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Os riscos das terapias alternativas

Leia mais sobre Terapias Alternativas em: Argumentos frágeis e perigos enco-
bertos
Por Daniela Pinheiro:

No último século, a Medicina alcançou feitos notáveis. Foi quando se descobriu a peni-
cilina, a vacina contra a poliomielite e se aprimorou o transplante de órgãos, entre outras
conquistas definitivas. Porém, a promessa de uma saúde perfeita ainda é um desafio. Seu
nariz ainda escorre durante uma gripe, suas costas doem depois de um dia diante do com-
putador e as crianças continuam asmáticas sem que se saiba a exata razão. É certo que as
pessoas estão mais saudáveis que nunca. Mas os tratamentos são os mesmos: remédio e
repouso. Ao que tudo indica, o paciente parece querer algo mais. E está pagando caro por
isso. As bolinhas da medicina chinesa, a massagem no pé da reflexologia1, as ervas da
fitoterapia e até artefatos mais exóticos que se propõem a curar o câncer a partir de cam-
pos eletromagnéticos2 estão disputando espaço com o clássico estetoscópio.

Estima-se que 4 milhões de brasileiros lancem mão de alguma forma de terapia alter-
nativa para tratar doenças. A Associação Brasileira de Medicina Complementar calcula
que existam cerca de 50.000 terapeutas alternativos em atividade no país. É um filão que
cresce em torno de 20% ao ano em todo o mundo. No Brasil, presume-se que o mercado
de terapias alternativas movimente aproximadamente 500 milhões de dólares anualmente.
Ainda uma migalha em comparação ao que ocorre nos Estados Unidos, onde perto de 60
milhões de pessoas engrossam um mercado de 30 bilhões de dólares. No Brasil, há três
vezes mais massagistas corporais, que garantem dar fim a dores de coluna, que ortope-
distas. Existe quase o mesmo número de terapeutas florais e de cardiologistas. E os cerca
de 1.300 iridologistas3, indivíduos que dizem diagnosticar qualquer doença pela análise
da íris, somam quase a metade dos nefrologistas brasileiros.

Quando se fala em terapia alternativa no Brasil, é preciso esclarecer que se trata,


na maioria dos casos, de práticas proibidas pelo Conselho Federal de Medicina. Ape-
nas a homeopatia e a acupuntura são reconhecidas como especialidades médicas.

1
A reflexologia é uma prática pseudocientífica. Não evidências científicas de que a
reflexologia seja eficaz no tratamento de qualquer doença ou condição médica:
ERNST, E.: “Is reflexology an effective intervention? A systematic review of rando-
mised controlled trials”, Med J Aust. 2009 Sep 7;191(5): págs. 263-6. Disponível em
https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/19740047/
2
Não há evidências que provem a existência de qualquer efeito físico ou biológico na
saúde ou de qualquer influência na saúde: PARK, Robert L.: “Voodoo Science: The
Road from Foolishness to Fraud”, New York, Oxford University Pres, 2000, pp. 58–
63.
3
É contrária à Medicina Baseada em Evidências (MBE em Portugal) e não é suportada
por pesquisas científica: ERNST, E.: “Iridology: Not Useful and Potentially Harm-
ful”. Arch Ophthalmol. 2000; 118(1): págs. 120–121. Disponível em https://jama-
network.com/journals/jamaophthalmology/fullarticle/412789
Escolhas mais radicais, como a cromoterapia4, a iridologia5, os florais de Bach6 e bizar-
rices de embrulhar o estômago, como a urinoterapia7, são vistas com imensas reservas
pela classe médica. A razão é clara: muitos dos chamados terapeutas alternativos são lei-
gos que fazem um curso de fim de semana e saem apregoando poderes curativos e de
diagnóstico. É o caso do reiki8, uma prática de imposição de mãos que promete desde a
cura da impotência sexual até do câncer. Por 195 reais e dois dias de curso com a presi-
dente da Associação Brasileira de Reiki, Claudete França, qualquer um pode tornar-se
um terapeuta. Inclusive tratando os pacientes por telefone. "O que importa é a energia",
explica.

