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Um desses problemas está relacionado aos aspectos decorrentes das mudanças na natureza das

operações tecnológicas, consequência do processo de robotização e da informatização. Esse


processo leva ao aumento da discriminação e da exclusão, e o enfraquecimento da solidariedade.

De um lado estão os ricos nesse caso os países do primeiro mundo, e do outro lado os pobres que
diariamente colocam suas vidas em risco e buscam chegar às costas da Europa utilizando frágeis
e superlotadas embarcações. No entanto, tanto as questões ligadas ás violações contra os
recursos naturais, como aos Direitos Humanos, quanto a pressão económica da globalização dos
mercados financeiros apontam no sentido de uma uniformização dos ordenamentos jurídicos
nacionais.

A necessidade de uma maior eficiência do Poder Judiciário já foi tema de debates calorosos no
Banco Mundial através do documento 319 , publicado em meados de 1996, nos EUA e que
sinaliza pela aproximação dos ordenamentos jurídicos de países em desenvolvimento dos
chamados países desenvolvidos.

Sociologia jurídica e a luta pela mundialização do direito.

Os processos de expansão da economia, bem como dos usos e costumes, por conta da
globalização, provocam a demanda por uma uniformidade normativa nos diversos Estados
envolvidos nesse processo. Por outro lado, ainda que a assimilação de normas e decisões de
tribunais internacionais seja uma realidade incorporada pelo Brasil através do Decreto 4.388/02
-, é necessário respeitar as particularidades soberanas de cada Estado e região. Por isso se trata,
nesta fase do direito em termos mundiais, da busca de uma harmonização dos métodos na
aproximação dos sistemas, sem que signifique a eliminação por completo as diferenças. De toda
sorte, nota-se que o Direito precisa se adequar a uma tendência que cada vez mais se
consolidada, como pelos avanços no campo da biomedicina. Assim, o aspecto normativo carece
dar respostas as expectativas e conflitos derivados desse cenário global de relações mundiais.

Delmas-Marty (2003) promove a seguinte indagação: “[…] é desejável promover um direito


mundial? Se o direito interno é insuficiente, não parece que o direito internacional tradicional,
limitado às relações entre Estados, aporte repostas satisfatórias… Além das questões de
delimitação de território entre ‘internos’, como se designa os especialistas do direito interno, e
‘internacionalistas’ especializados em direito internacional é, na realidade, de uma quebra de
fronteira das disciplinas jurídicas que se tem necessidade aqui, agregando-se a necessidade
invocada mais acima, de uma quebra entre especialistas de direito comparado e especialistas de
direito nacional.”

Após a Segunda Guerra Mundial houve um movimento, motivado pela urgência humanitária,
para a concessão de capacidade normativa pelos Estados aos organismos internacionais. Isso fica
evidente no advento da Carta da Organização das Nações Unidas – ONU, em 1945, que motivou
uma capacidade normativa que tem por base política não o poder soberano de um Estado em si,
mas a reunião de vontades dos Estados-nacionais, de forma voluntária, na busca da promoção de
acções mínimas visando a paz e a segurança mundiais no início da chamada Guerra Fria. Esse
movimento de internacionalização da capacidade normativa difundiu-se com a publicação de
várias outras normas, como é o caso da Declaração Universal dos Direitos Humanos, de 1948, do
Pacto Internacional de Direitos Económicos, Sociais e Culturais, o Pacto Internacional de
Direitos Civis e Políticos, ambos de dezembro de 1966, e o Protocolo de Kyoto. Por outro lado, a
tendência vai no sentido de uma gradativa aproximação metodológica entre o sistema da
Common Law e o da Civil Law (romano-germânica), o sistema que tem por base o precedente
judiciário e o sistema cuja fonte mais importante do direito é a norma legal. Essa tendência refle-
te o cenário contemporâneo de uma sociedade globalizada.

Um exemplo muito relevante disto é a criação do instituto da Súmula Vinculante pelo


ordenamento jurídico brasileiro, por meio da Emenda Constitucional nº 45/04, que prevê, em seu
art. 103-A, capit, a possibilidade de uma súmula ter eficácia vinculante sobre decisões futuras e,
com isso, ter força de lei.

Já no que diz respeito às normas com validade internacional, constata-se a existência de um


elemento comum a tais direitos que os elegem a fazer parte de um disciplinamento mundial
uniforme. Um exemplo disso são as violações ao meio ambiente responsáveis pelo acelerado
aquecimento do planeta.

