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CAMPUS ARAPIRACA
UNIDADE EDUCACIONAL PALMEIRA DOS INDIOS
CURSO DE PSICOLOGIA
Bibliografia: f. 80 – 87
CDU: 159.9
Isabella Barbosa Marques de Almeida
Banca Examinadora
Dedico.
AGRADECIMENTOS
Agradeço, primeiramente, a Deus, afinal, sem Ele nada seria possível. Durante todo
este processo, minha fé se manteve firme e em nenhum momento me deixou desistir dos meus
sonhos.
Ao meu pai, Jarbas Barbosa Marques, que mesmo quando não sabia como ajudar, me
deu o suporte para ir sempre adiante. Também, as minhas irmãs que sempre estiveram ao meu
lado e me ofereceram ajuda durante toda caminhada.
Este trabalho foi de cunho bibliográfico e qualitativo e teve como objetivo compreender a importância
de intervenção da Psicologia diante do diagnóstico de câncer de mama feminino, utilizando como
referencial teórico e prático o acervo de materiais de autores que são destaques nesta temática, como
Valdemar Augusto Angerami-Camon e Maria Margarida de Carvalho. Inicialmente, apresentamos as
principais considerações acerca da história do câncer; suas variações, com ênfase no foco desta
pesquisa: o câncer de mama e possibilidades de tratamento. Em seguida, discutimos sobre o
surgimento do hospital, destacando a atuação da Psicologia enquanto parte da equipe de saúde na
instituição e, por conseguinte, no setor de Oncologia. Além disso, abordamos a Psico-Oncologia –
uma das especialidades da Psicologia Hospitalar – como norteadora deste estudo e das práticas do
profissional da Psicologia no setor oncológico. Mesmo recente esta área de estudo e trabalho busca
promover aos pacientes em tratamento contra o câncer novas formas de enfrentamento e
ressignificação da doença. Neste estudo apresentamos as implicações advindas do diagnóstico do
câncer de mama em mulheres e como o mesmo impacta na vida dessas pacientes de maneira física,
psíquica, social e espiritual. A fim de chegar ao objetivo proposto, buscamos estudos restritos à
temática desta pesquisa e que atendessem aos requisitos: artigos científicos na língua portuguesa,
delimitados ao período de 2010 a 2020 e produções que destacam o câncer de mama na população
feminina, descartando quaisquer produções que não seguissem estas condições. O método de análise
escolhido foi a análise de conteúdo de Bardin, que resultou nas seguintes categorias temáticas: 1) O
reconhecimento do impacto psicológico desde o diagnóstico; 2) As possibilidades de atuação da
Psicologia no tratamento do câncer de mama; e 3) A importância do acompanhamento psicológico à
paciente, familiares e equipe de saúde responsável. A partir das leituras e reflexões realizadas,
concluímos que o trabalho desenvolvido pelo profissional da Psicologia no tratamento do câncer de
mama desde seu diagnóstico é fundamental, uma vez que o mesmo atuará junto à paciente, familiares/
cuidadores e equipe a fim de promover acolhimento e contribuir para o enfrentamento da doença
através do cuidado humanizado e integrado, considerando fatores emocionais, sociais e culturais.
This work was bibliographical and qualitative and aimed to understand the importance of Psychology
intervention in the diagnosis of female breast cancer, using as a theoretical and practical reference the
collection of materials from authors who are highlighted in this theme, such as Valdemar Augusto
Angerami -Camon and Maria Margarida de Carvalho. At first, we present the main considerations
about the history of cancer; its variations, emphasizing the focus of this research: breast cancer and
treatment possibilities. Then, we discussed the emergence of the hospital, highlighting the role of
Psychology as part of the health team in the institution and, therefore, in the Oncology sector. In
addition, we approach Psycho-Oncology – one of the specialties of Hospital Psychology – as a guide
for this study and for the practices of Psychology professionals in the oncology sector. Even though it
is recent, this area of study and work seeks to promote to patients undergoing cancer treatment new
ways of coping and giving new meaning to the disease. In this study, we present the implications
arising from the diagnosis of breast cancer in women and how it impacts the lives of these patients in a
physical, psychological, social and spiritual way. In order to reach the proposed objective, we sought
studies restricted to the theme of this research and that met the requirements: scientific articles in
Portuguese, limited to the period 2010 to 2020 and productions that highlight breast cancer in the
female population, discarding any productions that did not follow these conditions. The analysis
method chosen was Bardin's content analysis, which resulted in the following thematic categories: 1)
Recognition of the psychological impact since diagnosis; 2) The possibilities of Psychology's role in
the treatment of breast cancer; and 3) The importance of psychological support for the patient, family
members and responsible healthcare team. From the readings and reflections carried out, we conclude
that the work developed by the Psychology professional in the treatment of breast cancer since its
diagnosis is essential, since it will work with the patient, family/caregivers and staff in order to
promote welcoming and contribute to confront the disease through humanized and integrated care,
considering emotional, social and cultural factors.
1 INTRODUÇÃO 8
2 CONSIDERAÇÕES SOBRE O CÂNCER 12
2.1 Percurso Histórico do Câncer 12
2.2 O Diagnóstico do Câncer 19
2.2.1 Principais Tipos de Câncer 23
2.2.1.1 O Câncer de Mama e suas Implicações 25
2.3 Possibilidades de Tratamento para o Câncer 28
3 O HOSPITAL, A PSICOLOGIA HOSPITALAR E A PSICO- 33
ONCOLOGIA
3.1 O Surgimento do Hospital 33
3.2 A História da Psicologia Hospitalar 38
3.3 As Possibilidades de Atuação da Psicologia no Hospital 44
3.3.1 As Intervenções da Psicologia no Setor de Oncologia 50
4 ASPECTOS METODOLÓGICOS, ANÁLISE E DISCUSSÃO DO 57
ESTUDO: IMPORTÂNCIA DA ATUAÇÃO DA PSICOLOGIA
DIANTE DO DIAGNÓSTICO DE CÂNCER DE MAMA EM
MULHERES
4.1 Caminhos da Pesquisa 57
4.2 O Reconhecimento do Impacto Psicológico Desde o Diagnóstico 64
4.3 As Possibilidades de Atuação da Psicologia no Tratamento do Câncer 68
de Mama
4.4 A Importância do Acompanhamento Psicológico à Paciente, 71
Familiares e Equipe de Saúde
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS 77
REFERÊNCIA 81
8
1 INTRODUÇÃO
Diante disso, torna-se cada vez mais importante a inserção da atuação da Psicologia
como parte primordial do tratamento, especialmente nos primeiros momentos de acolhimento
após o diagnóstico. Sobre isso, Gimenes (1994, p.42) afirma que
Essa discussão visa incluir, também como necessária, a atenção voltada à família e
demais profissionais de saúde envolvidos no tratamento e reabilitação da paciente. Isto é, a
Psicologia deve ampliar, também, o olhar para o cuidado com aqueles que intervêm direta ou
indiretamente para o bem-estar integral dessa mulher.
Zabora e Loscalzo (1998 apud BAIDER, 2003, p.515) destacam que a família exerce
um papel de extrema importância durante o acompanhamento ao tratamento da paciente, e
10
isso inclui as implicações que a doença provoca em todos, de forma integral, como a
ansiedade e o medo. Assim, se mostra necessária a atuação do psicólogo em promover o
treinamento da equipe de saúde para lidar com os efeitos secundários e consequentes da
doença na paciente e seus familiares/cuidadores.
Quanto aos aspectos metodológicos, este estudo foi desenvolvido com base em uma
pesquisa qualitativa e bibliográfica, tendo como objetivo o levantamento de materiais acerca
do tema de interesse através do site de pesquisa Google Acadêmico, utilizando-se de critérios
de inclusão e exclusão dos mesmos, como: período de produção entre os anos de 2010 e 2020,
a fim de incluir pesquisas mais atuais; uso exclusivo de artigos científicos e discussões acerca
do câncer de mama feminino, a partir dos seguintes descritores: “Psicologia e Câncer”,
“Psicologia e Câncer de Mama” e da expressão “Implicações psicológicas do Câncer de
Mama”.
Por fim, apresentamos as considerações finais dessa pesquisa, onde foi possível expor
nossas reflexões acerca da importância da atuação da Psicologia diante do diagnóstico de
câncer de mama em mulheres.
