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"J1hs.;."1'-;..-;.-:;'1;:f."t"r'·
·-·~~liU~lilliE11i!
1. Tipos de instrumentos e
seu contexto político
.'
'.. Os i~sti~mentos típicos do Urbanismo são, juntamente com o
,zoneame~to de uso e ocupação do solo, os vários tipos de índices ou
parâmetr9s que regulam a densidade e a forma da ocupação do espa-
~:ço(gabarito, afastamentos, taxa de ocupação, índice de permeabili-
::,..,:dade etc.}. Tais instrumentos vinculam-se, muito fortemente, à
'::'tr~/dimensãot"física" do planejamento urbano. No entanto, já se teve
;:>"oportunid~de de assinalar, com traço forte, no Subcapítulo 1.2. da
,:Primeira Parte, que o Urbanismo é, tão-somente, uma entre várias
,:.riiodalidaqes de planejamento urbano, bastante ligada à Arquitetura
coino profissão. O planejamento urbano, conforme foi visto, é muito
'mais
. ,'
abrangente,
1
sendo, por vocação, interdisciplinar. Ele não deve
.ter um escbpo meramente de intervenções sobre o substrato espacial
ou, para uqàr o linguajar corrente (mas não muito correto), um cunho
<puramente;~'físico-territorial". De um ponto de vista de ciência social,
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-que é o de,~e livro, o instrumental do planejamento compreende, sim,
, , - os índices t1,lrbanísticos- os quais, em hipótese alguma, podem ser
-ignorados~, mas vai muito além disso, pois engloba também tributos
'(objeto de ~iscUSSãOfreqüente no Direito Urbano, muitas vezes cha-
mado, umipouco impropriamente, de Direito Urbanístico, e no
Direito Tr~utário) e outros instrumentos. O próprio zoneamento,
..que, na qu,tÜdade de zoneamento de uso do solo, constitui o coração
do Urbanis~o em matéria de instrumentos, pode ir muito além disso,
cOmose vel[:á mais tarde, assumindo um caráter distinto do tradicio-
nal zoneam'dnto de uso do solo.
Os instrumentos de que pode servir-se o planejador e o gestor
217
li!
~b::x~,~~~i;,"" .
, .~~:..
,.,. j11bi , tais como as tipicamente contidas em zoneamentos e
urbanos são, portanto, de diversas naturezas (tributos, zonearnelll':' . ental
)0 a la de manejo de parques nacionais, são também exemplos de
parâmetros urbanísticos etc.). Eles admitem ser classificados ap ";' nos
.. ' rO~i: {lOs'P ..
madarnente, em CInCO grupos gerais, no que tange ao seu potencial'.'··' . strllj11entoS coercitiVOS,
. l!l por fim, há instrumentos cuja rationale não é propriamente a de
influenciar as atividades dos agentes modeladores do espaço Urb Q,
ano· ;ufl ""' a açãO de agentes modeladores do "paço mbano, tendo,
informativos, estimuladores, inibidores, coercitivos e outros, . oen
na ,a , outrOS objeti'os, como a auferiçãO d~ recursos adidO"
Os instrumentos informativos compreendem os sistemas e lllei(y.· dade
'5 -é; o caso da contribuição de melhoria, cuja aplicação não visa a
de divulgação de informações relevantes para um ou vários grupos de>
. na ) .P, , estimular, inibir ou coagir quem quer que seja, mas sim a
info
agentes modeladores. As informações podem dizer respeito, ?!lI nnar
captara parte da valorização de um imóvel advinda como resultado
exemplo, a locais cujas potencialidades para investimentos o POdei'
de um~ aç-ão do Estado, como a realização de uma benfeitoria que vá
Público deseja tornar conhecidas, ou, para mencionar um exemplo'
. além das obrigações corriqueiras da Prefeitura (vide detalhes no
bastante diferente, à importância de se separar o lixo doméstico (obje..l
Subca~ítulO 2.3., mais adiante). '.
tivando viabilizar a sua coleta seletiva e a sua posterior reciclagem). Ci;>mose vê, cada grupO abrange instrumentos âe natureza muito
Os instrumentos estimuladores vão desde os tradicionais incen, diversa no que concerne aos seus efeitos sociais mais amplos. Há ins-
tivos fiscais e outras vantagens oferecidas a empreendedores priva:
trume~tos cujo caráter é eminentemente de promoção de justiça
dos, com o fito de atrair investimentos para um determinado espaço, .social,;éomo o IPTU progressivO; e há outros que, dlversamente, pro-
até táticas como a troca de sacos de lixo por alimentos (no estilo do curam:beneficiar grupOS específicos, corno ocorre çom os incentivos
programa Câmbio Verde, de Curitiba), com a finalidade de integrara
fiscais; relativamente aos empresários (na realidade, trata-se de um
população mais pobre a um esforço de superação dó problema da ;instrUlp.ento cujo uso. cada vez mais freqüente, é de legitimidade não
coleta de resíduos sólidos em áreas de difícil acesso, como muitas . pouca~vezes duvidosa do ponto de vista dos interesses objetivoS da
favelas. maioria, da população). Por fim, há instrumentos de natureza essen-
Inibidores são, como o nome indica, instrumentos mais fortes, cialmente maleável, os quais, dependendo das circhnstâncias de sua
cuja aplicação limita a margem de manobra dos agentes modeladores aplicação. poderão acarretar benefícios ou malefícios: é o que acon-
do espaço urbano. Exemplos são o parcelamento e a edificação com-
tece c~m as regulações de uso do solo. .
pulsórios, o IPTU progressivo e a desapropriação - todos explicita-
mente previstos no Art. 182 da Consti tuição Federal, e que serviriam \\
~!
para inibir a especulação imobiliária. A restrição da oferta de mora- í'
ti
dias, com o objetivo de desestimular a migração campo-cidade (o fi
t..!
que foi tentado, entre 1979 e 1983, em Brasília - aliás, sem êxito), é í\
um outro exemplo de instrumento inibidor. tl
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Coercitivos são instrumentos ainda mais fortes, que expressam 'Il
uma proibição e estabelecem limites legais precisos para as ativida- 1\
des dos agentes modeJadores. Os índices urbanísticos (coeficiente de
superfície edificada, coeficiente de ocupação do solo, gabarito,
r
recuos e afastamentos, dentre outros) ilustram perfeitamente este
21
218
caso. Proibições e determinações relativas ao uso do solo e ao mane-
•
O
"::"i::'.:;'":~.
ti:::~;', ue deles for feito, isto é, a maneira como, uma vez regulamen-
~',>;UJiOq condicionarem a ocupação do solo, é que irá se mostrar bené-
, tados,_ casa permita a manutenção de densi id a d es e tipo
:~::. 'I' ogias compa-
~\,. "".' ·fico . I'fi
2. Parâmetros urbanísticos de \&'Ú> , om uma boa qualidade de vida - ou ma e ICO - o que ocorre-
.,;'.',: :,tI yelS c . _ ,
".:' ->: : VI'r como respaldo para uma ocupaçao que conduza a satura-
. "': -, 'se ser
ocupação do solo . J3 dos equipamentos urbanos, ao comprometimento da beleza cêni-
. problemas ambientais. Sendo bastante singelos e de natureza
ea '
""'"mente formal, os parãmetros urbanísticos são inteiramente plás-
rpodendo servir às intencionalidades mais dispares.
'. ". '." Eis a seguir, explicações sucintas sobre os principais parãmetros
0: parâmetros urbanísticos consistem em grandezas e índices .;;V':n~~if:~'~rbanís:icoS (as figuras 4 e 5 servemde explicação gráfica adicional).
(relaçoes entre duas grandezas) que medem aspectos relevantes re1a~':';ir:;';;\1;:·tU~a vez que o enfoque do presente livro não privilegia o olhar arqui-
ti vos à. densidade e à paisagem urbana. Eles são, ao lado dos zonea. :S; ;)r\,;:i:!;'~t·';:.'co mas sim o da ciência social, não vê o autor razão para ofe-
......... ·,··"",:Ae 001 , '
mentos, ,as ferramentas de uso mais corriqueiro ..::.k.·.;i:...<:.';,. mais que uma concisa introduç ão ao tema.
no planejarneni.'Q'·.·.1.,',;;.;~.~.~hf
. '."" ,,···,.,.·.·.recer.
urbano. E necessário frisar, de todo modo, que os parâmetros urba~;;';·;,::~;j~tt::it';';. ;
nísticos e os zonearnentos necessitam andar juntos, com os prirneir~~~:{~tr;l},\uH;~~·&dbafito: parâmetro urbanístico dos mais conhecidos, expressa, em
integrados no interior dos segundos, notadamente do zoneamentóde~;:;:tif~nÍf.t~,~~vimehtos ou metros, a altura máxima permitida para as edificações
densidade. Isso porque os valores permitidos a propósito de cadà'>". :En~tq:eíh uma 'dada zona. Vários são os fatores que podem interferir na
parâmetro não apenas poderão variar de município pará município' :i,:~;t~lit;:r-;j~etermiriação do gabarito, da neces~idade de preservação da harmo-
dado que a legislação que regula a sua aplicação (legislação edilíciá) 'A~
;~t~f;t:f;;iftfa:da paisagem até a proximidade de aeroportos, passando pela lar-
é-municipaí, mas, também, deverão variar de zona para zona, no inte-:,:'''' .-
rior de uma determinada cidade.
Em contraste com outros intrumentos, como os zoneamentos, o~Y';1; ;i){;;rM~Áfasta'tnentos: compreendem os recuos obrigatórios da edificação
quais, muitas vezes, carregam um indisfarçável conteúdo político-,>;;~t~~je;:~eín rela~io às divisas do lote (afastaplentos laterais e de fundos), em
ideológico, ao promoverem segregação ou, pelo contrário, inclusãO',i;;:~~A~t~J~,!êlàçãO
~o logradouro (afastamentofrontal) e, eventualmente, entre
(vide Capítulo 4, mais abaixo), os parâmetros urbanísticos não pos- ,,:,;,}ji;~tt;~~~dificaç6esno mesmo lote, Os afastamentos obrigatórios são estabe-
suem, em si mesmos, uma vocação progressista ou conservadora;fr\"'~;Jt;~l~cidos l?;ela legislação edilícia vige~te em cada município, e os valo-
Eles expressam, simplesmente, aspectos da densidade urbana e das.:-:\/'l~f;.Yr~s podeêão variar bastante no interior da cidade, além de, em algu-
formas espaciais, É certo que não se deve perder de vista que mesmo. é\tLft~l.l\t.inas cirdí,mstâncias, também dependerem da altura das edificações.
instrumentos de nítida vocação progressista podem ser distorcidos e:~,/~~~;~I{1~R:~fastªmentos são muito importantes, pois permitem c_?ndiçÕes
trazer mais mal do que bem, se porventura forem regulamentados de:"if/:i.~imi::n:1ll1ma~t~aceitáYeis em matéria de ventilação e iluminação. assim
maneira pouco inteligente, inadequada ou distorcida. De toda sorte, ,<J:\H~.f'~;Somo pdhcidade,
em tais casos pode-se falar de uma perversão do uso do instrumento,;~;}·
em desacordo com o seu espírito original, ou de pura e simples;:}' ida (total) (ac): também denominada área ediflcada
incompetência, Com os parâmetros urbanísticos se dá algo um pouco consiste na soma das áreas de todos os pavimentos de uma
diferente. Mais fortemente do que ocorre com outros instrumentoS,
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220
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r~~TS~-_3"= ~====n""iH<>U!"-fc.l~~~~;Ef;;;;.;;t;;~~j:;W[!::l'''''''!!'-''~-=".===T=l:OCO="JL"r.::;r::L""'-"'="-~·''''::'·~O:-O!_'':'''''.,-_,_,._,.~"O_,"'"-o
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• Taxa de Ocupação (TO): é a relação entre a área da projeção he.!
,
zontal da edificação (ou edificações, caso haja mais de uma edif~ fjg·4
~
l·;, ção no mesmo terreno) e a área total do lote ou da gleba. Exel1l[r
ti A
~ considerando um lote de 500 m2, onde exista uma única edific&f;' A Lote (área total do lote, a~
~: em que a área total ocupada por sua base seja de 100 m2, a taxa:
~U!:
rr ocupação será de 0,2.
~~~i~j B Projeção horizontal da edificação
g
f..··..' • Coeficiente de Aproveitamento (CA), também chamado de l
a Afastamento frontal
J' naf
[ b
de Aproveitamento do Terreno (IAT): aqui se trata da relação entre: Afastamentos laterais
área construída (total) (ac) e a área total do lote ou gleba (al;2
Portanto, CA = ac:at. Exemplo: considerando um lote de 1.000 mil
C Afastamento de fundos
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ir J"
uma edificação cuja base mede 250 m2 de área, ter-se-á um coefici{
fi
f
te de aproveitamento do terreno igual a 1 se a edificação em ques~
,-
possuir quatro pavimentos, correspondendo a área total edificadaL
2
1.000 m . Ou seja, a Soma das áreas de todos os pavimentos igualar C Áreas do lote impermeabilizadas
área total do terreno. (edificação, área de estacionamento)
de uma parte da cidade tende a contribuir para a formação de ilhas IT:rj F Projeção horizontal das edificações;
quando a sua soma é dividida pela
calor, acarretando grande desconforto térmico. 08 área total do lote, obtém-se a Taxa
H
ti de Ocupação, ou TO
• fndice de Areas Verdes (IA V): é a relação entrea parcela do ~i
(lote ou gleba) coberta por vegetação (av: área Com vegetação) e "
r:J
('1
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área total do mesmo. Assim, IA V == av:at. A exemplo da TP, tam'
o IA V é um índice muito relevante sob o ângulo ambiental, uma F':
que a maior quantidade de áreas verdes em uma dada parte da I
'..\
Fig.5
••Área bruta e área líquida: a área bruta de uma zona ou de um
.,-<, .. ,
as Sentamento
. (por exemplo, um loteamento) é a sua área total, inclu-
sÍveos jogradouros (ruas, praças) e os espaços institucionais. A área
liquida pe uma zona ou de um assentamento refere-se, via de regra, à
área utijizada estritamente para fins residenciais, deduzindo-se, por
.,consegljinte, os espaços ocupados por vias de circulação, praças e
todo tipo de uso não-residencial.
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A Lote (área total do lote, a~ 81 Projeção horizontal da edificação
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-,3llir~,2m[~c;'iJ!:5!1ITili:::J: ".~}"J;EcTli[;c;,:ill
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! dê colaborar tanto para evitar a formação de vazios urbanos e o pro-
J
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blema da "urbanização em saltos", quanto para superar ou, ao menos,
~ t
f: a punição a uma situação de nítido e insofismável cunho especulativo " uma propriedade fundiáriamuito grande em área onde tenham sido
~, ela sim, socialmente ilegítima. Importa registrar, ainda, que a aprova: I realizados investimentos públicos, isto é, onde pelo menos uma parte
da ínfra-estrutura técnica e da mfra-estrutura socia142 tenha sido insta-
[ ção do Estatuto da Cidade veio trazer a necessária cobertura jUrídica ;
~• para a aplicação da progressividade no tempo do IPTU. Batalhas jUtí. 1 lada pelo Estado. A rationale do instrumento é, assim, a seguinte: se
t dicas devem ser esperadas, a propósito desse e de vários outros itens dol toda a coletividade (nesse caso, especificamente, os contribuintes)
fi ~s~tuto: ~as,. sem dúvida: fico~ mais. difícil para ~ lobb~ d~s proPrie.I custeia li ínfra-estrutura, e não esquecendo também dos problemas da
ij tános privilegiados obter, Junto a Justiça, a cassaçao do direito de ullla 1 eSCassezde moradias e da geração de grandes vazios urbanos devido à
ti Prefeitura lançar mão disso - a.progressividad~ do imposto - q~e cano I atividad~ eSp"....culativaem larga escala (este último problema sendo co-
i figura, como lembrou um abalizado comentarista, uma pura e Simples I responsável por uma exagerada expansão horizontal das cidades), seria
obrigação constitucional (América Masset Lacombe, "Obrigação I mais qu~ razoável exercer uma forte pressão sobre esses proprietários.
constitucional", Folha de São Paulo, 17/10/2001). i O que dizer; porém, de uma situação em que não haja suficiente infra-
Seja como for, vários cuidados precisam ser tomados, a fim de I estrUturajá instalada, coisa que é típica dos espaços de periferia urbana
não se incorrer em equívocos ou mesmo cometer injustiças a pretexto ~ no Brasíl? Sob tais circunstâncias, adotar a progressividade no tempo
de se promover a justiça social. Antes de mais nada, é necessário que, I do IPTlJ pareceria, tal vez, punir indevidamente o proprietário, pois este
se o instrumento deve se prestar adequadamente à coibição da especu· ~ poderia: alegar que não seria conveniente ou razoável promover um
lação imobiliária, é condição sine qua non ter clareza do que isso sigo I loteame'nto em área desprovida de equipamentos. É lógico que esse tipo
If'
zarem as condições de ociosidade e subutilização a serem associadas à qualquer infra-estrutura e em desconformidade com o que se encontra
,
especulação. A primeira coisa a ser feita, a esse respeito, é definir o previsto na Lei Federal 6.766 de 1979 (conhecida como Lei
tamanho mínimo (metragem de superfície) a partir do qual um terreno, - 'Lehmann);43 entretanto, para evitar fornecer aos grandes proprietários
caso mantido desocupado, poderá ser alvo da aplicação da progressiví- .urbanos um álibi, o Estado deve, justamente, cumprir a sua parte: dotar
t dade no tempo do tributo. É preciso considerar, também, que um terre- de infra-estrutura, naquilo que lhe couber - isto é, sem abdicar de
no não precisa estar totalmente desocupado para se admitir que a "fun- cobrar que os loteadores cumpram o que a lei deles exige! -, aquelas
ção social da propriedade", por mais vaga que seja esta expressão, não áreas que se destinem à expansão do tecido urbano.
está sendo atendida. Caso a superfície realmente ocupada seja muito I O Código Tributário estabelece, em seuArt. 32, que a zona urba-
inferior à superfície total do terreno, isso pode corresponder a uma I na, a ser definida em lei municipal, para efeitode lançamento do IPTU
subutilização, a ser interpretada como fato gerador do tributo. Tant~ a I
metragem mínima quanto, no caso da subutilização, as proporçoes 'I '---
42 A chamada infra-estrututü técnica compreende as diversas redes de abastecimento
I
ti
f'
(que devem ser variáveis conforme o tamanho da propriedade, segun' !
do faixas de tamanho), podem ser diferentes conforme o município e I
suas particularidades. Caberá ao plano diretor estabelecer o conteúdo 1
(água, energia elétrica domiciliar), as redes de esgotamento (sanitário e pluvial), a
ilUrninaç~b pública e o calçamento da malha viária, A tnfra-esmuura social abrange
equipam~~!tos tais como hospitais, postos de saúde, escolas, creches etc.
