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UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS

CAMPUS ARAPIRACA
UNIDADE EDUCACIONAL PALMEIRA DOS INDIOS
CURSO DE PSICOLOGIA

ISABELLA BARBOSA MARQUES DE ALMEIDA

A IMPORTÂNCIA DA ATUAÇÃO DA PSICOLOGIA DIANTE DO DIAGNÓSTICO DE


CÂNCER DE MAMA EM MULHERES

PALMEIRA DOS INDIOS


2021
Isabella Barbosa Marques de Almeida

A IMPORTÂNCIA DA ATUAÇÃO DA PSICOLOGIA DIANTE DO DIAGNÓSTICO DE


CÂNCER DE MAMA EM MULHERES

Trabalho de Conclusão de Curso - TCC


apresentado a Universidade Federal de
Alagoas – UFAL, Campus de Arapiraca,
Unidade Educacional Palmeira dos Índios,
como pré-requisito para a obtenção do grau de
Graduação em Psicologia.
Orientadora: Prof.ª Me. Caroline Cavalcanti
Padilha Magalhães.

PALMEIRA DOS ÍNDIOS


2021
Catalogação na fonte
Universidade Federal de Alagoas
Biblioteca Setorial Palmeira dos Índios
Divisão de Tratamento Técnico

Bibliotecária Responsável: Kassandra Kallyna Nunes de Souza (CRB-4: 1844)

A447i Almeida, Isabella Barbosa Marques de


A importância da atuação da psicologia diante do diagnóstico de câncer
de mama em mulheres/ Isabella Barbosa Marques de Almeida, 2021.
87 f.

Orientadora: Caroline Cavalcanti Padilha Magalhães.


Monografia (Graduação em Psicologia) – Universidade Federal de
Alagoas. Campus Arapiraca. Unidade Educacional de Palmeira dos Índios.
Palmeira dos Índios, 2021.

Bibliografia: f. 80 – 87

Psicologia. 2. Psicologia hospitalar. 3. Doentes hospitalizados -


Psicologia. I. Magalhães, Caroline Cavalcanti Padilha. II. Título.

CDU: 159.9
Isabella Barbosa Marques de Almeida

A importância da atuação da Psicologia diante do diagnóstico de câncer de mama em


mulheres

Trabalho de Conclusão de Curso - TCC


apresentado a Universidade Federal de
Alagoas – UFAL, Campus de Arapiraca,
Unidade Educacional Palmeira dos Índios,
como pré-requisito para a obtenção do grau de
Graduação em Psicologia.
Data de Aprovação: 29/09/2021.

Banca Examinadora

Prof.ª Me. Caroline Cavalcanti Padilha Magalhães


Universidade Federal de Alagoas – UFAL
Campus Arapiraca – Unidade Palmeira dos Índios
(Orientadora)

Prof.ª Me. Lidiane dos Santos Barbosa


Universidade Federal de Alagoas – UFAL
Campus Arapiraca – Unidade Palmeira dos Índios
(Examinadora)

Psicóloga Esp. Claudiene Deolindo Vital Teixeira


CHAMA – Complexo Hospitalar Manoel André
(Examinadora)
A minha mãe, que foi a principal inspiração
para esse estudo e sempre me mostrou que
toda experiência é válida nessa vida. As
pacientes e usuárias dos serviços de saúde do
Hospital CHAMA que tanto me ensinaram
durante o período que pude acompanha-las e
que por muitas vezes tiveram suas narrativas
invalidadas e dores ignoradas.

Dedico.
AGRADECIMENTOS

Agradeço, primeiramente, a Deus, afinal, sem Ele nada seria possível. Durante todo
este processo, minha fé se manteve firme e em nenhum momento me deixou desistir dos meus
sonhos.

A minha família, de maneira geral, e em específico a minha mãe, Genilva Barbosa de


Almeida, que sempre foi meu alicerce e maior exemplo de determinação, garra e força. Que
me lembra todos os dias do amor de Deus e de que nenhum obstáculo é tão grande quando
temos fé.

Ao meu pai, Jarbas Barbosa Marques, que mesmo quando não sabia como ajudar, me
deu o suporte para ir sempre adiante. Também, as minhas irmãs que sempre estiveram ao meu
lado e me ofereceram ajuda durante toda caminhada.

As minhas amigas e colegas de curso que tornaram o peso e preocupações da


graduação mais leves e me proporcionaram alguns dos melhores anos de minha vida.

Ao meu querido amigo e companheiro que sempre me apoiou e acreditou em mim, e


nunca subestimou meus potenciais.

A todos os professores e supervisores que contribuíram para minha formação,


profissional e pessoal de forma direta ou indireta, em especial às minhas orientadora e
supervisora que me acolheram com tanto carinho e responsabilidade.

A todos que contribuíram até aqui, minha eterna gratidão!


RESUMO

Este trabalho foi de cunho bibliográfico e qualitativo e teve como objetivo compreender a importância
de intervenção da Psicologia diante do diagnóstico de câncer de mama feminino, utilizando como
referencial teórico e prático o acervo de materiais de autores que são destaques nesta temática, como
Valdemar Augusto Angerami-Camon e Maria Margarida de Carvalho. Inicialmente, apresentamos as
principais considerações acerca da história do câncer; suas variações, com ênfase no foco desta
pesquisa: o câncer de mama e possibilidades de tratamento. Em seguida, discutimos sobre o
surgimento do hospital, destacando a atuação da Psicologia enquanto parte da equipe de saúde na
instituição e, por conseguinte, no setor de Oncologia. Além disso, abordamos a Psico-Oncologia –
uma das especialidades da Psicologia Hospitalar – como norteadora deste estudo e das práticas do
profissional da Psicologia no setor oncológico. Mesmo recente esta área de estudo e trabalho busca
promover aos pacientes em tratamento contra o câncer novas formas de enfrentamento e
ressignificação da doença. Neste estudo apresentamos as implicações advindas do diagnóstico do
câncer de mama em mulheres e como o mesmo impacta na vida dessas pacientes de maneira física,
psíquica, social e espiritual. A fim de chegar ao objetivo proposto, buscamos estudos restritos à
temática desta pesquisa e que atendessem aos requisitos: artigos científicos na língua portuguesa,
delimitados ao período de 2010 a 2020 e produções que destacam o câncer de mama na população
feminina, descartando quaisquer produções que não seguissem estas condições. O método de análise
escolhido foi a análise de conteúdo de Bardin, que resultou nas seguintes categorias temáticas: 1) O
reconhecimento do impacto psicológico desde o diagnóstico; 2) As possibilidades de atuação da
Psicologia no tratamento do câncer de mama; e 3) A importância do acompanhamento psicológico à
paciente, familiares e equipe de saúde responsável. A partir das leituras e reflexões realizadas,
concluímos que o trabalho desenvolvido pelo profissional da Psicologia no tratamento do câncer de
mama desde seu diagnóstico é fundamental, uma vez que o mesmo atuará junto à paciente, familiares/
cuidadores e equipe a fim de promover acolhimento e contribuir para o enfrentamento da doença
através do cuidado humanizado e integrado, considerando fatores emocionais, sociais e culturais.

Palavras-chave: Psicologia Hospitalar. Psico-Oncologia. Câncer de Mama. Atuação Profissional.


ABSTRACT

This work was bibliographical and qualitative and aimed to understand the importance of Psychology
intervention in the diagnosis of female breast cancer, using as a theoretical and practical reference the
collection of materials from authors who are highlighted in this theme, such as Valdemar Augusto
Angerami -Camon and Maria Margarida de Carvalho. At first, we present the main considerations
about the history of cancer; its variations, emphasizing the focus of this research: breast cancer and
treatment possibilities. Then, we discussed the emergence of the hospital, highlighting the role of
Psychology as part of the health team in the institution and, therefore, in the Oncology sector. In
addition, we approach Psycho-Oncology – one of the specialties of Hospital Psychology – as a guide
for this study and for the practices of Psychology professionals in the oncology sector. Even though it
is recent, this area of study and work seeks to promote to patients undergoing cancer treatment new
ways of coping and giving new meaning to the disease. In this study, we present the implications
arising from the diagnosis of breast cancer in women and how it impacts the lives of these patients in a
physical, psychological, social and spiritual way. In order to reach the proposed objective, we sought
studies restricted to the theme of this research and that met the requirements: scientific articles in
Portuguese, limited to the period 2010 to 2020 and productions that highlight breast cancer in the
female population, discarding any productions that did not follow these conditions. The analysis
method chosen was Bardin's content analysis, which resulted in the following thematic categories: 1)
Recognition of the psychological impact since diagnosis; 2) The possibilities of Psychology's role in
the treatment of breast cancer; and 3) The importance of psychological support for the patient, family
members and responsible healthcare team. From the readings and reflections carried out, we conclude
that the work developed by the Psychology professional in the treatment of breast cancer since its
diagnosis is essential, since it will work with the patient, family/caregivers and staff in order to
promote welcoming and contribute to confront the disease through humanized and integrated care,
considering emotional, social and cultural factors.

Keywords: Hospital Psychology. Psycho-Oncology. Breast cancer. Professional performance.


SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO 8
2 CONSIDERAÇÕES SOBRE O CÂNCER 12
2.1 Percurso Histórico do Câncer 12
2.2 O Diagnóstico do Câncer 19
2.2.1 Principais Tipos de Câncer 23
2.2.1.1 O Câncer de Mama e suas Implicações 25
2.3 Possibilidades de Tratamento para o Câncer 28
3 O HOSPITAL, A PSICOLOGIA HOSPITALAR E A PSICO- 33
ONCOLOGIA
3.1 O Surgimento do Hospital 33
3.2 A História da Psicologia Hospitalar 38
3.3 As Possibilidades de Atuação da Psicologia no Hospital 44
3.3.1 As Intervenções da Psicologia no Setor de Oncologia 50
4 ASPECTOS METODOLÓGICOS, ANÁLISE E DISCUSSÃO DO 57
ESTUDO: IMPORTÂNCIA DA ATUAÇÃO DA PSICOLOGIA
DIANTE DO DIAGNÓSTICO DE CÂNCER DE MAMA EM
MULHERES
4.1 Caminhos da Pesquisa 57
4.2 O Reconhecimento do Impacto Psicológico Desde o Diagnóstico 64
4.3 As Possibilidades de Atuação da Psicologia no Tratamento do Câncer 68
de Mama
4.4 A Importância do Acompanhamento Psicológico à Paciente, 71
Familiares e Equipe de Saúde
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS 77
REFERÊNCIA 81
8

1 INTRODUÇÃO

Esta pesquisa surge a partir da necessidade de pensar a relevância da atuação do


profissional da psicologia desde o momento de descoberta do câncer de mama em mulheres e
como este profissional pode se tornar peça fundamental para um bom prognóstico da doença e
acompanhamento da paciente acometida, bem como o amparo à família e equipe de saúde
responsável durante o tratamento.

Tivemos como objetivo geral compreender a importância de intervenção da Psicologia


diante do diagnóstico do câncer de mama feminino. Para isso, como objetivos específicos,
pretendemos conhecer o percurso histórico de investigação e intervenção sobre o câncer de
modo geral; para, posteriormente, discutir as possibilidades de atuação da Psicologia no
hospital, mais precisamente no setor da Oncologia; e identificar as implicações psicológicas
trazidas no momento do diagnóstico; por fim, aspiramos refletir sobre as contribuições da
Psicologia diante do diagnóstico de câncer de mama e no que diz respeito à assistência aos
envolvidos (paciente, familiares/cuidadores e profissionais).

O interesse pela pesquisa sobre a importância da atuação da Psicologia diante do


diagnóstico do câncer de mama surgiu mediante as atividades e intervenções realizadas no
estágio específico em Psicologia Hospitalar, no setor de Oncologia do Complexo Hospitalar
Manoel André (CHAMA). O estágio possibilitou o conhecimento prático extracurricular de
estudantes acadêmicos a partir da entrada em campos de atuação profissional, relacionado ao
curso de formação.

As intervenções realizadas no campo durante o período de estágio tornaram possível o


contato com os/as usuários/as, também familiares e cuidadores, que utilizam os serviços
oncológicos do setor, bem como proporcionou noções fundamentais acerca da atuação da
Psicologia no campo hospitalar, mais especificamente na Oncologia.

As atividades desenvolvidas proporcionaram ainda o acompanhamento de


atendimentos individuais, salas de espera psicoeducacionais, escuta psicológica na sala de
Quimioterapia e processos grupais. Este último, em específico, foi o principal motivo deste
estudo.

O grupo terapêutico desenvolvido e acompanhado pelo setor é constituído


inteiramente por mulheres, onde a maioria foi diagnosticada com câncer de mama e estão em
9

fase de tratamento, reabilitação, ou acompanhamento, voltando ao hospital apenas para as


consultas periódicas com a equipe médica, e também aos encontros do grupo. Durante as
intervenções, alguns questionamentos foram levantados, principalmente ao que se refere às
implicações psicológicas no momento de diagnóstico do câncer de mama, por ser uma
narrativa recorrente durante os encontros.

A partir destas indagações, foi possível refletir acerca da importância de se trabalhar,


através da Psicologia, o diagnóstico do câncer de mama feminino e como este intervém na
vida dessas mulheres dentro e fora do hospital. Desse modo, pretende-se expandir os
conhecimentos acerca da Psico-oncologia e gerar reflexões acerca das possíveis intervenções
da equipe de saúde em relação aos impactos trazidos desde o diagnóstico da doença.

O câncer, de maneira geral, carrega em si um forte estigma relacionado à morte


incorporado à nossa cultura. Este imaginário geralmente provoca uma série de emoções e
sentimentos confusos, difíceis de compreender e aceitar. O momento do diagnóstico é
essencial para a transmissão das informações e, principalmente, o acolhimento das
manifestações de sentimentos avulsas que o indivíduo pode apresentar.

O câncer de mama no público feminino, em específico, recai sobre o principal símbolo


corpóreo de feminilidade, sensualidade, sexualidade e maternidade. Os sentimentos advindos
do diagnóstico deste tipo de câncer provocam, entre as mulheres, o medo não somente da
doença em si, mas o medo do comprometimento físico e mental que o acompanha.

Diante disso, torna-se cada vez mais importante a inserção da atuação da Psicologia
como parte primordial do tratamento, especialmente nos primeiros momentos de acolhimento
após o diagnóstico. Sobre isso, Gimenes (1994, p.42) afirma que

Tornam-se particularmente importantes intervenções de natureza psicológica


que ajudem o paciente a lidar com os aspectos envolvidos como o
diagnóstico de uma doença que está associada à ideia de morte, sofrimento e
solidão. (GIMENES, 1994, p. 42)

Essa discussão visa incluir, também como necessária, a atenção voltada à família e
demais profissionais de saúde envolvidos no tratamento e reabilitação da paciente. Isto é, a
Psicologia deve ampliar, também, o olhar para o cuidado com aqueles que intervêm direta ou
indiretamente para o bem-estar integral dessa mulher.

Zabora e Loscalzo (1998 apud BAIDER, 2003, p.515) destacam que a família exerce
um papel de extrema importância durante o acompanhamento ao tratamento da paciente, e
10

isso inclui as implicações que a doença provoca em todos, de forma integral, como a
ansiedade e o medo. Assim, se mostra necessária a atuação do psicólogo em promover o
treinamento da equipe de saúde para lidar com os efeitos secundários e consequentes da
doença na paciente e seus familiares/cuidadores.

Quanto aos aspectos metodológicos, este estudo foi desenvolvido com base em uma
pesquisa qualitativa e bibliográfica, tendo como objetivo o levantamento de materiais acerca
do tema de interesse através do site de pesquisa Google Acadêmico, utilizando-se de critérios
de inclusão e exclusão dos mesmos, como: período de produção entre os anos de 2010 e 2020,
a fim de incluir pesquisas mais atuais; uso exclusivo de artigos científicos e discussões acerca
do câncer de mama feminino, a partir dos seguintes descritores: “Psicologia e Câncer”,
“Psicologia e Câncer de Mama” e da expressão “Implicações psicológicas do Câncer de
Mama”.

Os materiais foram analisados através da análise de conteúdo de Bardin (2004) e, a


partir desta, chegamos a três categorias: 1. O reconhecimento do impacto psicológico desde o
diagnóstico; 2. As possibilidades de atuação da Psicologia no tratamento do câncer de mama;
e 3. A importância do acompanhamento psicológico à paciente, familiares e equipe de saúde
responsável.
Este trabalho é apresentado em três capítulos. No primeiro capítulo (Considerações
Sobre o Câncer), apresentamos considerações importantes para a compreensão do câncer
desde sua conceituação até o processo de diagnóstico, tipos e formas de tratamento. Além de
destacar o câncer de mama e suas implicações.
No segundo capítulo (O Hospital, a Psicologia Hospitalar e a Psico-Oncologia), nos
dedicamos à apresentação do surgimento do hospital, enfatizando o percurso histórico da
Psicologia Hospitalar e as possibilidades de atuação do profissional na instituição, com
enfoque no setor de Oncologia.
No terceiro e último capítulo (Aspectos Metodológicos, Análise e Discussão do
Estudo: Importância da Atuação da Psicologia Diante do Diagnóstico de Câncer de Mama em
Mulheres), apresentamos os caminhos metodológicos que conduziram o estudo bibliográfico e
qualitativo que buscou discutir a atuação da Psicologia diante do diagnóstico do câncer de
mama feminino, embasados em produções de autores de referência da temática e demais
estudos realizados que agregam à pesquisa. Neste capítulo, trouxemos a discussão dos
resultados desse estudo a partir da apresentação dos principais aspectos evidenciados nas
categorias de análise.
11

Por fim, apresentamos as considerações finais dessa pesquisa, onde foi possível expor
nossas reflexões acerca da importância da atuação da Psicologia diante do diagnóstico de
câncer de mama em mulheres.
12

2 CONSIDERAÇÕES SOBRE O CÂNCER

Neste capítulo, apresentaremos algumas considerações sobre o câncer, bem como sua
conceituação, a partir de um breve percurso histórico do mesmo. Abordaremos o câncer
discutindo o processo de diagnóstico, seus tipos variados e formas de tratamento, enfatizando
o câncer de mama e suas implicações.
O câncer, por se tratar de uma doença que ainda é considerada como “O mal do
século”, carrega em si um forte estigma relacionado à morte. A partir desse imaginário,
destacamos a importância de discutirmos e esclarecermos a doença a fim de trazer a esta
pesquisa informações relevantes para uma maior compreensão acerca dessa patologia.

2.1 Percurso Histórico do Câncer

Neste primeiro capítulo utilizaremos como principal referência o artigo intitulado “De
doença desconhecida a problema de saúde pública: o INCA e o controle do câncer no Brasil”,
dos autores Luiz Antônio Teixeira e Cristina Oliveira Fonseca, datado de 2007.
Durante muito tempo o câncer era uma doença desconhecida e quase nada se sabia
sobre esta, consequentemente, não havia tratamentos que aliviassem a dor ou evitasse a morte
de pessoas acometidas por esta enfermidade. Não há sequer registros científicos acerca da
primeira menção sobre a doença, mas o que é sabido é que povos egípcios, persas e indianos
já falavam sobre tumores malignos séculos antes de Cristo (TEIXEIRA; FONSECA, 2007).
Siddhartha Mukherjee (2010) questiona o nascimento do termo “câncer” e quem teria
sido o primeiro a registrá-lo como doença, em resposta, informou que foi em um antigo papiro
datado em 2500 a.C. que a descrição de um caso médico, feito por um sacerdote egípcio
chamada Imhotep, pode ter sugerido um episódio de câncer de mama ao descrever uma
“massa saliente no peito”, mas nunca havia sido mencionado como câncer, de fato. Outra
curiosidade sobre este caso é que na seção intitulada “Terapia”, o sacerdote apresenta apenas
a frase: “Não existe”.
A primeira definição sobre a doença surgiu na Escola de Medicina de Hipócrates (460
a.C. - 377 a.C.), que foi um médico nascido da Ilha de Cós e reconhecido como o “Pai da
Medicina Ocidental”. Ele tinha aversão a justificativas supersticiosas e míticas sobre os
problemas de saúde e a cura de doenças, por este motivo, dedicou-se a encontrar explicações
13

racionais e passíveis de controle e manipulação para as patologias acometidas ao ser humano.


