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CURSO DE APERFEIÇOAMENTO FORTALECIMENTO DAS AÇÕES

DE IMUNIZAÇÃO NOS TERRITÓRIOS MUNICIPAIS

MÓDULO I

COVID-19: VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA


E CONTROLE
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CRÉDITOS

Todos os direitos reservados. É permitida a reprodução parcial ou total desta obra, desde
que citada a fonte e que não seja para venda ou qualquer fim comercial. O conteúdo
desta publicação foi desenvolvido e aperfeiçoado pela equipe pedagógica do CONASEMS
e pelos especialistas do assunto indicados pela Faculdade São Leopoldo Mandic.

Ficha Catalográfica

Material de Referência. Curso de Aperfeiçoamento Fortalecimento das Ações


de Imunização nos Territórios Municipais. Módulo I: Aula 4: Covid-19: vigilância
epidemiológica e controle. CONASEMS. 2021.

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FICHA TÉCNICA

Este material foi elaborado e desenvolvido pela equipe técnica e pedagógica do Mais
CONASEMS em parceria com a Faculdade São Leopoldo Mandic.

Professor Conteudista – Faculdade São Leopoldo Mandic
André Ricardo Ribas Freitas

Gestor Educacional
Rubensmidt Ramos Riani

Coordenação Técnica e Pedagógica


Cristina Crespo
Valdívia Marçal

Especialista em Educação a Distância


Kelly Santana
Priscila Rondas

Designer Instrucional
Alexandra Gusmão

Web Desenvolvedor
Aidan Bruno
Alexandre Itabayana
Cristina Perrone
Paloma Eveir

Revisão Textual
Gehilde Reis Paula de Moura

Coordenação Geral
Conexões Consultoria em Saúde Ltda.

Coordenação Pedagógica - Faculdade São Leopoldo Mandic


Fabiana Succi
Patrícia Zen Tempski

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OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM

Olá!

Este é o seu Material de Referência que contempla todo o conteúdo da Aula 4


de forma mais aprofundada. Nosso intuito é agregar mais conhecimento à sua
aprendizagem, por isso leia-o com atenção!

Mas, antes de iniciar, conheça os objetivos de aprendizagem previstos para esta Aula.

Boa leitura!

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM

• Compreender a importância e as ações a serem desencadeadas para


vigilância e controle da covid-19.

• Saber quais são as novas linhagens e as possíveis consequências destas


para a saúde pública.

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INTRODUÇÃO

Vamos continuar o nosso bate-papo?

Na Aula 4, você verá como identificar


precocemente a ocorrência de casos de
covid-19.

E você já pensou como são estabelecidos os


critérios para a notificação e o registro de
casos suspeitos em serviços de saúde?

Aqui, você vai encontrar tudo de que precisa


sobre o assunto!

Mas antes, que tal começarmos pelos


objetivos de aprendizagem?

VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA E CONTROLE

OBJETIVOS

• Identificar precocemente a ocorrência de casos da covid-19;


• Estabelecer critérios para a notificação e o registro de casos suspeitos em serviços de
saúde públicos e privados;
• Estabelecer os procedimentos para investigação laboratorial;
• Monitorar e descrever o padrão de morbidade e mortalidade por covid-19;
• Monitorar as características clínicas e epidemiológicas do vírus SARS-CoV-2;
• Realização de rastreamento e quarentena de contatos de casos de infecção pelo vírus
SARS-CoV-2;
• Estabelecer as medidas de prevenção e controle;
• Realizar a comunicação oportuna e transparente da situação epidemiológica no Brasil.

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VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA E CONTROLE

É preciso diferenciar os casos suspeitos, confirmados, não especificados e


descartados, pois isso faz toda diferença na hora de tomar uma conduta. O que
define um caso suspeito das outras definições?

Casos suspeitos

Definição 1: Síndrome Gripal (SG)

Indivíduo com quadro respiratório agudo, caracterizado por pelo menos dois (2) dos
seguintes sinais e sintomas: febre (mesmo que referida), calafrios, dor de garganta,
dor de cabeça, tosse, coriza, distúrbios olfativos (anosmia) ou distúrbios gustativos
(ageusia).

OBSERVAÇÕES

Em crianças: além dos itens anteriores, considera-se também obstrução nasal,


na ausência de outro diagnóstico específico.
Em idosos: deve-se considerar também critérios específicos de agravamento
como síncope, confusão mental, sonolência excessiva, irritabilidade e inapetência.

Na suspeita da covid-19, a febre pode estar ausente e sintomas gastrointestinais


(diarreia e dores abdominais) podem estar presentes.

Definição 2: Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG)

Indivíduo com SG que apresente: dispneia/desconforto respiratório OU pressão ou


dor persistente no tórax OU saturação de O2 menor que 95% em ar ambiente OU
coloração azulada (cianose) dos lábios ou rosto.

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VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA E CONTROLE

OBSERVAÇÕES

Em crianças: além dos itens anteriores, observar os batimentos de asa de nariz,


cianose, tiragem intercostal, desidratação e inapetência.

Para efeito de notificação no Sistema de Informação de Vigilância da Gripe


(SIVEP-Gripe), devem ser considerados os casos de SRAG hospitalizados ou os
óbitos por SRAG independente de hospitalização.

Casos confirmados da covid-19

Por critério clínico

Caso de SG ou SRAG associado à anosmia (disfunção olfativa) OU ageusia (disfunção


gustatória) aguda sem outra causa pregressa.

Por critério clínico-epidemiológico

Caso de SG ou SRAG com histórico de contato próximo ou domiciliar nos 14 dias


anteriores ao aparecimento dos sinais e sintomas com caso confirmado para
covid-19.

