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Capítulo 68 - Banho e Janta Quentee / Temperatura Elevada.

Animada, jogou sua mochila no sofá e, indo em direção ao Lucke, Ashley ordenou
que fosse banhar-se na água quente. Obedecendo, apanhou sua vestimenta no seu
guarda-roupas e, chateada, rumou-se para o banheiro.
Ao passo que as primeiras gotas caíam sobre a sua pele, as sentia queimando-
na, como se fossem lavas. Apesar de sempre tomar banho nessa quentura, não
conseguia permanecer em baixo dela. Desse modo, ensaboava-se sem estar em contato
com ela, porém adorava o som tranquilizante reproduzido ao colidir-se,
concomitantemente, com o ralo de alumínio e com o chão. Em contrapartida, o
sabonete e a bucha umidecida proporcionavam uma leve frieza gostosa.
Criando coragem para enxaguar-se, adentrava e saia da cascata, nunca
submergindo sua cabeça. Angustiada, pensava seriamente em mudar a temperatura, por
meio do rodo — já que não alcançava o chuveiro —, contudo, estremecia lembrando-se
da braveza de sua mãe ao mandar que seguisse à risca suas instruções. Não desejando
desagradá-la, mesmo que ela não soubesse, queria issentar-se de carregar o fardo de
mais uma mentira.
Desistindo de molhar-se por inteira, fechou o registro e, secando-se com a
toalha plumosa — limpando algumas regiões que haviam ficado com espuma —, sentia
seu tecido epitelial ardendo. Uma das piores sensações físicas que já havia
presenciado...
Aliviada por ter saído do forno, sentia o fluxo de ar frio acariciando, ao
passo que escutava sua mãe cantarolando.
Observando-a cozer, passando os olhos pela sala, tímida, pediu a ajuda que
tanto queria ter pedido outrora:
— Depois de jantarmos, a senhora pode me ajudar a fazer o dever de Matemática?
Contente, exclamou sorrindo:
— Claro, meu amor!
Sentando-se para jantar, largou o livro que estava lendo: As Águas e as
Estrelas e saboreou-a. Embora estivesse apetitosa, sentia-a muito quente — mesmo
assoprando-a —, tendo que mover o bolo alimentar para todos os lados, bem como
respirar pela boca.
Engolindo, perguntou:
— Por que a senhora esquentou tanto a comida?
Estranhando, exclamou rindo após engolir:
— Não está quente, mas sim morna!
Envergonhada, afirmou:
— Não parece...
Atenciosa, indagou:
— Está sentindo frio? Se quiser, pego um agasalho para você.
Surpresa por ela estar com uma blusa de frio, irônica, afirmou:
— Eu estou é com calor!
Risonha, atentando-se ao seu cabelo molhado, perguntou:
— Lavou o cabelo?
Receosa em frustá-la, ou levar um sermão, preferiu, com desgosto, mentir:
— Sim!
Orgulhosa, exclamou:
— Que bom! Por que a areia faz mal para o cabelo!
Incomodada com o assunto, perguntou sobre alguém que estava sentindo falta:
— O papai está em casa?
Indiferente, afirmou:
— Está dormindo.
Perplexa, perguntou:
— Por que ele foi dormir tão cedo?
Paralisando-se, recordava-se, enojada e enraivecida, de seu estado ao acordar
e pelo o que ocorreu consigo mesma, enquanto situava-se desacordada; da busca
frenética por Sophia; da inutilidade de Jesse... Desejava que estivesse morto pela
sua incompetência de não ter ido buscar Sophia quando podia, evitando uma possível
tragédia, ao invés de divertir-se com um brinquedo erótico, do qual era ela
própria.
Sorridente, explanou:
— Ele está muito cansado! Amanhã ele acorda!
Ajudando sua mãe lavar a louça, por vontade própria, intrigava-se com a
tremedeira dela ao encostar a mão na água que saía da torneira, enquanto Sophia nem
sentia-a gelada o suficiente, como as águas do Oceano Pacífico. Todavia, deleitava-
se em sua refrescância.

Capítulo 69 - Custe o que custar / cacos de vidros / amordem

Zonza, levantava-se com as vistas embaçadas. Sentando-se no sofá, pôs as mãos


sobre a cabeça e esperou a dor aguda passar.
Plena, observou suas roupas e cacos de vidros espalhados pelo sala. Ouvindo o
tic tac suave do relógio, atentou-se ao horário, que marcava 18h18. Lembrou-se que
havia esquecido de Sophia, desesperada, correu pela casa procurando-a, com duas
almofadas ocultando suas partes íntimas.
Entretanto, nos primeiros passos, perfurou seu pé esquerdo. Atentando-se ao
chão, pulou com uma só perna para uma área limpa. Sentando-se no chão, grunhia de
dor, vendo o quão infímo um corte pode causar tanta ardência.
Motivando-se, prosseguiu como saci pererê, chamando por Sophia. Contudo, não a
encontrou no térreo. Encorajada, enfrentou o desafio de subir as escadas. Abrindo a
porta, viu Jesse desacacordado na cama, enquanto ao seu lado tinha objetos
intrigantes: cinto, seringa e colher. Indiferente, achava que estava fazendo o uso
de alguma droga.
Vestindo-se com roupas casuais, acreditava estar pondo um macacão de corrida.
Pulando, partiu em direção ao carro, guiando-o rumo à escola de Sophia, invocando
novamente as habilidades do respectivo piloto em ascensão: Ayrton Senna.
Estacionando do lado da escola, percebia que estava sendo fechada pelo porteiro.
Vendo-o ir embora, mancava seguindo, enquanto chamava-o:
— Senhor Alfred! Senhor Alfred!!
Conseguindo alcança-lo, indagou:
— O senhor sabe quem veio buscá-la?
Surpreso e preocupado, afirmou:
— Ela me avisou que a senhora iria buscar ela no Hiltop Park.
Aflita, deixou-o falando sozinho e dirigiu para esse parque, do qual é próximo
à escola.
Gritando pelo nome de sua filha, olhava os arredores, entretanto, não via
ninguém. Trêmula, sentou-se no balanço, segurando o choro, pensava em qual lugar
poderia estar. Cabisbaixa, visualizava um desenho feito na areia, no qual duas
garotas estavam de mãos dadas. Supondo em qual lugar poderia prosseguir, lembrou-se
da casa de Sofia. Embora fosse um pouco longe para uma criança, sabia que Sophia
conhecia a rota e gostava de aventuras.
Em frente a cerca, gritava desesperada por ela:
— Sophia! Sophia!! Sophia!!!
Ouvindo latidos, viu Toby aproximando-se. Escorando as patas superiores na
cerca, afagou-o perguntando:
— Oi, Toby! Você viu a Sophia!?
Latindo, percebia sua empolgação. Observando a a casa, estranhava a escuridão
presente, sentindo calafrios. Via vultos.
Receosa, indagou:
— A Maya e o Dener não estão em casa, não é?
Cessando os latidos, Toby começou a chorar... Vendo a sua expressão triste,
convicta, acreditou que haviam saído. Angustiada e aflita, correu para a sua casa,
onde discou para o número de emergência (9-1-1), solicitando o serviço da polícia
por meio do telefone sem fio.
Amigável, a atendente disponibilizou-se:
— Boa noite! Departamento de Polícia de Sausalito, em que posso ajudar?
Trêmula, segurava telefone e, chorando, implorou:
— Minha filha de 10 anos está desaparecida! Preciso de ajuda para achá-la o mais
rápido possível!!
Passado seus dados pessoais, bem como o seu respectivo endereço, aguardou
andando de um lado para o outro, roendo suas unhas.
Como a cidade de Sausalito era pacata, comparado com São Francisco, não
demorou-se muito para chegar em sua casa, iniciando as buscas nos lugares em que
Sophia provavelmente encontraria-se, segundo o conhecimento de Ashley.

Capítulo 70 - Termômetro Gelado

Já deitada na cama, após terminar o dever e escovar os dentes, Ashley, sentada


na beirada, conversava com Sophia sobre assuntos aleatórios, visando aproveitar a
sua companhia e consola-lá. Sabia que, para uma garotinha, o fardo de carregar a
dor de perder a melhor amiga, sem conhecer o motivo, deveria ser inimaginável, para
não dizer insuportável.
Durante a conversa, via seu olhar distante e apático, embora risse de suas
piadas e brincadeiras.
Quebrando o clima de diversão, perguntou:
— O que mais gostava na Sofia?
Tristonha, lembrando-se das estrelas, respondeu:
— Dos olhos...
Curiosa, indagou:
— Por quê?
Fechando os olhos, lembrou-se das estrelinhas de mel colidindo com a luz solar
e, acalmando-se, respondeu:
— Me acalmavam...
Intrigada, continuou:
— Mas havia algo de especial no modo dela ser e agir que você admirava?
Refletindo, puxava em sua memória algum resquício de outra amizade que teve,
no entanto, afirmou contente e triste ao mesmo tempo:
— Ela era minha única amiga e melhor, e também se parecia comigo... Mas acho que é
a coragem.
Recordando-se, refletia sobre uma amizade semelhante que possuiu e
compartilhou seu sentimento:
— Eu já passei por isso, sei o quanto é ruim.
Surpresa, massageando o seu peito, indagou:
— O que a senhora fez para sumir com a dor aqui?
Entristecendo-se pela sua expressão, exclamou:
— Só o tempo, minha filha!
Esperançosa, perguntou:
— E vai demorar?
A despeito de não querer mentir, preferiu agradá-la em detrimento do longínquo
sofrimento que teria de conviver:
— Logo, logo passa!
Alegrando-se, exclamou:
— Mal posso esperar!!
Sentindo-se arrependida pelo que havia dito, reformulou dando uma sútil
indireta:
— Lembre-se sempre que tudo uma hora passa, tá bom? E guarde as lembranças boas que
teve com ela dentro do seu coração!
Sorridente, assentiu com a cabeça afirmando:
— Uhum!!!
Observando o livro As Águas e as Estrelas sobre a escrivaninha, refletia... De
repente, sugestinou:
— Amanhã podemos fazer uma visita ao Dener e a Maya! O que acha?
Amedrontada por relembrar a cena, concordou com a sugestão visando esquecê-la:
— Gosto da ideia!
Levantando-se, puxou a coberta que situava-se nos pés dela, cobrindo-a.
Partindo sua franja no meio, beijou a sua testa. Perplexa com a sua temperatura
corporal sentida em seus lábios, resfriava-os flexibilizando-os para dentro, por
meio da saliva.
Preocupada, indagou:
— Está sentindo frio?
Intrigada, afirmou:
— Estou sentindo calor.
Averiguando com a mão, sentia-a pegando fogo, tendo de retirá-la em pouco tempo
após o contato. Apreensiva, buscou o termômetro de mercúrio e mediu sua
temperatura. Ao passo que punha em baixo da axila de Sophia, ela ria pela cócegas e
agradava-se pela sensação gélida.
Obtendo o resultado, notou que a temperatura relatava cerca de 98,6 °F, ou
seja, 37 °C. Recolocando a mão, percebeu-a normal. Crendo que fosse um devaneio,
relevou.
Receosa, indagou:
— Estou com febre?
Constrangida, desculpou-se:
— Não! Foi só impressão minha!
Achando que teria de ir ao hospital, aliviou-se:
— Ainda bem!
Afagando-a, despediu-se com carinho:
— Durma com os anjos e com o papai do céu! Te amo!
Recíproca, devolveu:
— Também te amo!
Apagando a luz, fechou a porta sem repremí-la quanto as suas leituras noturnas.
Desejava oferecer a maior liberdade possível para que pudesse apaziguar o seu luto
com os seus passatempos prediletos, como ler.
Entrando em seu quarto, esperançosa de que Jesse estivesse morto, percebia-o
deitado de costas, roncando igual a um porco. Frustada, retirava os utensílios
presentes em cima da cama, pensando em sufocá-lo com o travesseiro. Todavia,
controlou sua emoção e desistiu da ideia.
Furiosa, empurrou-o, utilizando toda a sua força, para lado — visto que estava
no centro — e tentou dormir, mesmo com o barulho irritante.
No escuro, admirava por alguns instantes as estrelas, ao som das águas...
tendo um turbilhão de pensamentos. Como no quarto havia claridade, percebia clarões
ligeiros. Por algum motivo, sentia a presença de Sofia.
Apesar de ter a lanterna e querer ler o livro, sabia que não conseguiria ler
estando encoberta. Sentia um calor extremo por estar cobrida até o pescoço tendo
que descobrir-se por inteira; além de estar cansada e sonolenta.
Virando-se para o lado, enquanto fechava os olhos, escorria lágrimas gélidas
de sua face, fazendo-a dormir em instantes.

Capítulo 71 - Diário de Sophia I (Dia das Bruxas)

Data: 31 de outubro de 1991, Dia das Bruxas, às 19h19, dentro do meu castelo.

Meu querido amigo mudo, desde do dia em que parei de falar com a Sophia,
deixei-o mofando dentro da gaveta. Apenas tive coragem para contar-te os últimos
acontecimentos hoje — o porquê eu não sei —, mas a mamãe me apoiou à voltar. Peço-
te minhas sinceras desculpas!
Quando fiquei sabendo que minha única e melhor amiga foi morar em alguma
estrela do Universo, sinto uma dor em meu peito, com o passar do tempo, está
diminuindo aos poucos, como mamãe disse. Talvez ela esteja morando no Sol, sempre
que minha pele entra em contato com a luz solar, presencio um amor caloroso,
semelhante com o que presenciava ao lado dela. Contudo, ainda dói!
Não sei se sabe, mas a Sofia permaneceu alguns dias aqui em casa, dentro meu
castelo! Infelizmente não conseguia comunicar com ela, entretanto, sentia-a feliz!!
Isso deixa-me mais tranquila, mas sinto saudades!!!
O dia-a-dia na escola tornou-se chato, não posso mentir... Ultimamente tenho
pensado sobre a razão por detrás das faltas do Luke, não o vejo mais, o que
entristece-me profundamente. Ouvi dizer que ele foi transferido para outra escola
porque os pais dele sofreram um grave acidente, mas não sei se é verdade... Espero
que volte! Estou envergonhada em escrever isso, porém, gosto dele...
Todavia, Benjamin me faz companhia frequentemente no recreio. Embora tenhamos-
nos tornado amigos, sinto que ele é extremamente preguento, e eu não gosto! Aliás,
me contou que se transferirá, pois mudará para uma cidade muito distante, junto com
sua mãe. Perguntei o motivo de seu pai não ir, porém não quis responder, parecia
triste...
Ele também havia entristecido-se por causa da morte do Ethan. Na verdade,
todos da sala — menos eu. Estranhei que ninguém sentiu falta da Sofia, talvez por
que possuía somente minha amizade, dentro e fora da escola.
A mamãe arranjou um novo trabalho e parece bem contente. Percebi que está
gostando mesmo de usar roupas de mangas longas, faz bastante tempo que não a vejo
sem. Entretanto, sinto em seu olhar uma tristeza e um pesar oculto. Acho que é
devido o falecimento do tio Dener e da tia May. Depois que soube do ocorrido, me
falou que eles haviam tido sofrido um acidente fatal, indo para morar com Sofia;
não me contou os detalhes, contudo, se estivesse no lugar dela, também mentiria.
Por que alguém faria aquilo?! Espero que estejam bem, seja onde for...
O Toby não ficaria com ninguém, pedi para a mamãe que ficassemos com ele, porém
o papai já não gosta muito do Lucke, segundo ela, portanto não seria boa ideia,
embora cordasse comigo. No entanto, um vizinho ao lado se ofereceu para cuidar.
Espero que fique bem!
O papai continua obrigando-me a brincar com aquilo sempre que me busca na
escola, e nunca na presença da mamãe — talvez por que fica só a tarde em casa.
Confesso que estou odiando isso já! Já insisti para que parasse, no entanto, ele
sempre briga comigo e me intimida com ameaças... Apesar de ter voltado a ser o
papai, sinto que é outra pessoa. Não sei o que vejo nos olhos dele, mas eles me
amedrontam!
Ademais, terminei a leitura do livro As Águas e as Estrelas. A diferença entre
ouvir alguém lendo e ler por si mesma é gritante! A história é maravilhosa!!
Aprendi muitas coisas! Dá até vontade de recomeçar a leitura, todavia, estou
curiosa para me aventurar no O Príncipe — espero que consiga, pois a Sofia não
tinha entendido nada.
Uma notícia boa que tenho é que não estou tanto calorenta como antes,
entretanto, por incrível que pareça, estou amando o frio e detestando a água
quente! A outra é que o Ry vem me visitar amanhã!
Quase ia me esquecendo, como hoje é Dia das Bruxas, eu e a mamãe nós
fantasiamos e fomos de porta em porta pedir doces. É incrível como o espírito da
mamãe é como o de uma criança!
Neste momento estou comendo eles, não No entanto, não sei se misturar essas
gostosuras é bom. Quem sabe isso é uma travessura!? Esquece, estou viajando!
Tenho que ir, a mamãe acabou de me avisar que a pipoca ficou pronta e está me
chamando para assistirmos desenho! No entanto, não sei se misturar essas gostosuras
é bom... Quem sabe isso não se torna uma travessura deliciosa!? Esquece, estou
viajando!
Até amanhã! ♡

Capítulo 72 - Diário de Sophia II (Dia de Ação de Graças)

Data: 25 de novembro de 1991 — Dia de Ação de Graças, às 21h21, dentro do meu


castelo.

Meu querido amigo mudo, hoje foi um dia muito especial! Não sei nem por onde
começar...
Durante o período da manhã fui para a casa do Ry e fomos na locadora de filmes
e video games em que ele trabalha para jogarmos! Embora fosse feriado, além de
possuir a chave, ele disse que o seu chefe confiava muito nele e que não havia
problemas.
Jogamos um jogo de luta recém lançado chamado Street Fighter no Super
Nintendo. No início, o Ry sempre me derrotava, contudo, de tanto eu fazer perguntas
de como os comandos funcionavam, aprendi e até conseguir algumas vezes dele!
Antes de irmos para casa, ele me deixou escolher qualquer filme que eu
quisesse para levá-lo! Eu vi vários que me interessaram, mas o que me cativou foi o
chamado "Sociedade dos Poetas Mortos". Apesar de não gostar da morte, na capa
haviam pessoas sorrindo de felicidade, atiçando minha curiosidade, além de me
encantar por poesia, seja qual for! O Ry falou que já tinha assistido e que era
ótimo. No entanto, me advertiu que a história, para a minha idade, poderia ser um
pouco difícil de ser completamente compreendida, todavia, afimou que não duvidava
da minha capacidade. Fiquei feliz ao escutar isso!! :)
Não sei se já te falei: estou escrevendo poemas!! Nunca havia tentado antes,
somente ficava na leitura, porém a professora de Literatura me encorajou e estou
amando a experiência! É um pouco diferente de relatar o meu dia-a-dia e meus
pensamentos, parece que existe uma mágica em elaborar palavras que expressem com
profundidade o que você está sentindo... Não me entenda mal, não estou te trocando,
juro que não é isso!!
Após chegarmos em casa, por algum motivo o papai disse que estaria ocupado
trabalhando, não compreendi muito bem, entretanto, pudia sentir que ele não estava
gostando da presença do Ry... Falando dele, ainda me obriga à brincar com ele. Eu
não estou suportando mais, me sinto mal por estar fazendo algo em segredo da mamãe
e não me sinto bem fazendo aquelas coisas estranhas. Pelo menos hoje ele não volta!
Uma hora eu conto para ela, sem ele saber.
Depois de almoçarmos, eu, mamãe, o Ry e o Lucke fomos para a praia Baker
Beach, montamos uma barraca e passamos a tarde inteira lá, nos divertindo
muitíssimo! Segundo ela, nesta data, devemos agradecer imensamente à Deus pela
nossa vida e por tudo o que aconteceu nela, principalmente as ruins, pois somente
aprendemos à sermos melhores com eles. Bom, de qualquer forma, fiquei agradecendo o
que estava ao meu redor: a areia, o céu e, especialmente as águas, por me
tranquilizaram com suas canções e carícias, e o Sol, que fazia me lembrar da Sofia,
do tanto que eu sou grata por ela ter sido minha amiga! Quando esquentava muito, ia
me molhar na água gelada do mar e já voltava para perto deles. Foi muito gostoso!
Além de ter sido a primeira vez do Lucke em uma praia. Ele adorou!!
À noite, a mamãe cozinhou comidas deliciosas. Ry se sentia incomodado por
afirmar que estava se aproveitando, no entanto, tenho quase certeza que era em
relação ao papai não ter chegado até então. Contudo, eu e a mamãe conseguimos
convencê-lo à ficar para a janta. Fizemos preces como meio de agradecimento, cada
um agradecendo por algo, em silêncio. No meu caso, agradeci por ter a mamãe, o Ry,
o Lucke e a você! Quanto ao papai, decidi não agradecer, pois estaria mentindo para
Deus...
Acabei de me despedir do Ry e vim direto escrever aqui. Antes de finalizar,
estou pensando se me esqueci de algo importante... pois estou muito ansiosa para
assistir ao filme, antes que fique tarde demais, visto que tenho aula amanhã e
terei que suportar o Douglas...
Ah, é mesmo... Esqueci de mencionar ontem, porém terminei de ler o livro O
Princípe. Assim, não foi mil maravilhas como As Águas e as Estrelas, entretanto,
compreendi, com a ajuda do professor Dan, que é relacionado à política e meios para
se manter no poder. Todavia, eu percebi que muitas pessoas ao meu redor utilizam de
métodos parecidos com os que o Nicolau Maquiavel abordou, como o papai e a
professora Louise. Aterrorizante!!! Todavia, talvez me ajude à não ser dócil e
sentimental demais, pois percebo o quanto isso pode me machucar, como já
machucou...
Pelo que sei, o videocassete está inutilizado há bastante tempo, acumulando
poeira. Tenho que aproveitar que a mamãe já foi dormir, é agora ou nunca! Só não
posso me esquecer de deixar o volume da TV baixo!!!
Obrigada por estar sempre comigo quando eu mais preciso!!!
Até amanhã! ♡ ♡

Capítulo 73 - O Diário de Sophia III (Véspera de Natal)

Data: 24 de dezembro de 1991 — , Véspera de Natal, às 21h21, dentro do meu castelo.


Meu querido amigo mudo, já não sei quantas vezes escrevo a mesma coisa para
você... Peço desculpas, mas não tenho ninguém com que eu possa falar isso, além de
você!
Como havia dito, estou me distanciando das pessoas, sempre me senti mais
reservada, contudo, acredito ser uma boa forma para me proteger. Eu criei uma
gaiola ao redor de mim, onde permito a entrada somente daquelas pessoas que não me
fazem mal, porém, as deixo se aproximarem até certo limite — ou pelo menos estou
tentando aplicar isso. Estou empregando algumas táticas do O Príncipe em minha
vida, creio que estão me ajudando bastante, bem como ser eu mesma, coisa que
aprendi assistindo A Sociedade dos Poetas Mortos. Nunca esquecerei deste filme
espetacular!
Como o ano já está se encerrando, ou seja, estou de férias por um breve
período, a mamãe me convidou hoje cedo para conhecer onde ela trabalha, a Coffe
Library. É um lugar muito bacana, é uma junção de uma livraria e uma cafeteria. Eu
odeio café, entretanto, as prateleiras de livros me encantaram!!
Conheci duas amigas de trabalho dela, uma chamada Melanie e outra Abigail.
Elas disseram que a mamãe falava muito bem de mim, naquele momento fiquei tímida,
todavia, não deixei transparecer. Ambas parecem legais, todavia, não gostei muito
delas, sintia que eram falsas. Talvez possa estar enganada. A mamãe sempre me diz
que não devemos julgar o livro pela capa, isto também deve servir para as pessoas.
Depois disso, a mamãe me deixou na casa do Ry e foi para a casa dela ajudá-la
em algum trabalho de faculdade. Se não me engano, é relacionado à escrita. A mamãe
é muito boa no inglês!
Como já sabe, o papai não está me deixando ver o Ry, parece que estão
brigados, no entanto, creio que o motivo seja por ciúmes... Só sei que a mamãe
afronta-o, assim como eu estou começando a fazer. Amanhã mesmo darei um basta
naquela brincadeira!!
Fiz diversas coisas com o Ry. Jogamos o jogo "Orinxe"; assistimos ao filme
Karatê Kid; escutamos ao álbum Wish You Were You, do Pink Floyd. Apreciei ele tocar
guitarra de duas músicas que eu pedi: Stairway To Heaven e Time — minhas
prediletas! Convetsamos sobre tudo, como História, Filosofia e poesia no geral. Foi
uma tarde sensacional!!! Sem dúvidas ele é a pessoa mais sábia que conheço, me
perdoem, mamãe e professor Dan!
Já ia me esquecer, o Ry me deu mais um álbum do Pink Floyd, o Wish You Were
Here¹. Nele, há uma música com o mesmo nome, a letra dela me faz lembrar bastante
da Sofia... Aliás, estou ouvindo ele enquanto converso contigo! ;)
O Ry praticamente me dá álbuns dessa banda e do Led Zeppelin, gosto das duas,
no entanto, o papai gosta muito de algumas músicas do Led Zeppelin IV: Black Dog,
Rock and Roll, Misty Mountain Hop e Four Sticks. Ele costuma colocar elas durante
as brincadeiras, o que não me dá muita vontade de ouvir este álbum por inteiro,
então, quando quero ouvi-lo, passo elas.
Acredito que, junto com a mamãe, o Willy e o Lucke, ele é uma das únicas
pessoas em que posso confiar, além de você, é claro. Portanto, me senti segura para
falar algo que estava entalado em minha garganta a muito tempo: as brincadeiras do
papai.
Ele pareceu horrorizado, conseguia ver pelo seu olhar, como se não fosse algo
bom, e eu sinto que não é desde o começo! O Ry gongelou e gaguejou afirmando que
convenceria o papai à parar com elas. Todavia, perguntou em que horário acontece as
brincadeiras, falei que são sempre à tarde, quando a mamãe está trabalhando. Não
entendi o motivo, enfim...
Ultimamente estou admirando muito a Lua, lembro-me da Sofia, que adorava-a. Ao
invés de chamá-la de satélite natural, prefiro chamar de semi-estrela. Assim fica
muito mais bonito e retira a visão de que é somente um troço que está ali por
estar. Ninguém vê a importância dela, é incrível como a sua influencia sobre as
marés, por exemplo. Os detalhes quando está cheia são extraordinários, parece uma
obra de arte! Ao contrário das estrelas — com exceção do Sol —, que estão distantes
e é necessário a escuridão para vê-las em grande quantidade, a Lua sempre está
visível — graças ao Sol, é claro!
As fases dela são intrigantes: Lua Nova, Lua Crescente, Lua Cheia e Lua
Minguante, as quais refletem muito na filosofia que sigo de que "tudo passa". Já
ouvi isso tanto da mamãe quanto do Henry. Todavia, sinto, às vezes, que tudo se
repetem como as fases da Lua... Então, meio que passam temporariamente depois
retornam, como as brincadeiras do papai. Sinto aqueles toques em meu corpo são como
facas cortando minha pele, e quando toco no corpo dele, me sinto como uma escrava
da época dos Estados Confederados da América.
É a primeira vez que descrevo algumas das brincadeira. Não direi mais e
detalharei porque me sinto mal... Acho que nem para você consigo contar, de
verdade, tudo sobre mim. Espero que compreenda... :(
Mudando de assunto, na verdade, retornando, após terminar de falar contigo
ontem, ouvi gritos estranhos de novo. Assustada, abri a porta do quarto com
cuidado, alternava a visão entre a sala e a cozinha, forçando as vistas para ver se
havia alguém. Embora não visse ninguém, continuava amedrontada. Esperei um momento
para ver se era a minha imaginação, todavia, ouvi novamente com mais intensidade,
com um tror de choro; eles advinham do quarto da mamãe.
Como o papai não estava em casa, sem pensar duas vezes, subi e, quando
adentrei no quarto, vi a mamãe nua no chão, revoltada por sangue, segurando uma
faca, prestes à se cortar. Impedindo-a, corria e abracei implorando para que não
fizesse isso. Era a primeira vez, depois de muito tempo, que via os braços dela. O
esquerdo estava repleto de cortes...
A mamãe me abraçou de volta e chorou de uma forma tão intensa, como uma
criança, me pedia desculpa e dizia que me amava... Me contagiei por tamanha emoção
que também acabei chorando com ela.
Eu sentia uma energia tão ruim quanto quando estava na casa de Sofia,
presenciando a morte dos pais dela. Não sei nem explicar como era, mas nunca havia
sentido algo tão ruim assim. Só sei que era uma angústia infinita! :\
Quase perguntei a mamãe se o papai fazia o mesmo com ela, no entanto, o medo de
que ele soubesse era muito tremendo!! Me desligando dessa vontade, olhava ao redor
e percebia que a janela estava aberta e havia um líquido esbranquiçado no chão,
parecendo com o qual o papai usava para brincar comigo.
Acalmando-se, a mamãe foi tomar banho e falou para eu esquecer o que tinha
visto, que não era nada demais, só estava triste. Apesar da explicação, fiquei me
questionando a razão pela qual uma pessoa se cortaria para ficar feliz. Por
curiosidade, passei a mão na gosma e cheirei. Naquele instante, percebi que era o
cheiro que saía do papai. Sentia nojo, repulsa e, ao mesmo tempo, raiva e ódio por
saber que a mamãe também era refém dele. Ali tive a certeza da onde vinha o
sofrimento dela, de todos os dias, pelo monstro que atravessava a janela.
Consegui me acalmar por causa da Lua Cheia que via, caso contrário, não sabia
o que fazeria com essa informação. Eu devia ter aproveitado a oportunidade e ter
falado para a mamãe naquele momento.
Hoje ela estava muito ocupada e, aproveitando que fiquei com o Ry praticamente
o dia inteiro, contei um pouco sobre para ele... Contudo, amanhã não deixarei ele
continuar fazendo isso comigo nem com a mamãe e ameaçarei contar tudo para ela!!
Notei que o papai morre de medo se alguém souber de tal segredo, como o Ry já sabe,
falta a mamãe, a pessoa que ele mais teme! ;)
Me deseje sorte!!
Até amanhã! ♡ ♡ ♡

Capítulo 74 - Aflições / Ação e reçao / Causa e efeito / causalidade [ natal,


presentes

Cedo, antes de ir para o seu trabalho, em alta velocidade, Henry conduzia sua
moto rumo a Coffe Library. Durante o caminho, tinha mil pensamentos martelando sua
cabeça em relação ao que Sophia havia dito sobre tais brincadeiras. Sacudindo-a,
aproveitou que o movimento das ruas estavam baixos e acelerou, desejando chegar
logo no destino.
Contudo, sua pressa foi seu maior inimigo quando, na Ponte Golden Gate, um cachorro
apareceu no meio da pista, ao passo que uma senhora atravessava-a para apanhá-lo.
Em um piscar de olhos, utilizou o seu conhecimento e, por meio do freio dianteiro e
traseiro, evitou um trágico acidente a menos de um metro.
Preocupado se a senhora tinha machucado-se, uma vez que a via trêmula e
inexpressiva, segurando seu cão, desceu da moto e, retirando o capacete, indagou:
— A senhora está bem?!
Sem falar, assentia com a cabeça.
Arrependido, colocando a mão no ombro dela, desculpou-se apressado:
— Peço perdão por isso! Estava muito ansioso!! Tenha um bom dia!!!
Retomando o percurso, a tensão e o desespero diminuíam conforme reconhecia que
estava agindo errado, mesmo que fosse por uma boa causa.
Estacionando a moto, percebia que o estabelecimento encontrava-se fechado.
Aproximando os olhos na porta de vidro, observava funcionários arrumando o ambiente
para a abertura. Ansioso para aguardar, batia...
Vendo uma mulher mímica visando explanar que no momento estava fechado, também
realizava a fim de explicar que necessitava de conversar com uma funcionária. Visto
que ambos não se ouviam, as informações não eram compreendidas.
Indignada, abriu a porta e exclamou:
— Não está vendo a placa? Ainda não estamos aberto!
Nervoso, explicou-se:
— Eu sei! Eu preciso conversar com uma pessoa que trabalha aí!
Impaciente, perguntou:
— Qual é o nome dela!?
— Ashley.
Curiosa, questionou:
— O que quer que eu fale para ela?
Sentindo-se rude por não perguntar seu nome primeiro, indagou:
— Qual seu nome?
Indiferente, afirmou:
— Melanie.
Então, Melanie, é um assunto particular... Pode chamá-la para mim?
Convicta, olhou para trás e afirmou:
— Ela ainda não chegou.
— Acha que demorará?
— Tenho quase certeza que não.
Olhando para o relógio, notou que restava cinquenta e cinco minutos para
abrir a locadora, e, sereno, afirmou:
— Eu espero aqui de fora.
Em frente a porta da área dos funcionários, averiguava, pelo buraco da
fechadura, que era largo, possibilitando uma visibilidade ampla, se Ashley havia
chegado, pela porta dos fundos. Quase desistindo após alguns segundos, viu ela. Ao
passo que observava-a trocar de camisa de manga longa para vestir o uniforme de
manga longa, visualizava seu braço mais cortado comparado com a da última vez, bem
como mais hematomas no tronco. No mais, invejava-a pela beltude do seu corpo:
barriga fina e seios avantajados.
Sentindo alguém pondo a mão só de o seu ombro, assustou-se e fingiu que não
estava bisbilhotando. Virando-se, notou que era a Abigail.
Intrigada, perguntou:
— Está vigiando a Ashley de novo!?
Realizando sinal de silêncio com o dedo indicador, abaixou o tom de voz e
exclamou:
— Fale baixo!
Percebendo que era verdade, rediumiu-se:
— Estava brincando... Desculpa!
Apressada, explicou-se:
— Tenho que falar com ela, me dê licença!
Afastando-se, assentia com os dedos polegares, compreendendo:
— Tá bom... Voltando para o trabalho!
Abrindo a porta, deparou-se com Ashley, que assustou-se, dando um pulo para
trás.
Colocando a mão no coração, exclamou:
— Não me assuste assim, Melanie!
Contente, cumprimentou-a:
— Oi, Ashley! Tudo bem? Feliz Natal!!!
Cabisbaixa, disse:
— Feliz Natal... Estou ótima, e você?
Notando a vermelhidão de seus olhos, foi direta ao ponto:
— Bem... Então, vim te avisar que tem um homem lá fora querendo falar com você.
Curiosa, perguntou:
— Sabe quem é?
Pensativa, caracterizou por meio de elementos de seu visual que chamavam
atenção:
— Hum... Ele tem cabelo e barba grande.
Surpresa, exclamou sorridente:
— Ah, deve ser o meu sobrinho!
Intrigada com o desespero dele, sugestinou:
— Ele está te esperando, parece ser algo sério...
Deslocando-se para lá, agradecia pelo aviso:
— Já estou indo, muito obrigada!
Reflexiva sobre a sua vinda e em relação ao que queria, acreditava ser algo
sério. Abrindo a
Surpresa, cumprimentou-o:
— Que surpresa, Henry! Como vai?
Recíproco, disse:
— Feliz Natal!! Bem, e a senhora?
Ocultando sua tristeza, afirmou:
— Feliz Natal... Bem também...
Desconfiando de sua fisionomia, questinou:
— Os olhos da senhora estão vermelhos, está tudo bem mesmo!?
Receosa que desconfiasse de algo, risonha, mentiu:
— Eu não consegui dormir esta noite! Haha!
Passando a mão no rosto, afirmou:
— Confesso que também não consegui.
Acalmando-se, preocupou-se:
— Por quê?
Percebendo a movimentação na rua, afirmou o porquê veio:
— Vim aqui para falar sobre um assunto muito delicado. É referente a Sophia...
Preocupada, olhou para os lados e sugeriu:
— Vamos conversar em um lugar mais reservado.
Sendo guiado por Ashley até a porta dos fundos da Coffe Library, onde a
circulação de pessoas era amena, tendo de atravessar o quarteirão, elaborava em sua
mente como expressaria seu repúdio pelas ações cometidas por Jesse em palavras.
Parando em frente a porta, indagou:
— Então, o que a minha Sophia fez errado?
Rindo, negou:
— Imagina, a Sophia é um anjo, ela não fez nada de errado!
Orgulhosa, pensando acerca da atitude complacente e não julgatória de Sophia
ontem à noite, com os olhos cheios d'água, desabafou-se:
— Realmente! Sem ela não sei o que seria de mim...
Acanhado, afirmou:
— O problema é em relação ao tio Jhon...
Intrigada, perguntou:
— Mas não era sobre a Sophia?
Receoso em falar logo de cara, indireto, deu pistas:
— Então... ele anda fazendo certas brincadeiras, de acordo com a Sophia, que não
são do agrado dela.
Irritada por Jesse estar realizando coisas contra a vontade dela, sem o seu
consentimento, questinou em um tom alto:
— Que brincadeiras são essas!?
Percebendo o enfurecimento no tom de voz dela, em seu olhar e no estalar de
seus dedos, esqueceu o que tinha planejava para falar, com medo da reação que
Ashley teria. Gaguejando, não conseguia destravar a sua língua.
Chateada, implorava:
— Eu sou a mãe dela, por favor, me conte o que é! Eu preciso saber! Não tenha
medo!!
Parecendo ao desespero de uma mãe, confiante e sério, mediante ao seu pedido,
afirmou:
— O tio Jhon está abusando sexualmente da Sophia...
Similando a informação, pôs-se à tremer e, pondo as mãos na cabeça, à gritar.
Bloqueando a sua respiração, tossia igual a um enfermo de tuberculose... Aflito e
preocupado com a sua reação , Henry abraçou-a e tentou acalmá-la com palavras
reconfortantes. Embora tenha adiantado um pouco, chorava como uma criança perdida
no supermercado.
Calma, sentada no chão, refletia sobre qual ação tomar, visto que qualquer
uma refletiria em alguma possível tragédia.
Convicto, sugeriu:
— Devemos retirar a Sophia de lá e acionar a policia.
Lembrando-se da ameaça de morte à ela mesma e à Sophia, como também de
esperança de que Jhon estivesse vivo, escondido em algum lugar, dispensou:
— Não! O Jhon não é mais o mesmo! Ele faria algo terrível!!
Incompreendido, questinou com vigor:
— Como assim!?
Recordando-se da explicação de agentes da CIA durante o tratamento, explicou:
— O Jhon tem um transtorno raro de personalidade, nas duas vezes que a outra
apareceu, foi em decorrência do abalado da morte de seus pais e a bebida alcoólica.
Abestado, acreditando que isso existia somente em filmes, afirmou:
— Não sabia disso...
Impressionada por não saber sobre, indagou:
— Seu pai nunca te contou?
Sabendo que ele apenas fala quando é necessário, decepcionado, afirmou:
— Não...
Recusando sua ajuda, pediu sua confiança para com o proceder da situação:
—Deixe que eu tomo as medidas necessárias. Ok?
Desejando o bem estar de sua prima, que via-a como irmã caçula, confiou:
— Promete que vai tirar Sophia dessa situação?!
Duvidosa de como lidaria, fingiu estar convicta:
— Prometo!

Capítulo 75 - Desabafo / jornal

Dentro da área de serviços, Melanie, cedendo ao seu instinto bisbilhoteiro,


vasculhava os pertences de Ashley, visando encontrar algo que comprovasse as suas
suspeitas, há cerca de um mês, acerca dos cortes e hematomas, bem como de sua
tristeza ocultada. Acreditava estar sendo vítima de agressões físicas advindas de
seu marido. Lembrava-se que, sempre ao falar sobre Jhon, ela modificava o
semblante, como se estivesse vendo um filme de terror, como também elogiava-o,
forçadamente, em todos os seus aspectos.
Analisando o último objeto de sua mochila, decepcionava-se por não ter
encontrado nada que remetesse a isso, haja vista que o estava prestes à analisar
era um jornal. Abrindo-o, visualizou um espaço preenchido por uma escrita cursiva
de caneta azul, abaixo da notícia referente ao aumento do índice de transtornos
mentais, como a depressão, associada ao acréscimo da taxa de suicídios acometidos,
nestes últimos anos, na Ponte Golden Gate.
Atenta, lia-o:

Tem algum relato de superação que gostaria de compartilhar com a ONG de Prevenção
ao Suicídio de São Francisco? (Sua identidade será mantida em sigilo.)
Precisa de ajuda? Ligue: 188

"Nunca pensei que teria a coragem de atentar contra a minha própria vida como
essas pessoas. Estou completamente envergonhada de minha atitude ontem à noite...
Desejando cessar o sofrimento que sentia após o meu marido — problemático — me
estuprar mais uma vez, tomaria uma atitude extremamente drástica!
Embora normalmente eu atomutilo-me por intermédio de cortes leves, para
aliviar e suportar a angústia de não possuir forças para mudar a situação, a
profundidade do corte que realizaria seria imensurável. Lembro-me da minha vontade
em parar a dor que sentia, custe o que custasse...
Contudo, minha filha — um anjo, melhor dizendo —, naquele exato momento,
salvou-me abraçando-me! O abraço foi tão caloroso que comecei a tremer e logo
soltei a faca. Recordo-me que havia esquecido de pensar que a tinha... O quão
significativo e essencial a existência dela é, não somente em minha vida, como a
minha na dela!
Não sei por que escrevi isso, nunca terei coragem de entregar este relato à
esta ONG de prevenção ao suicídio. Este desabafo serviu somente como uma maneira
paliativa para acalmar o meu coração, enquanto ia a pé para o trabalho, afim de
apaziguar minha vazia alma — apesar de não ser um diário..."
Ouvindo uma conversa do lado de fora, guardou tudo de volta na mochila e
aproximou-se da porta. Escorando o ouvido, notou que as vozes eram de Ashley e a do
com seu sobrinho, apesar de não compreender o diálogo. Inesperada para a dissipação
da calmaria, estarreceu-se com berros, caindo no chão.
Com medo de abrirem a porta e ser descoberta, sentia-se culpada por estar
enxerida naquele ambiente, fuçando nas coisas de Ashley, bem como tentando escutar
suas conversas pessoais. Assim sendo, retornou para o seu trabalho.

Capítulo 76 - Desespero / Fogo / diamantes

Ao passo que Ashley executava seu serviço, no qual seu corpo trabalhava,
todavia, sua mente estava à milhares de quilômetros do ambiente de trabalho, focada
em mil pensamentos de puro ódio e vingança. Imaginava-se torturando Jesse, fazendo-
o morrer lentamente. Evitava pensar no que Sophia passou, pois colapsaria.
Distraída, derrubou a bandeja repleta de xícaras. Ajoelhando-se, recolhia os
cacos, enquanto segurava o choro. Sua pressa era tanta que cortava as pontas dos
dedos, contudo, não sentia dor alguma.
Agachando-se, Melanie colocou a mão sobre as suas e, complacente perante os
momentos difíceis que tem passado, orientou:
— Vá para a casa descansar. Pode deixar que limpo tudo isso.
Sentimental, olhando ao redor com os olhos cheios d'água, argumentou: abraçou-a
e agradeceu chorando:
— Mas está lotado de clientes...
Sorridente, contrargumentou:
— Não tem problema, eu e o restante do pessoal damos cont do recado! Não é? —
perguntou para os demais funcionários que paralisaram os seus trabalhos preocupados
com o ocorrido.
Benevolentes, confirmaram — com destaque para Abigail:
— Claro!!!
Estacionando o carro, saiu e correu para dentro de sua casa. Embora estivesse
chovendo forte, a sua pressa não tratava-se de não molhar-se, mas resgatar Sophia o
quanto antes. Abrindo a porta, chamava por Sophia. Averiguou, logo de cara, a sala
e a cozinha, não avistando ninguém, direcinou-se para o quarto dela. Arrombando a
porta, desesperou-se em não vê-la.
Subindo as escadas, abriu a porta de seu quarto e aliviou-se ao vê-la.
Situava-se na escrivaninha, em frente a janela, com fones de ouvido. Fazia algo em
decorrência da movimentação de seus braços, porém não sabia o que era.
Sentindo seu cabelo ser encostado, assustou-se, balançando a cadeira. Evitando
que ela caísse, Ashley segurou-a.
Risonha, disfarçando o seu pesar e perguntou:
— Sou eu, Sophia! Achou que fosse outra pessoa?
Acreditando que fosse Jesse, ocultou a verdade:
— Eu estava concentrada na música e no desenho...
Curiosa para saber com qual canção entretia-se a ponto de não ouvi-la se
aproximar, indagou:
— Posso saber qual música estava escutando?
Esquecendo o nome da música, abriu a capa do CD e a leu:
— Eu estava ouvindo... Shine On You Crazy Diamond, Parts VI–IX.
— Essa é uma música espetacular. Foi o Henry que te deu este álbum incrível do Pink
Floyd, o Wish You Were Here?
Alegre, exclamou:
— Sim!!!
Contente pela continuação roqueira da família, exclamou:
— Como sempre, ele nunca decepciona!
Lembrando-se que escreveu em seu diário, ontem à noite, enquanto escutava-o,
felizarda, exclamou:
— A primeira vez que escutei foi ontem!
Intrigada com a sua mão ocultando a folha, indagou;
— E quanto ao desenho? O que estava desenhando?
Acanhada, explicou-se dando uma desculpa esfarrapada:
— É que não terminei... Ainda tenho que usar a caixinha de lápis de cor que a
senhora me deu de Natal!
Sorridente, implorou:
— Não tem problema, deixe-me ver!
Cabisbaixa, virou-o, sendo visível apenas a parte branca, e entregou-o. O seu
medo de ser julgada era tanta que fechou os olhos. Seu coração acelerava com o
transcorrer do tempo e, ouvindo as primeiras risadas, batia a ponto de explodir.
Submergindo em pensamentos de inferioridade e culpa presenciava a angústia
surgir...
Ashley cativava-se pelas cores vivídas, as quais destacavam a paisagem
exuberante. A janela aberta, possibilitava a vista da chuva intensa; na parte
inferior do portal, estavam dispostos três diamantes grandes, que reluziam.
Afagando-a, com brilho nos olhos, elogiou:
— Está incrível!!! Por que disse que não estava pronto?!
Aliviando-se pelo elogio, respondeu ofegante:
— Estava com medo da senhora achar feio e estranho...
Rindo, argumentou contra a ótica dela:
— Como feio? Isto é uma obra de arte! Estranho? Eu sei que você se inspirou na
vista desta janela e nessa música que você estava escutando!
Impressionada pela sua percepção, questionou:
— Como a senhora descobriu isso?!
Contente, acariciando-a, exclamou:
— Eu te conheço muito bem, Sophia!!
Irônica, desafiou as habilidades de sua mãe sobre a revista em quadrinhos que
ela a presentou de Natal:
— Adivinha em qual parte estou nos The New Titans?
Empolgada, afirmou:
— No final!?
Arregalando os olhos, indagou:
— Como sabe?!
Notando os olhos vermelhos dela, sabia que ela passava grande parte da noite
lendo escondido. Convidando-a para ir na casa do Henry — embora precisasse que
fosse, de qualquer forma —, aceitou com bilho no olhar, como se houvessem diamantes
em seus olhos. No entanto, avisou que ele estava trabalhando, além de que iria
somente para conversar com Harrison. Porém, sentia-se mais segura ao lado de sua
mãe do que sozinha.

