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PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO PROCESSUAL CIVIL

MÓDULO: TEORIA GERAL E PROCESSO DE CONHECIMENTO

TEMA: SUJEITOS DO PROCESSO. LITISCONSÓRCIO. INTERVENÇÃO DE


TERCEIROS

Os "sujeitos do processo" são as partes, os advogados, os terceiros


que intervêm no processo, o juiz e os auxiliares da justiça, o Ministério
Público, a advocacia e a Defensoria Pública (arts. 70 a 187 do CPC).

O magistrado, como representante do Estado-Juiz no equacionamento


da lide, é quem dirige o processo. Espera-se, no exercício dessa
condução, que ele venha a "assegurar às partes igualdade de
tratamento" (art. 139, I CPC), devendo, para tanto, ser imparcial. Essa
imparcialidade traz, implicitamente, a ideia de que o magistrado possua
atributos que lhe permitam cumprir e fazer cumprir, com
independência, serenidade e exatidão, as disposições legais e os atos
de ofício.

Humberto Theodoro Júnior ensina que:

“No primeiro grau de jurisdição, os órgãos judiciários civis são


monocráticos ou singulares, isto é, formados apenas por um juiz. Nos
graus superiores (instâncias recursais), os juízos são coletivos ou
colegiados, formando tribunais, compostos de vários juízes, que, às

vezes, recebem denominações especiais como as de desembargador


ou ministro. A Constituição de 1988 criou, outrossim, a figura do Juiz de
Paz, que deve ser eleito pelo voto popular, com competência definida
por lei ordinária, para o procedimento de habilitação e celebração do
casamento, e para exercer atribuições conciliatórias, sem caráter
jurisdicional (art. 98, II, CF/88)” 1.

A quebra da imparcialidade pode gerar suspeição ou impedimento do


Juiz (arts. 144 a 148 CPC), arguições que, uma vez apresentadas,
pretendem afastar o magistrado parcial da condução do processo.

O Ministério Público (MP) é órgão do Estado que, segundo


a Constituição Federal, é “instituição permanente, essencial à função
jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a defesa da ordem jurídica, do
regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis”
(art. 127, CF/88).

Neste sentido, em observância ao vigente Código de Processo Civil,


preleciona Daniel Amorim Assumpção Neves:

“O art. 778, § 1º, I, do Novo CPC permite ao Ministério Público


promover a demanda executiva nos casos previstos em lei. Há três
situações distintas a respeito da legitimação ativa do Ministério Público
para executar, ainda que em todos os casos exista expressa previsão

1
THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil, Vol 1, 61º ed, Forense,
2020.

legal atribuindo ao órgão essa legitimação, em consonância com a


exigência do art. 778, § 1º, I, do CPC” 2.

O promotor de Justiça, como integrante do Ministério Público, sabe que


deve estar atento "à defesa da ordem jurídica, do regime democrático e
dos interesses sociais e individuais indisponíveis”. Se o norte de sua
atuação não é proteger interesses particulares disponíveis, deve,
mesmo quando figurar como o autor de ação, ser imparcial em sua
conduta.

Já o advogado representa a parte em juízo (art. 103 CPC), devendo,


para tanto, estar inscrito regularmente na Ordem dos Advogados do
Brasil. Por representar aquele que está em conflito, o advogado, no
processo judicial, "contribui, na postulação de decisão favorável ao seu
constituinte, ao convencimento do julgador" (art. 2º, § 2º, da Lei
8.906/94).

As partes vão a juízo, representadas pelos advogados, defender seus


interesses. São, obviamente, parciais, todavia, se sujeitam aos deveres
de lealdade e cooperação, sob pena de responderem com multa e
mesmo sanções penais conforme disposto nos arts. 77 e 80 do CPC.

O art. 149 do CPC dispõe sobre os auxiliares da Justiça. Os auxiliares


da justiça são todos aqueles que participam do processo no sentido de
implementar a prestação jurisdicional. Suas atribuições são
determinadas pelas normas de organização judiciária. São eles o

2
NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Manual de direito processual civil: volume único. 13º
ed, Juspodivm, 2021.

escrivão, o chefe da secretaria, o oficial de justiça, o perito, o


depositário, o administrador, o intérprete, o tradutor, o mediador, o
conciliador judicial, o partidor, o distribuidor, o contabilista e o regulador
de avarias.

