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Boletim

Epidemiológico
Secretaria de Vigilância em Saúde | Ministério da Saúde Número Especial | Abr. 2021

Doença de Chagas
14 de abril | Dia Mundial

Ano 2
Boletim
Epidemiológico
Secretaria de Vigilância em Saúde | Ministério da Saúde
Número Especial | Abril 2021

Doença de Chagas
14 de abril | Dia Mundial

Ano 2
Boletim Epidemiológico
Secretaria de Vigilância em Saúde
Ministério da Saúde

Número Especial | Abril 2021

ISSN 9352-7864

©1969. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. É permitida


a reprodução parcial ou total desta obra, desde que citada a fonte e que
não seja para venda ou qualquer fim comercial.

Tiragem: 2021 – versão eletrônica

Elaboração, distribuição e informações


MINISTÉRIO DA SAÚDE
Secretaria de Vigilância em Saúde
Departamento de Imunização e Doenças Transmissíveis – Deidt
SRTVN, Quadra 701, lote D, Edifício PO 700, 6o andar
CEP: 70719-040 – Brasília/DF
Disque-Saúde – 136
E-mail: cgzv@saude.gov.br
Site: www.saude.gov.br/svs

Coordenação-geral
Arnaldo Correia de Medeiros – SVS/MS
Laurício Monteiro Cruz – Deidt/SVS/MS

Equipe de elaboração
Francisco Edilson Ferreira de Lima Júnior – CGZV/Deidt/SVS/MS
Marcelo Yoshito Wada – CGZV/Deidt/SVS/MS
Mayara Maia Lima – CGZV/Deidt/SVS/MS
Rafaella Albuquerque e Silva – CGZV/Deidt/SVS/MS
Swamy Lima Palmeira – CGZV/Deidt/SVS/MS
Veruska Maia da Costa – CGZV/Deidt/SVS/MS

Projeto gráfico
Fred Lobo, Sabrina Lopes – Necom/GAB/SVS/MS

Diagramação
Sabrina Lopes – Necom/GAB/SVS/MS

Revisão
Cássio Ricardo Ribeiro – Deidt/SVS/MS

1. Doença de Chagas 2. Epidemiologia 3. Vigilância


Títulos para indexação: Epidemiological Report – Chagas disease 2021
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Lista de figuras

Figura 1 Casos de doença de Chagas aguda, por faixa etária e sexo. Brasil, 2020. 18

Figura 2 Distribuição de casos de doença de Chagas aguda, segundo provável forma de transmissão. 18
Brasil, 2020.

Figura 3 Distribuição de casos de doença de Chagas aguda, segundo mês de início de sintomas. Brasil, 19
2019 e 2020.

Figura 4 Óbitos por COVID-19 com CID-10 B57 na linha II, por faixa etária e sexo. Brasil, março a agosto 21
de 2020.

Figura 5 Taxa de incidência padronizada por doença de Chagas aguda e previsão região Norte e 24
Nordeste e Brasil, 2009 - 2020.

Figura 6 Taxa de mortalidade padronizada por doença de Chagas e previsão por regiões e Brasil, janeiro 26
a agosto, 2009 - 2020.

Figura 7 Número de requisições de exames laboratoriais para doença de Chagas e variação percentual 29
entre 2020 e a média 2017-2019, por mês de processamento e regiões de solicitação.

Figura 8 Distribuição de benznidazol por região, Brasil, 2016 a 2020. 31

Figura 9 Distribuição mensal de benznidazol 100 mg, Brasil, 2016 a 2020. 31


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Lista de tabelas

Tabela 1 Número de casos e taxa de incidência de doença de Chagas aguda, segundo Região, 17
Unidades Federadas de infecção e ano de início de sintomas. Brasil, 2020.

Tabela 2 Perfil sociodemográfico de casos de doença de Chagas aguda, segundo ano de início de 17
sintomas. Brasil, 2020.

Tabela 3 Subnotificação da suspeição e da confirmação de casos de doença de Chagas aguda. Brasil, 19


2019-2020.

Tabela 4 Número de óbitos por COVID-19 e menção à doença de Chagas como causa associada, 20
segundo Unidade Federada e Região de residência, março a agosto de 2020.

Tabela 5 Perfil sociodemográfico dos óbitos por COVID-19 com CID-10 B57 na linha II da DO. Brasil, 21
março a agosto de 2020

Tabela 6 Número de óbitos por doença de Chagas e menção à COVID-19 ou SRAG como causa 22
associada, segundo Unidade Federada e Região de residência, março a agosto de 2020.

Tabela 7 Resultados da análise de tendência da taxa de incidência padronizada de doença de Chagas 23


aguda pelo Joinpoint, regiões e Brasil, 2009 a 2019.

Tabela 8 Resultados da análise de tendência da taxa de mortalidade padronizada pelo Joinpoint, 25


regiões e Brasil, 2009 a 2019.

Tabela 9 Número de requisições de exames laboratoriais para DC, por ano de processamento e UF/ 27
regiões de solicitação, 2017 a 2020.

Tabela 10 Perfil sociodemográfico de requisições de exames laboratoriais para doença de Chagas. 28


Brasil, 2020.

Tabela 11 Distribuição de comprimidos de benznidazol 100 mg, segundo Unidade Federada e região. 30
Brasil, 2016 a 2020.

Tabela 12 Percentual, média e desvio padrão da redução das atividades de busca ativa programada e 32
entrega de insetos pela população, por Unidade Federada, 2020.
Sumário

Apresentação 6

Metodologia 8
Casos novos de doença de Chagas 9
Mortalidade 10
Análise de tendência e previsão da morbimortalidade por DC 11
Diagnóstico Laboratorial 12
Distribuição de Benznidazol 13
Vigilância Entomológica 14

Resultados 15
Casos novos de doença de Chagas 16
Mortalidade 20
Análise de tendência e previsão da morbimortalidade por DC 23
Diagnóstico Laboratorial 27
Distribuição de Benznidazol 30
Vigilância Entomológica 32