Por critério clínico-imagem

Caso de SG ou SRAG ou óbito por SRAG que não foi possível confirmar por critério
laboratorial e que apresente pelo menos uma (1) das seguintes alterações
tomográficas:

• Opacidade em vidro fosco periférico, bilateral, com ou sem consolidação ou


linhas intraoculares visíveis (“pavimentação”), OU;

• Opacidade em vidro fosco multifocal de morfologia arredondada com ou sem


consolidação ou linhas intralobulares visíveis (“pavimentação”), OU;

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VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA E CONTROLE

• Sinal de halo reverso ou outros achados de pneumonia em organização


(observados posteriormente na doença).

Por critério laboratorial em indivíduo não vacinado contra covid-19

Caso de SG ou SRAG com teste de:

• Biologia molecular: resultado detectável para SARS-CoV-2 realizado pelos


seguintes métodos:

• RT-qPCR em tempo real;


• RT-LAMP.

• Imunológico: resultado reagente para IgM, IgA e/ou IgG* realizado pelos
seguintes métodos:

• Ensaio imunoenzimático (Enzyme-Linked Immunosorbent Assay - ELISA);


• Imunocromatografia (teste rápido) para detecção de anticorpos;
• Imunoensaio por Eletroquimioluminescência (ECLIA);
• Imunoensaio por Quimioluminescência (CLIA).

• Pesquisa de antígeno: resultado reagente para SARS-CoV-2 pelo método de


Imunocromatografia para detecção de antígeno.

OBSERVAÇÕES

*Considerando a história natural da covid-19 no Brasil, um resultado isolado de


IgG reagente não deve ser considerado como teste confirmatório para efeitos
de notificação e confirmação de caso. Um resultado IgG reagente deve ser usado
como critério laboratorial confirmatório somente em indivíduos não vacinados,
sem diagnóstico laboratorial anterior para covid-19 e que tenham apresentado
sinais e sintomas compatíveis, no mínimo 8 dias antes da realização desse
exame. Essa orientação não é válida para inquérito sorológico.

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VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA E CONTROLE

Por critério laboratorial em indivíduo vacinado contra covid-19

Indivíduo que recebeu a vacina contra covid-19 e apresentou quadro posterior de


SG ou SRAG com resultado de exame:

• Biologia molecular: resultado detectável para SARS-CoV-2 realizado pelo


método RT-PCR em tempo real ou RT-LAMP.

• Pesquisa de antígeno: resultado reagente para SARS-CoV-2 pelo método de


Imunocromatografia para detecção de antígeno.

Atenção!

Tendo em vista a resposta vacinal esperada, com produção de anticor-


pos, os testes imunológicos não são recomendados para diagnóstico de
covid-19 em indivíduos vacinados.

Por critério laboratorial em indivíduo assintomático

Indivíduo assintomático com resultado de exame:

• Biologia molecular: resultado detectável para SARS-CoV-2 realizado pelo


método RT-PCR em tempo real ou RT-LAMP.

• Pesquisa de antígeno: resultado reagente para SARS-CoV-2 pelo método de
Imunocromatografia para detecção de antígeno.

Caso de SG ou SRAG não especificada

Caso de SG ou de SRAG para o qual não houve identificação de nenhum outro agente
etiológico OU que não foi possível coletar/processar amostra clínica para diagnóstico
laboratorial, OU que não foi possível confirmar por critério clínico-epidemiológico,
clínico-imagem ou clínico.

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Caso de SG descartado para covid-19

Caso de SG para o qual houve identificação de outro agente etiológico confirmado


por método laboratorial específico, excluindo-se a possibilidade de uma coinfecção,
OU confirmação por causa não infecciosa, atestada pelo médico responsável.

• Ressalta-se que um exame negativo para covid-19 isoladamente não é


suficiente para descartar um caso para covid-19.

• O registro de casos descartados de SG para covid-19 deve ser feito no e-SUS


notifica.

OBSERVAÇÕES

Para fins de vigilância, notificação e investigação de casos e monitoramento de


contatos, o critério laboratorial por biologia molecular deve ser considerado o
padrão ouro, não excluindo os demais critérios de confirmação.

Diante da emergência ocasionada


pelo coronavírus SARS-CoV-2, o
reconhecimento da pandemia pela
Organização Mundial de Saúde (OMS)
e a declaração de Emergência de
Saúde Pública de Importância Nacional
(ESPIN), o Ministério da Saúde (MS) tem
estabelecido sistematicamente medidas
para resposta e enfrentamento da
covid-19.
Entre as medidas indicadas pelo MS, estão as não farmacológicas, como
distanciamento social, etiqueta respiratória e de higienização das mãos, uso de
máscaras, limpeza e desinfeção de ambientes, isolamento de casos suspeitos e
confirmados e quarentena dos contatos dos casos de covid-19, conforme orientações
médicas. Essas medidas devem ser utilizadas de forma integrada, a fim de controlar

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VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA E CONTROLE

a transmissão do SARS-CoV-2, permitindo também a retomada gradual das


atividades desenvolvidas pelos vários setores e o retorno seguro do convívio social.

Orientações para isolamento de casos de covid-19

Para indivíduos com quadro de Síndrome Gripal (SG) - leve a moderado -


com confirmação para covid-19 por qualquer um dos critérios (clínico, clínico-
epidemiológico, clínico-imagem ou clínico-laboratorial) ou que ainda não coletou
amostra biológica para investigação etiológica, as medidas de isolamento e
precaução podem ser suspensas após 10 dias do início dos sintomas, desde que
permaneça afebril sem o uso de medicamentos antitérmicos há pelo menos 24
horas e com remissão dos sintomas respiratórios.

Para indivíduos com quadro de Síndrome Gripal (SG) - leve a moderado - para os
quais não foi possível a confirmação pelo critério clínico, clínico epidemiológico ou
clínico imagem, e que apresentem resultado de exame laboratorial não reagente
ou não detectável pelo método RT-qPCR ou teste rápido para detecção de antígeno
para SARS-CoV-2, as medidas de isolamento e precaução podem ser suspensas
desde que permaneça afebril sem o uso de medicamentos antitérmicos há pelo
menos 24 horas e com remissão dos sintomas respiratórios.