43 Daí serem tais loteamentos denominados de irregulares. Por não consistirem esses
t concreto desses parâmetros, após prévio estudo da realidade local. loteamen(os em ocupações ou invasões, os moradores desses locais gozam de urna
t Há, ainda, um outro tipo de cautela na aplicação do tributo que t
"
situação jurídica não mui to desconfortável, pois possuem algum tipo de documento de
proprieà?;de da terra; não obstanie. por serem irregulares, vale dizer, por ferirem as
deve ser observado. A progressividade do IPTU no tempo é uma normas U;rbanisticas previstas em lei, tais loteamentos não deixam de ser, em certa
punição aplicada a um proprietário que deix.a ociosa ou subutilizada medida, ilegais, Urna caracterização um pouco rneuossumãria dos loteamenlOs írregu-
lares pode ser encontrada no Subcapítulo 4-2,
2~
230 -. I
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(comum), deverá, para ser instituída, englobar áreas que respeitem o '-terreno de sua ociosidade, de seu "pousio social". Se, uma vez dotada
requisito mínimo da existência de melhoramentos, construídos Ou 'ea da infra-estrutura mínima necessária, o proprietário não tomar
mantidos pelo Poder Público. Pelo menos dois dos seguintes melhora. a ar '
, :,"' ualquef atitude, nesse caso surge, plenamente, o fato gerador da pro-
mentos têm de estar presentes: meio-fio ou calçamento, com canaliza. - "Qfessividade
q '. doo iImposto. 44
,,'.,
o:; :
ção de águas pluviais; abastecimento de água; sistema de esgotos san; -I'
Código Tributário vem relativizar o alcance do parágrafo que o antec;e-, Em sentido genérico, pode-se definir solo criado como
de, ao estipular que "a lei municipal pode considerar urbanas as áreas' sendo a criação de áreas adicionais de piso utilizável não apoia-
urbanizáveis, ou de expansão urbana, constantes de Ioteamentos apro- .: das diretamente sobre o solo.
vados pelos órgãos competentes, destinados à habitação, à indÚstria oti ~ a criação de piso artificial. ,
ao comércio, mesmo que localizados fora das zonas definidas nos ter; Aidéia do solo criado pressupõe a adoção de um coeficien-
mos do parágrafo anterior" (CÓDIGO TRIBUTÁRIO NACIONAL, te único de aproveitamento do solo. É\ partindo-se dessa idéia
2001:43). Não se deseja pôr em dúvida a justeza dessa relativização, que se pode chegar a uma concepção de solo criado stricto
necessária diante da previsão de expansão urbana. Mas, por uma ques- ','
sensu,-,. quando se terá que solo criado é b, excesso de construção
tão de coerência, diante da expectativa de direito a uma infra-estrutura
(piso; utilizável) superior ao limite est~belecido em função do
mínima gerada pelo § I?, a Prefeitura deveria abster-se, portanto, de
coeficiente único de aproveitamento. (LIRA, 1999:180)
aplicar o IPTU progressivo sobre aqueles vazios urbanos situados em " }. ~
áreas totalmente ou quase totalmente desprovidas de infra-estrutura _.," ,', Embora a Lei Federal de Desenvolvimento Urbano, o Estatuto
técnica e social, a propósito daquele quinhão que é de responsabilidade /;;) da Cidadcl" não tenha tratado do solo criado juntamente com os outros
do próprio Estado. Dado que o Art, 7? do Estatuto da Cidade, em seu (k LEI 10.257, de 10/07/2001), preferindo abordá-Ia sob a
§ 3?, proíbe expressamente a concessão de isenções no tocante à aplica- 'rubrica "Ipstrumentos jurídicos e políticos", não é razoável negar que
ção da progressividade do lPTU, resta, como solução, somente lançar constitui um instrumento tributário. Há uma polêmica, larga-
o próprio IPTU quando aquele mínimo previsto no Código Tributário - jurídica, sobre se a outorga onerosa do direito de
Nacional estiver sendo rigorosamente cumprido. O lançamento legíti- ':'l'{)n~f'r,,;~ ,L;~_~,:,.. :_:~ um tributo ou não. A posição do autor tem sido
mo do IPTU progressivo pressupõe o lançamento legítimo do IPTU ,.'<,",'h~<'>' como uma espécie de tributo, em que pese a sua
em geral. Em área desprovida de infra-estrutura, inclusive daquela cUja'x,J:mi;-')ifL . extrafiscaJ. Há, contudo, os que preferem vê-Ia
construção cabe ao Estado, e sem loteamento aprovado, fica compro- ,>:',- '>"" ,,"';'"Como ou uma "compensação", evitando o termo tributo,
metida a legitimidade, e mesmo a legalidade, da cobrança do JFI1J, e
o que dirá da sua progressividade. Ao exigir o parcelamento da terra, o
-c. ' ." ,.Eventualni,çnte, em situações excepcionais, devido a empecilhos de ordem finan-
Poder Público deverá cumprir a sua parte, implementando infra-estrU' "'-' ,,' ,<,<o,celfa ,10 no_I" do proprietário para a promoção do aproveitamento da propriedade,
tura; ao proprietário caberá fazer a sua, apresentando um projeto de Estado encarregar-se dessa tarefa. Ver, sobre isso, o instrumento
no Subcapítulo 5.2. desta Parte Ill.
loteamento ou tomando quaisquer outras providências para retirar
232
233
O
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--._--'~~"~C"~c'",~="~=~~=:;;J";'&8~~~iiii~liJ\Zillj][;,JllG::]ill8milli;,;mj11ii]~~iill2:i]íii~
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~.~:
sobretudo por acharem que, por não estar o "solo criado" preVisto,e. ~'
plicitamente, na COnstituiÇãoFederal, sua qualificação como trib :;,; tombém chamada de superfície total do terreno. O solo criado é
nO,"'"-'. .
poderia criar embaraços legais para a sua implementação. Apare'.; u stabelecido, normalmente, tomando-se o coeficiente de aproveita-
r,
temente por esta razão não foi ele classificado, no Estatuto da Cidade' ~ento 1,como coeficiente de aproveitamento único - ou seja, passa-
entre os "institutos tributários e financeiros". Existem, também, osqllt' se a aplicar a cobrança do tributo a partir do momento em que a
assumem posições intermediárias, mais complexas. O risco de Se fê\. , superfície construída supera a área do terreno. Essa superação pode
valar para uma discussão bizantina parece ser enorme ... O que impo~i ser vista'como
, o fato gerador do tributo, isto é, a condição que justi-
é que, considerando_se a relevância da aplicação do instrumento, COI). fica ou reclama a sua aplicação.
cessões terminológicas, por razões de ordem tática, podem até faz~ A t(tulo de exemplificação, registre-se que o coeficiente de apro-
sentido, conjunturalmente, desde que não se criem tabus que inter.. , veita.mçntoúnico previsto pelo projeto de lei do Plano Diretor de São
ditem o debate conceitual e sacrifiquem o conteúdo no altar da forma Paulo f~i de 1,0, excetuadas certas Zonas Especiais (DIÁRIO OFI-
Graficamente, a idéia de solo criado pode ser esclarecida COllJa .' CIAL DO ~NICÍPIO DE SÃO PAULO, 1991:Art. 13); o Plano
ajuda da figura 5. Considere-se, por exemplo, que a área total do lote Diretor do Rio de Janeiro estabeleceu o coeficiente 1,0 como coefi-
(ar) representado na referida figura seja de 1.000 m2 e que cada pavio ciente de aproveitamento único para todo o município (CÂMARA
mento ocupe 250 m2• Os outros pavimentos que se adicionam ao MUNlqPAL DO RIO DE JANEIRO, 1992:Art. 23); já o Plano
pa vimento térreo já representam uma "criação de solo", pois equiva. Diretor de Belém estabeleceu um coeficiente de aproveitamento bási-
Iern a uma criação de área utilizável que não se situa ao rés-do-chão, code 1.4,
I
excetuando-se, a exemplo do que havia sido previsto em São
'
A área, em metros quadrados, produto da soma dos quatro pavime, Paulo, o~ lotes contidos em determinadas zonas especiais,notadamen-
tos mais baixos, incluindo o térreo, é idêntica à área total do terreno: te Zonas:de Especial Interesse Social correspondentes a favelas e lotea-
Se se estabelecer como coeficiente de aproveitamento, para todaa mentos (pREFEITURA DE BELÉM, 1993:28-9 [artigos 182 a 191]).
cidade, o valor 1 (um) (poderia ser outro, e esse valor poderia variar Agora que já se esclareceu qual é o fato gerador do tributo, pode-
no interior da cidade ou do município), isso significa que,já a partir se indagar sobre a sua rationale. A importância social do solo criado
do quinto pavimento, no presente exemplo hipotético, incidiria o trio reside e~ seu caráter de contraprestação à coletividade por parte dos
buto do solo criado. No caso do prédio esquematizado na figura 5, beneficiários do processo de verticalização, relacionada tanto a edifí-
com doze pavimentos, o tributo incidiria sobre a área somada de oito cios comerciais quanto a prédios residenciais. Essa verticalização
pavimentos. Embora já se "crie solo" a partir do momento em que se representa uma sobrecarga sobre a infra-estrutura técnica e social,
cria área útil em pavimento superior ao térreo, a cobrança da conces- eventual[mente exigindo muitos investimentos públicos adicionais. É
são onerosa do direito de construir não poderia ser tão rígida a ponto um truísmo ponderar que, em uma sociedade capitalista, não há.muita
de ter como fato gerador toda e qualquer "criação de solo". O coefí- margemlde manobra para se questionar a propriedade privada do solo,
ciente de aproveitamento 1 é bastante razoável, ainda que coeficien- e mesmo eventuais desapropriações por motivo de utilidade pública
tes menores possam ser aconselháveis, principalmente, na área rural devem Plreveralgum tipo de indenização aos proprietários.Nada impe-
de um município, como medida para auxiliar a conter a destruição, de, sem~~mbargo, que o direito de construir possa ser regulado e
pela expansão urbana, de espaços agricultáveis. mesmo Yfndido pelo Estado, o que pressupõe a separaçãoentre direi-
O coeficiente de aproveitamento, como já se viu no Capítulo 2 to de prbpríedade e direito de construção. A concessão onerosa do
desta Parte Ill, é o índice que relaciona a área construída, que é a área direito C[9 construir constitui uma forma de tentar, via Estado, capturar
total edificada (incluindo-se a superfície referente aos andares não. para
•
a doletividade
L.
uma parte da valorização imobiliária. Afinal, a
térreos, onde, por assim dizer, "criou-se solo"), com a área do terre- Infra-estrUtura necessária aos empreendimentos relacionadoscom pré-
234 dios comerciais ou residenciais de médio/alto e alto status, sobre os
O
235
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quais inCi~iri~? ~ibi:Ito, é financiada. pelo conjunto dos contribuiriteJ II arior àquela p~nnitida pelo ccx:~ci~nt~ de aproveita~ento úni~o,
por que nao e"lglf alguma contrapartlda em nome da cOletividade?"1,1: S P;; o caso de Sao Paulo, como ja fOI dito alguns paragrafos ~tras,
o. primeiro impulso n~ direção do estabelecimento do solo cri' j .q:~~nde l,b, excetuada~ as chama~as Zonas Especiais (cf. DIARIO
~omo mstrumen.to de planejamento fOi.dado em 1971, quando esPô:~:(;FlClAL DO Mffi.<lCIPIO ~~ SAO PAULO, 1~91:Art. 13). Quan-
listas em planejamento urbano reunidos em Roma elaborararn ~ .., hamadas Zonas Especiais de Interesse SOCIal,correspondendo
d ' UlUj' tOase, . . ..
OCumento em que defendIam a separação entre o direito de pro 'll' :," Ias ou loteamentos irregulares, o mesmo projeto de lei estabele-
dade e o .dire~tode .construção (cf. ~EIRo. e.CARDOSO, 199i~ J.~í::ais adiante, que ne~asa outo~g~do ~ireito.de construção acima
8). A aplicação do mstrumento propnamente dito só viria alguns a! ficiente de aproveitamento umco nao sena onerosa, desde que
. . - nos; docoeJ, .'. '
mais tarde, com a legislação francesa de dezembro de 1975 sob : j'. tasse de edificação destinada a moradia popular (cf. DIARIO
pl~fond legal de densité (teto legal de densidade), parcialmente tr~~~ I ,6;~IAL 00 MUNICÍPIO DE SÃO PAULO, 1991:A~. 24).
cnt~ em ~IRA (l~99:111-2). Na Itália, a legislação de 1977 sobreo i 'Ainda: no' que concerne à operacjonalização do Instrumento,
regime di cO!I~es~lOne,em q~e o direito de construir é entendido ComoL ';'LÍRA (199~: 180) restringe demais a aIJI~caçãodo mes.~~, .ao preco-
separado do direito de propnedade, podendo ser concedido onerosa; '~:,hiiàr que a,~'(...) contraprestação a ser feita pelo beneficiário do solo
mente pelo Estado (vide transcrição da legislação italiana em LI]) A " " 'a'do devÚá preferencialmente ser consubstanciada na cessão à
':.
1999 '"",cn"
. :112-3), foi igualmente um marco importante. Também no Brasil, ',,::t6munidad~ de área proporcional ao excesso praticado (para criação
a discussão a respeito da concessão onerosa do direito de construiré.t, ~-âéáreas ve~des, implantação de equipamentos comunitários, praças,
um boca~o antiga: já em 1974 a Prefeitura de São Bemardo do Cam~, ';. ;:Jicolas, parques etc.), sendo que, apenas na impossibilidade dessa
(SP) havia dado um passo decisivo, a partir da organização de um:::~:cessão, é que a dita contraprestação poderá significar uma compensa-
seminário no qual o instrumento foi discutido; três anos 'mais tardeó, ' ,;?çã~ financeira vertida à municipalidadt( Do ponto de vista do autor
Plano de Desenvolvimento Integrado desse município previajá o ins.,". ' ..do presentelivro, o solo criado traduz-se, pelo contrário, prin~ipal-
trumento (cf. RIBEIRO e CARDOSO, 1992:38). Em 1976, semináriôS;." mente em uma contribuição financeira, e apenas excepcionalmente
importantes foram realizados nas cidades de São Sebastião São Paulo ',r' · e
"ií~rganhas transações outras deveriard ser cogitadas.
e Embu, daí resultando a chamada Carta do Embu, de 11 de dezembro l;'~
);:j É cheg'hdo o momento, agora, de colocar uma questão crucial:
de 1976, na qual o solo criado foi explicitamente defendido. Diante'", , 'tjuefn ganhd e quem perde com a impl~mentação desse tributo? Esta
disso, e pelo que se pode perceber por textos como os de GRECCO j·'.:~?,:é\ímaquestão muito menos trivial do que a de saber quem ganha e
Filho (1978) e SETÚBAL (1978), depreende-se que na segunda me~;",;~:'.'{tg'Uemperde, por exemplo, com o IPTU progressivo. Identificar, ao
de da década de 70 havia um verdadeiro debate em tomo do ínstre'; F'é':~:;!rienosteoricamente, os ganhadores, não constitui problema: direta-
mento, debate esse que não se circunscrevia aos setores progressist.àS:',«,':-rfo~nte, o Estiado e, indiretamente, os beneficíáríos dos investimentos
A despeito de tudo isso, a concessão onerosa do direito de constrUi('::Y,.;':~st3.tais em7'áreas segregadas (favelas' e loteamentos irregulares),
raramente foi implementada pelas prefeituras brasileiras. .r::~H~;'."J~mr\lestiment~s esses para os quais os redursos arrecadados com o solo
O solo criado, sem dúvida, tem vocação para ser um tributo dé'l;Y;"l:N:,~,?aô.o deve(iam contribuir. Já identificar quem perde e em que pro-
caráter progressivo. É de se notar que a equipe que elaborou o prof:::tf/:;p'àrção perd~ constitui assunto bem mais complicado. .
to de lei do Plano Diretor de São Paulo, durante a gestão da ex-pre':Mw:'{;"+' Para S:r\10LKA (1991:33), adotando uma posição neo-ricardia-
feita Luiza Erundina, tomou o cuidado de estabelecer que o EStldO/~;.i~;n;;{:~l1a,nãO há dúvida de que os proprietários fundiários é que arcarão
poderia outorgar gratuitamente, para a iniciativa privada e outrÔS;~~W;X:·:~:~,bm o ônus~erivado da introdução do tributo, conquanto ele conce-
agentes promotor~s, a a~~oriz.açã~ para ~ construção de habitaçôes,;J llm;S:i:i
a que o tributo em questão on~ra~á.os pro~~t~res imobiliários que
populares (denommadas habltaçoes de mteresse social") com ár~;!?1t~'ii~'~f;;;?I~m, ao mesmo tempo, propnetanos fundiários. De seu ponto de
236
O 237
•
~iff"il~f[i;;';B;:r~iQIJl,~r~~!lli;"[.]I~Sill[ç~;m~i,~.-ii~jT~~~JUi:it"[:~i~IT~EDT~,::±~
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vista, está fora de cogitação que o tributo seja repassado para o COi'. !:
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sumidor final, ou seja, para o comprador do imóvel, e mestnoo'. t Também há, no entanto, limites para a intemalização do ônus por
temores dos incorporadores e construtores deveriam ser tomados,e;'.~ '. e dos proprietários fundimos, assim como por parte dos incorpora-
princípio, como infundados. Essa parece uma posição por dellJ/~
par! como mostram RIBElRO e CARDOSO (1992:44-5). Tudo isso,
dores,
rém, baseia-se no pressuposto dee que oronri tárinos f un diá1ar10S,cons-
oue propne
extremada, provavelmente decorrência de uma crença, de raiz ideo. lS;
lógica, na "soberania do consumidor", cuja "liberdade de escolha" ell! ,po lores e incorporadores imobiliários são agentes distintos; no caso de
meio à competição intercapitalista permitiria transferir o ônus inte- ,: incorporadores serem também os proprietários, a tensão, no que se
gralmente para a outra ponta do processo, os proprietários de terras. refere à internalização do ônus causado pelo solo criado, transferir-se-
RIBEIRO e CARDOSO (1992), de sua parte, ofereceram uma análi. á exclusivamente para a relação entre vendedor e comprador.
se bem mais matizada, a exemplo do que também fez GRANELLE Por Jitimo, deve-se examinar com um pouco mais de detalhe os
(1992) e, mais tarde, SERRA (1995). Considerando em Conjunto as objetivos do instrumento. Quais as funções do solo criado? RIBElRO
ponderações daqueles três primeiros autores, parece, na realidade, · e CARDOSO' (1992:46) elencam as seguintes potencialidades regu-
que o resultado dos efeitos do solo criado, no que toca à incidência do .] latórias para o instrumento: "o descongestionamento das áreas cen-
ônus, está na dependência do grau de elasticidade da oferta de solo · trais"; "a criação de espaços Iivres/institucionais e a preservação de
assim como do grau de elasticidade da demanda por solo. áreas de interesse cultural, histórico e ambiental"; "a redução acen-
.tuada do preço da terra"; "a geração de recursos que, de forma com-
Se a oferta de solo for inelástica, então o ônus tenderá a recair
pensat6ri~,'flnanciarão programas habitacionais e urbanização de
inteiramente sobre o proprietário do terreno. Caso haja elasticidade
áreas populares". Dando um passo adiante na direção de uma síntese,
de oferta e de demanda, o ônus se reparte entre o proprietário do ter- "
, Uma vez que a segunda potencialidade, a rigor, é bastante redundan-
reno e o comprador. Por fim, se a demanda por solo for inelástica,.
',te com a primeira (pois a promoção da preservação e da criação de
l então o ônus seria exclusivamente do comprador.
: espaços livres dependerá, no caso, de se evitar um maior adensamen-
" É de se prever que, na ma;o,;a dos caw" cada um do, três agen- ,to), três utilidades principais podem ser arroladas:fitnção de arreca-
'" tes arcará com uma parcela do ônus. A esse respeito, é necessário
dação,fitnção desconcentradora e função de rebaixamento dos pre-
,'/ ' '" obse",,, alg",,, fato,,", A partir de um detenn;nado limite, os poten
'ços da terra. No entanto, nem todos esses objetivos podem ser plena-
H" ciais compradores de imóveis, razoavelmente informados sobre os mente atingidos concomitantemente.
I' P''ÇO, p"t;cado, no mercado, '''güão a tentativas de repasse P'" A função de arrecadação depende da dinâmica construtiva
, ' pa~e dos incorporadores do ônus representa~o pelo tri~ut,o, renuncian- (mais especificamente, da dinâmica da verticalização) e do nível de
do a compra ou escolhendo uma outra opçao (outro imóvel ou outro renda, Isso significa que, em áreas onde residam, predominantemen-
'.. bairro). Sabendo disso, e considerando °
preço máximo do imóvel a te, pessoas de baixo poder aquisitivo, como periferias e bairros popu-
t· ", COnstm;do, os ;ncmpu"do"" p'ec;"m tentar transferír a maior ,lares, e em espaços que não sejam palcos de verticalização realmen-
i parte POS.;vel do ônus pua", pmpúetáúos fund;á,;o, (RIBEIRO e · tedigna ~e nota e onde a chance de que isso venha a ocorrer dentro
r CARDOSO, 1992:44). É lógico que, em submercados elitizados, e de um int~rvalo de tempo razoável seja mínima, não faz sentido pre-
t' ainda mais em situações em que um determinado bairro se beneficia de tender aplicar o solo criado. Concretamente, isso significa que, para
I.:, amen;dad" natuni, ou outras "ntage ns nãocep,odutíve;s em ou"'; rn' "
ilHas ~arcelas do espaço intra-urbano, e mesmo para numerosos
!. locaIS, pode-se fazer face a uma clJentela dIsposta a pagar um aJt ll1unicípibs, vistos como um todo, o instrumento é praticamente des-
i ",>cedente do Co",umido,", ou seja, d;Sposta a ;ntemaliz,", uma p""' Próvido;de importância, SER_RA (1995) chama a atenção, ademais,
t .. do ônus para não abri, mão de um, localiza"o ptívileg;ada, .c,orn base em simulações, que, embora a função de arrecadação,
,;g::"\,, 268 entendendo o instrumento como um complemento do IPTU, seja a
;~ii~i:··;·!.:.__{·:· _._ 23~
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=i .""fl!IRli, •• ,w:.:;s . f ...•.;\(-UIi1t!mlm,f.mnfmt.e:~1fhfl
mais importamo, '
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con,'d"ado" sem o que o pagmnonto o "L'o o cnaoo
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os promotores imobiliários que redundana na mviabilização de
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""'t • fi to gera s z volorização Imo vimento de infra-
to, ompn,ondimonto', gomodo uma ""ação do m"cado. "'1 " : q'oi"'u' :.blicas.