Considerações Finais 33

Referências 36
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Apresentação

A doença de Chagas (DC) é uma doença tropical A forma cardíaca é a responsável pela elevada
negligenciada, de expressiva morbimortalidade. morbimortalidade da doença de Chagas, e as
Apresenta-se clinicamente em duas fases distintas, manifestações clínicas da cardiopatia chagásica
a aguda (aparente ou não) e a crônica, esta última crônica (CCC) agrupam-se em três síndromes:
podendo manifestar-se nas formas indeterminada, arrítmica, insuficiência cardíaca e tromboembólica.
cardíaca, digestiva ou cardiodigestiva1. As evidências quanto a interação entre a infecção por
SARS-CoV-2 e T. cruzi ainda são incipientes e não se
Apesar da grande redução na incidência dos casos sabe ao certo a influência de fatores como tipos de
de doença de Chagas aguda (DCA), evidencia-se cepas, suscetibilidade genética e resposta imune5.
nos últimos 15 anos a ocorrência sistemática destes Contudo, sabe-se que o SARS-CoV-2 se liga ao receptor
casos relacionados à transmissão oral pela ingestão humano da enzima conversora da angiotensina 2
de alimentos contaminados, principalmente na (ECA2), e que essa interação pode desencadear uma
região amazônica, bem como à transmissão vetorial resposta inflamatória levando à lesão e disfunção
extradomiciliar, com a exposição acidental ao ciclo progressiva do miocárdio6.
silvestre do agente etiológico.
Além das questões relacionadas à fisiopatogenia, a
Além disso, como consequência das elevadas pandemia pode ter ocasionado impacto nas ações
incidências ao longo do século XX, estima-se que de assistência e vigilância em saúde, considerando a
haja no Brasil, atualmente, pelo menos um milhão sobrecarga dos serviços e a necessidade das medidas
de pessoas infectadas por Trypanosoma cruzi. Em de distanciamento para redução da transmissão por
estudo de revisão sistemática e metanálise publicado SARS-CoV-2.
em 2014, incluindo publicações no período de 1980 a
2012, estimou-se uma prevalência agrupada de 4,2% A respeito da vigilância entomológica da DC, a
(IC 95%: 3,1-5,7), equivalente a 4,6 milhões de pessoas rotina das atividades entomológicas preconizadas,
portadoras de infecção por T. cruzi no Brasil2. tanto na vigilância passiva como ativa, são
executadas principalmente no ambiente domiciliar
Conforme estimativa de que 60% das pessoas e, com a pandemia, sofreram também consequências
com infecção por T. cruzi permanecem na forma importantes, tendo em vista a necessidade iminente
indeterminada, e de que 30% e 10% evoluirão para de readaptação destas atividades para redução do
forma cardíaca e digestiva, respectivamente, existiriam risco de transmissão do SARS-CoV-2. A busca ativa
em 2020, considerando as projeções das estimativas programada é indicada para as localidades com
de prevalência de infecção por T. cruzi de 1,02% ou presença de populações triatomínicas com potencial
2,4% no Brasil3: 819.351 a 1.927.885 pessoas na forma risco de domiciliação, além da instituição de postos
indeterminada; entre 409.676 a 963.943 pessoas na de identificação de triatomíneos (PIT) e fortalecimento
forma cardíaca; e entre 136.559 a 321.314 pessoas na de educação em saúde, sendo estas duas últimas
forma digestiva. estratégias indicadas para todas as localidades com
presença de triatomíneos, independente da espécie.
Considerando a magnitude da DC e que há evidências Tanto a instituição de PIT como atividades de educação
de que as enfermidades cardiovasculares são fatores em saúde são os pilares essenciais da vigilância passiva
de risco para agravamento da COVID-194, esta população (ou de participação popular) e também desencadeiam
assume importância epidemiológica, em termos de atividades de busca ativa a partir de uma notificação
agravamento dos casos e prognósticos desfavoráveis positiva realizada pelo morador.
em decorrência da infecção por SARS-CoV-2.

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Dessa forma, em 15 de abril de 2020 foi publicada


a Nota Informativa Nº 9/2020-CGZV/DEIDT/SVS/MS
que discorre sobre "Recomendações para adequações
das ações de vigilância e cuidado ao paciente com
doença de Chagas frente à situação epidemiológica
da COVID19"7. Na referida nota foram sugeridas
adaptações às atividades de vigilância epidemiológica
e entomológica, principalmente no que se refere ao
ambiente intradomiciliar e à vigilância da fase crônica
da doença. Sabe-se que estas adaptações propostas são
necessárias, entretanto, podem trazer consequências
a médio a longo prazo no controle dos triatomíneos e,
inevitavelmente, na detecção de casos e controle da
doença de Chagas.

Esta edição especial traz análises de indicadores


epidemiológicos e operacionais da vigilância da
doença de Chagas em 2020, de forma a mensurar
o possível reflexo da pandemia de Covid-19,
considerando uma doença tropical negligenciada
com população afetada em situação de intensa
vulnerabilidade social e econômica.

7
Metodologia

Casos novos de doença de Chagas | Mortalidade | Análise de tendência


e previsão da morbimortalidade por DC | Diagnóstico Laboratorial
| Distribuição de Benznidazol | Vigilância Entomológica
Casos novos de
doença de Chagas

Estudo observacional descritivo. Utilizou-se como fonte Ressalta-se que, tanto os dados registrados em 2019
de dados a base nominal, previamente tratada para como 2020, ainda são preliminares, tendo em vista que,
duplicidades, proveniente do Sistema de Informação para presente análise realizada, considerou-se o ano de
de Agravos de Notificação (SINAN), para os casos de início de sintomas dos casos de DCA.
doença de Chagas aguda (DCA) para o ano de 2019 e de
2020. Adotou-se a definição de caso confirmado de DCA
descrita no Guia de Vigilância em Saúde1 para descrição
do perfil sociodemográfico para o ano de 2020, por meio
de frequências absolutas e relativas e indicadores de
risco como a taxa de incidência.

Para o cálculo da taxa de incidência, utilizou-se a razão


entre o número absoluto de casos novos de DCA de
acordo com Região e Unidade Federada (UF) de infecção
e a população estimada para o ano de 2020, segundo
dados disponibilizados pelo Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE), multiplicando-se por 100
mil. Em caso de incompletude da variável de Unidade
Federada de infecção, utilizou-se a Unidade Federada
de residência. A letalidade foi expressa pela razão entre
o número absoluto de óbitos e de casos registrados
em 2020, multiplicado por 100. Calculou-se também a
proporção de notificações e de casos confirmados de
DCA ocorridos em 2020 em relação ao ano de 2019 por
mês de início de sintomas.

Os programas Epi-Info® versão 7.2.3.1 e Microsoft Office


Excel® 2010 foram utilizados para calcular frequências
relativas, médias (desvio padrão), medianas (intervalo),
taxa de incidência, letalidade dos casos e para
confecção de tabelas e gráficos.

9
Mortalidade
Para descrição da mortalidade relacionada entre DC
e COVID-19, foram utilizados os dados preliminares
de março a agosto de 2020 disponíveis no Sistema
de Informações sobre Mortalidade (SIM) e descritos
segundo Região e Unidade Federada de residência.
Para a causa básica, foi selecionada a variável
CAUSABAS e, para avaliação enquanto comorbidades
e causas antecedentes, foram utilizadas as variáveis:
LINHAA; LINHAB; LINHAC; LINHAD e LINHAII. Para
DC, selecionou-se o CID-10 B57 (incluídas ambas
as fases – aguda e crônica). Para COVID-19, o CID-
10 B34.2 (Infecção por coronavírus de localização
não especificada), e para Síndrome respiratória
aguda grave (SARS/SRAG) o código U04.9, conforme
“Orientações para codificação das causas de morte
no contexto da COVID-19” - SVS/MS8. Utilizou-se o
programa Microsoft Office Excel® 2016 para confecção
de tabelas e gráficos.

