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22/05/2022 23:35 Artigo | Festas juninas do Nordeste: memória, tradição e da | Opinião

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Paraíba

INÍCIO  OPINIÃO
VIVA SÃO PEDRO!
Artigo | Festas juninas do Nordeste: memória, tradição e da resistência
cultural
"Manifestação edificada em consonância com o cotidiano de um povo mestiço"
Cristiane Nepomuceno
Brasil de Fato | João Pessoa (PB) |
28 de Junho de 2019 às 08:13

Fogueira, fogos de artifícios e comidas de milho permeiam as festas de Santo Antônio, São João e São Pedro. - Reprodução

Dentre as manifestações culturais do Nordeste brasileiro os festejos juninos configuram como uma das maiores expressão da sua
identidade. Chegada ao Brasil pelas mãos dos portugueses, a festa religiosa da tradição católica cristã amalgamou-se as
especificidades regionais, as práticas do mundo rural e as tradições afro-indígenas –   das práticas mágico-sagradas, expressa nas
crendices e superstições, as comidas a base de milho. Assim, tornou-se uma manifestação festiva edificada em consonância com o
cotidiano de um povo mestiço que à festa transmitiu a diversidade de suas formas de ser e estar no mundo.  

A festa nascida entre os povos pagãos do Hemisfério Norte que em junho, no dia do solstício de verão, reuniam-se para saudar aos
deuses e deusas objetivava garantir a fertilidade da terra e as boas colheitas. Ao ser incorporada ao calendário festivo da Igreja
Católica (em torno do Século VI) a festa, agora dedicada a comemoração do nascimento de São João Batista, manteve sua condição
de festa da colheita. De tal modo, no Nordeste brasileiro sendo o mês de junho época de fartura, no meio rural a festa passou a
acontecer com a finalidade de comemorar as boas colheitas, momento de anunciar para todos a abundância.  

Nas últimas décadas, os festejos juninos passam por transformações, um contínuo processo de ressignificação da tradição que
terminam, em alguns casos, por alterar completamente a essência da festa. É importante chamar atenção para o fato a
transformação inicial deu-se a partir do processo de “rurbanização” da mesma (processo de transição do espaço rural para o
urbano). Nesse processo, os elementos estruturadores da festa (conhecimentos, normas, valores, crenças e símbolos) começaram a
perder seu sentido e caindo gradativamente em desuso: pouco se acende fogueira, imaginem então salta-la. Aquela tradicional
cerimônia onde parentes, os amigos, os namorados contraíam relações de compadrio, apadrinhamento, namoro e até casamento há
muito caíram em desusança. Também não se ler a sorte, os esperados prognósticos de futuro, não se faz adivinhações para

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casamento ou anúncios de morte. Não se solta balões. Não se queima fogos com tanta profusão. E as quadrilhas, momento do riso,
da alegria e do improviso? Hoje são estilizadas, uniformizadas, padronizadas, coreografadas (secretamente), arduamente ensaiadas
(por meses a fio) e dançadas num ritmo alucinante.

Mas, independente do formato, os festejos juninos no Nordeste continuam lugar de destaque, disputando com o ciclo natalino a
posição de festa mais importante da região. Continuam a revelar vivências, um prolongamento dos acontecimentos e valores que
permearam a constituição da nossa sociedade, reveladoras dos diversos segmentos sociais nos quais é possível detectar a estrutura
de relações da sociedade. 

As festas juninas ainda se constitui em lugar de reprodução de valores, fortalecimento da identidade do grupo e consequente
espaço de resistência e espaços de fortalecimento dos laços comunitários. Confirmando, como afirma Marcos Ayala (2001), que a
festa além de permitir a recriação simbólica da memória, também estabelece vínculos com o passado, desperta uma forte
consciência de filiação a uma nação, e contribui para reconstituir o sentimento de comunidade e pertença a um grupo, deixando
“patente este vínculo essencial entre a memória, a identidade e o poder de resistência cultural”, um espelho através do qual os
grupos se percebem - não apenas como portadores de valores culturais, mas também, como seus produtores.

Bons festejos!

* Professora da UEPB/NEABI 

Edição: Heloisa de Sousa

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