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CRIME DE MAUS TRATOS

    

       Entende-se por maus tratos as condutas físicas ou morais praticadas pelo agente expondo a perigo a
vida ou a saúde da vítima seja ela menor ou maior de idade.

     O crime de maus tratos encontra-se previsto no artigo 136 do Código Penal com a seguinte redação:

     Art. 136. Expor a perigo a vida ou a saúde de pessoas sob sua autoridade, guarda ou vigilância, para
fim de educação, ensino, tratamento ou custódia, que privando-a de alimentação ou cuidados
indispensáveis, quer sujeitando-a a trabalho excessivo ou inadequado, quer abusando de meios de
correção ou disciplina:

Pena – detenção, de dois meses a um ano, ou multa.

§1º. Se do fato resulta lesão corporal de natureza grave:


Pena – reclusão, de um a quatro anos.

§2º. Se resulta morte:

Pena – reclusão de quatro a doze anos. 

§3º. Aumenta-se a pena de um terço , se o crime é praticado contra pessoa menor de catorze anos.

     O crime de maus tratos é um delito próprio, exigindo como pressuposto a existência de uma relação
jurídica preexistente entre os sujeitos ativo e passivo. Somente poderá ser agente (sujeito ativo) quem
mantiver sob sua autoridade, guarda ou vigilância, para fim de educação, ensino, tratamento ou custódia o
sujeito passivo.

     Desta forma podemos citar como agentes os pais, tutores, curadores, professores, carcereiros, diretores
de colégios, enfermeiros dentre outros e como sujeitos passivos, ou sejam, pessoas que se encontram sob
a subordinação dos citados,  os filhos, tutelados, curatelados, alunos, presos etc.

     Cumpre-nos salientar que para a tipificação do crime de maus tratos necessário se faz que uma ou mais
condutas praticadas pelos agentes acima citados estejam previstas expressamente conforme disposição do
artigo, caso contrário o delito será outro.

     O referido artigo menciona a privação de alimentação ou cuidados indispensáveis,  sujeição a trabalho
excessivo ou inadequado, quer abusando de meios de correção ou disciplina.

     Por privação de alimentação devemos entender os indispensáveis ao subordinado e desde que a forma
praticada se dê de maneira dolosa, ou seja, privar a pessoa de maneira de intencional, portanto  exclue-se
a ilicitude no caso em que  o agente venha a praticar o ato em razão de pobreza, onde inclusive sua
própria alimentação estiver prejudicada. Ressalta-se ainda que não constitui o crime a privação de
“caprichos alimentares” impostos pelo subordinado.

 
     Em relação a cuidados indispensáveis estes englobam cuidados diversos que o subordinado venha
necessitar sejam eles em razão do que for. Uma criança ou um idoso, por exemplo, que necessite de
medicação periódica e não a receba, um doente impedido de locomover-se e que dependa exclusivamente
de pessoa que o leve ao banheiro, dentre outras.

     Quanto a trabalho excessivo  podemos entender trabalhos que vão além da capacidade física ou até
mesmo mental da pessoa, trabalhos que desejados de forma habitual cause estresse e fadiga ao
subordinado. No mesmo sentido é o trabalho inadequado que se dá em razão da forma diversa da ora
estabelecida entre as partes, ou em razão de sua incompatibilidade, seja em razão do sexo, idade ou
qualquer outro fator que venha a ser julgado incompatível.  Em ambos os casos há de se averiguar as
condições de exposição a fim de se verificar a ocorrência do referido crime.

     No que tange os meios de correção ou disciplina cumpre-nos salientar que para a tipificação do crime,
não basta o uso de meios de correção, pois é necessário que tenha havido abuso deles, capaz de expor a
perigo a vida ou a saúde da vítima. (TACrSP, RT 587/331). Configura o delito a punição exagerada, o
corretivo imoderado ou abusivo (TACrSP, julgados 66/326; julgados 68/306).

     É importante lembramos que a prática de mais de uma das ilicitudes contra o mesmo ofendido
constitui crime único, e este se consuma com  a exposição a perigo, de que decorra probabilidade de dano
real. O crime, na modalidade de “privar” pode ser permanente porém nas demais formas seu caráter é
instantâneo, admitindo-se a tentativa nas modalidades comissivas.

     Observa-se, que o crime de maus tratos difere da lesão corporal por ser esta delito de dano, enquanto o
do artigo 136 é de perigo (RT 412/284).

     Por fim temos a acrescentar que são perfeitamente lícitas as medidas corretivas aplicadas pelos pais
em relação à seus filhos porém desde que aplicadas de forma moderadas, com o objetivo de educá-los,
contribuindo na formação de seu caráter e personalidade. No que se refere a cuidados prestados por
profissionais, sejam eles professores, enfermeiros  e demais,  estes estão privados de utilizar-se de meios,
ainda que moderados,  para “castigar” seus subordinados, sob pena de virem a responder, além das penas
cominadas ao crime de maus tratos,  por danos matérias e morais.

Dados do Artigo
Autor : Dr. Agnaldo Rogério Pires

Contato franmarta@terra.com.br

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Texto inserido no site em 21.07.2009

Informações Bibliográficas : Mirabete, Júlio Fabbrini. Manual de Direito Penal, Atlas. São Paulo 1990- 1993 e,
Jesus, Damásio E.de, Direito Penal: Parte Especial Vol.2: dos crimes contra a pessoa e dos crimes contra o patrimônio,
26 Ed. Atual, São Paulo, Saraiva, 2004 e, Delmanto, Celso, Código Penal Comentado - 3. Ed. Renovar, Rio de Janeiro,
1991.

Conforme a NBR 6023:2002 da Associação Brasileira de Normas Técnicas ( ABNT ), este texto científico publicado em
periódico eletrônico deve ser citado da seguinte forma :

Costanze, Bueno Advogados. (O CRIME DE MAUS TRATOS). Bueno e Costanze Advogados, Guarulhos, 21.07.2009.
Disponível em : <http://(www.buenoecostanze.com.br)

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