10
Análise de tendência
e previsão da
morbimortalidade por DC

Foi realizada análise a partir da série histórica de 2009   Para as séries sem tendências estatisticamente
a 2019 dos dados de incidência de DCA e mortalidade significativas, foi realizada a previsão a partir dos
por DC como causa básica, para as Regiões e Brasil. modelos de suavização das flutuações por média
Para casos de DCA foi considerado o ano de início de móvel simples ou ajuste exponencial simples. A
sintomas e para os óbitos por DC, os meses de janeiro escolha do melhor modelo também considerou
a agosto de cada ano, de forma a permitir comparação aquele com menor valor da média dos erros
com 2020. As taxas foram padronizadas por idade pelo quadráticos (MSE).
método direto, utilizando a população do Censo 2010 do
IBGE como padrão. As taxas padronizadas estimadas para 2020 foram
comparadas às observadas, de forma a identificar
Para avaliação das tendências temporais, foi utilizado possíveis alterações no padrão esperado. Foram
o software Joinpoint Regression versão 4.8.0.1, consideradas as séries temporais das regiões que
que permite a escolha do melhor modelo a partir permitiram calcular as taxas padronizadas por idade
de diferentes pontos de inflexão, avaliando se há com 10 anos ou mais observações.
mudanças significativas de tendência e diferentes
padrões na série temporal, utilizando o método de
permutação de Monte Carlo. Foram descritas a Variação
Percentual Anual (APC) e Variação Percentual Anual
Média (AAPC), com respectivos intervalos de confiança
(IC 95%) a partir do método paramétrico9.

A partir dos padrões de tendência do modelo


escolhido pelo Joinpoint, foi realizada a previsão das
taxas de incidência e mortalidade padronizadas por
idade para 2020, utilizando o programa Microsoft Office
Excel® 2016, considerando as seguintes situações:

  Para as séries com tendências estatisticamente


significativas, foi realizada a previsão a partir
dos modelos de regressão linear simples e ajuste
exponencial, adotando ausência de sazonalidade
anual. A escolha do melhor modelo considerou
aquele com menor valor da média dos erros
quadráticos (MSE) para a série histórica avaliada.

11
Diagnóstico Laboratorial
Realizada análise descritiva de requisições para
exames laboratoriais processados para doença de
Chagas por Unidades Federativas de solicitação (exceto
São Paulo, que não possuía dados para toda a série,
e Distrito Federal). Utilizou-se como fonte de dados
a base nominal proveniente do módulo Nacional
do Gerenciador de Ambiente Laboratorial – GAL, do
período de 2017 a 2020, através das variáveis de data
de processamento e data de liberação. Foram retiradas
duplicidades do campo - Paciente (não houve análise
de homônimos), e considerados tanto os exames
parasitológicos, sorológicos (IgM ou IgG) e moleculares
para DC, independente da fase da DC avaliada ou
doença/agravo da requisição.

12
Distribuição de Benznidazol
Trata-se de estudo retrospectivo do tipo descritivo
e exploratório com investigação fundamentada
em levantamento documental, cuja população
compreende todas as Unidades Federativas para as
quais o Ministério da Saúde destinou volumes do
medicamento benznidazol (BNZ) 100 mg no período de
2016 a 2020.

Os dados descritos foram recuperados dos relatórios


de saída de medicamentos do Sistema Integrado de
Administração de Material (SISMAT), tabulados em
software Business Inteligence (BI) e analisados no
programa Microsoft Office Excel® 365 para mensuração
de frequências absolutas e relativas, médias e
confecção de tabelas e gráficos.

13
Vigilância Entomológica
Foi realizada uma pesquisa quali-quantitativa com
aplicação de um questionário com as áreas técnicas
estaduais de entomologia sobre as adaptações na
condução das atividades entomológicas realizadas
a partir da emissão da declaração de pandemia de
COVID-19. Para tanto, questionário on line foi elaborado
utilizando a ferramenta do google forms e validado
internamente pelo GT-Chagas e GT-Entomologia
da Coordenação Geral de Zoonoses e Doenças de
Transmissão Vetorial (CGZV/DEIDT/SVS/MS).

O questionário era composto de 22 questões, sendo 12


objetivas e 10 subjetivas, entretanto, somente nove se
referiam às atividades voltadas para os triatomíneos.
Foi realizada uma análise descritiva com utilização de
frequências absolutas e relativas mediante as repostas
objetivas, além de uma avaliação qualitativa a partir
da transcrição das respostas/opiniões de técnicos
estaduais frente a pandemia.

14
Resultados

Casos novos de doença de Chagas | Mortalidade | Análise de tendência


e previsão da morbimortalidade por DC | Diagnóstico Laboratorial
| Distribuição de Benznidazol | Vigilância Entomológica
Casos novos de
doença de Chagas

Em 2020, foram confirmados 146 casos de DCA no Brasil,


com uma letalidade de 2% (3/146), sendo que todos
os óbitos ocorreram no estado do Pará. A região Norte
apresentou a maior taxa de incidência da doença
(Tabela 1). A maioria dos casos era do sexo masculino
e cerca de 6% das mulheres estavam gestantes.
A respeito da raça/cor, 85% dos casos declararam-
-se como pertencentes a cor parda (Tabela 2). A
maior proporção de indivíduos doentes por DCA foi
adultos jovens do sexo masculino (Figura 1). A forma
de transmissão mais frequente registrada foi a oral,
seguida da ignorada, sem identificação da provável
fonte de infecção (Figura 2). Ocorreu a redução de 47%
na notificação de casos suspeitos de fase aguda e 63%
de casos confirmados por DCA em 2020 em relação
a 2019 (Tabela 3). Visualmente, este decréscimo está
representado na Figura 3.

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Tabela 1 Número de casos e taxa de incidência de doença de Tabela 2 Perfil sociodemográfico de casos de doença de Chagas
Chagas aguda, segundo Região, Unidades Federadas de infecção aguda, segundo ano de início de sintomas. Brasil, 2020.
e ano de início de sintomas. Brasil, 2020.
Casos de DCA
Região/Unidade Taxa de incidência Variável
n o
% n %
Federada de Infecção* /100 mil habitantes
Sexo (N=146)
Rondônia 1 0,68 0,05
Masculino 93 63,70
Acre 1 0,68 0,12
Feminino 53 36,30
Amazonas 5 3,42 0,12
Gestante (n=53) 3 5,66
Roraima 0 0,00 0,00
Raça/cor (N=146)
Pará 129 88,36 1,49
Parda 125 85,62
Amapá 2 1,37 0,24
Branca 15 10,27
Tocantins 0 0,00 0,00
Indígena 4 2,74
Norte 138 95 0,74
Preta 1 0,68
Maranhão 0 0,00 0,00
Amarela 1 0,68
Piauí 0 0,00 0,00
Média DP
Ceará 0 0,00 0,00
Idade 33,80 18,27
Rio Grande do Norte 0 0,00 0,00
Paraíba 0 0,00 0,00 Fonte: Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN)/MS. Data de
atualização dos dados: março/2021. Dados preliminares, sujeitos à alteração.
Pernambuco 0 0,00 0,00
Alagoas 0 0,00 0,00
Sergipe 0 0,00 0,00
Bahia 3 2,05 0,02
Nordeste 3 2,05 0,01
Minas Gerais 1 0,68 0,00
Espírito Santo 0 0,00 0,00
Rio de Janeiro 3 2,05 0,02
São Paulo 0 0,00 0,00
Sudeste 4 2,74 0,00
Paraná 1 0,68 0,01
Santa Catarina 0 0,00 0,00
Rio Grande do Sul 0 0,00 0,00
Sul 1 0,68 0,00
Mato Grosso do Sul 0 0,00 0,00
Mato Grosso 0 0,00 0,00
Goiás 0 0,00 0,00
Distrito Federal 0 0,00 0,00
Centro-Oeste 0 0,00 0,00
Brasil 146 100 0,07

*Para Unidade de Infecção em branco, considerou-se a Unidade Federada de


Residência (8% dos registros).

