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Imperadores Romanos, de Augusto a Marco Aurélio. Maria Aparecida


de Oliveira Silva; Vagner Carvalheiro Porto (Orgs.) 1a Edição 2019 ©
desta coletânea: LABHAN/UFPI; LARP/MAE/USP Todos os direitos
reservados

Capa: Detalhe da Ara Pacis Augustae. Roma

Foto: Maria Aparecida de Oliveira Silva

Imperadores Romanos, de Augusto a Marco Aurélio. Maria Aparecida


de Oliveira Silva; Vagner Carvalheiro Porto (Orgs.) Teresina/São Paulo :
LABHAN/UFPI; LARP/MAE/USP, 2019. ISBN: 978-85-60984-68-8

1. História antiga 2. História de Roma


Índices para catálogo sistemático: 1. História antiga 930
2 3

Sumário

IMPERADORES ROMANOS
Prefácio 06
De Augusto a Marco Aurélio
José d’Encarnação

Apresentação 09
Os organizadores

Imperadores romanos

Maria Aparecida de Oliveira Silva


Vagner Carvalheiro Porto 1. Augusto 11
Maria Cristina Nicolau Kormikiari e Felipe Perissato

(Organizadores)
2. Tibério 33
Julio Cesar Magalhães de Oliveira

3. Calígula – Loucura, Tirania e Poder, ou não? 57


Filipe Silva e Pedro Paulo A. Funari

LABHAN/UFPI - LARP/MAE/USP
Teresina - São Paulo 4. Cláudio 79
2019 Marcia Severina Vasques
4 5

12. Adriano, o “pequeno grego” sui generis 248


5. Initium saeculi felicissimi no advento de Nero: Renato Pinto
Apocolocyntosis e a Consecratio Imperial 100
Claudia Beltrão da Rosa 13. Antonino Pio 271
Thiago David Stadler
6. Galba, Oto e Vitélio 119
Maria Aparecida de Oliveira Silva 14. Marco Aurélio: entre a Glória e o Oblivium 295
Gilvan Ventura da Silva
7. Vespasiano e o lado Oriental do Império 136
Vagner Carvalheiro Porto Posfácio 320
Henrique Modanez de Sant’Anna
8. As Múltiplas Faces do Imperador Romano Tito 166
Ana Teresa Marques Gonçalves e André Ricardo Nunes dos Santos Sobre os autores 323

9. Domiciano 191
Pérola de Paula Sanfelice e Renata Senna Garraffoni

10. Nerva 207


Monica Selvatici

11. Trajano – Optimus Princeps 226


Glaydson José da Silva
138 139

7 o imperador Nero nomeou Vespasiano e seu filho mais velho, Tito, para
comandar legiões que seriam enviadas para esmagar a revolta. De acordo com
Flavio Josefo, três legiões romanas foram trazidas para a Judeia da Síria e do
Vespasiano e o lado Oriental do Império
Egito. Vieram a quinta, décima e décima quinta legião, mais 23 coortes anexas,
bem como auxiliares fornecidos por reis locais como Agripa II e o árabe
Malchus (Jew. War 3.64). Vespasiano atacou a Galileia na primavera de 67

Vagner Carvalheiro Porto d.C. com todas essas forças (60 mil soldados, sem contar as tropas auxiliares, o
que duplica este número). Conquistaram facilmente o território, mas a fortaleza
de Jotapata só caiu após 47 tentativas de assalto. Até o outono a Galileia estava
nas mãos dos romanos (Porto, 2007: 61). Na primavera de 68 d.C., Vespasiano
Introdução ocupou sucessivamente a Pereia, a costa, as montanhas da Judeia, a Idumeia e a
Samaria. Estava para atacar Jerusalém quando Nero se suicidou1.
Tito Flávio Vespasiano não era como os imperadores que Vespasiano provou ser um general de sucesso contra os judeus,
governaram antes dele, conhecidos como da dinastia júlio-claudiana. Ele não derrotando os rebeldes em várias batalhas importantes e levando muitos judeus
era um nobre ou descendente de César Augusto. Em vez disso, ele era filho de como prisioneiros. Um desses prisioneiros, Flávio Josefo, tornou-se aliado de
um membro da ordem equestre que nasceu em Falácrinas, território Vespasiano e Tito e, sob o patrocínio de Vespasiano, escreveu uma história do
dos Sabinos, perto de Rieti, área rural que ficava nos arredores de Roma. povo judeu em grego, a famosa obra Bellum Iudaicum2 da qual Josefo seria
Vespasiano não era um aristocrata, mas sua família era rica, o que lhe permitiu lembrado como um dos maiores historiadores da antiguidade.
começar uma carreira na política e entrar no senado romano. Soldado duro e Enquanto Vespasiano liderava a guerra na Palestina, a morte de Nero
general capaz, Vespasiano logo construiu uma reputação por sua participação em Roma desencadeava uma profunda guerra civil. O ano 69 d.C. tornou-se
na conquista da Britânia sob Cláudio e por seu sábio governo da província da conhecido como o “ano dos quatro imperadores”3 por causa da rápida sucessão
África em 63 d.C. 1 Segundo Suetônio (Vesp. 48), Nero fugiu de Roma através da Via Salária. Contudo, apesar de

Em 66 d.C., os judeus que viviam na província da Judeia se revoltaram ter fugido, Nero preparou-se para se suicidar com ajuda do seu secretário (libellis) Epafrodito,
que o apunhalou quando um soldado romano se aproximava. Segundo Díon Cássio (Hist.
contra o domínio romano. Eles expulsaram os soldados romanos de Jerusalém Rom. LJIII. 29), as últimas palavras de Nero demonstraram o seu amor pelas artes: “Que artista
falece comigo!”
e depois emboscaram e destruíram uma legião romana. Vespasiano foi uma 2 Neste trabalho utilizamos a versão em inglês: Flavius Josephus. The Jewish War. Books IV-

