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— Lívia, não fala assim de sua mãe. Ela iria reclamar com você se te
ouvisse chamar pelo seu nome e não por mãe como deve ser.
— Oxe, a senhora não sabe de nada. Ela não quer que eu chame ela de
mãe. Ela dixe que eu fui um elo na vida dela, que se arrependiento matasse
ela já talia mota.
Que horror!!! Minha irmã está cada vez pior como ela diz isso a sua
filha de três anos. Dessa vez ela foi longe demais. Ela hoje vai me ouvir. Ah
se vai!
— Mamãe - ela disse vindo atrás de mim e entrando no meu quarto -
posso ficá te chamano de mamãe né?
Olhei para ela com aquela cara do gato do filme Shrek e com as
mãozinhas entrelaçadas na frente do seu corpo. Ela já tem meu coração e
manda e desmanda nele.
— Tem como te dizer não?
Ela que já estava em pé sobre minha cama se joga para mim que se
não fosse rápida cairia no chão.
— Tô com fominha mamãe!
— Vem, vamos para cozinha ver o que podemos fazer.
— Eba! - Gritou no meu colo - Até agola eu não tinha comido nada.
Obigada mamãe. - Disse me beijando no rosto.
— Como assim são quase dezoito horas! Você não pediu lanche
depois do almoço?
— Pedi, pedi sim. Eu julo, mas a mam... a Joyce disse que tava sem
tempo poque tava no celulá e a vovó tava de malumor e não falô comigo
hoje.
Era triste, mas a realidade o que essa pequena precisava era de alguém
para cuidar e amá-la como filha. E amor por ela eu tinha de sobra desde a
primeira vez que a vi.
Capítulo 01
— Eu te amo papai!
— Também te amo muito. Agora vamos levantar que você vai ao
restaurante comigo, a Vó Ana está de folga hoje e você não pode ficar
sozinho.
— Eu posso pai eu já sou grande e forte. - Disse fazendo força como
o Huck.
Ele correu para sua sala especial e se trancou lá. Todos voltaram ao
trabalho menos a Rayssa que volta e meia tenta chamar minha atenção. Ela é
uma mulher bonita sem dúvidas, mas não me atrai em nada. Eu não sei
explicar o porquê disso. Não sou um cara que não sabe apreciar a beleza
feminina, porém a sua não me chega aos olhos simples assim.
Fui até o meu escritório tinha muito serviço e precisava falar com um
possível novo fornecedor de hortaliças o qual residia na cidade vizinha, a
menos de 30 quilômetros de distância. Entre telefonemas e planilhas a manhã
passou rápida e fui à procura do meu pequeno. Fui até sua sala e nada e só
poderia haver um lugar que ele deveria estar.
Aproximei-me devagar e o encontrei sentado num banco alto próximo
do balcão da pia, conversava com o Davi. Ele era um amigo desde a
faculdade que sempre quis ter o seu próprio restaurante, mas o que mais lhe
atraia era a cozinha e eu tinha capital e disposição para o trabalho, então
firmamos nossa sociedade.
— Sabe tio, eu queria muito tem uma mamãe para me amar, acordar
com beijinhos, dormir com ela me contando histórias, se eu cair e me ferir ela
cuidar dos meus machucados, poder passear com ela de mãos dadas, ir à
praça com ela, ir à escola e apresentar ela todos os meus amiguinhos. Mas eu
não posso! Eu sou um menino incompleto...
Aquilo fez meu coração sangrar e me segurei para não chorar com
aquela declaração. Eu achava que conseguia fazer tudo isso e que ele se
sentia feliz, mas eu não significo nada para meu filho?!
— Olha campeão, você tem seu pai que faz tudo isso com prazer. Ele
te ama. - Disse o Davi que já tinha parado o que estava fazendo e dando total
atenção ao Lucca. - E acho que ele ficaria triste se te ouvisse falando assim.
Às vezes, a vida é um pouco injusta com a gente, mas aproveita o máximo
tua infância e vive tudo isso com teu pai.
— Eu sei tio! Eu amo meu papai e ele é muito importante para mim.
Ele faz tudo por mim e até meus colegas da escola dizem que tem inveja de
mim por eu ter um superpai que está sempre comigo em tudo.
Fiquei mais aliviado ao escutar isso. O meu filho me ama. E eu nunca
vou deixar nada acontecer a ele e fazer tudo que estivesse ao meu alcance
para fazê-lo feliz.
— Mas eu queria uma mãe. O Vitor, um menino da minha turma,
disse que eu não tinha mãe porque ninguém gosta de mim e que meu pai só
fica comigo por obrigação. - Não acredito que meu pequeno sofre isso na
escola. Amanhã mesmo vou resolver isso. - Eu tive tanta raiva tio, que deu
vontade de partir para cima dele e encher ele de porrada! - Ele disse se
alterando e batendo a mão em forma de murro na bancada.
— Lucca, você não pode agir assim! Quando isso ou qualquer coisa
acontecer você deve dizer a sua professora imediatamente. Não se resolve
nada com brigas. Você me ouviu?
— Sim, tio. Mas ele tem razão eu não desperto amor em ninguém.
Nem minha mãe me quis...
-— Lucca, meu filho - disse entrando de vez na cozinha - não se deixe
influenciar pela maldade de algumas pessoas. Você é um menino adorável,
inteligente, carinhoso, bonito é lógico que você merece ser amado e é muito
amado por mim, pelo seu tio Davi, pela Luana - disse olhando para todos ali
na cozinha e me acenavam afirmativamente. - Todo mundo aqui te ama. -
Disse me segurando para não chorar na frente do meu filho.
Todos vieram até ele e o beijaram e abraçaram carinhosamente. Eu
não tinha funcionários, tinha verdadeiros amigos. E sei que aquela
demonstração de carinho é verdadeira.
— Pois bem, está declarado que hoje é dia especial do Lucca! E para
comemorar vamos fazer a sobremesa de sua preferência! Meu senhor, diga e
seu desejo será uma honra mim. - Disse a Luana fazendo reverência a ele que
ria contente com tanta demonstração de carinho. Eu sei que não supria o
carinho de uma mãe, mas ele estava rodeado de pessoas que o amam.
— Hum, deixa eu ver... - Disse colocando o dedo no queixo como se
estivesse pensando - pode ser gelatina colorida?
— Que assim seja, meu garoto. Que se prepare a gelatina!
— Oba! Papai posso brincar um pouquinho lá fora?
— Filho, você sabe que é perigoso ficar na frente do restaurante e
ainda mais com esse movimento da hora do almoço.
— Por favor papai! É rapidinho. Eu vou lá e volto. Eu juro.
Capítulo 02
— Bom dia amiga! Obrigada pela carona e por tudo que estás fazendo
por mim.
— Bom dia Lu, não precisa me agradecer por você eu farei tudo que
estiver ao meu alcance.
A Dani está me ajudando numa nova conquista na minha vida.
Estamos indo à capital e vou comprar meu primeiro carro. Eu sei que estou
um pouco atrasada nesta conquista, mas estava levantando um dinheiro para
dar uma boa entrada e não ficar devendo muito. Você pode estar se
perguntando como eu uma mulher de trinta anos só agora consegue comprar
seu carro e se tornar independente para pelos menos ir ao trabalho? Simples,
a família. E não reclamo e todo investimento feito nessa instituição foi com
prazer. Eu venho de uma família simples de uma cidade do interior a quase
cinquenta quilômetros da capital vivo com meus pais, dois irmãos e uma
sobrinha linda que é meu xodó.
Quando enfim terminei minha faculdade há cinco anos e comecei a
trabalhar quase todo meu dinheiro era para reerguer minha família. Meu pai é
agricultor e sempre vivemos da venda do que ele planta na parcela que tem,
mas precisava de melhorias para fazer o negócio prosperar. Minha mãe era
costureira, mas quando descobriu que tinha catarata nos olhos parou de fazê-
lo e eu até prefiro assim, embora ela já tenha feito as cirurgias necessárias
para corrigir o problema. Meu irmão nunca se interessou em estudar mais e
ajuda meu pai na plantação e colheita. Ele é seu braço direito já que meu pai
não tem mais a saúde que tinha antes. E minha irmã, caçula, pois meu irmão
é o primogênito e eu a filha do meio, não faz nada. Nem estuda e nem
trabalha, porém nos arrumou a nossa pequena Lívia a qual eu dedico total
atenção e não deixo faltar nada. Cuido dela com verdadeira adoração aquela
menina é muito carente. E minha irmã faz de tudo, vive em festas, bate-papo
com as amigas, passeios e etc, mas não gasta um minuto da sua atenção com
a filha o que a faz não ter apego pela mãe.
— Alô! Terra chamando! - Disse minha amiga de sempre me tirando
da minha divagação.
— Ah, oi. O que você estava falando mesmo?
— Espera até você provar a comida daqui você não vai mais querer
comer em outro lugar. Eu sempre venho quando saio do plantão.
Eu nunca saia para restaurante ou lugares afins. Sempre fui de casa
para o trabalho, do trabalho para casa. Sempre que sentia fome comia em
algum restaurante próximo do hospital ou fazia um lanche rápido em algum
lugar.
— Quem bom que poderei experimentar hoje!
— Você não vai se arrepender. Vem!
Descemos do carro e logo pude contemplar a simplicidade e a beleza
do lugar havia algumas árvores nas laterais, em frente escadas com corrimão
e rampa. Esse lugar já ganhou pontos comigo pensando na mobilidade de
seus clientes. Gosto de lugares que sejam acessíveis a todas as pessoas sem
discriminação.
Caminhei mais um pouco e vi um menino muito lindo brincando nas
escadas e fazendo o corrimão de escorregador. Criança sendo criança, mas
sem nenhum adulto responsável por perto. Isso é um perigo. Continuei a me
aproximar, aquele menininho me prendeu atenção, sei lá existia uma força
maior me prendendo a ele e eu não conseguia me desvencilhar. Estranho
nunca me senti assim com nenhuma criança. E olha que adoro crianças.
Permaneci o olhando ele e quando me viu já estava colocando o pezinho em
cima do corrimão e se distraiu e ao invés de escorregar rodou para baixo.
Corri e coloquei a mão embaixo de sua cabeça, como já estava relativamente
perto, deu tempo protege-la do impacto, mas ele bateu suas costas no chão.
Seus olhinhos se encheram de lágrimas. Levantei-o e coloquei-o em pé na
escada.
Não quis responder porque não iria discutir minha vida pessoal num
restaurante lotado por sinal.
— A comida daqui deve ser muito gostosa mesmo. - Falei mudando
de assunto.
— Vem vamos logo senão perderemos aquela mesa ali. - Ela me
puxou tão rápido que nem acreditei que estávamos praticamente correndo
para pegar a última mesa vazia.
—Ai, que bom! Se não tivéssemos conseguido teríamos que esperar
em pé por uma mesa, porque daqui eu só saio depois de almoçar uma
excelente refeição.
— Que bom, então eu vou pedir. O que você quer comer? - Perguntei
com seu olhar sem sair de mim.
— Eu quero sobremesa de gelatina colorida.
— Mas você já almoçou? A sobremesa só pode ser comida depois da
refeição principal.
— A Luana disse que podia, porque hoje é o meu dia especial. Peraí
que vou pedir a ela trazer para gente. Você vai comer comigo?
Senti-me tanto feliz escutando sua vozinha, ela era doce e emotiva,
não tinha como dizer não e apenas acenei com a cabeça afirmando.
Ele saiu correndo para o que acho ser a cozinha e voltou com uma
jovem mulher que sorriu para mim e perguntou:
— Você é a amiga especial dele?
— Sou sim. E ele é o meu anjinho especial e também meu amigo. -
Disse sentindo uma emoção diferente quando me referi a ele.
— Então vou buscar a sobremesa de vocês.
Logo ela trouxe taças com gelatinas coloridas e ri da alegria dele e
balançava suas perninhas comendo sua sobremesa que por coincidência
também adorava.
— Essa é a minha sobremesa preferida sabia? - Chamei sua atenção.
— Fui eu que escolhi, parece que tava adivinhando que você ia
aparecer. - Disse rindo um sorriso claro e feliz. Seus olhinhos estavam
brilhando. E aquilo me deixava feliz.
Conversamos nós três até que a mesma jovem veio até nós e disse que
seu pai estava lhe procurando. Então, ele se despediu de mim com um abraço
apertado e demorado. Aquilo era muito bom e saiu correndo pelo restaurante.
Capítulo 03
Você escutar tudo aquilo do seu filho e não poder fazer nada seu
respeito. Dói, dói muito. Eu um cara de trinta e nove anos, bem sucedido não
sei como fazer meu filho toalmente feliz. Quer dizer eu até sei, mas não vou
brincar com seus sentimentos e colocar uma mulher que não o ame em sua
vida. Logo eu que nunca tive problemas em arrumar mulher, muito pelo
contrário nunca ficava sozinho. Bem posso dizer que soube muito bem
aproveitar a minha juventude e tive várias paixões, mas nenhum amor. Então,
você se pergunta e a mãe do Lucca, como surgiu nessa história?
Bom, eu sempre estava envolvido em festas tanto aqui na cidade
quanto em cidades vizinhas. E numas dessas festas a encontrei, Valéria, era
seu nome. Mulher bonita para caralho, chamava atenção de qualquer homem
por onde passava. E eu logo fiz questão de chamar sua atenção para mim.
Cumprimentei-a ficamos num papo legal e terminamos a noite juntos. Até
então nenhum problema éramos jovens, solteiros, desimpedidos e a fim de
curtir o que viesse. Com um tempo mesmo morando em cidade diferentes
continuamos a nos encontrar, ela era atraente e o sexo muito bom, o melhor
que já tive. Iniciamos um namoro inicialmente a distância, mas estávamos
cada vez mais grudados um ao outro. Até que um dia descobrimos sua
gravidez, no início ela até que fico feliz e eu estava muito feliz em ser pai
mesmo não tendo planejado isso naquele momento.
O que dia o Lucca nasceu foi o mais feliz da minha vida, pude
perceber que o que sentia antes desse dia era nada comparado com a emoção
que ele despertou. Ali, eu estava fodido, me apaixonei por um menino que
com um tempo se tornaria um homem e não me envergonhei de dizer e digo.
Sou completamente apaixonado por meu filho. Enquanto a mãe dele foi se
mostrando cada vez mais desinteressada pelo filho que quando passou do
período de amamentação o abandonou em minha casa com apenas um bilhete
avisando que ela não nascera para ser mãe e que era muito jovem para
assumir tal compromisso. Sem coração, eu sei. Aquela mulher é desalmada,
mas pensando bem, foi melhor assim. Dessa forma, meu pequeno não
convive com o desprezo diário e a falta de caminho da mulher que lhe pôs no
mundo, porque mãe do meu filho ela não é.
Depois de escutar o Lucca me tranquei no escritório e deixei as
lágrimas lavarem minha dor. Como pude ser tão imprudente em dar uma
"mãe" dessas a pessoa mais importante da minha vida. Não sei quanto tempo
fiquei trancado lá, mas quando me dei conta que havia permitido que o Lucca
fosse na frente do restaurante sozinho me desesperei e corri para encontra-lo.
Passei pelo salão apressado e nem reparei muito no movimento, hoje
estava mais lotado. Fui até a cozinha para ver se ele já tinha voltado e nada.
Fui até sua sala de brinquedos também não estava. Voltei para cozinha e
deixei o aviso que se ele aparecesse o levassem até mim. E corri para fora do
restaurante, andei pela redondeza e nada.
— Meu Deus, que não tenha acontecido nada com meu filho, por
favor!
Meu Deus que dia foi esse! Pensei quando estava deitava na cama e
minha bonequinha ao meu lado, agarradinha ao meu corpo como se sua vida
dependesse disso.
Quando cheguei em casa no final da tarde encontrei a Liv tristinha
sentada no terraço de casa. Aquilo fez meu coração ficar aperado o que será
que aconteceu?
— Que bom que chegou cedo. Preciso conversar com você. - Falei
ríspida, não consegui controlar meu nível de irritação quando a vi chegar
alegrinha.
— Se for sobre aquela piralha nem perca seu tempo. - Aquilo elevou
consideravelmente minha indignação.
— Como ousa falar assim da sua filha. Ela é sua filha! - Disse
gritando.
— Eu nunca a quis. Só a tive por sua causa, porque você me implorou
pela sua vida. Ela só me faz lembrar daquele traste do pai dela. Eu sinto nojo
quando ela me chama de mãe. Oh! Menina pegajosa. Grudenta. Eu sou
jovem, bonita e nenhum homem vai querer uma mulher com filho para
atrapalhar sua vida!
— Impressionante! Quem me dá nojo é você! - Cuspi minhas palavras
sem perceber que com a gritaria a Liv tinha acordado e escutava toda nossa
discussão.
— Mamãe... - escutei sua vozinha embargada pelo choro. Corri e a
abracei forte a apoiando sua cabeça no meu ombro e a minha irmã nem se
mexeu.
— Fica tranquila minha bonequinha. Eu estou aqui. Viu. Não chora. -
Ninava ela nos meus braços.
— Ótimo. Aproveita que ela já te chama de mãe e cuida dela também,
porque eu tô fora.
— Quer saber eu sempre cuidei muito bem dela e a amo como se
fosse gerada no meu ventre. A partir de hoje você nunca mais vai fazê-la
sofrer. E eu quero a guarda dela para mim. - Falei o que já vinha em minha
mente há algum tempo.
— Não poderia escutar proposta melhor! Me diz onde e quando tenho
que ir para que me ver livre de uma vez dessa coisa. - Abracei ainda mais seu
corpinho tenso que já estava tremendo nos braços e voltei para meu quarto.
Depois de um banho morninho vesti outro pijaminha e com muito
custo fiz minha princesa dormir novamente.
Ela se agarrou a mim como se segura um salva-vidas. Observei-a e fiquei
fazendo carinho nos seus cabelos. Deus o quanto essa menina não está
sofrendo, mas amanhã mesmo vou procurar um advogado e vou pedi todos os
direitos dela para mim.
Fiquei um tempo olhando para o teto e refletindo sobre tudo que já
aconteceu até aqui. Estava esgotada e lutava contra só sono...