Capítulo 77 - Natal / Magia da Coincidência


Abrindo o porta malas, Jesse averiguava o tráfego da rua. Todavia, como de
costume — ainda mais pelo horário — não avistava ninguém. Fazendo um esforço
tremendo, jogou o saco no chão. Arrastava-o em direção à porta da casa. Ofegante,
aproveitou o momento e parou para recuperar as forças escorando-se na parede.
Abrindo a porta, arrastou-o até a cozinha.
Com dificuldades para respirar, abriu a porta que dava acesso ao quintal e,
ajoelhando-se, inspirou como se estivesse inalando cocaína. Entretanto, Lucke
interrompida sua serenidade com latidos. Estressando-se, controlava-se para não
machucá-lo — haja vista que Sophia estava em casa. Buscando outra solução, lembrou-
se que em seu bolso traseiro havia maconha. Tremendo, preparava o baseado.
Acendendo-o com isqueiro, tragou-o, acalmando-se.
No quarto, Sophia, a despeito de não precisar acordar cedo, estava habituada
demais para mudar. Enquanto lia uma revista em quadrinhos da série The New Titans,
beliscava a refeição da manhã que sua mãe havia preparado. Seu entusiasmo com a
leitura era tanta, que não conseguia pensar na comida, o prato somente encontrava-
se sobre a escrivaninha porque Ashley havia deixado ali antes de sair.
Dentre as personagens que mais gostava, cativava-se pela personalidade forte
e pelos diversos poderes psiônicas, tais como: telepatia e telecinese, da Ravena;
uma personagem sombria e misteriosa, que sempre possuía algo à esconder, bem como a
ser descoberto.
Ouvindo batidas na porta, acreditou ser a Ashley, que tinha voltado por algum
motivo. Contudo, ao abrir a porta, deparou-se com Jesse, estatizando-se.
Excitado por vê-la, cumprimentou-a mostrando seu presente:
— Feliz Natal!!!
Notando que ela estava tristonha, explicou o porquê de não ter participado da
virada da noite ontem:
— Eu não consegui vir ontem... Mas trouxe o seu presente hoje! O que achou?!
Observando-o, repudiava a casinha de brinquedo da Barbie. Naquele instante,
tinha certeza absoluta que aquele homem não era o seu pai, tendo em vista que ele —
Jhon — sabia que ela odiava o senso comum das meninas da idade dela, pois não
enquadrava-se nele. Olhando para o rosto de Jesse, amedrontava-se com o seu olhar e
sorriso maníacos.
Receosa em exprimir a verdade, mentiu:
— Gostei demais...
Pegando-a no colo, exclamou:
— Eu sabia que acertaria no presente!
Sarcástica, afirmou:
— Acertou em cheio...
Pondo-a no chão, explicou, com um teor psicótico, o espírito natalino:
— No Natal, todos nós presenteamos as pessoas que amamos. Agora está na hora de
você me presentear!!
Desintendida, questinou:
— Como assim?
Lembrando-se que ontem não conseguiu brincar devido ela ter passado o dia
inteiro com Henry, enraivevia-se ao passo que explanava:
— Faz tempo que não brincamos... Sinto a sua falta...
Forçando um sorriso, preferiu postergar:
— Não podemos brincar outra hora?
Cabisbaixo, alfinetou:
— Você prefere brincar com o seu primo e não com o seu pai?
Buscando alguma distração para aquela ocasião, notou, por coincidência, perto
da porta da cozinha, Lucke em cima de um saco, mastigando blocos de dólares, como
se fosse ração.
Apontando para a direita, gritou:
— Olha! O Lucke está comendo dinheiro!!
Desesperado, correu na direção dele, xingando-o vários palavrões. Chutado-o,
recolhia os massos de dinheiro rasgados e acariciava-os, como se fossem seus
filhos, botando-os de volta no saco, ao passo que Lucke choramingava.
Melancólico, apaziguava-os:
— O papai vai cuidar de vocês! Não precisam chorar!!
Embora tenha repudiado a agressão para com Lucke, não detinha coragem o
suficiente para enfrentá-lo. Aproveitando a oportunidade, retornou para dentro de
seu quarto e trancou a porta. Escorando-se nela, sentia-se culpada pelo ocorrido
com o seu cãozinho, desejava que estivesse bem, como também que a perdoasse.
Retomando a leitura, tentava esquecer o contato que acabava de ter com
Jesse, bem como a sua presença. Igorava as batidas na porta colocando fones de
ouvidos que abafavam os sons.
Gentil, implorava dando leves toques:
— Vamos, Sophia... Por favor, abra a porta para o papai! Venha pegar seu presente!!
Irado pelo silêncio dela, esmurrava ordenando:
— ABRA AGORA!! ESTOU MANDANDO!!!
Embora o som estivesse abafado, escutava. Aflita, não conseguia ler. Cessado
os barulhos, tranquilizava-se... Entretanto, com o passar do tempo, presentia algo
ruim. Sem controlar sua visão, ora seus olhos fixavam-se na janela, ora retornavam
para a revista.
Angustiada, levantou-se, ascendeu a luz e, fechando a cortina, observou
Jesse surgindo de baixo para cima. Trêmula, estarrecia-se com seu semblante, com
olhos arregalados e dente cerrados, parecido com o de um palhaço maquiavélico.
Notando que a janela encontrava-se travada, socou o vidro, quebrando-a.
Tentava alcançar a trava, todavia, seu antebraço situava-se preso. Ao passo que
berrava de dor, tentando desprender. Espantava-se com a sua vontade a fim de
concretizar a brincadeira, custe o que custasse. Frenética, com a adrenalina
liberada, apanhou algumas coisas que estavam sobre a escrivaninha e botou-as na
mochila.
Destrancou a porta e trancou-a do lado de fora. Olhando para os lados, não o
via. Indecisa quanto a sair para fora de casa ou trancar a porta da cozinha —
prendendo-o —, optou ir rumo ao quarto de sua mãe. Pisando no último degrau,
ansiosa, ergueu a mão para adentrar em seu Paraíso Seguro. Contudo, não conseguia
seguir adiante...
Jesse, estirado na escadaria, com o braço direito esticado, agarrava o
chaveiro preso na mochila de Sophia. Mantinha tal posição visando impedi-la de
prosseguir, senão entraria e trancaria-se.
Apoiada na escada, choramingava berrando:
— Me solta!!!
Com dificuldades para falar, segurando a sua perna, satirizou:
— Eu te dou um presente e é assim que me trata?
Enojada, tentando soltá-lo, exclamava:
— Você é tão ruim quanto aquele presente!!
Falhando em controlar a inquietude de Sophia, foi golpeado no nariz por um
chute. Enfurecendo-se, subia apoiando-se na perna dela. Impotente para ir contra a
sua força, fechou os olhos e aceitou o que o destino aguardava-lhe, mais uma vez...
Sentindo as mãos de Jesse transcorrendo suas coxas em direção de sua
genitália, mordia seu dedo indicador direito, fazendo-o sangrar.
Encantado com a expressão facial dela, pronto para retirar sua calcinha,
surpreendeu-se com Lucke mordendo em seu calcanhar direito. Sacudindo o pé, tentava
desprendê-lo, porém, o efeito era o inverso. Gritandor de dor, deslizou arrancando-
a.
Percebendo que havia soltado seu corpo, abraçou a oportunidade que seu herói,
de novo, havia dado-lhe. Correndo para dentro do Paraíso, a entrada fechou-se e
trancou-se com um selo místico que jamais poderia ser quebrado — a não ser por sua
própria criadora.

Capítulo 78 - Dormência / Alegria Segura

Sonolenta com a canção das gotas de chuva colidindo com a lataria do carro,
brincava realizando desenhos na janela embaçada, com o dedo indicador esquerdo.
Estacionando o carro, Ashley virou-se para o lado e, sorridente, explicou:
— Preciso que fique dentro do carro. Não vou demorar muito!
Surpresa com a rapidez, questinou:
— Já chegamos?!
Rindo, assentiu:
— Sim!!
Serena, concordou com a sua decisão:
— Não tem problema... Prefiro ficar aqui dentro.
Beijando a sua bochecha, Ashley saiu e, com medo de molhar-se, correu em
direção à casa de Harrison. Achando engraçada a cena que ela fazia debaixo da
chuva, ria. Quiçá fosse o momento de maior alívio até então, visto que a alegria e
a segurança mesclavam-se, em que tais características encontravam-se na junção das
águas originadas do céu e da genuidade estelar de Ashley.
Pensando no Lucke, pedia às forças do Universo que ele estivesse tão bem
quanto ela mesma, neste momento. Contudo, o seu real desejo era que estivesse ao
seu lado, ou melhor, em seu colo.
Em meio as idealizações, o sono apoderava-se de Sophia. Sem perceber, fechou
os olhos e tombou para o lado de direito, escorando a cabeça na vidraça.

Capítulo 79 - Retrato /

Embora a demora fosse iminente, devido ao fato de saber que Harrison não gosta
de visitas, ousou esperar e à bater quantas vezes fosse necessário — tendo em vista
que a campainha estava estragada. Levando o punho, deparou-se com a porta abrindo.
Séria, sem rodeios, disse:
— Olá! Preciso conversar contigo.
Indiferente, convidou-a para adentrar com a mão, sem abrir a boca.
Sentindo que estava perturbando-o, gaguejando, avisou:
— Não tomarei seu tempo!
Fechando-a, enquanto indignava-se com a presença dela, planejando inventar uma
desculpa para despachá-la, avistou Sophia no carro.
Apressado, afirmou:
— Fique a vontade. Fazerei uma ligação e já volto.
Estranhando o porquê de sua mudança repentina, da calmaria para a inquietude,
relevou sua atitude. Observando a sala, impressionava-se com o seu minimalismo.
Aventurando-se nos dois únicos retratos que haviam, no qual haviam Harrison e Julia
e, já no outro, Henry junto ao seu pai.
Refletia sobre a saudade da afinidade que tinha com sua falecida concunhada,
como também questionava-se acerca de sua morte trágica, da qual recusava-se à
acreditar ser verídica.
Ouvindo passos, falou em vão:
— A Julia era tão linda!! Até hoje me questiono o que aconteceu com ela...
Notando que Ashley estava distraída com os retratos, de costas e com a cabeça
abaixada, apanhou o primeiro objeto que avistou ser de serventia — um vaso de
flores vazio — e, aproximando-se por de trás dela, açoitou-a em uma região um pouco
acima de sua nuca.
A intensidade do impacto, proveniente da aceleração mediante a força exercida,
foi tão certeiro que ela desmaiou no mesmo instante.

Capítulo 80 - Intuição / Porta Emperrada

Sendo acordada por um raio que havia caído ali perto, ou seja, pelo ressoar de
um trovão, acordou desesperada. Aflita, olhava para várias direções, buscando
avistar o perigo. Entretanto, aliviava-se por ter sido parte pesadelo e a outra uma
brincadeira dos céus para retirá-la do terror de seu subconsciente.
A chuva ainda caía, na mesma intensidade. Concentrada, punha-se à se conectar
com ela visando obter a plena calmaria. Ouvindo a porta abrindo, relevou por saber
que sua mãe já havia terminado a conversa com o seu tio, da qual, apesar de ser
curiosa por natureza, não possuía o mínimo interesse sobre o assunto dialogado.
Por alguma razão, captava sinais emanados pelo Universo, os quais orientavam-
na que saísse do veículo. No entanto, optou por seguir sua razão, obedecendo
Ashley, em detrimento de optar o que sua intuição instruía-a.
De olhos fechados, receosa que levasse-a de volta, pediu:
— Posso ir para o trabalho com a senhora? Não quero ficar sozinha em casa...
Fingindo uma voz feminina, o sujeito concordou:
— Mas é claro, Sophia!
Estranhando a tonalidade da voz, atenciosa, indagou:
— A senhora está rouca?
Segurando-se para não rir, ao passo que ligava o carro, ironizou:
— Nem um pouquinho! Talvez você fique, meu bebê!!
Reconhecendo que alguém passava-se por Ashley, abriu os olhos e virou-se para a
esquerda, averiguando quem era. Estarrecendo-se com o retorno da figura demoníaca
que via em sua frente, tentou abrir a porta, mas encontrava-se emperrada.
Morrendo de rir pela sua expressão, bem como fuga falha, controlava-se
batendo no volante. A cada batida, buzinava provocando um efeito de buzina de
palhaço, aterrorizando-a ainda mais.
Irritando-se com o gritos que ela fazia, berrou:
— CALE A BOCA!!!
Intimidada, aquietou-se, cessando os escândalos, porém, tremia observando-o
repleto de uma substância vermelha, sobre a qual acreditava ser sangue. Os pontos
com maior concentração advinham de seu nariz, perfazendo-se pela sua boca, e de
suas mãos. Havia um pouco era visível em seu antebraço direito, no entanto, estava
estancado pela calcinha de Sophia.
Chegando perto do rosto de Sophia, invadiu a sua alma por intermédio das
janelas dela — os olhos — e esclareceu algo que arrancou o brilho de seu olhar.
Sério, intimidou-a:
— Se você tentar algo, ou ao menos falar para alguém o que faço contigo, além de
ter matar, eu mato a sua mãe também. Ouviu bem?
Traumatizada, não teve reação nenhuma. Entretanto, com o andar do automóvel,
ao passo que dizia coisas nefastas, lágrimas involuntárias escorriam de seu rosto
objetificando acalmá-la.
Dentre elas, a mais dolorida afirmava que sua mãe havia abandonado-a por ser
um estorvo; que além dela saber de tudo, mandava-o praticar aquelas brincadeiras,
como também tinha chamado-o para levá-la embora.
Durante o caminho, manteve-se imóvel, sem dizer nada. Seu calmo choro gelado
não ajudava-a a entender o porquê de tudo isso...

Capítulo 81 - Última Chamada / Ilusões

Observando o trânsito incessante de clientes, os quais concentravam-se no bloco


videogames, enquanto a de filmes situava-se vazia, sentia sua consciência nesse
conflito dual entre satisfeita e incomodada. Ao passo que tranquilizava-se por
Ashley ter ciência das atitudes de Jesse — no mínimo vis —, inquietava-se por
dúvidas acerca da capacidade dela, na qual tange as devidas providências que ela
tomará.
Receosa, embora a porta estivesse aberta, bateu-na e avisou:
— Jhony, preciso sair... Está tudo sobre controle aqui.
Indiferente, contando dinheiro, sem olhar em seus olhos, dispensou-o:
— Pode ir. Desconto no seu salário depois.
Preocupado, haja vista que não havia ninguém vigiando, indagou:
— O senhor toma conta de tudo?
Concentrado em seu afazer, confirmou:
— Sim.
Duvidoso quanto a sua disposição para tomar conta de seu posto, preferiu
relevar e dirigiu-se rumo ao seu objetivo principal: a casa de Sophia.
Batendo na porta, chamava-a. Intrigado com o silêncio e com a demora, já sabia
que Ashley situava-se no trabalho. Porém, paranóico, pensava em diversas
possibilidades do que estaria acontecendo com a Sophia.
Correndo-se pela ansiedade, andando de um lado para o outro, cabisbaixo,
avistou um cigarro pela metade. Imaginando que se inserisse-o na boca, encenando um
fumante, acalmaria seu nervosismo da situação em que ela estaria, bem como vontade
ligada a sua recente abstinência — apesar de não ser higiênico, mal aos pulmões não
faria.
Clareando a mente, ligou para o telefone pessoal de Ashley, visando saber
algo sobre o paradeiro de sua prima.
No porão, Harrison terminava de amarrá-la. Ouvindo o barulho de um aparelho
no bolso dela, do qual não fazia ideia do que era, aflito, encheu uma vasilha de
água e jogou em seu rosto, acordando-a.
Tentando pela sétima e última vez, decidido, iria para a delegacia, caso
ninguém atendesse.
Apertando o aparelho, com lágrimas em seu rosto, esperava que no final da
ligação ouviria alguma voz, e assim foi feito.
Alegre, cumprimentou-o:
— Alô!
Bravo, indagou:
— Por que não me atendia, tia Ashley?!
Sem graça, explicou-se:
— Eu estava um pouco ocupada...
Apreensivo, queria saber do parecer de Sophia:
— Onde ela está?! Está com a senhora?? Estou na frente da sua casa e parece que não
tem ninguém!!
Pensando no que responder, tentava decifrar os gestos de Harrison, os quais
eram difíceis de serem interpretados, pois, ao passo que gesticulava-os, não
conseguia desfixar o olhar em sua mão segurando uma arma.
Angustiado pela demora do retorno, desesperou-se:
— Ashley??? Está na linha?? Alô?!
Retornando, disse com voz trêmula:
— Sim... A Sophia está comigo e está bem... Ela está mandando um abraço.
Retirando um fardo dos ombros após escutar a notícia, exclamou:
— Mande outro para ela!!
Notando uma tristeza em seu falar, compadeceu-se:
— A senhora está bem?! Parece estar chorando...
Acalmando-se, olhava nos olhos de Harrison enquanto deferia:
— É impressão sua... É que tenho uma novidade muito boa, o Jhon voltou ao normal. E
ele não se lembra de nada.
Boquiaberto, apesar de não acreditar em Deus, louvando-o:
— Sério?! Nossa... que milagre divino!!!
Coagida à alegrar-se, ria ao falar sobre:
— Sim!!! Ainda não acredito também... Tudo não passou de um pesadelo!!
Desejando observá-los com seus próprios olhos curiosidade, intrometeu-se:
— Posso ver vocês agora?! Não estou trabalhando no momento.
Tristonha, impediu o seu desejo:
— Infelizmente agora não dá...
Decepcionado, questinou:
— Por quê?
Olhando para os lados, afirmou:
— Estamos viajando...
Impressionado, isso explicava os barulhos do carro na rodovia que ressoavam ao
fundo desde o início do diálogo entre os dois.
— Para onde?!
Fixando-se nós olhos sanguinários de Harrison, disse convicta:
— Para o rancho dos avós do Jhon! Jhon está querendo comemorar!! Na verdade, todos
nós!!!
Chateado, compreendia... entretanto, algo encucava-o:
— A senhora não está trabalhando??
Risonha, explicou:
— Eu avisei ao gerente, fique tranquilo.
Ansioso, perguntou:
— Quando voltam?
Serena, afirmou:
— Daqui uma semana.
Tristonho em pensar que não veria Sophia tão cedo, contentava-se com a volta
da normalidade.
— Já estou sentindo saudades!!
Contente, foi recíproca:
— Eu também!! Preciso desligar, depois nos falamos! Tchau!!
Rindo, despediu-se:
— Boa viagem!! Até mais!!!
Dando a última tragada, levantiu a cabeça e, visualizando o céu repleto de
nuvens, as quais eram levadas pelas correntes de vento que incidiam, como também as
mechas de seu cabelo, expirou acompanhando-as.
Retirando a pistola de sua cabeça, Ashley aliviou-se respirando fundo. Ao
passo que via Harrison distanciando-se, sem oferecer um esclarecimento convincente
sobre o que tratava-se as ameaças não-verbais, almejava questioná-lo acerca desse
terrorismo. O sentimento de vulnerabilidade e humilhação eram piores comparados com
os estupros — em que já acostumou. As diferenças entre os olhares de Jesse em
relação ao seu irmão eram inexistentes. Traumatizada, convencia-se de que era o seu
dia era irreal, como um pesadelo...
Preparado para voltar ao trabalho, já no meio-fio, percebendo uma lata de lixo
ao seu lado — da qual pertencia ao vizinho —, descartou o cigarro. Contudo,
amedrontado com o que via, paralisou-se diante de um material orgânico repugnante;
com ânsia de vomitô, fechou-a.
Em cima da moto, tentava deletar a cena de sua mente. Vendo o dono da casa em
que cilindro metálico situava-se na sua frente, disposta na calçada — um idoso com
um rosto simpático que o cumprimentou —, ligou-a e, embasbacado, dirigindo como uma
tartaruga, observava-o à caminhar pela calçada, imaginando a razão por de trás de
tal proeza... Relutando, achava ter alucinado pela ausência de tabaco em seu
organismo.

Capítulo 82 - Vazio

Cansada, adentrou para dentro de casa e, devagar, a primeira coisa que fez foi
procurar Lucke a fim de verificar a sua integridade, uma vez que Jesse detestava-o
e, em decorrência de seus atos heroícos, teria surrado-o. No entanto, embora fosse
viável chamá-lo, não conseguia abrir a boca. Esperançosa a fim de vê-lo em sua
caminha, percebeu que estava vazia, como também o comedouro e o bebedouro.
Sentando-se no chão, sentia-se assim por dentro...
Esforçando-se para carregar o seu corpo, levou-o para o seu quarto e o de sua
mãe, onde possuía certeza de encontrá-lo debaixo das camas, porém ocorreu como o
pensado. Cansada da caça ao tesouro perdido, sentou-se no sofá, pondo-se à pensar
em qual lugar ela mesmo e ele esconderiam-se.
Incompreendida com as risadas que Jesse exprimia, enquanto assistia a um
programa de TV de culinária e comédia, relacionado aos modos de preparar um
churrasco com diferentes tipos de carne, prestou a atenção e não encontrava nada de
engraçado.
Entregando uma latinha vazia de refrigerante, ordenou:
— Jogue no lixo para mim.
Sonolenta, alertou-se e carregou-a para lá. Em uma ventania que alertava uma
tempestade, olhava ao arredor e não via a lata de lixo. Indignada, depositou seu
rancor e ódio na latinha, amassando-a. Apesar de tal ação ter ocasionado cortes
infímos, aquietava-se através dessa sensação apaziguadora, como também dos ventos
ligeiros, os quais respeitava ao passo que assobtavam as mechas de seu cabelo...
Clareando a mente, optou por jogar na lata de lixo do vizinho ao lado.
Abrindo-a, presenciava um cheiro de putrefação tremendo. Paralisando-se, derrubou a
tampa e a latinha. Avistava o inferno aberto, preenchido pelo conteúdo mais
abominável que havia visto. Embora amasse a cor vermelha, a vivacidade da
vermelhidão assombrava-a. Entretanto, os pedaços de membros, bem como os do tronco,
aterrorizava como um filme de terror. Em decorrência do esquartejamento, sabia que
tratava-se de um animal quadrúpede de porte médio.
Identificando a cabeça, da qual estava virada, impossibilitando a
visibilidade do rosto, apanhou a latinha e, utilizando-na, revirou-a. Deparando-se
com o seu herói sacrificado, sem conseguir respirar, caiu no chão. Iniciando a
chuva, fechou os olhos e implorou para que fosse mentira. Almejava que o dia
recomeçasse, ou ao menos que Lucke ressucitasse. Crente na segunda opção, levantou-
se e, com fé, reviu-o.
Chorando, junto com as nuvens, sentia-se culpada por sua morte e gritava
indagando para o céu:
— Por que ele e não eu?!
Querendo uma resposta válida, obteve somente relâmpagos e trovões.
Esbravejando-se com o descaso, correu para dentro de seu quarto, trancou-se dentro
e enfiou a cabeça debaixo do travesseiro, pondo-se a lamentar. Ao passo que ouvia
gritos, lacrimejava de tanto rir, não apenas pelo o programa, mas também pela
reação apoteótica de Sophia.

Capítulo 83 - Visões Opostas e Complementares

Trabalhando com amargura, devido ao seu amigo e ex-namorado — Bruce — ter


falecido recentemente por overdose de heroína; como também angustiava-se por Ashley
não atender aos seus telefonemas, tanto em seu telefone pessoal quanto no
residencial. Sem a ver há três dias, imaginava os possíveis acontecimentos que
poderiam tê-la impedido, até chegar nos abomináveis...
Em um canto reservado, junto com Abigail, aflita, exclamou:
— Eu estou preocupada com Ashley!!
— Eu preciso ir na casa da Ashley!!
Percebendo sua real preocupação estampada na face, consolou-a:
— Talvez ela possa ter adoecido... Ela não estava muito bem aquele dia...
Segurando-se para não falar os reais problemas passados por ela, exclamou
visando encerrar a conversa:
— Preciso ir na casa dela agora!!
Dando um puxão de orelha, argumentou contra a sua decisão:
— Agora!? Você está trabalhando! Precisa do dinheiro para a faculdade!!
Defendendo o seu posicionamento, contrargumentou enaltecendo o vínculo de
amizade em detrimento de qualquer outra coisa:
— Ashley também é minha amiga, não abandonarei ela!!
Apreensiva, vendo-a sair, perguntou:
— E como você vai?! E se faltar alguém paga atender?!
Despreocupada em como iria, exclamou:
— Eu darei um jeito! Tome conta do meu cargo, por favor!
Desistindo de esperar um táxi passar, decidiu ir andando. À 999 metros,
ofegante, deu mais um passo e assentou-se no meio-fio, em decorrência de seu
sedentarismo. Cabisbaixa, pensava sobre como tinha tomado essa péssima decisão.
Sentindo um toque em seu ombro, levantou a cabeça e assustou-se com a pessoa
que menos imaginaria reencontrar novamente em sua vida.
Surpreendendo-se por ver a funcionária da Coffe Library de novo, cumprimentou
com um tom de voz baixo:
— Olá! Está tudo bem com você?
Ignorando a sua cordialidade, questinou:
— Que faz aqui?!
Receoso em falar que estava frequentando a Coffe Library às escondidas,
implicou:
— Eu que te pergunto!
Sentindo-se segura para falar o seu objetivo, afirmou:
— Estava indo para a casa de Ashley...
Controlando as risadas, satirizou:
— À pé?
Envergonhando-se com a sua cara de debochado, mentiu:
— Estava querendo caminhar um pouco também...
Intrigado, ironizou:
— No horário de serviço?
Enfurecendo-se, enfrentou-o:
— Isso não é dá sua conta!!
Percebendo que o seu incômodo, sorridente, foi direto ao ponto:
— Também estou indo para lá... Quer uma carona?
Olhando para a moto robusta dele, amedrontou-se diante de sua fobia
gaguejando:
— Eu não sei se é... uma boa ideia...
Dirigindo em uma velocidade abaixa do seu costume, a fim de manter Melanie
tranquila e segura, sentia seu abdômen sendo destroçado por uma força incrível, bem
como o restante do corpo de Melanie grudado em suas costas. Porém, não achava tão
ruim assim...
Condolente, brincou:
— Já estamos quase chegando.
Trêmula, captando a ironia, obsteve-se de rebater devido ao seu medo e
exclamou:
— Agora que estamos passando pela Ponte!
Reflexivo sobre a vontade de sua ida na casa de Sophia, suspeitava que
estivesse preocupada com a mesma coisa que ele: Será mesmo que Ashley não estava
sendo ameaçada à dizer sobre o retorno da normalidade, ou seja, em relação aos
abusos sexuais que Sophia sofria pelo seu pai terem cessados?
Enquanto isso, Melanie pensava que Henry estaria indo também a fim de
averiguar se ela encontrava-se bem quanto aos ocorridos bárbaros com os quais
lidava, envolvendo estupro e tentativa de autoextermínio — tendo em vista que nunca
atendia um telefonema.
Ao passo que Melanie batia na porta, Henry analisava a exterioridade,
almejando encontrar algum modo frágil para invadir a casa e achar pistas que
comprovassem algo que contradizesse a sua tia — embora não fosse sua especializada,
queria ter certeza absoluta.
Frustada, disse o óbvio:
— Parece que não tem ninguém...
Andando de um lado para o outto, afirmou:
— Eles estão viajando.
Indignada, exclamou:
— Por que não me disse antes?!
Sereno, retrucou:
— Pensava que sabia.
Reflexiva, ironizou:
— Além dela faltar no trabalho por não estar bem também foi viajar?
Incompreendido, questionou:
— Como assim?
Estranhando, revidou:
— Pensei que sabia também...
Intrigado, afirmou:
— Só sei que tem uma coisa muito estranha acontecendo.
Perplexa, zombou:
— Eu não sabia!
Sorridente, convidou-a para sua investigação:
— Quer tentar entrar para descobrirmos alguma pista?
Ao passo que Henry tentava destrancar a porta com o grampo de cabelo de
Melanie, ela vigiava para que ninguém o visse. No entanto, entendiava-se com a
demora e com a inação de pessoas e veículos.
Quebrando-o o terceiro, pediu outro:
— O grampo quebrou. Tem outro?
Debochada, visto que o cabelo dele era tão grande quanto o dela, ironizou:
— Por que não usa os seus?!
Defrontando-a, exclamou:
— Eu só uso rabicó!
Esforçando-se, não compreendia o porquê não abrir, visto que estava seguindo à
risca os passos, como nos filmes policiais. Ou pelo menos imaginava que seguia...
ou que funcionasse na vida real...
Cansada de esperar, satirizou:
— Você sabe o que está fazendo?!
Sarcástico, contrapôs-se:
— Sei o que estou tentando fazer...
Enfurecendo-se, manteve-se calada, fingindo que nada estivesse acontecendo...
Entretanto, ao ouvir gritos e a porta da casa ao lado sendo aberta, aconselhou que
parasse.
Perto da moto, conversavam como dois cidadãos comuns e inocentes, enquanto
presenciaram um policial arrastava um idoso algemado, o mesmo que Henry suspeitava
de ter esquartejado um cachorro há três dias.
Debatendo-se, afirmava com convicção:
— Eu já disse que não fui eu! Eu nunca faria essa barbaridade!! Nem cachorro eu
tenho!!!
Irado por estar com os ouvidos doendo devido aos berros, exclamou gritando:
— Diga isso na delegacia!!!
Gentil, retornou o cumprimento que o policial tinha dado. Melanie, escondendo-
se atrás de Henry, passava as mãos em suas mechas a fim que aquela situação
constrangedora passasse depressa. Contudo, estranhando, virou-se e cochichando,
reprovou seu péssimo fingimento.
Percebendo-a, o policial, surpreso, cumprimentou-a:
— Olá, filha! O que faz aqui?
Esbravejada pela atitude de Henry, embora tenha pedido para que ficasse
parado, logo transformou-se em uma pessoa tímida. Com o rosto vermelho como um
pimentão, virou uma estátua.
Notando o seu constrangimento, brincou:
— Ele é o seu namorado?
Gaguejando, negou:
— Não!
Impressionado com o vínculo próximo entre ambos, disse arrependido:
— Sério? Parece...
Sentindo vergonha alheia, apresentou-se para pai dela com gentileza:
— Prazer em finalmente conhecê-lo! Meu nome é Jhon!! Estou namorando Melanie faz
pouco tempo!
Contente pela sua educação e proatividade, reciprocou:
— Meu nome é Jhony! O prazer é todo meu!
Pegando na mão de Melanie, exolicou o motivo de estarem ali:
— Sou daqui de Sausalito. Moro aqui perto... estava passando com Melanie antes de
levá-la para o trabalho! Pode ficar despreocupado!!
Impressionado pela sua decência e responsabilidade, bem como outros fatores,
disse:
— É impressionante... Sou daqui, mas minha filha nunca gostou. Tanto que preferiu
se mudar para São Francisco. Meus parabéns por ter convencido ela!!
Recuperando a confiança, Melanie trocou de assunto:
— Cadê a sua viatura?
Rindo, acariciando a barriga, explicou:
— Como o departamento não é tão longe, decidi andar um pouco para queimar uma
gordurinha!
O idoso, pondo-se a reclamar da injustiça que estava sofrendo, satirizava a
reunião de família. Porém, sacudindo as algemas, machucando os pulsos do detento,
conseguiu aquietá-lo.
Bravo com a sua desobediência, exclamou:
— O senhor tem sorte de eu não ser o Coronel Charles! Agora vamos!
Após despedir-se de Henry, cochichou com Melanie, ao passo que olhava
alucinado para elegante moto:
— Este sujeito foi o melhor que você arranjou até hoje. Não disperdice esta chance!
Enquanto ambos observavam Jhony tendo dificuldades para levá-lo, morriam de
tanto rir com as cenas hilárias, semelhantes às de um filme de comédia.
Esfregando os olhos, elogiou-o:
— Meu pai gostou você!
Com a mão sobre a barriga, enalteceu a comicidade de Jhony:
— E eu dele!
Visualizando-o de baixo para cima, provocou-o:
— Por que disse que namorávamos?
Ocultando sua real intenção, fingiu-se de bobo:
— Não sei... na hora não pensei em nada melhor.
Parados, olhando um para o outro, Melanie, querendo impedir que Henry se
aproximasse, falhou em resistir ao seu desejo mais profundo. Sentindo seus lábios
serem tocados, entregou-se...
Brava, avisou:
— Isso nunca aconteceu, tá bom?
Fingindo serenidade, brincou:
— O que acontece em Sausalito fica em Sausalito!
Batendo em suas costas, danou com um tom de brincadeira:
— Para!
Sério, finalizou a operação:
— Acho nós dois estamos paranóicos com isso tudo... Melhor deixarmos quieto.
Cabisbaixa, assentiu:
— É verdade...
Montando na moto, emprestou o seu capacete para Melanie e, aguardando os
braços dela envolverem-no, observava a casa de Sophia. Ao passo que desejava o bem-
estar de sua prima e de seus tios, percebeu a cortina balançando-se duas vezes, mas
relevou crendo que fosse mais uma armadilha de sua mente.
Sentindo-os, ligou a moto e levou-a de volta para a Coffe Library. Em seguida,
retornou para a locadora de filmes e videogames, a fim de não ter seu salário
descontado.

Capítulo 83 -

Com a boca aberta, pronta para receber a refeição matinal, abocanhou a colher
que vinha como aviãozinho, ou melhor, avião a jato, mastigou e cuspiu o bolo
alimentar no rosto de Harrison. Rindo de sua expressão séria, continuava à cuspir,
realçando a beleza escultural de seu rosto.
Debatendo-se de tanto rir, foi agredida com um tapa em seu rosto, cessando as
risadas, no qual já havia sinais roxos de agressão. Limpando o rosto com um pano,
assentou-se e acalmou-se...
Complacente, repetiu:
— Já disse que estou fazendo isso para ajudar você e o Jhon! Tudo bem não querer
atender aos telefonemas, mas preciso que coma!
Furiosa, gritou:
— Ajudar?! Você é a pior pessoa que conheço!
Sereno, ignorou:
— Tudo o que aconteceu e está acontecendo faz parte do processo.
Tentando desprender os pulsos, indagou:
— Do que está falando?!
Intrigado com a burrice dela de gastar energia sem precisão, mentiu acerca de
quem se referia:
— Da recuperação do Jhon.
Desistindo, enfrentou-o:
— Vou matar você e o seu irmão se algo acontecer com Sophia!!!
Rindo, tapou sua boca com fita adesiva e ironizou:
— Pela desobediência, ficará sem comer até a noite. E permaneça quieta!
Curiosa para saber o que havia sobre a cama, tendo em vista que sempre quando
Harrison aparecia e ia embora, passava naquela região para fazer algo que não
sabia. Porém, via-o abaixar. Devido estar amarrada no chão, não era possível
visualizar, mas conseguia ver potes grandes, dos quais eram um tanto estranhos,
postos no chão, ao lado da cabeceira.
Ao passo que saía, levando o prato e o pano sujo, cantava Yestarday, dos
Beatles. Contudo, em decorrência dos gemidos que Ashley emitia, já na escadaria,
retornou e chutou-a na região de sua barriga.
Encantando-se com a volta do silêncio, retornou à cantarolar...

Capítulo 84 - Alívios

Agitado, andando de um lado para outro dentro do quarto, refletia no porquê de


Henry, acompanhada de uma garota desconhecida, de mesma idade, terem aparecido, os
quais avistou pela janela, em decorrência da gritaria que o preocupava. Entretanto,
seus raciocínios interrompiam-se e tornavam-se infundados por uma cefaléia.
Ofegante e suando, tremia devido a abstinência de três dias sem usar heroína.
Olhando a gaveta, lutava contra o seu desejo atentador. Mas autossabotou-se
prometendo ser a última vez que iria para o paraíso.
Expulso do paraíso, acordava com a sensação de ter sido engolido por um
buraco negro. Sentando-se, sentia náuseas insuportáveis. Tentando controlar o
conteúdo gástrico que subia de seu estômago, perdeu a luta contra o seu corpo que
visava protegê-lo do inicío de uma overdose.
Após um longo período de espera deitado, recuperou-se. Durante esse tempo,
acreditava que iria morrer. No entanto, aliviava-se por ser um simples susto, como
também por estar anoitecendo.
Com sede, desceu e tomou bastante água. Olhando para o chão da cozinha,
notava vestígios de sangue do Lucke. Indiferente, adentrou no quarto de Sophia e
avisou-a que sairia e não sabia quando voltar, bem como para, em hipótese alguma,
não sair de casa. Além de que, caso sentisse fome, afirmou haver comida na
geladeira.
Sem respondê-lo, ou ao menos virar-se para trás a fim de vê-lo, continuou
focada em um de seus passatempos prediletos: escrever poemas, os quais escrevia
segundo seus sentimentos. Ao passo que espelhava-se em uma maneira de aliviar a dor
empregada pela sua mãe, pois somente expurgar as emoções ruins por meio de um lápis
e um papel não resolvia, na verdade, só piorava.
Utilizava a lâmina do apontador de lápis, mediante o qual, ao cortar sua
pele, coloria o poema de vermelho.

Chova, chova

Chova, chova para lavar o que há de pior em mim.


Chova, chova para apagar todas as minhas memórias passadas.
Chova, chova para preencher a minha alma vazia.
Chova, chova para refrescar minha mente superaquecida. Chova, chova para eu
esquecer de mim.
Chova, chova para limpar os meus olhos sujos.
Chova, chova para me acalmar.
Chova, chova para abafar as minhas vozes interiores.
Chova, chova para o choro não aparecer.
Chova, chova para eu dormir em paz.
Chova, chova para eu realmente descansar.
Chova, chova para os meus erros não voltarem.
Chova, chova para me apagar por completo.
Chova, chova para tudo não se repetir novamente.

Visando buscar o carro, dava a volta no quarteirão depressa, pois caía um pé


d'água. Paranóico, olhava para todos os lados a fim de ter certeza que ninguém que
reconheceria-a. Dirigindo, pensava onde a garota desconhecida — Melanie — moraria,
haja vista que detinha certeza que ela havia o visto. Avistando um olheirão, teve
um ideia.
Conversando com Harrison, questionava-o sobre de quem tratava-se e como
conseguiria encontrar a rua em que morava. Em poucas palavras, visto que teve-a
como sua aluna, deu-lhe o endereço a partir da consulta de um caderno antigo no
qual possuía todas os dados de seus ex-alunos.
Confiante, ao passo que dirigia, repetia a informação dada, para não
esquecer-se durante o caminho, até encontrar o lugar correto.
À uma certa distância, esperava alguém aparecer... Sonolento, alertou-se com
um barulho de um ronco estrondoso de uma automóvel. Avistou uma moça descendo da
moto indo correndo em direção a casa. Enquanto isso, o rapaz parecia ser Henry —
devido ao cabelo característico. Em pouco tempo, retornou com outra mulher, da qual
cria ser a mãe.
Transformando os olhos em binóculos, estranhava o contágio dos três agrupados,
principalmente em relação àquela que acreditava ser a suspeita — a manceba.
Irritando-se com a demora, houve um momento em que despediram-se e o seu
sobrinho, junto a jovem, partiram. Impressionado com a velocidade, demorou para
ligar o veículo. Quase perdendo-o de vista, alcançou-o e, mantendo uma distância
segura, seguia-os.

Capítulo 85 - Lua Nova

Agarrada com o Henry, apoiava o queixo sobre o seu ombro esquerdo conversando
com ele sobre vários assuntos, dos mais sérios até os mais superficiais. Todavia,
sentia-se segura por estar na moto, na verdade, estava adorando aquele momento.
Contente, exclamou:
— Minha mãe adorou você!
Rindo, exclamou:
— Gostei muito dela também!
Empolgada, indagou:
— Quando vai me apresentar para os seus pais?
Incomodado, afirmou:
— Meu pai é muito reservado. Não gosta de conversar com as pessoas.
Frustada, mas com esperança, indagou:
— E a sua mãe??
Cabisbaixo, preferiu mentir para não entristecê-la:
— Ela vai te amar...
Descontraída, ironizou:
— Já sei quem você puxou!!
Embora o momento fosse de descontração, na qual Melanie estava alegre, no
fundo, Henry sentia um vazio por nunca ter conhecido sua mãe, bem como culpa, por
tê-la, segundo sua perspectiva, assassinado-a durante o parto. A única recordação
que possuía era um retrato, em que ela encontrava-se sorrindo, ao lado de seu pai,
do qual parecia ser outra pessoa: pelo sorriso e olhar contagiantes.
Durante o restante da viagem, refletia sobre como Harrison era. Imaginava-o
como uma pessoa alegre e de bem com a vida, porém, após o seu nascimento em
detrimento da fatídica morte de Julia, cria que ele havia escolhido fechar-se para
dentro de si mesmo, sendo a melhor forma que tinha encontrado para superar a perda.
Desse modo, também acreditava ser um peso difícil para seu pai carregar.
Ao passo que Melanie perguntasse sobre diversas coisas, embora respondesse,
situava-se distante e perto ao mesmo tempo, como a Lua — na qual encontrava-se na
fase nova — em comparação, respectivamente, com os demais astros e com a
acessibilidade humana.

