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Roteiro de Prova - História da filosofia moderna

1. Quais são, segundo Reale, os pressupostos filosóficos da ciência moderna?


Os artífices da revolução científica, de vários modos, estiveram ligados ao
passado, referindo-se, por exemplo, a Arquimedes e Galeno. A mística do sol tanto
hermética como neoplatônica estão presentes. O grande tema neoplatônico do Deus que
geometriza e que cria um mundo, imprimindo nele uma ordem matemática e
geométrica, é uma ideia que se encontra nas obras de Copérnico, de Kepler e na de
Galileu. Outro aspecto a se acrescentar é a questão metodológica que se fez presente
como ponto preponderante em todos os pensadores que abriram a modernidade.

2. Qual é o papel dos instrumentos na revolução científica?


Deve-se compreender que não é tanto o elenco dos instrumentos, mas muito
mais a compreensão de que, no curso da revolução científica, os instrumentos
científicos tornaram-se parte integrante do saber científico. Não existe o saber científico
separado, os instrumentos estão dentro da teoria, tonando-se teorias eles próprios.
(Amplificando, corrigindo e também de certa maneira perturbando1 a experimentação).

3. Explicar a relação entre razão e experiência em Leonardo.


Na renascença as artes mecânicas e liberais, como a geometria ou a perspectiva
estavam indo em direção da experiência, para Leonardo “nenhuma investigação humana
pode-se considerar verdadeira ciência se não passar pelas demonstrações matemáticas”.
Leonardo diz que não basta à observação nua e crua, que na natureza existem “infinitas
razões” que nunca estiveram sob experiência. Os fenômenos da natureza só podem ser
compreendidos sob a condição de que se descubram as razões. Essa descoberta é obra
de discurso, de cogitação mental: é a razão que demonstra por que “tal experiência é
forçada de tal modo a operar”.

4. Em que consiste a redução naturalista operada por Telésio?


Telésio não nega um Deus transcendente nem uma alma supra-sensível, mas
tecnicamente coloca ambos fora da pesquisa física, estabelecendo assim a autonomia da
natureza e dos seus princípios e, conseqüentemente, a autonomia da pesquisa desses

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Vista aqui a perturbação como uma espécie de fator determinante.
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princípios. Desse modo, Telésio realiza aquilo que foi chamado “redução naturalista”,
precisamente proclamando a autonomia da natureza.

5. Qual é a motivação principal de Copérnico para apresentar um novo sistema,


diferente ao ptolemaico-aristotélico? Como se justifica a expressão “revolução
copernicana”?
Copérnico queria lançar luz sobre a “monstruosidade” apresentada pela teoria
ptolomaico-aristotélica, veio a abraçar a ideia de que é a terra que se move, e que o
centro do universo era o sol.
O cientista vai muito mais além de um reforma astronômica. Deslocando a terra
do centro do universo Copérnico mudou também o lugar do homem no cosmo. Esta
mudança implicou também uma mudança filosófica. O homem começa a avaliar a sua
posição no esquema cósmico, não se podia mais ver a terra como centro focal da criação
divina. Copérnico tinha percebido o contraste que poderia explodir entre certas
interpretações de determinadas passagens da Bíblia e sua teoria, Copérnico propõe uma
nova maneira de interpretar a Bíblia. É sobre estas características que podemos
justificar a expressão “revolução copernicana”.

6. Qual é a relação entre ciência e fé, a partir do pensamento de Galileu?


A ciência não é mais um saber a serviço da fé, não depende de fé e tem um
escopo diferente do da fé, A ciência esta autônoma em relação à fé e desvinculada
também do autoritarismo da tradição aristotélica que bloqueava a pesquisa científica.
Galileu fixa o princípio da distinção entre ciência e fé nas palavras que ele diz
ter ouvido do cardeal Barônio, segundo o qual “a intenção do Espírito Santo seria
ensinar-nos como se vai ao céu e não como vai o céu”. Para Galileu, portanto, ciência e
fé são “compatíveis” porque incomensuráveis. O discurso científico é um discurso sobre
fatos controláveis, destinado a fazer-nos ver como funciona o mundo; o discurso
religioso é um discurso de salvação que não se ocupa de descrever o mundo, e sim do
sentido do universo, da vida dos indivíduos e de toda a humanidade.

