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Orientações para acompanhamento comunitário

Desde o início da Fraternidade Pequena Via, têm-se tentado, a cada novo ciclo de coordenação,
realizar um acompanhamento, um pastoreio dos irmãos de fé. Entretanto, seja por falta de metodologia
adequada, por imaturidade espiritual dos próprios irmãos que pastoreiam ou por falta de organização
de tempo, via de regra o acompanhamento nunca frutificou ou frutificou de forma muito tímida e muito
aquém do que Deus pode fazer. São muitos os conflitos que passamos nessa vida e, ter um irmão mais
adiantado que nos ouve e nos orienta no caminho da santidade faz toda diferença em nosso crescimento
espiritual. E se crescemos espiritualmente, toda a comunidade cresce conosco.
Nesse sentido, gostaria de trazer algumas orientações para aqueles(as) que farão o
acompanhamento. Exigirá tempo, dedicação e. sobretudo, exigirá amar muito, como tudo aquilo que
fazemos para agradar ao Bom Deus.
No que se refere a você, acompanhador(a), a condição fundamental do pastoreio é ter vida
interior. Sem vida de oração diária, sem escuta da Palavra, sem vivência dos Sacramentos, você não
terá forças para pastorear ninguém. Na verdade, a “força” nunca é nossa, mas de Deus. Entretanto, tudo
na vida espiritual depende de um movimento nosso, de um sim em nosso livre-arbítrio, em nossas
escolhas; acessar essa força de Deus em nós exige um movimento ativo de nossa parte. Sem ela, somos
apenas uma concha sem pérola. Pode até ser uma bela concha, mas não guarda nenhum tesouro em seu
interior.
Dedique um tempo em sua vida de oração para apresentar a Deus aqueles que Ele lhe confia.
Peça a graça de olhar para cada um com o olhar que Ele os olha, com o olhar Daquele que fala com
sabedoria, ensina com amor. Peça a Deus o dom da fé, da esperança e da caridade.
Em cada conversa, tente tomar notas do que foi dito (mesmo que depois), para que possam
retomar alguns pontos na conversa seguinte. Isso ajuda no processo de crescimento e favorecerá sua
memória.
Lembre-se que nada do que o(a) irmã(o) lhe disser “lhe pertence”, logo, não é informação sua para
comentar a respeito com outras pessoas. O sigilo é fundamental.
No mesmo sentido, você não está ali para resolver os problemas da pessoa, mas ser uma pessoa
que escuta, que ouve com amor, que oferece presença sem julgamento, que orienta o acompanhado no
seguimento de Cristo. Diante de uma situação delicada apresentada, seja respeitoso(a) e cuidadoso(a).
Se não sabe o que orientar ou se não sente seguro(a) para aconselhar à luz da fé o acompanhado, peça
para a pessoa buscar a confissão e orientação de um sacerdote.
Sempre, sempre, sempre, após uma conversa de pastoreio, apresente a Deus tudo o que foi dito e
coloque aos pés da Cruz de Cristo as situações. Ele saberá o que fazer com isso. Se algo te inquieta o
coração, procure o nosso diretor espiritual para direcionamento.

Alguns pontos importantes, que podem e devem nortear as partilhas:


1. Vida Interior: Para orientar sobre vida interior, é preciso ter vida interior. A vida
interior se refere à vida com Deus, em Deus e por Deus. Este é o ponto mais importante de
todos, pois está no cerne os movimentos de vida. Converse com o acompanhado sobre como
está a vida de oração diária, a vida sacramental, a vivência da Palavra (lembrando que
Palavra de Deus não é apenas a Sagrada Escritura, mas também a Tradição e o Magistério
da Igreja). Tudo isso fala do irmão enquanto ser espiritual, de seu desejo de santidade, de seu
desejo de Vida Eterna. Orientá-lo nesse sentido é orientá-lo no caminho do Céu.
2. Vida Comunitária: Conduza a partilha a respeito do sentimento de pertença, dos
propósitos de vida comunitária que a pessoa tem feito, da sua vivência do vínculo na
Comunidade, de seu estado de vida, da importância do caminhar junto, dos trabalhos
apostólicos... Os movimentos comunitários andam juntos com a vida interior. Quanto mais a
pessoa avança na vida interior, mas ela se abre ao estar junto, ao “gastar” a vida com Deus,
em Deus e por Deus.
3. Vida Financeira: A nossa relação com o ter tem conexão com nossa relação com o
ser. Não que ter seja um problema, mas assim como tudo na vida, o ter precisa estar orientado
em Deus. Se não for assim, a vida interior e a vida comunitária também estarão seriamente
comprometidas, pois o ter incha e rouba o espaço que pertence unicamente a Deus. Ou seja, o
acompanhado não experimentará uma vida interior profunda nem conseguirá avançar na
vida comunitária sem se abrir para partilhar o que se tem, pois muito do que a pessoa faz (ou
não faz) na comunidade estará condicionado a favorecer o ter mais e mais, mesmo que a
própria pessoa não se aperceba dessa forma. Converse também sobre a participação da pessoa
na vida financeira da Comunidade (procure saber antes se a pessoa tem contribuído e, se sim,
de quanto tem sido essa contribuição e como ela poderia aumentar o valor com que partilha
com a Comunidade).
4. Vida Pessoal: Trabalho – Família – Relacionamentos. Converse sobre o trabalho
da pessoa, sobre como ela dá sentido sobrenatural ao que faz, sobre o equilíbrio do trabalho
na vida pessoal, afetiva, espiritual. Reflita com o acompanhado sobre o tempo que se dedica
a cada aspecto da vida ou à falta dele. Para um irmão que busca a vida em Deus, nada está
fora, tudo se conecta. Caminhe no entendimento de como a família participa da vida da pessoa.
Ouça sobre seus relacionamentos. A afetividade e sexualidade em desequilíbrio, vividas fora
do projeto de amor de Deus, nos distancia da vida interior, nos distancia da vida sacramental,
da vida comunitária, etc. Se necessário, oriente a pessoa a conversar com o sacerdote.

Sobre a forma de conduzir a partilha de acompanhamento, os passos a seguir podem ajudar:


1. Oração: Deus dá os dons do Espírito Santo para serem usados em vista da nossa
santificação e do bem comum. Por isso, é imprescindível utilizá-los na oração que dá início ao
acompanhamento. Essa é a primeira etapa e a mais importante, pois é a partir dela que Deus
vai se manifestar, dizendo ou mesmo conduzindo aquilo que Ele deseja para a pessoa que está
sendo acompanhada.
2. Escuta atenta: A segunda etapa é marcada pela escuta atenta e acolhedora
daquilo que a pessoa tem para partilhar. Pode-se fazer antes uma partilha da oração e a partir
daí tocar nos pontos que Deus for revelando e/ou nos pontos sugeridos acima. Mas o mais
importante é deixar a pessoa falar aquilo que o Senhor mesmo colocar em seu coração. O
acompanhamento é o lugar favorável em que a pessoa pode contar suas dores e suas alegrias
sem interrupções, sem julgamentos, sem preconceitos. Não se trata de uma única conversa,
logo, não precisa falar sobre todos os assuntos possíveis em um único momento.
3. Aconselhamento: Aconselhar é propor a vontade de Deus que se manifesta pela
Palavra de Deus. Por isso, a terceira etapa do acompanhamento é esse momento em que a
pessoa recebe conselhos que possam ajudá-la no seguimento a Jesus Cristo. Diante de
situações difíceis em que não há muito o que dizer, a sabedoria é sempre rezar para que o
Senhor mesmo se manifeste na oração. Em seguida, pode-se dar alguns direcionamentos para
ajudar a pessoa acompanhada.
4. Oração final e Consagração à Nossa Senhora: Oração no início, oração
durante e oração também no final. É Deus quem age em todo o acompanhamento; seja por
meio do acompanhador – instrumento ineficaz, mas que Deus quer se utilizar para alcançar
seus filhos – seja por meio da pessoa acompanhada que, atenta à condução do Senhor vai
percebendo o que Ele deseja para sua vida. Ao final do acompanhamento, nas mãos da Virgem
Maria, o acompanhador confia a vida do acompanhado para que, por sua intercessão, a pessoa
possa dar passos firmes, mudar de vida, assumir o caminho de conversão. Vale reforçar que
tudo que é partilhado em um acompanhamento não deve ser comentado com ninguém, pois a
vida da pessoa acompanhada é como um tesouro que deve ser bem guardado.

Acompanhadores e seus acompanhados:

Viçosa, 22 de abril de 2022

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