Fonte: Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN)/MS. Data de


atualização dos dados: março/2021. Dados preliminares, sujeitos à alteração.

17
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120

100

80 39
nº Casos de DCA

60

40
62

20 3
9 2
14
8 9
0
0 a 9 anos 10 a 19 anos 20 a 59 anos 60 anos +

Feminino Masculino

Fonte: Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN)/MS. Data de atualização dos dados: março/2021. Dados preliminares, sujeitos à alteração.

Figura 1 Casos de doença de Chagas aguda, por faixa etária e sexo. Brasil, 2020.

Oral (75,34%)
Ignorada* (15,07%)
Vetorial (6,85%)

Outras** (2,74%)

*Além do campo preenchido como ignorado, incluiu-se campos em branco. **Forma acidental. Fonte: Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN)/MS.
Data de atualização dos dados: março/2021. Dados preliminares, sujeitos à alteração.

Figura 2 Distribuição de casos de doença de Chagas aguda, segundo provável forma de transmissão. Brasil, 2020.

18
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Tabela 3 Subnotificação da suspeição e da confirmação de casos


de doença de Chagas aguda. Brasil, 2019-2020.

2019 2020 Decréscimo


DCA
No No (%)

Notificações de suspeitos 4169 2193 47,39


Casos confirmados 387 146 62,27

Fonte: Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN)/MS. Data de


atualização dos dados: março/2021. Dados preliminares, sujeitos à alteração.

600

500
Nº de notificações suspeitos de DCA

400

300

200

100

0
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12
2019 2020 Mês de início de sintomas

80

70

60
Nº de casos de DCA

50

40

30

20

10

0
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12
Mês de início de sintomas
2019 2020

Fonte: Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN)/MS. Data de atualização dos dados: março/2021. Dados preliminares, sujeitos à alteração.

Figura 3 Distribuição de casos de doença de Chagas aguda, segundo mês de início de sintomas. Brasil, 2019 e 2020.

19
Mortalidade
No período de março a agosto de 2020, foram Tabela 4 Número de óbitos por COVID-19 e menção à doença
registrados 125.691 óbitos por COVID-19, dos quais 0,2% de Chagas como causa associada, segundo Unidade Federada e
Região de residência, março a agosto de 2020.
(n=207) faziam menção à doença de Chagas enquanto
comorbidade contribuiu para a morte – parte II da DO Óbitos por Óbitos por COVID-19
Total de
– com maior proporção nas regiões Sudeste e Nordeste UF/Região de COVID-19 com com CID-10 B57
óbitos por
(Tabela 4). A maioria destes óbitos era do sexo feminino residência CID-10 B57 nas outras linhas
COVID-19
na linha II da parte I
(52,66%) e da raça/cor parda (42,03%), e a média de
idade foi de 74 anos (DP±11,36) (Tabela 5), com 53% na Rondônia 1.208 1 0
faixa etária acima de 75 anos (Figura 4). Acre 448 1 0
Amazonas 3.344 0 0
Roraima 628 0 0
Pará 6.413 1 0
Amapá 811 0 0
Tocantins 604 0 0
Norte 13.456 3 0
Maranhão 4.007 0 0
Piauí 1.645 1 0
Ceará 9.455 3 1
Rio Grande do Norte 2.289 0 0
Paraíba 2.237 0 0
Pernambuco 7.698 9 1
Alagoas 2.517 3 0
Sergipe 1.562 1 0
Bahia 6.315 22 5
Nordeste 37.725 39 7
Minas Gerais 5.400 19 4
Espírito Santo 2.435 1 0
Rio de Janeiro 17.138 5 1
São Paulo 31.502 83 7
Sudeste 56.475 108 12
Paraná 3.391 5 1
Santa Catarina 2.062 0 0
Rio Grande do Sul 3.168 2 0
Sul 8.621 7 1
Mato Grosso do Sul 753 0 0
Mato Grosso 2.508 2 0
Goiás 4.244 32 4
Distrito Federal 1.909 16 1
Centro-Oeste 9.414 50 5
Brasil 125.691 207 25

Fonte: Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM)/MS. Dados preliminares.


Atualizado em dezembro/2020.

20
Boletim Epidemiológico | Secretaria de Vigilância em Saúde | Ministério da Saúde Número Especial | Abr. 2021

Tabela 5 Perfil sociodemográfico dos óbitos por COVID-19 com


CID-10 B57 na linha II da DO. Brasil, março a agosto de 2020 Em relação aos óbitos por doença de Chagas como
causa básica, no período de março a agosto de 2020
Óbitos por COVID-19 foram registrados no país 1.746 óbitos, dos quais 29
Variável com CID-10 B57 na linha II registros mencionam a COVID-19 ou SRAG enquanto
n % comorbidades que tenham agravado ou contribuído
Sexo (n=207)     tanto de forma direta ou indireta na cadeia causal do
masculino 98 47,34 óbito (partes I e II da DO), com maior proporção também
nas regiões Sudeste e Nordeste (Tabela 6).
feminino 109 52,66
Raça/cor (n=207)    
Parda 87 42,03
Branca 83 40,10
Preta 22 10,63
Amarela 1 0,48
Indígena 0 0,00
Branco/Ignorado 14 6,76
Escolaridade (n=207)    
Sem escolaridade 38 18,36
Fundamental I (1 a 4 série)
a a
62 29,95
Fundamental II (5 a 8 série)
a a
31 14,98
Médio (antigo 2o Grau) 16 7,73
Superior incompleto 0 0,00
Superior completo 5 2,42
Branco/Ignorado 55 26,57
Média DP
Idade 74,30 11,36
Fonte: Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM)/MS. Dados preliminares.
Atualizado em dezembro/2020.

120

100

47
80
nº de Óbitos

60

27
40

62

20
16 34

5 9
3 4
0
35 a 44 45 a 54 55 a 64 65 a 74 75+
Faixa etária (anos)
Masculino Feminino

Fonte: Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM)/MS. Dados preliminares. Atualizado em dezembro/2020.

Figura 4 Óbitos por COVID-19 com CID-10 B57 na linha II, por faixa etária e sexo. Brasil, março a agosto de 2020

21
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Tabela 6 Número de óbitos por doença de Chagas e menção à COVID-19 ou SRAG como causa associada, segundo Unidade Federada
e Região de residência, março a agosto de 2020.

Total de óbitos por Doença de Óbitos por DC com CID-10 B34.2 Óbitos por DC com CID-10 B34.2 ou
UF/Região de residência
Chagas (DC) ou SRAG na linha II SRAG nas outras linhas da parte I
Rondônia 10 0 0
Acre 1 0 0
Amazonas 1 0 0
Roraima 1 0 0
Pará 9 0 0
Amapá 1 0 0
Tocantins 15 0 0
Norte 38 0 0
Maranhão 2 0 0
Piauí 17 0 0
Ceará 28 1 0
Rio Grande do Norte 9 0 0
Paraíba 16 0 0
Pernambuco 58 2 3
Alagoas 46 0 0
Sergipe 3 0 0
Bahia 221 4 1
Nordeste 400 7 4
Minas Gerais 395 2 3
Espírito Santo 2 0 0
Rio de Janeiro 14 1 0
São Paulo 451 1 3
Sudeste 862 4 6
Paraná 81 0 0
Santa Catarina 3 0 0
Rio Grande do Sul 14 0 0
Sul 98 0 0
Mato Grosso do Sul 10 0 0
Mato Grosso 20 0 0
Goiás 261 3 1
Distrito Federal 57 2 2
Centro-Oeste 348 5 3
Brasil 1.746 16 13

Fonte: Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM)/MS. Dados preliminares. Atualizado em dezembro/2020.