Vi surgir a imagem de um homem muito lindo me chamando com o
sorriso nos lábios e dizendo que estava me esperando. Fui levada até ele, sim
levada porque não caminhei até lá e quando me aproximei do seu rosto vi que
o cara do estacionamento do restaurante. Minha nossa e como ele estava
ainda mais bonito. Tocou minha mão e juntou nossos corpos analisando meu
rosto aproximou nossos lábios e os beijou. O beijo era bom e estava sentindo
meus músculos relaxarem até que escuto uma vozinha de menino me
chamando: "mamãe?" Virei-me para encontrar o dono da voz, mas não vi
ninguém, mas meu coração reconheceu aquele timbre e se encheu de alegria.
Era o menino do restaurante.
Capítulo 05
— Tudo bem, Ana. Filho o pai vai só tomar um banho e volta para
jantar.
Jantamos os três na mesa, a Ana faz parte da nossa pequena família,
sempre foi e sempre será.
— Papai, o Vitor veio me pedir desculpas pelo o que ele me disse
outro dia. A tia disse que ele tinha que me pedi senão ficaria de castigo e que
qualquer coisa eu podia reclamar com ela.
— Isso filho! - Incentivei - qualquer coisa que acontecer na escola
você tem que falar logo com a sua professora.
— Papai, o Vitor também me disse que a gente vai jantar na casa dele
e que você também será o pai dele. Isso é verdade?
— Mas como...
— Miguel, quando íamos saindo da escola uma mulher se apresentou
dizendo ser a mãe do Vitor e querendo conhecer o filho do Miguel. E dizendo
que queria que os meninos fossem mais amigos.
— O Vitor não é meu amigo. Ele é mau e gosta de ficar perturbando
todo mundo. Eu não gosto dele e não gostei da mãe dele também. O Vitor
disse que tudo que ele faz a mãe acha engraçado. Não é engraçado ficar
zombando dos outros. Né papai?
— Não, meu filho não legal fazer isso. Isso machuca as pessoas. -
Disse pensando com quem queria juntar meu filho. A Andreia me convidou
achei legal de sua parte, mas expor meu filho a situações desagradáveis
jamais.
— Papai posso dormir com o senhor hoje? - Perguntou se tirando
desses pensamentos.
Meu Deus, tive que me segurar para não chorar em sua frente. Como
essa guerreirinha deve estar sofrendo. Na certa, isso era pelo choque
emocional. Peguei o termômetro e coloquei em sua boca. Seus olhinhos
estavam sem brilho e o seu rosto estava inchado de tanto chorar.
— A mamãe vai buscar o seu remedinho para essa dor passar tá certo?
— Não, eu não quelo ficar sozinha. Não me deixa. Po favô.
Coloquei-a nos meus braços e fui até a cozinha. Peguei o
medicamento com ela ainda nos meus braços e a fiz tomar que não reclamou
uma vez. Isso era novidade. Ela devia estar mesmo com muita dor.
— Mamãe po que o Papai do céu não me deu para a senhola ser
minha mãe?
— Ele me deu agora, minha filha - disse com vontade de chorar -
agora vamos esquecer tudo que ouvimos hoje e começar uma vida nova cheia
de amor. Agora, você tem que dormir.
Comecei a nina-la no meu colo. Sentei-me no sofá e fiquei fazendo
hora com ela, dormir numa cama de solteiro com essa mocinha não é fácil,
mas por ela não me importo. Liguei a televisão da sala e fiquei assistindo
alguma coisa qualquer embora meu pensamento estivesse no homem do
sonho. Eu nunca fiquei tão impressionada com um homem aponto de sonhar
com ele. Ainda mais porque o observei por poucos minutos.
— Mana, vai dormir na sua cama. - Escutei meu irmão com as mãos
nos meus ombros e televisão ainda estava ligada e eu perdi a noção do tempo.
— Que horas são? - Perguntei assustada.
— Cinco horas. Você dormiu aqui com ela? - Disse apontando para
meus braços onde a Liv dormia tranquila e que por incrível que pareça não a
soltei mesmo durante o sono.
Fui ao hospital. Hoje é meu plantão, mas sair de casa com o coração
na mão por deixar minha pequeninha. Fiz minha mãe prometer de que
qualquer coisa ela me ligaria. Quando sai a Lívia já tinha acordado e foi um
chororô enorme. Ela sempre entendeu que tinha que ir trabalhar e sempre fora
compreensiva, mas hoje foi difícil. Talvez tivesse medo por estar com a Joyce
depois de tudo que ouviu.
— Filha, a mamãe promete que quando chegar fica o tempo todo
grudadinha em você. Mas não chora porque eu fico triste quando você chora.
— Tá celto. Não vou mais cholar po que eu te amo no coração e não
quelo você tiste.
Deixei a Liv com meu pai na parcela, eu sei que lá as coisas são
bastante agitadas e minha pequena é super curiosa, mas não tinha a quem
recorrer. Sem dúvidas nenhuma a deixaria sob a responsabilidade daquelas
duas. Meu Deus, como fui cega, ingênua todo esse tempo. Os sinais estavam
na minha frente o tempo todo.
Eu sabia da desilusão que minha mãe nutria, mas para chegar a esse
ponto? Não. Isso é um absurdo. Sempre soube que minha mãe não era feliz,
vivia amargurada da vida, reclamava de tudo, nada a agradava, e a
implicância com meu pai era constante; seja por ele trabalhar muito tempo ou
por chegar sujo do trabalho em casa. Um homem que era da casa para o
trabalho do trabalho para casa, era simples, porém a honestidade era sua
maior qualidade. Só tinha uma coisa que ela fazia incondicionalmente que era
mimar a Joyce, desde que me lembro é assim, meu irmão nunca foi de
sentimentalismos e sempre vive à sua maneira rude de ser; era um homem de
poucas palavras, eu era a chata que só queria estudar e "ser alguém que não
era", nunca tinha seu apoio em nada; ao contrário do meu pai que sempre me
incentivou a buscar meus objetivos de maneira honesta e através do
estudo. Era nítido sua preferência pela Joyce, nunca a vi reclamar por nada
que ela fizera, até mesmo quando descobrimos a sua gravidez aos dezenove
anos.
Eu acreditava que a Liv sob sua proteção estaria a salvo das
atrocidades da Joyce, mas não. Ela só representava na minha frente. Quando
estava em casa era só amores e atenção pela menina, porém pelo que vi hoje a
Lívia fora muito negligenciada.
Cheguei a casa da Dany quase uma hora depois tive que parar na
estrada para poder respirar e chorar a dor de ser tão burra e ainda acreditar na
bondade humana. Alguns seres humanos são perversos só agem quando se
tem interesse, caso contrário nada faz pelo próximo. Por isso que minha
pequena é tão carente, quando ia trabalhar ela não tinha ninguém por ela, haja
vista que meu pai e o Gabriel passam o dia fora no cultivo da parcela.
Toquei a campainha e a dona Vanda me atendeu com um sorriso
sincero nos lábios.
— Minha menina, entre está tudo bem, minha querida? - Perguntou
preocupada.
— Não, mas vai ficar - respondi com sinceridade. - A Dany está?
— Sim, está no quarto. Sente-se que vou chama-la. Agradeci com um
aceno de cabeça e esperei.
— Lu o que aconteceu?!
— Eu preciso sair de casa e tirar a Liv de lá o mais rápido possível -
disse não segurando as lágrimas ao falar em voz alta aquilo que me afligia. -
Mas eu não sei como posso fazer isso legalmente.
— Calma. - Disse me puxando para um abraço - eu vou te ajudar.
Agora tenta se acalmar e juntas vamos encontrar uma solução. Está certo? -
Apenas confirmei com a cabeça.
— Tome minha filha, beba isso vai te acalmar. - Disse a dona Vanda
me entregando uma xícara com algum chá.
Acalmei-me um pouco e contei tudo que vinha acontecendo desde o
princípio, todos os absurdos e comportamentos da Liv em relação a tudo isso.
— Isso é a melhor coisa que você pode fazer minha filha. - Disse
dona Vanda com lágrimas nos olhos.
— Lu, já sei quem pode nos ajudar. Vou ligar para o Otávio ele é
advogado saberá nos orientar para você ter a guarda da Lívia.
Com a Dany era sempre assim: os problemas das suas amigas eram
sempre dela por isso sempre que falava, falava no plural se incluindo no
problema. Fiquei na sala com a sua mãe e ela saiu para conversar com seu
novo amor. Ela mal começou com ele e eu já estou lhe fazendo trazer
problemas para ele resolver.
— Pronto Lu falei com ele e vamos nos encontrar com ele as dezoito
e trinta naquele restaurante que fomos almoçar outro dia.
Não pude deixar de me lembrar daquele anjinho que encontrei por lá.
E sorri ao me lembrar dele.
Saímos logo depois para procurar uma casa em que eu pudesse alugar
e começar uma nova fase da minha vida e da minha bonequinha. Liguei para
meu pai e falei com o Gabriel e o deixei a par da situação, mas não pude falar
com meu pai porque estava mostrando as plantações para a netinha que não
parava de pedir para ver as "torneirinhas de chuva", nome que deu ao sistema
de irrigação de lá.
Vimos algumas casas, é eu decidi sai daquela cidade, até porque é
melhor encontrar uma casa que seja mais próxima do hospital e o melhor o
mais distante possível da Joyce. Como a Dany mora aqui desde que nasceu
conhece tudo por aqui, os melhores lugares, a vizinhança e também vai me
ajudar a escolher uma escolinha de qualidade para minha princesa.
Terminei gostando de uma casa que ela me falou que vagou agora a
pouco, é no bairro próximo ao dela e a localização é perfeita peguei o
telefone de contato exposto na casa e fiquei de ligar assim que resolver com o
advogado.
Chegamos ao restaurante e ele já estava os esperando. A Dany nos
apresentou e logo o deixei a par da minha situação. Ele se mostrou solidário a
causa e falou que iria me ajudar, mesmo que sua presença não fosse
necessária nesse caso, mas se "eu era amiga da sua garota também era ele".
Palavras dele e fiquei feliz pela Dany encontrar um cara bacana além de
muito bonito, diga-se de passagem. Tomara que dê tudo certo para eles. A
Dany merece o melhor que a vida pode lhe dar.
Depois de tudo esclarecido a Dany se retirou um momento para
atender uma ligação importante e fiquei conversando com ele.
—Lu, posso te chamar assim né? - Afirmei com um gesto - esse caso
é mais simples de se resolver - sorri aliviada - Você terá que ir ao conselho
tutelar da sua cidade e pedir a tutela da menor e explicar a situação em que
vive a menina e eles te darão a tutela provisória e marcarão uma visita a casa
dos seus pais para averiguar. Como você falou que sua irmã afirma não ter
interesse na menina e seu pai e irmão te apoiam. Tudo será mais rápido.
— Que bom! - Suspirei aliviada - amanhã mesmo vou no conselho
tutelar. Mas isso terá algum problema se eu mudar de cidade? Estou
pensando em me mudar para cá. Sabe ficar mais longe possível daquele
ambiente e está mais perto do meu trabalho.
— Nenhum. Você terá residência fixa e está disposta a dar o melhor
para a menina. Fiquei tranquila - passou a mão em cima da minha que estava
em cima da mesa como forma de me confortar - tudo dará certo. Já soube de
casos piores e tiveram êxito no final.
Sorri agradecendo e logo vi minha amiga voltando com um sorriso
nos lábios.
— Lu, o universo está a seu favor! Acabei de falar com minha mãe e
ela disse que a nossa vizinha conhece a dona daquela casa que você gostou e
ela falou que pode marcar com encontro com ela.
—Ai! Que bom Dany. Realmente adorei aquela casa ela parece ser
perfeita para minha bonequinha e eu começarmos uma nova vida.
— Pronto. Eu sabia que você ia aceitar e falei para minha mãe e pode
mandar marcar um encontro com a dona Ana para vocês acertarem o contrato
de aluguel.
— Espera. - O Otávio que até então só escutava a conversa sobre
casa, falou empolgado - a casa que vocês estão se referindo é uma do bairro
próximo daqui? Uma com um jardim bem cuidado na frente e de murro
branco baixo?
—Sim, é essa mesma. - Respondi com entusiasmo.
— Considere-se a mais nova locatária do imóvel, porque ela é de
minha mãe e sou o responsável pela realização do contrato.
Tem como não ficar satisfeita com a surpresa. Agradeci a Deus por
estar me colocando em contato com pessoas que podem me ajudar nesse
momento especial. E agradeci, lógico a Dany e o Otávio pela compreensão e
resolução dos problemas que achava ser maiores e seriam se não fosse a
ajuda deles.
Capítulo 08
Sabe aquela sensação de que você pensa que era melhor não ter saído
de casa no dia de hoje. É assim que estou me sentindo agora, apesar de que se
não tivesse saído de casa hoje não teria encontrado aquela esperta
princesinha. As pessoas costumam a só valorizar os grandes momentos na
vida e ignoram os pequenos e para falar a verdade, esses são os melhores.
Mas sinto que sai do paraíso e cai direto no inferno. Como explicar para meu
coração que aquela mulher é proibida para mim? Jamais atrapalharei a vida
do meu irmão, embora seja difícil conviver com ela quando ele nos
apresentar. E eu sei que isso mais cedo ou mais tarde irá acontecer.
Vou caminhando até o estacionamento tentando ao máximo respirar a
brisa da noite que por estar mais próximo das árvores ali plantadas se torna
mais agradável. Aproximei-me de um carro qualquer e me encostei olhando
para céu e a imagem dela no meu sonho estava viva na minha memória, cada
segundo dele era bom. Fiquei um tempo apenas olhando para o alto e
tentando ordenar minha cabeça quando escutei a voz do Otta, sempre o
chamei assim, bem próximo onde estava. Abaixei o olhar com medo de
encontrar a mulher do meu sonho, literalmente.
Sabe quando Deus manda anjos na face da terra para nos proteger,
guiar ou ajudar; pois sim, Ele me deu dois nesta noite e eu só tenho que
agradecer.
— Meus amores, agora tenho que ir. Vou deixar vocês se curtindo
mais à vontade e vou ficar com a minha princesa. Já passei muito tempo sem
ela.
— Que isso Lu. Você é muito especial para mim. Uma irmã mesmo e
você sempre poderá contar comigo. - Disse acarinhando minha mão.
— Lu, te conheço há poucas horas, mas já pude perceber que és uma
ótima pessoa e tenho certeza que serás uma boa mãe. Eu acho que também
devemos ir, princesa - disse olhando para Dany.
— Sim vamos.
Saímos do restaurante e estava muito confiante não via a hora de
abraçar minha pequeninha e dormir agarradinha a ela, mesmo numa cama de
solteiro. Nota mental: comprar uma cama bem grande para nos duas
dormirmos mais à vontade.
Fiquei calado. Meu pai trabalha muito, mas quando eu posso ele deixa
eu ir.
— Mas eu queria ir. - Disse com a cabeça baixa.
— Lembra do que eu te falei sobre obedecer aos adultos?
— Lembro. Eu vou pro meu quarto. - Disse subindo as escadas.
Hoje não fui ao restaurante pela manhã. Levei meu mini mim à
escola. Fiz alguns depósitos no banco, fiz alguns pagamentos e quando estava
na hora de ir busca-lo fiquei na frente da escola esperando. Iriamos almoçar
com a minha mãe. Faz tempo que não nos vemos.
— Bom dia, sumido - escutei a voz e me virei para trás.
— Ah, bom dia Andreia. - Respondi educadamente.
— É impressão minha ou você está me ignorando todas as minhas
ligações. - Isso era verdade, mas não podia dizer na cara dura, mesmo não
sabendo quem deu o meu número a ela.
— Desculpa, mas é que ando um pouco ocupado com o restaurante. -
Disse meio sem jeito, não gosto de mentiras.
— Poderíamos trocar o jantar por um almoço e irmos hoje mesmo
com os meninos. O que você acha?
— Não vai dar eu já tenho um compromisso para o almoço, por isso
vim buscar meu filho hoje. - Justificativa demais. Repreendi-me.
— É uma pena. - Disse olhando para o lado e depois para mim - você
é sempre assim difícil?
— Papai!!! - Meu filho me salvou dessa. Suspirei aliviado.
— Campeão! - Baixei-me para ele subir nos meus braços - eu tenho
que ir - disse olhando para ela.
— Tchau! Eu te ligo para marcarmos alguma coisa.
Não respondi, apenas acenei com a cabeça sem saber o eu dizer. A
Andreia é bem insistente e não sei se gosto dessa pressão toda. E realmente
ela me liga muitas vezes por dia, mas ultimamente nem atendendo mais
estou. Esperava que se cansasse, mas vejo que me enganei.
Chegamos a casa onde fui criado e meu filho saiu correndo para
abraçar sua avó.
— Boa tarde vovó! Estava com saudades. - Disse meu filho
abraçando minha mãe que estava sentada numa poltrona.
— Eu também meu netinho, preferido. - Disse beijando sua bochecha.
— Mamãe, a senhora tem ido ao médico? Está tudo certo com a sua
saúde?
— Sim, meu filho. Apenas fiquei muito tempo sentada aqui.
Almoçamos ouvindo o Lucca falar sobre a sua escolinha e seus
amigos nela, do restaurante e uma mulher que encontrou por lá. E ele disse
que estava encantado por ela, palavras de dele. E achei isso interessante, meu
filho de cinco anos "encantado por uma mulher". "Se bem que ele não é o
único." Pensei na Lucélia a mulher que também encontrei no restaurante,
mais precisamente no estacionamento do restaurante.
Passamos parte da tarde juntos e fomos embora, mas antes fiz um
interrogatório com a Isa, a empregada que auxilia mamãe. E ela me garantiu
que a dona Teresa tem ido ao médico e que está tudo bem. Só sai de lá com a
garantia de que qualquer coisa que acontecesse ela me ligaria e viria
imediatamente. Poderia ser mais fácil se ela morasse comigo, mas isso está
fora de cogitação para ela. Ela não quer sair daqui de jeito nenhum e não quer
que eu volte a mora aqui por causa dela.