Os auxiliares da justiça são permanentes ou eventuais. Os


permanentes são os auxiliares que aparecem em todos ou quase todos
os processos, por exemplo, o escrivão, o oficial de justiça e o
distribuidor. Já os eventuais são os auxiliares que atuam em certos
tipos de processos, aparecendo nas relações processuais de forma
esporádica, como, por exemplo, os intérpretes ou os peritos.
Ao que se vê, os sujeitos de um processo judicial têm características
próprias, estando cada um deles atento às finalidades de sua atuação
no litígio submetido ao Poder Judiciário.

Litisconsórcio significa pluralidade de partes na instauração da lide.


Tecnicamente, dá-se o nome de litisconsórcio quando duas ou mais
pessoas litigam, no mesmo processo, em conjunto, ativa ou
passivamente (art. 113 do CPC). É hipótese, portanto, de acúmulo
3
subjetivo (de partes) no processo . Admite-se litisconsórcio em
qualquer processo ou procedimento, inclusive nas causas da
competência dos Juizados Especiais (art. 10 da Lei no 9.099/95).

Segundo Alexandre Freitas Câmara, pode ser conceituado como sendo


“a situação caracterizada pela coexistência de duas ou mais pessoas

3
BUENO, Cassio Scarpinella. Manual de Direito Processual Civil, 7º ed. Saraiva, 2021.

do lado ativo ou do lado passivo da relação processual, ou de ambas


as posições. Seus objetivos guardam relação ao princípio da economia
processual, principalmente ante a possibilidade de se obter um
resultado mais efetivo no processo, com menos dispêndio de energia e
tempo” 4.

Conforme Daniel A. Assumpção Neves, “tradicionalmente se utilizam


quatro critérios para classificá-lo, a saber: 1) A posição processual na
qual foi formado; 2) Momento de sua formação; 3) Obrigatoriedade ou
não; 4) O destino dos litisconsortes no plano material” 5.

Posição processual na qual foi formado: Quanto à sua posição,


pode ser classificado como ativo, passivo ou misto. Será ativo quando
se verificar que a pluralidade se encontre exclusivamente no polo ativo
da demanda judicial; será, por sua vez, passivo se a multiplicidade de
sujeitos se apresente apenas no polo passivo. E, por fim, será misto o
litisconsórcio se a pluralidade de sujeitos for verificada em ambos os
polos da relação jurídica processual.

Momento de sua formação: De acordo com o critério do momento de


sua formação, é classificado em litisconsórcio inicial (originário) e
ulterior (posterior, incidental ou superveniente). Litisconsórcio originário
(inicial) – é aquele formado desde a propositura da ação, já existindo
no momento em que a petição é apresentada em juízo. Poderá ser
também ulterior (posterior, incidental ou superveniente), quando for

4
CAMARA, Alexandre Freitas. O novo processo civil Brasileiro,6º ed. Atlas, 2020.
5
NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Manual de direito processual civil: volume único. 13º ed,
Juspodivm, 2021.

formado após o momento inicial de propositura da ação, vindo a se


verificar durante o trâmite do processual.

Quanto à obrigatoriedade: Quanto à obrigatoriedade ou não do


instituto, fala-se em litisconsórcio necessário ou facultativo. Como o
próprio nome já aduz, será necessário quando se verificar obrigatória
sua formação, enquanto no litisconsórcio facultativo, é apresentada
apenas a possibilidade, ficando em geral, a cargo do autor formá-lo ou
não. No entanto, embora o autor tenha a liberdade de formá-lo ou não,
o juiz pode limitar o número de sujeitos que o formam, como preleciona
o art. 113, §§ 1º e 2º, do CPC.

O art. 114 do CPC estabelece que o litisconsórcio será necessário por


disposição de lei ou quando pela natureza da relação jurídica
controvertida, a eficácia da sentença depender da citação de todos que
devam ser litisconsortes.

Suas hipóteses de cabimento encontram-se previstas no art. 113 do


CPC, onde se estabelece que ocorre o litisconsórcio quando duas ou
mais pessoas litigarem no mesmo processo em conjunto, ativa ou
passivamente e: “I – entre elas houver comunhão de direitos ou de
obrigações relativamente à lide; II – entre as causas houver conexão
pelo pedido ou pela causa de pedir; III – ocorrer afinidade de questões
por ponto comum de fato ou de direito.”

O juiz poderá limitar o litisconsórcio facultativo quanto ao número de


litigantes quando este comprometer a rápida solução do litígio ou
dificultar a defesa ou o cumprimento da sentença. Aqui, tem-se a figura

do litisconsórcio multitudinário, aplicando-se o § 1º e §2º do art. 113 do


CPC.