7. Quais são os componentes do método científico, segundo Galileu, e como se


relacionam entre eles?
Experiências sensatas: são as experiências efetuadas mediante nossos sentidos,
isto é, as observações, especialmente as feitas com nossos olhos;
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Demonstrações necessárias: são as argumentações nas quais, partindo-se de


uma hipótese, se deduzem rigorosamente as conseqüências que depois deveriam se dar
na realidade.
Entre as maneiras para chegar à verdade está antepor a experiência a qualquer
discurso, mesmo que não nos pareça bem fundamentado. (P. 217, meio do 4º parágrafo).

8. Quais são as regras do filosofar segundo Newton e quais são seus pressupostos
ontológicos?
Regra I: Não devemos admitir mais causas das coisas naturais do que aquelas
que são tanto verdadeiras como suficientes para explicar suas aparências.
Regra II: Aos mesmos efeitos, devemos o quanto possível, atribuir as mesmas
causas.
Regra III: As qualidades dos corpos, que não admitem nem aumento nem
diminuição de grau, e que se percebem pertencer a todos os corpos dentro do âmbito de
nossos experimentos, devem ser consideradas qualidades universais de todos os corpos.
Regra IV: Na Filosofia experimental as regras inferidas por indução geral a
partir dos fenômenos devem ser consideradas como estritamente verdadeiras ou como
muito próximas da verdade, apesar das hipóteses contrárias que possam ser imaginadas,
até quando se verifiquem fenômenos a respeito das quais elas se tornam mais exatas ou
então se tornem sujeitas a exceções.
Para Newton, essas quatro regras do raciocínio filosófico são regras
metodológicas, mas pressupõem assuntos de ordem metafísica sobre a natureza e sobre
a estrutura do universo.

9. Que significa para Newton hypotheses non fingo?


É sua celebre sentença metodológica à qual se reportam todos os indutivistas.
“Não inventar hipóteses”. Newton diz que tudo aquilo que não se deduz dos fenômenos,
deve-se chamar de hipóteses, ou seja, tanto metafísicas como físicas, tanto de
qualidades ocultas como mecânicas, não têm nenhum lugar na filosofia experimental.
Em tal filosofia proposições particulares são deduzidas dos fenômenos, e
sucessivamente tornadas gerais por indução.

10. Em que consiste o autêntico saber para Bacon?


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Para Bacon as interpretações da natureza constituem o verdadeiro saber, obtido


com o verdadeiro método “novum organum”, um instrumento novo e eficaz para
alcançar a verdade que segue duas fases:
Primeira: consiste em limpar a mente de falsas noções (idola) que invadem o
intelecto humano.
Segunda: consiste na exposição e justificação das regras do novo método.
“Conhecer a forma das coisas significa penetrar nos segredos da natureza”

11. Qual é a importância das experiências de cruz dentro do método indutivo de


Bacon?
Seguindo etapas na sua metodologia, Bacon se utiliza das experiências de cruz,
assim chamadas por metáfora extraída das cruzes colocadas nos caminhos para indicar
uma bifurcação. Esta estratégia de cruz se dá, quando, durante a pesquisa de uma
natureza, o intelecto está incerto e como que em equilíbrio no decidir sobre a qual de
duas naturezas, ou mais de duas naturezas, deve ser atribuída à causa da natureza
examinada.
Pelo concurso frequente e ordinário de várias naturezas, as instâncias cruciais
mostram que o vínculo de uma dessas naturezas com a natureza dada é constante e
indissolúvel, ao passo que o das outras é variável e separável. Assim, a questão resolve-
se, e é acolhida como causa a primeira natureza, enquanto a outra é rejeitada e
repudiada.