— Eita, tio o sehor não sabe quem é a Elza? Ela e a Ana. - a Liv
começou a contar ao Otávio que atentamente escutava a história com ela
ainda nos braços entrando na área de laser e depois apresentando a todo
mundo sua nova sobrinha.
— Vem vamos entrar. Eu quero que conheças a dona Ana.
Acompanhei a minha amiga observando a Liv que estava toda à
vontade com as apresentações do seu tio Olavio.
— Dona Ana, está aqui é a minha amiga que alugou sua casa. - Disse
apontando para uma senhora aparentemente muito simpática. Sabe daquelas
pessoas que de cara você se sente acolhida.
— Muito prazer dona Ana. - Disse estendendo a mão para ela a qual
ignorou e me puxou para um abraço forte e acolhedor.
— Que bom te conhecer pessoalmente e como você é bonita Lucélia.
— Obrigada pela gentiliza. - Disse um pouco sem jeito pelo elogio.
— E onde está minha nova netinha, nos últimos dias tenho escutado
muito falar dela e de você também. - Disse bem simpatia. Gostei dela.
A Dany foi buscar a Liv enquanto fiquei conversando com a dona
Ana que falava sobre sua paixão por flores e de como sempre ia cuidar do
jardim da sua casa e entendi porque é tão bem cuidado.
Minha amiga disse brincando, mas ela tinha razão e eu que julgava as
pessoas que diziam se apaixonar à primeira vista. Como diz minha mãe
língua falou, o corpo pagou. Olhei para ele e mesmo falando com o Otávio
não tirava os olhos de mim e aquilo me deixava com uma sensação boa.
— Agora, espanta essa insegurança que ele está vindo para cá. Tenta
agir naturalmente e deixa as coisas fluírem. Eu bem que estava certa quando
vi o olhar que trocaram no estacionamento do restaurante.
— O que você quer dizer com isso?
— Digamos que eu e o Otávio resolvemos criar um ambiente para
dois corações solitários se encontrarem. - Olhei incrédula para ela.
— Mas...
— Mas nada. Eu te conheço muito bem e sei que ia arrumar de tudo
para se sabotar e o meu namorado também conhece o isolamento do seu
amigo e resolveu dar uma ajudinha. Agora vê se valoriza a trabalheira que
tivemos que fazer para juntar vocês dois. - Disse se levantando e me
deixando sem reação porque ele estava muito próximo de mim.
— Oi, vi que você não está bebendo nada resolvi te trazer caipirinha.
Você gosta?
— Sim - disse presa no olhar dele. Seus dedos tocaram os meus e meu
coração disparou ainda mais se é que isso é possível.
Observei-o atentamente e a cor dos seus olhos era linda, eram cor de
mel, mas quando a luz do sol batia a sua íris ficava verde. Ficamos um
olhando o outro como se quiséssemos nos gravar na memória.
— O Otávio me falou que precisou de orientação judicial.
— Foi, mas graças a ele e a Dany consegui dar andamento para
resolver um problema familiar. Ainda não chegamos numa decisão final,
porém consegui fazer o que era mais importante. - Enquanto falava pude
perceber seu olhar nos meus olhos. Aquilo era bom.
- Espero que consigas resolver definitivamente. - Disse enquanto eu
só conseguia olhar como seus lábios se mexiam a cada palavra pronunciada.
"isso é que dá ficar tanto tempo sem nunca ter provado o sabor de um beijo"
minha arque-consciência zombava de mim.
Ficamos conversando sobre o restaurante e de como conhecemos
nossos amigos em comum até que sai de lá para ver se a Liv já não tinha
acordado. Dei uma desculpa e sai em direção a casa. A festa estava muito
animada alguns casais dançando, agora música sertaneja, e todos estavam
concentrados na área externa. E entrei pela cozinha.
— Lucélia, espera. - Escutei aquela voz e paralisei
Senti sua mão tocar na minha e me virei. E ficamos muito próximos,
lembrei-me do meu primeiro sonho com ele. Ele me segurou pela cintura e
mão que estava na minha segurou minha nuca e senti um arrepio invadir meu
corpo. Aproximou-se dos meus lábios e disse:
— Desculpa, mas eu estou muito a fim de te beijar. - Disse e não me
deu chance de recuar. Começou suave, pude sentir a maciez dos seus lábios
prendendo no meu lábio inferior e depois aumentando a velocidade. Eu fui
me deixando levar pela sensação de medo e desejo e ao mesmo tempo
maravilhosa de ser beijada pela primeira vez e como todas as minhas
perspectivas sendo atendidas. Senti a ponta da sua língua pedindo passagem e
aquilo era bem melhor do que imaginei. Via-me envolta numa bolha onde só
existia a gente. Relaxei e me entreguei ao sentimento que despertara.
Esqueci-me de tudo e todos naquele momento até perceber que estava
sentindo falta de ar e relutantemente nos separamos.
Ficamos nos olhando por alguns segundos sem nos desgrudar
absorvendo toda energia que nos envolvia.
— Te vejo lá fora. - E saiu pela porta afora e eu subi as escadas sem
falar nada.
Sai de casa por volta do meio dia com Lucca para irmos ao churrasco
do Otta e confesso que não via a hora de chegar e ver a Lucélia. A Ana havia
me pedido o dia de folga para ajudar no que fosse preciso na casa do filho e
isso ela nem precisava pedir. Ela é de muita valia na nossa vida e nossa
relação não é de patrão e empregada, ou melhor, nunca foi. Estava no
caminho, na realidade quase chegando à casa, quando o Davi me ligou
desesperado com o movimento e me falando que uma de nossas garçonetes
havia escorregado na cozinha e pelo o que parecia tinha quebrado o braço.
Rayssa não trabalhava aos sábados por causa de um curso que estava fazendo
e não era justo ligar nesse dia para nos socorrer. Por isso, dei meia volta e
segui para o restaurante prometendo ao Lucca que quando conseguisse
resolver tudo íamos ver seu padrinho.
Por ironia do destino não parava de chegar clientes e eu corria de um
lado para outro tentando atender a todos da melhor forma possível e a minha
ansiedade não estava ajudando em nada. Queria estar com ela agora, ter um
papo legal e conseguir alguns minutos de sua atenção, nos conhecermos
melhor. O fato é que só consegui chegar ao churrasco, depois das quatorze
horas, sai do restaurante quando o movimento já estava mais tranquilo e o
pessoal poderia dar conta do serviço com mais facilidade.
Cheguei e fui logo entrando sem fazer cerimônia e encontrei todos na
área perto da piscina.
— Olha só quem chegou se não é a noiva?! – Falou o Otta fazendo
graça – não te falaram que só as mulheres que atrasam e quando a festa é de
casamento. O que não é o caso.
— Desculpa, Otta problemas no restaurante. A Julia caiu na cozinha e
terminou quebrando o braço. – Isso já tinha sido confirmado depois da ida ao
hospital – já estava quase aqui quando me ligaram.
— Então, está perdoado. E espero que ela fique bem. E cadê meu
afilhado? – Disse fingindo não ver o Lucca ao meu lado.
— Tô aqui padrinho Otta.
— Oxe, cara nem te conheci! Estava esperando um menino menor e
menos forte. O que você anda comendo menino? Fermento?!
Não esperei por mais nada. Dessa vez fui eu quem fugiu. Fugi dos
meus instintos e acabei a dispensando depois do melhor beijo da minha vida.
Corri até a cozinha e ela não estava lá. Olhei na sala, banheiro e nada. Só me
resta o piso superior. Fui me aproximando do corredor e escutei um choro de
criança?!
Segui o ruído e abri a porta do quarto e vi a Liv sentada na cama
chorando pela mãe. Corri até a cama e me ajoelhei-me na sua frente.
— Liv, minha princesinha, porque você está chorando? - Passei a mão
no seu rostinho e ela me reconheceu.
— Plincipe. – Disse entre soluços – eu quelo minha mamãe.
— Vem vou te levar até ela, mas você vai ter que me mostrar quem é.
Tá certo? – Ela balançou a cabeça esfregando o rosto.
Sai pelo corredor e já estava no meio da escada quando vi a Lucelia
de mãos dadas com o Lucca.
— Papai, essa é a ...
— Mamãe. – Disse a Liv estendendo os braços para ela. Não é
possível. A Liv é sua filha?
— Ela é sua filha? /Ele é seu filho? – Perguntamos juntos.
— Sim. – Ela respondeu pegando a Liv dos meus braços. – Oh, meu
amor eu fui lá ver você, mas ainda estava dormindo. – Ela falava com carinho
olhando sua menina.
— Eu pensei que a sehola tinha me deixado. – Disse começando a
chorar de novo apoiando a cabeça em seu ombro.
— Eu nunca vou deixar você. Olhe para mim – Lucélia falava com a
Liv nos braços envolvida num carinho tão bonito. Aquilo aumentou num
nível alto a admiração que tenho por ela – como vou deixar você se você é a
minha vida? Ãh? – Disse fazendo cócegas nela e a pequena já havia
esquecido.
— Papai, essa é a mulher que eu encontrei no restaurante. – Disse o
Lucca se aproximando de mim como se me contasse um segredo.
Observei a Lucélia o acompanhar com o olhar.
— Ela é a desconhecida, quer dizer, a sua amiga especial?
— Sim, papai é ela. – Disse rindo para a mulher que estava fazendo
meu coração reviver.
Capítulo 15
Repeti sua frase. Isso é novidade para mim, trocar mensagens com um
homem tão espontaneamente. Deixei o celular ao lado da cama e me virei
abraçando minha pequeninha e esperei o sono chegar pensando nele.
Acordei mais cedo deixei tudo providenciado: a bolsa da Liv com
roupa, comida, produtos de limpeza e brinquedos. Antes de ir para o meu
plantão vou passar na casa da Dany, a dona Vanda ficou de passar o dia com
a Liv hoje enquanto resolvo minha escala no hospital. Vou mudar, porque
não posso deixar a Liv vinte e quatro horas sozinha ou incomodando outras
pessoas.
Deixei-a ela na casa da dona Vanda e segui para o hospital. O dia
estava correndo tranquilo e eu agradecia por isso. Passei no departamento
pessoal no meio da manhã e consegui mudar minha escala para uma escala
diária a partir da terça , porque amanhã foi me dado folga por causa do meu
plantão de hoje, assim poderia ficar mais tempo com a minha Liv. Amanhã
mesmo vou encontrar uma escolinha para ela.
No meio da tarde fui visitar a ala de minha amiga, pois na minha
graças a Deus nenhuma criança havia dado entrada. Sempre terminava me
envolvendo com elas e acabava sofrendo um pouquinho. Quando cheguei
encontrei a Dany com muita paciência conversando com uma senhora que
dava medo só de ver sua cara dura, sabe aquelas pessoas que com o pesar dos
anos ficam mais carrancudas?
— Dona Teresa, a senhora tem que ficar com o braço paradinho para
não ferir a senhora. - Dizia minha amiga se controlando para não responder
de forma grosseira e pelo pouco que vi a senhora era intragável.
— Dany...
— Pronto chegou mais uma incompetente já disse que estou bem foi
só uma queda de pressão. Não preciso disso na minha veia! - Disse indicando
com o queixo o soro.
Nossa! Eu sei que o hospital não é o lugar que as pessoas gostam de
estar, mas tratar mal um enfermeiro ou qualquer outro funcionário é
inadmissível.
Olhei para minha amiga e vi que já estava perdendo o controle e
resolvi socorre-la.
— Dany, deixa eu te ajudar - disse pegando a agulha de sua mão. -
Ela suspirou e nem fez questão de não me passar o serviço.
— Agora temos. - Disse rindo olhando para o Lucca. Com certeza ela
escutou o seu pedido.
Saímos da escola e a Liv estava de mãos dadas comigo e o Lucca
estava com a Lucélia. Na realidade isso era novidade porque ele nunca foi de
ficar tão à vontade com outras mulheres que se aproximavam de mim na
escola.
Chegamos ao restaurante nos nossos carros, mas o Lucca não quis vir
comigo e sim com a Lucélia. E eu pensando que me filho não se importaria
de me ver com uma namorada. Já posso apresenta-la como namorada, aliás,
como ele não iria gostar se ele a conheceu primeiro que eu.
— Plincipe, o Luquinha dixe que voxe é dono do restaulante. - Disse
com as mãos na cintura.
— É verdade, minha princesinha. - Disse pegando-a no colo. Ela era
tão esperta e eu adorava a sua espontaneidade
— Mamãe, ele é o amigo que a tia Dany falou? - Vi a Lucélia ficar
vermelha. O que será que ela falou de mim? - eu já vim aqui, mas nunca vi
voxe, plincipe. - É pelo visto além de espontânea é muito inteligente.
— Quando chegamos à cidade viemos almoçar aqui com a dany e
Otávio. Com certeza essa espertinha deve ter escutado da Dany falando de
você. - Respondeu a Lucélia, com vergonha. É bom saber que ela se
interessar por mim o tanto que me interesso por ela.
Entramos no restaurante como uma família e aquilo me deixou muito
feliz. O Lucca em nenhum momento se mostrou com ciúmes da Liv e dava
para imaginar como seria minha vida se ela me aceitasse em sua vida.
— Liv, vem quer conhecer minha sala de jogos? - Perguntou o Lucca
todo animado depois que cumprimentou todos.
— Posso mamãe?
— Pode filha, mas tenha cuidado! - Disse se abaixando e apertando o
seu narizinho afilado.
— Parece que eles se deram bem! - Falei colocando a mão na base da
sua coluna e a levando para meu escritório.
— Verdade. Fico feliz pelos dois. Tinha medo que a Liv não se
adaptasse numa cidade nova com pessoas novas. - Observa-a com ela falava
feliz da menina e isso me contagiou. Ela é uma mãe bem atenciosa e
amorosa.
Aproximei-me dela e a prendi entre minha mesa e o meu corpo,
coloquei a mão por baixo dos seus cabelos sedosos que a deixava ainda mais
bonita com eles soltos. Encarei seus lábios entreaberto e uma vontade lasciva
se despertou em mim. Queria muito beija-la e ao mesmo tempo observar cada
traço de sua beleza.
— Você vai me beijar agora? - Perguntou sussurrando olhando para
meus lábios e aquilo foi como um estopim. Beijei-a com sede. Gostaria de ter
feito isso desde que a vi saindo da escolinha como uma mãe que vai buscar
seus filhos na escola. Não se precisar quanto tempo ficamos assim. Foram
vários beijos, seus beijos eram diferentes um misto de provação e
inexperiência?! Não, inexperiência não, talvez timidez; ficamos nos beijando
até que escutei alguém bater na porta. Nos afastamos e fui abrir a porta. Isso
foi bom precisava me afastar dela um minutinho caso contrário não respondo
por mim.
— Miguel, o Davi- a Rayssa parou de falar e olhou séria para a
Lucélia - quer saber - suspirou - se você vai querer almoçar com o Lucca ou
se ele pode comer na cozinha.
— Não, diga que eu e a - olhei para aquela mulher encostada na
minha mesa - minha namorada e as crianças vamos almoçar na aérea
reservada hoje.
— Ok. - Se retirou olhando feio para a Lucélia que parecia alheia ao
olhar mortal da minha funcionária. Ela não pode agir assim. Vou ficar de
olho.
— Namorada?! Eu nunca fui pedida em namoro - falou com humor.
Como assim nunca foi perdida em namoro?! Ela já era mãe e o pai da
Liv? Quer saber isso não importa.
— Lucélia - disse me aproximando, pegando no seu rosto e nivelando
com o meu. - você aceita ser minha namorada, a minha companheira, minha
amante, minha mulher e com um mini-mim de bagagem? - Ela ria. E aquilo
que o pedido mais inusitado que já tinha feito. Na realidade nunca havia
pedido ninguém em namoro. - eu acho melhor você parar de rir porque eu
nunca fiz esse pedido na vida. E, sinceramente, não sei como fazer isso.
— É como chamo o Lucca. Você não notou que ele é minha cara?! -
Perguntei incrédulo, pois todo mundo diz isso.
— Nossa! Como foi tola! - Disse ao sair do meu escritório - eu não
reparei, mas agora. É verdade ele é a sua cara. Eu estava tão envolvida pelo
carinho que senti por ele que nem me dei conta. Mas também isso não
importa porque gostei dele independentemente de você. Naquele dia na
escada quando nossos olhos se encontraram. Eu... eu senti... eu não se
explicar. - Disse me deixando para trás. Escutar isso me deixou mais seguro.
É meu filho também a conquistou.
Chegamos a mesa e os dois anjinhos já estavam sentados com cara de
que estavam aprontando.
— O que vocês estavam aprontando? - Lucélia perguntou logo de
cara.
— Nada, mamãe. - A Liv respondeu rápido aí tem alguma coisa.
— Lucca? - Perguntei ao meu que ficou vermelho quando falei.
- Nada papai. Eu tô com fome. - Estreitei os olhos para ele, mas não
disse nada. E fiz sinal para a Rayssa que nos olhava de longe.
— O que vocês vão querer? - a minha namorada perguntou.
— Macarronada!! - Os dois responderam ao mesmo tempo.
Ficamos ouvindo as aventuras dos dois na sala de jogos. Percebi que
meu filho não tira os olhos da Lucélia e prestava atenção em tudo que ela
fazia ou falava. Nossa refeição chegou e mais uma vez percebi como as
coisas eram naturais com ela. Ela era incrível, atenciosa com os meninos e
ainda por cima muito linda.
A Lucélia pegou um prato e serviu a Liv, mas antes teve a atenção de
cortar tudo em pequenos pedaços e eu fiquei abobalhado. Nunca tinha
presenciado uma cena tão mãe e filha.
— Lucca, você quer que te sirva também? - Perguntou diretamente
para meu filho.
— Quero. - Disse entregando o prato para ela.
E ela dedicou toda atenção e gentiliza ao que estava fazendo ao meu
filho assim como fez com a Liv sem distinção. Aquele era seu jeito natural e
estava adorando reconhecer isso.
Depois que almoçamos tive que ceder a insistência da Lu para deixa-
la ir, pois não queria atrapalhar meu trabalho, mas para meu espanto meu
filho não quis ficar no restaurante como sempre fazia.
— Deixa papai. - Pedia o Lucca mais uma vez enquanto a Lucélia
tinha ido levar a Liv ao banheiro.
