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Copyright © 2020 FLÍNCIA BARBOZA

Capa: Divas Assessoria Literária


Diagramação: Divas Assessoria Literária
Revisão: Flíncia Barboza

Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens, lugares e


acontecimentos descritos são produtos da imaginação da autora. Qualquer
semelhança com nomes, datas e acontecimentos reais é mera coincidência.
Esta obra segue as regras da Nova Ortografia da Língua Portuguesa.

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É proibido o armazenamento e/ou a reprodução de qualquer parte
dessa obra, através de quaisquer meios (tangível ou intangível) sem o
consentimento escrito da autora. A violação dos direitos autorais é crime
estabelecido na lei nº. 9.610/98 e punido pelo artigo 184 do Código Penal.
2018.
Sumário
Prólogo
Capítulo 01
Capítulo 02
Capítulo 03
Capítulo 04
Capítulo 05
Capítulo 06
Capítulo 07
Capítulo 08
Capítulo 09
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35
Capítulo 36
Capítulo 37
Capítulo 38
Capítulo 39
Capítulo 40
Capítulo 41
Capítulo 42
Capítulo 43
Capítulo 44
Capítulo 45
Capítulo 46
Capítulo 47
Capítulo 48
Capítulo 49
Capítulo 50
Capítulo 51
Capítulo 52
Capítulo 53
Capítulo 54
Capítulo 55
Capítulo 56
Capítulo 57
Capítulo 58
Capítulo 59
Capítulo 60
Epílogo
AGRADECIMENTOS
Redes sociais:
Prólogo

— Papai, porque minha mãe demora muito para voltar?


Todas as vezes o Lucca, meu filho, me deixava sem palavras para a
mesma e cada vez mais frequente pergunta.
— O papai ainda não sabe filho. - Percebi a tristeza nos seus olhos e
aquilo me deixa arrasado, porém como vou dizer que sua mãe simplesmente
foi embora. Que o abandonou sem nem olhar para trás. Notei seus olhinhos
brilhando e uma lágrima escorregando do seu olho esquerdo. Aquilo era
como se várias facas me cortassem ao mesmo tempo.
— Filho... - disse passando a mão nos seus cabelos espetados - eu
prometo que nunca, nunca vou abandonar você. Vou estar sempre do seu
lado.
— Eu sei pai, mas eu queria minha mãe! Tudo mundo tem uma
mamãe, meus amiguinhos da escola, o senhor, a Vó Ana até o Ted tem
mamãe. Só eu que não tenho uma.
Aquilo partia meu coração queria poder tirar essa dor que sente todas
as vezes que vai dormir. Eu sabia que à medida que fosse crescendo ficaria
cada vez mais difícil acalma-lo. Mas isso está mexendo muito comigo.
Liguei o abajur de peixinhos que fica em cima da cômoda beijei-o
várias vezes na bochecha.
— Eu te amo filho! Amo-te do tamanho do universo.
—Também te amo papai.
Pude perceber a tristeza a sua vozinha e meus olhos queimaram. Sabia
de seus sentimentos já havíamos conversado muito sobre isso, mas
infelizmente não podia fazer nada a respeito nem ao menos sabia do
paradeiro de sua genitora. Se bem que se for para fazê-lo sofrer ainda mais é
melhor que fique bem longe do meu Lucca.
Já estava chegando à porta quando escutei sua vozinha.
— Papai, porque você não arruma uma mamãe que me ame para mim.
Aquilo foi o golpe fatal para mim. Meu filho de cinco anos me
pedindo uma mãe para amá-lo.

—Mamãe!!! - A Lívia correu até a porta quando me viu.


— Oi, meu anjinho!!! - Beijei sua bochecha olhando para ver se
minha mãe ou minha irmã não estavam por perto. - Meu bem, a titia já falou
sobre você me chamar assim aqui em casa.
— Eu sei titia, mas pa mim voxê é a minha mamãe. É você me dá
banho, me faz calinho, dormi comigo, faz minha comindinha de noite. É em
voxe que penso quando rezo pra papai do xeu - ela dizia contando nos
dedinhos tudo que fazia por ela. Baguncei sua franja castanha. - Oxe, pala a
senhora sabe que meu cabelo fica alepiado cuando faz isso! - Disse cruzando
os braços.
— Cadê a minha mãe?
— Saliu com a Joyce.