'fica a su Todavia, pro é um dever do
uma v ez que .odadãos
A função de<concent.odom, do sua Parto, "''''m a",o" ~ •. o;, iJeobras pu. o social básica" a todos os CI rn uma definição
, _
° da f"Oção do allc"daç.o.
• • , j,
.,
241
°
Sob 'ogul0 da pmrnoç,o de ;"'11' 'DÓa1, medümle """ r
bulç'o ('Iod, q" lodl",,) de renda °
Ilpo de obra pobll" p,,':"!, nicações em geral oude suprimento de gás, funiculares,
de ser enquadrada como fato gerador da aplicação da COn<.. '-">Slk" ascensores e instalações de comunidade pública.
melho,;, corrcspoode,;, à I"tal.ç,o de iO&,-e"",u," não- l", 'f e) Proteção contra secas, inundações, erosão, ressacas e de
lar e, sobretudo, a obras SUntuárias e de embelezamento eme nEI .. ,.
saneamento e drenagem em geral, diques, cais, desobstrução
pr: '"egl,do" O sujeito passi eo do I'; buto seria, porramo, °
P'0J>i;" de barras, portos e canais, retificação e regularização de cur-
lá'io imoblll'clo, via de cegm de médIo ou '110 POde, 'qUI'h;" sos d'.água e irrigação.
beoefici'do d;"ela c/ou ind ;,elamente (aumento do valor de 1'«0,:' f) Construção de estradas de ferro e construção, pavimentação e
l' 5
abilida e
d do Estado e a cobrança do tributo incide diretamente sobre
'.. .
. rietários dos imóveis beneficiados. No caso de impact fees e do
I
custo da obra. Tal procedimento, nada incomumjustamente em áreas
dar-se com Lagôa), corresponderia a um temerário "exercício de
mais pobres. como na maior parte das periferias urbanas, onde os
futurologia"; em segundo lugar, porque o problema não é tanto o
t administradores alegam ser essa a única forma de viabilizar as
caráter complicado dos cálculos envolvidos (assunto exagerado por '
demandas dos moradores, é, porém, uma "contribuição de melhoria"
Lagôa, assim como por outros autores), mas sim a indisponibiJidade ;
~ apenas em sentido amplo. No fundo, não passa de uma técnica de
dos dados necessários, concernentes à valorização dos imóveis,
financiamento de obras públicas - técnica essa, aliás, moralmente
Sobre esse segundo ponto, de toda maneira, é preciso admitir, con-
reprovável d6 ponto de vista do autor deste livro, pois todos os habi-
cordando Com TOURINHO (1988:163), que o Decreto-Lei n? 195,
tantes de uma cidade têm direito à infra-estrutura elementar. No
de 24/02/1967, que rege a matéria, apresenta critérios complexos
Brasil, país onde, à semelhança de quase todos os outros países peri-
para o cálculo das alíquotas individuais, ao estabelecer que "[al per-
féricos esemiperiféricos, pouco se pode falar de uma cultura de pla-
centagem do custo real a ser cobrada mediante contribuição de
nejamento, é sempre possível, ainda por cima, deparar-se com confu-
melhoria será fixada tendo em vista a natureza da obra, os benefícios
sões: é o que {tcontece com o plano diretor de Belém (Lei Municipal
para os usuários, as atividades econômicas predominantes e o nível
n? 7.603 de 13/01/1993), o qual, em seu Art. 225, prevê e enuncia
de desenvolvimento da região", A bem da verdade, o referido decre-
(deixando a criação efeti va para legislação regulamentadora específi-
to complica desnecessariamente o assunto. Não há necessidade, por
ca) a contribuição de melhoria, embora chamando-a, muito estranha-
conseguinte, ao COntrário do que sugeriu Paulo Rocha Lagôa, de se
mente, de "contribuição urbanística", a despeito de o nome contribui-
modificar a concepção do/ato gerador do tributo, o qual deixaria de
ção de melhona se achar plenamente consagrado. Logo em seguida,
ser a valorização decorrente da obra pública para tornar-se a obra em I.
prestação de serviços urbanos" (PREF~ITURA DE BEL~ í;~;!:~:;1,?ee~te iião-restritos a empreendimentos para a ~opulação de renda
1993:33), O detalhamento desse nebuloso mstrumento ficouM";:lt, :\~;'}j,~ • elevada e tendo a sua cobrança pautada estritamente no custo da
bérn,,a cargo de legislação regulamentadora posterior. ' ~d(l?r.\.;n~:,~a;:_esbutura,e não na capacidade de pagamento dos beneficiários
E bem verdade que não se trata, sempre, necessariament ;'.'~~i({t';;Il\ri;lI1~dsobre as impactfees, crítica e proposta alternativa em NICHO-
perversão de confundir contribuição de melhoria com taxa _ ~,a,a.:.!~;:,:ALlYl;' 1~92). é possível argumentar que, em outros países, isso não
são, inclusive, tecnicamente, urna vez que taxas se aplicam :::~,:Úi~,i:~'::F/;teO'~ a constituir uma bitributação. No Brasil, contudo, onde o paga-
ços, não a obras. Há não poucos autores, justamente, que, para drib~::);:Jt;'\:\:(~e;to do IPTU já pressupõe o oferecimento de alguma ínfra-estrutu-
rem ~s problemas com o cálculo do tributo, preferem ater-se nãóà':'lii 'tN~;t;~Frábásí~l por parte do Estado, como foi visto ao final do Subcapítulo
valorização, que passa a ser, no fundo, apenas presumida, ma.·."'sao
.·.·.·.·{;i.,: ~;.x':i.r;f.L.l!:3·:.;.1· ~·'.('~.eb
", '., ' que pese o fato de que o segundo parágrafo do Art. 32 do
próprio custo da obra, Ao que parece, é dessa prática que seapro~JdJJ (ll;\\!..~h~\ódigo Tributário Nacional relativiza o alcance do primeiro), somen-
mou Paulo Rocha Lagôa, com o objetivo de superar os problemasd~~;;\rWÂf;.;0l~·lilnad.ontribuiçãO de melhoria striéto sensu pode ter um caráter de
avaliação vinculados à concepção de fato gerador do tributoêomb:;Üf'H;§\i:1'it~ffíti\lto progressivo e, portanto, útil. sob o ângulo da promoção de
sendo a valorização imobiliária, Essa interpretação dá margem,c()ri::t%~; !?;~ntJflliaibrjil~tiça social. Sugerir entender: a nossa contribuição de melho-
tudo, a um problema muito mais sério do que as alegadas (e exag6iã~'H~i ~G~j;t~maàimJgeme semelhança do Erschliessungsbeitrag alemão, como
das) dificuldades de lançamento do tributo, quando se toma a valóritiJ;1::l~Bt\~~\fbi;!o$INHO (1988:Ul6-7), é, por conseguinte, posição que se
zação como base para o cálculo: como.de~~ir a ~rea d~ in~~ê~FBf,~i!lHli~IW41~iski~.spbr~
um~ comparação a~u~(va entre d~as realidades sócio-
o quantum a ser pago por cada proprietário? Nao sena fácil e~!JÍI~:::!8i;'}~;4I~~!~sp~~~als~
muito diferentes, a brasllelrfl e a alema.
nar uma boa dose de arbi~r~r~edadedos ~rité:ios ~e ~ateió d~ c~si?*,~?t :~~t~~\f;!,~;:MUi~oembor~ a .implementação 'des,se"tributo esq~ecido", para
obra e, em que pese o cnteno da valorização objetiva do lIDov~I~~,~~Ji l\;,;;Hl'mr51~Illbratas atualíssimas palavras de Biava em seu arngo de 1978,
mercado, exigir, para a sua aplicação, urna razoável capaCid~~~':;Hl ~m~1Kl;:~~~arré e~ diversos entraves, como'resistências de ordem política
gerencial para o monitorarnento das situações de valor de mercà~~/'f;\f ii~~1Mf~~blinh~das por GUEDES, 1996), em dificuldades organizacionais
an,tes.e depois da interv~nção ~er~dor,a d~ valo~ização, é esse,úl~~g.;;~in [ti~itilit}gYEDE§,1996) e em dificulda~es de cálculo (ElA VA, 1978; LA-
cnténo aquele que permite maior justiça inclusive no tratamento'40?;;~H f;\'&;\h;yOA,1982;GUEDES,
,,..·'2 b-:'::~"I-'"~,,":;;;:~. "
o ~"",;. .
1996) - dIficuldades
•
essas que, em parte, fo-
casos indi viduais. A única ressal va a ser feita é que o montantei(~o/;mr~mgifik~t~m;criad~s, desnecessariamente, peli, própria legislação, e, em parte,
)~~ ...:."~.:l~~_.'{tt\<+*'·"'~,;o.~-':·.'·-'·· . t- :
auferido pelo Estado com o lançamento do tributo não poderaJFM{film~i~hü1~~Wsído exageradas por diversos autores -, os mesmos autores que
superior ao custo total da obra, custo esse que funcionaria,aSs~~i)&mn~1~R\f~t~?:~am\.os problemas também costumam admitir que o ~buto em
corno um balizamento adicional, e ~ãOcomo o critério fundamen~~;i;~ítlB.!1~~!;r~ts,ta?"RosSUí amplas característic~s de justiça trib~t~na" ~GUE-
Deve-se fazer notar que mecarnsmos semelhantes a uma cO~;Wf}1ijl~Í~;~~ij.N~,)99p:31). Das duas uma, portanto: ou uma administração, por
buição de melhoria lato sensu (portanto, no sentido ora repu~ia,~;~;·~t~~tr:lmti~~;S,~I,itic~mente fraca (ou conservadora) e, eventualmente, também
":(Cf"«"I~" '·'''qn··'· . .'.
existem em outros países, No Reino Unido, a betterment t~:.';.'.'.".'.'.'•.! ..J.7.;(~.. ...1.'. '.1~.,r.3F.I}.'.i..,e.".,.ptà,... re~ig.na-se e curva-se diante das dificuldades, ou - saída que
CULLlNGWORTH, 1993: 211-212); nos EUA. as impact fe~r.f~fi':~~~t ltl~j~t~~~econ~petência e coragem - tenta-se, também aqui, combater o
NICHOLAS, 1992); na Alemanha, o Erschliessungsbeitrag, cUJ~ff,t;,;K~~ m!~:rl~m~W çomqate, pleiteando-se uma modificação da legislação.
dução livre seria "contribuição de urbanização" (cf.
[Código de Obras] em HORNUNG et al., 2000: 105-110). A
to do fato de esses mecanismos serem, muitas vezes, imo!en1f;f
249
248
O •
Enfim. nos EUA,
Sobre o espírito que acompanha o zo d "','~:;~:tí'\t"'~;:",;f',(octesto (assim como de outras cidades da Costa Oeste estaduni-
, . neamento esde os :','i':fi!n,:,;,:,lj~~~l, . , , . .
mordlOs, CULLINGWORTH (1993'32-33) _ seusPtJ',",O:Z,L',!i!,:;~,:,,",;:d;',ns",~e)haviam se especializado no negocio de lavandenas, segregar
. nao mede I "",' 'h ',':"'" e, '
comentar o Standard State Zoning Enablin A p~ avras ~:;.J
:!jH·;B~paciaÜ:nente estas últimas significava, automática e essencialmen-
. g ct, que pav1ment ,;',fi: ':;"":"'.hi"" ' "". , ..
te~eno, para a dIsseminação de códigos de zoneamento pel OIl,OiiG ü!W~.tl~;.$egre:gartambem os pnmerros. .
cuja pnmeira edição é de 1924: os EUA,e"i\!:il::ii\i~~t;Que nã~ se imagine, porém, que 6 uso do zoneamento com obje-
_~;..~_:~.
iji!.~~,~~~~~-.!--." ~.
,:Yi~t'H!U:~Íiv()Sde':exclusão e segregaçãopermaneceu estranho à realidade
:<t~ltlijj;;';ihn:',,_i Dieter HOFFMANN-AXMLM (1996:241) endereçou, a
Esta lista de propósitos [Cullingworth refere-se aos
vos explícitos do Standard Act, tais como "promover a ponto de vista, uma incisiva crítica à experiência alemã
bem-estar geral", "prevenir o superadensamento" etc.] (...) a começar pelo zoneamento de Frankfurt, de 1893.
! como for, seria insuficiente caracterizar o modelo tradicio-
aquele que é, de longe, o mais importante: a exclusão de
ou usos indesejáveis, e por via de conseqüência a preservação ~~neamento de uso do solo Gomo sendo simplesmente, ou
status quo. Esses objetivos de exclusão (exclusionary) raramen. ,hêGesSar\aIÚente, "excludente". Embora a separação de usos e fun-
te estão muito abaixo da superfície, mesmo quando não rV,"'''. L",.~a estado, desde as suas origens, muitas vezes direta einti-
explícitos. \'associada ao caráter socialmente excludente do modelo,
;e~sa separação, de um aspecto que, tecnicamente pelo
Algumas páginas mais adiante, CULLINGWORTH (1993:59) é urna discussão específica, Afinal, como se argumen-
ainda mais incisivo: "[z]oning began as a device for exclusion; andít. 'adiante, a exclusão de alguns usos do solo não precisa ter
has continued its exclusionary pathways ever since". uma visão de mundo.conservadora e objetivos de
Mais marcado que a Europa por desigualdades sociais, em egregacão residencial, ou seja, de exclusão e separação de grupos
medida associadas à problemática da discriminação étnica, os EuA.n;l"
viram prosperar a utilização do zoneamento como um meio de excIu;; . de que os diferentes usos~da terra, sobretudo as diversas
são social de maneira particularmente intensa. Pierre LA do viver urbano - pro~uzir, circular, morar e recrear-
(1959:207-208), autor tanto de uma Histoire de l'urbanisme em ser objeto de uma.seperação rígida, encontra o seu
U11!1l11antecom a quarta edição.dos Congressos Internacionais
volumes quanto de urna importante Géographie des villes, provê \,o
exemplo didático, retirado da experiência norte-americana com:,).' Moderna tCongres Internacionaux d'Arquitecture
zoneamento em uma fase em que ela ainda estava engatinhando,<, de ; CIAM IV), de 1933, do qual derivou a Carta de Atenas.
exclusão social por meio da utilização do instrumento, após chamar,~? "'''lluade, o preceito da separação funcional foi entusiasticamen-
atenção para o fato de que aquilo que ele chama de "zoneamelito; pelo Urbanismo modernista em geral, especialmente
racial" (zoning racial) bem pode ser nada mais que um 'pela figura gigantesca e polêmica de Le Corbusier (ver,
252 LE CORBUSIER, 1984). No entanto, a defesa da
O
-
253
separação funcional, se se consolida no âmbito do Urbanismo mOdo
. que
ôcTlJ
ac: necessidades fisiolózicas fossem feitas na sala de estar. ou
,,~ - _ ~. . .
nista,já "r.
se havia feito presente bem antes. A rationale que ajuslifi.
. ue as refeições fossem feitas no banheiro") assenta-se, na realidade,
cou foi, na Europa assim como nos EUA, inicialmente a questão da
:obre uma falácia lógica, uma vez que se recorria a algo perfeitamen-
insalubridade dos espaços urbanos e do perigo de difusão de doenças
te razoável em uma dada escala (a da habitação individual) para justi-
(sobretudo epidemias), vocalizada no contexto de um discurso higie.
ficar intervehções em uma outra escala (a da cidade como um todo),
nista. Também no Brasil o discurso higienista fez-se fortemente pre-
comOse entre as realidades correspondentes a essas duas escalas dis-
sente desde o final do século passado, sendo a Reforma Passos, no
tintas não existisse qualquer diferença qualitativa, sendo a maior uma
Rio de Janeiro, entre 1902 e 1906, seu ponto culminante. Na verda.
simples eXtensão da menor, por efeito de agregação ou ampliação. E,
de, em uma época em que o planejamento urbano ainda era Um saber
de fato, não e bem assim: a cidade não é uma "grande casa" ou coisa
mais de amadores que propriamente de especialistas,46 e em Um
que o valha; o' que se aplica a um conjunto de indivíduos unidos por
momento (últimas décadas do século passado e começo do século
laços familiares e compartilhando o mesmo espaço quotidiano imedia-
XX) em que o discurso higienista era tão poderoso, médicos influíam
to, espaço esse cujo ordenamento, mesmo sem excluir conflitos e
decisivamente em assuntos de ordenamento espacial, e foram eles,
divergências, impõe-se como necessidade e se viabiliza com base em
muitas vezes, os primeiros planejadores.
-princípios simples, não se aplica da mesma maneira a um cadinho de
A defesa da separação de usos, sempre em nome da higiene e da
grupos e classes sociais, cujas necessidades são complexas e cujas
ordem, recorria a imagens e metáforas simples mas de grande efeito
relações são marcadas, por vezes, por contradições profundas.
persuasivo, como a da cidade apresentada como um "organismo doen-
O Urbanismo modernista perseguia a separação funcional como
te", carente da regeneração a ser propiciada pela intervenção revítalí-
uma verdadeira obsessão, considerando-a a chave-mestra do "ordena-
zadora (e salvadora) do saber urbanístico, capaz de adaptar o espaço I
mento" da cidade. (Aliás, perseguia, não: persegue, uma vez que algo
urbano à "era da máquina", retórica bastante martelada por Le
dele continua vivo, a despeito de ele ter se transformado desde os anos
Corbusier (vide, por exemplo, LE CORBUSlER, 1984). A imagem da .
20 e 30 e de yle ter perdido prestígio nas últimas décadas. Conforme se
casa bem ordenada tornou-se igualmente célebre: segundo esse argu-
assinalou nq Capítulo 2 da Parte Il, o que justamente ainda resiste
mento, a mesma lógica que preside a distinção e separação dos dife-
como legad? do Urbanismo modernista, e mais especificamente da
rentes cômodos de uma casa de acordo Com os seus usos (a cozinha
Carta de Ate;nas, é o zoneamento funcionalista, ainda que já há algum
para cozinhar, o banheiro para tomar banho e fazer as necessidades
tempo "suavizado".) Ademais, também na escala da construção indivi-
fisiológicas, o quarto de dormir para dormir ...) deveria governar a
dual os arquitetos modernistas privilegiavam a funcionalidade; a
organização do espaço da cidade, ou seja, da "grande casa". Aquilo
. Conhecida ~áxima "a forma segue a função" quer dizer exatamente
que parece uma simples aplicação de bom senso (afinal, quem defen-
isso: ao contrário de estilos arquitetõnicos como o barroco, que prima-
vam pelas formas rebuscadas, a arquitetura moderna representava um
ideal de elegãncia pautado na depuração formal e na funcionalidade.
4~ Para evitar mal-entendidos: é claro que, consoante os princípios de democratizaçãO
do planejamento e da gestão esposados pelo autor deste livro, o planejamento deve. Isso tudo justifica plenamente a adoção do adjetivo "funcionalista"
sim, ser retirado da órbita exclusiva dos especialistas, devendo ser politicamente para qualificar o modelo convencional de planejamento, conquanto
orientado pelos balizamentos oriundos do corpo de cidadãos (que serão, quase sem-
pre, amadores). Sob um ângulo técnico (instrumentos, técnicas, métodos etc.),' no
não se deva hsquecer que, apesar de normalmente tomado como sinô-
entanto, o saber em tomo do planejamento urbano deve, como já foi dito neste livro. nimo de modernismo, o funcionalismo na arquitetura possui raízes
ser objeto de estudo, pesquisa e reflexão específicos.
antiqüíssimas (vide GOLD, 1998:228). Finalmente, o fato de essa
254
O 255
•
.•••• ,., ..:!...;:; •.
qual pode chegar a ter um grande grau de detalhe, com ~uu",al~e,U~j~, ~:i;I; Zona de uso misto
I I I (residencial e comercial
previsão de "usos especiais" etc .. Dependendo da escala e do
pormenor, inclusive, objetos geográficos específicos (como
f'
Zona ~e comércio e serviços
:. ;
!)B
Zona industrial
tais, escolas e outros) podem vir a ser individualmente looalizauus,,?
