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Revista da ANPG – Ciência, Tecnologia e Políticas Educacionais

v.1, n.2 (2013)

INOVAÇÃO E APRENDIZAGEM NOS CURSOS SUPERIORES DE


ADMINISTRAÇÃO: UMA ANÁLISE BASEADA NA EXPERIÊNCIA DO
BACHARELADO EM ADMINISTRAÇÃO DA UFPE

INNOVACIÓN Y EL APRENDIZAJE EN LOS CURSOS SUPERIORES DE LA


ADMINISTRACIÓN: UN ANÁLISIS BASADO EN LA EXPERIENCIA DE LA
LICENCIATURA DE ADMINISTRACIÓN DE LA UFPE

INNOVATION AND LEARNING IN UPPER COURSES OF ADMINISTRATION: AN


ANALYSIS BASED ON THE EXPERIENCE OF THE BACHELOR OF
ADMINISTRATION OF UFPE.

Anderson Diego Farias da Silva

Mestrado em Administração, Universidade Federal de Pernambuco – PROPAD/UFPE

andersondiego6@gmail.com

Marcelo Henriques de Albuquerque Pessoa

Mestrado em Administração, Universidade Federal de Pernambuco – PROPAD/UFPE

Fernando Gomes de Paiva Júnior

Professor do Programa de Pós-Graduação em Administração, Universidade Federal de Pernambuco – PROPAD/UFPE

Resumo

O presente estudo busca questionar o desenvolvimento do processo de aprendizagem, tendo como


ponto de partida a inovação, no Curso de Administração da Universidade Federal de Pernambuco -
UFPE. Para tanto, a teoria sobre inovação e aprendizagem serviu de base para análise dos dados
qualitativos, obtidos através de pesquisa documental e realização de entrevistas semiestruturadas,
junto à coordenação e aos docentes do curso em estudo. Constatou-se, que a inovação do ensino
requer atuação sob a forma de mudança política dos docentes, mudança curricular e aproximação
contextual dos discentes, oferecendo oportunidades de atuação na realidade em que estão inseridos.
Palavras-chave: inovação, ensino, aprendizagem, administração.

Resumen

Este estudio delimita el proceso de aprendizaje, tomando como punto de partida para la innovación
en el campo de Administración de la Universidad Federal de Pernambuco - UFPE. Por lo tanto, la
teoría de la innovación y el aprendizaje es la base para el análisis de datos cualitativos obtenidos por
medio de la investigación documental y entrevistas semi estructuradas, con la coordinación y los

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profesores de la asignatura. Se encontró que la innovación de la enseñanza requiere una acción en


forma de cambio político de los profesores, el cambio curricular y el enfoque contextual de los
alumnos, ofreciendo oportunidades para la acción en la realidad en que se encuentran.
Palabras-clavs: innovación, educación, aprendizado, administración.

Abstract:

This study delineates the learning process, taking as a starting point to innovation in the Course of
the Universidade Federal de Pernambuco - UFPE. Therefore, the theory of innovation and learning
was the basis for the analysis of qualitative data obtained through desk research and semi-structured
interviews, with the coordination and the teachers of the course. It was found that the innovation of
teaching requires action in the form of political change teachers, curriculum change and contextual
approach of students, offering opportunities for action in reality they are inserted.
Keywords: inovation, education, learning, administration.

Artigo recebido em 01 de março de 2013, aceito para publicação em 21 de maio de 2013.

1. INTRODUÇÃO

Mudanças profundas, provenientes do processo de globalização, vêm ocorrendo no mundo


atual. Com a reestruturação da sociedade moderna para a contemporânea, o aumento da velocidade
da troca de informações, as melhorias nas estruturas de comunicação e a transição da economia
industrial para a economia do conhecimento foi possível observar a definição de uma nova lógica às
organizações (CASTELLS, 2007; JULIEN, 2010).

