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GEOGRAFIA – PROJETO 10MIN A LER

Ano letivo 2021/2022

Ucrânia VS Rússia

A Carta Internacional da Educação Geográfica, de 1992, da União Geográfica Internacional, baseia-


se, desde logo, na Carta das Nações Unidas e na Declaração Universal dos Direitos do Homem. O mesmo é
repetido na Carta Internacional de 2016. A Carta das Nações Unidas afirma a soberania das nações,
defende a paz e rejeita liminarmente a guerra. A Geografia é, assim, uma disciplina comprometida com a
paz. A invasão militar da Ucrânia pela Federação Russa (como o seria por qualquer outro país) espezinha os
princípios internacionais e os direitos humanos do povo ucraniano. Em Geografia, e no respeito dos seus
princípios, não há na sala de aula uma outra posição possível que não seja a da condenação da barbárie que
está a ser exercida sobre o povo ucraniano.

O território que hoje é a Ucrânia chegou a fazer parte do antigo Império Russo. Após a Revolução
Russa, o país foi absorvido pela União Soviética (URSS) em 1922, com a unificação das repúblicas soviéticas
da Rússia, Ucrânia, Bielorrússia e Transcaucásia.

Independência em 1991
A União Soviética foi dissolvida em 8 de novembro de 1991, após o enfraquecimento económico do
bloco e o fortalecimento de movimentos separatistas, inclusive, na Ucrânia. No dia 1º de dezembro de
1991, quase 29 milhões de ucranianos votaram a favor da independência do país, o que representava 92%
dos eleitores.
Conflitos de 2014 e perda da Crimeia
As tensões entre Ucrânia e Rússia voltaram a aumentar no final de 2013, quando protestos se
espalharam na Ucrânia exigindo maior integração com a Europa. Sob pressão popular e internacional, o
Parlamento depôs o então presidente pró-Rússia, o que o presidente russo Vladimir Putin viu como uma
afronta.
Em resposta, o Kremlin apoiou separatistas na Crimeia, onde já vivia numerosa população de
origem russa, o que se desdobrou na anexação da região em 2014. Os conflitos na fronteira leste da
Ucrânia deixaram 14.000 mortos nesses sete anos.
Os laços históricos e culturais entre russos e ucranianos são profundos. Parentes de russos moram
na Ucrânia, assim como famílias de origem ucraniana vivem na Rússia.
Nas cidades de Luhansk e Donetsk, no leste da Ucrânia e próximas da fronteira com a Rússia,
surgiram movimentos separatistas apoiados no sentimento local de que a população que reside ali é na
verdade russa, pois compartilha língua, etnia, costumes e é mais alinhada com a mentalidade da Rússia.
Com o apoio de Moscovo, a partir de 2019 começaram a ser distribuídos passaportes russos para
moradores de Luhansk e Donetsk. Estima-se que cerca de 25% da população tenha dupla cidadania.

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Celeiro da Europa
O solo da Ucrânia é um dos mais férteis do mundo, por isso, o país é conhecido como o celeiro da
Europa. A Ucrânia é um dos grandes produtores mundiais de trigo e um dos principais exportadores do
grão, assim como a Rússia. Mas o país também é um importante exportador de milho e de óleo de girassol.
Além de potência agrícola, a Ucrânia tem uma expressiva produção de minérios e carvão mineral,
concentrada na região de Donbass, onde há um movimento separatista apoiado pelos russos. Os primeiros
ataques na Ucrânia ocorreram justamente nessa região.

Aproximação da Europa
Uma das principais alegações da Rússia para o início dos ataques são os movimentos de
aproximação da Ucrânia com a União Europeia e a Otan, a Organização do Tratado do Atlântico Norte.
Criada em 1949, a Otan é uma aliança militar que surgiu sob a liderança dos Estados Unidos em oposição à
então União Soviética no período da Guerra Fria.
Hoje a aliança reúne 30 países como EUA, Canadá, Reino Unido e França, além de antigas repúblicas
soviéticas, como Estónia e Letónia (que fazem fronteira com a Rússia). Vladimir Putin acusa, portanto, a
Otan de estar "cercando" o país e exige que a aliança pare sua expansão rumo aos países do leste europeu.

Invasão e bombardeios

Desde o dia 24 de fevereiro, a Rússia tem atacado diferentes regiões da Ucrânia. O conflito já soma
198 mortos (até 26 de fevereiro) e dezenas de milhares de pessoas já fugiram do país.
Estima-se que no terceiro dia de conflito mais da metade das tropas da Rússia que estavam
posicionadas na fronteira com a Ucrânia já haviam sidos deslocadas para dentro de país.
Os militares russos tentam tomar a capital Kiev e derrubar o presidente ucraniano Volodymyr
Zelensky, eleito em 2019.