Nesse tempo, Hipócrates definiu o câncer (ainda não reconhecido por este nome) como um
tumor duro que, muitas vezes, reaparecia depois de eliminado ou que se proliferava pelo
corpo.
Há ainda relatos de que os médicos daquela época já sabiam diferenciar uma
inflamação na pele de um tumor no mesmo local. Naquele período, os gregos não dissecavam
o corpo humano para estudos, então somente era cabível a identificação de doenças na pele,
vagina e ânus. Até o século XVII, se acreditava que a doença era proveniente de um
desequilíbrio de fluídos corpóreos ou um desequilíbrio linfático.
Teixeira e Fonseca (2007) relatam que a representação da doença estava em um
problema orgânico mais geral, assim os tumores eram apenas identificados quando eram
visivelmente manifestados, por isso intervenções cirúrgicas ou medicamentosas eram
desaconselhadas. Por outro lado, acreditava-se que para garantir o equilíbrio dos fluídos
corpóreos, as sangrias eram de grande valia.
No século seguinte, o câncer passou a ser uma doença de caráter local, isto é, poderia
ser identificado através de estudos anatômicos e com isso a necessidade de se estudar o
desenvolvimento da anatomia patológica e das células tornou-se primordial. É a partir daí que
o anatomista italiano Giovanni Battista Morgagni (1662-1771) e o médico francês Marie
François Xavier Bichat (1771-1802) entram em cena e fazem contribuições significativas
sobre o assunto para a época. Ambos favoreceram a compreensão dos variados tipos de câncer
e seus efeitos separadamente.
Ainda naquele período, René Théophile Laënnec (1781-1826), também médico
francês, contribuiu para a precisão do diagnóstico ao diferenciar cistos dos rins e dos ovários e
os fibromas uterinos, recorrentes nos casos de câncer. Anthelme Recamier (1774-1852)
introduziu o conceito de metástase através de estudos a um tumor secundário no cérebro de
uma paciente anteriormente acometida por um câncer na mama. Sem grandes diferenciações
quanto às explicações já conhecidas naquele tempo.
Foi no século XIX que o nome carcinoma foi desenvolvido, originado a partir da
palavra Karkinos, que significa caranguejo, ou algo duro. Acrescentado o sufixo “Oma =
tumor”, emerge a palavra Karkinoma ou carcinoma, utilizada para designar uma formação
tumoral maligna (QUILICI, 2006).
Apesar dos avanços no entendimento sobre o câncer, Teixeira e Fonseca (2007)
relatam que “[...] as possibilidades de tratamento eficazes permaneciam inexistentes, restando
14

aos acometidos a internação em asilos para desenganados, nos quais em meio ao sofrimento,
esperavam o momento da morte. ”. Esse método de tratamento fez crescer o número de
hospitais na Europa com esse objetivo, chamado de “assistência aos desamparados”.
(TEIXEIRA; FONSECA, 2007, p.15)
Foi em meados do século XIX que os avanços da cirurgia começaram a aparecer e
finalmente trazer esperança para o futuro da doença. Entretanto, com os problemas de
esterilização dos instrumentos e a contenção de bactérias, os pacientes acabavam tendo
complicações secundárias no pós-cirúrgico. Teixeira e Fonseca (2007) explicam que somente
com o desenvolvimento das técnicas de assepsia e anti-sepsia e da progressiva aceitação da
transmissão microbiana das doenças, as cirurgias passaram a ser mais viáveis.
No século seguinte, a descoberta do físico alemão Wilhelm Konrad Roengten (1845-
1923) fez com que o rumo dos tratamentos para o câncer e a medicina em geral mudassem.
Roentgen criou o Raio X, e logo nas primeiras décadas do século XX o mesmo já era
utilizado para diagnósticos dos tumores e outras patologias. Em 1905, o radiologista Jean
Bergonié e o histologista Louis Tribondeau mencionaram a ação curativa do raio X sobre as
células cancerígenas, sendo estas mais sensíveis ao raio.
Com o uso contínuo do novo instrumento, logo começaram a aparecer os efeitos
causados pela exposição à radiação, como queimaduras e hipersensibilidade na pele, além de
favorecer o surgimento de novos canceres. É a partir deste seguimento que foram
desenvolvidos tubos de raios catódicos (1913) e potentes geradores (1921) a fim de controlar
a intensidade dos raios. Este procedimento já nos remete ao utilizado, nos dias atuais, no
tratamento do câncer de colo de útero, a Braquiterapia1.
Apesar das novas técnicas de tratamento do câncer, é preciso ressaltar que os
procedimentos cirúrgicos ainda eram primordialmente utilizados. Siddhartha Mukherjee
(1970, p. 27) reforça que durante aquele período – início do século XX – “[...] para curar o
câncer (se isso era possível), os médicos dispunham apenas de duas estratégias: extirpar o
tumor cirurgicamente ou destruí-lo com radiação – uma escolha entre o raio quente e a faca
fria.”.
Ao mesmo tempo em que os tratamentos por meio do raio X eram feitos, cientistas
interessados pelo assunto começaram também a trabalhar em novas formas de tratamento.
Surge então Marie Curie (1901), ao descobrir o elemento químico: Radio, e sua alta eficácia
na destruição de células malformadas e tumores malignos.
1
A braquiterapia é um tipo de radioterapia em que a fonte radioativa é colocada dentro da área a ser
tratada ou junto a ela. A inserção pode ser temporária ou permanente.
15

Somente após a Primeira Guerra Mundial, outra técnica começa a ser utilizada para o
tratamento do câncer: a quimioterapia2. Proveniente da observação dos efeitos causados pelo
gás mostarda utilizado nas armas químicas da guerra nos soldados sobreviventes e aos que
tinham contato moderado com a substância. As observações mostravam a diminuição dos
leucócitos no sistema linfático e na medula óssea, tornando possível o caminho para o
combate da leucemia.
Após muitas outras pesquisas, principalmente feita por farmacologistas da década de
40, a primeira droga para o tratamento do câncer foi criada, a Mecloretamina, para os casos de
linfoma de Hodgkin3 e leucemia. Mais tarde, no ano de 1965, a descoberta feita pelos médicos
James Holland, Emil Freireich e Emil Frei, mudou os rumos da quimioterapia. Dessa vez,
utilizando-se de estratégias já usadas no tratamento da tuberculose, eles conseguiram criar um
método para dificultar o processo de metástase e recorrência dos tumores através da aplicação
de antibióticos (INSTITUTO NACIONAL DO CÂNCER, 2012).
Sobre a conceituação do câncer, Chiattone (2004 apud SANTOS; OLIVEIRA, 2017)
também fala sobre o termo Karkinos, do latim câncer, significando caranguejo e fazendo uma
analogia ao que socialmente o câncer representa. Simbolicamente, a doença se assemelha ao
formato do caranguejo por conta das veias tumorais e as pernas do animal, também à
agressividade, imprevisibilidade, invulnerabilidade e capacidade de aprisionamento.
Apesar de na Europa essa analogia ser muito utilizada, no Brasil essa associação não é
feita. Angerami-Camon (2013) destaca que, em território brasileiro, o termo câncer só faz
alusão à enfermidade, ou simplesmente ao signo do horóscopo. O autor ainda destaca que
mesmo que o Brasil não faça associação entre a doença e o crustáceo, o câncer não deixa de
ser algo considerado fatal.
Santos e Oliveira (2017) levantam uma informação importante quanto a conceituação
do câncer no Brasil, as autoras explicam que há uma dificuldade em estudos que esclareçam o
conceito do câncer em sua totalidade, geralmente esta é uma informação exterior (de outros
países). No Brasil, não há documentos que registrem o aparecimento ou primeiros casos
diagnosticados, em virtude de a doença ser confundida com outras enfermidades.

2
Quimioterapia é um tratamento que utiliza medicamentos para destruir as células doentes que
formam um tumor. Estes medicamentos se misturam com o sangue e são levados a todas as partes do
corpo, destruindo as células doentes que estão formando o tumor e impedindo, também, que elas se
espalhem pelo corpo. (INSTITUTO NACIONAL DO CÂNCER, 2021)
3
Linfoma ou Doença de Hodgkin é um tipo de câncer que se origina no sistema linfático, conjunto
composto por órgãos (linfonodos ou gânglios) e tecidos que produzem as células responsáveis pela
imunidade e vasos que conduzem essas células através do corpo. (INSTITUTO NACIONAL DO
CÂNCER, 2021)
16

Contextualizando, a história do câncer no Brasil é marcada a partir das grandes


transformações da medicina brasileira nas últimas décadas do século XIX. Motivado pela
crise sanitária e a modernização do material vivido nas principais capitais, surge o novo
processo de mudança nas “artes de cura em ciências da saúde”. Santos e Oliveira (2017, p. 13)
relatam que “[...] a medicina modificou a sua estrutura de ensino a partir da influência de
pesquisas internacionais avançadas, [...] como a assepsia e a microbiologia”.
Com a modernização e ampliação dos conhecimentos e recursos aplicados na
medicina, aumentaram também as preocupações quanto ao câncer. Assim, pesquisas com
relação ao tema foram se ampliando; logo os casos clínicos, cuidados paliativos, e as novas
técnicas de utilização cirúrgicas se tornaram presentes nos artigos publicados. Entretanto, o
tratamento continuava se restringindo às intervenções cirúrgicas como “[...] única arma
possível contra os tumores cancerígenos” (TEXEIRA; FONSECA 2007, p. 27).
Os autores ainda destacam que a partir da crescente disseminação da doença na
Europa e nos Estados Unidos, aumentou também o desenvolvimento de novas técnicas de
tratamento e ações filantrópicas a fim de incentivar as pesquisas e os cuidados ao câncer, que
passou a ser tema recorrente nos congressos mundiais de medicina.
Apesar de os médicos brasileiros marcarem presença nos congressos supracitados, o
tema ainda estava muito voltado aos casos analisados nos países que obtinham maior índice
de acometidos e consequentemente maiores pesquisas desenvolvidas. Aliado a isto, as
pesquisas que eram realizadas no Brasil mantinham uma estatística muito relativa e limitada,
pois estavam relacionadas, apenas, às capitais.
Em 1911, o médico Álvaro Ramos, responsável por fazer contribuições importantes
sobre o câncer no periódico Archivos Brasileiros de Medicina, já mencionava a deficiência na
abrangência das pesquisas sobre a doença no país e a importância da participação da
comunidade médica para elaboração de novos estudos no campo. Segue um trecho da
publicação:

De pleno acordo com os desígnios da associação internacional para o estudo


do câncer procuramos secundar os ingentes esforços (...) na divulgação das
descobertas e dos fatos importantes que se produziram no domínio das
investigações sobre o câncer, bem como no transunto dos relatórios,
conferências e discussões relativas as afecções cancerosas nas sociedades
médicas, e de tudo quanto possa interessar ao estudo desse terrível mal. Não
basta, porém, conhecermos o que se passa no exterior, torna-se indispensável
que voltemos atenção para a nossa terra. Enquanto lá fora, outros melhor
aparelhados, só agora se ocupem em bem estuda-lo para melhor combatê-lo,
que não nos descuidemos de sua existência entre nós, apuremos a sua
17

frequência, as suas múltiplas manifestações, conheçamos as preferências


para certas zonas, comparemos o seu aparecimento nas diferentes raças que
formam a nossa população, bem como estabeleçamos as proporções por
idades, sexos, profissões classes de indivíduos e regiões do organismo
afetadas. No vivo empenho de contribuir de alguma forma para o estudo do
câncer no Brasil, solicitamos encarecidamente a colaboração de toda a classe
médica brasileira, interessada como é, na resolução desse importante
problema, crente que não apelamos em vão. (RAMOS, 1911 apud
TEXEIRA; FONSECA, 2007)

A medicina brasileira só obteve avanços em relação ao entendimento acerca da doença


com a Conferência Internacional sobre o Câncer, em Paris, no ano de 1910, e com congressos
latino-americanos (1909) fazendo com que uma década depois os estudos sobre o câncer e seu
tratamento tivessem vinculação efetiva com a saúde pública (TEIXEIRA; FONSECA, 2007).
Historicamente, não há registros assertivos acerca do primeiro caso de câncer no
Brasil e no mundo, com isso, as autoras Santos e Oliveira (2017, p. 14) concluem que “o
câncer adentrou na humanidade por meio de diagnósticos desconhecidos, que ainda não
possuíam uma precisão detalhada sobre a doença, devido à falta de suporte naquela época –
início do século XX. ”.
Atualmente ainda é comum que o paciente, antes de receber o diagnóstico conclusivo,
passe por inúmeros exames a fim de comprovar a doença acometida. Até o diagnóstico ser
concluído, o câncer pode ser confundido com outras patologias e enfermidades, tornando
ainda mais angustiante a espera pelo resultado dos exames e procedimentos pelo qual o
paciente é submetido.
A coletânea de livros “Convivendo com o Câncer” criada pelo Instituto de
Informações e Suporte em Oncologia Day Care Center (2001), traz uma série de informes
importantes para a melhor compreensão da doença. Ressaltam que “o câncer não é uma
doença única, mas cerca de 200 doenças distintas” e cada uma delas tem as próprias causas e
tratamentos. A partir desta informação, apresentaremos outras definições e conceituações de
autores diversos e que se dedicaram ao estudo da doença.
Mário L. Quilici (2006) explica o câncer a partir do estudo das células do corpo, desde
sua formação, DNA e multiplicação, gerando novas células diariamente. Para o autor, o
câncer é gerado por uma modificação da célula no momento de sua divisão, tornando-a
diferente das demais células do corpo que compõem o grupo original.
Em continuidade a este pensamento, Yamaguchi (1994, p. 21) faz contribuições acerca
da doença:
18

O câncer é uma doença que se origina nos genes de uma única célula,
tornando-a capaz de se proliferar até o ponto de formar uma massa tumoral
no local e a distância. Várias mutações têm que ocorrer na mesma célula
para que ela adquira este fenótipo de malignidade e a biologia molecular
vem estudando com acuracidade estes detalhes.

Uma das principais características de diferenciação entre os diversos tipos de câncer é


a capacidade das células de se multiplicarem de maneira descontrolada e assim espalhar-se
através da corrente sanguínea e/ou vasos linfáticos, fazendo com que outras áreas do corpo
sejam atingidas. Quilici (2006, p. 2, grifo da autora) explica este fenômeno da seguinte
maneira:

[...] Muitas vezes o crescimento é tão desregrado que o tumor em


crescimento pode morrer por falta de nutrição e oxigênio. Isso ocorre porque
o suprimento de sangue (vascularização) não se desenvolve na mesma
proporção que o tumor. Quando o tumor já ocupou todo o espaço da sua
comunidade, começa a avançar para outras comunidades. [...] é a esse
processo que se dá o nome de metástase.

Com a descoberta das metástases, torna-se ainda mais imprescindível o diagnóstico


precoce da doença, assim as chances de um tratamento efetivo aumentam significativamente.
Santos e Oliveira (2017, p. 16) reforçam que “a metástase é a fase mais complicada da
doença”, por causa disto, o tratamento pode ser interrompido e os resultados esperados se
tornem mais distantes e difíceis. Com isso, toda a programação que havia sido elaborada no
início do tratamento deve ser revista.
O autor Costa Júnior (2001) acrescenta que conforme os dados do Instituto Nacional
do Câncer (INCA), o câncer atinge indivíduos de todas as idades e em todos os continentes,
sendo a segunda principal causa de morte por doença em todo o mundo, dessa forma ele deve
ser tratado como uma questão de saúde pública.
Assim, como aponta Angerami-Camon (2013), além de o câncer atingir pessoas de
todo o mundo, é também responsável por causar inúmeros impactos na vida de quem recebe o
diagnóstico, bem como na vida de seus familiares. Ressalta ainda que a doença deve alcançar
também aos profissionais da saúde que terão de lidar com todas as fases do tratamento; desde
o diagnóstico, até possibilidades de reabilitação, cura, morte inesperada, etc.
O autor revela ainda as dificuldades de falar sobre a doença por ela estar sempre
carregada de um forte estigma de morte e sofrimento. Com isso, a sociedade teme cada vez
mais entrar em contato com a mesma, e que mesmo com os avanços das pesquisas sobre o
assunto, o câncer continua carregado de negatividade e preconceito, desde o século XX, em
19

que a pessoas evitavam pronunciar o nome da doença acreditando que assim poderiam mantê-
la distante.
O cenário atual não teve grandes modificações quanto ao estigma da doença, ainda é
comum que as pessoas se refiram ao câncer como “aquela doença” ou “doença do mal”,
especialmente àqueles que não possuem acesso às informações. Faz-se necessário ressaltar
que já é cientificamente comprovado que o câncer não é uma doença contagiosa, e que tem
possibilidades de cura.
O momento do diagnóstico ainda é associado à certeza da terminalidade ou morte
iminente, e é preciso reforçar que mesmo sendo uma doença tão severa e comprometedora, o
câncer tem histórias de casos em que a doença foi controlada e até extirpada, especialmente
quando diagnosticada em seu estágio inicial.
Em seguida, nos dedicaremos a falar sobre o percurso do diagnóstico do câncer.

2.2 O Diagnóstico do Câncer

O momento da descoberta do câncer traz uma série de sentimentos negativos e


confusos a quem o recebe, levando o indivíduo a defrontar-se com sua finitude e uma nova
percepção sobre a vida. Com o diagnóstico, chega também as incertezas, a impotência, o
sofrimento, a desesperança e o medo.
Estas manifestações de sentimentos são decorrentes da falta de informação sobre a
doença e o forte estigma que a mesma carrega. Arantes (2016, p. 42) explica que desde o
diagnóstico de uma doença grave as pessoas apresentam um sofrimento, como uma morte
anunciada. E acrescenta, “[...] A morte anunciada traz a possibilidade de um encontro veloz
com o sentido da vida, mas traz também a angústia de talvez não ter tempo suficiente para
vivenciar esse encontro. ”.
Angerami-Camon (2013, p. 43) corrobora este pensamento ao descrever que

O estigma do câncer é tão forte e, por si só tão arrebatador de emoções dos


mais diferentes matizes, que por mais que seja citado com outras
denominações médicas, ou mesmo científicas, seu espectro de terminalidade
sempre estará presente.

O percurso para o diagnóstico do câncer se inicia a partir de uma investigação a


respeito do histórico clínico do paciente, além de um exame físico completo. Em seguida, o
20

indivíduo deve passar por exames mais específicos, seguindo as características e localização
do tumor (INSTITUTO DE FORMAÇÃO E SUPORTE EM ONCOLOGIA, 2001).
Nesta primeira observação e busca, são feitos exames de raios X e Ultrassonografias.
Em seguida, exames de tomografia, mapeamento ósseo, ressonância magnética, e outros tipos
de investigação variando de acordo com as necessidades específicas do paciente. Para
comprovar a malignidade do tumor, é preciso que o mesmo passe por uma biópsia –
procedimento realizado a partir de uma amostra do tecido tumoral, examinado à luz do
microscópio e analisado por um médico patologista – para entender as características
principais do edema.
É importante frisar que os profissionais responsáveis pela avaliação do paciente no
momento do diagnóstico devem ser muito bem preparados para fazer a conclusão de um
desses procedimentos, e que há características em tumores benignos ou quadros infecciosos
muito semelhantes ao câncer, e jamais devem ser confundidas.
Os exames antes e depois do diagnóstico são constantes, seja para indivíduos em
observação por uma suspeita da doença ou pacientes já diagnosticados e que estão passando
por exames de rotina para a avaliação dos órgãos mais prováveis de serem comprometidos.
Yamaguchi (1994, p. 24) revela que

Estes (exames) geram muita ansiedade no paciente e nos familiares, pois


além de alterarem a rotina diária, promovem a expectativa quanto ao
resultado. É também o momento em que o paciente se recorda de que esteve
ou está doente e muitos reagem com impaciência.

A autora ainda reforça o perigo em se fazer a leitura antecipada do laudo destes


exames, pois “[...] como os termos utilizados são, em sua maioria, técnicos, o
desconhecimento dos mesmos por parte do paciente ou familiar costuma fazer com que a
interpretação seja errônea.” (Ibid., p. 24). Em algumas situações, quando o paciente ainda está
em tratamento, é comum que hajam alterações das taxas nos exames de sangue, cabe ao
médico responsável acompanhar o caso da pessoa em questão e avaliar o quanto as alterações
influenciam em seu estado com a doença.
Com o anúncio do diagnóstico, o sujeito em adoecimento terá de encarar uma
readaptação de tudo, ou quase tudo, relacionado à sua vida; desde as atividades diárias até a
adaptação emocional frente à nova rotina. É preciso estimular as ressignificações dos
pensamentos, das crenças e atitudes diante da nova fase e, para isso, a ajuda dos profissionais
e da família se torna imprescindível (SANTOS; OLIVEIRA, 2017).
21

Yamaguchi (1994) enfatiza que a primeira reação do indivíduo ao receber o


diagnóstico do câncer é o medo, de não ser curado ou de que a doença vá lhe causar um
sofrimento intenso, humilhação física e dor. E isso ocorre muito antes de o indivíduo entender
o seu caso, em que grau a doença se encontra ou quais as possibilidades de tratamento.
Por isso, o médico responsável por passar o diagnóstico deve estar ciente de como
lidar com a situação durante e depois que a mensagem é passada. Yamaguchi (1994) arrisca
dizer que essa seja a parte mais importante de todo o processo, fazer com que o paciente se
sinta seguro neste momento é crucial para o manejo do tratamento em sequência.
Existem situações, ainda, que mesmo sabendo do diagnóstico o paciente nega a
doença, alega que os resultados estão errados e que isso jamais aconteceria com ele. É comum
que estágios de negação apareçam neste primeiro contato, e é importante entender que impor
um pensamento contrário ao da pessoa é um ato, no mínimo, desrespeitoso a ela. É preciso,
entretanto, ampará-la até que ela entenda, por meio de suas próprias colocações, seu caso e se
disponha a receber mais informações sobre a doença. Para isso, é necessária muita
sensibilidade e empatia para saber intervir com sabedoria (YAMAGUCHI, 1994, p. 31).
Alfredo Simonetti (2004, p. 37) ressalta como a doença toma uma posição central na
vida da pessoa quando a mesma recebe um diagnóstico, e explica

A doença é um evento que se instala de forma tão central na vida da pessoa,


que tudo o mais perde a importância ou então passa a girar em torno dela,
numa espécie de órbita que apresenta quatro posições principais: negação,
revolta, depressão e enfrentamento.

Nessa mesma linha de pensamento, Elizabeth Kübler Ross (1969) identifica outro
estágio reacional, a barganha. Nem sempre as pessoas irão apresentar essas posições frente à
doença nesta ordem, mas certamente serão exteriorizados em algum momento, seja no
diagnóstico ou durante o percurso da doença.
É preciso respeitar o tempo de adaptação de cada indivíduo, que varia de pessoa para
pessoa, mas que é de extrema importância para que ela consiga prosseguir com o tratamento.
A desinformação dos pacientes é uma das principais causas de sofrimento durante o
processo de descobrimento do câncer, fazendo aumentar ainda mais o forte estigma negativo
que ele carrega, isto é consequência de um período em que pouco se entendia pela doença e
menor era sua divulgação.
Daí a necessidade de transmitir estas informações da forma mais clara e real possível.
É a partir delas que o indivíduo se sentirá à vontade para tirar as dúvidas e participar
22

ativamente nas decisões a serem tomadas, junto à equipe médica. Fazer com que o paciente se
sinta parte de sua evolução no tratamento é tão importante quanto pedir que a família participe
deste processo.
A falta de comunicação entre o paciente e o médico, familiares, amigos e cuidadores, é
um agente complicador e gerador de sofrimentos desnecessários. O Instituto de Informação e
Suporte em Oncologia (2001, p. 14) revela que “[...] é mais fácil lidar com a realidade, em
qualquer crise, se trocarmos a desinformação pela informação. É a falta de comunicação que
dá margem a fantasias, à percepção distorcida da realidade”.
As apresentações das possibilidades de intervenção diante do diagnóstico devem ser
feitas no momento da descoberta da doença e nas consultas subsequentes. Procedimentos
cirúrgicos, intervenções terapêuticas, acompanhamento multiprofissional e contínuo sob a
doença são fundamentais no momento de informação do paciente.
Uma vez que o câncer é constatado, sua evolução irá depender da classificação e
gravidade que se encontra; qual o tecido de origem, aspectos morfológicos e estruturais, assim
como será analisado o grau de comprometimento em relação aos tecidos vizinhos e distantes
(YAMAGUCHI, 1994).
A partir destas informações será possível o acesso ao prognóstico da doença, como o
rumo do tratamento e quais as possibilidades de cura, baseado em dados estatísticos. Em
alguns casos, conforme as medidas terapêuticas são aplicadas, o prognóstico da doença pode
mudar, tornando necessária uma nova conversa esclarecendo as novas intervenções a serem
feitas.
O câncer mexe com o corpo por inteiro, e por isso a pessoa deve ser tratada por
inteiro, ou seja, em sua totalidade. Por isso a equipe multiprofissional é tão importante para
que o tratamento do paciente contemple todas as suas necessidades, física, psíquica, social e
espiritual.
O tratamento começa com a prevenção. Os profissionais de saúde devem estar atentos
às campanhas e ações preventivas para que o índice de pessoas acometidas pela doença
diminua. Trabalhar no nível primário da doença aumenta as chances de o câncer ser detectado
nos primeiros estágios e consequentemente, a probabilidade da cura. Trataremos deste assunto
no tópico “Possibilidades de Tratamento do Câncer”.
Em síntese, o diagnóstico do câncer é carregado de significados sociais, e por isso se
torna tão difícil de ser encarado. O turbilhão de sentimentos trazidos pela doença é tamanho
que pode interferir em todos os âmbitos da vida do indivíduo, bem como de sua família. É
23

preciso estar ciente de que haverá momentos de incertezas, medos e angústias, mas que
quando se tem uma equipe de saúde competente e preparada para lidar com as questões
trazidas com o diagnóstico, todo processo se torna mais tranquilo.
Para melhor entender o câncer, faz-se necessário abordar os diversos tipos de órgãos e
tecidos que podem ser acometidos. Apresentaremos a seguir uma breve explanação sobre os
principais tipos de câncer.