.Área ~eProteção Ambiental
representados por meio de símbolos adequados.ss (serviqco,ao mesmo tempo, de espaço de lazer)
(..
\,
i
grosseira de funcionalismo. Este tende a enfatizar a harmonia, encarando os industrial ou, mais especificamente ainda, residências
':~lUC!ll;ja!,
sociais como simples tensões (ou mesmo "patologias"), e não como possíveis
sões de contradições objetivas fundamentais, pertencentes à essência das SOCleaa~",'T, :ÜÍíl-miliarh,indústrias poluentes etc.) ou, também, de acordo com
capitalistas modernas (contradição entre capital e trabalho e lutas de classe). i!~metros\.urbanísticos (que regulam a volumetriae a densidade),
isto, a própria natureza da teoria, que fez sua aparição nos anos 30 do século
aponta na direção da tomada de posições políticas conservadoras.
foram sendo introduzidas com o fito de flexibilizar o
48 A tradição alemã de planejamento urbano, caracterizada pelas pronunciadas ~o,~~amentdcomoinstrumento de planejamento. Essas técnicas, con-
cia e integração do sistema de planejamento e pela grande (não raro excessiv
o ângulo de sua filiação ao espírito funcionalista e
ção dedicada aos pormenores, tem sua espinha dorsal representada
do solo (Flaclzefllzu1zung!oplane) e pelos planos de ocupação ou resentam, porém, inovações, sob alguns aspectos.
(Bebauullgjplane), sendo que ambos encerram zoneamentos de uso dosolo -U~UV~ Unidos, diversos tipos de zoneamentos flexíveis
marcadamente funcionalista - o que, aliás, é largamente influenciado pelo
cionalista da legislação federal que regula os aspectos mais gerais do uso do a difference", como diz CULLINGWORTH [1993])
BaullUlzungsverordnullg [cf, HORNUNG et aI., 2000)). O zoneamenlO em prática, como o conditional ou contract zoning,
Flaclzenllutzungsplan é mais geral e menos detalhado, enquanto que
Bebauungsplan é bastante pormenorizado, já que os próprios lotes indi
como a das [loating zones, a dos linkage prog rams,
acham identificados (sobre o planejamento urbano na Alemanha, algU1Il'" ~,c, (bonu~es) e outras.
informações podem ser encontradas no box 4, no Capítulo 12 da parte I1I; :.condÜional ou contract zoning consiste no rezoneamento de
res detalhes, consulte-se, por exemplo, BRAAM [1999]).
257
256
O •
uma propriedade sujeito a determinadas condições, as qua' e- . "oc.d planníng in lhe area" (CULLINGWORTH, 1993:94); de fato,
são: IS
usualmente, negociadas entre o proprietário e o Estado COm base ' .. -.~(...) where there is an effective plan, bonusing can destroy ir" (CUL-
e
uma proposta apresentada pelo primeiro (CULLINGWORT ; :LINGWORTH, 1993:94). Ainda conforme Cullingworth,
1993:51). Uma tal flexibilização é perigosa, não só por Se presta; .:
abusos, mas por dar a impressão de que o Estado virou Um "balcãOd· [dJevelopment agreements are often seen, from the local govern-
negócios". Como escreveu BASSET, já em 1940 (apud CULLING~ ment viewpoint, simply as a convenient mecbanism (similar to
WORTH, 1993:51): "contracts have no place in a zoning plan ... incentives and bonuses) which facilitate the private provision of
Legislation is not and ought not be for sale". infrastructure finance. On thís approach, there can be anxiety
Floating zones correspondem a usos já aprovados em Um zonea. thata local government may, in effect, "sell off" íts police
mento (por exemplo. um grande empreendimento), mas ainda não power.Questions of fairness also arise. (CULLINGWORTH.
mapeados ou localizados em caráter definitivo. Tais usos são consi.· 1993:86)'
deradosaceitáveis, mas nem sempre é possível prever exatamentê'á
sua localização futura; assim, o tipo de uso é previsto. mesmo anteS Spot zoning, de sua parte, é uma expressão pejorativa. O spot
de surgir 'uma situação (um interesse específico) que justifique a défi.· oning constitui UIDaemenda de uma lei de zoneamento com o obje-
nição de um local exato, a ser determinado, no caso americano, pelo de criar uma exceção, muitas vezes no contexto de um rezonea-
corpo legislativo local. Nesse meio tempo, a zona fica como que '.'flu- rrnento treioning) de urna área específica solicitado por um proprietá-
tuando" (jIoating), aguardando sua fixação espacial definitiva. :.: . "the U\'!j ustifiable singling out of a piece of property for preferen-
Linkage programs e bonuses, ou. em termos mais ger.ais.deve:.: treatmént" (CULLINGWORTH. 1993:49). No fundo, o spot
lopment agreements representam a introdução de um elemento expIl-: .. ~-""'O nada mais é que uma forma particularmente afrontosa de tra-
cito de debate e barganha entre o Estado e os demais agentes mode- ":~.;t~mento excepclonal de um ou alguns proprietários, em que as regras
ladores, normalmente os promotores imobiliários (developers).·,;,', "flexibilizadas'' pontualmente sem que daí decorra o oferecimen-
Assim, em vez de exigirem, simplesmente, o cumprimento de rew~s' de uma contrapartida válida sob o ângulo do interesse coletivo.
e normas preexistentes, as autoridades locais podem sentar-se comcs.':' .Como' se vê, a maioria dessas modalidades de flexibilização car-
agentes modeladores do espaço interessados e conceder certas rega- riscos; consigo: risco de abusos, risco de corrupção, risco de des-
lias ou concessões em troca de benefícios diversos. inclusive dinhelc "',moralização da lei aos olhos da população. Trata-se, pois. em geral.
TO extra para os cofres públicos. Na realidade, as autoridades podem de uma flexibilização que não só não nega, mas pode até reforçar o
,
até mesmo exercer um papel ativo, tentando incentivar os empresá- "~.'.'-.-'-W" excludente e elitista do zoneamento convencional, tão bem
rios a realizarem determinado empreendimento que possa ter utilida- ;;Ü:.:exemplific.a:do pela experiência dos EUA.
de pública, oferecendo-lbes, em contrapartida, um "bônus" (bO/lus),;" .... i<' A esta altura, é preciso sublinhar algo que já se havia dito, a fim
sob a forma, por exemplo, de um afrouxamento de certos eleIDento~>·? , .... evitar qualquer equívoco lamentável: um zoneamento de uso do
. . deoueo .. ~";'scilo hão precisa ter um conteúdo elitista ou excludente, nem precisa
previstos no zoneamento de uso do solo. Cullingworth conce ' .. '
planning by agreement pode ser benéfico em diversas situações; 'ser rígido quanto à separação dos usos. O adjetivo "funcionalista",
. eouve
entretanto, ressalta que "( ... ) where these schemes carry an me ' ... ~ i empn;gado, é nitidamente pejorativo, e se aplica a uma situação
ar bonus, there IS. a danger that a municipality
.. ., s desire
'. LO obtain
• -- can-.,
'f ,em que a separação entre os usos é rígida, no máximo havendo algu-
tributions from the developer might overwhelm the requiremeots o. pequena concessão sob a forma de uma permissão de "uso misto"
258 259
O B
'~~}1,fIHthii~~iii1~lfl~HdUffnl[1i11~UllL1iillilll1Nl Ulifull\llH~
(comercial e_residenciaJ, principalmente) para certas áreas, TOdavki;j'\1flWl1\k':" Ques~ionando a tradição: a idéia de um
es~a separaçao excessrva ~o~~ s,er eVItada~ sem "": por Outro lado';'J~(r4.Z. ~'zon~amento íncludente" OU zoneamento
seja o caso de oferecer privilégios ao capital privado, como' ':,~jl·.r.i:\.;;:""·.' d ·ioridades
, oCOlle '" ".d.,,·., e pl ,
com as tecnicas anglo-saxônicas de "flexibilização" do zones ',JS +:}l~i;";' . i
examinadas há pouco, Além disso, se o caráter elitista e eXClud:~t~",i:.·\'~HT'·:; .: Tas ~lavras de CULLINGWORTH (1993:63), "conquan~o
típico da experiência dos . EUA,
. na Europa Ocidental isso já nsao see. \."
';".·•.'·.'.1. ,.;.,i,' .'.' ...'.;: .. ,·N
+'i üdo zone~ ,.
p 'mento seja, J.
por definição,excludente, alguns são mais_
mostra da mesma forma, indicando que o zoneamento de uso do SÓ1,"':::\:/ JudenteS que outros". Será, no entanto, que todo zoneamento real
., ' . I"'" eJ(C 'd d
~ãO precisa .(e nem deve) ser demonizado de maneira genérica. SeriaL':i'l:'f:f:J1lente prec~sa ser, acima de tudo, excludente, mesmo c~nsl eran 0-
irresponsabilidade sugenr que o controle de usos (e denSidadeS:·;iql:·,;n;\)::.;. 6s:em que a exclusão de certos usos da terra nao acarreta e
seja, apontando que áreas dentro do perímetro urbano são adensá~ ~~.,:;:J:}ir~~ oscas oLtrás de si a intenção de restringir o acesso de determina-
, . els";;l:~;iVriãotem p t
e que areas devem ter seu adensamento inibido, pelo fato de s -.·.<i'ii';h~1:·.. s; a "c'ertos espaços? Como aquilo que se escreveu pouco
ua-. ; .;.'i: "'dos' grupo. .
infra-estrutura já estar saturada ou em vias de saturação) deva se;:i;L:·&i{;j(,;,;. ., irldica e o presente subcapítulo pretende complementar,
'. .,' r, ,:;:j,:lc)'dAl,cpp.aJ3 , :' .
VIsto, generalizadarnente, como alguma coisa ruim ou inteiramente''1iy'J,ímtW'" ctlllingworth, um autor razoavelmente crítico para os
supérflua. . Como se disse, nem todo zoneamento ,·····'··1'···
de uso do solo prê~<;!f1~.:,tt~}l1t{àdrões
,mesmo nohe-americanos,
. incorreu em. uma generalização ab usrva,
.
~isa s~r funcionalísta e conservador, ~ o zo~e.ame~to pode e d:ve s~r,'' ;\1~\\~!ljr;~Ãdºt
sido ítima da cultura de planej~m:n:o (ou, mais a~plamente,
inclusive, completamente permeável a participação popular. E ine!úí~·::;:M.i[H1W~~
;.i,ltnrll nolítica) francamente hegemômca em seu pais, de corte
vel, por exemplo, que indústrias poluentes, cujas emissões .•. .. _:', ,'-,'r'·:'··C:·'·>~'~\i.-Vlhl""'" ••.•.•••..•..•••.• ,
prej udicar a saúde humana e agredir o meio ambiente, precisam ter~,::i[~,,1!~;;m;<,;::":Em decorrência dos exageros (rigidez) e abusos ou distorções
sua localização criteriosarnente estabelecida. Além disso, outros bali-:'yq~:tilt~!lE~~l'~vancarr\ento da segregação) freq~entemente i~dissociáveis do
zamentos, concernentes a recomendações e restrições quanto à lóca~:;Úi.mtH.'idn~amentb funcionalista, essa técnica convenciOnal vem sendo
lização e à combinação de certos usos (levando em conta tantOos:\~t ;~I;W~\l:~'~háiv6,várias décadas, de severas críticas. Tais críticas provinham
fatores naturais quanto as características do espaço construído ea!S~ ;,:(i}r:i:&uprovêm I~ntode autores identificad6s com uma linha que se pode- .
dinâmica social), podem ser muito úteis. O importante é que não se ;m1: ;jlt;.~mifi~~hamar~e "humanista" - como J ACOBS(1994), há pouco citada, .
incorra no tecnocratismo, que se resguarde o instrumento de malver~<h\ml\tm~~q~~~nfatiz~u o caráter cultural e soci~lmente esterilizante da rígida
sações elítistas e, também, que se evitem um detalhismo e uma rigi<t:llJ~:Ii11titl~sçpáraçãOd~ usos, embora sem negar ~teiramente a conveniência de
dez excessivos, capazes, corno bem mostrou Jane Jacobs em seu clás-: "r
r~;;jl)ll~àlgumasrestrições, mais vinculadas à intensidade do uso que pro-
sico Tlze Death and Life ofGreat American Cities (JACOBS, 199 l,'c)11! \;m~j;IW)j.amente ~b uso em si - quanto de ~utores de esquerda, os quais
4
de esterilizar o espaço urbano, cuja vitalidade deriva, em graÍlde;::,\~t ~llllillÍ);~a:lientamoiasoecto comumente elitista e segregatório do zoneamen-
parte, exatamente da mistura de usos e atividades. Criticar as
ções funcionalista e conservadora, por conseguinte, nada tem a' que, embora o autor deste livro concorde com as obje-
com uma recusa do instrumento do zoneamento de uso do solo (e pelos dois tipos de críticos do funcionalismo urbanísti-
zoneamento de densidade) em si. ele passar a impressão de que o controle de usos e den-
'inteiramente maléfico ou supérfluo. Sobre isso não é
mais. Entretanto, sob um ângulo progressista, o
verificar que a divisão espacial com base na separação
261
260
O
•
"·"~~~.~;~n;:Z;;=;;:ir;IT,Gl8~J22Jf.Li::S~i,;~;1;=:~",CB::,r,- "",,S,
I';:
f!; entre diferente d
r L" , , S usos 'a terra (residencial. ind r-i .. ' " "
!! nc amente ainda residên-
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encias un~ amIlJares i ",
' usn Ial ou, mais '>-:
es, ,'," ,
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!-pO'Oil
a ser coerentemente desenvolvida como, também, se fez pre-
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ou, também, de acordo ,,' DOUstnas poluent /e(l:;,J, " cJ'~=a malgamada com a abordagem convencional.
f: com as mtensIdades dos a: e~el",'~, ' ,en1va - _ ' ,
t, conforme parâmetros urb 't; ,
anls ,COSdefinldore d den»:
os dIferentes ")';'li"
uSos ~ ,; I "
A preocupaçao central de um zo neamento de prioridades e
!t
> " ' ,
da vOlumetria, não são as "" s a ensIdade ".' " ';,' ,,' "I dente", em contraste com a tecruca tradicional de zoneamento
. a uruca, 10rmas de se' "'-lDaoa, j "'In,- u '
fi ainda que o zoneamento d
. .
d
e uso o solo e o zo
pratIcar a ZOnea"- ,e ,í
'"ento "i
.". o do solo, não é a separação de funções e usos, mas sim a iden-
óe us
r sejam Interpretados de m . f1' neamento de denS'da' i' , ifi acão dos espaços residenciais dos pobres urbanos e a sua classi-
~.
fe
dentro de um espírito inf
.
Aquilo que se está
anelra exfve] e int l'
enso ao tecnocratJsmo
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.
.
I G'
e Igente e Conduz'd - i "fi
I Os ,j
,]
!
> tt te
,ca
ção deacordo com a natureza do assentamento (favela ou lotea-
. . , .
' enIO irreg,uiar) e, adicionalmente, conforme o grau de carencia de
. a ape I ar, neste livr d }!l1
mcludente", e que pod . o, e um "zonearne ' ,c,t'" 'n.fra-eslruturaapresentado. Convencionou-se chamar esses espaços
ena ser chamado . . nto ,,' . I j' ,'
ZOlZeamento de prioridad . ,maIS tecnIcamente ,d <, o' de Áreas de Especial Interesse Social (AEIS) ou Zonas Especiais de
es, assume o pnncí i 'e J.. , .
esquerda brasileira tomo . p o que, entre setores d'~ Interesse Social (ZEIS). Tais espaços compreendem, principalmente,
". . ' u-se conhecIdo como ". _ . a I . .
des . ou seja, no que se ref . . lTIversao de pnOrida.J :.:fiavelas,loteamentos Irregulares e os vanos urbanos.
, lere aos mVestIment 'bI' ,J ", _ .
estrutura, o Estado em vez d "1' os pu ICOSem infra. . -j No caso de favelas, esta se lidando com areas de ocupaçao Ilegal,
d . A ' c pnv. eglarosbairro" '. . -. "j' " . _ .,. ,., ,
evena por ênfase na satí f - d s ja pnvlleglados ' ,:,:,' . rque demandam regulanzaçao fundiária. Esta e, alias, a sua caracterís-
IS açao as necessid d b" ' ':1 " ., A .,
pobres em matéria de equi a es asicas dos mais 'l,;::,:tica mais Importante, sob o angulo conceitual, pOIS, embora outras
Ipamentos urbanos F '. " , ",' . .
80 para os anos 90 que u . 01 na VIrada dos anos l características, tanto sócio-econômicas (pobreza) quanto morfológi-
, . . m zoneamento de ti d'~ _. ' " '. . _
A' •
pnoTJtanamente voltado po I erenre, exphclta :::cas (precariedade das habitações, carencia de infra-estrutura, malha
para a promoção social ' , ,',
a sua aparição inspirad id _ . em áreas pobres, fez viária "caótica" etc.) possam ser associadas a elas, nenhuma.delas
, o no I eano da refo b '
ser utilizada a expressã " rma ur ana, Mesmo sem possui uma vocação tão nítida para funcionar como denominador
I' · ',
,
",-'.'
fOI ISSOque propuseram RIBElR rion a es , ora sugenda, comum de todas as favelas quanto o status jurídico (afinal, depen-
ra ainda mais refinada o O e CARDOSO (1990) e, de manei- ' ,',J dendo da cidade, na maioria das favelas as habitações, ainda que po-
I:
f'
.
mUTIlcípio de São Paul
' s autores da proposr dI'
I b a e p ano diretor para o, .",' " bres, não são "barracos" ou habitações improvisadas, e sim casas de
I . _ o e a orada durante a - de Lui '.", .'
I'
A' • , '
dina (cf. DIARIO OFICIAL D ' gestao e Luiza Erun-" alvenana;a carencia de mfra-estrutura, por seuturno, pode vanar bas-
1991). Antes disso uma O MUNICIPIO DE SA-O O' , . , -Ó;
L . '. '
_.
sugestao na dire ã
PAUL':1 tante de favela para favela, e a propna pobreza se apresenta, as vezes,
' <, ,. _ ..
I
I pnonaades, contida em b
um tra alho eJaborad
ç o de um zoneamento de',
fi O 1
de maneJTa muno heterogenea). Seja como for, as favelas sao, npica-
(sob responsabilidade d bani , o em ms dos anos 6 j mente, áreas carentes - ainda que em grau variável - de infra-estrutu-
I do os resultados de um
a ur arnsta Adma IV.LERA [1
t d '. 971]), sumanan-.!
..1 , . " , .
ra tecDlca~e social, a começar pelo saneamento básico, demandando,
I'
°
es u prehmmar para b I' d 1 ; , ., . . _
I
I"
um zoneamento para o a ti o-
n IDO estado da Guanab
o esta e ecirnento e,,~
. 1.
, portanto, aquilo que, no Brasil, e designado por urbanização (de fave-
I '
1
Cupação um pouco semelh . , ara, tangenciou preo- ~"l"" ,as) e, em',r,inglês, chama-se de slum-,upgradillg ou community-upgra-
c . ante, e fOI aI que o aut d J"", ' "., <d! ' , .
~. 101 buscar a própria _ or o presente ivro . __ "lIlg. Ao serem as favelas decretadas como ZEIS, deve-se articular
, expressao zoneamento d '. .- i , f
tratou, COntudo, esse trabalh ' e pnondades. Não se l ISSO com um tratamento urbanístico particularizado, que corresponda
. . o, propnamente de u d lo 'j, , I
que viria a ser proposto S b ,. m precursor aqui a especifí'cidade jurídica e material das áreas de ocupação: concreta-
°
f '.
"
d a cOntnbulção de Mer'
unclOnalIsmo e a idéi d
,
a egJde da reforma
a era, ainda, marcadame
ela e um zoneamento d
urb
t . fi
nem
'
. 1"
ana: a ogica gef
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uencia a pe
_ , -o
alI
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i
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'--.