A explosão da medicina alternativa se deve a diversos aspectos. Um dos mais contun-


dentes é o ceticismo dos pacientes em relação à medicina convencional. De fato, ainda
não há cura para doenças como câncer, diabetes e Aids. É nessa lacuna que os alternativos
se esbaldam na conquista de novos clientes. "Eles argumentam que a medicina estagnou.
Não é correto. Um exemplo clássico é que há vinte anos 90% dos pacientes com câncer
nos testículos morriam. Hoje, curamos 95% dos casos com cirurgia e quimioterapia", ob-
serva o urologista paulista Sami Arap. Outro fator influente diz respeito à mudança na
relação médico-paciente. Em geral, a consulta de um homeopata ou um fitoterapeuta dura
mais de uma hora, enquanto a de um médico tradicional pode não chegar a quinze minu-
tos. Essa postura faz toda a diferença para que o doente opte por um tratamento. "É que
o terapeuta alternativo costuma trabalhar em casa e cobrar cinco vezes mais que o valor
de uma consulta no SUS. Ele tem tempo para conversar quanto quiser", afirma o médico
carioca João Pantoja, diretor do Hospital Copa D'Or.

"Não é por isso que nossas consultas levam mais tempo. De fato, não vemos o paciente
em pedaços. Ele é feito de organismo e emoção. Não dissociamos um do outro", diz o
médico paulista Paulo Luiz Farber, que se especializou em medicina chinesa, homeopa-
tia9, fitoterapia e biorressonância e cobra 280 reais por uma consulta que pode durar duas

4
Prática pseudocientífica: WILLIAMS, William F.: “Encyclopedia of Pseudoscience:
From Alien Abductions to Zone Therapy”, Facts on File Inc., 2000, pág. 52.
5
HOCKENBURY, Don H.; HOCKENBURY, Sandra E.: “Psychology”, [S.l.]: Worth Pub-
lishers, 2003, pág. 96.
6
THALER, K; KAMINSKI, A; CHAPMAN, A; LANGLEY T, GARTLEHNER, G.: “Bach Flo-
wer Remedies for psychological problems and pain: a systematic review”, BMC Com-
plement Altern Med, 2009, May 26; págs. 9-16. Disponível em https://pub-
med.ncbi.nlm.nih.gov/19470153/
7
Não há benefício nenhum cientificamente comprova de tais técnicas para a saúde:
GARDNER, Martin: “O Umbigo de Adão”, Rio de Janeiro: Ediouro, 2002, págs. 110–
121.
8
Os praticantes dessa pseudociência usam a imposição de mãos para alegadamente
transferir "energia vital universal" (qi). Entretanto, não há evidência da existência do
“qi”, nem de que o Reiki seja eficaz como tratamento para qualquer condição médica:
LEE, MS; PITTLER, MH; ERNST, E.: “Effects of reiki in clinical practice: A systematic
review of randomised clinical trials”, International Journal of Clinical Practice (Syste-
matic Review), 2008 (em inglês), 62 (6), págs. 947–54.
9
Há consenso na comunidade médica e científica internacional de que a homeopatia
é uma pseudociência (BBC. “Homoeopathy's benefit questioned”, 2005. Disponível
em http://news.bbc.co.uk/2/hi/health/4183916.stm), e charlatanismo: WAHLBERG,
A.: “A quackery with a difference — New medical pluralism and the problem of 'dan-
gerous practitioners' in the United Kingdom”, Social Science & Medicine, 65 (11),
2007, págs. 2307–16. Disponível em https://www.sciencedirect.com/science/arti-
cle/abs/pii/S0277953607004200?via%3Dihub
horas. Médico do governador de Alagoas, Ronaldo Lessa, de quem trata problemas na
coluna com fitoterapia, Farber utiliza um exame chamado Bi-Digital O-Ring Test10, no
qual o diagnóstico é feito a partir da interação de campos eletromagnéticos entre o paci-
ente e a substância fitoterápica.

