um clube
nocturno a quem é dada a
oportunidade de ser capa de uma
revista de moda de prestígio.
Uma Família Ideal
Fox Comedy, 23h
Andrew Fleming escreve e realiza
este Ælme sobre valores familiares,
em que Steve Coogan e Paul Rudd
dão vida a um casal que vê a sua
vida virada do avesso quando
descobre que tem de tomar conta
do neto de Erasmus, que ele
nunca chegou a conhecer. Com a
chegada de uma criança àquela
casa, os desaÆos vão ser muitos.
Mas o maior virá quando o pai do
miúdo regressar para o “resgatar”.
Operação Outono
RTP2, 23h42
Música de Dead Combo.
Realização de Bruno Almeida.
Actuações de John Ventimiglia
(dobrado em português por
Rogério Samora), John Marcello
Urgeghe, João d’Ávila, Nuno Lopes
e Ana Padrão e outros. E a
biograÆa de Humberto Delgado,
escrita por Frederico Delgado
Rosa, como base. Eis os
condimentos deste thriller político
sobre a operação que levou à
morte do “General sem Medo”.
MUSICAL
Esta Vida É Uma Cantiga
RTP1, 14h38
Uma celebração do teatro de
revista e do cinema musical pelas
mãos dos irmãos Feist: Henrique
(protagonista e encenador) e Nuno
(director musical). Estreou-se em
2013, no lisboeta Teatro da
Trindade, e tem voltado ao palco
regularmente desde então.
Quarta-feira, 23
Festa é Festa
O Preço Certo
Jornal da Noite
Jornal das 8
Amor, Amor Vol. 2
FONTE: CAEM
RTP1
6.30 Zig Zag 8.00 Bom Dia Portugal
Fim de Semana 9.57 Águias e Lagos
10.53 Aqui Portugal - Os Melhores
Momentos 2021 12.59 Jornal da Tarde
14.15 Voz do Cidadão 14.38 Esta Vida É
Uma Cantiga 16.40 I Love Portugal
19.07 O Preço Certo
19.59 Telejornal
rnal
21.09 Masterchef
erchef
Portugal
23.52 Patrulha
ha
de Doidos
1.44 Janela Indiscreta
2.37 Património Mundial da Unesco - A
Cápsula do Tempo da Natureza
SIC
6.05 Camilo, o Presidente 6.30 Etnias
7.00 As Aventuras do Max 7.20 Uma
Aventura 8.15 Médico da Casa 9.05
Estamos em Casa 12.10 O Nosso
Mundo 12.50 Casa Nova, Vida Nova
13.00 Primeiro Jornal 14.15 Alta
Definição 15.15 E-Especial 16.00 Alô
Marco Paulo
19.58 Jornal da Noite
oite
21.50 Patrões Fora
a 21.40
22.40 Terra Nossa - Especial Carnaval
1.00 Levanta-te e Ri
3.35 Regresso ao Futuro
RTP1 11,4%
% Aud. Share RTP2 0,8
TVI 11,1 23,2
RTP1 10,8 23,5 SIC 19,2
TVI
SIC 10,4 20,1
TVI 9,6 18,6 18,0
Cabo
SIC 9,3 20,7
36,5
TVCINE TOP
RTP2
18.00 Valley Girl 19.40 Um Milhão de
6.32 Repórter África 7.00 Euronews Partículas 21.30 Blackbird - A Despedida
8.00 Espaço Zig Zag 14.52 Râguebi: 23.10 Sozinha 0.45 Gully 2.15 Em Busca
Portugal x Países Baixos (qualificação dos Últimos Grandes Heróis de Acção
Campeonato do Mundo 2023) 16.56
Biosfera 17.26 Jeanne Devère 18.59
Faça Chuva Faça Sol 19.31 Covídeos FOX MOVIES
20.22 Big Cities 20.37 Merlí 17.08 Ben-Hur 19.18 Exterminador:
Genisys 21.15 Homem de Aço 23.22
Águas Perigosas 0.48 The Revenant: O
Renascido
21.30 Jornal 2
HOLLYWOOD
17.00 Getaway - Em Fuga 18.30 Ocean’s
22.03 David Bowie: 8 20.20 Sete Irmãs 22.25 Cidade
O Encontro com a Fama Infernal 23.55 Guerra sem Quartel 1.30
The Beach Bum: A Vida Numa Boa
23.33 Folha de Sala
AXN
18.14 The Equalizer 2 - A Vingança 20.22
MIB - Homens de Negro II 21.55 MIB:
23.42 Operação Outono Homens de Negro - Força Internacional
23.51 O Tesouro Encalhado 1.50 Sem
Identidade
1.12 Europa Minha 1.34 Euronews
FOX
17.38 Colombiana 19.37 Line Of Duty - O
Resgate 21.20 Baywatch: Marés Vivas
23.29 San Andreas 1.29 300
TVI DISNEY CHANNEL
6.00 Curious George 6.21 Diário da 17.15 A Maldição de Molly Mcgee 18.05
Manhã 6.36 Detective Maravilhas 7.22 Ghostforce 18.25 Gravity Falls 19.15 Os
Campeões e Detectives 8.10 Inspector Green na Cidade Grande 20.00
Max 10.14 As Grandes Ilhas do Mundo Miraculous - As Aventuras de Ladybug
11.14 Querido, Mudei a Casa! 12.11
VivaVida 13.00 Jornal da Uma 14.45
José Eduardo Moniz - A Entrevista DISCOVERY
15.25
15 Em Família 17.10 A Febre do Ouro: Águas Bravas
18.10 Mistérios da Natureza 19.05 O
Segredo das Coisas 21.00 Camionistas
da Austrália 22.55 Asphalt Cowboys
0.40 Camionistas da Austrália
19.57
19 Jornal das 8
HISTÓRIA
17.21 Forjado no Fogo 20.47 Grandes
21 Big Brother Descobertas 22.15 Mistérios no Gelo
23.41 Grandes Descobertas 1.07 A
Engenharia Que Mudou o Mundo
1.15 GTI Plus
ODISSEIA
17.44 Animais Bebés e os Seus Amigos
18.33 Uma Quinta, 9 Filhos e 1.000
Ovelhas 19.18 As Maiores Montanhas do
2.05 Hawai: Força Especial 3.35 Doce Mundo 20.03 Países Nórdicos Desde o
Tentação Ar 20.56 Marrocos Desde o Ar 21.40
África Autêntica Desde o Ar 22.30 Viver
Mais e Melhor 23.53 África Autêntica
Desde o Ar 0.44 Viver Mais e Melhor
DOCUMENTÁRIOS
Making Waves: A Arte do Som
Cinematográfico
TVCine Edition, 12h15
Um documentário sobre o som no
cinema, da sua história ao
processo criativo, sem esquecer a
força emotiva. É conduzido por
Midge Costin, veterana editora de
som, que colhe comentários dos
seus pares mais destacados e
também de realizadores que dão
particular importância às ondas
sonoras: Steven Spielberg, George
Lucas, David Lynch, Barbra
Streisand e Ang Lee.