Capítulo 86 - Coragem / Circunstâncias

Entediado, via os dois parados, em frente a casa de Melanie, conversando e


beijando-se... Enfim, conforme o clichê de um namoro juvenil. Ansioso, cheirava uma
calcinha, enquanto ouvia músicas no rádio para distrair-se.
Temendo que Henry fosse dormir na casa dela, haja vista que demorava para ir
embora, avistou-o subindo na moto, ao passo que ela corria para dentro. Intrigado,
achava que haviam discutido. No entanto, ria, pensando que seu sobrinho era
inocente ou burro demais para não aproveitar a última oportunidade.
Cauteloso, averiguava como entraria na casa, pois era compacta. Cansado de
quebrar a cabeça, decidiu testar a possibilidade menos óbvio possível: verificar se
a porta encontrava-se destrancada. Abaixando a maçaneta, surpreendeu-se por
resolver a incógnita com tanta facilidade.
Sentado no sofá, observava os detalhes do ambiente. Notando que Melanie
estava banhando-se, em decorrência de escutar a água caindo, refletia sobre o som
diferente perante ao que ouvia quando Sophia tomava banho.
No primeiro caso, o barulho assemelhava-se ao do café quente sendo despejado
na xícara, enquanto que, no segundo, à àgua fria em um copo. Por intermédio da
percepção sensorial, descobriu que Sophia banhava-se na temperatura fria. Pasmo,
refletia como alguém poderia se submeter à isso, ou melhor, gostar disso...
Assistindo a aventura de Melanie pela cozinha, em busca de algo para comer,
admirava-se com a sua formosura realçada pela vestimenta atrativa, apesar de achar
a mochila que carregava em suas costas degradante. Todavia, não no nível da veste
anterior que usava — uniforme de trabalho.
Correndo contra o tempo, achou uma maçã. Chegando na sala, ao dar a primeira
mordida, deparou-se com um homem estranho encarando-a com uma expressão facial
assombrosa. Sentia a presença do próprio diabo diante de seus olhos.
Paralisando-se, receosa, questinou:
— Quem é você?!
Sereno, começou à brincar:
— Tente se lembrar.
Pensativa, captou a indireta e frisou:
— Ah! Me lembrei!! O senhor é o dono da mercearia aqui perto de casa! Pode ficar
tranquilo que amanhã eu te pago tudo que devo! Desta vez eu juro!!!
Controlando a raiva, deu mais uma dica:
— Se lembre da manhã de hoje.
Fechando os olhos, transitou por todos os acontecimentos cronologicamente.
Porém, não consegui obter nenhuma conclusão. Abrindo-os, fixou-se em seu olhar
possessivo, assimilando com o que acreditava ter visto na janela da casa de Ashley,
mas que, por incerteza, bem como para não preocupá-lo atoa, não relatou para Henry.
Séria, enfrentou-o:
— Você é o... Jhon, certo? Marido da Ashley?
Furioso, gritou:
— Eu sou o JESSE!!!
Espantada pela grosseria, manteve a coragem:
— Não importa qual seja o seu nome. Onde está minha amiga?
Gargalhando, ironizou:
— Só Deus sabe!
Estarrecida, deu um passo para trás e questinou:
— Você a matou?!
Intensificando as risadas, Jesse deitou-se de tanto rir. Ao passo que Melanie
procurava algo para se defender ao seu redor. Apesar de não saber como se defender,
era preferível estar com uma arma branca do que nada. Segurando uma faca em não,
estremecia diante dele.
Gaguejando, indagou:
— Cadê a Sophia?
Controlando a sua exaltação, respirou fundo e, esfregando os olhos, afirmou:
— Não importa mais. Não para você...
Lacrimejando, ordenou:
— Vá embora daqui!!!
Sorridente, perguntou:
— Você me viu na janela, não foi?
Desviando o olhar, mentiu:
— Não!!
Sarcástico, decepcionou-se por sua conclusão eronêa e findou:
— Bom, de qualquer forma terei que fazer você dormir.
Engasgando, fingia-se de inocente:
— O que quer dizer com isso?!
Com dó de seu olhar, relembrando-se do último de Lucke, sentiu um pouco de dó:
— Eu deixo você escolher a forma...
Enquanto dramatizava e implorava para não ferí-la, ganhava tempo analisando a
sua distância em relação a porta de saída, dando olhadelas sutis.
Criando coragem para o momento adequado, correu como se fosse uma atleta
olímpica. Encostando na maçaneta, aliviava-se por saber que conseguiria escapar.
Todavia, no mesmo instante o desespero assolou-a...
Estático, cruzou as pernas e satirizou:
— Estava tentando se tornar minha amiga para fugir de mim? Que bom que aprendi algo
com Sophia: sempre trancar a porta!!
Aproximando-se, via-a sentada no chão, chorando, em uma posição semelhante a
que Sophia permanecia quando chateava-se, com a cabeça entre os joelhos, envoltos
pelos braços. Agachando-se, tentou acalmá-la acariando seus cabelos pretos.
Enojado, controlando os risos, quis sanar uma curiosidade:
— Vem cá, deixa eu te perguntar: você já transou com o esquisitão do Henry?
Notando que ele havia caído em sua encenação, escondia a faca por debaixo do
antebraço, segurando-na na ponta dos dedos, com a munheca encurvada. Reunindo o
ódio e o desprezo que sentia por ter feito coisas indescritíveis para com Ashley,
bem como tê-la matado-a, junto a Sophia, perfurou o peito, acertando na região do
coração.
Levantando-se, afastou... Aliviando-se por ter conseguido se safar, orgulhava-
se e satisfazia-se por vê-lo agonizar. Embora pudesse chamar uma ambulância, queria
se vingar por elas. Pensava que, ao ser um agente da justiça, como o seu pai,
estaria contribuindo para o bem da sociedade, além dele se orgulhar pela atitude
nobre — apesar de que, nesse contexto, era em legítima defesa.
Estranhando a demora para morrer, abismada, observou-o levantando dando
risadas. Em sua ótica, tratava-se de um fidedigno demônio da mitologia cristã.
Realizando o sinal da cruz com os dedos, temia-o:
— O que é você?!
Satírico, arrancou a camiseta e enalteceu-se:
— Eu sou o HOMEM DE FERRO!!!
Cansado de brincar, despiu as calças e a cueca, como também apanhou a faca
próxima ao seu lado. Permitindo que seus instintos, como cães raivosos presos em
cativeiros quando são soltos.
Orquestrou coisas piores em comparação com a somatização das empregadas
contra Ashley e Sophia. Em uma escala de desumanidade, os atos impostos em
detrimento da dignidade intrínseca à vida do próximo encontravam-se em um universo
intangível.
A ideia principal era ssilenciá-la por intermédio de um assassinato pacífico
e indolor, uma vez não podia confiar em outra pessoa além de Harrison. Contudo, as
circunstâncias obrigaram-no à tomar medidas mais drásticas, rompendo com os
conselhos de seu irmão.
Debaixo de uma chuva agoniante, cavava a cova, no quintal da casa, com uma
pá de jardim. Odiava-a, mas ao menos ajudava-o no processo...
Capítulo 87 - Pequena e Grande o Suficiente /

Completando seis dias de confinamento, sentia-se como se estivesse há anos


ali... Aparentava-se com um zumbi. Não comia e dormia direito, tampouco pensava.
Entretanto, sentindo uma corrente de ar fria da noite, olhou para de onde vinha e
avistou a janela do porão balançando.
Fixando o olhar, por algum motivo, lembrou-se de sua filha. Um caminhão de
sentimentos de angústia, preocupação, saudade e amor atropelava-a. Refletindo sobre
cada segundo perdido significava, sabia que aquela era sua única chance de escapar,
bem como para salvá-la. A cada batida estrondosa que a janela emitia, interpretava
que Sophia estava implorando, ou melhor, obrigando para que resgatasse-a.
Analisando o lugar, procurava por algo que pudesse cortar a corda que prendia
seus pulsos. Haja vista que encontrava-se sentada, não conseguia uma vista ampla.
Frustrada, chocou-se com a perna da mesa na qual situava-se presa, assustando-se,
pulou com o som metálico de algo caindo.
Virando a cabeça, abaixou-a e avistou o objeto. Esticando os dedos, tentava
alcancá-lo. Flexionando todo o corpo, acalçou-o com as unhas. Puxando-o, quebrou-as
pela força exercida. Perto de seu pé, arrastou-o de volta; com a bunda, levou-o
para as suas mãos.
Serrando a corda com a faca de cortar pão, dessamarrou-se. Apesar de ter
cortado um pouco a pele, devido a alta intensidade empregada, não percebeu e correu
para a pequena abertura, que era grande o suficiente para enxergar a realidade, da
qual demonstrava que não podia desistir dela mesma e de seu bem mais precioso.
Alegre, corria, corria e corria sem olhar para trás...

Capítulo 87 -

Em seu quarto, Henry estava deitado, fumando o último cigarro do maço do dia.
Seu estado deprimente devastava-o. Lamentava-se pelo dia seguinte completar uma
semana do desaparecimento de Melanie. Além disso, para piorar, o Jhony, em conjunto
com o Departamento de Polícia de Sausalito, suspeitava de sua contribuição para com
o sumiço.
Relembrava-se dos curtíssimos e bons momentos que teve com ela em somente um
único dia, tendo em vista que tinha passado o ensino fundamental inteiro como amigo
dela, sem ter coragem para declarar seus sentimentos e ser rejeitado. Entretanto,
remoía o motivo de não ter insistido mais em levá-la para a faculdade. Talvez nada
disso teria acontecido...
Resgatando os elementos paisagísticos que permeavam-no, transformando as
lembranças no presente, teve uma epifania ao recordar de um carro que acompanhava-
os no caminho para a casa de Melanie; como também quando, ao despedir-se, inseriu o
capacete e, olhando para o lado, avistou o mesmo veículo.
Dedilhando as cordas do violão, concentrava-se para reconhecê-lo, pois sua
aparência lhe era familiar. Contudo, somente aumentava as saudades que sentia de
Sophia, que retornaria amanhã.
Calmo, fez analogias estupendas acerca destes acontecimentos: o modo de fala
de Asheley na primeira ligação, as demais ligações não atendidas, o cachorro
esquartejado dentro do lixo do vizinho, as cortinas balançando e, matando a
charada, o automóvel idêntico ao de Jhon.

Capítulo 88 - Acaso

Escutando batidas intensas na porta da sala, parou de escrever seu diário e,


esperançosa de que sua mãe tivesse recebido o recado através de suas intenções,
correu para atender. Arrastando a cortina, avistou-a pela janela.
Sabendo que Jesse encontrava-se desacordado, subiu as escadas, adentrou no
quarto e pegou a chave.
Destrancando a prisão, chorando, agarrou-se em Ashley a fim de nunca mais
soltá-la. Sentindo os braços dela envolvendo-na.
Soluçando, magoada, perguntou:
— Por que a senhora me abandonou no carro?!
Chorando, redimiu-se:
— Eu nunca te abandonaria, minha Aurorinha!!! Me perdoe!
Olhando em seus olhos, sem entender, questionou com repugnância:
— Então por que não voltou? Queria que eu ficasse com aquele monstro??
Chateada, afirmou:
— Eu não voltei porque me prenderam...
Limpando o nariz com a camiseta, indiferente, afirmou:
— Eu também fiquei presa...
Olhando o interior da casa,, indagou em um tom de voz baixo:
— O Jess... quer dizer, aquele monstro, está aí?
Aliviada, afirmou:
— Sim, mas ele está dormindo. Toda vez que usa a seringa dorme o dia inteiro...
Sorridente, esfregou os olhos e indagou:
— Vamos ir embora daqui agora!? Que tal?!
Arregalando os olhos, perguntou:
— Para sempre???
Felizarda, exclamou:
— Para todo o sempre!!!
Sophia, entusiasmada, punha seus pertences mais importantes na mochila,
seguindo a instrução de sua mãe. Convicta sobre quais levar, selecionou os
seguintes objetos: desenhos, álbuns em CD, revistas em quadrinhos, livros, diários,
cadernos... Também queria levar o Willy, mas acreditava que deixá-lo seria melhor,
pois nem havia como. Contudo, passou um tempo brincando, deslizando o dedo sobre o
vidro, enquanto ele acompanhava, bem como desabafa-se.
Cabisbaixa, desabafou:
— Desculpa por não ter te dado muita atenção nesses últimos tempos. Sei que você
foi o único que viu tudo...
Respirando fundo, acalmava-se concentrando no barulho da água, e prometeu:
— Eu vou, mas eu volto!! Tá bom?!
Com o dedo encostado no aquário, próximo ao Willy, estando separados por uma
fina camada de acrílico, beijou-o e, desbruçando-se em lágrimas, despediu-se. Antes
de partir, permaneceu olhando para as estrelas. Ao passo que ela saía, seguiu-a até
o limite do seu habitat artificial.

Capítulo 89 - Freddy Krueger /

Aliviada por ter conseguido inserir os objetos pessoais que mais necessitava na
mala com cautela, mantendo Jesse desmaiado, apesar de parecer estar morto no chão,
Ashley descia as escadas pensando no único lugar que poderia ir: a casa de sua
amiga Melanie. Tinha certeza que ela, devido ao vínculo afetivo que possuíam,
entenderia a situação e receberia-as de braços abertos.
Na sala, esperando Sophia, enquanto olhava para a porta fechada da cozinha,
cogitando levar Lucke, todavia, reconhecia que, neste contexto, não havia como por
incontáveis motivos. Entretanto, voltaria para buscá-lo, assim que fosse viável.
Embora estivesse ansiosa pela demora, queria respeitar o momento de
despedida e desapego de sua filha para com o seu castelo. No entanto, incomodada
pela demora, ao abrir a boca para chamá-la, foi obstruída por uma mão.
Tentando desprender-se das garras de Jesse, pisou em seu pé, afastando-se.
Avistando-o, assombrava-se por estar parecendo um zumbi, com uma aparência tão
sucateada quanto a sua. Vendo-o balançar, assistiu-o cair para frente.
Sentindo uma dor dilacerante na região do abdômen, olhou para baixo e,
verificando com a mão, percebeu que havia levado um golpe com algo perfurante.
Fascinava-se com a quantidade de sangue jamais visto até então, bem como pelo
brilho encantador.
Como já estava fraca, caiu para trás. Fechando os olhos, sorria pelo pesadelo
ter acabado, ou seja, que Sophia viveria em paz sem a presença de um Freddy
Krueger¹ em sua vida, que arrancaria a sua vontade de viver, de pouco em pouco,
todos os dias, da forma mais imunda possível com os dedos que, ao encostarem na
pele, cortavam como lâminas.

Capítulo 90 - Não Importa Quem Seja

Abrindo a porta, deparou-se com Jesse em cima de sua mãe, da qual situava-se
inerte, suja de sangue, ambos sem roupas, realizando os atos nefastos que já
conhecia. Pasma e trêmula, ao passo que ouvia-o gemer, dirigiu-se para a cozinha.
Abriu a gaveta e procurou por uma faca, escolhendo a primeira que veio em suas
mãos, apanhou a de cortar pão.
Voltando, olhava para seus olhos vazios, sedentos por alguma resposta...
Enquanto ele arrastava-se, parecia ser outro alguém que não conhecia. Choramingava
e dizia sobre assuntos desconexos. Porém, mantinha-se tremendo e calada.
Angustiado, arrependeu-se:
— Por favor, me perdoe, filha!! Esse não era eu!!
Gaguejando, explicou:
— Eu voltei! Eu sou Jhon, seu pai!! Por favor acredite em mim!!!
Batendo em sua sua própria cabeça, prosseguiu:
— Todas as coisas ruins que fiz não estavam sobre meu controle!! Outra pessoa que
estava dentro da minha mente que se chamava Jesse!!!
Convicto, prometeu:
— Ele foi embora!! Nunca mais voltará!!! Eu prometo!!!
Puxando o cabelo, soluçou:
— Sinto muito por você, pelo Lucke e pela sua mãe!!!
De olhos fechados, juntou as mãos, estando debruçado no chão, ergueu-as pediu o
perdão:
— Você me perdoa!?
Indiferente quanto a dramatização, composta por poréns e choradeira, agachou-
se. Tomada pelo ódio, raiva e vingança, esfaqueava-o várias vezes no pescoço com
uma brutalidade imensurável. Escutavando berros de dor, continuava aumentando a
intensidade. Não importava-se de quem tratava-se, tanto Jhon quanto Jesse, queria
apagar aquele rosto de suas memórias.
Embora já estivesse morto, não cessava... Cansada, teve consciência do que
acabava de ter feito observando o seu corpo enxarcado de sangue, como também a
superfície, afastando-se com medo. Colocando a mão na cabeça, com ela entre os
joelhos, chorava limpando a sua alma do que guardava há um bom tempo.
Sentia que tinha perdido tudo, as boas e as ruins. A história de sua vida
transcodria como um filme de drama em sua cabeça, no qual havia um final triste.
Pela primeira vez não conseguia ver sentido algum em sua vida. O completo
vazia reinava, entretanto, sua vontade de compensar uma dor física visando aliviar
a emocional, mediante cortes, inexistia em decorrência de estar impotente para tal
fim. Pensava em fazer algo como Dener e Maya, a fim de juntar-se a Sofua, Lucke e
sua mãe. Coragem não faltava, mas o seu desejo de permanecer deitada ali, de olhos
fechados, gritava mais alto.

Capítulo 91 - Frio

Sentindo algo frio envolvendo-a e carregando-a, acreditava que a sua intenção


de ir para o céu estava surtindo efeito. Contudo, ao abrir os olhos, apesar de se
decepcionar pelos pensamentos autodestrutiva nunca funcionarem, alegrou-se ao
avistar Henry, do qual apresentava molhado pela chuva, com um semblante abatido.
Fraca para demonstrar um pouco a sua satisfação em vê-lo, cumprimentou seca:
— Oi.
Embora estivesse fraco, consolou-a:
— Sinto muito Sophia, juro que sinto mesmo...
Sorrindo, indagou:
— Eu ainda tenho você, não é mesmo Ry?
Enxugando as lágrimas, exclamou:
— É claro, So! Sempre terá!!
Curiosa, indagou:
— Você sabe sobre como tudo isso aconteceu?
Observando o arredor, escolheu mentir:
— Não, mas imagino...
Abraçando-o, indagou:
— Podemos ir finalmente embora para sempre agora?
Pondo-a no chão, afagou-a e explicou:
— Sim! Porém, preciso que você vá primeiro para a minha casa. Pode ser?
Chateada, questinou:
— Por que não pode vir junto comigo?
Coçando a cabeça, deu uma desculpa:
— Eu preciso limpar a bagunça, antes que a polícia chegue.
Visualizando a vermelhidão, fixou-se em Ashley e disse com pesar:
— Vai demorar um pouco então... Cuide bem da mamãe, tá bom? Ela merece...
Resentido, sorriu e aceitou o pedido:
— Pode deixar, So!
Sorridente, agradeceu:
— Obrigada, Ry!
Antes de seguir a estrada, virou o corpo de Ashley, beijou-a e abraçou-a por
alguns instantes. Por fim, despediu-se soltando suas mãos.
Emocionado com a atitude nobre de Sophia, respeitou seu direito de dar o
último adeus àquela que deu-lhe o amor, o carinho e o conforto mais puros que uma
mãe poderia fornecer. Embora nunca soube o que isso significava; além da cena de
crime estar sendo alterada.
Tendo como referência o cinema, pegou ambas facas e emoregnou-as com suas
impressões digitais, como também os cadáveres e, por fim, banhou-se de sangue.
Reconhecia que não era a conduta ideal a se seguir, no entanto, não queria que sua
prima fosse declarada como a autora nem de uma parte sequer do crime e colhesse as
consequências futuras.
Ao passo que reformulava o contexto para que tornasse claro o seu
envolvimento, formulava como se confessaria para a polícia.
Ligando para o número de emergência (9-1-1), por meio do telefone
residencial, confessou que tinha cometido crimes bárbaros envolvendo homicídio e
necrofilia com um casal, acentuando os detalhes. No fim, informou o endereço de
onde ocorreram.

Capítulo 92 - Mudanças

Em frente ao espelho do banheiro, Sophia preparava-se para ir à escola.


Ajeitava seu cabelo emo, pintado de preto; colocava as lentes de contato, sem grau,
com a coloração castanha escura, quase preta; passava uma base a fim de ocultar as
olheiras; passava um lápis preto ao redor dos olhos; passava um batom preto...
Fazia frio, a despeito de não sentir, gostava de usar uma blusa de moletom
por sentir-se mais à vontade. Tendo em vista que a base não escondia direito as
cicatrizes em seu antebraço direito.
Preferia ir a pé do que de carro. A distância era significativa, portanto
sempre saía mais cedo. Apesar de estar acostumada com o trajeto, não era tão
entediante porque escutava música em seu walkman. Como de costume, também evitava
de transitar pela sua antiga rua na qual morava.
Comendo o sanduíche, que Harrison havia comprado, apreciava o álbum
Nevermind, do Nirvana, do qual encontrou no quarto de Henry há três anos — que
agora é seu, junto com os demais objetos dele que ali situavam-se após ser preso.
As pessoas, quando viam-na, impressionavam com seu estilo visual, do qual era
anormal. Percebia que alguns achavam engraçado e outros desprezavam. No entanto, no
fim das contas, não importava-se. Isso ocorria principalmente na escola, ainda mais
quando se retornava das férias, como era o caso.
Atravessava os parques, a Ponte Golden Gate e as praias com indiferença,
como se não existissem, ou pelo menos não tivessem o mesmo significado como no
passado. Concentrava-se, se contagiando, somente na música Smells Like Teen Spirit
emitida dos fones para seus ouvidos.

Capítulo 93 - Me Deixe em Paz /

Em um canto reservado na escola, sentada na grama e escorada em uma árvore,


abrigando-se do sol, imaginava como seria a vista à noite. Inspirada, ao passo que
escutava Stay Away, escrevia um poema lembrando-se de pessoas queridas que
partiram. (Aqui vai ter a música)
Colocando o ponto final, presentiu alguém aproximando e fechou o caderno.
Fingia não estar fazendo nada, somente escutando música de olhos fechados. A
despeito de as últimas faixas: On a Plain e Something in The Way terem terminado, e
já se passado dez minutos, a faixa oculta aterrorizante, Endless, Nameless,
começava à tocar na ocasião menos inapropriada, acentuando sua tensão.
Perto, Douglas cumprimentou:
— Oi, esquisita!
Embora estivesse com os fones de ouvidos, escutou-o, como também as risadas ao
fundo, de seus amigos, e optou por ignorá-lo. Sentindo cutucadas em seu antebraço
automutilado, segurou-se para não movê-lo por causa da dor, evitando estragar o seu
disfarce de estar dormindo.
Aflita, presenciando seus fones sendo retirados, ouviu-o dizer:
— Além de vir para a escola de blusa de frio em um calor desses, ouve uma música
horrível!
O segundo menino, complementou:
— O pior não é nem isso, ela usa tanto preto que um dia vai se tornar um!
O terceiro concluiu:
— Ou seja, é burra e feia!!
Indiferente quanto aos insultos e risos, reagiu, com aperto no coração, quando
Douglas retirou o caderno de seu colo e e começou à folheá-lo.
Levantando-se, ordenou:
— Por favor, me devolve!!!
Surpreso, ironizou:
— Parece que a Fera acordou!
Mobilizada pelos dois garotos, impedindo-a que fosse para cima de Douglas, ele
folheou até a última folha, em que havia algo efeito, e recitou com sarcasmo:

Lembranças

Eu quero me debruçar de uma vez na grama


molhada,
Olhar para o céu e conversar com as invisíveis
nuvens,
Ouvir o silêncio ao meu redor e apagar todas as
imagens
Da minha mente que se encontra um pouco
perturbada;
Apontar o dedo para a Lua e medir a sua
distância,
Juntamente com as estrelas, que estão em
abundância;
Fechar os meus olhos e me lembrar dos seus
sorrisos,
E rir com as brincadeiras e brigas que juntos
tivemos.

Finalizando, sem compreender uma palavra se quer, caçoou:


— Você ainda continua fazendo esses textinhos? Parece que não cresce mesmo.
Enquanto riam, assistia-o amassar a folha e jogá-la na lixeira, junto ao
caderno. Inserindo a mão em seu bolso, roubou o seu walkman, porém, retirou a fita
cassete que estava presente fora, e, ao seu mando, jogaram-na no chão.
Essa foi a melhor parte, visto que livrava-se dos toques, dos quais, sejam
por qualquer pessoa, em qualquer lugar e por qualquer razão, temia-os.
Douglas, quebrando com o pé um de seus álbuns preferidos, frente aos seus
olhos, despediu-se:
— Bem vinda a volta às aula, esquisita!!!
Ao passo que iam embora gargalhando, sentia-se do mesmo jeito que seus
pertences, ou melhor, amigos, foram tratados, principalmente o poema. Como algo que
é usado a princípio para diversão, mas que no final é descartado por não ter mais
utilidade. Ou seja, lixo, desprovido de valor sentimental, do qual tinha pela suas
únicas companhias do dia-a-dia.
Na lixeira configurada como a de matéria orgânica, apanhou seu caderno e o
papel. Desamassando-o, torcendo para que não estivesse perdido os sentimentos
retratados, aliviou-se por estar legível. Entretanto, averiguando a fita, percebeu
que estava destruída. Ressentida, juntou os pedaços e atirou-os no lixo de
destinado ao plástico com pesar, sabendo que não poderia comprar outro — na
verdade, nem sabia ao menos onde procurar.
Assustando-se com as folhas da árvore se mexendo, gelou-se por achar que
alguém poderia estar observando-a fuçar o lixo.
Tocando o sinal, guiou-se para sua respectiva sala e, sem sua intenção,
iniciou-se a chuva que, para a previsão do tempo, a probabilidade era quase
inexistente.

Capítulo 94 - A Força É Superior ao Mérito

No final da aula, Sophia dirigiu-se para a diretoria, onde quis relatar a


primeira sessão de bullying do ano. Entretanto, prezava mais pelo bem-estar de seus
objetos pessoais em detrimento de si mesma.
Sentando-se na cadeira, foi direta:
— Diretora Louise, o Douglas e os seus amigos me provocaram.
Séria, desconcentrou-se de papeladas confidenciais antigas, guardando-as e
indagou:
— Poderia saber o motivo?
Reflexiva, com incertezas, afirmou:
— Acho que por causa da minha aparência.
Intrigada pelo seu estilo peculiar, perguntou:
— Sophia, como você acha que fiquei assim?
Observando a sua feiúra aterroriante, fingiu não entender:
— Não sei do que a senhora está falando...
Batendo a mão na mesa, aproximou-se e, intimidando-a — temendo que alguém
estivesse escutando —, revelou:
— Eu me sujeitei à experimentos da CIA envolvendo imortalidade! Por que acha que
aparento ser tão velha assim?
Em dúvida sobre qual das três inauditas revelações mais impressionava-a,
gaguejou visando afastá-la:
— Ah! Nossa! Eu não sabia disso!
Paranóica, olhando para os lados, procurado põe algo escondido, discursou:
— Eu consegui chegar no cargo de diretora em pouco tempo pela força em se adaptar
ao sistema! Tudo faz parte do processo de merecimento!! Eles me traíram, como
fizeram com meu pai! Juro que voltarei e me vingarei!!! Nesta escola criamos
pessoas fortes. Sabe o que quero dizer?!
Receosa, desviou o olhar e negou:
— Não...
Enaltecendo-se, arregalou os olhos, bateu na mesa e gritou:
— O MAIS FORTE É QUEM GANHA!!!
Lembrando-se de Maquiavel, alfinetou:
— Seja por meio de qualquer forma?
Irada, citou a famigerada frase:
— OS FINS JUSTIFICAM OS MEIOS!!!
Sabendo que iria falar isso, agradeceu pelos conselhos e despediu-se, sem
adentrar na questão de invasão de propriedade privada, injúria, agressão física,
destruição de bens materiais e roubo. Tendo em vista que, como sempre, daria alguma
lição de moral para acobertar os filhos dos pais ricos que sustentam a escola mal
dirigida por uma louca.
Refletindo, questionava-se consigo mesmo como Louise era tão forte — e
inteligente — assim para sair da Agência Central de Inteligência (CIA) e parar em
uma simples escola particular de São Francisco, na qual atuava como uma péssima
professora de Matemática e, agora, no cargo da direção, era o maior desastre já
visto na história da educação dos EUA desde 4 de julho de 1776.
Pensava em como sua mãe seria boa trabalhando nisso... Contudo, somente
mérito e inteligência não bastaram.
Entretanto, as únicas certezas que possuía era que as experiências foram mal-
sucedidas, visto que a sua aparência acentuava a degradação a cada vez que a via, e
que não conseguia guardar segredos.
Tão forte e tão incompetente...
Capítulo 95 - Coincidência / Reencontro

Um menino, adentrando no cemitério de Sausalito, escutava a faixa Cemetery


Gates, do álbum The Queen is Dead, do The Smiths, em seu walkman. Haja vista que a
cidade era minúscula, a quantidade de lápides era pequena, achando logo a de seus
pais.
Sentado na grama, dando uma olhadela ao arredor, percebeu que não havia
ninguém. Entretanto, tendo a ligeira impressão de ver um vulto, observou com calma
e percebeu que havia uma menina, revestida por preto, a alguns metros de distância,
da qual tinha avistado na escola. Intrigado, dirigiu-se a ela.
Assentando-se ao seu lado, sorridente, cumprimentou-a estendendo a mão:
— Olá! Meu nome é Luke! Qual é o seu?
Ignorando o cumprimento, mentiu:
— Aurora.
Notando que ela estava escrevendo poemas, afirmou:
— Eu também escrevo, às vezes...
Surpresa por conhecer outra pessoa que escrevia, ainda mais de idade parecida,
fingiu dessinteresse:
— Legal...
Curioso, perguntou:
— Posso ver o que está escrevendo?
No mesmo instante, fechou o caderno e negou demonstrando braveza:
— Não!
Impressionado com a mudança repentina de humor, respeitou sua privacidade:
— Tudo bem... Desculpa.
Afastando-se, visando deixá-la a vontade para continuar escrevendo, lia os
nomes das lápides que situavam-se frente a Sophia. Uma havia o nome de "Ashley
Watson" e a outra "Jhon Watson". Por algum motivo, percebia que ela estava voltada
para a primeira.
Visando ter certeza se eram seus pais ou avós, indagou:
— Última pergunta, qual seu sobrenome?
Indiferente, sem pensar, afirmou:
— Watson.
Naquele momento, recordava-se de uma garota, com o sobrenome idêntico, da
qual gostava, quando estava no quinto ano. No entanto, o primeiro nome, como também
o estilo, não corroboravam com a qual conhecia.
Enquanto Aurora saía, continuava a tentar se recordar do rosto de Sophia, a
amiga de uma amiga falecida sua, de mesmo nome. Lembrando-se de algo que deveria
entregar, seguia-a.
Vendo-a parar no meio do caminho, de repente, e se virar para uma lápide,
estranhou. Com cautela, aproximava-se. Lendo-a, surpreendeu-se com quem estava
enterrado ali, sua amiga: Sofia Brown, ao lado de seus pais: Dener e Maya.
Comovido, questinou:
— Conhecia a Sofia?
Notando a tristeza de Luke em sua voz, confirmou:
— Sim...
Complacente, haja vista que nunca tinha visitado seu túmulo, retirou uma rosa
amarela de outro denominado "Melanie", do qual havia muitas, e colocou-a sobre ele,
realizando uma homenagem. Em respeito, ajoelhou, pôs a mão no peito e manteve os
olhos fechados, enquanto, em pensamentos, pedia desculpas por nunca tê-la visitado,
agradecia por sua boa companhia amiga na Terra e desejava que estivesse em um bom
lugar.
Perplexa, Aurora indagou:
— Você também era amiga dela?
Percebendo que Luke encontrava-se concentrado em suas preces, sem falar nada,
apenas visualizou-o assentindo com a cabeça. Ao passo que assistia-o, assimilava os
fatos e lembrava-se de um garoto do qual ela gostava, bem como a Sofia. Contudo,
este em sua frente, apesar de possuir tal nome e ter tido a mesma amizade em comum,
intrigava-se com alteração no visual, em que o cabelo estava maior e ondulado.
Tímida que a reconhecesse, embora sua aparência estivesse impossível de ser
reconhecida, em comparação com a dele, começou a andar.
Finalizando sua cerimônia de agradecimento, levantou-se e, avistando-a no
portão, correu atrás dela.
Sorridente e ofegante, mandou uma indireta:
— Ei, você gosta de Nirvana?
Com o rosto vermelho de vergonha, questinou:
— Como sabe disso?
Retirando de sua mochila a fita cassete restaurada, na qual tinha as faixas do
álbum Nevermind, entregou-a exclamando:
— Eu consertei para você!
Espantada, pegou-o tremendo e gaguejou:
— Como consertou isso?? Quer dizer, como sabe que é meu?!
Envergonhado pelo contexto, explicou:
— Eu estava em cima de uma árvore quando vi alguns meninos te importunarem. Queria
ter te ajudado, mas o meu medo de altura me impossibilitou...
Envergonhada, sem prestar atenção em uma única palavra se quer, agradeceu e
saiu correndo:
— Obrigada...
Encucado se havia feito ou falado algo de errado, viu-a, com a visão ofuscada
pelo radiante pôr-do-sol, longe... Encantado com a personalidade de Aurora,
caminhou, indo para o outro lado, rumo a sua casa, sem escutar nenhuma música.

Capítulo 96 - Por Pouco

Cansando-se de correr, cessou e, pondo a mochila no chão, retirou a blusa que


esquentava como um forno. Respirando diversas vezes para recuperar o fôlego, notou
que estava no pior lugar que poderia estar: a rua na qual morava.
Andando pela calçada que não situava a sua antiga casa, bem como a se Sofia,
seguia como um robô, sem olhar para o lado direito. Assustando-se com latidos
repentinos, advindos da esquerda, olhou.
Contente por ver Toby, aproximou-se da cerca, da qual estava tentando pular.
Afagando-o, observava a sua magreza e seus sinais de maltrato, como também a dor em
seu olhar.
Alegre, cumprimentou:
— Quanto tempo, amigão!!!
Comovida pelo seu desespero de sair dali, garantiu:
— Eu vou te tirar daí!
Certificando-se se o dono não estava por perto e demais pessoas, averiguou a
frente e atrás, e, criando coragem, forçou-se a verificar o outro lado. Tendo
certeza que não havia ninguém por perto, apanhou e enrolou em sua blusa,
prosseguindo com a corrida.
Adentrando em sua casa, acobertou-o e levou para o seu quarto, pondo-o na
cama. Percorrendo-a, verificou que seu tio não havia chegado. Procurando algum
alimento que pudesse sanar a fome de ambos, pegou o cereal e o pôs em duas tigelas,
nas quais encheu de leite.
Comendo, satisfazia-se ao vê-lo comer como leão, em miniatura. Acreditava que
fazia dias que não comia, tendo em vista que queria mais. Com dó, repetiu a porção.
Acariciando-o enquanto ele saboreava, pensava em qual lugar poderia escondê-lo sem
que Harrison avistasse-o.
A única opção plausível era o porão, pois nunca o viu ir lá embaixo. Aliás,
nem conhecia lugar, visto que encontrava-se sempre trancado.
Buscando a chave no quarto dele, onde sentia uma energia sinistra, desistiu
de tanto fuçar. Contudo, teve uma brilhante ideia: entrar pela janela que dá acesso
ao porão, do lado de fora da casa.
Tentando abrí-la, conseguia somente movê-la um pouco, haja vista que situava-
se emperrada. Descumprindo sua promessa de não utilizar seus poderes, induziu que
uma corrente de vento pressionasse-a, auxiliando Sophia a abrir.
Visto que sua altura, apesar de relativa para sua idade, não ajudasse,
inseriu Lucke, nas pontas dos pés e esticando o corpo, com cuidado, em cima da
bancada escorada na parede, e, desajeitada, entrou caindo.
Levantando-se, limpava sua calça empoeirada com as mãos. Observando o
ambiente, impressionava-se com a sujeira do lugar, bem como diversos utensílios
antigos. Analisando, via manchas de sangue e cordas cordas, porém, o que mais
espantava-lhe era uma cama, na qual possuía um lençol cobrindo algo misterioso com
um relevo descomunal. Curiosa, puxou-o com vigor, esquecendo-se da poeira
acumulada. Fechando os olhos, tossia até abaixar...
Abrindo-os de pouco a pouco, estarreceu-se, paralisando, com um caixão, que
detinha enfeites chiquérrimos. Curiosa e amedrontada ao mesmo tempo, olhando para
Toby, do qual encorajou-a com latidos, destampou-o mediante um pequeno feiche de
coragem que surgiu em um milésimo de segundo durante a ação.
De boquiaberta, encantava-se com o que via, esvaindo o medo, conversando com
Toby:
— Você sabe o que é isso? É uma legítima múmia! Igual a dos egípcios!!
Tocando-na, sentia a textura, como também o cheiro peculiar. Analisando em
qual lugar estariam guardados os órgãos, avistou potes. Verificando-os, notou que
todos, como o cérebro, o coração e os pulmões, estavam conservados.
Fascinada, exclamou recolocando-os de volta:
— Sei que o tio Hari conhece de História, mas não sabia que dominava a Química!!
Retornando para o cadáver mumificado, percebia, com paciência, que tratava-
se de uma mulher. As características do rosto não eram perceptíveis, entretanto,
estava vestida de noiva. Interligando os fatos, induziu que era a sua falecida tia
Julia.
Recordando-se de sua mãe falar que ela era extremamente bonita e divertida,
como também que tinha morrido de uma forma trágica, da qual nunca ousou entrar em
detalhes por ser muito complicado. Fator que mais intrigava-lhe. No entanto,
acreditava que Harrison amava-a tanto a ponto de eternizar o seu amor.
Colocando sua mãos sobre as mãos entrelaçadas dela, cumprimentou-a:
— Prazer em finalmente conhecê-la! Eu sou a Sophia!!
Escutando barulhos na tranca da porta, tampou-a e enfiou-se, junto com Luke,
para debaixo da cama. Explodindo de adrenalina, acalmava-se por ter conseguido
reorganizar a tempo, antes que o vissem mexendo em suas coisas.
Mantendo-o quieto, escutou um beijo e o início monólogo melodramático:
— Me perdoe, querida Julia! Faz muito tempo que não venho te visitar. Eu sei, eu
sei... o nosso filho ter feito uma barbaridade daquelas com Jesse não é desculpa.
Porém, precisei me afastar para que a pestinha... Quer dizer, sobrinha Sophia, não
suspeitasse de nada. Ela tem um ouvido muito bom desde que começou a morar aqui,
por isso não venho mais te contar os meus segredos [...]
Ao passo que escutava-o ir embora, já fechando a porta, relutou até a o
último instante, soltando o espirro. Percebendo-o retornar, paralisou-se como uma
múmia.
Avistando a janela aberta, batendo, Harrison fechou-a com delicadeza e
desculpou-se:
— Perdoe-me! A janela está estragada. Prometo que comprarei outra para que não
sinta frio!
Controlando a respiração, manteve-se rígida até escutá-lo trancar a porta
para aliviar-se do sufuco. Saindo, agradecia ao Universo por seu tio possuir
problemas auditivos e não descobri-la infiltrada ali, ainda por cima com um
cachorro.
Fechando Toby atrás de um móvel, fez uma caminha com sua blusa e delimitou
um espaço que desse para respirar, dormir, comer e excretar, priorizando a
segurança dele em detrimento da liberdade. Entretanto, naquela área possuía mais
amor e autonomia do que no imenso quintal de seu último dono.
Séria, gesticulando obediência com o dedo indicador, avisou:
— Preciso que fique aqui e não saía, tá bom? Vou trazer tudo o que precisa!!
Vendo-o abanar o rabo, desmanchou a caracterização opressora e, derretendo-se
com a sua fofura, acariciou-o e brincou fazendo-lhe cócegas, apertando e puxando
suas patas dianteiras — sem que o machucasse.
Capítulo 97 - Código Hamurabi

Utilizando um tempo enorme para a realização do dever de casa de Matemática,


aliviava-se por terminar a última equação do primeiro grau. Bebendo água, sentia
sua barriga roncar de fome enquanto olhava a mesa e o fogão vazios.
Tendo conhecimento de que seu tio encontrava-se em seu quarto, batia na porta.
Cansada de esperar, infringiu uma das principais regras de convívio estabelecida
por Harrison: respeito à privacidade. Contudo, havia combinado o horário do jantar
— do qual era sempre comprado.
Irritada, disse:
— Tio Hari, cadê a janta?
Esperando-o responder, viu-o virar a cabeça e, olhando-na, assistiu-o dar um
gole de uísque sem falar nada. Percebendo que não era um bom momento, deixou-o em
paz e retornou para o seu castelo. Visando distrair-se, pegou o violão e começou a
tocar e cantar a música Polly — a sua favorita —, do álbum Nevermind, do Nirvana,
ao passo que olhava para o seu pulso direito repleto de cicatrizes, relembrando-se
do passado.
Em um ciclo viciante, saiu do transe somente quando Harrison, abrindo a
porta, avisou-a que a janta estava sobre a mesa deixando-a aberta. Perplexa pelo
tempo que permaneceu cantando e tocando, esfregou os olhos cheios d'água, borrando
o rosto.
Cabisbaixa, sem trocar olhares, colocava o primeiro pedaço de pizza em um
prato escutando-o dizer:
— Por que entrou no meu quarto?
Gaguejando, afirmou:
— Eu estava com fome e o senhor não abria...
Sereno, sentado na cadeira com as mãos debaixo do queixo, indagou:
— Conhece o Código de Hamurabi?
Contente, levantou a cabeça e exclamou:
— Sim!
Indiferente quanto ao rosto borrado de preto, questinou-a:
— Então sabe como funciona. Se você me incomoda, o que eu faço?
Arrependida, lembrava-se que Hari invadiu seu quarto — atitude que nunca
tomou —, e conformou-se:
— Tem o direito de me incomodar também...
Indo para o castelo, retornou e, antes que conseguisse expressar-se sobre
outro assunto, foi interrompida:
— O dinheiro dos seus pais estão acabando.
Perdendo a coragem de requisitar a determinada quantia de dinheiro que queria
para comprar um novo walkman, ou melhor, a companhia de um amigo, agradeceu por
avisar sobre tal informação e voltou-se para as quatro paredes, onde saboreou três
pedaços de pizza.
No entanto, enquanto comia, refletia se durante os três últimos anos
convivendo com Harrison gerou muitos gastos para com a sua alimentação e afins,
tendo em vista que não gastava com com futilidades. Embora não soubesse, acreditava
que o valor de uma casa era expressivo demais para ser gasto com tais coisas. Além
de que, ainda havia o carro, que poderia ser vendido. Todavia, o que mais lhe
aflingia era o fato de não poder refugiar-se em alguma música durante o caminho de
casa e escola e vice-versa, principalmente no horário do recreio.
Parando de se afundar em pensamentos, foi esfriar a cabeça debaixo da água
fria.

Capítulo 98 - A Força do Poder / Preconceito / Bajulação / O

A pé, haja vista que onde morava era perto da escola, Luke adentrava pelo
portão principal escutando a faixa Barbarism Begins at Home, do álbum Meat os
Murder, do The Smiths. Estava animado com o que o segundo dia traria, pois o
primeiro superou suas espectativas; assim sendo, chegou cedo novamente.
Aproximando-se do local em que Aurora encontrava-se ontem, andava
desnorteado, olhando os arredores visando encontrá-la. Trombando-se em alguém,
pediu desculpas. Observando a pessoa, ao lado de mais duas, percebeu que tratava-se
do menino que importuno-a.
Intimidando-o, Douglas cruzou os braços e indagou:
— Você é novo por aqui?
Sorridente, estendeu a mão cumprimentando-o:
— Sim, e você?
Enquanto ambos riam, ironizou:
— É novato e ainda por cima engraçadinho?
Sarcástico, colocou a mão no queixo e pôs-se em dúvida:
— Quem sabe... Se você diz, deve ser!
Ao passo que gargalhavam, avisou cutucando seu peito:
— Aqui quem manda sou EU!! Dá próxima vez, não vou deixar passar, cabeça de
capacete!!
Fazendo continência, prestou respeito:
— Entendido, senhor!
Furioso, Douglas, distraído, brigava para que seus amigos parassem de rir.
Aproveitando a situação, vendo o walkman de Aurora, efeitado por desenhos de
borboletas, preso no cinto de sua calça, bem como o fone apoiado no vão entre o
aparelho e o corpo, retirou-os com facilidade.
Apesar de não estar correndo a muito tempo, sentia-se esgotado e a cada vez
que olhava para trás via-os se aproximaram mais. Encorajado, refugiou-se na
primeira estrutura que avistou: um andaime.
Gritando, Douglas suplicou:
— Você já tem um! Devolva o meu, cabeça de capacete!
No último andar, no qual situava-se sobre uma superfície, viu-se encurralado.
Apesar de haver apenas dois metros de altura, sentia-se zonzo e, desastrado,
derrubou uma lata de tinta sem querer. Trêmulo, deu uma olhadela para baixo e notou
que os três meninos estavam pintados de azul.
Coçando a cabeça, haja visto que isso não estava em seu plano, desculpou-se:
— Desculpem-me por ter pintado vocês... Foi sem querer!
Acreditando que não subiriam mais, a fúria não somente de Douglas, mas dos
outros dois acentuava-se.
Aflito, na beirada, frente a ele, tentou acalmá-lo:
— Veja o lado bom, você está parecendo um Smurf!
Enaltecendo-se, intimidou gritando:
— Você sabe quem eu sou?!
Gaguejando, perguntou:
— Eu deveria?
Antes que as mãos repletas de sangue azul tocassem-no, por algum motivo,
recordou-se que por não ter enfrentado um simples medo, não pôde ajudar Aurora de
uma situação degradante. Encorajado, com o coração acelerado, inseriu o walkman
dela em seu bolso e pulou a fim da recuperação do dispositivo não ser em vão.
Devido a queda, agachou-se e, com as mãos, apoiou-se no chão. Impressionado
por sua façanha, similava-a com as habilidades um herói dos quadrinhos da Marvel: o
Homem-Aranha. Olhando para cima, assistiam-os de boca aberto pela sua proeza..
Contudo, a diretora, vendo meninos ali em cima e naquela estado, danou:
— O que estão fazendo?! Desçam daí agora!!!
Submissos, obedeceram como gatinhos mansos. Luke assustava-se com o
comportamento de
Ao aproximar-se, Louise, não os reconhecendo devido seus rostos estarem
azulados, ordenou que se apresentassem:
— Quem são vocês?!
Com a cabeça baixa, um deles retratou-se:
— Eu sou o Douglas Miller. O da minha direita é Patrick Jones e o da esquerda é
Steven Williams.
Constrangida, lembrava-se que eram os filhos da família mais renomeada e rica
de São Francisco, rindo, desculpou-se:
— Senhores Miller, Jones e Williams, mil perdões! Pensei que eram alguns moleques
encrenqueiros!!!
Enquanto Douglas escutava as bajulações de Louise sobre seus pais e sua
família no geral, olhava para Luke, que acenava sorridente.
Compassiva, pediu que seguissem-na:
— Venham!!! Pedirei que uma serviçal traga toalhas e roupas limpas!!
Observando o arredor a fim de encontrar Aurora, atentou-se que já estavam
longes. Esquecendo de devolver um objeto que não o pertencia, apareceu na frente
dos quatro, interrompendo o caminhar deles.
Encarando-o, Louise intimidou:
— Quem é você?! Saía da frente rapazinho!!
Simpático, apresentou-se e explicou o motivo de atrapalharem-os:
— Eu sou Luke Smith! Vim entregar a fita cassete que o meu amigo Douglas tinha me
emprestado!
Confirmada com o vínculo de ambos,
— Ah, sim!! Tudo bem!
Sarcástico, entregou-a para ele agradecendo:
— Gostei muito de ouvir... Doggstyle¹, do... Snoop Dog! Muito obrigado!!
Apesar de Louise entender, a priori, que o nome do álbum fazia referência à
alguma conotação sexual. Como também, para piorar, que o artista pertencia a cena
do rap, da qual era vista como suja — tendo em vista as letras degradantes e,
principalmente, a presença exclusiva de negros —, recusava-se à acreditar...
Constrangida, ria agradando-os:
— Eu adoro esse álbum! O cantor, nem me falem!!
Retirando-se, Luke ria do constrangimento no qual os colocou frente a diretora,
ainda mais pela tentativa dela de passar o pano ao máximo em relação ao que foi
falado, fingindo-se de desentendida, enquanto bajulavá-os.