O grande perigo da medicina alternativa é mascarar doenças graves ou acelerar seu


ritmo destruidor, tratando apenas os sintomas. Em dezembro passado, a paulistana Érica
Arruda viu chegar ao fim a longa batalha de sua mãe contra o câncer. Durante sete meses,
Érica acompanhou o tratamento da mãe com um iridologista, que lhe receitava injeções
de supostas vitaminas. O médico, filiado ao Conselho Regional de Medicina, jamais so-
licitou uma ultrassonografia ou um simples hemograma. E nunca diagnosticou a doença.
"Quando ela já estava com o corpo coberto por feridas, o médico disse que não ia mais
atendê-la porque era ela quem não estava fazendo o tratamento direito", lembra Érica.
Quando a família procurou um tratamento convencional, já era tarde demais. "Ela morreu
quinze meses depois", conta. A família quer processar o médico. "O discurso da medi-
cina alternativa é a coisa mais repugnante, mais vergonhosa que já ouvi", desabafa
Érica.

Alguns ramos das terapias alternativas cobrem áreas que a Medicina convencional des-
preza. Em muitos casos, podem ser uma útil complementação ao tratamento convencio-
nal. O problema é quando o terapeuta alternativo acena com o combate seguro a doenças
graves. "Prometer a cura é o pior dos crimes. É você tentar extorquir alguém na
hora em que ele está mais fragilizado", afirma o clínico-geral carioca Luiz Alfredo
Lamy. Uma das grandes dificuldades de um paciente leigo é conseguir separar verdades
de mentiras no imenso leque de quase 800 modalidades de terapias alternativas. É tênue
a linha que separa a eficácia do charlatanismo. Segundo o critério da credibilidade cien-
tífica, a acupuntura, a homeopatia e a fitoterapia merecem ser respeitadas. A primeira é
considerada uma ciência real, a ponto de ser usada como anestesia até em partos. A ho-
meopatia é admitida pelos médicos tradicionais em doenças crônicas, sobretudo nas de
fundo emocional. Quanto à fitoterapia, é inegável o princípio curativo de alguns chás e
plantas. Cerca de 45% dos remédios usados pela Medicina convencional são feitos a partir
de substâncias extraídas de vegetais.

Manipulações de vértebras como a quiropraxia11 e o shiatsu12 são vistas mais como


técnicas de relaxamento do que como ciência. "Tirando isso, todo o resto é um tre-
mendo conto de fadas", diz Edson de Oliveira Andrade, presidente do Conselho Fe-
deral de Medicina. O terapeuta paulista Osni Tadeu afirma ter curado o mioma no útero

10
O BDORT foi citado e caracterizado extensamente pelo Instituto Americano de
Tecnologia e Educação Científica como um exemplo específico e notável de charlata-
nismo pseudocientífico: “Instituto Americano de Tecnologia e Educação Cientí-
fica", Arquivado a partir do original em 27 de abril de 2014. Disponível em
https://web.archive.org/web/20140427204953/http://www.aitse.org/assessing-sci-
entific-claims-the-o-ring/
11
ERNST, E.: “Chiropractic: a critical evaluation”, Journal of Pain and Symptom Ma-
nagement. 35 (5), maio de 2008, págs. 544–62.
12
“Não existe evidência científica que prove que shiatsu possa curar qualquer tipo de
doença, incluindo o câncer”: “About Cancer”, Cancer Research UK, 30 de agosto de
2017. Apesar disso, pesquisadores da UPS, em 2013, comprovaram que a shiatsu
melhora dores em pacientes. Disponível em https://www5.usp.br/noticias/saude-
2/shiatsu-melhora-qualidade-de-vida-de-pessoas-com-dores-revela-estudo-da-
fmusp/
da modelista Hilda Martins, 48 anos, só com as massagens na sola do pé da chamada
reflexologia. "Se fosse pela minha médica, eu faria uma histerectomia. Com ele, curei-
me em dois meses", declara Hilda. De acordo com a maioria dos médicos, não há nada
no planeta que possa garantir que terapias definidas como "energia", "descoberta incrí-
vel", "cheiros e cores" sejam eficazes na cura de doenças. Autodidata, o advogado paulista
Osni Facchini é um dos maiores propagadores da apiterapia13, o tratamento de qualquer
doença com mel, própolis, pólen e até larva de abelha. Facchini tem 800 clientes cadas-
trados. "Meu tratamento é excelente para diabetes, hipertensão e mal de Parkinson. Fun-
ciona em 70% dos casos", garante. O tratamento completo pode custar 1.000 reais. Diante
da dieta de Facchini, o endocrinologista carioca Adolfo Milech explodiu: "Dar mel
para diabético pode matar!".