O destino dos litisconsortes no plano material

Prescreve o artigo 116 do CPC que o litisconsórcio será unitário


quando, pela natureza da relação jurídica, o juiz tiver de decidir o
mérito de modo uniforme para todos os litisconsortes.

Verifica-se que o Novo Código tratou de litisconsórcio necessário e


unitário em dois dispositivos distintos (art. 114 e 116), distinguindo com
facilidade um de outro.

A Intervenção de Terceiros está prevista na parte geral do CPC, no


Livro III, Título III, estando disciplinada a partir do artigo 119.
Resumidamente, a Intervenção de Terceiros a partir
do CPC/2015 passou a ter as seguintes modalidades: assistência;
denunciação da Lide; chamamento ao Processo; Incidente de
Desconsideração da Personalidade Jurídica e Amicus Curiae.

Da Assistência (arts. 119 e 120 do CPC)

A Assistência pode ser entendida como a modalidade de Intervenção


de Terceiros espontânea, cuja finalidade é que um terceiro estranho à
relação processual auxilie a parte em uma causa em que tenha
interesse jurídico.

Conforme ensina Elpídio Donizetti:

“Nos termos do atual art. 119, dá-se a assistência quando o terceiro, na


pendência de uma causa entre outras pessoas, tendo interesse jurídico
em que a sentença seja favorável a uma das partes, intervém no
processo para lhe prestar colaboração. Por exemplo: em uma ação de
despejo movida contra o locatário, em razão do fato de a sentença
poder influir na sublocação, pode o sublocatário ingressar como
assistente do réu” 6.

Tal modalidade poderá ser admitida em qualquer procedimento e em


todos os graus de jurisdição. Feito o pedido de assistência, as partes
terão o prazo de 15 dias para apresentar impugnação. Não sendo
realizada a impugnação neste prazo, ou não sendo o caso de rejeição
liminar (quando faltar ao terceiro interesse jurídico) o pedido será
deferido e o assistente ingressará no processo, recebendo-o no estado
em que se encontra, ou seja, não haverá novamente a prática de atos
já realizados.
Assistência pode se dar de duas formas: simples e litisconsorcial.

Da Assistência Simples (arts. 121 ao 123 do CPC)

A Assistência Simples é aquela realizada por terceiro que pretende,


apenas auxiliar uma das partes na vitória do feito. Para Marcus Vinicius
Rios Gonçalves: “A assistência simples é caracterizada pela

6
DONIZETTI, Elpídio. https://portalied.jusbrasil.com.br/artigos/340942335/assistencia-arts-119-a-
124-cpc-2015. Acesso em 14/02/2022.

intervenção de um terceiro em um processo para auxiliar uma das


partes, sendo apenas um sujeito daquele processo, e não é parte dele.
O assistente pode entrar no processo a qualquer tempo, recebendo
este da forma em que se encontra naquele momento. O interesse
jurídico do terceiro é fundamental para seu ingresso, também é preciso
que esse terceiro seja atingido pela sentença proferida” 7.

O assistente simples exercerá os mesmos poderes e estará sujeito aos


mesmos ônus processuais que o assistido, ou seja, não poderá exercer
os atos praticados pelo assistido, por exemplo, caso o assistido não
recorra de determinada decisão, o assistente não poderá recorrer.
Todavia, ressalta-se que, embora a atuação do assistente esteja
adstrita aos atos praticados pelo assistido, poderá o assistente ser
considerado o substituto processual do assistido caso este seja revel
ou omisso.

Além disso, ainda que haja a assistência simples, a parte principal


poderá reconhecer a procedência do pedido, desistir da ação ou
renunciar ao direito que se funda a ação ou transigir sobre direitos
incontroversos.

Por fim, havendo o trânsito em julgado da sentença do processo em


que o assistente interviu, este não poderá discutir a justiça da decisão
em processo posterior salvo se alegar e provar que foi impedido de
produzir provas suscetíveis de influir na sentença, em decorrência do

7
GONÇALVES, Marcus Vinicius Rios. Direito Processual Civil Esquematizado. Saraiva, 12º,
2021.

estado em que recebeu o processo ou no caso de provar que


desconhecia a existência de alegações ou provas das quais o
assistido, por dolo ou culpa, não se valeu.