22
Análise de tendência
e previsão da
morbimortalidade por DC

A análise de tendência para a incidência de casos Tabela 7 Resultados da análise de tendência da taxa de incidência
de DCA foi realizada apenas para as regiões Norte e padronizada de doença de Chagas aguda pelo Joinpoint, regiões
Nordeste, pois as demais apresentaram série temporal e Brasil, 2009 a 2019.
com menos de 10 anos com registros de casos pela
Tendência da taxa de Incidência ajustada 
enfermidade aguda. Para as regiões analisadas e para
Região   IC 95%  
o Brasil, o melhor modelo definido pelo Joinpoint foi Período  APC  AAPC  valor P 
com nenhum ponto de inflexão, ou seja, a tendência LI LS
apresenta-se a mesma para todo o segmento, Norte  2009-2019  7,94  7,94  2,8  13,3  0,00 
apresentando-se como tendência de acréscimo, e
Nordeste  2009-2019  6,00  6,00  -19,70  39,90  0,60 
estatisticamente significante para a região Norte e Brasil
Brasil  2009-2019  8,7  8,7  4,2  13,4  0,00 
(Tabela 7).
Nota: APC: Variação Percentual Anual (Annual Percentual Change); AAPC: Variação
As taxas de incidência padronizadas observadas Percentual Anual Média (Average Annual Percentual Change); IC 95%: intervalo de
confiança 95%
para 2020 estão abaixo dos valores estimados para o
Fonte: CGZV/DEIDT/SVS
Brasil e para as regiões analisadas, observando uma
redução, sendo que para o Brasil e região Norte, os
valores observados estão fora do IC 95% estimado e
mais próximos ao limite inferior. Já na região Nordeste,
observa-se que a taxa está entre os valores do IC 95%
estimado (Figura 5).

23
Boletim Epidemiológico | Secretaria de Vigilância em Saúde | Ministério da Saúde Número Especial | Abr. 2021

4,5
Norte

4
Taxa de incidência/100 mil hab.

3,5

3 3,01

2,5
2,17
2

1,5 1,33
1

0,5

0
2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021

Taxa padronizada Previsão 2020 IC 95% Expon. (IC 95%)

0,27
Nordeste
0,22
Taxa de Incidência/100 mil hab.

0,17

0,12

0,07 0,06

0,02 0,20

2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021
-0,03
-0,01
Taxa padronizada Média móvel Previsão 2020 IC 95%

0,9 Brasil
0,8
Taxa de incidência/100 mil hab.

0,7

0,6

0,5

0,4

0,3 0,27

0,2 0,19

0,1 0,10

0
2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021

Taxa padronizada Previsão 2020 IC 95% Expon. (IC 95%)

Nota: IC- Intervalo de Confiança.


Fonte: CGZV/DEIDT/SVS

Figura 5 Taxa de incidência padronizada por doença de Chagas aguda e previsão região Norte e Nordeste e Brasil, 2009 - 2020.

24
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Em relação à tendência de mortalidade, para todas as Tabela 8 Resultados da análise de tendência da taxa de mortali-
regiões e Brasil, o melhor modelo é aquele com nenhum dade padronizada pelo Joinpoint, regiões e Brasil, 2009 a 2019.
ponto de inflexão, ou seja, a tendência apresenta-se a
Tendência da taxa de mortalidade ajustada 
mesma para todo o segmento, apresentando-se como
sendo de redução, estatisticamente significante – exceto Região   IC 95%   valor
Período  APC  AAPC 
para a região Norte (Tabela 8). LI LS P 

Norte  2009-2019  -1,9 -1,9 -5,7 2,1 0,3 


As taxas de mortalidade padronizadas observadas para
Nordeste  2009-2019  -3,2  -3,2  -4 -2,4 0,000 
2020 estão abaixo dos valores estimados para o Brasil
e região Centro-Oeste. Para Norte e Nordeste, há uma Centro-Oeste  2009-2019  -3,4  -3,4  -4,2 -2,6 0,000 
redução, contudo os valores observados estão dentro Sudeste  2009-2019  -5,3  -5,3  -5,9 -4,7 0,000 
do IC 95% estimado, mais próximos ao limite inferior. Já Sul  2009-2019  -5,8  -5,8  -7 -4,7 0,000 
as regiões Sul e Sudeste obtiveram valores próximos ao
Brasil  2009-2019  -4,2  -4,2  -4,6 -3,8 0,000 
estimado (Figura 6).
Nota: APC: Variação Percentual Anual (Annual Percentual Change); AAPC: Variação
Percentual Anual Média (Average Annual Percentual Change); IC 95%: intervalo de
confiança 95%.
Fonte: CGZV/DEIDT/SVS

25
Boletim Epidemiológico | Secretaria de Vigilância em Saúde | Ministério da Saúde Número Especial | Abr. 2021

1 Norte Nordeste 5,5


Centro -Oeste
5
1,5
4,5

Taxa de mortalidade/100 mil hab.

Taxa de mortalidade/100 mil hab.


0,8
4 4,00
Taxa de mortalidade/100 mil hab.

1,10 3,5 3,416


0,6 1 0,95 3
2,83
0,79 2,5
0,4 0,42
2

0,30 0,5 1,5

0,2 1
0,18
0,5

0 0
0
2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021
2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021
Taxa padronizada Regressão linear Previsão 2020 IC 95%
Taxa padronizada Média móvel Previsão 2020 IC 95% Taxa padronizada Regressão linear Previsão 2020 IC 95%

1 2
3
Sudeste Sul Brasil
2,7

2,4 0,8
1,5

Taxa de mortalidade/100 mil hab.


Taxa de mortalidade/100 mil hab.

2,1
Taxa de mortalidade/100 mil hab.

1,8 0,6 1,15


1,06
1
1,5 0,96
1,26 4,41
1,2 0,4
1,09
0,9 0,92
0,30 0,5

0,6 0,2
0,18

0,3

0 0
0
2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021
2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021
Taxa padronizada Regressão linear Previsão 2020 IC 95% Taxa padronizada Regressão linear Previsão 2020 IC 95% Taxa padronizada Regressão linear Previsão 2020 IC 95%

Nota: IC- Intervalo de Confiança.


Fonte: CGZV/DEIDT/SVS

Figura 6 Taxa de mortalidade padronizada por doença de Chagas e previsão por regiões e Brasil, janeiro a agosto, 2009 - 2020.