— Meu filho, você pode atrapalhar a Lucélia. Você já ficou muito
tempo com a Liv.
— Deixa, por favor - disse juntando as mãozinhas - eu nunca tive uma
irmãzinha. Eu quero ficar com ela. - Irmãzinha?! Era assim que ele via a Liv?
— Filho... - eu não sabia o que dizer para convencê-lo do contrário
suas palavras me deixaram abalado.
— Por favor deixa. Eu juro que me comporto. Deixa?
— Mamãe deixa pol favolzinho. Voxê não quer ir Luquinha?
— Quero. - O Lucca responder de pronto e nem tinha visto elas se
aproximarem.
Olhei para a Lucélia sem saber como sair daquela saia justa na certa a
Liv também estava pedindo para o Lucca ir também. Ela olhou para o Lucca
que já estava com cara de choro.
— Você se não se importar por mim tudo bem. - Ele abriu um sorriso.
— Você tem certeza? - Perguntei dando chance de desisti o que vi em
seu olhar.
— Tenho. Quando você for para casa você busca ele. Pode trabalhar
sossegado.
— Tudo bem...
— Iupi!!! - os dois gritaram.
— Pode ficar tranquilo que qualquer coisa te deixo avisado. - e saiu
com os dois segurando em suas mãos. Nem tive tempo de me despedir como
gostaria.
Capítulo 17
Peguei o celular do bolso e tirei uma foto, queria eternizar aquela cena
para sempre e quando eles estivessem adultos mostraria como eram fofos. "já
está fazendo planos de 'para sempre juntos?' não faz nem vinte e quatro horas
que está namorando e já está fantasiando as coisas. Tenha cuidado" ralhava
minha consciência. O que eu posso fazer se não consigo parar de pensar nele,
no beijo dele. Meu namorado. Nunca imaginei pronunciar essa palavra.
Escutei a companhia tocar e fui atender e me deparei com o Miguel.
— O destino está sempre me surpreendendo. - Disse me abraçando -
você é minha vizinha. - Disse rindo.
— Pois é tomei com susto com um Lucca desesperado porque estava
o levando para casa.
— Sério?! E cadê eles? - Perguntou entrando na casa.
— Dormindo - apontei para a sala. - Acho que as pilhas acabaram.
Depois da nossa brincadeira no jardim. Você quer alguma coisa? Água, café,
um suco. - Disse ficando nervosa. Não me olhem assim! Quem nunca ficou
nervosa na primeira visita do namorado.
— Quero. - Disse vindo atrás de mim na cozinha - você - virou-me e
me deu um beijo daqueles que me faz perder todos os sentidos. Como era
bom. Meu namorado era um beijoqueiro e eu estava adorando isso.
— Você está linda! - Disse ao se separar dos meus lábios.
— Se eu soubesse que para te encontrar era só atravessar a rua tinha
vindo ontem mesmo roubar alguns beijos seus.
— Você não precisaria roubar. Era só pedir.
— É mesmo? Então me dá um beijo.
Pediu e nem precisava pedir. E pela primeira vez tomei a iniciativa e
gostei de explorar sua boca. Seus lábios macios, sua barba baixa provocava-
me, sua língua, suas mãos segurando minha nuca e cintura enquanto eu
segurava seus cabelos, minhas mãos tinham vida própria e eu aproveitei o
momento.
— Acho melhor você para de me provocar senão eu não respondo por
mim e nem por meu companheiro. - Ao ouvir isso algo em mim explodiu em
chamas e olhando para baixo vi do que ele estava falando e senti meu sangue
ferver.
— Adoro essa cor em você sabia? - Disse me provocando por causa
do meu rubor.
— Desculpa, essa não era minha intenção. - Tentei me explicar.
— Não se desculpe e eu sei que você não fez de propósito. Eu sei que
sou irresistível mesmo - disse me dando um selinho.
— Convencido. - Disse rindo da cara que fez - acho melhor prepara o
nosso jantar.
Fizemos nosso jantar, quer dizer eu fiz porque acabei descobrindo que
o meu namorado é extremamente desastrado na cozinha e totalmente
dependente nesse aspecto. Mas isso não impediu de trocarmos muitos beijos
e carinhos. Descobri que adoro suas mãos quando me segura forte.
Colocamos as crianças na minha cama para eles ficassem mais
confortáveis e jantamos juntinhos. Nosso primeiro jantar de namorados.
Capítulo 18
Escutar isso me fez feliz. Meu Lucca tem um bom coração. É puro e
está realmente levando a sério essa história de irmã. Se bem que eu não me
importaria de ter a Liv como filha.
Deixei-o na escola, mas confesso que senti vontade de ir na casa em
frente só para ver minha mais nova vizinha. Quase não acreditei quando o
Otta me falou que ela tinha alugado a casa.
Seguir para o restaurante, entretanto mandei uma mensagem para a Lu
desejando um bom dia de trabalho. Jantamos ontem à noite, conversamos,
mas não perguntei onde trabalhava. Era muito difícil pensar perto dela e
nossos beijos estavam me tirando de órbita. Nunca foi tão bom namorar no
sofá. Sua companhia é muito agradável.
Passava das dez da manhã quando meu telefone tocou:
— Bom dia, senhor Miguel? - Uma voz que não reconhecia falou.
— Sim, é ele. - Respondi com receio.
— Aqui é da escola do seu filho. Aconteceu um pequeno acidente
com o Lucca...
— O que aconteceu com meu filho? - Falei me assaltando sem deixar
ela continuar.
— Foi na hora do recreio, mas ele já foi levado para o hospital ...
— Obrigado por me informar. - Desliguei rapidamente.
Capítulo 19
— Até demais, uma ala infantil que não tenha uma criança com gripe
ou coisas do tipo?! – Falar isso em voz alta me dá medo.
Continuamos conversando sobre o último plantão quando meu
coração ficou apertado. Uma sensação ruim me atingiu. Será que aconteceu
algo com minha princesinha? Não, isso é coisa da minha cabeça. Acho que
fiquei nervosa com o seu primeiro dia de aula.
— Ajuda, por favor, me ajude! – Uma mulher entrou correndo no
hospital banhada de sangue com um menino nos braços.
— Venha, por aqui – disse correndo pela emergência.
— Lucca, meu bem acorda! Fala comigo meu amor – a mulher o
sacudia desesperada.
Olhei aquele menininho que passara a tarde comigo e que vem
habitando meu coração com um amor arrebatador. Ele estava desacordado,
com uma laceração no supercílio direito e provavelmente com a perninha
fraturada, pois estava muito inchada e ficando roxeada.
— Sou eu meu amor. Não chora deixa a tia Celinha cuidar de você? -
Ele abriu os olhos.
— Você parece um anjo vestida de branco. Você é médica? –
Perguntou enquanto fazia o procedimento.
— Não meu amor, sou enfermeira. Eu cuido das criancinhas que
veem aqui no hospital. E aquele é o doutor Rodrigo. Ele é que é o médico.
Terminei de fazer a sutura e o levei para os exames e já estava mais
aliviada por ele ter acordado.
— Mamãe, vai doer? – Perguntou aflito quando viu as máquinas. Ele
falou tão naturalmente a palavra mamãe. Eu me surpreendi e me alegrei com
aquilo. Como amo aquele garoto.
— Não, meu amor – disse segurando sua mãozinha – ela só vai tirar
uma foto de sua perninha para ver se está quebrada. Você não vai senti
nadinha. Eu prometo.
— Eu tenho medo. Muito medo.
— Eu vou ficar com você o tempo todo. Não tenha medo. – Disse
beijando sua bochecha.
Confirmamos que sua perninha havia quebrado mesmo e eu estava
inquieta como isso foi acontecer numa escolinha de crianças e depois de uma
briga? E por que ele se envolveu numa? Será que aquela é uma escola boa
para minha filha? E para o Lucca? Meu filho. Ele me chamou de mãe.
Mesmo sem saber que eu e seu pai estamos namorando. Ele estava sendo
sincero e gostei de ser chamada de mamãe por ele.
Fiquei ao seu lado como uma mãe que acompanha seu filho de
verdade. Segurei sua mãozinha o tempo todo enquanto o ortopedista colocava
o osso no lugar e engessava sua perninha.
— Pronto, campeão, agora você vai ficar aqui nesse quarto e ficar em
observação porque você bateu a cabeça e ficou desacordado precisamos saber
se você ficará bem. – Disse o Rodrigo.
— Mamãe, fica comigo. – de novo sentir meu coração se alegrar com
aquela palavra.
— Eu... eu – não sabia o que dizer. Queria muito ficar com ele, mas
aquele era o meu trabalho e não podia ficar exclusivamente apenas com um
paciente. Embora o movimento do hospital estivesse tranquilo.
— Fique – disse o Rodrigo – segurando minha mão e acariciando-a –
hoje está tranquilo e se aparecer outro paciente te chamo.
Quando ia responder escutei um furacão de voz grossa entrar na sala e
parar olhando para mim.
— Lucélia!
Capítulo 20
— Lucélia! - Não acredito que é ela e quem é esse cara segurando sua
mão?
Medi-o com o olhar. Quem esse médico pensa que é para ficar com a
minha namorada assim?
— Miguel. - Respondeu se aproximando de mim. Enlacei sua cintura
e a puxei para um beijo rápido. Esse idiota precisa saber que ela não está
disponível.
— Sou o pai do Lucca e namorado da Lucélia. - Disse a última
informação com mais imposição.
— Com licença - olhou para ela. Provocando-me. Mas esse cara é
muito sem noção - fiquei Lu e se precisarmos de você eu te aviso. - Não
gostei desse doutorzinho.
— Miguel, está tudo bem? - Perguntou olhando para mim. Como está
tudo bem? O cara só faltou a comer com os olhos bem na minha frente.
— Com ele está? - Disse tentando disfarçar a minha raiva. O foco
agora é meu filho.
— Ele ficará em observação, porque chegou desacordado ao hospital.
Ele fraturou a perna e levou oito pontos no supercílio. O doutor Rodrigo
receitou alguns medicamentos para dor e logo ele estará dormindo.
— Papai... - disse ele me chamando e lutando contra o sono.
— Oi, meu filho eu estou aqui. - Disse abrandando minha voz e
beijando sua testa.
Olhei sua perna engessada e procurei por mais algum sinal de onde
pode ter saído tanto sangue.
— Eu vi a professora dele lá fora e ela estava com muito sangue na
roupa. Ele só tem esse corte?
Essa mulher quer acabar com meu juízo me provocando desse jeito.
Puxei-a e agarrei-a sem pudor.
— Está querendo me provocar? - Falei incitando-a
— Só um pouquinho. - Deu um selinho - você fica muito gato com
ciúmes. Agora tenho que ir.
Fiquei com meu filho, a minha namorada passou por aqui algumas
vezes e depois de longos minutos ele acordou. Chamando pela mãe. Era
sempre assim quando ele se sentia inseguro. Por mais que eu fizesse por ele,
ele sempre chamava pela mãe.
— Filho, eu estou aqui. Seu pai - disse passando a mão na sua testa
que estava muito quente. Isso não era normal.
— Chama a mamãe, papai - disse tentando abrir os olhinhos. - Está
doendo.
— Onde está doendo filho? - Perguntei entrando em desespero.
Definitivamente sou uma negação em hospitais.
— Na perna e a cabeça. - Colocou a mão sobre o curativo
Corri até a porta e gritei por ajuda. Logo a Lu veio ao meu pedido.
Chegou até o meu filho fazendo carinho dos seus cabelos.
— Mamãe, tá doendo. - Disse abrindo os olhos. - Surpreendi-me ao
escutar meu filho a chamando de mãe, mas a cumplicidade entre os dois era
quase palpável. Eu perdi alguma coisa?
— Diz onde está doendo que eu cuido de você, meu anjinho. - Disse
com carinho e ajeitando o travesseiro dele.
— Na cabeça e na perna - respondeu.
— Eu vou buscar o remedinho. Espera só um pouco.
— Não, fica comigo. - Disse querendo chorar.
— Cadê meu super-herói favorito? O meu incrível Huck? Fica aqui
com seu papai rapidinho eu volto. - E logo ele estava atendendo o seu pedido
e concordando com ela.
Ela saiu do quarto e regressou com os remédios que aplicou um soro.
— Pronto meu amor agora você não vai mais sentir dor e sua febre -
disse sentindo sua temperatura - vai passar logo. Isso aconteceu porque o
efeito do remédio que você tomou passou. Sua perninha vai doer de vez em
quando, mas vamos cuidar de você. - Disse olhando para mim no final como
se fosse para eu me acalmar também.
— Bem que a Liv disse que você é o anjo que cuida das crianças
dodói.
— É mesmo ela te falou isso? - Perguntei ao meu filho já me
recompondo do ataque de pânico que tive. Eu sou uma negação de pai em
hospital.
— Sim, antes de conhecer vocês. Ela me disse no sonho que éramos
irmãos e que a mamãe dela era um anjo que cuida de crianças e se chamava
tia Celinha. Eu me lembro do sonho todinho. - Estranho ele nunca me falou
desse sonho. Será que por isso ele a chama de irmã?
—Só ela que me chama de Celinha. Agora você também. - Disse
apertando o nariz do meu filho com carinho. - Sempre me chamam de Lucélia
ou Lu.
— Celinha é mais bonito mamãe. - Disse com muita naturalidade. Ela
sorriu e olhou para mim como esperando minha reação. Eu ainda não contei a
ela sobre a sua mãe biológica. Acho que espera minha aprovação sobre isso.
Tem como não ficar emocionada com uma pergunta dessa? A tristeza
dele é latente e isso me golpeou forte. Um menino lindo desse tão novinho e
com essa carga toda por não ter uma mãe?! O que aconteceu com sua mãe
que nem ao menos a visita?
Eu já tinha me apaixonado por ele desde quando o vi no restaurante.
Mas é evidente que não podia sair gritando por aí. É logico que quero ser sua
mãe. Eu quero realizar seus sonhos, cuidar desse sofrimento,
independentemente do seu pai que é lindo e está me fazendo sentir o que
nunca imaginei sentir. E se esse anjinho me quer como mãe, não há nada que
eu possa fazer a não ser me tornar a melhor mãe do mundo para ele, porque
os mais sinceros pedidos não precisam de ensaios e preparação
simplesmente eles saem de nossa boca, do fundo da nossa alma.
— Você me fez te amar desde aquele dia que nos encontramos no
restaurante. Você lembra do que me disse? Você me falou que estava
esperando por mim. – Respirei fundo e continuei o olhando nos seus olhos –
ninguém nunca esperou por mim. O meu coração bateu bem forte quando
você falou comigo e eu fiquei triste por não saber quem você era – peguei em
sua mão – eu queria ter você por perto. Abraçar-te, te encher de beijinhos.
Quando te vi na casa do Otávio você veio até mim e me abraçou bem forte,
isso foi muito bom. Senti uma paz enorme dentro de mim- enxuguei uma
lágrima que ligeiramente correu no meu rosto - e é em nome dos sentimentos
que você me desperta que eu aceito ser sua mamãe. Deus me deu uma menina
e agora está me dando um menino. Meu super-herói, um anjinho que vai
alegrar meu coração e eu vou te amar a cada dia da minha vida. – Beijei bem
demorado sua testa e depois distribui vários beijinhos no seu rosto. Para
tentar disfarçar as lágrimas que estavam escapando dos meus olhos.
— O papai está chorando, mamãe. Não fica assim não papai. – Olhei
para trás e vi ele tentando disfarçar a emoção. - Eu amo o senhor do tamanho
do universo – disse abrindo os braços – e que agora eu tenho um papai, uma
mamãe e uma irmãzinha.
— Eu amo você meu filho. – Disse o abraçando. -Me desculpa. Me
desculpa.
Aproveitei e resolvi deixar os dois sozinhos. Eu me deixei me
envolver pela emoção e talvez tenha dado um passo muito longo aos olhos do
Miguel. Nós nunca falamos sobre a mãe do Lucca e nem cogitei em contar
toda a história com a Liv. Cada minuto com ele é tão bom que prefiro não
entrar em assuntos pesados. Eu sei que eles veem com o tempo e não quero
estragar nosso momento. O fato é que eu não me arrependo do que falei para
o Lucca, mas não estou com vontade de encarrar o Miguel agora.
Estava no corredor quando o ouvi me chamar. E esperei sem olhar
para trás.
— Espera Celinha. – Chamou-me pelo apelido que o filho me
chamou. – Você não pode fugir assim depois do que falou lá dentro.
Essas palavras me fizeram prender a respiração. Ele vai me criticar,
quem não me criticaria? Mas eu não me arrependo. É simples eu amo aquele
menino como filho. Ele quer ser meu filho!
— E-eu sinto muito você não ter gostado. É que ele sempre me
despertou meu lado maternal e independentemente de voc... – Calou-me com
um beijo cheio de sentimentos.
Eu não gostei daquela mulhel ela fez minha mãe cholau. Logo agola
que a minha mãe e meu pai estão namolando.
Capítulo 26
Salva pelo gongo, ou melhor pela Liv. Eu não sabia o que fazer.
Aquilo era tão bom. Senti o Miguel tão próximo a mim, seus carinhos, seus
beijos. Eu estava ficando maluca por aquele homem. A ponto de esquecermos
de onde nós estávamos. Estávamos no meio da sala! Mas eu não o culpo,
estava muito bom.
Passamos o resto da tarde em sua casa com a Dany e o Otávio que
ficaram com o Lucca enquanto o Miguel fora falar comigo.
— Vocês demoraram! – Disse a Dany para mim quando chegamos. –
O que vocês estavam aprontando?
Apenas abri um sorriso com seu comentário e ela entendeu tudo.
Preparamos alguns petiscos enquanto os homens escolhiam algumas
bebidas e arrumavam a área da piscina. Estava um dia lindo para se
aproveitar.
Passei na sala de tevê e os dois estavam deitados no tapete assistindo
ao filme dos "sem florestas" como a Liv tinha falado.
— Pode ir tranquila que eu fico de olho neles. – Disse a Ana se
aproximando.
— Eu não quero te dar mais trabalho, dona Ana.