Para indivíduos com quadro de


Síndrome Respiratória Aguda Grave
(SRAG) - grave/crítico - com confirmação
por qualquer um dos critérios (clínico,
clínico-epidemiológico, clínico-
imagem ou clínico-laboratorial) para
covid-19, as medidas de isolamento
e precaução podem ser suspensas
após 20 dias do início dos sintomas
OU após 10 dias com resultado RT-
qPCR negativo, desde que permaneça
afebril sem o uso de medicamentos
antitérmicos há pelo menos 24
horas e com remissão dos sintomas
respiratórios, mediante avaliação médica.

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VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA E CONTROLE

Para indivíduos hospitalizados com


quadro de SRAG para os quais não foi
possível a confirmação pelos critérios
clínico, clínico-epidemiológico ou
clínico-imagem, caso um primeiro
teste de RT-qPCR venha com resultado
negativo, um segundo teste na mesma
metodologia, preferencialmente com
material de via aérea baixa, deve ser
realizado 48 horas após o primeiro. Sendo
os dois negativos, o paciente poderá ser
retirado da precaução para covid-19
(atentar para o diagnóstico de outros
vírus respiratórios, como influenza).
Ao receber alta hospitalar antes do período de 20 dias, o paciente deve cumprir o
restante do período em isolamento OU após 10 dias com dois resultados RT-qPCR
negativo, desde que afebril sem uso de medicamentos antitérmicos há pelo menos
24 horas e com remissão dos sintomas respiratórios, mediante avaliação médica.

Para indivíduos assintomáticos


confirmados laboratorialmente para
covid-19 (resultado detectável pelo
método RT-qPCR ou teste rápido para
detecção de antígeno para SARS-
CoV-2), deve-se manter isolamento,
suspendendo-o após 10 dias da data de
coleta da amostra.

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QUADRO

Critério para suspensão do isolamento

Indivíduos com quadro de Síndrome Gripal (SG) - leve a moderado - suspeita


ou com confirmação por qualquer critério: pelo menos 10 dias desde o início
dos sintomas e pelo menos 24 horas sem febre (sem uso de antitérmicos) e
remissão dos sintomas respiratórios.

Indivíduos com quadro de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) -


grave/crítico OU gravemente imunossuprimido: pelo menos 20 dias desde o
início dos sintomas e pelo menos 24 horas sem febre (sem uso de antitérmicos)
e remissão dos sintomas respiratórios e mediante avaliação médica.

Indivíduo assintomático não gravemente imunossuprimido: pelo menos 10


dias após a data da coleta do primeiro teste RT-qPCR positivo.

Indivíduo assintomático gravemente imunossuprimido: pelo menos 20 dias


após a data da coleta do primeiro teste RT-qPCR positivo.

Observações: testes sorológicos (teste rápido, ELISA, ECLIA, CLIA) para covid-19 não
deverão ser utilizados, de forma isolada, para estabelecer a presença ou ausência da
infecção pelo SARS-CoV-2, nem como critério para isolamento ou sua suspensão,
independente do tipo de imunoglobulina (IgA, IgM ou IgG) identificada.

Para casos confirmados de covid-19 em indivíduos severamente


imunocomprometidos, a estratégia baseada em testagem laboratorial (RT-qPCR)
deve ser considerada, a critério médico, para descontinuidade do isolamento.

Os casos encaminhados para isolamento domiciliar deverão continuar usando


máscara e manter a etiqueta respiratória, sempre que for manter contato com outros
moradores da residência, mesmo adotando o distanciamento social recomendado
de pelo menos um metro e manter a limpeza e desinfecção das superfícies, conforme
as recomendações da Anvisa.

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Rastreamento, isolamento e monitoramento de contatos de casos de covid-19

O rastreamento de contatos é uma medida de saúde pública que visa diminuir a


propagação de doenças infectocontagiosas a partir do isolamento dos contatos
(quarentena) e da identificação precoce de novas infecções resultantes da exposição
a um caso conhecido. Dessa forma, é possível isolar novos casos e prevenir o
surgimento de uma próxima geração de infecções a partir de um caso índice.

OBSERVAÇÕES

O rastreamento de contatos tem como objetivos :

• Identificar, isolar e monitorar os contatos próximos de casos confirmados de


covid-19;
• Identificar oportunamente possíveis casos em indivíduos assintomáticos;
• Interromper as cadeias de transmissão, diminuindo o número de casos novos
de covid-19.

Definição de contato

É qualquer pessoa que esteve em contato próximo a um caso confirmado de covid-19


durante o seu período de transmissibilidade, ou seja, entre 48 horas antes até 10 dias
após a data de início dos sinais e/ou sintomas (caso confirmado sintomático) ou após
a data da coleta do exame (caso confirmado assintomático).

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Para fins de vigilância, rastreamento e monitoramento de contatos, deve-se


considerar contato próximo a pessoa que:

• Esteve a menos de um metro de distância, por um período mínimo de 15


minutos, com um caso confirmado sem ambos utilizarem máscara facial ou
utilizarem de forma incorreta;

• Teve um contato físico direto (por exemplo, apertando as mãos) com um caso
confirmado;

• É profissional de saúde que prestou assistência em saúde ao caso de covid-19


sem utilizar equipamentos de proteção individual (EPI), conforme preconizado,
ou com EPI danificados;

• Seja contato domiciliar ou residente na mesma casa/ambiente (dormitórios,


creche, alojamento, dentre outros) de um caso confirmado.

OBSERVAÇÕES

Considera-se caso confirmado de covid-19, o caso de SG ou SRAG que atenda


um dos critérios de confirmação descrito nas classificações operacionais.

Para efeito de avaliação de contato próximo, devem ser considerados também


os ambientes laborais ou eventos sociais.