26
Diagnóstico Laboratorial
No Brasil foram registradas 29.003 requisições de Tabela 9 Número de requisições de exames laboratoriais para
exames para DC em 2020 (Tabela 9), sendo 48,2% DC, por ano de processamento e UF/regiões de solicitação, 2017
a 2020.
(13.988) oriundas da região Nordeste, 33,7% (9.777)
da região Norte, 8,2% (2.384) do Sudeste, 6,3% (1.817) No de requisições
UF/Região
do Centro-oeste e 3,6% (1.037) para região Sul, com de requisição 2017 2018 2019 2020
destaque para os estados da Bahia e do Pará. A maioria
destas requisições era para pacientes do sexo feminino Rondônia 2.011 1.671 1.170 859

(59,89%) e da raça/cor parda (36,48%), com a faixa- Acre 1.786 1.645 1.565 704
etária predominante de 20-59 anos (67,81%) (Tabela 10). Amazonas 124 394 751 105
Roraima 14 47 49 20
Pará 5.876 7.764 9.123 6.357
Amapá 760 97 710 218
Tocantins 2.205 1.876 2.379 1.514
Norte 12.776 13.494 15.747 9.777
Maranhão 221 177 151 66
Piauí 630 83 592 331
Ceará 3.107 3.441 3.989 2.800

Rio Grande do Norte 2.283 3.306 2.189 1.598

Paraíba 335 480 396 209


Pernambuco 1.967 2.373 2.705 1.240
Alagoas 238 184 511 183
Sergipe 168 183 383 257
Bahia 1.296 6.258 11.166 7.304
Nordeste 10.245 16.485 22.082 13.988
Minas Gerais 2.222 2.309 3.467 2.056
Espírito Santo 416 439 541 283
Rio de Janeiro 137 125 117 45
Sudeste 2.775 2.873 4.125 2.384
Paraná 1.318 412 1.207 777
Santa Catarina 190 160 183 103
Rio Grande do Sul 320 451 247 157
Sul 1.828 1.023 1.637 1.037
Mato Grosso do Sul 1.923 2.040 1.702 987
Mato Grosso 169 168 131 57
Goiás 425 961 1.168 773
Centro-Oeste 2.517 3.169 3.001 1.817
Brasil 30.141 37.044 46.592 29.003

Fonte: Gerenciador de Ambiente Laboratorial. Nota: Sem dados da UF de São Paulo e


Distrito Federal. Consideradas requisições processadas e liberadas no mesmo ano.

27
Boletim Epidemiológico | Secretaria de Vigilância em Saúde | Ministério da Saúde Número Especial | Abr. 2021

Tabela 10 Perfil sociodemográfico de requisições de exames


laboratoriais para doença de Chagas. Brasil, 2020.

Requisições de diagnóstico laboratorial


Variável 2020
n %
Sexo (n=29.003)
Masculino 11620 40,06
Feminino 17371 59,89
Ignorado 12 0,04
Raça/cor (n=29.003)
Parda 10582 36,48
Amarela 4750 16,37
Branca 4298 14,81
Preta 1304 4,4
Indígena 125 0,43
Branco/Ignorado 7944 27,39
Faixa etária (n=29.003)
0 a 19 anos 4287 14,78
20 a 59 anos 19668 67,81

60 anos + 5048 17,4

Fonte: Gerenciador de Ambiente Laboratorial. Nota: Sem dados da Unidade Federada


de São Paulo e Distrito Federal. Consideradas requisições processadas e liberadas
no mesmo ano.

Houve uma redução de 24% no número de requisições


processadas em 2020 em comparação à média de 2017
a 2019, com maior variação nos meses de abril a julho
(Figura 7). A região Centro-Oeste apresentou a maior
média de variação mensal dos meses de março a
dezembro, com redução média de 42% (IC 95%: 28%-56%),
seguida da região Norte, com 39% (IC 95%: 25% -53%).

28
Boletim Epidemiológico | Secretaria de Vigilância em Saúde | Ministério da Saúde Número Especial | Abr. 2021

Norte Nordeste Centro-Oeste


1600 100% 2000 107% 110% 300 100%

80% 1800 90% 80%


1400
250
60% 1600 70% 51% 60%
1200
40% 1400 50% 40%
200
31%
1000 20%

Nº de requisições

Nº de requisições
20% 1200 30 %
Nº de requisições

10% 33%

Variação %
Variação %
Variação %
-1%
-8% -3% 1000 10% 150 0%
800 0% 0%
-5% -13% -17%
-21% -20% 800 -10% -20%
600 -20% -31% -36% -29% -24%
100 -29%
-35% -40%
-48%
-37%
-40% 600 -26% -41% -42% -27%
-30% -54% -52%
400 -45% -61%
-64% -60%
-60% 400 -50% 50 -59%

200 -70% -80%


-75% -70% -80% 200 -67% -70%

-100% 0 -90% 0 -100%


0 jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov dez
jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov dez jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov dez
mês mês
Média 17-19 2020 variação % mês Média 17-19 2020 variação %
Média 17-19 2020 variação %

450 Sudeste 100% Sul 4500 Brasil 100%


180 100%
77% 80%
400 80% 4000
160 80%

60% 60%
350 60% 3500
140
39% 40%
40% 40% 30 00
30 0 120
Nº de requisições

17%
20%

Nº de requisições
20%

Variação %
20%
Nº de requisições

2500
Variação %

250 17% 0% 6% -1%


100

Variação %
5% 0%
0% 0% -11%
200 -9% 2000 -23% -19%
-24% -22% 80 -22% -20%
-20% -33%
-34% -20%
-19% -27% -12% 1500 -46%
150 60 -29% -40%
-40% -46% -30% -35%
-31% -40%
100 -45% 1000
-51% -60% 40 -49% -60%
-55% -55% -57% -60% -56%
-68% 500 -69%
50 -80% -68% -80%
20 -80%

0 -100% 0 -100%
jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov dez 0 -100% jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov dez
jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov dez mês
Média 17-19 2020 variação % mês mês Média 17-19 2020 variação %
Média 17-19 2020 variação %

Sem dados da Unidade Federada de São Paulo e Distrito Federal. Requisições processadas e liberadas no mesmo ano.
Fonte: Gerenciador de Ambiente Laboratorial

Figura 7 Número de requisições de exames laboratoriais para doença de Chagas e variação percentual entre 2020 e a média 2017-2019, por mês de processamento e regiões de solicitação.