Fragmentação, hegemonia e participação política na sociedade global

A participação política na sociedade global foi um caminho, uma das principais vias alternativas,
para o alcance da inserção social e da diminuição das desigualdades económicas reveladas pela
globalização. O processo de globalização, por um lado acabou com os limites geográficos, mas
por outro, é de se constatar que não eliminou problemas globais, (fome, miséria e os problemas
políticos).

A lógica neoliberal afasta dos centros das decisões aqueles, cuja existência é tão marcada pelas
carências que lhes limita a própria capacidade de compreensão dos conceitos neoliberais. Não
são poucas as dificuldades de participação política dos indivíduos na sociedade globalizada e
seus reflexos na construção de um processo de autonomia dos indivíduos na tomada dessas
decisões numa sociedade global. O problema da participação política aparece com algumas
dificuldades no uso da liberdade.

O neoliberalismo é a expressão ideológica da globalização. Ao contrário do que proclamam os


princípios neoliberais, as diferenças sociais na globalização exacerbam-se quanto maior for o
nível alienante da exclusão social a que esteja submetido o indivíduo.

A governo do neoliberalismo é alcançado por meio de uma estratégia de máxima fragmentação


(divisão) da sociedade. Uma sociedade dividida, na qual diferentes grupos minoritários não
conseguem constituir-se numa maioria capaz de questionar o sistema vigente. Razão pela qual o
discurso difundido sobre o fim das ideologias e das utopias sociais é extremamente conveniente
para que as pessoas percam tanto as esperanças quanto o espírito de solidariedade e desenvolvam
o raciocínio pífio do “farinha pouca, meu pirão primeiro”. Ao mesmo tempo em que são
estimuladas práticas de enfrentamento entre os distintos grupos, também se fomenta a cultura do
naufrágio, do "salve-se quem puder", que desconsidera qualquer tipo de solução coletiva.

Nesta situação a tendência é a de impedir a criação de espaços de encontro que possibilitem a


criação de objectivos que possam ser compartilhados por outros grupos, com margem a
potenciais acordos e alianças. A sociedade fragmentada implica em uma maioria e às vezes um
povo inteiro que perdeu o rumo de sua própria causa nacional.

A identidade nacional se perde, se liquefaz. Trata-se, pois, de uma estratégia do poder


hegemónico que se reflecte por todo o planeta, que busca fragmentar a sociedade e
impossibilitar, de um modo absoluto, a construção de um conceito de maioria que possa
questionar o sistema tanto no âmbito interno quanto global.

Questões Sócio- Jurídicas no Mundo Globalizado 5

Este último capítulo aborda as questões sociais e jurídicas inerentes a um mundo globalizado.

As mudanças no mundo globalizado afectam o direito na medida em que a sociedade


contemporânea deixa a ordem interestatal moderna para trás e uma nova ordem mundial está
sendo construída.

Nas palavras de Giácomo Marramao, professor na Universidade de Roma Há um sistema de


negociação entre grupos sociais que demonstra que o direito não é o produto, como o chamava
Nietzsche, do monstro frio. O direito é um produto da dinâmica social, da dinâmica de trocas
socioculturais e não só um produto da vontade soberana. Não há mais monopólio das fontes de
direito, há uma pluralização das fontes de direito”. Esta nova ordem mundial leva a novos
desafios: a preservação do meio ambiente, a flexibilização das relações de trabalho, o direito à
diferença que diz respeito à sociodiversidade e às minorias, a defesa da democracia participativa
e a luta pela efectividade dos Direitos Humanos, contra a exclusão social.

OBJETIVOS

•  Compreender o processo de mundialização do Direito.

•  Distinguir os conceitos relativos à fragmentação, hegemonia e participação política na


sociedade global.

•  Conhecer os novos desafios globais relativos, aos trabalhadores e ao meio ambiente.

•  Dimensionar o grau de relevância das questões sobre a biodiversidade.

•  Reconhecer a gravidade da exclusão social no cenário das sociedades contemporâneas.


Sociedade global e direito.

Houve muito advento na sociedade global que teve como consequência a globalização, processo
que começou com o período das grandes navegações das então potências mundiais, Portugal e
Espanha, no século XV, que se intensificou e adquiriu novas feições nas últimas três décadas do
século XX.

Essas novas feições estão directamente ligadas aos avanços da ciência, a técnica e a informação,
os avanços biotecnológicos, a robótica, o domínio do espaço virtual e das telecomunicações via
satélite.