Cenários

O rastreamento de contatos deve ser utilizado para todos os casos confirmados. É


desejável que essa estratégia também seja feita, sempre que possível para os casos
suspeitos, em locais com poucos casos ou que tenha baixa capacidade laboratorial
instalada.

Essa estratégia se torna mais efetiva quanto menor for o número de casos no
território porque, em lugares com elevada incidência, os esforços das equipes
de saúde estarão voltados, principalmente, para impedir o esgotamento dos
serviços de saúde. Nessa situação, recomenda-se que o rastreamento, isolamento
e monitoramento de contatos seja realizado conforme a capacidade local,
priorizando-se os aglomerados de casos de covid-19 em lugares bem delimitados
(instituições fechadas, trabalho em ambientes fechados ou confinados, casas
de repouso, penitenciárias, dentre outros) ou quando a curva epidêmica estiver

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em sentido descendente de aceleração.


Já em lugares onde há poucos
casos ou esses são esporádicos, é
fortemente recomendada a realização
do rastreamento, isolamento e o
monitoramento de contatos para todos
os casos de covid-19.

Neste sentido, no quadro 2, são


apresentadas recomendações sobre o
rastreamento de contatos, segundo o
contexto epidemiológico da doença no
território.

QUADRO 2 - RASTREAMENTO DE CONTATOS PRÓXIMOS SEGUNDO CENÁRIOS


EPIDEMIOLÓGICOS DA COVID-19.

CENÁRIOS CARACTERÍSTICA LOCAL RECOMENDAÇÕES

Identificar, capacitar e manter uma equipe de investiga-


dores prontos para iniciar o rastreamento de contatos a
• Apenas casos importados* partir do primeiro caso identificado.
1 • Casos autóctones**
esporádicos Nesta situação, sugere-se que todos os contatos próxi-
• Clusters localizados*** mos sejam identificados rapidamente, avaliados por
uma equipe de saúde, testados, isolados e monitorados
por até 10 dias.

Quando a transmissão é intensa e disseminada no terri-


tório, o rastreamento de contatos pode ser difícil de ope-
• Transmissão comunitária racionalizar, mas deve ser realizado sempre que for
2 • Curva epidêmica em ascensão possível, priorizando os contatos domiciliares, trabalha-
acelerada dores de serviços de saúde, da segurança pública e
trabalhadores de atividades de alto risco (casas de
repouso, penitenciárias, alojamentos, entre outros).

*Local de infecção fora do seu município de residência.


** Casos autóctones - municípios com casos de transmissão local.
*** Situação onde se tem casos em local bem delimitado (instituições de longa
permanência, creches, centros de ensino, residência, empresas, entre outros).

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OBSERVAÇÕES

Quando o nível local verificar que a curva epidêmica está em redução, a rápida
identificação de casos, o rastreamento e monitoramento de contatos se farão
ainda mais necessários, a fim de identificar e interromper, oportunamente, as
possíveis cadeias de transmissão, prevenindo a ocorrência de uma nova onda
de casos.

Rastreamento de contatos

O rastreamento de contatos deve ser realizado a partir do momento em que


se identifica um caso suspeito de covid-19 ou então quando a vigilância tem
conhecimento de um caso confirmado.

Na primeira situação, em que geralmente o caso suspeito está em um serviço


de saúde, ele deve ser direcionado para conversar com um profissional de saúde
que possa lhe perguntar quais foram os contatos próximos (conforme definição
detalhada anteriormente) que ele teve 2 dias (48 horas) antes do início dos sintomas
até àquele momento.

A segunda situação é aquela em que a vigilância identifica um caso já confirmado,


seja via resultado laboratorial ou por consultar um sistema de informação (e-SUS
Notifica ou SIVEP-Gripe).

Uma terceira possibilidade é quando um indivíduo assintomático apresenta


resultado laboratorial positivo por RT-qPCR ou por teste de antígeno.

Nas três situações, todos os contatos precisam ser listados com o objetivo de
identificar as pessoas que estiveram com um caso suspeito ou confirmado no
período de transmissibilidade da doença, ou seja, 48 horas antes do início dos
sintomas (para os casos sintomáticos) ou até 48 horas antes da data da coleta
do exame (para os casos assintomáticos) até 10 dias após o início dos sintomas.

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O entrevistador deve solicitar ao caso suspeito e/ou confirmado, as informações


mínimas dos contatos para que estes possam ser localizados posteriormente, seja
por telefone, meio eletrônico ou por visita. Recomenda-se realizar o registro dos
contatos e suas informações no verso da ficha de notificação de caso suspeito
de covid-19, do e-SUS Notifica, mas pode-se usar qualquer outro instrumento,
respeitando a organização do município ou estado. De acordo com a organização
local, uma equipe será responsável por realizar o rastreamento dos contatos e outra
equipe o monitoramento dos contatos.

Atenção!

Para ser efetivo, o rastreamento de contatos deve ser precedido de ações


de comunicação que visem aumentar o engajamento da população no
enfrentamento da covid-19. A comunidade deve estar bem informada
sobre o que é o rastreamento e isolamento de contatos, seus objetivos
e importância de sua participação para ajudar na diminuição da
propagação da covid-19 na comunidade. Também devem estar
bem informadas no sentido de atender as orientações da equipe de
monitoramento, se dirigindo a um serviço de saúde quando orientado,
mantendo ações de prevenção (etiqueta respiratória, distanciamento
físico e uso de máscaras) e isolamento pelo período adequado.

Isolamento e monitoramento de contatos

O isolamento e monitoramento de contatos é uma estratégia que deve ser conduzida


para todos os contatos próximos identificados de casos suspeitos e/ou confirmados
por qualquer um dos critérios (clínico, clínico-epidemiológico, clínico-imagem ou
clínico-laboratorial) para covid-19.