Qual o interesse da Rússia na invasão da Ucrânia?


O lado russo alega que está a acontecer um genocídio de russos étnicos no leste da Ucrânia. O que
significa isso? Que aqueles que se identificam como russos, que estão nas repúblicas separatistas russas e
também nas áreas próximas, estão a ser mortos, estão a ser perseguidos pelo governo ucraniano. Somado
a isso há uma campanha, segundo a Rússia, de "desrussificação" da região, onde a língua russa, os
costumes russos e toda a mentalidade russa é vítima de sanções.
Então o governo ucraniano tirou o status de língua primária do russo, em detrimento do próprio
ucraniano; houve a separação da igreja ortodoxa - que era uma igreja ortodoxa russa que cobria o leste
europeu (Ucrânia, Bielorússia e Rússia) - hoje existe uma igreja ortodoxa ucraniana e uma igreja ortodoxa
russa.

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Então o interesse da Rússia primariamente é reincorporar ou incorporar os territórios que ela
clama serem seus, onde são habitados por russos étnicos, e o objetivo secundário é impedir que a que a
Ucrânia - que é tida como um quintal, uma zona de proteção da Rússia - se alinhe à Europa, entre na União
Europeia, se alinhe aos Estados Unidos via Otan... Então é um interesse ao mesmo tempo de defesa e, na
mentalidade russa, de defesa dos seus cidadãos.

Qual o objetivo dos Estados Unidos em auxiliar a Ucrânia, dando armamento, durante os conflitos?
O objetivo dos Estados Unidos ao ajudar a Ucrânia, sobretudo com armamento, e linhas de crédito,
é aproximar a Ucrânia, que é uma região altamente estratégica e fica ao lado da Rússia, em torno de
quinhentos quilómetros de Moscovo, a sua cidade mais próxima.
Seria um centro estratégico importantíssimo que evidentemente desestabiliza o governo de Putin
pelo poder de atração que os Estados Unidos conseguem ter sobre a Ucrânia, que sempre foi tido como um
protetorado e uma área de influência russa.
Mas, fundamentalmente os Estados Unidos têm um interesse geopolítico de fixar bases da Otan ali,
de exercer o seu poder, dado que todo o território russo está cercado. E para os Estados Unidos é muito
importante ter um inimigo à altura, ter um rival à altura. Desta forma que os Estados Unidos acabam
exercendo o seu poder de coerção, de atração sobre o resto do mundo.

Qual a posição do presidente da Ucrânia em meio a esse conflito?


O presidente da Ucrânia Volodymyr Zelensky foi eleito, ele era ator de uma das séries mais
populares da Ucrânia, ele ficou muito famoso, foi um outsider que venceu a eleição, não tem carreira
política, tem o apoio de oligarcas internamente e está em uma situação muito delicada, porque ele já vinha
com índices de aprovação muito baixos há algum tempo.
Ele acabou 2021 com 20, 25% de pessoas que aprovam o seu governo, o que é um índice muito
baixo. Politicamente ele é irrelevante, provavelmente se terminasse o mandato, ele não seria reeleito, não
daria continuidade a sua carreira política, mas ele acabou por ter um papel de protagonista nessa crise.
A opinião de muitos analistas é de que ele tem agido com muita serenidade. Ele não tem apelado
para clichês populistas, mas ele tem mantido a posição da Ucrânia de defender sua soberania que é a
decisão de se alinhar à União Europeia, de fazer uma candidatura à Otan. Não dá para dizer que ele sai
como vencedor, mas é uma figura que sai com uma projeção muito maior do que aquela que ele já tinha
antes do segundo conflito, esse conflito agora de 2022.

De que forma a União Europeia se encaixa nesse cenário?


A União Europeia de facto talvez seja o ente que sai mais prejudicado, mais enfraquecido desse
último conflito. Já teve a imagem arranhada em 2014, quando a Rússia anexou a Crimeia, mas ali exerceu
um papel muito fundamental a ex-chanceler alemã, Ângela Merkel. Hoje não há na União Europeia nenhum
líder com carisma ou poder suficiente para dialogar com Vladimir Putin no mesmo nível. O Putin sempre vê
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esses líderes europeus - Boris Johnson, o novo premier alemão, Olaf Scholz, o Emanuel Macron, da França -
como inferiores, não sendo interlocutores a sua altura. Então, sem uma liderança forte a União Europeia
acaba tendo um papel secundário em relação aos Estados Unidos, que também não tem uma liderança
forte.

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