Você está na página 1de 3

“A presença do expressionismo em Paulicéia Desvairada”, Rosângela Asche.

Manuscrítica, nº 13. 2005.

Assimilação do expressionismo alemão, o poema “Weltende”, de Jakob van


Hoddis, usada para uma recriação perceptível em “Paulicéia desvairada”. Ensaio de
crítica genética, começa refletindo sobre a biblioteca dos escritores: seriam espaços
híbridos, pois os livros não sã apenas texto impresso, mas pelas notas de rodapé,
comentários, apontamentos, grifos também apontam para as assimilações de leitura
realizadas.

Formação de Mário de Andrade com grande influência na filosofia e literatura


francesa, que vai ser superada por volta de 1917, como pode ser visto no conto
“Brasília” e no “Prefácio interessantíssimo”, de “Paulicéia desvairada”. Vai buscar
novos caminhos e novas leituras para realizar uma reflexão mais ampla sobre a
modernidade e o modernismo brasileiro.

Primeiro contato com os expressionistas, teria se dado na expo de Anita Malfati,


em 1917, recém chegada da Europa. A visita na exposição teria inquietado o autor para
essa nova forma de representação. Em 1918, começa a estudar alemão, e pela sua
professora começa a conhecer e ler algumas publicações do expressionismo alemão, nas
artes, arquitetura e literatura.

Van Hoddis, poeta lido e traduzido por Mário de Andrade, “desnuda a figura do
burguês” (p. 295), que é o objeto de sarcasmo expressionista, e seu espaço a cidade e o
tempo o da angústia da guerra. Formalmente, há o uso da ordenação assindética das
frases, grotesto e ironia. Influência no poema “Ode ao burguês”. O poema “Ode ao
burguês” traz renovações de linguagem, e uma crítica ao burguês e à arte que ele
representa. Desde a ambiguídade no título “ode ao burguês” e “ódio ao burguês, até o
uso dos pares de susbstantivo com função de adjetivo: a linguagem vai destruir o
burguês.
“A representação do sujeito lírico na Paulicéia desvairada”, João Luiz Lafetá. In: A
dimensão da noite.

Lafetá defende que até a atualidade a leitura de “Paulicéia desvairada” é uma


experiência de estranhamento ao leitor, pela diferença de tom e registro; os poemas do
livro foram feitos para serem “contados, urrados, chorados”, não visto apenas pelos
olhos. Destaca que “Paulicéia desvairada” foi o primeiro esforço de criar o verso
moderno no Brasil, que representasse a “agitação e o tumulto da vida nas grandes
cidades” (p. 348). Depois dessas afirmações iniciais, Lafetá questiona o poder de
influência e contágio do livro à época do lançamento, estimulando e modificando a
criação de outros poetas da época. Para corroborar sua afirmação, cita o poema “O meu
poeta futurista”, de Oswald de Andrade.

Lafetá afirma que “Paulicéia desvairada” funcionava como uma espécie de


“evangelho estético”, com mudanças imediatas e necessárias para a poesia brasileira,
comparando ao frenesi gerado pela psicanálise nos primeiros anos. Apesar desses
motivos, o autor explica ser necessário observar o desenvolvimento do livro ao longo
dos primeiros anos do Modernismo para entender seu real impacto e importância.

Indica o papel da nova realidade de São Paulo nos anos 1920 como um dos
estímulos para o impuslo de mudanças, bem como o contato com as poéticas
vanguardistas europeias:

Em carta a Augusto Meyer, Mário de Andrade conta que desejara, inspirado


por leituras de Verhaeren, escrever um livro de poemas sobre São Paulo, sem
enrreranto conseguir fazê-lo. Na mesma época, encantado por um busto de
Cristo esculpido em gesso por Brecheret, decide compráJo. Sem dinheiro,
entra em negociaçóes com o irmão, consegue levantar a quântia necessária e
autoriza o artista a passar a obra em bronze do ela fica pronta, a família
(alvoroçada por mais esta loucura do doido-da-casa) reúne-se para conhecêla.
Trata-se do famoso Cristo de trancinha, de fato notável criação de Brecheret.
Mas o escândalo é imediato: diante da arte moderna a família tradicional se
enfurece e recrimina o comprador infeliz. Mário defende-se defende o Cristo,
inutilmente - ninguém se convence. Mas é depois desta cena meio farsesca
que ele, enervado e exasperado, sente a inspiração súbita, abanca-se escreve
de uma só assentada o que viria depois a constituir a Paulicéia desvairada. (p.
351)
Lafetá mostra como a oposição família/arte moderna funciona como um propusor para a
escrita do livro, quando o poeta enontra em si a nova linguagem que procurava para
representar a si e a sua cidade, cm os contrastes da civilização moderna.

Você também pode gostar