A equipe do monitoramento dos contatos deverá acionar os contatos identificados,


preferencialmente nas primeiras 48 horas após a notificação do caso. Todos os
contatos devem ser contatados pessoalmente ou por telefone para confirmar se
eles atendem às definições propostas e, portanto, serem incluídos na estratégia
de monitoramento. O atestado médico deve ser oferecido aos contatos em razão
da necessidade de afastamento do trabalho durante o período de isolamento
(quarentena).
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Cada indivíduo identificado como contato deve receber informações sobre:

• Objetivo da estratégia de rastreamento, isolamento e monitoramento de contatos;

• Se aceita participar do monitoramento, a cada 2 dias, até que se complete 14 di-


as após ter encontrado com o caso suspeito ou confirmado;

• Necessidade de procurar um serviço de saúde para realização de triagem (exames


clínicos) e coleta de material para exames laboratoriais, caso esta seja uma estraté-
gia local;

• A doença e as manifestações clínicas que deverão ser observadas durante o período


de monitoramento. Isso inclui o aparecimento de qualquer sintoma de síndrome
gripal, especialmente febre, calafrios, dor de garganta, dor de cabeça, tosse,
coriza ou congestão nasal, distúrbios olfativos (perda de olfato) ou gustativos
(perda de paladar) sem causa anterior, falta de ar ou dificuldade em respirar;

• O que fazer se apresentar algum sintoma, incluindo: i) a quem se reportar; ii) como se
isolar e quais precauções adicionais deve tomar (observar sinais de gravidade); e iii)
quais são os serviços de referência para diagnóstico e tratamento que deve buscar;

• Como e onde deve ser realizado o isolamento: a) se orientação médica, ficar em


casa pelo período de 14 dias após a data da última exposição ao caso; b) manter
distanciamento físico de pelo menos um metro dos demais moradores da
residência e uso de máscara quando estiverem no mesmo ambiente; c) verificar a
temperatura no mínimo duas vezes ao dia; d) estar atento para à manifestação de
sinais e sintomas; e) evitar contato com pessoas de grupos com maior risco (vide
tópico fatores de risco);

• Atestado médico para afastamento laboral durante o período de isolamento


(quarentena);

• Canais oficiais de comunicação sobre a covid-19 (site do Ministério da Saúde e


governo local, telefones de contato, serviços de saúde de referência, entre outros);

• Sigilo e confidencialidade das informações coletadas (como poderão ser usados,


como serão armazenados, processados e divulgados – informes, boletins, artigos,
entre outros);

• Forma acordada de acompanhamento durante o período de monitoramento


(pessoalmente, por telefone, e-mail, entre outros), incluindo a periodicidade e os
horários disponíveis.
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OBSERVAÇÕES

Para proteger a privacidade do caso, recomenda-se informar ao contato que este


pode ter sido exposto a um paciente com diagnóstico de covid-19, preservando
o sigilo e a confidencialidade da provável fonte de infecção.

Para efeitos de afastamento das atividades laborais de contatos próximos de


casos confirmados, considerar a previsão legal da Portaria Conjunta n°20 de 18
de junho de 2020, que estabelece as medidas a serem observadas visando à
prevenção, ao controle e à mitigação dos riscos de transmissão da covid-19 nos
ambientes de trabalho.

Uma vez identificados, os contatos devem ser monitorados a cada 2 dias, contudo
essa periodicidade pode ser diária se o município tiver condições operacionais.
Deve-se perguntar sobre o cumprimento das recomendações de isolamento,
aparecimento de sinais e sintomas compatíveis da covid-19 por um período de até
14 dias após a data do último contato com o caso confirmado para covid-19. Com
o monitoramento sendo a cada 2 dias, pode-se coincidir que as ligações sejam no
3º, 5º, 7º, 9º, 11º e 13º dia de sintomas, porém deve-se encerrar o ciclo completo,
sendo necessário realizar também no 14º dia. Os contatos que desenvolverem
sinais ou sintomas sugestivos de covid-19 (sintomáticos), durante o período de
monitoramento, serão considerados como casos suspeitos de covid-19, sendo
orientados a procurar um serviço de saúde mais próximo, para avaliação clínica e
realização de testagem.

Deverá ser seguida as orientações para isolamento descritas no item “Orientações


para isolamento de casos de covid-19”. Esse contato deixará de ser monitorado
como contato e deverá ser iniciado o rastreamento de seus contatos. Dessa forma,
esse monitoramento deve ser encerrado como caso suspeito de covid-19.

Caso, durante o monitoramento, se identifique que o indivíduo apresenta sinais


de agravamento, como dispneia ou dor torácica, deverá ser orientado a procurar
imediatamente o serviço de saúde mais próximo, conforme fluxo estabelecido
pelo território.

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VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA E CONTROLE

Se durante o monitoramento, um caso assintomático tiver confirmação laboratorial


para covid-19 (resultado detectável pelo método RT-qPCR ou teste rápido
para detecção de antígeno para SARS-CoV-2), deve-se manter o isolamento e
monitoramento de sinais e sintomas, suspendendo-os após 10 dias da data de
coleta da amostra, conforme descrito no item “Orientações para isolamento de casos
de covid-19”.

Para contatos próximos assintomáticos com resultado não detectável pelo método
RT-qPCR ou teste rápido para detecção de antígeno para SARS-CoV-2, o isolamento
pode ser suspenso, mantendo o automonitoramento de possíveis sinais e sintomas
pelo período de 14 dias do último contato.

Para realização do monitoramento de contatos, deve ser estabelecida uma


comunicação direta entre a equipe de investigadores e os contatos que estão em
isolamento. Sugere-se que esta comunicação seja a cada dois dias, no entanto, a
gestão local poderá determinar essa periodicidade conforme a sua capacidade.

O primeiro contato é o mais importante, ele deve ser feito o mais precocemente
possível e durante este contato devem ser dadas todas as orientações de como e
por que deve ser feito o isolamento, e todas as dúvidas devem ser esclarecidas para
aumentar a adesão. No quadro 3, estão listadas as estratégias para monitoramento
de contatos.