GUERRA FRIA

A guerra fria foi um conflito político-ideológico entre os Estados Unidos (capitalismo), e a


União Soviética ( socialismo). Não existe uma data exacta do início da Guerra Fria. Para alguns,
o marco foi a explosão sobre as cidades japonesas de Hiroshima e Nagasaki, em agosto de 1945.
Outros acreditam que seu início foi a fevereiro de 1947, quando o presidente norte-americano
Harry Truman lançou no Congresso dos Estados Unidos a Doutrina Truman, E há também
estudiosos que indicam a divisão da Alemanha em dois Estados, em outubro de 1949, que
estimulou a criação de alianças militares dos dois lados, tornando oficial a divisão da Europa em
dois blocos antagónicos, o que poderia ser o marco inicial da Guerra Fria.

Octavio Ianni aponta, dois eventos cronológicos e políticos que serviram como ponto de partida
para as transformações que estão em curso na sociedade mundial: o início da chamada Guerra
Fria e a queda do Muro de Berlim , o advento da sociedade de massas e a criação da mídia.

Esse processo proporcionou uma verdadeira “mundialização” do espaço geográfico do planeta e


o controle do tempo, e promove também a universalização de ideias, dos valores, padrões e
procedimentos, e nos aspectos da economia, como no quadro social, político, científico,
informacional, cultural e ecológico dos Estados atingidos.

Como consequência, tem-se um mundo mais conectado, e da impressão de que o planeta está
menor. O progresso do campo das telecomunicações permitem que imagens em tempo real
possam ser vistas em todas as partes do planeta. Mas todo esse processo não se dá sem
contradições: Uma parte da população do planeta, em especial nos países pertencentes ao
Primeiro Mundo, incorpora ao seu quotidiano humano a informática. Enquanto isso, outra
parcela considerável de pessoas vive na mais extrema miséria e no atraso tecnológico.
Actualmente 1 em cada 8 pessoas no mundo não come o suficiente para se manter saudável,
segundo a FAO. Isso significa que 842 milhões de pessoas ainda não comem satisfatoriamente.
num mundo considerado global e pelo menos 12% da população mundial passa fome a níveis
críticos. A comunicação via satélite diminuiu os limites entre as nações.
Contornos globais dos novos desafios: meio ambiente, relações de trabalho,
sociodiversidade e minorias.

Bernard Cassen, membro do Conselho internacional do Fórum Social Mundial, afirma que existe
uma crise em curso em relação ao sistema capitalista na sua versão neoliberal e que tal crise
apresenta “várias dimensões a financeira, monetária, alimentar e energética, onde figuras
progressistas chegaram ao poder. O recurso às nacionalizações feito por governos tão liberais
quanto os de Londres e Washington, o definhamento das instituições financeiras internacionais, a
emergência de uma nova correlação de forças mundial multipolar , as guerras no Cáucaso, os
fracassos no Iraque e no Afeganistão. Esta crise envolve, em especial, as questões pertinentes à
própria sobrevivência do planeta e de seus recursos naturais, na medida em que a busca sem
limites do lucro a qualquer custo levou à utilização dos recursos advindos da natureza sem
qualquer controle, aliada a uma cultura que coloca o meio ambiente sempre em segundo plano,
ainda que aparentemente haja uma preocupação com a ecologia global.

Tem-se, por um lado, as grandes empresas ao redor do planeta poluindo o ambiente, derrubando
florestas e levando à extinção diversas espécies.

Sociodiversidade e minorias

O neologismo sociodiversidade foi criado pela Antropologia e em sua origem estava relacionado
às comunidades indígenas encontradas no Brasil, com hábitos e cultura próprios e que merecem
ser respeitados e preservados. A existência de culturas e grupos humanos diversos coexistindo
num mundo globalizado ocasiona uma série de questões que envolvem desde os modos de
construção de uma sociedade democrática, plural e justa, até e ao mesmo tempo, a conciliação do
direito à diferença com o à direito igualdade. Em nome de uma pretensa igualdade,
comummente, as diferenças têm sido desconsideradas ou relativizadas

Objectivamente, o processo de globalização também traz em seu bojo uma tendência de


padronização cultural, na medida em que a sociedade consumis- ta utiliza os meios de
comunicação em massa para induzir o estabelecimento de valores culturais artificialmente
estabelecidos.. Os grupos sociais (negros, mulheres, homossexuais, transgêneros, quilombolas,
pessoas especiais, idosos etc.) lutam pelo respeito à sua dignidade e cidadania; as nações (povos
indígenas, palestinos, bascos etc.) almejam sua independência territorial, cultural, religiosa e
política. O ponto em comum dessas minorias é situação de exclusão e/ou discriminação. E que
procuram conquistar a dignidade e respeito por meio de acções política.

