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A MÁFIA MONTESSORIANA1
(Peter Sims2)

Alunos de Montessori

É de rir – só em Nova Iorque acontece algo assim – a história


de uma mãe do bairro de Manhattan chamada Nicole Imprescia que
está processando a pré-escola particular onde a filha de quarto
anos estuda. É que essa nada tradicional escola não preparou a
menina para as provas de admissão em uma escola particular.
No entanto, o futuro da filha de Nicole e o nosso também seria
bem mais brilhante se fôssemos menos condicionados a tirar boas
notas nas provas e mais propícios a descobrir o método de ensino
nas escolas montessorianas. Ironicamente, a proposta educacional
do método Montessori pode ser o caminho mais seguro para
unificar a elite criativa, muito bem representada pelos alunos de
escolas que parece pertencerem à máfia montessoriana: os
fundadores da Google, Larry Page e Sergei Brin, Jeff Bezos da
Amazon, o pioneiro do videogame, Will Wright, o fundador da
Wikipédia, Jimmy Wales, sem mencionar Julia Child e o rapper,
Sean “P.Diddy” Combs.

1
Tradução da Profª Mônica de Souza Lopes.
2
Peter Sims é autor de Pequenas apostas: como ideias inovadoras emergem de pequenas descobertas. (do
original Little bets: how breakthrough ideas emerge from small discoveries.)
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O que está acontecendo por aqui? Existe algo na proposta


montessoriana que alimenta a criatividade e a inventividade com a
qual podemos aprender? Afinal, Henry Ford e Thomas Edison eram
famosos por serem eternos pensadores. Eles descobriram maneiras
de constantemente criar coisas novas: experimentaram,
desenvolveram, falharam, refizeram tudo. Sobretudo, esses dois
homens foram aprendizes vorazes.
O método Montessori de aprendizagem, fundado por Maria
Montessori, prioriza o ambiente colaborativo, sem grades nem
provas; as salas com alunos de diferentes idades, além de dar
importância ao aprendizado dirigido pelo próprio aluno e à
descoberta. Tudo isso desenvolvido em longos períodos,
principalmente por crianças de 2 anos e meio até 7 anos.
A máfia montessoriana acontece em seis anos de estudo e
expõe a maneira criativa de pensar de executivos de negócios. Os
professores doutores, Jeffrey Dyer da Universidade de Brigham e
Hal Gregersen da escola de negócios INSEAD pesquisaram mais
de 3000 executivos e entrevistaram 500 pessoas que abriram
companhias inovadoras ou criaram novos produtos.
“Grande número de empreendedores também estudaram em
escolas montessorianas, onde aprenderam a ser curiosos”, disse o
Professor Gregersen. “Parafraseando a famosa propaganda da
Apple, os inovadores, não somente aprenderam cedo a pensar de
maneira diferente, como eles agem de forma diferente (até falam
diferente).”
Quando Barbara Walters, que entrevistou os criadores da
Google, Page e Brin, em 2004, perguntou-lhes se o sucesso deles
vinha principalmente em razão de eles terem por pais professores
universitários ou se vinha da educação montessoriana que eles
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receberam quando crianças. “Ambos estudamos em escola


montessoriana”, disse Page, “e creio que foi ali que tivemos os
primeiros exercícios para não obedecermos cegamente a leis e a
ordens; pelo contrário, ali aprendemos a nos automotivar, a
questionarmos sobre o que acontece no mundo, a fazer tudo um
tanto diferente dos outros.”
Will Wright, criador do videogame mais vendido, The Sims, faz
um elogio ainda maior e semelhante ao anterior: “O método
Montessori me ensinou a alegria da descoberta.” Ele reforça: “A
questão é aprender no próprio ritmo, ao invés de ter um professor
explicando tudo. A SimCity saiu diretamente do Montessori...”
Enquanto isso, de acordo com a mãe de Jeff Bezos, o jovem
Jeff estava sempre tão voltado para as suas atividades em uma pré-
escola montessoriana, que os seus professores tinham que,
literalmente, tirá-lo da cadeira para que ele fosse fazer outra
atividade. “Eu sempre percebi um importante pioneirismo
continuado, advindo de um inventor como Thomas Edison”, disse
Bezos, e essa descoberta é precisamente o ambiente buscado pelo
método montessoriano para a criatividade.
O autor e neurocientista, Jonah Lehrer, cita um estudo
publicado na revista Science, em 2006. Lehrer comparou os
sucessos educacionais obtidos pelas crianças pobres de Milwaukee
que estudavam em escolas montessorianas às crianças que
estudavam em diferentes pré-escolas.
No final do Jardim, entre crianças de cinco anos, “os alunos
do método montessoriano provaram ser significativamente muito
mais preparados para a escola primária em leitura e em matemática
do que as outras crianças que não estudaram em escolas
montessorianas” - ressaltaram os pesquisadores. “Eles também
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testaram melhor a “função executiva”, a habilidade de adaptação a


mudanças aos problemas mais complexos, indicador da escola
futura e de uma vida de sucesso.”
Claro que o método montessoriano vai de encontro aos
métodos educacionais tradicionais. Foram-nos propostas poucas
oportunidades, por exemplo, para agirmos por nós mesmos, fazer
experiências novas. E não há muita ou nenhuma margem para errar
nem fracassar. Somos julgados principalmente pelas respostas
certas que damos. Há muito pouca ênfase no desenvolvimento e no
pensamento criativo das habilidades nem as habilidades para as
habilidades do desenvolvimento do pensamento imaginativo e das
autodescobertas.
Porém, as grandes conquistas criativas não vêm de ideias
brilhantes, mas de descobertas. A Google, por exemplo, não
começou tudo de uma visão brilhante, mas das pesquisas
bibliográficas para desenvolver um projeto seguido de uma série de
descobertas que liberta o modelo revolucionário dos negócios. Larry
Page e Sergei Brin não começaram com ideias geniais.
Certamente, por outro lado, eles descobriram uma ideia.
Da mesma maneira, a cultura da Amazon respira experiência
e descoberta. Bezos geralmente compara a estratégia de
desenvolver ideias sobre novos mercados à “plantação de
sementes” ou ao “mergulho no escuro” da Amazon. Os executivos
da Amazon aprendem e desvendam as oportunidades passo a
passo. Muitos esforços eram becos sem saída, disse Bezos, “Mas
de vez em quando se chega à encruzilhada para, de repente, se dar
em uma larga, uma enorme avenida.”
Talvez seja somente uma coincidência que os alunos de
escolas montessorianas encabecem duas das mais inovadoras
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companhias do mundo. Ou talvez a máfia montessoriana dê a todos


nós aulas muito embora seja tarde demais para sermos alunos de
escolas montessorianas. Podemos modificar a maneira como
aprendemos a pensar. Isso começa aos poucos, com uma contínua
experiência e questionamento. Os que trabalham com Bezos, por
exemplo, descobrem as suas habilidades ao perguntarem “por que
não?” ou “e se?” tanto quanto se perguntam “por quê?”. Essas são,
com efeito, as mais vantajosas qualidades deles. Enfim, as
perguntas são as novas respostas.

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