29
Distribuição de Benznidazol
No período de 2016 a 2020, foram distribuídos 1.450.100 Tabela 11 Distribuição de comprimidos de benznidazol 100 mg,
comprimidos de benznidazol 100 mg, sendo 23,8% segundo Unidade Federada e região. Brasil, 2016 a 2020.
(344.600) em 2016, 17,7% (256.100) em 2017, 19,5%
UF/Região de Comprimidos de Benznidazol 100 mg
(283.700) em 2018, 18,9% (274.500) em 2019 e 16,6%
distribuição 2016 2017 2018 2019 2020
(241.200) em 2020, totalizando um investimento de R$
591.975,33. A região que recebeu um quantitativo médio Rondônia 1.000 600 1.000 1.000 300
maior foi a Norte seguida da Nordeste, tendo as UF do Acre 10.600 6.000 5.000 5.000 3.000
Pará, Minas Gerais, Bahia e São Paulo as maiores médias Amazonas 7.000 5.000 10.000 11.000 5.000
de recebimento de comprimidos do medicamento
Roraima 400 0 400 500 200
durante o período analisado (Tabela 11).
Pará 79.000 65.000 82.000 41.000 64.200
Amapá 8.500 11.000 13.000 10.000 0
Tocantins 6.000 4.000 4.000 3.500 4.000
Norte 112.500 91.600 115.400 72.000 76.700
Maranhão 4.500 0 11.000 5.000 2.000
Piauí 4.000 0 0 2.000 2.000
Ceará 10.400 15.000 10.000 10.000 10.000
Rio Grande do Norte 14.000 15.000 11.000 10.000 9.000
Paraíba 28.000 12.000 10.000 10.000 9.000
Pernambuco 13.500 16.000 9.000 32.000 7.000
Alagoas 2.400 2.000 2.000 5.000 1.000
Sergipe 2.000 0 0 1.500 2.000
Bahia 35.000 9.000 27.600 29.500 27.000
Nordeste 113.800 69.000 80.600 105.000 69.000
Minas Gerais 39.000 26.300 38.000 30.000 42.800
Espírito Santo 1.500 500 500 1.200 1.000
Rio de Janeiro 1.800 1.700 500 1.000 800
São Paulo 21.600 31.000 21.000 17.000 17.600
Sudeste 63.900 59.500 60.000 49.200 62.200
Paraná 3.600 4.500 1.500 2.000 4.000
Santa Catarina 1.400 0 0 500 400
Rio Grande do Sul 28.700 10.000 8.000 20.000 13.000
Sul 33.700 14.500 9.500 22.500 17.400
Mato Grosso do Sul 800 500 1.000 600 6.700
Mato Grosso 4.000 0 1.700 6.000 1.000
Goiás 9.900 6.000 3.500 7.500 5.500
Distrito Federal 6.000 15.000 12.000 11.700 2.700
Centro-Oeste 20.700 21.500 18.200 25.800 15.900

Brasil 344.600 256.100 283.700 274.500 241.200

Fonte: SISMAT.

30
Boletim Epidemiológico | Secretaria de Vigilância em Saúde | Ministério da Saúde Número Especial | Abr. 2021

No ano de 2020, houve uma diminuição na houve a perda de 51.485 comprimidos, todos com
distribuição de BNZ para os estados. Comparando vencimento em dez/2020. Devido à aproximação
2020 com a média de distribuição dos anos de 2016 da validade e a não dispensação do medicamento
a 2019, observa-se a diminuição nas entregas do para uso, foi encaminhada uma remessa para
medicamento após o decreto da pandemia pela os estados reporem o estoque, o que justifica o
Organização Mundial da Saúde (OMS) em 11 de março aumento da distribuição no final do ano de 2020. Vale
de 2020 (Figura 8). Com as dificuldades enfrentadas ressaltar que distribuição não significa dispensação
pelas Secretarias de Saúde estaduais e municipais, do medicamento e o seu uso, e sim a entrega de
devido às ações de enfrentamento da pandemia, quantitativos aos almoxarifados estaduais.

70.000

60.000

50.000

40.000

30.000

20.000

10.000

0
JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ

2020 MEDIA 2016 a 2019

Fonte: SISMAT

Figura 8 Distribuição de benznidazol por região, Brasil, 2016 a 2020.

140000

120000

100000

80000

60000

40000

2000 0

0
2016 2017 2018 2019 2020

Norte Nordeste Sudeste Sul Centro-Oeste

Fonte: SISMAT

Figura 9 Distribuição mensal de benznidazol 100 mg, Brasil, 2016 a 2020.

31
Vigilância Entomológica
O questionário foi respondido por 19 (70,4%) áreas
técnicas de entomologia estaduais. Percebeu-se uma Tabela 12 Percentual, média e desvio padrão da redução das
heterogeneidade de resposta entre as regiões, sendo atividades de busca ativa programada e entrega de insetos pela
a Nordeste aquela com o maior absenteísmo, 45%, população, por Unidade Federada, 2020.
seguida das regiões Norte e Sudeste, com 28% e 25%
Vigilância Ativa Vigilância Passiva
respectivamente. Considerando que a região Nordeste UF
é extremamente importante devido à diversidade e % Redução % Redução
distribuição de populações triatomínicas capazes de Alagoas 70% SI
colonizar o ambiente domiciliar, a falta de informação Bahia 60% 60%
em 45% dos estados impacta diretamente na análise
Minas Gerais 50% SI
proposta. Dos 19 estados respondentes, cerca de
Mato Grosso do Sul 70% SI
37% informaram que emitiram notas estaduais
complementares a Nota Informativa nº 9/2020-CGZV/ Mato Grosso 80% SI
DEIDT/SVS/MS, com a principal justificativa de Pernambuco 60% 50%
realizar uma adaptação da proposta a realidade Piauí 30% SI
local do estado.
Rio Grande do Norte 90% 90%

Para as análises exploratórias referentes à vigilância Rondônia 87% 50%


ativa, que consiste em busca ativa programada, somente Rio Grande do Sul 80% 90%
um estado (5,2%) indicou que não houve prejuízo Não realiza essa
Roraima 40%
na condução das atividades frente a pandemia de atividade
COVID-19. Do restante respondente, 94,8% dos estados Santa Catarina 70% SI
afirmaram não ter conseguido realizar ou ter realizado
Tocantins 30% SI
parcialmente as atividades e destes, 66% souberam
precisar qual o percentual de redução quando Média 64,75 29,2

comparado com o ano de 2019 (Tabela 12). Ressalta- Desvio padrão 19,9 35,6
se que o estado de Roraima realiza exclusivamente a Nota: SI – Sem informação.
vigilância passiva, então foi retirado desta análise. Fonte: dados compilados a partir de pesquisa com áreas técnicas estaduais
de entomologia.
Quanto à vigilância passiva, 26,3% dos estados
afirmaram não terem tido prejuízos na realização Em relação à avaliação quanto aos impactos
de busca ativa mediante notificação positiva de (positivos ou negativos) na condução das atividades
triatomíneos pelos moradores, entretanto, foi entomológicas de triatomíneos, a maioria dos estados
observada redução de 57,9% na notificação de insetos (79%) avaliaram como negativo. Um estado descreveu
pela população, quando comparado ao ano de 2019. aspectos positivos e negativos, um considerou apenas
Neste contexto, os estados do Rio Grande do Norte e aspectos positivos e dois se abstiveram.
Roraima são aqueles com maior percentual de redução
(Tabela 12). Como aspecto negativo, foi apontada a redução das
atividades, principalmente relacionadas ao ambiente
intradomiciliar, a redução na entrega de insetos pelos
moradores, pendências no diagnóstico laboratorial e
digitação no sistema. Como positivo, foi mencionado
o aumento de notificações através de plataformas
virtuais, com recebimento de fotos via e-mail e
Whatsapp, além da celeridade no envio de triatomíneos
aos laboratórios centrais para identificação taxonômica,
mediante aproveitamento dos veículos de transporte
das amostras para diagnóstico laboratorial de COVID-19.