Neste sentido, as instituições de ensino de terceiro grau, as Universidades, passaram a sentir


a necessidade de assumir novas estratégias e mudanças intensas em meio a um mundo marcado pela
globalização. Assim “a Administração, uma das áreas de maior crescimento em universidades nos
últimos 50 anos, não está isolada das pressões em prol de mudanças nas universidades em geral”
(FRIGA et al., 2004).

Essas estratégias e novas abordagens no campo do ensino da Administração deveriam estar


associadas ao fortalecimento e a promoção do ensino por meio da inovação, pois, conforme Mello
et al. (2009) “a sociedade contemporânea é receptiva às inovações vindas dos laboratórios
científicos”.

Com o avanço tecnológico, a sociedade contemporânea é cada vez mais influenciada pelas
estruturas e regras estabelecidas pelos tempos hipermodernos1. Associadas a uma lógica
mecanicista, miniaturizada, rápida, calculista, ubíqua; as novas tecnologias colonizam espaços e

1
Termo citado por Mello et al. (2009) e desenvolvido pelos autores ao longo do referido artigo. Remetem-nos a ideia do
expansionismo tecnológico e a receptividade da sociedade contemporânea pelas novas tecnologias, que surgem com a
proposta de propiciar o bem-estar social.

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esferas, que antes eram de autoridade exclusiva do homem, como a educação, o mundo do trabalho
e as artes.

Desta maneira, é exigida uma dedicação cada vez mais latente na promoção e consumo de
inovações, pois, “inovar não é apenas uma forma de se diferenciar no mercado, uma nova maneira
de realizar um processo ou criação de um novo produto; sobretudo uma exigência da lógica da
tecnologia: o novo sentido da existência humana” (MELLO et al., 2009).

Para tanto, o ensino da inovação deverá estar associado ao desenvolvimento crítico, criativo,
empreendedor e autônomo do aluno, como forma de projetá-los a desenvolver suas ideias para as
grandes questões e demandas de toda sociedade. Uma experiência realizada pela Universidade do
Vale do Rio dos Sinos – UNISINOS foi à implantação do método interacionista/construtivista na
grade curricular do curso de Administração (BORBA et al., 2005), o qual estabelece o
reconhecimento do sujeito e do objeto de conhecimento como “organismos vivos, ativos, abertos,
em constante troca com o meio ambiente, por meio de processos interativos indissociáveis e
modificadores das relações, a partir das quais, os sujeitos em relação modificam-se entre si.” (SAFT
et al., 2002).

Tomando o caso da UNISINOS, como fonte inspiradora, esse estudo baseia-se na análise de
desempenho da disciplina de Gestão e Inovação Tecnológica, do curso de graduação em
administração da UFPE, onde se faz o seguinte questionamento: De que forma, estimular a
inovação em sala de aula pode afetar o processo da aprendizagem no ensino superior?

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

O início da compreensão teórica traz elementos presentes na dinâmica da inovação,


destacando o contexto, as transformações e as relações a ela atreladas. Com a inovação aqui tratada,
tem-se o direcionamento ao processo de aprendizagem, onde as experiências didáticas são trazidas e
vistas em conjunto com a retomada do processo de inovação.

Num terceiro momento, a disciplina de Gestão e Inovação Tecnológica que faz parte do
espaço do recorte analítico, é descrita e revista junto aos resultados das entrevistas no processo de
análise de dados.

2.1 Inovação e Processo de Aprendizagem

As alterações ocorridas a partir da segunda metade do século XX, no campo tecnológico,


social, econômico, político e cultural, modificaram o panorama da vida humana e instituíram a
percepção da transformação de uma era.

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A inclusão das novas tecnologias, principalmente as Tecnologias de Informação e


Comunicação (TIC), no cenário social, vem transformando as estruturas e a própria dinâmica da
sociedade contemporânea, à medida que globaliza os mercados, modifica a noção de espaço-tempo
e possibilita a troca de informações entre as pessoas localizadas em diversas partes do mundo
(MOREIRA e QUEIRÓS, 2007).