— Lívia, não fala assim de sua mãe. Ela iria reclamar com você se te
ouvisse chamar pelo seu nome e não por mãe como deve ser.
— Oxe, a senhora não sabe de nada. Ela não quer que eu chame ela de
mãe. Ela dixe que eu fui um elo na vida dela, que se arrependiento matasse
ela já talia mota.
Que horror!!! Minha irmã está cada vez pior como ela diz isso a sua
filha de três anos. Dessa vez ela foi longe demais. Ela hoje vai me ouvir. Ah
se vai!
— Mamãe - ela disse vindo atrás de mim e entrando no meu quarto -
posso ficá te chamano de mamãe né?

Olhei para ela com aquela cara do gato do filme Shrek e com as
mãozinhas entrelaçadas na frente do seu corpo. Ela já tem meu coração e
manda e desmanda nele.
— Tem como te dizer não?
Ela que já estava em pé sobre minha cama se joga para mim que se
não fosse rápida cairia no chão.
— Tô com fominha mamãe!
— Vem, vamos para cozinha ver o que podemos fazer.
— Eba! - Gritou no meu colo - Até agola eu não tinha comido nada.
Obigada mamãe. - Disse me beijando no rosto.

— Como assim são quase dezoito horas! Você não pediu lanche
depois do almoço?
— Pedi, pedi sim. Eu julo, mas a mam... a Joyce disse que tava sem
tempo poque tava no celulá e a vovó tava de malumor e não falô comigo
hoje.

Era triste, mas a realidade o que essa pequena precisava era de alguém
para cuidar e amá-la como filha. E amor por ela eu tinha de sobra desde a
primeira vez que a vi.
Capítulo 01

Morar numa cidade de interior tem lá suas vantagens como, por


exemplo, todos se conhecem, o lugar é tranquilo e tem sempre alguém
disposto a ajudar quando é preciso. Mas, por outro lado todos acabam
sabendo de sua vida e falam como se tivessem o direito de se intrometer onde
não é chamado. Bom, eu moro aqui desde criança e já deu para perceber o
quanto da minha vida as pessoas sabem ainda mais quando se é abandonado
com filho bebê nos braços e se tem uma mãe extremamente ciumenta e
protetora. Combinação perfeita para espantar metade das mulheres corajosas
que se dispõem a ter algo comigo e quando conhecem a dona Teresa nunca
voltam para contar o que aconteceu. Outras até estão dispostas a enfrentar a
fera, mas quando conhecem o meu pequeno Lucca não querem ter um
compromisso desse e ficar com o pai significa leva-lo como bônus e algumas
mulheres, de hoje em dia, não estão dispostas a dividirem a atenção de seus
companheiros com filhos que não são seus.
Então, você deve estar se perguntando porque deixo que isso
aconteça. Simples, se é para ter uma mulher ao meu lado que interfira no meu
relacionamento com meu filho é melhor mesmo que vá embora e isso a dona
Teresa já faz sem eu mandar. Por outro lado, ainda não encontrei a mulher
que faça meu coração bater mais forte e para envolver meu filho que já sofre
pela falta de uma mãe é melhor eu ter certeza dos meus sentimentos e não
provocar falsas esperanças no meu pequeno.
Levanto-me cedo e logo vou até o quarto do meu filho, o meu
presente de Deus. Não consigo parar de pensar nele. Assim que acordo e
sempre que posso saio do trabalho eu venho vê-lo. Procuro sempre está ao
seu lado e enche-lo de atenção e de amor o máximo possível. O meu menino
sente muita falta de uma mãe e procuro preencher todos os espaços para que
não sinta tanto essa falta.
— Bom dia mini-mim!!! Acorda meu pequeno já está na hora de ir
para escola. - Digo abrindo a janela do seu quarto.
— Não papai. Deixa eu dormir mais um pouco. A tia disse que não
vai ter aula hoje esqueceu? - Disse cobrindo o rosto.
Realmente tinha esquecido meu dia ontem foi muito tumultuado e
nem me organizei para aproveitar o dia com meu filho agora terei que o levar
ao trabalho. Embora isso seja uma festa para ele.
— Vamos. Levanta mini-mim você vai ter que ir comigo para o
restaurante. - Acabei de falar com ele rindo de mim.
— Oh, papai! Você fica engraçado quando me chama assim!
— Ah é? E você vai sofrer por estar rindo do seu pai. A garra vai
atacar! - Disse fazendo muitas cócegas no seu corpinho que logo se acaba na
brincadeira. Ele é tão leve que com um braço só consigo levantá-lo.
— Por que o senhor me chama assim papai? - Disse entre os risos.
— Porque você é a minha cara. E eu adoro isso! É uma versão de
mim pequena.