12
Neste capítulo, apresentaremos algumas considerações sobre o câncer, bem como sua
conceituação, a partir de um breve percurso histórico do mesmo. Abordaremos o câncer
discutindo o processo de diagnóstico, seus tipos variados e formas de tratamento, enfatizando
o câncer de mama e suas implicações.
O câncer, por se tratar de uma doença que ainda é considerada como “O mal do
século”, carrega em si um forte estigma relacionado à morte. A partir desse imaginário,
destacamos a importância de discutirmos e esclarecermos a doença a fim de trazer a esta
pesquisa informações relevantes para uma maior compreensão acerca dessa patologia.
Neste primeiro capítulo utilizaremos como principal referência o artigo intitulado “De
doença desconhecida a problema de saúde pública: o INCA e o controle do câncer no Brasil”,
dos autores Luiz Antônio Teixeira e Cristina Oliveira Fonseca, datado de 2007.
Durante muito tempo o câncer era uma doença desconhecida e quase nada se sabia
sobre esta, consequentemente, não havia tratamentos que aliviassem a dor ou evitasse a morte
de pessoas acometidas por esta enfermidade. Não há sequer registros científicos acerca da
primeira menção sobre a doença, mas o que é sabido é que povos egípcios, persas e indianos
já falavam sobre tumores malignos séculos antes de Cristo (TEIXEIRA; FONSECA, 2007).
Siddhartha Mukherjee (2010) questiona o nascimento do termo “câncer” e quem teria
sido o primeiro a registrá-lo como doença, em resposta, informou que foi em um antigo papiro
datado em 2500 a.C. que a descrição de um caso médico, feito por um sacerdote egípcio
chamada Imhotep, pode ter sugerido um episódio de câncer de mama ao descrever uma
“massa saliente no peito”, mas nunca havia sido mencionado como câncer, de fato. Outra
curiosidade sobre este caso é que na seção intitulada “Terapia”, o sacerdote apresenta apenas
a frase: “Não existe”.
A primeira definição sobre a doença surgiu na Escola de Medicina de Hipócrates (460
a.C. - 377 a.C.), que foi um médico nascido da Ilha de Cós e reconhecido como o “Pai da
Medicina Ocidental”. Ele tinha aversão a justificativas supersticiosas e míticas sobre os
problemas de saúde e a cura de doenças, por este motivo, dedicou-se a encontrar explicações
13
aos acometidos a internação em asilos para desenganados, nos quais em meio ao sofrimento,
esperavam o momento da morte. ”. Esse método de tratamento fez crescer o número de
hospitais na Europa com esse objetivo, chamado de “assistência aos desamparados”.
(TEIXEIRA; FONSECA, 2007, p.15)
Foi em meados do século XIX que os avanços da cirurgia começaram a aparecer e
finalmente trazer esperança para o futuro da doença. Entretanto, com os problemas de
esterilização dos instrumentos e a contenção de bactérias, os pacientes acabavam tendo
complicações secundárias no pós-cirúrgico. Teixeira e Fonseca (2007) explicam que somente
com o desenvolvimento das técnicas de assepsia e anti-sepsia e da progressiva aceitação da
transmissão microbiana das doenças, as cirurgias passaram a ser mais viáveis.
No século seguinte, a descoberta do físico alemão Wilhelm Konrad Roengten (1845-
1923) fez com que o rumo dos tratamentos para o câncer e a medicina em geral mudassem.
Roentgen criou o Raio X, e logo nas primeiras décadas do século XX o mesmo já era
utilizado para diagnósticos dos tumores e outras patologias. Em 1905, o radiologista Jean
Bergonié e o histologista Louis Tribondeau mencionaram a ação curativa do raio X sobre as
células cancerígenas, sendo estas mais sensíveis ao raio.
Com o uso contínuo do novo instrumento, logo começaram a aparecer os efeitos
causados pela exposição à radiação, como queimaduras e hipersensibilidade na pele, além de
favorecer o surgimento de novos canceres. É a partir deste seguimento que foram
desenvolvidos tubos de raios catódicos (1913) e potentes geradores (1921) a fim de controlar
a intensidade dos raios. Este procedimento já nos remete ao utilizado, nos dias atuais, no
tratamento do câncer de colo de útero, a Braquiterapia1.
Apesar das novas técnicas de tratamento do câncer, é preciso ressaltar que os
procedimentos cirúrgicos ainda eram primordialmente utilizados. Siddhartha Mukherjee
(1970, p. 27) reforça que durante aquele período – início do século XX – “[...] para curar o
câncer (se isso era possível), os médicos dispunham apenas de duas estratégias: extirpar o
tumor cirurgicamente ou destruí-lo com radiação – uma escolha entre o raio quente e a faca
fria.”.
Ao mesmo tempo em que os tratamentos por meio do raio X eram feitos, cientistas
interessados pelo assunto começaram também a trabalhar em novas formas de tratamento.
Surge então Marie Curie (1901), ao descobrir o elemento químico: Radio, e sua alta eficácia
na destruição de células malformadas e tumores malignos.
1
A braquiterapia é um tipo de radioterapia em que a fonte radioativa é colocada dentro da área a ser
tratada ou junto a ela. A inserção pode ser temporária ou permanente.
15
Somente após a Primeira Guerra Mundial, outra técnica começa a ser utilizada para o
tratamento do câncer: a quimioterapia2. Proveniente da observação dos efeitos causados pelo
gás mostarda utilizado nas armas químicas da guerra nos soldados sobreviventes e aos que
tinham contato moderado com a substância. As observações mostravam a diminuição dos
leucócitos no sistema linfático e na medula óssea, tornando possível o caminho para o
combate da leucemia.
Após muitas outras pesquisas, principalmente feita por farmacologistas da década de
40, a primeira droga para o tratamento do câncer foi criada, a Mecloretamina, para os casos de
linfoma de Hodgkin3 e leucemia. Mais tarde, no ano de 1965, a descoberta feita pelos médicos
James Holland, Emil Freireich e Emil Frei, mudou os rumos da quimioterapia. Dessa vez,
utilizando-se de estratégias já usadas no tratamento da tuberculose, eles conseguiram criar um
método para dificultar o processo de metástase e recorrência dos tumores através da aplicação
de antibióticos (INSTITUTO NACIONAL DO CÂNCER, 2012).
Sobre a conceituação do câncer, Chiattone (2004 apud SANTOS; OLIVEIRA, 2017)
também fala sobre o termo Karkinos, do latim câncer, significando caranguejo e fazendo uma
analogia ao que socialmente o câncer representa. Simbolicamente, a doença se assemelha ao
formato do caranguejo por conta das veias tumorais e as pernas do animal, também à
agressividade, imprevisibilidade, invulnerabilidade e capacidade de aprisionamento.
Apesar de na Europa essa analogia ser muito utilizada, no Brasil essa associação não é
feita. Angerami-Camon (2013) destaca que, em território brasileiro, o termo câncer só faz
alusão à enfermidade, ou simplesmente ao signo do horóscopo. O autor ainda destaca que
mesmo que o Brasil não faça associação entre a doença e o crustáceo, o câncer não deixa de
ser algo considerado fatal.
Santos e Oliveira (2017) levantam uma informação importante quanto a conceituação
do câncer no Brasil, as autoras explicam que há uma dificuldade em estudos que esclareçam o
conceito do câncer em sua totalidade, geralmente esta é uma informação exterior (de outros
países). No Brasil, não há documentos que registrem o aparecimento ou primeiros casos
diagnosticados, em virtude de a doença ser confundida com outras enfermidades.
2
Quimioterapia é um tratamento que utiliza medicamentos para destruir as células doentes que
formam um tumor. Estes medicamentos se misturam com o sangue e são levados a todas as partes do
corpo, destruindo as células doentes que estão formando o tumor e impedindo, também, que elas se
espalhem pelo corpo. (INSTITUTO NACIONAL DO CÂNCER, 2021)
3
Linfoma ou Doença de Hodgkin é um tipo de câncer que se origina no sistema linfático, conjunto
composto por órgãos (linfonodos ou gânglios) e tecidos que produzem as células responsáveis pela
imunidade e vasos que conduzem essas células através do corpo. (INSTITUTO NACIONAL DO
CÂNCER, 2021)
16
O câncer é uma doença que se origina nos genes de uma única célula,
tornando-a capaz de se proliferar até o ponto de formar uma massa tumoral
no local e a distância. Várias mutações têm que ocorrer na mesma célula
para que ela adquira este fenótipo de malignidade e a biologia molecular
vem estudando com acuracidade estes detalhes.
que a pessoas evitavam pronunciar o nome da doença acreditando que assim poderiam mantê-
la distante.