Da Assistência Litisconsorcial (art.124 do CPC)

Disposta no artigo 124 do CPC, a assistência litisconsorcial restará


configurada quando o terceiro intervir no processo com a intenção de
formar um litisconsórcio ulterior, haja vista que a sentença irá influir na
relação jurídica entre ele e o adversário do assistido. Isto ocorre, pois,
o assistente litisconsorcial tem relação direta com a parte adversa do
assistido. Neste caso o assistente defende direito seu em juízo, em
litisconsórcio com o assistido.

Da Denunciação da Lide (arts. 125 ao 129 do CPC)

Conforme ensina Marcus Vinicius Rios Gonçalves:

“É a forma de intervenção de terceiros na qual estes são chamados ao


processo na qualidade de litisconsorte da parte que o chamou. A
denunciação da lide serve para que uma das partes possa exercer
contra terceiros seu direito de regresso, sendo utilizada nas ações
reivindicatórias ou de domínio. Tal modalidade de intervenção de
terceiro é admissível, por exemplo, ao alienante, na ação em que
terceiro reivindica a coisa cujo domínio foi transferido à parte, a fim de
que esta possa exercer o direito que da evicção lhe resulta” 8.

8
Ibidem.

O CPC, em seu art. 125 prevê a sua utilização em duas hipóteses:

a) ao alienante imediato, no processo relativo à coisa cujo domínio foi


transferido ao denunciante, a fim de que possa exercer os direitos que
da evicção lhe resultam, sendo permitida, neste caso, uma única
denunciação sucessiva, promovida pelo denunciado, contra seu
antecessor imediato da cadeia dominial ou quem seja responsável por
indenizá-lo, não podendo o denunciado sucessivo promover nova
denunciação;

b) àquele que estiver obrigado, por lei ou pelo contrato, a indenizar, em


ação regressiva, o prejuízo de quem for vencido no processo.

No tocante à citação do denunciado, esta deverá ser requerida na


petição inicial, sendo o denunciante o autor ou na contestação no caso
do denunciante ser o réu. No caso da denunciação ser feita pelo autor,
o denunciado poderá assumir a posição de litisconsorte do denunciante
e acrescentar novos argumentos à petição inicial, devendo, desta
forma, ser procedida à citação do réu.

Porém, sendo ela feita pelo réu, o artigo 128 do CPC, traz 3
consequências que podem ocorrer:

Denunciado contestar o pedido do Autor: nesta hipótese, o


processo prosseguirá, formando na ação principal um litisconsórcio
entre o denunciante e denunciado;

Denunciado for revel: ocorrendo tal situação, o denunciante poderá


deixar de prosseguir com sua defesa, eventualmente oferecida, bem

como abster-se de recorrer, restringindo sua atuação à ação


regressiva;

Denunciado confessar os fatos alegados pelo autor na ação


principal: neste caso, o denunciante poderá prosseguir com sua
defesa ou, aderindo a tal reconhecimento, pedir apenas a procedência
da ação de regresso. Todavia, pontua-se que a que a confissão do
denunciado não prejudica a defesa do denunciante (réu) na ação
contra o autor.

O julgamento da demanda principal será em conjunto com a


denunciação à lide, e, sendo o pedido da ação principal julgado
procedente, poderá o autor requerer o cumprimento da sentença
também contra o denunciado, nos limites da condenação deste.

Em relação a sucumbência, se a ação principal foi improcedente, então


significa que a denunciação da lide foi desnecessária e assim o
denunciante pagará as verbas de sucumbência em relação ao
denunciado.

Do Chamamento ao Processo (arts. 130 ao 132 do CPC)

Trata-se de direito do réu de chamar, para ingressar no polo passivo da


demanda, os demais responsáveis pelo cumprimento da obrigação.
Conforme ensina Sidnei Amendoeira:

“Pode-se conceituar o chamamento ao processo como modalidade de


intervenção de terceiro provocado pelo réu, em que será admitido
apenas no processo de conhecimento e que se funda no vínculo de

solidariedade entre chamante e chamado. O chamamento ao processo


trata-se de intervenção de terceiro que permite a formação de
litisconsórcio passivo por iniciativa do réu. Observa-se que o
litisconsórcio passivo formado pelo réu trata-se de uma exceção, pois a
facultatividade está sempre ligada à figura do autor” 9.

Diferencia-se da denunciação da lide, uma vez que nesta se tem a


ação de regresso e deve-se demonstrar que o denunciado é que
deverá responder pela condenação, no chamamento ao processo a
condenação é automática, estando, portanto, ligado a ideia de
solidariedade.

Não é uma modalidade de intervenção obrigatória, podendo ser feito


apenas pelo Réu, tendo por fim a economia processual, visto que não
seria necessário um novo processo de cognição exauriente para
regular a corresponsabilidade.