2.2.1 Principais Tipos de Câncer

O câncer pode atingir diversas partes do corpo, como tecidos, órgãos e ossos. Segundo
a Organização Mundial da Saúde e o Instituto Nacional do Câncer existem mais de duzentos e
cinquenta tipos de câncer no mundo. No Brasil, a distribuição epidemiológica do câncer
apresenta um aumento entre os tipos de câncer, historicamente associados ao alto status
socioeconômico, de mama, próstata e cólon e reto; como também aos tumores popularmente
associados a pobreza, câncer de colo do útero, pênis, estômago e cavidade oral. (GUERRA;
GALLO; MENDONÇA, 2005)
Os autores acrescentam que são vários os fatores de riscos ambientais que estão
relacionados à doença; como os agentes químicos, físicos e biológicos, bem como os fatores
sociais. Straub (2005) explica que os canceres podem ser subdivididos em quatro grupos,
sendo: carcinomas, sarcomas, linfomas e leucemias. Vejamos as explicações, segundo o autor,
de cada um desses grupos:
O primeiro grupo está relacionado às células epiteliais, que cobrem as superfícies
internas e externas do corpo. É um dos mais comuns tipos de câncer; incluem o câncer de
mama, de próstata, de colo, de pulmão, de pâncreas e de pele.
O grupo dos Sarcomas atacam as células musculares, dos ossos e das cartilagens. É
considerado muito mais raro que o Carcinoma, representa apenas 2% de todos os tumores em
adultos.
Os Linfomas são cânceres formados no sistema linfático e é neste grupo que estão a
doença de Hodgkin, “uma forma rara de linfoma que se espalha a partir de um único nódulo”,
e o linfoma de não-Hodgkin, em que as células malignas podem ser encontradas em vários
lugares do corpo.
O último grupo, as Leucemias, é responsável por atacar tecidos sanguíneos e
formadores de sangue, como a medula óssea. Este tipo de câncer se origina a partir da
24

proliferação das células brancas na corrente sanguínea e na medula óssea, debilitando o


sistema imunológico.
Os autores Guerra, Gallo e Mendonça (2005), em pesquisas aos bancos de dados e
registros de câncer de base populacional do Brasil, relataram que os tumores mais frequentes
no país são os de próstata, pulmão, estômago, cólon e reto e esôfago nos homens, e os
canceres de mama, colo uterino, cólon e reto, pulmão e estômago nas mulheres. Sendo as
principais causas de morte por câncer no Brasil, no ano de 2001, os casos de pulmão (na
população masculina) e mama (na população feminina).
Não somente no Brasil, o câncer de pulmão é o tipo de câncer mais comum em todo o
mundo, e a principal causa de morte por neoplasia maligna. Fortemente associada ao uso do
tabaco, chega ao índice de seis milhões de mortes por ano no mundo e cento e quarenta e sete
mil mortes somente no Brasil. Esses dados têm ajudado a fortalecer as campanhas e ações de
prevenção ao tabagismo e problemas da saúde pública brasileira.
Tão preocupante quanto o câncer de pulmão é o câncer de mama. Considerado o
segundo tipo de câncer mais comum no mundo, sendo o mais recorrente entre a população
feminina, segundo Guerra, Gallo e Mendonça (2005, p. 231). Existem mais de vinte subtipos
diferentes da doença, e o os principais fatores de risco são: o envelhecimento, fatores
relacionados à vida reprodutiva da mulher, histórico de câncer na família, entre outros. Em
estudo, os autores e pesquisadores apontaram o câncer de mama como “a principal causa de
mortalidade por neoplasias em mulheres na faixa etária de 30 a 49 anos, no período de 1991 a
1995”.
Não há pesquisas conclusivas quanto à suscetibilidade ao câncer, mas existem sim
estudos que confirmam os fatores de riscos que aumentam a incidência da doença, como
consumo de álcool, excesso de peso, sedentarismo, exposição a produtos químicos e radiação.
Estar atento a estes elementos é fundamental para a continuidade das pesquisas e, em
consequência, para a contribuição às campanhas de prevenção desenvolvidas pelo governo. É
sabido que o quanto antes o câncer for diagnosticado, maior é a probabilidade de se obter um
tratamento efetivo e com menos possibilidades de metástases.
No próximo tópico nos dedicaremos a apresentar e discutir o câncer de mama e suas
principais implicações na vida da mulher diagnosticada.

2.2.1.1 O Câncer de Mama e suas Implicações


25

O câncer de mama é um dos tipos de canceres mais temidos pela população feminina.
Isto está relacionado à sua alta incidência e, principalmente, aos efeitos psicológicos que
acompanham o diagnóstico da doença, podendo afetar a percepção da sexualidade,
autoimagem e perspectiva de vida da mulher acometida.
Como já citado anteriormente, o câncer de mama faz parte do grupo dos carcinomas
(quando é formado nos pequenos bulbos ou nos ductos da mama) ou sarcomas (quando se
forma no tecido conjuntivo), sendo este o de maior incidência em mulheres. Geralmente
atinge um público feminino na faixa etária por volta dos 50 anos de idade, apesar de poder ser
detectado, em casos raros, antes dos 30 anos, ou até mesmo em idades mais jovens (SANTOS
JUNIOR; SOARES, 2012).
Os autores relatam também que em 2010, o Sistema de Informações do Câncer de
Mama (SISMAMA-INCA) constatou que para 100 mil mulheres há aproximadamente a
estimativa de 49 novos casos deste tipo de câncer, tendo maior incidência na região Sudeste
do país. Em 2007 a taxa de mortalidade pela doença foi de cerca 11,49 a cada 100 mil
mulheres.
Apesar de não existirem estudos conclusivos acerca da suscetibilidade ao câncer, é
possível identificar os fatores de risco que estão associados a doença. Para isto, é valido
ressaltar que o câncer de mama possui gênese multifatorial, ou seja, aspectos genéticos,
ambientais e estilo de vida fazem parte de sua etiologia.
Alguns dos principais fatores são: histórico de câncer na família, inatividade física,
menopausa tardia, gravidez após os 30 anos de idade, obesidade e alcoolismo. Entretanto,
90% dos casos de câncer de mama em todo o mundo não tem o fator hereditário como
principal, e sim fatores como a produção de esteroides sexuais, como a utilização de
estrógenos exógenos (SANTOS JUNIOR; SOARES, 2012).
Os sintomas podem ser observados a partir de qualquer alteração radiológica ou física
da mama. O Instituto de Informação e Suporte em Oncologia (2001) pontua alguns desses
sintomas, como: aparecimento de nódulo ou endurecimento da mama ou embaixo do braço,
mudança no tamanho ou formato da mama, alteração na coloração ou na sensibilidade da pele
da mama ou da auréola, secreção contínua por um dos ductos, retração da pele ou do mamilo
e inchaço significativo ou distorção da pele.
Quanto ao diagnóstico, faz-se necessário retomar a fala sobre a importância da
observação e identificação precoce dos sinais e sintomas mamários, que vão desde as
primeiras lesões até o rastreamento mais aprofundado dessas anormalidades.
26

O Exame Clínico (EC) que é realizado pela equipe médica, podendo ser feito em
exames ginecológicos de rotina ou quando há a suspeita da doença, consiste em identificar
lesões iniciais do câncer de mama. É importante também informar que na grande maioria das
vezes em que uma massa palpável é identificada, não está relacionada ao câncer, sendo
apenas 10% as neoplasias constatadas (SANTOS JUNIOR; SOARES, 2012).
Além do EC, outras formas de diagnóstico podem ser utilizadas, como o autoexame, a
mamografia, a ultrassonografia, ressonância magnética, tomografia computadorizada e
cintilografia. Cada um desses métodos deve ter indicação e se adequar à cada situação.
Dentre os métodos supracitados, a mamografia é o mais utilizado no processo de
diagnóstico do câncer de mama. Junior e Soares (2012) explicam que o uso da mamografia
como principal recurso está relacionado ao baixo custo do exame e sua acessibilidade. Apesar
disso, não é o método melhor indicado em caso de mulheres com menos de 40 anos, esta
informação se justifica pela alta densidade da mama jovem, dessa forma, outros
procedimentos devem ser requisitados.
Em abril de 2008 entrou em vigor a lei 11.664, aprovada pelo Congresso Nacional e
prevê a realização da mamografia às mulheres brasileiras a partir dos 40 anos de idade. A lei
tem como objetivo

(...) garantir o direito às usuárias do SUS o acesso a exames confiáveis para a


detecção do câncer de mama e do câncer de colo de útero, aumentando
significativamente as chances de cura e de tratamentos menos radicais como,
por exemplo, a mastectomia (retirada total da mama). (INSTITUTO
ONCOGUIA, 2015. Página inicial)

Os testes e exames que são solicitados pelo médico têm como objetivo analisar e
avaliar a extensão e o estádio da doença no organismo, para isto se dá o nome de
Estadiamento. No câncer de mama, o sistema de Estadiamento leva em conta o tamanho do
tumor, o envolvimento de gânglios linfáticos da axila próxima à mama e a presença ou não de
metástases, definido pela sigla TNM. Sendo T (Tamanho do tumor), N (número de nódulos) e
M (metástases à distância) (INSTITUTO DE INFORMAÇÃO E SUPORTE EM
ONCOLOGIA, 2001).
Os autores Santos Junior e Soares (2012) explicam que para esta avaliação são
necessários exames físicos e de imagem (radiografia, tomografia de tórax, ultrassonografia do
abdômen ou pelve, cintilografia óssea), até exames histopatológicos da mama ou de outros
tecidos.
27

No que se refere aos tratamentos do câncer de mama, é fundamental destacarmos a


atuação de uma equipe multidisciplinar que vise o tratamento integral da paciente. Para além
das modalidades terapêuticas como a cirurgia, radioterapia, quimioterapia e hormonioterapia;
existem também as modalidades de reabilitação, como a Psicologia, Fisioterapia, entre outras.
Santos Junior e Soares (2012, p. 51) acrescentam que

As decisões terapêuticas são baseadas em parte no estadiamento, mas o


tamanho do tumor, o tipo e o grau histológicos, o status linfonodal, os níveis
dos receptores de estrogênio e progesterona no tecido tumoral, HER-2-neu, o
status menopausal e as condições clinicas gerais da paciente são também
imprescindíveis na instituição do tratamento adequado.

Os cuidados com a saúde prosseguem mesmo após o término do tratamento. É preciso


dar continuidade aos exames regulares, testes de laboratório e raios X, independentemente do
tipo de câncer acometido. Cabe ao médico responsável orientar e esclarecer as dúvidas que
possam surgir nesse acompanhamento pós-terapia.
Vale incluir ainda as intervenções interdisciplinares como parte do tratamento, desde o
momento do diagnóstico, atuando em conjunto com a equipe de saúde e os familiares. Estas
ações têm como objetivo unir os conhecimentos e disciplinas que interferem efetivamente na
qualidade de vida da paciente após o tratamento, devolvendo a autonomia e reiteração às
atividades físicas, sociais e profissionais (SANTOS JUNIOR; SOARES, 2012).
Em meio a tantos procedimentos, é comum que o câncer de mama cause impactos
físicos, sociais e emocionais na vida da mulher diagnosticada. Os autores Menezes, Schulz e
Peres (2012, p. 233), em pesquisa a outros autores de referência sobre o assunto, afirmam que
o câncer de mama reflete sobre “o principal símbolo corpóreo da feminilidade, sensualidade,
sexualidade e maternidade”. Comprometendo não somente as condições físicas da mulher,
como também sua saúde mental.
Todas estas emoções difusas refletem diretamente em todo o processo de tratamento e
reabilitação. Estudos revelam que a qualidade de vida de mulheres submetidas à mastectomia,
em comparação àquelas que passaram por cirurgia conservadora de mama, tem piora
considerável. Além disso, mulheres que passaram por terapia sistêmica, como a
quimioterapia, apresentaram pior nível de qualidade de vida global, saúde geral, função física
e social (MAKLUF; DIAS; BARRA, 2006).
Os autores acima citados acrescentam que o câncer de mama repercute na vida
psicossocial das pacientes e seus familiares, podendo experimentar preconceitos, medo da
28

morte, sofrimento da mutilação, receio do surgimento do linfedema, que consiste no excesso


de fluido linfático acumulado fora do vaso linfático e, até mesmo, sentimento de
desvalorização social.
Diante destas informações, fica claro a necessidade de trabalhar as questões que estão
em torno da doença, e que são tão importantes quanto o tratamento do tumor. A assistência
psicológica dada às mulheres que estão passando por qualquer uma das fases da doença
auxilia o fortalecimento de estratégias que possibilitem o enfretamento durante o processo e
uma melhor adesão ao tratamento.
Mais à frente nos dedicaremos a discutir de maneira mais abrangente sobre a atuação
da Psicologia no contexto hospitalar e com enfoque no setor da Oncologia. No próximo tópico
apresentaremos as possibilidades de tratamento mais utilizadas atualmente para os diversos
tipos de canceres.

2.3 Possibilidades de Tratamento para o Câncer

Após o diagnóstico e uma análise cuidadosa dos exames solicitados, as condutas e


perspectivas de tratamento devem ser discutidas entre profissionais, paciente e família. É
importante ressaltar que este momento de dialogar com o paciente e a família acerca do início
do tratamento, deve ser feito com muita cautela, em linguajar acessível e, além disso, salientar
a importância dos exames de seguimento para a segurança do paciente e o rumo do
tratamento.
O combate à doença começa após o diagnóstico. Vários podem ser os métodos para o
tratamento do câncer, apresentaremos alguns dos principais recursos disponíveis atualmente.
Os principais tratamentos para o câncer são: a cirurgia, a radioterapia, a quimioterapia
e a imunoterapia. Cada um desses métodos pode ser usado como tratamento principal e único
do câncer ou combinados entre si (INSTITUTO DE INFORMAÇÃO E SUPORTE EM
ONCOLOGIA, 2001).
Segundo Straub (2005), a cirurgia é a forma mais antiga de tratamento para o câncer,
principalmente por oferecer a maior chance de cura para a maioria dos tipos de câncer. Vários
podem ser os motivos para se optar pela cirurgia, e cada um deles devem ter um objetivo. O
autor cita algumas das cirurgias utilizadas: cirurgia diagnóstica, cirurgia preventiva, cirurgia
de extensão, cirurgia curativa e cirurgia restauradora.
29

A cirurgia diagnóstica é utilizada para se obter uma amostra de tecido para exame de
laboratório (biópsia), e tem como objetivo confirmar um diagnóstico e identificar o câncer de
maneira mais específica.
A cirurgia preventiva é recomendada para retirar um crescimento que não é maligno,
mas que pode vir a ser se não for tratado. Além disso, esse tipo de cirurgia pode ser realizado
para a remoção de algum órgão quando a pessoa possui um problema hereditário e tem
chances altas de desenvolver a doença.
A cirurgia de extensão é usada para determinar a extensão da doença, este
procedimento é chamado de “laparoscopia”. A cirurgia curativa consiste na retirada de um
tumor quando o mesmo está localizado de forma que existe a possibilidade de remoção de
todo o tecido canceroso. É importante ressaltar que este método é somente possível num caso
primário da doença.
Por fim, a cirurgia restauradora ou reconstrutiva é geralmente utilizada para restaurar
a função de algum órgão ou parte do corpo, bem como a estética da pessoa. Como por
exemplo, a reconstrução do seio após a mastectomia (remoção do seio).
A cirurgia, de maneira geral, permite que o médico cirurgião remova o tumor e tecidos
adjacentes que possuem células cancerosas. Para isso, Yamaguchi (1994, p. 25) reforça,

O cirurgião oncológico precisa conhecer os diversos tipos de câncer e seus


diagnósticos diferenciais e deve ter preparo técnico extenso, pois a cura
depende muito de uma abordagem inicial correta. Pacientes perdem a chance
de cura, caso cuidados básicos não sejam tomados, por contaminação do
campo com células cancerosas ou por cirurgias insuficientes ou por vias
inadequadas. A extensão da cirurgia deve ser cuidadosamente estudada e
para tal o cirurgião necessita conhecer o comportamento esperado daquele
tumor em particular.

Em alguns casos, tecidos saudáveis ou gânglios linfáticos também podem ser


retirados, a fim de prevenir a proliferação da doença. Existe também a cirurgia de caráter
paliativo, que pode ser utilizada em casos de câncer avançado e metastático como, por
exemplo, o de estomago e de colón, evitando sangramentos e obstrução do órgão
(YAMAGUCHI, 1994).
Além da cirurgia, outro tipo de tratamento comumente utilizado é a radioterapia, que
consiste na utilização de partículas radioativas, principalmente em tumores radiossensíveis,
nestes com potencial ação curativa. Straub (2005), explica que a radioterapia se utiliza de
altas doses de raios X, raios gama ou partículas de alfa e beta, matando ou danificando
tumores cancerosos para que não possam mais crescer, multiplicar-se ou espalhar-se.
30

A utilização deste método pode afetar algumas células sadias na área irradiada,
causando efeitos colaterais, mas a maioria delas repara-se sozinha e recupera-se totalmente
dos efeitos do tratamento. Este mecanismo se diferencia da quimioterapia, que expõe todo o
corpo aos produtos químicos, falaremos deste método logo em seguida.
O responsável por analisar a indicação, extensão e o tipo do tratamento a ser aplicado
é o radioterapeuta. Existem várias formas de se aplicar a radioterapia, podendo ser de maneira
externa; é aplicada através do aparelho emissor de feixes de raios que alcançam o tumor após
atravessar diferentes tecidos, e de maneira interna; aplicada através da colocação do material
radioativo dentro do corpo, como implantes, aumentando a intensidade do tratamento no local
desejado e preservando a maior parte dos tecidos sadios à sua volta (INSTITUTO DE
INFORMAÇÃO E SUPORTE EM ONCOLOGIA, 2001).
Como citado anteriormente, o tratamento por radioterapia pode causar efeitos
colaterais, podemos destacar: a perda temporária ou permanente de pelos/cabelos na área que
está sendo tratada, fadiga, perda de apetite, manchas na pele e até mesmo a perda de glóbulos
brancos, facilitando o acometimento de anemias. Entretanto, atualmente estes efeitos já
podem ser controlados ou evitados com a utilização conjunta de medicações (STRAUB,
2005).
Yamaguchi (1994) reforça a importância de passar as informações sobre as possíveis
reações e alterações na autoimagem durante o tratamento ao paciente e família desde o início,
fazendo a ponderação entre riscos e benefícios, e assim facilitando a aderência do mesmo ao
tratamento.
Outro método muito utilizado no combate ao câncer é a quimioterapia, que consiste
no uso de medicamentos (substâncias químicas) que agem na destruição das células
cancerosas. Diferente da radioterapia que se restringe a área afeta para o recebimento dos
raios, a quimioterapia “[...] pode destruir células cancerosas que se espalharam para partes do
corpo afastadas do tumor original ou primário” (STRAUB, 2005, p. 381).
A administração da droga pode ser feita por via oral, através de pílulas ou cápsulas,
por injeções no músculo ou na veia, ou através de cateteres; passando pela corrente sanguínea
e atingindo todas as áreas do corpo. As aplicações podem ser feitas em ambulatório ou
durante internação hospitalar (INSTITUTO DE INFORMAÇÃO E SUPORTE EM
ONCOLOGIA, 2001).
A quimioterapia é considerada uma grande “arma terapêutica” contra o câncer,
podendo ser usada na cura da doença (dependendo do seu estágio), reduzir ou impedir o
31

crescimento, evitar que ela se espalhe, matar as células cancerosas e aliviar sintomas causados
pelo câncer.
Por conta da forma que é inserida e de como age no corpo, além das células
cancerígenas, células sadias também podem sofrer alterações durante o tratamento.
Yamaguchi (1994) explica que a quimioterapia afeta principalmente as células que tem rápida
multiplicação, como no caso das células do bulbo capilar, medula óssea e mucosas.
Felizmente, a maioria dos efeitos colaterais causados pelo uso deste tipo de medicação é
temporário e desaparece ao fim do tratamento.
É importante salientar que os sintomas causados pelo uso destes métodos não se
aplicam igualmente à todas as pessoas, estes variam em função das características de cada
sujeito. Por isso cabe ao médico e equipe de saúde atender a cada demanda de maneira única,
podendo ajustar sempre que necessário o tipo de tratamento que o paciente irá receber.
A radioterapia e a quimioterapia também podem ser utilizadas antes de uma
intervenção cirúrgica, facilitando o manejo durante o procedimento e contribuindo para um
melhor resultado, bem como após a cirurgia, com o intuito de prevenir recidivas e metástases.
Por conta da forte capacidade de afetar o sistema imunológico, que é a parte do nosso
corpo responsável pelas nossas defesas, a quimioterapia tem sofrido alterações. Agora, com a
imunoterapia, em que são usados “medicamentos para aumentar a capacidade do sistema
imunológico de atacar as células cancerosas de forma seletiva”, o próprio corpo se torna capaz
de se defender contra as “células malignas” (STRAUB, 2005, p. 382).
Entretanto, Yamaguchi (1994, p. 28) destaca,

[...] a evolução é totalmente individual, pois existe no individuo com câncer


a possibilidade de se defender da doença por meio do sistema imunológico.
Esse sistema é composto de anticorpos, células e fatores que, em conjunto,
mantém o equilíbrio do organismo.

Além das terapias sistêmicas, existem outras possibilidades de tratamento, chamadas


de terapias de suporte ou terapias complementares. Sabe-se que o câncer não afeta apenas o
paciente, mas também sua família e todos os aspectos de sua vida, por isso é fundamental
contar com uma equipe multidisciplinar de profissionais capacitados para promover alívio do
sofrimento e atender às necessidades que possam surgir durante este momento.
As terapias de suporte são utilizadas como complemento ao tratamento médico, a fim
de propor melhor qualidade de vida e adesão do paciente aos tratamentos necessários
(INSTITUTO DE INFORMAÇÃO E SUPORTE EM ONCOLOGIA, 2001).
32

Dentre elas podemos citar: a psicologia, a fisioterapia, fonoaudiologia, nutrição,


enfermagem, arteterapia, musicoterapia, serviço social, entre outras. Cada uma destas áreas
oferece uma atenção integrada e voltada para um melhor enfrentamento da doença, adaptação,
e reabilitação do paciente desde o diagnóstico até após o tratamento.
Tendo em consideração todas estas formas de tratamentos, é fundamental incluirmos
as formas também de prevenção ao câncer. Yamaguchi (1994) ressalta que mais de 40% de
todo o câncer do mundo poderia ser evitado se prevenido com base nos recursos e
conhecimentos disponíveis atualmente.
Para melhor entender o tema discutido, faz-se necessário compreender também o
percurso da Psicologia no hospital, e como a mesma se insere no setor da Oncologia. No
próximo capítulo nos dedicaremos a apresentar um breve percurso acerca da história do
hospital, a Psicologia Hospitalar e a Psico-Oncologia.

