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20/04/2022 14:32 Envio | Revista dos Tribunais

O princípio da aderência da jurisdição ao território na era digital

O PRINCÍPIO DA ADERÊNCIA DA JURISDIÇÃO AO TERRITÓRIO NA ERA


DIGITAL
The principle of jurisdiction’s adherence to the territory in the digital age
Revista de Processo | vol. 323/2022 | p. 473 - 483 | Jan / 2022
DTR\2021\49258

Ana Carolina Squadri


Doutoranda em Direito pela PUCRS. Mestre em Direito Processual Civil pela UERJ. Procuradora Federal.
anasquadri@hotmail.com
 
Área do Direito: Civil; Processual; Digital
Resumo: O objetivo deste artigo é estudar o território como pressuposto da soberania estatal e, por
conseguinte, da prestação da tutela jurisdicional. Com o avanço da virtualização do processo judicial, é
preciso refletir sobre a aplicação de determinados princípios processuais, inerentes à extensão
territorial, como o princípio da aderência da jurisdição ao território, visando, com isso, maximizar a
efetividade da tutela do direito. Tendo como fonte a doutrina e a legislação brasileira, o texto tem como
escopo alinhar o processo civil à quarta fase metodológica do direito processual civil.
 
Palavras-chave:  Processo justo – Processo eletrônico – Estado – Ciberespaço – Competência
territorial
Abstract: This aim of this article is to study the territory as an assumption of state sovereignty, and,
therefore, the provision of jurisdictional protection. With the advancement of the virtualization of the
judicial process, it is necessary to think about the application of certain procedural principles, inherent
to territorial extension, such as the principle of jurisdiction’s adherence to the territory, aiming, with
this, to maximize the effectiveness of the protection of the law. Based on Brazilian doctrine and
legislation, the text has as a scope to align the civil process to the fourth methodological phase of civil
procedural law.
 
Keywords:  Fair process – Electronic process – State – Cyberspace – Territorial competence
Para citar este artigo: Squadri, Ana Carolina. O princípio da aderência da jurisdição ao território na
era digital. Revista de Processo. vol. 323. ano 47. p. 473-483. São Paulo: Ed. RT, janeiro
2022.Disponível em: inserir link consultado. Acesso em: DD.MM.AAAA.
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Sumário:
 
1. Introdução - 2. A ideia de ciberespaço a partir do processo eletrônico - 3. O princípio da aderência da
jurisdição ao território - 4. Conclusão - 5. Referências
 
1. Introdução
O direito fundamental ao processo justo, também conhecido como devido processo legal e previsto na
Constituição Federal no art.  5º, LIV, tem o propósito de estabelecer um “modelo mínimo de atuação
processual do Estado e mesmo de particulares em determinadas situações substanciais”1, ou seja,
pressupostos básicos para a obtenção de decisões justas. Processo justo seria mais apropriado, em vez
de devido processo legal, pois deixa evidente o objetivo do Estado Constitucional, que é a efetiva
prestação da tutela jurisdicional, mediante a realização do direito. Portanto, deve-se fazer a leitura dos
princípios processuais previstos na Constituição com o objetivo de garantir a tutela do direito ao
jurisdicionado.
Além dos princípios expressos, a Constituição contém princípios implícitos, os quais integram um
catálogo aberto de direitos fundamentais (art. 5º, § 2º).2 Assim, o processo justo abarca esse conjunto
de princípios fundamentais, com o propósito de orientar um processo capaz de gerar resultados
eficazes e que, de fato, pacifiquem o conflito.
Segundo a doutrina, o processo justo é um “modelo em expansão”, que visa a conformação das leis
infraconstitucionais; “variável”, sendo seus efeitos flexíveis para atender o caso concreto e
“perfectibilizável”, com o potencial de ser densificado pelo legislador ordinário, para melhor
concretização dos ideais constitucionais.3 Embora não haja uma definição abstrata para o processo
justo, foram identificados elementos mínimos estruturantes do processo, como a colaboração do juiz; a
prestação adequada e efetiva da tutela; a paridade de armas, com o respeito ao contraditório, ampla