Além disso, a inclusão das novas tecnologias no cotidiano social, como organismo da
sedimentação do capitalismo globalizado, esfumaça as fronteiras territoriais e acelera o ritmo de
vida das pessoas. “Diante da conexão promovida pela Internet, os indivíduos encontram-se cada vez
mais interligados, construindo uma nova morfologia social: a sociedade em rede” (PAIVA JR e
GUERRA, 2010).

Na sociedade do conhecimento conforme Julien (2010) e em rede segundo Castells (2007), a


origem da produção está na aptidão intelectual e nas tecnologias que possibilitam a geração de
novos conhecimentos, processamento e transformação da informação, além, da capacidade de
comunicação entre símbolos. Para Castells (2007) ocorre “uma transformação tecnológica mais
profunda: a das tecnologias, segundo as quais, pensaram todos os processos”.

Dessa forma, um estudante que adquire o conhecimento, a partir de aspectos motivacionais,


interações pessoais e tecnológicas, está sujeito a integrar as elites dessa sociedade atual, pois são
atores que aprendem fazendo e produzindo e, assim, alteram a utilização da tecnologia. “Esses
grupos teriam maiores condições de gerar inovações do que a maior parte das pessoas que aprende
usando e consumindo as tecnologias existentes, limitadas a elas, ou seja, dependentes
tecnologicamente” (BORBA et al., 2005).

Assim, nas palavras de Rego (2002) os alunos acima identificados não seriam meros
receptores que absorvem e contemplam o real, nem portadores de verdades oriundas de um plano
ideal; pelo contrário, seriam sujeitos ativos que em suas relações com o mundo, com seu objeto de
estudo, reconstroem este mundo.

A aquisição do conhecimento, nesse caso, seria proporcionada pela ação dos docentes em
sala de aula, onde Capelástegui (2003) ressalva que ela ocorre como: mudanças de métodos e
práticas do docente; mudanças de estratégias didáticas; mudanças nas atividades; mudanças nos
espaços de aprendizagem e por fim, mudanças nos recursos didáticos.

Essa visão pode ser complementada por Torre (2000) que ilustra, a partir da Figura 1, o
processo de inovação e aprendizado, destacando a relação entre a inovação na educação, a partir da
inovação curricular, proporcionando uma experiência inovadora. Junto a estes elementos chaves é
que ocorreriam as mudanças.

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Figura 1 - Imagem Processo de Inovação e Aprendizado


Fonte: Torre, 2000.

Esse conjunto de mudanças, de acordo com Torre e Barrios (2000) seriam responsáveis por
uma situação de adaptação sobre os alunos, funcionando como um arcabouço de relações, em que
eles organizam o conhecimento, de forma sequencial, em conjunto, buscando atingir os seus
objetivos, comportando a consciência teórica, ação pós-aprendizado, além da própria
contextualização do processo e elementos organizadores de recursos, atrelados às ações
empreendidas.

Porém, para que as mudanças sejam implantadas e o processo de aprendizagem possa


ocorrer se faz necessária a figura de um mediador, que na educação pode ser denominado como
professor ou educador que para Behrens e José (2001) deve saber que necessita discutir e trazer a
ciência aos discentes, buscando articular o saber elaborado à produção do conhecimento do aluno
aceitando sugestões de melhoramento e contribuições significativas dos alunos, em especial por
compreender que o interessado em aprender a aprender é o aluno.

Nesse contexto, ocorrem modificações da estrutura cognitiva do sujeito, tanto no plano do


pensamento quanto no plano da ação. Assim, tem-se um paradigma de aquisição dos
conhecimentos, no qual da idéia de transmissão de saberes à aprendizagem é transmitida.

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2.2 Campo de Estudo: O Curso de Bacharelado em Administração da UFPE

Em uma breve descrição, tendo como base os estudos de (AMORIM e FREITAS, 2004)
constatou-se que o curso de bacharelado em Administração da Universidade Federal de
Pernambuco foi criado em 1969 e reconhecido pelo MEC em 1970.