3 O HOSPITAL, A PSICOLOGIA HOSPITALAR E A PSICO-ONCOLOGIA

Neste capítulo, nos dedicaremos à breve apresentação acerca do surgimento do


hospital, como também a história da Psicologia Hospitalar, possibilidades de atuação da
Psicologia no hospital, e mais precisamente, o trabalho da Psicologia no setor de Oncologia.
33

3.1 O Surgimento do Hospital

A palavra hospital tem origem latina (Hospitalis), derivada do latim hospes (hóspede),
o significado se deu graças às antigas casas de assistência que recebiam peregrinos, pobres e
enfermos. Hoje, o termo hospital tem a mesma compreensão de Nosocomium, de origem
grega, e significa “tratar os doentes”, como Nosocomium quer dizer “receber os doentes”.
Além de viajantes, o estabelecimento poderia também receber os chamados incuráveis e
insanos, tornando-o conhecido como “hospitium”, ou seja, hospício, usado para designar os
hospitais psiquiátricos (BRASIL, 1965).
O livro do Ministério da Saúde (BRASIL, 1944) destaca que, ao contrário do que
muitos autores apresentam, o hospital teve origem antes da era cristã, mas é fato que o
cristianismo impulsionou e desvendou novos olhares aos serviços de assistência. Há ainda
textos documentados sobre a atividade de médicos na Mesopotâmia do tempo Assírio-
Babilonesco.
Campos (1995) explica como os médicos aprendiam medicina durante a Grécia, Egito
e Índia antigos e o exercício acontecia em locais junto aos templos e a prática era realizada no
domicilio das pessoas enfermas. Na Grécia, muitos anos antes da Era Cristã, já podiam ser
encontrados construções semelhantes a hospitais próximas aos templos dedicados a
Esculápio4. Nessas estruturas, eram colocados os doentes diante da estátua do Deus para que,
dessa forma, a ação dos sonhos associada aos medicamentos empíricos dos sacerdotes
pudesse curar os enfermos.
Há ainda leituras que revelavam que os hospitais não passavam de espécies de
depósitos em que se amontoavam pessoas doentes, destituídas de recursos, de função social, e
não terapêutica. Foi por influência cristã, e por isso a história do hospital começa a ser
contada a partir de Cristo, que o homem começa a demostrar preocupação com seus
semelhantes. Sob a crença “Amar o próximo como a si mesmo”, surge em Óstia a primeira
entidade assistencial, no ano 360 d.C. (CAMPOS, 1995).
Segundo a autora, foi por determinação de Dona Fabíola que se deu início a “Era dos
Hospitais”, realizando atividades básicas de restaurar a saúde e prestar assistência, através de

4
Esculápio (em latim: Aesculapius) é, na mitologia grega e romana, o deus da medicina e da cura.
Aprendeu o poder curativo das ervas e a cirurgia, e adquiriu tamanha habilidade que podia trazer os
mortos de volta à vida.
34

diagnósticos e efetuando tratamentos restritos aos padrões da época. Entretanto, é importante


entender como a lógica hospitalar funcionava até a instituição que reconhecemos atualmente.
O livro “Microfísica do Poder” de Foucault (2007) apresenta como se deu o
nascimento do hospital, muito antes do que encontramos hoje. Ele revela que durante um
longo período, mais necessariamente até o século XVIII, o que se tinha como hospital não era
de modo algum um meio de cura. Além disso, a prática médica também não tinha efetividade
hospitalar, isto é, não curativa ou terapêutica.
Foucault (2007) evidencia que durante esta época, anterior ao século XVIII, o hospital
era um “morredouro”, um lugar para morrer. Era de antemão, um lugar administrado por
pessoas religiosas e caritativas, onde se realizavam obras de caridade para benefício próprio,
acreditando assegurar a salvação eterna.
Segundo Teixeira et al. (2007), foi com o Renascimento, no século XV, que os
incentivos aos estudos científicos da Medicina ganharam força, fazendo com que nos séculos
XVIII e XIX começassem a surgir os grandes hospitais, que tiveram suas condições
melhoradas graças as contribuições de Pasteur5, Koch6, Lister7.
Os autores pontuam que, até o século XIX, o funcionamento dos hospitais estava
estreitamente relacionado ao mundo religioso e militar. Com o processo de industrialização, a
população começou a se mudar para as áreas urbanas em busca de soluções para os problemas
de saúde pública. Com os avanços tecnológicos e da medicina científica, os papéis
desempenhados pelo hospital foram se modificando, fazendo com que o mesmo passasse a ser
uma instituição privilegiada no tratamento dos doentes.
Quanto à medicalização no hospital, Foucault (2007) explica que só foi possível ser
implementada quando os mecanismos disciplinares do hospital foram introduzidos, isto é, o
ajuste dos processos de deslocamento da intervenção médica e a disciplinarização do espaço
hospitalar, controlando questões como monitoramento e registro de atividades realizadas aos
pacientes. Para o autor, o hospital, em toda sua arquitetura e disciplinaridade, deve ser fator e
instrumento de cura, é a partir desse momento que o hospital se torna instrumento terapêutico
e o médico seu principal responsável.
5
Cientista, Químico e Bacteriologista Francês que revolucionou os métodos de combate às infecções.
Criou uma vacina contra hidrofobia ou “raiva”, e, em 6 de julho de 1885, aplicou, pela primeira vez,
essa vacina salvando um menino de 9 anos.
6
Médico, Patologista e Bacteriologista Alemão. Foi um dos fundadores da microbiologia, é um dos
principais responsáveis pela atual compreensão da epidemiologia das doenças transmissíveis.
7
Cirurgião e pesquisador inglês, que iniciou uma nova era no campo da cirurgia. Seu nome está
associado à introdução da assepsia cirúrgica. Em 1865, demonstrou que o ácido carbólico (fenol) era
um excelente agente antisséptico, o que reduziu o número de mortes causadas por infecções pós-
operatórias.
35

Com isso, o médico assume o controle do regime alimentar, a ventilação, o ritmo das
bebidas e demais fatores de cura, o que antes era de privilegio dos religiosos. Além disso, o
número de visitas aumenta, passando de uma vez ao dia para, em 1770, a residência médica,
assim o médico poderia ser chamado e se locomover a qualquer hora do dia ou da noite à
serviço dos enfermos (FOUCAULT, 2007).
Em torno dos anos 1780 e 1790, os médicos passam a ter a obrigação de registrar as
atividades realizadas no hospital, com isso, o saber médico, que até então era apenas
encontrado nos livros, passa a ser de domínio também da instituição, agora a formação
normativa do médico deveria passar pelo hospital, que “além de ser um lugar de cura, este é
também lugar de formação de médicos” (FOUCAULT, 2007, p. 64).
Sob a influência da colonização portuguesa no Brasil, os hospitais brasileiros tiveram
de mudar radicalmente a forma como tratavam os pacientes, principalmente os indígenas que
sofreram grande mudança cultural. Assim surgem as Santas Casas de Misericórdia, seguindo
os regulamentos e disposições da Santa Casa de Misericórdia de Lisboa.
Campos (1995) revela que foi em Santos, litoral paulista, que surgiu a primeira Santa
Casa no Brasil, no ano de 1524. Posteriormente, de 1590 a 1599, mais uma Santa Casa é
criada, dessa vez em São Paulo, para atender os próprios explorados e colonizadores da época.
Neste primeiro momento, os hospitais ainda tinham o foco maior nos doentes e não
nas doenças, até que os profissionais pudessem compreender assuntos como a fisiopatologia e
patologia das diversas afecções. Além disso, era de suma importância estudar sobre agentes
microbianos e a atividade que eles desenvolvem na gênese das doenças infecciosas, assim, os
profissionais podiam ampliar os cuidados com os enfermos que necessitavam de cuidados
especializados.
Mello (2008) relata que foi durante o período em que o Brasil era Colônia Império que
outros hospitais surgiram, seguindo o mesmo modelo das Santas Casas de Portugal, porém
tinham como principal objetivo prestar caridade e abrigar pobres e desabrigados. Fala ainda
que durante o governo de Getúlio Vargas, foram criados Institutos de Previdência que tinha a
missão de assistência médico-social a algumas categorias profissionais, como: para os
marítimos (1933), para bancários (1934), para industriários (1936), para servidores do Estado
(1938), para os trabalhadores em transportes e cargas (1938) e para os comerciários (1940).
Teixeira et al. (2006) apresenta que houveram muitas tentativas de universalizar a
acessibilidade em relação à saúde brasileira, como o Programa de interiorização das Ações de
Saúde e Saneamento (PIASS), o Prev-saúde, o Programa de Ações Integradas de Saúde
36

(PAIS) e o Sistema Único e Descentralizado de Saúde (SUDS), todas antes do atual e ainda
vigente no país, Sistema Único de Saúde (SUS).
O Sistema Único de Sáude (SUS) foi criado pela Constituição Federal em 1988 com o
objetivo de garantir o acesso universal às ações e serviços de saúde a toda população
brasileira, sendo então oficializado pela Lei Nº 8080/90 (MELLO, 2008).
Em 1980, a Organização Sanitária Brasileira era caracterizada pela diversidade de
instituições que prestavam cuidados em saúde e pela profunda dicotomia entre as práticas de
prevenção e promoção e as atividades de natureza curativa, ou seja, tinha foco biológico,
técnico e positivista. Campos (1995), explica que foi com o desenvolvimento dos
conhecimentos preventivos em saúde que as medidas práticas foram aplicadas à abordagem
dos problemas de saúde das comunidades.
Assim, outro tipo de instituição foi criado, produto do desenvolvimento das atividades
de prevenção e promoção de saúde, as unidades de saúde estavam especialmente ligadas ao
poder público. Essa divisão de organizações e atividades consolidava a especialização de
tarefas que mesmo quando competia ao hospital desenvolver atividades preventivas, o mesmo
se detinha às atividades curativas (CAMPOS, 1995).
A autora reforça que somente quando for possível superar a divisão entre o
atendimento curativo e o preventivo que se chegará ao terceiro momento da evolução dos
hospitais, onde todos os serviços de saúde devem trabalhar desde a prevenção até a
reabilitação e que os cuidados médicos devem ser dirigidos a todos.
Segunda a Organização Mundial de Saúde o hospital é definido como

[...] a parte integrante de um sistema coordenado de saúde, cuja função é


dispensar à comunidade completa assistência medica, preventiva e curativa,
incluindo serviços extensivos à família em seu domicílio e ainda um centro
de formação dos que trabalham no campo da saúde e para as pesquisas
biossociais. (CAMPOS, 1995, p. 20)

Enquanto isso, seguindo a definição da OMS, o Ministério da Saúde conceitua o


hospital como

[...] a parte integrante de uma organização médica e social, cuja função


básica consiste em proporcionar à população assistência médico-sanitária
completa, tanto curativa como preventiva, sob quaisquer regimes de
atendimento, inclusive domiciliar, e cujos serviços externos irradiam até o
âmbito familiar, constituindo-se também em centro de educação, capacitação
de recursos humanos e de pesquisas em saúde, bem como de
encaminhamentos de pacientes, cabendo-lhe supervisionar e orientar os
37

estabelecimentos de saúde a ele vinculados tecnicamente. (CAMPOS, 1995,


p. 20)

Campos (1995, p. 21) ressalta a importância de conhecer o hospital em seu


desenvolvimento como prestador de serviços assistenciais, as lutas em prol da restauração da
saúde, para além das atividades de prevenção de doenças, e possibilitar meios para pesquisa e
ensino. Para a autora, é fundamental a compreensão de que “[...] o hospital deve ser entendido
como um todo que busca proporcionar a manutenção do bem-estar físico, social e mental do
homem”.
Lima Gonçalvez (apud CAMPOS, 1995) reflete o hospital como a própria força do
homem, também suas fragilidades, anseios, angústias desejos e alegrias. Para ele, a força do
homem está presente na batalha contra a morte, na recuperação, na reabilitação e promoção de
saúde.
Pensando agora nas funções restaurativas e preventivas inerentes ao hospital, podemos
listar algumas das principais funções desta instituição. Segundo Lima Gonçalvez, as
atividades podem ser agrupadas em:
 Prestação de atendimento médico e complementar aos doentes em regime de internação;
 Desenvolvimento, quando possível, de atividades preventivas;
 Participação em programas de natureza comunitária, objetivando atingir o contexto
sócio familiar dos doentes, incluindo-se a educação em saúde;
 Integração ativa no sistema de saúde.
Campos (1995) complementa que há também, dentro do hospital, programas de
educação em saúde destinado aos próprios funcionários, que agirão como veículo
multiplicador das orientações recebidas em sua comunidade. Esse tipo de programa se torna
importante porque estreita as relações entre os profissionais e os usuários daquele serviço.
Além disso, é necessário entender que dentro do hospital existem o que Campos
chama de “pólos de poder”. Neles estão, respectivamente, os médicos, responsáveis pela
condução do tratamento dos enfermos sob sua responsabilidade e também possuem certa
soberania no funcionamento do hospital; a administração hospitalar; e a alta direção do
hospital.
É a partir do conhecimento desses poderes que começamos a questionar onde a
Psicologia teria espaço e poderia contribuir nestas categorias, assim como também os demais
membros da Equipe de Saúde. No próximo tópico abordaremos um pouco sobre a história e
percurso da Psicologia Hospitalar.
38

3.2 A História da Psicologia Hospitalar

Como já citado anteriormente, o hospital tinha caráter fortemente ligado à medicina


curativa, de modo que os demais tipos de tratamentos e terapias se quer eram levados em
consideração, estava também intimamente apoiado à igreja. Por esse motivo, a Psicologia
Hospitalar partilhava de práticas de cunho religioso que eram geralmente exercidas por algum
devoto pautado em valores curativos.
Segundo o Conselho Federal de Psicologia (2006), após a Segunda Guerra Mundial,
juntamente com todo o impacto e transformações sociais causados pela mesma, novas
intervenções em saúde foram estabelecidas, com o propósito de atender à demanda em sua
integridade e complexidade. É a partir desse momento que a Psicologia passa a sobressair por
sua existência mediante a necessidade no ambiente hospitalar.
Diferentemente do modelo biomédico utilizado pelos hospitais no período dos séculos
XIX e XX, o modelo biopsicossocial visa “[...] englobar em sua esfera todos os fatores
pertencentes à existência humana, atingindo um viés abrangente e atuando num modelo que
privilegia todas as dimensões do ser: além da física, a psicológica e a social” (MARCO, 2006,
apud CAVALCANTE, 2015, p. 20).
O que antes era motivo de elogios, como a neutralidade e a imparcialidade frente ao
paciente que era tratado como uma máquina a ser consertada, passa a ser considerado cada
vez mais inapropriado. Com a implantação desse novo modelo de atuação, os profissionais
deveriam realizar intervenções mais humanizadas, possibilitar a criação de vínculos com o
paciente e a família, como também entre si, facilitando a comunicação e boa relação.
Cavalcante (2015) faz uma ressalva importante quanto à abertura para a partilha de
saberes entre os profissionais, revela que este é um dos maiores desafios da atuação
hospitalar, o chamado trabalho interdisciplinar. Somente quando esse desafio for finalmente
superado, trabalhos de cunho humanizado serão de fato possíveis.
O modelo biomédico já era questionado desde meados dos anos 50, segundo alguns
trabalhos de Freud, Jung, Lacan, entre outros, a interação entre mente, corpo e ambiente já
revelavam que os problemas humanos podiam estar associados a muito além das artérias
entupidas e tendões inflamados. Era necessário levar em conta também fatores como a
sociedade, a economia, a cultura e o comportamento para o equilíbrio e manutenção da saúde
(CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA, 2006).
39

Chiattone (2009, p. 145) faz uma breve e importante reafirmação desse pensamento,

Gradativamente, o modelo biomédico passou a ser questionado por não


fornecer uma compreensão completa e profunda dos problemas humanos;
por atender a interesses minoritários; por não atingir um conhecimento tal
que permitisse relacionar a doença com a existência do homem; por dissociar
a promoção da saúde, mesmo exibindo excelência técnico-cientifica; por
impor o conhecimento único e totalitário do médico; por negar a existência
individual do paciente; por não aceitar, enfim, as influências da interação
mente, corpo e meio ambiente em uma perspectiva holística.

A superação da cultura biomédica é, para a Psicologia Hospitalar, motivo de grandes


avanços para sua atuação e afirmação no campo da saúde. O psicólogo hospitalar deve
conduzir os profissionais, visto que estes fazem parte da tríade de atuação (paciente – família
– equipe de saúde). Cavalcante (2015) ressalta que este princípio de trabalho é também um
processo de transformação e compromisso ético do profissional com a própria Psicologia
enquanto ciência e profissão.
Com a transição de modelos de funcionamento, a Psicologia surge no contexto
hospitalar ainda enviesada na cultura biomédica, mas ao passo em que sua atuação se torna
cada vez mais necessária, este modelo vai se desvencilhando da prática do (a) psicólogo (a),
gerando o que Pereira (2006 apud CAVALCANTE, 2015) explica como sendo um processo
de transformações e cura além do orgânico.
Anteferindo questões existências para além do orgânico, o processo de recuperação
conta agora com a participação do profissional da Psicologia e, em destaque, o paciente, que
por sua vez é o autor protagonista de sua condição e é por este que o (a) psicólogo (a) poderá
intervir, e o possibilitar encontrar sua participação existencial em seu tratamento.
No Brasil, a psicóloga Mathilde Neder, diplomada pela Universidade de São Paulo
(USP), foi uma das principais pioneiras no processo de expansão da Psicologia Hospitalar em
nosso país. Seus trabalhos foram reconhecidos mundialmente graças à construção de
metodologias específicas e consistentes nessa área de conhecimento humano (CONSELHO
FEDERAL DE PSICOLOGIA, 2006).
Angerami-Camon (1995) reforça essa prática do psicólogo hospitalar ao citar que com
a inserção da Psicologia no hospital, foi necessário rever conceitos que já haviam sido
determinados à formação do profissional, adquirindo agora uma nova compreensão da
existência humana.
40

Dada esta afirmação, é necessário registrar que a inserção da Psicologia no hospital


passou por uma série de momentos conturbados, principalmente quanto a busca pela
identificação e reconhecimento teóricos e metodológicos na área. Este fato dificultou a
concretização da atuação dos profissionais nas instituições de saúde, além da realização de
pesquisas e definição de sua especialidade no campo (CHIATTONE, 2009).
A falta de embasamento científico que fornecesse segurança à pratica durante
formação acadêmica acabou delimitando a atuação dos psicólogos nos serviços de saúde.
Durante muito tempo, a Psicologia Hospitalar teve de usar recursos técnicos e metodológicos
de outras áreas do saber psicológico, resultando em problemas estruturais que comprometiam
a efetividade de sua atuação na área hospitalar, já que nem sempre os conhecimentos
emprestados eram adequados ao contexto em si (SEBASTIANI; FONGARIO, 1996, p.6 apud
CHIATTONE, 2009, p. 75).
As consequências desse período foram agravantes para a importante valorização e
legitimação dos psicólogos nas áreas de saúde e, mais precisamente, hospitalar. Contudo, as
tentativas de demarcação na Psicologia Hospitalar podem ser justificadas graças à falta de
pressupostos e leis em psicologia nesse contexto.
Por isso, fez-se necessário partir de parâmetros e objetivos diversos para construir a
universalização das leis que norteiam a especialidade praticada pela psicologia no hospital.
Aos psicólogos, cabem resolver, cada um à sua maneira, os desafios da atuação de forma
isolada, em busca de uma prática ética e efetiva àqueles que necessitam dela.
Cavalcante (2015, p.23) contribui para esta afirmação ao dizer que

[...] é possível afirmar que o profissional ligado a este âmbito encontra


desafios na sua inserção e atuação, pois ele precisará, a partir da sua própria
prática, estabelecer caminhos que lhe proporcionem segurança e o
instrumentalizem adequadamente para atuar nas instituições hospitalares
com eficácia e qualidade.