Capítulo 99 - Inesperado

No intervalo, Sophia, situava-se sentada na grama dentro de um espaço isolado,


circundado por uma circunferência de moitas altas, em que havia um sútil abertura,
bebendo uma bebida láctea e comendo cream creaker. Olhava para cima, admirando as
folhas dos galhos da sua querida árvore balançarem, bem como a melodia do vento.
No entanto, haja visto que ali era um lugar reservado e afastado, onde
pouquíssimas pessoas chegavam, e, quando conseguiam, não adentravam, assustou-se
com um barulho inesperado.
Vendo Luke, apesar de acalmar-se pelo susto ter passado, ficava nervosa com
sua presença... Não sabia distinguir entre boa ou ruim, mas estremecia-a tanto
quanto a de Douglas e cia. Ou melhor, era uma mistura de ambos.
Contente, de debruços na superfície, ria explicando sua jornada:
— Eu te procurei por toda a escola! Nunca imaginaria que estivesse aqui se não
fosse a coincidência de escorar na moita e ser sugado, ou o destino... Quem sabe os
dois!!
Introvertida, permaneceu sem responder, afirmando sua característica
antissocial, a fim de provocar aversão quanto a sua péssima companhia, instigando-o
à ir embora. Se não demonstrasse sinais de interesse perante a sua aparição, os
quais conflitavam diante do medo de magoar-se com ela, conseguiria escapar dessa
enrascada.
Contudo, ao passo que pensava em algo para afastá-lo, caso permanecesse, Luke
sentou-se ao seu lado, como um amigo de longa data, e iniciou uma conversa
amistosa.
Curioso, questinou-a sobre cedo:
— Onde estava antes do início da aulas? Procurei por você nas redondezas e não te
achei...
Engolindo saliva, recordava-se do seu desespero em arranjar alguma forma para
cobrir suas cicatrizes, pois Lucke, além de ter mastigado sua blusa de moletom, não
deixava-a pegar de jeito nenhum. Todavia, utilizou praticamente a sua base inteira
para cobrí-las por inteiro.
Demorando em sua resposta, foi sincera:
— Eu me atrasei.
Reflexivo, compartilhou uma experiência fascinante:
— Ontem, quando a sua fita estava comigo, ouvi todas as faixas do Nevermind...
Alucinada, virou-se para ele e, com os olhos saltitantes, perguntou:
— E o que você achou?!
Surpreso com a mudança repentina de humor, sorridente, afirmou:
— Gostei bastante! Mas as letras são muito melancólicas.
Tímida, olhando para os seus olhos, recolheu-se e, abaixando a cabeça,
confessou:
— Você é a primeira pessoa que conheço que gosta...
Retirando o walkman do seu bolso, levou-o para o campo de visão dela e disse:
— Consegui recuperar. Está intacto!
Presenciando o seu amigo na sua frente, com as borboletas pretas com manchas
brancas características, encheu os olhos d'água e, abraçando seu aparelho,
agradeceu:
— Muito obrigada! Pensei que nunca mais iria vê-lo de novo!!
Alegrando-se com a alegria de Aurora, percebia que ela não estava usando blusa.
Impressionava-se com a branquitude de sua pele, semelhante a neve. Entretanto, via
leves linhas mais brancas ainda em seu pulso direito, do qual não possuía uma cor
uniforme, havendo partes com uma quantidade maior de melanina.
Intrigado, perguntou:
— Você é canhota?
Ainda emocionada, sem compreender o real sentido por trás da pergunta banal,
ficou indiferente quanto a ela:
— Sim! Por quê?
Simpático, inventou um porquê da pergunta sem nexo:
— Nada! É que percebi que quando você usou a mão esquerda para pegar o walkman.
Tocando o sinal, Luke assistiu-a levantar-se e ir embora sem se despedir...
Porém, Sophia, enfrentando o seu medo, retornou.
Encarando-o, foi sincera:
— Agradeço muito por ter consertado a minha fita cassete e por ter conseguido
recuperar o meu walkman. Eu não conseguiria comprar outros...
Sentindo-se constrangido, dispôs:
— Imagina! Foi até divertido!
Séria, desmentiu:
— Desculpa ter mentido, meu nome de verdade é Sophia.
Beijando-o no lado esquerdo de sua bochecha, saiu correndo com o coração já a
mil por hora. Enquanto aliviava-se por ter conseguido expressar seus reais
sentimentos para alguém — ao menos um pouco —, no decorrer da corrida, arrependia-
se por ter feito aquilo.
Apesar de não ter achado ruim o que a Aurora fez, muito pelo contrário,
alegrava-se ainda mais por compreender quem de fato era — Sophia —, tendo em vista
que sentia que a conhecia desde a infância. O nome, junto com a atitude peculiar
repetida, batiam-se com os fatos do passado. Portanto, as últimas peças encaixavam-
se na conclusão do quebra-cabeça.
Acostumado, por natureza, a viver no mundo da lua, após a descoberta, virou
um bobo da cortê saltitante rumo a sua sala de aula.

Capítulo 100 - Conectividade / Compartilhamento ) energia

No balanço do Hiltop Park, balançava-se devagar e fumava, admirando a vista


exuberante do fim da tarde. Sentia sua mente se pondo igual ao sol...
Assustando-se com alguém sentando-se ao seu lado, derrubou o cigarro. De
novo, aparecia quem mais temia: Luke.
Curioso, perguntou:
— Você veio correndo?
Pisando no cigarro a fim de escondê-lo, gaguejou:
— Não! Porquê?!
Visando confortá-la, simpatizou:
— Não precisa esconder que fuma.
Olhando para o seu sorriso contagiante, despreocupou-se e questinou:
— Está me seguindo?
Risonho, admitiu:
— Antes de vir para cá estava, mas te perdi de vista... Porém, sempre venho aqui!
Ressentida, respirou fundo e indagou:
— Por que nunca mais voltou?
Cabisbaixo, afirmou:
— Prefiro não falar sobre...
Observando-o, familiarizava-se com o seu semblante melancólico. Sentia pela
primeira vez a sensação de compartilhar os mesmos sentimentos com alguém. No
entanto, embora fosse esquisito, era reconfortante.
Sorrindo, agiu com condolência:
— Sem problemas!
Esfregando os olhos, fungou o nariz e, brincando, perguntou:
— Por que o nome Aurora?
Olhando para o ocaso, lembrando-se de sua mãe, concluiu:
— Eu acho muito bonito o significado.
Começando a se balançar, indagou:
— O significado advém da deusa romana Aurora que trazia o nascer do sol?
Abismada pelo seu conhecimento histórico, contentou-se:
— Sim!!!
Sintonizando-se em uma mesma frequência, balançavam-se enquanto conversavam
acerca de diversos assuntos descontraídos. Naturalmente, a intimidade acentuava-se.
Tanto Sophia quanto Luke sentiam-se que se conheciam há muito tempo, quem sabe de
vidas passadas, devido a forte conectividade que possuíam e semelhanças que viam
uns nos outros por meio das entrelinhas, como os olhares reveladores, apesar das
aparências dizerem o contrário.
Convidada para ser levada até a sua casa, Sophia aceitou forçadamente, pois
não queria incomodá-lo, ainda mais se seus pais brigassem por chegar tarde.
Contudo, Luke, antes de atravessar a Ponte Golden Gate, insistiu para ir em
alguma das duas praias do lado esquerdo, das quais tinham as melhores visões para
uma das sete maravilhas do mundo. Irresistindo ao seu pedido autêntico, deixou-o
segurar em sua mão e guiá-la para a famosa Baker Beach — da qual era mais fácil o
acesso.
Deitada na areia, ao lado dele, concentrada no múrmurio das águas,
relembrava-se dos momentos que tinha passado com Sofia, naquele mesmo lugar, onde
fazia-se anos que não retornava. Curiosa quanto a aplicabilidade dos seus poderes
psíquicos, os quais havia deixado de praticarem como na infância, em que os
utilizava por diversão, testou para ter certeza se ainda conseguia manipulá-los.
Estarrecido com o apagar das luzes da redondeza, questionou:
— Aconteceu um blecaute na cidade?!
Fingindo estar decepcionada, afirmou:
— Parece que sim...
Risonho, satisfazia-se:
— Que bom!
Virando-se para ele, intrigou-se:
— Por que é bom??
Recíproco, exclamou:
— Porque poderemos ver as estrelas!
Surpreendida por Luke também gostar de estrelas, fingiu indiferença:
— Gosta delas?
Encantando-se com milhares de pontos brancos preenchendo a escuridão do céu,
contagiou-se:
— Está brincando? Eu amo! E você?
Assistindo-as, recordava-se de uma lembrança de quando era mais nova e nunca
havia ido para a natureza. Sua mãe, objetivando fazer Sophia dormir, tendo em vista
que seu medo de escuro, combinado com barulhos estranhos — como sons de sapos,
grilos e o ronco de seu pai Jhon — era imensurável, lia o livro As Águas e as
Estrelas em voz alta e o contextualizava de uma maneira cativante que obstruía seu
terror psicológico.
No rancho de sua avó Mary, situava-se na mesma cama que Ashley, ao passo que
escutava-a, junto com o múrmurio das águas da cachoeira — das quais tranquilizava-
as —, olhava para as estrelas, as quais davam o toque final, reconfortando-a. Nos
dizeres finais de sua mãe, antes de ir embora para o outro quarto, deixando-a
sozinha, escutou por meio de sua voz doce o mantra: "Eu sou uma estrela, estou em
qualquer lugar, basta apenas que olhe para cima e me verá... Não tenha medo, mesmo
que não saiba, estou contigo neste exato momento, como a água que percorre dentro
de ti o tempo inteiro..."
Emocionada, não conseguiu segurar a barra e transpareceu seu trauma ao afirmar
com a voz trêmula:
— São só o passado.
Luke, percebendo que, ao olhá-la observar o céu estrelado, lágrimas desciam de
seu rosto, aproximou-se, encostando-na, e entrelaçou seus dedos nos dela. Nesse
momento, assistiu-a desabar colocando a cabeça sobre o seu ombro.
Permitindo que lavasse toda a angústia guardada que ele próprio possuía
certeza de que ela carregava há tempos, sem se desabafar com ninguém, optou por não
falar nada, somente estar presente ao seu lado, sendo uma companhia amiga
verdadeira, da qual tanto Luke quanto Sophia precisavam.
Andado já alguns quilômetros após a Ponte, Sophia continuava tentando
convencê-lo para voltar para a sua casa, reafirmando que não precisava acompanhá-
la, uma vez que já estava muito tarde e sabia seu próprio caminho. Entretanto, Luke
fazia questão de prosseguir ao seu lado por pura e simples vontade de estar ali.
Envergonhada, já em frente a sua casa, Sophia, abaixou a cabeça e, desejando
sanar uma curiosidade que aflingia há algumas horas, indagou:
— Você viu que sua bochecha está com a marca do meu batom?
Contente, riu e assentiu para esconder a timidez:
— Vi sim! Mas quis deixar... Na verdade, no momento que entrei na sala todos me
disseram e riram.
Descontente, entendeu a referência e afirmou com pesar:
— Você deve ter muitos amigos...
Risonho, exclamou:
— Eu não tenho nenhum amigo... só você!
Impressionada por alguém como ele não ter e por considerá-la como amiga,
questinou:
— Somos amigos??
Dando um leve peteleco em sua testa, brincou:
— Que pergunta boba é essa? É claro que somos!!
Agraciada por sua sinceridade, beijou o outro lado da sua bochecha, o direito
e logo em seguida abraçou-o e agradeceu:
— Obrigada por ter reaparecido... Iluminado...
Compreendendo a referência em relação ao significado do seu nome, exclamou:
— Eu que agradeço, Sábia!!
Ao passo que Sophia gravava em sua memória o aroma de bebê que Luke exalava,
ele marcava o de framboesa exalado por ela. A despeito de estarem unidos como unha
e carne, um sendo essencial e complementar para o outro, ao se descolarem naquele
instante, tomando rumos distintos, sentiam-se perdidos, como baratas tontas.

Capítulo 101 -

Terminado a aula, Luke saía da escola, escutando, em seu walkman, a faixa Well
I Wonder, do álbum Meat is Murder, do The Smiths, e olhando para os demais alunos,
atentando-se aos com vestimenta preta, como se possuísse esperança de que pudesse
ver sua amiga, porém, as chances eram improváveis. Haja vista que procurou-a
durante esses dias em todos os lugares da escola e não encontrou-a.
Achava que, ou ela estava, no intervalo, em um lugar extremamente isolado que
não conhecia, por estar decepcionada com algo que ele fez, ou encontrava-se
bastante doente ao ponto de não conseguir ir à aula. Todavia, sentia que a primeira
suposição era a correta. Cansado de criar suposições paranóicas, decidiu ir logo
para a casa dela e ver com os próprios olhos.
Embora tivesse levado um esporro por ter chegado tarde em sua moradia,
preferia reaver sua amizade, ou oferecer suporte e conforto para o estado de saúde
Sophia. De qualquer forma, o sermão seria insignificante perto da angústia, saudade
e preocupação, as quais cresciam a cada dia...
Cansado de correr, atravessava a Ponte Golden Gate andando. Observa as marés
e os ventos fortes, bem como várias nuvens negras se formando. Pressentindo algo
ruim, do qual não conseguia interpretar o que era, reiniciou a corrida a fim de
chegar o quanto antes.
Enxarcado pela chuva, balançava seus cachos molhados, os quais atrapalhavam
sua visão naquele estado, e, encorajado, bateu na porta. De tanto bater e esperar,
tinha quase certeza de que ninguém situava-se em casa. Insatisfeito, rodeou a casa
visando, através das janelas, avistar alguém. Crendo que Sophia e seus responsáveis
haviam saído, averiguava, já desiludido, a última janela...
Observando o quarto, admirava-se com a escancarada diferença para com os
demais. As paredes eram preenchidas por pôsteres e desenhos magníficos. Além disso,
viu um computador, um violão e uma guitarra. Curioso para adentrar, apesar de
reconhecer que era errado, também queria conhecê-la melhor e, talvez o mais
importante, gostaria de deixar uma carta perguntando-a sobre por que tinha sumido.
Torcendo para que não estivesse trancada, de olhos fechados, puxou a janela
e, por acaso ou destino, pôde abrí-la. Entusiasmado, pulou e logo fechou-a devido a
aguaceiro que caía. Sem dar-se o direito de aventurar o ambiente, abriu sua
mochila, retirou um caderno e o estojo e, utilizando a escrivaninha que encontrava-
se de frente a janela, começou a escrever uma carta pondo todos os seus sentimentos
nela.

"16 de agosto de 1994, Sausalito - CA

Incrível Sophia,
Desde aquele dia, não te vi mais. Sei que você é tão reservada quanto eu, mas
te procurei por todos os cantos da escola, durante todos os dias, e, infelizmente,
não te achei. Não sei se você está magoada com algo que fiz, se sim, saiba que
nunca foi minha intenção e peço-lhe minhas sinceras desculpas... Contudo, caso
esteja doente, saiba que desejo melhoras! Espero que fique bem o quanto antes!!
Desde que te reencontrei não consigo parar de pensar em você e o quanto me
fez tão bem em pouquíssimo tempo. Acredito que isso foi a melhor coisa que me
aconteceu após retornar para esta cidade...
Sei que deve estar se perguntando como consegui colocar esta carta dentro do
seu belíssimo quarto, e talvez se chateia por causa disso, mas a janela estava
destrancada e não resisti... Me perdoe! Espero que entenda!!
Se quiser respondê-la, me envie uma carta neste endereço: Rua Shotwell,
1113. Se preferir, me ligue neste número: 369-9635 — depois das 21h00, por favor.
Com amor, Luke"

Capítulo 102 - É Tudo uma Mentira

Jogando-se na cama, olhava para os desenhos de estrelas, de sua autoria,


pregados no teto ao passo que desfrutava da sensação de milhares de borboletas
estarem batendo as asas em sua barriga. Sentia-se submersa em um oceano de prazer,
alegria e acolhimento por alguém gostar dela mesma devido o seu próprio jeito de
ser. Aliás, ainda mais por saber que agora possuía um amigo!
Nesse abstracão tão gostosa, de olhos fechados, viajava pelos cenários
fastásticos criados pela sua mente. Pela primeira vez, presenciava isso depois de
tanto tempo. Retornava para os nostálgicos momentos da Sophia do passado, da qual
era sorridente e brincalhona.
Contudo, teletransportou-se para o presente ouvindo um estrondo abissal.
Assustada, ergueu o tronco a fim de visualizar o que estava ocorrendo, pois, pelo
barulho, parecia ser dentro do seu castelo, mas, observando ao arredor, não via
nada... Receosa, foi até a origem do som: atrás da porta. Criando coragem, pôs a
mão na maçaneta e, respirando fundo, abriu-a devagar. Encucada, avistou seu tio
caído no chão, permeado por cacos de vidros, e logo ajudou-o à levantar-se.
Notando sua condição, os sinais de embriaguez eram evidenciados com clareza:
desequilíbrio, olhos vermelhos e cheiro de álcool.
Aflita, perguntou:
— Está tudo bem com o senhor?!
Apoiando-se no sofá, ignorou a preocupação dela e indagou enrolando a língua:
— Por que veio... tarde? Estava... com alguém?
Pensativa, mentiu dando a resposta mais plausível:
— Eu vim sozinha... cheguei no mesmo horá...
Impedindo-a de completar a fala, deu um tapa em seu rosto e, com dificuldade de
raciocinar e falar, advertiu:
— Pare de mentir! Eu vi... você junto com um... moleque de cabelo cacheado...
metido a hippie. Já estou avisando... não quero ninguém... em casa e... muito menos
gente fumando... maconha aqui!!
Chorando de ódio, proferiu, enquanto ele dava às costas, indo embora, o que
encontrava-se entalado em sua garganta:
— VOCÊ NÃO É MEU PAI!!!
Virando-se, afirmou com indiferença:
— Você foi... adotada.
Imóvel, arrasando-se pelo impacto imprescindível que aquela frase possuía,
tentava, de todas as formas, assimilá-lo com a realidade, mas não conseguia. No
entanto, mesmo sabendo que não era verdade, a afirmação ainda era um choque de alta
tensão, talvez o mais eletrizante já sentido em toda sua vida.
Debochada, afrontou-o:
— Você está mentindo, seu bebum!!
Sério, apesar de estar quase caindo, afirmou:
— Jhon... e Ashley... te adotaram... quando você tinha... poucos meses... de
vida...
Tampando os ouvidos com as mãos, fechou os olhos, balançava a cabeça e
andava para trás insistindo:
— É MENTIRA!!! É MENTIRA!!! É MENTIRA!!!
Achando engraçado seus gestos de negação, semelhantes aos de uma criança
mimada, Harrison gargalhava perante a sua reação hilária.
Aproximando-se cambaleando, satirizava:
— O que será que... seus verdadeiros pais... ou os falsos... achariam de você???
Uma menina esquisita... vai mal na escola... se corta... e ainda fuma... Você é tão
inútil... quanto o seu pai... e sua mãe... juntos!!!
De tanto chorar de raiva, angústia e humilhação, pegou a única coisa
arremessável da sala e, botando força, arremessou gritando:
— CALA A BOCA!!!
Sem nem ao menos proteger-se, tendo em vista que sua visão encontrava-se
embaralhada, somente sentiu algo batendo em sua testa. Olhando para o chão, focou
sua visão e pôde ver que era o objeto mais valioso que tinha: o porta-retrato que
continha a imagem dele junto a sua amada Julia — a única, por sinal. Enfurecido,
uma vez que situava-se quebrado e a imagem amassada, foi para cima de Sophia como
um tigre.
Enfrentando-o, segurava em seus antebraços, impossibilitando que suas garras
encostarem-na. Embora estivesse bêbado, a força dele ainda superava a sua de
mosquito. Tremendo os braços, quase desistindo, deu um passo para trás e escorregou
em um caco de vidro, levando-o para chão.
Desesperada com aquela cena horripilante, chorava e implorava:
— SAÍ DE CIMA DE MIM!!!
Percebendo que ele estava tirando o cinto, fechou os olhos e esperou o pior
acontecer... Sentindo sua camiseta sendo retirada, tremia e berrava sem controlar.
Entretanto, somente sentiu açoitadas em sua pele, nenhum toque mortífero. Em
virtude disso, toda a sensação angustiante causada era aliviada a cada batida da
parte metálica absorvida.
Cessando, repôs o cinto e levantou-se aconselhando:
— Da próxima vez me respeite! Eu sou seu único tio!!
No chão gelado, com as costas cortadas pelos cacos de vidros, como também o
abdômen, o tórax, os braços e o rosto machucados, refletia acerca de outrora achar
que sua inutilidade havia um limite, porém, depois desse episódio, acreditava ser
infinito. Sentia que o restante que prestava da história que passou com Ashley e
Jhon era insignificante, ou melhor, mentirosa. Na verdade, cria que sua vida em si
era um mero devaneio.
Se nem seus pais biológicos a quiseram, quem irá de querer, cogitava
presenciando um vazio...
Forçando-se para tomar banho, não sentia o mínimo prazer em estar ali debaixo
da água fria. Contudo, acalmava-se com a ardência dos machucados ao entrarem em
contato com ela. O seu único ânimo era sair dali, ir para o seu castelo e dormir
escutando o álbum In Utero, do Nirvana, do qual pulou direto para a quinta faixa:
Rape Me. Porém, ao deitar-se presenciava suas costas, devido ao atrito, ardendo...
Sentia-se literalmente desta forma:

Capítulo 102 - Você é a única pessoa que tenho

Arrancando a folha do caderno, deixou-a sobre a escrivaninha. Empolgado, ao


dar o primeiro passo, chutou uma bola de papel que encontrava-se no chão. Curioso,
desamassava-a. A priori, percebia que possuía algumas manchas vermelhas. Notando
que a estrutura do que estava escrito aludia a um poema.
Contente por estar lendo os sentimentos mais profundos da alma de Sophia,
prestava atenção em cada palavra e seu respectivo significado, contextualizando.

Tatuagens da Minha Alma

Eu não sei o porquê de tanto cansaço;


Estou cada vez mais paralisado,
Recluso num espremido quadrado;
Por que a cada dia perco um pedaço?

Eu sou um cão vira-lata abandonado,


Torcendo pela volta do meu dono;
Já estou noites em claro, com sono,
Recordando de outrora ter sonhado

Em ser criança, fungando o catarro,


Preocupado com olhares precisos;
Hoje me preocupo em fingir sorrisos;
Não paro de me afundar no cigarro.

Alivio as tatuagens da minha alma


Com o brilho vermelho de meus pulsos;
Eu não controlo mais os meus impulsos,
Sou um zumbi que está faminto por calma.

Mentalizando o último verso, escorria lágrimas de seu rosto. Presenciava um


vazio imenso do qual não sentia há muito tempo. Perdendo a vontade de explorar,
sentou-se na cama e começou a questionar-se quanto ao bem-estar mental e emocional
de Sophia, os quais, pelo que havia interpretado, estavam destroçados.
Decidido ir embora, com a janela já aberta, ouviu uma choradeira advinda de
algum cômodo. Impulsivo, abriu a porta e, guiando-se por meio do som, avistava
vários comprimidos espalhadas pelo chão, como também embalagens que assinalavam ser
aspirina. Indo para trás do sofá, viu quem mais desejava em uma situação alarmente,
na qual automutilava-se.
Sentindo braços envolverem-na, debatia-se e gritava:
— NÃO TOQUE EM MIM!!!
Receoso, afastou-se, respeitando-a, tentou acalmá-la:
— Sou eu, o Luke! Calma!!
Abraçando-a, conseguia apaziguar sua histeria de pouco em pouco. Ao passo que
escutava-a desabar em choro, sentia o coração dela disparar como uma metralhadora e
observava seus pulsos com cortes profundos.
Condolente, com receio, indagou:
— Pode me dizer por que fez isso?
Zonza, como uma alcoólatra, afirmou:
— Vontade... Não gosto desta data...
Embora não quisesse ser indelicado, precisou saber:
— Quantos comprimidos você tomou?
Envergonhada, afirmou:
— Só um... Não tive coragem suficiente...
Segurando seus ombros, fixou-se em seus olhos e, balançando-a, esbravejou-se:
— Você não está mentindo, não é?! Preciso te levar para o hospital!!
Surpresa com aquele humor nunca visto, indagou com indiferença:
— Que diferença faria??
Lacrimejando, exclamou:
— Eu te amo! E preciso de você aqui comigo!!
Duvidando da veracidade, questionou:
— Por que me ama?? Por que precisa???
Pondo as cartas na mesa, esclareceu o que sentia:
— Porque você é a única pessoa que tenho!!!
Escutando a frase, o sentido emocional que ela carregava ressoava como um sino
em sua mente. Ao saber que era útil para alguém, no caso Luke, para com o qual
compartilhava do mesmo sentimento, despertava-se de seu inferno interior.
Abraçando-o, a ponto de esmagar seus ossos, arrependia-se:
— Desculpa! Desculpa por isso!! Eu não sabia o que estava fazendo...
Aliviando-se, ressentiu-se:
— Não faz isso de novo... Promete?
Estendendo o dedo mindinho de sua mão esquerda, esfregou os olhos e jurou com
teor de brincadeira:
— Porque você também é a única pessoa que tenho...
Risonho, estendeu o mindinho direito e questinou o gesto:
— O que isso significa?
Sorrindo, entrelaçou-o no dele e exclamou:
— Que jamais poderá ser desfeito!
Encantava-se com o sorriso lindo de Sophia, sendo a primeira vez que o via...
Enquanto ela cativava-se pela sinceridade acolhedora de Luke, da qual sua mente
negava-se à acreditar até então.
Olhando um para o outro, como se mergulhassem um na alma do outro,
aproximavam-se como imãs até os lábios se tocarem. Entregavam-se um para o outro
por inteiro como de fato eram.
O sabor agridoce do beijo contagiava ambos, fazendo com que esquecessem a
ocasião aterrorizante de minutos atrás, da qual impactava-os de formas parecidas. O
inferno transformava-se em paraíso. Este, caso existisse, assemelharia a sensação
mais valiosa e intangível: de compreender e ser compreendido, ou melhor, de amar e
ser amado em troca.
Acariciando sua bochecha, Luke sugestinou:
— Eu preciso ir, se alguém me ver aqui...
Esperançosa, querendo não passar o resto dia dia sozinha, pediu:
— Meu tio só vem amanhã de tarde! Fica aqui comigo! Por favor... É meu
aniversário...
Animando-se, indagou:
— É sério?!
Em dúvida sobre o que referia-se, perguntou:
— O quê?
Especificando, acrescentou:
— Que hoje é seu aniversário??
Cabisbaixa, desviou o olhar e chateou-se:
— Sim... Estou fazendo 14...
Abraçando-na, exclamou:
— Meus parabéns!!!
Tímida, agradeceu:
— Obrigada...
Contente, perguntou:
— Tem pipoca aqui?!
Surpresa por sua exaltação, disse incerta:
— Acho que sim...
Entusiasmado, indagou:
— Posso te presentear fazendo pipoca?!
Lembrando-se que Ashley fazia em momentos que julgava ser especiais, questinou:
— Você sabe fazer?!
Convicto de sua proficiência, assegurou:
— Sei!
Alegre, exclamou:
— Gosto bastante de pipoca!
Olhando para o pulso com cortes leves, quase havia esquecido de realizar o que
de antemão era relevante. Portanto, apanhou a mão de Sophia e guiou-a rumo ao
banheiro. Na realidade, ela o direcionou para o caminho certo.
Após lavar as mãos, Luke pediu que estendesse o braço na pia molhou um pouco
o antebraço dela e, com delicadeza, passou o sabonete sobre as feridas, até criar
uma fina camada visível. Abrindo a torneira, jogava água utilizando a sua mão a fim
de retirar o excesso. Na metade da higienização, com dois dedos, realizava
movimentos em círculos para espalhar a substância, visando desinfetar os ferimentos
de possíveis bactérias, as quais poderiam infeccioná-los e, consequentemente,
prolongar o tempo de cicatrização.
Ouvindo-a gemer, parou no mesmo instante o processo e desculpou-se:
— Desculpa! Vou ir mais devagar!
Vendo seu sorriso, sentia a ardência amenizando... Balançando a cabeça para os
lados, não importou-se:
— Não tem problema!
Jogando água, finalizava com bastante cautela. Com uma toalha, secava o local
sem apertar. Abrindo o armário, buscou por gazes, antiséptico e fita adesiva. Por
sorte, encontrou-os. Mediando até onde estendia os cortes, do início do pulso até o
fim do antebraço. Borrifando três unidades, estendeu-as sobre os machucados e os
envolveu com a fita adesiva, pregando-as na pele. Por último, e talvez o mais
importante, beijou sua testa.
Curiosa sobre sua habilidade médica, brincou:
— Onde aprendeu isso, enfermeiro?
Orgulhoso, afirmou:
— Foi com a minha mãe...
Alegre, exclamou:
— Ela deve ser muito dedicada!
Forçando um sorriso, concordou:
— É sim...
Solidificando um silêncio constrangedor entre ambos, Sophia, procurando por
assuntos aleatórios visando sair daquela situação constrangedora, quis retirar uma
dúvida em relação a algo que, no momento em que pensava, intrigava.
— Aliás, como entrou dentro de casa?
Sem graça, exemplificou o contexto:
— A janela estava destrancada... Mas eu só entrei porque queria deixar uma carta
para você. Se quiser, pode ir lá vê-la enquanto faço a pipoca!
Ao passo que a via ir, Luke aliviava-se por conseguir inventar algum motivo
para dispersá-la, visto que o assunto tocado era, no mínimo, delicado. Esfregando
os olhos, botou um sorriso no rosto e foi para a cozinha, onde transformou-se em um
pipoqueiro.
Trêmula, com o coração disparado, de uma forma semelhante quando tentou
ingerir os comprimidos, porém, por uma circunstâncias no extremo-oposto dessa, lia
com calma... Risonha, terminava a leitura enxugando algumas lágrimas involuntárias
— as quais eram de alegria —, e agradecia ao Universo pelo arcanjo, chamado Luke,
ter aparecido e intercedido em pró de sua vida, dando-lhe um motivo para
prosseguir, iluminando-a, como um estrela, do caminho solitário e obscuro no qual
percorria sem ver o fim do túnel.
Estranhava a sensação de alguém parabenizar-lhe, presentear-lhe, pedir
desculpas por algo que nem fez e, ainda por cima, cuidar-lhe e amar-lhe. Todos
esses aspectos juntos eram visíveis somente em pessoas como Ashley e Henry. Desse
modo, sentia-se a pessoa mais amada do mundo.
Um dos dias mais difíceis de serem enfrentados, em todos esses últimos anos,
visto que, neste data — dezesseis de agosto —, perdeu sua mãe e seu primo-irmão,
além de ter de enfrentar a dura e amarga realidade de seus pais adotivos terem
rejeitado-a. Portanto, seu aniversário significava um ano a mais sozinha. No
entanto, tornava-se o mais especial em decorrência de um ser divino, do qual estava
sendo o divisor de águas, retirar a letargia da solidão e ressuscitar o sentido
assassinado.

Capítulo 103 - Romeu e Julieta e o Equilíbrio / O Equilíbrio

No sofá, encobertos parcialmente por um edredom fino, pareciam um casal de


pássaros, em que estavam grudados um do lado do outro e acariciavam-se, enquanto
assistiam ao filme Romeu + Julieta (1996), escolhido de propósito por Sophia —
embora conhecesse a história, era a primeira vez que via o filme —, e comiam pipoca
em um balde enorme.
Iniciando o filme, experimentou a pipoca e surpreendeu-se:
— Sua pipoca é espetacular!
Orgulhoso, enalteceu-se:
— Eu disse que sabia fazer!
Sophia encontrava-se gelada, pois havia acabado de banhar-se e maquiar-se.
Apesar de não sentir frio, ao encostar em Luke, sentia-o muito quente, mas era algo
prazeroso, sensação que nunca tinha sentido antes. Utilizando suas aptidões
psíquicas para mudar a própria temperatura, embora essa habilidade fosse até então
desconhecida, conseguiu, com sucesso e pouco esforço mental, botá-la em prática.
Luke, sentindo cabelos molhados em seu ombro e uma mão fria encostando em
seu peito, impressionava-se:
— Você está muito fria!
Risonha, ironizou:
— E você está quente!
A divergência de temperatura dos dois era extraordinária, todavia, um
compensava a do outro, havendo um equilíbrio. Tal qual era necessário para ambos,
em diversos aspectos. Como Luke possuía uma sensibilidade exacerbada para com o
calor, não importava-se, aliás, além de gostar do toque dela, achava refrescante.
Distraída, mexendo no colar de Luke, refletiu com receio:
— Posso te perguntar uma coisa?
Concentrado no filme, permitiu:
— Sim?
Embora não soubesse o que o namoro significava, gaguejou:
— Somos namorados?
Tímido, riu:
— Por que dessa pergunta?
Fazendo o que
— Amigos não ficam grudados, não fazem carinhos nem se beijam, não é?
Envergonhado, afirmou:
— É... Acho que não...
Receosa, insistiu:
— Pois então, o que somos?
Reflexivo quanto ao filme, sugeriu um significado para a relação mais mais
profunda:
— Que tal sermos algo que somente nós podemos entender?
Incompreendida, questinou:
— Como Romeu e Julieta?
Haja vista que também não havia experimentado um romance, concluiu:
— Sim! Assim não precisamos nos rotular!
Embora cresse dar tudo na mesma, fingiu compreender:
— Entendi...
Frustado em tentar explicar seu sentimento, tocou com o dedo indicador em seu
nariz e, sorrindo, esclareceu:
— De qualquer forma, saiba que te amo!
Dando um selinho em Luke, abraçou-o e reciprocou:
— Também te amo!
Envergonhado, mudou de assunto:
— Agora, vamos prestar atenção no filme!
Terminando o filme, Sophia chorava, enquanto Luke, a despeito de também
emocionar-se e não conseguir segurar algumas lágrimas, consolava-a.
Recompondo-se, Sophia deixou-o a vontade, afirmando que iria alimentar seu
cachorro e logo voltaria. Apesar de Luke desejar acompanhá-la e conhecê-lo, tendo
em vista que adorava animais, ela deu uma desculpa e persuadiu para que ficasse em
seu quarto até voltar. Incompreendendo o motivo, obedeceu e iniciou a aventura tão
aguardada em seu castelo, como estava escrito na porta.
Os desenhos nas paredes eram as coisas dali que mais cativavam-no. A
riqueza de detalhes. Sentia-se em um museu de artes. Alguns pareciam tão inocentes
e complicados de interpretar, como: princesas recheadas por mel, cachorros com
pedaços faltando, já outros abordavam temas obscuros e explicítos, como:
automutilação, uso de entorpecentes, estupro, assassinato, etc. No geral, os
normais eram paisagens naturais, principalmente céus estrelados, oceanos,
cachoeiras, sol e a lua.
Olhando para os desenhos presos no teto, deu um passo e chutou sem querer
uma caixa presente debaixo da cama, curioso, puxou-o a fim de dar uma espiada.
Devido a poeira, tossia bastante, haja vista que possuía asma. Cobrindo o nariz com
a camiseta, visando filtrar o ar, esperou-o baixar.
Fuçando, notava diversos álbuns nos formatos de CD e fitacassete de várias
bandas. A variedade era tão vasta que acreditou que acharia algum do The Smiths,
mas fracassou. Já na metade da caixa, avistou vários livros, como a triologia do O
Senhor dos Anéis, um livro com uma capa com uma garota idêntica à Sophia: As Águas
e as Estrelas e diversas revistas em quadrinhos de The New Titans. No entanto,
instigou-se por dois cadernos, presentes no fundo da caixa. O do lado esquerdo
possuía o seguinte título: Confissões de Sophia para meu Único Amigo, enquanto o da
direita: Eu, Sofia.
A despeito de reconhecer que o primeiro tratava-se da Sophia, ao passo que
o segundo da ex-amiga de ambos, condenaria-se caso abrisse-o o dela, como cogitou
por curtos instantes. Repondo tudo no lugar de volta, assentou-se na cama e,
respirando fundo, avistou no criado mudo os três álbuns de estúdio do Nirvana, em
CD e fitacassete — Bleach, Nevermind e In Utero —, os únicos que estavam à mostra e
sem um único se quer vestígio de poeira.
Rindo, nem ousou em tocá-los porque sabia o apreço que ela cultivava para
com eles. Acontecia o mesmo com sua banda de paixão.
Na escrivaninha, aguardava-a. De olhos fechados, dava leves toques com os
dedos na superfície de madeira, sentindo a textura e o som mudar, parou e abriu-os.
Apesar de sua mão estar à uma grande distância, comparado com a posição que
econtrava-se, surpreendeu-se com um caderno cujo título era Correndo atrás do
Vento. Jurando para si mesmo que apenas veria do que se tratava, abriu-o e percebeu
que exclusivo para poemas.
Abastecendo as combucas com leite e cereal e água, Sophia dialogava com Toby a
respeito do quão incrível seu namorado era. Porém, parecia não prestar muito
atenção em sua dona enquanto devorava a refeição noturna.
Debaixo da chuva, retornava com calma e ansiosa simultaneamente. No primeiro
caso, por conseguir apreciar a chuva após longa data, e no segundo, por saber que
alguém esperava a sua presença. Só faltava cantar, mas não lembrava-se de nenhuma
música com a letra alegre, visto que durante bastante tempo escutava apenas músicas
melancólicas que reconfortavam-na — apesar do nome da banda autora delas, Nirvana,
significar o inverso.
Concentrado no que escrivia na escrivaninha, foi surpreendido por Sophia, da
qual chegou de fininho e, pela sua trás, tampou seus olhos com as mãos.
Sarcástica, perguntou:
— Adivinha quem é?
Debochado, ironizou:
— É a Aurora??
Risonha, exclamou:
— Sim! Sua namorada!
Dando risadas de concordância, virou-se e, vendo-a molhada, questinou:
— Você foi lá de fora?
Pensando que falar que adentrou em um porão pela janela do lado de fora era
maluquice, ocultou a verdade:
— Eu tive que ir... Ele fica na casinha do quintal...
Pasmo, perguntou:
— Você ficou quanto tempo lá?
Sorridente, refletiu:
— Não sei... eu gosto da água!
Questionando-se como alguém gostaria de água fria, abismou-se:
— Da chuva fria?!
Risonha, exclamou:
— Aí é melhor ainda!!
Sarcástico, concluiu:
— Por isso demorou tanto!
Notando que estava escrevendo em um caderno indagou:
— O que estava fazendo enquanto isso?
Escondendo o conteúdo do papel, envergonhou-se:
— Não é nada...
Curiosa, insistiu:
— Por favor, deixa eu ver!!
Pensativo, propôs um acordo:
— É um poeminha pensando em você... Promete que não vai rir?
Entusiasmada, cruzou os indicadores e beijou-os prometendo:
— Que fofo!! Prometo!
Pegando o caderno, sentou-se na beirada da cama e iniciou a leitura com
carinho:

Sintonia Magnética

A sua face colada na minha


Me enaltece como a chama,
Que em dias de chuva
Nunca se apaga;
Ela apenas se dilata,
Como a nossa púpila,
Que se conecta
Igual a um imã...

Fixando-se em seus olhos, aproximou-se ao máximo que pôde. Permaneceu por


algum tempo apreciando sua alma e vice-versa e, como uma imã, direcionou-se para
seus lábios, dando um selinho prolongado.
Envergonhado, disse rindo:
— Você é muito inusitada!
Encarando-o de perto, ironizou:
— Gostou ou não?
Fazendo-se de difícil, cruzou os braços e negou:
— Não!!
Com uma voz maliciosa, imitou:
— Então vou te dar mais outro!
Correndo para a sala, risonho, exclamou:
— Você vai ter que me pegar primeiro!
Correndo em círculos pelo sofá, brincavam de pega-pega. Ora Sophia parava e
tentava prever onde Luke iria, ora pulava o Sofá, mas não obtinha sucesso.
Vendo-a parar e fechar os olhos, relaxou-se por um momento e, ofegante,
provocou-a:
— Achava que você... era boa na corrida!
Entretanto, ao ouvir um trovão, que parecia mais um terremoto, correu para
ela, abraçando-a pela lateral como uma criança que, após fazer algo de errado,
protege-se atrás da barra da saia da mãe. Seu susto foi tanto que Sophia sentia os
batimentos de seu coração encostado em seu braço. Parecia explodir.
Fingindo-se de inocente quanto ao fenômeno natural, satirizou:
— Está com medo?
Arregalando os olhos, esclareceu:
— É claro! E você não?!
Rindo, exclamou:
— Não!
Aproveitando que ele estava próximo, com medo e distraído, olhando para os
lados, deu outro selinho.
Bravo, exclamou:
— Não valeu!
Caindo em gargalhadas, persistiu:
— Valeu sim!
Vingativo, exclamou:
— Agora vou devolver!
Correndo, provocou estabelecendo uma condição:
— Só se conseguir me alcançar!
Embora quisesse, tentou, tentou, tentou e falhou devido ao cansaço e a
resistência de Sophia. Ao passo que encontrava-se transpirando, ela situava-se com
uma temperatura amena, como de habitual, sem uma gota se quer de suor.
Cansado, confessou:
— Eu gostei do selinho, e você é a melhor corredora que conheço!
Aproximando-se, deu-lhe o terceiro selinho e, risonha, brincou:
— Eu te perdôo! Finge que você me deu o de agora!
Fazendo cara de deboche, mudou de assunto:
— Preciso tomar um banho... Estou muito suado... Mas estou sem roupas...
Pegando-o pela mão, levou-o até o seu castelo. Parada, do lado do guarda-
roupas, estendeu as mãos tentando mostrar a solução.
Incompreendido pelos seus gestos, indagou:
— O que está tentando dizer?
Alegre, exclamou:
— Que você pode usar minhas roupas!
Coçando a cabeça, afirmou:
— Suas roupas não ficariam legais em mim...
Abrindo-o, encostou nas roupas estendidas nos cabides como se estivesse
tocando um piano, das notas agudas para as graves.
Contente, pegou duas amostras e salientou:
— A maioria das minhas roupas são masculinas ou unissex!
Surpreso, sorriu e elogiou-a:
— Gosto do seu estilo!
Entregando-as, planejou pedir o jantar:
— Enquanto toma banho, vou ligar para pedir uma pizza!
Rindo, perguntou:
— Desculpe a pergunta, mas você tem cueca também?
Envergonhada, ressaltou:
— Não... Vou pegar alguma do meu tio para você. Só não sei se servirá...
Reflexivo, sugeriu:
— Não era mais fácil me emprestar roupas do seu tio? Só para dormir...
Apesar de ser uma solução viável, Sophia não cogitou-a por dois motivos:
Primeiro, ter medo de entrar no quarto de Harrison e, segundo, por querer que Luke
ussasse sua vestimentas — ou parte delas.
Formulando algumas desculpas, sem graça, explicou o porquê:
— Elas são muito largas para você e ele só usa roupa formal...
Lembrando-se de outro utensílio importante, complementou:
— E quanto a toalha?
Contente, disponibilizou a sua:
— Eu te empresto a minha!
Pensando que fosse invadir sua intimidade demais, indagou:
— Não se importa??
Sorridente, exclamou convicta:
— Claro que não!!
Enpanturrados de tanta pizza, assistiam, lado a lado, no sofá, o programa
National Geographic. O documentário exibia o modo de vida de felinos, seu habitat
natural, alimentação, procriação e dificuldades enfrentadas em seus cotidianos.
Interessado sobre, Luke imergiu-se, contudo, passando-se um pouco de tempo,
relutava contra o seu sono. Seus olhos fechavam e abriam em segundos. Reconhecendo
que dormiria, como também viu o horário no relógio que marcava 23h23, chamou e
cutucou Sophia para que fossem dormir em um lugar adequado. Todavia, não respondia,
percebendo que havia dormido com a cabeça em seu ombro, acariciava seu cabelo liso
e macio. Notava que nas raízes dele haviam um leve tom de loiro escuro. Fascinado,
beijou-o com carinho.
Com cautela e confiança, visando não acordá-la, deitou-a e, passando um braço
por debaixo de suas costas e o outro em suas coxas, carregou-a, para o castelo, do
qual encontrava-se iluminando pelas luzes da cidade. Durante o transporte, sentiu-
os tremer, tendo em vista que não era forte, porém, sua força de vontade
compensava-a. Dispôs-a na cama e retornou para apanhar o edredom. Cobrindo-a,
permaneceu por alguns instantes observando-a e deu um beijo em sua testa. Fechando
a cortina, olhou para o céu e admirou-se com a Lua na fase Crescente e voltou para
a sala.
Pensou em verificar se havia algum cobertor no guarda-roupa, entretanto,
recordando-se do ruído irritante no momento que Sophia abriu-o, desconsiderou a
possibilidade. Desligou a televisão e as demais luzes de outros cômodos. Ajeitando-
se no sofá, colocou uma almofada em baixo da cabeça, como também espalhou outras
pelo seu corpo — a fim de provocar a sensação de estar coberto — e virou-se para o
lado do encosto, que era mais escuro.
Quase desacordado, sentiu algo encostando-o. Em alerta, assustou-se caindo no
chão. Levando-se, visualizava um vulto, em decorrência da claridade do ambiente ser
baixa.
Amedrontado, questionou:
— Quem é?!
Notando seu medo, aproveitou a oportunidade e fez uma voz aterrorizante:
— Eu vim buscar sua alma!!!
Obtendo certeza de quem se tratava, acalmou-se ressaltando:
— Não tem graça, Sophia...
Percebendo que não gostou devido ao tom de sua voz empregado, desculpou-se:
— Desculpa, achei que soubesse que era eu...
Respirando fundo, acalmou-se e indagou:
— Não estava dormindo?
Tímida, referindo-se ao
— Eu fingi que estava dormindo para ver o que você fazia.
Estranhando, salientou:
— Eu não fiz nada de errado...
Séria, confiou:
— Eu sei. Confio em você.
Sonolento, indagou:
— Pretende voltar a dormir?
Entusiasmada, pegou sua mão, guiando-o pela escuridão, e exclamou:
— Sim, mas antes vamos escovar os dentes!!
Receoso em bater em algum obstáculo no caminho, devido à enxergarem pouco e à
pressa, ressaltou:
— Ei, acenda a luz primeiro! E eu não tenho escova de dente!!
Risonha, frisou:
— Eu te empresto a minha!
Em decorrência do seu medo do escuro desde a sua infância, adquiriu, ou
melhor, descobriu a habilidade de visão noturna. Embora não a utilizasse há
bastante tempo, haja vista que aprendeu à amar a escuridão da noite, continuava à
funcionar.
No banheiro, com a luz acesa, Sophia propôs um acordo que ambos deveriam
utilizar a mesma escova, revezando a vez conforme a determinada parte dos dentes
higienizada. Todavia, não poderia enxaguá-la, ou seja, retirando a espuma e repondo
a pasta de dente.
Preocupado se seria uma boa ideia, perguntou:
— Você não tem nojo?
Sorridente, disse com vergonha:
— Não de você... Você tem de mim?
Da mesma forma, negou rindo:
— Não tem nem por que ter nojo de você!
Terminado a escovação, faziam caretas frente ao espelho, encaravam-se por ele
a fim de ver quem conseguia ficar mais tempo sério e aproximavam-se ao máximo e
observavam os detalhes faciais um do outro — principalmente os olhos.
Luke, observando seu rosto maquiado, sugestinou com segundas intenções:
— Por que não retira a maquiagem? Aposto que para dormir é melhor.
Cabisbaixa, afimou sincera:
— Eu não sei se você vai gostar de mim sem tatuagem.
Sorridente, colocou a mão sobre seu coração e esclareceu:
— Eu gosto de quem você é por dentro, não do que aparenta ser por fora!! De
qualquer forma, você continuará linda!!
Confiante pelas palavras ditas, solicitou que esperasse na sala enquanto
retirasse o lápis dos olhos e o batom. As lentes não se enquadravam na requisição,
mas ousou em retirá-los mesmo assim.
Diante de seu visual natural, embasbacavasse com a mudança. Parecia outra
pessoa da qual fazia séculos que não via — a Sophia de outrora. No entanto, punha-
se à admirar. Os olhos que flertavam-no assemelhavam-se com diamantes azuis de tão
esbeltos.
Sorrindo, desfarçando seu receio de que reprovasse-a, quis saber sua opinião:
— E aí, o que achou? De 1 a 10??
Alucinado expressou com sinceridade:
— Tão bonita quanto a versão anterior! Minha nota é 11!!
Captando tal afirmação, presenciava um sentimento de alívio, do qual permeava
a autoaceitação e o autoperdão em relação à quem acreditava ser a culpada pela
infância que teve e pelas falsas responsabilidades que assumiu perante os
acontecimentos catastróficos que ocorreu consigo e para com os demais ao seu redor.
Envergonhados, foram para o quarto sem falar nada depois disso, como robôs.
Parados como estátuas, desviando o olhar, mantiveram-se quietos. Luke, encorajando-
se, pediu uma coberta emprestada, caso houvesse alguma em desuso. Recebendo-a,
despediu-se logo em seguida.
Ao passo que atravessava a porta, Sophia, no último instante, expirou o que
tanto queria dizer:
— Durma comigo! Por favor...
Apesar de também querer, evidenciou:
— A sua cama não comporta nós dois...
Ficando vermelha como um pimentão, pensando que ele negaria e julgaria-a mal,
arrependeu-se ao sugerir:
— Podemos ficar agarrados, não?
Surpreso por ela estar pensando na mesma coisa, da qual estava se condenando
por cogitar, concordou:
— Não vejo problema... Confesso que o sofá é um pouco duro!
Enquanto Luke olhava para o teto, observando os desenhos de estrelas, os
quais possuíam uma substância que reluzia, as quais tiravam-no do clima tenso, do
qual estava incomodando-o, Sophia, virada para o lado da parede, com o dedo
indicador esquerdo, traçava traços e imaginava como deveria se portar.
Em suma, estavam no mesmo barco, no qual o marinheiro situava-se perdido e
aflito, com o coração na boca, prestes à pular, não sabendo para onde seguir na
imensidão do oceano.
Abaixando sua própria temperatura, pediu sussurando com timidez:
— Você pode tirar a camiseta? Estou com frio... e você é quente...
Perplexo, pois estava sentindo calor, afirmou:
— Está bem...
Virando-se para o outro lado, aproximou-se mais e, pondo a sua mão sobre o
peito de Luke, sentia os acelerados batimentos e o calor emitido transcorrer por
todo seu corpo, aquecendo-o com deleite e esfriando sua alma. Luke presenciava a
mão fria e suave de Sophia sobre seu peito e tinha orgasmos mentais de tão
prazeroso que era.
Relaxado, pediu, transpondo o constrangimento, com o tom de voz baixo:
— Pode tirar a sua também?
Gelando-se, uma vez que não possuía seios fartos e seu tórax, abdômen e costas
haviam cicatrizes, realçou:
— Tem certeza? Não sei se vai gostar...
Intrigado, perguntou:
— Por que não gostaria?
Envergonhada, gaguejou mandando uma indireta:
— Porque sou muito magra...
Incompreendendo tal motivo, deixou-a confortável citando-o como exemplo:
— Não me importo nem um pouco com isso. Também sou!
Embora sentisse um pouco segura, questionou:
— Não vai se decepcionar?
Apesar de não querer pressioná-la, virou-se para ela e mostrou seu real
desejo:
— Só se você não tirar...
Deslizando sua mão quente sobre a pele macia de Sophia, repleta de machucados,
sentia os batimentos e o frio com mais intensidade percorrendo seu corpo,
esfriando-o e aquecendo sua alma. Sophia, amando as carícias quentes plenas, de tão
gostoso que era, gemeu...
Preocupado, retirou sua mão e indagou:
— Desculpa, te machuquei?! Se quiser, eu paro...
Exaltada, negou e, tímida, deixou-o escolher:
— Não! Pode continuar... se quiser...
Continuando, sentiam-se tão atraídos e conectados de corpo e espírito, que não
resistiram ao desejo e começaram a se beijar como se fosse a última vez que
encontrariam-se em suas vidas. Cansados de tanto se acariciarem, sucumbiam ao
sono...
Encontravam-se de frente um para o outro, Sophia com os olhos abertos e Luke
com seus fechados, com as pontas dos narizes se encostando.
Preocupado com a autoflagelação de Sophia, pediu com sonolência:
— Promete que não vai mais se machucar?
Embora os machucados presentes na região do tronco foram provocadas pelo seu
tio, que encontrava-se bêbado, semana passada, prometeu:
— Prometo...
Mechendo no colar de Luke, que atiçava sua curiosidade, mudou de assunto:
— O que significa o símbolo do seu colar?
Animado pelo seu interesse, explicou o conceito principal:
— É o Yin e Yang! Significa equilíbrio e advém da filosofia chinesa. Tudo tende à
se equilibrar...
Espantando o sono com o que foi proferido, quis saber:
— Você gosta de Filosofia?!
Calmo, confirmou devolvendo a pergunta:
— Bastante, e você?
Contente, respondeu com exaltação:
— Eu adoro!!
Lembrando-se que amanhã, sexta-feira, haveria aula, perguntou desejando que
fosse:
— Você vai amanhã na escola?
Com medo das broncas que levaria dos professores, como também de seu desânimo
em ir sozinha, pôs-se em dúvida:
— Eu não sei...
Alegre, destacou:
— Junto comigo!!
Sentindo-se segura e mais disposta â enfrentar os problemas escolares com o
convite, fingiu-se de difícil:
— Se for assim, posso até pensar...
Notando sua manhã, utilizou um de seus pontos fracos: as cócegas, e avisou:
— Então pense rápido! Senão, posso mudar de ideia!!
Rindo, debatia-se ordenando com alegria:
— Pare!!! Isso não é justo!!
Dando-lhe um bom motivo para irem dormir, debochou:
— Vamos dormir, então... Precisamos recuperar as energia para enfrentar o Douglas
Miller e cia!!
Lacrimejando de tanto rir com a imitação perfeita de Louise, após um período
de silêncio, indagou:
— Achou as cicatrizes do meu corpo nojentas?
Dando leves toques em sua cabeça, tranquilizou-a:
— De onde tirou isso, bobinha? Só não quero que se machuque mais...
Aliviando-se por não achar isso, fez alusão à cena do filme, deu-lhe um
selinho e despediu-se:
— Boa noite, meu Romeu!
Devolvendo-lhe o selinho, acariciou o nariz dela com a ponta do seu e
reciprocou:
— Boa noite, minha Julieta!
Caindo no sono como se tivessem tomado uma poção mágica, passaram o resto da
noite abraçados e com as pernas entrelaçadas, tornando-se apenas um ser ao passo
que as estrelas iluminavam-no. Apesar da posição incomodar com o transcorrer do
tempo, a consciência de ambos encontrava-se cansada demais para se importar.