A I
L
, , , ' A
,
tados de maneira a facilitar, e não a dificultar a regularização fundiá-
.. b
'
262 esse tipo nao 50 na " na, sem que se perca de vista o necessário para se garantir bem-estar
o 263
•
um .MfiM~
ummIDllijt~~~ffi!lf~!!~~*~·1~jl}ilillI1~~--
o:.
aos moradores. Em sendo isso atendido, as ZEIS assomam, em si '" ' ·Y.H.t·.....'.:.(.;.:..·· . das Zonas de Preservação Ambiental (ZPAs), que devem,
. . ·"es- ,. : ",' :~'J': r meio :. .
mas, como um podero.so mstrumento de planejamento. . ,',;{ .";;';;:~ lado das Zonas de Es~ec~a:Interesse Social, ser contem~ladas..Do
Os loteamentos irregulares, de sua parte, possuem um statu:\~:~%;)l. dev1sta do status jurídico, as ZP As compreendem tIpOSdiver-
jurídico distinto e bem mais estável que o das favelas, pois, diferen~;"i ;::IHl;pon'~eun~dades de preservação: algumas são municipais, outr~s,
05
temente destas, não são ocupações. Seus moradores pOSsuemalgum>; ""';';,5 duais,; e outras tantas podem ser, eventualmente, federais,
tipo de documento de propriedade e, por via de conseqüência Um '.1 <~~;.esta rn: portanto, um espectro bastante amplo de situações legais,
, a ... · "'- Abrano-e ~ . .'.
maior segurança jurídica. Contudo, à luz da legislação urbanística .í ;:~,:. do d:s Áreas de Proteção Ambiental (APAs) aos parques nacio-
vigente, que inclui a lei federal 6.766, de 19/12/1979, que cuida do .• ~,;. ';,:
"": ,',.
/n.naJS. É ess~ncial considerar conjuntamente
r
as Zonas de Preservação
fi d
parcelamento do solo urbano (também conhecida como I.ei.:;'d ;';;t~;~Ambiental:eas Zonas de Especial Interesse Social, ~ .lm e que
Lehrnaun, em alusão ao sobrenome do senador que atuou como seu·.;;';l·\\tm;~~:art1evitad~s situações de flagrante conflito entre objetivos e usos
relator), e, em nível local, os planos diretores municipais e os cÓdigOS;:}f~';fj;);}a~solo
(por exemplo, a regularização fundiária de um assentamento
de obras, são esses loteamentos considerados irregulares por nã().·::Hi .f}:i!X(bPular em área de preservação, como uma área de .proteçã~ de
preencherem os requisitos mínimos previstos em lei. Urna das prinCi-~FHa
!ULf,~t~ana,nciai~;
ou que apresente elevado e comprovado nsco ambien-
pais exigências referia-se à reserva de 35% da área do 10teamento:'::nlt:~tl:;W#l),Afigu~a 7 oferece um modelo gráfico de um zoneamento alter-
para equipamentos comunitários e praças. Mesmo essa exigência,;;ÜUl@fm{~aiiv'o
do tipo ora discutido.
tendo sido revogada em 1999 (mediante a Lei 9.785, de 291111999),:;:;;il~~}ftl#\~:;i,.'. I
outras exigências legais permanecem válidas. Os loteamentos
lares demandam, por conseguinte, infra-estrutura, como-condição ....
"c.Ínteg~ação e complementari~dade entre
fundamental para a regularização definitiva do assentamento-i .< ;difer~ntes tipos de zoueamento
necessário frisar, porém, que, no caso de muitos loteamentos f~
lares, um projeto (projeto de loteamento) foi apresentado pelo lotea- /;m;2~;,"1:~\CEconJ~niente a essa altura, repetir: encarecer a importância do
dor à Prefeitura e aprovado; o que ocorre é que o loteador não cum-).ti'j iW]~m;~~n~amenio
includente" não equivale a sugerir não se deva praticar, .
-. ", -/ _;_~"':';1.!:~hÇI:l:~~·:ç·.\::;c
<.:~ F' : •
priu o que estava ali previsto, no que tange aos equipamentos comu'"wr! ):;~I!'IzF~ó~éomitaritemente,
um zoneamento de uso do solo, o qual, óbvia-
nitários, às áreas livres etc.. Os assim chamados loteamentos clan,:nmtl ;11nf{1t'~6~te,
nãoi:terá qualquer conteúdo antipopular, Controlar a localiza-
destinos pertencem, por via de regra, à família dos loteamentos irre~;.i;.Hm;Dn;:çã()de
algumas atividades faz muito sentido, do ponto de vista da sal-
guIares; diversamente dos demais, porém, esses nem sequer tiverllJll"i};:jL~;~:l'(Vagllarda
d6s interesses coletivos; o exemplo mais evidente, já men-
um projeto submetido à Prefeitura e por ela aprovado.··;;:,~:l;t!m~:~'~i~ríado, sã~'as indústrias poluentes, que precisam ter a sua localiza-
Por fim, os vazios urbanos são terras urbanas ociosas, norrn4':;l,t~tj itIH~&§~9'noesp~ço da cidade regulada criteriosamente. Algumas dessas
mente mantidas desocupadas como reserva de valor. É sobre ess~eJ\~;H{t~HH;:~tiyidades
aevem ser controladas, adicionalmente, com a ajuda de
áreas que deve incidir o Il'TU progressivo no tempo e, caso sej.anE·;W:Hlf;;W~!#J.~í#Órios
d~ impacto ambiental. Seja como for, empreendimentos ou
cessário lançar mão de urna medida extrema corno é a desapropnaça9"HH~FWiW:~q~idades (fue, pelo seu porte ou sua natureza, possam causar incômo-
(prevista, assim como o ll'TU progressivo no tempo, no Art. 182da.)tllid';jg~tj:3~;Óuexijain cuidados especiais (poluição do ar, hídrica ou sonora,
Constituição Federal e no Estatuto da Cidade), podem ser esses ~:j1ümit
11l~;J~~?~estion~mentos etc.) precisam ter a sua localização restringida
ços aproveitados para projetos de construção de moradias popu .·;iHl1Th:triHl1!;:~~~órde-se2·aqui,
uma vez mais, a contribuição seminal de JACOBS
O zoneamento de tipo alternativo ora apresentado completa·~8~1l}u:mmtlfitl!~~~.94):
nãoapenas as páginas que dedicou ao elogio da diversidade
264 265
O
r0j"""~",..~,=,,.=LC'2."'l"'tLiLL:.;'kC~E;:;~::~~;:Z:1kT~~~~~y',':,,}[,;j;~,;lI~ffirt]Er4~i\i;.::Zlill;Cmii2
-t.
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rL 1- _ de for realmente necessária) e a mistura de liSOS
r ( so b retu d o o c,apítu 1o 8 , "'T'h
.l re nee d f ar mixe ixed ori
pnrnary uses") , , !"op>n~' re,\'ista " "', ~" on l~
, '1 '1"
19Uti mente as ressa Ias e recomen
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açoes que ez a proPÓS't
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I ' Prio1ano, "5 49
"1' d sos as próprias
10 da -: .:1 P pode nealizenciar que, a em os U, I
\ questão em torno da mescla de usos (ver o Capítulo 12, "Some"" :I", Tampouco se '" ~ d controle Isso
f- " '. . ,,,Yths!' d cupação merecem um certo grau e '
I
s. about diversity") permanecem atuais,'j' densidades e o, ' 10' "ad ão univer-
r, , .', ",
HOJe em cia, diga-se de passagem, o propno planejamento c ' ·1 nada tem
a ver, necessanamente,
, ' "
com seguir a gurn P r
bi trás de fundada crítica
I
!
} , , , '" , ,ou- ensidade Ideal" apnonstlco, o ~e o, ai,
! vencional relativiza, em nome da sustentabilidade ambiemjj» (cus_ '\ ' sal de d Ir e DAVIDSON (1999), Não se deve, isso
I d ia reduzi d id ' id d d
tos e energia re UZJQOS eVI o a necessi a e e percorrer dlstânci ' " \ por P arte de ACIOLY , I di tor progressista como a pro-
! "
menores para satisfazer necessidades), bem como em nome das
as",
'\
'eS
5101, q,
uecer que mesmo um pano 1fe
ieto d I '
b '
,
necessidades das pessoas dotadas de pouca mobilidade (como ido-
_, "
,, ,',
•
~I~,,:posta,
contida no projeto e el para
começO dos anos
90
, menClOn
'
ionada parágrafos atrás [cf DIARIO
,
,
sos), a separaçao funcional. Um exemplo, ilustrativo das tendências '~,' no NICIP' 10 DE SÃO PAULO 1991], não furtou-se
, " ':: "OFICIAL DO MU ' ,
na Alemanha, e BRAAM (1999:66), Ainda a propósito do caso ale.,' ,- sunto distinsnindo entre zonas adensâ-
_" _, -I a dar a deVIda atençao ao as , I:> , '
mao, uma cntica avassaladora da separaçao funcional pode ser' ", " o "( ) d nsável é aquela onde as condições do meio
, "',,' 'veis (Ar!, 8.: zona a e , '
encontrada em HOFFMANN-AXTHELM (1996, Capitulo 18). "1:" .snonibili dade da infra-estrutura instalada permitem a
..• ,'. , i ' físico e a dlspom I I , '
Um zoneamento de uso do solo que passe ao largo do funciona. " " .' _ d o e ocupação do solo e na qual o coeficiente de
'f , , ,', mtenslflcaçao o us
lismo terá, portanto, feição diferente daquele que se acha representa- . .' t ' ico [previsto pelo referido projeto como sendo 1
aproveJtamen o um
do (obviamente, nunca é demais repetir, de modo simplificado) na ", d ímetro urbano) não poderá ser ultrapassado, nos ter-
, , _ ' ,,' ,"para to o o pen " _ ,
figura 6; a preocupação sera nao a de separar os usos pnrnanos, mas mos desta lei") e zonas /lão-adellsáveis (Art. 15: [z]ona não-adensá-
"
,',
sim a de identificar e regular a localização de usos intrinsecamente ' vel é aquela onde as condições do meio físico e a carênc~a de infra-
incômodos ou perigosos (tais como indústrias poluidoras), assim' estrutura instalada restringem as possibilidades de ocupaçao e US? do
como estabelecer restrições quanto à localização de certos usos que, solo, na qual o limite máx.imo de construção é coeficiente,de aprovei-
tomados em si mesmos, não são nem muito incômodos, nem perigo- tamento único a que se refere o artigo 7? desta lei"). Adicionalmente,
sos, mas cuja localização, dependendo de sua intensidade ou de seu 1 os espaços adensáveis foram classificados de acordo com o seu -r:
ritmo de operação, pode causar impactos expressivos sobre o tráfego, I que de área edificável (em milhares de metros quadrados), que vi1.na
(como grandes hospitais) ou, se não forem observados certos princí- I de acordo com a densidade (e o grau de utilização da mfra-estr~tura)
pios, trazer inconvenientes para a vizinhança (como casas noturnas, \ já existente, devendo o seu "consumo" ser constantemente momtora-
, , "d' ta '" ' ser esse estoque utilizado e se
t postos de gasolina, certos estabelecimentos de comercio ataca IS,I do, Ao final de um certo tempo, apos '
i
ou mesmo varejista, como lojas de discos e fitas), Adicionalmente,
\ as próprias condições ambientais (direção predominante dos ventos, 49 Usos primários, no sentido atribuído a esta expressão por Jane Jacobs, consistem
I topografia, condições de drenagem) e as características de densidade em algo a um só tempo menos abstrato e um pouco diferente das grandes funções
A
"
,,~
e à elevada densidade existente
~
Área de Proteção Ambiental D Zonas adensáveis A, B, C estoque de área edilicável
ter cada plano concernente ao nível de bairro ou setor geográft~6)::';\~m!t!;íl~lpen,toda sensíbílidade, dos potenciais e dos riscos, derivarão mapas
Note-se, quanto ao zoneamento de uso do solo, que,na a análise de conflitos
esca!~AP'·i;.t1Hi~~~Í:g~impacto: dJ uso do solo, preocupada em
mesoplano, somente a identificação de áreas relativamente grimd~)~HP~~~tfgiH~~ali~are 4yaliar a incompatibilidade entre objetos geográficos ou
destinadas a usos intrinsecamente incômodos ou perigosos, pàíti~h::'fô~n:~~~m~Ü~s~s.(fonte$.
poluentes e uso residencial, por exemplo), originará
·,,;.:~·;~:.,~:;.:~~\:!~~ü1~.I:~t:i('.'~~:::,··".'-_
~:, ~
larmente indústrias poluidoras, :t$~l~~Wif!Pgs
será factível, ao passo que o tr~~~!;:1.üjl; de cà~flitos de uso do solo. ;
mento cartográfico e o detalhamento das restrições das atividlNé.~tt:~ti;~~ti;!~~t~p'ara fi~a1izar, as relações de integração e complementariedade
.~:'·::·~:~:-:·::t:·~-·~·~{f
:',;::...:~~.g:.!.t:;~~;i
~: ._. . ," f
que, tomadas em si mesmas, não são nem muito incômodas,n~~~:1;":tn:~~~~~1~Rt,téosdi'~hsos zoneamentos podem ser sintetizadas como se
perigosas, mas cuja localização, dependendo de sua intenSidad~,?:~··F't~t:I.;\JJl~~{~t~~:iniciêt,mente,no âmbito da análise que deve preceder o plane-
de seu
lid ritmo
d d deidoperação,
d poderá causar impactos negativos
. O....b.:.r.,
m s...• ...~.a.".:
~.••...... ,,,,,,)(j"\-ll:etc-deve
IIllcro:·'''''''''! ,F.~~.:í..(.'.~.'....,~.)ll.ie
•.•e.....
n.....
'.o.'estp1.dos
t... - '" 1 preparatórios
d de pot.. enciais,
d sensibilidade,.riScos
'fi
";""'â~lttUlnf41tiltf~:;f;f;:
L.:...._.•'.;.• :~.~.'..•.•.
; 'l.i;-.';.' .•.. ·...:;.~..•~ro.,.".l.·.e.:r
..
+" • ••
qua I a e e VI a os moradores de seu entorno, eXIgem u rao)fer eva os a eleito, onglpan o mapas especi ICOSque
plano, Situações análogas com respeito ao zoneamento de den~~a~~~:;!1U141:~~~lgl\J~~~:~~ental~0 os diversos tipos de zonearnento. Em seguida, no
. f '1 entelfnagJ "';·...jl"'·>- .."~,,çontextode ~
e ao zoneamento d .. d d d
e "" n a es po em ser muito aci m ..1 '.'.:.;
..;..... '.:.:h)....•..
'l ...~.~.'.;.:
~a-',' ....•""' ~.:.'
..'....,~.~.'
'-....',,,·'c.fifi'
:).j~.'.''.'.;.;}.:.+•.·.k."c;.........
" n.'llp I'anejamento mesa Ioca I (ou macro Ioca l) ,os con h e-
l",'
I
Com consórcio imobiliário, reurbanização consorciada e operação
illlerligada,formam um conjunto de instrumentos que, por várias
razões, temdado margem a confusões. Tentar-se-à, neste subcapítu-
I 10 e nos próximos deste Capítulo 5, colaborar para desfazer o cipoal
terminológico e interpretativo que se foi gerando ao longo dos anos.
274
O 275
••
Tanto o texto do projeto de lei do plano diretor de São PaUlo
to o texto do plano diretor do Rio mostram-se vagos. Pelo que residia foi, em grande parte, engrossar o processo de ocu-
e considerando o ambiente político-ideológico, houve áreas de mananciais.
intencionalidade: o objetivo, no caso do projeto do plano de Sãop' ,.':';',;.,;.>.,:.;,1",,,,,);,,. '~ er diferente? A convicção do autor deste livro é que
aUIo'·:';.f··.i";·"iY"P6dena s '.
teria sido o de facilitar parcerias entre o Estado e a iniciativa p'. ;·,,·:(·t;~;gmmw 'dendo de como for interpretado e regulamentado o mstru-
com o fito de promover intervenções de interesse coletivo' no cas nvada"u,
··'.%t'1.;::E-...",.. depen,. '.' I chamado de operação urbana ou, de ur banizacã
amzaçao con-
' odo···"} ,é,;:-<' 1:;{i:i?1%,: . seja ee ;
Rio de Janeiro, onde _oplano, mesmo c?ntendo ele~e,ntos do ideá.rj~;.:/:fV:;ml;:~;e~:~~a. Bste poderia ser modelado com a inte~çã~ d~ servir.ao pro-
>
da reforma urbana, nao chegou a pOSSUIruma conslstencia que es ";:]·;~E!;e;. íue a Prefeitura assuma a coordenaçao técnica da implan-
Ihasse um compromisso suficientemente sólido e inequívoco h ·.·ej)es···::.:i.;lt-.,.. :./.:,.q:;.:.J. P'H~Jto
I. de}~ estrutura e da ocupação de uma d ada área, enquanto o
Se· },·••i\:.,h·.··!".'~ de Jil,ra- . .
sentido, parece que a intencionalidade foi, também, mais frouxa,1nft'j)jJtt.t+{H;~R~? . ao forneceria (no todo ou em parte) os recursos necessã-
. ," "·l:·>;·hsetor,pnva
Iizmente, a vaguidão e a relativa indefinição deram margeni.··a··t··e'·.··.:;!i~ };.Ht;::,::::: .. ' .',ra as.'ob'r' . o capita I' Imo biliâ
'. as O obietivo seriafiazer com qu.e J Ia-
.
mesmo em São Paulo, ao predomínio e à cristalização de uma interPre:>W:
,
I;etgj~E;~:r Jo
., s.t': .•..'.' ...., J
construir unicamente na área obi t d _ lreno.de:.C:. ç~j::,,;;(i;';'essista,preVIsto, aSSImcomo a operaçao urbana, no projeto de
~e o a operaçao .. >,,:',J:;.," f"H"'::'proCí' . (
§ 2? Apresentado pedido de I' . . ,-,.,.~.\.~;~j.ii
j,~.}t~~.,';-'·
..':dO Plano Diretor de São Paulo, o qual, embora tenha sido vetado
icença para construir ";,;' -.._", ,,-,,'t::Ae1 I -
cado de potencial adicional será utilizado no as ,o Certifi,_,:;i~:l;rS:;:l:'~jaCãrnara }1unicipal, passou a ser considerado uma referência e
de construção que supere os pad _ t b I P ,oamento da árt1l.;.".:?·tt.h,yP.'·;';'a. fonte de inspiração para outras experiências em todo o Brasil. O
_ roes es a e ecidos pela I .,.' .',";~;.\t';'\?\~~': ). ,.' " '
çao de uso e ocupação do solo ate' o I' it fi d eolsl~<,:::::"i.!~>;:"·o;··biietivO preClpUOdo mstrumento e o de viabilizar o aproveItamento
, um e ixa o p 1 lei •. i. :.'1 ':Y:" ~ .
cífica que aprovar a operação urba a iad e a eI es~...".:.:.:,L~
...liii;i~'~~.·e.·.;·gr·
andes terrenos (sobre os quais incidiriam a edificação ou o par-
n consorcIa a":"_-';";,~11:',;'-\"~
.,'., >:,;!.[\!'''7''';';''~~PT1tO
I" to;mpulsonos
; , ' e o IPTU progressivo,
. • além de estarem
,;""";_:,,,0 a des~propriação), quando o proprietário não dispuser de
, ' '";"~
As operações urbanas, ou, para seguir a denominação adotada fia!; para pr6ceder, ele mesmo, às intervenções necessárias para
I: i
Lei n? 10.257, as operações urbanas consorciadas, não precisam:~~F'.·:{ gararitido um mínimo de atendimento ao preceito constitu-
demonizadas, mas tampouco devem ser reverenciadas como o'Jda "fun~ão social da propriedade". t
ruptíveis: podem ser entendidas como potencialmente benéficas; "Como notou DANTAS (1997), após examinar e comparar vários
contanto que a sua regulamentação afaste o perigo de utilizações!"; . diretor~s e leis orgânicas municipais, por trás de expressões
sirvam tão-somente aos interesses empresariais. É uma pena .•__~ como urbanização consorciada e consórcio imobiliário,
l '
Estatuto da Cidade não represente uma moldura legal mais bem d~fi~'. urna tendência de distinguir dois instrumentos diferentes.
nida, para facilitar o equacionamento plenamente apropriado.r ~~~sórcíoi~obi1iário, como se acabou ~e ver, é bem mais especí-
problema. Apesar de isenta de contradições, e em que pese .ao passo 'que a urbanização consorci~da (também chamada de
exatamente ruim, a redação da Seção X não deixa de ser vaga, o . 'ação urbana, ou operação urbana cqnsorciada)' admite dupla
dá margem a alguma preocupação. .\.,)y!tlh':'i;i';"~\' '" . . ~anto uma leitura mercadó~ila, con,forme ao espír~to
., .. " ,"p.Tpre~anahsta~e capaz de agasalhar numerosos tIpOSde "parcenas
iâhii~n-nrivadÇl",quanto uma leitura mais conforme ao ideário da
.'. ~
.