David Bowie: O Encontro com a
Fama
RTP2, 22h03
Estreia. Viagem no tempo ao
encontro de David Robert Jones,
que o mundo viria a conhecer
como David Bowie, nos primeiros
tempos da carreira. O arco
temporal estende-se por meia
década, de Ænais dos anos 1960
até 1973, o ano em que Bowie
“enterrou” a famosa personagem
de Ziggy Stardust. Imagens raras
combinam-se com testemunhos
de quem conviveu e colaborou
com ele na época. Estreado em
2019 — três anos depois da morte
do inÇuente e camaleónico artista
britânico —, o documentário tem a
chancela da BBC e é realizado por
Francis Whately, que se
especializou na área da música e
outras artes, e já tinha assinado
outros trabalhos sobre Bowie.
INFANTIL
Patrulha Pata
Nick Jr., 11h
Os heróis caninos da Baía da
Aventura vão à Dino Selva na
abertura de uma maratona
dedicada aos fãs de dinossauros.
Episódios temáticos da Patrulha
Pata são intercalados com outros
de Blaze e as Monster Machines, até
às 14h30. O Dino-Alerta volta a
soar amanhã, no mesmo horário.
Pocahontas (V. Port.)
Disney Channel, 11h35
Saído dos estúdios Disney, em
1995, e baseado em relatos
históricos , ganhou dois Óscares
pela música original. Narra a
difícil história de amor entre a
bela princesa powhatan e o
capitão britânico John Smith. A
chegada dos ingleses vai
revolucionar a vida dos indígenas
americanos, mais ainda a de
Pocahontas, que se apaixona por
Smith. Mas nem a tribo nem os
colonos aceitam o amor entre
eles. Os dois terão então de
escolher entre o sentimento que
os une e a lealdade para com as
suas gentes.
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Público • Sábado, 26 de Fevereiro de 2022 • 59

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Índice UV
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Médio
Fraco
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Semana de 6 Fev. 418,38
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Lisboa Médio Analisamos as causas e consequências
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Nascen Poente Nascente Poente
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07h14 18h26
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O Mundo
Sines Beja EUROPA de Hoje
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Helsínquia Os temas da
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Madrid
Flores Lisboa
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Faial
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Berlim -1 7 Bissau 19 33
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Budapeste 0 10 Caracas 20 27
Porto Santo República
Copenhaga -1 5 Cid. do Cabo 18 27
Madeira A semana política
18º 17º 17º 18º Dublin 8 11 Cid. do México 10 25
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Frankfurt -2 7 Hong Kong 12 21 ANA SÁ LOPES
Funchal Genebra -1 10 Jerusalém 2 9
Istambul 4 11 Los Angeles 9 22
MARÉS Preia-mar Baixa-mar *de amanhã Kiev 0 6 Luanda 26 32
Londres 2 11 Nova Deli 15 24
Leixões m Cascais m Faro m
Madrid 5 12 Nova Iorque -2 1
11h25 2,7 11h02 2,8 11h02 2,7 Milão -3 -2 Pequim -2 11
17h39 1,2 17h15 1,4 17h09 1,3 Moscovo -2 3 Praia 19 25
Oslo 2 5 Rio de Janeiro 23 32 E muitas mais em
23h54 3,0 23h31 3,0 23h33 2,9 Paris 0 10 Riga -5 3 publico.pt/newsletters
06h21* 1,0 05h59* 1,1 05h53* 1,0 Praga -1 5 Singapura 25 31
Fontes: AccuWeather; Instituto Hidrográfico; QualAR/Agência Portuguesa do Ambiente; NOAA-ESRL
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60 • Público • Sábado, 26 de Fevereiro de 2022

Desporto Sindicato dos Jogadores cumpriu 50 anos de vida

“Era um regime
esclavagista,
os jogadores não
tinham liberdade
de trabalho”
Joaquim Evangelista Na semana em que o Sindicato
dos Jogadores completou meio século de existência,
o PÚBLICO conversou com Joaquim Evangelista, presidente
do organismo desde 2004 e que irá abandonar o cargo em 2025
Entrevista
Marco Vaza
De Bragança a Lisboa, como diriam
os Xutos & Pontapés. Foi este o
percurso de Joaquim Evangelista,
55 anos, presidente do Sindicato
dos Jogadores ProÆssionais de
Futebol desde 2004, que tem sido
uma junção perfeita de paixões: o
Direito e o futebol. Na semana em
que o organismo completou 50
anos, o líder sindical conversou
com o PÚBLICO sobre as
conquistas dos futebolistas
enquanto trabalhadores e dos
vários projectos que tem
desenvolvido em quase duas
décadas num cargo que, antes
dele, foi ocupado por Artur Jorge
(o primeiro presidente), Agostinho
Oliveira, Vasco Gervásio, José
Eduardo, Shéu Han, José Couceiro
e António Carraça.