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defesa e à produção de prova; e o julgamento do caso pelo juiz natural, mediante pronunciamento
fundamentado.4
A partir dessa leitura do processo justo, é possível compreender que as regras processuais
estabelecidas em lei devem estar relacionadas a algum princípio constitucional, visto que devem,
necessariamente, atender à efetiva tutela do direito, e não serem meras formalidades sem propósitos
ao processo justo. Nesse sentido, Carlos Alberto Álvaro de Oliveira afirma que o processo não pode ser
compreendido apenas no sentido técnico, mas sim como meio de realização de valores constitucionais.5
Temos que compreender o Código de Processo Civil (CPC (LGL\2015\1656)) a partir da Constituição,
interpretando-se suas regras conforme os princípios ali estabelecidos. Conforme os termos do autor, “o
aplicador da norma deve inclinar-se pela interpretação que conduza à constitucionalidade da norma,
embora por outra via pudesse considerá-la inconstitucional”.6
Desse modo, o direito processual possui a relevante função de normatizar os direitos fundamentais,
mediante a edição de regras de organização procedimental, concretizando minimamente o processo
justo delineado pela Constituição.7
Compreendida essa abordagem inicial, cabe apresentar o presente trabalho, o qual tem como objetivo
o estudo do processo eletrônico como um novo ambiente de prestação jurisdicional, e, por conseguinte,
sua conformação ao processo justo no que tange à fixação de competência territorial como medida da
jurisdição.
Em vista do que foi explanado sobre a relação entre os princípios constitucionais do processo e as
regras procedimentais, indaga-se qual a base constitucional que se deve ser extraída da regra da
competência territorial. Em outros termos, busca-se entender como a delimitação territorial contribui
para a realização do processo justo.
2. A ideia de ciberespaço a partir do processo eletrônico
O marco regulatório do processo eletrônico ocorreu com a publicação da Lei 11.419/2006
(LGL\2006\2382), que disciplinou a informatização dos processos civil, penal e trabalhista. Embora o
momento seja de expansão da tecnologia da comunicação e do uso da inteligência artificial pela
sociedade do século XXI, a lei não prevê o dever de implementação do processo eletrônico nos
tribunais. Em contrapartida, o Conselho Nacional de Justiça, imbuído de sua atribuição prevista no
art.  103-B, §  4º, VI e VII, da Constituição Federal, compreende que a informatização do processo
judicial é uma política pública fundamental, em cumprimento ao acesso à justiça e à razoável duração
do processo8. Portanto, o passo seguinte seria a elaboração de um sistema único de processo
eletrônico, garantindo vantagens aos usuários, como uniformidade e interligação entre as plataformas
dos tribunais.9
Na lição de Paulo Roberto Pegoraro Junior,
“a demora do legislador em adotar um modelo único de processo eletrônico ou, ainda, em estabelecer
um marco regulatório que permitisse a operação de tais mecanismos fez com que os diversos tribunais
adotassem seus próprios sistemas, de modo que conviveram – e seguem convivendo – vários sistemas,
a permitir não apenas uma compartimentação de segurança informática, mas também
experimentações quanto àquele que deverá ser adotado de forma unificada, muito embora há tempos
venha o Conselho Nacional de Justiça afirmando a necessidade de disponibilização de uma versão única
e segura do sistema”.10
O CPC de 2015 dispôs de algumas regras tão somente para permitir a prática eletrônica de atos
processuais (art.  193), prevendo também princípios que devem ser observados como garantia ao
acesso à justiça. Logo, tendo sido o processo eletrônico e o uso da inteligência artificial na prestação
jurisdicional quase nada disciplinados pelo legislador, existe dificuldade de aferição se os elementos
mínimos do processo justo estão sendo observados na prática, haja vista a baixa densificação
normativa.
É importante ressaltar que a prestação jurisdicional vem sendo prestada em um ambiente virtual,
situação completamente nova para o constituinte de 1988. A virtualização corresponde à separação do
espaço físico, uma desterritorialização.11 Estar no espaço virtual não significa estar fora da realidade ou
em um mundo imaginário. Trata-se de um ambiente em que se produzem efeitos12, em que ocorrem
negociações, comércio, prestação jurisdicional em tempo hábil, e no qual há bastante flexibilidade
organizacional para se adaptar ao bem-estar da sociedade. Enfim, diversas relações jurídicas são
concebidas em ambiente virtual, e elas precisam estar em conformidade com os princípios
constitucionais do processo.
Na visão de Pierre Lévy, “as redes de comunicação e as memórias digitais englobarão em breve a
maioria das representações e mensagens em circulação no planeta”.13 De acordo com o autor, na
perspectiva antropológica, o espaço é um local de apropriação pela humanidade, que, ao longo da
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história, pode ser classificado em quatro esferas: a Terra, o território, o espaço das mercadorias e o