Ji~l1j~lI11l:\urbana,
e que foi defendida no s,ubcapítulo precedente. A
5.2. Consórcio imobiliário ~{mfere'nça
entref'a urbanização consorciada:e o consórcio imobiliário,
'
de uma ~nterpretação não-empresa~ia1ista, residiria, em gran-
Consórcio imobiliário é a forma de viabilização I1nl:\J1w:'~ na esq~la da intervenção: em ambos os casos há uma parce-
de planos de urbanização, na qual o proprietário entrega que no ~timeiro o objeto é a dotaÇã~de infra-estrutura de toda
Executivo municipal o seu imóvel e, após a realização de , de el)~ansão urbana, enquanto que no segundo caso o que
recebe como pagamento imóvel devidamente urbanizado. r'em' ,o' "',,
I"\;<"';;~,L;~' Jogo e ~ destino de um imóvel específico.
Parágrafo único. O imóvel a ser entregue ao propr -- ~nfelizmerlle, como se pode notar a partir da análise de alguns
será correspondente ao valor do seu imóvel antes das obras ,. diretore:~t"adaptações" de experiências ou de propostas de um
urbanização realizadas com recursos públicos. (DIÁRIO para outr~ vieram contribuir para um festival de incongruên- , \
ClAL DO MUNICÍPIO DE SÃO PAULO, 1991:Art- 56) inclusive ~ma profusão de termos e expressões diferentes para .- 1
-. 280
, -.:', O
s.,
~
1\~'1C;;~"'éc~~i'"'t""Si";;"Úh~U2illmIEI:::'Ji:rS~;;Nlf&:I~;jfui;i\\llijl~i~á2~hEr';Gmi[=ffil;~!;~~i~;~:;]l
.' b tante miticrada com a
- ". . 'pelo menos as " "'-
Hi' (PREFEITURA DE BELEM, 1993), em seus artigos 178 j',-1 s coisa que pode ser, ~', mo referência
c
prevê e detalha o uso do que chama de "operações urbanas"
a 1811
, &endo
";'j'
.
,par
atClll:J. , ~'
d leoíslaçãO deamblto tecer ,
'uda e '" 'o
E' al a qual runcíone co I.
C'd d o normatizar
Estatuto da 1 a e, a
contudo, preconizadas três modalidades: uma primeira, "sem' .: " ':"a) , 1óoica e conceltual ",era\. O, ,,' d de modo um
Ul Qesa' " rfíllno = rciadas (ain a que
~\:.:~
e
propriação", que é muito semelhante à operação urbana prevista'
.. _ nQ
'. ,tê
\' tanto
as "operações urbanas censo , ' . bili -'
) uanto os consorclOS Imo 1 ianos,
vem desem-
projeto de lei do plano de Sao Paulo, dentro de um espírito pro '. , nrrlbí2:UO e vago q írit do consórcio
. .. '" gres.l . tintO tu,· - . . e papel. O espm o
i sista que, inclusive, estabelece a finalidade do mstrumento c' .--,1, . har ao menos parcIalmente, ess ,. " • 1 contido no
V alUI) 1 pen' . E t tuto e idêntico aque e
t~ sendo a viabilização da construção de moradias populares' u ,i " b'll'ário, tal como previsto no s a ,
r. segunda,
" . _
com desapropriação
,_
(reurbanização
' rnal
consorciada)", que>f
1010 I . iretor d S- Paulo:
. rojeto de}ei do Plano Diretor e ao
'\ lembra a pura e simples aplicação do instrumento da desapropriação' P
Aft. 4,6. O Poder Público municipal poderá facultar ao pro-
\ conforme previsto no artigo 182 da Constituição Federal; e, por üm
prietário de área atingida pela obrigação de que trata o caput do
uma terceira, "com posse pública temporária da área (requisiçãourbll~ .
~ art. 5? desta Lei, a requerimento deste, o estabelecimento de
nística)", que, esta sim, é idêntica à urbanização consorciada tal como
F, consóro,io imobiliário como forma de viabilização financeira do
I
prevista no projeto de lei do plano diretor de São Paulo. Com isso,
;, foram empregados, debaixo do mesmo guarda-chuva terminológico aprovei~amento do imóvel.
§ I? Considera-se consórcio imobiliário a forma de viabili-
("operações urbanas"), termos que, em planos diretores anteriores, se
zação d~ planos de urbanização ou edificação por meio da qual o
referiam a ínstrumentos específicos, além de serem os próprios termos
usados de forma um tanto canhestra: em vez de urbanização censor- proprie~ário transfere ao poder Público municipal seu imóvel e,
ciada, "reurbanização consorciada", sendo que, na verdade, o que se após a i,ealização das obras, recebe, como pagamento, unidades
",
almeja é algo diferente do previsto no plano do Rio de Janeiro. Por imobiliárias devidamente urbanizadas ou edificadas.
§ ? ,O valor das unidades imobiliárias a serem entregues ao
',i:: tabela, restringiu-se o escopo do instrumento requisição urbanística,
Mesmo não sendo o planejamento urbano uma "ciência exata", e proprietário será correspondente ao valor do imóvel antes da
sim um campo compartilhado por arquitetos-urbanistas, cientistas t· execução das obras, observado o disposto no § 2? do art. 8? desta
\
prio, no passado, no cipoal dessa multiplicidade de termos pouco esta-
belecidos e conceitos ainda pouco demarcados, e verificando, como 10.257), soere o IPTU progressivo no tempo (Seção fi) e sobre a
professor e consultor, o quanto essa ausência de uniformidade dificul- .desapropriação com pagamento em títulos (Seção IV).
ta a comunicação, é que o autor deste livro, justamente, acha necessá-
rio salientar esse ponto. Por um lado, é lógico que seria bobagem pre- I,
tender ter total controle sobre os (ab)usos terminológicos e conceituais, 5.3. Operação interligada
especialmente em um país tão vasto e tão heterogêneo quanto o Brasil. ,
282
O
•
.iN@lmii'Il1'rm;uumm!!iWAAtmRaiSliiíiIiiA-
ração interligada a alteração pelo Poder Público (...) de detefIllin '.. em parte, de modo diverso. Instituído durante a segunda ges-
,
parametros ur b anístrcos",
,. ., me dirante o olereClmento
.ç. d e _. ados de J!nio Quadros, nos anos 80, a intenção era possibilitar a remo-
por parte dos empreendedores interessados. São exemplos de de fbvelados sem onerar os cofres da Prefeitura, uma vez que os
partidas: ,..,nvriedirios interessados na alteração de parâmetros urbanísticos é
arcariam com os custos da construção de habitações de interesse
I - Recursos para o Fundo Municipal de DesenvOlvimento p:&raabrigar os moradores de favelas particularmente incôrno-
Urbano; 'd~spar~ o capital imobiliário, devido à sua localização em áreas
II - Obras de infra-estrutura urbana; da cidade, O objetivo do instrumento era, portanto, segregató-
III - Terrenos e habitações destinados à população de biix~ alên'tde permitir que o orçamento municipal, já comprometido
renda; grahdes obras viárias, não foss~ sobrecarregado com o encargo
IV - Recuperação do meio ambiente ou do patrimônio ter d~ p~ovidenciar a construção maciça de moradias populares
cultural. (CÂMARA MUNICIPAL DO RIO DE JANEIRO ..•, 2000:57 e segs.). Não ~ à toa que a Lei 10.209/86, que
1992:Art. 29) às operações interligadas, foi apelidada de "Lei do Desfa-
. A fin~li.d.ade da operação interligada seria a de proporcion:.·;~~.~j,:i~i;i::;;óAP4ar disso, o instrumento foimantido e utilizado nas gestões
maior flexibilidaoe às regulações do uso do solo urbano, permiti~dh·}.g;nr~tt.~P?,steriotes, inclusive na administração petista de Luiza Erundina
ao Estado fazer concessões à iniciativa privada, sempre que as c6n~'.;;d~i:~HltfIH(C~D9S0, 1997: 107; BONDUIq, 2000). Isso não chega a ser
cessões não lesem o interesse público e sempre mediante o ofereci~;g!1~:~tfNH~.àr~dox~l,
desde que nâo se perca d~ vista que o intrumento foi enca-
~ento de contrapartidas que revertam em benefício da populaçãoda,'.,W (\Jll#[i~adode forma diversa durante a adnrinistração Erundina. Enquanto a
CIdade. No entanto, esse instrumento, do qual as operações urb~às·.N~~~tHh;1finalidad:edo instrumento, durante aadministração Quadros, era niti-
não devem ser, inadverditamente, consideradas um caso específicoéfll[: ;~il~h~d.ainentelsegregatória,a isso aliandq diversos pecados originais (po~
(~~a vez ~ue as operações interligadas não envolvem intervenções=h";.lH:'!jtiH:5~emplD1::
o instrumento não foi discutido com a população; a lei
físicas conjuntas do Estado e do capital imobiliário, melhor traduzi-fXi: ijl+;;E;,ap~esent~và
uma redação ambígua, ~ugerjndo que as operações inter-
das.p~l.a expressão urbanização consorciada, mas sim apenas uJllà.'.:/ib t'J\lillW~~adas
t9riam sua aplicação restrita ~ áreas de favelas a serem remo-
flexíbilização do zoneamento), é altamente polêmico. De acordo co~':0i,
!~:i\1;1J1yld.as;
a l~i não previa critérios para? cálculo do valor da contraparti-
~ ma~e~ra Como for r.egulamentad~, pode constituir-se em peça legi~";.;:i.I~.;{:M;{.?a1em
t(ffm~s de quantidade d~.ha~itaçõ~s pop~lares [BONDUKI,
tJm~tona de favorecimemos abusivos de interesses capitalistas em·'.;:.;J1:9K':3pw:59]~, fOI o seu aspecto positivo; ou seja, destinar recursos para a
detnmento da população. Esse tem sido, precisamente, o caso no Rio:<Hit ~j~~~H5~nstruçlip
de habitações de interesse social, como contrapartida exi-
de Janeiro, onde os elementos mais avançados do plano diretor não.•. :.;l:!t~[t:.tm:;~9idado ,~eneficiário
de uma exceção a ser concedida, se~ que o
foram nunca regulamentados, ao passo que a operação interligada,;% [4fu.~fsJado tl~'esse de arcar com o ônus, que passou a ser enfatizado na
u~ tanto ambígua, vem sendo utilizada de modo nocivo ao interesse;)[!:; ;;:XflL;~drninistt~ção
Erundina. Esta buscou "transformar o instrumento num
publIco, :~to que tem aberto espaço para várias intervenções "f1eXibi--.d~~·t
;.;Jn\;;t.e)(~edient~
de obtenção de recursos para implementar a política habi-
um instrumento do mal num expediente para viabilizar uma nova P 1'" } -. . trUmentoS recomenda, como se pode ver, cautela diante de fórmu-
1 '105
tica habitacional". Com isso, Bonduki desenvolve e aprofunda a into J. ) Ias salvacionistas que prometem prosperidade generalizada, mas que
pretação de AMBROSIS (1989), que já se mostrara simpática às ope.
er, i .teodem a ser mais vocacionadas
,',
para beneficiar os interesses dos
. 'I, , • 'potenciais investidores privados que qualquer outra coisa - ou, pelo
rações iotedigad". De 'lia parte, Ennioi, MAR/CATO (2 °'17)),
00
mesmo procedendo à necessária reprovação da nada incomum utiliza. J -menos, que admitem ser facilmente capturadas para funcionarem
ção abusiva do instrumento, não o descarta completamente: J dessa maneira, se não se tomar muito cuidado. Denúncias de abusos já.
·1 .. ' suscitaram, in,c1usive, a encomenda de uma avaliação, seguida de rela-.
A chamada operação interligada (Possibilidade de comprar '!.." tório, por parte do Department of Environrnent do Reino Unido
potencial construtivo para um imóvel, acima do regularmente '1'" '(cf. BYRNE,'·1992). Para muitos planejadores identificados com o
previsto na lei do zoneamento) poderia Constituir uma alternati_ '.:::'. clássico figurino do regulative planning, a idéia de uma "negociação"
va de exceção para casos bastante específicos,exigidos pela con- ···.entre o Estado e os promotores imobiliários é, em si mesma, um risco
dição do sítio e da paisagem. Mas ela acabou sendo utilizada em e uma distorção, Nas palavras de ENNIS (1997: 1937), ao apresentar a
São Paulo de modo tão freqüente que se tornou uma regra para , opinião de dois comentadores ingleses,
burlar a lei do zoneamento.
[tjhe introduction of bargaining into the planning process they
Instrumentos similares, destinados a conferir flexibilidade às prá- believed would subom planning practice. The trade-offs invol-
ticas de planejamento e gestão urbanos, têm sido propostos e irnple- ved in bargaining meant that planners would be susceptible to
mentados em diversos países do "Primeiro Mundo" _ sendo seu espí- inducements which developers might offer in order to purchase
rito, à primeira vista, talvez elogiável, mas sendo Sua prática de irnple- a planning permission.
rnentação, mui tas vezes, merecedora de reprovação. As técnicas ame-
ricanas de flexibiJização incorporadas ao arsenal das técnicas de Há, porém, divergências. O próprio ENNIS (1997) defende, em
zoneamento funcionalista, abordadas no Subcapítulo 4.1., trazem con- última análise, a negociação, na esteira de sua argumentação sobre a
sigo, como se viu, o perigo de abusos e, mesmo, corrupção. De fato, é necessidade de os planejadores darem mais atenção à implementação
o que ocorre com os development agreements, linkages e bonuses em dos planos. Autores há, também, que asseguram que os riscos de dis-
geral. Na Grã-Bretanha, os planning agreements (e, nesse contexto, os torção têm sido superestimados (é o caso de BYRNE, 1992). Diante
planlling gaills), egui valentes aos development agreements e bonuses da crise do regulative planning e da ascensão das modalidades fran-
americanos, têm se disseminado bastante. Pode-se dizer que se está camente rner;c:adófilas de planejamento, a cautela e a crítica parecem
diante, no caso dos planning agreemellts (assim COmo do bonusing e ceder mais t; mais terreno à apologia da parceria direta e explícita
dos development agreements e linkages norte-americanos), de instru- entre Estadoe capital imobiliário.
mentos perigososamente ambivalentes, de natureza muitíssimo serne- Seja como for, nem toda flexibilização merece ser olhada com
desconfiança. O instrumento denominado Transfer of Development
287
11
. -:?'HFi:';~'-:k;:,;';'. . dando continutda . dee a tradiça ão , típica de uma sociedade
ã. ,.
ISSO,por SI so, represente um grande fISCOde corrupção ou desnlOrà~':i;:~S'(~~im;~~1~~s ~obre o desenvolvimento urbano dependerao da fo~a
i:..;.,:!i:.:i.:;,.l;..I~;.$F
i")
..
lização do planejamento. Sobre isso deve-se ressaltar, COntudo',qu'·.(~".:"
•.. ..us.':e.
. er .-!. -I' rezulamentado. O que parece r.•e almente essencial,
í.:...•.
I
I
terras, capaz; de compor uma massa crítica de espaço preservado
(DANIELS, ] 991 :430). A esse respeito, a grande desvantagem brasi-
5.5. Compra do direito de construir leira reside ~a maior escassez de recursos financeiros por parte das
nossas municipalidades; por outro lado, a margem de manobra para a
I·
aprovação eaplicação de mecanismos que priorizem os interesses
A compra do direito de construir (purchase of development rights,
coletivos mais amplos, em detrimento dos interesses de proprietários
ou PDR) é um instrumento bastante utilizado nos Estados Unidos, com
290 de meios de produção, não parece esbarrar em resistências culturais e
O
291
li!
,···~f4#~~~~~:r~J;1~1'~~:~
"ao
{r,.;
~' acopladas a um reassentamento e ao oferecImento de moradias, , ''.
. DeIxe-se, 3=
r , ,"
a.falar a própria Constituição:
t badas, Como paliativos irrelevantes, Regularizar fundiarial'h <IC,. 1 suir como sua área urbana de até
r-
" .
dotar de mfm'OS'mi",' .
favelas e loterunentos HTegul"" s'o'""'"''.' i lurt . 183'..
- Aque e que t pos, ,
quadrados por cinco . .
anos, mmter-
"~; essencías . . para resgatar . .
a dignidade e a auto-estIma . dos Pobres "'"""1
b f . duzento se cinqüenta metros , .
,_ utilizando-a para sua moradia ou de
•~' nos, desde que isso seja realizado de modo sério, transparente ~ a.
p' .,i ruptam, ente e sem ' , lh a' o domínio desde que não seja. pro-
opos>çon,
, ""1 a família, adquirir-
t,
~, ".
"patl>o e tecmcomente CO'""o. I. ". . , ele. urbano ou rural,
,
". '. '.. . • . ,. tánO de outro tmov •
f:.: A usucaplClo,2 e um Instrumento ImportantJsslmo de regular'! pne O ' I d domínio e a concessão de uso serao con-
lZac i § 1.0 - titu O e
. ._
: p'~~nedade, e~ nome da defe~a de mreresses Jeg",moS:se, no ca" '1 <' '" § 2? L Esse direito não será reconhecido ao mesmo possui
~ °
do solo criado .o que OCorree que direitn doconstmIT Passa, não "j . 'de uma vez.
'• s" mais" uma decorreoem. natural e nao
'. sUl"'a
'. a reg"s e hmitaçõ~ •' do' pO'.
§ 3?m"s • serao
_ Os imóveis públicos nao • adquiridos
. . por usu".
na usucapião, à semelhança do IPTU pro-
do direito de propriedade, I
gressivo, o que está em jogo é limitar o direito de não cOnstruir ou, pião.
mais amplamente, de deixar ociosa a terra. Entende-se que, diante da (CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO
~!i
carência de moradias, típica de cidades de países periféricos e semí- BRASU-, 1988)
periféricos, a manutenção de grande quantidade de terra urbanizada
ou urbanizável em "pousio social", ou seja, em ociosidade; valori- Como se vê, o texto constitucional estabelece que os imóveis
zando-se artificialmente na esteira da especulação imobiliária, é Um públicos não serão adquiridos por usucapião. Essa é urna restrição
atentado a direitos coletivos, expressos na exigência constitucional . que não estava presente na proposta defendida, na época da
de que a propriedade cumpra uma "função social". Por mais vaga que , Constituinte, pelo Movimento Nacional pela Reforma Urbana. A
seja esta fórmula, ela encerra uma tentativa de "domesticar" a pro- versão do Estatuto da Cidade aprovada pelo Senado Federal em 18 de
priedade privada, que é o máximo que se pode obter, evidentemente, junho de 2001 não trazia nenhum avanço a esse propósito, mas, pelo
menos, preservava a possibilidade de emprego de outro instrumento,
f nos marcos de uma ordem econômica que se assenta precisamente
a concessão de direito real de uso, para legalizar a posse de ocupan-
li, sobre a propriedade
pode ser empregada
privada dos meios de produção.
por iniciativa dos próprios interessados,
A usucapião
mas o tes de terrenos públicos. Com a aplicação da concessão de direito real
Poder Público poderá assessorá-Ios juridicamente, zelando para que de uso não chega a se dar a transferência da propriedade, muito
o desfecho do processo não seja excessivamente demorado e desfá- embora os ocupantes recebam garantias e vejam a sua situação ser
vorável àqueles que, legitimamente, devem ter reconhecido o domí- regularizad'a. Concessão de direito real de uso é um contrato celebra-
nio sobre os terrenos que Ocupam, do entre o Poder Público e os ocupantes, contrato esse que, teorica-
mente, pode ser por tempo ilimitado ou limitado, embora renovável.
O mais razoá vel é que o contrato seja por tempo ilimitado, extingüin-
S2 Existem cOntrovérsias sobre o gênero do substantivo usucapião. Como o
do-se, entretanto, caso o concessionário venha a dar ao imóvel outra
Dicionário da Língua POrtuguesa Contemporânea, da Academia das Ciências dó
Lisboa. e o dicionário Aurélio só o registram como sendo do gênero feminino. destinaçãO!que não a de moradia para si próprio e sua família, ou caso
enquanto o dicionário Houaiss admite os dois gêneros. o autor preferiu seguir aquilo o concessionário venha a adquirir a propriedade (ou a concessão de
que parece ser a forma mais aceita segundo a norma culta. .