— Não é trabalho nenhum. Vai lá e ficar um pouquinho mais com seu
namorado. Vocês quase não têm tempo de ficar juntinhos. E se me permite
um conselho, não deixe a Teresa atrapalhar vocês. Há muito tempo que os
meus meninos não eram tão felizes. – Disse se emocionando – você e a Dany
são duas mulheres maravilhosas e estão trazendo a felicidade com vocês.
— Obrigada pelo conselho dona Ana. Prometo que farei o máximo do
máximo para retribuir a felicidade que os dois estão trazendo para mim e
minha filha.
Voltei para a cozinha e falei:
— Agradeça a Deus todos os dias pela sogra maravilhosa que você
ganhou.
— Não fica assim Lu ou melhor Cely? – Disse se divertindo.
— Pra você é Lu. Só ele me chama de Cely e quero que continue
assim. – Disse com falsa repreensão.
— Tudo bem. Achei super sexy ele lhe por um apelido só dele. Mas
me conta como estão as coisas entre vocês?
— Curiosa!
— Vai lá aposto que vocês não estavam brigando esse tempo todo.
— Não. Você me conhece não sou de brigas. Mas estamos nos
entendendo bem. Ele está cada vez mais atencioso comigo...
— Vocês já fizeram amor? – Perguntou com empolgação.
— Aí, Dany que pergunta! – Olhei-a e ela ainda estava esperando a
minha resposta me incentivando com o olhar- tá você venceu. Ainda não,
mas se dependesse dele já teríamos feito, porém ainda não consegui falar
sobre a minha verdadeira relação com a Liv e não sei como abordar esse
assunto com ele. Como vou chegar dizendo que sou virgem?!
— É difícil amiga, mas fale o mais rápido possível porque o que
podemos tirar de lição do encontro de hoje é que não devemos esconder as
coisas de quem a gente ama. Se bem que acredito que ele não achará de todo
ruim. – Disse me dando uma piscada.
— Você é terrível Dany.
— O que você está fazendo aqui, Joyce? – Reuni toda minha força
para não me exaltar. – Quer acordar a rua inteira?
— Ora, ora se não é minha irmãzinha certinha. – Falou com desdém –
o que a pura imaculada inocente faz na rua a essa hora e – olhou o Miguel da
cabeça aos pés – acompanhada de um super gato! Você resolveu namorar
irmãzinha?
— Fala logo Joyce. Você acha que é quem para chegar na minha casa
insinuar que não sou uma boa mãe? Aliás, como você descobriu meu
endereço?
— Eu fui até o hospital e me disseram - disse se jogando no sofá.
Olhei-a e ela estava deplorável parecia uma prostituta da pior
categoria. Nada contra gente. Mas ela estava muito vulgar, cheirava mal, usa
saltos super altos e grosseiros e o vestido vermelho justo mal cobria a curva
do traseiro, os seios de tão esmagados pareciam pular para fora do decote, e
na barriga era todo recortado mostrando a pele, ou seja, era basicamente top e
saia do pior manequim.
— Por que você está vestida assim? E esse cabelo todo desgrenhado?
Sua maquiagem está borrada! Nunca vi você saindo de casa assim.
— Eu estava descolando uma grana. - Falou se levantando e indo até
a cozinha. - Não tem nada para se comer nessa casa? - Saiu indo até os
quartos. Era muita folga para uma pessoa só.
— Você está bem de vida em maninha? - Falou com desdém - se bem
que para você tudo sempre foi assim. Você sempre teve as melhores coisas
com a exceção da fedelha.
— Eu trabalho Joyce. Sempre me esforcei e não admito que fale
assim da Liv!
— Eu também trabalho o que eu ganho? Nada! Por isso que estou
aqui. Preciso de dinheiro.
— Eu não vou te dar dinheiro!
— Quarto bacana esse, mas olha a sua filha não está em casa. Ou
seria melhor a minha filha não está dormindo nessa cama de princesa. Cadê
minha filha? - Gritou me assustando.
— Sua. - Tentei me controlar minha cabeça parecia que ia explodir -
sua filha?! Você tem certeza do que está falando? - Explodi.
— Sim. Minha. Minha filha - disse bem juntinho do meu rosto - e se
você realmente quiser ficar com ela vai ter que me pagar o que me deve!
— E o que seria isso? Posso saber? - Gritei com todas as minhas
forças - Eu nunca fiz nada contra você! Está maluca?
— Você quer o que é meu. Eu quero o que é seu! Quer a menina? Eu
quero o
dinheiro.
— Cely, está tudo bem? - Eu mal conseguia me mexer. O desprezo
por aquela mulher em minha frente era tão grande que não conseguia
acreditar.
— Saia da minha casa agora! Seu monstro! Eu te renego como irmã!
— Eu vou, mas acho melhor você pensar na minha proposta Lucélia -
disse saindo do quarto - e você bonitão ela tem mania de roubar o que não lhe
pertence. Cuidado - disse passando pelo Miguel.
E eu não tive coragem e nem forças para olhar para trás eu sabia que
tinha muito a explicar e agora ainda tinha a possibilidade de perder minha
menina.
— Lucélia - senti aquela voz que tanto esquentava meu coração bem
próxima de mim, mas agora ela tinha uma passividade que esfriava cada
centímetro do meu corpo.
Capítulo 30
Dizem que cego é aquele que ver as coisas e não quer acreditar, pois
me considere assim. Esse sou eu. Como fui idiota em ter deixado a Cely
sozinha com essa Joyce que não inspira nenhuma segurança. Eu deveria ter
insistido para entrar também.
Aproximei-me da porta a fim de perceber algo fora do controle.
Escutava ao longe vozes aparentemente normais. Não dava para saber do que
elas estavam falando e eu não ia ficar aqui de comadre fuxiqueira. Não
mesmo.
Escutei um grito e entrei na casa e elas estavam no quarto da Liv
quando ouvi:
— Sim, minha. Minha filha e se você realmente quiser ficar com ela
vai ter que me pagar o que me deve! – Gelei com aquela afirmação. Aquela
era a voz trôpega da Joyce.
— E o que seria isso? Posso saber? – Não elas não estão se referindo
a Liv como uma mercadoria estão?! – Avancei até a porta do quarto
escutando a Joyce tentando trocar a Liv por dinheiro?! Mas por quê? A Cely
não faria isso!
— Cely, está tudo bem? – Perguntei de repente ao perceber o clima
naquele quarto, mas minha namorada estava de costas e não me respondeu.
Isso foi a confirmação de que ela me esconde a verdade. E a verdade é que
ela não é mãe da minha princesinha.
A Cely expulsou a irmã que antes de sair me deixou um recado e
aquilo já não me interessava e sim saber por que a Cely mentiu para mim.
Senti meu sangue pulsando em minhas veias e escutei um zunido nos meus
ouvidos. Não sei lidar com mentiras. Ela não deveria ter mentido para mim.
— Lucélia! – Não me contive e me aproximei dela. Não suporto
mentiras, mas também não suporto ficar longe dela. Cada célula do meu
corpo deseja o calor do seu.
— Miguel... – sua voz saiu entrecortada e lutei contra minha vontade
de abraça-la. Eu preciso saber da verdade.
— Por que você mentiu para mim? – Ela ainda estava de costas para
mim. – Anda fala logo! Por que você mentiu? – Trovejei a virando para mim.
Uma bela e péssima ideia porque pude sentir seu corpo grudado no meu, mas
ver aquele olhar me quebrou em mil pedaços. – Desculpa, minha linda.
Desculpa – disse beijando seu rosto e a abraçando-a.
Seu corpo tremia copiosamente e vi aquela mulher forte se esvair em
meus braços.
— Eu estou com medo Miguel... – disse se agarrando ainda mais no
meu pescoço. – Eu não quero perder a Liv. Eu não posso perder. – A Cely
afundou ainda mais a cabeça no meu ombro – Miguel a Liv não é minha filha
biológica.
Isso eu já tinha entendido, mas não entendia porque ela não tinha me
falado. Abracei-a com mais força a fim de lhe dar segurança. E me abaixei
nos acomodando no chão. Suas pernas já não tinham mais forças para segurar
seu peso. Sentei-me e a fiz sentar no meu colo. Aproveitando o momento
para olha-la nos olhos.
Tirei uma mecha dos cabelos que encobria seu rosto e senti meu
coração fisgado novamente. Sorri com aquele pensamento, parece que
sempre vou ser pescado por aquele brilho amadeirado do seu olhar.
Instantaneamente aquela raiva que estava se apoderando do meu coração se
foi. Definitivamente aquele olhar era enfeitiçado. O medo estampado neles
me fez senti o homem mais insensível que existi. E me arrependi de ter
colocado minha raiva em primeiro lugar. Eu precisava ouvi-la primeiro antes
de julga-la
— Eu sei minha linda, mas porque você não me contou? Eu te falei
toda a história sobre a mãe do Lucca. Não escondi nada de você. – Falei
passando a mão nos seus cabelos. Era impossível não senti a necessidade de
confortá-la embora ainda estivesse magoado por ela não ter me confiado seu
segredo.
— Eu queria. Queria muito. Ensaiei tantas vezes te falar, mas era
difícil. É difícil. Quando estávamos na sua casa ainda há pouco estava
disposta a te contar toda a história, porém a Joyce chegou antes.
— Precisamos falar sempre a verdade assim nada poderá ficar entre
nós dois. Hoje tivemos dois exemplos desastrosos de que não devemos
esconder nada um do outro. Eu errei sobre minha mãe e você errou sobre a
sua irmã que vou logo dizendo que a quero longe de você e da Liv.
— A Joyce não tem coração. Eu não posso deixar que a Liv conviva
com ela novamente. – Disse chorando de novo.
Queria poder não deixa-la senti aquele medo, mas não tinha ideia do
que aconteceu entre elas. O que via era uma mulher com um medo
avassalador não só pela possibilidade de perder sua filha do coração, mas o
medo de deixar a filha sofrer na presença da Joyce.
— Quero muito te ajudar Cely; você, no entanto, terá que me contar
tudo o que aconteceu – dei um beijo casto em seus lábios salgados.
Encostei-me na cômoda do quarto da Liv, estávamos sentados no
tapete fofinho, como ela falava, da Frozen. Aconcheguei-a no meu peito
enquanto a incentivava a falar acariciando seus braços. A posição não era
nada confortável para mim, mas sabia que a história era longa e precisava
deixa-la a vontade.
E assim ela fez, contou-me toda história da sua vida com seus pais e
seus irmãos e de como surgiu seu amor pela Liv, se já sentia asco por aquela
mulher que conheci mais cedo, nem sei denominar o que sentia agora depois
de saber de toda história. Foi inevitável não me emocionar e não fazer
comparações entre as mães do Lucca e da Liv. Era por isso que no fundo
agradecia a mãe do meu filho de tê-lo abandonado. Para não o ver sofrer
como a Liv sofreu. Bem que o Otta me falou sobre o caráter daquela que
entrou de vez na minha vida e no meu coração. Ela é incrivelmente
encantadora. Como não ama-la? E como eu amo. Se já tinha certeza disso
antes agora mais que nunca. Como é possível se apaixonar de novo por uma
pessoa duas vezes no mesmo dia?! Com minha mãe ela demonstrou ter uma
hombridade invejável e agora se abre para mim com tanta sinceridade e
seriedade que praticamente impossível não ver o brilho da pessoa linda que é
há quilômetros de distância.
Ficamos assim por alguns minutos depois de sua confissão. Eu não
queria larga-la, queria proteger, cuidar, acarinhar e retribuir todo amor que
ela sente pelos nossos filhos; nossos, pois tanto o Lucca quanto a Liv a
adoram como mãe. E eu me sinto tão pai da Liv quanto me sinto do Lucca.
Aquela menina é tão carente de amor paterno e isso eu tenho de sobra.
Amanhã mesmo vou procurar o Otta e saber como anda o processo de tutela
da Liv. Pelo o que entendi ela tem a tutela provisória e pelo pouco que
entendo de lei o que a Joyce está tentando fazer é crime. E eu não vou deixa-
la se aproximar novamente das minhas meninas. Não vou.
— Minha linda, você é uma mulher incrível. – Disse beijando sua
cabeça. – A Liv tem muita sorte de ter você em sua vida. E quero que você
fique tranquila que eu não vou deixar nada de ruim acontecer a ela e nem a
você. Você não está sozinha.
— Obrigada. Obrigada por me ouvi e entender porque eu não podia
simplesmente despejar meus problemas entre a gente. – Disse se virando de
frente para mim.
— Eu não quero que nunca mais escondamos nada um do outro. Você
entendeu? – Perguntei o mais incisivo possível - e a partir de agora seus
problemas serão nossos problemas e resolveremos juntos. – Disse beijando-a.
Como era bom ter aquela mulher ao meu lado.
— Vou tentar senhor mandão. – Disse sorrindo.
— Acho bom você se acostumar porque sou muito controlador
algumas vezes. – Disse entrando no clima mais ameno agora. – Vamos
levantar porque já ficamos muito tempo nessa posição desconfortável. – Falei
fingindo empurra-la do meu colo.
— Ah sim claro, senhor meu velhinho. – Disse se levantando e
estendendo a mão para me erguer.
Segui para cozinha enquanto ele falava com a Ana para saber das
crianças.
Sorte minha ter sempre algo semipreparado na geladeira assim posso
aproveitar mais do meu namorado.
Quando a Cely deixou o quarto resolvi ligar para Ana e saber dos
meninos já era tarde e devido a tudo que aconteceu não tivemos tempo de
coloca-los para dormir.
— Eu sei Ana. Eu sou a prova viva do quanto você sabe cuidar bem
de crianças. Obrigado.
Fui até a cozinha e a encontrei mexendo nas panelas e o cheiro estava
muito bom. Se estivéssemos na minha casa abriria um vinho para
acompanhar o nosso jantar de quase madruga. Eu poderia me acostumar com
aquilo; nos dois, ou melhor, nos quatro na mesma casa como uma família.
— O que você está olhando posso saber? – Perguntou me jogando o
pano que estava em suas mãos.
— A mulher linda que está em minha frente e além de todas as suas
qualidades e virtudes ainda sabe cozinhar e acima de tudo super-rápido.
Como você conseguiu fazer tudo isso em tão pouco tempo?
— Segredo. – Disse fazendo suspense – mas você conseguiu falar
com a Ana?
— Falei. Ela disse que os dois já estão dormindo há muito tempo e
que ela providenciou tudo para que eles ficassem confortáveis na minha
cama. – Disse dramatizando – portanto hoje sou um homem sem cama para
dormir pelo resto da noite.
— Sério que a Ana fez isso?! Não. Isso está mais para um dedinho da
Dany. Aposto. – Disse se aproximando de mim.
— Não sei de quem fora a ideia, mas o fato é que só temos que
acordá-los amanhã de manhã com muitos beijinhos e café da manhã na cama.
— Pobre sem teto. – Disse enlaçando meu pescoço – será que não há
alguma vizinha que possa te abrigar por essa noite? – Falou passando os
lábios nos meus e na minha pele sensível da barba. Nossa se ela soubesse o
quanto adoro esse carinho na minha barba.
"O que será que foi pegar?" "Isso foi uma desculpa para sair de
fininho?!" Essas perguntas não saiam da minha cabeça. Eu estava pronta. Eu
o queria tanto. Será que eu entendi tudo errado e estou praticamente me
oferecendo para ele? Será que fui muito precipitada?
"Não né sua boba. É lógico que ele te quer. Ele está apaixonado por
você! Ele mesmo falou isso para você!" Minha consciência tentava me
convencer.
Enquanto aquelas perguntas permeavam minha cabeça fui até meu
quarto e resolvi tomar banho para ver se me livrava daquela tensão. Passei
alguns minutos cuidando de mim e aquela ansiedade estava me corroendo.
Um misto de ansiedade e precipitação incendiava meu coração que batia
descompensado. Quando sai do banheiro encontrei-o em pé de braços
cruzados e encostado na porta. Seu sorriso logo se espalhou pelo rosto. Se eu
já tivesse visto mais lindo não me lembrava.
Ao ver, veio em minha direção me abraçando e tomando meus lábios
prazerosamente e todas aquelas dúvidas se dissiparam.
— Você está muito sugestiva com essa toalha, mas preciso que você
se vista porque vamos sair. – Disse encostando nossas testas.
Sair?! Para onde? Numa hora dessas?! É quase uma hora da manhã!
"deixa de ser boba e se joga, menina!" Minha consciência mais uma
vez.
— E o que devo vestir? – Disse me animando com a aventura.
— Algo que te deixe confortável – falou deixando meus braços – e
faça uma pequena mala e coloca biquíni também. Vou te esperar na sala. –
Disse me deixando surpresa e ansiosa. O que será que ele está aprontando?
Fiz exatamente como ele mandou e vesti um vestido longo, leve
estampado com um fundo azul e por baixo uma surpresinha. "Uma mulher
preparada vale por duas!" – Pensei. Peguei minha pequena bolsa e sai.
Encontrei-o no sofá me esperando e saímos.
Supunha que íamos à praia nós moramos numa cidade próxima ao
litoral, mas o vi chegando ao restaurante que por sinal ainda estava bastante
movimentado.
— Preciso pegar algumas coisas aqui, mas vai ser rápido. Vem
comigo? – Respondeu minha pergunta oculta.
— Vamos – eu mal podia esperar para ver o que ele estava
preparando. – Eu adoro surpresas, mas o que você está aprontando? Tenho
que preparar meu coração?
— Então, acho que acertei na escolha e é melhor você estar
preparada... – disse com um olhar sugestivo e aquilo me animou ainda mais
se é que isso é possível.
Entrei no meu quarto para ver as crianças eu tinha outro plano para
elas. E o que vi me deixou ainda agradecido por ter encontrado a Cely. Meus
filhos dormindo lado a lado como dois anjinhos. O Lucca estava de costas
com sua perninha repousada num travesseiro enquanto a Liv estava de lado
com as duas mãozinhas debaixo do rosto. Aproximei-me dei um beijo e em
cada um sem acordá-los e segui para o banheiro e tomei um banho. Vesti uma
bermuda, camisa de botão e sapatos o mais confortável possível. Peguei algo
de extrema necessidade para a noite no armário do banheiro, para a
tranquilidade e segurança da minha Cely.