espaço do saber.14 Em breve resumo, o território seria constituído pela “domesticação e a criação de
animais, a agricultura, a cidade, o Estado, a escrita, uma estrita divisão social do trabalho [...]”. Seria o
desenvolvimento do “mundo sedentário da ‘civilização’”.15 O espaço das mercadorias é “uma espécie de
novo mundo tecido pela circulação contínua, cada vez mais intensa, cada vez mais rápida, do dinheiro.
Letras de câmbio, cheques, pagamentos a prazo, títulos, divisas, taxas de lucro, finanças, especulação,
cálculo”.16
É possível compreender, a partir da obra de Pierre Lévy, que a humanidade se apropria de novos
espaços à medida que seu desenvolvimento ocorre, cabendo ao próprio ser humano construir e
organizar o local ainda pouco explorado. Além disso, os espaços acumulados no transcorrer da história
são interdependentes, irreversíveis e convivem de forma autônoma entre si.17 Na mesma linha de
Pierre Lévy, os geógrafos Amli Paula Martins de Miranda e Luiz da Rosa Garcia Netto afirmam que o
espaço pode ser físico, social, psicológico e ciber18, tudo a depender das diferentes práticas humanas.
Uma importante questão abordada pelas ciências sociais é a noção de território ou espaço estar
relacionada ao Estado, ou seja, Estado e território não existem um sem o outro.19 O território, sem o
Estado, corresponderia à ausência de organização e ordem. Em referência à relação Estado-território, é
preciso avançar no estudo da apropriação do ciberespaço, a fim de verificar o poder estatal que deve
existir nele, garantir a ordem jurídica, como também estabelecer o funcionamento da jurisdição nesse
novo território, o virtual.20
A relação entre Estado e território é objeto de estudo da ciência política e de grande relevância para o
Direito. Segundo a doutrina majoritária, o território é elemento constitutivo e essencial do Estado, “e
sem ele o Estado inexistiria”.21 Em decorrência desse pressuposto mencionado, existem alguns debates
em torno do modo de extinção do Estado, como a ocupação bélica de um território, por exemplo.22
Nem todos os espaços são dominados pelo Estado, como ocorre com o espaço cósmico. A partir de
manifestações de juristas, da Assembleia-Geral da ONU e de acordos celebrados entre os Estados
Unidos e a antiga União Soviética, concluiu-se pela “inapropriabilidade do espaço cósmico”23,
resultando em alguns tratados com o objetivo de impedir a exploração bélica ao redor da atmosfera
terrestre ou de apropriação de corpo celeste.24
Ao contrário do que ocorre no espaço extra-atmosférico, o Estado brasileiro vem exercendo função
jurisdicional no ambiente virtual, mediante a implementação e organização do processo eletrônico.
Apesar de não regulamentada, a internet é, sem dúvida, um espaço em que diversas transações
comerciais acontecem, acordos e decisões judiciais são proferidas, bem como se operam atos
processuais que afetam a propriedade e a vida das pessoas. Percebe-se, então, que é um espaço que
vem sendo apropriado não somente pelo indivíduo, como também pelo Estado.
Cabe ressaltar que a apropriação do ciberespaço pelo Poder Público é uma questão polêmica, existindo
uma corrente que defende a transferência da soberania dos Estados a um organismo internacional para
a regulação da internet,25 e outra linha contrária à interferência estatal para que a internet seja um
espaço livre26, sem deixar de considerar propostas intermediárias.
Considerando a apropriação do ciberespaço pelo Estado, exercendo seus poderes soberanos no
ambiente virtual, é preciso estudar o fundamento constitucional de atuação do Estado-juiz nesse novo
território. Como a garantia ao processo justo envolve uma diversidade de princípios constitucionais,
pretende-se analisar, no presente trabalho, o princípio da aderência da jurisdição ao território nos
tempos atuais, estudando como esse princípio pode contribuir para o Estado Constitucional,
potencializando a efetividade da tutela do direito.
3. O princípio da aderência da jurisdição ao território
Embora ainda não haja consenso em relação à forma de organização do ciberespaço, se seria público
ou privado, não é possível afirmar que as noções de territorialidade e Estado foram relegadas por
completo. Em vez disso, ainda prevalece o elemento território para a noção de Estado, não existindo
espaço apropriado pela humanidade que não pertença a uma nação organizada, salvo raríssimas
exceções. Entretanto, não se pode ignorar que novos tipos de relação na era globalizada digital estão se
formando, e que clássicas teorias não respondem mais à realidade atual.
A doutrina constitucional, por exemplo, vem sofrendo abalos em suas teorias clássicas, germinado
vertentes mais privatistas da Teoria da Constituição. Nessa linha de pensamento, considerando que a
Constituição pertence não apenas aos advogados ou aos cientistas políticos, mas também à sociedade
plural, não caberia defender uma unidade constitucional, mas fragmentos constitucionais.27 Em
decorrência do reconhecimento da pluralidade de bases organizacionais, cada sistema de comunicação
poderia se autorregular, independentemente de limites fronteiriços. As fronteiras estatais seriam