Tem cabimento nas seguintes hipóteses:

• Do afiançado, na ação em que o fiador for réu;


• Dos demais fiadores, na ação proposta contra um ou alguns deles;
• Dos demais devedores solidários, quando o credor exigir de um ou
de alguns o pagamento da dívida comum.

O chamamento ao processo deve ser realizado pelo réu no ato da


contestação, sob pena de preclusão. Além disso, a citação deverá ser

9
AMENDOEIRA JR., Sidnei. Manual de Direito Processual Civil: teoria geral do processo e
fase de conhecimento em primeiro grau de jurisdição. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2012.

promovida em 30 dias sob pena de ficar sem efeito o chamamento,


sendo tal prazo peremptório. O prazo de 30 (trinta) dias, todavia, não é
para a realização do ato em si, mas sim para que o réu implemente as
condições necessárias a realização da citação, como pagamento de
custas, cópias, endereços e etc.
Por fim, a sentença de procedência valerá como título executivo em
favor do réu que satisfizer a dívida, a fim de que a possa exigir, por
inteira, do devedor principal, ou, de cada um dos codevedores, na
proporção da sua quota.

Do Incidente de Desconsideração da Personalidade Jurídica (arts.


133 ao 137 do CPC)

A personalidade jurídica é um instituto que surgiu para incentivar o


desenvolvimento das atividades econômicas, ao possibilitar que as
pessoas naturais atuassem diretamente em negócios, assumindo
responsabilidades, porém, com o elemento da limitação do risco. Em
conjunto com a personalidade jurídica surgiu também a autonomia
patrimonial das pessoas jurídicas, que no Direito brasileiro é prevista
no artigo 1.024 do Código Civil, o qual dispõe que “os bens particulares
dos sócios não podem ser executados por dívidas da sociedade, senão
depois de executados os bens sociais”. A autonomia patrimonial é a
chave para possibilitar a limitação da responsabilidade dos sócios.

Conforme nos ensina o Prof. Gilberto Bruschi:

“A desconsideração da personalidade jurídica é fruto de construção


jurisprudencial que foi desenvolvida pela doutrina em todo o mundo. A
evolução dessa teoria também aconteceu no Brasil e hoje está inserida

nos textos legais pátrios, principalmente no art. 28 do Código de


Defesa do Consumidor e no art. 50 do Código Civil” 10.

Continua ainda o Prof. Gilberto Bruschi:

“ A teoria da desconsideração foi criada exatamente para aprimorar a


separação dos patrimônios, visando impedir a perpetuação de fraudes
e abusos de direito que se consumam sob a proteção da figura da
pessoa jurídica, sendo que ela, simultaneamente tem a intenção de
preservar o instituto da pessoa jurídica, ao mostrar que o problema não
reside no próprio instituto, mas no mau uso que se pode fazer dele e de
resguardar a própria pessoa jurídica que foi utilizada na realização da
fraude ao atingir nunca a validade de seu ato constitutivo, mas apenas
sua eficácia episódica” 11.

Conforme Fabio Ulhoa Coelho: “Todavia, o uso inadequado da


personalidade jurídica pode ensejar situações nas quais os sócios ou
administradores visam esquivar-se de quaisquer responsabilidades,
indevidamente, com base na autonomia patrimonial das pessoas
jurídicas” 12.

Nesse sentido, a doutrina da desconsideração da personalidade


jurídica (disregard doctrine) foi pensada inicialmente pela
jurisprudência, com o objetivo de solucionar situações abusivas, nas

10
BRUSCHI, Gilberto. Recuperação de Crédito, Ed. RT, 2º ed. 2019.

11
Ibidem.
12
COELHO, Fabio Ulhoa. Curso de Direito Comercial. 23º ed. São Paulo: Saraiva, 2019.

quais a personalidade jurídica e a sua autonomia patrimonial eram


usadas por administradores e sócios como um escudo de não
responsabilização e de não comprometimento de seu patrimônio, para
praticar atos prejudiciais a seus credores, como fraudes. Com a
desconsideração da personalidade jurídica, pode-se dizer que o
princípio da autonomia patrimonial da pessoa jurídica não é absoluto.

Conforme destaca Marlon Tomazette, “a utilização da desconsideração


da personalidade jurídica não destrói a pessoa jurídica. Não há
dissolução da personalidade jurídica. A desconsideração é aplicada
apenas em relação a uma situação concreta, não estendendo seus
efeitos para as demais relações jurídicas das quais a pessoa jurídica
faça parte” 13.