O objetivo do curso está centrado em ministrar, a partir de matérias e conteúdos, os


conhecimentos teóricos e práticos associados à atividade administrativa, visando desenvolver
habilidades e técnicas gerenciais, além de buscar estimular a capacidade reflexiva sobre problemas
nas organizações, através do estímulo a uma visão multidisciplinar que abrange habilidades:
gerencial, decisória, lógico-analítica, resolução de conflitos e pró atividade (PROACAD, 2012;
AMORIM e FREITAS, 2004).

Nesse estudo existe um foco sobre 01 (uma) disciplina da Grade Curricular do curso de
bacharelado em Administração da UFPE denominada Gestão e Inovação Tecnológica.

2.2.1 Disciplina de Gestão e Inovação Tecnológica

A disciplina de Gestão e Inovação Tecnológica é ofertada no Centro de Ciências Sociais e


Aplicada (CCSA) - durante os períodos diurnos e noturnos - em dois dias na semana, sendo nas
segundas-feiras, das 8 às 10 da manhã e nas quartas-feiras, das 18h50 às 20h30, perfazendo um total
de 60 horas aula.

De acordo com a ementa da disciplina (PROACAD, 2012), são destacados os seguintes


aspectos:

 O objetivo principal da disciplina consiste em apresentar e discutir as dimensões


socioculturais e intersubjetivas dos processos de gestão e inovação tecnológica. Além,
de transmitir ao aluno conhecimentos voltados para a compreensão dos sistemas
interativos e suas respectivas dinâmicas de articulação. Para tanto, a disciplina propõe
discutir tópicos relacionados às redes de inovação, políticas públicas e marcos
regulatórios voltados para a inovação tecnológica, bem como, para o desenvolvimento
sustentável.
 Metodologia: Aulas expositivas, estudos de casos, painéis e mesas redondas,
seminários, análise e discussão de textos.
 Avaliação: 1º – Elaboração de exame teórico com questões objetivas e dissertativas
sobre os assuntos discutidos na primeira parte da disciplina; 2º – Apresentação de
Seminários e entrega de um ensaio teórico sobre um tema da segunda parte da
disciplina, em grupos de cinco pessoas.

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3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

De acordo com seus objetivos foi realizada uma pesquisa de caráter exploratório, que busca
proporcionar mais familiaridade com o problema, com vistas a torná-lo mais explícito (GIL, 2010).
Neste sentido, o estudo utiliza-se de uma abordagem qualitativa descrita por Creswell (2010) como
um meio para explorar e buscar compreender o significado que grupos ou indivíduos atribuem a
determinado problema social ou humano.

Para obtenção dos dados, foram adotadas as seguintes técnicas: pesquisa documental e
realização de entrevistas semiestruturadas que, de acordo com Lopes (2006), “caracterizam-se pela
liberdade que o entrevistador tem para desenvolver cada situação em qualquer direção que
considere adequada”.

O presente estudo teve como escopo analítico a coordenação do curso de Bacharelado em


Administração da UFPE e o corpo docente da disciplina de Gestão e Inovação Tecnológica,
perfazendo um total de duas entrevistas individuais, em profundidade, com um professor e um
coordenador, identificados como E1(para coordenador), E2 (para professor).

Os dados coletados possuem caráter qualitativo, com entrevistas específicas para o corpo
docente e para os membros da coordenação, dispostas em formato semiestrutural, oferecendo
espaço para a captação de unidades de significado extraídas dos relatos dos entrevistados. Para
análise dos dados coletados, o estudo teve como base a metodologia de Cooper e Schindler (2011)
que ressalvam a necessidade de primeiramente, fazer um trabalho de codificação desses dados
através da adequação, exaustão, mútua exclusividade e dimensão única, organizando-os em um
quadro ou separando-os de forma organizada, de modo que seja possível realizar uma análise em
sentido lógico, com início, meio e fim.

