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https://lightnovelbrasil.com/mushoku-tensei-3-11/
— Zanoba, acorde. — Após dar um comando rápido a Cliff, fui até a porta e
apurei a audição.
Kree… kree…
Klak… klak…
Kee… kee…
Ah, merda. Eu realmente ouvi – e bem claramente. Parecia uma cadeira
rangendo. Na verdade, quando ouvi por mim mesmo foi meio assustador.
Contraí os lábios enquanto ativava o meu Olho da Previsão
Assim que confirmei que ele estava acordado, coloquei minha mão na
maçaneta. Então, lentamente, certificando-me de que não fazia barulho, abri a
porta. Olhei para o fim do corredor. Nada. Só para ter certeza, também olhei
para o lado oposto. Nada. Então para cima e para baixo. Nada.
Apurei os ouvidos, mas não consegui ouvir nada. O som havia parado.
— Enquanto você estiver protegendo as minhas costas, Mestre, não tenho nada
a temer.
— M-magia divina.
— Isso mesmo. Estou contando com você. — Zanoba seria nosso escudo, Cliff
usaria magia divina, e se isso não funcionasse, eu usaria meu Canhão de
Pedra. Estávamos prontos. — Zanoba, vamos.
Nossa investigação noturna começou.
— Aham.
Eu estava ficando nervoso. Meu coração bateu forte. Respirei fundo, mantendo
minha guarda alta no caso de algo nos atacar por trás enquanto descíamos as
escadas. Parecia que estávamos descendo para o inferno. Chegamos, por fim,
ao porão.
— E então? — perguntei.
— Zanoba, existe a chance de que ele possa estar escondido no lugar em que
dormimos, então tome cuidado ao abrir a porta.
—…
— Uff.
E lá estava.
—…
Foi então que se moveu. Elevou o seu corpo e saltou para o segundo andar. Era
do tamanho de um humano… mas não era humano. A coisa tinha quatro braços
e quatro pernas. Da escuridão de onde viera, brandindo o que parecia ser uma
estaca, galopando silenciosamente em quatro pernas enquanto corria a uma
velocidade inacreditável, direto para…
— Whoaaah!
— Zanoba!
Não perfurou. A pele abençoada de Zanoba era dura demais para o ataque da
criatura. S-sim! Esse é o meu aluno; sequer um arranhão, pensei.
Ele agarrou o rosto da coisa com ambas as mãos. Todos os oitos membros
daquilo se agitaram no ar enquanto sofria uma chuva de socos.
Cliff deu uma espiada para fora do cômodo em que estava para entoar um
encantamento.
— Invoco-lhe, Deus que abençoa a terra que nos nutre! Distribua punição
divina para aqueles tolos o suficiente para desafiar os caminhos
naturais! Exorcize! — A luz branca de seu cajado acertou a figura de quatro
pernas… mas não a impediu de se mover. Então não era um espírito?
— Por favor, espere, Mestre! — Zanoba não se moveu. Mesmo que a criatura
estivesse destruindo as suas roupas, ele não deu qualquer passo atrás. Por
quê?
— Tudo bem…
— N-não é?
Sua desculpa não foi nem remotamente convincente, mas, pensando bem, até
eu fiquei com medo. Eu não ia dizer nada.
— Mestre…
— Você me salvou lá atrás, Zanoba. Mas aquilo foi perigoso, sabe. Ao contrário
de um certo Rei Demônio, você não é imortal.
— I-isso é… um boneco?
Para ser sincero, era assustador demais para suportar… e poderia voltar a se
mover a qualquer minuto. Cliff tinha a mesma opinião. Ele estava com o cajado
pronto, com o olhar cautelosamente fixo no boneco.
— Mestre, esta é uma descoberta incrível! — Zanoba, por outro lado, não
conseguia esconder a sua empolgação.
Quando ele disse isso, percebi que estava correto. O boneco nos atacou.
— Sim. Estou feliz por não termos o destruído. Zanoba, seu julgamento foi
perfeito.
— Eu não esperaria menos. Seu olhar para bonecos já ficou mais apurado do
que o meu — falei, oferecendo alguns elogios e sorrindo para o meu pupilo.
— Não é hora para falar sobre que “coisa”? — Zanoba agarrou o rosto de Cliff
com uma das mãos e o ergueu no ar. Ah, já fazia algum tempo que eu não o via
fazendo esse truque.
— Ai, ai, ai! Existem monstros assim por aí, igual armaduras que se movem por
conta própria!
Monstros. Ouvir isso me fez lembrar do nosso objetivo inicial. O motivo para a
nossa presença não era capturar um boneco que se movia; era assegurar a
casa. Não que eu não pudesse matar dois coelhos com uma cajadada só.
Assim que Zanoba o deixou ir, Cliff logo entoou magia de cura para se
recuperar. Mas que bebezão.
— Hrm.
— Talvez seja melhor conferir de novo amanhã, quando tivermos luz do dia —
sugeriu Cliff.