O cenário atual não teve grandes modificações quanto ao estigma da doença, ainda é
comum que as pessoas se refiram ao câncer como “aquela doença” ou “doença do mal”,
especialmente àqueles que não possuem acesso às informações. Faz-se necessário ressaltar
que já é cientificamente comprovado que o câncer não é uma doença contagiosa, e que tem
possibilidades de cura.
O momento do diagnóstico ainda é associado à certeza da terminalidade ou morte
iminente, e é preciso reforçar que mesmo sendo uma doença tão severa e comprometedora, o
câncer tem histórias de casos em que a doença foi controlada e até extirpada, especialmente
quando diagnosticada em seu estágio inicial.
Em seguida, nos dedicaremos a falar sobre o percurso do diagnóstico do câncer.
indivíduo deve passar por exames mais específicos, seguindo as características e localização
do tumor (INSTITUTO DE FORMAÇÃO E SUPORTE EM ONCOLOGIA, 2001).
Nesta primeira observação e busca, são feitos exames de raios X e Ultrassonografias.
Em seguida, exames de tomografia, mapeamento ósseo, ressonância magnética, e outros tipos
de investigação variando de acordo com as necessidades específicas do paciente. Para
comprovar a malignidade do tumor, é preciso que o mesmo passe por uma biópsia –
procedimento realizado a partir de uma amostra do tecido tumoral, examinado à luz do
microscópio e analisado por um médico patologista – para entender as características
principais do edema.
É importante frisar que os profissionais responsáveis pela avaliação do paciente no
momento do diagnóstico devem ser muito bem preparados para fazer a conclusão de um
desses procedimentos, e que há características em tumores benignos ou quadros infecciosos
muito semelhantes ao câncer, e jamais devem ser confundidas.
Os exames antes e depois do diagnóstico são constantes, seja para indivíduos em
observação por uma suspeita da doença ou pacientes já diagnosticados e que estão passando
por exames de rotina para a avaliação dos órgãos mais prováveis de serem comprometidos.
Yamaguchi (1994, p. 24) revela que
Nessa mesma linha de pensamento, Elizabeth Kübler Ross (1969) identifica outro
estágio reacional, a barganha. Nem sempre as pessoas irão apresentar essas posições frente à
doença nesta ordem, mas certamente serão exteriorizados em algum momento, seja no
diagnóstico ou durante o percurso da doença.
É preciso respeitar o tempo de adaptação de cada indivíduo, que varia de pessoa para
pessoa, mas que é de extrema importância para que ela consiga prosseguir com o tratamento.
A desinformação dos pacientes é uma das principais causas de sofrimento durante o
processo de descobrimento do câncer, fazendo aumentar ainda mais o forte estigma negativo
que ele carrega, isto é consequência de um período em que pouco se entendia pela doença e
menor era sua divulgação.
Daí a necessidade de transmitir estas informações da forma mais clara e real possível.
É a partir delas que o indivíduo se sentirá à vontade para tirar as dúvidas e participar
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ativamente nas decisões a serem tomadas, junto à equipe médica. Fazer com que o paciente se
sinta parte de sua evolução no tratamento é tão importante quanto pedir que a família participe
deste processo.
A falta de comunicação entre o paciente e o médico, familiares, amigos e cuidadores, é
um agente complicador e gerador de sofrimentos desnecessários. O Instituto de Informação e
Suporte em Oncologia (2001, p. 14) revela que “[...] é mais fácil lidar com a realidade, em
qualquer crise, se trocarmos a desinformação pela informação. É a falta de comunicação que
dá margem a fantasias, à percepção distorcida da realidade”.
As apresentações das possibilidades de intervenção diante do diagnóstico devem ser
feitas no momento da descoberta da doença e nas consultas subsequentes. Procedimentos
cirúrgicos, intervenções terapêuticas, acompanhamento multiprofissional e contínuo sob a
doença são fundamentais no momento de informação do paciente.
Uma vez que o câncer é constatado, sua evolução irá depender da classificação e
gravidade que se encontra; qual o tecido de origem, aspectos morfológicos e estruturais, assim
como será analisado o grau de comprometimento em relação aos tecidos vizinhos e distantes
(YAMAGUCHI, 1994).
A partir destas informações será possível o acesso ao prognóstico da doença, como o
rumo do tratamento e quais as possibilidades de cura, baseado em dados estatísticos. Em
alguns casos, conforme as medidas terapêuticas são aplicadas, o prognóstico da doença pode
mudar, tornando necessária uma nova conversa esclarecendo as novas intervenções a serem
feitas.
O câncer mexe com o corpo por inteiro, e por isso a pessoa deve ser tratada por
inteiro, ou seja, em sua totalidade. Por isso a equipe multiprofissional é tão importante para
que o tratamento do paciente contemple todas as suas necessidades, física, psíquica, social e
espiritual.
O tratamento começa com a prevenção. Os profissionais de saúde devem estar atentos
às campanhas e ações preventivas para que o índice de pessoas acometidas pela doença
diminua. Trabalhar no nível primário da doença aumenta as chances de o câncer ser detectado
nos primeiros estágios e consequentemente, a probabilidade da cura. Trataremos deste assunto
no tópico “Possibilidades de Tratamento do Câncer”.
Em síntese, o diagnóstico do câncer é carregado de significados sociais, e por isso se
torna tão difícil de ser encarado. O turbilhão de sentimentos trazidos pela doença é tamanho
que pode interferir em todos os âmbitos da vida do indivíduo, bem como de sua família. É
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preciso estar ciente de que haverá momentos de incertezas, medos e angústias, mas que
quando se tem uma equipe de saúde competente e preparada para lidar com as questões
trazidas com o diagnóstico, todo processo se torna mais tranquilo.
Para melhor entender o câncer, faz-se necessário abordar os diversos tipos de órgãos e
tecidos que podem ser acometidos. Apresentaremos a seguir uma breve explanação sobre os
principais tipos de câncer.
O câncer pode atingir diversas partes do corpo, como tecidos, órgãos e ossos. Segundo
a Organização Mundial da Saúde e o Instituto Nacional do Câncer existem mais de duzentos e
cinquenta tipos de câncer no mundo. No Brasil, a distribuição epidemiológica do câncer
apresenta um aumento entre os tipos de câncer, historicamente associados ao alto status
socioeconômico, de mama, próstata e cólon e reto; como também aos tumores popularmente
associados a pobreza, câncer de colo do útero, pênis, estômago e cavidade oral. (GUERRA;
GALLO; MENDONÇA, 2005)
Os autores acrescentam que são vários os fatores de riscos ambientais que estão
relacionados à doença; como os agentes químicos, físicos e biológicos, bem como os fatores
sociais. Straub (2005) explica que os canceres podem ser subdivididos em quatro grupos,
sendo: carcinomas, sarcomas, linfomas e leucemias. Vejamos as explicações, segundo o autor,
de cada um desses grupos:
O primeiro grupo está relacionado às células epiteliais, que cobrem as superfícies
internas e externas do corpo. É um dos mais comuns tipos de câncer; incluem o câncer de
mama, de próstata, de colo, de pulmão, de pâncreas e de pele.
O grupo dos Sarcomas atacam as células musculares, dos ossos e das cartilagens. É
considerado muito mais raro que o Carcinoma, representa apenas 2% de todos os tumores em
adultos.
Os Linfomas são cânceres formados no sistema linfático e é neste grupo que estão a
doença de Hodgkin, “uma forma rara de linfoma que se espalha a partir de um único nódulo”,
e o linfoma de não-Hodgkin, em que as células malignas podem ser encontradas em vários
lugares do corpo.
O último grupo, as Leucemias, é responsável por atacar tecidos sanguíneos e
formadores de sangue, como a medula óssea. Este tipo de câncer se origina a partir da
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O câncer de mama é um dos tipos de canceres mais temidos pela população feminina.
Isto está relacionado à sua alta incidência e, principalmente, aos efeitos psicológicos que
acompanham o diagnóstico da doença, podendo afetar a percepção da sexualidade,
autoimagem e perspectiva de vida da mulher acometida.