QUADRO 3 - ESTRATÉGIAS PARA O MONITORAMENTO DOS CONTATOS

ESTRATÉGIA EXECUTOR DESCRIÇÃO

Monitoramento a cada dois dias de potenciais sinais e


sintomas por telefone, email ou visita domiciliar, preco-
nizando-se sempre o distanciamento social e o uso de
Ativa Equipe de investigadores Equipamentos de Proteção pelos investigadores.
O monitoramento deve ser feito a cada dois dias, porém,
se atrasar mais de um dia, deve-se coletar os dados de
forma retrospectiva.

Quando a transmissão é intensa e disseminada no terri-


tório, o rastreamento de contatos pode ser difícil de ope-
racionalizar, mas deve ser realizado sempre que for
Passiva O próprio contato possível, priorizando os contatos domiciliares, trabalha-
dores de serviços de saúde, da segurança pública e
trabalhadores de atividades de alto risco (casas de
repouso, penitenciárias, alojamentos, entre outros).

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VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA E CONTROLE

Equipe de trabalho

O rastreamento de contatos é uma atividade multidisciplinar e uma oportunidade de


integração entre a vigilância e a atenção primária à saúde. Sugere-se que a equipe
de investigadores seja mista, composta por, pelo menos, um técnico da vigilância e
outro da atenção primária, que pode ser, inclusive, um agente comunitário de saúde
(ACS).

O tamanho da equipe de investigadores depende de diversos fatores, incluindo


o número de casos e contatos, a disponibilidade de Equipamentos de Proteção, a
capacidade operacional e logística, entre outros, e deverá ser definida localmente.

Sugere-se que as equipes de investigadores se reportem a um supervisor, que


deverá se responsabilizar pelas questões operacionais e logísticas para manter as
equipes atuantes e garantir a qualidade da coleta e análise de dados, revisando uma
amostra das entrevistas que forem sendo realizadas.

A distribuição das entrevistas por equipe de investigadores pode ser realizada por
proximidade espacial (visitas domiciliares), ou por turnos (telefone ou e-mail).

OBSERVAÇÕES

Durante as visitas domiciliares, os investigadores devem manter a distância


mínima de um metro dos casos ou contatos de covid-19, usar Equipamento de
Proteção e, preferencialmente, conduzir as entrevistas em lugares externos ou
bem arejados.

O rastreamento de contatos requer,


além da equipe capacitada, materiais
administrativos e outros de suporte,
como identificação oficial, transporte,
insumos laboratoriais, equipamentos
como aparelho celular, telefone,
computador, conexão com a internet,
além de máscaras, luvas, sanitizantes
como álcool gel, entre outros.

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NOVAS LINHAGENS DO SARS-COV E POSSÍVEIS
CONSEQUÊNCIAS PARA A SAÚDE PÚBLICA

Onde está o perigo das variantes emergentes do SARS-CoV-2 e suas


implicações na saúde coletiva?
Todos os vírus, incluindo o SARS-CoV-2 (do inglês: Severe Acute Respiratory Syndrome
CoronaVirus 2) sofrem mutação. Essas mudanças genéticas acontecem à medida
que o vírus faz novas cópias de si mesmo para se espalhar e prosperar. A maioria
das mutações é irrelevante e algumas podem até ser prejudiciais à perpetuação
do vírus (pressão seletiva negativa), mas outras podem facilitar sua propagação
(pressão seletiva positiva) ou torná-lo mais patogênico para o hospedeiro (os seres
humanos).

Entre as mutações do SARS-CoV-2 mais relevantes do ponto de vista clínico e


epidemiológico estão as que afetam a proteína S (do inglês, spike, espícula viral),
que desempenha um papel importante durante o processo infeccioso, facilitando
a entrada do coronavírus nas células humanas. O processo de infecção acontece
quando o vírus entra na célula após a ligação entre o domínio RBD (do inglês
receptor-binding domain) da proteína S e o receptor da célula alvo, que é a enzima
conversora de angiotensina 2 (ACE-2).

Grande parte da proteção contra a covid-19 (do inglês: COronaVIrus Disease 2019)
é mediada pela resposta imune dirigida contra esta mesma proteína. Anticorpos
neutralizantes do vírus ligam-se à proteína S, geralmente na região do RBD impedindo

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que o vírus se fixe ao receptor ACE-2 das células humanas. Grande parte, se não a
totalidade, das vacinas atualmente em uso ou em estudo se baseiam na indução da
produção de anticorpos direcionados a estes sítios.

Mutações na proteína S que aumentam a quantidade de vírus eliminado por uma


pessoa infectada ou que aumentam sua afinidade do RBD pelo receptor ACE-2 podem
estar associadas ao aumento da transmissão do vírus. Um exemplo é a mutação
D614G que está associada a cargas virais mais altas e a uma maior transmissibilidade.
Linhagens com esta mutação passaram a ser predominantes em todo o mundo a
partir de meados de 2020, substituindo as linhagens originais. Outras mutações
podem alterar a proteína S e prejudicar a ligação dos anticorpos neutralizantes
e, consequentemente, aumentar o risco de reinfecções ou diminuir a eficácia das
vacinas. Outro aspecto a ser considerado das mutações é a perda de sensibilidade aos
testes de diagnóstico, que traz preocupação quanto à necessidade do monitoramento
contínuo das novas variantes para permitir a contínua atualização dos métodos de
diagnóstico utilizados no screening molecular ou mesmo sorológico.

Nas últimas semanas, tem surgido no meio científico uma grande preocupação em
relação a três variantes do vírus SARS-CoV-2, conhecidas na nomenclatura dinâmica,
recentemente proposta por Rambaut et al., como: i) B.1.1.7 (ou VUI – 202012/01),
ii) B.1.351 (ou 501Y.V2) e iii) P.1, inicialmente identificadas em pacientes infectados
respectivamente no Reino Unido, na África do Sul e em Manaus no Brasil.

