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A humanidade vive uma crise de identidade.

A maioria está em busca


de se encontrar em meio ao caos do mundo. A ciência, como um
sistema do mundo, proclamou que não há Deus. A filosofia racionalista
convenceu o homem que ele mesmo tem as respostas às suas
perguntas. E o homem acreditou na ciência e na filosofia. E se
perdeu. Surgiu então a psicologia para tentar remediar a crise de um
ser que não sabe de onde veio e qual seu destino. Ela fracassou. O
homem nunca esteve tão perturbado por conhecer a brevidade da vida
e não saber o porquê de sua existência. Ele luta para se esquecer
dessa realidade que lhe desafia sem trégua.

Se seu sonho é sua identidade, ele se tornará um pesadelo, um


opressor. Você não terá capacidade de conviver com a perda dele.
Você se tornará um refém dele e ele exercerá um domínio opressor
sobre você. Ele pode ser a base de sua identidade e de um temido
pesadelo.

O homem viciado em aprovação não suportará a censura, a injustiça, a


ingratidão, a indiferença ou o fracasso. Ele se sente em um palco a
espera dos aplausos.
Sua identidade não deve ser quem você é, mas de quem você é, a
quem você pertence. Você não pode se autovalidar ou buscar algum
outro homem que lhe valide. São bases insustentáveis de identidade.

Os discípulos de Jesus o seguiram inicialmente muito mais pela


perspectiva de um reino terreno triunfante do que um reino espiritual.
Eles viram em Jesus a realização de seus sonhos nacionalistas. No
seu cárcere, João Batista, o precursor de Cristo, mandou seus
discípulos perguntarem ao Mestre: “És tu aquele que havia de vir, ou
esperamos outro?” (Lucas 7:20). Ou seja, João Batista quis dizer:
“Bem, se Tu não fores a pessoa mais adequada às minhas
expectativas, eu poderia colocar minha esperança em outra pessoa
mais adequada com elas?”.

Jesus disse: “Se o Filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres”


(João 8:36). Se Jesus for a base de nossa identidade, temos a
verdadeira liberdade. Escaparemos da cilada da busca de identidade
nas realizações pessoais. Mas essa liberdade é assustadora para o
homem perdido que se ofende com a mensagem de renúncia, negar-
se a si mesmo, perdoar incondicionalmente, não amar os primeiros
lugares, desejar servir no lugar de ser servido, humilhar-se e de fugir
das ambições mundanas e buscar as celestiais.
A graça divina deve ser a base de nossa identidade. Ela começa
dizendo que “todos nós somos como o imundo, e todas as nossas
justiças como trapo da imundícia; e todos nós murchamos como a
folha, e as nossas iniquidades como um vento nos arrebatam” (Isaías
64:6). Diz também que “todos pecaram e destituídos estão da glória de
Deus” (Romanos 3:23). E que a única recompensa que merecemos é
a morte, o salário do pecado (Romanos 6:23). A condição natural do
homem é a morte (Efésios 2:1) e seu destino é a segunda morte, ou
seja, o lago de fogo (Apocalipse 20:13-14).

É assim que Deus vê todos os homens. Não há mérito algum na


humanidade. Não temos nenhuma posição relevante a ser defendida.
Todo o reconhecimento humano que buscamos nesta terra é fruto de
estúpidos equívocos de um coração mergulhado nas trevas. Essa
busca nos prende em grilhões aterrorizantes, rouba-nos a paz e nos
faz caminhar por uma estrada sombria e áspera. Essa pode ser uma
realidade até mesmo na vida cristã. Podemos nos cercar de ambições
ocultas de reconhecimento, uma obsessão que nos cega e nos faz
lutar por nossa própria glória, ao mesmo tempo em que cremos
enganosamente que estamos buscando a glória de Deus.
A graça de Deus requereu o preço da justiça de Deus derramada
sobre o Filho de Deus. A graça de Deus não quer dizer nada enquanto
a temos como um conceito qualquer. Se tudo que temos dela são
conceitos, ela servirá para nos endurecer mais e mais, tal como foi com
tantos. A graça diz tudo quando ela se torna a base de nossa vida, a
nossa identidade. Ela nos faz enxergar o tamanho estrondoso da
nossa miséria e nos leva a orar como o publicano quebrantado, que
nem conseguia olhar para o céu e dizia: “Ó Deus, tem misericórdia de
mim, pecador!” (Lucas 18:13).

A graça de Deus não consiste em completar o que o homem perdido


possui, mas esvaziá-lo de tudo para que a justiça lhe seja imputada de
forma imerecida e misericordiosa. São os odres novos para o vinho
novo (Lucas 5:37). É o vaso que o Oleiro quebra para construir um
novo (Jeremias 18:4).

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