VII. Traduzido para o inglês por H. St. J. Thackeray. Loeb Classical Library 2013, Cambridge,
escolha natural para liderar os exércitos romanos contra esses rebeldes. Assim, MA: Harvard University Press, 1968.
140 141

de generais que usaram seus exércitos para assumir o controle do Império. vários presságios pareciam prever que ele se tornaria imperador, incluindo uma
Galba sucedeu a Nero, mas foi morto pela guarda pretoriana que estava em um profecia judaica que lhe foi dada por Josefo. Vespasiano viajou para o Egito,
conluio com Oto. Este, por sua vez, não tardou a ser derrotado por Vitélio. deixando seu filho Tito encarregado de terminar a guerra contra os judeus.
Vespasiano sabia que a princípio não podia competir com eles pelo trono, nem No dia 1º de julho de 69 d.C., as legiões estacionadas no Egito fizeram
mesmo com Oto e Vitélio4. A disparidade social era tremenda, uma vez que um juramento de lealdade a Vespasiano (Suetônio, Vesp. 6). Dois dias depois
Vespasiano era um homo novus; seu pai, filho de um centurião, provavelmente (em 3 de julho) suas próprias legiões em Cesareia seguiram o exemplo e as
um equestre, foi um coletor de impostos e um especulador financeiro legiões sírias fizeram o mesmo em 5/6 de julho. Assim, abriu-se o último ato
(Berchem, 1978: 267-274 apud Mrozewicz 2010: 6); sua mãe, Vespasia Polla, da guerra civil e o quarto imperador acabara de entrar no jogo. Do Egito,
era filha de um equestre de Nursia. Vespasiano e seu irmão mais velho, Sabino Vespasiano enviou um exército sobre o mar para a Itália. Com grande
(Tito Flavius Sabinus) foram os primeiros representantes da gens Flávia dificuldade, somente após seis meses de luta, em 20 de dezembro de 69 d.C., as
(homines novi), que receberam inscrições no album senatorum5. Sabino coroou forças de Vespasiano tomaram Roma. No dia seguinte, o senado sancionou
sua carreira com o posto de prefeito urbano (praefectus Urbi) em 47 d.C. e seus direitos ao trono e, durante a mesma sessão ou alguns dias depois,
Vespasiano foi coroado com decorações triunfais6 (ornamenta triunfalia) aprovou a famosa resolução, conhecida como lex de imperio Vespasiani7, sob a
concedidas por Cláudio em 51 d.C. (Mrozewicz, 2010: 6). qual o poder sobre todo o Imperium Romanum foi passado para Vespasiano.
Suetônio (Vesp. 1) nos lembra que quando Vespasiano subiu ao trono, a A força de Vespasiano derrotou Vitélio, embora o irmão e defensor de
consciência romana sofreu uma transformação colossal e mesmo inimaginável: Vespasiano, Sabino, tenha sido morto em Roma, e a cidade tenha sido
o comando do Estado foi tomado por um homem cuja família não estava, nem seriamente danificada pelos combates. Vitélio se rendeu, mas as tropas de
de perto, próxima da velha aristocracia romana e vinha de origens bastante Vespasiano o mataram. Vespasiano chegou a Roma em 70 d.C. e se tornou o
humildes. novo imperador de Roma.
Vespasiano inicialmente se concentrou em sua luta contra os rebeldes O controle que Vespasiano tinha sobre importantes exércitos permitiu
judeus, mas logo se convenceu a usar seus exércitos para reivindicar o trono. que ele se tornasse imperador, e este foi um ponto de virada na história de
As fontes antigas dizem que ele estava convencido a fazer isso depois que Roma. Nas palavras do historiador romano Tácito (Hist. 1.4), quando da morte
3 Tácito, Hist. I.2 de Nero e da tomada de poder por um líder militar: “[foi] agora divulgado esse
4 Suetônio. Vesp. 1: “gens Flavia obscura illa quidem, ac sine ullis maiorum imaginibus”
5 Ver B. Levick, Vespasian, London-New York 1999, 4-13. segredo do Império, que os imperadores poderiam ser feitos em outros lugares
6 Rafael da Costa Campos (2013: 43) nos lembra que combater pelo Imperador valia uma

insígnia triunfal (ornamenta triunfalia), e que esta representava enorme prestígio aos seus para além de Roma”. Vespasiano havia se tornado imperador no Oriente e
detentores.
7 Tácito Hist. IV 3. 3: “at Romae senatus cuncta principibus solita Vespasiano decernit”
142 143

depois conquistou Roma e tornou-se seu governante. De fato, todo imperador


desde Augusto preocupava-se com o fato de que líderes militares pudessem se
tornar mais e mais poderosos e, por consequência, viessem a desafiar seu
governo. Com Vespasiano essa ameaça se tornara uma realidade mais que
tangível. Vespasiano abria esse precedente: a partir de agora qualquer general
poderia assumir o Império com seus exércitos. Os imperadores podiam confiar
ainda menos em seus comandantes, e o Império Romano pelo resto de sua
história seria assolado pelo problema da guerra civil criada, dentre outras
coisas, por generais sedentos de poder.
O governo de Vespasiano foi razoavelmente estável e próspero. Ele
recuperou a situação financeira do Império, mas teve que fazer isso com novos
e muito impopulares impostos. O mais estranho para os nossos dias (e parece Fig. 2 – Busto de Vespasiano.
Fig. 1 - Estátua de Nero como um
Molde de gesso. Museu Pushkin
que também para os dias de Vespasiano) foi um imposto sobre a urina e garoto. Século I d.C. Domínio público.
(Moscou) feito a partir do original
Fonte: https://tinyurl.com/yaflszjs
Suetônio, Vesp. 23; também Díon Cássio, Hist. Rom. 65 m banheiros públicos. que se encontra no Louvre.
Domínio público. Fonte:
Vespasiano era um líder forte e, com o Império unido sob seu governo, https://tinyurl.com/y7rc62h4

prosperou. Mas, ao mesmo tempo, Vespasiano era um governante austero.


Além dos pesados novos impostos, ele exilara e, em alguns casos raros, Vespasiano certamente usou de propaganda para ampliar sua imagem e
condenara à morte, seus inimigos do exército e do senado. Propalava-se em se distanciar mais e mais da imagem de Nero. Corriam histórias de que ele
Roma e em todo o Império que Vespasiano tinha um jeito muito simples de tinha poderes especiais, como a capacidade de curar os doentes (Case, 2005:
viver. Pode ser, mas considere-se também que esta tenha sido uma propaganda 131). Vespasiano também financiou historiadores como Josefo, Tácito e Plínio,
para distingui-lo do luxurioso e extravagante Nero. Até mesmo as estátuas de o Velho, garantindo que esses escritores fossem simpáticos a ele e
Vespasiano o destacavam como um homem mais velho, calvo e grisalho, com propagassem uma impressão favorável de Vespasiano para a posteridade
um rosto endurecido, em oposição às estátuas dos júlio-claudianos que eram (Alston, 1998: 123). Além disso, Vespasiano usou projetos maciços de
retratados como sempre jovens, especialmente as estátuas suaves e delicadas de construção para ganhar as massas. Ele tomou terras que tinham sido usadas por
Nero. Pode-se observar na estátua de Nero e no busto de Vespasiano mostrados Nero para palácios pessoais e as transformou em edifícios abertos ao público
abaixo como a proposta de representação de cada um se distingue claramente. romano. Sob seu governo começou a construção do anfiteatro Flavio, o famoso
144 145