O sindicato foi fundado em
1972, por homens como Artur
Jorge, Eusébio, Simões. O que
lhe diziam eles de como era ser
futebolista antes de existir um
sindicato?
Cinquenta anos é uma data
simbólica, não só para a classe e
para o futebol português, mas
também para mim. Procurei
sempre preservar a memória do
sindicato e inspirar-me, e tenho
consciência das diÆculdades antes
do 25 de Abril deste conjunto de
jogadores, que formaram a
comissão instaladora, a propósito
da lei da opção. Era um regime
esclavagista, os jogadores não
tinham liberdade de trabalho e
procuraram inverter este regime.
Procurei dar continuidade ao
trabalho que herdei, mas foram
muitas as diÆculdades. É
importante reÇectir sobre a forma
como as pessoas se relacionam com
os sindicatos ou as associações. Há
muitas ofertas e muitas solicitações
no futebol. É a família, que é o
primeiro orientador, é o agente, é o
advogado, há muita gente que
inÇuencia. Não é fácil mobilizar os
jogadores para uma causa quando
já têm direitos adquiridos. A lei da
opção e tudo o que veio a seguir, ao
nível da Segurança Social, do
contrato colectivo de trabalho, do
contrato individual de trabalho, o
direito ao salário e às férias, a
regulamentação, a lei Bosman, tudo
isto são conquistas dos jogadores
por via dos sindicatos. Nós somos a
voz dos jogadores e somos dos
sindicatos mais activos. Ser
futebolista na altura era uma paixão
e o futebol na altura não estava
estruturado e mercantilizado — hoje
é uma indústria de milhões e todos
temos consciência disso. Havia
ainda uma grande paixão pelos
clubes...
E não havia ninguém que
protegesse os jogadores...
Não havia essa protecção. Foram
conquistas sucessivas. São essas
histórias que nos permitem
perceber as diferenças entre um
futebolista há 50 anos e agora.
Eram muitas diÆculdades, mas
também temos a consciência de
que as diÆculdades também
permitem comportamentos de
superação.
Faz sentido falar do sindicato
num contexto de luta contra o
patronato?
Já tivemos essa discussão. Não
estamos ligados a nenhuma central
sindical — já tivemos várias
solicitações, mas quisemos manter
a independência. É um sindicato
diferente, mais moderno, mais
liberal, não temos problemas
ideológicos, por assim dizer. Há
muitas associações de jogadores
que não têm o nome sindicato.
Fizemos essa reÇexão sobre se
valia a pena mudar o nome.
Entendemos que não porque o
nome é um património. Ficou pelo
valor que tem para os próprios
jogadores. Não temos essa visão de
conÇito de classes.
Há uma consciência de classe
entre os jogadores que
permitisse haver uma greve
geral, se alguma vez se
justificasse?
Já houve greves anunciadas que
tiveram as suas consequências,
mas não houve um momento no
futebol português que exigisse uma
tomada de posição deÆnitiva. De
um momento para o outro, os
portugueses podem mobilizar-se,
temos sido surpreendidos. Os
jogadores têm essa capacidade,
mas é preciso que a causa o
justiÆque. São cada vez mais
intervencionistas, como se viu com
o Black Lives Matter. Estavam
proibidos de se manifestarem
politicamente, mas houve um
recuo e agora têm essa capacidade.
Se houver uma causa comum que
exija intervenção sobre matéria
que lhes diga respeito, não tenho
dúvidas de que os jogadores terão
essa consciência de classe.
Sentem que o sindicato é uma
voz autorizada para falar em
nome deles.
Hoje em dia, a maioria dos
jogadores revê-se no sindicato.
Todos os jogadores que ligam para
o sindicato, associados ou não, têm
uma resposta. Não posso permitir
que um jogador esteja com
diÆculdades e que não seja ajudado
por não ser sócio. Agora muitas das
vezes há jogadores que não nos
procuram. Mas também não aceito
manipulações, oportunismos e
faltas de respeito. Há muita gente
que acha que pode
instrumentalizar o sindicato.
Um dos programas que têm é o
da educação financeira. A
iliteracia financeira ainda é um
problema grave entre os
jogadores?
Não é só um problema dos
jogadores, é dos portugueses em
geral. Temos feito acções de
formação online, programas,
workshops seminários e temos
colocado este tema na agenda do
desporto. Noto que há cada vez
mais jogadores que têm
consciência de que para ter
sucesso Ænanceiro é preciso ter
uma boa gestão Ænanceira e ter
conhecimento de conceitos
básicos.
Os futebolistas que terminam a
carreira com algum dinheiro no
bolso são muitas vezes
vulneráveis.
E acabam por cometer erros. Às
vezes, até a própria família os
engana. A família, os agentes, os
gerentes bancários… Digo sempre
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isso aos jogadores quando vêm ao
sindicato, têm de tomar
conhecimento, ser activos. Não se
podem demitir da
responsabilidade. Não posso
admitir que assine um contrato de
trabalho e não Æque com uma
cópia. Temos centenas de casos
desses. Há jogadores que assinam
papéis sem ler. Têm de escolher
bem com quem se aconselham,
saber o que estão a assinar e têm
de se ir informando.
Há muitos jogadores que foram
enganados e temos casos, com
agentes, com clubes. No futebol
ainda há muito algo que muitos
acham louvável, mas que é um
erro, o ‘ainda acredito na palavra’.
O tempo actual não permite isso.
Há muitos jogadores com
ordenados em atraso em
Portugal?
Cada vez menos. Quando
comecei, era notícia todos os dias e
eu dava a cara. Ia aos clubes.
O V. Setúbal, a U. Leiria, o Estrela
da Amadora… Conseguimos
introduzir uma regulamentação
de controlo Ænanceiro.
Ainda há jogadores com
ordenados em atraso que são
obrigados a assinar aquelas
declarações de que está tudo
em dia?
Se isso acontecer, não vale de
nada. Lutámos contra isso durante
anos e agora tem de ser controlado
por um revisor oÆcial de contas. Se
mentir, há consequências graves.