294 uso) de outro imóvel. Os concessionários recebem uma garantia legal
O 295
li
de permanência no local podendo a concessão se dar a tít I 'HI w,m',f,:,, s'o'eradas de risco prevista no Art, 4? Nunca é demais lem-
, ~ IUOoner';':l;-:i~'C-easconl '
so ou não (cf. ALFONSIN et al. [1997:77-8]). Não obstam ' ()..,,'ü j;;~.lj;~ d~vem ser esgotadas todas as possibilidades de manter a
rável que a concessão seja conferida gratuitamente. A garae't:esp~~~;;-!I!:1:~~í1~rarque.;o;'em sua localização original, para evitar transtornos de
n Ia legal "", ,""i,·l~ '(jpulaça : '
supra mencionada é poderosa, mesmo sem implicar a propn'ed d" " ::tdj\:,},~1P.'". de'ns para ela como o afastamento dos locais de trabalho. E
a e do":", .,.1c:,·t'vana5 or , ' ,
imóvel, pois o título concedido, seja por via administrativa o ',,' ,';H
H1é::;. '. rri quais recursos se poderá contar para fazer face a numero-
u, em:.' "''''''1JlaIS. co '
cas~ de litígi~, ~or sent~nça jud~Ci~l, ~ervirá para efeito de regula.:rj:mi,:m;.!i~ose onerbsos processos de busca de locais alternativos? Pelo visto,
zaçao no cartono de registro de Im,ovels: . ' ,·,,~)~:,f;:1n~ita pol4mica ainda haverá de ser trav~da antes de se alcançarem
Lamentavelmente, o veto presidencial a todos os seis artigos : ;:ii;'~;P;,d' -oes:de satisfatória aplicação desse Instrumento.
que "". "v,,'con lÇ . '
compun~am a Seção VI ("D~ concessão de uso especial para fiflsde::::;jüb§.~lr:Regis~e-se, ainda, que o Estatuto pa ~idade, em sua Seção, V, ao
moradia") do Estatuto da CIdade (LEI N? 10.257, de 10/07/2001»:;\'Jr;'ii;: r~ver a ~plicação da usucapião co,letLva, avança para alem da
s~b ~ aleg~ção de,que isso criaria uma abertura para a ocupaçãoabli~{-:~1~1lif11:~qnstituiç'ão Federal. A expectativa d~ muitos é a de que esse instru-
siva inclusi ve de areas de uso comum, como praças ou vias de comu~.{:tihif:;('énto de\!erá facilitar bastante a agilização dos processos de regula-
nicação, cr~ou um .e~baraço para a aplicação adequada do institUt6:;m:n~~~;}1~~açãofu~diária, pois permite a ultrapas.sagem ,do quadro pulveriza-
~a conc~ssao d~ direito real de uso a terrenos públicos. A faltadâ,~;[;t:lHtmn;fdqdeaudj;ências individuais. Mesmo ~sslm, assinale-se, por dever de
mtroduçao prévia de uma distinção clara entre bens de uso comuiii:e\htHi ;nl~~ll),hbnestidade,que comentários têm surgido no sentido de que a usuca-
ben~ ~ominiais serviu de pretexto para a adoção de uma restiiç,~o:~;rmri~~~ill~l~ocoletlva não seria um instrumento de oper~cionaliz~çãO tã~ fácil
genenca e total (veto) por parte do Presidente Fernando Henrique~i;m!1,~1~\Wgúàritose bensa. O mesmo. por analogia, havena de aplicar-se a con-
Cardoso. Com a Medida Provisória de, ,direito real de uso coletisa, possibilidade
n? 2.220, de 04/0912001 (cUja\·:~f.WI~f~líl\cê~são prevista na
constitucionalidade, aliás, foi posta em dúvida), a lacuna aberta peló;H1!l'I~;~~nl1íDIDA(PROVISÓRIA N? 2.220, :de 04/09/2001, Art,", caput).
veto presidencial apenas muito precariamente foi preenchida, p6isô:,!tl~l'iitmmQ~eo fut~ro responda também a ess:;questão.
benefício só é reconhecido àquele que, "até 30 de junho de 2Qoj,':;;ili\r~E1:;'No
clso de terras que não foram'~ocupadas, mas sim adquiridas
possuiu como seu, por cinco anos, ininterruptamente e sem oposição,>":im ;ifi:nmúÍWfosarnlnte e de boa fé por população de baixa renda que foi logra-
.--' :~~.r ~L.~:-:.~)!-·~:.~"':.:;:'_
: r '
até duzentos e cinqüenta metros quadrados de imóvel público si~a-:'tl;lti~itáiH;~ápor urr\loteador, gerando-se, a partir daí, um loteamento irregular
do em área urbana, utilizando-o para sua moradia ou de sua famílii: :Jm'(;~m~mi4ri1esmd[clandestino a situação é diferente. O Poder Público precisa-
(cf. MEDIDA PROVISÓRIA N? 2.220, de 04/0912001, Artl~. ~)1,mH~am\tã,realizaJ~asinterven~ões necessárias~para, tanto quanto for possível,
caput; grifo do autor). E esse está longe de ser o único ponto proble- ;;;:;f':;~;l~~i;tQrnar
os ioteamentos até então irregulares conformes à Lei Federal
. ,.' "', _,.,,"'~'~·;-t·'~_1:':~!,,'"-; -':c f' :
mático: muitas favelas ocupam, justamente, áreas de uso comum.do .:~mH-itl;~tHR;'7()6179, ~ue rege a matéria do parceíamento do solo urbano.
povo, nas quais não seria aplicada a concessão de direito real de.us~;. 1Wít mtltim%1,.Por f{m, outros instrumentos de :regularização fundiária podem
as populações dessas favelas poderiam, conforme o Art. 5.o:da.";'tt~gltr41lt~r ~ma flhãO coadjuvante ou complementar em relação aos anterio-
Medida Provisória, ser beneficiadas com a concessão em outro 10caL',},!!Íi~~k~fW!~S~Alérr~dadelimitação das ZEIS no zoneamento de prioridades,
O problema é que se precisaria pensar em regras e critérios mais refi·:\:tm~lHrf;;;~strumeRtos como a desapropriação, a requisição urbanística
nados, se se quiser que a restrição à ocupação de áreas de u:o.~;jliLi€~n!f6~~~iSiÇ[~ de um imóvel de propriedade privada com o fito de aten-
comum, restrição essa, em princípio, justificada pelo bom senso,na~'/2t~it;m'i~\t;~,er,aum t'nteresse público, sendo de emprego mais específico que a
venha a servir de álibi para a _remoçãO indi~criminada de favelas~t~m-1~~;:~il$1?!7~aproprIação), o direito de preer:lpç.ãO (prerr~~a~iva recon~ecida
mesmo valendo para a remoçao de populaçao favelada ocupante,<'tfil. ~~~fH\~EEstado,que passa a ter a preferencIa na aqulSlçaO de um imóvel
296
O
-
297
·=~ "'""-=""'''''';;;;~'';'~;;~;;Ú:ii'fijHi;;~~]lii~~éJ.illl~~~iimi;ü;:;~i;ti~fi!rQ;i;Ef;=i:0S~·.·.;ZL
..'.,:';~~:;-"::.--c"
urbano que venha, porventura, a ser alienado), o direito de
c A..
(l"O''',eo,,,, g"'",ta "
00 ooem", a le"",o"
SÜPetjZc;
00 POlencia' ,<!, .,
vel do terreno, mantendo-se a propriedade do mesmo) e OUtr !'l,"<í:,
sam ser levados em Conta. Para maiores detalhes sObre Os instruo ,I;
oSPrEl;'
tos de ,ego'''iz.ção fondiária e alguos estudos de caso (Diad~'" 7. Fundos de d.esenvolvimento urbano
Porto Aleg", Recife, Belo Ho'iwole, São Paolo e Rio de ]",,:
recomenda-se ao leitor que Consulte ALFONSIN et a!. (1997); OUtr~'
AI.
colelaoeas " "antes são aq uela, o'gamza das por FERNAliDEsas
(1998) e SAULE I,. (1999). O dieeito de Supenicie e o di,eh0de
preempção estão previstos, também, no Estatuto da Cidade (tEr N?
10.257, de 1010712001, ,espeetivamente seções VII e VUfj: E.
matéria de planos diretores, não muitos são aqueles que prevêem e .', Os fundos parecem, à primeira vista, importantíssimos, mas o
abordam, pormenorizadamente, Vários instrumentos simultaneamen_ .seu amparo legal costuma suscitar dúvidas. A Constituição Federal,
te. O plano diretor de Belém do Pará, em que pesem as inconSistên_ ; no seu artigo 167, inciso IV, veda vinculação de receita de impostos
cias apontadas ao longo desta Parte ID e ainda outras tantas, prevê ti órgão, fundo ou despesa, de acordo com o princípio orçamentário
Um grande número de instrumentos: além da usucapião e da conces- 'de não-afetação das receitas (CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA
são de direito real de uso (detalhando o que se acha contido no Art "FEDERATIVA DO BRASIL, 1998; ver, também, GIACOMONI,
183 da Constituição Federal), o direito de preempção, o ctireitode 1997:75-76). Ademais, qualquer fundo tem de ser aprovado pelo Le-
Superfície, a requisição urbanística, as ZEIS e outros mais (PREFEI- gislativo (CONSTITmçÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO
TURA DE BELÉM, 1993). .;'~
BRASIL; GIACOMONI, 1997:76). Seja como for, GIACOMONI
(1997:129) mostra que existem, na prática, vinculações. Além disso,
'a Constituição do Estado do Rio de Janeiro - para mencionar um
exemplo relevante de amparo legal - prevê, explicitamente, em seu
Art. 230, a criação de "fundos destinados ao desenvolvimento urba-
no" (CONSTITUIÇÃO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO,
2000:92), Um exemplo de fundo especificamente voltado para o
desenvolvimento urbano é o Fundo do PREZEIS (Plano de Re-
gUlarização das Zonas de Especial Interesse Social), de Recife, anco-
rado na própria lei que criou o PREZEIS (ver, sobre o PREZEIS, o
Capítulo 3 da Parte IV).
O que importa aqui, realmente, é salientar que qualquer proble-
I ma legal poderá ser contornado se, ao contrário do que se chegou a
propor nOI passado, não ficar explicitado que os recursos adicionais
1 auferidos graças à implernentação de instrumentos tributários como a
concessãd onerosa do direito de construir e a contribuição de melho-
298
O
299
111
r!'~
t~
Constituição Federal, ainda que, corno demonstra uma das ~
~
ções estaduais mais importantes, a do Rio de Janeiro, a criação
~
~,
dos de desenvolvimento urbano não fira a lei. Que fazer diante
Uma solução assaz simples e eficaz é implementar, sim, os instrum1m;
tos tn ib utanos
,. .
menciona d os, e criar,
., SIm, um f un d a de desenvolY.t
':y: "'.,.
~?
~~
mento urbano para dar suporte a políticas públicas orientadas :i
regularização fundiária e melhoria infra-estrutural em espaçOs 301
300
O
r
i:I1ee
«ante , é necessário considerar as coisas em um outro plano,
j ,tl •
o da
',', " dução de ideologias. Nesse plano, o marketing urbano "deforma-
pro
í ':ao" deve ser considerado como o resultado de urna tentativa de
t.
8. City-marketing e outros influenciarnão apenas investidores e turistas em potencial, mas toda
instrumentos informativos 'tima opinião pública, formando uma imagem de cidade conforme aos
i< interessese à visão de mundo dos grupos dominantes.
Se, por um lado, uma certa parcialidade estará sempre presente,já
t quese está dia~te de leituras diferentes competindo entre si (e, sempre
I . queuma versão ofi~ial pretender-se a única legítima, estar-se-á incor-
í
~ rendoem um discurso ideológico manipulador), nem sempre o marke-
No Capítulo 1 mencionou-se um tipo de instrumento de planeja- ,ting urbano precisará ser deformador ou manipulador. É perfeitamen-
I
í
mento, os instrumentos informativos, que até agora não foi abordado. . tepensável um marketing urbano persuasivo que não esconda, delibe-
i Propositadamente, deixou-se para fazê-lo somente agora, seguindo ].:, radae absolutamente, mazelas, ou force demais certas interpretações.
I um raciocínio que parece coerente: o objetivo desses instrumentos é,' "r,/ ;.Semingenuidade, é preciso reconhecer que a ascensão do city-marke-
justamente, o de informar sobre aquilo que, com a ajuda dos demais l:"iding se dá, no mundo inteiro, paralelamente ao enfraquecimento do
I
" instrumentos aqui examinados (dentre outros), pode ser ou tem sido t.!!:"j>lanejamento regulatório clássico e ao aumento da importância das
alcançado.
~·:I>:·' "parcerias público-privadas". A função de produção de territorial
A expressão city-marketing costuma soar, nos círculos politica- ':ideologies (rivalidades que expressam fetichismo espacial, do tipo
mente não-conservadores, pejorativa. Existem, decerto, boas razões "cidadeA veTSUS cidade B", slogans ufanistas etc.), com o fito de tor-
f para isso, pois é fácil imaginar (e pode-se constatar) que, em não pou- .nara cidade mais atraente para o capital e para um público seleto de
I cos casos, está-se diante de uma tentativa de construção de uma ima- ,"'turistas e consumidores, tem sido bastante estudada, sobretudo na lite-
I gem "asséptíca'' e certinha da cidade em questão, com o fito de atrair
investimentos e turistas (um caso que tem sido cada vez mais estuda-
raturaanglo-saxã (um bom exemplo é SHORT [1999]). Entretanto, o
marketing pode fazer referência às vantagens locais sem incorrer em
do, no Brasil, é o de Curitiba: vide sÁNCHEZ, 1997a; 1997b; 1999). fetichismo espacial algum, ou em xenofobia ou ufanismo exagerado.
Poder-se-ia dizer, assim, que, em várias situações, o problema que Aliás, até mesmo sob a ótica empresarial pura e simples, não tentar
reside por trás do marketing urbano é o mesmo que reside em qual- esconder todos os problemas pode causar melhor impressão e desper-
quer propaganda enganosa, em que as qualidades do produto a ser lar maior confiança que a busca por construir uma imagem que, de tão
comercializado são exageradas e possíveis defeitos são escamotea- perfeita, corre o sério risco de parecer falsa, artificial demais.
dos. A analogia com a propaganda enganosa (versus propaganda 1
honesta) é, contudo, ela própria defeituosa e muito limitada. Uma I De um ponto de vista crítico, consoante a a abordagem adotada
neste livro, o marketing urbano, como instrumento informativo,
cidade não é um simples produto ou urna mercadoria qualquer, que se deverá servir para mostrar, com a maior fidelidade possível, os resul-
possa descrever objetivamente por meio de suas propriedades; uma tados alcançados na busca por um desenvolvimento sócio-espacial
cidade é um complexo sócio-espacial onde várias leituras e interpre- autêntico (presumivelmente, com o auxílio dos instrumentos ante-
tações coexistem, competindo entre si e refletindo interesses diver- riormente discutidos). Uma vez se realizando esse desenvolvimento,
gentes. Por conseguinte, sem querer sugerir que a dimensão ética seja a atratividade da cidade para turistas e mesmo investidores poderá se
302 . :~
O 303
•
~y~.
·~"'{!~~~~-;A~~Lt~;f-::~ "-,~-n-
ver bastante incrementada, sem que para isso seja necessário enf::!'
au,
zar (na propaganda ou nas intenções concretas) aspectos "cos . '0 ••••••••
ll1eh •• ",;,;>,,,,,,, ..
cos" - e, no que concerne aos investidores, sem que seja preciso
recer incentivos generosíssimos, muitas vezes mais uma 9; E quanto ao uso mais eficiente
I :
simples informação, oferecendo-se uma oportunidade menor deifazer com que as propostas :não saiam do papel. Entre a
para que a população seja, também, ouvida. SIMONSEN e R~.u.u.u",. de (instrumentos arrojados por Bartede uma eventual prefei-
(2000), tomando os EUA como referência empírica e a propósltd' gressísta e a efetiva implernentação exitosa dos mesmos.
l: ,
potencial interesse), que também podem ser e de fato são amplilriiefÍt~ ores; terceiro obstáculo, as dificuldades para a
empregados no planejamento urbano. PEISER e NELSON ( do plano eventualmente' aprovado (o que envolve,
·~ULa\.6av
cutem, especificamente, o uso de uma dessas técnicas - os Idades para a fiscaliza',ção estatal da observância
panels - no planejamento. Pode-se levantar a ressal va, parte dos agentes privados), Muitos tenderam a subes-
de que muitas, provavelmente a maioria das experiências de dades, conforme o autor alertou em outras ocasiões
ses esquemas não é informativa apenas no que conceme a, nature~1/. ""ld~
.. a; 1998).
técnica em si, mas também no que se refere ao grau de abertiitâ:pqcJl o inverso do que fizeram e fazem os autores que
Estado local para com a participação popular (chegando, na obstáculos, ou seja, sem querer exagerar as dificulda-
das hipóteses, à consulta e à cooptação), Isto não deve conduzir" perceber que elas existem. e que o desfecho pode
tanto, a um repúdio às técnicas; mesmo uma conjuntura política", se osobstáculos e as resistências forem subes-
favorável, permeável a genuínas parcerias e à delegação de Paulo, por exemplo, o projeto de plano diretor foi
pode prescindir do uso de instrumentos informativos. pela Câmara. de maneira que o excelente documento elabo-
304 305
O
~\í;~Üi"cc"",","i~,,,,,,,~hj~eE~IE;i~~:;~;L~.I1~]ij[~~~~,~3~;Jijlj0:-;;ililili[:=~~
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completa, mas Concessõe . ti .. _ - 'C S .'-eIS a derrota ,. cfna . " '.
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tO e a gestão precisam, também, contar com uma outra ferramen-
1.
~ s 11el am de ser feitas D' . nQo[,,;JJ1en -, . , .. _. .
1.
tando-se também a va1idad . , . lante dISSO u'. .... b stante básica: uma adequada divisão da cidade em bairros.
e lDtnnseca do ar u ' e aCei . '(li a
ri sem desejar, de forma ela . g. mento, cabe in '.' ". quanto outras unidades espaciais possam, eventualmente, refe-
. a ",uma, sugenr que os " " . Oagar: Con . _ , .
i~ sejam secundarizados seria
' .1, por outro lado, sensato:
novos mStrUll1e
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Giaro planejamento e a gestao (e o caso das bacias de drenagem,
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m e precIsam receber'
ntCls'
o Igno, ar que alg ,i
Uns i
o.,. "levantes
re
no que se refere a definição de unidades de manejo
,. .
H E conveniente admitir malOr atenção? .•~ mbiental e também para orientar certos aspectos concernentes a
. . ' para começar, que alé da : <I , _ . ,
, progresslVJdade no tempo d IPTU "m a lDtrOduÇão d:] '. ocupação e a expansao urbana), deve-se reconhecer que o bairro e a
o , tambem o IPTU " a, •
~~
. sa, no caso de numerosíss' . , . normal" prec'unidade de referência mais importante .