Como já citado anteriormente, o câncer de mama faz parte do grupo dos carcinomas
(quando é formado nos pequenos bulbos ou nos ductos da mama) ou sarcomas (quando se
forma no tecido conjuntivo), sendo este o de maior incidência em mulheres. Geralmente
atinge um público feminino na faixa etária por volta dos 50 anos de idade, apesar de poder ser
detectado, em casos raros, antes dos 30 anos, ou até mesmo em idades mais jovens (SANTOS
JUNIOR; SOARES, 2012).
Os autores relatam também que em 2010, o Sistema de Informações do Câncer de
Mama (SISMAMA-INCA) constatou que para 100 mil mulheres há aproximadamente a
estimativa de 49 novos casos deste tipo de câncer, tendo maior incidência na região Sudeste
do país. Em 2007 a taxa de mortalidade pela doença foi de cerca 11,49 a cada 100 mil
mulheres.
Apesar de não existirem estudos conclusivos acerca da suscetibilidade ao câncer, é
possível identificar os fatores de risco que estão associados a doença. Para isto, é valido
ressaltar que o câncer de mama possui gênese multifatorial, ou seja, aspectos genéticos,
ambientais e estilo de vida fazem parte de sua etiologia.
Alguns dos principais fatores são: histórico de câncer na família, inatividade física,
menopausa tardia, gravidez após os 30 anos de idade, obesidade e alcoolismo. Entretanto,
90% dos casos de câncer de mama em todo o mundo não tem o fator hereditário como
principal, e sim fatores como a produção de esteroides sexuais, como a utilização de
estrógenos exógenos (SANTOS JUNIOR; SOARES, 2012).
Os sintomas podem ser observados a partir de qualquer alteração radiológica ou física
da mama. O Instituto de Informação e Suporte em Oncologia (2001) pontua alguns desses
sintomas, como: aparecimento de nódulo ou endurecimento da mama ou embaixo do braço,
mudança no tamanho ou formato da mama, alteração na coloração ou na sensibilidade da pele
da mama ou da auréola, secreção contínua por um dos ductos, retração da pele ou do mamilo
e inchaço significativo ou distorção da pele.
Quanto ao diagnóstico, faz-se necessário retomar a fala sobre a importância da
observação e identificação precoce dos sinais e sintomas mamários, que vão desde as
primeiras lesões até o rastreamento mais aprofundado dessas anormalidades.
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O Exame Clínico (EC) que é realizado pela equipe médica, podendo ser feito em
exames ginecológicos de rotina ou quando há a suspeita da doença, consiste em identificar
lesões iniciais do câncer de mama. É importante também informar que na grande maioria das
vezes em que uma massa palpável é identificada, não está relacionada ao câncer, sendo
apenas 10% as neoplasias constatadas (SANTOS JUNIOR; SOARES, 2012).
Além do EC, outras formas de diagnóstico podem ser utilizadas, como o autoexame, a
mamografia, a ultrassonografia, ressonância magnética, tomografia computadorizada e
cintilografia. Cada um desses métodos deve ter indicação e se adequar à cada situação.
Dentre os métodos supracitados, a mamografia é o mais utilizado no processo de
diagnóstico do câncer de mama. Junior e Soares (2012) explicam que o uso da mamografia
como principal recurso está relacionado ao baixo custo do exame e sua acessibilidade. Apesar
disso, não é o método melhor indicado em caso de mulheres com menos de 40 anos, esta
informação se justifica pela alta densidade da mama jovem, dessa forma, outros
procedimentos devem ser requisitados.
Em abril de 2008 entrou em vigor a lei 11.664, aprovada pelo Congresso Nacional e
prevê a realização da mamografia às mulheres brasileiras a partir dos 40 anos de idade. A lei
tem como objetivo
Os testes e exames que são solicitados pelo médico têm como objetivo analisar e
avaliar a extensão e o estádio da doença no organismo, para isto se dá o nome de
Estadiamento. No câncer de mama, o sistema de Estadiamento leva em conta o tamanho do
tumor, o envolvimento de gânglios linfáticos da axila próxima à mama e a presença ou não de
metástases, definido pela sigla TNM. Sendo T (Tamanho do tumor), N (número de nódulos) e
M (metástases à distância) (INSTITUTO DE INFORMAÇÃO E SUPORTE EM
ONCOLOGIA, 2001).
Os autores Santos Junior e Soares (2012) explicam que para esta avaliação são
necessários exames físicos e de imagem (radiografia, tomografia de tórax, ultrassonografia do
abdômen ou pelve, cintilografia óssea), até exames histopatológicos da mama ou de outros
tecidos.
27
A cirurgia diagnóstica é utilizada para se obter uma amostra de tecido para exame de
laboratório (biópsia), e tem como objetivo confirmar um diagnóstico e identificar o câncer de
maneira mais específica.
A cirurgia preventiva é recomendada para retirar um crescimento que não é maligno,
mas que pode vir a ser se não for tratado. Além disso, esse tipo de cirurgia pode ser realizado
para a remoção de algum órgão quando a pessoa possui um problema hereditário e tem
chances altas de desenvolver a doença.
A cirurgia de extensão é usada para determinar a extensão da doença, este
procedimento é chamado de “laparoscopia”. A cirurgia curativa consiste na retirada de um
tumor quando o mesmo está localizado de forma que existe a possibilidade de remoção de
todo o tecido canceroso. É importante ressaltar que este método é somente possível num caso
primário da doença.
Por fim, a cirurgia restauradora ou reconstrutiva é geralmente utilizada para restaurar
a função de algum órgão ou parte do corpo, bem como a estética da pessoa. Como por
exemplo, a reconstrução do seio após a mastectomia (remoção do seio).
A cirurgia, de maneira geral, permite que o médico cirurgião remova o tumor e tecidos
adjacentes que possuem células cancerosas. Para isso, Yamaguchi (1994, p. 25) reforça,
A utilização deste método pode afetar algumas células sadias na área irradiada,
causando efeitos colaterais, mas a maioria delas repara-se sozinha e recupera-se totalmente
dos efeitos do tratamento. Este mecanismo se diferencia da quimioterapia, que expõe todo o
corpo aos produtos químicos, falaremos deste método logo em seguida.
O responsável por analisar a indicação, extensão e o tipo do tratamento a ser aplicado
é o radioterapeuta. Existem várias formas de se aplicar a radioterapia, podendo ser de maneira
externa; é aplicada através do aparelho emissor de feixes de raios que alcançam o tumor após
atravessar diferentes tecidos, e de maneira interna; aplicada através da colocação do material
radioativo dentro do corpo, como implantes, aumentando a intensidade do tratamento no local
desejado e preservando a maior parte dos tecidos sadios à sua volta (INSTITUTO DE
INFORMAÇÃO E SUPORTE EM ONCOLOGIA, 2001).
Como citado anteriormente, o tratamento por radioterapia pode causar efeitos
colaterais, podemos destacar: a perda temporária ou permanente de pelos/cabelos na área que
está sendo tratada, fadiga, perda de apetite, manchas na pele e até mesmo a perda de glóbulos
brancos, facilitando o acometimento de anemias. Entretanto, atualmente estes efeitos já
podem ser controlados ou evitados com a utilização conjunta de medicações (STRAUB,
2005).
Yamaguchi (1994) reforça a importância de passar as informações sobre as possíveis
reações e alterações na autoimagem durante o tratamento ao paciente e família desde o início,
fazendo a ponderação entre riscos e benefícios, e assim facilitando a aderência do mesmo ao
tratamento.
Outro método muito utilizado no combate ao câncer é a quimioterapia, que consiste
no uso de medicamentos (substâncias químicas) que agem na destruição das células
cancerosas. Diferente da radioterapia que se restringe a área afeta para o recebimento dos
raios, a quimioterapia “[...] pode destruir células cancerosas que se espalharam para partes do
corpo afastadas do tumor original ou primário” (STRAUB, 2005, p. 381).
A administração da droga pode ser feita por via oral, através de pílulas ou cápsulas,
por injeções no músculo ou na veia, ou através de cateteres; passando pela corrente sanguínea
e atingindo todas as áreas do corpo. As aplicações podem ser feitas em ambulatório ou
durante internação hospitalar (INSTITUTO DE INFORMAÇÃO E SUPORTE EM
ONCOLOGIA, 2001).
A quimioterapia é considerada uma grande “arma terapêutica” contra o câncer,
podendo ser usada na cura da doença (dependendo do seu estágio), reduzir ou impedir o
31
crescimento, evitar que ela se espalhe, matar as células cancerosas e aliviar sintomas causados
pelo câncer.