Coliseu, no antigo local da Casa Dourada de Nero. Vespasiano morreu antes da Isto inclui as reformas nos assuntos territoriais e administrativos
monumental construção ser finalizada. empreendidas por Vespasiano e continuadas por Tito e Domiciano. A linha de
base das reformas foi a abolição dos estados clientes ainda existentes no
O imperador morreu em 79 d.C., tendo governado o Império Romano
Império, o que resultou em um arranjo ordenado da estrutura provincial. Essas
por quase uma década. Sua família continuou a governar o Império e ficou
novas concepções estratégicas induziram os homens de Vespasiano a construir
conhecida como a Dinastia Flaviana. Embora ele possa ser lembrado com
uma rede de comunicação eficiente tanto por rotas terrestres quanto por rotas
apreço por causa de sua bem-sucedida propaganda e patrocínio dos
marítimas. Leonardo Gregoratti (2015: 681) nos informa que essa rede foi
historiadores, é inegável que seu reinado viu uma recuperação do Império
usada para criar conexões rápidas entre os militares e os centros provinciais de
Romano após o conturbado reinado de Nero e uma guerra civil brutal. No
tomada de decisão. Também proporcionou ao exército mobilidade e velocidade
entanto, o reinado de Vespasiano finalmente revelou as primeiras rachaduras
de intervenção ao longo de toda a fronteira. No meio da área do Eufrates, a
no sistema imperial romano: um general de sucesso poderia tornar-se
necessidade de controlar largas áreas desertas obrigou as autoridades romanas a
imperador. Isso logo teria consequências severas para Roma no futuro.
iniciar um impressionante programa de construção de estradas. M. Ulpius
Traianus, pai do futuro imperador Trajano e governador da Síria entre 73/74 e

A Integração do lado oriental do Império 79 d.C., é considerado o principal implementador da política de Vespasiano no
meio do Eufrates. Um veterano das guerras judaicas, ele usou a experiência que
alcançou no Oriente Médio para reorganizar o sistema de comunicação
O número crescente de senadores e equestres de origem provincial é a
provincial. Traianus não só foi capaz de fortalecer a influência romana sobre o
melhor prova de que a integração do Imperium Romanum se intensificou
interior da Síria, mas também conseguiu estender seu alcance até a margem
progressivamente à época de Vespasiano. Naturalmente, é um fenômeno que
direita do Eufrates, alcançando assim as rotas comerciais ao longo do rio
começou muito antes, e seu exemplo mais destacável é o discurso do
(Gregoratti, 2015: 681).
imperador Claudio sobre a admissão de um número notável de gauleses para o
O objetivo final das reformas promovidas à época de Vespasiano era
senado8. A aceleração tangível do processo durante os tempos flavianos deve
melhorar a eficácia da gestão, bem como melhorar o sistema de defesa dos
ser entendida como um resultado de tendências cada vez mais evidentes, como
territórios fronteiriços. Isso se aplica principalmente às partes orientais do
a postulação de que a unificação do Imperium Romanum se coadunava cada
Império, em vista da situação que se desenvolveu durante a Guerra Judaica9.
vez mais com o aumento da importância das províncias.
Vespasiano permaneceu também muito alerta em relação aos partas10.
8 Tácito Ann. II 23-25. 9 A guerra em questão é conhecida como Primeira Guerra Judaica e aconteceu entre os anos 66
146 147

À época da Primeira Revolta, a Judeia foi transformada em uma governou as terras a leste e a nordeste da Jordânia no tempo em que a guerra
província pretoriana autônoma com a guarnição permanente de uma legião judaica eclodiu.
(Legio X Fretensis). A X legião Fretenses provavelmente adquiriu esse nome, Durante o conflito com os judeus, Agripa II permaneceu firme ao lado
Fretenses, a partir do Fretum Siculum, o estreito onde a legião lutou com dos romanos e prestou apoio ativo a Vespasiano durante sua luta pelo trono,
sucesso na guerra siciliana contra Sextus Pompeu. pelo qual recebeu uma extensão de seu domínio (Mrozewicz, 2010: 18).
Domiciano incorporou o reino de Agripa II ao Império Romano somente após a
A X legião Fretenses comandada por Marcus Ulpius Nerva Trajanus, pater, formou
parte das forças que Vespasiano levou para Acco-Ptolemaida e contra outras forças do morte deste em 93 d.C.. Um destino similar aguardava o reino de Emesa (78
norte de Israel durante sua campanha de 66 d.C. A décima legião também fez parte anos mais tarde), Calquis e as muitas pequenas tetrarquias vizinhas, que nesse
das forças que destruíram Jerusalém sob Tito em 70 d.C. A Décima Fretenses
transformou-se na unidade oficial, permanente, da província romana da Judeia. As sentido, foram exceções (Millar, 1993: 84).
insígnias da décima legião eram o javali, a galé, o golfinho e as inscrições: LX, XF,
LEX, LXF, XFR (Porto, 2009: 122). Ainda Leszek Mrozewicz nos informa que:

O status de rei cliente foi mantido apenas para Marco Júlio Agripa II Na Ásia Menor, em 72 d.C., Vespasiano liquidou o reino Comagena de Antíoco IV, Epifânio, e
incorporou-o à Síria. A Cilícia Trácia (Cilicia Trachaea) foi transformada em uma província
(M. Iulius Agrippa), filho de Herodes Júlio Agripa I que, como rei da Judeia, autônoma com capital em Tarso (Suetônio, Vesp. 8.4) A Cilícia Campestre (Cilicia
Campestris, Pedias) foi separada da Síria e juntada à Licônia e Isáuria em uma província
separada. A Capadócia, uma antiga província procuratória, foi expandida para incluir a
Armênia Menor, onde o reino vassalo de Aristóbulo foi dissolvido (Mrozewicz, 2010: 18).
(Tradução nossa)
e 70 d.C. Lembremo-nos que outros importantes conflitos entre judeus e romanos aconteceram
como a “guerra dos Kitos”, que ocorreu entre os anos 115 d.C. e 117 d.C., no governo do O mesmo se aplicava à Galácia, cujo território foi ampliado pela
imperador Trajano (Mor, 2012: 173). Consistiu em uma revolta das comunidades judaicas
da Diáspora (judeus que viviam fora da Judeia), disseminando-se, principalmente, inclusão das terras do antigo reino pontiano de Pólemon I. A Capadócia
por Cirene (Cirenaica), Chipre, Mesopotâmia e Egito. Foi sufocada pelo comandante
romano Lúsio Quieto. Também lembramos a conhecida Segunda Guerra dos judeus contra os recebeu o status de província consular, com uma forte guarnição de duas
romanos, conhecida como “Revolta de Bar Kochba”, que ocorreu entre os anos de 132 d.C. e
135 d.C., durante o governo do imperador Adriano, sendo liderada por Simão Bar Kochba, que legiões. Lícia e Panfília se tornaram províncias novamente. Todos os outros
foi considerado por alguns como o Messias davídico esperado pelos judeus (Mor, 2012: 178).
Foi sufocada pelas tropas do comandante romano Sexto Júlio Severo. Para os historiadores que
estados clientes menores foram gradualmente liquidados (Mrozewicz, 2010:
não consideram a "Guerra de Kitos" como uma das guerras judaico-romanos, esta seria a 19).
segunda guerra entre romanos e judeus. Muitas outras revoltas de judeus contra romanos são
apontadas pelos anais da história. Destacamos a rebelião dos judeus da Síria- Um outro elemento deve ser considerado quanto a integração do lado
Palestina contra Constâncio Galo, conhecida como "Revolta judaica contra Galo", ocorrida
entre 351 e 352 d.C., que foi sufocada pelo comandante romano Ursicino (Stemberger, 2000: oriental do Império, as formas de contato e comunicação. Segundo Marcio
162-164). Também as Revoltas Samaritanas contra o Império Bizantino, ocorridas no século V
d.C., que inflamaram a região por quase um século. Finalmente, a revolta de judeus contra Teixeira-Bastos e Pedro Paulo Funari (Teixeira-Bastos e Funari, 2018: 23), o
o imperador bizantino Heráclio em 613 d.C. (Ben-Sasson, 1976: 362)
10 Sobre a relação entre Roma e os partas ver E. Dabrowa, Les rapports entre Rome et les espaço, co-formador do tecido social e das relações de poder, portanto, é uma
Parthes sous Vespasien, Syria 58, 1981: 187-204
148 149