Capítulo 104 - Diferenças / complementar / Mudar Assusta

Esticando os braços e bocejando, acordava sentindo uma sensação maravilhosa.


Arrastando sua mão para a esquerda, buscando Luke, estranhava sentir somente o
lençol. Olhando para o lado, sentiu um aperto no coração por não vê-lo, instaurando
um vazio enquanto visualizava o relógio no criado mudo marcando 10h10.
Com calma, analisou o arredor do castelo e, sem obter pistas de sua
presença, chamava-o dando curtas pausas:
— Luke? Luke?? Luke???
Frustada por não obter respostas, sua mente iniciava as paranoias.
Acreditava em duas possibilidades: ou tudo que aconteceu entre os dois foi um sonho
ultra-realista ou ele foi embora porque odiou algo que ela mesma fez.
Começando a se bater, chorava e gritava... Refletia sobre o que tinha feito
de errado, condenando-se pelas atitudes impulsivas que tomou sem a permissão dele e
pensamentos semelhantes.
Parou quando sentiu alguém abraçando-na e questionando-a:
— Ei, o que aconteceu, Sophia?!
Acalmando-se, observou o rosto de quem se tratava e, surpresa, indagou:
— Luke? É você???
Sorridente, e meio sem jeito, explicou-se com receio:
— Sim... Eu amarrei meu cabelo, devo estar parecendo outra pessoa...
Embora não tivesse notado a diferença, alegrava-se por ele estar ali, em carne
e osso, ou seja, não tendo cogitado abandoná-la por algum motivo em específico.
Contente, esfregou os olhos e atentou-se para o seu cabelo.
Impressionada com a mudança, perguntou:
— Você passou chapinha??
Acreditando estar feio perante os olhos dela, envergonhou-se:
— Não... É que se eu pentear ele fica mais liso...
Fascinada como Luke ficava bonito de várias formas, elogiou destacando um
ponto positivo:
— Ficou muito bonito! Consigo ver seu rosto melhor agora!!
Aliviando-se, direcionou-se para o que preocupava-o:
— Por que estava chorando e gritando?
Cobrindo a cabeça com o edredom, afirmava com timidez:
— Eu achei que você tinha ido embora por causa de algo que eu fiz e você não
gostou...
Destampando seu rosto, esclareceu:
— Você não fez nada que eu não gostei, tá bom? Tem que parar que pensar nisso...
Sorrindo sem mostrar os dentes, desculpou-se na intenção de agradecer:
— Tá bom, me desculpe...
Afagando-a, explicava o que tinha ocorrido:
— Não precisa pedir desculpa. Aliás, eu que deveria... Fui na minha casa pegar um
uniforme limpo e aproveitei para trazer alguns lanches para acompanhar o café da
manhã, mas nem deixei um recado avisando.
Preocupada, ergueu-se noventa graus e, a despeito de sempre ir, questionou:
— Sua casa é em São Francisco? Não é muito longe de a pé?!
Robótico, olhando-a de sutiã, ressaltou o meio de transporte que utilizou:
— Eu tinha um pouco de dinheiro... para pagar a passagem do coletivo...
Percebendo-o desviar o olhar, ajeitou o cabelo e indagou:
— O que foi??
Sem olhá-lá, constrangido, gaguejou:
— Você... está sem... camiseta.
Percebendo, tampou-se com o edredom e, envergonhada, retratou-se:
— Desculpa! Mas pode olhar, se quiser... Somos namorados...
Lembrando-se da maneira cordial que seu pai tratava sua mãe, bem como seus
conselhos de como tratar uma mulher, elucidou:
— Eu sei... só não quero te desrespeitar...
Perplexa de como ele estaria fazendo isso, exclamou com ternura:
— Você é a pessoa que mais me respeita, bobinho!!
Sorridente, convidou-a para comer:
— Que tal comermos as coisas deliciosas que eu preparei e trouxe, dorminhoca?
Precisamos de energia para irmos à escola!
Exaltada, imaginando-os indo de mãos dadas, sugeriu:
— Podemos ir de a pé?!
Felizardo, pois acreditava não ter dinheiro suficiente para pagar a passagem
de duas pessoas, assentiu:
— Era o que eu queria!
Aguardando Sophia terminar de se arrumar, olhou para o relógio do castelo, que
marcava 11h11, e começou à tocar alguns acordes no violão para distrair-se. Nunca
havia pegado em um, mas os sons aleatórios emitidos eram satisfatórios. Tentava
fazer com que soassem semelhante ao The Smiths, inspirando-se em Jhonny Marr,
guitarrista da banda.
Sendo interrompido, ouviu-a desabafar:
— Eu não estou conseguindo arrumar meu cabelo do jeito que quero! Esqueci de
arrumar ele ontem!!
Vendo sua franja retilínea, com algumas mechas maiores, obstruindo levemente
seus olhos, aconselhou:
— Por que não vai com o cabelo assim e sem maquiagem? Está linda!
Irritada, bagunçou sua franja, recusou:
— Faz anos que não vou desse jeito para a escola!
Dando-lhe como exemplo, confortou-a:
— Eu também estou com o visual diferente. Não se importe com o que vão pensar,
estamos juntos!
Sentando-se do seu lado, frustou-se:
— Vou ter que cortar a franja de forma reta então... Senão não enxergo direito.
Intrigado, perguntou:
— Tem algum problema?
Cabisbaixa, pondo uma mecha da franja atrás da orelha, explicou por quê:
— Eu uso ela na lateral para tampar esta cicatriz. Se eu cortar, vai ficar
visível...
Observando-a, não via nada de estranho e, beijanda a sua temoora, salientou
mostrando a sua cicatriz:
— Ela é bonitinha! Te dá um charme maior!! Eu tenho uma na testa também,
acompanhada por uma pinta.
Indignada por a dele estar imperceptível, próximo ao couro cabeludo, relatou:
— A sua é quase invisível... Zombavam de mim por causa dessa marca.
Vendo o lado positivo, brincou mostrando-lhe a solução, presa no seu próprio
cabelo, para o problema:
— É por que eu não estava lá! Se precisar, te empresto minha presilha para você
escondê-la.
Agraciada pela gentileza e compreensão, assentou-se em seu colo, envolveu o
braço por trás de sua nuca e, dando-lhe um selinho, agradeceu:
— Obrigada!!
Inesperado por tal atitude, sorriu e prosseguiu curioso:
— O que aconteceu para você machucar este lugar?
Sentindo-se mal por relembrar o contexto, resumiu a longa história:
— Eu escorreguei e bati a cabeça no box do banheiro quando era mais nova... E
contigo?
Recordando-se de uma época nostálgica, narrou resumido, mas imaginando cada
detalhe:
— Eu estava correndo atrás da minha mãe e tropecei em algo. Aí bati a testa em
algum objeto de metal que estava ali..
Criando a cena em sua mente, horrorizava-se:
— Deve ter doído muito!
Contente, explicou com certo temor:
— Nem tanto, mas sangrou bastante. O meu maior medo foi o médico tentando me
acalmar para costurá-la...
Reflexiva, lembrava-se do melhor médico que teve: Brian, encorajando-se:
— Acho que eu não teria medo, mas, no meu caso, acabei desacordando...
Notando que estava distraída, deu-lhe um selinho, provocou-a perante sua
coragem:
— Quero ver você não ter medo na sala da diretoria quando chegarmos atrasados!
Carregando-a até o banheiro, pôs-a no chão e, ofegante, ironizou:
— Você engordou muito de ontem para hoje, hein?!
Rindo, devolveu:
— A culpa é sua!!
Sophia, em cima de uma minibanqueta, visto que Luke era mais alto, confiava
nele como cabeleleiro, tendo em vista que, além de não enxergar o que estava
fazendo — em decorrência de haver milhares de fios —, fazia bastante tempo desde a
última vez que cortou o cabelo alinhado e, ainda por cima, utilizando uma tesoura.
Quando acreditava ser o ideal cortar, usava uma lâmina de barbear, deixando-o
repicado, conforme seu próprio gosto.
Luke, segurando a franja com dois dedos, como uma régua, seguia as instruções
dela em relação ao tamanho. Sophia pedia para que não deixasse muito curto, pois
repicaria para uniformizar com o restante do cabelo. Obecendo, cortou reto, como se
estivesse traçando uma linha com uma régua.
De mãos dadas andavam balançando-as, proseando, divertindo-se. E, talvez o
mais importante, ambos prestando atenção nas paisagens, sem fones de ouvidos,
despreocupados com o destino e horário. Atravessando a Ponte, Sophia, sentindo um
sentimento acalentador, parou e, chegando perto da cerca, encantava-se com a
vitalidade que os elementos ali presentes traziam. O vento batendo em seu rosto,
sem ter a preocupação insuportável de sempre ter que arrumá-lo, haja vista que
descia para os seus olhos; o múrmurio das águas que fazia tempos que não sentia a
sensação deliciosa que era ao escutá-lo...
Enfim, tudo o que até um dia atrás era monótono, sem cor e vida, ou melhor,
sem sentido, retornava para o estado original do qual lembrava-se de sentí-lo em
sua infância: reconfortante.
De olhos fechados, sentindo que estava afastado, convidou-o:
— Vem, Luke! Você não sabe o que está perdendo!!
Receoso, relatou:
— Eu tenho medo altura...
Oferecendo-lhe a mão, aconselhou:
— É só não olhar para baixo. Não tenha medo de ser feliz!!!
Confiando em seu olhar e sorriso contagiantes, pegou sua mão e aproximou-se
até a extremidade, ao lado dela. Embora sua mente instigasse-o para que olhasse
para baixo, seguiu o conselho de Sophia sobre não atrever-se a fazer isso.
Observava o horizonte, caracterizado pelo sol e pelo oceano. Encantado, não sabia
qual era o mais distante, pois não avistava o fim de nenhum dos dois.
Admirada, exclamou:
— É lindo, não é?!
Sem conseguir expressar, hipnotizou-se:
— Uma das coisas mais lindas que já vi...
Alegre, assentiu:
— Concordo!!
Observando-a, sentia-a mesclar com a paisagem, tornando-se um, ironizou:
— Só não é mais do que a Aurora...
Notando a cantada, brincou:
— A aurora já foi embora!
Utilizando a mão como uma viseira sobre seus olhos, procurava algo até
encontrar:
— Ela está bem na minha frente!
Refletindo sobre o quanto Luke fazia-a se sentir especial nos momentos mais
inusitados por meio de gestos gentis, deu-lhe um selinho e agradeceu:
— Obrigada, Luke!
Curioso para saber qual motivo do repentino selinho e agradecimento, sorriu
abobado:
— Pelo quê?
Enchendo os olhos de água, segurou-se e, alegre, agradeceu:
— Por tudo!!
No corredor, Sophia acompanhava Luke até a sala dele, de mãos dadas, visto que
era o mesmo caminho para ambos. Há alguns minutos encontravam-se no lugar secreto,
que apenas eles sabiam. Não permanecerem por muito tempo, mas o suficiente para
matar a saudade, haja vista que faltava poucos minutos para iniciar as aulas, às
13h00, embora nunca fosse exatamente em ponto, tendo em vista que os professores
atrassavam-se um pouco — menos o seu tio.
Durante o percurso, assustava-se com a quantidade de pessoas que
cumprimentavam-no, atrapalhando-os à chegar em seus destinos. Havia uma quantidade
expressiva de meninas em comparação com os meninos, e isso irritava-a.
Risonho, achava engraçado o fato de ter mudado o cabelo:
— Eu achei que ninguém ia me reconhecer.
Observando três garotas cochichando enquanto olhavam-os, afirmou:
— Você é bem popular...
Puxando sua mão, ressaltou a situação:
— Eu não conheço essas pessoas!
Sendo parados por uma ruiva de olhos verdes, a mesma que estava há instantes
no trio que bisbilhiotavam-os, visto por Sophia, punha-se à contemplar a beleza
dela. Presenciando-a entregar um bilhete e, sem dizer nada, saindo como se nada
tivesse acontecido, estranhava o que já acreditava ser estranho.
Angustiada, questinou:
— O que tem aí??
Andando, abria-a e, favorecendo para que os dois lessem, liam mentalmente:
"Oiii Luke!
Minhas amigas de outra sala me falaram que você é o novo novato da escola. Te achei
muito fofo pelas coisas que ouvi e queria convidar você para ir hoje a noite comigo
e meus amigos no parque de diversões as 18h depois do fim da aula
Vou estar te aguardando,
Beijos, Claire"
Comparando a parte física com a intelectual, satirizou os erros de linguagem:
— Parece que não sabe nem escrever direito...
Olhando para trás,
— Fala baixo, Sophia!
Indignada, sugeriu:
— Por acaso quer ir com ela?
Pensativo, aponderou-se da ideia colocando-a em outro contexto:
— Quero ir com você!! Você topa?!
Percebendo a alegria dele ao sugerir isso, emburrou-se:
— Não sei...
Passando a mão por trás da cintura dela, aproximou o seu corpo e provocou-a:
— Podemos fazer várias coisas legais, só nós dois!
Irresistindo ao carisma de Luke, hasteou bandeira branca:
— Você venceu!
Grudados um ao outro, caminhavam rindo até possuírem a insatisfação de serem
interrompidos outra vez. Entretanto, agora tratava-se das piores pessoas do
colégio.
Sarcástico, saldou-os:
— Veja só o que temos aqui!!
Com gentileza, cumprimentou-o:
— Olá, Douglas Miller.
Andando em círculos ao redor dos dois, analisava-o:
— Luke Smith, não é? O novato do pedaço!!
Cabisbaixa, pediu com cordialidade:
— Deixe a gente passar, por favor...
Notando que estavam agarrados um do lado do outro, ligou os fatos:
— Pelo visto vocês dois estão namorando, não é mesmo? Isso explica o porquê pegou
meu walkman.
Continuando à andar, ironizou:
— Estamos sim! Agradecemos as felicitações!!
Deixando-os passar, Patrick antenou-os sobre uma das principais regras da
escola:
— A Louise vai adorar saber disso...
Percebendo que não se importava, Douglas provocou Sophia:
— Meus parabéns, Luke! Você conseguiu botar ela na linha. Ela parece que nem é mais
animal agora!!
Parando, Luke controlou sua raiva, com a ajuda de Sophia, e, virando-se,
sorriu avisando:
— Melhor o senhor Miller calar a boca...
Sabendo que faltava pouco para ele perder o controle, exaltou-se:
— Se não o quê, VIADINHO?!
Puxando seu braço, mostrou um motivo para relevar:
— Deixa isso para lá! Vamos nos atrasar...
Na porta da sala de Luke, com as testas e os narizes colados um na outro,
trocavam sussuros de amor. Sophia estava insegura demais para entrar em sua sala,
com medo dos olhares e julgamentos, todavia, Luke conseguia acalmá-la de uma forma
tão primorosa que superava Ashley.
Acariciando sua bochecha, destacou:
— Sempre vou estar aqui, tá bom?
Dando um sorriso de canto de boca, com a boca fechada, assegurou:
— Nos vemos no recreio?
Sorridente, deu um leve peteleco na sua testa, visando que ela levantasse-a a
cabeça, confirmou:
— Claro!!
Beijando-se, Sophia ia com mais segurança para a sua sala, logo ao lado, e
enfrentar a aula duradoura e chata de Matemática — que ao menos não era mais
ministrada pela Louise. Pensando nos pontos positivos, acreditava que a maioria dos
colegas de sua sala nem reconheceriam que ela mudou de aparência, pois nunca se
quer perceberam sua existência. Portanto, não chamaria a atenção que tanto temia.
A despeito dela não souber, Luke nutria um sentimento de preenchimento.
Embora as pessoas fizessem questão de circundá-lo, sempre sentia um vazio enorme e
uma falsidade tremenda. Contudo, junto à Sophia, essa sensação extinguia-se.
No esconderijo de ambos, escorados nos arbustos, relatavam as experiências de
suas aulas até então. Ao passo que Sophia desfrutava de um suco de caixinha de
maracujá e cream creaker, Luke possuía uma pequena diferença: bebia uma bebida
láctea de chocolate.
Notando que Sophia estava bebendo algo diferente, ofereceu:
— Vamos trocar? Eu bebo um pouco do seu e você do meu.
Lisonjeada, recusou-se por uma razão:
— Bem que eu queria! Mas tenho alergia a qualquer coisa derivada do leite...
Compreendendo, lamentou-se:
— É uma pena...
Com ciúmes, envergonhou-se:
— Você acha a Claire bonita?
Pensativo, concluiu:
— Pelo que me lembre, acho que sim...
Engolindo seco, questinou:
— Mais do que eu??
Risonho, brincou:
— Você ganha dela tranquilamente! Não é só porque ela tem cabelo ruivo que é mais
bonita que você.
Contente, prosseguiu com o que queria relatar:
— Descobri que ela é da minha sala... Ela ficou me encarando nestes três últimos
horários.
Achando engraçado, ironizou elogiando-a:
— Pelo menos nisso ela foi inteligente! Eu também encararia...
Com voz de choro, disse entregando-lhe um papel:
— Ela me entregou um bilhete dizendo para me afastar de você, porque você merecia
alguém melhor...
Abraçando-a, confortou-a:
— Ei, pare com isso! Eu te amo!!
Esfregando os olhos, insistiu:
— Eu vou entender se quiser ficar com ela...
Pegando o bilhete, picotou em vários pedacinhos e, próximo aos seus olhos,
esclareceu:
— EU TE AMO!!! Eu preciso só de você!! Eu quero só você...
Notando que havia ficado irritado, arrependeu-se de estar rebaixando seu
valor:
— Às vezes minha mente faz eu pensar em coisas que não tenho controle, é um
costume... Desculpa!!!
Encenando uma peça de teatro, deitou-a na grama e proferiu seus conflituosos
sentimentos:
— Oh, Julieta! Ao mesmo tempo que me aquieta, me desinquieta!!
Entrando na encenação, beijou-lhe e declarou-se:
— Romeu, Romeu! Meu coração é somente teu!!
Deitando ao seu lado, sorridente, olhando para a copa da árvore, encontrava-se
curioso:
— E aí, ela cometeu erros ao escrever de novo?
Rindo, olhava para folhas caindo e confessou:
— Sim! E dessa vez foi pior!!
Virando-se para sua direção, apoiou sua mão sobre o maxilar e impressionou-se:
— Tinha como?!
Virando a seu lado, confessou:
— Acredite se quiser, ela se superou!!
Esquecendo-se de falar, lembrou-se na hora:
— O Douglas também ficou me encarando...
Suspirando, colocou as mãos sobre sua barriga e reagiu normal:
— Não me impressiona. Você está chamando atenção de todas as meninas do colégio...
Ele morre de ciúme...
Pensativo, concluiu:
— Acho que ele gosta daquela tal de Claire...
Visando subentender que Douglas gosta de qualquer pessoa do sexo oposto,
destacou:
— Ele gosta de todo mundo que tem cabelo comprido...
Reflexivo, interpretou a indireta como se fosse para ele:
— Isso foi uma ironia para mim?
Segurando as risadas, apesar de não ter pensado nisso, preferiu não
esclarecer:
— Talvez, quem sabe...
Indiferente, prosseguiu o raciocínio:
— Ele me avisou para ficar longe dela... Ah! Também falou para ficar de você
também! Mas o motivo não sei...
Apesar de já souber a decisão perante ela mesma, séria, perguntou:
— E você vai ficar?
Sorridente, entendendo que se referia a Sophia, exclamou com convicção:
— Nem morto!!
Fingindo-se de desintendida, ironizou:
— Dela ou de mim?
Entrando no seu jogo, devolveu a ironia:
— Quem é a minha Aurora?
Percebendo que Sophia ficou tímida, com as bochechas coradas, sem responder,
repetia a mesma indagação com um tom de exaltação a cada vez, aproximando-se de seu
rosto. Embora tentasse arrancar alguma resposta, obtinha somente sorrisos de canto
de boca, olhares desviados e face revirada. Entretanto, realizando cócegas, estava
quase obtendo a que tanto queria.
Remexendo-se, ria implorando:
— Para, por favor!!
Insatisfeito, repetiu arranjando uma desculpa:
— Quem é minha Aurora??? Não escutei direito! O sinal bateu!!
Conseguindo recuperar o fôlego para falar o que desejava, disse em claro e
alto tom:
— SOU EU! SOU EU!!
Cessando o ataque amistoso, manteve-se imóvel, em cima dela, encantando-se com
os risos, gestos delicados e o sorriso majestoso, ao passo que ouvia-a afirmar que
deviam retornar para a sala. Demorando alguns segundos para raciocinar, desculpou-
se. Levantado-se, estendeu a mão, ajudando-a.
Saindo do esconderijo, apostaram uma corrida, da qual foi sugerida por Sophia —
que exaltava-se tendo certeza de que ganharia.
   
Capítulo 105 - Aviões

   Aproveitando que era caminho, Luke passou no orfanato em que sua mãe
trabalhava a fim de avisá-la aonde iria e, por segurança, pegar um pouco mais de
dinheiro com ela. Salientou para Sophia que seria rápido e que em algum outro
momento propício apresentaria-a com calma. Desejava bastante conhecê-la — a
despeito do medo e da timidez colossais —, mas conformou-se com a situação,
apaziguando sua mente que formulava frases pré-prontas desde quando soube, saindo
da escola, que possivelmente veria-a.
        Esperando do lado de fora, observava o trânsito de crianças e imaginava
como seria morar nesse lugar, pois tinha ciência de que quase morou, e reconhecia
que não era por falta de vontade de seu tio.
No parque de diversões, Sophia desfrutava do sorvete que havia ganhado com a
corrida, apesar de ter sugerido uma premiação apenas depois de ter vencido.
Contudo, Luke, relevando se era uma aposta ou não, queria pagá-lo de qualquer
jeito.
Todavia, para conseguir o ideal foi difícil, ambos tiveram de percorrer
várias barraquinhas em busca de algum que não possuísse lactose em sua composição.
Com muito custo, explicação para os donos do que se tratava e insistência de Luke,
conseguiram, na última, um sabor morango à base de soja.
Era para Sophia estar impressionada com a obtenção de algo tão raro como
ouro naquele ambiente, porém, tranquilizava-se pela adrenalina de ter de enfrentar
as caras bravas, embora fosse Luke que tomava as rédeas do pedido.
Contente, sorriu e ofereceu-lhe:
— Quer um pouco? Você não quis pegar um para você...
Recordando-se que havia pagado o triplo no de soja em relação a um
convenvional, optou por segurar a vontade em pró de um bem maior: divertir-se nós
brinquedos com Sophia.
Coçando a cabeça, mentiu:
— Aceito um pouco... Eu não peguei porque não estava com vontade!
Pegando uma porção com a colher de plástico que desse orquestrar manobras,
preparou-o para decolagem:
— Então abra a boca! Vou fazer aviãozinho!
Envergonhado, olhando a quantidade de pessoas ao redor, balançava a cabeça e
negava:
— Não, assim não!
Notando que estava ficando tímido, provocou-o em um tom de brincadeira:
— Por que? Está com vergonha de mim? Achei que você não tinha vergonha...
Não querendo se passar de bobo, ressaltou:
— Claro que não estou com vergonha de você!! Mas tem que ser aviãozinho?
Arregalando os olhos e cruzando as mãos, pediu:
— Por favor!!
Padecendo ao seu olhar angelical, abriu a boca e pôs uma parte da língua para
fora a fim de facilitar o pouso.
Entusiasmada, iniciou a decolagem contando uma breve história:

O avião estava instável. A pilota Sophia fazia esforços sobre-humanos para


mantê-lo alinhado no ar, tendo de virar o volante mais para a direita para
compensar o equilíbrio. O motor esquerdo se encontrava completamente destruído,
pegando fogo, devido ao derradeiro ataque do último comboio nazista, e o direito já
estava expelindo fumaça.
Saindo das tempestades, avistava na imensidão do Oceano Atlântico pontinhos
brilhantes que pareciam estrelas. Aproximando-se, visualizou um porta-aviões norte-
americano. Pousando-o, Sophia, sem desligá-lo, desceu e foi correndo procurar pelo
marinheiro Luke, que já estava em prantos com todas as explosões e relâmpagos que
iluminavam o céu noturno.
Se vendo, choravam, se abraçavam e se beijavam... A Guerra tinha terminado!

Enquanto prestava atenção na trama, era como se tudo ao redor não


existisse. Na verdade, como se retornasse ao passado e imaginasse cada palavra
proferida. Sua boca fechava-se com o transcorrer do conto. No momento que a
abertura situava-se no limite, Sophia atravessou-a e, esperando-a fechar por
completo, retirou a colher utilizando a estrutura interna e flexível para obstruir
o retorno de algum resquício de sorvete.
Sentindo-o derreter em sua boca, encantava-se com a textura e o sabor
jamais experimentados, ao passo que fixava-se nas púpilas gigantes da pilota.
Impulsivo, sem pensar, antes que terminasse a sensação maravilhosa, juntou sua boca
na dela, tornando-as complementares umas paras com as outras, junto com as línguas,
as quais acariciam-se, conforme um vínculo afetivo entre humano-cão e cão-humano.
Conectavam-se por meio do ato mais romântico e caloroso já experimentado
por ambos. Só o instinto e os sentimentos mais abissais eram transmitidos e
captados.
Aquilo que sentiam e compartilham em comum era o gosto do fidedigno amor.
Paralisada e de boquiaberta, Claire, frente aos dois, assistia a cena de
camarote. Acreditava que beijos assim aconteciam apenas em filmes.
Cessando-os, Sophia olhava para o seu lado esquerdo, procurando por algo que
sentia estar ali observando-os.
Intrigado, Luke, com as mãos entre suas bochechas e seu pescoço, afastaou seus
lábios e buscou entender o problema?
— O que foi?
Relevando o que acreditava ter sentido a presença, reconectou-se dando-lhe
bitocas e despreocupou-lhe:
— Na-da!
Apaziguando a vontade ardente dos dois de se interligar em um nível mais
profundo, continuaram à andar pelo parque, de mãos dadas, trocando olhares e risos
tímidos. Ignoravam o ambiente barulhento ao redor, sentiam-se como se fossem os
últimos e únicos sobreviventes da Terra.

Capítulo 104 - Ignorância

Em um canto isolado, Claire chorava como se algo horrível tivesse ocorrido.


Entretanto, em sua mente havia... Questionava-se como alguém preferiria escolher
outra pessoa ao invés dela: a garota mais popular do colégio, filha do médico mais
renomado da cidade — do qual descobriu um novo medicamento para tratar com mais
eficiência o Alzheimer —, além de ser ruiva e possuir olhos verdes. Tais
características divinas que Sophia sonharia em ter.
Perguntava-se o que aquela menina comum, ou melhor, esquisita, tinha que ela
não possuía de melhor, com excessão dos olhos azuis. Todavia, tinha certeza
absoluta que eles eram falsos, pois, nos raros momentos que via-a na escola, sempre
observava a coloração castanha escura, quase preta, ou seja, lentes fajutas que
começou à usá-las para tentar se equiparar a sua beleza natural e superior — a
considerada mais rara.
No entanto, angustiava-se por estar gostando de Luke, um menino supernormal
de aparência em comparação com os demais, que não relatava nada de diferente. A não
ser o modo cordial que ele tratava as pessoas a sua volta, fosse quem fosse, e a
coragem para enfrentar o mandachuva da escola, Douglas, peculiaridades que
cativava-a.
Douglas, junto com seus amigos, encontraram as amigas de Claire, as quais
relataram que ela estava triste e que não queria ser incomodada. Olhando-a mais ao
longe de costas, notava o seu lindo vestido vermelho, que mesclava com o seu
cabelo. Destemido, bateu no peitos de Patrick e Steven e foi cumprimentá-la.
Colocando a mão sobre o seu ombro, cumprimentou-a gaguejando:
— Oi, Clai-re!!
Enraivecida, gritou expulsando:
— ME DEIXA!!!
Como um gato manso, desculpou-se e obedeceu-a retornando para o grupo.
Intrigado, perguntou olhando para trás:
— O que houve com ela?
Olhando para Steven, Scarlett afirmou:
— A gente não sabe ao certo...
Olhando para Patrick, Anny concluiu:
— Achamos que tem a ver com o novo menino que ela está gostando...
Em uma mistura de ciúmes e raiva, mudou o comportamento retraído:
— QUEM É?!
Trocando risos com Steven, foi indiferente e direta:
— É um tal de Luke.
Trovando risos com Patrick, afirmava sem prestar atenção no que estava
falando:
— Parece que ele rejeitou ela para ficar com aquela esquisita que não sei o nome.
Pelas palavras da própria Claire, ele humilhou ela na frente da namoradinha...
Perdendo a sanidade ao escutar essas proposições, fez questão de cumprir a
missão sozinho: encontrar Luke. Apesar de dispensar a ajuda de seus amigos, esses
ignoraram completamente o contexto, esquecendo suas subserviências, e fixaram-se
somente em Scarlett e Anny. O parque era muito grande, mas seu desejo por vingança,
em nome da paixão que detinha por Claire, era tão mensurável quanto.

Capítulo 106 -

Felizarda depois de vencer Luke no carrinho de bate-bate provocava-o, enquanto


andavam, por ter contado com a vitória antes da hora, ganhando assim a aposta de
quem escolheria o próximo brinquedo. O placar ficou doze contra treze, havendo uma
virada surpreendende de Sophia quando encontrava-se doze a seis para Luke.
Cutucando-o, idealizava um letreiro expressando com mãos no formato de um
arco-íris:
— Como diz você: "eu sou o melhor de São Francisco"!
Indignado com o placar, ressaltou:
— Foi só um ponto de diferença!
Orgulhosa, destacou:
— Foi o suficiente para eu ganhar de você!
Risonho, explicou a situação:
— Tinha um menino que batia em mim toda hora! Ele estava tentando te proteger...
Embora não fosse mentira, revidou o argumento:
— Isso não é desculpa!! Aliás... está com ciúmes??
Sereno quanto ao contexto amistoso, dava à entender:
— Eu??? Cla-ro que não! Só es-tava ex-plicando...
Notando-o gaguejar, achando-o fofo, rindo, concluiu:
— Está sim!!!
Emburrando-se, esclareceu:
— Se não fosse por isso, teria ganho com uma folga de seis pontos!
Tímida, agarrou-o pelo braço e relutou:
— Aconteceu o que tinha que acontecer...
Marrento, avisou:
— No próximo brinquedo eu ganho!
Puxando-o, sorridente, ressaltou:
— Esqueceu que sou eu que escolho agora??
Avistando um troço enorme, assustou-se:
— Não é o que estou pensando, não é?!
Irônica, assentiu com a cabeça:
— Aham!
Sacudindo-a pelos braços, salientou o seu pesadelo:
— Você sabe que morro de medo de altura!!
Lembrando-se de Jhon, salientou com indiferença:
— Eu também tinha. Mas alguém me ensinou a não ter mais...
Em meio à essa sentença, buscou um argumento plausível:
— O medo serve para nos manter fora do perigo!
Contente, replicou:
— E também nos impede de apreciar a vida!
Por intermédio das argumentações, Luke sentia-se aos poucos mais seguro para
confrontar uma de seus traumas. Sophia, à alguns metros da cabine revestida por
metal e vidro, sentia a mão dele trêmula e úmida.
A despeito da reputação desta roda-gigante já não ser boa devido à incidentes,
portanto não avistava-se outras pessoas nas demais cabines, o instrutor ainda teve
a audácia de agir com rudez.
Escondendo uma garrafa por trás do seu corpo, intimidou-os:
— Vocês vão entrar ou não?! Se vieram para fazer graça, melhor irem embora!
Olhando-o com ternura, apertou sua mão e deixou-o a vontade:
— A hora que você estiver pronto, Luke!
Assistindo-os entrar depois de uma longa espera, deu um gole em sua bebida e
afirmou em vão:
— Malucos...
Sentados um ao lado do outro e presos em cintos de segurança, Luke sentia seu
coração acelerar conforme subiam. Olhando para baixo, vendo se distanciar da
superfície, já estava tendo sinais de vertigem, apesar de não estar do lado aberto,
que Sophia situava-se— visto que a porta estava arrancada. Segurando sua mão,
tentava acalmá-lo, porém não adiantava. Mudando de lugar, ficando de frente a ele,
buscou uma nova estratégia.
Estendendo as mãos, chamou sua atenção:
— Me dê suas mãos e olhe nos meus olhos! Não olhe mais para baixo!!
Fugindo do seu terror psicológico, segurou nas mãos frias de Sophia e fixou
em seu olhar. Em silêncio, contemplando as nuances de sua íris azulada com formato
de flor, preenchida por diversas pétalas características, começava à ter
alucinações e risos espontâneos. Em contrapartida, Sophia possuía a mesma reação
admirando a íris castanha-clara no formato de rio.
Envergonhada, Sophia pediu:
— Pare de rir!
Embora quisesse, não conseguia:
— Você que começou!
Com o tempo, ganhava mais confiança para olhar ao arredor. Visto que a roda
gigante era muito alta e a velocidade média que rodavam era infima, além de pararem
em diversos momentos, dariam somente uma volta. O pico em que situavam
possibilitava uma vista espetacular. Luke, junto com Sophia, vislumbravam-se com a
fantástica iluminação da cidade de São Francisco.
Felizarda, mandou uma indireta:
— Entendeu o porquê eu queria te trazer aqui?
Embasbacado, compreendeu:
— É realmente magnífico! Valeu a pena!
Sentindo saudade de uma das coisas que mais gostava, destacou:
— Esses pontinhos amarelos me lembram muito as estrelas!
Distraído, indagou:
— É verdade... Mas as estrelas não são brancas?
Risonha, recordando-se de Sofia ter falado isso uma vez, explicou:
— Existem em todas as cores, mas conseguimos enxergar só dessa forma...
Avistando uma estrutura monstruosa ao longe iluminada, apontou o dedo e
surpreendeu-se ao identificá-la:
— Olha!! Dá para ver a Golden Gate!!!
Reflexiva quanto ao tempo que estavam parados no mesmo lugar, sugeriu:
— Quer levantar para ver melhor a paisagem?
Empolgado, concordou sem medo:
— Claro!
Removendo os cintos, levantaram-se e deram as mãos. Sophia não sentia a mais a
de Luke úmida. Observavam o horizonte pela estreita abertura com clareza, pois o
vidro que circundavam-os era um pouco fosco.
Percebendo que não havia uma porta, intrigou-se:
— Por que será que está sem uma porta?
Risonha, lembrando-se de sua mãe comentar sobre a história da roda-gigante,
exemplificou:
— Esta geringonça é da época da minha avó!
Encucado, questionou:
— Não é perigoso?
Complacente, lembrou-o:
— Se quiser, podemos sentar...
Sorridente, sugeriu:
— Só se for no chão!
Sentados e escorados na parte metálica afastada da entrada, permaneciam
colados um do lado do outro. Ora admiravam a vista, ora trocavam selinhos e/ou
riam. Luke estarrecia-se com a corrente de ar fria que adentrava, ainda mais com a
reação natural de Sophia perante ela, como se não existisse. Enrijecendo-se o corpo
e respirando profundamente, visava controlar o frio que sentia e ocultar o início
de suas tremedeiras.
Notando que estava tendo dificuldades para respirar, preocupou-se:
— Sua asma está atacando??
Surpreendido por ter conseguido perceber seus movimentos sutis, arranjou uma
desculpa:
— Não!! É só alergia à ferrugem!
Afastando-se um pouco, salientou:
— Se quiser, eu vou na beirada e grito para o moço descer a gente!!
Percebendo a seriedade, indagou:
— Você faria isso?
Aflita, exclamou!!
— Claro!!! Não quero que você morra!!!
Notando que ela estava trêmula e pálida, acalmou-a:
— Ei, calma! A minha asma não é desse nível...
Escorregando algumas lágrimas, indagou:
— Jura???
Arrependido de uma mera mentirinha ter feito isso, agiu com condolência:
— Juro!
Deitando-se em seu ombro, desabafou:
— Tive um avô que teve uma crise asmática e morreu! Por isso pensei...
Afagando-a, brincou a fim de animá-la:
— Morrer ao seu lado não seria uma morte ruim!
Cabisbaixa, discordou:
— Se me deixasse, seria...
Alertando-se com a cabine dando uma leve mexida, pondoram-se de pé. Embora não
estivesse balançando, Luke sentia-se tonto, deu dois passos curtos para trás e
olhou rapidamente para baixo, gelando-se por inteiro.
Pegando sua mão,
— Está tudo bem, Luke?
Com o coração gelando-se,
— Sim! Acho que as luzes alteraram a minha visão no momento que me levantei, não é
nada demais!
Tranquilizando-se, alegrou-se:
— Finalmente vamos embora!
Sorridente, salientou:
— Contigo, ficaria aqui por toda a eternidade!
No exato momento em que olhavam-se e sorriam uma para o outro com ternura, a
cabine sacudiu-se de um lado para o outro, como se estivesse despencando. Sophia,
conseguindo equilibrar-se, observou um pedaço metálico enferrujado despedaçar-se.
Ajoelhando-se, estendeu a mão para pegar a de Luke, porém seu olhar
distanciava-se perpendicularmente.