— Eu te amo papai!
— Também te amo muito. Agora vamos levantar que você vai ao
restaurante comigo, a Vó Ana está de folga hoje e você não pode ficar
sozinho.
— Eu posso pai eu já sou grande e forte. - Disse fazendo força como
o Huck.

Chegamos ao restaurante no meio da manhã, porque sair com o Lucca


para meu trabalho significava sair com mala para uma semana inteira. Ele
sempre fica com o Davi, na cozinha e adorava se sentir importante quando o
deixam "ajudar" na cozinha. E em poucos minutos o menino está mais branco
que antes, molho pela camisa e tinha que sair praticamente obrigado da
cozinha quando me dava conta do estrago. Mas o meu instinto de pai falou
mais alto quando resolvi fazer uma área de diversão para ele com televisão,
brinquedos, escorregador, parede de escalar e muito carrinhos os quais adora.
Assim poderia leva-lo para o restaurante sempre e sem surtar o que era muito
melhor.
Logo ele chamou atenção de todo mundo com sua alegria e falatório.
— Bom dia meu povo! Cheguei!
— Bom dia Lucca! - O Davi e a Luana o cumprimentaram.
— Bom dia meu lindo! - Disse a Rayssa apertando suas bochechas.
Não precisa sem um gênio para perceber que ele detesta isso e a
Rayssa é a única que faz e ele se incomoda bastante. Tanto que ele mostrou a
língua para ela e disse: - Não faz isso sua chata, eu não gosto!

Ele correu para sua sala especial e se trancou lá. Todos voltaram ao
trabalho menos a Rayssa que volta e meia tenta chamar minha atenção. Ela é
uma mulher bonita sem dúvidas, mas não me atrai em nada. Eu não sei
explicar o porquê disso. Não sou um cara que não sabe apreciar a beleza
feminina, porém a sua não me chega aos olhos simples assim.
Fui até o meu escritório tinha muito serviço e precisava falar com um
possível novo fornecedor de hortaliças o qual residia na cidade vizinha, a
menos de 30 quilômetros de distância. Entre telefonemas e planilhas a manhã
passou rápida e fui à procura do meu pequeno. Fui até sua sala e nada e só
poderia haver um lugar que ele deveria estar.
Aproximei-me devagar e o encontrei sentado num banco alto próximo
do balcão da pia, conversava com o Davi. Ele era um amigo desde a
faculdade que sempre quis ter o seu próprio restaurante, mas o que mais lhe
atraia era a cozinha e eu tinha capital e disposição para o trabalho, então
firmamos nossa sociedade.
— Sabe tio, eu queria muito tem uma mamãe para me amar, acordar
com beijinhos, dormir com ela me contando histórias, se eu cair e me ferir ela
cuidar dos meus machucados, poder passear com ela de mãos dadas, ir à
praça com ela, ir à escola e apresentar ela todos os meus amiguinhos. Mas eu
não posso! Eu sou um menino incompleto...
Aquilo fez meu coração sangrar e me segurei para não chorar com
aquela declaração. Eu achava que conseguia fazer tudo isso e que ele se
sentia feliz, mas eu não significo nada para meu filho?!
— Olha campeão, você tem seu pai que faz tudo isso com prazer. Ele
te ama. - Disse o Davi que já tinha parado o que estava fazendo e dando total
atenção ao Lucca. - E acho que ele ficaria triste se te ouvisse falando assim.
Às vezes, a vida é um pouco injusta com a gente, mas aproveita o máximo
tua infância e vive tudo isso com teu pai.
— Eu sei tio! Eu amo meu papai e ele é muito importante para mim.
Ele faz tudo por mim e até meus colegas da escola dizem que tem inveja de
mim por eu ter um superpai que está sempre comigo em tudo.
Fiquei mais aliviado ao escutar isso. O meu filho me ama. E eu nunca
vou deixar nada acontecer a ele e fazer tudo que estivesse ao meu alcance
para fazê-lo feliz.
— Mas eu queria uma mãe. O Vitor, um menino da minha turma,
disse que eu não tinha mãe porque ninguém gosta de mim e que meu pai só
fica comigo por obrigação. - Não acredito que meu pequeno sofre isso na
escola. Amanhã mesmo vou resolver isso. - Eu tive tanta raiva tio, que deu
vontade de partir para cima dele e encher ele de porrada! - Ele disse se
alterando e batendo a mão em forma de murro na bancada.
— Lucca, você não pode agir assim! Quando isso ou qualquer coisa
acontecer você deve dizer a sua professora imediatamente. Não se resolve
nada com brigas. Você me ouviu?