., irnos mumclplOS ter a I··.
mlzada. E comum o pote . I d . _' sua arrecadação ali. . Um bairro é, como o autor argumentou em trabalhos anteriores
. nela e aufençao de ' . .•.. . . .
muitos municípios se enco t b recursos propnos de' (SOUZA, 1988a; 1989), uma realidade, ao mesmo tempo, objetiva e
n rar su explorado _. . . . _, . .
de corrupção, mas também d di' .' por conta nao somente (inter)subJeuva. Um bairro nao e socialmente produzido somente
e es eIxo e mcompeC 'D . .
algo banal e corriqueiro d tã I encia, everia ser porque o seu substrato material (as ruas, as construções) representa
, e ao e ementar mas d t: " .
cadastros técnicos (que ab ' d '. e ato e raro que transformada pelo trabalho humano, mas porque cada bair-
rangem esde os sirnpl d
es ca astros fundiá- ..ro é, ao mesmo tempo e em última análise, um espaço dotado de sig-
rios ou imobiliários, que permitem uma visão da estrutura de proprie-
'.nificado, um espaço vivido e percebido; enfim, um "lugar". no senti-
dades, até plantas Contendo dados sobre a infra-estrutura instalada e os
. do específico já exposto no Subcapítulo 2.1. da Parte I(vide nota de
serviços prestados) e plantas genéricas de valores (ou, simplesmente,
'rcdapé 14). Ao servirem de referenciais para a construção de identi-
plantas de valores, as quais contêm uma di visão da área urbana do
dades sócio-espaciais e sentimentos de pertencimento, além de refe-
r,;.. município de acordo com o seu status, ao fixarem os valores básicos
.renciais de aglutinação da população no âmbito de movimentos
unitários, por metro quadrado, de terrenos e edificações, considerando
sociais,53os bairros con vertem-se em referenciais fundamentais tam-
a ", a realidade do mercado imobiliário e os possíveis fatores de valoriza-
ção), sejam regular e rigorosamente atualizados. Sem cadastros e plan-
tas de valores atualizados, não apenas a arrecadação com o IPTU
S3 O uso da expressão fator de aglutinação para designar esse possível uso sociopolí-
("normal" e progressivo no tempo) há de se ver comprometida, mas a tico do r efer e ncial bairro foi proposto em SOUZA (2000a: 159, nota 59).
aplicação de Vários outros instrumentos será, também, prejudicada, Anteriormente (em SOUZA, 1988a; 1989; 1993a) o termo empregado havia sido
I comprometendo objetivos mais ambiciosos em matéria de um planeja-
cotalisodor, mesmo sendo do conhecimento do autor qlle Carlos Nelson Ferreira dos
I
'Santos já ha'~ia empregado essa metáfora anteriormente, usando-a, porém, diferente-
mento e de uma gestão eficientes e progressistas. Exemplos de outros mente. É, contudo, realmente preferível usar a palavra catalisador no sentido atribuí-
. do por C. N. F. dos Santos, em que um "catalisador" é um indivíduo ou instituição
instrumentos cuja aplicação pode não passar de um sonho na ausência
(enfim, um agente) que faz a intermediação entre o evento que mobiliza a ação cole-
I de cadastros e plantas de valores atualizados são o "solo criado" e a tiva e o processo de ação; "[o) catalisador é um agente que sabe das coisas e sabe
,
!
contribuição de melhoria. Na verdade, cadastros e plantas de valores como dizê-Ias em linguagem inteligível para os dois lados [ativistas e Estado]."
(SANTOS, J 981 :223). De fato, o autor do presente livro pensava no bairro como
f são coisas tão básicas que, muito mais que impedir ou dificultar a algo dotado de simbolismo, como um "lugar", onde sentimentos de pertencimento
!
; implementação deste ou daquele instrumento específico, a sua ausên- pudessem e~timular reações ou dar corpo a elas - não só no caso de grupos pri vile-
giados, mas mesmo no caso de grupos segregados e negativamente discriminados,
cia ou a sua desatualização dificultam, pura e simplesmente, qualquer como os moradores de fa velas, onde o processo de formação de identidades sócio-
pianejamento sério e qualquer gestão minimamente eficiente. espaciais, conquanto diferente, também OCOrre. No entanto, a expressão fator de
306 aglutinação ou, ainda melhor. referenciai de aglutinação, é mais precisa e direta.
O
307
•
=: ~"'""~~~;-Rtt;:!"!':~5'-"'~·':';_ ~'
bém para o planejamento e a gestão das cidades espec' k:.':;l.lH}~4!.j..i<.~im;;c ". nte distintas. Sob vários aspectos, as favelas, . ou" pelo.
1 . , laJ.Jjlente ': ·)iil:,:J;c;;líi'··.· bsoJutame
um p,aneJamento e uma gestão que, longe de não se pr Para;;l~[Ii:bi!~a/velas grandes e consolidadas, não são menos, e SIm mais
com os sentimentos e as valorações dos citadinos, deseia eocupa..re~.;.·.11í~.~~H{.1.,.!.:!t~énos:d 7 muitos bairros da cidade formal/legal, pois alimen-
' .
trário, estar em plena sintonia Com estes, nos marcos d
J m, pelo c' "",1 + iiJ10s . O que
.. 01J-:~~H~:~í"~#I·\~,; id tidade sócio-espacial (pense-se, para começar, na
' . e Um eXerc" '>,~i;·", ••,t.t'-':·.forte 1 en J .._
democratlco e transparente das tomadas de decisão sob . ICIQ',;l\i\;}!r;;t1iJll ,! Rio de Janeiro que já ensejou até expressoes como
re a cldad '.:' <i: "'ó"jHli.:li guelra, no , . . "
seu futuro. .'..e;e'~;~;~~·.:.;·:.;:.i'!nan
".'" ,·c'.",.· .
- Manuuelr . ense" .. ,) , Também sob O ângulo do conteudo mte-
Nos trabalhos anteriormente mencionados (SOUzA~'::i.,(m ~~Hl)i'o/~çao : :u de consistência das favelas é, costumeiramente, maior
1989) " - ,1988a·L"'.:,; •.. n'racIOnaloW . f'
. ' o autor apresentou uma classíficaçso do Conteúdo sócio- ';/i':!iil~;m'm/'dos bairros "comuns", em que pese a presença dos tra icantes
cial dos bairros abrangendo três categorias, em função das .~spa;~:>iifj1ij:;[mt~~;eo -Ór eníquanto um fator de fraturamento e tensionamento da rea-
' , , quaIS()S,:,t;-ú!C;\iWI3edrogas, ;.
bamos se dlstmguem uns dos outros: conteúdo composu; 1:'; /: ..!j).!j.;~.\~ ..~·::.é.;-;'.;iiik!.. .~. I' da (fator esse não focalizado pelo autor no refendo tra-
" '. lona, ou as:-"'t;".HJllilidade lave ,a , :
d d
;l.-:.:.;.;:.!y.úh·.
caractenstJcas ObjetIvas que marcam a paisagem (classes e es.tr.·..t.'. <.::.··.':;{:.: ..•~.:~•....
. a Os ,'d"~:v.:.,,lí,b<l1 O. e "'
d. firis dos anos 80). Uma vez percebendo-se que as represen-
. , ,
e re~ a. predominantes, estado e estilo das construções, usos doi6)Ôi:1(ltttª~1~ilf;fu':oe{soci~isno quotidiano nada têm de sagrada~, servmdo, muitas
pnnclpals et~.); con~e?do interacional, ou o grau de coesãoeast~f:c:ii~m~~nll~{~;s:de a~rigo para elementos de cunho racista ~ mesmo de fun~o
mas de relaçoes SOCIaIs;conteúdo simbólico, ou a imagem ass6(:iadc1":-,jil1i
.1j~~Hinf';'~riamenteideológico, faz-se mister pugnar por uma subversao
ao bairro e os senti.mentos de lugar de seus habitantes que c·o.'n"m,;'.·.t:f.itíl:
1.;~.~\tlWr~Pe'I'.tual
e>t·erminológica. Um bairro, neste livro, não precisa ser
. , . ..,-.: ,r;ç".;';;;lj:conc .. : ,
buern para reconhecê-I o como um bairro específico, distirit9de-~::fB!:'i~i~mttlhúealidade espacial caracterizada por legalidade e fonnah~ade da
outros, A divisão de uma cidade em bairros ("abairramento") pré8is(K?'1~~1~fifM~p'aÇãO(a~propósito: quem disse que a ilegalidade está inteiramen-
considerar esses três aspectos, e em particular o conteúdo sími:í6ii8él[:if~~l.~{ltm~~!áhsente
dos espaços da elite, nas cidades brasilejras? ..). Uma fave-
uma vez que a divisão proposta deve refletir o mais acuradante~ie2~~~t~f~~~iHlli;~ii6 preci~a ser urbanizada e regularizada fundiariamente para, s6 _.:.:..:!.
Iri '·
deselitizando-os e limpand - d . ..•.. '·;C.'
M /. . o os e sua crosta JdeOló . E.
ra, e tarefa lDarredável, aqui exemplf d glca conser\'.' "~". . d Que ao píeço de uma menor eficiência. Algumas tarefas do téc-
i di - 1 Ica a, e um pas' "de. . '.' Jií! a , .
~
di
lreçao de uma deselitização
-
das /. /.
pratIcas SOCIO-e
so lD1PoItant
'.
,.j
.ella·· J ")111CO
;>.. '
.pesquisador versado em planejamento urbano, na verdade, nem
.
ISSO, nao temer afrontar o senso com / _. spac1alS. Dia' . 't: T'," 'er têm ligação direta com o geoprocessamento: é o caso da ref1e-
r~, t f /
ar a ronta-lo apriorística, sistemática
um e tão lmperar
IVOqUanto e ..
nted
'
'." sequ
I',:' , _
conceitual e teórica ao redor de instrumentos, bem como da aná-
~t e arrogantement VJ. '., xaO / ' /' . . .
.( e. ., '. jise qualitativa de políticas publicas, dentre muitas outras atividades .
;:'
. por outro lado, o ganho em precisão e velocidade é muitíssimo
9.2. Potencialidades do geoprocessamento e dos Sistemas : importante, o que fica patente no ambiente da administração pública,
Geográficos de Informação ~:.ondemuitas tarefas rotineiras, de execução monótona e demandado-
;:ras de grande q ~.anti dade de tempo, podem ser enormemente benefi-
'ciadas com a informatização.
o geoprocessamento pode ser de enorme utilidade como Coadju_
Alguns exemplos de aplicações são mencionados a seguir:
vante do esforço de otimização do emprego de cadastros, plantasde "
valores e divisões de bairros, assim como no que se refere ao lança_
mento otimizado e justo de tributos, pois a informatização pennite
Planta de valores e cadastros técnicos digitalizados, propiciando
grandes velocidade e precisão no armazenamento e na recuperação de. controle e muito maior facilidade de atualização. As mudan-
dados cadastrais. Vale a pena, portanto, registrar algumas breves con- tanto no que concerne à infra-estrutura técnica e social, quanto
siderações em tomo da relevância do geoprocessamento para ti plane- . .no que respeita à valorização imobiliária (valores médios por metro
"quadrado por zona ou logradouro e, mesmo, o valor de mercado dos
jamento e a gestão das cidades, enfatizando exemplos de aplicação. "
. .imóveis), podem ser muito mais facilmente acompanhadas com a
O geoprocessamento e os Sistemas Geográficos de Informação
(SGIs) não são, propriamente, instrumentos de planejamento, no sen- ajuda de um Sistema Geográfico de Informação, desde que isso seja
. , acoplado a rotinas inteligentes de inspeção em campo, de onde virá a
tido que um tributo ou um zoneamento o são. Antes, o geoprocessa-
maior parte 10s dados que alimentarão o sistema. Uma aplicação
mento e os SGIs consistem em um SUpoHe tecnológico para o traba-
lho em planejamento urbano, com o qual estudos, avaliações de mais correta ~ criteriosa do IPTU progressivo, e mesmo o lançamen-
impactos, monitoramentos da evolução de fenômenos, simulações e to mais justo do IPTU comum, assim como do "solo criado" e da con-
a repreSentação cartográfica de unidades de manejo podem ganhar 1 tribuição de melhoria, pode ser facilitada com o geoprocessamento.
'I
em agilidade e precisão.
I Veja-se, em particular,
cálculo da contribuição
que o famigerado problema da dificuldade de
de melhoria, o qual é, no fundo, um proble-
Por Um lado, não se deve, jamais, exagerar a importância desse. J
SUpOrte tecnológico,
especialmente
de diagnósticos,
como muitos
no que se refere ao ambiente
avaliação da eficácia
parecem inclinados a fazê-I o,
da pesquisa (realização
de instrumentos etc.). Afinal
I
1
ma gerencial. e não tanto de cálculo, pode ser muito mais facilmente
superado corp, o auxílio do geoprocessamento.
, de COntas, a inteligência,
tífico e a experiência
SGI, tão-somente,
a criatividade,
profissional
o bom preparo
são insubstituíveis,
tornar mais velozes (muito mais velozes)
técnico-cien-
cabendo
e de exe-
ao
1 • Zoneamentos, propiciando uma enorme facilidade de atualização.
O geoproces~ilmento permite uma atualização e um monitoramento
muito mais tlgeis do que seria possível da forma convencional, faci-
cução mais precisa ou confiável algumas das tarefas que, na sua litando tarefl$ e rotinas penosas como a determinação de situações de
maior parte, bem podem continuar sendo feitas visual/manualmente, saturação infra-estrutural, acompanhamento de estoques de área edi-
310 ficáveI, transformações no uso do solo, na tipologia das edificações,
O
311
111
~
si minação e claSSificação de ZEIS, para fins de urb . _ ço da deter":}::!J im@;:~6uloSà paf~cipação popular nos processos de planejamento ou ges-
. . amzaçao de fav I .' ~,'-'; :,,",.,"," . .
:t e. m~estlmentos em loteamentos irregulares, quer se trate de inve~:~·m[: @i~~~B';ou,para sermais rig~r~so, os obstác~los à ~mpliaç~oda m,argem
[} r~os Isolados, ~uer se trat~, ainda, da radiografia do quadro dec:~t<í~;.3~, mt~1~,e:panobra ~arao exercicio da auton~~a, ~erao f~ammado~ a parte
'~ elas para servir de subsídio à aplicação dos critérios de alocaão e: ..<~~ m~~~~9:?upcapítu~o 11.5., algumas das principais barreIras ou dificulda-
1 . Ievantame
recursos nos processos de orçamento participatI' vo , t aIS .•·.:.;:!l i.~t.{~;;'
ç -: ",e/:.·~
., .... .•.
'.!a.".~.·'..'.·.que
,"'>.....,
0> ., ••••
s.· se interpõem
. entre a vontade de transformar
. o status quo e a
.~ tos podem ser bastante facilitados pelo geoprocessa to: I;
men o a em da '.', ..
·.p-i~;illilritt';;;+:'.obUização
,.h r>'"...
. ,., .••.•
~os meios necessários para fazê-lo com eficácia mere-
.
enorme facilidade de atualização dos dados e das análi ..... " ":"·:<.i.l.rFl.rt.H:.i!.ii:&m. ·'·.servístasagora, como fecho deste capítulo. :
. a ises, tem-.se: "'o'\<'t',y,,",(,I"iO" , .
a~nda, a vantagem adicional que é a possibilidade de combinaçã6d~·:/~.j'j5~Hi3n~Jjí!F;.Assimcomo seria tolice imaginar que mais planejamento e um
:Iferentes, pl~nos de ~nfo~maç~o (distintas modalidades de i~ii~0.~;~!i~tii·Rf~í~~I~~rplan~l~mento, por si :ós, seri~m a ~oluÇã~ para '" ~robl~m~s
strutura técnica e social, situação fundiária etc.). • ..':·;",;(:::11i.IURj~?~nos,semlIgualmente tolice negligenciar o depate técníco-cíentí-
o, simplisticamente, que "o que falta é vontade
• Avaliações de risco ambiental (risco de desmoronamentos é . . "C
as soluções já são conhecidas. Para evitar tanto uma
zamentos, de enchentes) e sob o ângulo da segurança públicafIim~;'" uma superestimação das possibilidades ofereci-
bérn podem ser facilitadas pelo geoprocessamento, devido à po~'siDi~; particularmente pela abordagem e pelos ins-
lidade de combinação ágil de diferentes planos de informação .. romentos apresentados neste trabalho, faz-se necessário considerar
("mapeamento associativo"), cruzando-se diferentes variáveis. limitantes, de ordem política, cultural, econômica,
!
"k
",c
,
~~r>
, em, ;'~Prirneiramente, é válido repisar o que já foi dito e que constitui a
que as propostas estudadas e, às vezes, de implementação até jáini_"
dada por um prefeito, são abandonadas pelo sucessor, Configura''-' mensagem central deste capítulo: de nada ou' muito pouco adianta
outro problema corriqueiro. Para isso concorrem muitos ou todos os " em~instTUmentos "alternativos", como o IPTU progressivo, o
problemas anteriormente mencionados, e é seguro que, sob essascir_ ";"c',;'''.ClIOcriado" etc., se nem o básico foi construído, Em português
cunstâncias, não é possível a implantação bem-sucedida de um siste~ se nem ao menos existe um cadastro fundiário e uma planta
ma local de planejamento e, tampouco, o florescimento de uma "cul-: 'valores aiualizados. O cadastro de imóveis e a planta de valores
tura de planejamento". "',l',','~, '~;~ferramentas fundamentais para o acompanhamento do que se
, ,', '" n;i'<,::]J":",,,no município, no que concerne à propriedade das terras e à
• As dificuldades econômico-financeiras com que se d b t ;:':;,;J"I,ilj]ig~,~ÜV,)}O,nz,'ação imobiliária. O IPTU, em sua form, a simples e universal
. d e a e a maIO-,,,,, "b""", • c,j, e-Ó. ' ,
na os municípios brasileiros devem iaualmente 1 das ',:'" ",;;:.;;f t,IHú~,f(1sto, é, não progressiva no tempo), o qual é um dos tributos munici-
. ,ser eva as em ";,,,'.'j fb,";,--c,""" '
' b :
conta. MUItos municípios encontram-se endividados e ;.'~'>';,iJIlfiHJSp!úsmais importantes, ao lado do ISS, depende, para o seu lançamen-
ria, opere t Id ' na sua m~IO-:":":1 H::).::?<d' ç', :
en ua o orçamento comprometido com a folha d~ a â_<'ii't ;H;;iªn~9;, essas terramentas,
mentes dos f . ", . p g ',;, "',qi éPr·,'bi"':';
unClOnanos e exceSSIVO. Acresce que, devido a proble- :;!\~Mth:tt'kl!,E:'. .;.
rna~ como cadastro desatualizado e corrupção, muitas vezes a arreca.,',:)'H !Hr:yr;!ps
instrumentos apresentados neste livro d~vem ter a sua aplica-
dação do 1PT~ ~ãO é o que poderia ser, o que significa um aprovei",' ãO "·umr';,,:,!f
~ercada d: cuidado red~brado, exata~9nte porque, naqu:les
tamento subotlmlzado da base tributária local. Com tudo isso, o mon..;,;/)~j !ii;~';;:.5~osem que sao capazes de mco~odar as eh~es urbanas, tenderao a
ta~te de recursos disponível para novos investimentos _ obras nos"./;\líW~jj,;;;sc~robjeto de ataques e polêmica. E óbvio queisso não é, em si, uma
~alITos pobres, i~formatização e modernização da adminjstraçãO~!ç:,:::;:~H~,,!!,;jE~m~i,~it~ÇãO
~os ~nstTUmen~os,e sim ~m obstáculp ~resente n.o contexto
acaba sendo, nao raro, pequeno. ' ",,·:>JHHiH'ipesua aplicação, Todavia, como sao, na sua maior parte, mstrumen-
., - - -- ." -'.'- ." I
le dos próprios prefeitos. Isso não deve, porém, constituir motivo de luz da realidade de cada município, para que sejam definidos o tama-
frustração, até porque esses obstáculos, embora muitíssimo freqüen- Ubo mínimo de'terreno e as demais condições que conformam o fato
tes, não são absolutos ou inexoráveis. É preciso que, à parte a sua,: "~,geradordo tributo (situação de especulação) e, também as alíquotas.
contribuição propriamente política e como cidadãos, os planejadore~ ê;f;,Será que a implantação do "solo criado'~ pode trazer efeitos cola-
. -~ :....-.,.
[i.~·,4'· '~,;;''''~''':--
C
',~
f'i-
t~· ",'1' li -,
~t
,
~."
e-
"p
Tas por parte de pr-oprietários fundiários temerosos de um ;eb _
mento do nível geral de preço do solo urbano (em decorrêncl'a - rl,.al/;3._
R
'J"
s.:. ' ~Q~ ~:<
ji,'
f.ê
L
tativa dos incorporadores de transferirem parte de seu ônus pa o·
proprietários ra Os
de terras, forçando a sua venda a preços mais baixo~)
10. Relacionamento entre os
,cJ
f além do desaquecimento da cOnstrução civil e do setor imobiliári~ ••. 1.1
em geral, o que ocasionaria desemprego entre a população Pobre, POr diversos instrumentos " \J
r isso é que, dos três tributos analisados, o "solo criado" é o mais cOn_ -.
I trovertido, Não obstante, mesmo esses efeitos pj>dem ser minimiza_
dos ou evitados, desde que a implementação dp instrumento Se faça ,j
,I
j
I ..,
'~
~
r
If'
de modo inteligente, em que o tributo possa revelar-se, inclusive, I
uma ferramenta adicional de disciplinamento do adensamento e da ~ , ,
I "
,
I
(
!
administração municipais, a modernização da base tecnológíca que
mulador (~sos recomendados
~