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substituídas por “fronteiras funcionais”28, como ponto de referência para a aplicação de normas
efetivas. Assim, Gunther Teubner indaga: “por que o constitucionalismo clássico não enxerga as
constituições para além do Estado?”29
Em vista disso, é preciso que o princípio da aderência da jurisdição ao território seja compreendido
dentro desse contexto turbulento de ciberespaço, o qual incorpora questões de soberania, fronteiras e a
própria jurisdição estatal. O princípio da aderência da jurisdição ao território é um princípio informativo
da jurisdição, que foi concebido dentro da ideia de Estado de Direito, inerente a uma base geográfica
em que poderá exercer o poder jurisdicional.30 Haveria, então, uma interligação entre os elementos
território, soberania e jurisdição, sendo que um depende do outro para sua própria validade e
eficiência.
Sob o ponto de vista processual, é importante destacar que a leitura que se faz dos princípios e regras
processuais deve ocorrer de acordo com o contexto cultural e ideológico do momento. Até meados do
século XIX, a ação pertencia ao direito civil, não existindo um estudo autônomo para o direito
processual civil. A ação consistia num estado de reação à violação do direito material,31 conhecido
como sincretismo jurídico pela caracterização da união do plano substancial com o processual.32
O segundo momento metodológico corresponde à consciência da autonomia do direito processual
perante o direito material, sendo marcado pela investigação e pelo aprimoramento de institutos
processuais.33 O terceiro período do direito processual é conhecido pela sua instrumentalidade, em que
há uma conformação quanto aos conceitos estabelecidos pela fase anterior, para passar a desenvolver
um enfoque teleológico na pesquisa.34
Conforme lição de Hermes Zaneti Junior e Claudio Madureira, o formalismo-valorativo seria uma quarta
fase metodológica, em substituição ao instrumentalismo35   – inaugurado devido à preocupação dos
intérpretes com os resultados dos processos, voltados para a concretização do valor justiça.36 O que
caracterizaria o formalismo-valorativo, relacionado ao instrumentalismo, seria a prevalência da
constitucionalização do processo, não existindo qualquer óbice formal para a efetividade da tutela do
direito. Na visão dos autores, para o instrumentalismo, o escopo do processo seria metajurídico, ainda
prevalecendo ideais da doutrina clássica. Dessa forma, as regras processuais seriam interpretadas sem
priorizar-se os valores constitucionais.37
Antes de tudo, o processo é um direito do cidadão. A jurisdição e o processo devem ser estudados
nessa perspectiva, na realização da tutela do direito, sem que regras puramente formais, voltadas ao
interesse da Administração da Justiça, prejudiquem a prolação de decisões justas.38 As regras e os
princípios processuais devem corresponder a algum princípio constitucional, com o escopo de
potencializar sua realização e não configurar mero óbice formal na prestação da tutela jurisdicional. O
direito ao processo pertence ao jurisdicionado, não ao Estado-juiz, e por isso suas regras e princípios
devem estar em conformidade com a Constituição Federal.
Sob a ótica do formalismo-valorativo, os princípios inerentes à jurisdição devem ser interpretados com
o intuito de garantir a efetividade da tutela do direito, valorizando a concretização da justiça, em
detrimento das formalidades puramente técnicas, como a aderência da jurisdição ao território. O valor
de justiça e a realização da tutela do direito devem estar acima da noção de território, que é
geralmente atribuída à jurisdição. Isso significa que a administração da justiça, quando organiza a
distribuição de competência entre os juízes, não deve ter como propósito o interesse do Estado, mas
sim o interesse do jurisdicionado de obter uma tutela jurisdicional efetiva. Portanto, a competência
seria objeto de estudo do direito constitucional processual, conformando o instituto com os princípios
basilares de justiça, deixando de ser uma técnica de organização de trabalho para os juízes.
Para os adeptos do formalismo-valorativo, o processo é desenvolvido mediante a cooperação da divisão
de trabalho, adotando o Estado-juiz uma postura mais dialógica, visando a resolução do conflito, e não
apenas a extinção do feito.39 Esse modelo cooperativo do processo também mitiga a aderência da
jurisdição ao território, visto que a forma de trabalho em cooperação entre os órgãos jurisdicionais
prevaleceria em relação à necessidade de demarcação da competência. Se o pronunciamento de
decisões justas fosse o fim do processo, não teria mais sentido em medir a competência dos juízes pelo
território, mas sim pela sua capacidade de colaborar para a solução do caso concreto.
Em sede internacional, os Estados vêm experimentando a mitigação da soberania, para a efetivação da
denominada soberania compartilhada, com o propósito de atuar em cooperação para o combate de
ilícitos contra a humanidade ou para interesses comuns.40 Logo, também é possível perceber, no
cenário externo, a valorização da justiça perante os entraves formais da soberania e do território.
4. Conclusão

