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“No Rio de Janeiro, diferentemente do caso de Buenos Aires, apesar da grande influência dos

imigrantes, foram os próprios brasileiros que iniciaram esse processo. Primeiramente, com o
turfe, em seguida com o remo, e somente depois com o futebol. Um ponto comum nessa
gestão clubistica é o aparecimento do conceito de sportman seja, pelo menos para a elite, o
símbolo do bom atleta, daquele que consegue materializar no esporte os valores simbólicos e
reais da sua classe social, nada impedia as camadas populares de ressignificar esses valores e
recriar seu próprio ideal de sportman” Pág 30*

“A condição de um atleta amador não proporcionava às elites grande possibilidade de


mudança. O próprio amadorismo e a sua relação rigorosa com o modelo importado da
Inglaterra (extremamente técnico e pouco criativo) não lhes possibilitavam, por exemplo,
extrapolar as normas técnicas e aumentar o aspecto criativo do jogo. Na verdade, o futebol,
para as elites, passava muito mais pelo valor social e moral, do que pela qualidade esportiva”
Pág 31*

“Um om exemplo desse aspecto é quando há um aumento da competitividade entre os clubes


e, consequentemente, começa a se ganhar dinheiro com o futebol. Rapidamente, surge uma
prática que iria gerar a primeira grande movimentação no futebol: o chamado “amadorismo
marrom”. Ou seja, ao mesmo tempo que o “amadorismo marrom” se torna fundamental para
as elites, na medida em que possibilita a entrada de nos jogadores, tornando seus clubes mais
vitoriosos e lucrativos, favorece, também, as camadas populares, especialmente, jogadores
pobres e negros, que enxergavam aí uma possibilidade de melhorar suas condições de vida,
assim como maior facilidade para se inserir no mercado de trabalho” Pág 34 (ler a nota)

“... Muito mais do que vitórias e derrotas, o que está em jogo diante do “amadorismo
marrom” são: o conjunto de valores que as elites apontavam como modelo para a sustentação
do esporte, a ampliação das brechas que possibilitavam aos excluídos se inserirem no novo
espaço e, para ambos os lados, o rendimento financeiro que o novo projeto poderia gerar”
Pág 35

“As transformações foram sentidas rapidamente pelas camadas populares. Os trabalhadores


que iam jogar por esses clubes conseguiam algumas mordomias e, nesse sentido, aumentavam
seu padrão de vida. Isto deixa claro que, sem conflito, amos os lados se aproximavam de um
mesmo momento estrutural pelo qual passava o futebol, e, de formas diferentes, se
beneficiavam do mesmo evento” Pág 35

“Ainda assim, o processo não paralisou o surgimento de uma grande quantidade de clubes de
bairros pobres, assim como o aparecimento de jogadores que se destacavam pela sua
qualidade técnica, independentemente da cor da pele. O futebol, desse modo, além de
mostrar-se em plena conexão com questões sociais mais amplas, se desenvolve num cenário
de completa dinâmica, construindo uma via de mão de dupla que, sem dúvida, gerava
resultados para ambos os lados” Pág 44

“... os praticantes do esporte estavam de acordo com os mesmos princípios e valores do atleta
daquele período. Os jovens do Rio e de Buenos Aires deveriam ter sua conduta pautada por
cavalheirismo, dentro e fora do campo, que os colocariam como verdadeiros sportsmen e
efetivos membros do que existia de melhor na sociedade.”* Pág 50
“Sabemos que quando se disputa uma partida, seja ela entre clubes regionais ou entre
seleções, a característica mais marcante é o desejo de lutar pela vitória. Mesmo quando as
partidas são disputadas entre grupos não profissionais, essa busca pode assumir,
metaforicamente, o sentido de uma guerra. E, ainda assim, podemos dizer que o aspecto
lúdico continua presente” Pág 62