Há casos pontuais, como o do
Desp. Aves, em que o clube acaba.
Nós garantimos a resposta quando
o jogador deixa de receber, com o
Fundo de Garantia Salarial.
A questão da saúde mental no
desporto de alta competição
tem estado em particular
destaque desde os Jogos
Olímpicos. Continua a ser um
tema tabu no futebol
português?
É um tema central. Durante a
pandemia Æzemos um protocolo
com a Ordem dos Psicólogos e
temos uma oferta a nível nacional
de 400 psicólogos. Oferecemos as
primeiras quatro consultas.
Sobretudo, falamos do tema.
Quais são os principais
Público • Sábado, 26 de Fevereiro de 2022 • 61
DANIEL ROCHA
problemas que vos aparecem à
frente?
Problemas familiares, a pressão
laboral nos clubes. Tudo o que seja
coacção feita pelos clubes, o
treinar à parte, não pagar… A
pressão dos associados, algumas
adições.
Outro dos temas civilizacionais,
o tráfico de jogadores. Aqueles
que são atraídos para o futebol
português com promessas e que
depois ficam ao abandono.
Portugal é um país central neste
problema. É uma plataforma para
jogadores de países sul-americanos
e africanos entrarem na Europa.
Há aqui um negócio à volta destes
jovens que vêm para Portugal, que
tem clubes disponíveis para serem
barrigas de aluguer e dirigentes
disponíveis para esse efeito.
Colocam os jogadores em
condições desumanas. Ganham a
trazer os jogadores e, se tiverem
sucesso, ganham muito mais. Mas
não têm escrúpulos em
abandoná-los. Temos denunciado
clubes, dirigentes, criámos um
grupo de trabalho com o SEF, a
federação e a Liga, mais
recentemente com a Polícia
Judiciária e o Ministério dos
Negócios Estrangeiros. Mas há
muita opacidade nestes
fenómenos. Acontecem na base da
pirâmide. Quando um clube, de
repente, inscreve 11 estrangeiros,
talvez haja alguma coisa. Onze
argentinos em Bragança? Dez
brasileiros nos distritais? O futebol
de base deve ser tendencialmente
amador, lúdico. Mas há quem faça
dinheiro com isto.
A regra é quererem voltar ou
ficar?
Não querem voltar porque não
querem ser confrontados com o
próprio insucesso. Isto é algo que o
desporto português não pode
aceitar. A federação está connosco,
mas temos de fazer mais.
Um dos sinais de que um clube
Há jogadores que pode ser uma barriga de
assinam papéis sem ler. aluguer para este tipo de
situação talvez seja a entrada de
Têm de escolher investidores estrangeiros para
bem com quem se clubes na base da pirâmide.
Claro, é um sinal claríssimo. Isso é
aconselham, saber o outra coisa que temos de fazer,
que estão a assinar identiÆcar a idoneidade de quem
vem para o futebol português.
Porque isso está a destruir as bases
Portugal é uma do futebol português. Depois, há
plataforma para um contágio que é difícil de evitar.
Muitos desses grupos usam
jogadores de países jogadores para ganharem
sul-americanos e credibilidade.
Estas situações de precariedade
africanos entrarem também potenciam situações de
na Europa. Há aqui um viciação de resultados. Têm
negócio à volta destes recebido muitas denúncias?
Apesar de os jogadores estarem
jovens que vêm para mais conscientes e alertados para a
Portugal, que tem clubes viciação de resultados, lei e
regulamentação desportiva
disponíveis para serem aplicáveis, temos relatos de
barrigas de aluguer abordagens, sobretudo pelas redes
sociais e através de Æguras do
futebol que mantêm ligações aos
clubes e são muitas vezes os
portadores das propostas de
manipulação. Existe muito receio
em denunciar.
No futebol feminino, tivemos a
notícia da paridade salarial
entre as selecções feminina e
masculina de futebol nos EUA. É
uma boa notícia, mas será
sempre difícil que esta
igualdade se verifique a todos
os níveis.
Tendencialmente, temos de
caminhar para aí. Do ponto de
vista do valor económico, os EUA e
a Austrália as duas realidades
estarão mais aproximadas. É um
sinal positivo excelente.
Numa das suas crónicas no
Record, defendeu uma
regulamentação mais apertada
dos agentes desportivos. Por
que razão é que isto é
importante?
Está a haver uma discussão grande
no sentido de alterar a legislação.
Estamos a assistir a muitos
negócios simulados, conÇitos de
interesses, alguma prática de actos
criminais e ao fenómeno da dupla
representação. Isto cria situações
de pouca transparência com
repercussões na actividade
desportiva. Tem de haver um
equilíbrio no que esta actividade
representa. Tem de ser regulada
para ser transparente e
equilibrada.
Qual é o papel do sindicato no
futebol português?
Acho que é uma das vozes mais
importantes, modéstia à parte.
Porque tem colocado na agenda
temas fundamentais. E porque é
dos poucos agentes desportivos
que aborda os temas com
frontalidade e clareza. E
independência.
Qual é a grande conquista
laboral que os futebolistas
ainda precisam?
O nosso próximo grande desígnio é
o fundo de pensões. Já o temos
constituído e que visa dar aos
jogadores em Ænal de carreira, ou
que sofreram uma lesão ou
doença, uma pensão. Funciona
com contribuições nossas e dos
jogadores. Falta acertar a parte
Æscal. Os jogadores precisam. Isto
funciona bem na Bélgica, nos
Países Baixos, em Itália e em
Inglaterra. E irá funcionar bem cá.
Este é o seu último mandato?
Sim, em princípio. É o Æm de um
ciclo. Estou a deixar a casa
arrumada para que os jogadores
Æquem tranquilos e o sindicato
continue a existir.
Tem saudades de ser advogado?
A minha paixão foi sempre o
futebol. Gostava sobretudo de
jogar. Tive esta felicidade de juntar
o Direito à bola. Foi único. Vou
continuar ligado ao futebol, como
é óbvio.