— Mestre, este é um… boneco novo? — perguntou Julie. Pensei que ela podia
estar com medo, mas, em vez disso, parecia apenas curiosa. — Devo… limpar?
Havia uma forma escurecida na parede: uma porta escondida que não
tínhamos notado no escuro. Quando a casa foi construída, isso provavelmente
ficava escondido, mas com o passar do tempo, o desgaste do constante abrir e
fechar escureceu a área ao redor das dobradiças. Também havia marcas no
chão, por onde a porta abria.
— Bem, vamos entrar! — Cliff alegremente estendeu a mão para abrir a porta.
Me preparei para um possível ataque e concentrei meus olhos na porta, mas
Cliff então parou.
Conferi por mim mesmo. Ele tinha razão. Não havia maçaneta nem entalhe
para ajudar a abrir a porta. E também não parecia ser suposto que fosse algo
que devia ser aberto.
Balancei a cabeça. Mesmo que eu fosse renovar a maior parte da casa, não
queria danificar nada, caso pudesse evitar. Olhei para as marcas de arranhões
pelo chão. Eu não tinha dúvidas de que a porta poderia ser aberta, e que ela se
abriria para nós.
— Hm?
Percebi algo de estranho nas marcas. Começavam três tábuas à esquerda, não
alinhadas com o desgaste na parede.
Na minha vida anterior, havíamos feito uma viagem escolar a uma antiga
aldeia ninja que possuía uma porta secreta. Com essa memória em mente,
tentei pressionar a borda esquerda da porta. Soou um rangido, mas a porta
não abriu. Era pesada.
— Hrm.
Assim que ele o fez, a porta abriu com um rangido. Então o som que ouvimos à
noite foi esse, hein? Havia uma maçaneta pelo lado de dentro, então abri-la por
lá parecia ser mais fácil.
— Duvido que tenha alguma armadilha, mas, por favor, mantenham a guarda
— falei quando entramos, iluminando a sala com a minha lanterna. Era uma
sala apertada com uma única mesa, um pedestal de madeira e nada mais.
Havia vários livros e um frasco de tinta sobre a mesa. O tinteiro havia rachado
e seu conteúdo havia secado.
Estendi a mão, nervoso, para tocar. Não achei que fosse tomar um choque nem
nada, mas precisava ter certeza de que estava tudo inerte. Quando não houve
reação, voltei a minha atenção para um dos livros sobre a mesa. Poderia dizer
que ele tinha sido deixado ali por um bom tempo, mas, por sorte, não havia
sinais de que os insetos houvessem o infestado. Será que o boneco os
exterminava?
— Zanoba?
— Não consigo ler o texto, mas você deve estar certo — concordou ele.
Nós três olhamos para o livro e folheamos as páginas. A encadernação era bem
antiga e parecia poder ceder a qualquer momento. Havia setas desenhadas ao
lado dos esboços e palavras escritas abaixo delas, deviam ser anotações ou
comentários. Encontramos esboços dos braços do boneco, círculos mágicos e
mais flechas e anotações. As margens estavam repletas de rabiscos detalhados.
— Julgando só pelos esboços, isso parece com os círculos mágicos usados para
encantar implementos mágicos — murmurou Cliff.
— Sério?
— Então é isso.
Só por segurança, voltei a procurar em cada canto da casa e fiquei de olho nela
por mais alguns dias. Não apareceram mais sons durante a noite. Assim que
tive certeza de que estava seguro, fui à imobiliária para assinar o contrato
oficial. Quanto ao espírito maligno, falei que era um monstro diabólico que
estava empoleirado em um quarto escondido no porão da casa.
“Rudy, me possua!“
Sim, era provável que isso não acontecesse, mas pensar nisso me fez sorrir.
Espera. Ela não ficaria desapontada, não é? Tipo, “Ugh, Rudy, isso foi tudo que
você conseguiu?“
Não, Sylphie não era tão egoísta. Eu tinha certeza absoluta de que não era.
— Mestre?
— Pois não?
Encarei o seu olhar. Por trás de seus óculos redondos havia uma expressão de
determinação que eu nunca tinha visto antes.
Seria fácil garantir que isso não era verdade, mas eu sabia que essa era uma
de suas preocupações. Não pude sequer falar. Zanoba continuou:
Eu não tinha tanta certeza disso. Afinal, não poderia gastar todo o meu tempo
pesquisando bonecos. Deixar isso para Zanoba poderia ser mais benéfico.
Mas…
Não, espera. Era possível que fosse magia proibida. Talvez fosse melhor não
fazermos isso no campus, embora Nanahoshi estivesse fazendo algo
semelhante com sua pesquisa sobre círculos mágicos. Eu talvez pudesse pedir
para ela falar bem sobre mim, só por garantia. Afinal, ela era membro
de rank A da guilda.
— Por favor, Mestre! Quando seu plano estiver completo, não quero que a
minha única contribuição seja o dinheiro!
Ele parecia ter mal interpretado o meu silêncio com relutância. Então colocou
o pedestal de lado e se ajoelhou para mim, ambas as suas mãos abertas
enquanto se prostrava na neve.