Relações de trabalho e globalização


no mercado de trabalho A globalização da economia e das relações de produção vem
promovendo transformações no sistema capitalista contemporâneo promovendo, segundo
Hobsbawn três extraordinários fenómenos:

1.O processo de urbanização ocorrido entre as décadas de 50 e 70.

2. A intelectualização como um fenómeno de massa, com a multiplicação do acesso à educação


superior, ou mesmo secundária;

3. O reposicionamento social da mulher, também entre as décadas de 50 e 70, sobretudo com sua
inserção.

Educação ambiental face às novas políticas de preservação e desenvolvimento

O alto poder de risco ambiental é uma característica das sociedades atuais, nas quais a
exploração desenfreada dos recursos naturais está promovendo a rapinagem da natureza e de
tudo que ela pode fornecer. A busca do lucro a qualquer custo leva o homem a promover um sem
número de eventos que põem não somente a própria sobrevivência da espécie humana em risco,
mas também a vida do planeta. e, por outro lado, comunidades que pouco se interessam com um
convívio mútuo em respeito com a natureza, na medida em que se voltam exclusivamente para a
riqueza material e para o conforto irresponsável. Todas essas situações contribuem para a crise
ambiental.

Diante disso, urge que se invista numa educação ambiental de maneira consequente, através de
políticas públicas até porque o dever de tutelar o direito à educação é do Estado que implantem
na sociedade a compreensão de que consciência ambiental é pressuposto fundamental da
cidadania, ou seja uma nova consciência para os cidadãos. A educação ambiental deve estar
presente no dia a dia, seja nas escolas, na mídia, pelos meios de comunicação de massa, nas
empresas, dentro de casa, para se expandir o máximo possível.

A exclusão social e os desafios para o direito

Exclusão social passou a ser usado para denominar o fenómeno integrante de uma “nova questão
social” (Rosanvallon, 1995; Castel, 1991, 1998), problemática específica do final de século XX,
cujo núcleo duro foi identificado na cri- se do assalariamento como mecanismo de inserção
social. Essa crise, por sua vez, era oriunda de mudanças no processo produtivo e na dinâmica de
acumulação capitalista gerando a diminuição de empregos, inviabilizando essa via de
constituição de solidariedades e de inserção social, constituindo os ’inválidos pela conjuntura’ e
provocando fracturas na coesão social.
A exclusão foi então percebida como uma marca profunda de disfunção social que assume uma
multiplicidade de formas.

O conceito expressa a existência de um fenómeno diferente de uma ’nova pobreza’, e ao mesmo


tempo, tem a capacidade de vocalizar a indignação com esse mundo partido em dois.” No Brasil
este processo assume feições ainda mais dramáticas porque são o produto de múltiplas causas
entre as quais pode-se citar algumas: os processos históricos de uma problemática inserção social
da imensa população negra, desde a abolição da escravatura; os movimentos de movimentação
populacional provocados pelo fenómeno denominado “êxodo rural”; e, o advento desastroso do
governo Collor que, nos anos 90 inseriu no Brasil as mudanças promovidas no processo
produtivo capitalista como consequência da implementação de políticas neoliberais de
aprofundamento das desigualdades sociais, que tem como consequência a exclusão, porque se
somam a uma falta de políticas públicas consequente.

Não obstante, deve-se demarcar que o combate a essas desigualdades é um preceito


constitucional previsto no artigo 3º, da Constituição Brasileira, que vai além ao prever:

І. Construir uma sociedade livre, justa e solidária;

ІІ. Garantir o desenvolvimento nacional;

ІІІ. Erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais;

ІV. Promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer
outras formas de discriminação.

Esta disposição legal constitucional deve ser vista como uma forma de promoção dos Direitos
Humanos. A exclusão gera os “marginalizados” que costumam ser rotulados como “desviantes”,
e não como vítimas, de um sistema que lhes sonegou todas as oportunidades. A conscientização
dessa violação é fundamental para uma cobrança dos sectores governamentais. com a
consagração do princípio da dignidade da pessoa humana, mas também, na medida em que o
fenómeno jurídico importa em um fato social.

Como diria o poeta: “ A lição sabemos de cor, só nos resta aprender...” (Beto Guedes).

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