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As normas sobre jurisdição e competência estão previstas na Constituição e no Código de Processo


Civil, bem como em leis específicas. De maneira geral, a jurisdição é a manifestação da soberania
estatal, que, para a doutrina clássica, é exercida dentro de um determinado território.
Diversas mudanças no contexto histórico vêm ocorrendo no que se refere a uma nova dimensão
espacial, em que o Estado exerce a jurisdição, além de outros poderes inerentes à soberania. O
ciberespaço vem sendo estudado em diversos ramos científicos, e a sua irreversibilidade parece ser um
ponto em comum entre eles.
Assim, evidencia-se que essa quebra de fronteiras pelo ambiente virtual gera um impacto na atuação
do Estado, o qual não se vê limitado no exercício de seu poder. Por outro lado, o processo civil, em sua
quarta fase metodológica, tem como escopo o resultado justo do processo, prevalecendo a efetividade
da tutela do direito perante as formalidades processuais estabelecidas em lei.
A conjunção desses dois fatores resulta na exclusão do território como critério de atuação jurisdicional,
priorizando a atuação cooperativa entre os órgãos jurisdicionais para a realização do direito. Nesse
sentido, o processo eletrônico contribui para a efetividade da prestação jurisdicional; entretanto,
considera-se que ele ainda terá muito a oferecer se for desenvolvido sob a ótica do formalismo-
valorativo.
5. Referências
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1 .SARLET, Ingo Wolfgang; MARINONI, Luiz Guilherme; MITIDIERO, Daniel. Curso de direito
constitucional. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2015. p. 730.
 
2 .Ibid., p. 731.
 
3 .Ibid., p. 731.
 
4 .Ibid., p. 733.
 