Em 27 de agosto de 1962 a Psicologia passa a ser regulamentada no Brasil através da


Lei nº 4.119, ainda inspirada numa formação generalista e que habilitava todo profissional a
atuar em qualquer área da psicologia. Vinte e três anos depois dessa regulamentação, o
Conselho Regional de Psicologia (CRP) divulgou um novo documento integrante do Catálogo
Brasileiro de Ocupações do Ministério do Trabalho (CBO) identificando as várias áreas de
atuação do psicólogo. A partir deste, pode-se garantir a diferenciação e especificação das
41

áreas como “tradicionais” e “emergentes”, contribuindo para a ampliação e consolidação da


prática psicológica em diversos contextos.
Para muitos estudiosos, o termo mais adequado para definir o estudo e as práticas da
Psicologia no hospital seria “Psicologia da Saúde”, dessa forma, essa disciplina contemplaria
saberes educacionais, científicos e profissionais da Psicologia em conjunto a ações de
prevenção de doenças, promoção do bem-estar e manutenção da saúde (CONSELHO
FEDERAL DE PSICOLOGIA, 2006).
Segundo a Associação Pan-americana de Saúde (2006), a Psicologia da Saúde é mais
bem definida como “[...] conjunto de contribuições cientificas e profissionais da Psicologia
para a promoção e a manutenção da saúde, a prevenção e o tratamento de doenças, além do
desenvolvimento dos sistemas e da elaboração de políticas sanitárias” (CONSELHO
FEDERAL DE PSICOLOGIA, 2006, p. 23).
Esta definição ainda é considerada de grande valia no que se entende por Psicologia da
Saúde ou Hospitalar nos dias atuais. Complementando essa ideia, a Psicologia Hospitalar
abrange as atividades de assistência, ensino e pesquisa. Por isso, o (a) psicólogo (a) deixa de
ser apenas um consultor em situações de emergências e passa a fazer parte do grupo de
decisões no contexto médico e de atenção à saúde.
Para Chiattone (2009), as denominações Psicologia da Saúde e Psicologia Hospitalar
possuem divergências claras, principalmente quando são utilizadas para a delimitação
especifica do espaço de atuação do profissional da área. O uso da terminologia Psicologia da
Saúde por alguns profissionais que atuam no contexto hospitalar é uma forma de abarcar
todas as possibilidades de atuação do profissional dentro daquele espaço.
Vale ressaltar que o que é denominado no Brasil por Psicologia Hospitalar, é, em
outros países, chamado de Psicologia da Saúde, sendo assim, este é um termo exclusivamente
brasileiro. As distinções feitas com relação a prática da Psicologia da Saúde, Clínica e
Hospitalar são os níveis de atenção à saúde, assim considera-se que a Psicologia Clínica
desenvolve um trabalho mais amplo na saúde mental atingindo os três níveis de atuação:
primário, secundário e terciário. Já a Psicologia Hospitalar restringe-se aos níveis secundário
e terciário, ou seja, delimita-se ao contexto hospitalar. Também, a Psicologia da Saúde atua
nos três níveis, porém sua prática é voltada ao contexto sanitário, enfatizando as implicações
psicológicas, sociais e físicas da saúde e da doença (CASTRO; BORNHOLDT, 2004).
Para elucidar a atuação do psicólogo e suas funções nos níveis de atenção à saúde,
Alves e Eulálio (2011 apud ALVES; VIANA; SOUZA, 2018) explicam que no nível primário
42

a atuação do psicólogo será nos centros de saúde, unidades básicas de saúde, consultórios e
em domicilio, priorizando a saúde geral, além disso, o psicólogo precisa ter conhecimento de
epidemiologia, antropologia, saúde pública, políticas sociais e públicas de saúde, indicadores
do desenvolvimento humano.
Acerca dos níveis secundário e terciário, níveis de possível atuação do psicólogo
hospitalar, os autores pontificam

No nível secundário, o psicólogo irá atuar em ambulatórios ou centros de


especialidades, e desenvolverá atividades para oferecer assistência e
orientação psicológica, suporte social, psicodiagnóstico e encaminhamentos.
No nível terciário, o psicólogo irá atuar em hospitais gerais e/ou hospitais
especializados, trabalhará na assistência junto aos problemas de alta
complexidade, que não foram resolvidos nos níveis anteriores, dentre as
funções do psicólogo no hospital estão: apoiar e orientar pacientes
hospitalizados e seus familiares, assistir a equipe de saúde, desenvolver e
estimular atividades com crianças internadas, e na UTI, além de, atuar nas
urgências psicológicas em hospitais psiquiátricos. (ALVES; EULÁLIO,
2011, apud ALVES; VIANA; SOUZA, 2018, p. 523)

Chiattone (2009, p. 78) complementa esta nova etapa da Psicologia ao explicar que

Ao redimensionar a psicologia como um campo de saber, são evidentes os


sinais ou signos de multiplicidade ou pluralidade, seja referente aos locais de
atuação profissional, seja com relação às teorias que embasam a prática, seja
no tocante a metodologias utilizadas, seja quanto à própria pluralidade
implícita em cada profissional que interfere diretamente em sua atuação.

Por outro lado, esta afirmação de Chiattone levanta críticas quanto ao trabalho dos
psicólogos nos hospitais, no sentido que devido às várias faces e possibilidades de intervenção
podem tornar confusa a prática deste profissional. Para que este problema seja resolvido,
segundo Eksterman (1992 apud CHIATTONE, 2009), é preciso que o psicólogo tenha uma
formação psicodinâmica sólida, capaz de estabelecer estratégias de atendimentos próximas ao
modelo da psicologia médica.
Chiattone (2009) explica ainda que apesar de historicamente a inserção dos psicólogos
nas instituições hospitalares esteja fundamentada e caracterizada como apenas “aplicadores de
testes” e auxiliares nas equipes de saúde mental, é necessário compreender que o fator
determinante do trabalho da Psicologia no hospital não é o local, e sim a definição da tarefa.
Não se pode ignorar o fato de que a ausência de uma perspectiva e linha uniforme que
fundamente a atuação do psicólogo no hospital, associado a outros problemas já citados,
resulte em trabalho ignorante e desnorteado. A falta de valorização e investimento na área
43

também são fatores apontados por Chiattone (2009), segundo a autora, a pressão do mercado
de trabalho que insere profissionais recém-formados nas instituições sem a preparação
necessária e devida qualificação, resultam numa prática cada vez mais inapropriada.
Em complemento a isto, os termos psicológicos usados por profissionais que se
intitulam psicólogos hospitalares, mas que na verdade não podem ser assim nomeados, pois

[...] um psicólogo que atua subordinado a um serviço de saúde mental em


um hospital geral, realizando e complementando diagnósticos psicológicos
ou psiquiátricos, realizando consultoria, não é um psicólogo hospitalar, não
exerce uma prática de ligação entre a psicologia e a medicina, não é presença
constante nas enfermarias, unidades e ambulatórios, não abrange a tríade
paciente, família e equipe de saúde em modalidade definida como de
assistência, ensino e pesquisa. (CHIATTONE, 2009, p. 101, grifo da autora).

Ainda que o processo histórico da Psicologia Hospitalar tenha sido permeado de


dificuldades e uma prática desafiadora, com o passar dos anos, a atuação dos psicólogos
nesses espaços foi ganhando cada vez mais credibilidade, consequência de um
profissionalismo e segurança na efetividade do serviço prestado aos usuários.
Angerami-Camon (2009, p. 24) corrobora para a importância do reconhecimento do
trabalho da Psicologia Hospitalar ao enfatizar que

As perspectivas da Psicologia Hospitalar são bastante promissoras e


alentadoras. Promissoras porque determinam a própria trajetória de suas
conquistas e realizações. Alentadoras por tratar-se de uma prática que se
iniciou sem um determinismo que pudesse unificá-la a partir de
pressupostos, diretrizes e constructos, mas que cresceu além de seus próprios
limites.

A luta por espaço, reconhecimento e valorização dos profissionais da Psicologia nesse


contexto foi, e continua sendo, um grande desafio, mas tem conseguindo alcançar grandes
feitos para a história da Psicologia Hospitalar e da saúde, em geral.
A Psicologia Hospitalar cresceu, ganhou espaço nas universidades, publicações,
eventos científicos, reconhecimento também das demais áreas de conhecimento, ajudou e
continua ajudando na humanização dos profissionais da saúde, além de ser determinante para
a mudança de postura médica diante de um cenário em que os aspectos emocionais devem ser
considerados no quadro geral do paciente (ANGERAMI-CAMON, 2009).
O autor reforça ainda que
44

A Psicologia Hospitalar é coadjuvante da própria realização hospitalar. É a


crença de que a humanização da abordagem hospitalar é possível e real. É a
vertente que faz com que o grito de dor do paciente seja escutado e
compreendido em toda sua extensão (ANGERAMI-CAMON, 2009, p. 24).

A Psicologia Hospitalar passa a ocupar uma posição de decisão na instituição


hospitalar, é parte do tratamento instituído e oferecido à pessoa hospitalizada. É através desse
trabalho que o sujeito pode refletir o fenômeno doença e ressignificar sua condição, a fim de
encontrar o melhor caminho para sua recuperação ou reabilitação.
Há ainda muito a ser conquistado, contudo, diante de tantos acontecimentos marcantes
na história dessa vertente, é notório que a Psicologia Hospitalar vem trilhando um longo
caminho de batalhas e conquistas diárias, e que cabe ao profissional buscar incessantemente
os direitos e espaços que à Psicologia cabem, nos mais variados campos e valorizando a
importância de seu trabalho na área da saúde.
Em seguida nos dedicaremos a apresentar algumas das possibilidades de intervenção e
atuação da Psicologia no contexto hospitalar, evidenciando o trabalho exercido no setor de
Oncologia, que é foco desse trabalho.

3.3 As Possibilidades de Atuação da Psicologia no Hospital

Segundo Angerami-Camon (2009), a Psicologia Hospitalar é a ampliação da prática


clínica e abrangência da própria Psicologia em uma ação mais ampla e social. Para isso, é
preciso ampliar também seus limites e horizontes, e entrelaçar teorias que podem construir um
novo esboço teórico no espaço institucional.
Chiattone (2009) enfatiza que a atuação de psicólogos em hospitais advém da
necessidade de um novo enfoque e mudança de estratégias na forma de promoção de saúde,
num sentido integral. Para a autora, esta atuação representa

Um novo paradigma que, reforçando o modelo biopsicossocial e otimizando


o trabalho interdisciplinar, pudesse realmente estimular a união ou
integração das ciências médicas e sociais, estreitando os vínculos das
vertentes assistenciais, de formação e investigativas, aglutinando estratégias
globais que possibilitassem oferecer respostas aos problemas que implicam
desenvolver uma nova forma de pensamento em saúde (CHIATTONE, 2009,
p. 147).
45

Para Simonetti (2011), a Psicologia Hospitalar tem como principal objetivo a


subjetividade, e, entendendo que a doença afeta diretamente a subjetividade do sujeito, o
trabalho do psicólogo no hospital é oferecer a esse indivíduo a escuta e, através da fala, o
paciente poderá dar voz a sua subjetividade, devolvendo-lhe o lugar que lhe fora afastado pela
medicina.
Além disso, o autor reforça que a prática da Psicologia no contexto hospitalar não tem
como objetivo traçar metas para o paciente, mas sim “[...] acionar um processo de elaboração
simbólica do adoecimento” (SIMONETTI, 2011, p. 19). Essa estratégia permite que o sujeito
faça a travessia da experiência do adoecimento, sem dar certezas sobre onde ela acabará, não
porque a Psicologia não o quer lhe dar respostas, mas porque não sabe.

[...] a fala que faz a passagem da doença para o adoecimento. Se o paciente


não fala, existe apenas a realidade biológica da doença, mas se ele fala, surge
a subjetividade, e com ela o adoecimento. Somente a fala cumpre o famoso
dito em psicologia hospitalar, segundo o qual “... não existem doenças,
existem doentes” (PERESTRELO, 1989 apud SIMONETTI, 2011, p.116).

É importante compreender que os objetivos da Psicologia, no hospital, não podem


jamais ser confundidos, ou ser quer comparados, com os objetivos da Medicina. Enquanto a
Medicina tem como objetivos curar e salvar vidas, a Psicologia pretende reposicionar o
sujeito em relação à sua doença. Simonetti (2011, p. 20) reforça que “[...] o psicólogo pode
fazer muito pouco em relação a doença, mas pode fazer muito no âmbito da relação do
paciente com seu sintoma”.
Para compreender a atuação do profissional da Psicologia no hospital, faz-se
necessário entender alguns pontos importantes que ocorrem no processo de hospitalização,
como a despersonalização do paciente.
Neste processo, o paciente deixa de ter o próprio nome e passa a ser um número de
leito ou simplesmente o portador de uma patologia. Com isso, o estigma do doente se torna
presente, fazendo com que surja a necessidade de uma reformulação de valores e conceitos do
que se entende por visão de homem, mundo e as relações interpessoais. Este estigma, segundo
Goffman (1978 apud ANGERAMI-CAMON, 2002, p. 17), é “[...] um sinal, um signo
utilizado pela sociedade para discriminar os indivíduos portadores de determinadas
características”.
Angerami-Camon (2002) explica que a despersonalização do paciente é derivada dos
diagnósticos cada vez mais específicos e do determinismo de que aquele sintoma seja único
46

na vida da pessoa hospitalizada. Esse determinismo traz, além de signos, estigmas e


preconceitos, necessidades para a pessoa portadora de determinada patologia, como o cuidado
complementar no intuito de se livrar de tais denominações.
O trabalho do psicólogo diante deste cenário é o estancamento de processos de
despersonalização no âmbito hospitalar, ajudando na humanização do hospital. Angerami-
Camon (2002) revela que este é um processo que deve ser motivo de reflexão não somente da
Psicologia, mas de toda equipe de saúde, afim de fazer com que o hospital perca seu caráter
meramente curativo para construir a imagem de uma instituição que se preocupa também com
o reestabelecimento da dignidade humana.
O autor aponta a Psicoterapia como o principal instrumento de atuação do psicólogo,
pautado na prática clínica individual em consultório, mas que sofre importantes alterações
quando passa para o contexto hospitalar. Uma das principais divergências dessa prática, entre
o ambiente clínico fora do hospital e o espaço hospitalar, é o fato de ser um processo onde a
procura e a determinação de seu início parte do paciente. Quando o mesmo é encaminhado,
muitas vezes, há bastante resistência do paciente a encarar e “entrar” no processo.
Outra forte característica da Psicoterapia, que irá se diferenciar no contexto hospitalar,
é o setting terapêutico. Nele, espera-se obter uma privacidade ao relacionamento paciente-
psicólogo que torna, quase que totalizante qualquer interferência externa um problema
inexistente ou, ao menos, plausível de ser analisado e resolvido entre as partes envolvidas
neste processo.
Essa característica clínica gerou, como aponta Cavalcante (2015), uma rigidez na
atuação do profissional da Psicologia, afinal, ao realizar trabalho de natureza da clínica
tradicional em instituições hospitalares, o psicólogo ignora as realidades que são apresentadas
neste outro campo de trabalho.

Além disso, a manutenção de um modelo de atuação clínica é


constantemente retroalimentada pelas instituições responsáveis pela
formação dos psicólogos; o aluno já procura a graduação em psicologia com
uma imagem social do psicólogo como clínico especializado e a faculdade
incrementa esses anseios, reforçando essa imagem. (CHIATTONE, 2009, p.
93)

Daí a importância também de refletir o trabalho de formação acadêmica que reforça


este modelo clínico como sendo cabível a todas as esferas de atuação do psicólogo. Chiattone
(2009) aponta que ao transpor esse modelo para as instituições de saúde, o profissional passa
47

a encarar uma série de dificuldades inerentes à própria demanda institucional e limitação de


sua formação.
A formação complementar é fundamental para uma prática hospitalar adequada e
específica, visto que, essa atuação interfere diretamente na inserção e desempenho técnico do
profissional neste ambiente. É preciso ainda, seguir alguns requisitos mínimos para a atuação,
orientação e supervisão, formação especifica nas áreas clínica e hospitalares, em nível de
graduação, especialização ou pós-graduação (CHIATTONE, 2009).
Não obstante, Chiattone (2009, p. 96) reforça que não basta a especialização na área
hospitalar, é preciso também ser sensibilizado “[...] para aprender a área de psicologia como
pratica socialmente articulada nas instituições de saúde, em atuação comprometida e centrada
nas realidades sociais”. E complementa que

[...] é preciso que os psicólogos hospitalares aceitem que são profissionais da


saúde inseridos num contexto maior do que a consideração dos fatores
patogênicos que incidem no plano individual. É necessário atuar a partir da
análise do que se apresenta como necessidade de trabalho e das demandas e
não como mera transposição de modelos previamente aprendidos.
(CHIATTONE, 2009, p. 96)

Com a adaptação do profissional à instituição, sua atuação ficará mais propensa à


dinâmica que ela se propõe e às demandas que serão apresentadas neste contexto,
caracterizado por “[...] regras, rotinas, condutas específicas, dinâmicas que devem ser
respeitadas e seguidas [...]” (CHIATTONE, 2009, p. 97). O psicólogo deve, além disso, tornar
possível sua inserção nas equipes de saúde, a fim de fixar-se, afirmar-se e interagir com as
mesmas.
Com esse movimento de inserção nas equipes de saúde, é necessário entender e
delimitar as ações do psicólogo no ambiente hospitalar. Compreende-se que, ao entrar na área
de psicologia do hospital, em uma série de tentativas para sua adaptação e aceitação, o
profissional pode correr o risco de regressar às práticas do modelo médico tradicional.
O hospital, por outro lado, encara o trabalho do psicólogo como uma estreita ligação a
problemas exclusivamente psicológicos e não integrativo, totalmente em contraponto com o
que a Psicologia visa como possibilidades de intervenção quando ingressa na área da saúde
em geral.

[...] ele ingressa na instituição fortemente imbuído de uma ideologia


integradora e holística em saúde, baseada nas concepções psicossomáticas e
de não-exclusão dos aspectos psicológicos, ambientais, familiares e
48

institucionais que definem o processo de doença. (CHIATTONE, 2009,


p.98)

O trabalho da Psicologia como atuante no processo de minimização do sofrimento


causado pela hospitalização do sujeito apresenta um campo cheio de possibilidades, levando
em conta as variáveis que fazem desse trabalho seguro e efetivo. Angerami-Camon (2002)
esclarece que o processo de hospitalização não deve ser entendido como simplesmente um
processo de institucionalização hospitalar, mas como um conjunto de fatos que decorrem
desse sistema e, principalmente, as implicações na vida do paciente.
De maneira mais técnica, Simonetti (2011) pauta a prática do psicólogo hospitalar em
três tipos de metodologias: a entrevista, a associação livre e o silêncio. Segundo o autor, no
processo da entrevista, o psicólogo deve fazer perguntas objetivas ao paciente sobre o assunto
que parece ser o mais acessível, como a doença, o motivo da internação, os remédios, onde
mora, profissão, estado civil, etc. O importante é colocar a fala em andamento, buscar o
vínculo entre paciente - psicólogo e estimular as elaborações psíquicas através da fala.
Na associação livre, o psicólogo deve explicar para o paciente que ele pode falar o que
lhe vier à mente, sem pautas. A fala livre exige do psicólogo também uma escuta livre, o foco
não precisa ser a doença e isso faz parte de uma boa prática deste profissional, não limitar a
fala da pessoa hospitalizada aos seus sintomas.
Por último, o silêncio funciona como um vácuo, puxa as palavras, pede para ser
preenchido e, no caso da psicologia hospitalar, deve ser preenchido, idealmente, pela fala do
paciente. Simonetti (2011) enfatiza que não se trata da ausência de palavras do psicólogo, e
sim de sua capacidade de permitir as palavras do paciente, e que há certas horas que não
admitem palavras.
A atuação da Psicologia no hospital é dinâmica e exige que o profissional desta área
esteja sempre em movimento, em outras palavras, sair do conforto, da segurança e
tranquilidade do consultório tradicional e encarar o desafio de fazer atendimentos entre as
macas do pronto-socorro, enfermarias, centros cirúrgicos, e até mesmo em conjunto com
outros procedimentos terapêuticos e de rotinas hospitalares (CHIATONNE, 2009).

[...] no caso de atendimentos realizados em enfermarias, o atendimento


psicológico, muitas vezes, é interrompido pelo pessoal de base do hospital,
seja para aplicação de injeções, prescrição medicamentosa numa
determinada faixa horária, seja ainda para processo de limpeza e assepsia
hospitalar. O atendimento dessa forma terá que ser efetuado levando-se em
conta todas essas variáveis além de outros aspectos mais delicados [...].
(ANGERAMI-CAMON, 2002, p. 25)
49

A utilização da Psicoterapia Breve (PB) se torna a técnica mais adequada para atender
às demandas de situações clínicas, ambulatoriais e de emergência como exige o cenário
hospitalar. Este modelo de atuação surge como uma forma de abreviar o modelo psicoterápico
psicanalítico tradicional.
Não se trata, entretanto, de um simples encurtamento de tempo do processo
terapêutico, constitui-se de “[...] um campo a ser investigado em sua estrutura dinâmica e
particular, própria a suas necessidades e limitações particulares” (LUSTOSA, 2010, p. 263).
Lustosa (2010) pontua que a PB é muito bem empregada em quadros agudos, como
em situações de emergências e crises; distúrbios reativos; reações ansiosas ou fóbicas e
perturbações psicossomáticas de início recente. Também, mostra-se adequada à aplicação no
hospital, onde a população encontra-se em grande quantidade, em contrapartida ao número de
profissionais da saúde, ainda incapacitados.

A formação do profissional nesta técnica é o que confere habilidade para


correta seleção dos candidatos a esta forma de tratamento psicoterápico,
assim como do encaminhamento adequado deste processo original.
(LUSTOSA, 2010, p. 268)

Além disso, vale acrescentar que enquanto profissional atuante de uma instituição, o
psicólogo tem de ter bastante claros os limites institucionais de sua atuação. O profissional
deve levar em consideração questões imprescindíveis, como a compreensão aprofundada
acerca da essência do sofrimento do paciente hospitalizado; de que a desospitalização pode
também estar aliado a este saber para que ocorra (avaliação das condições emocionais); e a
humanização como transformador social.
Por fim, faz-se importante ressaltar que evidentemente muitos casos abordados pelo
psicólogo no hospital necessitarão, após o processo de hospitalização, encaminhamentos
específicos para processos de psicoterapia, devido à complexidade e emaranhado de sequelas
e comprometimento emocional (ANGERAMI-CAMON, 2002).
No próximo tópico apresentaremos as possibilidades de trabalho da Psicologia focado
no setor de Oncologia do hospital, evidenciando a Psico-oncologia como uma importante
aliada no tratamento do câncer.

3.3.1 As Intervenções da Psicologia no Setor de Oncologia


50

No momento em que foi possível compreender a doença como possibilidade de


reflexão e reorganização do próprio organismo, evidenciando as experiências, necessidades e
crenças como parte do mesmo, além da própria participação do sujeito ao seu adoecimento,
encontra-se o caminho para a cura. Nesse sentido, o processo de cura perpassa não apenas
pela escolha consciente do paciente ao tratamento, mas também a reorganização de sua vida,
uma ideia contrária ao tradicional processo de eliminação de sintomas físicos, trata-se de uma
renovação do indivíduo como um todo.
A partir desta introdução, podemos compreender que a doença, neste tópico o câncer
em especifico, pode ser uma oportunidade de compreender uma parte da vida do sujeito que
nem ele mesmo poderia fazer reflexões antes de seu adoecimento. Entender que a saúde e a
doença não dependem somente de fatores biológicos e orgânicos, mas também da
subjetividade é fundamental para a produção de saúde.
Como já foi apresentado no capítulo anterior, o câncer é uma doença que leva o sujeito
a vivenciar momentos de desconforto gerados pelo impacto emocional do diagnóstico e o
estigma imbuído na sociedade sobre sua compreensão, assim, faz-se necessário investir na
atuação de profissionais que promovam estratégias de enfrentamentos capazes de reduzir o
sofrimento presente nas diversas fases da doença.
Com isso, a Psicologia se torna necessária neste âmbito com o objetivo de auxiliar as
pessoas diagnosticadas com câncer a encontrarem formas de lidar com o sofrimento
decorrente do diagnóstico recebido e proporcionar maior qualidade de vida a esses pacientes,
esta área do conhecimento é conhecida como Psico-oncologia. (ALVES; VIANA; SOUZA,
2018).
A Psico-oncologia atua envolta dos aspectos psicossociais, desde a etiologia da doença
até seu desenvolvimento, à identificação de fatores de natureza psicossocial que abrangem sua
prevenção e reabilitação, além de incentivar a sistematização de conhecimentos que possam
fornecer assistência integral ao paciente e sua família, como também atua na formação de
profissionais de saúde envolvidos com o tratamento dessas pessoas (GIMENES, 1994).
A partir da compreensão de que tanto o aparecimento quanto a manutenção e remissão
do câncer são intermediados por diversos fatores, para além da visão biomédica, a Psico-
oncologia se tornou cada vez mais visível e necessária.