— Sim, tio. Mas ele tem razão eu não desperto amor em ninguém.
Nem minha mãe me quis...
-— Lucca, meu filho - disse entrando de vez na cozinha - não se deixe
influenciar pela maldade de algumas pessoas. Você é um menino adorável,
inteligente, carinhoso, bonito é lógico que você merece ser amado e é muito
amado por mim, pelo seu tio Davi, pela Luana - disse olhando para todos ali
na cozinha e me acenavam afirmativamente. - Todo mundo aqui te ama. -
Disse me segurando para não chorar na frente do meu filho.
Todos vieram até ele e o beijaram e abraçaram carinhosamente. Eu
não tinha funcionários, tinha verdadeiros amigos. E sei que aquela
demonstração de carinho é verdadeira.
— Pois bem, está declarado que hoje é dia especial do Lucca! E para
comemorar vamos fazer a sobremesa de sua preferência! Meu senhor, diga e
seu desejo será uma honra mim. - Disse a Luana fazendo reverência a ele que
ria contente com tanta demonstração de carinho. Eu sei que não supria o
carinho de uma mãe, mas ele estava rodeado de pessoas que o amam.
— Hum, deixa eu ver... - Disse colocando o dedo no queixo como se
estivesse pensando - pode ser gelatina colorida?
— Que assim seja, meu garoto. Que se prepare a gelatina!
— Oba! Papai posso brincar um pouquinho lá fora?
— Filho, você sabe que é perigoso ficar na frente do restaurante e
ainda mais com esse movimento da hora do almoço.
— Por favor papai! É rapidinho. Eu vou lá e volto. Eu juro.
Capítulo 02

— Bom dia amiga! Obrigada pela carona e por tudo que estás fazendo
por mim.
— Bom dia Lu, não precisa me agradecer por você eu farei tudo que
estiver ao meu alcance.
A Dani está me ajudando numa nova conquista na minha vida.
Estamos indo à capital e vou comprar meu primeiro carro. Eu sei que estou
um pouco atrasada nesta conquista, mas estava levantando um dinheiro para
dar uma boa entrada e não ficar devendo muito. Você pode estar se
perguntando como eu uma mulher de trinta anos só agora consegue comprar
seu carro e se tornar independente para pelos menos ir ao trabalho? Simples,
a família. E não reclamo e todo investimento feito nessa instituição foi com
prazer. Eu venho de uma família simples de uma cidade do interior a quase
cinquenta quilômetros da capital vivo com meus pais, dois irmãos e uma
sobrinha linda que é meu xodó.
Quando enfim terminei minha faculdade há cinco anos e comecei a
trabalhar quase todo meu dinheiro era para reerguer minha família. Meu pai é
agricultor e sempre vivemos da venda do que ele planta na parcela que tem,
mas precisava de melhorias para fazer o negócio prosperar. Minha mãe era
costureira, mas quando descobriu que tinha catarata nos olhos parou de fazê-
lo e eu até prefiro assim, embora ela já tenha feito as cirurgias necessárias
para corrigir o problema. Meu irmão nunca se interessou em estudar mais e
ajuda meu pai na plantação e colheita. Ele é seu braço direito já que meu pai
não tem mais a saúde que tinha antes. E minha irmã, caçula, pois meu irmão
é o primogênito e eu a filha do meio, não faz nada. Nem estuda e nem
trabalha, porém nos arrumou a nossa pequena Lívia a qual eu dedico total
atenção e não deixo faltar nada. Cuido dela com verdadeira adoração aquela
menina é muito carente. E minha irmã faz de tudo, vive em festas, bate-papo
com as amigas, passeios e etc, mas não gasta um minuto da sua atenção com
a filha o que a faz não ter apego pela mãe.
— Alô! Terra chamando! - Disse minha amiga de sempre me tirando
da minha divagação.
— Ah, oi. O que você estava falando mesmo?