Terapias alternativas entram e saem de moda como cores da estação. No ano pas-
sado, os entendidos diziam que para curar o câncer era preciso tomar babosa com uísque
ou um concentrado de graviola importado dos Estados Unidos. São correntes que pos-
suem tanto fundamento científico quanto a astrologia14 (ou seja, nenhum), só que custam
muito mais caro. O agrônomo Walter Accorsi, 82 anos, atende cerca de quarenta pessoas
por semana em sua chácara em Piracicaba, no interior de São Paulo. Dali, Accorsi garante
a cura para câncer, Aids e outras dezenove doenças a partir de chás e pílulas feitas de
plantas, assunto que diz estudar há sessenta anos. Ele se orgulha de não cobrar pela con-
sulta, mas os remédios que prescreve vêm da farmácia da filha. A lista de medicamen-
tos para câncer, por exemplo, custa cerca de 180 reais. "Quem quer ficar com um médico
pode. Mas não precisa", afirma. "Um sujeito que diz isso tinha de ser interditado", diz
o oncologista paulista Sergio Simon.

Um fenômeno relativamente recente é a migração de médicos convencionais para os


domínios da medicina alternativa. De fato, eles são diferentes dos terapeutas autodidatas.
No mínimo, vão saber que a alteração de glóbulos brancos em um paciente com leucemia
pode significar piora e não uma reação alérgica. O fisiologista paulista José de Felippe
Júnior, presidente da Associação Brasileira de Medicina Complementar, foi buscar en-
tender "o que a Medicina nunca soube explicar". Felippe inventou uma máquina de gera-
ção de campos eletromagnéticos para tratar o câncer. Segundo sua estatística pessoal, em
seis dos doze pacientes tratados o tumor desapareceu. "Em todos houve aumento das cé-
lulas de defesa do organismo", afirma. Algum morreu? "Quatro. Os que já estavam em
estado terminal", diz. Até agora, o trabalho só foi apresentado na Sociedade Brasileira de
Medicina Biomolecular e Radicais Livres. "Ainda é muito cedo. Tudo está em fase de
estudos", observa. No entanto, as experiências práticas seguem sendo feitas em seus pa-
cientes. Para colegas médicos, o experimento deve ser visto com reservas. "Nunca ouvi
falar disso. Há 25 anos nesse meio, jamais vi alguém se curar de câncer sem ser com
os métodos convencionais", relata o oncologista Sergio Simon

13
Não há evidência que esse tratamento seja eficaz: ADES, Terri B.; RUSSEL, Jill,
eds.: “Chapter 9: Pharmacologic and Biologic Therapies” em “American Cancer Soci-
ety Complete Guide to Complementary and Alternative Cancer Therapies”, 2ª ed.
[S.l.]: American Cancer Society, 2009, págs. 704–708. Disponível em https://bo-
oks.google.com.br/books?id=E8aHAAAACAAJ&pg=704&redir_esc=y
14
Universidade do Rio Grande do Sul – “Hipertextos: Astrologia não é ciência”. Dispo-
nível em http://www.if.ufrgs.br/ast/astrologia.htm
Nos anos 70, um movimento parecido com o encampado hoje pelos defensores da tera-
pia alternativa mobilizou os Estados Unidos. Na época, o comprimido Laetrile prometia
ser a cura do câncer. Milhares de pessoas o consumiram pensando estar tratando a doença.
Mais tarde, descobriu-se que o remédio liberava cianeto no organismo. O ator Steve
McQueen, que tinha câncer de pulmão, foi uma das vítimas. "É o perigo de receitar novi-
dades", declara o neurologista Edgard Raffaelli Júnior. A Medicina cresce, progride,
muda. Homeopatia, iridologia, cromoterapia estão estanques ao longo dos anos. Médicos
e terapeutas alternativos se conhecem, recomendam-se e jamais se desafiam. O tera-
peuta de "zonas patogênicas", o engenheiro aposentado Salvatore de Salvo, é constante-
mente apontado pelos grandes médicos alternativos de São Paulo como um profissional
"indispensável". Seu trabalho é visitar a casa das pessoas para descobrir "pontos negativos
de energia" e rearranjar os móveis longe de focos maléficos. Preço: 350 reais. "Quem
mora em prédios construídos sobre lençóis d'água ou perto da Avenida Paulista tem 80%
de probabilidade de ter câncer", proclama.