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62 • Público • Sábado, 26 de Fevereiro de 2022

Desporto
ETTORE FERRARI/EPA

Ausências forçam I Liga

mudanças no Jornada 24
Belenenses SAD-P. Ferreira 0-2
Sporting diante Famalicão-Tondela
Marítimo-Sporting
15h30, SPTV
18h, SPTV

do Marítimo Arouca-Moreirense
Vizela-Portimonense
Benfica-V. Guimarães
20h30, SPTV
dom, 15h30
dom, 18h, BTV
Estoril-Boavista dom, 18h, SPTV
FC Porto-Gil Vicente dom, 20h30, SPTV
Sp. Braga-Santa Clara seg, 20h15, SPTV
Mais do que um contratempo, uma
J V E D M-S P
oportunidade. É assim que Rúben
Amorim, treinador do Sporting, 1. FC Porto 23 20 3 0 58-16 63
encara as várias ausências da equipa 2. Sporting 23 18 3 2 46-15 57
para o encontro de hoje com o Marí- 3. Benfica 23 16 3 4 60-22 51
timo (18h, SportTV), relativo à 24.ª 4. Sp. Braga 23 13 5 5 40-23 44
jornada da Liga portuguesa de fute- 5. Gil Vicente 23 11 7 5 35-24 40
bol. A última baixa é Pedro Gonçal- 6. V. Guimarães 23 8 6 9 33-30 30
ves, que deverá falhar mais do que 7. Estoril 23 7 9 7 26-27 30
uma partida. 8. Marítimo 23 7 7 9 28-31 28
O técnico dos “leões” prevê que o 9. Portimonense 23 7 7 9 23-25 28
internacional português esteja fora 10. P. Ferreira 24 6 9 9 20-27 27
da equação durante “alguns jogos” 11. Santa Clara 23 6 7 10 27-42 25
— ressentiu-se de uma lesão após o 12. Vizela 23 5 8 10 25-39 23
embate com o Estoril —, mas quer 13. Famalicão 23 5 8 10 29-37 23
aproveitar o contexto para baralhar 14. Boavista 23 3 13 7 27-36 22
as contas do adversário. Até porque, 15. Tondela 23 6 2 15 29-45 21
para além de Gonçalves, Palhinha, 16. Arouca 23 5 6 12 22-42 21
Tabata e Sarabia também estão 17. Moreirense 23 4 7 12 22-38 19
indisponíveis, todos por castigo. Depois de afastar a Lazio na Liga Europa, o FC Porto vai ter pela frente o Lyon 18. Belenenses SAD24 3 6 15 14-45 15
“Isso é bom, para os outros treina- Próxima jornada Gil Vicente-Estoril,

FC Porto e Sp. Braga em cimeira

dores não terem as nossas referên-
cias e assim existe incerteza sobre
qual é o ‘onze’ que vamos apresen-
tar”, analisou Rúben Amorim, des-
tacando que os jogadores menos
utilizados “sabem que podem ganhar
o lugar a qualquer momento”.
De todo o modo, o técnico prefere
manter segredo sobre as escolhas
até à hora do jogo. “Não o vou dizer
aqui. Vou aproveitar este momento
de alguma incerteza do seu treina-
dor para tentar surpreender em
algum aspecto o Marítimo”, refor-
çou. De resto, o técnico admitiu que
a margem de erro é cada vez mais
curta, à medida que o calendário vai
avançando, pelo que não vai fazer
quaisquer poupanças no Funchal a
pensar no jogo frente ao FC Porto,
na quarta-feira, a contar para a pri-
meira mão dos quartos-de-Ænal da
Taça de Portugal.
“Cada jogo é uma Ænal. Já falámos
sobre o que é perder três pontos
neste momento, quer para o primei-
ro, quer para o terceiro [classiÆca-
dos]. Vamos entrar da mesma
maneira, com uma equipa muito
forte, para vencer, a pensar somen-
te neste jogo e depois teremos tem-
po para preparar o FC Porto”, acres-
centou.
No segundo lugar, a seis pontos do
líder, o Sporting enfrenta um Maríti-
mo que, apesar do desaire diante do
Famalicão (0-1), vive um momento de
estabilidade e ocupa o oitavo lugar da
classiÆcação. “Vamos ter pela frente
um adversário muito difícil, com
excelentes individualidades, muito
bem treinado. Tem que ser um Marí-
timo com capacidade de sofrer, de
saber jogar para a frente, de quando
tiver a bola saber ferir o adversário”,
destaca o treinador, Vasco Seabra.