No incidente de desconsideração há a ampliação do objeto do


processo. Isso significa que o requerimento de instauração do
incidente, quando formulado pela parte interessada ou pelo Ministério
Público, consiste em uma nova demanda em face do terceiro (a pessoa
que terá sua esfera jurídica atingida pela desconsideração). Trata-se
de uma ação incidental (i.e., uma ação que se formula e tramita dentro
de um processo já em curso), pela qual se pretende a desconstituição
da eficácia da personalidade de uma pessoa jurídica, para o fim de
atingir o patrimônio dela (quando o sócio é a parte originária no
processo) ou o patrimônio de seu sócio (quando ela é a parte
originária).

13
TOMAZETTE, Marlon. Curso de Direito Empresarial: Teoria Geral e Direito Societário. 6º
ed. São Paulo: Altas, 2018.

Segundo ainda o Prof. Gilberto Bruschi:

“De acordo com o que estabelecem o caput e o § 1º do art. 133, o


incidente obrigatório para deliberação acerca do requerimento de
desconsideração será instaurado pelos legitimados, ou seja, o credor
ou o Ministério Público (nas hipóteses em que atuar como guardião da
ordem jurídica), desde que preenchidos os requisitos previstos em lei,
conforme determinado pelo direito material” 14.
O incidente presta-se tanto à desconsideração em sentido estrito
quanto à desconsideração invertida (art. 133, § 2.º, do CPC/2015).

O incidente de desconsideração pode ser instaurado em qualquer fase


processual e em todas as modalidades de processo (art. 134 do
CPC/2015). Para tanto, basta que existam indicativos da presença dos
fundamentos materiais para a desconsideração e que ela seja
concretamente útil para os resultados do processo.

Se na própria petição inicial o autor já formular pedido de


desconsideração de personalidade jurídica, o sócio ou sociedade
atingido por essa providência será desde logo citado como réu no
processo. Ele será, desde o início, litisconsorte do réu da ação
principal. Nessa hipótese, não se instaurará o incidente do art. 133 e

14
BRUSCHI, Gilberto. Recuperação de Crédito, Ed. RT, 2º ed. 2019.

seguintes, do CPC/2015. O pedido de desconsideração será


processado juntamente com as outras demandas formuladas na inicial.

Conforme o Prof. Gilberto Bruschi: “Não reputamos interessante ao


credor requerer a desconsideração já na petição inicial, pois o
procedimento será mais lento do que formulado via incidente” 15.

Como indicado, o pleito de instauração do incidente de


desconsideração veicula uma demanda, uma ação incidental. Assim,
tal requerimento deve conter os elementos essenciais de uma ação:
identificação do réu, causa de pedir e pedido. No que tange à causa de
pedir, cumpre ao requerente demonstrar a configuração concreta de
alguma hipótese prevista no direito material para a desconsideração da
personalidade jurídica (arts. 133, § 1.º e 134, § 4.º, do CPC/2015).
Devem também ser indicados os meios de prova que pretende utilizar.

O incidente de desconsideração será resolvido por decisão


interlocutória (art. 136, caput, do CPC/2015). Se a decisão for de juiz
de primeiro grau, contra ela caberá agravo de instrumento (art. 1.015,
IV, do CPC/2015). Se for do relator, em recurso ou em ação de
competência originária do tribunal, caberá agravo interno (art. 136,
parágrafo único, do CPC/2015).

Para o Prof. Gilberto Bruschi: “Entendemos que, além da decisão que


julgar o incidente de desconsideração da personalidade jurídica,
também será agravável qualquer decisão interlocutória proferida
durante o procedimento do incidente, até mesmo aquela relacionada à

15
Ibidem, p. 269.

prova, eis que haverá preclusão na hipótese de não ser interposto


agravo de instrumento, não devendo ser aplicado, por extensão, os
parágrafos do art. 1.009” 16.

Do Amicus Curiae (art.138 do CPC)

O amicus curiae é um terceiro que ingressa no processo para fornecer


subsídios ao órgão jurisdicional para o julgamento da causa. Pode ser
pessoa natural ou jurídica, e até mesmo um órgão ou entidade sem
personalidade jurídica (art. 138). Exige a lei, para que se possa intervir
como amicus curiae, que esteja presente a representatividade
adequada, isto é, deve o amicus curiae ser alguém capaz de
representar, de forma adequada, o interesse que busca ver protegido
no processo.