— Perguntei por sua sombra, seu chicletinho cor de rosa. - Disse


rindo.
— Sim, minha Lív está bem e esperta como sempre. Tive que sair
corrida enquanto estava dormindo porque a espertinha ontem estava elétrica e
foi dormir muito tarde.
— E a Joyce ainda continua sem se importar com a filha?
— Ainda é pior, quando a Liv era bebê e dependia da mãe ela tentava
disfarçar quando alguém estava por perto, mas agora. Você acredita que ela
pediu para a menina não a chamar de mãe porque isso atrapalha a vida dela.

— Que horror! E a Liv como reagiu a isso?


— Apesar da tristeza que ela deve ter sentido reagiu bem. Ela já não
nutria tanta esperança em relação a mãe.
— Claro, porque para ela você que faz esse papel. É a você que ela
ama como mãe.
— E eu a amo como minha filha de verdade. Não consigo me
imaginar sem meu pingo de gente.
Continuamos conversando até chegarmos ao nosso destino e fiquei
encantada com as possibilidades de escolha para o meu carro, de hoje em
diante não precisarei ir de ônibus à cidade vizinha para trabalhar. Entre tantas
opções acabo escolhendo um Ford Eco Sport branco zero e logo começo
imaginar um passeio com minha princesinha. Tenho certeza que ela vai amar.
Isso me faz lembrar que o preciso comprar.
— Dany, quando terminarmos aqui vamos ao shopping comprar uma
cadeirinha para minha Liv. A gente aproveita e almoça por lá?
— Tudo bem, vamos sim, mas o almoço vamos para outro lugar.
Conheço um restaurante ótimo. Você vai amar.
— Fechado. Quero que quando o meu carro chegar eu já esteja
preparada para dar uma volta com minha princesa.

Chegamos ao restaurante e por incrível que pareça é na mesma cidade


onde trabalhamos. Como ela fica entre a minha cidade e a capital não foi
contramão pararmos aqui.
— Dany, não sabia desse restaurante. - Disse encantada só com a
fachada. - Ele parece ser bom.

— Espera até você provar a comida daqui você não vai mais querer
comer em outro lugar. Eu sempre venho quando saio do plantão.
Eu nunca saia para restaurante ou lugares afins. Sempre fui de casa
para o trabalho, do trabalho para casa. Sempre que sentia fome comia em
algum restaurante próximo do hospital ou fazia um lanche rápido em algum
lugar.
— Quem bom que poderei experimentar hoje!
— Você não vai se arrepender. Vem!
Descemos do carro e logo pude contemplar a simplicidade e a beleza
do lugar havia algumas árvores nas laterais, em frente escadas com corrimão
e rampa. Esse lugar já ganhou pontos comigo pensando na mobilidade de
seus clientes. Gosto de lugares que sejam acessíveis a todas as pessoas sem
discriminação.
Caminhei mais um pouco e vi um menino muito lindo brincando nas
escadas e fazendo o corrimão de escorregador. Criança sendo criança, mas
sem nenhum adulto responsável por perto. Isso é um perigo. Continuei a me
aproximar, aquele menininho me prendeu atenção, sei lá existia uma força
maior me prendendo a ele e eu não conseguia me desvencilhar. Estranho
nunca me senti assim com nenhuma criança. E olha que adoro crianças.
Permaneci o olhando ele e quando me viu já estava colocando o pezinho em
cima do corrimão e se distraiu e ao invés de escorregar rodou para baixo.
Corri e coloquei a mão embaixo de sua cabeça, como já estava relativamente
perto, deu tempo protege-la do impacto, mas ele bateu suas costas no chão.
Seus olhinhos se encheram de lágrimas. Levantei-o e coloquei-o em pé na
escada.