Boavista-Sp. Braga, Portimonense-Benfica,
Sporting-Arouca, Moreirense-Marítimo,
Paços Ferreira-FC Porto, SantaClara-Vizela,
V. Guimarães-Famalicão, Tondela-Bel. SAD
luso-francesa na Liga Europa II Liga
Jornada 24
Desp. Chaves-Benfica B 1-1
Sp. Covilhã-Casa Pia 11h, SPTV
4x2x3x1 ou em 3x4x2x1, o Lyon tem 38 pontos do Lyon na Liga francesa, Mafra-Penafiel 14h, SPTV
Nuno Sousa
nos criativos Aouar e Lucas Paquetá mas no recente embate entre os dois, Nacional-Trofense dom, 11h, SPTV
Rio Ave-FC Porto B dom, 14h, SPTV
“Dragões” recebem o Lyon dois dos maiores activos e potenciais referente à 23.ª jornada, impôs-se por
Farense-Vilafranquense dom, 15h30
e minhotos enfrentam o focos de problemas para os “dra- 2-0, com golos de Jean Lucas e Ben Leixões-E. Amadora dom, 15h30
gões”. Esta dupla é a principal fonte Yedder na primeira meia hora. Varzim-Feirense seg, 18h
Mónaco, também em casa, de alimentação de Moussa Dembélé, O avançado francês é, de resto, Académica-Ac. Viseu seg, 19h30, C11
na primeira mão dos o ponta-de-lança de serviço, com oito uma das estrelas da companhia J V E D M-S P
oitavos-de-final da prova golos em 19 jogos nesta época. comandada pelo belga Philippe Clé- 1. Benfica B 24 14 5 5 45-25 47
Num elenco que conta ainda com ment a partir do banco. Ben Yedder 2. Casa Pia 23 14 4 5 31-12 46
“Deixem-me começar por expressar o avançado camaronês Toko-Ekambi, tem sido a primeira escolha para o 3. Desp. Chaves 24 12 8 4 37-23 44
a minha solidariedade com o povo da com Ndombélé no meio-campo, com eixo do ataque no 4x1x4x1 que o 4. Feirense 23 13 4 6 36-24 43
Ucrânia, que está a viver a atrocidade os experientes Jérôme Boateng e Mónaco tem maioritariamente apre- 5. Rio Ave 23 12 6 5 37-26 42
da guerra. O futebol quer apenas uma Jason Denayer na defesa, e com sentado, mas o alemão Kevin Volland 6. Nacional 23 10 6 7 37-28 36
coisa: paz. E paz agora”. Foi assim Anthony Lopes na baliza, há soluções e o jovem neerlandês Boadu são exce- 7. FC Porto B 23 8 8 7 32-32 32
que Giorgio Marchetti, secretário-ge- para as diferentes posições, mas a lentes alternativas para a posição. 8. Mafra 23 8 8 7 27-26 32
ral da UEFA, iniciou o sorteio dos verdade é que a equipa tem sido per- Uns metros atrás no terreno, os 9. Penafiel 23 8 7 8 22-27 31
oitavos-de-Ænal da Liga Europa, em meável na Liga francesa, com seis monegascos contam com a velocida- 10. Leixões 23 8 6 9 28-28 30
Nyon. Um sorteio que colocou o Lyon derrotas e nove empates. de e imprevisibilidade de Gelson Mar- 11. Est. Amadora 23 8 6 9 33-39 30
no caminho do FC Porto e o Mónaco Para o Sp. Braga, que virou a elimi- tins, à direita, e com o jovem francês 12. Vilafranquense 23 7 8 8 30-33 29
na rota do Sp. Braga. natória anterior, diante do Sheriè, no SoÆane Diop à esquerda — de resto, a 13. Trofense 23 6 7 10 21-27 25
Depois de ter afastado a Lazio no desempate por grandes penalidades, juventude é a imagem de marca do 14. Farense 23 5 9 9 28-33 24
play-oè, com um triunfo no Estádio a tarefa também será exigente. Curio- plantel, com uma média de 24 anos. 15. Ac. Viseu 23 6 6 11 19-32 24
do Dragão e um empate em Roma, o samente, o Mónaco soma os mesmos Claramente com mais talento e 16. Sp. Covilhã 23 3 10 10 19-37 19
FC Porto terá agora pela frente o qualidade do meio-campo para a 17. Varzim 23 2 9 12 15-30 15
actual oitavo classiÆcado da Ligue 1, frente do que no sector defensivo, no 18. Académica 23 3 5 15 24-39 14
que registou dois empates consecuti- Calendário qual o lateral Djibril Sidibé é a princi-
Próxima Jornada
vos nas duas últimas jornadas. pal Ægura, o Mónaco apresenta núme- Ac. Viseu-E. Amadora, Feirense-Leixões,
Na Europa, o Lyon (treinado pelo OITAVOS-DE-FINAL ros conservadores, especialmente no Nacional-Sp. Covilhã, Benfica B-Varzim,
neerlandês Peter Bosz) venceu com campeonato, com 38 golos marcados Penafiel-Desp. Chaves, Trofense-Farense,
Sevilha-West Ham
facilidade o Grupo A, com cinco vitó- e 27 sofridos, mas ainda assim detém FC Porto B-Académica, Casa Pia-Mafra,
FC Porto-Olympique Lyon Vilafranquense-Rio Ave
rias e um empate (diante do Rangers) Atalanta-Bayer Leverkusen a quinta melhor defesa da prova.
em seis jogos. Embora o calibre dos RB Leipzig-Spartak Moscovo Na primeira mão da eliminatória, MELHORES MARCADORES
restantes adversários, o Sparta Praga as equipas portuguesas jogarão em I Liga
Barcelona- Galatasaray
e o Brondby, não se equipare ao do casa: o FC Porto no dia 9 de Março, às 18 golos Darwin (Benfica)
Rangers-Estrela Vermelha 14 golos Luis Díaz (FC Porto)
FC Porto, a qualidade e o plantel da Betis-Eintracht Frankfurt 19h45, o Sp. Braga no dia seguinte, às II Liga
equipa francesa são de relevar. Sp. Braga-Mónaco 20h. Os encontros decisivos estão 12 golos Bryan Róchez (Nacional)
Habitualmente disposto em agendados para a semana seguinte. Henrique Araújo (Benfica B)
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Breves
Futebol
Vítor Pereira promete
deixar adeptos
do Corinthians felizes
Vítor Pereira prometeu ontem
deixar a claque dos brasileiros
do Corinthians “orgulhosa” da
sua equipa, garantindo ter o
mesmo ADN “um pouco
louco” do seu novo clube.
“Vamos dar tudo, vamos dar
um orgulho muito grande a
esses adeptos. Prometo que
vou vestir (o manto da claque
Fiel Torcida). Vai,
Corinthians!”, gritou, à
partida, no aeroporto do Porto,
em conversa com vários
adeptos. Quanto à filosofia
que pretende incutir no
Corinthians, falou da
necessidade da equipa ser
“forte na defesa e reagir bem
quando perder a bola”. “Ser
agressivos. Queremos, no
geral, ser dominantes, é o meu
ADN como treinador”,
concluiu.