simultaneidade de ‘estórias-até-agora’ em um movimento randômico de As soluções destinadas à melhoria da situação financeira do estado,
contatos entre humanos, governados em extensa medida pela desordem implementadas por Vespasiano e seus sucessores, deram frutos rapidamente.
subjacente invisível e aleatoriedade dos eventos. Portanto, é necessário As principais contribuições foram derivadas dos novos impostos: o Fiscus
entender o espaço, dessa forma, como a esfera da simultaneidade, em que Iudaicus, o Fiscus Alexandrinus e o Fiscus Asiaticus.
constantemente conexões e desconexões acontecem por novas chegadas, e Tanto Díon Cássio (Hist. Rom. LXV 7.2) quanto Suetônio (Dom. 12.2)
constantemente há espera pela determinação seguinte, na indeterminação pela informam que o Fiscus Iudaicus foi imposto aos judeus por meio de uma
construção das novas relações, restrição após a guerra judaica; tratava-se de um tributo exigido dos judeus –
no valor de 2 denários por ano – e imposto após a destruição do Templo; de
Esses autores entendem que as relações estabelecidas durante o
acordo com Flávio Josefo (Jew. War. VII 218), a taxa era aplicada a judeus
processo de transformação da Iudea Capta e Syria Palaestina romana não
praticantes de todo o estado romano, não apenas da Judeia; portanto, implicava
escapam desse entendimento. Segundo os autores “a ideia é que os espaços
também aqueles que não eram judeus de origem, mas que haviam se convertido
ocupados foram sendo feitos através desses contatos variados (que decorrem
ao judaísmo. Suetônio nos recorda que durante o reinado de Domiciano, a
em práticas materiais) com suas respectivas (muitas vezes distintas)
coleta do "imposto judaico" foi executada com extrema severidade (Dom. 12:
temporalidades e tradições culturais” (Teixeira-Bastos e Funari, 2018: 23). A
2). Com o final do governo de Domiciano, ascendeu ao poder Nerva. Este novo
relação dos contatos pode levar muito tempo ou acontecer em tempos
imperador promoveu mudanças significativas no trato com os judeus, a
diminutos, sendo contextual por excelência. “Igualmente, já que
começar pelo abrandamento das taxas anteriormente impostas pelos flavianos.
posição/localização é a ordem mínima de diferenciação de elementos na
Nesse sentido, de acordo com Leszek Mrozewicz:
multiplicidade, que é co-formadora do espaço” (Teixeira-Bastos e Funari,
2018: 23), então, poderíamos fazer a leitura de que a negociação é o que O Fiscus Iudaicus foi significativamente mitigado sob Nerva; o imposto ficou em
atividade confirmada até a metade do século III d.C. O imposto judaico em si,
fomenta espaços, alimenta as práticas materiais, subsidia as identidades e supondo-se que envolveu cerca de 5-6 milhões de pessoas, representou 5-6% da
media o poder. receita global para o tesouro do estado, que, como lembramos, era de cerca de um
bilhão e duzentos milhões de sestércios (Mrozewicz, 2010: 28). (Tradução nossa)

Segundo Díon Cássio (Hist. Rom. LXV 8,4), o imposto alexandrino foi
aplicado a todos os habitantes da Alexandria egípcia, enquanto a taxa asiática
Restituindo as finanças do estado
foi imposta às cidades gregas da Ásia Menor.
150 151

A chamada subseciva, ou seja, terras recuperadas pelo governo e


reaproveitadas pelo Império ou postas à venda, contribuiu sobremaneira para as Vespasiano encontrou uma economia bastante estabelecida na região da
finanças do estado. Suetônio (Vesp. 8.4) nos recorda que a isenção fiscal Síria e da Palestina, seja pela estrutura jurídico-administrativa herdada das
concedida por Nero às cidades da Grécia (Acaia), Rodes, Samos, Bizâncio e cidades governadas pelos reis helenísticos, seja pela dinâmica monetária, com
Lícia fora revogada à época de Vespasiano (Duncan-Jones, 1994 :12). sistemas ponderais constituídos há pelo menos dois séculos antes da efetiva
Observando o grande número de novas taxas impostas que se somaram presença romana na região.
às já existentes, entende-se porque os flavianos conseguiram restabelecer tão Recuando um pouco no tempo, durante praticamente todo o período
rapidamente o equilíbrio financeiro do Império. Isso tudo a despeito das helenístico, tanto os reis Ptolomaicos, do Egito, quanto os Selêucidas, da Síria,
despesas envolvidas nos grandes projetos de construção na própria cidade de governaram por algum tempo a Palestina, e ambas as dinastias bateram moedas
Roma: Capitolino reconstruído duas vezes, a construção do Coliseu, também em Acco-Ptolemaida, Ascalon e Gaza (Porto, 2007: 83).
de numerosos templos e edifícios de utilidade pública; o suporte às cidades Dentre os metais empregados para a cunhagem das moedas na região
carentes (Pompeia e Herculano); o financiamento de grandes liberalitates destacavam-se a prata e o bronze. É justamente com Vespasiano que as
imperiais; as inúmeras guerras e o aumento do pagamento de soldados. emissões de prata têm seu fim na Síria-Palestina. E essa interrupção se deu por
Importante frisar que a subseciva tem seu início com Vespasiano e é seguida um misto entre razões monetárias e políticas. Quanto às razões monetárias
por Tito e Domiciano. Somam-se a isso todos os novos impostos iniciados por destaca-se a desvalorização que a cunhagem “nacional”11 de prata sofreu, e
Vespasiano. Sem dúvidas, o novo regramento financeiro promovido pelos com isso, consequentemente, não havia vantagem econômica para as cidades
flavianos possibilitou uma infinidade de construções e reformas não só em em prosseguir com sua própria cunhagem de prata. Ascalon e Tiro são
Roma como em muitos outros lugares do Império. Ao final do reinado de exemplos claros disso (Porto, 2007: 83).
Domiciano em 96 d.C. (último imperador da dinastia flaviana), nota-se que as Vespasiano não queria que uma enorme produção de moedas de prata
finanças estavam em muito boas condições (Carradice, 1983: 153-155). Até ou mesmo de bronze em uma cidade cunhadora12 se desse. O recém imperador
certo ponto, isso explica o sucesso da dinastia posterior à flaviana, a nerva- sabia que a produção de moedas era um privilégio que Roma concedia a
antonina.