— Você se machucou? - Perguntei olhando toda parte dele. E ele não


falava nada apenas me olhava de uma forma espantada e ao mesmo tempo
alegre? Dava para ver um sorrisinho de leve nos seus lábios.
— Você está sozinho? Cadê seus pais? Estão lá dentro? - Apontei
para o restaurante.
Ele continuava mudo. Aquilo era estranho será que ele tinha
deficiência auditiva. Meu coração estava acelerado e eu sentia uma emoção
sufocante no peito, como se o que estava sentindo não coubesse dentro de
mim. E logo me vi alisando o seu rostinho, os braços, passei a mão nas suas
costas como forma de carinho e também por pensar que mais tarde deve doer
um pouco por causa da queda. Olhei seu cabelo espetado, seus olhos
castanhos claros, suas bochechas rosadas, suas orelhas alvinhas. Ele parecia
um anjo. Sentia como se quisesse gravar cada detalhe dele na minha
memória. E quando vi ele estava rindo para mim. Peguei nas suas mãozinhas
e alisei o dorso delas. E senti um beijo na minha bochecha, seus lábios
macios e espontâneos acariciaram-me e aquilo foi bom. Muito bom. Passei a
mão no seu rosto e beijei sua testa.
Logo depois ele sorriu novamente e correu para dentro do restaurante,
mas antes de entrar parou e acenou para mim.
— O que foi isso Lu? - A Dani estava com uma interrogação enorme
escrita na testa.
— Não sei... - disse com o olhar vago - senti como se aquele menino
me chamasse. Havia algo, uma energia muito forte nele e me vi sendo
arrastada como um ímã para ele. Sua pele é tão macia, seu beijo me deu uma
sensação de paz igual quando sinto a Liv me beijar.
— Sabe o que é isso? Você é apaixonada por crianças. E deve
arrumar um namorado e fazer um monte de crianças para você.

— Que isso? Tá doida é? Não estou procurando e nem quero um


namorado na minha vida.
— Lu, você deveria aproveitar mais da vida. Sair, se divertir,
namorar. Quem em pleno século vinte e um chega aos trinta anos com bv? -
Falou mais baixo - só você amiga.

Não quis responder porque não iria discutir minha vida pessoal num
restaurante lotado por sinal.
— A comida daqui deve ser muito gostosa mesmo. - Falei mudando
de assunto.
— Vem vamos logo senão perderemos aquela mesa ali. - Ela me
puxou tão rápido que nem acreditei que estávamos praticamente correndo
para pegar a última mesa vazia.
—Ai, que bom! Se não tivéssemos conseguido teríamos que esperar
em pé por uma mesa, porque daqui eu só saio depois de almoçar uma
excelente refeição.

Almoçamos conversando amenidades sobre o nosso trabalho como


enfermeiras e de como gostamos do que fazemos. Meu olhar sempre atento
para encontrar um menininho de cabelo espetado e olhar apaixonante.
— Será que ele ainda está aqui?
— Ele quem?
— O menino que estava lá fora. Eu não o vi desde que entramos. Se
você também não o tivesse visto acharia que estava vendo coisas do além.
Ele parece um anjo- Falei um pouco triste.
Permaneci com a vontade de vê-lo novamente. Até que me deu
vontade de olhar para trás e vi-o atento procurando alguma coisa. Então
nossos olhos se encontraram e sorrimos juntos. Ele aproximou de mim e eu
puxei a cadeira do meu lado para ele sentar.
— Ei, pequenino que bom te ver! Você quer comer comigo e minha
amiga?
— Sim. - Disse abaixando a cabeça.