Futebol
Eriksen volta à
competição oficial
oito meses depois
O internacional dinamarquês
Christian Eriksen deverá
regressar hoje às competições
oficiais, em jogo da Liga
inglesa de futebol, mais de
oito meses depois de sofrer
uma paragem cardíaca no
Euro 2020. Eriksen deverá
jogar alguns minutos no jogo
em que o Brentford, a sua nova
equipa, recebe o Newcastle, a
partir das 15h, da 27.ª jornada
da Liga inglesa, segundo
adiantou ontem o treinador, o
também dinamarquês Thomas
Frank. O médio, de 30 anos,
disputou o último jogo oficial
no Europeu do último ano,
diante da Finlândia.
Jogos com História é uma
rubrica quinzenal. Ver mais
em publico.pt/jogos-historia
O recorde que resta
ao Saint-Etiènne
Luís Francisco
Hoje, o PSG recebe o
Saint-Etiènne. Primeiro e
16.º da Ligue 1. Mas muito
mais do que isso. Soa a
passagem de testemunho
No dia 2 de Junho de 1981, o St. Etièn-
ne recebeu o Bordéus na 38.ª, e últi-
ma, jornada da Liga francesa. E
sagrou-se campeão. Pela 10.ª vez. A
última da sua história, cheia de altos
e baixos desde aí. Nessa noite, os
adeptos do clube fundado em 1919
festejaram o título, sem terem a
noção de que toda uma era chegara
ao Æm. Quase 32 anos depois, no
entanto, os “verdes” continuam a ser
a equipa com mais títulos na Ligue 1.
Nesta época, PSG e Marselha podem
igualar o registo de dez campeonatos
ganhos, mas é de Paris que vem a
maior ameaça.
Das principais ligas europeias, o
campeonato francês é o mais “demo-
crático”: ao todo, desde a primeira
edição da prova, 19 clubes Æzeram a
festa do título, menos do que na Ale-
manha (26) e Inglaterra (24), mais do
que em Itália (16) e Espanha (9). Mas
a distribuição desses títulos é que faz
a diferença, com o St. Etiènne a
somar 10, PSG e Marselha 9 cada um,
Mónaco e Nantes com 8, Lyon com
7, Bordéus e Reims com 6… Uma con-
tabilidade fortemente inÇuenciada
pelas “dinastias ganhadoras” que se
foram impondo no futebol do hexá-
gono: a actual, do PSG; o Lyon, na
primeira década do século XXI; o
Marselha, nos anos 1990; o St. Etièn-
ne nas décadas de 1960 e 70.
Quando se aproximou o Ænal da
temporada 1980/81, os “verdes” já
não ganhavam há quase cinco anos
e, apesar de entrarem na última jor-
nada com um ponto vantagem sobre
o Nantes, o cenário não era fácil. A
equipa comandada por Robert Her-
bin recebia o terceiro classiÆcado, o
Bordéus, enquanto o Nantes jogava
em casa com o penúltimo, o Nîmes.
Num cenário de igualdade pontual,
teria de ser a diferença de golos a
decidir, porque os jogos entre as
duas equipas tinham terminado
empatados (0-0 e 1-1). O St. Etiènne
partia com uma diferença de 41
Jogos com história
golos, o Nantes tinha 38. Bastavam
um empate frente ao Bordéus e uma
goleada do Nantes para haver virada
de última hora na luta pelo título.
Mas nada disso aconteceu. Peran-
te quase 23.000 espectadores no
velhinho estádio Geoèroy-Richard
(estranhamente, apenas a meia lota-
ção…), o Saint-Etiènne entrou decido
a resolver a contenda e antes do
intervalo chegou ao 2-0, com golos
(25’ e 41’) de Michel Platini, o seu
goleador dessa temporada. Na
segunda parte, Lacombe (81’) ainda
reduziu para os visitantes, mas o títu-
lo estava entregue. Até porque o
Nantes empatou em casa (1-1) e aca-
bou a dois pontos de distância.
Montanha-russa
Essa equipa do Saint-Etiènne tinha
nas suas Æleiras o avançado dos Paí-
ses Baixos Johnny Rep, mas quem
brilhava acima de todos era o núme-
ro 10, Michel Platini, o “maestro”
goleador. Aos 26 anos, já encantava
o mundo do futebol e demorou ape-
nas mais uma época a transferir-se
para a Juventus. Em 1984, quando a
França recebeu o Europeu, foi ele a
levar a equipa às costas até ao título,
marcando nove golos (em 5 jogos!),
Público • Sábado, 26 de Fevereiro de 2022 • 63
incluindo um nas meias-Ænais, con-
tra Portugal, acabando com o sonho
dos “Patrícios”.
Ao seu lado na selecção Platini
tinha um ex-colega de equipa no
Saint-Etiènne, o defesa Battiston, por
esta altura jogador do Bordéus. A for-
mação do Loire, que dominara o fute-
bol francês nas décadas anteriores,
não estava representada na selecção
gaulesa em 1984, acabara por ceder
alguns dos seus melhores elementos
a equipas rivais e descera mesmo de
Divisão nessa temporada 1983-84.
Como é que isto aconteceu?
O campeonato francês
é o mais “democrático”:
ao todo, desde a primeira
edição da prova, 19 clubes
fizeram a festa do título
(...), mas a distribuição
desses títulos é que faz a
diferença
A equipa do Saint-Etiènne
de 1976, uma das melhores
da história do clube
DR
Desporto
O título de 1981 marca o derradeiro
ponto alto da vida do clube fundado
em 1919 por empregados da cadeia
de mercearias Groupe Casino, então
sob o nome Amicale des Employés
de la Societé des Magasins Casino. A
cor dominante da empresa, o verde,
foi adoptada para os equipamentos.
Chegou ao escalão principal em 1938-
39, mas a II Guerra Mundial “conge-
lou” o futebol francês até à tempora-
da 1945/46, quando alcançou um
surpreendente segundo lugar, atrás
do Lille. Demorou, mas o primeiro
título chegou Ænalmente em 1956/57.