Capítulo 107 - Reencontro Trágico

Já exausto de tanto procurá-los, Douglas avistou um amigo mais velho isolado,


em uma área distante comparada com as demais pessoas e os brinquedos do parque.
Desistindo da ideia de vingança e relembrando que ficaria de vela caso retornasse
para o grupo, haja vista que sabia que Claire não daria papo, muito menos alguma
chance para que algo além da amizade rolasse, acreditou ser interessante conversar
com alguém que também encontrava-se solitário e, a princípio, que o considerasse.
Empolgado, a uma longa distância, cumprimentou-o:
— Quanto tempo, Ryan!
Assustado, deu as costas, a fim de se esconder, derrubando a garrafa no chão e
gaguejou:
— Infe-liz-mente... fecha-mos por hoje!
Colocando a mão sobre o seu ombro direito, persistiu:
— Sou eu, Douglas! Não se lembra de mim?
Virando-se, tentava enxergá-lo, mas sua visão encontrava-se turva e
questinou-o com a voz trêmula:
— Douglas??
Contente, refrescou sua memória e manteve posse de pugilista:
—Sim! Douglas Miller!! Andávamos juntos, você me protegia dos valentões há uns...
três anos, até me ensinar a se tornar um!
Buscando no baú de lembranças de sua mente, recordou-se de proteger um
pirralho da família Miller por um período em troca de dinheiro — embora Douglas não
soubesse do trato feito com seus pais.
Envolvendo seu braço por detrás de seu ombro, exaltou-se:
— Thomas Miller, como não pudê reconhecê-lo?!
Indiferente, reafirmou:
— É Douglas...
Enganando-se com o nome do pai dele, corrigiu:
— Isso mesmo, Douglas! Haha!
Sem graça, estava curioso:
— O que anda fazendo?
Equilibrando-se nele, teve dificuldades para falar:
— Eu estou... trabalhando para um velho... dono dessa coisa velha!
Quase caindo, segurou-o com as mãos e prosseguiu com a conversa:
— É velha mesmo... E como está o movimento?
Entusiasmado, satirizou:
— Muito parado... Por causa de um acidente de uma criança aí o velho se fudeu! Mas
quem liga? Estou ganhando dinheiro mesmo assim!
Irritado por estar servindo de encosto, fingiu alegrar-se por ele:
— Que bom!
Contente por ter conseguido dois clientes, relatou:
— Tem um garoto e uma garota que estão aí dentro... Eles parecem meio birutas!
Pensativo, interessou-se no assunto:
— Como assim?!
Explicando o contexto, morria de rir:
— O moleque usava cabelo preso igual um viado! E a menina parecia ser mais macho
para entrar na lata-velha do que ele! Parecia ter Parkinson!!
Sentindo-o sacudir o corpo, questinou:
— Você se lembra dos nomes deles?!
Fazendo barulhos de beijinhos perto do seu ouvido, satirizou:
— Eu só sei... que a menina falou: "Vamos na hora que você estiver pronto, Luke!"
Furioso, afastou-o e começou à andar:
— Melhor eu ir...
Colocando as mãos nas partes íntimas, precisou de ajuda:
— Espera aí, parceiro! Estou com uma vontade danada de mijar!! Por que não cuida
disso para mim?
Elaborando uma ideia sensacional, pediu instruções:
— Como é que eu faço??
Correndo, berrou:
— A alavanca controla a velocidade!
Apesar de Ryan realmente estar com uma vontade louca de urinar, em decorrência
do álcool, aproveitou da situação para se livrar das reclamações referentes à
demora no momento em que descessem. Caso vissem-o no estado que se encontrava,
poderiam espalhar notícias e correr o risco de perder o emprego dos seus sonhos, no
qual passa o tempo todo sem fazer nada...
Analisando o único instrumento controlador, pensou ser tão fácil ao ponto de
até um bêbado conseguir manipular. A alavanca situava-se na velocidade zero e na
outra extremidade constava 30km/h. Desejava passar um susto em ambos,
principalmente em Luke, por humilhar Claire, como também estar despojado-o
lentamente de seu reinado no colégio.
Beneficiando-se de seu medo aparente de altura, tentava puxar a alavanca
para a velocidade máxima, no entanto, falhava inúmeras vezes, independente da força
aplicada. Enfurecido, tentou a última vez, machucando a palma da mão direita.
Escutando um barulho, percebeu que havia subido um pouco, balançando a roda, porém
logo desceu, parando-a.
Indignado, chutava a alavanca e xingava:
— Porra de lata-velha!! Vai se fuder, desgraça!!!
Em decorrência dos chutes, quebrou-a. Sem notar, distraiu-se, olhando para
cima, com roda-gigante iniciando a rotação. Embora estivesse maravilhado por ter
conseguido, seu prazer não durou muito...
Presenciando alguém cair lá de cima, saiu em disparada do local,
arrependendia-se da proeza que acabava de ter feito.

Capítulo 108 - Cumplicidade de Nix e Pã/Hypnos

Em um canto circundado pela natureza na Golden Gate Park, escutando sons de


sapos e grilos, do riacho que corria ali perto, suspirou e, esticando os braços que
estavam sob sua cabeça, abriu os olhos e observou as estrelas. A visibilidade era
boa o suficiente para ver milhares, tendo em vista que as poucas luzes que
iluminavam o local encontravam-se temporariamente e não haviam nuvens acumuladas
no céu. Essa segunda não aconteceu mediante a intervenção de Sophia, já a primeira,
por ventura, sim...
Encantado, opinou sobre o ambiente:
— Este lugar é indescritível!! Por que não tinha me falado sobre ele antes?!
Alegre, deu um porquê:
— Queria ter te trazido aqui antes!
Virando a cabeça, perguntou:
— Por que não trouxe?
Reflexiva, olhando para o céu, destacou:
— Porque... queria que fosse em um momento especial! Não posso te dar nenhum
presente... mas sei que você gosta da natureza tanto quanto eu...
Beijando sua bochecha, relembrou-a:
— Eu já tenho você, preciso de mais nada!
Visando esconder sua timidez, provocou-o:
— Você precisa da Claire!
Enfrentando-a, reciprocou:
— E você do Douglas!
Com uma expressão de repulsa, exprimiu:
— Que nojo, Luke!!
Orgulhoso, avisou:
— Bom mesmo!
Reflexiva sobre um ato que ele teve, questinou:
— Ei, por que você não falou nada quando eu mencionei a ruivinha?
Intrigado com o que se referia, afirmou:
— Não sei...
Ficando por cima de Luke, prendeu seus braços e oprimiu-o:
— Se você não falar, não saio de cima de você!
Contente, vendo-a iluminada pela Lua Cheia, ficou a favor com prazer:
— Não precisa sair, deusa da noite!
Observando sua cara de alegria, caracterizou-o:
— Seu safado...
Notando que tentava se fazer de inocente, contrargumentou:
— É você que está em cima de mim!
Corando-se, enfrentou a timidez dando-lhe um selinho e afirmou orgulhosa:
— Esse é o seu presente de aniversário.
Embora já estivesse satisfeito, ainda mais com as sequências de atitudes
inesperadas, ironizou:
— Só isso?
Apertando sua bochecha, sorriu e exclamou:
— Bobo!
Apesar de ter sido leve, fez-se de vítima para ser mimado um pouco a mais!
— Isso machucou!
Deitando-se ao seu lado, ironizou:
— Aproveira que agoraé só ano que vem!
Virando-se, transpareceu a verdade de seus sentimentos:
— Estava brincando... Foi o melhor presente que recebi!
Notando a sua sinceridade, imitou suas palavras:
— Bom mesmo!
Curioso sobre suas habilidades, perguntou:
— Você consegue voltar no tempo?
Pensativa, sabendo que seus poderes eram o inconstantes e quase sempre
involuntários, ressaltou:
— Nunca tentei...
Virando-se para ela, indagou:
— Por que nunca tentou?
Sorridente, virou-se para ele e mandou uma indireta:
— Gosto de como as coisas estão agora!
Sério, olhando em seus olhos, confessou:
— Jurei que iria morrer.
Beliscando-o levemente com suas unhas, mandou:
— Mas não morreu!! Agora para de fala sobre isso!!!
Risonho, exclamou:
— Nunca mais entro em uma roda-gigante!
Afagando seus cachos, indagou:
— Nem comigo?
Deleitando pelos arrepeios da mão de Sophia, em um tom de sonolência,
destacou:
— Nem contigo...
Amando passar seus dedos entre os, realçou desconcentrada:
— Mas eu te salvei.
Embora não duvidasse de sua capacidade, brincou:
— Eu sei, mas da próxima vez pode não dar tempo, não é?
Estatizando-se, revivia a sensação de vê-lo cair, em que, fechando seus olhos
e colocando suas mãos sobre a cabeça, gritava, gritava e gritava... Não sabia como
havia conseguido levitá-lo em uma fração de milissegundos, antes que Luke se
espatifasse no chão, e trazê-lo para a cabine.
Todavia, a sua vontade dilacerante, advinda do fundo de sua alma, da qual
recusava-se à aceitar a perda, era a única pista do que poderia ter ocasionado o
resgate. Reconhecia que, em todas as vezes que utilizava algum poder, devia
empregar um desejo inigualável por detrás dele, senão, não funcionava.
Preocupado com a ausência de reações por parte de Sophia, cutucava-a e chamava-
a:
— Sophia? Sophia!? O que foi?? Está tudo bem???
Retornando para o presente, arranjou, apesar de ser verdade, uma desculpa:
— Não é nada. Só estava lembrando do poema que você fez hoje mais cedo... Você
tinha prometido que recitaria ele para mim!
Olhando ao redor, relembrou-a:
— O problema é que estamos sem luz. Posso ler na minha casa...
Avistando o poste mais próximo, perto de um banco, fechou os olhos e
concentrou-se a fim de reacendê-lo. Sem grandes dificuldades, obteve sucesso.
Empolgada, sentou-se e pediu para que recitasse em pé.
Observando o interesse de Sophia, exaltou-se:
— Estou me sentindo o William Shakespeare!
Risonha pela posê de galanteador, mandou uma indireta:
— Está mais para o Romeu!
Sacudindo os cachos a fim de encantá-la, recitou:
— Acalme-se, bela Julieta... Desta vez a tinta da minha caneta confessará um amor
que não é seu.
Irritada com os trocadilhos, ordenou:
— Anda logo, Luke!
Suspirando, iniciou:

O Poder da Energia da Natureza

Eu sinto algo me acalmando por dentro,


Queimando avidamente meu tumor
Com uma energia de um epicentro
Na mente — ocultando o acelerador
De fabricação de lixo mental
Que afeta o Universo espiritual.

Essa vibração faz com que me adentro


Ao aqui e agora, por meio do amor
Recíproco da Natureza, onde entro
E vislumbro o seu poder curador
De todo esse excesso material
Que consome a alma no mundo carnal.

11 de outubro de 1998

Concentrada, ao passo que escutava o múrmurio das águas e dos animais, bem
como sentia o vento sobre seu rosto, viajava no mundo das ideias colocando-se na
situação do eu lírico.
Receoso de que talvez não tivesse compreendido, perguntou:
— Gostou?
Embasbacada de como alguém poderia relatar o mesmo sentimento de outra pessoa,
elogiou-o:
— Amei! Penso o mesmo que você...
Sentando-se ao seu lado, relatou de onde veio a inspiração inicial:
— Fiz durante a aula de Biologia!
Contente, acreditou ter feito o certo:
— Valeu a pena!
Reflexivo quanto aos acontecimentos do dia, interligou-os:
— Engraçado, é muita coincidência eu escrever sobre a natureza e você me neste
lugar espetacular!
Lembrando-se de ouví-lo falar sobre nós últimos tempos, relatou:
— Você não parava de falar nela!
Pensativo, admitiu:
— É verdade...
Envergonhada, aproximando seus dedos da mão de Luke, da qual, apoiava-o no
banco,
— Você gosta dela da mesma forma que eu. Nunca pensei que acharia alguém assim...
Sentindo algo macio e frio acariciando sua mão, aproximava-se afirmando:
— Nem eu...
Não contendo-se ao desejo, beijou-a sem pressa, a fim de aproveitar cada
segundo. Embora fosse um beijo roubado, Sophia deixou-o, pois, afinal de contas,
também desejava tanto quanto.
Ocultando a sua excitação, ironizou:
— Você é muito apressado, hein? O próximo era só daqui a um ano!
Coçando a cabeça, fingiu-se de inocente:
— Achei que fosse o selinho!
Escorando em seu ombro, segurou sua mão, colocou sua perna direita sobre a
coxa de Luke e ressaltou:
— Você anda muito safado, senhor Smith!
Acariciando sua coxa, revidou:
— Culpa sua, senhorita Watson!
Mordendo a parte inferior de sua orelha, com os dentes caninos, provocou-o:
— Eu sei que você gosta...
Arrepiando-se de prazer, acariciou a coxa de Sophia e disse calmo:
— Você também...
Dando risadas maliciosas, indagou:
— Que tal irmos para a sua casa?
Presenciando-a levantar do banco e dar alguns passos, entrou em choque. A
aflição que estava mantendo guardada nós últimos dias, procastinando um segredo que
contaria para Sophia no último instante em que fosse obrigado, desabrochou como um
raio sobre sua cabeça. Embora pensasse em alguma forma sútil para tocar no assunto
sem que chocasse-a, encontrava-se desencorajado para expressar-se. O seu maior
receio era a reação que ela poderia ter: desde magoar-se pela mentira, e a relação
não ser mais a mesma, até abominá-lo por não possuir pais e se afastar.
Intrigada com Luke, aproximou indagando:
— Algum problema?
Sem olhar para os seus olhos, com o corpo rígido, confessou:
— Sophia, preciso falar algo sério contigo...
Sem entender, preocupou-se com a seriedade:
— O que foi??
Sem graça, pediu:
— Por favor, sente-se...
Angustiada com a expressão com, pressionou-o:
— Pode falar!
Suando frio, gaguejou:
— E-u...
Notando sua dificuldade ao falar, ajudou;
— Eu??
Respirando fundo, sem pesar nas palavras, afirmou:
— Eu sou adotado...
Tranquilizando-se por não ser algo preocupante, segundo sua visão, ressaltou:
— Não tem problema, Luke! Você sabe que também fui!
Fechando os olhos, desabafou-se:
— EU SOU ÓRFÃO E MORO NAQUELE ORFANATO!!!
Observando-o tremer, sentia os intensos e conturbados sentimentos de Luke, os
quais já havia vivido na própria pele. O medo de ser julgado e condenado às trevas
por um acontecimento fatídico que não lhe diz respeito, ou seja, uma culpa que não
é sua, mas dos acasos da vida, era o mesmo já sentido por Sophia em outrora.
Condolente, abraçou-o apertado a fim de reconfortá-lo e demonstrar a sua aceitação
e indiferença perante uma questão tão irrelevante quanto essa.
Serena, repensando no nervosismo de Luke sempre que se referia aos seus
respectivos pais e suas idas ao orfanato por motivos admitiu;
— Eu já suspeitava...
Esfregando os olhos, quis saber:
— Não tem problema para você?
Soltando-o, fixou seu olhar no dele e relembrou-o:
— Claro que não!! Eu também sou!! Apesar de morar com o meu tio...
Sentindo-se culpado, arrependeu-se:
— Eu menti todo esse tempo...
Sorridente, compreendeu-o:
— Eu te entendo perfeitamente!
Paranóico com o que pensaria sobre o seu leito, salientou:
— Mas pode ficar sossegada que tenho meu próprio quarto!!
Segurando sua mão, despreocupou-o:
— Mesmo se não tivesse, não teria problema algum! Iria dormir agarradinha com você
do mesmo jeito!!
Contente, admirado com o azul de sua alma, agradeceu com sinceridade
— Obrigado, Sophia!
Aproximando-se da sua alma castanha clara, acariciou esfregando, por meio de
seu nariz, o dele e deu-lhe um selinho e dispôs:
— Obrigada eu, Luke!
Quebrando o clima de austeridade, provocou-a:
— Achei que era só ano que vem!
Revirando os olhos, colocou a ponta ponta em seu próprio nariz e inventou uma
desculpa:
— É diferente... isso foi um combo!
Levantando-se, aprumou os ombros e sugeriu:
— Melhor irmos andando, Nix!
Captando a referência da deusa da noite, enviou outra:
— Falou e disse, Pã!
Perplexo, desentendeu a analogia:
— Por que o deus Pã?
Fazendo alusão à personalidade de Luke, explicou:
— Ele é o deus da natureza!
Sonolento, bocejou:
— Faz sen-ti-do...
Rindo com a sua sonolência, realçou:
— Acho que parece mais com o Hypnos!
Apagando a luz do poste, Nix começou à correr pela escuridão afora desafiando
Pã à alcancá-la. A despeito da deusa da noite estar em um território que não
pertencia o seu domínio, visto que era circundado por vegetações, em que o deus da
natureza poderia utilizar de algumas artimanhas, a noite fazia-se presente sobre,
favorecendo-a.
Orgulhosa por Pã não estar conseguindo encostá-la, alfinetou:
— Você realmente é Hypnos!
Ofegante, evidenciou:
— Está de noite e você tem vantagem!
Cansado devido a sua asma, Pã escondeu-se em um arvoredo. Preocupada por não
mais avistá-lo, Nix procurava-o. Chamando pelo seu nome de original, desvencilhava-
se da personagem, retornando para a real.
Aflita, gritava:
— CADÊ VOCÊ, LUKE? É sério, acabou a brincadeira...
Aparecendo por trás, colocou suas mãos sobre seus ombros e assustou-lhe:
— EU SOU PÃ!!
Pulando de susto, virou-se e bateu no peito de Luke avisando:
— Não teve graça!!
Assimilando os poderes dos deuses que estavam interpretando, exemplificou:
— Nem sempre o mais forte ganha, mas o mais esperto!
Se retirando da área de 4,1 km² de pura vegetação, que mais assemelhava-se ao
Jardim do Éden, seguiram para o orfanato, de mãos dadas, onde situava-se próximo,
comparado com a casa de Sophia, em Sausalito.

Capítulo 109 - Energia Boa

Observando arredor pelo portão principal de grade, Luke notava que o


segurança encontrava-se afastado e distraído com uma revista. Destrancando-o com
cautela e rapidez a fim de não chamar atenção, aconselhou que seguisse seus
movimentos à risca para que não fossem percebidos. Ao passo que ia atrás, Sophia
estarrecia-se com a vasta quantidade de verde que coloria o pátio, semelhante com o
ambiente da Golden Gate Park — claro que proporcional ao tamanho do respectivo
lugar.
Em uma moída, agachados, Luke subia para ver se o caminho estava limpo.
Assustando-se com um arbusto se mexendo, abaixou-se. Esperando alguns segundos,
avistou um cachorro de estimação do orfanato vindo em sua direção, carregando uma
bolinha.
Afagando-o, sussurou:
— Oiii, Blind!
Notando sua aparência deformada e sua cegueira, com um tom de voz baixo,
comoveu-se:
— Tadinho! O que aconteceu com ele?
Distraído com ele, transpareceu o que sabia:
— Pelo que sei, a família que morava nessa mansão maltratou ele...
Recordando-se da atitude de Jhon para com Lucke, se questinou:
— Quem teria a capacidade de fazer algo assim?
Vendo-o sair de perto, expressou-se com repulsa:
— São monstros...
Observando-o à cheirar, intrigou-se com o nome dado:
— Por que Blind?
Pensativo, explicou:
— Esse já era o nome dele quando foi abandonado aqui.
Contente, percebendo-o abanar o rabo de alegria, saudou-lhe:
— Como vai, Blind?
Admirado ao vê-lo subir no colo de Sophia, relatou:
— Ele gostou de você! É a primeira pessoa que ele se aproxima desse jeito, tirando
eu...
Acariciando-o, exclamou com uma voz fofa:
— Fico feliz que tenha gostado de mim! Gostei de você também!!
Assistindo uma cena tão incomum e bela, alegrou-se:
— Ele tem bom gosto!
Avistando-o sair de seu colo colo e pegou a bolinha, sacudindo-a de um lado
para o outro, Sophia perguntou:
— Você sabe um caminho seguro?
Compreendendo o que estava tentando dizer, Luke explanou:
— Ele quer que a gente jogue a bolinha para distrair o segurança enquanto ele vai
atrás dela.
Perplexa, questinou a ideia:
— Como sabe disso? E vai dar certo??
Sarcástico, explicou o porquê:
— Relaxa, não é a primeira vez que fazemos isso.
Pegando-a, Luke jogou-a na estrada principal. Escutando-a cair, dirigiu-se
para o local. Embora sua visão encontrasse cem por cento prejudicada, em
compensação, sua audição — da qual a presente no cachorro já é, por si só, aguçada,
comparada com a humana — tornava-se duas vezes mais delicada, em virtude de ser seu
principal meio auxiliador em sua locomoção à grandes distâncias, nas quais seu
olfato não alcança com tanta assertividade. Entreranto, este último sentido, junto
com o tato, auxiliavam-no à não colidir com obstáculos, por essa razão, nunca
corria a fim de não se machucar.
Atiçando a atenção do segurança ao ouvir latidos e, acendeu acendeu a sua
lanterna, apesar da claridade da Lua Cheia ser suficiente para enxergar, avistou
Blind.
Chegando perto dele, agachou e indagou:
— Oi, Blind! Por que está brincando nessa hora aqui?
Sentindo um aroma desagradável se aproximando, rosnava mostrando os dentes.
Recuando a mão, respeitou-no deixando-o em paz::
— Tudo bem, amigão!
Aproveitando essa situação, partiram rumo a entrada da cozinha, onde situava-
se afastada da porta primária — sala — que dá acesso à casa. Sophia, a despeito de,
no começo, estar atrás, ultrapassou-o na chegada. Destrancando-a com outra chave
surpresa, adentraram e trancaram-na. Ambos com o coração na mão, emergiam na
completa escuridão de dentro.
Insegura se havia feito algo de errado, indagou:
— Acha que ele nos viu?
Sereno, exclamou:
— Não... O Blind sempre dá conta do recado!
Observando o ambiente, ressaltou:
— Esta casa é enorme!!
Apesar de ser verdade, advertiu a situação desfavorável:
— Mas não dá para enxergar nada!
Brincalhona, relembrou-o:
— Esqueceu que tenho visão noturna??
Relembrando-se desta habilidade, entendeu a façanha:
— Ah! É mesmo...
Assim sendo, Sophia seguia na frente, visualizando o lugar realçado por uma
coloração esverdeada, e Luke logo atrás, segurando em seus ombros a fim de não se
perder, auxiliando que rumo seguir, enquanto ela dirigia. Precisavam um do outro
para atingir o mesmo objetivo em comum.
Já no segundo andar — sem contar com o térreo —, em direção ao quarto de
Luke, à esquerda e na última porta também no mesmo sentido, escutaram um ranger no
assoalho e imobilizaram-se.
Preocupada, Sophia olhou para trás e, não vendo nada, sussurou:
— O que foi isso?
Duvidoso, acreditava no que seria mais provável:
— Talvez seja a diretora.
Embasbacada, indagou:
— Trabalhando neste horário?
Risonho, destacou:
— Ela tem um quarto gigantesco só para ela lá em cima.
Andando mais um pouco, olhou para cima e perguntou:
— O quarto número seis é o seu?
Contente, apertou seus ombros e confirmou:
— Sim!
Tendo em vista que não enxergava devido ao escuro, entregou o chaveiro com
quatro chaves inclusas, as quais possuíam uma fitinha colorida para diferenciá-las,
para Sophia. Elas correspondiam: ao seu quarto, cozinha, sala, portão principal e
armário da cozinha. Embora visualizasse-as em um tom esverdeado, conseguia
interpretar a cor real, mesmo que sutilmente.
Confusa com tamanha quantidade, questinou:
— Qual dessas chaves é a do seu quarto?
Convicto, afirmou:
— É a verde.
Falhando em destrancar, ressaltou:
— Não está abrindo.
Constrangido, retificou:
— Então deve ser a vermelha...
Culpando-se por ter esquecido de sua condição, salientou:
— Esqueci que você é daltônico! Desculpa!!
Embora não se importasse com isso, risonho, ressaltou:
— Não, tudo bem! Esta confusão acontece mais com o verde e vermelho!
Reflexiva quanto à isso, questinou sobre algo que não recordava-se de ter
perguntado:
— Quer dizer que as árvores e a grama são vermelhas para você??
Familizarido com a pergunta, explicou:
— Não é bem assim... O meu grau é leve, depende da tonalidade da cor. Além disso,
sempre é vermelho com ver...
Parando a explicação devido a uma luz advinda do quarto da frente — de número
cinco —, Sophia estatizou-se após abrir a porta.
Alegre, indagou para a mulher:
— Como sabia que eu tinha chegado?
Com a cara de sono, esfregou os olhos e
— Eu escutei a porta abrindo. Não iria dormir sem saber que você chegou bem...
Alegre, apresentou Sophia para ela:
— Sophia, esta aqui é minha mãe de consideração!
Receoso, complementou com uma indireta:
— Hilary, esta aqui minha... Julieta!
Surpresa, indagou em um tom de satisfação:
— Então você é a namorada do meu filho??
Estendendo a mão, apresentou-se envergonhada;
— Sim! É um prazer em conhecê-la, senhora Hillary!
Abraçando-a, sentiu-se agraciada:
— Ela é tão fofa e educada, Luke! Acertou em cheio na escolha!!
Arregalando os olhos, sussurou:
— O que eu falo?!
Risonho, admirando a expressão de Sophia, destacou:
— Com certeza, mãe! Ela é tudo isso que a senhora falou e mais um pouco!!
No quarto da mãe de Luke, Hillary e Sophia, se aproximaram por meio de uma
conversa descontraída, apesar de curta. No início, Sophia encontrava-se retraída,
no entanto, com o transcorrer do diálogo, soltava-se aos poucos, cativando-se pela
alegria, acolhimento e espontaneidade de Hillary, semelhante com a personalidade de
Luke. Surpreendia-se como alguém que nem conhecia poderia tratar-lhe tão bem...
Ao passo que eles entraram no quarto de Luke, Hilary advertiu:
— Trate a Sophia como uma rainha, escutou?! Lembre-se: sempre com respeito!!
Com um feiche da porta aberto, orgulhou-se:
— Eu trato ela como uma deusa!
A despeito estar, despediu-se:
— Boa noite, meu anjo!
Fechando a porta, indagou;
— Ela é muito emotiva, espero que não tenha se assutado!
Envegonhada e ao mesmo tempo feliz pelo elogio, colocou as suas mãos nas
bochechas quentes e avermelhadas e preocupou-se:
— Será que ela gostou de mim?!
Sorridente, tranquilizou-a:
— Pode ter certeza que sim!
Assentando-se na cama, indagou:
— Ela trabalha e mora aqui?
Sentando-se ao seu lado, assentiu:
— Sim! Ela faz de tudo aqui!
Visto que Hillary era negra, exclamou:
— Vocês se parecem muito! Daria, se não fosse de cores diferentes, para dizer que
são mãe e filho!
Prestigiado por tal comparação, ressaltou:
— Ela não cuida só de mim, mas também de outras crianças.
Sentindo o quanto ela amava-o naqueles poucos minutos de convívio,
compartilhou sua percepção:
— Mas ela tem um carinho maior por você, não é?
Coçando a sombrancelha direita com o dedo mindinho, assentiu:
— Sim... Eu fui a primeira criança à entrar no orfanato, quando ele ficava em
Oakland.
Sendo convidada à assistir a apresentação do quarto de Luke, atentava-se à cada
fala que proferia sobre algo. Era como se estivesse reassistindo ao seu filme
favorito: A Sociedade dos Poetas Mortos, em que prestava atenção, a todo instante,
nos mínimos detalhes a fim de não perder nenhuma nova referência e, por
conseguinte, uma reflexão que poderia captar e absorvê-la, colocando-a em prática
na sua vida.
As últimas três vezes que reassistiu foi com o Luke, igual a um casal de
pombos. Até então, ele possuía como filme predileto: Gênio Indomável. A trama era
extraordinária e inspiradora, também atuada pelo ilustre Robin Williams, embora
tenha assistido em uma ocasião especial, estando junto com Hillary e Blind,
formando uma família, nos primeiros dias após ser transferido para o novo orfanato
de São Francisco. No entanto, a magia presente na Sociedade dos Poetas Mortos, em
conjunto com a emanada por Sophia, enfeitiçou-o de uma maneira sem precedentes.
Ambos os filmes eram da mesma locadora que Henry trabalhava. Como Hillary não
conhecia as redondezas, havia tirado um dia para aventurar-se, indo parar em
Sausalito, onde alugou tal filme pensando em assistir com Luke à noite.

Capítulo 110 - Castelo de Luke


Alegre por finalmente poder demostrar seu castelo e os elementos contidos nele
para sua princesa, mal sabia por onde começar. Depois de tantas mentiras e rodeios
por causa de um medo tão bobo que, alimentado diariamente, transformou-se em um
monstro que assombrava-o ao dormir, mas que agora era inexistente. Contudo, pôde
reparar na insignificância dele somente contando a verdade e no momento menos
propício.
Mostrava seus objetos especiais: pôsteres do The Smiths; do Big Ben, situado
na Inglaterra, das aurora boreais e das florestas taigas, encontradas na Noruega —
seu países prediletos —; os álbuns dessa banda, em vários formatos: CD e fita
cassete; seus desenhos horríveis; seu caderno exclusivo de poemas, denominado À
Cada Sentimento uma Poesia; entre outras coisas presentes em seu recanto.
Curiosa, correlacionando o que era falado com o que já possuía conhecimento,
indagou:
— Seus pais vieram da Inglaterra quando você tinha acabado de nascer e gostavam
muito de The Smiths, por isso eles te influenciaram à gostar também?
Sorridente, assentiu:
— Certíssima!
Convicta, interpretou:
— Já sei! Seus pais te deram esse sobrenome por causa da banda!
Risonho por ela ter feito essa comparação, corrigiu:
— Não!! Pode ser muita coincidência, mas o sobrenome do meu pai era Smith.
Impessionada, concluiu:
— É uma baita coincidência!
Embora não fosse, finalizou:
— Esse sobrenome é muito comum na Inglaterra.
Olhando para o pôster do Big Ben, do qual não combinava com o perfil de Luke,
refletiu:
— Tem vontade de conhecer o seu país de origem?
Pensando sobre, confessou seu real desejo:
— Com certeza! Mas acho que tenho mais vontade de conhecer a Noruega...
Intrigada, quis saber:
— Por quê? Algo em especial?
Imaginando lugares específicos, apontou o dedo para os pôsteres e enalteceu-
se:
— Pelo que sei, há florestas extremamente lindas... e muito frias! Além de ser
visível a famosa aurora boreal, o sol da meia noite e a escuridão!!
Visando brincar com um termo aurora, ironizou:
— Mas eu já não estou aqui?
Adentrando na brincadeira, salientou:
— Eu quero conhecer suas irmãs gêmeas norueguesas!
Comprendendo a referência, deu-lhe um leve tapa em seu braço e, ciumenta,
esbravejou:
— Não teve graça!
Apertando a bochecha dela, a fim de desbancar sua braveza, destacou:
— Nenhuma aurora é mais radiante que você, Sophia!
Sorrindo, apaixonando-se pela forma de como expressava-se, segurou sua mão
esquerda e pressionou-o:
— Você vai me levar contigo, né?!
Contente, afagou-a e prometeu:
— Claro!! Vamos juntos!
Analisando o desenho em que os pais de Luke, junto a ele, com as mãos dadas,
situavam-se em uma nuvem, indagou:
— Qual lugar é este?
Risonho, detalhou:
— A intenção é que fosse no céu. Fiz quando era mais novo... Ainda bem que percebi
que não era minha área!
Abrindo seu livro de poemas, elogiou-o comparando-o com o maior poeta
americano:
— Em contrapartida, você é ótimo para fazer poemas, senhor Walt Whitman¹! (Presente
filme)
A fim de também enaltecê-la como poetiza, corrigiu sua frase:
— Como você, a verdadeira Walt Whitman!!
Indignada que um fosse superior ao outro, visto que ambos expressavam seus
sentimentos do fundo d'alma, firmou:
— Nós dois somos capitães!
Prestando continência, recitou um verso — modificado para o gênero feminino —
de um poema de Whitman concordando concordou:
— Sim, ó Capitã! Minha Capitã!
Rindo, imitou-o na versão original:
— Falou e disse, ó Capitão! Meu Capitão!
Sentado na cama, escorado na parede, Luke demonstrava o seu álbum de fotos.
Haviam desde fotos mais antigas de seus pais, antes dele nascer, até os dias
atuais, junto com Hillary e Sophia. Em todas, sem excessão, aparentava-se alegre e
sorridente — menos em uma.
Vendo rapidamente em uma foto em que Sofia aparecia apertando suas bochechas
de Luke à força, a fim de fazê-lo sorrir, pois encontrava-se sério, pediu para que
retornasse para observá-la com calma Com desgosto, voltou...
Contente, com os dedos sobre a imagem, glorificou-a:
— Vocês eram tão fofos! Combinavam tanto!!
Fechando o álbum, prendendo a mão de Sophia, irritou-se:
— NÃO FALA ISSO!
Estarrecida com a atitude inesperada, retirou-a a mão e gaguejou arrependida:
— DES-CUL-PA!!!
Segurando sua mão, desculpou-se por perder a cabeça:
— Perdão! Não queria ter feito isso...
Sabendo que não foi sua intenção, relevou:
— Não, tudo bem!
Indiferente, confessou um sentimento sobre a fotografia:
— Sabe por que nunca gostei dela?
Impressionada com a revelação, questinou de forma mansa:
— Não... por quê?!
Cabisbaixo, lembrou-se das vezes em que Sofia ficava em sua casa devido aos
pais dele e os seus serem amigos e explicou:
— Porque ela sempre inventava agum motivo para brigar comigo! quando ia para minha
casa!
Chocada, refletindo acerca de quando Sofia brigou com ela por causa do Luke,
fingiu estar surpresa:
— Não sabia que ela fazia esse tipo de coisa...
Derramando algumas lágrimas do rosto, detalhou:
— Eu sempre fazia tudo que ela pedia, mas mesmo assim ela... BRIGAVA, BRIGAVA e
BRIGAVA!!! Meus pais nunca acreditavam...
Desesperando-se por vê-lo chorar pela primeira vez, abraçou e tentou acalmá-
lo:
— Não fica assim! É passado, já passou!!
Abraçando-a, desabou-se em choro e desabafou:
— Eu poderia ter oferecido carona, mas recusei!
Desintendida do que ele estava falando, continuou abraçando-o e, olhando para
uma fotografia na qual ele, acompanhado de seus pais, tiraram em um restaurante:
— Calma!! Olha aqui, vamos continuar vendo as fotos de você com seus pais!
Visto que palavras acolhedoras proferidas não faziam uma diferença benéfica,
tendo um efeito contrário do esperado, intensificando assim sua melancolia e seu
choro, começou à acariciar seus cachos e à cantarolar uma canção que Ashley cantava
para ela quando sentia-se apavorada. Desse modo, as lembranças atreladas à uma
culpa fabricada por ele mesmo desapareciam de sua mente, sendo limpas por um som
semelhante aos das águas.

Capítulo 111 - Pressa


Mordendo a boca por dentro, Luke fixava-se no relógio da parede, ansioso para
que os ponteiros marcassem 11h40m em ponto. Tocando o apito, encerrando assim o
último horário de aula, saiu correndo da escola para despistar Sofia.
Sendo parado pelo porteiro, ofegante, avisou:
— Meus pais estão me esperando lá de fora!
Percebendo seu desespero, ficou curioso:
— Por que tanta pressa, rapaz?
Embora fosse um dos motivos, havia outro principal, que se aproximava a cada
segundo.
Olhando para trás, insistiu:
— Meus pais precisam ir em Sausalito agora!
Compreensivo, deixou-o passar. No entanto, no momento que estava pronto para
correr, o porteiro colocou a mão sobre seu ombro e advertiu:
— Pressa demais na vida não adianta, garoto. Lembre-se disso!
Ignorando-o, atravessou a entrada de sua salvação. Avistando o carro prateado
de seus pais, sentia uma onda de alívio inigualável. Em sua direção, há poucos
metros metros, sentiu Sofia abraçando-o por trás. Ao presenciá-la agarrando-o, seu
sentimento de libertade esvaziava-se conforme a quantidade de oxigênio presente em
seus pulmões, em decorrência dela entrelaçar os braços ao redor de seu pescoço.
Contente por ter conseguido alcancá-lo e brava por ele não ter esperado,
questinou:
— Por que não me esperou, Luke?!
Paralisado, evidenciou com pesar:
— Meus pais estão com pressa...
Intrigada, indagou:
— Por quê?
Indiferente, destacou a verdade:
— Eles vão almoçar em um restaurante em Sausalito.
Agraciada pela oportunidade, persuadiu-o:
— Me dá carona até lá?
Furioso, a coragem surgiu e desgrudou-a e, em sua frente, negou:
— Não!
Assustada com a fúria jamais visita, gaguejou piscando os olhos:
— P-or q-ue n-ão?
Enfrentando seu olhar de opressor, desabafou-se:
— Você vivia mandando em mim quando éramos mais novos! E até hoje isso não mudou!!
Fingindo-se de desintendida quanto ao assunto, foi direto ao ponto:
— Então você não gosta de mim?
Sentindo repulsa por estar se fingindo de inocente, relembrava-se não apenas
dessa semana, na qual, todos os dias, foi obrigado à se submeter às suas vontades,
como ser proibido de conversar com Sophia — devido à ciúmes e uma repentina
inimizade entre ambas da qual não compreendia. Todavia, o seu narcisismo de
outrora, quando seus pais deixavam-os sozinhos e logo reapareviam, era a lembrança
mais angustiante.
Quebrando uma das lições aprendidas com se pai empurrou-a e expôs para fora o
há tempos estava guardado:
— EU TE ODEIO!!!
Dando as costas, seguia rumo ao carro com a melhor sensação já sentida: a de
valentia para cortar a raiz grossa de uma árvore monstruosa — comparado com a de
uma cecoia. Apenas ao perceber que sua paixão por Sophia estava sendo reprimida,
foi capaz de reconhecer o mal que a Sofia fez e estava fazendo em sua vida.
Chorando, repensava em suas atitudes visando ver quais foram erradas.
Entretanto, seu único arrependimento era ter se afastado de Sophia por alguém que
odiava-a. Indiferente diante do acontecimento e aos olhares dos outros, levantou-se
e retornou para o ônibus.
O motorista, encerrando uma ligação, em que acabava de receber uma péssima
notícia, sorridente, indagou com gentileza:
— Conseguiu falar com o seu amigo, Sofia?
Cabisbaixa, ignorou-o e sentou-se em sua poltrona, situada atrás dele. Ao
passo que os alunos residentes de São Francisco eram entregues nas suas respectivas
casas, utilizava o tempo para escrever em seu diário. Apesar de não ser
confortável, tendo em vista que escrevia utilizando a mochila como apoio sobre o
seu colo, a velocidade do ônibus situava-se abaixo do habitual, ou seja, a
trepidação era menor, facilitando assim a transposição de seus sentimentos para o
papel, como nos dias anteriores desde o reencontro com Luke.
Entretanto, ao passar pela Ponte Golden Gate, parou de escrever e levantou-
se para apreciar a vista — da qual relembrava sua melhor e única amiga de mesmo
nome: Sophia.
No banco do passageiro, a fim de ignorar a discussão que ouvia ao seu
respeito, Luke admirava a foto que tinha tirado com seus pais, antes de almoçarem.
Nela, encontravam-se sentados na mesa e sorridentes, em um contexto divergente
diante do presente.
Terminando de conversar com Maya pelo telefone acerca da demora de Sofia para
chegar, desabafou-se:
— O Luke não pode recusar carona para a Sofia!! Ela é a única amiga que ele tem
aqui desde que voltamos de Oakland. Além disso, a Maya é minha amiga também!
Ciente desde ontem sobre a relação não saudável entre Luke e Sofia, por meio
de uma confissão do próprio, salientou:
— Eu entendo, amor. Mas nosso filho teve bons motivos...
Dando tapas no seu braço, brigou:
— Você está defendendo ele?! Ele está completente errado! Além do mais, não pode
magoar uma menina assim!
Paciente quanto as agressões físicas, pediu:
— Você está tirando minha atenção. Para, por favor!
Olhando sua mãe brigar em seu pai, via algumas semelhanças na amizade
sanguessuga que mantinha com Sofia, ou melhor, sempre manteu. Crendo ser um absurdo
a comparação, sacudiu a cabeça e focou em algum outro elemento da paisagem para se
distrair. Embora fosse comum, abismava-se com um ônibus amarelo escolar, ao longe,
aproximando-se em uma velocidade surpreendente para esse veículo.
Há poucos metros, empolgado para vê-lo passar ao lado como um carro de
Fórmula 1, estarrecia-se ao observá-lo, pouco a pouco, invadir a contra-mão.
Esfregando os olhos, acreditando ser alguma alucinação, visualizava-o mais próximo.
Sendo possível enxergar o motorista, em transe, atentava-se ao seu semblante que
expressava uma felicidade descomunal que comparava-se com a psicopatia. Os olhos
dele estavam arregalados e um sorriso com a boca se fechando e abrindo, como se
estivesse gargalhando.
Sentindo um frio na barriga, apoiou-se na cabeceiea dos dois bancos da frente e
aproximou-se para avisar:
— Vocês estão vendo o que estou vendo?
Ignorando as reclamações e os tapas de sua esposa, virou-se para trás e,
sorridente, deu-lhe atenção:
— O que foi, filhão?
Dando um nó na garganta, não conseguia expressar-se por meio da fala. Apontando
o dedo em direção ao trem desgovernado, antes que se dessem conta, apagou-se.
Acordando com uma dor de cabeça, abria os olhos devagar. Dando-se conta do
acidente, percebeu que metade do automóvel — a parte dianteira — encontrava-se
amassado. Observando com atenção, tremia ao atentar-se para os corpos esmagados de
seus pais, os quais encontravam-se presos nas ferragens, tornando-se um para com
ela e pintando de vermelho o interior. De tanto berrar, sentindo sua sua garganta
doer, cessava ao passo que prestava atenção, por intermédio de feiches, na cor azul
ao fundo e em um som tranquilizador que abafava as sirenes lancinantes e apaziguava
seu medo da altura.
A despeito de não pensar sobre, mesmo estando balançando-se e sendo segurado
pelo cinto de segurança, encontrava-se espendurado na Ponte Golden Gate, devido a
cerca de ferro, e o que via era nada menos do que as ondas da águas da Baía de São
Francisco e seus múrmurios.

Capítulo 112 - Trazendo à tona / vc precisa saber


Aquietando-se, explicava esses acontecimentos para Sophia, que pensava em como
alguém com uma aura tão alegre, descontraída e sorridente poderia ter sofrido
tanto. Em silêncio, sentados na cama e escorados na parede, com Luke escorado em
seu ombro, acariciava na ponta dos dedos seu antebraço direito. Sentia leves
relevos, os quais já havia visto antes, mas eram imperceptíveis.
Apesar de não ser um bom momento, quis sanar uma dúvida:
— Posso te perguntar uma coisa, Luke?
Sonolento, aprovou:
— O que quiser, minha Aurora...
Receosa, não consegui terminar a frase:
— Você já...
Intrigado, ajudou-a:
— Já?
Engolindo saliva, concluiu:
— Se... cortou?
Seguro, sendo Sophia a primeira pessoa que possuía tamanha confiança,
assentiu:
— Já...
Emocionada, fechou os olhos, abraçou-o e confortou-o:
— Sinto muito, Luke!!
Aproveitando a oportunidade, lembrando-se da época em que morava no orfanato
de Oakland, há alguns meses, e flertava com lugares altos, confessou:
— Também já pensei em desistir...
Chorando ao saber que não era a única, mas também de pena por Luke ter vivido
isso na pele, embasbacou-se:
— Não sei nem o que falar...
Sorridente, enxugando com delicadeza os olhos dela com os dedos polegares,
alegrava-a:
— Isso é passado! Agora tenho você!!
Aflita caso algo ocorresse, certificou-se:
— Promete que nunca vai fazer isso?!
Estendendo o dedo mindinho direito, em um tom de brincadeira, propôs:
— Só se você prometer!
Corada, abaixou a cabeça, entrelaçou o seu mindinho da esquerda ao dele com
força e salientou:
— Se não fosse você, eu não estaria aqui...
Sério, levantou seu queixo e evidenciou:
— História, Filosofia, espiritualidade oriental, natureza, poemas, The Smiths e
Hillary me ajudaram a me manter de pé ao longo desses anos, mas só você, Julieta,
me fez viver de novo.
Compartilhando de um sentimento semelhante, expressou-se:
— Águas, estrelas, História, Filosofia, natureza, poemas, Nirvana, já não me
mantinham de pé como antes até você vir e não desistir de mim!
Lembrando-se de algo que havia comprado e esperado a hora certa para oferecer à
Sophia, retirou do bolso e ajoelhou-se mostrando os anéis de coco na palma de sua
mão:
— Sophia, vulgo Aurora e Julieta, gostaria de selar uma união eterna comigo perante
o Universo?
Lisongeada com a atitude, brincou a fim de não desmaiar com tantas emoções
misturadas:
— Já não selamos???
Contente, explicou:
— Claro, mas não teve cerimônia!
Sentindo borboletas fazerem cócegas na barriga, mudou de assunto:
— Gostei da cor preta... são tão lindos!
Pondo o anel no dedo anelar de sua mão esquerda, que tremia sem parar — até
fixar seu olhar no dela —, beijou-a e entregou-se por meio de três palavras:
— Eu sou você!
Compreendendo a expressão, trêmula, pegou o outro anel e inseriu no dedo
anelar esquerdo de Luke e reciprocou:
— Você sou eu!
Sendo atraídos um para o outro como imãs. Retirando as roupas um outro,
permaneceram-se seminus e trocavam carícias: olhares, sorrisos, toques, beijos e
mordidas leves. Uma espécie de sexo tântrico. Doavam-se um para o outro por meio de
um estado transcendental de presença, se tornando somente um ser.
Haviam combinado, no começo do relacionamento, que não desejavam realizar
nada mais picante do que isso por motivos pessoais referentes a de cada um. Sophia
preferia não falar sobre os seus, tampouco Luke. Entretanto, suspeitavam que a
razão por detrás de um era semelhante ao do outro. Portanto, conformavam-se e
respeitavam-se sem sentirem falta de algo a mais. No final de contas, o prazer ao
se amarem dessa forma peculiar era tão excitante e prolongado quanto estarem,
necessariamente, praticando o coito.
Deitados de conchinha, Sophia, pensativa, sugeriu:
— Queria ouvir um pouco de The Smiths.
Surpreso, parou de beijar suas costas, ergueu a cabeça e escorou seu queixo
ombro de Sophia para verificar a seriedade em seu rosto:
— Sério?!
Trazendo a mão de Luke para perto de seus seios, exclamou:
— Sim!
A fim de comprovar sua vontade, pressionou-a:
— Agora?
Mordendo levemente sua mão, assentiu balançando a cabeça e emitindo o seguinte
som:
— Hurum!
Pesaroso, destacou:
— Vou ter que levantar para ligar o discman...
Emburrada, avisou:
— Eu deixo... Só não demora!
Tendo em vista que a cortina da janela estava aberta, a claridade da lua
acompanhada da cidade possibilitava que enxergasse o suficiente para manejar os
utensílios necessário. Enquanto isso, Sophia dava espiadas em Luke sem que ele
percebesse.
Risonha e tímida por ousar realizar esta pergunta, cobriu a cabeça com o
edredom e ironizou:
— E essa mancha na sua cueca?
Envergonhado, tampou suas partes íntimas com as mãos e gaguejou ao tentar
refutá-la:
— Co-mo você sabe?? Que-r dizer, como sabe se não está vendo nada?!
Corada como um pimentão, colocou as mãos no rosto, em que no meio situava-se o
edredom e salientou com a voz abafada:
— Bobinho!
Lembrando-se de sua visão noturna, fingiu-se de bravo:
— Não vale usar isso para afrontar a minha privacidade, Sophia! Estou em
desvantagem!
Sentindo todo seu corpo esquentar, colocou-se em posição vetal e esclareceu:
— Eu queria ter certeza que você tinha ficado igual a mim!
Achando fofo o porquê, descobriu-a à força — haja vista que Sophia estava
morrendo de vergonha — e beijou seu pescoço agraciando-a:
— Fofa!
Ligando o discman, botou o CD do álbum Meat is Murder, pulou para a quarta
faixa — a fim de estar, em seguida dessa, no clima para a sua favorita do álbum —,
regulou o som em uma altura agradável e deitou-se, retornando para a mesma posição
anterior em que encontrava-se com Sophia, que havia superado a vergonha da ousadia
que era apenas fofura e curiosidade, na ótica de Luke. Sonolentos, como zumbis,
conversavam baixinho no último minuto, no qual ouviasse apenas o instrumental, da
canção What She Said.
Sentindo-se retratada na letra, admitiu:
— É muito gostosa a melodia... A voz do cantor então...
Contente por ter gostado, destacou:
— Sempre falei que não se decepcionaria... Quem está cantando é o Morrisey.
Impressionada com o nível de catarse presente, refletiu:
— É mais melancólico que Nirvana...
Refletindo acerca da sonoridade das duas bandas, comparou:
— É uma melancolia alegre, que pode ser apreciada com morderação, ao contrário do
Nirvana... uma melancolia avassaladora.
Acostumada com a agressividade, natural aos seus olhos, ironizou:
— É porque você ainda não ouviu os outros álbuns...
Impressionado pelos outros deterem uma visceralidade mais acentuada,
salientou:
— Deve que são mais depressivos ainda... A voz desse cantor é agoniante...
Mordendo em sua mão, discordou:
— São inspiradores... The Smiths que é depressivo... E a voz do Kurt Cobain é
libertadora...
Mordendo seu ombro, diferiu:
— The Smiths são reconfortantes...
A fim de aproveitar a próxima canção sem forçar a atenção, encerrou o assunto:
— Os dois são bons...
Nos segundos finais da quinta faixa, That Joke Isn't Funny Anymore, situavam-
se adormecidos. Tanto Luke, que já havia escutado inúmeras vezes, quanto Sophia,
somente uma única vez, sentiam-se retratados na letra e compartilhavam sentimentos
semelhantes. A despeito de estarem caídos de sono, preferiam se manter calados para
conectarem-se à última música que conseguiriam acompanhar com lucidez.
Dormindo, sem perceberem, uma chuva mansa começava à cair.

