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Carlos Eduardo Nicoletti Camillo Vicios Da Linguagem Juridica
Carlos Eduardo Nicoletti Camillo Vicios Da Linguagem Juridica
ARISTÓTELES
WITTGENSTEIN
1. Considerações iniciais
1
como o Inglês, o Alemão, o Português, o Francês, entre tantos
outros.1
Em face disso, ela tem a habilidade de carregar dentro de
si todos os problemas de ambigüidade, incerteza e vagueza, que
acabam por frustrar a comunicação.2
1
NUNES, Rizzatto. Manual de introdução ao estudo do direito, 6ª ed., p. 249.
2
CARRIÓ, Genaro R. Notas sobre derecho y lenguage, 4ª ed., p. 28.
3
Fica a advertência, porém, de que não se trata de privilégio ou exclusividade da linguagem eminentemente
científica. Os Tupis usavam uma palavra para designar a linguagem clara: nheengatu, cf. TIBIRIÇÁ, Luiz
Caldas. Dicionário tupi português, 2ª ed., p. 146.
2
Não obstante o especial cuidado quanto ao forte rigor
conceitual, bem como à artificialidade e técnica implícitas no
sistema jurídico, não é raro nos depararmos com alguma frustração
na linguagem jurídica ou, mais precisamente, quanto à
compreensão de algum enunciado ou proposição.
4
WARAT, Luis Alberto. O direito e sua linguagem, p. 37.
3
Nesse sentido, é preciso concordar com GENARO R.
CARRIÓ, para quem a linguagem é a mais rica e complexa
ferramenta de comunicação entre os homens.5
5
Ob. cit., p. 17.
6
Schlik, Carnap, Nagel, Moris, Quine, Féigl, Pierce, Frege e Wittgenstein.
4
E a linguagem científica, por seu turno, é aquela
empregada para a construção de linguagem especializada, que
rompe com o senso comum e requer, à evidência, de precisão e rigor
técnico-lógico.
A propósito da linguagem científica, nos ensina LUIS
ALBERTO WARAT que “estamos frente a uma linguagem com uma
clara pretensão epistêmica, concretizada através de uma abstrata
tentativa de expurgar; no plano da linguagem, os componentes
políticos, as representações ideológicas e as incertezas
comunicacionais da linguagem natural”.7
Como se vê, diferentemente da linguagem natural, o
cientista procura edificar sua ciência por meio de uma linguagem
essencialmente artificial, própria, peculiar, que atende e respeita a
um forte rigor conceitual.
Com essas colocações, iremos perquirir onde se situa a
linguagem jurídica.
7
Ob. cit., p. 53.
5
2.2. Usos da linguagem
8
Ob. cit., p. 19.
9
A origem da terra, in “Super Interessante”, n. 2, p. 21, 1997.
6
2.2.2. Uso expressivo
“(...)
O ciclo do dia
Ora se conclui
E o inútil duelo
Jamais se resolve.
Ó palavra, esplende
Na curva da noite
Tamanha paixão
E nenhum pecúlio.
7
Cerradas as portas,
A luta prossegue
10
ANDRADE, Carlos Drummond de. O lutador, in “Seleta em prosa e verso”, 7ª ed., p. 90.
8
Distanciando-se dos demais usos da linguagem, o testador não
está, em hipótese alguma, descrevendo uma circunstância,
tampouco expressando os seus sentimentos ou mesmo dirigindo ou
ditando comportamentos a outrem.
11
Ob. cit., p. 248.
12
Art. 93, inc. IX, da CF.
13
Art. 169, do CPC.
14
Art. 1º, caput, LICC.
9
Acrescente-se, ainda, que a norma jurídica traz em seu bojo os
mais variados componentes da linguagem: palavras, expressões e
termos que se inter-relacionam (função sintática), que apontam
significados (função semântica) e que são usados por pessoas e para
pessoas num determinado contexto social (função pragmática).
15
Nas palavras de GERALDO ATALIBA, “A nossa tarefa é muito limitada e modesta. Tarefa do bacharel é,
simplesmente, a de interpretar o direito.
10
Já tivemos a oportunidade de verificar que a linguagem natural
tem o seu advento de maneira espontânea no seio da sociedade e,
bem por isso, traz consigo determinados vícios: significado emotivo
das palavras, utilização de palavras genéricas, ambigüidade,
vagueza.
11
Um primeiro exemplo a ser mencionado é saber-se que recurso
é cabível em face da decisão que julgar o incidente de falsidade,
previsto nos arts. 390 e ss. do CPC: apelação ou agravo?
À míngua de efetivo esclarecimento legal e diante de julgados
discrepantes16, é de se concluir, aqui, que é patente o vício da
linguagem jurídica ora analisada, dando margem à ambigüidade, já
que é possível mais de uma interpretação
16
O STF considerou razoável o cabimento do Agravo de Instrumento (RTJ 95/925, RT 546/258), ao passo
que o STJ já decidiu que “o incidente de falsidade documental tem a mesma natureza da ação declaratória
incidental, e de seu julgamento, salvo circunstâncias especiais, cabe apelação (REsp 30.321-0 – RS).
12
permite o uso de técnicas de controle e dominação que, pela sua
complexidade, é acessível apenas a uns poucos especialistas”.17
Nem mesmo o critério da busca do sentido real proposto por
FRANCO MONTORO, nem mesmo o enfoque zetético pontificado por
TÉRCIO SAMPAIO fomentam a efetiva precisão do que vem a ser
Direito.
Enfim, a Ciência Dogmática do Direito fornece-nos inúmeros
exemplos para concluirmos que, apesar dos esforços quanto ao rigor
terminológico, não é raro estarmos diante de uma ambigüidade,
vagueza ou mesmo incerteza.
E os vícios da linguagem jurídica somente serão sanados a
partir da interpretação realizada pelo operador do Direito, que não
se basta com a simples leitura, feita pelo leigo.
17
FERRAZ JR., Tércio Sampaio. Introdução ao estudo do direito.
13
4. Conclusões
14
permitindo diminuir a distância entre o incerto e o certo, o
indeterminado e o determinado e, enfim, entre a injustiça e a justiça.
Referências Bibliográficas
15
WITTGENSTEIN, Ludwig. Investigações filosóficas. São Paulo: Nova
Cultural, 1996.
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