Glória efémera. Em mais um dos
muitos episódios de altos e baixos
que caracterizam a história do clube,
em 1961-62 o St. Etiènne desceu à II
Divisão, para voltar a subir e sagrar-
se campeão em 1964. Seguiu-se a
fase dourada, com quatro triunfos
consecutivos na Ligue 1 entre 1966 e
1970, seguidos de mais três de enÆa-
da na década de 1970 (1973-74, 74-75
e 75-76). Finalmente, em 1980-81, o
décimo troféu de campeão.
Mas em 1982 um escândalo Ænan-
ceiro levou à saída, e posterior pri-
são, do presidente Roger Rocher.
Descida de Divisão, nova subida em
1986, outra vez na Ligue 2 entre 1996
e 1999, regresso à elite e outro caso.
Desta vez, em 2000-2001, o Saint-
Etiènne perdeu sete pontos na secre-
taria devido à utilização de passapor-
tes falsos por dois dos seus jogado-
res. Esta penalização acarretou nova
descida de Divisão. Três anos depois,
outra subida, desta vez para durar,
na competição agora já chamada
Ligue 1. Uma equipa em que despon-
tavam jovens talentos como Matuidi,
Gomis, Perrin ou Payet manteve-se
entre os melhores, mas só em 2013
conseguiu conquistar um troféu, a
Taça da Liga.
A montanha-russa acalmou-se nos
últimos anos, mas sempre com o
espectro da descida por perto. Foi
assim na temporada passada, está a
ser esse o cenário em 2021-22, com o
16.º lugar, apenas um ponto acima
do último, o Bordéus, e uma visita
complicada ao Parque dos Príncipes
hoje. Onde vai tentar meter areia na
engrenagem da máquina do PSG,
lançada para o seu 10.º título fran-
cês. O recorde que ainda resiste na
posse do Saint-Etiènne.
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Sábado, 26 de Fevereiro de 2022

BARTOON LUÍS AFONSO

Limpem as lágrimas. A Ucrânia foi abandonada por todos

UMIT BEKTAS/REUTERS
A comoção dos europeus é
O respeitinho genuína, tal como a sua indignação.
não é bonito Aliás, só mesmo um partido como o
PCP, que nunca deixará de ser
geneticamente estalinista, é que
não percebe o quanto o mundo
mudou, e quão politicamente
inaceitável é a sua recusa em
separa o autocrata do ditador, e
assumir de forma ostensiva a sua
guerra contra as democracias
liberais. Não nos enganemos: a
grande ameaça ucraniana para
Putin nunca foi a NATO, mas a
possibilidade de Zelenskii construir
uma democracia funcional e

M
João Miguel Tavares
ilitarmente, a
Ucrânia está
perdida, porque
se sabe há décadas
que sem o
controlo do
espaço aéreo não há resistência
duradoura, a não ser que existam
montanhas imponentes (do tipo
afegão) ou selvas cerradas (do tipo
vietnamita) onde se possa armar
uma guerra de guerrilha. A Ucrânia
só tem montanhas na zona dos
Cárpatos, junto à fronteira
ocidental, e quase tudo o resto são
planícies férteis, óptimas para
cultivar cereais e para divisões
blindadas galgarem centenas de
quilómetros por dia, como se
comprovou em 1941. Há sempre a
opção de enveredar pela guerrilha
urbana, claro está, mas o único
resultado seria a destruição das
grandes cidades, de forma tão
heróica quanto inútil.
Os ucranianos estão sós. O
mundo ocidental informou em
devido tempo que podia enviar
armas, mas jamais colocaria botas
no chão, e, por isso, o destino da
Ucrânia estava totalmente
dependente dos humores de
Vladimir Putin e do seu
atrevimento. Essa é a razão
pela qual o Presidente Zelenskii
pediu com tanta insistência a
entrada do seu país na NATO. Não
era para provocar a Rússia — era
para se defender dela. Até que
chegou o dia em que Putin se
atreveu mesmo, para grande
estupefacção de uma Europa que
já não via nada assim há muito
tempo, e, portanto, pensava que
nunca mais voltaria a ver.
condenar a invasão da Ucrânia. Há
um mês escrevi que António Costa
é o político com mais sorte do
mundo. Continua a ser: sem uma
maioria absoluta, estaria agora
obrigado a explicar todos os dias ao
país como é que podia liderar um
governo suportado pelo PCP,
vergonhosamente disponível para
compreender o senhor Putin e as
suas motivações. Em nome, claro,
da “paz”.
Mas se a comoção e a indignação
europeias são genuínas, elas
também são inúteis, e, da
perspectiva ucraniana, bastante
A situação actual hipócritas. Chorar da varanda pelo
que se está a passar na rua pode
é a razão pela aliviar o coração e abrilhantar as
qual Zelenskii redes sociais, mas não resolve o
problema ucraniano, nem, em bom
pediu a entrada do rigor, o problema russo, porque
seu país na NATO. esta invasão será certamente
acompanhada de uma escalada da
Não era para autocracia em Moscovo, com
provocar a Rússia reÇexos nos já de si muito vagos
vestígios de democracia no país.
— era para se Putin parece mais disposto do que
defender dela nunca a dar o pequeno salto que
próspera, que viesse a pôr em
causa o regime de Moscovo.
Em 1994, a Rússia, os Estados
Unidos e o Reino Unido (e
parcialmente a China e a França)
subscreveram o Memorando de
Budapeste, que oferecia totais
garantias de segurança e respeito
pela independência e integridade
territorial da Ucrânia, em troca da
cedência do terceiro maior arsenal
nuclear do mundo. A Ucrânia
entregou as bombas, e, 28 anos
depois, tem os tanques russos em
Kiev. Poupemos, pois, nas lágrimas:
o Ocidente abandonou
conscientemente a Ucrânia. As
democracias ocidentais
acreditaram que a paz perpétua
tinha chegado à Europa, e foram
permitindo a Putin pisar linhas
vermelhas atrás de linhas
vermelhas. As intenções eram boas.
O resultado é o Æm da Ucrânia e o
início de uma segunda Guerra Fria.
Jornalista
jmtavares@outlook.com

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