Ensina o Prof. Cassio Scarpinella Bueno:

“[...] Não me parece nem um pouco despropositado equiparar o amicus


curiaea uma das funções que, entre nós, o Ministério Público sempre
exerceu e continua a exercer, a de fiscal da lei (custos legis) e, em
menor escala, ao perito ou, mais amplamente, a um mecanismo de
prova no sentido de ser uma das variadas formas de levar ao
Magistrado, assegurada, por definição, sua imparcialidade, elementos
que, direta ou indiretamente, são relevantes para o proferimento de
uma decisão” 17.

16
Ibidem.
17
BUENO, Cassio Scarpinella. Manual de Direito Processual Civil, 7º ed. Saraiva, 2021.

Registre-se, aqui, então, um ponto relevante: o amicus curiae não é um


“terceiro imparcial”, como é o Ministério Público que intervém como
fiscal da ordem jurídica. O amicus curiae é um sujeito parcial, que tem
por objetivo ver um interesse (que sustenta) tutelado.

Muito já se discutiu acerca do amicus curiae e de sua intervenção.


Seria mesmo seu ingresso no processo uma intervenção de terceiro?
Ou seria o amicus curiae um auxiliar da justiça? O CPC trata de seu
ingresso no processo como intervenção de terceiro, e isto se justifica
em razão do perfil que o amicus curiae veio, ao longo do tempo,
passando a ter no direito brasileiro.

Trata-se de uma intervenção que pode ser voluntária (já que, nos
termos do art. 138 do novo CPC, aquele que pretenda manifestar-se
como amicus curiae pode requerer seu ingresso no processo) ou
forçada (já que pode se dar por requerimento das partes, podendo
também ser determinada de ofício pelo juiz ou relator). Isto, por si só, já
é suficiente para diferenciá-la de todas as demais modalidades de
intervenção de terceiros.

Incumbe ao juiz ou relator, na decisão que admitir ou determinar a


intervenção do amicus curiae, definir quais serão seus poderes
processuais. Cabe ao magistrado, então, a decisão acerca da
possibilidade de o amicus curiae ir além da mera apresentação de uma
petição com os elementos que possa oferecer ao juízo (que, na
tradição do direito norte-americano, onde o amicus curiae é há muito
admitido, se chama amicus curiae brief). É possível, por exemplo, o
magistrado estabelecer que o amicus curiae poderá juntar documentos,
elaborar quesitos para serem respondidos por peritos, fazer

sustentação oral perante o tribunal, participar de audiências


públicas etc.

É preciso que juiz e partes, de forma cooperativa trabalhem para


construir, juntos, o resultado do processo, revelando-se assim um
mecanismo de realização e preservação dos direitos assegurados pela
Constituição da República.

- BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa


do Brasil - arts. 5º, LXXIV, 98, 127 e 170.

- BRASIL. Código de Processo Civil (2015). Lei nº 13.105, de 16 de


Março de 2015 - artigos 70 à 187; 113 à 138, 200 à 211, 291 à 293,
778,1.009, 1072).

- EMENTA: “PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. ENUNCIADO


ADMINISTRATIVO 3/STJ. AGRAVO INTERNO NO RECURSO
ESPECIAL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. LITISCONSÓRCIO PASSIVO
FACULTATIVO. ACÓRDÃO DO TRIBUNAL DE ORIGEM EM
CONSONÂNCIA COM A JURISPRUDÊNCIA DO STJ. SÚMULA
568/STJ. AGRAVO INTERNO NÃO PROVIDO.
1. O presente recurso atrai a incidência do Enunciado Administrativo
n. 3/STJ: "Aos recursos interpostos com fundamento no CPC/2015
(relativos a decisões publicadas a partir de 18 de março de 2016) serão

exigidos os requisitos de admissibilidade recursal na forma do novo


CPC".
2. A jurisprudência desta Corte entende que, nas ações civis públicas,
em relação aos danos ambientais, não existe a obrigatoriedade
de litisconsórcio passivo necessário entre os eventuais
corresponsáveis, sendo, em regra, hipótese de litisconsórcio
facultativo. Precedentes.
3. Agravo interno não provido..”
(AgInt no REsp 1860338 / AM, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL
MARQUES, SEGUNDA TURMA, julgado em 08/02/2021, DJe
11/02/2021)