Diante dos dados coletados e seguindo o trabalho de Cooper e Schindler (2011), foi
realizada uma análise de conteúdo, partindo-se da observação das seguintes premissas: unidades
sintáticas, unidades referenciais, unidades proposicionais e unidades temáticas.

As informações coletadas por meio das entrevistas foram comparadas após estarem
organizadas em um quadro de respostas e logo em seguida, analisadas junto ao corpo teórico. Os
dados coletados neste estudo foram validados com base na metodologia destacada por Flick (2009)
que abrange: reflexividade, saturação de dados e auditoria de um examinador externo e os relatos
foram revisados junto a cada entrevistado, à medida que surgiam dúvidas durante a análise.

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4. ANÁLISE DOS DADOS

A análise dos dados teve como base a teoria encontrada na elaboração da fundamentação
teórica do estudo que serviu como critério para observação das respostas obtidas através das
entrevistas. Essa ação resultou em uma comparação que trouxe, por sua vez, elementos para
contribuição temática sobre aprendizagem e inovação no ensino.

De acordo com a fala do primeiro entrevistado, é possível captar a necessidade de uma


mudança de estrutura sócio-política nos métodos pedagógicos aplicados em sala de aula, assim,
Torre (2000) define essa postura de intervenção como elemento necessário ao desenvolvimento em
sala de aula.

[...] temos que mudar o método de intervenção em sala de aula dos professores. Não conseguimos gerar
situação-problema junto aos alunos com metodologia reflexiva e inovadora. Esta ausência torna o estudante
passivo e inerte diante das provocações dos eventos contemporâneos. (E1, 38-42).

Logo, se entende que o esforço necessário e ausente, descrito pela coordenação do curso de
administração, seria a ferramenta que ajudaria o discente em administração, a se colocar como
cidadão dentro do panorama atual, passando de expectador para um aluno atuante, crítico.

Disciplinas que tratam sobre Inovação trazem mudanças e críticas ao perfil da grade
curricular de administração, despertando olhares e questionamentos dos alunos por ela atingidos.
Logo:

[...] elas seriam disciplinas inseridas nos últimos anos do Curso, que trazem um olhar mais atualizado dos
temas ricos e emergentes do mercado [...] disciplinas como essas, que têm cunho mais transversal, deveriam
ser incentivadas no Curso, desde o seu inicio no ciclo profissional. (E1, 48-51).

Referente ao andamento dessas disciplinas que tratam sobre a inovação, a coordenação do


curso percebeu que se vive em uma era de multifuncionalidade e interdisciplinaridade. Em Castells
(2007) a aptidão intelectual e as tecnologias possibilitam a formação de alunos críticos e mais
atuantes. Pensar na tecnologia como fator de mudança é também uma mudança apontada por Torre
(2000), no processo de aprendizagem,

Assim, a era multifuncional e interdisciplinar também presente em Anísio Teixeira, por


Cordeiro (2001) requer um esforço tanto do lado teórico como do mercado, criando uma
necessidade de articulação contínua entre esses dois campos.

Estamos na era da multifuncionalidade e interdisciplinaridade, com isso teremos que ter estudantes
que concebam na sua formação os dois perfis simultaneamente. O profissional do futuro tem que ser
aguçado na busca por métodos de busca de informação e análise, como também deve ter uma leitura prática

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de seu ofício, acessando ferramentas e outras heurísticas de auxilio na tomada de decisão. Inclusive ele tem
que se articular com profissionais de outras formações [...] para conseguir bons resultados nos projetos
compartilhados. (E1, 57-65).