32
Considerações
Finais
Em relação ao possível reflexo da pandemia na No contexto das atividades entomológicas para controle
morbimortalidade da DC em 2020, ressalta-se que a da DC, era esperada a redução das atividades de busca
análise de tendência se limitou ao tempo como variável ativa programada, uma vez que a Nota Informativa
independente. Todavia, as alterações nas taxas podem nº 9/2020-CGZV/DEIDT/SVS/MS restringia esta atividade
ser influenciadas por outros fatores epidemiológicos, somente às situações específicas, tais como: “em caso
sociodemográficos e operacionais. Apesar disso, tais de encontro de triatomíneos no intradomicílio pelo
avaliações permitem a detecção dos padrões para morador que tenha relatado picada pelo inseto; nas
morbimortalidade ao longo de uma série temporal e áreas com infestação domiciliar acima de 20%, ou em
formulação de hipóteses quanto aos fatores causais nas área suspeita de ser local provável de infecção em surto
variações observadas. de transmissão oral". Ademais, sabe-se que quando
programada, a busca ativa é realizada em todos os
Nesse sentido, destaca-se a redução da taxa de domicílios da localidade, o que confere um “n” amostral
mortalidade por DC no Brasil em 2020 além da estimada, normalmente elevado e diretamente proporcional ao
especialmente para o Centro-Oeste, e possíveis risco de transmissão da COVID-19.
fatores que podem estar associados, como uma maior
subnotificação ou dificuldades para diagnóstico no Referente a vigilância passiva, é fundamental a sua
período da pandemia. Brant et al.10, utilizando a base de priorização, não somente devido a pandemia, mas
dados pública do Registro Civil, identificaram o excesso também por esta atividade aumentar a sensibilidade
de mortalidade cardiovascular durante a pandemia de da busca ativa e ser a única alternativa de manutenção
COVID-19 em seis capitais brasileiras, principalmente da vigilância entomológica para municípios que
por causas não especificadas, que se correlacionaram possuem exclusivamente populações triatomínicas
com o aumento das mortes domiciliares, resultado silvestres. Para os estados que ainda não adotam a
possivelmente de dificuldades para o diagnóstico vigilância passiva é fundamental a sua implantação,
correto das causas específicas associadas às limitações garantindo a capilaridade dos Postos de Identificação
para acesso aos serviços neste período, reforçando a de Triatomíneos (PITs). Já para aqueles que têm
necessidade de mais estudos em relação aos registros a vigilância passiva implantada, o desafio atual é
dos óbitos cardiovasculares no período da pandemia e buscar estratégias de entrega do inseto evitando o
da relação entre doença de Chagas e COVID-19. deslocamento do morador, principalmente aqueles
que fazem parte do grupo de risco para COVID-19.
A subnotificação também pode estar associada à Neste contexto, é necessário apontar alternativas
redução da taxa de incidência observada, indo ao para a manutenção tanto das atividades de vigilância
contrário à tendência de aumento na região Norte e epidemiológica e entomológica, quanto para o
mesmo do país. Mascarenhas et al.11 analisando outra cuidado e proteção às pessoas com doença de Chagas
enfermidade de caráter agudo e epidêmico no país - enquanto grupo de risco, não só pelo fator biológico,
a dengue, apontam também um declínio do número mas considerando a vulnerabilidade socioeconômica.
de notificações da enfermidade no início de março, Entre tais medidas, além daquelas preconizadas
coincidentemente no período em que as ações de saúde para prevenção da transmissão de COVID-19, podem-
do país foram intensificadas para o combate à COVID-19. -se considerar:
Fato que sugere também o reflexo da pandemia em uma
possível subnotificação, principalmente num período   Ferramentas como telemedicina (teleconsultas
em que é esperado o aumento sazonal de casos de e telediagnóstico) para manutenção do
dengue no Brasil. acompanhamento dos pacientes, com o
monitoramento do tratamento e de sinais ou
Este cenário é reforçado pela diminuição em sintomas de piora da DC como: cansaço mais forte
indicadores operacionais, como a maior redução da do que o normal, sangramentos, dificuldade em
realização de exames diagnósticos nos meses com respirar ao deitar-se;
maior ocorrência de casos de COVID-19, assim como na
distribuição de BNZ e vencimento de estoque em 2020,   Estímulo à realização de atividades físicas
possível consequência da diminuição das atividades domiciliares, apresentando-se como uma proposta
de vigilância com menor detecção de casos, assim importante e viável, sobretudo para grupos
como da recomendação de postergar o tratamento vulneráveis, tendo em vista a restrição social gerada
antiparasitário na fase crônica, visando a proteção pela pandemia;
enquanto grupo com fatores de risco.

34
Boletim Epidemiológico | Secretaria de Vigilância em Saúde | Ministério da Saúde Número Especial | Abr. 2021

  Plataformas virtuais para intensificação oficial da


comunicação entre as vigilâncias epidemiológicas e
entomológicas locais, principalmente para atividades
de diagnóstico de espécies triatomínicas positivas
e desencadeamento oportuno tanto da busca ativa
entomológica, como da vigilância epidemiológica em
relação à investigação de casos suspeitos, quando
houver risco iminente para os moradores;

  Fortalecimento das associações de afetados pela


DC, bem como fomentar a estruturação de novas
associações nos estados, contribuindo para o
exercício do controle social do SUS, dando voz a
esta população ainda tão negligenciada.

É um grande o desafio compreender os impactos


relacionados a esta pandemia, tanto para os casos
novos da DC, tendo em vista a cronicidade da
enfermidade quando não tratados adequadamente,
bem como pela dificuldade ou redução considerável
da realização das atividades entomológicas
durante este período. Acrescenta-se a mortalidade
subdimensionada da doença, simultaneamente
à ocorrência de casos de COVID-19, em função dos
sistemas de saúde mostrarem falhas tanto na vigilância
como assistenciais, apesar do certo conhecimento
a respeito dos efeitos da COVID-19 em pacientes
cardiopatas. Esse fato pode resultar em sobrecarga
ainda maior no sistema, devido à necessidade de
intensificação dos cuidados. Desta forma, ações
coordenadas e pautadas em uma concepção de
saúde ampliada, atenta às diferenças entre grupos
e iniquidades em saúde, fazem toda a diferença.

35
Referências

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em Saúde. Coordenação-Geral de Desenvolvimento regression with applications to cancer rates.
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10. BRANT LCC. et al. Excess of cardiovascular deaths
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11. MASCARENHAS M. et. al. Ocorrência simultânea
3. DIAS JCP. et al. II Consenso Brasileiro em Doença de de COVID-19 e dengue: o que os dados revelam?
Chagas, 2015. Epidemiol. e Serv. Saúde. [citado 2021 Cad. Saúde Pública. [citado 2021 Abr 7]. 2020;
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COVID-19-related death using OpenSAFELY. Nature.
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Disponível em: https://bit.ly/2OxLD9p

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heart indicates new potential mechanism of heart
injury among patients infected with SARS-CoV-2.
Cardiovascular Research. [citado 2021 Abr 7];
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ly/3t3Rz9h

7. BRASIL. Ministério da Saúde. Nota Informativa nº


9/2020-CGZV/DEIDT/SVS/MS. Recomendações para
adequações das ações de vigilância e cuidado ao
paciente com doença de Chagas frente à situação
epidemiológica da COVID19. Brasília: Secretaria de
Vigilância em Saúde. [citado 2021 Abr 7]. Disponível
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8. BRASIL. Ministério da Saúde. Coronavírus -Covid -19.


Orientações para codificação das causas de morte
causas de morte no contexto da COVID-19. [recurso
eletrônico]. Brasília: Secretaria de Vigilância em
Saúde. [citado 2021 Abr 7]. Disponível em: https://bit.
ly/3uwgZwo

36
Biblioteca Virtual em Saúde do Ministério da Saúde
http://bvsms.saude.gov.br

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