Capítulo 112 -

Deitado em posição vetal, nu e coberto pela fina coberta, Henry chorava em


silêncio. Ouvindo o carceiceiro chamá-lo, levantou-se e vestiu sua roupa íntima e o
uniforme laranja, cujo número era novecentos e noventa e nove, espalhados pelo
chão. Ao passo que ia devagar, ouvia risadas maliciosas de seus companheiros de
cela.
Com o cacetete, o carceiceiro bateu nas grades e chamou a atenção dos demais
detentos:
— CALEM A BOCA!!!
Vendo o sorriso obscuro, abaixou a cabeça e quebrou o clima:
— Quantas horas são?
Olhando para o seu relógio de braço, evidenciou:
— É... meia noite.
Intrigado com o horário, esfregou os olhos e indagou:
— Querem que eu lave o banheiro agora?
Fixando-se em seus olhos vermelhos, salientou:
— É visita.
Perplexo, acompanhava-o pensando em quem visitaria-o, ainda mais em um horário
tão inoportuno, visto que ninguém, além de seu pai, havia visitado-o. Embora
fizesse tanto tempo — talvez um ano —, que nem lembrava-se de sua face. Contudo, no
fundo, desejava que sua querida prima-irmã Sophia estivesse ali, mesmo que sua
aparição fosse tão improvável quanto a de Harrison, da qual necessitaria de seu
acompanhamento para ir visitá-lo.
Esperançoso, crendo que sua idealização de reencontro, cultuado o tempo
inteiro, se realizaria, atravessou a porta pedindo a algo maior que ele próprio que
isso se concretizasse. Entretanto, se deparou com quem menos queria ver atrás do
vidro blindado que separava-os, como também a única alternativa vigente que punha-
se à recusar acreditar: seu pai.
Frustrado, virou-se para trás e pediu com educação:
— Posso voltar?
Empurrando-o para fazê-lo continuar o trajeto, negou com frieza:
— Não.
Tendo em vista que situava-se com algemas e o agente penitenciário era um
brutamontes, preferiu obedecer a fim de não submeter-se à nenhuma outra punição —
apesar dessa escolha nunca caber a ele mesmo haja vista que era punido no lugar de
outros. Observando o carceiceiro ofertar um espaço para privacidade, sentou-se na
frente de Harrison e encarou-o, a priori, permanecendo-se calado, com indiferença,
sendo recebido da mesma forma.
Ansioso, pegou o telefone com fio e, colando o rosto na vidraça, foi direto:
— Como Sophia está?!
Vendo-o desleixado, com a barba grande e olheiras, bem como manchas na roupa,
trocou de assunto:
— Você continua péssimo...
Empolgado, pensando que ela tivesse perdoado-o — a despeito de não saber o
motivo —, insistiu:
— A Sophia disse algo sobre mim??
Embora ela escrevesse uma carta todo mês e entregasse para Harrison levar, as
quais eram queimadas por ele mesmo, omitiu:
— Ela continua sem querer falar contigo.
Furioso com a ausência de sentimentalismo de seu pai ao afirmar isso,
descontou sua frustração:
— Por que me deixa apodrecer aqui, velho estúpido?!
Cínico, pois acreditava que seu filho havia matado a pessoa que mais
importava-se: Jesse — além de ter pegado trinta e três anos de cadeia e o valor da
fiança ser absurda —, argumentou:
— Você matou meu irmão, minha cunhada e a estuprou quando estava morta. Quer mais?
Ah, é mesmo, também matou e esquartejou sua namoradinha...
Visando manter em segredo os ocorridos, descontrolou-se abrindo feiches para
outras interpretações:
— O DESGRAÇADO DO SEU IRMÃO FOI QUEM FEZ TUDO ISSO!!
Apesar de dúvidar do homicídio e da necrofilia para com Ashley e do caso de
Melanie, fingiu-se de bobo para obter alguma informação complementar:
— De onde tirou isso?
Realizando uma cara de maníaco alegre, expurgou para fora o fardo pesado
carregado com deboche:
— ELE ESTUPRAVA SOPHIA E ASHLHEY! SÓ QUE HOJE, ESTÁ NO INFERNO!! VOCÊ TINHA QUE TER
VISTO A FORMA QUE SOPHIA TINHA MATADO ELE!!! FOI ESPETACULAR!!!
Em choque pela convicção ao expressar-se sobre, recusava-se a acreditar
enquanto persuadia-o:
— Você está inventando coisas.
Risonho, recordando-se de algo que Melanie deseja falar algo relacionado a
averiguação da casa de Ashley, mas que optou por não compartilhar achando que era
ilusão ter visto Jesse na janela, quando havia deixado-a em casa à noite — na qual
foi assassinada — provocou-o:
— Enquanto a Melanie... acha mesmo que não sei que foi Jesse??
Percebendo que Henry sabia de tais acontecimentos pela expressão facial
resoluta, aproximou-se do vidro e perdeu o controle:
— SEU MISERÁVEL, COMO SABE DE TUDO ISSO?!
Utilizando todo o tempo preso para refletir sobre essas ocorrências,
salientou:
— Eu sou mais esperto que você, burro!
Receoso de que pudesse saber de algo a mais, lembrava-se do plano de trazer
Jesse a fim de deixá-lo por definitivo, por meio do homicídio acometido pelas suas
próprias mãos para com a sua avó asmática, em que adulterou a composição da
bombinha para uma substância venenosa. Todavia, ao menos Henry não suspeitava
disso...
Sereno, justificou o motivo de ter compactuando com as atitudes de Jesse:
— Isso tudo fez parte do processo para recuperar Jhon. Eu estava tentando ajudá-lo,
e quase consegui.
Compreendendo que se referia a outra persona do seu tio defrontou-o:
— Você queria eternizar a personalidade de Jesse para que ele ficasse ao seu lado!
Custe o que custasse, pois só ele gostava de você!! O motivo ainda não sei... Deve
ser porque eram parecidos!!!
Captando a indireta, fingiu-se de desentendido:
— O que quer dizer??
Recordando-se de um dia conseguir adentrar no lugar ultrasecreto de seu pai
pela janela do porão, cuspiu no seu rosto pela pequena entrada no vidro e ironizou:
— Isso também vale para o cadáver da minha mãe no porão?
Levantando-se, bateu na mesa e explodiu-se:
— COMO OUSA, PIRRALHO!!!
Trazendo suas memórias mais antigas sobre a relação de desconhecidos que
manteve com Harrison, destacou:
— Você nunca foi meu pai, seu monstro!
Irritado, ofendeu-o por ser violentado diariamente:
— E você nunca foi meu filho, sua cadelinha! SEU GAYZINHO!!!
Indiferente quanto a ofensa, provocou-o:
— Você é pior do que seu irmão!!
Recompondo-se, confessou algo que suportou ao longo dos anos:
— Se o arrependimento matasse, eu teria morrido no seu nascimento.
Sarcástico, sabendo que ele odiava-lhe, acusou-o no calor do momento:
— Claro que morreria, você deve ter matado minha mãe no mesmo dia! Como é conviver
com esse remorso?!
Apesar de sentir um pouco de culpa, atribuía a responsabilidade do falecimento
de Julia com a vinda de Henry. Recusava-se à acreditar que aquela discussão tenha
colaborado para com o suicídio de sua ex-esposa.
Perdendo o controle, atravessou a mão direita no pequeno buraco no vidro e
esganou-o ao passo que manipulava a verdade:
— VOCÊ QUE MATOU ELA, FILHA DA PUTA!!!
Fechando os olhos, perdia o fôlego aos poucos e desejava morrer logo. Acabar
com toda a angústia carregada e triplicada ao longo de sua vida. Já perdendo a
consciência, visualizava o rosto de Melanie convidando-o. No entanto, via-o
desaparecer ao passo que voltava a respirar.
Ignorando a agressão, pediu um último favor que deixaria-o em paz com uma voz
de cansaço:
— Diga para Sophia que eu a amo!!! Por favor...
Sarcástico, apesar de não gostar de Luke — e nunca ter conversado com ele —,
ofertou uma novidade de Sophia:
— Não precisa, ela já tem um namoradinho.
Vendo-o sair da sala como se nada tivesse acontecido, escorria lágrimas de
seus olhos ao sentir que todo o despreço de seu pai durante sua vida encontrava-se
acumulada ali. No entanto, o que aflingia-lhe de verdade era a Sophia, que, por
alguma razão desconhecida e sem sentido, não desejava falar com ele. Todavia,
sentia-se confortado por ela possuir alguém com quem pudesse se abrir — haja vista
que sabia que não possuía nenhuma amizade desde a morte de Sofia. A despeito de ter
pensado, durante os últimos três anos preso, diversas vezes na possibilidade de
Harrison estar mentido, visto que ele seria capaz comparado com a cumplicidade que
manteve com os atos horrendos de Jesse, suas emoções sobressaiam-se e faziam-no se
afundar somente na ótica negativa.
Atrás da porta de ferro, chamava o carceiceiro, mas não obtinha nenhum
retorno. Abrindo-a, visualizou-o cochilando em uma cadeira com a pistola Glock
desprendida do coldre.
Saindo da prisão, Harrison preocupava-se com o fato de Henry poder usar algo
para encriminá-lo, embora não possuísse provas. Porém, ao escutar um disparo,
aliviava-se por ter dois problemas a menos para cuidar: visitar obrigatoriamente
seu filho, no mínimo uma vez por ano, respeitando a justiça e ter a possibilidade
de perder seu tempo depondo em um tribunal. Contudo, decepcionava-se ao lembrar-se
que teria que custear o enterro. Mesmo morto, ainda era um fardo e tanto.
Pensando na Sophia, seu ódio por ela somente crescia após descobrir que, na
verdade, foi ela que assassinou Jesse, destruindo o seu sonho de moldá-lo conforme
os próprios parâmetros de Harrison, ensinando-o a conter as emoções e controlar
suas vontades. Porém, o mais importante era continuar vivendo ao lado de alguém que
pudesse entendê-lo completamente e vice-versa, como foi no passado, nos breves
momentos em que se encontraram. Entretanto, esse direito foi arrancado de ambos.
Contudo, apesar de querer expulsar sua sobrinha de casa por uma razão
indiscutível, em seu ponto de vista — como sempre quis —, reconhecia que teria dor
de cabeça com a justiça para despachá-la para um orfanato, tendo de inventar alguma
justificativa, da qual não conseguiria via mentiras esdrúxulas e suspeitas.
Portanto, preferia, por enquanto, manter da forma que se encontrava. Além do mais,
nem conversavam e, ao menos, Sophia era obediente.

Capítulo 113 -

No recreio, em um espaço reservado para os alunos lancharem, Sophia e Luke,


sentados em uma mesa afastada, lanchavam e recitavam seus respectivos poemas um
para o outro a fim de relaxarem após terem feito avaliações trimestrais. Tendo em
vista que haviam levado advertência por chegarem atrasados repetidas vezes após o
sinal, correndo risco de serem suspensos, deram uma pausa na frequentação do
esconderijo secreto, batizado de Círculo Esverdeado do Amor Incondicional. A
despeito de ser longe, demoravam porque não queriam sair um de perto do outro,
dando a despeito a desculpa de mais um minuto, quando não faltavam os demais
horários.
Entretanto, Sophia estava sendo a melhor de sua sala em todas as matérias,
com excessão em Matemática, desde seu envolvimento com Luke. E ele, saindo de
Oakland e voltando para São Francisco, melhorou da mesma forma que ela,
compartilhando também a mesma dificuldade.
Visto que estavam grudados um do lado do outro, Sophia insistia para que
ficassem afastados;
— Vamos, Luke! Temos que ficar de frente um para o outro para recitarmos!
Abraçando-a de lado, fez-se de desintendido:
— Por que, Julieta?
Escorando sua cabeça na dele, decepcionou-se:
— É sério, a gente tinha combinado...
Beijando sua bochecha, reconheceu a própria chatice e seguiu conforme o
combinado:
— Eu sei que hoje estou carente demais!
Risonha, recordando-se quando é ela, sussurou:
— Ainda não conseguiu me superar...
Distraído, assentou-se na cadeira da frente e questinou:
— Disse alguma coisa?
Serena, negou e sugeriu:
— Não! Quer começar?
Sorridente, deu-lhe as opções de tema:
— Deseja um de amor, melancolia...
Interrompendo-o, assinalou:
— Drogas.
Não tão surpreso, aproximou-se e provocou-a:
— Você gosta de especificar, hein?
Há alguns centímetros de seu rosto, defrontou-o:
— Quero ver se é tão assim!
Recordando-se de um que havia produzido um com quando ainda morava em
Oakland, inspirado ao ver um de seus melhores amigos — outrora inimigo — Jeffrey,
ter overdose e falecer por um entorpecente famoso, bem como pelos seus depoimentos
sobre a luta contra o vício, procurou no seu caderno À Cada Sentimento uma Poesia.
Sem dificuldades, encontrou-o na página trinta e três e recitou:

Heroína

É tão incrível... em segundos me transporta para outra dimensão! (Estou são!!)


É tão incrível... em algumas horas retorno novamente para o lixão... (Estou no
chão...)
Ficar sem você por alguns minutos me deixa depressivo...
Mas sei que em pouco tempo eu já não estarei mais vivo...

Quanto mais eu te uso, mais eu padeço...


Quanto mais eu te uso, mais eu te apeteço!
Eu preciso de você só mais um pouco!
É a última vez, senão fico louco...

Você me reconstrói...
Você me destrói...
Você é minha heroína!
Você é minha ruína!

Mas disso eu sempre me esqueço...


Eu já não sei mais o que faço...
Você sempre age assim...
E agora, o que fará de mim???
20 de julho de 1997

Batendo com o que Jesse passou, impressionou-se:


— Intenso!
Respirando fundo, afirmou:
— Bastante...
Curiosa, indagou:
— Se inspirou no quê?
Tendo em vista que era um assunto delicado, omitiu:
— Eu vi na televisão uma reportagem sobre a heroína e me deu uma ideia...
Lembrando-se de ver uma notícia, destacou:
— Ela é a droga mais viciante!
Pensativo acerca do poema, brincou em um tom romântico:
— Entretanto, o poema em si pode ter outras interpretações. Quem sabe você não seja
minha heroína?
Compreendendo a referência, explicou:
— Posso até ser... E você é o meu herói! Só que os efeitos colaterais tem que ser
bons para os dois!!
Risonho, aproximou-se e provocou-a:
— E não são?
Próxima, deu-lhe um selinho e concordou:
— Claro que sim!
Entusiasmado, passou a vez:
— Quero um sobre melancolia!
Aceitando o desafio, visto que era o gênero de poesia que predominava, abriu o
seu caderno Correndo atrás do Vento em uma página qualquer, aparecendo a página
sescenta e seus à esquerda. Lendo o título, recordava-se que havia elaborado-o
visando expurgar suas angústias, principalmente as que guardava envolvendo seu
primo-irmão Henry quanto a sua vontade colossal de ir visitá-lo, que explodia
dentro de si depois dos seis primeiros meses insistindo para seu tio que a levasse.
No entanto, Harrison dizia que menores de idade não poderiam ir, mesmo acompanhados
por maiores — apesar de nunca ter acreditado nisso.
Respirando fundo, declamou:

Um Minuto de Descanso

Quantas vezes senti que iria desmaiar,


Por muitas tive que apenas aguentar
Esta insuportável dificuldade de respirar
Um oxigênio que pudesse me acalmar.
Queria um pequeno momento de repouso,
Quem sabe iria me sentir menos zonzo
Com minha mente me deixando confuso.
Quão caro é um minuto de descanso?

Gostaria de apreciar a sensação de inexistência,


Algo que não gastasse minha energia,
Que não influenciasse minha real essência
Tanto quanto a sua terrível ausência.

Quero esquecer por um instante o efêmero:


Eu mesmo, meu passado, presente e futuro;
Fechar os olhos e ver somente o escuro;
É de onde vim e aonde vou: um lugar seguro.

22 de novembro de 1996

Notando que Sophia, ao terminar, havia ficado cabisbaixa, brincou:


— Queria um minuto a mais contigo no Círculo dos Segredos ontem...
Forçando uma risada, advertiu:
— A Louise nos expulsaria.
Colocando os cotovelos sobre a mesa e as mãos sob o queixo, imaginou:
— Só um minuto de descanso, deitado na grama, juntinhos...
Corando-se, olhava ao arredor enquanto ordenava:
— Fala baixo, Luke!
Crendo que tinha animado-a,
— Me diz aí, qual foi sua inspiração?
Apesar da inspiração principal ser a saudade que sentia por Henry, preferiu
omitir:
— Minha mãe Ashley... Na segurança que ela me trazia...
Colocando sua mão sobre a dela, sorridente, salientou:
— Saiba que ela está feliz por você carregá-la em seu coração!
Embora também pensasse na Ashley no momento da escrita, sentiu-se reconfortada
pelo consolo, fazendo-a continuar a brincadeira:
— Agora é sua vez, Romeu! Quero sobre amor!
Tendo em vista a maioria de seus poemas dividiam-se entre amor e melancolia,
absteve-se de caçar e, fechando o caderno brochura e reabrindo-o, optou pelo acaso.
Lendo os títulos das páginas quarenta e dois e quarenta e três, permaneceu em
dúvida em qual escolher para galanteá-la, crendo que ambos eram complementares
entre si.
Intrigada com a sua demora, preocupou-se:
— O que foi?
Trocando o olhar entre as duas páginas, evidenciou:
— Eu não sei qual dos dois escolher...
Achando fofo a preocupação para agradá-la, salientou:
— Pode ser os dois.
Vendo seu sorriso, aliviou-se:
— Quer mesmo??
Percebendo sua alegria, reafirmou:
— Claro, Romeu!
Encarando-a por alguns segundos,

Olhos Mágicos

Quando olhei para aqueles olhos


Nunca mais pude esquecê-los.
Não por causa de sua fisionomia,
Mas simplesmente pela energia
Que eles transmitem durante
Praticamente todo o santo dia,
Não estou mentindo, é verdade.
Acho que eles possuem alguma magia...

Quando visualizo aquela aurora, ela tende


A parecer uma galáxia de tão imensa,
Um Sol de tão radiante,

Uma constelação de tão linda...


E mesmo que eu tente esquecê-la,
Ela sempre conseguirá me invadir com sua beleza.

20 de agosto de 1998

Findando o primeiro, a fim de não observar a reação de Sophia e dar brechas


para ela falar algo, adquirindo assim um pouco de vergonha para dar continuidade
com o segundo, prosseguiu. Em um ritmo lento, sentindo seu coração saindo pela
boca:

Todas essas Coisas ao Mesmo Tempo

Como posso visualizar os seus belos olhos


E beijar delicadamente seus atraentes lábios,
No mesmo instante que lhe dou um singelo abraço
Bem caloroso neste tempo limitado e pequeno espaço,

Onde todas as ações possíveis, só de pensar,


Me fazem, dia após dia, loucamente, delirar;
Como posso acariciar seus aromatizados cabelos...
E sentir sua pele macia na ponta dos meus dedos.

Tudo isso, ao mesmo tempo, faz meu coração acelerar,


E mais um pouco, pouquinho de amor, parar.
Só sei que é prazeroso te amar, não sei mais o que faço;
Posso me controlar, mas não sou feito de aço...

21 de setembro de 1998

Encantada com tamanha delicadeza, ressaltou:


— São tão lindos, Luke!!! Por que nunca declamou eles para mim?!
Um pouco envergonhado, passando a mãos sobre seus cachos, inventou um porquê:
— Achei que já tinha lido eles...
Serena, destacou com convicção até recordar-se de algumas coisas,
envergonhando-se:
— Eu não mexo nas suas coisas sem você ver! Quer dizer, mais ou menos...
Risonho por ela não conseguir ocultar esse ato, tranquilizou-a:
— Se quiser, sabe que tem permissão!
Atenciosa, reciprocou:
— Você também pode mexer nas minhas, viu?
Brincalhão, confessou:
— Eu já fuço de vez em quando...
Revirando os olhos e balançando a cabeça, riu:
— Bobo!
Entrelaçando as mãos sobre a mesa, pôs o queixo sobre elas e indagou:
— Agora quero um sobre amor também!
A despeito de possuir um pouco de dificuldade para encontrar um com acerca
desse tema, ao achar um que em sua visão seria perfeito, sentia seu corpo
estremecer por dentro, mas preservou a vontade e a coragem para declamá-lo:

Estrela Incandescente

A energia do seu olhar


Me deixa sem ar,
Não consigo esquecer
A sensação ao te ver;

Meu coração vira mel,


Derretendo agradavelmente,
Alterando completamente a minha mente,
Ah! Talvez eu deva estar no céu!

Você é meu único motivo


Para eu não desistir covardemente...
Para eu continuar simplesmente vivo!

Tentando, pacientemente,
Encontrar um objetivo,
Porém, percebi que acabei realizando-o numa estrela incandescente.

31 de agosto de 1998

Ao final, antes que Luke pudesse expressar a sua admiração pelo poema, foi
interrompido por duas meninas que riam em um grau de deboche. Ao passo que Sophia
sentia-se incomodada pela presença de ambas, as quais já tinha sentido suas
energias por atrás dela, antes de começar à recitar. Em virtude disso, afobou-se
mais que o habitual ao demostrar seus sentimentos para Luke — visto que haviam
enxeridas.
Embasbacada por estarem recitando poemas, Anny satirizou:
— Vocês estão acham que estão em que época?
Enojada, Scarlett admitiu:
— Realmente, isso é tão cafona!
Avistando as amigas da Claire, revirou os olhos e, suspirando, questinou-as:
— O que querem??
Sem graça, Anny explicitou:
— É a Claire...
Sabendo que só podia ser isso, esclareceu:
— Eu não quero saber dela...
Encoranjando-se, desembuchou o motivo por trás de sua amiga:
— Ela está dentro do banheiro com uma arma...
Sentindo seu braço ser cutucado, Anny findou:
— E pretende tirar a própria vida...
Apesar de estar desinteressado, seja qual fosse a razão, entrou em choque ao
ouvir o complemento. Por instinto, levantaou-se e, dando um beijo na Sophia —
esclarecendo que havia amado o poema e que logo voltaria —, correu em direção ao
banheiro, almejando que o pior não tivesse ocorrido.
Agraciada pela amorosidade, sinceridade e compaixão de Luke, bem como chocada
com a notícia, Sophia observava-as se afastarem calmamente, indo de encontro com o
caminho tomado por ele. Atentava-se as risadas e à troca de olhares que trocava com
ela. Concentrando-se na energia emanada pelas duas, não sentia nada que corrobora-
se para com a preocupação e tristeza diante da vida de Claire, pelo contrário,
tinha a sensação que encontravam-se alegres e satisfeitas até demais para a uma
ocasião tão lastimável.
Desconfiada, refletia sobre o porquê de estarem agindo assim perante a melhor
amiga delas...

Capítulo 114 - De novo não


Ofegante e desesperado, adentrou no banheiro feminino. A despeito de reconhecer
que era proibido, relevava as consequências perante as que poderiam vir caso não
adentrasse. Chamando-a, escutava alguém chorar. Direcionando-se para o último
compartimento, avistou-a sentada no vaso sanitário, cabisbaixa, com uma das mãos
para trás.
Mantendo uma distância que não ferisse sua privacidade, preocupou-se:
— Claire, está tudo bem?
Erguendo a cabeça, notou a presença de Luke e apontou a pistola para a sua
própria cabeça e ameaçou:
— Você acha que estou bem?!
Aproximando-se, levantou as mãos pedindo calma e pediu:
— Por favor, não faz isso!!
Desengatilhando-a, provocou-o com um sorriso psicótico:
— Você nem se importa!!!
Aflito e trêmulo, bateu na porta, fechando-a e desabafou:
— ME IMPORTO!! Eu importo... Quero que viva!
Chocada com sua atitude, fungou o nariz e pressionou-o:
— Se você se importa mesmo, promete fazer uma coisa?
Não querendo arriscar o que poderia ocorrer caso não fizesse o seu gosto,
prometeu:
— Prometo!!
Deixando a arma no chão, dando um passo para frente, colocou-o contra a porta.
Tímido quanto a aproximidade de poucos centímetros, desviava o olhar. Intrigava-se
com algo do lado do vaso, semelhante à cebolas. Antes que ele pudesse ter uma
reação adversa ou fugisse, Claire trancou a porta e, despindo a camiseta, agarrou-o
como um animal selvagem. Com as mãos por dentro de sua camiseta, apertava-o,
arranhava-o e beijava-o.
Ao passo que tentava pará-la com palavras e afastá-la levemente, as atitudes
libidinosas de Claire intensificavam-se. Percebendo que não adiantava, encolheu a
boca e, toda vez que tentava beijá-lo, virava o rosto para o lado. Entretanto,
fervorosa, continuava beijando outros lugares: rosto e pescoço. Enraivecido,
sentindo-a despir sua calça e apalpar suas partes íntimas, empurrou-a com força,
indo de encontro com a moral acerca de nunca maltratar uma mulher propagada por seu
pai e pela Hillary. Contudo, reconhecia que para aquela situação era o único meio
viável.
Traumatizado, lembrava-se de atos parecidos cometidos pela Sofia — quando mais
novos —, cuspindo no chão, limpou a boca e advertiu:
— SUA LOUCA!!! O que está fazendo?!
Risonha, divertiu-se com sua expressão de gatinho assustado:
— Aposto que a Sophia nunca vez isso em você!!
Comprendendo que era uma armadilha, sentia-se culpado por ter ido e imundo
pelas mãos da Claire ter encostado em seu corpo sem sua permissão. Lacrimejando,
sungou a calça e destravou a porta.
Antes que saíse, sacou a arma em sua direção e avisou:
— Se você não me obedecer, eu atiro em você!
Levantando as mãos, afastava-se Insistindo:
— Você não precisa fazer isso, Claire!
Furiosa, bateu o cabo da pistola na porta metálica e frisou:
— EU PRECISO SIM!!! Eu quero transar com você!!!
Trêmulo, gaguejou:
— E-u não que-ro...
Despindo a calça jeans, ironizou:
— Por quê? Não me acha gostosa o suficiente?
Desviando o olhar, negou:
— Não é isso...
Perplexa com a repulsa, aproximava-se e questionava-o:
— Você é gay então?
Angustiado, concentrando-se na água caindo da torneira aberta, afastava-se e
argumentava:
— Eu amo Sophia...
Rindo, apesar de no fundo tal frase doer, contrargumentou:
— É só uma transa, não faz mal!! Quem sabe você não começa a gostar de mim ao invés
dela!
Encostando-se na parede, abaixo da pia com a torneira aberta, sugeriu:
— Por que não pede para o Douglas? Ele gosta de você...
Enfurecida, batendo os pés no chão, salientou:
— Eu odeio ele!!! E eu amo você...
Pensando em alguma solução, ofereceu outra alternativa:
— Podemos ser amigos, que tal??
Cabisbaixa, lavando as mãos por ter colocado-as no chão no momento que foi
empurrada, destacou:
— Eu não quero só isso...
Sentado no chão, há alguns centímetros da parte íntima de Claire, com o rosto
virado, propôs:
— Vamos combinar: você faz o que quiser... mas eu não faço nada!
Agachando-se, sorridente, agradou-se com a ideia:
— Se prefere assim... Não vejo problema!
Afastando-se em um ponto que desse para Luke assistir, aguardou sua vontade de
despir o sutiã e a calcinha. Corada, lembrava-se que tinha comprado a langerie
pensando nele.
Com a voz suave, perguntou:
— Qual sua cor favorita, Luke?
Embora gostasse de preto e branco — em razão de sua filosofia de vida ser
paltada no Yin Yang —, optou por uma outra opção:
— Vermelho.
Contente, aliviou-se:
— Que bom que escolhi certo!
A fim de agradá-la, elogiou-a:
— Com certeza!
Carente, pediu:
— Vai, me olha!!
Fechando os olhos, balançou a cabeça e relembrou-a:
— A gente combinou.
Sacando a arma, ressaltou:
— Só estou pedindo isso!!
Engolindo seco, olhou-a e deparou-se com a cor verde, em virtude do tom de
vermelho não ser muito forte. Não aguentando-se, embora tenha ofuscado a visão de
propósito a fim de não vê-la, atrapalhando a indentificação, ria...
Envergonhada, retraiu-se e gaguejou:
— Q-ual é a gra-ça?
Controlando-se, arranjou uma desculpa:
— Nenhuma, é que você é muito bonita!
Sentindo-se querida, agradeceu:
— Obrigada!
Despindo a langerie, observou-o virar novamente a cabeça. Porém, optou por não
obrigá-lo porque sabia que em algum momento não resistiria e veria-a. Queria que
Luke guardasse aquele momento e apaixonasse por ela, esquecendo Sophia.
Visto que estava debaixo da pia, dificultando seu acesso, pediu com gentileza:
— Tira sua camiseta, por favor.
Enojado, sabendo que Claire não cumpriria cem por cento com o contrato,
obedeceu para não arriscar levar um tiro. Sentindo sua calça jeans ser puxada,
trazia de volta memórias que gostaria de apagá-las.
Excitada, avistando o relevo da cueca, salientou com malícia:
— Você disse que não queria, mas seu pau diz o contrário.
Envergonhado, de olhos fechados, argumentou:
— Eu não posso controlar...
Vendo sua careta de insatisfação, destacou:
— Melhor assim...
Sentando-se em cima de sua cueca, esfregava-se e gemia. A despeito de estar
sentindo prazer, notava que Luke fazia de tudo para segurar a vontade de olhar e de
gemer. Insatisfeita, colocou a pistola sobre sua testa.
Sentindo algo gelado, indagou:
— O que é foi agora?!
Irritada, avisou:
— Se você não me olhar e abrir a boca, eu atiro!
Indignado, pensando em Sophia, evidenciou:
— Eu não vou fazer mais nada além disso!!
Emburrada, deu leve pulo e desabafou:
— TÁ!!! Só quero me veja...
Sentindo dor em suas gônadas, advertiu:
— Isso está me machucando!!!
Sendo essa a única coisa que não queria, desculpou-se:
— Ah, desculpa... Melhor irmos direto para a melhor parte...
Receoso, questinou:
— Que parte?!
Tímida, gaguejou:
— Na ho-ra que es-tiver pron-to, eu man-do vo-cê abrir os o-lhos.
Choramingando, imaginava o que Claire iria fazer. Presentindo sua cueca sendo
retirada e, rapidamente, seu orgão reprodutor sendo inserido no dela, sabia que o
terror estava prestes à começar.
Vendo-o com os olhos abertos e arregalados, notando que estava assustado,
aliviou-o:
— Eu estou usando camisinha, não precisa se preocupar!
Fixando o olhar em seu rosto, crendo que se pensasse na Sophia poderia até ser
minimamente prazeroso psicologicamente, avistou o semblante de Sofia na sua frente.
Via-a com um olhar e sorriso malévolos, que impunham a subserviência e obediência,
como se fosse a dona da verdade e de tudo que a cerca.
Não suportando se submeter a um velho novo massacre psicológico, preferindo
morrer do que essa sensação horrenda, ergueu o tronco até encostar a cabeça na pia
e, direcionando-se para o seu rumo, afastou-a. Embora acreditasse que as ameaças de
morte eram fraudulentas, optou por não desafiar a sorte novamente e, levantando-se
— estarrecido como Claire não largava a arma de maneira nenhuma —, ajustou sua
cueca e sua calça e correu...

Capítulo 115 - Tenho Certeza

Possuindo quase certeza que as três estavam armando alguma emboscada para
Luke, corria pelo corredor a fim de alcancá-lo o quanto antes. A despeito de nunca
invadir os pensamentos e sentimento de Luke, somente quando estivesse ciente, tomou
a liberdade para conectar a ele via telepatia. Este poder apenas conseguia obter
cem por cento de eficácia tratando-se de uma pessoa íntima. Apesar de Henry também
ser, desde há alguns meses em que descobriu tal habilidade, falhava ao tentar
conectar.
Na entrada do banheiro, avistou Anne e Scarlett barrando a entrada.
Acreditava que ambas pegaram um outro caminho a fim de levantar suspeitas.
Aflita, pediu:
— Me deixem passar!!!
Cruzando os braços, repeliu-a:
— A gente só deixa quando os dois pombinhos terminarem.
Batendo o verso da mão direita na palma da esquerda, retratando um gesto
sexual, ironizou:
— Com certeza!
Enfurecida, fechou os olhos e, antes que pudesse forçar a mente à exercer seu
poder de telecinese, percebeu que já estavam presas nas laterais da entrada,
debatendo-se tentando se soltarem. Sarcástica, aproveitou e tapou a boca de ambas.
Adentrando, interpretando rapidamente a cena, em que Claire situava-se pelada,
gritando e apontando uma arma para Luke, que estava sem camiseta e chorando, perto
da saída, avistou-a apertar no gatilho. Visto que a velocidade de uma bala
incomparável é com a reação humana, inconscientemente, fechou os olhos e desejou
com que ela parasse — seja de qual forma fosse.
Amedrontada, abriu os olhos e reparou que tudo ao redor encontrava-se
praticamente estático, menos ela mesma. A bala, a menos de um metro de Luke, corria
como uma tartaruga, aliviando-se por ter conseguido interceder a tempo, como no
caso da roda-gigante. Impressionada com a nova habilidade descoberta, dava leves
toques para testar. Encorajada, segurou-a na mão, porém, sentia cócegas.
Manuseando-a na ponta dos dedos, conseguia alternar a direção. Brincando, colocou-a
rumo a Claire. Entretanto, repensando, achou não ser uma boa ideia e, avistando uma
janela aberta acima da pia, subiu-a e direcionou-a para fora da escola.
Pulando no chão, aproximou-se de Claire, assombrava-se com a raiva estampada
em seu rosto. Curiosa, analisou o seu corpo. Embora acredisse que era magra demais,
impressionou-se com a magreza dela. Ademais, os seios eram iguais, no entanto,
agachando-se, observou que sua vulva encontrava-se molhada, espelindo um fluido
transparente. Espantada, não sabia que gostava tanto do Luke assim, haja vista que,
segundo os boatos que rondavam a escola, ela havia desencanado dele há alguns meses
e estava interessada em um outro novato. Indiferente, retirou a pistola de sua mão
e deixou-a no chão o mais rápido possível — tendo em vista que possuía medo de
armas de jogo.
Aproximando-se da pia, cuja torneira encontrava-se aberta, onde a água
parecia estar congelada, fechou-a. Olhando-se no espelho, arrumava sua franja.
Observando o reflexo de algo estranho em um dos compartimentos, atiçando sua
curiosidade, foi verificá-los. De perto, percebia que eram cebolas cortadas no
meio. Achando anti-higiênico pô-las na cesta de lixo, abriu a tampa do vaso, antes
de atira-las, estarreceu-se com a substância presente, parecia vômito, pois via
pedaços de comida não digeridos, acreditava que eram da lanchonete da escola.
Reflexiva, perguntava-se quem teria passado tanto mal. Concentrando-se no
principal, jogou-as na privada, fechou a tampa e deu desgarga.
Retornando para Luke, com pena de sua expressão fácil de desespero, na qual
escorria lágrimas, acariciou sua face, beijou-o e abraçou-lhe a fim de confortá-lo,
desejando que a realidade retornasse ao normal.
Prosseguindo, Claire proferiu:
— Você vai morrer comigo, Luke!! Vamos ficar juntos para sempre!!!
Incompreendido, sentindo-se abraçado por alguém, parou e, presenciando um aroma
característico, indagou:
— Sophia??? É você?!
A fim de descontrair, brincou:
— Quem mais seria, bobinho?
Tendo certeza pela voz, salientou:
— Há alguns segundos a Claire estava querendo me matar!
Visualizando os dois abraçados, incompreendia como Sophia tinha chegado ali.
Esquecendo-se que tinha atirado, focava-se em ambos, em como amavam-se por meio de
tão pouco, chegando a ser um ato simplório. Sentia inveja, inferioridade e
humilhação por não ter conquistado o que mais almejava, justamente em seu
aniversário — 11 de dezembro —, antes de partir: o amor de Luke.
Chorando, arrependeu-se:
— Desculpa, Luke!
Se virando, viam-na com a pistola apontada para a própria cabeça e chorando.
Sophia, utilizando de sua telecinese, arrancou-a de sua mão, trazendo-na para
perto.
Complecente, acalmou-a:
— Ninguém quer você morta, Claire.
Assombrada, vendo uma cena de filme de ficção científica, lembrava-se do
adjetivo que Douglas uma vez utilizou:
— Você é um demônio!!
Sereno, retificou-a:
— Acho que tá mais para um anjo...
Assistindo-a apanhar e vestir suas roupas espalhadas pelo chão de maneira
desleixada, avistaram-na sair com receio, mantendo certa distância, como se Sophia
pudesse sugar sua alma.
Vitimizando-se, gaguejou com uma mistura de medo e vergonha:
— E-u v-ou fa-lar pa-ra to-do mun-do so-bre o q-ue vo-cês fi-ze-ram co-mi-go!
Revoltado com suas atitudes, ameaçou-a:
— E eu vou falar para a diretoria que você me abusou!
Escorregando — por intercessão de Sophia —, apoiou-se na porta da saída e
provocou-o:
— Ninguém vai acreditar, seu frouxo!
Com descaso diante do chilique de Claire, notando que não parava de olhar para
trás, imitou uma criatura faminta, pronta para devorá-la, com garras e uma dentição
afiada, além de uma careta aterrorizante: erguendo as sombrancelhas e arregalando
os olhos. Grunhindo, escutou-a gritar e sair correndo, caindo em risadas ao vê-la
desesperada. Esquecendo-se, desprendeu Anny e Scarlett.
Cabisbaixo, sentia-se culpado pelo ocorrido:
— Obrigado e me desculpa, Sophia...
Recompondo-se, esfregou os olhos e confortou-o compreendendo a situação:
— Você só queria ajudar. Você não tem culpa nenhuma!
Vendo-o desmoronar em sua frente de choro ao explicar os acontecimentos,
percebia que não era somente ela que lidava com traumas relacionados abusos
sexuais, físicos e psicológicos. No entanto, assim como ela, preferia por não
atribuir nome ao agressor de outrora, com excessão de Claire. Isso exemplificava o
fato de terem combinado, nas primeiras vezes que dormiram juntos — visto que já não
era mais necessário, porque sabiam —, que não desejavam utilizar seus aparelhos
reprodutores, seja de qualquer forma, ao se entregarem de corpo e alma um para o
outro.
Apesar de no começo achar que Luke gostaria de algo mais apimentado, percebia
que ele era tão rígido a essa ideia quanto ela própria. Contudo, achava que o
motivo girava apenas em torno de algum aspecto espiritual oriental. Devido às
explicações, tornava-se claro a sua aversão a relações notoriamente sexuais.
Sentindo-se emocionada ao vê-lo expurgar seus sentimentos ruins, trancados
com sete chaves, desabafou-se com Luke sobre isso, confessando que também já havia
passado pelas mesmas situações que citava — sem revelar qual pessoa se tratava.
Abraçados, partilhavam as lágrimas até ouvirem o ressoar do sinal, por volta
de 9h33m — três minutos atrasado. Recompondo-se, trocando olhares e sorrisos, riam
ao passo que saíam de mãos dadas, como se nada tivesse ocorrido.

Capítulo 116 -

Saindo do orfanato, do qual haviam passado para Luke pegar seus pertences
pessoais e avisar Hillary que iria passar a noite na casa de Sophia, que
constrangeu-os avisando para terem juízo e utilizarem presevativo, caminhavam de
mãos dadas, enquanto contemplavam o pôr-do-sol.
Vendo-a carregar a mochila, agiu com cavalheirismo:
— Quer que eu carregue a sua mochila?
Risonha, levitou um pouco a mochila de Luke e brincou:
— A sua está mais pesada que a minha! Mal consigo levitá-la!!
Sério, notando que ela estava fingindo, insistiu:
— Tenho certeza que os cadernos e os livros pesam mais.
Trocando as mochilas, desistiu:
— Tá bom, você ganhou!!

— Obrigado!

— Por que você sempre faz isso?

— Isso o quê?
— Você sempre está disposto

OooooOoooo8

Se está começando, não pare.pare.j

Topo de uma secoia


Quase se cortando, vontade. Cigarro. Luke apareceu. Só queria sair dali.
Levantou copa das árvores.
Biologia

Notas boas

Vamos acampanhar Biologia.


Sequoias

Estudar mitologia história.


Prova.

Sophia conhecia

The Palace Of Fine Arts

Farmer

Harrison Louise.

Vômito.

Fechou a torneira.

Douglas viu. Demônio

Tentou atirar na cabeça, Sophia salvou.

Jogou a roupa.

Tirou a arma.

maginando o que iria fazer, abriu os olhosão teria outra alternativa, abriu os
olhos devagar e fixou-se em seu rosto. No mesmo instante,

Apontando a arma para sua cabeça. Ferro.


Olha pra mim!

Vendo o rosto de Sofia, jogou para longe.

Desacelera r tempo
Parando tempo.

Vendo-o retirar, despiu sua calça jeans.

Tirou a calcinha.

Preni paredd

Sentia Luke n fazia isso.


Demônio!!!

Quero vc dentro de mim só uma vez. A Sophia vai ter várias vezes.

Arma Sophia tirou ela da mão dela, força pensamento.

Ouvia água caindo

Seu pau parece dizer o contrário

N vou tirar cueca.

Tira
Eu vou atirar.

Tira a

Deu tiro, rindo.

Compensar* Claire* tira a roupa.

Empurrou Claire.
Voltar ao passado ou parar a bala.

Capítulo 19

N conseguia sentir nada nelas quez pareciam alegres.

Importava com todo mundo. Mesmo que

Beijou Sophia, elogiou. Já volto

Insistir.
Arma.
Essa arma é do meu pai. Claire.
N tinha coragem, só para cha

Ela está te chamando no banheiro feminino


Para
Anne
Ela está tentando se matar.
Saiu correndo.

Amizades, Luke influencia.


N sabia se era por causa do Luke ou por causa da aoarnevai, oubos dois .

Leu dois.
Em dúvida, leia os dois!
Ansiosa

Janela, viu queimado.

Repsodnej a carta. Harrison Henry.


Olhos mágicos

Sol da meia noite

Livro fui a floresta. Assim me senti escrevendo esse livro.

Hillary, explicando Luke


Chorando, n faz isso.

Queria mandar em bora, só daria mais problemas.


Foi embora assim que matou Luke
Mala

Acordou hospital
Sonho
Final
Símbolo sonho

Eu já n estou aqui?
Brincou.
Noruega n dinamarcs

Poema olhos mágicos


Luke.

Solu

Anel veio, Sophia banheiro

Lembrava-se da vez que no banheiro deu em cima dela. Uma amiga estava sendo
humilhada.

enquanto comiam, após terem tido uma aula detalhista acerca da mitologia grega,
seguinte respectivamente o horário ardestavam estudando sobre a

mitologia grega por meio de um livro recomendado por Harrison, denominado O Grande
Mito dos Gregos, por

Costume de ler poemas.

Decidiram ficar pois sempre chegavam atrasados no recreio


Sala de aula. Todo mundo começou a gostar mais de Sophia.
N sabia se era pq ela tinha um visual melhor, ou porque andava com Luke.
Ia bem na escola
Via gosto estudar.
Luke também.

Hillary veio junto com Luke para o novo orfanato


Luke fazia birra para n ser adotado e ia mal na escola

Lendo livro mitologia grega, recreio,

Tem namoradinho. Está namorando.

Escrevia mensagens

N via ela muito.


Sugestão: abandona ela e Toby. Vai para ORFANATO.
Morar lá, quarto 4, vazio.

Expulsa ela.

Obrigou Luke ver sociedade dos poetas

Livro walden relvas

Contente,

Anel ridículo

Arma dormiu carcereiro

Dormindo carceiceiro

Se o arrependimento matasse, teria morrido no seu nascimento!!