5 .OLIVEIRA, Carlos Alberto Alvaro de. O processo civil na perspectiva dos direitos fundamentais.
Cadernos do Programa de Pós-Graduação em Direito PPGDir./UFRGS, Porto Alegre, v. 2, n. 4, p. 119-
130, jan. 2004. DOI: [https://doi.org/10.22456/0104-6594.72635]. Disponível em:
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6 .OLIVEIRA, Carlos Alberto Alvaro de. O processo civil na perspectiva dos direitos fundamentais.
Cadernos do Programa de Pós-Graduação em Direito PPGDir./UFRGS, Porto Alegre, v. 2, n. 4, p. 119-
130, jan. 2004. DOI: https://doi.org/10.22456/0104-6594.72635. Disponível em: [www.seer.ufrgs.br/
ppgdir/article/viewFile/49187/30822]. Acesso em: 07.07.2020. p. 12.
 
7 .“Do ponto de vista do direito processual, impõe-se sublinhar que os direitos fundamentais, para
poderem desempenhar sua função na realidade social, precisam não só de normatização
intrinsicamente densificadora como também de formas de organização e regulamentação
procedimentais apropriadas”. Ibid., p. 12.
 
8 .CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA. CNJ debate com tribunais nova política nacional de processo
eletrônico. Notícias CNJ, Brasília, DF, 24 set. 2019. Disponível em: [www.cnj.jus.br/cnj-debate-com-
tribunais-nova-politica-nacional-de-processo-eletronico/]. Acesso em: 19.06.2020.
 
9 .CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA. CNJ debate com tribunais nova política nacional de processo
eletrônico. Notícias CNJ, Brasília, DF, 24 set. 2019. Disponível em: [www.cnj.jus.br/cnj-debate-com-
tribunais-nova-politica-nacional-de-processo-eletronico/]. Acesso em: 19.06.2020.
 
10 .PEGORARO JUNIOR, Paulo Roberto. Processo eletrônico e a evolução disruptiva do direito
processual civil. Curitiba: Juruá, 2019. p. 83.
 
11 .LÉVY, Pierre. O que é o virtual?. Trad. Paulo Neves. São Paulo: Editora 34, 2011. p. 21.
 
12 .Ibid., p. 21.
 
13 .LÉVY, Pierre. A inteligência coletiva: por uma antropologia do ciberespaço. Trad. Luiz Paulo Rouanet.
10. ed. São Paulo: Edições Loyola, 2015. p. 105.
 
14 .LÉVY, Pierre. A inteligência coletiva: por uma antropologia do ciberespaço. Trad. Luiz Paulo Rouanet.
10. ed. São Paulo: Edições Loyola, 2015. p. 117-125.
 
15 .Ibid., p. 118.
 
16 .Ibid., p. 120.

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17 .Ibid., p. 128.
 
18 .MIRANDA, Amli Paula Martins de; GARCIA NETTO, Luiz da Rosa. Geografia do ciberespaço: novos
territórios da informação em rede. Curitiba: Appris, 2014. p. 31.
 
19 .Ibid., p. 34.
 
20 .“A cibercultura é vivenciada por milhões de pessoas através de ações práticas com o uso de
tecnologias digitais em rede tais como: home banking, cartões inteligentes, celulares, smartphones,
tablets, palm tops, voto eletrônico, webcam, imposto de renda via internet. Na parte comunicacional,
blogs, e-mail, chats, fóruns, web jornalismo” (Ibid., p. 54).
 
21 .BONAVIDES, Paulo. Ciência política. 26. ed. São Paulo: Malheiros Editores, 2019. p. 95.
 
22 .Ibid., p. 95.
 
23 .BONAVIDES, Paulo. Ciência política. 26. ed. São Paulo: Malheiros Editores, 2019. p. 103.
 
24 .Ibid., p. 104.
 
25 .O Estado faria parte de um organismo de ampla governabilidade e de compartilhamento de
funções. “Ávila (2014) propõe que o ‘Estado pode abrir mão de sua soberania e, livremente, exercê-la
de maneira compartilhada. [...] Assim, a ‘soberania se fragmenta, se desconecta parcialmente do
Estado, se liga a regimes, organizações supranacionais’. O Estado, nesse contexto, continuaria a existir,
mas desempenharia uma nova função” (MANSUR, Daniele Barbosa; ROCHA, Bruno Anunciação.
Desafios do exercício da soberania no ciberespaço. Revista Direito em Debate, Ijuí, ano XXVIII, n. 51,
jan.-jun. 2019. DOI: [https://doi.org/10.21527/2176-6622.2019.51.21-33. Disponível em:
[www.revistas.unijui.edu.br/index.php/revistadireitoemdebate/article/view/8971]. Acesso em:
14.07.2020. p. 27.
 