11 À época dos selêucidas havia na região da Síria-Palestina dois tipos principais de emissões
monetárias: as emissões autônomas das pólis gregas e as moedas emitidas pelo governo
selêucida, estas, por essa razão, chamadas de nacionais.
As moedas da Síria-Palestina sob Vespasiano 12 A partir do governo efetivo dos romanos nas províncias orientais, somente moedas de bronze

puderam ser batidas localmente. Moedas de prata eram cunhadas ali somente em situações
especiais.
152 153

determinadas cidades aliadas. E era para obter esses privilégios que as cidades legiões ali estacionadas, seja para fortalecê-la em detrimento das cidades
competiam com grande energia. Sentirem-se prestigiadas por Roma lhes traria vizinhas que ficaram contra Roma durante o conflito.
cada vez mais vantagens políticas e econômicas, não só com Roma, mas entre Roma interferia na cunhagem autônoma de uma cidade em situações
as cidades vizinhas também. Alla Stein (1990: 167-168) nos diz que houve especiais. O Império romano se apropriava da produção monetária de uma
uma verdadeira “guerra de títulos” entre as cidades da Judeia/Palestina e que cidade transformando-a em emissão provincial, em uma situação de guerra,
Roma entendeu muito bem que essas rivalidades entre as cidades da região, e como é o caso da Primeira Revolta dos Judeus contra os romanos, ou quando
sua ânsia por títulos, poderiam se constituir em uma interessante arma para a uma cidade adquiria uma certa hegemonia monetária dentro de uma
sustentabilidade de sua presença na região. determinada região da Judeia/Palestina. De especial interesse é a moeda
Vespasiano lidou habilidosamente com essa lógica política local e produzida no mesmo ano (14º ano do reinado de Nero, 68 d.C. que
certamente essa é uma das principais razões para o cerceamento das emissões mencionamos linhas acima). Essa moeda possui uma inscrição em grego que
de prata na região. Nessa linha, Vespasiano suspendeu o direito de Tiro de diz: ΕΠΙ/ΟΨΕΣΠ/ΑΣΙΑΝΟΨ/ΚΑΙΣΑΠΕ/ΩΝΛΙΔ, que significa: “no tempo de
emitir a cunhagem autônoma (autonomous) de prata e abriu em Tiro uma Vespasiano, em Cesareia, ano 14 de Nero”, indicando que já nesse primeiro
cunhagem provincial de caráter oficial, de bronze. Era melhor prevenir e ter estágio de sua vida, quando Vespasiano era ainda um legado imperial no
controle dessas emissões, transformando-as em imperiais, do que correr exército romano, moedas foram emitidas em seu nome (Porto, 2007: 114).
qualquer tipo de risco político mantendo-as autônomas (Porto, 2007: 83). Segundo Meshorer, esse fato corrobora as afirmações de Josefo (Jew. Ant. III,
Também nesse sentido, Harold Mattingly sugere que as cunhagens das cidades 400-401); e Suetônio (Vesp. II, X, 4), de que “o povo da Judeia prenunciava,
produtoras tinham um sentido mais político que econômico (Mattingly, 1960: enquanto Nero ainda estava reinando, que Vespasiano seria proclamado
162 apud Klimowsky, 1974: 114). Rostovtzeff adiciona que também não deve imperador de Roma” (Meshorer, 1985: 20).
ser desvalorizada a importância religiosa e cultural das cidades produtoras
(Rostovtzeff, 1953: 139 apud Klimowsky, 1974: 114; também Hendin, 2001:
348). As emissões Judaea Capta: o legado de Vespasiano
O fator político das emissões se verifica também nas cunhagens de
Cesareia Marítima. Cesareia começou a bater as moedas provinciais romanas
As moedas Judaea Capta foram batidas na região judaico-palestina
no 14º ano do reinado de Nero, auge da Primeira Revolta dos judeus contra os
pelos imperadores Vespasiano, Tito e Domiciano. Em nossa tese de doutorado,
romanos, ou seja, a guerra direcionou grande energia de Roma para a produção
defendida em 2007, alertamos para a existência de uma discussão entre os
monetária nesta cidade, seja por sua fidelidade à Roma, seja para pagar as
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estudiosos sobre o fato de ter ou não Domiciano batido moedas Judaea Capta. a ereção de estátuas e monumentos, e a cunhagem de moedas especiais (Porto,
Argumenta-se que Domiciano não viveu o contexto da guerra dos romanos 2007: 206).
contra os judeus, assim, portanto, suas emissões não deveriam ser consideradas Uma moeda de ouro muito rara (figura 3, abaixo), com a cabeça de
Judaea Capta. Na ocasião de nossa defesa, como agora, buscamos enquadrar Vespasiano no anverso, mostra-o no reverso de pé em uma carruagem triunfal
as emissões de Domiciano entre as Judaea Capta, pois as moedas de com quatro cavalos (uma quadriga), e na frente dos cavalos, um judeu cativo
Domiciano fazem parte desse mesmo esquema iconográfico envolvendo a
recorrência dos tipos da Judeia derrotada, do imperador vitorioso, Nike, a
deusa da Vitória, a palmeira simbolizando a Judeia e o troféu (Porto, 2007:
206).
A. Burnett, M. Amandry e I. Carradice escreveram o importante Roman
Provincial Coinage. Nesta obra, tenderam a concordar com a posição de que as
moedas de Domiciano deveriam ser aceitas como uma série separada, pois elas
têm um caráter fortemente 'Imperial', com o retrato do imperador, inscrições
em latim e alguns desenhos claramente emprestados da cunhagem de Roma nu com as mãos amarradas nas costas escoltado por um soldado romano