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Essas variantes são consideradas preocupantes devido à presença de um conjunto


de mutações que levaram ao aumento da transmissibilidade e à deterioração das
situações epidemiológicas nas áreas onde recentemente se estabeleceram. Apesar
de terem origens distintas, elas compartilham uma constelação de mutações, o que
reforça a possibilidade de que estas mutações ofereçam vantagens competitivas
relevantes.

Variantes preocupantes (VOC, variant of concern)

Em 14 de dezembro de 2020, as autoridades do Reino Unido notificaram uma variante


denominada pelo Reino Unido como SARS-CoV-2 VOC 202012/01 ou B.1.1.7. Essa
linhagem carrega 14 mutações definidoras, incluindo sete na proteína S. Entre estas
7 está a mutação N501Y, que está associada a maior afinidade do vírus pelo receptor
ACE-2 o que pode explicar a sua rápida expansão. O nome da mutação se refere à
natureza da sua mudança: o aminoácido na posição 501 na proteína S mudou de
N (asparagina) para Y (tirosina). Até o momento, essa linhagem já foi encontrada
em 70 países, dos quais 29 com transmissão local. Ela foi responsabilizada pelo
agravamento da situação epidemiológica no Reino Unido, Portugal e outros países
da Europa entre dezembro de 2020 e janeiro de 2021. Apesar dos primeiros relatos
não encontrarem evidências de impacto na gravidade da doença, uma atualização
publicada em janeiro de 2021 do New and Emerging Respiratory Virus Threats
Advisory Group (NERVTAG) da agência britânica Public Health England, relatou, entre
outros, um estudo de coorte que encontrou um risco relativo de morte de 1,65 (IC
de 95% 1,21-2,25) entre indivíduos infectados com a linhagem B.1.1.7 comparado
com casos não-B.1.1.7. Outro achado preocupante em relação a esta linhagem foi o
aumento na proporção de casos entre crianças e adultos jovens.

Em 18 de dezembro de 2020, as autoridades nacionais da África do Sul anunciaram


a detecção de uma nova variante do SARS-CoV-2 denominada B.1.351 (ou 501Y.
V2), devido à presença da mutação N501Y. Embora a variante B.1.1.7 também tenha
a mutação N501Y, análises filogenéticas demonstraram que a variante B.1.351,
detectada na África do Sul, tem origem diferente. Os dados genômicos demonstraram
que a variante 501Y.V2 substituiu rapidamente outras linhagens que circulam na
África do Sul, tornando-se a dominante na região. A linhagem B.1.351 apresenta
múltiplas mudanças na proteína S das quais se destacam três que estão localizadas
no domínio RDB (K417N, E484K e N501Y). A mutação N501Y variante está associada
ao aumento da infecciosidade, uma vez que ela parece aumentar a ligação entre a
proteína S do vírus e o receptor do hospedeiro. A mutação E484K altera a região da
espícula onde ocorre o acoplamento de imunoglobulinas neutralizantes permitindo
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o escape viral (quando o vírus não é neutralizado pelo anticorpo) e aumentando o


risco de reinfecção. Essa linhagem foi identificada pela primeira vez na Baía Nelson
Mandela, ao longo da costa leste da África do Sul e espalhou-se rapidamente para
os outros distritos do Cabo Oriental e para as província do Cabo Ocidental e KwaZulu
Natal (KZN), tornando-se a linhagem dominante nas províncias do Cabo Oriental
e do Cabo Ocidental em semanas. Já foi encontrada até o momento em 31 países,
dos quais 13 com transmissão local, e está associada à segunda onda de covid-19
iniciada em dezembro de 2021 na África do Sul (https://cov-lineages.org/global_
report.html, consultado em 6/fev/2021).

Em 9 de janeiro de 2021, o Japão notificou à OMS sobre uma nova variante de


SARS-CoV-2, a P1 (inicialmente relatada como B.1.1.248), detectada em quatro
viajantes provenientes do Brasil. Esta variante não está geneticamente relacionada
às variantes SARS-CoV-2 B.1.1.7 e B.1.351, tendo sido identificada em dezembro de
2020 em Manaus, capital do estado do Amazonas, no Brasil. Essa variante possui
12 mutações na proteína S, incluindo três mutações de interesse em comum com
B.1.351, ou seja, K417N / T, E484K e N501Y, que podem afetar a transmissibilidade e a
resposta imune do hospedeiro.

O fato dessas linhagens terem origens distintas, mas possuírem as mesmas


mutações, sugere um processo denominado convergência evolutiva, que é o
nome dado quando características semelhantes são selecionadas em diferentes
locais por apresentarem vantagens claras como maior transmissibilidade,
sucesso na replicação ou mesmo escape imunológico.

Esta nova linhagem de SARS-CoV-2 esteve ausente nas amostras coletadas entre
março e novembro em Manaus, mas foi identificada em 42% das amostras de
dezembro de 2020 e em 91% das amostras coletadas na mesma cidade em janeiro
de 2021, sugerindo um forte e recente aumento na frequência desta linhagem
associada à segunda e maior onda de covid-19 na cidade. A soroprevalência em
Manaus observada em junho de 2020 era de 52,5% (IC 95%= 47,6–57,5), logo após a
primeira onda epidêmica indicando que esta nova linhagem foi, também, submetida
a uma forte pressão seletiva.

Também merece ser citada, a linhagem brasileira P.2, portadora da mutação E484K,
identificada pela primeira vez em outubro de 2020 que já era a mais prevalente
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entre as linhagens sequenciadas de pacientes que desenvolveram sintomas em


novembro no estado do Rio de Janeiro, também no Brasil. Analisando os dados da
Rede Genômica Fiocruz, que reúne pesquisadores de diversos institutos da Fundação
Oswaldo Cruz, verificamos que desde o início da emergência das linhagens P.1 e P.2
em outubro de 2020, em apenas 4 meses estas linhagens correspondiam juntas por
75% de todas as linhagens sequenciadas em todo o Brasil. Na cidade de Manaus, estas
duas linhagens juntas corresponderam a 97,8% das amostras de vírus sequenciados
em janeiro de 2021.