Tornam-se particularmente importantes intervenções de natureza psicológica


que ajudem o paciente a lidar com os aspectos envolvidos como o
51

diagnóstico de uma doença que está associada à ideia de morte, sofrimento e


solidão. (GIMENES, 1994, p. 42)

A autora explica que foi a partir dos avanços nas áreas médicas, entre os anos de 1920
e 1950, que médicos oncologistas sentiram a necessidade de incluir, como aspecto relevante
ao tratamento, fatores psicológicos de pacientes diagnosticados com câncer, assim, o auxílio
da unidade de Psiquiatria começa a ser requisitado, principalmente no intuito de tornar o
processo de tratamento “menos assustador” que o próprio diagnóstico da doença.
Bayés (1985 apud GIMENES, 1994) associa o desenvolvimento da Psico-oncologia a
diversos fatos; como o reconhecimento de que o câncer está vinculado a fatores psicológicos,
comportamentais e sócias; a importância da valorização dos mais diversos tipos de tratamento
pela comunidade da área da saúde; e por fim, a Psicologia, juntamente com outras áreas
importantes da saúde, foi fundamental para o aumento da sobrevida de pacientes após o
diagnóstico.
A doutora e médica psiquiatra, também fundadora da Associação Internacional da
Psico-oncologia, Jimmy Holland (1928 – 2017) definiu a Psico-oncologia como uma
subespecialidade da Oncologia que procura estudar o impacto do câncer no funcionamento
emocional do paciente, sua família e profissionais envolvidos em seu tratamento, além de
investigar o papel das variáveis psicológicas e comportamentais na incidência e na
sobrevivência do câncer.
Tomando por base uma análise aprofundada dos conteúdos apresentados em encontros
brasileiros de Psico-oncologia, Gimenes (1994) define esta área como uma interface entre a
Psicologia e a Oncologia que utiliza conhecimento educacional, profissional e metodológico,
aplicada na assistência ao paciente oncológico, sua família e profissionais de saúde
envolvidos desde a prevenção até, a depender de cada caso, a fase terminal da doença.
Além disso, a Psico-oncologia pode ser aplicada em pesquisas e no estudo de variáveis
psicológicas e sociais que ajudam na compreensão da incidência, recuperação e tempo de
sobrevida após o diagnóstico do câncer. Por último, segundo a autora, esta área pode atuar
também na organização de serviços oncológicos que objetivam o atendimento integral do
paciente, destacando a importância da formação e preparação desses profissionais da saúde.
No Brasil, já pode-se observar um avanço da Psico-oncologia graças à crescente
demanda de atendimento psicológico nos setores de oncologia dos hospitais. Com esse
avanço, a procura por capacitação e formação por parte dos profissionais da Psicologia
aumentam expressivamente (VEIT; CARVALHO, 2010).
52

Em 2008, a Portaria 3.535/98 do Ministério da Saúde determinou obrigatória a


presença de profissionais especialistas em Psicologia Clínica nos centros de atendimento de
Oncologia cadastrados no Sistema Único de Saúde. Essa ação fez com que diversos hospitais
e centros médicos que possuíam setores de oncologia incluíssem os profissionais devidamente
instrumentalizados para atendimento, passando consequentemente para que os planos de
saúde também tornassem obrigatória a cobertura de até 40 atendimentos psicológicos ao ano,
aumentando o acesso dos pacientes oncológicos ao cuidado integral (VEIT; CARVALHO,
2010).
Apesar de o trabalho da Psicologia, e mais especificamente da Psico-oncologia, estar
conquistando o reconhecimento de sua importância e eficácia no contexto hospitalar, este
campo no Brasil ainda se encontra com limitações nos serviços especializados, principalmente
no que se refere a dificuldade de compreender o papel do profissional da Psicologia. Por isso,
torna-se necessário a ampla divulgação de como funciona o trabalho deste profissional no
campo da Oncologia (ALVES; VIANA, SOUZA, 2018).
Com isso, Carvalho (2002 apud ALVES; VIANA; SOUZA, 2018, p. 525) pontua que

[...] é possível perceber que o ponto que une os profissionais da Psico-


oncologia é o paciente com câncer, a presença do psicólogo neste espaço tem
a função de auxiliar os pacientes em suas dificuldades, necessidades e
problemas, buscando facilitar o enfrentamento da doença e permitindo uma
melhor convivência com a patologia.

Para melhor compreender a atuação deste profissional no setor de Oncologia, Cullen


(1982 apud GIMENES, 1994) sugere que o manejo do câncer aconteça de maneira horizontal,
ou seja, desde a prevenção até a detecção, o diagnóstico, o tratamento, a reabilitação e o
tratamento contínuo. Além disso, é importante considerar a etapa de terminalidade como parte
do trabalho a ser executado e bem trabalhado pelos profissionais da saúde.
Considerando que a possibilidade de detecção de metástases e reincidência da doença
representa um momento complicado na vida de pacientes e de suas famílias, há um crescente
interesse dos profissionais da área de saúde em saber como lidar com esse sujeito, no sentido
de comunicação das informações e condução de emoções diante da iminência da morte.
Neste momento, é preciso dar ênfase às famílias, tanto quanto aos pacientes, para
apoiar e evitar uma crise familiar causada pela ansiedade e o estresse do processo de
diagnóstico e tratamento da pessoa com câncer. O que acontece, segundo Alves; Vianna e
Souza (2018), é que as famílias tendem a experienciar o luto antecipatório, causando uma
53

fragilidade conjunta, afinal, essas pessoas também têm sua rotina alterada e vivenciam as
angustias do tratamento de forma intensa.
Por isso, torna-se importante que o profissional da Psicologia atue também em prol
dessas famílias como parte do tratamento oferecido no setor de Oncologia. Através de uma
escuta atenta e sensível as questões que surgem neste momento delicado, facilitando a
elaboração das angustias sofridas e ampliando as possibilidades de enfrentamento da situação
(CARDOSO, 2007).
A intervenção dos profissionais de Psicologia no setor de Oncologia, ou como alguns
autores os referem como psico-oncologistas, ocorre nos três níveis de saúde: primário,
secundário e terciário. A seguir faremos uma breve apresentação de cada um deles e qual o
objetivo destes profissionais na prática, segundo as explicações de Gimenes (1994).
A intervenção em nível primário acontece de maneira preventiva, com isso, visa atuar
sobre os estilos de vida do indivíduo, o estresse diário a que os mesmos são expostos e o
comportamento alimentar. Este trabalho tem como objetivo promover mudanças de atitude e
comportamentos que facilitem os hábitos de uma vida saudável.
Promover o reconhecimento do papel de políticas econômicas, sociais, psicológicas e
educacionais na população, afinal, para que ocorra uma intervenção é preciso que a Psico-
oncologia atue no processo de orientação das autoridades e da população de que o câncer
depende também de uma postura governamental com políticas efetivas de minimização da
incidência da doença.
Educar a população acerca de assuntos de natureza e importância psicológica que tem
impacto direto em suas vidas diariamente, como o estresse e a ansiedade. Além disso, tão
importante quanto orientar e informar sobre esses assuntos, é traças estratégias de como lidar
com essas situações no dia-a-dia.
A intervenção em nível secundário está relacionada a educação para a detecção do
câncer, com isso, os principais objetivos nesse nível de cuidado e assistência são: informar a
população em geral sobre os procedimentos preventivos da doença e seus mais variados tipos;
promover a adoção de hábitos frequentes e sistemáticos de detecção precoce.
Preparar os profissionais da área da saúde para lidar com a população a fim de
facilitar a comunicação entre ambas as partes; e promover a análise de fatores psicológicos e
sociais responsáveis pela não-adesão a programas de prevenção. A atuação do profissional da
Psicologia pode ser importante em qualquer – ou todas – essas etapas.
54

No terceiro nível, as atividades de prevenção já são realizadas durante o processo de


tratamento do paciente, visando maximizar as chances de sucesso e eficácia. Desse modo, a
intervenção psicológica tem por objetivo: Facilitar a adesão do indivíduo com câncer ao
tratamento da melhor maneira possível, como também assumir conscientemente as
consequências e os riscos de não aderir; promover o conhecimento de algumas técnicas de
enfrentamento psicológico frente a situações como as que o câncer impõe; promover a
preparação e treinamento de profissionais da saúde para melhor lidar com o paciente e sua
família durante o processo de tratamento, bem como capacitar esse profissional para melhor
encarar a doença.
Também, elaborar estratégias de resolução de problemas relevantes ao contexto de
tratamento de câncer, como a comunicação de diagnósticos ou preparação para a morte com
pacientes terminais. Essa última intervenção cabe vários objetivos, como atender as
necessidades emocionais da pessoa, considerando medos e ansiedade diante do sofrimento e
da iminência da morte.
Além disso, a atuação da Psicologia no momento de fase terminal do paciente
oncológico pode facilitar o processo de tomadas de decisões que ainda estão pendentes e são
causadores de sofrimento ao próprio paciente ou à família. Auxiliar e apoiar a família e a
equipe para lidar com as emoções presentes no contexto da morte e separação. E por fim,
colaborar para que o atendimento oferecido neste momento garanta uma morte e vida com
qualidade e dignidade.
Veit e Carvalho (2010) resumem essas intervenções em Psico-oncologia como uma
importante vertente de ação que inclui a compreensão das escolhas de modos de vida e das
razões que expõem os indivíduos em maior risco, e por isso desenvolveram-se técnicas de
atuação voltadas à redução desses comportamentos.
Outra importante atuação dos psico-oncologistas é a de trabalhar com uma equipe
multiprofissional, o que pode se tornar e ainda é considerado um dos principais desafios da
prática deste profissional. O câncer é uma doença multifatorial, e por isso requer uma
abordagem multidisciplinar, ou melhor, interdisciplinar. Com isso, é preciso que os cuidados
das diversas áreas de saber sejam somados e direcionados a todos os aspectos presentes no
adoecer (VEIT; CARVALHO, 2010).

A interdependência dos fatores biológicos, sociais, psicológicos e espirituais


faz necessárias intervenções em cada uma das dimensões envolvidas. Não se
pode tratar apenas de um órgão, porque quem está doente é um indivíduo,
uma pessoa. E esta pessoa mantem conexões internas e externas e inserções
55

de diversas ordens, internamente, enfrenta conflitos entre suas instancias


racionais e afetivas, debatendo-se frequentemente, entre entendimentos,
desejos e medos. Com o mundo externo, enfrenta inúmeras interações
familiares, profissionais, com a comunidade à qual pertence e assim por
diante. E, em certa medida, cada um desses elementos se apresenta, em
algum momento, como determinado ou determinante em todo processo de
tratamento e cura (VEIT; CARVALHO, 2010, p. 529).

A importância de um trabalho com uma equipe preparada e em consonância para


atender as necessidades do paciente, frequentemente desconsideradas ou pouco identificadas,
preserva a qualidade de vida do sujeito, enquanto for assim possível. Dessa forma, qualquer
profissional da equipe estará apto a reconhecer e encaminhar para atendimento especializado
manifestações de variadas necessidades, físicas, psíquicas, moral, social ou espiritual do
paciente oncológico (VEIT; CARVALHO, 2010).
Além desses aparatos, junto às práticas de Psicoterapia Breve, podemos considerar
outras técnicas de tratamento relevantes e que harmonizam a relação médico-paciente como a
arteterapia, hipnose e psico-educação, que já são cientificamente respaldadas em numerosas
pesquisas sobre sua eficácia no tratamento oncológico.
Outra possibilidade de atuação dos psico-oncologistas é o atendimento domiciliar, que
oferece assistência aos pacientes desospitalizados e visa a busca e manutenção da autonomia e
melhor qualidade de vida do sujeito (FIGUEIREDO; BIFULCO, 2008 apud ALVES;
VIANA; SOUZA, 2018).
Há que considerar, portanto, que a Psico-oncologia é uma área de saber ainda recente,
porém fundamental para a intervenção junto aos pacientes que tem diagnóstico de câncer,
podendo contribuir através das técnicas e instrumentos terapêuticos da Psicologia com o
objetivo de facilitar o processo de enfrentamento do sujeito frente ao seu adoecimento,
realizando intervenções significativas ao ressignificar medos, angustias e incertezas presentes
neste momento.
Importante acrescentar que para que os objetivos desta área sejam cumpridos, a Psico-
oncologia deve agregar conhecimentos de variadas áreas, como educação, serviço social,
nutrição, comunicação, enfermagem, entre outros que somarão e contribuirão para seu
enriquecimento e ampliação (GIMENES, 1994).
O trabalho da Psicologia no setor de Oncologia nos hospitais e centros de saúde é,
como já citado, imprescindível no tratamento de pacientes oncológicos diagnosticados com os
mais diversos tipos e estágios da doença. Este trabalho tem como foco dar visibilidade a
56

narrativa de mulheres diagnosticadas com câncer de mama e como os profissionais da


Psicologia podem atuar diante deste momento.
No próximo capítulo desta pesquisa, apresentaremos os caminhos metodológicos, o
processo para a obtenção de dados e análise dos resultados de forma detalhada, a qual buscou
refletir a importância da atuação da Psicologia diante do diagnóstico do câncer de mama em
mulheres.

4 ASPECTOS METODOLÓGICOS, ANÁLISE E DISCUSSÃO DO ESTUDO:


IMPORTÂNCIA DA ATUAÇÃO DA PSICOLOGIA DIANTE DO DIAGNÓSTICO
DE CÂNCER DE MAMA EM MULHERES
57

Neste capítulo, apresentaremos os caminhos metodológicos que conduziram esse


estudo bibliográfico e de cunho qualitativo, que teve como base para a análise de dados a
Análise de Conteúdo de Laurence Bardin (2004), da qual buscou discutir, de modo geral, a
importância da atuação da Psicologia diante do diagnóstico de câncer de mama em mulheres.
Dessa forma, nessa discussão retomaremos pontos importantes já trabalhados nos
capítulos anteriores para que possamos fazer críticas e levantamentos fundamentais para a
pesquisa e compreensão da importância da Psicologia diante do diagnóstico e durante o
tratamento do câncer de mama feminino. Tais discussões serão embasadas em produções de
autores de referência nas áreas de Psicologia Hospitalar e Psico-oncologia, dentre estes,
evidenciamos as produções de Valdemar Augusto Angerami-Camon, Heloísa Benevides de
Carvalho Chiattone e Maria Margarida de Carvalho, além de artigos e revistas que agregam à
pesquisa.

4.1 Caminhos da Pesquisa

Essa pesquisa teve como objetivo compreender a importância da atuação da Psicologia


diante do diagnóstico de câncer de mama em mulheres, para isso, teve como objetivos
específicos: conhecer o percurso histórico de investigação e intervenção sobre o câncer;
discutir as possibilidades de atuação da Psicologia no Hospital e mais especificamente no
setor de Oncologia; identificar as implicações psicológicas trazidas no momento de
diagnóstico do câncer de mama em mulheres e refletir sobre as contribuições da Psicologia
diante do diagnóstico do câncer de mama em mulheres.
Esse é um estudo de cunho qualitativo, ou seja, é um tipo de pesquisa que, segundo
Minayo (2012), tem um objeto de estudo com questões muito particulares e possibilita
trabalhar com o universo dos significados, dos motivos, das aspirações, crenças, valores e
atitudes. Com isso, o ser humano é responsável por fazer interpretações de tais significados de
acordo com a realidade de variados assuntos. A autora salienta que a pesquisa qualitativa
reflete realidades que não podem ser quantificadas ou traduzidas em números.

A pesquisa qualitativa trabalha com o universo dos significados, dos


motivos, das aspirações, das crenças, dos valores e das atitudes. Esse
conjunto de fenômenos humanos é entendido aqui como parte da realidade
social, pois o ser humano se distingue não só por agir, mas por pensar sobre
58

o que faz e por interpretar suas ações dentro e a partir da realidade vivida e
partilhada com seus semelhantes. (MINAYO; DESLANDES; GOMES,
2012, p. 21, grifos do autor)

Portanto, a pesquisa qualitativa promove a aproximação com a realidade da temática,


além de facilitar a aquisição de novos sentidos para a compreensão do assunto abordado. Os
autores compreensivistas, ou seja, que seguem a abordagem da pesquisa qualitativa não se
preocupam em estimar em números e sim na compreensão e explicação dos fenômenos
trazidos no estudo.

Os autores que seguem tal corrente não se preocupam em quantificar e em


explicar, e sim em compreender: este é o verbo da pesquisa qualitativa.
Compreender relações, valores, atitudes, crenças, hábitos e representações e
a partir desse conjunto de fenômenos humanos gerados socialmente,
compreender e interpretar a realidade. O pesquisador que trabalha com
estratégias qualitativas atua com a matéria-prima das vivências, das
experiências, da cotidianidade e também analisa as estruturas e instituições,
mas entendem-nas como ação humana objetivada (MINAYO;
DESLANDES; GOMES, 2012, p. 24, grifos do autor).

González Rey (2005) ressalta que um estudo que possua um enfoque na subjetividade
numa abordagem qualitativa direciona-se para a elucidação e para o conhecimento de novos e
complexos procedimentos que compõe a subjetividade. Destarte, essa pesquisa não possui
como requisito a predição, a descrição e o controle das etapas metodológicas presentes na
pesquisa quantitativa.
Esse é um estudo bibliográfico realizado a partir de buscas na literatura existente sobre
a temática. Para isso, foram analisados artigos científicos encontrados na ferramenta de
pesquisa Google Acadêmico após uma procura atenta dos materiais que, ao nosso
entendimento, seriam fundamentais para essa pesquisa.
O Google Acadêmico é uma ferramenta de pesquisa do Google característica pela
gama de produções científicas e facilidade de acesso a artigos, teses, revistas, dissertações e
outros materiais de variados temas e áreas de estudo.
As buscas foram realizadas durante os dias 11 a 21 de janeiro de 2021, delimitando um
período entre 2010 e 2020, com o objetivo de incluir pesquisas atuais a este estudo. A
princípio, a pesquisa foi feita através dos descritores que constam na Biblioteca Virtual em
Saúde (BVS) e Descritores em Ciência da Saúde (DECS): “Câncer de mama” com 16.400
resultados, e “Psico-oncologia” com 4.990 resultados, destes, foi percebido que muitos
materiais se repetiam em diferentes bases de dados.
59

Num segundo momento, incluímos às buscas palavras-chave que se aproximassem um


pouco mais da nossa linha de pesquisa, como “Psicologia e Câncer de mama”, com 16.000
resultados, e a expressão “Impactos psicológicos do câncer de mama” com o intuito de
afunilar as pesquisas e aprofundar a temática, e obtivemos 17.000 publicações a partir da
expressão usada. O número alto de publicações na última década é compreensível, visto que
os estudos acerca do câncer de modo geral vêm ampliando os campos de compreensão, como
a implicação do mesmo na vida do sujeito em todos os aspectos.
Por conta do número de respostas às buscas pelos descritores, estabeleceram-se como
critério de inclusão o uso exclusivo de artigos científicos redigidos em português,
preferencialmente em território brasileiro, cujos resumos pudessem ser acessados nas bases de
dados; pesquisas qualitativas que mais se aproximassem da temática do presente estudo. Foi
desconsiderado qualquer outro tipo de produção como: dissertações, teses, livros, manuais,
editoriais, resenhas, cartas, comentários, notícias ou críticas e estudos que abordam o câncer
de mama masculino. Com isso, conseguimos um resultado de produções bem menor em
relação ao anterior.
Inicialmente selecionamos, a partir dos temas e resumos, doze artigos, destes apenas
cinco foram utilizados para análise do presente estudo, visto que os demais artigos tinham em
seu conteúdo temáticas repetitivas e já apresentadas nas produções selecionadas ou não
correspondiam com o objetivo proposto nesse trabalho, levando sempre em consideração os
trabalhos mais recentes e completos. O foco maior foi sobre os artigos que destacavam,
principalmente, as repercussões psicológicas e a prática de intervenções psicológicas em
mulheres com câncer de mama.
A seguir, apresentaremos um quadro com a descrição dos artigos selecionados para
análise com a finalidade de expor seus títulos, resumos, palavras-chave, autores e ano de
publicação, ordenados e enumerados de acordo com o ano de publicação.