— Diga para Sophia que eu amo-a...


Ignorando-o, levantou-se e deu as costas.

Melanie

Lembrando-se de Melanie querer falar algo.

30 anos de cadeia
Henry mandou notícias mais
1 mês

Vc n é meu filho vc Nunca foi um pai.


Eu vi o porão
Vc matiu

Pegou a arma e meteu um tiro na cabeça

Prometido não falar.


Sophia
Ficou doido.

N quer mais nada com vc.

Cartas, Henry rasgou tudo.

Nunca visitou

Cuspiu

Passagem buraco vidro.

Apertar pescoço

Telefone

Quando vou poder visitar o Henry


Nunca
Ele n quer ver ninguém.
Processo

Quantas horas são

Sofrimento.

Henry.
Adeus pai.
Como está a Sophia?

Homo

Harrison foi lá.

Nota melhorou.,

Harrison e n sei quem. Prisão. Chorando


Estupro.
Mãe Talvez.

11 de dezembro = arma. Luke ou Sophia


11 de abril carro. Trauma
16 de agosto = morte
Pelada Claire. Tiraram fotos.
11 de dezembro = suicídio.

Capítulo

Estudando mitologia no Recreio foi ao banheiro.

Tanto ele quanto Sophia.

Usando isso? Sacanagem.

Mancha
Sophia zoando
Pontos molhados cueca

Janela.
Como consegue ver?
Privacidade.

Mochila de roupas.

Tremendo a mão.

Anel de coco
Nosso anel de união para com o universo.

Os dois tinham combinado q n queriam penetração, sexo. Trauma.


Acariciavam
Depois escutaram The smiths, é muito melancólico comparado com nirvana, n.
É oq n não ouviu os outros álbuns!
Iria piorar! Haha

Contou a verdade

Acordando, amssado.

BMW
Audi
Mercedes

Carro bão

Sofia está demorando, ela falou que ia vim com vocês.

Luke

Única de Sausalito

Passar por toda São Francisco

Três pessoas ignorou

Escrevia-a

recusava-se à acreditar Sofia, chorando, pensando em quais atitudes erradas foram


tomadas, remoía-se.

Afastou de mim e me odeia. Diário. Levantando, para ver a ponte.

Repulsivo, lembrando-se dessa semana em que foi proibido de conversar com a


Sophia e todas as vivências juntas,

— EU TE ODEIO!!!

Motorista esperou-o.
H

Tratando Sofia mal.


Almoçar juntos.

Embora fosse verdade.


Eles precisam ir em sausalito

Ônibus passa em vários lugarss

Acalmou , foto de seus pais


Última foto que tiraram pais.
Sausalito paisagem,
Esperar ônibus

Sophia
Capítulo

Desabando em choro.

Só ia sorrr

Explicou, já se cortou também

LEMBRANDO-SE Sofia impulsiva


LEMBRANDO-SE DE Harrison

Pais pedir carona. Recusei para ela. Apesar de que eu pudesse


Levar
Estou cansado de vc

Ela me batia direto quando éramos pequenos

Pq n gostava da Sofia.

Correndo na chuvainal.

Maior poeta EUA

Rijdo.
Álbum fotos pais.

Sophia e Luke fotos juntos. Bobo

Escuta nirvana e The Smiths

Mostrando os pôsteres do The Smiths e seus respectivos álbuns: , surgiu


uma dúvida na cabeça de Ashley:
— Seus pais gostavam muito dessa banda também

— Sim!

— Seus pais são da Inglaterra, não são?

— Sim!

Mostrava seus objetos especiais: pôsteres do The Smiths, da Dinamarca — seu


país predileto; os álbuns dessa banda, em vários formatos: CD e fita cassete, seus
desenhos horríveis, seu caderno exclusivo de poemas, denominado Poetizando
Sentimentos, entre outras coisas presentes em seu recanto.

Álbuns nomes.

Álbum de fotos pais.

Noruega e Inglaterra

mostrava seus objetos mais especiais.


Queria q estivesse morta Freddy Krueger. Pesadelo

Conselhos serviçal e do pai. Tratar uma mulher.

Escrito amarelo

Cor chaves.
Não conseguia. Daltonismo. Verde. Vermelho.

Andando descalça. Influência Luke.

Alguém tentou te adotar?


Quando era mais novo sim.
A Hillary sempre me ajudou muito, talvez porque ela perdeu o filho.
— eu sempre fazia birra.

N falei para vc voltaria?

Não fui embora ainda

Ent vc é a namorada do meu filho?


Ela é minha mãe.

Olhos mãe = diamante ou jóia Ashley

Vc é mãe dele

Guiando -os para o quarto.

Chegando no quarto, escutaram sons.

Visão noturna, Sophia.

Gostou de você.
Surda bullying

— Existem pessoas ruins

Bolinha, latiu

Maresia

Blind
Parece mais uma mansão

adentravam por uma entrada destinada aos funcionários.

le possuía a chave.

História.livros

talvez manhã n

Apagando a luz. selene deusa

Correr
Ent é ela q vc saí Hillary.

Faz tempo, o que são essas marcas?

Olhou para trás conversando. Fique calmo, pai dele.

Tentou no dia 11 de outubro.

Dedos no banco.

— Melhor irmos para a sua casa, não é senhor Smith?


Sentado, pensando. Ela levantou.

Medo, caminho pensando....

Minhas roupas estão aqui.

Hilary. Viu os dois.


Essa é a minha amiga.

Claire apontou arma para Sophia no banheiro.


Claire dps que Luke morreu bateu nela.

Posso tentar voltar a energia daquele poste.

— Poema pode recitar para mim. O poema que vc escreveu hoje cedo? Pensando nele

— Claro! 11 de outubro de 1997,


Pegando a lanterna

— Posso ver o poema que você

Viu cortes
Na casa deles, vc já se cortou, Luke? Já... revolta meus pais. Pensei mas nunca
tentei. Suici
nunca tentarei pq tenho vc
Tbm não

Filosofia e Espiritualidade me ajudaram. Luke. Poemas também. The Smiths... Yin


yang

Um dos meus medos altura. Por causa disso. Ponte. Outra ponte Bay.

e entendo. (Nunca tinha pensado que Luke teria passado por tantas coisas. O sorriso
não alegava.)

Família da Inglaterra não me queria.

Depois da escola.

Pode voltar no tempo ? Não sei..


Embora quisesse.
Gosto de como está. Melhor não tentar.

Subiu e logo

estavam parados, colocando-a

não suspeitassem dele, mas de Douglas.


Ouvindo gritos e ele caindo, foi embora.

N funciona direito, merda. Passar susto


ito,

Se você não estiver se sentindo bem, claro! Além do mais, estamos aqui há um
tempão...

— Contigo, fico aqui por toda a eternidade!

— Eu também...

Recusaram Jhon. Morreu acidente. Viu pouco a Sophia

Em decorrência da corrente fria, Luke, embora tentasse se segurar para não tremer,
ao ver que Sophia estava

Começando a se mexer lentamente.


Bambeando, está tudo bem? Tonto. Rápido. Beirada.

Tonto.

Deu um problema aqui, estou querendo mijar vê se vc resolve aí. Eles estão lá em
cima tem um tempão

— Como você faz para não ter medo, Sophia?

— Por favor, me ensina! Eu não quero mais passa e

— Vamos voltar quando começar à girar!


Ao passo que

— Quando quiser, a gente senta de volta.

— Quando voltar a girar sentamos!

Olhou para baixo, tontear. Estou bem, aí gira rápido de uma vez.
Agarrou-se na beirada, mãos,

— Por que

Pq tem tanto medo de altura?


Eu tenho um trauma.

Livros: jovens titãs e livros senhor dos aneis

Depois que meus pais morreram fiquei espedurao carro.


Ponte quebrada.
Cortes leves

E aí tem alguém no brinquedo? Tem uma menina e um menino doidos aí.

Preciso ir no banheiro urinar. Vc pode controlar para mim? Aqui para d aqui aumenta
a velocidade.

É só ir devagar e ir pagando deves em quando.


Assustar os dois.

Parando no alto, na última volta,

É bom altura.

Bullying. Arma tentou alguma coisa.

Aparentemente eram os únicos que estavam

Tendo de convencê-lo com vários outros argumentos, Luke se dispôs à enfrentar

M olhe para baixo, olhe em meus olhos.

Segurou sua mão.

N queria, quase caiu.


Girar muito rápido. Pode deixar que eu cuido.
Notando que havia caindo, foi embora

N olhe para baixo. Olhe nos meus olhos.

ou ensiná-lo a não ter mais!!

Van Gog, céu estrelado

12 a 13
Arco íris, cor quantidade

Tinha uma criança chata que batia em mim toda hora.

Sem desculpas!

Vou te ensinar. Desculpa, Luke.

Insistindo para que fossem no

Daltonismo.
Ashlee

O seu desejo de vingança de Apesar de ser muito grande para somente uma pessoa
procurar, dispensou a ajuda de seus amigos e foi na missão sozinha fim de vingar
Claire — a sua paixão desde mais novo.

Brinquedos foi em todos.

Superando medo de altura. Viu os dois lá em cima.

Medo de altura girando mais rápido.

Loiro claro antes.

Voltou a conversar, soube Luke.


Seu cabelo não é castanho? Natudka
Não, é loiro. Ele está mais escuro por causa que pinto direto.

Setxta

Claire foi para as amigas, chorando arrumada, Douglas perguntou o que ela tinha,
as amigas responderam:

Meninas, Gigi, educação física

Anel = jogou fora Jesse


Acharam q Sophia matou Luke

Antes que terminassem, saiu correndo...

Capítulo

Chorando se arrumou.

Maquiagem.

Claire = pior ccens. Arrumada

Anel. Ashley

Toda arrumada.

Assistiu com a Claire.

Deixou sorvete cair.

Tela branca.

Beijando língua

Como se fossem

Coisa mais romântica que alguém tinha feito, barulhos, conventtava-se somente nela.

Se fechando, porta aviões

Narrava uma história. Pilota avião, priemira guerra mundial.


Poousa na barco. E encontrou o seu amor Luke.

Vergonha Luke = lembrava de sua mãe.

Que ridículo.

Imitava bem avião.


Sem anel Ashley

Sempre há uma luz no fim do túnel

lembravainho, sujou, beijou-


Limpando.

Menina apareceu — viu toda a cena.


Achei que vc n tinha vergonha.

Não precisa gastar nada comigo...

Bravo
Eu quem não deveria gostar.

Menina cumprimentou

Abre a boca.

Barraquinha que não


Eu n tinha dinheiro, guardar para mais tarde.

Sorvete

Melhor aprendizado escola Sophia


enxugava as lágrimas

Risonha, exugava as lágrimas de alegria


— Precisamos ir!

Satisfeito pela resposta, parou e pôs-se a apreciá

Ao passo que Sophia expressa

Capítulo

Apito soando.

Vermelha.
Ficou tímkda.

Beijos.
Cócegas

Apito recreio.
Saindo

Irmã dele ou não = gostava dela, namorada.


O que foi? Claire. O Luke... Ele... Chorou.
Bravo pegou ele.

Gramática

Ameaçou deixou pelada.

Cada átomo seu

Luke caindo roda

Chorando.

E aí, ela comenteu erros de português de novo?

Douglas.
Nem um pouco.

Bobo

Posso experimentar um pouco

Vc é a pessoa mais bonita que já vi


Deve ser impressão sua?

Claire na mesma sala que Sophia. Olhava ela. Douglas estava na sua sala Luke

Sentido para estar ali.

Se algum de nós morrer oriemiro. Árvore. Eu n conseguiria, nem eu... Mas n pense
nisso, tá bom. Yn Yang equilíbrio
Beijos árvore.

Romeu morrer
O que acontece?

Regras escola.
Louise vai adorar saber disso.

Anel de Côco.
A cada sentimento uma poesia
Olhos vermelhos poema. Alergia
Mãos dadas.

Motivo poema = gosto.


Diário é mais explícito.

Menina n gostou dele recusar, Douglas percebeu se vingar.


Montanha russa girando mais rápido.

Luke viu dois diários cheios de poeira. Um escrito Sophia e o outro Sofia.

Perto da escola.
Orfanato.

Saí com Douglas


Douglas ciúme,
Claire..
Beijo forçado.

Vendo uma se aproximar

Acordou
Pq vc escrevi poemas?

Pq eu n tenho amigos.

Vc podia ter se quisesse

N quero pessoas falsas do meu lado

Como foi sua aula?


Menina ciúme.

Transformou ela também?

Obrigada, Luke! Por tudo. (Importante)

Medo de altura. Luke


Segurou. Feche os olhos.

Carro quase caiu, virou balançando na ponte m, chamava meus pais.


Acidente, motorista.
Estava aflito, bravo

Meu pai nunca batia nela mãe


Caiu da montanha russa.
Passa capítulo.
Árvore

Sofia batia em Luke. Pequeno

Montanha russa caiu, fechou os olhos acordou na rvkre conversando sobre Sofia
acidente. Pais morreu
Abriu os olhos.

Park natureza
Bevsjco da árvore. Ir conhecer o orgsnato

Parque
Foi boa a aula. Amigas Luke ciúme nem conhecia.

Arrumando cabelo toda hora.

ortando as pontas da franja,

Auxiliando-a cortar as pontas da franja, em meio à risadas

Foi sem ouvir, ambos

Pegou ela e perguntou: Você comeu demais! Hein Sophia? Vc que é fraco kkk

Melhor saírmos mais cedo para não atrasarmos!

Sentir-se livre da Sophia do passado. Mudou.

Pinta.

Cabelo atrás, beijou a tampora

N sei se sabe, mas é uma doença contagiosa. Pode passar


Mudou a doidinha

Hippie

Oq aconteceu com o braço?


Fala q vc machucou sem querer

N está sentindo frio? Estou sim.

Me zoavama quando era menor...


Montanha.russ.

Iam sem fones de ouvidos.

Eu uso ele na lateral para tampar uma cicatriz. Tenho que cortar...

Ela não é feia.

Sappy
Mikk It
ALL apologies
N vai poder sair escondido Luke. Orfanato
Mãe do Luke refém pai tbm.7

Todo mundo cumprimentava Luke.


N conheço
Sua namorada?
Amiga

O que ela tem no braço? Machucou cachorro.


Grande

Depois da escola, parque.

Violão,

Arrumando-se.
O que
Cabelo
Maquiagem. Vamos nós dois diferentes.
N vou assim há anos...

Gostavam, por causa de Luke ou visual

Arrumando cabelo.

Viu ela só de sutiã

Coberta

Eu trouxe algumas coisas n seu se vai gostar.

De vez em quando gosto de amarrar. Vamos nós dois com o visual mudado.
Gostou?

Gritar. Chorar.
Luke apareceu, cabelo amarrado.
Outra pessoa. Ondulado, liso. Cacheado

Grampo para esconder cicatriz lateral. É bonito.


Eu caí quando era pequena.
Harrison estava levando uma mulher, passando mal, carro.
Hospital. Sangue, cabeça.
Embrigado. Olhou um pouco para o lado para ver se estava bem. Bateu nela.
Bateu nela.

Flor, ia pegar uma flor na rua.


Sorriu e pá. Viu sendo jogado longe.

Em dúvida, roía as unhas.


Água

Franja, olhos grampo.

Sutiã, pegou o edredom


Tampou.

10:10

Sonho

Olhando para o seu lado esquerdo, nã

Torcia q n fosse um sonho.

Dorminhoca

Cadê

Tratava-a diferente, n sabia se pela aparência ou pela presença de Luke — q


visnyagauav todo mundo.

Depois que Luke morreu, as amizades foram embora. Perderam. Começaram a tratar
Sophia mal de novo.

Luke já se automutikou luz do sol

Está usando mente?

Na escola decidiu ir sem maquiagem.

Nariz

Sophia demorou acordae

Desculpe a pergunta, mas achou as feridas do meu corpo nojentas?

— Não!

Nunca mais fossem se encontrar.

Promete para mim q n vai mais se machucar?

Sentia cócegas muito fácil


De tão gostoso gemeu.

Gemeu, se quiser eu paro. Desculpa.

N a gente se beijou.

Beijaram-se.

N tenho peitos e

Vc pode tirar a camiseta para m

Forçando sentir feo

Pernas

Acha elas esquisitas? Não...

N queria acordá-la

Colocando-a na cama,

Fingi que estava dormindo para ver o q vc fazia kk

Carregou Sophia.

Embora n fosse forte.

Luke, quase dormindo, viu Sophia dormir

Melhorou as notas na escola. Queria que acabasse rápido


Luke
Praça

Chamou Sophia para dormir

Desculpa. Dormir junto = frio.

Escovar dentes.
Empresto.

Podemos escovar juntos?

Dois motivos = n queria morar no quarto

Enpanturrados

Preciso tomar banho.


Sophia não suou.
Embora quisesse.

N conseguiu
Não valeu. Valeu sim!!

Enquanto isso peço a pizza

Trovão colo de So

Passar não na barrigaz peito.

retornava, debaixo da chuva, ansiosa. Perguntava-ss

Vc disse que n iria demorar muito.

Vamos amanhã no parque?


Te mostro meu quarto.
Olhos.vendados.
Douglas

Viu álbuns

Preciso tomar banho. N tenho roupas.


Eu te empresto as minhas
Tenho várias que são de meninos.
Mostrou o guarda roupa.

Sintonia Magnética

A sua face colada na minha


Me enaltece como a chama,
Que em dias de chuva
Nunca se apaga;
Ela apenas se dilata,
Como a nossa púpila,
Que se conecta
Igual a um imã...

o passo que Sophia tinha

Terminando o filme,

Dormir

Você já sentiu vazio? Dor?


Já...
Já se cortou?
Não, mas coração
Eu também.

Esperou alimentar Toby.

Aventurou no quarto.

Luke também já se machucou.

Se algum dia algum de nós morrer


Corrente significa
Dormir.
Tratar bem uma garota. Mamãe.

Harrison embrigado fugindo da polícia.


Na zona.

Ponta do nariz.
Apertou.

2000 pulou.

Dormir no Sofá.

Dorme junto comigo por favor.

Não precisa dormir de maquiagem. Pode tirar.

Receio. Vc é bonita.

Parque de diversões
Roda gigante.
Viu Douglas e os demais

A sensibilidade de Luke para o calor era extremamente alta, portanto adorava

N conheço, outro tipo de filosofia

Via ela sem maquiagem.

Borrado

Equilíbrio Yin yang.

Colocando a mão fria debaixo da barriga de Luke

até então desconhecida

Acariaciandi barriga

Somos namorados?

Filme pipoca.
Rindo.
Cabelo molhado.

Ser mais aberto acidente (Luke)

Pipoca boa.

Zoavam Luke e Sophia escola.

Nada te trará paz, só vc msm

Beijo na testa.

Quis sentir frio.

Ardência
Fita crepe.

Curiosa sobre um ponto crucial que não tinha pensado,


— Como entrou na casa??

— A janela estava destrancada... Mas eu só entrei porque queria deixar uma carta
para você. Espere aí que eu volto.

Estranhava a sensação de alguém parabenizar-lhe, presentear-lhe e, ainda por


cima, pedir desculpas por algo que nem fez, pois nem recordava-se de como era
sentir isso. Entretanto, sentia-se a pessoa mais importante do mundo. Um dos dias
mais ruins, no qual perdeu ambos pais, tornava-se especial.

Posso fazer pipoca para você?


Podemos ver um filme?

Só um dia comum triste como sempre sem graça sem ânimo


Letárgico cabsativo

Lembrava de coisas ruins

Capítulo 103 -

Filme, assitir, pipoca.

Dormiu tranquila, sono.


Friooo. Sem camiseta
Só um capítulo

Minha mãe era enfermeira.

A vontade de sentir frio

Costas machucadas

Que dia faz aniversário

Entrelaçou. Olharam, se beijaram

Se beijaram. Ali.
Agridoce, para os dois lados.

Melhor eu ir.

Cuidava dela.

Luke, vc me ama?

— Por que é meu aniversário?

N tenho coragem.

N quero falar sobre isso.


Aspirina.

Comprimidos

Abraçou.

Chutou, desamassou, viu escrito.

Folha amassada.

Manchas vermelhas no poema.

Viu desenhos.

Floresta acharam Jesse.


Criança lá.
Refém

Pelo menos não tentou nada.

Chão cacos de vidro machucou se

Cinto no rosto vários lugares.

Saí de cima de mim


Saí de cima

Não vai bem na escola, se corta. Rindo. Você é tão inútil quanto a sua mãe adotiva.

Jogou o retrato no rosto dele.

Eu não quero ninguém em casa.

Seus pais são adotados


Para de falar.

N queria engolir.

— Você não é meu pai.

Tirou o cinto.

Bateu. Olho roxo

Vc nunca teve pais.


Seus pais são adotados. Chorando.

Saí de cima de mim.

Adotada.
Vou te educar.

Harrison
Capítulo

Ouviu choros.

Banho. Sentiu frio pela primeira vez. Tiraram as camisetas


Senti tudo s dissipar saudad

Dormir juntos.

Demorei para vi

Beijos,
Eu te amo.

What She
Said

Barbarism Begins at Home

Na sala. Começou ouvir choros. Não conseguiu ver muito.

Fica aqui, dormimos juntos

Pulsos cortados.

puxou a janela para cima torcendo que estivess

Fechou por causa da chuva.

Pipoca, fez algo, assistiram filme passando na TV.

Quem mora contigo: só meu tio.


Q horas volta: ele não vai vir hoje. Casa de alguma mulher, professora.

Pictures of you. Sophia escutava

começava-se a tocar, em seu walkman, a faixa Well I Wonder, do álbum Meat is


Murder, do The Smiths. Essa canção

que havia acontecido com Sophia,

N podia chegar em tarde casa, como

Falar sobre batom.

Well I Wonder, indo para casa de Sophia.

Ooo

Alma meio descolorida = poema. Não

Poema Tatuagens da minha alma. = Encontrou. Sophia. Sim.


Cheiro de bebê

conseguiria retornar para sua casa são e salva. Entretanto, Luke

Na casa dele.

Acampamento.

Foi embora para outro quarto e deixou ela lá.

compreender q rancho de sua avó Mary, do lado de observava as estrelas, mediante a


janela, de uma forma idêntica,

— São só o passado.

Pode me chamar,
Estarei lá

Chorou.

no rancho de sua avó maternal, com a janela aberta, contava

— São só o passado.

Que ainda está presente

Discordo

Forçando poder estrelas

Praia.

Tarde

Encontrou Sophia depois de uma semana, se mutilando na casa dela. Aniversário dela.

Anos de conhecer.

Bateu nela, estava tarde.

Não alguém para substituir Sophia,


Mas para preencher o vazio que ela deixou.
Luke único capaz.

Conversaram sobre diversas coisas, ganhando mais intimidada

Balançava alegre,
Sophia trouxe a Aurora boreal

Harrison bateu
Ficou 1 semana sem ir na escola.

Esquisita, mas reconfortante

Notando a mesma tristeza


Acompanhou ela.

Vidas passadas sentiam-se conectados. Desoeida na casa


Harrison bateu nela.

No final, acordou.

Por que nunca mais voltou?

Prefiro não falar sobre.

Vendo em seu rosto algo familiar.

Vc veio correndo?

Pais adotados.

Harrison bêbado, brigou.


Seus pais são adotados.
Quem devia ter morrido era você.

1 semana sem ir para a escola.


Luke foi atrás.
Achou a casa.

Sempre veio aqui.

Relaxa minha mente.

Posso te acompanhar. É longe. N está acostumado

Sentou no balanço.

Pq aurora?

Notas = zoaram Luke beijo marca. ZoarARAM. BAEIKO. SOPHIA FICOU PREOCUPADA. ELE NAO
ESQUENTOU. TRANQUILO.
PARQUE.

Parque

Indo embora ouviu chamar águas

Fatos batendo.

Saiu correndo.

Beijou a bochecha, deu abraço.

Viu boa pessoa.

Desculpa mentir* meu nome é Sophia.

Sinal.
As letras são muito melancólicas

Encheu os olhos d'água

Meus pais eram hippies.

Trocou

Amei

Gostava do primeiro.

Marcas braço,

Pq está aqui? Gosto de você. Seu jeito, estilo.

Eu ouvi Nevermind. Gostei bastante.

Acolhida,

Sentiu-se ao seu lado.

Caiu dentro, foi escorar

Muito galhos

Primeira vez que vejo sem blusa.

Timidez

Tampou o braço, base.

Moída.

Recreio

Luke e Sophia

Sem saber elogiou

Aurora? Não conheço nenhuma aurora aqui. Esquece sugestão

Recreio, cheguei atrasada.

Chova, chova

Chova, chova para lavar o que há de pior em mim.


Chova, chova para apagar todas as minhas memórias passadas.
Chova, chova para preencher a minha alma vazia.
Chova, chova para refrescar minha mente superaquecida. Chova, chova para eu
esquecer de mim.
Chova, chova para limpar os meus olhos sujos.
Chova, chova para me acalmar.
Chova, chova para abafar as minhas vozes interiores.
Chova, chova para o choro não aparecer.
Chova, chova para eu dormir em paz.
Chova, chova para eu realmente descansar.
Chova, chova para os meus erros não voltarem.
Chova, chova para me apagar por completo.
Chova, chova para tudo não se repetir novamente.

Eu adoro

Trocar poemas - sugestão

Apêndice

Luke entrou, viu as regras.

Oq tá fazendo aí?
Nada só vim entregar uma coisa para o senhor Miller.

Desçam já daí. Abaixou a voz, seus pais.

Desçam já daí. Louise.

fita cassete Bob Marley

onto, derrubou tinta neles.

Seu desvgrvado já tem um..

Tinta.

Pulou, Luke

Aproveitando a distração

Ganhando tempo.

Toma cuidado, cabeça de capacete.

Luke mordeu sua blusa tudo

Quem é aquela menina esquisita


Pegou o walkman.

Atrasada Sophia, base esconder cicatrizes

Pulou de algo alto. Tintas.

Pais de Luke da Inglaterra.

E aí quem vai encarar.


Escola Luke, tinta.

Na escola, girando Nevermind fita cassete. Refletia sobre a criança, pegando


dinheiro, se machuca anzol.

Luke chega a
Pedir dinheiro.

Eu preciso comprar

Smels Like a

Lista de regras.

Dinheiro da sua mãe e do seu pai estão acabando.

Terminando o dever de matemática

Almoço, foi adotada.

Bebendo cerveja.

Foi adotada!

Não é do seu interesse, e isso é? Walkman.

Amanhã, cicatrizes bonitas.

Tintas Luke.

Escutou beijo.

Segurando-se para não expirrar


Janela.

Múmia

Julia

Espantava-se

Entrou pela janela.

Forçou a mente, emperrada vento

Chave

Morreu de velhice

Verificando se seu tio havia chegado, percorreu

Ver a Julia.
Caixão

Yin Yanh Colar luke

Chuva ar ore mexendo

Porão.
Assustou-se

Abertura na barrraca.
Estrelas.

Prefiro ir a pé

No meio do caminho, viu Toby, maltratado. Pegou ele.


Passou pela sua rua e não percebeu.

Transferido Orfanato.

Harrison.

14 anos

Eu estava em cima de outra árvore quando


Medo de altura não desci.

O pode

Estava em cima da árvore. De outra árvore.


Queria ter ajudado.

Demorou falar que era a Sophia.

Por do sol. Eu consertei

Por do sol
— Ela era minha amiga também.

Morreu trágica.

Chuva cai sozinha

Eu consertei

Por do sol.

Não é do seu interesse


Conhece Sofia?

Qual seu álbum mais favorito

Dúvida entre Bleach, Nevermind e In Utero.

Consertou

Watson

Você gosta de nirvana?

Timida, qual é o seu?


Está me seguindo?

Adotado

Pode ver o que está escrevendo n

Viu as lápides

N conheço nem aqui

Cemitério

Bleach

Luke consertou.

lixo recivlavrl

Sophia porão. Cachorro

Se ela era tão forreciclávelte assim, pq foi afastada e virou professora e uma
diretora tão incompetente?

Subi de cargo força.


Sistema, adapt-se

Experimento

Cemitério
Depois da aula.

Cicatrizes bonitas.

N acredito em promesas.
Louise.

Tampar o machucado

Lucke consertou fita.

Louise.

Dinheiro do seu pai e da sua mãe estão acabando

Bem vinda à volta as aulas, esquisita!

Arrancou jogou no lixo.

Luke viu

Roubou Sophia, Luke viu isolado tbm

Tinta Luke jogou nós demais que zoavam

Sophia escola
Henry, prisão

Foi na praia,

Nirvana e Alice in chaind

No caminho, a pé, comia um sanduíche que Harrison havia comprado.

FazFaziia frio, mas usava pq gostava

Indiferente

alterando a cena de crime.

Eu vou voltar, vamos nos ver!

Sinto muito Sophia

deleitava-se. De olhos fechados,

Vc consegue ir para a minha casa a pé? Sozinha?

Molhado, Henry.

Henry, abraçou ela.

Alguém retirou ela Henry

Cansada de promessas,
U

Esturoor.

Fazendo coisas horríveis

Sophia foi na cozinha, faca de cortar pão

Faca,

Prestes a chamá-la

Spray de pimenta

Deparando-se com Jesse estirado no chão, assustou-se. Cautelosa, foi para o seu
guarda

Segurando a escova de dentes


Pondo seus objetos pessoais em sua mochila, com pressa, haja vista que Jesse
encontrava-se

Melanie

Zumbi igual Ashley

Ia para casa de Melanie.

Willy foi até a extremidade atrás dela.

No momento em que saiu.

Olhou para cima. Estrelas.

Willy

Pegar as coisas

Sophia viu morrer.

Sangue estuprar

Ir embora as duas
Pegue suas coisas
Ele fica usando seringa e dorme

Mexendo a maçaneta, notava que a porta estava trancada. Aflita, esmurrava-a.

Jesse dormindo.

Sophia.

Henry e Melanie estudavam juntos fundamental

junto quando precisava.

Lembrou da perseguição.

Suspeito.
Culpa

Jesse

Faca cortar pão.


Corria.

Egeido borboleta.

Henry ficou triste foi atrás de Jesse.

Melanie desaparecia. Res dia. Buscas polícia n encontrou nada

Suspeito é Henry

Henry, notícia

Sete dias sem ver

Força show mandou .senti sophia

Ashley
Consegui fugir no dia 31.

Cirvuyajvjas que levam a coragem

Melanie sumiu. Desaparecida

Contudo, apesar de acreditar que

Chovendo

As circunstâncias fizerem-no fazer isso.

A finalidade de Jesse não

Fingindo que estava morto

Esfaqueou diversas vezes, Sophia. Ficou a chorar.


Pescoço

Imoressionar valentia.

Enterrou
Luke e Sophia foram para lá

Eu não caio mais nisso.

— Eu não quero sujar

Abrindo a porta

Facada, não tem como

Coisas acontecem.

Jesse usava uma câmera para gravar vídeos de Asheley e Sophia.


Henry guardou tudo na casa, pegou a câmera
Vive matou!?
Seu lixo
Porco imundo.
Cadê a Sophia

Jenny

Recordando-se de ver, antes de ir embora com Henry, um olhar

da manhã de hoje.

Minha mãez as vezes, mee chamava de Aurora.


Ficou em dúvida entre 3 nomes: aurora Sophia e Louise

Vendo a com pressa, e bem arrumada, a

Escutava chuveiro.
Percebia que a água caindo quando Sophia tomava banho era diferente.

Devia ter dormido lá. Devia ter levado ela para faculdade. Era perto.
Morte notícia.
Jhonny.

Sophia viu e se sentiu abandonada. Viu Henry.

Lucke viu ela se cortando. Abraçou

Fizeram pipoca. Divertiram filme.

Carro

Segui

Via Henry e Ashley se beijando.

Assaltou a casa, roubou o endereço.

Henry levou na casa de seus pais. Abigail

Filha do Jhonny, tenho endereço dela

Me sinto como um

Correndo para a

momento, lia

Deitando-se, aguardou a tontura passar

cordando, sentindo náusea s


Acordando, suava como

Ligou para o Harrison.

Jhon procurou casa de Melanie,

Harrudin matou a própria mãe.

Você está ficando sem

pregando a comida em seu rosto, realçando

Atendia o telefone e não falava nada. Brincadeira.


Atirou no seu lado.

Tapa na cara

Ashley
Henry

Oferecendo o capacete para Melanie

Não larga ele.

Melanie morreu.

Ele é educado. D

Pq o medo?!

Estamos paranóicos,
Cortina janela, teve impressão de mexer.

Essa é minha casa, é um prazer conhecer o senhor.

Escondendo-se atrás dele, Melanie começou

Estava querendo andar, cadê o carro?


Avisei para o tenente Jhony

Ele é meu namorado.


Íamos

Eu já disse que não fiz isso.


Fale isso para o delegado.

Grampo de cabelo quebrou, tem outro?


Com esse cabelo enorme, pq não usa o seu?
Henry quer entrar na casa e encontrar pistas.

tendo em vista que poderia saber os ocorridos repugnantes.

dúvida atrás da orelha acerca da veracidade do que foi afirmado por Ashley —
acreditand

Ashley recusava-se à falar.


Jesse deu um tapa.

Ligar de novo.

Luke e Sophia
Estrelas

Apertado, estômago.

Que faz aqui?

N deixa sair de casa.

o ponto de ônibus que vai em direção à Sausalito,

No caminho, levando Melanie. Segure bem firme.


Algo pode estar errado, ela também suspeita.

ome conta

— Ela nunca faltou ao trabalho! Ainda mais dos dias consecutivos!!

Chegou junto com o Henry, que iria

Tbm ne posso falar

Melanie
Henry

Músicas Linkin park

Olhos sem vida

Melanie bateu na porta de Ashley, procurando por ela.

Carta, Jesse n vai acontecer evom vc se me obedecer!

Ao passo que seguia em direção ao seu recinto, Jesse, lacrimejando de rir, observou
a reação de Sophia e relevou-a.

É isso que farei contigo.

fechou os olhos e implorou que não fosse


Estática,

Coloração pelo,

Virou a cabeça, teve certeza q era Lucke.


Chorou.

Televisão risadas Jesse

Pensou em fugir, mas n fazia ssbtif.

N vai acontecer com vc se obedecer .

Passear cachorro sugestão.

Procurando por Lucke pela casa inteira, não encontrou. No

Procurou por Lucke.

Sophia carro.
Virou o carro.
Se precisar.

ligando a moto deletando a cena de sua mente.


Vendo o morador da casa, cumprimenta
com sua moto dirigindo como uma tartaruga.

Derrubou o cadáver.

Lata de lixo bituca


Saco plástico sangue.
Arma cabeça dela.

Melanie, falou sibre

Desligou n deixou terminar. Empolgada. Triste emoção DMS

Arma balançando barulho. Carro rodovia.

Retirou a arma da cabeça dela.

Lata de lixo cigarro

Aurora boreal

Capítulo 82 -

Baía são Francisco


Oeano Pacífico

A Sophia vem cá n posso fumar

Receoso quanto
Recanto dos pássaros.

Concentrado.

Will

Inquieto vazio e cheio

Henry e Melanie namoram

Aslhey foge bate em Harrison

Manda Sophia It na porta mentir

Aslhey mentiu, voltou ao normal.

Jhony = dono da Lan house.


Will = pai da Melanie.
Melanie morava sozinha.

Desamarrou e deu a bandeja prato. Cuspiu e jogou foro


Dava na boca dela.cuspiu

Henry chefe
Nariz sangrando

Final = maré chamando, não conseguia pensamento.


Viu a ponte enfeitada, natal. Subiu lá e apagou as asluzes. Reflexo.

Aniversário dela, tentou se... Lucke veio, ajudou ela.

Chegou, procurou Lucke, mostrou esquetyejado, dentro da lata de lixo.

Ashley acordou no porão. Via uma coisa horrível. Pensava que ia se tornar também.

Sua mãe te abandonou.


É mentira.

Eu te mato se contar.

Sentia que devia sair do carro.


Mas não queria desobecer sua mãe.

Cadê Jesse?

Dsossegad

Minimalista
Viu um retrato
Julia e ele
Henry e ele.

N estou brincando Lucke.

Mato vc e a mamãe.

Fazer uma ligação. Harrison.

Sem latidos. Ashley.

Dentro

Dentro do carro

Conversa entre Ashley e Harrison


Prendeu ela.

Cadê o Luke

Calça jeans

Carro Sophia vou calcinha dela.

Com o outro braço, te

Por debaixo de sua saia,

Tirou a calcinha.

Acertando em seu nariz, enfureceu-se, tentando

Enfurecendo-se com golpes

Vou te matar.

Agarrando em sua mochila, Jesse, em uma posi

a adrenalina em seu corpo ao pisar no última degrau, perto da porta.

Sombria e misteriosa

rendendo o antebraço,

Quebrou o vidro com a mão.

mbora estivesse trancada, dava olhadelas.

Viu na janela.

Maconha, tranquilo.

Sem calcinha. tirar saia.


Cachorro mordeu. Quebrou a janela.
Vou contar para a mamãe.

Jesus Cristo nasceu para isso! Se sacrificar


Não acredita em Cristo?
Escada.
Chute.

Seja bondoso como Jesus.

Lucke mordendo grana.

Vamos ainda é natal.

De novo não quer.

N gosto de Barbie .

Saia, arrancou calcinha.

Personagem favorita era Ravena.

Roupas íntimas sumindo.

Barbie - comprou

Estava lendo.

Olhos vermelhos chorou


N quero
Fumando maconha.
Fedendo

Jesse acordou ela.


N acordou

Abrindo porta.

Ouviu risadas.

Acho que não ficou bom. Ficou maravilhoso.


Pq disse q n tinha terminado?
Pq achei q n ficou bom e n queria mostrar

Luke ensinou Sophia a gravar fitas.


Sophia gravou músicas preferidas.
Lembrasse dele. Triste dolorida. The Smiths. Nirvana
Capítulo 77

Luke amor Sophia. Confiante completa.

Ashley fugiu de lá.

Sacola dinheiro, Lucke.

Pegou o carro, mostrou o cachorro na lata de lixo, do lado de fora.

Harrison prendeu ela lá dentro do porão.


Ele está estuprando minha filha. Calma é o processo
Algo aterrorizador estava lá dentro.

Carro, última olhada sorriso0

Preciso falar com o Tio Henry, quer me acompanhar?


Queria ver a chuva mais de perto quero sim.

Sim acompamho. Medo do Jhon aparecer


Correu para dentro. Se trancou. Para esquecer o medo,

Arrastou

Desenho chuva, diamantes no portal da janela


Janela aberta, diamantes molhados
Diamante refletindo estrelas.
De noite
Ravena gosta muito.

Agradeceu revista jovens titãs


Já li quase tudo.

Mostrou.

Sophia andou de moto.

Chuva,

Desenhando

Presente: canetinhas de colorir.

Arrastou a escrivaninha para a parede. Apreciar a chuva

Na chuva, acelerava o carro em sentido à sua casa,

Procurou no quarto e não viu. Vendo a chuva

Vou te levar comigo. Fica no carro.

Jesse chegou com uma sacola de dinheiro, colocou na cozinha, procurou por Ashley,
Presente.

Quebrou xícaras chorou.


Harrison me contou que vc foi lá perguntar sobre mim, o que era?

Hhhh

Bicicleta. No passeio pegou ela e saiu andando. N viu o dono


Comida. Roncou barriga.
Depressão ok

Hhhh

Foi falar com o Henry.

— Sério
Eu resolvo.
Pode deixar que farei isso!

Tremendo.

Piso n chão
Foi embora depois do grito. Melanie

Medo Sophia foi dormir no meio


.
Água e estrel

Chocada.

Total sigilo, inddodmegs

Visando realizar um corte profundo com a faca, após o meu marido me estuprar,

Capítulo indício

Não é diário

Presente Jesse

Diário Papai muito dinheiro.


Comprou presentes.

Papai dimehiro.

Ameaçou matar ela.

Ouviu atrás da porta.

Diário Ashley sugestão.

Olhos vermelhos, o que foi?


feliz natal
Foi atrás de Jesse.
Vasculhar

Não sabia que estava aqui.

Porta dos fundos. Aslhey.

Hematomas Sophia.

percebendo que não daria tempo para frenar, invadiu a outra faixa e freou,

Não dormir, noite inteira pensando.

Batendo na porta, Ashley

Comfortably Numb = mais velha Sophia.

Luke falou com Ashley.


Senhor não é o meu papai!

Henry falou com aslhey sobre.


Não pode fazer isso, ele falou que ia matar a Ashley
Melanie viu ela se vestindo
Trabalho de manhã.

Jesse bate nela.

Me deu um álbum = Pink Floyd The Wall ou Were


Minha música favorita e Starir tô The heaven

Roda pé explicando Confederados e coisas parecidas.

Led Zeppelin IV

PINK Floyd.

Janela aberta.

PARALISOU VIRYE.

Cortes, sangrando

Braços dela estavam machucados.

Eremita, explicação Led Zeppelin IV

Terei coragem para amanhã dar um basta.

Talvez colocar poemas.


Músicas sim.

Ela vê o cadáver depois da morte do pai e da mãe dela.

Capítulo, trabalho matar, olhos fundos Melanie e Abigail.


Defunto lembrou.
Porão, Harrison lá.
Onde ele tá? Saiu. N falou para onde ia

Lua...
As coisas mudam, mas se repetem.
Tudo passa, mas se repetem.

Se trancou no quarto = Luke, cachorro morto

Ano novo, aconteceu morte.


Nesse período, Jesse matou elas Melanie e Abigail.
Heroína natal.

Henry, Melanie
Jesse

Me deu um álbum do U2

Nirvana, pode mexer Harrison


Esses dias vi mamãe cortando o braço, senti algo ruim, parecido com oq ué senti já
casa do Jhon e may

Águas olhando = são só o passado.

Jesse tem medo que fale para a mãe.


Se falar, faço o que fiz com aquele cachorro.

Ontem à noite, depois terminar de conversar contigo

Dentro do porão, viu cadáver

O papai, além de me forçar

Defunto, porão

Natal morte de Luke. Esquartejado.

Vi ela chorando, braços cortados

Melanie, atrasada, envolve escrita.


Conheci não gostei da Melanie e Abigail.
Conheci hoje, no trabalho.

Estou mais fechada e amanhã darei um jeito


O papai não quer que eu veja mais o Henry

A mamãe está ajudando Melanie com alguma coisa da faculdade estou sozinha com ele.

Lua,

Lua tudo é uma fase


Sofia também adorava
Véspera de Natal.

Halloween 31 de outubro

Depois natal (comprar presente, Lucke dinheiro, mordendo,


Eu vou te matar e matar o Lucke

Terminei o livro o Maquiavel.

Janta

Assistir o filme sozinha, Sociedade dos Poetas Mortos.

Henry viu ela dps de matar os pais.


N deixava tocar

Fiquei feliz pq hoje não tive que brincar com o papai. Ele sai e n fala para onde
vai

Mamãe falou que seria bom escrever um diário, eu nem sabia o que era .

Deixou eu pegar. Um filme = Sociedade dos Poetas Mortos

Eu, a mamãe, o Ry e o Lucke fomos para a Baker Beach cedo e divertimos


muitíssimo! Segundo ela, nesta data, devemos agradecer imensamente à Deus pela
nossa vida e por tudo o que aconteceu nela, tendo em vista que somente aprendemos
com nossos erros e momentos difíceis.

Acho que está certa, acredito que já superei ao adeus

Achou o Toby na rua e levou-o para o porão

Capítulo um dia antes da morte de Ashley e Jesse

Fomos na praia, eu, a mamãe e o Henry

Janta. Henry

Cada um tem um peso para carregar, apenas viva esse e o único propósito

Ateou fogo no diário.

Toby fica na rua cuida dele.

Diário Lucke cresceu

Janta Henry veio. Henry estranhando. Jesse não deixou ele participar. N encosta em
mim (trauma)

O papai heroína.
Prometi que viria aqui, mas somente consegui vir aqui hj
Henry n vem n sei pq saudade.

Tudo passa até uva-passa.

Dener,

Ação de graças,
natal

Pensei em falar com ela sobre,

Louise,

Ouvi dizer que foi embora por algum

Boa noiticia, nao estou sentindo tanto calor igual antes, vai entender. Mas estou
odiando água quente.

Entreguei para Louise

Depois que a mamãe ficou sabendo, mentiu, talvez n quisesse.


Parece que Jeffrey quer algo. A mais

Pensando nas águas e estrelas, ela é uma das minhas amigas.

Está passando, mas ainda dói

Levar para onde trabalha, mostrar grande clientela, estranhar Ashley. Jesse mata
Abigail e Malanie na casa de Melanie.

Natal
Diário
Papai n quer deixar eu visitar Henry

Acostumando com a falta da Sophia. Escola

Chorar lágrimas geladas. Sophia


Depois de dormir.

Difícil escolher músicas para representar o final, mas as da Aurora se encaixaram.


Tinha mais ainda.

Depois do fim letra de Awakening

Conscientização, não romantização. Mostrar a realidade.

Considerações finais: suicídio ninguém se importa correria.


Depois delas letra de Warrior.

Lanterna já dentro do quarto. (NN)


Espírito de Sofia.

Ler livro. Deixou ela em paz.


Gahahahahhahaa
Mãos dadas.

Surpresa

Está sentindo frio? Não..

N brigou.
Beijou quente.
Cobriu ela.
Lua

Amanhã vamos visitar o Dener e a Maya?

N estou com frio


Deixa eu ver sua temperatura

Mantém ela viva, termômetro

Cansada
Sophia presença.

911

Mãos dadas ggggfffff

Cachorro apareceu

Pensando na polícia, ligou encerra capítulo


Próximo dormindo temperatura

Termômetro.

Está com frio?

Medir temperatura dormindo


Lavou o cabelo?

Desenho polícia tia may


Espuma.

do estado em que acordou, no qual encontrava-se nua.

Sophia = corpo saído.

desenhou na areia, as duas juntas.

Procurei vc por lá, não responderam.

direção ao seu quarto.


No

sentou-se no sofá pondo as mãos na cabeça, sentindo uma dor aguda.

Desejando q estivesse morto.

viu Jesse sonolento no tapete, com.

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