É por essas que o discurso dos terapeutas alternativos é facilmente contestável. Um de


seus principais argumentos é dizer que as técnicas são "usadas há centenas de séculos",
como se longevidade fosse parâmetro. A astrologia é muito mais antiga que os florais de
Bach e nem por isso tem sua validade comprovada. A maioria deles também diz que seus
tratamentos têm base científica. O psiquiatra americano Stephen Barrett, um dos maiores
críticos da medicina alternativa no mundo, publicou em livro alguns exemplos dessa
"base científica". Um desses casos é o da escritora Adelle Davis, que citou 2.402 referên-
cias sobre a eficácia de sua terapia no best-seller Let's Get Well (Vamos Viver Bem). Mais
tarde, descobriu-se que mais da metade das citações nem sequer dizia respeito ao assunto.
É também surpreendente a inimaginável comparação da qual eles lançam mão: "Quando
Galileu apareceu, ninguém acreditou nele", lembra o nutrologista e homeopata Celso Ba-
tello, também presidente da Sociedade Brasileira de Iridologia. Por 350 reais, Batello faz
uma consulta de quase duas horas, em que "lê" na íris desde a falta de colágeno até se o
paciente usa mais o lado esquerdo ou o direito do cérebro. "Isso tudo entra num terreno
parecido com o da religião", afirma o médico Alfredo Lamy. Em sua avaliação, a única
coisa que se pode afirmar a partir da análise da íris é a cor dos olhos, se a pessoa
está cansada ou se tem doença de Wilson – que é uma deficiência genética rara.

Como explicar a profusão de pacientes que lotam os consultórios de terapeutas alterna-


tivos? Se não estivessem satisfeitos, é certo que os abandonariam. Há três meses, o apo-
sentado Gilberto Abduch, 73 anos, faz o tratamento de campo magnético de José de Fe-
lippe Júnior para curar um câncer no fígado. No auge do tratamento, gastou 2.800 reais
por mês. "Já fui operado, tive metástase e perdi um irmão com a mesma doença. Quando
a gente está nesse barco, faz qualquer coisa", diz. Seus últimos exames revelam que o
tumor está estacionado. "Só de estar assim eu já me sinto muito satisfeito", afirma. Os
céticos atribuem o resultado a dois fatores: o comprovado efeito placebo e a confusão
em saber qual tratamento foi realmente eficaz, o alternativo ou o convencional, já
que a maioria das pessoas faz os dois ao mesmo tempo. Estudos publicados em con-
ceituadas revistas científicas, como a Science, revelaram que 30% dos pacientes melho-
ram com o simples fato de tomar um comprimido, mesmo que ele tenha o poder terapêu-
tico de um copo de água com açúcar.
Outro fato é que, em muitos casos, a pessoa melhoraria mesmo sem fazer nada.
Mas, como a melhora veio após o tratamento alternativo, passa-se a atribuir a cura
a ele. O oncologista Riad Younes, do Hospital do Câncer de São Paulo, provou o
contrário. Durante dois anos, acompanhou 1.000 pacientes com câncer e descobriu
que 43% deles (chegando a 70% entre os que estavam em fase terminal) recorriam
a terapias não convencionais. Em nenhum dos casos em que o paciente se valeu de
terapias alternativas o tumor diminuiu.

Como não são práticas reconhecidas, qualquer barbeiragem ou charlatanismo


passa quase sempre em branco. Não há um conselho formal ou uma esfera instituci-
onal para queixas e processos. Se o sujeito é enganado ou morre em um desses tra-
tamentos, a família só pode se queixar à polícia.

Matéria publicada na revista Veja em 01 de maio de 2002

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