Por conta da forma que é inserida e de como age no corpo, além das células
cancerígenas, células sadias também podem sofrer alterações durante o tratamento.
Yamaguchi (1994) explica que a quimioterapia afeta principalmente as células que tem rápida
multiplicação, como no caso das células do bulbo capilar, medula óssea e mucosas.
Felizmente, a maioria dos efeitos colaterais causados pelo uso deste tipo de medicação é
temporário e desaparece ao fim do tratamento.
É importante salientar que os sintomas causados pelo uso destes métodos não se
aplicam igualmente à todas as pessoas, estes variam em função das características de cada
sujeito. Por isso cabe ao médico e equipe de saúde atender a cada demanda de maneira única,
podendo ajustar sempre que necessário o tipo de tratamento que o paciente irá receber.
A radioterapia e a quimioterapia também podem ser utilizadas antes de uma
intervenção cirúrgica, facilitando o manejo durante o procedimento e contribuindo para um
melhor resultado, bem como após a cirurgia, com o intuito de prevenir recidivas e metástases.
Por conta da forte capacidade de afetar o sistema imunológico, que é a parte do nosso
corpo responsável pelas nossas defesas, a quimioterapia tem sofrido alterações. Agora, com a
imunoterapia, em que são usados “medicamentos para aumentar a capacidade do sistema
imunológico de atacar as células cancerosas de forma seletiva”, o próprio corpo se torna capaz
de se defender contra as “células malignas” (STRAUB, 2005, p. 382).
Entretanto, Yamaguchi (1994, p. 28) destaca,
A palavra hospital tem origem latina (Hospitalis), derivada do latim hospes (hóspede),
o significado se deu graças às antigas casas de assistência que recebiam peregrinos, pobres e
enfermos. Hoje, o termo hospital tem a mesma compreensão de Nosocomium, de origem
grega, e significa “tratar os doentes”, como Nosocomium quer dizer “receber os doentes”.
Além de viajantes, o estabelecimento poderia também receber os chamados incuráveis e
insanos, tornando-o conhecido como “hospitium”, ou seja, hospício, usado para designar os
hospitais psiquiátricos (BRASIL, 1965).
O livro do Ministério da Saúde (BRASIL, 1944) destaca que, ao contrário do que
muitos autores apresentam, o hospital teve origem antes da era cristã, mas é fato que o
cristianismo impulsionou e desvendou novos olhares aos serviços de assistência. Há ainda
textos documentados sobre a atividade de médicos na Mesopotâmia do tempo Assírio-
Babilonesco.
Campos (1995) explica como os médicos aprendiam medicina durante a Grécia, Egito
e Índia antigos e o exercício acontecia em locais junto aos templos e a prática era realizada no
domicilio das pessoas enfermas. Na Grécia, muitos anos antes da Era Cristã, já podiam ser
encontrados construções semelhantes a hospitais próximas aos templos dedicados a
Esculápio4. Nessas estruturas, eram colocados os doentes diante da estátua do Deus para que,
dessa forma, a ação dos sonhos associada aos medicamentos empíricos dos sacerdotes
pudesse curar os enfermos.
Há ainda leituras que revelavam que os hospitais não passavam de espécies de
depósitos em que se amontoavam pessoas doentes, destituídas de recursos, de função social, e
não terapêutica. Foi por influência cristã, e por isso a história do hospital começa a ser
contada a partir de Cristo, que o homem começa a demostrar preocupação com seus
semelhantes. Sob a crença “Amar o próximo como a si mesmo”, surge em Óstia a primeira
entidade assistencial, no ano 360 d.C. (CAMPOS, 1995).
Segundo a autora, foi por determinação de Dona Fabíola que se deu início a “Era dos
Hospitais”, realizando atividades básicas de restaurar a saúde e prestar assistência, através de
4
Esculápio (em latim: Aesculapius) é, na mitologia grega e romana, o deus da medicina e da cura.
Aprendeu o poder curativo das ervas e a cirurgia, e adquiriu tamanha habilidade que podia trazer os
mortos de volta à vida.
34
Com isso, o médico assume o controle do regime alimentar, a ventilação, o ritmo das
bebidas e demais fatores de cura, o que antes era de privilegio dos religiosos. Além disso, o
número de visitas aumenta, passando de uma vez ao dia para, em 1770, a residência médica,
assim o médico poderia ser chamado e se locomover a qualquer hora do dia ou da noite à
serviço dos enfermos (FOUCAULT, 2007).
Em torno dos anos 1780 e 1790, os médicos passam a ter a obrigação de registrar as
atividades realizadas no hospital, com isso, o saber médico, que até então era apenas
encontrado nos livros, passa a ser de domínio também da instituição, agora a formação
normativa do médico deveria passar pelo hospital, que “além de ser um lugar de cura, este é
também lugar de formação de médicos” (FOUCAULT, 2007, p. 64).
Sob a influência da colonização portuguesa no Brasil, os hospitais brasileiros tiveram
de mudar radicalmente a forma como tratavam os pacientes, principalmente os indígenas que
sofreram grande mudança cultural. Assim surgem as Santas Casas de Misericórdia, seguindo
os regulamentos e disposições da Santa Casa de Misericórdia de Lisboa.
Campos (1995) revela que foi em Santos, litoral paulista, que surgiu a primeira Santa
Casa no Brasil, no ano de 1524. Posteriormente, de 1590 a 1599, mais uma Santa Casa é
criada, dessa vez em São Paulo, para atender os próprios explorados e colonizadores da época.
Neste primeiro momento, os hospitais ainda tinham o foco maior nos doentes e não
nas doenças, até que os profissionais pudessem compreender assuntos como a fisiopatologia e
patologia das diversas afecções. Além disso, era de suma importância estudar sobre agentes
microbianos e a atividade que eles desenvolvem na gênese das doenças infecciosas, assim, os
profissionais podiam ampliar os cuidados com os enfermos que necessitavam de cuidados
especializados.
Mello (2008) relata que foi durante o período em que o Brasil era Colônia Império que
outros hospitais surgiram, seguindo o mesmo modelo das Santas Casas de Portugal, porém
tinham como principal objetivo prestar caridade e abrigar pobres e desabrigados. Fala ainda
que durante o governo de Getúlio Vargas, foram criados Institutos de Previdência que tinha a
missão de assistência médico-social a algumas categorias profissionais, como: para os
marítimos (1933), para bancários (1934), para industriários (1936), para servidores do Estado
(1938), para os trabalhadores em transportes e cargas (1938) e para os comerciários (1940).
Teixeira et al. (2006) apresenta que houveram muitas tentativas de universalizar a
acessibilidade em relação à saúde brasileira, como o Programa de interiorização das Ações de
Saúde e Saneamento (PIASS), o Prev-saúde, o Programa de Ações Integradas de Saúde
36
(PAIS) e o Sistema Único e Descentralizado de Saúde (SUDS), todas antes do atual e ainda
vigente no país, Sistema Único de Saúde (SUS).
O Sistema Único de Sáude (SUS) foi criado pela Constituição Federal em 1988 com o
objetivo de garantir o acesso universal às ações e serviços de saúde a toda população
brasileira, sendo então oficializado pela Lei Nº 8080/90 (MELLO, 2008).
Em 1980, a Organização Sanitária Brasileira era caracterizada pela diversidade de
instituições que prestavam cuidados em saúde e pela profunda dicotomia entre as práticas de
prevenção e promoção e as atividades de natureza curativa, ou seja, tinha foco biológico,
técnico e positivista. Campos (1995), explica que foi com o desenvolvimento dos
conhecimentos preventivos em saúde que as medidas práticas foram aplicadas à abordagem
dos problemas de saúde das comunidades.
Assim, outro tipo de instituição foi criado, produto do desenvolvimento das atividades
de prevenção e promoção de saúde, as unidades de saúde estavam especialmente ligadas ao
poder público. Essa divisão de organizações e atividades consolidava a especialização de
tarefas que mesmo quando competia ao hospital desenvolver atividades preventivas, o mesmo
se detinha às atividades curativas (CAMPOS, 1995).
A autora reforça que somente quando for possível superar a divisão entre o
atendimento curativo e o preventivo que se chegará ao terceiro momento da evolução dos
hospitais, onde todos os serviços de saúde devem trabalhar desde a prevenção até a
reabilitação e que os cuidados médicos devem ser dirigidos a todos.