(RPC 2: 303). Por outro lado, o RPC também observa que “As moedas de Fig. 3 – Áureo produzido por Vespasiano em Roma. O reverso traz o líder da revolta judaica,
bronze batidas sob Vespasiano, Tito e Domiciano e que circulavam na Simão, filho de Giora, nu e cativo. Ele segue na frente da procissão do triunfante imperador
Vespasiano que está em sua carruagem de quatro cavalos. Simon é escoltado por um soldado
província da Judeia são chamadas de “Judaea Capta” (RPC 2: 302). Várias das romano que o guarda. Abaixo da cena aparece a inscrição: TRIVMP AVG (Triunfo de Augusto
Vespasiano). O anverso da moeda apresenta a cabeça do imperador romano Vespasiano
moedas de Domiciano desta série se assemelham a moedas romanas em ambos (Museu de Israel, Jerusalém). Fonte: Cf. R. Deutsch, 2010: 54).
os tipos reversos e retratos, e Roman Provincial Coinage, ao final, sugeriu que
a "cunhagem em Roma não pode ser descartada" (RPC 2: 309).
Graças à Flavio Josefo é possível identificar esse cativo. Trata-se de
As moedas Judaea Capta foram produzidas em todo o Império com o
Simão, filho de Giora, a quem os romanos consideravam o líder da revolta. A
principal intuito de simbolizar não somente a vitória de Roma sobre os
procissão triunfal retratada na moeda é descrita por Josefo. Tanto Tito quanto
insurgentes judeus da Judeia/Palestina, como também o poder e a superioridade
Vespasiano foram “coroados com louros” e “vestidos com as tradicionais
de Roma sobre quaisquer insurgentes em qualquer lugar do Império. Os
vestes púrpuras”. A procissão triunfal mostrava os tesouros saqueados do
romanos celebraram sua vitória sobre a Judeia e a destruição de Jerusalém em
Templo. O líder da revolta, Simão, filho de Giora, teria sido açoitado e
70 d.C. de várias maneiras: uma grande procissão da vitória nas ruas de Roma,
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finalmente executado no fórum romano. Josefo narra que o anúncio de que Na figura 4 podemos observar o imperador Tito triunfante em pé, com
Simão "não estava mais" foi recebido com "gritos e aplausos gerais” (Jew. a deusa Vitória sobre a palma de sua mão e com pé sobre proa de galé, diante
War. 7.124). de judeu e da personificação da Judeia, humilhados, suplicantes. Esta moeda
A figura de Simão, filho de Giora, gravada nesta moeda à frente da Judaea Capta foi emitida em Roma em 72 d.C. A figura 5 traz um áureo
procissão, é a única imagem conhecida de um líder da revolta. Segundo Robert emitido em Roma em 70/71 d.C. O reverso apresenta a personificação da
Deutsch, um exame atento da moeda revela até mesmo as características do Judeia sentada próximo a uma palmeira, com suas mãos amarradas para trás.
rosto (Deutsch, 2010: 54). Geralmente as emissões Judaea Capta trazem inscrições em latim,
Na produção monetária de Roma e nas produções subsidiárias de principalmente IVDAEA CAPTA (Judeia Cativa), DEVICTA IVDAEA
Lugdunum (Lion), na Gália, em Tarraco (Espanha), em várias outras (Judeia derrotada) e IVDAEIS (as pilhagens dos judeus).
províncias do Império, os romanos bateram uma quantidade expressiva de
moedas de ouro, prata e bronze (somente as de bronze foram produzidas na
Judeia) intencionando promulgar sua vitória sobre a Judeia. Em nossa tese de
doutorado lembramos que:

a emissão de moedas para glorificar e dar publicidade às vitórias era uma prática
comum em Roma, e naquela época a moeda era a melhor maneira de se atingir essa
meta, pois a moeda circulava rapidamente e em larga escala (Porto, 2007: 207).

Os exemplos abaixo (figuras 4 e 5) representam exatamente a glória de Fig. 4 - Imperador Tito triunfante em Fig. 5 - Áureo emitido em Roma em
pé, com pé sobre proa de galé, 70/71 d.C. Anverso: Cabeça de
Roma e a humilhação da Judeia. Nesse sentido, Marcio Teixeira-Bastos e diante de judeu e da personificação Vespasiano à direita. Reverso: Judia
Pedro Paulo Funari salientam que “é interessante também notar a referência da Judeia suplicantes. A moeda sentada próximo a uma palmeira, com
Judaea Capta foi emitida em Roma suas mãos amarradas para trás. Em
que o poder romano faz ‘aos selêucidas na Judeia’, ao baterem moedas com em 72 d.C. (x3). Fonte: Cf. V. Porto inscrição: IVDAEA. (x2). Fonte: Cf. V.
2007: 207. Porto 2007: 207.
legendas em grego. A associação com as elites locais dominantes faz referência
aos judeus indígenas subjugados pelos selêucidas, ou os ‘sírios’ locais”
(Teixeira-Bastos e Funari, 2018: 11). Os autores enfatizam que o termo “sírios" Como vimos linhas acima, o Fiscus Iudaicus foi imposto como
tem um significado mais matizado, dado o domínio selêucida durante o 2° represália aos judeus após a Primeira Guerra Judaica (Díon Cássio, Hist. Rom.
século AEC sobre essa parte do Oriente Médio (Teixeira-Bastos e Funari, LXV 7.2; Suetônio, Dom. 12.2). Esta taxa seguirá com força até a morte de
2018: 11). Domiciano, tendo seu fim com o início do governo de Nerva. Após o
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assassinato de Domiciano em 96 d.C., Nerva relaxou as regras de coleta, As peças Judaea Capta foram emitidas em uma quantidade que
limitando o imposto àqueles que praticavam abertamente o judaísmo (Edwards, surpreende se considerarmos as moedas romanas em geral, e sobretudo aquelas
1996: 69). Por esta medida, os cristãos (e talvez cristãos judeus) escaparam do que celebram as vitórias sobre os outros povos; como se a vitória sobre a
imposto (Whittaker, 1984: 105). Judeia tivesse mais importância que todas.
Essa medida de Nerva pode ser observada na imagem abaixo (figura 6). Nenhuma outra vitória foi comemorada com uma quantidade tão
Nela, uma palmeira é circundada pela inscrição em latim: “FISCI IVDAICI grande de moedas. É difícil explicar este fenômeno, mesmo porque Roma teve
CALVMNIA SVBLATA” que significa “aborrecimentos com a cobrança das inimigos maiores e mais fortes do que os judeus. Margaret Williams, em seu
taxas judaicas foram abolidos” (Whittaker, 1984: 105). Nas moedas que foram artigo Jews and Jewish communities in the Roman Empire publicado em 2000,
produzidas logo após a supressão da Revolta dos Judeus, a personificação da nos apresenta uma importante contribuição para este debate ao tentar entender
Judeia é substituída pela representação da palmeira, enfatizando assim a a vida dos judeus na região da Palestina e sua ligação com o modo de vida dos
presença judaica nas peças. Segundo Ya'akov Meshorer, a palmeira seria, nesse judeus que viviam nas mais diversas cidades do Império Romano.
caso, a própria Judeia (MESHORER, 2001: 185). Williams expõe um gráfico apontando as diversas comunidades
judaicas no mundo antigo e a continuação dos laços de solidariedade que
existiam entre eles, mesmo eles estando distante fisicamente (Williams, 2000).
Díon Cássio, que narrou a guerra judaica (infelizmente sobrevive apenas em
fragmentos) nos informa em uma de suas passagens que os rebeldes na Judeia
eram ajudados por judeus “não somente do Império Romano, mas também
aqueles que residiam do outro lado do Eufrates” (Díon Cássio, Hist. Rom.
66.4.3).
Talvez este fato possa explicar a punição exemplar que Vespasiano
Fig. 6 - Nerva. Sestércio de bronze. A palmeira aqui é circundada pela inscrição em conferiu aos judeus da Judeia/Palestina, assim como a consequente humilhação
latim: “FISCI IVDAICI CALVMNIA SVBLATA", que significa "aborrecimentos
com a cobrança das taxas judaicas foram abolidos" (x4). Fonte: Cf. RIC - Roman aos judeus de todo o Império. Não somente sua cunhagem celebra a vitória
Imperial Coins 58, 1923. romana sobre os judeus, mas os monumentos que ele e seu filho Tito
construíram na maioria das cidades do Império serviram como uma permanente
advertência para os judeus da derrota sofrida. Digno de nota é a presença do
Arco de Tito (fig. 7) no principal fórum de Roma sobre o qual foram
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representados os triunfantes soldados romanos pilhando os tesouros do templo As quase ininterruptas sublevações dos judeus principalmente durante o
(Porto, 2007: 209-210). século I d.C., levaram os romanos a investir maciçamente na propaganda de
suas ações militares na região. Na cidade de Antioquia, o querubim de ouro do
templo sobre o portão da cidade e uma sinagoga construída, foram
deliberadamente demolidos para a construção de um anfiteatro, e os tesouros
dos judeus foram transformados em espólios (Porto, 2007: 210).