Fui até a cozinha e deixei um bilhete para a Ana avisando sobre o
plano e dizendo que pela manhã assim que os meninos acordassem
arrumasse-os fossem até a praia que a Cely e eu estaríamos os esperando.
Pedi, também, que convidasse o Otta e a Dany para ir juntos com eles.
Minha vontade era poder ter a Cely só para mim neste final de
semana, mas não posso e nem quero ficar longe dos meus meninos e tenho
quase certeza de que ela também não quer ficar longe deles por muito tempo.
Terceiro passo – ok
Com tudo resolvido segui para a casa da minha adorável vizinha e
namorada. Entrei e não a encontrei pela casa só me restava um cômodo. E
segui para lá. Em pouco minutos ela saiu do banheiro e me presenteou com
uma bela vista que me atiçou ainda mais, contive-me o melhor estar por vir.
Pedi que ela se preparasse e fui aguarda-la na sala.
Quarto passo – ok
Chegamos ao restaurante deixei-a no escritório e fui até a cozinha.
Não que ela já não supusesse o que estava planejando, mas queria continuar
com o clima de mistério.
— Tudo certo? – Perguntei ao Davi que estava finalizando o meu
pedido.
— Quase... espera a Luana foi buscar algumas coisas também. –
Assenti.
— Fico feliz por você. Espero que você aproveite muito esse final de
semana.
— Cara, vou ficar te devendo mais uma. O que você precisar pode me
pedi. Mais uma vez você está quebrando o galho para mim.
— Olha que vou te cobrar em! – Advertiu – você já tem uma conta
bem grande!
Sempre ouvi que sexo com amor é muito melhor e sempre acreditei
que isso fosse conversinha de mulher apaixonada, mas vejo que me enganei.
Nunca tinha me entregado tão plenamente a alguém. Foi o melhor de toda a
minha vida.
Estávamos abraçados, nossos corpos colados, anestesiados de tanto
prazer.
— Minha linda – passei as mãos em suas costas desnudas. Ela estava
repousando em meu peito. E eu querendo ter oitos braços para sentir cada
pedaço de sua pele macia – vamos tomar um banho juntinhos? Quero cuidar
de você – disse depois de beija-la castamente e esperando desesperadamente
para encontrar o restante da surpresa.
Fomos até a porta lado da porta da varanda e ao abri-la encontramos
uma banheira cheia de espumas e pétalas vermelhas.
— Acho que estou dentro de uma cena de novela. – Disse se
divertindo -Onde estão as câmeras?
— Isso é o mínimo que você merece por ter esperado por mim – disse
beijando eu pescoço. Eu não conseguia parar de tocá-la, beijá-la.
E naquele banho entre várias carícias e juras de amor, no amamos
mais uma vez e depois outra vez na cama. Quando nos rendemos ao sono
estava apreciando alguns raios do amanhecer em sua pele. Ela era um sonho
bom acontecendo na realidade.
— Oi, vó – falei desanimado da última vez que a vovó viu a Liv ela
saiu chorando com a mamãe e eu não gostei disso.
A Liv a reconhece e tenta ficar atrás de mim. Acho que ela tem medo
dela.
— É assim que se fala com sua avó? – Pergunta meio brava – isso
deve ser influência de certas amizades. O Miguel precisa selecionar seus
amiguinhos. Nem todos são bons para você meu netinho.
Ela olhou com uma cara feia para a Liv.
— Não fala assim da Liv ela é minha irmãzinha. Não gosto quando
você faz ela chorar.
— Deixa Luquinha. Eu não ligo a mamãe me ensinou que as vezes os
adultos falam coisa que não queler dixer e machucam um pouquinho. Aí a
gente quando vai dormir pede para Papai do céu pra Ele encher o coração
deles de muinto amor aí passa.
Ela olha para minha vó e sai de trás de mim. E com uma coragem que
só a Liv tem se aproxima dela.
— O que você quer menina atrevida?
— Vamos Liv que o Ted está nos esperando. – A Liv ficou paralisada
em frente a minha avó e sorriu como se tivesse lembrando de alguma coisa
— Dona Telera, a senhola palece minha vovó lá da minha andiga
casa. Ela semple tava de malumor quando a mamãe ia tlabalhar no hospitlal.
— Saia daqui, agora! Onde já se viu uma menina desse tamanho falar
assim. Sua mãe não lhe deu educação?
Puxei a Liv para a cozinha, mas ela parou e olhou para trás.
— Não... está tudo bem - respondeu com um olhar vago limpando seu
rosto das lágrimas – preciso ir.
E saiu pela porta com o andar mecânico.
— Agora, os dois vão me explicar direitinho o que aconteceu aqui. –
Falei sério com os dois que já estavam escorados na Ana.
Depois de toda a explicação entendi que realmente a dona Teresa está
passando por alguma situação complicada preciso falar com o Miguel sobre
isso.
As crianças ficaram brincando com o Ted e eu fui ajudar a Ana no
jantar. O Miguel tinha combinado com o Davi para as noites ele ficar em
casa, assim trabalharia durante o dia e a noite ficava comigo e as crianças e
no final de semana eles alternavam. Eles contrataram outro chefe e dividia o
trabalho com o Davi que também estava trabalhando demais. Há poucos dias
ele assumiu o namoro com a Luana e os dois só querem ficar o máximo de
tempo juntos. Natural porque isso ocorre comigo e o Miguel também e que
desde regressamos da praia há duas semanas não conseguimos mais ficar um
tempo livre sem que possamos estar juntinhos.
Na hora de sempre ele chegou e as crianças que já estavam limpas da
brincadeira no jardim e o abraçaram.
— Papai! – Correram quando perceberam a sua chegada.
O Miguel se abaixou e os dois ao mesmo tempo se penduram em seu
pescoço e ele como o papai forte que é levanta os dois ao mesmo tempo e
beija o rosto de cada um.
— O papai é o mais forte de todos os plincipes!
Ainda com eles nos braços chega até a cozinha e cumprimenta a mim
e a Ana que também observava a cena.
— Então, como foi o dia de vocês? – Perguntou ele quando já
estávamos sentados a mesa após seu banho e nunca vou ficar imune daquele
cheiro de Miguel.
— A mamãe ajudou o médico a tirar aquele gesso chato da minha
perna, papai.
— A gente blincou e colemos com o Ted tabém. E ficamos todos sujo
de tela.
— Foi a mamãe deixou só um pouquinho, mas depois tivemos que
tomar banho. Foi muito legal papai. Só fiquei triste por a vovó Teresa ficou
chorando.
— Como assim a minha mãe veio aqui? – O Miguel direcionou a
pergunta para mim – ela fez alguma coisa contra você ou a Liv?
— Não Miguel fique tranquilo – disse passando a mão em cima da
dele.
— Ela cholou poque eu dei um beijinho de calinho nela.
— Você fez isso filha? – O Miguel parecia surpreso.
— Fiz papai, mas ai ela cholou e depois foi embola quando a mamãe
chegou.
— A gente levou um doce que a vó Ana fez ela até sorriu quando
levei, mas depois chorou eu nunca vi ela chorar, mas eu abracei ela como o
senhor faz comigo quando eu choro, mas não adiantou.
— Miguel, acho que sua mãe está precisando de ajuda. Ela deve está
passando por algum problema e você precisa ajuda-la. – Falei preocupada. Eu
sei que ela não está bem.
— Vou procura-la amanhã, minha linda.
Eu não quero preocupar o Miguel, mas temo que ela esteja doente,
pois achei ela com a pele amarelada.
MIGUEL
— Você não precisa ir, Cely! – Falei pela milésima vez. Isso já está
ficando chato.
— Não Miguel hoje não!
— Você é muito teimosa sabia...
— Mamãe, por favor a senhora prometeu que quando tirasse o gesso
ai me dar mais carinho e eu já estou curado. – Argumentou o meu filho.
Duvido ela resistir agora.
— Mas eu já fiquei ontem e antes de ontem também não posso ficar
todos os dias. – Falou para ele.
Nossa!!!
— Tudo bem. Mas pense no seu filho e seu neto. Eles gostam da sua
presença e a senhora está cada vez mais se afastando deles.
— Culpa sua! Agora eles só têm tempo para você e sua filha atrevida.
– Baixou o tom da voz – quem liga para uma velha como eu.
— Todos nós. Seu filho, seu neto e eu. Só permita se aproximar deles.
Eles sentem sua falta. Não precisa gostar de mim, mas não os deixem sem
sua presença. Não quero os separar– apelei. Sei que eles tentam nos proteger
das grosserias dela, mas a querem por perto.
— De que jeito se sempre está lá. Você e sua filha estão
monopolizando-os.
Jesus Cristo, dê-me paciência!
— Vamos fazer assim. – Melhorei meu tom de voz – vá até hoje à
noite cuidarei para não lhe importunar com minha presença ou de minha
filha.
Vi-a se encher de esperança. Será que ela não está indo à casa do
Miguel porque estou lá?
— Tudo bem agora me deixa ir embora.
Por mais que ela esteja sendo rude comigo. Sei que no fundo isso é
apenas uma máscara. Ela tem medo.
— Joyce, escute. – O Otta pediu – você não pode sair por aí pedindo
dinheiro e chantageando a sua irmã porque ela ganhou na justiça a tutela da
Livia. Isso é crime.
— Mas ela é minha filha!
Filha. Agora ela é filha?
— Filha que você maltratava. Você nunca gostou da menina e agora
que a minha princesa – não podia esconder os meus sentimentos pela minha
princesinha era mais forte que eu – está bem e feliz você quer chantagear e
quem sabe tentar tirar a menina da sua mãe verdadeira para fazê-la sofrer.
— Eu me meti numa encrenca e preciso de dinheiro. E a Lucélia tem
que me dar. Eu não quero ficar com a menina. Então se você quer tanto viver
bem com sua amada e aquela fedelha pague você o valor...
— Há outros meios de se conseguir dinheiro. Por que não arrumar um
trabalho – o Otávio com toda paciência do mundo tentava convencê-la para o
seu próprio bem. Eu já não tinha mais nenhuma e definitivamente estava
pensando em eu mesmo pagar sua dívida e exigi que desaparecesse da nossa
vida.
— Que trabalho me arrumaria tanto dinheiro em tão pouco tempo? E
eu também não estou disposta para trabalhar em qualquer emprego. Eu não
nasci para isso. – Pensou um pouco – Miguel é o seguinte se você quer que
eu deixe a sua amada e sua "filha" livres pague você o dinheiro. - Falou
retirando-se da sala como se não tivesse acabado de falar o maior absurdo
que já se ouviu.
— Otávio. – Passei a caminhar pelo meu escritório – eu vou dar o
dinheiro a ela.
— Você está louco?! Nem pense numa coisa dessas! Ela nunca te
deixaria em paz e isso é crime. E você pode se prejudicar. Não posso deixar
você fazer isso.
As palavras do meu amigo não estavam fazendo efeito e se para
preservar minhas garotas eu tenho que fazer isso eu farei. Continuei
encarnado o movimento da rua.
Minha irmã ter saído de casa com a Liv foi a decisão mais acertada
que a Lucélia já tomou, mas a saudade que sinto daquela bonequinha é
demais. Há dias que venho tentando fazer uma visita a elas ainda mais depois
que soube que ela está namorando. A Lucélia nunca namorou antes e preciso
me fazer presente para que ela saiba que estou do seu lado. O que me deixa
mais sossegado é que minha irmã é muito ajuizada e o Miguel aparenta ser
uma boa pessoa. Até minha sobrinha o chama de pai. O que me resta apenas é
respeitar as decisões dela e apoia-la no que precisar. Mas sem deixar de ficar
de olho nele. Não vou deixá-lo brincar com a Lucélia. Já a Joyce me
preocupa não só por ela como pelos meus pais. Eles já não têm idade para
estarem se aborrecendo e ela vem piorando muito no último mês.
— Gabriel, hoje é o dia da entrega da mercadoria do restaurante do
Miguel e eu acabei agendando o Rafael para o mesmo horário. Eu não sei
onde estava com a cabeça.
— Eu sei pai nos problemas que a Joyce vem arrumando. - Falei com
desgosto porque ela só vive aprontando - mas tudo bem eu vou. Aproveito e
faço uma visita a Lucélia.
— Claro que não. Nos vemos mais tarde - disse e beijou seus lábios.
— Vem a Liv vai adorar de ver. - falou animada me levando porta a
fora e mais uma vez cruzei com a loira de televisão. Acho que sempre serei
eu a fazer as entregas aqui.
Capítulo 37
Rever meu irmão estava me deixando ainda com mais saudades dos
meus pais, principalmente do Sr. José. Desde que me mudei não os visitei.
Sai do restaurante abraçada com aquela montanha rústica e vi a
Rayssa de olho comprido para ele. Será que ela não pode ver um par de
calças?! Abracei-o ainda mais e lhe sorrir como provocação àquela
interesseira. 'Esse aqui é outro homem que você pode desejar e que nunca vai
tê-lo, querida. Você não faz o tipo do meu irmão'. Pensei olhando para ela.
Cheguei a casa e meus anjinhos estavam brincando no jardim
enquanto a Ana estava cuidando de suas rosas que até aparecem que a
reconhece, pois sempre ficam mais vivas e bonitas quando a "vovó" cuida
delas.
— Titio Gabe! – A Liv correu gritando quando viu o Gabriel descer
do carro – Voxê velio me ver.
— Minha bonequinha linda! – Gabriel respondeu se abaixando e a
erguendo no ar.
É bonito de ver o carinho que os dois sempre tiveram mesmo o meu
irmão tendo um jeito de durão.
— Vem tio Gabe. Vem conlecer meu maninho. Sabia que eu tenho
um maninho agola? Igual a voxê e a mamãe. Ele está ali com a vó Ana. –
Falou num fôlego só. O Gabriel olhou para mim como pedindo explicação e
eu apenas sorrir assentindo.
— Boa tarde dona Ana – beijei seu rosto – esse é meu irmão Gabriel e
veio nos fazer uma visita.
— Muito prazer Gabriel. – Cumprimentou ela.
— O prazer é meu, senhora. Fico feliz que a Liv a tenha por perto.
Assim fico mais tranquilo. – Virou-se para o Lucca - Tudo bem, eu sou o
Gabriel, mas pode me chamar de tio Gabe também. – Falou estendendo a
mão para o Lucca como se já fosse um homem sério.
— Posso mesmo? – Vi o brilho da esperança nos seus olhos e isso
mexe comigo. Quão mal fez a falta de carinho de uma mãe a ele. Será que ele
não sente que pode ser amado?
— Claro que pode. Você não é o irmão da minha Liv? – o meu irmão
é o cara mais sensível que conheço de longe parece ser bruto, mas tem um
coração enorme no peito.
— Sou. – respondeu rápido.
— Então agora eu tenho dois sobrinhos – falou lhe estendendo o
braço para pegar o Lucca também.
— Viu como ele é legal? E forte! – Comemorou a Liv.
Os três ficaram brincando e eu aproveitei para chamar a dona Ana
numa conversa particular e entramos na casa.
Não posso dizer que não me preocupo com o que aconteceu hoje, mas
não posso assustar a Cely. Eu vou resolver e minhas garotas não serão
afetadas.
Entrei na garagem e nem olhei a casa em frente. Não sei para que ela
insiste em manter a casa alugada em frente a minha se à noite sempre
dormimos todos na nossa casa, porque não consigo ver nada mais sem ser
nosso.
Desci do carro com o coração acelerado ainda não me acostumei com
o seu sorriso quando me ver chegando. É um sorriso envolvente. Cativante. O
mais belo que já vi. Entro na sala e estranho a casa em silêncio.
Ter meu irmão a tarde comigo e minha filha foi muito bom. Sempre
nos demos bem embora sua aparência amedronte a primeira vista, mas seu
coração é enorme.
— Mamãe, polque a gente tem que ficar aqui? Meu papai vai ficar
tliste se não estiv... ve..ve.. Estar lá.
— Estivermos. – Corrigi-a. Ela está todo mocinha aprendendo falar
corretamente, apenas o "r" que não consegue deixar de falar "l" em seu lugar.
– Nós vamos ficar só nós duas. Vamos ter uma noite de meninas.
— Mamãe, eu não quelo uma noite de meninas. É muito mais legal
quando é noite de meninos e meninas.
Já vi que vai ser difícil de convencê-la, mas eu prometi a dona Teresa
e vou cumprir com minha palavra. Eu não quero atrapalhar convívio deles.
Eu sei como o Miguel é ligado a mãe, mesmo ela sendo fria algumas vezes.
Ele já me falou isso.
— Liv, minha bonequinha, a mãe do Miguel está com ele. Foi fazer
uma visita a eles. Acho que vão jantar juntos e eu prometi a ela que nós duas
iriamos ficar aqui e não atrapalhar.
— Tá celto mamãe. Eu sei que quando voxê... você plomete cumple.
Mas eu posso ficar tliste só um pouquinho? – Falou com aquela carinha de
manha. – É que adolo ver meu papai-plincipe chegar. Ele está semple
solindo.
Ouvi a coisa mais linda que a Cely já disse ao meu filho na minha
frente. Foi emocionante. Eu sei que os dois vivem de amores um pelo outro e
o sentimento que os une é muito forte, mas escutar de sua própria boca sem
receios e com o brilho da verdade em cada palavra é demais para meu
coração que já morria de amores por ela.
— Você é uma mulher muito especial, Lucélia. Perdoe-me por tudo
aquilo que falei sobre você. Agora eu vejo a grandiosidade dos seus
sentimentos. Você ama. Simplesmente ama e protege.
— Não vou negar que a senhora me fez sofrer um pouquinho, mas já
passou. Talvez até eu entenda seu receio, mas eu só quero o melhor para o
seu filho e seu neto assim como quero o melhor para minha filha. E se eles
me escolheram eu só posso ser extremamente grata a Deus por isso.
Essa é minha mulher sincera sem ser arrogante, doce, a amável,
espetacular.
— Eu amo você - disse a abraçando após nosso jantar.
— Eu sei, mas eu tenho mesmo que ir. Inclusive acho que o motorista
já deve estar aí na porta.
— Tchau vovó. - O Lucca se despediu com um beijo.