Já o docente do curso de Bacharelado em Administração da UFPE, responsável pela


disciplina de Gestão & Inovação Tecnológica respondeu às questões referentes à sua disciplina,
com uma visão mais focada apenas no contexto de sua disciplina, dessa forma eles explicam:

[...]percebemos que no próprio currículo do curso tinham ocorrido algumas mudanças. A própria disciplina
é nova no currículo do curso [...] em função de uma demanda detectada pela coordenação e pela
universidade de uma forma geral [...] no mercado pernambucano. (E2, 5-11).

Mesmo sabendo que o curso de administração da UFPE necessita de melhorias em sua grade
curricular, o docente informou que sua disciplina é nova e que faz parte de um processo de mudança
baseado na realidade do mercado pernambucano, o que corrobora com a visão da coordenação,
quando existe um esforço dos coordenadores e professores via disciplina para articular prática e
teoria em busca do despertar crítico e autônomo dos seus alunos face ao desenvolvimento vivido.

Foi constatado que nos últimos anos há uma demanda por mão de obra qualificada em gestão
tecnológica. O Porto digital tem formado profissionais para isso devido a esta ausência de preparação das
universidades. Logo, a disciplina vem para isso e dá uma visão geral disso para os alunos que saem daqui
em busca de uma vaga neste mercado. [...] dentro da experiência de estágio docência apareceram dois
casos de envolvimento com pesquisa. (E2, 14-18).

Referente aos objetivos das disciplinas verificou-se que a disciplina analisada está centrada
no tratamento de aspectos políticos e nesse caso, busca despertar a criticidade e a capacidade
reflexiva dos alunos.

A metodologia e a avaliação utilizada na disciplina são descritas pelo docente, como meios
de trazer o discente ao ambiente e aproximá-lo do conhecimento. Logo, existe a intenção de fazer
com que o aluno se aproprie do conhecimento e de posse do saber, possa, a partir dos estudos de
caso, refletir sobre a realidade, compartilhando com os colegas em sala, por meio dos seminários e
das suas respectivas experiências. Conforme o entrevistado, os alunos

[...] recebiam um tema e na aula seguinte traziam um case para apresentar e discutirmos em sala no
formato de mesas redondas [...]. Os seminários valiam como avaliação e os ensaios teóricos também. Mas
se você acompanha o aluno durante todo o semestre você avalia informalmente [...] e sabe os avanços e
dificuldades podendo associar sua apresentação e desempenho nas avaliações formais ao seu
desenvolvimento ao longo do ano. (E2, 56-63).

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Nesse momento fica evidenciada a formação de uma comunidade retratada por pessoas que
transformam o ambiente educativo em pequenas sociedades, conforme Nagle (2001). Dessa forma,
se vê que tanto a coordenação do curso de Administração quanto o docente entrevistado, tem a
percepção da necessidade em trabalhar a ideia da aprendizagem em consonância com um olhar,
inovador, de mudança e de articulação entre as diversas esferas.

Retomando o estudo de Capelástegui (2003) que define algumas categorias sobre


experiências inovadoras, e de posse de um composto de informações qualitativas, foi possível
elaborar um quadro que sintetiza essas experiências inovadoras na disciplina de Gestão da Inovação
Tecnológica, do curso de graduação em administração da UFPE.

Tabela 1 - Experiências Inovadoras

Categorias de Capelástegui Elementos Extraídos das Entrevistas

Aulas expositivas, estudos de casos, painéis e mesas


redondas, seminários, análise e discussão de textos.
Mudanças de Métodos e Práticas do Docente
Inserção de disciplinas voltadas à inovação desde o
ciclo básico do curso.

Elaboração de exame teórico sobre os tópicos


discutidos na primeira parte da disciplina;
Mudanças de Estratégias Didáticas Apresentação de Seminários e entrega de um ensaio
teórico sobre um tema da segunda parte da disciplina,
em grupos de cinco pessoas.

Trazer a realidade do aluno para sala de aula e a


tentativa da mudança dela a partir de debates e troca
Mudanças nas Atividades
de problemas laborais cotidianos. Articulação com
outros profissionais.