Em que medida o monoteísmo judaico representou um temor aos romanos e que


dificuldades poderia esse monoteísmo trazer às pretensões romanas na região?
Poderiam os romanos temer que a influência religiosa dos judeus sobre outros povos
do Império romano e em que medida essa influência religiosa dos judeus sobre outros
povos poderia se converter em desobediência política. Essas são questões que as
fontes não nos oferecem respostas. Entretanto, a representação da Judeia cativa em
moedas de várias partes do Império se constituiu em uma das principais expressões da
propaganda político-ideológica e militar de Roma (Porto, 2007: 2010).
Fig. 7 - Um dos dois relevos do Arco de Tito (visto por ângulos diferentes), colocado no Fórum
de Roma para comemorar a vitória de Tito sobre os judeus em 70 d.C. Ele apresenta a Foram exemplares as ações punitivas dos imperadores romanos aos
pilhagem dos principais utensílios do Templo. Fonte: Cf. Y. MESHORER, 2001: 55.
revoltosos, não escaparam os judeus que habitavam a Judeia/Palestina,
tampouco as comunidades judaicas rebeladas – como de as Cirene, Egito e
Josefo relata em sua Bellum Iudaicum, que na parada triunfal de Tito, Chipre (Porto, 2007: 211). Excetuando o inevitável prejuízo da vida e da
em Roma, apareceu “um grande grupo carregando imagens da Vitória, todas liberdade que acompanhou a derrota militar para os romanos, os judeus de
feitas de marfim e ouro. Atrás deles Vespasiano dirigia primeiro, com Tito Cirene e do Egito sofreram um generalizado confisco de propriedades e
atrás dele, enquanto Domiciano cavalgava ao lado com roupas magníficas e aqueles de Chipre foram banidos da ilha, uma decisão que ainda estava em
montava em um cavalo que era em si um espetáculo digno de ser visto” (Ant. 7: vigor nos dias de Díon Cássio, cerca de um século depois da revolta.
152). Assim, Domiciano não demonstrou constrangimento por estar associado Ao empreendermos uma análise iconográfica dos tipos monetários
à vitória da Guerra Judaica. Josefo acrescentou que, “enquanto permaneceu em conhecidos como Judaea Capta, percebemos que essas emissões se constituem
Cesareia, Tito celebrou o aniversário de seu irmão (Domiciano) com grande no exemplo mais claro de impacto direto da presença do Império Romano nas
esplendor, dedicando a sua honra nesta ocasião grande parte da punição de seus províncias do Oriente. Entendemos que é preciso considerar cada tipo
cativos judeus” (Ant. 7: 37). monetário em separado (como a figura de Nike, a coroa, um judeu capturado,
uma judia em lamentação, a palmeira e o troféu) e, em seguida, montar a
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composição do esquema iconográfico integrando-os e inserindo-os dentro do moedas. A cidade de Pella emitiu, sob Domiciano duas séries monetárias
contexto da vitória de Roma sobre os insurgentes judeus. É a reunião desses contendo uma palmeira e Nike escrevendo em escudo.
elementos presentes nas moedas, mais sua recorrência em várias partes do
De pronto já é interessante notar que um rei judeu – Agripa II – se prestou a
Império, mais os relatos das fontes antigas, que proporciona a compreensão de homenagear a derrota de seu povo frente aos romanos. Nas moedas de Cesareia
como se dava o relacionamento de Roma com os judeus da Judeia/Palestina. prevaleceu o caráter provincial das emissões, ou seja, as oficinas monetárias da cidade
foram apropriadas pelo Império Romano para bater moedas em virtude da situação de
Fica evidente a grande complexidade que há nas relações políticas de guerra. O mesmo ocorrera em Panias e em Tiberíades. No caso da emissão de
Tiberíades nem a palma representada no anverso ou a coroa circundando uma
Roma com a província da Judeia/Palestina, como também fica clara a inscrição no reverso podem ser associadas diretamente com os símbolos das moedas
importância da religião no relacionamento entre dominador e dominado. As Judaea Capta. O que nos permite relacionar essa moeda com as moedas Judaea Capta
é a inscrição do anverso dessa moeda: BA AGPIPPA NIK CEB que significa “rei
emissões dos tipos monetários Judaea Capta em diversas localidades do Agripa, a vitória do Imperador” (Porto, 2007: 212).
Império comprovam a visão que os romanos tinham das questões relativas a
O fato de Agripa ter colocado em uma moeda produzida à época da
seu domínio sobre as províncias do Leste e do Oeste. Dos cuidados que
guerra de Roma com os judeus uma inscrição exaltando a vitória do imperador,
deveriam tomar e das ações que deveriam empreender (Porto, 2007: 210-212).
além de nos permitir inserir essa moeda no contexto das emissões Judaea
Destacando-se as emissões na Judeia/Palestina, é importante afirmar
Capta, também nos faz pensar sobre as razões que motivaram Agripa II a
que as moedas consideradas Judaea Capta pelos estudiosos são as emitidas
colocar tal inscrição nessa moeda. Como ele trabalhou a questão dessa emissão
pela cidade de Cesareia. Mas, pensamos que a observação sobre as moedas
com as elites da cidade e como essas elites reagiram a essa emissão (Porto,
produzidas em Neápolis, Panias e Pella, que dizem respeito ao episódio
2007: 212).
histórico ocorrido, ou seja, a guerra dos judeus contra os romanos, possa
A emissão de Pella pode nos oferecer outros elementos para nos
contribuir para um melhor entendimento das razões que levaram os romanos a
auxiliar no entendimento da questão entre as relações de Roma com as elites
desenvolverem essas emissões.
locais expressas pela análise iconográfica das moedas. As moedas batidas em
As moedas emitidas em Cesareia foram produzidas no governo de
Pella se distinguem das demais, pois, ao invés de serem uma emissão
Agripa II sob Vespasiano, Tito e Domiciano. Neápolis, sob Domiciano, emitiu
provincial13 como as outras moedas Judaea Capta (o que não justificaria, mas
uma série de moedas com a representação de uma palmeira, Panias emitiu, sob
explicaria o fato de um rei judeu enaltecer em suas moedas a vitória dos
Tito, uma moeda que mostra a deusa da Vitória, Nike, segurando uma coroa e
romanos sobre seu povo), elas têm como característica serem moedas
contendo uma palma sobre seu ombro. Ainda Panias produziu, sob Domiciano,
autônomas14. Assim, Nike escrevendo em escudo e a palmeira, foram tipos
quatro emissões com a representação de Nike escrevendo sobre escudo, Nike
13Entendemos “provinciais” aqui como moedas produzidas por Roma nas diversas localidades
com palma e coroa e somente uma palmeira no reverso de uma de suas das províncias orientais.
164 165