— Tchau menina esperta - falou passando a mão na cabeça da Liv -
tchau Lucélia e mais uma vez muito obrigada por tudo que fez por mim.
— Tchau dona Teresa e até próxima.
Vi minha mãe se afastar e entrar dentro do carro.
— Agora está na hora de crianças estarem na cama. - Pronunciei ao
entrar novamente na casa.
— E da gente ir embora. - A Cely se levantou do sofá.
— Então quero que vá para casa e arrumei suas coisas do jeito que
você desejar. Pedi que um funcionário do restaurante fosse lá e desmontasse
o que fosse necessário e a Ana vai te ajudar com a mudança. À noite, já vai
estar tudo em seus devidos lugares. Mas só vá a casa quando a Ana mandar.
Ok?
Que estranho esse pedido, mas depois de tudo que ele fez hoje vou
apenas aceitar suas condições.
— Tudo bem, senhor. Acho que hoje o senhor conquistou o direito de
ditar regras, mas só hoje – falei lhe beijando.
Cheguei a casa do Miguel e a cama de Liv já estava quase toda
montada e nossas coisas prontas para serem colocadas no lugar. O Miguel
separou um quarto de hospedes para ser o quarto da Liv e este já estava
pintado igual ao seu quarto da nossa antiga casa. Quando ele fez isso e não
percebi?
— Mamãe, o meu qualto tá igualzinho ao da outra casa.
— Estou vendo, meu amor. Está feliz?
— Muinto!
— Mamãe, o papai mandou te entregar. – O Lucca apareceu no quarto
com mais um bilhete.
"Eu quero que seja a última pessoa que vejo antes de dormir e a
primeira quando acordar"
Abracei meu filho e sorrir satisfeita.
— Eu tabém tenho pelaí – a Liv saiu correndo e depois me entregou –
lê mamãe.
"O seu amor está me fazendo voar. Posso voar contigo?"
Sua alegria era contagiante e me senti ainda mais feliz por ter feito
esta surpresa mesmo quase tendo uma síncope.
Ela virou o verso de todos e em cada um deles tira uma letra que fazia
o pedido.
— Aí, eu não percebi! Eu vi o "C" escrito no primeiro, mas confesso
que fiquei tão surpresa e emocionada com o que estava escrito na frente que
não reparei nos outros. Desculpa.
— Ainda bem que não vi. Foi bom você ser desatenta quanto a isso.
Adorei ver sua carinha de surpresa.
— Fico muito feliz por você, maninha. Nossa que novidade boa. Você
está segura? É isso mesmo o que você quer?
— Sim. Sem dúvidas nenhuma é com o Miguel que eu quero passar
todos os dias da nossa vida até ficarmos bem velhinhos.
— Mas olha isso. Para quem não queria saber de amor você está me
saindo muito romântica. – Brincou.
— Eu não queria saber de amor até conhecer o Miguel. Ele me fez
descobrir que é muito bom ter alguém para amar e ser amado.
— Você é o meu orgulho. Nossos pais já sabem?
— Ainda não. Pensamos em fazer uma visita no próximo final de
semana e contarmos. O Miguel quer fazer o pedido ao papai.
— Ele ficará feliz com isso.
— Eu sei. Então se você puder não contar para ele.
— Nem precisava me pedir. Agora deixa eu desligar porque ele está
chegando e sua alegria é tão evidente que não sei se vai consegui esconder
isso dele.
— Tá bom. Bom trabalho. Beijo.
— Você também até o final de semana.
Continuei com meu trabalho e hoje não está sendo tão calmo como
ontem, mas sem deixar de esquecer sobre o resultado do exame de dona
Teresa que minhas suspeitas não estejam certas.
Trabalhar na ala infantil você se depara com infinidades de doenças e
procedimentos desde uma virose até um pós-operatório de uma cirurgia
complicada e dessa vez fui chamada para participar de uma cirurgia
complicada e nem tive chance de ir lá falar com a Keila, assistente do
laboratório aqui hospital.
Já no final do meu turno fui até ela.
— Boa tarde, Keylinha. Você já tem o resultado do exame?
— Boa Tarde, Lu. – Pensou um pouco – sim e não.
— Como assim?
— A Doutora Laura pediu uma segunda prova. – Eu sabia. Pensei
triste.
— O que foi Lu? Você parece triste.
— Keila, você sabe que sou doadora? Não sabe?
— Sim. Nós temos todos os seus exames aqui. – Respondeu confusa.
— Ótimo. Então, por favor, vê a compatibilidade deles com a dona
Teresa. Ela é minha sogra e o que eu puder fazer para ajudar eu farei.
— Eu não sabia, Lu – falou complacente – não quero te desanimar,
mas a doutora pediu com máxima urgência e esse é procedimento padrão...
— Eu sei. – Falei sentindo minhas lágrimas surgirem – eu senti que
havia algo errado com ela desde a primeira vez que a vi. Ela estava muito
amarela. Ela tem problemas no fígado e quero estar a par de tudo a respeito
disso.
— Pode deixar. Você será a primeira a saber.
— Obrigada
Cheguei a casa com uma dor de cabeça muito forte. A alegria que
estava sentindo se esvaio e agora meu peito doía. Doenças no fígado são
muito ruins e muito difícil encontrar doadores que aceitem retirar parte do
fígado para doa-lo. Ainda há pouca informação sobre isso. Fora que o
paciente pode rejeitar o excerto e comprometer ainda mais sua saúde. Isso se
o que ela tiver já estiver num caso muito mais grave. Deus permita que não
seja isso e eu esteja apenas me precipitando.
Cheguei a minha nova casa. Nova casa. Essa sensação de dividir a
vida com o Miguel é muito boa. Não posso deixar de sentir isso.
— Mamãe! – Meus filhos gritaram quando me viram e correram até
mim.
— Oi, amores da minha vida. – Falei me empolgando e abaixei para
abraça-los. Eles não precisam saber disso agora.
— E papai também é. – o Lucca afirmou.
— Sim e o papai também. - Levantei-me – o que vocês estão
aprontando?
— Estamos assistindo. – Liv respondeu.
— Então voltem lá que a mamãe vai falar com a Ana. – E eles correm
para sala de tevê – não precisa correr! – Avisei.
— O que aconteceu menina? – A Ana perguntou assim que me viu.
— Estou com dor de cabeça...
— Espera que eu vou pegar um comprimido para você. – Saiu a
procura. E é muito bom sentir alguém preocupada e cuidando de você.
— Obrigada, Ana. – Falei tomando o comprimido. Eu sei que não era
para me sentir assim. Afinal, eu encontrava muitas doenças no hospital, mas
saber que alguém tão próximo está doente é devastador.
— Agora, vá descansar que eu cuido dos meninos. Tome um banho e
durma um pouco.
— Vou tentar, mas as notícias que virão daqui por diante não serão
muito boas. – Vi ela se assustar – o que eu suspeitei pode está se
confirmando.
— Aí, meu Deus! - A Ana estava preocupada também.
— Independente do resultado desses exames vamos precisar ser muito
fortes. A dona Teresa requer muitos cuidados e atenção. Isso se a doença dela
já não estiver muito avançada. - Beijei sua cabeça e segui para o quarto.
Capítulo 42
— Está muito escuro para o senhor está lendo só com uma lanterna. –
Repreendi – isso prejudica a sua visão. – Falei ligando o abajur do lado.
— É que assim fica mais emocionante, mamãe.
— Nada de ficar no escuro para ler. Entendeu? – Ele estava muito
empolgado porque descobriu que já pode ler suas histórias sozinho. Todo
homenzinho.
— Está certo. – Falou concordando.
— Agora, está na hora de dormir. Amanhã tem aula e precisa estar
bem disposto para aprender coisas novas.
— Ainda bem que amanhã é sexta e vou poder ler até tarde. – Falou
enquanto o cobria.
— Boa noite, filho – beijei sua testa.
— Boa noite, mamãe.
Levantei-me e o Miguel estava me olhando com olhos de carinho e eu
não pude deixar de sorrir em me sentir tão amada.
— Você não cansa de me deixar ainda mais apaixonado por você? –
Envolveu minha cintura.
— Não sabia que você estava aí. – Falei em seus braços.
— Por isso que é ainda mais linda. Você é verdadeira. Seu amor é
verdadeiro, eu já sabia disso, o Lucca não poderia ter mãe melhor.
— Agora, estou melhor meu amor. Foi só uma dor de cabeça, mas já
passou.
— Eu quelia cuida de voxê, mas o papai plincipe dixe que plecisa
descansau.
— Tudo bem, princesa. Agora para de me enrolar e deita já na cama.
—- Boa noite, mamãe – beijei sua testa – boa noite papai plincipe.
— Boa noite, respondemos juntos.
— Agora a senhora precisa jantar. Já está com o estômago vazio há
muito tempo.
— Sim, senhor, mas pensei que era eu quem cuidava das pessoas.
Ver a tristeza do meu filho me doeu, mas o que puder fazer para
ajudar essa família farei.
— Fica tiste não maninho. Esqueceu que a mamãe é um anjo que
cuida dos dodóis? – a Liv falou fazendo um bico e arrastando a fala e o Lucca
sorriu. Essa menininha é mesmo especial.
— Vai sim filho – o Miguel falou pegando o Lucca nos braços – não
será legal filho?
— Vai ser mara!– falou esticando o braço para o alto.
— Agora, até isso não posso mais opinar – reclamou baixinho mais eu
escutei.
— Nós só queremos seu bem, dona Teresa. E a senhora sabe que
precisa de cuidados especiais. – Falei me aproximando.
— Eu sei. Não é nada contra você, mas é que é muito difícil para mim
e ainda mais ser um peso morto para vocês.
— Nunca mais fale assim, dona Teresa – segurei suas mãos com o
máximo de carinho possível – a senhora não é isso que falou. Nem quero
repetir. – Olhei mais afastado o Miguel já estava com os dois filhos nos
braços provocando muita risada nos meninos - Se o Miguel lhe ouve...
— Tudo bem. Não leve em consideração tudo que essa velha falar.
Está sendo difícil para ela eu sei, mas terei que ter muita paciência.
Depois de tudo organizado e dona Teresa e Isa instaladas
adequadamente, ainda bem que a casa do Miguel é grande e coube todos
perfeitamente. Coloquei os meninos para dormir e procurando o Miguel.
— Você mal comeu no jantar – comentei com o Miguel na área da
piscina onde estava muito pensativo.
Eu tenho aprendido muito nessa vida. E uma das coisas que aprendi
recentemente é que nem tudo sai do jeito que a gente planeja. Não podido ter
mais filhos, perder meu velho, ver meu único filho sofrendo por um
abandono, ver meu neto sofrer pela falta da mãe, entre outras coisas. Eu só
consegui enxergar isso há pouco. Eu tenho o desejo de controlar tudo e nem
tudo está no meu controle, aliás, nada está no meu controle. Eu tinha achado
que me entregar a doença seria mais fácil para mim, então vem a Lucélia com
toda sua compreensão e paciência e ser falar naquela espertinha da Liv,
aquela menina tem um carisma que encanta a todos, e me mostra o quanto
sou importante para minha família. Ao passar do tempo deixei de perceber
quanto sou amada. A gente tende a fazer isso. Não valorizando a quem está
bem próximo de nós e o que significamos para eles.
Agora que finalmente tomei consciência de tudo que estou passando
mais do que nunca quero viver. Vou fazer valer a pena todos os esforços que
todos estão tendo comigo: meu filho, a Lucélia, Ana, meus netinhos; sim a
Liv também é minha neta. Até os mais distantes ou os que não conhecia se
preocupam comigo como o Davi que sempre está ajudando o Miguel e
preocupado com a minha saúde. A Dany e Otávio. Enfim, todos.
Eu sei que a Lucélia é compatível comigo e sei também que ela não
está medindo força para me tratar, não porque ela não queira fazer a doação,
mas porque acredita que Deus tem um propósito na minha vida e sou uma
felizarda por estar tendo essa chance rara. Segundo ela, pouquíssimos
pacientes têm a mesma sorte que eu. E também tem outra coisa que só eu sei
por enquanto. A Lucélia está grávida. Eu sei. Ela está com todos os sintomas
iniciais, mas ainda não se deu conta. E estou muito feliz por isso. Sei que
meu filho vai amar a novidade. Eu sempre quis ter uma casa cheia de filhos
queria ter sete. É loucura nos dias de hoje, mas na minha época não era. Isso
me renovou. E não posso ficar esperando que a Lucélia me faça uma doação
até porque agora não será mais possível. E eu quero conhecer mais esse novo
neto ou neta. Eu sou muito nova para morrer e quero conhecer e participar da
vida de todos os meus netos.
Hoje foi um dia de muitas emoções ainda bem que meu problema não
é no coração descobri que serei avó novamente e não poder falar nada e ainda
ter aquele momento com a Liv foi muita emoção. Sempre quis ter uma
menininha para mimar, pentear igual a gente faz quando brinca de boneca.
Resolvo me ajoelhar e agradecer a Deus pela oportunidade e selar um
acordo com ele de me deixar viva e acompanhar todas as etapas de meus
netos.
Ouço alguém bater na porta.
— Sou eu Ana
— Pode entrar – falei me levantando.
— Desculpe interromper suas orações.
— Já havia terminado. Me conte o que você deseja.
— Nada. Apenas vim ver se você precisa de alguma coisa antes de
dormir.
— Você sempre foi minha amiga – peguei sua mão – obrigada por
tudo.
— Por nada – respondeu receosa – está acontecendo alguma coisa e
eu não estou sabendo. Você está muito mudada. Você não é assim!
— Nossa! É estranho perceber como eu era com as pessoas. Sim, me
sinto diferente. Renovada é a palavra. Hoje minha vida ganhou outro sentido.
— Que bom! Fico feliz com sua mudança, mas você não está
aprontando nada para a Lú não. Não é? Porque se você estiver...
— Calma, calma. É lógico que não vou aprontar nada. O tempo de
espantar as mulheres que se aproximavam do meu filho já passou. Com essa
não tenho necessidade de expulsar e nem quero. Meu filho e meu neto são
outros. Estão felizes e vão ficar ainda mais.
— Por que diz isso?
— Porque eles amam a Lucélia e ela ama eles. E vamos ter um jantar
de noivado depois de amanhã e vamos organizar juntas.
— O Miguel já marcou? - Ela perguntou se animando. Ela é outra
mulher que tive que aceitar a compartilhar meu filho. Eles dois sempre
tiveram uma ligação muito forte.
— Sim. Toda a família dela virá menos a mãe biológica da Liv por
razões óbvias. O Miguel fez questão de deixar isso claro, como uma condição
para que esse jantar acontecesse. Não quero a minha nora se preocupando à
toa já basta a emoção que terá no noivado surpresa.
Dormir tão bem como há tempos não dormia. Levantei-me, fiz minha
higiene matinal e ao sair do quarto encontrei com a Lucélia cheia de sua
parafernália de enfermeira.
— Bom dia, sogra. Preciso colher seu sangue para vermos como a
senhora está respondendo ao tratamento.
— Pensei que teria que no ir ao hospital.
— Não precisa. Como sei todos os procedimentos posso fazer eu
mesma aqui em casa.
— Que pena! Pensei que poderia sair um pouco de casa hoje. - falei
pensando em como tira-la de casa e comprarmos um belo vestido e nós
arrumarmos.
— Ah, se a senhora quiser pode sim. Acho até que lhe fará bem
caminhar um pouco, visitar algumas amigas...
— Compras. Quero fazer compras. Você bem que poderia vir comigo.
— Hoje? Hoje tenho meu dia todo preenchido. Tenho que ir à escola
dos meninos à tarde. E eu faço questão de ir à reunião de pais.
— Então vamos deixar para amanhã à tarde quando você largar. Pode
ser?
— Sua ... – levantou a mão para me bater, mas impedi-a no ar. Com o
gesto uma lufada veio em minha direção carregada com o cheiro forte de
perfume e aquilo despertou uma ebulição dentro de mim. Logo senti vontade
de vomitar. Que enjoo! Isso lá é hora de sentir isso.
— É melhor você não ousar a me tocar – falei tentando domar a
vontade de colocar todo o meu almoço para fora. Ele estava tão gostoso!
Baixei seu braço porque realmente seu cheiro era insuportável.
Minhas narinas estavam ardendo e evolução estava muito forte. Sentia os
jatos se formando. Que eu não vomite aqui. Meu Deus! Sentia cada poro meu
se arrepiar.
— O que está acontecendo aqui – alguém me assustou ao nosso lado
me despertando da concentração que fazia para não vomitar. O que
inevitavelmente aconteceu sem que eu dominasse e a Andreia ainda tentou se
livrar mais seus pés ficaram cobertos de vômito.
E ao ver aquilo na minha frente e sentindo o cheiro forte daquela
comida que amei tanto comer no almoço. Me embrulhou ainda mais o
estômago. E vomitei mais uma vez, mas dessa vez consegui virar para o lado
sem ter que melar ninguém.
— Desculpe-me – falei constrangida para a Andreia – não deu para
me controlar.
— Ah! Que ódio! Eu odeio você com todas as minhas forças! – Saiu
me xingando horrores.
E eu não sabia o que fazer continuei de cabeça baixa tentando
encontrar uma explicação para tudo que acabou de acontecer.
— Lucélia – agora reconhecia a voz da diretora da escola. Tinha sido
ela que falou anteriormente, mas não reconheci na hora – Lucélia, você está
bem?
— Ainda não sei – respondi sincera encarando-a – Meu Deus, que
vergonha! – Olhei e algumas mães me olhavam e o porteiro estava falando ao
celular me encarando como se me investigasse.
— Venha – ela pegou meu braço – venha até minha sala. Você está
muito pálida.
Minhas pernas tremiam. Senti-as fracas.
— Isso nunca me aconteceu. – Buscava respostas em minha mente.
— Isso pode ter sido estresse pela discussão. Você pode ter ficado
muito nervosa.
— Pode ser.
Entrei na sua sala e ela me direcionou a um banheiro e realmente
parecia que não havia sangue em meu rosto. Joguei água no rosto, enxuguei e
tentei investigar se ainda sentia vontade de vomitar. Depois de ter certeza de
que estava bem, sai do banheiro e dei de cara com um Miguel todo
preocupado.