26 .“A Declaração de Independência do Ciberespaço é comumente associada ao movimento que o
teórico Milton Muller chama de “ciberlibertarianismo”, que se funda na ideia de que a Internet se
manteria livre, porque a liberdade estaria incorporada enquanto princípio em seus protocolos. Tal visão,
adotada por alguns dos primeiros ativistas da Internet, como o próprio Barlow, foi posteriormente
criticada por ser inocente e confiar em um determinismo tecnológico. Segundo ela, os problemas
políticos e de governança desapareceriam pela força dessa nova tecnologia vista, de alguma forma,
como apolítica” (CAPPI, Juliano; VENTURINI, Jamila. Declaração de independência no ciberespaço: um
chamado à ação em defesa da internet. Observatório da Internet no Brasil, 19 mar. 2018. Disponível
em: [https://observatoriodainternet.br/post/declaracao-de-independencia-do-ciberespaco-um-
chamado-a-acao-em-defesa-da-internet]. Acesso em: 21.06.2020.
 
27 .TEUBNER, Gunther. Constitucionalismo social: nove variações sobre o tema proposto por David
Sciulli. In: FORTES, Pedro; CAMPOS, Ricardo; BARBOSA, Samuel (Coord.). Teorias contemporâneas do
direito: o direito e as incertezas normativas. Curitiba: Juruá, 2016. v. 1. p. 129-155. Disponível em:
[https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/5491920/mod_resource/content/1/
14.%20TEUBNER.%20Constitucionalismo%20societal%2C%209%20variac%CC%A7o%CC%83es.pdf].
Acesso em: 27.06.2020. p. 129-130.
 
28 .Ibid., p. 130.
 
29 .Ibid., p. 131.
 
30 .GRECO, Leonardo. Instituições de processo civil: introdução ao direito processual civil. 5. ed. Rio de
Janeiro: Forense, 2015. v. 1. p. 119.
 
31 .MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio Cruz; MITIDIERO, Daniel. Novo curso de processo
civil. Teoria do processo civil. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2015. v. 1. p. 190.
https://revistadostribunais.com.br/maf/app/delivery/document 7/8
20/04/2022 14:32 Envio | Revista dos Tribunais

 
32 .DINAMARCO, Cândido Rangel. A instrumentalidade do processo. 14. ed. São Paulo: Malheiros
Editores, 2009. p. 18.
 
33 .Ibid., p. 19.
 
34 .Ibid., p. 26.
 
35 .ZANETI JUNIOR, Hermes; MADUREIRA, Claudio. Formalismo-valorativo e o novo processo civil. In:
ARRUDA ALVIM, Teresa; DIDIER JÚNIOR, Fredie (Org.). Teoria geral do processo. 2. ed. São Paulo:
Thomson Reuters Brasil, 2018. v. I. p. 125-163.
 
36 .Ibid., p. 130.
 
37 .Ibid., p. 135.
 
38 .ZANETI JUNIOR, Hermes; MADUREIRA, Claudio. Formalismo-valorativo e o novo processo civil. In:
ARRUDA ALVIM, Teresa; DIDIER JÚNIOR, Fredie (Org.). Teoria geral do processo. 2. ed. São Paulo:
Thomson Reuters Brasil, 2018. v. I. p. 125-163.
 
39 .Ibid., p. 145.
 
40 .GAIO JÚNIOR, Antônio Pereira. Jurisdição civil: reflexões sobre novos paradigmas para a sua
compreensão. In: ARRUDA ALVIM, Teresa; DIDIER JÚNIOR, Fredie (Org.). Teoria geral do processo.
2. ed. São Paulo: Thomson Reuters Brasil, 2018. v. I. p. 33-70.
     

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