- EMENTA: “PROCESSUAL CIVIL E CONSUMIDOR. RECURSO


ESPECIAL. AÇÃO INDENIZATÓRIA E COMPENSATÓRIA. DANOS
MATERIAIS E MORAIS. DEFEITO NA PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS.
DESISTÊNCIA PARCIAL. RÉU NÃO CITADO. RESPONSABILIDADE
SOLIDÁRIA. LITISCONSÓRCIO. NATUREZA. FACULTATIVA.
DEMAIS LITISCONSORTES. LITIGANTES DISTINTOS. ART. 117 DO
CPC/15. ANUÊNCIA. DESNECESSIDADE. DIREITO DE REGRESSO.
ART. 283 DO CC/02. EXERCÍCIO. AÇÃO AUTÔNOMA. ART. 88 DO
CDC.
1. Cuida-se de ação de indenização por danos materiais e de
compensação por danos morais, ajuizada por MARCIEL FURLAN DA
SOLER e OUTRA, em face da recorrente, de DEUSTCHE
LUFTHANSA AG e de EXCELÊNCIA VIAGENS E TURISMO, em
decorrência de defeitos na emissão de passagens aéreas com destino
internacional.
2. Recurso especial interposto em: 03/08/2017; conclusos ao gabinete
em: 15/05/2018. Aplicação do CPC/15.

3. O propósito recursal consiste em determinar se: a) em ações de


consumo, a desistência da ação em relação a um dos litisconsortes
passivos, devedores solidários, demanda a anuência dos demais
litisconsortes; e b) se a extinção da ação sem resolução do mérito em
relação a uma das fornecedoras, coobrigadas solidárias, impede o
exercício do direito de regresso da ré que eventualmente paga a
integralidade da dívida.
4. No litisconsórcio necessário, diante da indispensabilidade da
presença de todos os titulares do direito material para a eficácia da
sentença, a desistência em relação a um dos réus demanda a
anuência dos demais litisconsortes passivos. Precedentes.
5. No litisconsórcio facultativo, todavia, segundo o art. 117 do CPC/15,
os litisconsortes serão considerados litigantes distintos em suas
relações com a parte adversa, de forma que a extinção da ação em
relação a um deles, pela desistência, não depende do consentimento
dos demais réus, pois não influencia o curso do processo.
6. Nas ações de consumo, nas quais previstas a responsabilidade
solidária, é facultado ao consumidor escolher contra quem demandar,
resguardado o direito de regresso daquele que repara o dano contra os
demais coobrigados. Precedente.
7. Nessas circunstâncias, em que a responsabilidade pela reparação
dos danos causados ao consumidor é solidária, o litisconsórcio passivo
é, pois, facultativo.
8. Embora, em regra, o devedor possa requerer a intervenção dos
demais coobrigados solidários na lide em que figure isoladamente
como réu, por meio do chamamento ao processo, essa intervenção é
facultativa e seu não exercício não impede o direito de regresso
previsto no art. 283 do CC/02.

9. Nas ações de consumo, a celeridade processual age em favor do


consumidor, devendo o fornecedor exercer seu direito de regresso
quanto aos demais devedores solidários por meio de ação autônoma.
10. Recurso especial desprovido.”
(AgInt no CC 175.763/SC, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI,
TERCEIRA TURMA, julgado em 01/12/2020, DJe 01/12/2020)

- BRUSCHI, Gilberto Gomes. Recuperação de Crédito, Ed. RT, 2º ed.


2019.

- BRUSCHI, Gilberto Gomes. COUTO, Mônica Bonetti. Recursos


Cíveis Coleção Prática e Estratégia. Volume 8. Ed. RT, 2019.

- JORGE, Flávio Cheim. Teoria Geral dos Recursos. 8 ed. rev. atual.
ampl. São Paulo: RT, 2019.

- NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Manual de Direito Processual


Civil: São Paulo, Volume Único.13º ed. Juspodivm, 2021.

- SCARPINELLA BUENO, Cassio. Manual de Direito Processual Civil


– Vol. único. 7ª ed. São Paulo: Saraiva, 2021.

- JORGE, Flávio Cheim. Teoria Geral dos Recursos. 8 ed. rev. atual.
ampl. São Paulo: RT, 2019.

- CÂMARA, Alexandre Freitas. A intervenção do amicus curiae no novo


CPC.
http://genjuridico.com.br/2015/10/23/a-intervencao-do-amicus-curiae-
no-novo-cpc/
Acesso em 14/02/2022.

- PEIXOTO. Ravi. O tratamento processual dos litisconsortes. do


litisconsórcio ad processum ao litisconsórcio ad actum.
https://www.mprj.mp.br/documents/20184/1473819/Ravi+Peixoto.pdf
Acesso em 14/02/2022.

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