— Meu amor, você está bem? – Veio até mim.
— Estou bem. Mas como soube?
— O porteiro me ligou avisando. Vamos eu vou te levar ao hospital.
Muito obrigada por ajudado minha esposa – falou se direcionando a diretora.
— Muito obrigada – falei para ela também e eu só queria sair dali o
mais rápido possível.
Saímos e fomos direto para casa. Estava me sentindo bem e só queria
tomar um banho. E assim fizemos depois que convenci o Miguel de que
estava bem e que eu reconheceria se não estivesse bem.
Chegamos e todas as mulheres estavam reunidas na cozinha e tiveram
um susto quando me viram.
— Lu, você já chegou? – A Ana saiu na frente delas e se
posicionando bem na minha frente enquanto a dona Teresa e a Isa juntavam
uns papéis na bancada.
— Sim – desviei da Ana e olhei para as outras duas – o que vocês
estão aprontando? – Perguntei curiosa. Elas estavam me escondendo alguma
coisa?
— Amor, você não disse que tinha que tomar um banho para tirar o
cheiro de azedo do corpo? – O Miguel pegou nos meus ombros e já me
girando para sair da cozinha.
— Cheiro de azedo? – Dona Teresa veio até mim. – Você está pálida!
Andou vomitando?
— Foi, mamãe – o Miguel iniciou uma revolução e logo tinha uma
cadeira sob minhas pernas e fui forçada a me sentar. – Vomitou a Andreia
toda.
— Que exagero! –Defendi-me.
— A Andreia? – A Ana se admirou – não sei o que ela fez, mas bem
que mereceu. Aquela mulher dá indigestão mesmo.
— Mas o que aconteceu? Você é tão forte e saudável? – A Isa
perguntou.
— Não importune a Lucélia, Isa. Vá tomar um banho, filha. Descanse
e desça só na hora do jantar. Aproveite coloque as pernas um pouco para
cima.
— Você tem certeza que não está sentindo nada? – Perguntei mais
uma vez. Estava muito preocupado. Ela ainda continuava pálida.
— Tenho. Eu só vou tomar um banho e descer para ver meus
meninos. – Eu tenho que impedi-la de descer. Aquelas mulheres estavam na
força tarefa para o jantar de noivado e não posso deixar a Cely descobrir
nada.
— Não. Acho que foi o nervoso que passei com a Andreia e o cheiro
daquele perfume horrível.
— Tem certeza? – Certifiquei-me pela última vez.
— Tenho – determinou desfivelando meu cinto – provocou agora vai
até o final. Estou morrendo de vontade de ter você, Miguel.
E ela não precisou falar mais nada.
Entramos debaixo do chuveiro sob carícias e muitos beijos. Logo
nosso banho foi esquentando e nos amamos ali mesmo. Depois já estávamos
recomeçando tudo novamente na nossa cama. E eu não tive culpa se minha
mulher é muito gostosa e ainda mais com aqueles cabelos molhados e
vestindo aquela calcinha indecente, tive que acabar com o desejo que sentia
dela.
Senti-a relaxando em meu peito depois da nossa transa e a cada vez
estamos ainda melhores. É muito bom ensinar coisas novas a Cely.
Aprimorar as que já sabemos tão bem. Não sei escolher qual é o melhor
momento. A minha mulher tem muita sede em aprender tudo e como um bom
professor não nego nada a ela.
Tudo com ela era bom, até o silêncio que reinava no quarto. Dava
para escutar nitidamente as batidas do seu coração.
Escutamos até o roncar forte de seu estômago e sorrimos.
— Acho que todo esse exercício me deu fome. – Ela falou se
divertindo.
— A mim também. Vamos nos vesti e descer. Acho que já podemos.
– Beijei-a.
— Se continuar assim acho que só poderemos ir mais tarde. –
Insinuou.
— Meu Deus, eu criei um monstro!
— Uma ninfeta – falou saindo de cima do meu corpo.
— Uma ninfeta muito provocadora. Mulher não sai assim de cima de
mim senão você volta todinha para essa cama e não será o seu estômago a ser
alimentado.
Chegamos a sala e nos juntamos a todos que já estavam comendo.
— A Senhola demolou – a Liv foi a primeira a falar. – voxe foi lá na
nossa escola?
— Fui sim, meu anjinho. – Beijou a cabeça da Liv – você não precisa
se preocupar. Está tudo resolvido para aquela festa. – Piscou para ela.
— Eu não disse Liv. A mamãe iria resolver tudo.
— Resolvi tudinho mesmo, meu outro anjinho. – Beijou também a
sua cabeça – é só esperar chegar o dia.
— E sobre o que vocês três estão falando? - Perguntei. Só para ver
meus filhos se olharem preocupados.
— Não pode falar não – a Liv colocou a mão na boca.
— É pai é um segredo que vai ter na nossa escola no próximo mês,
mas você não pode saber.
— Ah! – Fiz cara de que não tinha entendido e deixá-los nesse clima
de que não sei o que acontece no mês de agosto nas escolas. – Tudo bem. Se
é da escola eu posso esperar até o próximo mês afinal de contas eu sou o pai
de vocês.
— É – a Liv confirmou. E acho que ela é a que mais está
entusiasmada com a festa. Céus, agora que caiu a ficha: ela nunca fez alguma
parecido antes.
— Eu amo vocês, meus filhos – falei com muita convicção e amor no
coração.
Comecei a comer e a Cely estava absorta em seu prato e comia com
muita vontade. Tadinha deixei-a com muita fome mesmo. Sorri observando-a
comer.
— Lucélia, estava pensando – mamãe falou – qual é o seu prato
favorito? Eu não sei qual é.
— Ah, eu gosto de muita coisa. Uma comida boa é uma comida feita
com amor. Até agora nunca comi algo que não tenha gostado.
— Mas você não tem nenhuma específica? – a Ana também tentou.
— Eu sei da sobremesa que ela mais gosta no mundo inteiro – o
Lucca falou feliz por saber algo da mãe. E ela sorriu para ele – ela gosta de
gelatina colorida. Foi o que a gente comeu naquele dia no restaurante do
papai.
— Você lembra, Lucca? – Ela perguntou feliz.
— Nunca vou esquecer aquele dia, mamãe.
— Eu também não, meu lindinho.
— Você ainda não nos respondeu, Lucélia – mamãe lembrou.
— Ah, uma comida que nunca enjoo de comer é camarão. Adoro tudo
que tenha camarão.
— Então amanhã eu vou preparar um jantar especial para você, Lu –
olhei para a Ana que falava feliz – com muito camarão. – Fiquei nervoso. Por
que a Ana falou do jantar ela vai desconfiar.
— Nossa! Então o jantar vai ser mesmo especial. – Falou
simplesmente. Acho que ela não está desconfiando de nada.
— Eita, Ana, amanhã? – Mamãe reclamou. Isso só pode ser jogada
delas.
— Sim, por que não poder ser amanhã? – A Ana rebateu.
— Amanhã tinha combinado de sair com a minha nora. Quero dar um
passeio, comprar roupas novas. As minhas estão folgadas demais e também já
as tenho há muito tempo.
— Que bom, mãe. Fico feliz com seu desejo de mudar seu guarda-
roupas – falei sincero, pois há muito tempo que ela não pensava em vaidades,
aliás, desde que papai morreu que ela não liga para a aparência.
— Obrigada, filho. Também quero mudar um pouco o corte do meu
cabelo. – Falou agora sem jeito.
— Nossa, quantas mudanças. Fico feliz que a senhora queira fazer
isso comigo – a Cely falou.
— Não pense que estou fazendo isso por você, Lucélia – sorriu -
estou me aproveitando de você. És sempre elegante pode me dá umas dicas.
— Com muito gosto, sogra. – Ela concordou. E eu fiquei sem saber
até onde isso faz parte do plano de tirar a Cely de casa ou é o desejo mesmo
de mamãe. Ela é boa mesmo em montar surpresas.
Olhei para a troca de olhares na mesa e depois um sorrisinho de
vitória das três confabulosas e a Cely ainda entretida em seu prato não
percebeu nada. Onde fui me meter? Essas três são piores do que imaginei.
Aposto que já estão com tudo pronto.
Terminamos o jantar a Cely foi colocar os meninos para dormir, pois
inventei que tinha algo do trabalho para finalizar, afinal de contas tinha saído
correndo do restaurante sem terminar meu serviço. Era uma mentira
deslavada, mas a Cely não precisa saber disso.
Fui até o campo de concentração, digo, a cozinha, e elas terminavam
de confabular.
— Então, como será amanhã? – Perguntei, pois preciso saber de todos
os detalhes para não dar nenhum furo.
— Tudo ok – a Isa correu para olhar na escada – nenhum sinal da
mariposa encantada.
— Mariposa encantada? Gargalhei muito.
— Quieto! - Mamãe exigiu – assim ela vai nos descobri. E não
podíamos dizer o nome dela. Ela é muito esperta.
— Verdade, mas dessa vez ela viajou legal nas derrapadas que vocês
disseram.
— Somo uma equipe que não se admite erros. – Ana comemorou.
— E você fez sua parte?
— Sim e não. A família já sabe do jantar e irá comparecer, menos a
irmã. Deixei isso bem claro.
— Ah, quer dizer que vocês conversam pelas minhas costas? Mal
conheceu a Ana e já vai me trocar. Ela vai se tornar sua melhor amiga e
nunca mais vamos trocar confidências e... – Lá estava eu me emocionando de
novo.
— Ei, ei sua boba! Depois sou eu a dramática. Você está até
chorando. – Sorri.
— Eu não sei o que está acontecendo comigo, Dany. A mínima
emoção e logo estou lacrimejando.
Entrei novamente e provei todos que estavam comigo. Já que o dia era
diferente vamos aproveitar.
Não sei precisar o tempo que passei por ali, mas estava aproveitando
cada segundo. Estava provando o último vestido. Um que dona Teresa me
deu por último. Um vestido varsala midi com mangas longas de renda que se
encontravam no pescoço apenas e deixava um decotão nos seios.
Simplesmente maravilhoso. Vestiu super bem em mim. Era como se me
fizesse carinho pelo corpo. Tinha um toque suave na minha pele além de me
deixar muito poderosa.
Tirei várias fotos e resisti a vontade de enviar para o Miguel.
Observei-me mais um pouco e olhei meus seios que praticamente dobraram
de volume neste vestido. Tentei ajeita-los no decote e senti-os mais sensíveis,
aliás, há dias que venho sentindo-os assim. Desde os indícios de minha
menstruação se aproximando...
Não sei como expressar o milésimo de segundo que minha mente
viaja e busca pela última vez que menstruei.
— O que...
— Mas tarde.
E lá vai minha mente pervertida imaginar que tipo de surpresa ela me
fará. Aposto que vou gostar muito.
Bebo minha taça de vinho e ela sorri.
Minha noiva era a mulher mais bonita que meus olhos já viram, isso
não cansava de repetir para mim mesmo. Contudo hoje estava espetacular.
Esplêndida. Eu sabia que iria gostar de ter seus pais e irmãos numa
comemoração como essa, mas tem algo diferente, um brilho em seu olhar que
não sei decifrar. É quase palpável sua felicidade.
Na hora das despedidas vi seus olhos marejando, principalmente, ao
falar com o pai. Já percebei que sua mãe é um pouco áspera com ela, talvez
distante, por mais que Cely a trate muito cordialmente.
Meu sogro e minha mãe se empenharam muito em me arrancar uma
data para o casamento. E como eu também não quero demorar muito para tê-
la como minha esposa, oficialmente, dei um prazo de sessenta dias no
máximo e agradeci a todos.
— Vamos meu amor- chamou-me quando só havia nós dois – todos já
se recolheram.
— Vamos, minha noiva. A mais bela de todas as mulheres.
— Hum! Está todo galante.
— Sempre fui! Mas você me faz querer ser melhor a cada dia.
— Vamos meu noivo.
Conduzi-a para dentro da casa até chegarmos à sala e ela pegar o
pacote que trazia quando chegou para a surpresa. E só agora percebi que era
um presente.
— O que foi, Lucca? Já percebeu que ninguém quer ficar com você?
— Não enche.
— Escutei a Liv dizendo para as meninas que a mãe dela está grávida.
Não te disse que você ficaria sozinho. Agora ninguém mais vai te dar
atenção. Até seu pai só vai amar o seu irmão. Tomara que seja um menino
assim ele fica no seu lugar.
O Vitor é muito mal. Levantei e empurrei ele. O sinal tocou na mesma
hora e voltei para sala. Mas as coisas que ele falou não saiam da minha
cabeça.
Quando o sinal tocou novamente já era a hora de ir embora. Peguei
minha mochila e a Liv já estava na porta da minha sala.
— Vamo maninho. Tô com fome!
— Quando você não está, Liv? – Todo dia ela dizia isso.
— O que foi? Brigou com o Vitor de novo?
— Não. Será que a mamãe vai nos esquecer só porque agora tem o
bebê?
— Nada a vele. A mamãe ama a gente. Ela fala isso dileto.
Saímos da escola e o papai estava lá nos esperando. E me lembrei das
palavras do Vitor.
— Mini-mim, como foi o seu dia na escola hoje? – Ele bagunçou
meus cabelos.
— E você minha princesa? Como foi seu dia?
— Foi bom! Vamos, papai, tô com fome!
— Sim senhora. E você meu filho com fome também?
— Não.
— O que aconteceu, Lucca? Você está calado demais.
— É que o Vitor disse a ele que a mamãe não vai mais gostal dele
polque agora tem o bebê. É pol isso.
— Isso não interessa. Vou para onde eu posso ter uma vida melhor
que essa miserável que tenho aqui.
— Joyce! – Falei severa com ela – não fale assim! Você sempre teve
tudo de acordo com as nossas condições.
— Você e sua mania de pobreza. Você não entende nada. Vai cuidar
filhos que você insiste em dizer que são seus. Em falar nisso como vai a
Lívia?
— Já chega, Joyce! – Mamãe interferiu – não entre no jogo dela
Lucélia.
— Tchau para vocês até nunca mais! – Saiu e só escutamos a porta da
frente bater.
— Desculpa filha. Não queria que vocês se encontrassem. Ela me
garantiu que não voltaria enquanto você estivesse aqui.
— Tudo bem, mamãe. A senhora não teve culpa.
Capítulo 57
Olho para o relógio a cada cinco minutos. Parece que o dia hoje não
passa. Combinei de encontrar a Cely no hospital para a consulta. Quero ter
certeza que está tudo bem com o bebê porque já programei uma viagem de
lua de mel perfeita para ela para o lugar que mais sonha conhecer: Gramados.
Farei uma surpresa. Ela só saberá no momento da viagem.
Resolvi e adiantei várias coisas aqui no restaurante outras deixei
encaminhadas para que a Rayssa desse continuidade e quanto a cozinha o
Davi sempre dava conta de tudo essa é a parte dele e o que ele ama fazer.
Hoje é oficialmente meu último dia de trabalho antes do casamento.
Olhei mais uma vez para o relógio e finalmente havia chegado a hora
da consulta. Sai do restaurante e segui direto para o hospital. A Cely foi fazer
a última prova do vestido na casa de sua mãe. Nas outras vezes fui com ela,
sob várias recomendações de que de jeito nenhum poderia ver o vestido,
dessa vez não fui porque não haveria mais ninguém na casa para me fazer
companhia e me impedir de espiar o vestido. Ora o que custa ver o quanto ela
com certeza ficará linda no vestido de noiva, mas tradição é tradição.
Cheguei antes da Cely e esperei por mais dez minutos, uma
eternidade, já estava ligando para ela quando a mesma se materializou na
minha frente.
— Sabia que era você me ligando. – Falou sorrindo e eu desliguei a
chamada.
— E por isso me deixa ainda mais ansioso? Poderia ter me atendido.
— E perder essa sua carinha? Nunca, meu amor.
Ela me deu um selinho.
— Como foi lá na casa de sua mãe?
— Foi bom. O meu vestido é simplesmente deslumbrante! – Seus
olhos brilharam e agora sim estou mais curioso em conhecer esse vestido –
mamãe está diferente. Tratou-me tão bem até me defendeu.
— Como assim te defendeu? O que aconteceu? – Fiquei realmente
preocupado se aconteceu alguma coisa. - Eu sabia que deveria ter ido com
você...
Após a nossa chegada tudo foi festa para nossa família. Descobrimos
que nos preocupamos à toa, pois os meninos estavam muito bem e sendo
muito paparicados pelas avós e tios. Ficar sem a nossa presença foi uma farra
só. Porém, nada se comparou com aquele abraçado apertado da nossa
chegada de surpresa no meio da noite.
O Otta e a Dany foram nos buscar, eram os únicos que sabiam, e
surpreendemos as minhas mães que assistiam à novela enquanto nossos filhos
desenham/escreviam cartas para quando chegássemos "no dia seguinte". Foi
uma surpresa dupla com muita festa e barulho que fez o Gabriel vir correndo
saber o que estava acontecendo na casa. Ele havia ficado na casa onde a Cely
morou aqui na frente e como estava atento estranhou a algazarra e também
foi surpreendido. E de repente tínhamos comida e bebidas, música. Viajar é
muito bom, mas voltar para casa é melhor ainda. Nosso lar sempre tem um
gostinho especial. Naquela noite também tomei uma decisão muito
importante e comuniquei a minha adorável esposa:
— Vamos mandar fazer uma cama king dupla amanhã mesmo!
— De onde saiu essa ideia? – Ela perguntou achando graça do meu
rompante.
—Você ainda pergunta? Olhe para nossa cama! – Apontei para nossos
filhos dormindo entre nós e como bobos admirávamos velando seus sonos. –
Imagina daqui a alguns meses como não ficará.
— Meu maridinho tem as melhores ideias. Eu te amo marido! –
Soltou um beijo pelo ar.
— Você não me provoca! – Alertei. – Não é possível que já tenha
esquecido que não sou maridinho. Ainda mais agora que nossa cama está
recheada. – Sorri para meus filhos inocentes dormindo o melhor dos sonos.
— Essa será a melhor parte do nosso casamento: a que terei o prazer
de me esquecer sempre.
— E eu terei o prazer de lembra-la sempre. Amo-te esposa!
— Prontíssima!