12. Quais são as regras do método (Descartes)?


Evidência: ideias claras e distintas, não devo aceitar como verdadeiro nada que
não seja evidente;
Análise: devo dividir o todo não-evidente em suas partes evidentes;
Síntese: reunir as partes evidentes em um todo evidente;
Revisão: devo revisar todas as etapas para ter certeza de nada omitir.

13. Qual o ponto arquimediano de sua filosofia (Descartes)?


“Arquimedes para tirar o globo terrestre do lugar e transportá-lo para outro nada
mais pedia que um ponto firme e imóvel”. Para Descartes o ponto arquimediano
significa uma verdade indubitável. Assim podemos falar sobre o ponto arquimediano
sob dois pontos de vista: o primeiro como sendo “cogito” e outro como Deus.
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Quando Descartes duvida de tudo, ele chega a uma certeza: que é uma coisa
pensante, já que tem certeza que ele duvida “cogito”. O pensamento é uma certeza
existencial. Descartes diz que se ele possui a ideia de ser perfeito essa ideia não veio de
ser imperfeito e mortal como ele, mas de um ser perfeito e infinito, Deus.

14. Como prova a existência de Deus e qual é o seu papel no seu pensamento
(Descartes)?
Descartes fala que está certo de que é uma coisa pensante, já que tem certeza que
ele duvida. O pensamento é uma certeza existencial. Descartes lança a ideia da
existência de Deus a partir de sua consciência e não mais do mundo exterior. Se eu
tenho a ideia de ser perfeito e ilimitado, essa ideia não pode ter vindo de um ser
imperfeito e finito como eu, pois eu me teria feito perfeito e ilimitado. Só pode ter sido
causa adequada dessa ideia um ser infinito e perfeito, isto é Deus. A ideia de Deus é
inata ao homem e só poderia ter uma causa, o próprio Deus. O papel de Deus em seu
pensamento é que o homem não esta sozinho.

15. Res cogitans e res extensa; ponto de encontro?


Para Descartes existem apenas dois tipos de substâncias, claramente distintas e
irredutíveis uma à outra: a substância pensante (res cogitans) e a substância extensa (res
extensa). O homem é o ponto de encontro entre dois mundos, em termos tradicionais,
entre alma e corpo
A res cogitans: é a existência espiritual do homem sem nenhuma ruptura entre
pensar e ser, é a alma humana como realidade pensante.
A res extensa: é o mundo material (compreendendo obviamente o corpo
humano), do qual, justamente, se pode predicar como essencial apenas a propriedade da
extensão.
O homem é o ponto de encontro entre dois mundos, em termos tradicionais,
entre alma e corpo.

16. Qual a propriedade fundamental do mundo? Porque?


Podemos predicar como fundamental a propriedade da extensão, ou seja, o
mundo não é substância pensante. O homem como sendo substância pensante e
substância extensa vai seguir o itinerário da análise, da síntese e da verificação para
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tratar do mundo material (compreendendo obviamente o corpo humano) e chegar a


ideias claras e distintas, verdades indubitáveis.

17. Quais são as regras da moral provisória? Qual é a principal? Porque?


Primeira: obedecer às leis, aos costumes e à religião do próprio país, acolhendo
as opiniões comuns mais moderadas;
Segunda: preservar nas ações com a maior firmeza e resolução possível;
Terceira: vencer de preferência a si mesmos do que o destino, e mudar
preferentemente os próprios desejos do que a ordem do mundo;
Quarta: cultivar a razão e o conhecimento da verdade.
A principal e mais importante regra é a quarta, pois para Descartes o amor do
verdadeiro se impõe com a força da razão. Apenas conhecendo a verdade é que o
homem pode se considerar livre. Nós devemos retificar a vontade reformando a vida do
pensamento, vencendo nossas paixões.

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