monetários deliberadamente escolhidos por Agripa para estar em suas moedas tipos anteriormente associados à Guerra Judaica foram repetidos. Estes últimos
de Pella. Agripa II era um rei cliente de Roma, crescera e fora educado em tipos foram deliberadamente abertos à interpretação, mas a sua associação com
Roma e se constituíra em fiel aliado dos romanos (Porto, 2007: 212-213). a Guerra Judaica, tanto nas mentes das autoridades emissoras como da
Mas, estaria Agripa II tentando enaltecer os judeus ao representar em população local, parece mais do que provável.
suas moedas um símbolo judaico – a palmeira – sobre as moedas de Pella? Ou, Como quer que seja, é fundamental constatar que as emissões de Pella
ao colocar a representação de uma palmeira nessa moeda, Agripa II tentava (que passaram despercebidas pelos estudiosos das emissões Judaea Capta),
seduzir a comunidade judaica mostrando-lhes que ele estava ao seu lado? estejam inseridas no contexto dessas emissões Judaea Capta, e que essa
Talvez, o fato de Pella ter uma tradição helenística e de ter sido capturada e constatação ocorre ao considerarmos os conjuntos iconográficos.
destruída pelo rei Hasmoneu (ou seja, judeu) Alexandre Janeu, sendo em
seguida restaurada e incluída na Decápolis por Pompeu possa ter facilitado as Bibliografia

coisas para Agripa II quando este se propôs a representar a vitória de Roma nas Edições e traduções
CASSIUS DIO. Roman History. Traduzido para o inglês por Earnest Cary. Loeb
moedas dessa cidade. David Hendin segue sua reflexão nesse mesmo sentido:
Classical Library 9. Cambridge, MA: Harvard University Press, 1961.
FLAVIUS JOSEPHUS. Jewish Antiquities. Londres: William Heinemann, 1958-65.
Além da série de moedas constando as “vitórias” de Agripa II que tem o retrato de FLAVIUS JOSEPHUS. The Jewish War. Books IV-VII. Traduzido para o inglês
Domiciano, também temos uma moeda provincial romana quase idêntica batida em por H. St. J. Thackeray. Loeb Classical Library 2013, Cambridge, MA: Harvard
Pella sob Domiciano e datada de 81/2 CE, ou seja, antes das referências às vitórias University Press, 1968.
sobre a Germânia. Isso é uma coincidência? Se sim, como podemos então explicar RIC - Roman Imperial Coins. Por H. Mattingly et al., British Museum, Londres, 1923.
uma outra moeda de Pella, batida sob Domiciano, neste mesmo ano, em que uma RPC - Roman Provincial Coinage, From Vespasian to Domitian (AD 69–96), vol. 2.
palmeira é retratada? Também chamo a atenção do leitor para a moeda de Agripa II Por A. Burnett, M. Amandry e I. Carradice, Londres/Paris, 1999.
com palmeira, batida sob Domiciano em 84/5 CE. Assim, a moeda batida em Pella à SUETONIUS. Lives of the Caesars, Volume II – Domitian. Traduzido para o inglês
época de Domiciano é quase idêntica às moedas que tem a representação de Vitória por J. C. Rolfe. Loeb Classical Library 38, Cambridge, MA: Harvard University Press,
com escudo de Agripa II e uma outra moeda que tem a representação de uma 1979.
palmeira, uma clara referência à Judeia durante esse período (Hendin, 2007: 127) ___. Lives of the Caesars, Volume II – Vespasian. Traduzido para o inglês por J. C.
(tradução nossa). Rolfe. Loeb Classical Library 38, Cambridge, MA: Harvard University Press, 1979.
TACITUS. Histories. Books IV-V. Traduzido para o inglês por Clifford H. Moore e
Parece então que os motivos da Judaea Capta não haviam desaparecido John Jackson. Loeb Classical Library 249. Cambridge, MA: Harvard University Press,
1931.
da cunhagem local com a morte de dois vitoriosos, Vespasiano e Tito. Algumas ___. Annals. Books I-III. Traduzido para o inglês por Clifford H. Moore e John
moedas com o motivo da vitória emitidas sob Domiciano - cunhadas antes dos Jackson. Loeb Classical Library 249. Cambridge, MA: Harvard University Press,
1931.
sucessos do imperador na Germania - parecem logicamente relacionar-se com a
Artigos, capítulos e livros
vitória romana na Guerra Judaica. Em outras moedas do mesmo imperador, os

14 Ou seja, moedas produzidas autonomamente na província com autorização de Roma.


166 167

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