Segunda a Organização Mundial de Saúde o hospital é definido como
Chiattone (2009, p. 145) faz uma breve e importante reafirmação desse pensamento,
a atuação do psicólogo será nos centros de saúde, unidades básicas de saúde, consultórios e
em domicilio, priorizando a saúde geral, além disso, o psicólogo precisa ter conhecimento de
epidemiologia, antropologia, saúde pública, políticas sociais e públicas de saúde, indicadores
do desenvolvimento humano.
Acerca dos níveis secundário e terciário, níveis de possível atuação do psicólogo
hospitalar, os autores pontificam
Chiattone (2009, p. 78) complementa esta nova etapa da Psicologia ao explicar que
Por outro lado, esta afirmação de Chiattone levanta críticas quanto ao trabalho dos
psicólogos nos hospitais, no sentido que devido às várias faces e possibilidades de intervenção
podem tornar confusa a prática deste profissional. Para que este problema seja resolvido,
segundo Eksterman (1992 apud CHIATTONE, 2009), é preciso que o psicólogo tenha uma
formação psicodinâmica sólida, capaz de estabelecer estratégias de atendimentos próximas ao
modelo da psicologia médica.
Chiattone (2009) explica ainda que apesar de historicamente a inserção dos psicólogos
nas instituições hospitalares esteja fundamentada e caracterizada como apenas “aplicadores de
testes” e auxiliares nas equipes de saúde mental, é necessário compreender que o fator
determinante do trabalho da Psicologia no hospital não é o local, e sim a definição da tarefa.
Não se pode ignorar o fato de que a ausência de uma perspectiva e linha uniforme que
fundamente a atuação do psicólogo no hospital, associado a outros problemas já citados,
resulte em trabalho ignorante e desnorteado. A falta de valorização e investimento na área
43
também são fatores apontados por Chiattone (2009), segundo a autora, a pressão do mercado
de trabalho que insere profissionais recém-formados nas instituições sem a preparação
necessária e devida qualificação, resultam numa prática cada vez mais inapropriada.
Em complemento a isto, os termos psicológicos usados por profissionais que se
intitulam psicólogos hospitalares, mas que na verdade não podem ser assim nomeados, pois
A utilização da Psicoterapia Breve (PB) se torna a técnica mais adequada para atender
às demandas de situações clínicas, ambulatoriais e de emergência como exige o cenário
hospitalar. Este modelo de atuação surge como uma forma de abreviar o modelo psicoterápico
psicanalítico tradicional.
Não se trata, entretanto, de um simples encurtamento de tempo do processo
terapêutico, constitui-se de “[...] um campo a ser investigado em sua estrutura dinâmica e
particular, própria a suas necessidades e limitações particulares” (LUSTOSA, 2010, p. 263).
Lustosa (2010) pontua que a PB é muito bem empregada em quadros agudos, como
em situações de emergências e crises; distúrbios reativos; reações ansiosas ou fóbicas e
perturbações psicossomáticas de início recente. Também, mostra-se adequada à aplicação no
hospital, onde a população encontra-se em grande quantidade, em contrapartida ao número de
profissionais da saúde, ainda incapacitados.
Além disso, vale acrescentar que enquanto profissional atuante de uma instituição, o
psicólogo tem de ter bastante claros os limites institucionais de sua atuação. O profissional
deve levar em consideração questões imprescindíveis, como a compreensão aprofundada
acerca da essência do sofrimento do paciente hospitalizado; de que a desospitalização pode
também estar aliado a este saber para que ocorra (avaliação das condições emocionais); e a
humanização como transformador social.
Por fim, faz-se importante ressaltar que evidentemente muitos casos abordados pelo
psicólogo no hospital necessitarão, após o processo de hospitalização, encaminhamentos
específicos para processos de psicoterapia, devido à complexidade e emaranhado de sequelas
e comprometimento emocional (ANGERAMI-CAMON, 2002).
No próximo tópico apresentaremos as possibilidades de trabalho da Psicologia focado
no setor de Oncologia do hospital, evidenciando a Psico-oncologia como uma importante
aliada no tratamento do câncer.
A autora explica que foi a partir dos avanços nas áreas médicas, entre os anos de 1920
e 1950, que médicos oncologistas sentiram a necessidade de incluir, como aspecto relevante
ao tratamento, fatores psicológicos de pacientes diagnosticados com câncer, assim, o auxílio
da unidade de Psiquiatria começa a ser requisitado, principalmente no intuito de tornar o
processo de tratamento “menos assustador” que o próprio diagnóstico da doença.
Bayés (1985 apud GIMENES, 1994) associa o desenvolvimento da Psico-oncologia a
diversos fatos; como o reconhecimento de que o câncer está vinculado a fatores psicológicos,
comportamentais e sócias; a importância da valorização dos mais diversos tipos de tratamento
pela comunidade da área da saúde; e por fim, a Psicologia, juntamente com outras áreas
importantes da saúde, foi fundamental para o aumento da sobrevida de pacientes após o
diagnóstico.
A doutora e médica psiquiatra, também fundadora da Associação Internacional da
Psico-oncologia, Jimmy Holland (1928 – 2017) definiu a Psico-oncologia como uma
subespecialidade da Oncologia que procura estudar o impacto do câncer no funcionamento
emocional do paciente, sua família e profissionais envolvidos em seu tratamento, além de
investigar o papel das variáveis psicológicas e comportamentais na incidência e na
sobrevivência do câncer.
Tomando por base uma análise aprofundada dos conteúdos apresentados em encontros
brasileiros de Psico-oncologia, Gimenes (1994) define esta área como uma interface entre a
Psicologia e a Oncologia que utiliza conhecimento educacional, profissional e metodológico,
aplicada na assistência ao paciente oncológico, sua família e profissionais de saúde
envolvidos desde a prevenção até, a depender de cada caso, a fase terminal da doença.
Além disso, a Psico-oncologia pode ser aplicada em pesquisas e no estudo de variáveis
psicológicas e sociais que ajudam na compreensão da incidência, recuperação e tempo de
sobrevida após o diagnóstico do câncer. Por último, segundo a autora, esta área pode atuar
também na organização de serviços oncológicos que objetivam o atendimento integral do
paciente, destacando a importância da formação e preparação desses profissionais da saúde.
No Brasil, já pode-se observar um avanço da Psico-oncologia graças à crescente
demanda de atendimento psicológico nos setores de oncologia dos hospitais. Com esse
avanço, a procura por capacitação e formação por parte dos profissionais da Psicologia
aumentam expressivamente (VEIT; CARVALHO, 2010).
52
fragilidade conjunta, afinal, essas pessoas também têm sua rotina alterada e vivenciam as
angustias do tratamento de forma intensa.
Por isso, torna-se importante que o profissional da Psicologia atue também em prol
dessas famílias como parte do tratamento oferecido no setor de Oncologia. Através de uma
escuta atenta e sensível as questões que surgem neste momento delicado, facilitando a
elaboração das angustias sofridas e ampliando as possibilidades de enfrentamento da situação
(CARDOSO, 2007).
A intervenção dos profissionais de Psicologia no setor de Oncologia, ou como alguns
autores os referem como psico-oncologistas, ocorre nos três níveis de saúde: primário,
secundário e terciário. A seguir faremos uma breve apresentação de cada um deles e qual o
objetivo destes profissionais na prática, segundo as explicações de Gimenes (1994).
A intervenção em nível primário acontece de maneira preventiva, com isso, visa atuar
sobre os estilos de vida do indivíduo, o estresse diário a que os mesmos são expostos e o
comportamento alimentar. Este trabalho tem como objetivo promover mudanças de atitude e
comportamentos que facilitem os hábitos de uma vida saudável.
Promover o reconhecimento do papel de políticas econômicas, sociais, psicológicas e
educacionais na população, afinal, para que ocorra uma intervenção é preciso que a Psico-
oncologia atue no processo de orientação das autoridades e da população de que o câncer
depende também de uma postura governamental com políticas efetivas de minimização da
incidência da doença.
Educar a população acerca de assuntos de natureza e importância psicológica que tem
impacto direto em suas vidas diariamente, como o estresse e a ansiedade. Além disso, tão
importante quanto orientar e informar sobre esses assuntos, é traças estratégias de como lidar
com essas situações no dia-a-dia.