Nº TÍTULO / RESUMO / PALAVRAS-CHAVE AUTORES ANO


1. Impacto psicológico do diagnóstico de câncer de Natália Nogueira 2012
mama: um estudo a partir dos relatos de Teixeira de Menezes;
pacientes em um grupo de apoio Vera Lucia Schulz e
Este estudo objetivou analisar o impacto Rodrigo Sanches Peres
psicológico do diagnóstico do câncer de mama a
partir dos relatos apresentados espontaneamente por
mulheres acometidas pela doença durante as
sessões de um grupo de apoio. Utilizando-se o
critério de saturação, foram selecionadas 18 sessões
do referido grupo de apoio, das quais, no total,
60

participaram 93 mulheres. Os dados coletados


foram submetidos a uma apreciação qualitativa a
partir do empreendimento de uma análise temática
de conteúdo. Os resultados obtidos apontam que o
diagnóstico de mama causou, entre uma parcela
expressiva das participantes, um impacto
psicológico importante, uma vez que desencadeou
experiências de surpresa e tensão, ensejou
demonstrações de aceitação e força, motivou
tentativas de explicação, redefiniu relacionamentos
e intensificou o recurso à religiosidade. O
delineamento de cada um desses processos, em suas
dimensões positivas e negativas, fornece elementos
profícuos para o aperfeiçoamento da assistência da
assistência psicológica oferecida a tal população.
Palavras-chave: psico-oncologia; neoplasias
mamárias; processos grupais.
2. Repercussões do câncer de mama na imagem Tatiana Rodrigues de 2012
corporal da mulher: uma revisão sistemática Almeida; Maximiliano
Além de apresentar implicações inerentes a Ribeiro Guerra e Maria
qualquer adoecimento, o câncer de mama feminino Stella Tavares Filgueiras
é também um dos canceres mais temidos, por afetar
não apenas o corpo anatômico, mas principalmente
alguns aspectos psicossociais da paciente. Dentre
estes, destaca-se sua imagem corporal. O presente
trabalho teve como objetivo realizar uma revisão
sistemática de artigos que abordaram a imagem
corporal no câncer de mama, com descrição do
conteúdo da produção encontrada. Para tanto,
realizou-se uma revisão dos artigos publicados
entre 2000 e 2010 em revistas científicas indexadas,
por meio de buscas nas bases de dados
bibliográficos SciELO, PubMed, PePSIC,
PsycINFO. Concluiu-se que o adoecimento por
câncer de mama acaba por adoecer também a
imagem corporal da mulher assistida, e que seu
impacto varia conforme o tipo de procedimento
cirúrgico escolhido, os tratamentos complementares
adotados, a rede de apoio que cerca a paciente e
suas características individuais. A alteração na
imagem corporal tem múltiplas implicações na vida
sexual e conjugal da mulher, afetando as relações
com seu círculo social e consigo mesma,
influenciando sua autoestima e seu sentimento de
feminilidade e podendo levar sintomas de ansiedade
e depressão. Embora avanços tenham sido
verificados no estudo da relação entre imagem
corporal e câncer de mama, esta pesquisa aponta
para a existência de um campo fértil de
investigação sobre o tema, ainda pouco explorado.
Palavras-chave: câncer de mama; imagem
corporal; revisão sistemática.
3. Perdas e ganhos: compreendendo as Vanessa Souza Santana 2013
repercussões psicológicas do tratamento do e Rodrigo Sanches Peres
61

câncer de mama
Este estudo teve como objetivo analisar as
repercussões psicológicas do tratamento do câncer
de mama a partir dos relatos apresentados
espontaneamente por mulheres acometidas pela
doença durante as sessões de um grupo de apoio.
Trata-se de um estudo qualitativo, com desenho
metodológico documental e enfoque naturalístico,
cujo o corpus foi constituído por 18 sessões do
referido grupo, nas quais estiveram presentes, no
total, 93 mulheres. O critério de saturação foi
adotado para a composição do corpus, sendo que o
mesmo foi submetido à análise temática de
conteúdo. Observou-se que, além de repercussões
psicológicas negativas que refletem perdas
associadas à esfera simbólica da feminilidade, o
tratamento do câncer de mama pode também
implicar em repercussões psicológicas positivas,
passíveis de uma melhor compreensão a partir do
recurso à noção de “crescimento pós-traumático”.
Novos estudos dedicados especificamente a esse
assunto, contudo, são necessários.
Palavras-chave: psico-oncologia; neoplasias
mamárias; crescimento pós-traumático.
4. Sexualidade e câncer de mama: uma revisão Daniela Barsotti Santos; 2014
sistemática da literatura Manoel Antônio dos
O objetivo deste estudo foi compreender como o Santos e Elisabeth
câncer de mama e seus tratamentos afetam a Meloni Vieira
vivência da sexualidade da mulher acometida. Foi
realizada uma revisão sistemática qualitativa de
artigos científicos, publicados entre 2000 e 2010,
disponíveis nas bases de dados PubMed, Web os
Science, LILACS e SciELO. Foram obtidos 50
artigos cujos textos foram categorizados segundo
análise de conteúdo temática. Foram identificadas
seis categorias temáticas: a cirurgia mamária e os
demais tratamentos para o câncer de mama; a
experiência da mulher acometida; o relacionamento
afetivo-sexual; estudos sobre relação entre
sexualidade e características específicas do câncer;
os profissionais de saúde e a atenção à sexualidade;
e propostas para amenizar as consequências
negativas do tratamento na sexualidade. Há
necessidade de novos estudos a respeitos dos
aspectos culturais da sexualidade, diversidade
sexual, relacionamento com o parceiro, formação
do profissional de saúde e intervenções em
sexualidade no contexto do câncer de mama.
Palavras-chave: neoplasias da mama; sexualidade;
revisão sistemática.
5. Intervenções Grupais para Mulheres com Manoel Antônio dos 2019
Câncer de Mama: Desafios e Possibilidades Santos e Carolina de
Este estudo teve por objetivo analisar a produção Souza
cientifica nacional e internacional sobre os grupos
62

de reabilitação psicossocial para mulheres com


câncer de mama. O levantamento bibliográfico foi
realizado a partir das bases indexadoras LILACS,
Pubed, PsycINFO e CINAHL. Foram selecionados
28 artigos, publicados no período entre 2000 e
2015, que constituíram o corpus do estudo. Os
achados foram agrupados por meio da análise de
conteúdo. Os resultados evidenciaram que os
grupos de apoio podem resultar em benefícios
psicossociais, como redução de estresse, incremento
da qualidade de vida, melhora do humor e
compartilhamento de informações sobre as diversas
opções de tratamentos disponíveis. Conclui-se que
participar de grupos de apoio está associado a
melhores desfechos psicológicos, contudo, não há
evidencias que comprovem aumento na expectativa
de vida das mulheres.
Palavras-chave: neoplasias mamárias; grupos de
apoio; psicoterapia de grupo; revisão da literatura.
Fonte: Google Acadêmico, 2021.

A análise dos artigos científicos apresentados acima estará fundamentada na análise de


conteúdo de Laurence Bardin (2004), uma técnica que tem como objetivo auxiliar na
compreensão dos significados das mensagens a partir da utilização de procedimentos de
descrição do conteúdo.
De modo geral, a análise de conteúdo pode ser definida como um conjunto de
instrumentos metodológicos que tem como um fator comum à interpretação controlada,
baseada na inferência (BARDIN, 2004). Para a autora, “a intenção da análise de conteúdo é a
inferência de conhecimentos relativos às condições de produção (ou, eventualmente, de
recepção), inferência esta que recorre a indicadores (quantitativos ou não) ” (BARDIN, 2004,
p. 43).
Bardin (2004) explica que a intenção através da análise de conteúdo é de efetuar
deduções lógicas e justificadas referentes à origem das mensagens tomadas em consideração.
Nela, busca-se o conhecimento a partir das palavras sobre as quais se debruça, por meio de
procedimentos, sistemáticos e objetivos. Além disso, a análise de conteúdo visa representar o
conteúdo de um texto de uma maneira diferente do original, facilitando sua busca, consulta e
referência.
Caregnato e Mutti (2006, p. 684) apontam uma característica que diferencia a análise
de conteúdo da demais, para a as autoras “[...] a AC [Análise de Conteúdo] espera
compreender o pensamento do sujeito através do conteúdo expresso no texto, numa
concepção transparente de linguagem”. E evidenciam que “[...] a AC trabalha com o
63

conteúdo, ou seja, com a materialidade linguística através das condições empíricas do texto,
estabelecendo categorias para sua interpretação” (CAREGNATO; MUTTI, 2006, p. 683).
Dessa forma, a análise de dados a partir da utilização da metodologia de Bardin (2004)
exige do pesquisador um trabalho atencioso e explanatório com o intuito de ressaltar o
entendimento da mensagem que o autor pesquisado transmite, além de realizar uma melhor
compreensão sobre o que está presente no conteúdo do texto.
A análise de conteúdo de Bardin (2004) estabelece a categorização de três polos
cronológicos: (1) a pré-análise; (2) a exploração do material e (3) o tratamento dos resultados,
a inferência e a interpretação. A pré-análise é a fase de organização, tem por objetivo tornar
operacionais e sistematizar as ideias iniciais, a fim de conduzir um esquema preciso do
desenvolvimento das operações sucessivas. É, neste primeiro momento que acontece a
escolha dos documentos que serão analisados, a formulação de hipóteses e dos objetivos e a
elaboração da interpretação final.
O próximo passo é a exploração do material, esta fase consiste na administração
sistemática das decisões tomadas, a confirmação das impressões e hipóteses a partir da
decodificação, decomposição e/ou enumeração dos dados em função de regras previamente
formuladas. Os dados brutos são transformados de forma organizada e agregados em
categorias de análise. Dessa forma, é possível estabelecer uma descrição das características
apropriadas do conteúdo. Por fim, o tratamento dos resultados consiste na maneira como os
dados são tratados de maneira a serem significativos e válidos.
Destarte, organizamos os resultados obtidos através de categorias de análise, assim,
foram agrupados os elementos presentes nas mensagens de acordo com suas características
comuns e semelhantes. Esse processo de categorização da análise de conteúdo tem o intuito
de oferecer, de maneira condensada, uma representação simplificada dos dados brutos
(BARDIN, 2004). As categorias de análise encontradas para esta pesquisa foram:
1) O reconhecimento do impacto psicológico desde o diagnóstico;
2) As possibilidades de atuação da Psicologia no tratamento do câncer de mama; e
3) A importância do acompanhamento psicológico à paciente, familiares e equipe de
saúde responsável.
Dessa forma, buscamos organizar um diálogo entre os capítulos anteriormente
apresentados e as considerações da literatura sobre a temática. Além disso, buscaremos
realizar uma discussão sobre os eixos principais de cada artigo científico selecionado para esta
64

pesquisa acrescentando também as percepções e impressões da autora do presente estudo


acerca do material analisado, relacionando-as com a proposta central deste trabalho.

4.2 O Reconhecimento do Impacto Psicológico Desde o Diagnóstico

Em todos os artigos selecionados para a análise desse estudo, é possível identificar


relatos dos impactos e repercussões do câncer de mama desde o diagnóstico, afinal, este é um
momento que precede qualquer tipo de tratamento, de incertezas e historicamente relacionado
ao estereótipo de morte.
Sobre este assunto, Moraes (1994) ressalta o quanto o diagnóstico de câncer torna o
paciente consciente de sua própria finitude. Segundo a autora, para muitas pessoas é uma
doença fatal, ainda que existam casos de cura e remissões significativas. Esses sentimentos de
medo e angústia despertados no momento da confirmação da doença faz com que o paciente
oncológico se volte para si e utilize de mecanismos de defesa que podem ser de luta ou uma
nova maneira de se relacionar com o meio e consigo mesmo.

[...] a confirmação do diagnóstico do câncer de mama, por si só, pode


desencadear um sofrimento psicológico acentuado à mulher, o qual, vale
enfatizar, tende a afetar seu universo de relações, levando-a a se aproximar
ou se afastar daqueles que a cercam. (MENEZES; SCHULZ; PERES, 2012,
p.234, grifos da autora)

Assim, como já foi apresentado em capítulos anteriores, o câncer de mama recai sob
um dos principais símbolos corpóreos da mulher e sua feminilidade, isso o torna o tipo de
câncer mais temido pelas mulheres. O seio feminino é carregado de significações ligadas à
sexualidade, sensualidade e maternidade, além do prazer.
No artigo 4 de Santos, Santos e Vieira (2014), os autores destacam as repercussões
psicossociais trazidas a partir da descoberta e confirmação da doença, como a preocupação e
as dúvidas quanto a recuperação, essa angústia aflige também as relações familiares e suscita
questionamento quanto suas próprias crenças e valores; além de confrontar concepções
culturais sobre a feminilidade e beleza como os atributos aos seios e cabelos, características
fortemente afetadas no processo de tratamento do câncer de mama.
Os autores do artigo 1(MENEZES; SCHULZ; PERES, 2012) também fazem uma
breve explanação de como o tema é abordado em outros países, como nos Estados Unidos da
América e o quanto as atitudes tomadas no contexto brasileiro são diferentes às norte
65

americanas no que diz respeito à prevenção, enfatizando a necessidade de tomar cuidado com
as generalizações de alguns estudos sobre o impacto psicológico do diagnóstico do câncer de
mama.
De forma geral, a assistência psicológica é um assunto presente na maioria dessas
pesquisas, em diferentes culturas, comprovando a eficácia da atuação do profissional da
Psicologia no auxílio às mulheres acometidas pelo câncer de mama. Menezes, Schulz e Peres
(2012, p.234) explicam como a atuação do psicólogo pode ajudar a mulher acometida a “[...]
adotar estratégias de enfrentamento adaptativas face ao diagnóstico [...]” viabilizando uma
melhor adesão durante o tratamento. E acrescentam

Ademais, é igualmente capaz de potencializar a tolerância aos efeitos


colaterais da cirurgia, da radioterapia e da quimioterapia, minimizando o
incomodo desencadeado por eventuais dores, edemas, náuseas e infecções e
diminuindo tanto a frequência quanto a intensidade de intercorrências.
(MENEZES; SCHULZ; PERES, 2012, p.234)

É comum que a grande maioria das produções acerca do câncer de mama se volte para
as influências e manifestações psicológicas durante o tratamento da doença. Porém é
fundamental pensarmos sobre o momento do diagnóstico como sendo o ponto de impacto
emocional de maior dimensão para a vida da mulher, visto o tanto de mudanças que a mesma
e sua família tem de encarar a partir deste fenômeno.
Dando continuidade, a pesquisa feita por Menezes, Schulz e Peres (2012) apresenta
reações emocionais significativas para fundamentar este tópico. Os pesquisadores reuniram os
relatos referentes ao impacto psicológico do câncer de mama exteriorizados pelas pacientes e
participantes de um grupo de apoio, de maneira espontânea, e puderam identificar sentimentos
de surpresa, tensão, aceitação, força, além de tentativas de explicação, religiosidade e
relacionamentos.
No estudo, as pacientes relataram a surpresa ao receberem o diagnóstico e isso se vale
do que já abordamos anteriormente ao falarmos das constantes dúvidas e demora dos
resultados dos exames, a longa espera pela confirmação da doença é muitas vezes causadora
de tensão e ansiedade. Além de que essas mulheres já vivenciavam uma desestruturação
pessoal e familiar significativa.

Ocorre que, aparentemente, algumas mulheres acometidas por doenças


graves como o câncer se veem totalmente a mercê do destino, de modo que
66

encontram dificuldade para tomar decisões apropriadas em relação ao


tratamento. (MENEZES; SCHULZ; PERES, 2012, p.237, grifos da autora)

A partir desse relato, é possível inferir a participação da família neste momento, afinal
ela também é afetada com a notícia inesperada e este sentimento de impotência pode
permanecer por muito tempo depois do diagnóstico. Ambrósio e Santos (2011, p.476) referem
que a “[...] experiência de enfrentamento (da doença) pode comprometer as relações
familiares, ocasionando estresse, tensão e reativação de conflitos latentes [...]”, dado que a
doença altera o papel social do sujeito enfermo e a dinâmica familiar, como aponta Carvalho
(2008).
Baider (2003) contribui ao afirmar que a família não é um espelho sem reflexo, isso
quer dizer que é um sistema que reverbera o medo e as ansiedades da paciente e de cada um
dos membros que compõem a unidade familiar. Dessa forma, o diagnóstico do câncer de
mama tem o potencial de causar impactos a variados segmentos da vida da mulher acometida,
inclusive na relação com o próprio companheiro, no medo de perder atratividade sexual e não
ser mais desejada. (SANTOS; SANTOS; VIEIRA, 2014)
No artigo 3 (SANTANA; PERES, 2013), os autores fazem uma breve explanação
sobre as repercussões da doença nos relacionamentos sociais, familiares e amorosos das
mulheres

[...] amigos, entes e cônjuges também são abalados pelas ameaças de perdas
associadas à doença, apresentando reações de atordoamento às quais, para
Bervian e Girardon-Perlini (2006), podem-se suceder tanto o distanciamento
quanto a aproximação. Nos casos em que a primeira opção prevalece, uma
importante rede de apoio se perde, pois, de acordo com Fabbro e Westin
(2009), as pessoas com as quais as mulheres convivem podem auxiliar
sobremaneira no enfrentamento da doença, quer seja dividindo afazeres ou
compartilhando emoções e transmitindo segurança. (SANTANA; PERES,
2013, p.32)

No momento do diagnóstico, além da confirmação da doença, a paciente e os


familiares possivelmente são informados sobre os próximos passos a serem dados no que
concerne ao seu tratamento e prognóstico. E este instante pode despertar novos sentimentos
de desesperança, medo e ansiedade, dado que os tratamentos para o câncer de mama
geralmente envolvem procedimentos que afetarão fatores físicos, psicológicos, sociais e
culturais da mulher.
No artigo 4 (SANTOS; SANTOS; VIEIRA, 2014), os autores explicam como as
consequências do tratamento do câncer de mama podem ser temporárias ou permanentes na
67

vida da mulher e enfatizam a necessidade de uma boa abordagem da equipe de saúde em


identificar cada uma dessas necessidades.
De forma mais quantitativa, o artigo 2 (ALMEIDA; GUERRA; FILGUEIRAS, 2012)
trouxe informações sobre o reconhecimento, por grande parte dos autores abordados no
estudo, do impacto que o diagnóstico e o tratamento do câncer de mama têm sobre a imagem
corporal da mulher, compondo 66% dos artigos analisados. E acrescentam que as alterações
na imagem corporal são um dos aspectos mais angustiantes da doença, consequentemente,
mais difíceis de serem enfrentados.
No mesmo texto, os autores apresentam um dado importante quanto a presença
simultânea do impacto na imagem corporal da mulher e no funcionamento sexual, presente
em 42% dos artigos analisados na pesquisa. Esse dado está relacionado aos relatos sobre a
cirurgia mamária, tratada como “um ataque à feminilidade e à atratividade”.

Após a cirurgia, total ou parcial, a paciente vivencia alterações em sua


imagem corporal e experimenta sentimentos de ter-se tornado “menos
mulher”, “incompleta”, “menos atraente sexualmente”. [...] muitas mulheres
relatam dificuldades em se verem nuas e serem vistas por seus parceiros
após a cirurgia, o que afeta o seu relacionamento conjugal e ocasiona
prejuízos em sua vida sexual. (ALMEIDA; GUERRA; FILGUEIRAS, 2012,
p. 1013)

Outro dado relevante presente na pesquisa de Almeida, Guerra e Filgueiras (2012) se


refere aos aspectos psicológicos envolvidos no diagnóstico e tratamento do câncer de mama,
como ansiedade, depressão, medos, dúvidas e preocupações quanto à mastectomia, a
recorrência da doença e a iminência de morte, presente em 39% das produções analisadas, e
como esses aspectos afetam diretamente na qualidade de vida das pacientes.
Por outra perspectiva, também é repercutido na vida dessas pacientes e familiares
sentimentos de aceitação e força através de um processo lento e gradual de enfrentamento. No
artigo 1 (MENEZES; SCHULZ; PERES, 2012), os autores apresentam essa reação como
resultado da pesquisa feita com as mulheres participantes do grupo de apoio e fazem uma
importante observação quanto a passagem da aceitação passiva e conformista para um tipo de
aceitação mais ativa e reveladora.
Os pesquisadores esclarecem como o conformismo pode ser positivo, num primeiro
momento, ao contribuir com a redução temporária do estresse da paciente acometida, mas
torna-se prejudicial quando dificulta o processo de ajustamento psicossocial em longo prazo.
Percebeu-se que as pacientes que relatavam esse sentimento de conformismo estavam
68

buscando afastar-se de sentimentos negativos trazidos no diagnóstico, numa tentativa de


autodefesa.
Contudo, o sentimento da aceitação ativa, suscitava o espírito de luta e se mostrava
mais adequado por excitar a superação das dificuldades inerentes ao tratamento e diminuição
do estigma associado ao diagnóstico. Alguns relatos na mesma pesquisa demonstraram como
o conformismo das pacientes tinha como objetivo afastar os sentimentos de medo e tristeza,
com isso, elas acreditavam que mantendo os sentimentos negativos longe, teriam um melhor
resultado em seus tratamentos.
Sobre estes relatos é possível identificar o fenômeno da “tirania do pensamento
positivo”, como chamam os autores, e é a partir deste que pacientes oncológicos tendem a
reprimir sentimentos de conotação negativa “como se disso dependesse sua sobrevivência”.
(MENEZES; SCHULZ; PERES, 2012, p.237)
Em contrapartida, no artigo 3 (SANTANA; PERES, 2013) os autores revelam como a
aceitação da própria experiência de adoecimento foi importante para o enfrentamento das
adversidades associadas à mesma, colaborando para além do tratamento, como um estilo de
vida mais saudável. Esse fenômeno da aceitação ativa é chamado de “crescimento pós-
traumático” e consiste em “mudanças positivas, em uma diversidade de domínios, resultantes
do enfrentamento de um evento potencialmente desestruturante”, assim, propicia benefícios
significativos do ponto de vista psicológico e existencial.
É claro que nem todas as pacientes desfrutam desse fenômeno e seus benefícios, e é
justamente por esse motivo que a atuação do profissional da Psicologia neste contexto se
torna tão necessário. No próximo tópico apresentaremos algumas possibilidades da Psicologia
no tratamento do câncer de mama.

4.3 As Possibilidades de Atuação da Psicologia no Tratamento do Câncer de Mama

No capítulo anterior, nós já havíamos apresentado algumas possibilidades de


intervenção da Psicologia no setor oncológico através da Psico-oncologia no tratamento do
câncer em geral, neste tópico, nossa discussão estará voltada às possíveis práticas do
profissional diante da realidade do câncer de mama feminino.
É preciso pontuar que tais intervenções podem não se diferenciarem, mas que é
preciso entender as especificidades de cada patologia, e mais do que isso, de cada sujeito.
69

A atuação da Psicologia diante do diagnóstico e no tratamento do câncer de mama está


intimamente ligada às práticas de acolhimento da mulher diante das repercussões psicológicas
anteriormente citadas, que estão presentes em todo o processo de adoecimento e tratamento da
doença. Esse serviço deve ter como objetivo a minimização dos impactos psicossociais
provocados pelo câncer e os efeitos adversos dos tratamentos.
Ao entendermos as necessidades associadas ao câncer de mama em específico, a
atuação do profissional da Psicologia neste cenário é, sem dúvidas, mais efetiva, afinal, é
preciso tratar a doença sob suas possibilidades e limitações. Ao favorecer adaptações,
mudanças e adesão ao tratamento, a Psicologia adentra num âmbito de intervenção que nem
toda a equipe de saúde pode interferir, este processo demanda muito mais que técnica, mas
também a formação de vínculo com a paciente e a família.
Para além das práticas comuns dos Psico-oncologistas, há uma característica muito
presente na atuação do psicólogo que lida com a paciente com câncer de mama, a realização
de grupos terapêuticos. É a partir desse intuito que os autores do artigo 5 discorrem acerca
dos grupos terapêuticos como estratégia de atendimento psicológico no enfrentamento do
câncer de mama, uma vez que

O grupo auxilia suas integrantes a manter a esperança em face à doença


grave, na medida que oferece apoio e informação de forma ativa,
contribuindo para reduzir o sentimento de isolamento e os níveis de estresse,
além de ajudar as mulheres a desenvolver habilidades de resolução de
problemas. (SANTOS; SOUZA, 2019, p. 2)

Os autores ressaltam este recurso como uma “tradição já consolidada no contexto da


saúde”, obtendo majoritariamente resultados positivos. O contato com outras mulheres
possibilita a troca de experiências sob o mesmo problema, porém com visões de mundo e
vivências diferentes.
A prática do grupo terapêutico no tratamento de mulheres com câncer de mama é
extremamente eficaz ao criar condições favoráveis de interação entre as pacientes, fazendo-as
refletir sobre os eventos diários, procedimentos do tratamento, além de promover a melhora
da autoestima e qualidade de vida.