“Acreditamos que o esporte possui, em larga escala, a mesma dinâmica da guerra, ainda que
metaforicamente. Pois, afinal, o esporte é sempre marcado pelo duelo entre equipes ou
esportistas e, assim sendo, a luta pela vitória passa, de forma análoga, pelo sentido de se
vencer uma batalha, mesmo uma guerra” Pág 62

“A partir dessas breves citações de Clausewitz, fica mais claro, a meu ver, o sentido da guerra
que podemos levar para o esporte. O duelo, a rendição e a luta, desse modo, continuam sendo
válidos como metáforas no cenário esportivo. Da mesma forma que o clube, a seleção ou
mesmo a equipe pode assumir a figura de um Estado na definição dos planos de ataque e
defesa em busca da vitória” Pág 63

“Apesar das tentativas de sedimentar as barreiras sociais, as elites passavam a viver o


paradoxo da modernidade. As experiências do lazer, em especial as relativas ao futebol,
provocavam, ao mesmo tempo, como já mencionado, medidas de inclusão e exclusão. Nessa
disputa, a reconfiguração das identidades sociais passa a ser fato para as elites, na medida em
que a brecha para a inclusão, sobretudo no futebol, passa a ser também real às camadas
populares” Pág 69

“Concordo com o autor quando diz que o futebol deve ser tratado como fonte que privilegiou,
ou melhor, possibilitou a mobilidade social. Em nenhum momento isso é questionado; porém,
dizer que esse movimento foi feito sem racismo, sem segregação, parece-me um pouco
reduzido. Ou seja, a grande representação das camadas populares no futebol não deve anular
as dificuldades pelas quais elas passaram para alcançar tal condição” Pág 79

19/02/1942 Pág 2 – Folha da Manhã

“O profissionalismo, grande mal do nosso esporte”*

*Ao que dá a entender da matéria, os jogadores começam a cobrar financeiramente aos


clubes, para se inscreverem nos campeonatos. Isso para imprensa, contraria os princípios de
cavalheirismo e ética do futebol

06/07/1942 Pág 4 – Folha da Manhã


“Jogo de ontem no Adolfo Rolemberg”*
*O profissionalismo era visto como a causa da acomodação dos atletas – A imprensa
ainda era apegada a visão do futebol como formador do caráter do homem
20/07/1942 Pág 2 – Folha da Manhã
“O jogo de ontem entre rubros e azues”*
*O profissionalismo novamente é acusado como a causa do fraco rendimento do
17/06/1941 Pág 5 – Folha da Manhã
“O caso de C.S. Sergipe”*
*Aqui temos um importante ponto sobre a questão profissionalismo x amadorismo da
época: O Sergipe, passando por dificuldades financeiras, decidiu dispensar todos os
atletas que dependiam de auxílio financeiro, formando um time de apenas amadores.
A atitude do clube foi elogiada pelo jornal, pois, segundo o periódico, o clube pensou
no bem de toda a instituição. Percebe-se que o amadorismo ainda era exaltado na
época, ou seja: o sportsmem pratica o esporte pelo prazer de jogar, pelo seu valor
cívico e moral. Hoje, provavelmente essa notícia teria uma repercussão bem diferente.
17/10/1941 Pág 2 – Folha da Manhã
“Jamais deve ser admitida a violência”*
*O zelo pela “educação esportiva” era impressionante, já que todas as ações dos
jogadores deveriam seguir uma ética e moral vigentes no período. Essa completa
aversão a violência, está muito ligada ainda a conceitos da origem do futebol, como o
cavalheirismo, a civilidade e a ética: os sportsmem. Na década de 40, essa noção do
esporte que vai moldar um novo homem, persiste.
30/11/1944 pág 3 – Correio de Aracaju

“O time mais caro que já veio a Sergipe, o Galicia receberá três mil cruzeiros por cada jogo”*

21/12/1944 pág 5 – Correio de Aracaju

“O futebol de Sergipe carece ainda de mais malicia”*

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