A intervenção em nível secundário está relacionada a educação para a detecção do
câncer, com isso, os principais objetivos nesse nível de cuidado e assistência são: informar a
população em geral sobre os procedimentos preventivos da doença e seus mais variados tipos;
promover a adoção de hábitos frequentes e sistemáticos de detecção precoce.
Preparar os profissionais da área da saúde para lidar com a população a fim de
facilitar a comunicação entre ambas as partes; e promover a análise de fatores psicológicos e
sociais responsáveis pela não-adesão a programas de prevenção. A atuação do profissional da
Psicologia pode ser importante em qualquer – ou todas – essas etapas.
54
o que faz e por interpretar suas ações dentro e a partir da realidade vivida e
partilhada com seus semelhantes. (MINAYO; DESLANDES; GOMES,
2012, p. 21, grifos do autor)
González Rey (2005) ressalta que um estudo que possua um enfoque na subjetividade
numa abordagem qualitativa direciona-se para a elucidação e para o conhecimento de novos e
complexos procedimentos que compõe a subjetividade. Destarte, essa pesquisa não possui
como requisito a predição, a descrição e o controle das etapas metodológicas presentes na
pesquisa quantitativa.
Esse é um estudo bibliográfico realizado a partir de buscas na literatura existente sobre
a temática. Para isso, foram analisados artigos científicos encontrados na ferramenta de
pesquisa Google Acadêmico após uma procura atenta dos materiais que, ao nosso
entendimento, seriam fundamentais para essa pesquisa.
O Google Acadêmico é uma ferramenta de pesquisa do Google característica pela
gama de produções científicas e facilidade de acesso a artigos, teses, revistas, dissertações e
outros materiais de variados temas e áreas de estudo.
As buscas foram realizadas durante os dias 11 a 21 de janeiro de 2021, delimitando um
período entre 2010 e 2020, com o objetivo de incluir pesquisas atuais a este estudo. A
princípio, a pesquisa foi feita através dos descritores que constam na Biblioteca Virtual em
Saúde (BVS) e Descritores em Ciência da Saúde (DECS): “Câncer de mama” com 16.400
resultados, e “Psico-oncologia” com 4.990 resultados, destes, foi percebido que muitos
materiais se repetiam em diferentes bases de dados.
59
câncer de mama
Este estudo teve como objetivo analisar as
repercussões psicológicas do tratamento do câncer
de mama a partir dos relatos apresentados
espontaneamente por mulheres acometidas pela
doença durante as sessões de um grupo de apoio.
Trata-se de um estudo qualitativo, com desenho
metodológico documental e enfoque naturalístico,
cujo o corpus foi constituído por 18 sessões do
referido grupo, nas quais estiveram presentes, no
total, 93 mulheres. O critério de saturação foi
adotado para a composição do corpus, sendo que o
mesmo foi submetido à análise temática de
conteúdo. Observou-se que, além de repercussões
psicológicas negativas que refletem perdas
associadas à esfera simbólica da feminilidade, o
tratamento do câncer de mama pode também
implicar em repercussões psicológicas positivas,
passíveis de uma melhor compreensão a partir do
recurso à noção de “crescimento pós-traumático”.
Novos estudos dedicados especificamente a esse
assunto, contudo, são necessários.
Palavras-chave: psico-oncologia; neoplasias
mamárias; crescimento pós-traumático.
4. Sexualidade e câncer de mama: uma revisão Daniela Barsotti Santos; 2014
sistemática da literatura Manoel Antônio dos
O objetivo deste estudo foi compreender como o Santos e Elisabeth
câncer de mama e seus tratamentos afetam a Meloni Vieira
vivência da sexualidade da mulher acometida. Foi
realizada uma revisão sistemática qualitativa de
artigos científicos, publicados entre 2000 e 2010,
disponíveis nas bases de dados PubMed, Web os
Science, LILACS e SciELO. Foram obtidos 50
artigos cujos textos foram categorizados segundo
análise de conteúdo temática. Foram identificadas
seis categorias temáticas: a cirurgia mamária e os
demais tratamentos para o câncer de mama; a
experiência da mulher acometida; o relacionamento
afetivo-sexual; estudos sobre relação entre
sexualidade e características específicas do câncer;
os profissionais de saúde e a atenção à sexualidade;
e propostas para amenizar as consequências
negativas do tratamento na sexualidade. Há
necessidade de novos estudos a respeitos dos
aspectos culturais da sexualidade, diversidade
sexual, relacionamento com o parceiro, formação
do profissional de saúde e intervenções em
sexualidade no contexto do câncer de mama.
Palavras-chave: neoplasias da mama; sexualidade;
revisão sistemática.
5. Intervenções Grupais para Mulheres com Manoel Antônio dos 2019
Câncer de Mama: Desafios e Possibilidades Santos e Carolina de
Este estudo teve por objetivo analisar a produção Souza
cientifica nacional e internacional sobre os grupos
62
conteúdo, ou seja, com a materialidade linguística através das condições empíricas do texto,
estabelecendo categorias para sua interpretação” (CAREGNATO; MUTTI, 2006, p. 683).
Dessa forma, a análise de dados a partir da utilização da metodologia de Bardin (2004)
exige do pesquisador um trabalho atencioso e explanatório com o intuito de ressaltar o
entendimento da mensagem que o autor pesquisado transmite, além de realizar uma melhor
compreensão sobre o que está presente no conteúdo do texto.
A análise de conteúdo de Bardin (2004) estabelece a categorização de três polos
cronológicos: (1) a pré-análise; (2) a exploração do material e (3) o tratamento dos resultados,
a inferência e a interpretação. A pré-análise é a fase de organização, tem por objetivo tornar
operacionais e sistematizar as ideias iniciais, a fim de conduzir um esquema preciso do
desenvolvimento das operações sucessivas. É, neste primeiro momento que acontece a
escolha dos documentos que serão analisados, a formulação de hipóteses e dos objetivos e a
elaboração da interpretação final.
O próximo passo é a exploração do material, esta fase consiste na administração
sistemática das decisões tomadas, a confirmação das impressões e hipóteses a partir da
decodificação, decomposição e/ou enumeração dos dados em função de regras previamente
formuladas. Os dados brutos são transformados de forma organizada e agregados em
categorias de análise. Dessa forma, é possível estabelecer uma descrição das características
apropriadas do conteúdo. Por fim, o tratamento dos resultados consiste na maneira como os
dados são tratados de maneira a serem significativos e válidos.
Destarte, organizamos os resultados obtidos através de categorias de análise, assim,
foram agrupados os elementos presentes nas mensagens de acordo com suas características
comuns e semelhantes. Esse processo de categorização da análise de conteúdo tem o intuito
de oferecer, de maneira condensada, uma representação simplificada dos dados brutos
(BARDIN, 2004). As categorias de análise encontradas para esta pesquisa foram:
1) O reconhecimento do impacto psicológico desde o diagnóstico;
2) As possibilidades de atuação da Psicologia no tratamento do câncer de mama; e
3) A importância do acompanhamento psicológico à paciente, familiares e equipe de
saúde responsável.
Dessa forma, buscamos organizar um diálogo entre os capítulos anteriormente
apresentados e as considerações da literatura sobre a temática. Além disso, buscaremos
realizar uma discussão sobre os eixos principais de cada artigo científico selecionado para esta
64
Assim, como já foi apresentado em capítulos anteriores, o câncer de mama recai sob
um dos principais símbolos corpóreos da mulher e sua feminilidade, isso o torna o tipo de
câncer mais temido pelas mulheres. O seio feminino é carregado de significações ligadas à
sexualidade, sensualidade e maternidade, além do prazer.
No artigo 4 de Santos, Santos e Vieira (2014), os autores destacam as repercussões
psicossociais trazidas a partir da descoberta e confirmação da doença, como a preocupação e
as dúvidas quanto a recuperação, essa angústia aflige também as relações familiares e suscita
questionamento quanto suas próprias crenças e valores; além de confrontar concepções
culturais sobre a feminilidade e beleza como os atributos aos seios e cabelos, características
fortemente afetadas no processo de tratamento do câncer de mama.
Os autores do artigo 1(MENEZES; SCHULZ; PERES, 2012) também fazem uma
breve explanação de como o tema é abordado em outros países, como nos Estados Unidos da
América e o quanto as atitudes tomadas no contexto brasileiro são diferentes às norte
65
americanas no que diz respeito à prevenção, enfatizando a necessidade de tomar cuidado com
as generalizações de alguns estudos sobre o impacto psicológico do diagnóstico do câncer de
mama.