O formato grupal favorece condições que proporcionam vivencias que


facilitam a troca de experiências e a catarse, fatores terapêuticos importantes
do suporte oferecido para a reabilitação psicossocial. (SANTOS; SOUZA,
2019, p. 2)
70

No artigo 4 (SANTOS; SANTOS; VIEIRA, 2014), os autores enfatizam os impactos


do câncer de mama na sexualidade da mulher acometida, e defendem a atitude dos
profissionais de saúde, cada vez mais, se desvencilharem do modelo estritamente biomédico,
afim de promover diferentes modos de lidar com a saúde.
A partir disso, é proposto pelos autores que a temática da sexualidade esteja presente
num espaço propício a reflexões, tanto para as pacientes, quanto para os profissionais. O
grupo permite que observações e pensamentos como este sejam discutidos e levanta pautas
muitas vezes despercebidas durante o período do tratamento, mas igualmente importantes
para o processo de reabilitação dessas mulheres, e capacitação dos profissionais de saúde em
lidar com o assunto.

O suporte do grupo torna-se, assim, importante para a reabilitação


psicossocial de mulheres que tiveram ou ainda enfrentam o câncer de mama,
contribuindo também para seu desenvolvimento e crescimento pessoal
(MARTINS; PERES, 2014 apud SANTOS; SOUZA, 2019, p. 2).

Diante disso, Santos e Souza (2019) destacam que a assistência oferecida às mulheres
através dos grupos de apoio não deve manter o foco apenas na doença e reabilitação física,
mas abranger um contexto mais amplo da vida da mulher, como aspectos psicológicos,
culturais, educacionais, econômicos e sociais. E acrescentam que ao abordar assuntos para
além da doença pode ser até mais efetivo que manter o foco sobre a mesma.
Os grupos terapêuticos ou de apoio se tornam, portanto, fortes aliados no tratamento
do câncer de mama em mulheres em diferentes vertentes, não somente psíquica. O artigo 5
evidencia como este recurso contribui para potencializar o enfretamento das situações de
estresse e o medo da recidiva da doença, além de amenizar as manifestações de ansiedade,
depressão, raiva e hostilidade. Também,

[...] estudos mostram que, depois de serem expostas às intervenções


psicossociais, as mulheres apresentam melhora na intensidade dos sintomas
relacionados ao estresse, assim como no contato com a rede de amigos e
familiares. (SANTOS; SOUZA, 2019, p. 3)

É preciso pontuar que o grupo terapêutico é uma forma de atendimento muito usada
neste contexto principalmente por ter um tempo de duração mais curto que um
acompanhamento terapêutico individual clínico, e promove tantos benefícios quanto o
mesmo. Vale ressaltar que o tempo do hospital muitas vezes acaba limitando abordagens de
71

longa duração, por isso é necessário utilizar estratégias que podem ser realizadas em curto
prazo e ainda assim obter bons resultados.
De acordo com Sette e Gradvohl (2014 apud QUEIROZ; SANTOS; PARRAGA,
2019, p. 20) a função do psicólogo no acompanhamento de mulheres com câncer de mama é
“[...] favorecer a adaptação aos limites; às mudanças impostas pela doença; ajudar na tomada
de decisões, bem como no manejo da dor e do estresse; preparar a paciente para
procedimentos invasivos e dolorosos”. Consequentemente, promove melhorias na qualidade
de vida e bem-estar dessas mulheres.
Os mesmos autores fazem um adendo quanto a oferta do serviço psicológico às
pacientes, podendo ser rejeitado num primeiro momento, afinal, lidar com questões que estão
tão emergidas pode ser muito difícil. Entretanto, é preciso que o profissional demonstre
respeito e se coloque disponível para quando for solicitado.

[...] na atuação da psicologia junto a mulheres com câncer de mama é


imprescindível o acolhimento, uma relação empática e de apoio que permita
o fortalecimento efetivo delas no enfrentamento da doença e dos
tratamentos, assim como no manejo de esclarecimento de dúvidas, podendo
esta atuação ocorrer de forma individual ou grupal. (QUEIROZ, SANTOS;
PARRAGA, 2019, p. 22)

Gimenes (1994) fala da importância da atuação do psicólogo em promover, também, o


treinamento da equipe de saúde para lidar melhor com o paciente com câncer e seus
familiares, afinal, é sabido que o profissional da psicologia deve atuar em conjunto com a
equipe multidisciplinar e, além da troca de saberes, a inserção deste profissional favorece a
ampliação de diálogos importantes, como o cuidado com a humanização do espaço.
Esse trabalho com a equipe permite que os demais profissionais de saúde estejam mais
bem preparados para receber demandas como a depressão e ansiedade destes pacientes e, até
mesmo, da família. Ademais, uma equipe que permite a ampliação de saberes e promove
diálogos está mais bem capacitada para resolução de problemas como no momento da
comunicação de más notícias, por exemplo.
A seguir continuaremos esta discussão abordando a importância do acompanhamento
psicológico tanto para a paciente quanto para seus familiares e equipe de saúde evolvida no
caso.
72

4.4 A Importância do Acompanhamento Psicológico à Paciente, Familiares e Equipe


de Saúde

Diante de todos os apontamentos até aqui apresentados, é justificável que o


acompanhamento psicológico a todos os envolvidos no caso torne-se fundamental durante o
tratamento do câncer de mama. O trabalho da Psicologia junto à paciente, família e equipe de
saúde engloba fatores para além do campo psicológico e favorece o tratamento integral de
assistência à mulher acometida.
Majoritariamente em todas as pesquisas escolhidas para este estudo é possível
identificar a importância de se considerar os fatores psicológicos envolvidos em todo o
processo de doença do câncer de mama, e poder incorporar o profissional da psicologia como
parte do tratamento é, sem dúvidas, indispensável.
No artigo 1 (MENEZES, SCHULZ; PERES, 2012), os autores relatam a importância
da assistência psicológica no auxílio às pacientes na adoção de estratégias de enfrentamento
face ao diagnóstico, viabilizando uma melhor adesão ao tratamento. E, também, possibilita a
potencialização da tolerância aos efeitos colaterais da cirurgia, radioterapia e quimioterapia ao
minimizar o incômodo desencadeado por eventuais dores físicas decorrentes destes
procedimentos.
Ao intervir desde o momento do diagnóstico, através da resolução de dúvidas
frequentes neste primeiro momento e acolhimento de sentimentos provenientes do impacto da
descoberta, o profissional da psicologia consegue resultados muito mais satisfatórios que uma
abordagem tardia no tratamento.
O grupo terapêutico, como apresentado anteriormente, é um recurso valioso para a
psicologia no tratamento do câncer de mama. Por meio deste, é possível entrar em contato
com questões físicas, emocionais, sociais, culturais e até econômicas da paciente. Além disso,
o grupo é um importante aliado na realização de pesquisas sobre a temática, afinal, a
exploração de relatos apresentados espontaneamente é uma estratégia metodológica
promissora para a coleta de dados.
O artigo 5 (SANTOS; SOUZA, 2019, p. 11) potencializa a efetividade da utilização
dos grupos terapêuticos no tratamento de mulheres com câncer de mama ao comprovar
“benefícios de ordem psicológica, como a redução do estresse, aumento da qualidade de vida,
melhora do humor, compartilhamento de informações sobre os diversos tratamentos,
73

promoção de comportamentos de saúde e habilidades de autocuidado, entre outros, que


podem fortalecer a adesão ao tratamento. ”
No artigo 2 (ALMEIDA; GUERRA; FILGUEIRAS, 2012), em que o locus da
pesquisa é a repercussão da doença sob a imagem corporal da mulher afetada, podemos
identificar a importância do profissional em intervir na compreensão dos impactos causados
na vida sexual e conjugal da paciente, além da influência da doença na autoestima e
feminilidade que prejudica sua qualidade de vida. Busca-se a partir desse cenário, a melhoria
no atendimento e acompanhamento dessas pacientes, visando também ampliar a rede de
apoio, uma vez que se tem problemas com seus parceiros.
Da mesma forma, os autores do artigo 4 (SANTOS; SANTOS; VIEIRA, 2014)
enfatizam a importância dos profissionais na reelaboração da sexualidade e ajustamento da
vida sexual da mulher após o adoecimento através de informações sobre o tema. Se
desvencilhando cada vez mais do processo restrito de saúde e doença do modelo biomédico, o
profissional da saúde contempla também as necessidades individuais da mulher no âmbito do
cuidado.
O artigo 3 (SANTANA; PERES, 2013) reflete a importância da psicologia em
reconhecer não somente as perdas do tratamento do câncer de mama, mas também as
repercussões positivas desse processo ao salientar que o tratamento pode também ser
vivenciado como uma experiência de renovação e implicar em ganhos significativos. Para tal,
é necessário que o acompanhamento dessas mulheres esteja em ordem com relação aos
sentimentos provocados ao longo de todo período de cura, hospitalização ou vivência com a
doença, como o recurso à noção de “crescimento pós-traumático” na identificação de
transformações positivas após eventos desestruturantes, como o câncer de mama.
O trabalho da Psicologia com os familiares da paciente é tão importante quanto para
com a própria paciente, visto que a família deve fazer parte de todo o processo desde o
diagnóstico, até as etapas do tratamento e perspectivas de prognóstico. Também, é a família
que deverá acompanhar a paciente dentro e fora do hospital, dessa forma, cabe a eles a
importante função de manter os cuidados passados pela equipe de saúde, e isso envolve
também os aspectos psicológicos.

Neste contexto, é fundamental que os familiares se percebam como peça


importante do tratamento, para que se sintam participantes ativos do
processo de superação da doença e para que possam extrair da experiência
com o câncer um significado positivo para suas próprias vidas.
(AMBRÓSIO; SANTOS, 2011, p. 480)
74

Baider (2003) explica como a família tem um papel importante no cuidado do paciente
com uma doença crônica, como o câncer. Para a autora, a família pode ser definida como
“unidade ética do cuidado”, e ao invés de perceber a doença centrada numa única pessoa, é
preciso entender como os sintomas podem ser concebidos em toda unidade familiar.

A família não é, portanto, um "espelho sem reflexo"; é o sistema básico de


cuidado e proteção e o reflexo da ansiedade e do medo do paciente e de cada
um dos familiares. O câncer não é a causa básica da reestruturação familiar;
é a percepção e projeção em relação à doença de cada um dos membros da
família - incluindo o paciente - com suas histórias pessoais, interações,
sistemas de crenças e valores distorções culturais específicas e
ambivalências dentro do 'sistema particular do cuidado”, o próprio sistema
de apoio, ansiedade e medos (ZABORA; LOSCALZO, 1998 apud BAIDER,
2003, p. 515)

Assim como a paciente, a família também espera receber acolhimento por parte da
equipe de saúde para retirar suas dúvidas, compartilhar sentimentos de angústia, dificuldades,
desafios e as vivências enfrentadas neste período de suas vidas. Um estudo realizado por
Ambrósio e Santos (2011) relevou o quanto receber orientações prévias acerca do que poderia
ocorrer durante o tratamento amenizou o impacto psicológico dos familiares.
Em um dos relatos obtidos na pesquisa, os autores puderam identificar falas de apoio a
assistência que alguns familiares receberam durante o tratamento da paciente – no estudo,
suas mães – e relataram o quanto a psicoterapia os auxiliou a superar suas dificuldades e
reconhecer a experiência pela qual estavam atravessando.
Dessa forma, Almeida et al. (2001 apud AMBRÓSIO; SANTOS, 2011, p. 481) destacam

[...] as mulheres com câncer de mama e suas famílias necessitam de suporte


constante dos profissionais de saúde, para que possam equilibrar as
complexas conexões existentes entre a doença, seu tratamento e a
possibilidade da recorrência do câncer. Esse apoio é imprescindível também
para aqueles que possam vislumbrar novas possibilidades de organização do
grupo familiar, após a doença ter causado uma perturbação no
funcionamento da família.

Ainda, como destaca Schmid-Büchi, Halfens, Dassen e Van Den Borne (2008)
conforme citado por Ambrósio e Santos (2011, p. 482), “[...] assegurar o atendimento
psicológico à família é fundamental, na medida em que esta desempenha papel importante
para a mulher acometida pelo câncer de mama, uma vez que as reações familiares contribuem
de maneira decisiva para a recuperação da paciente.”.
75

A família exerce, portanto, a importante tarefa de participação nos cuidados


necessários a paciente, e também no espaço de expressão e escuta de seu sofrimento e
aprendizado para lidar com o problema. Segundo Carvalho (2008), é preciso despertar a
atenção dos profissionais de saúde para a importância de reparar também o cuidado ao grupo
familiar, com informações dosadas segundo a necessidade, apoiá-la emocionalmente para
ajudá-la a minimizar as tensões e evitar o colapso do apoio e suporte durante todo o processo
de enfrentamento da doença.
Destarte, voltamos agora nossa atenção a estes profissionais que estão envolvidos em
todo o processo e que estão em constante cobrança por parte das pacientes e seus familiares.
Também, é preciso reconhecer o quanto o contato diário com o câncer e a morte é
ansiogênico.
Moraes (1994) explica que esse sentimento acaba criando, na equipe de saúde, um
posicionamento de defesa, como uma possível tensão entre os profissionais que pode ser
transferida para a paciente e a família. Este posicionamento dificulta a comunicação entre
médico e paciente, e até mesmo entre a equipe.

Durante a internação, todos os profissionais da equipe de saúde tornam-se


parte “da família” dessa pessoa, pois o paciente é visto com frequência e
com intimidade. Temos que enfrentar essa responsabilidade oferecendo
cuidados e o tipo de apoio afetivo supostamente proporcionado pela família.
Todos os profissionais devem trabalhar de forma coordenada, integrada e
consciente para o melhor atendimento das necessidades do paciente.
(MORAES, 1994, p. 59)

O psicólogo torna-se parte importante neste processo, visto que as repercussões


psicológicas e emocionais da doença afetam a todos os envolvidos no processo de tratamento.
É preciso reconhecer a importância de preparar a equipe de saúde para quaisquer
manifestações de angústia, medo, ansiedade, tristeza, raiva e demais sentimentos despertados
durante este momento da vida da paciente. É necessário que os profissionais tenham um
espaço na rotina de trabalho passível de reflexão. E o papel do psicólogo nesse contexto é,
segundo Moraes (1994, p. 60), “[...] auxiliar a equipe na tomada de consciência das várias
situações que acontecem na instituição hospitalar [...]”.
As reuniões grupais da família com a equipe é um importante recurso para a discussão
dos caminhos a serem percorridos durante o tratamento de maneira a facilitar a comunicação e
a troca de informações, portanto, um espaço propício a reflexão de ambas as partes.
76

Da mesma forma, a realização de momentos do psicólogo com a equipe para a


ampliação de conhecimentos acerca da relevância de um trabalho integral e humanizado pode
ser extremamente benéfico para todos implicados e comprometidos no caso.

Por meio do uso dos conhecimentos de Psicologia, com a ajuda indireta do


psicólogo, cada membro da equipe desempenha com mais adequação sua
função unidirecional e sim interativa, fazendo com que melhore a qualidade
de atendimento à população hospitalar, assim como o nível de integração dos
diferentes profissionais. (MORAES, 1994, p. 63)

Para Angerami-Camon (2009), a atuação do psicólogo com a equipe de saúde é muito


mais que uma ampliação dos conhecimentos técnicos e de cuidados com o paciente
hospitalizado, é portanto uma formação do pessoal, isto é, o psicólogo participará no aumento
da sensibilidade, percepção e empatia destes profissionais para com o doente.
Ao chegarmos ao final desta pesquisa, acreditamos na importância desta discussão
para a compreensão acerca do trabalho realizado pela Psicologia diante do câncer de mama
em mulheres desde o diagnóstico, bem como a valorização do acompanhamento junto aos
familiares e o cuidado com os demais profissionais comprometidos no processo de tratamento
e reabilitação de cada paciente. E assim, portanto, a confirmação da relevante participação do
profissional da Psicologia no enfrentamento da doença na vida dessas mulheres e na luta pelo
cuidado integral e cada vez mais abrangente para com as mesmas.
77

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Essa pesquisa teve como tema principal a importância da atuação da Psicologia diante
do diagnóstico de câncer de mama em mulheres. O interesse em falar sobre esta temática
surgiu de percepções recorrentes das intervenções durante a participação nos grupos
terapêuticos no período de estágio e a narrativa das mulheres participantes desse grupo acerca
do desamparo na assistência psicológica durante os primeiros momentos após o diagnóstico
da doença.

Tivemos como objetivo geral compreender a importância de intervenção da Psicologia


diante do diagnóstico do câncer de mama feminino. Para isso, como objetivos específicos, a
princípio, pretendemos conhecer o percurso histórico de investigação e intervenção sobre o
câncer de modo geral; para, posteriormente, discutir as possibilidades de atuação da
Psicologia no hospital, mais precisamente no setor da Oncologia; e identificar as implicações
psicológicas trazidas no momento do diagnóstico; por fim, refletimos sobre as contribuições
da Psicologia diante do diagnóstico de câncer de mama e no que diz respeito à assistência aos
envolvidos (paciente, familiares/cuidadores e profissionais).

Para alcançarmos os objetivos propostos, buscamos desenvolver uma estrutura de


pesquisa que possibilitasse ao leitor uma trajetória de raciocínio e compreensão do câncer e
suas implicações, sendo esta composta por um capítulo que discorre sobre o surgimento e
conceituação do câncer como doença, diagnóstico, tipos e formas de tratamento, pondo em
destaque o cerne deste estudo, o câncer de mama.

No capítulo seguinte, nos dedicamos a apresentar as características específicas do


hospital, desde seu surgimento; o percurso histórico da Psicologia Hospitalar e as
possibilidades de atuação do profissional de psicologia neste espaço, a fim de pontuarmos
conquistas importantes da psicologia ao longo dos anos e o reconhecimento da relevância
deste profissional na instituição hospitalar. Ressaltamos, ainda neste capítulo, o trabalho da
Psico-Oncologia no hospital e sua importância no setor oncológico.

Nossa pesquisa foi realizada através do método bibliográfico e qualitativo na intenção


de encontrar materiais fundamentais que nos auxiliassem a desenvolver uma análise que nos
permitisse alcançar os objetivos propostos. Durante as buscas, nossa maior dificuldade foi a
de encontrar produções recentes que atendessem à nossa demanda de forma singular e não
repetitiva, como a maioria das pesquisas, o que nos levou a fazer novas buscas através de
78

expressões que afunilassem o conteúdo ao foco do estudo e contemplasse à nossa temática.


Ao final desse processo de seleção do material a ser analisado, foram escolhidos cinco artigos
científicos em português, dentro do período entre 2010 e 2020, que serviram de base para a
discussão desse trabalho. Como método de análise, foi utilizada a análise de conteúdo de
Bardin (2004).

Os artigos científicos abordavam, sobretudo, as implicações do câncer de mama na


vida das mulheres e como ter uma rede de apoio durante o período de tratamento da doença é
importante, desde a equipe de saúde, em especial para esse estudo o profissional da
Psicologia, até os familiares/cuidadores. Refletem também sobre como a atuação
interdisciplinar dos profissionais de saúde torna-se ainda mais enriquecedora quando está
voltada para o mesmo objetivo e preparada para acolher paciente e família no mesmo
propósito, esta prática se faz necessária desde o diagnóstico.

Essa pesquisa nos possibilitou uma discussão significativa e reflexiva acerca do


objetivo desse estudo, sobretudo, como a atuação da Psicologia se faz necessária diante do
diagnóstico do câncer de mama não só para com as pacientes e familiares, mas também com a
equipe de saúde responsável. Este trabalho atua como um reforço para voltarmos nosso olhar
à necessidade de um melhor acompanhamento e amparo a essas usuárias e também a estes
profissionais.

O psicólogo atuante nessa área contempla e complementa a equipe de saúde com a


escuta clínica e atenciosa, analisa e compreende pensamentos, emoções e comportamentos
significantes no paciente com câncer, buscando promover acolhimento e qualidade de vida
diante do tratamento, muitas vezes agressivo. Além disso, promove espaços de educação e
formação continuada para toda equipe médica e multiprofissional, atividade fundamental para
um trabalho mais humanizado em conjunto.

Desse modo, esse acompanhamento psicoterapêutico possibilita a paciente vivenciar


um processo de ressignificações sobre seu adoecimento, isso inclui reflexões sobre o
tratamento, os efeitos colaterais do mesmo, sobre sua própria imagem (corpo, cabelo, etc.),
sexualidade e tantas outras questões relacionadas à doença e suas implicações.

Nesta pesquisa, compreendemos como o câncer de mama afeta a vida da mulher


enferma e seus familiares, de maneira física, psíquica, espiritual e até cultural desde o seu
descobrimento através do diagnóstico e perpassa sentimentos de medo, insegurança e
79

impotência durante todo o processo de adoecimento. Em contrapartida, esta é também uma


oportunidade de integrar a participação do profissional da psicologia como parte essencial
para um tratamento humanizado, íntegro e efetivo.

A experiência do estágio somado a análise dos textos e produção de um estudo voltado


para o câncer de mama feminino, ampliaram as compreensões acerca da Psico-Oncologia e as
possibilidades de atuação do profissional da área, bem como os limites ainda presentes, como
a falta de reconhecimento por parte da equipe médica e a necessidade de reafirmação da
importância da Psicologia no setor e na instituição hospitalar como um todo.

Em relação ao trabalho realizado no tratamento do câncer de mama, em especifico,


apresentamos algumas práticas essenciais como: atendimento clínico individual e familiar;
ambulatorial (no leito, corredores, salas de quimioterapia e radioterapia e salas de espera);
grupos de apoio e acompanhamento psicológico à equipe de saúde multiprofissional.

Dentre as práticas citadas acima, destacamos os grupos de apoio por exercerem uma
função de extrema importância no acompanhamento e tratamento de mulheres com câncer de
mama, reafirmam a necessidade da atuação da psicologia ao proporcionar um ambiente
seguro para a troca de experiências, escuta de relatos e a narrativa real de pacientes que
possuem queixas em comum, geram identificação e ressignificação de sentimentos em
conjunto. Esta afirmação se concretiza ao relembrarmos das vivências do estágio e os relatos
das participantes sobre a eficácia do grupo em relação ao enfrentamento da doença e
empoderamento feminino.

Concluímos que o trabalho exercido pelo profissional da psicologia no


acompanhamento de pacientes com câncer de mama é de suma relevância, enfaticamente
desde o descobrimento da doença, uma vez que este proporciona um atendimento de
acolhimento, valorização da escuta clínica, ressignificações de pensamentos e sentimentos de
resistência ao tratamento médico, complementa a equipe multiprofissional e o atendimento
humanizado.

Por fim, ressaltamos a necessidade da realização de novas pesquisas acerca do tema


em questão e que tenham como destaque a narrativa das pacientes a fim de valorizar suas
vivências enquanto enfermas e usuárias do serviço. Também, a de profissionais de psicologia
atuantes no setor oncológico para a expansão dos conhecimentos acerca da Psico-Oncologia e
experiências fundamentais da psicologia hospitalar na formação de novos profissionais, mais
80

atentos à importância do acolhimento humanizado e integral a estas pacientes. Para isso, é


necessário que a graduação em Psicologia disponibilize mais disciplinas e materiais para os
estudantes e futuros trabalhadores que possuem interesse no campo.
81

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