Além das variantes já mencionadas, o Brasil, Europa, os Estados Unidos da América,


o Japão e outros países já notificaram a detecção de muitas outras novas variantes,
cuja abrangência e importância para a saúde pública exigem mais investigação
epidemiológica e laboratorial.

Reinfecções

O fato de novas linhagens causarem epidemias em locais já afetados por epidemias


severas anteriores levanta algumas preocupações, tais como: o aumento na
transmissibilidade e a possibilidade do escape antigênico. Apontando neste sentido,
no Brasil, vários casos de reinfecção pelas novas linhagens também têm sido
descritos.

A descoberta de casos de reinfecção


serve de alerta e reforça a necessidade
de manutenção das medidas de controle
da pandemia, com distanciamento social
e a necessidade de acelerar o processo de
vacinação, para reduzir a possibilidade
de circulação desta e de possíveis futuras
linhagens que, ao acumular mutações,
podem vir a se tornar mais infectantes,
inclusive para indivíduos que já
tiveram a doença. Nesse sentido, já foi
recentemente demonstrado in vitro que
a linhagem B.1.351 tem maior resistência
à neutralização por anticorpos de
pacientes que tiveram infecção natural.

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Vacinas

Estudos sobre a proteção entre pessoas que receberam vacinas contra covid-19
ainda são poucos, mas já demonstram que a resposta a estas linhagens é diferente
das respostas às linhagens originais. Pesquisadores estimaram que a vacina Novavax
foi 95,6% eficaz contra o vírus que circulava originalmente no Reino Unido e 85,6%
contra a linhagem B.1.1.7. De fato, mutação N501Y, associada a esta linhagem,
levantava menos preocupações sobre a capacidade do escape imunológico. Os
estudos realizados com esta vacina na África do Sul demonstram uma eficácia
global de 49,4% contra a linhagem B.1.351, excluindo a população HIV-positiva
desse grupo da análise, a vacina foi 60% eficaz. A atividade de plasma de indivíduos
8 semanas após a segunda dose das vacinas de mRNA Moderna (mRNA-1273) ou
Pfizer-BioNTech (BNT162b2) contra as variantes do SARS-CoV-2 que carregam as
mutações E484K ou N501Y ou a combinação K417N: E484K: N501Y foi reduzida por
uma margem pequena, mas significativa.

As taxas de proteção das vacinas contra as novas linhagens emergentes ainda não
foram total e definitivamente testadas em estudos de fase 3, nem sabemos como
será o comportamento da proteção induzida por qualquer vacina ao longo do tempo.

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Vigilância virológica, rastreamento e quarentena de contatos

O início da vacinação em todo o mundo tem sido bastante comemorado e é realmente


um fato bastante positivo, no entanto é necessário cautela com o relaxamento
das medidas de controle desta doença e principalmente com a comunicação
social de risco, uma vez que a população precisa se conscientizar da necessidade
de manutenção dos cuidados de afastamento social e cuidados individuais para
diminuição do risco de transmissão do SARS-CoV-2.

Considerando a ocorrência de grandes epidemias onde já haviam ocorrido graves


ondas epidêmicas, o aumento no risco de reinfecções e até a possibilidade de
diminuição na eficácia das vacinas, é fundamental reforçar a vigilância virológica e
genômica para identificar precocemente e acompanhar a difusão de novas linhagens,
sejam elas brasileiras, sejam elas recém-introduzidas.

Uma vigilância específica buscando investigar adequadamente e sequenciar os


vírus causadores de infecções em vacinados ou reinfecções é mandatório para que
novas linhagens e/ou escape imunológico possam ser identificados precocemente,
e medidas de contenção sejam tomadas.

No Brasil, o controle da covid-19 tem se baseado fundamentalmente nas medidas


coletivas de afastamento social, o rastreamento e quarentena de contatos não tem
sido aplicado sistematicamente pelo órgão de saúde pública brasileiro em nenhum
dos três níveis de governo, sejam eles federal, estadual e municipal. Considerando
que quase 50% da transmissão ocorre antes do início dos sintomas, o rastreamento
e quarentena de contatos se torna fundamental para a contenção destas novas
linhagens e é estratégico para garantir o controle da doença, ou pelo menos para a
diminuição da velocidade de transmissão, enquanto mais estudos podem ser feitos
para aumentar os conhecimentos e capacidade de enfrentamento a estas novas
linhagens.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Finalizamos a Aula 4!

E aí, gostou do conteúdo?

Por tudo o que foi apresentado, acreditamos que o desafio imposto pelo SARS-CoV-2 não
termina com a introdução das vacinas, muito ainda deve ser feito nos próximos meses e anos
em termos de vigilância epidemiológica, virológica e estudos nas áreas de epidemiologia,
clínica, imunologia, virologia e outras áreas do conhecimento para garantir segurança à
população mundial em relação à covid-19.

Você concorda?

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REFERÊNCIAS

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de


Análise em Saúde e Doenças não Transmissíveis. Guia de vigilância epidemiológica
Emergência de saúde pública de Importância nacional pela Doença pelo
coronavírus 2019 – COVID-19 (versão 3, 15/mar/2021) Ministério da Saúde,
Secretaria de Vigilância em Saúde. – Brasília: Ministério da Saúde, 2021. 86 p.: il.

FREITAS ARR, Giovanetti M, Alcantara LCJ. Emerging variants of SARS-CoV-2 and its
public health implications. IAJMH. 2021Feb.8; 4. Available from: https://iajmh.com/
iajmh/article/view/181

He, X., Lau, E.H.Y., Wu, P. et al. Temporal dynamics in viral shedding and transmissibility
of COVID-19. Nat Med 26, 672–675 (2020). https://doi.org/10.1038/s41591-020-
0869-5.

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COVID-19: VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA


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