De forma geral, a assistência psicológica é um assunto presente na maioria dessas
pesquisas, em diferentes culturas, comprovando a eficácia da atuação do profissional da
Psicologia no auxílio às mulheres acometidas pelo câncer de mama. Menezes, Schulz e Peres
(2012, p.234) explicam como a atuação do psicólogo pode ajudar a mulher acometida a “[...]
adotar estratégias de enfrentamento adaptativas face ao diagnóstico [...]” viabilizando uma
melhor adesão durante o tratamento. E acrescentam
É comum que a grande maioria das produções acerca do câncer de mama se volte para
as influências e manifestações psicológicas durante o tratamento da doença. Porém é
fundamental pensarmos sobre o momento do diagnóstico como sendo o ponto de impacto
emocional de maior dimensão para a vida da mulher, visto o tanto de mudanças que a mesma
e sua família tem de encarar a partir deste fenômeno.
Dando continuidade, a pesquisa feita por Menezes, Schulz e Peres (2012) apresenta
reações emocionais significativas para fundamentar este tópico. Os pesquisadores reuniram os
relatos referentes ao impacto psicológico do câncer de mama exteriorizados pelas pacientes e
participantes de um grupo de apoio, de maneira espontânea, e puderam identificar sentimentos
de surpresa, tensão, aceitação, força, além de tentativas de explicação, religiosidade e
relacionamentos.
No estudo, as pacientes relataram a surpresa ao receberem o diagnóstico e isso se vale
do que já abordamos anteriormente ao falarmos das constantes dúvidas e demora dos
resultados dos exames, a longa espera pela confirmação da doença é muitas vezes causadora
de tensão e ansiedade. Além de que essas mulheres já vivenciavam uma desestruturação
pessoal e familiar significativa.
A partir desse relato, é possível inferir a participação da família neste momento, afinal
ela também é afetada com a notícia inesperada e este sentimento de impotência pode
permanecer por muito tempo depois do diagnóstico. Ambrósio e Santos (2011, p.476) referem
que a “[...] experiência de enfrentamento (da doença) pode comprometer as relações
familiares, ocasionando estresse, tensão e reativação de conflitos latentes [...]”, dado que a
doença altera o papel social do sujeito enfermo e a dinâmica familiar, como aponta Carvalho
(2008).
Baider (2003) contribui ao afirmar que a família não é um espelho sem reflexo, isso
quer dizer que é um sistema que reverbera o medo e as ansiedades da paciente e de cada um
dos membros que compõem a unidade familiar. Dessa forma, o diagnóstico do câncer de
mama tem o potencial de causar impactos a variados segmentos da vida da mulher acometida,
inclusive na relação com o próprio companheiro, no medo de perder atratividade sexual e não
ser mais desejada. (SANTOS; SANTOS; VIEIRA, 2014)
No artigo 3 (SANTANA; PERES, 2013), os autores fazem uma breve explanação
sobre as repercussões da doença nos relacionamentos sociais, familiares e amorosos das
mulheres
[...] amigos, entes e cônjuges também são abalados pelas ameaças de perdas
associadas à doença, apresentando reações de atordoamento às quais, para
Bervian e Girardon-Perlini (2006), podem-se suceder tanto o distanciamento
quanto a aproximação. Nos casos em que a primeira opção prevalece, uma
importante rede de apoio se perde, pois, de acordo com Fabbro e Westin
(2009), as pessoas com as quais as mulheres convivem podem auxiliar
sobremaneira no enfrentamento da doença, quer seja dividindo afazeres ou
compartilhando emoções e transmitindo segurança. (SANTANA; PERES,
2013, p.32)
Diante disso, Santos e Souza (2019) destacam que a assistência oferecida às mulheres
através dos grupos de apoio não deve manter o foco apenas na doença e reabilitação física,
mas abranger um contexto mais amplo da vida da mulher, como aspectos psicológicos,
culturais, educacionais, econômicos e sociais. E acrescentam que ao abordar assuntos para
além da doença pode ser até mais efetivo que manter o foco sobre a mesma.
Os grupos terapêuticos ou de apoio se tornam, portanto, fortes aliados no tratamento
do câncer de mama em mulheres em diferentes vertentes, não somente psíquica. O artigo 5
evidencia como este recurso contribui para potencializar o enfretamento das situações de
estresse e o medo da recidiva da doença, além de amenizar as manifestações de ansiedade,
depressão, raiva e hostilidade. Também,
É preciso pontuar que o grupo terapêutico é uma forma de atendimento muito usada
neste contexto principalmente por ter um tempo de duração mais curto que um
acompanhamento terapêutico individual clínico, e promove tantos benefícios quanto o
mesmo. Vale ressaltar que o tempo do hospital muitas vezes acaba limitando abordagens de
71
longa duração, por isso é necessário utilizar estratégias que podem ser realizadas em curto
prazo e ainda assim obter bons resultados.
De acordo com Sette e Gradvohl (2014 apud QUEIROZ; SANTOS; PARRAGA,
2019, p. 20) a função do psicólogo no acompanhamento de mulheres com câncer de mama é
“[...] favorecer a adaptação aos limites; às mudanças impostas pela doença; ajudar na tomada
de decisões, bem como no manejo da dor e do estresse; preparar a paciente para
procedimentos invasivos e dolorosos”. Consequentemente, promove melhorias na qualidade
de vida e bem-estar dessas mulheres.
Os mesmos autores fazem um adendo quanto a oferta do serviço psicológico às
pacientes, podendo ser rejeitado num primeiro momento, afinal, lidar com questões que estão
tão emergidas pode ser muito difícil. Entretanto, é preciso que o profissional demonstre
respeito e se coloque disponível para quando for solicitado.
Baider (2003) explica como a família tem um papel importante no cuidado do paciente
com uma doença crônica, como o câncer. Para a autora, a família pode ser definida como
“unidade ética do cuidado”, e ao invés de perceber a doença centrada numa única pessoa, é
preciso entender como os sintomas podem ser concebidos em toda unidade familiar.
Assim como a paciente, a família também espera receber acolhimento por parte da
equipe de saúde para retirar suas dúvidas, compartilhar sentimentos de angústia, dificuldades,
desafios e as vivências enfrentadas neste período de suas vidas. Um estudo realizado por
Ambrósio e Santos (2011) relevou o quanto receber orientações prévias acerca do que poderia
ocorrer durante o tratamento amenizou o impacto psicológico dos familiares.
Em um dos relatos obtidos na pesquisa, os autores puderam identificar falas de apoio a
assistência que alguns familiares receberam durante o tratamento da paciente – no estudo,
suas mães – e relataram o quanto a psicoterapia os auxiliou a superar suas dificuldades e
reconhecer a experiência pela qual estavam atravessando.
Dessa forma, Almeida et al. (2001 apud AMBRÓSIO; SANTOS, 2011, p. 481) destacam
Ainda, como destaca Schmid-Büchi, Halfens, Dassen e Van Den Borne (2008)
conforme citado por Ambrósio e Santos (2011, p. 482), “[...] assegurar o atendimento
psicológico à família é fundamental, na medida em que esta desempenha papel importante
para a mulher acometida pelo câncer de mama, uma vez que as reações familiares contribuem
de maneira decisiva para a recuperação da paciente.”.
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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Essa pesquisa teve como tema principal a importância da atuação da Psicologia diante
do diagnóstico de câncer de mama em mulheres. O interesse em falar sobre esta temática
surgiu de percepções recorrentes das intervenções durante a participação nos grupos
terapêuticos no período de estágio e a narrativa das mulheres participantes desse grupo acerca
do desamparo na assistência psicológica durante os primeiros momentos após o diagnóstico
da doença.
Dentre as práticas citadas acima, destacamos os grupos de apoio por exercerem uma
função de extrema importância no acompanhamento e tratamento de mulheres com câncer de
mama, reafirmam a necessidade da atuação da psicologia ao proporcionar um ambiente
seguro para a troca de experiências, escuta de relatos e a narrativa real de pacientes que
possuem queixas em comum, geram identificação e ressignificação de sentimentos em
conjunto. Esta afirmação se concretiza ao relembrarmos das vivências do estágio e os relatos
das participantes sobre a eficácia do grupo em relação ao enfrentamento da doença e
empoderamento feminino.
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