Aprendizagem via rede social por meio das postagens


Mudanças nos Espaços de Aprendizagem
e compartilhamento das informações.

Uso de data show, notebook, smartphone. Grupo


Mudanças nos Recursos Didáticos criado nas redes sociais Ning e Facebook para
compartilhamento de material de sala.

Fonte: Produção própria, 2012.

Nomear elementos de experiências inovadoras como mudanças, trata-se, de acordo com o


autor, de trazer as experiências diretamente ao âmbito da inovação, ou seja, a inovação deve ser
pensada no processo de aprendizagem, antes da ocorrência do ensino. Uma vez, assim feito, o
processo de aprendizagem poderá conter mudanças nos elementos facilitadores da aprendizagem,
como local, recurso e planejamento, diferenciados.

Assim, é perceptível uma necessidade para que as grades curriculares e os planejamentos de


aula venham previamente comprometidos com ideias inovadoras e de transformação do meio social

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para com o curso de Gestão de Inovação e Tecnologia no curso de Administração da Universidade


Federal de Pernambuco.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O estudo demonstra que é possível trabalhar a aprendizagem nos cursos superiores de


Administração, de forma inovadora. No entanto a possibilidade de construir um curso de graduação,
segundo Borba et al. (2005), torna-se um desafio, à medida que busca contemplar uma visão, onde
alunos e professores atuam de forma colaborativa, em um processo onde ambos, aprenderão e
crescerão de forma mútua, sabendo se relacionar com o mundo, de forma crítica e autônoma.

Contudo, existem dificuldades para que essas ideias sejam aplicadas, de uma forma mais
simplificada, além de uma necessidade em se renovar o currículo e a grade curricular do curso de
Administração. Percebemos, ao longo do processo de entrevistas que muitas das limitações variam
de acordo com as instituições, sobretudo, no caso das Universidades Federais, pelo fato de
demandarem tempo em licitações, análise e até pela dimensão de suas estruturas e de seus
processos.

Como exemplo, buscou-se aqui, salientar o caso da disciplina Gestão & Inovação
Tecnológica, que por meio de seminários e atividades integradas, busca estabelecer uma maior
interação entre os professores e alunos, de maneira que a teoria é discutida, em sala de aula, e a
construção coletiva do conhecimento é sempre procurada, contribuindo para o fortalecimento do
processo de aprendizagem (BORBA et al., 2005).

A formação de administradores, como foi recomendada pelos docentes entrevistados, deve


ter ligação direta com a realidade, ou seja, com tecnologia, cultura, política e economia. Destaca-se
então, a preparação dessa nova geração de alunos, que ingressam no ensino superior, para essa nova
realidade, vivenciando mudanças constantes, que um mundo globalizado oferece. Disciplinas que
tratam de temáticas como a inovação, o empreendedorismo, a gestão e criação de novas tecnologias,
dentre outros, possibilitam ao administrador, assumir postos importantes e desempenhar papéis de
destaque nas organizações.

Assim, as mudanças inerentes ao processo da inovação devem ser encaradas como


elementos estruturadores da didática em sala de aula, preparando os alunos de forma estrutural,
social e política, para que possam compreender e atuar na dinâmica em que estão inseridos tanto na
vida social quanto no mercado profissional e acadêmico.

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Desde o início do presente estudo, foram detectadas algumas limitações, pois, verificou-se
que existe uma necessidade em se ter um elemento central que possa ajudar a dinamizar as
atividades dos discentes no intuito de contribuir para a sua formação profissional, científica e social.
Logo, a pesquisa também traz implicações para a figura do docente e sua atuação por meio do uso
de instrumentos didáticos eficientes tornam-se elementos basilares no processo de aprendizagem em
contato permanente com a inovação.

Assim, abrem-se espaço para que novas investigações possam aprofundar questões sobre a
difusão da inovação no ensino, perpassando, inclusive, áreas como administração, buscando
contribuir para a geração do conhecimento, ao passo que constrói novos caminhos de investigação.

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