— Que bom, então eu vou pedir. O que você quer comer? - Perguntei
com seu olhar sem sair de mim.
— Eu quero sobremesa de gelatina colorida.
— Mas você já almoçou? A sobremesa só pode ser comida depois da
refeição principal.
— A Luana disse que podia, porque hoje é o meu dia especial. Peraí
que vou pedir a ela trazer para gente. Você vai comer comigo?
Senti-me tanto feliz escutando sua vozinha, ela era doce e emotiva,
não tinha como dizer não e apenas acenei com a cabeça afirmando.
Ele saiu correndo para o que acho ser a cozinha e voltou com uma
jovem mulher que sorriu para mim e perguntou:
— Você é a amiga especial dele?
— Sou sim. E ele é o meu anjinho especial e também meu amigo. -
Disse sentindo uma emoção diferente quando me referi a ele.
— Então vou buscar a sobremesa de vocês.
Logo ela trouxe taças com gelatinas coloridas e ri da alegria dele e
balançava suas perninhas comendo sua sobremesa que por coincidência
também adorava.
— Essa é a minha sobremesa preferida sabia? - Chamei sua atenção.
— Fui eu que escolhi, parece que tava adivinhando que você ia
aparecer. - Disse rindo um sorriso claro e feliz. Seus olhinhos estavam
brilhando. E aquilo me deixava feliz.
Conversamos nós três até que a mesma jovem veio até nós e disse que
seu pai estava lhe procurando. Então, ele se despediu de mim com um abraço
apertado e demorado. Aquilo era muito bom e saiu correndo pelo restaurante.
Capítulo 03

Você escutar tudo aquilo do seu filho e não poder fazer nada seu
respeito. Dói, dói muito. Eu um cara de trinta e nove anos, bem sucedido não
sei como fazer meu filho toalmente feliz. Quer dizer eu até sei, mas não vou
brincar com seus sentimentos e colocar uma mulher que não o ame em sua
vida. Logo eu que nunca tive problemas em arrumar mulher, muito pelo
contrário nunca ficava sozinho. Bem posso dizer que soube muito bem
aproveitar a minha juventude e tive várias paixões, mas nenhum amor. Então,
você se pergunta e a mãe do Lucca, como surgiu nessa história?
Bom, eu sempre estava envolvido em festas tanto aqui na cidade
quanto em cidades vizinhas. E numas dessas festas a encontrei, Valéria, era
seu nome. Mulher bonita para caralho, chamava atenção de qualquer homem
por onde passava. E eu logo fiz questão de chamar sua atenção para mim.
Cumprimentei-a ficamos num papo legal e terminamos a noite juntos. Até
então nenhum problema éramos jovens, solteiros, desimpedidos e a fim de
curtir o que viesse. Com um tempo mesmo morando em cidade diferentes
continuamos a nos encontrar, ela era atraente e o sexo muito bom, o melhor
que já tive. Iniciamos um namoro inicialmente a distância, mas estávamos
cada vez mais grudados um ao outro. Até que um dia descobrimos sua
gravidez, no início ela até que fico feliz e eu estava muito feliz em ser pai
mesmo não tendo planejado isso naquele momento.
O que dia o Lucca nasceu foi o mais feliz da minha vida, pude
perceber que o que sentia antes desse dia era nada comparado com a emoção
que ele despertou. Ali, eu estava fodido, me apaixonei por um menino que
com um tempo se tornaria um homem e não me envergonhei de dizer e digo.
Sou completamente apaixonado por meu filho. Enquanto a mãe dele foi se
mostrando cada vez mais desinteressada pelo filho que quando passou do
período de amamentação o abandonou em minha casa com apenas um bilhete
avisando que ela não nascera para ser mãe e que era muito jovem para
assumir tal compromisso. Sem coração, eu sei. Aquela mulher é desalmada,
mas pensando bem, foi melhor assim. Dessa forma, meu pequeno não
convive com o desprezo diário e a falta de caminho da mulher que lhe pôs no
mundo, porque mãe do meu filho ela não é.
Depois de escutar o Lucca me tranquei no escritório e deixei as
lágrimas lavarem minha dor. Como pude ser tão imprudente em dar uma
"mãe" dessas a pessoa mais importante da minha vida. Não sei quanto tempo
fiquei trancado lá, mas quando me dei conta que havia permitido que o Lucca
fosse na frente do restaurante sozinho me desesperei e corri para encontra-lo.
Passei pelo salão apressado e nem reparei muito no movimento, hoje
estava mais lotado. Fui até a cozinha para ver se ele já tinha voltado e nada.
Fui até sua sala de brinquedos também não estava. Voltei para cozinha e
deixei o aviso que se ele aparecesse o levassem até mim. E corri para fora do
restaurante, andei pela redondeza e nada.
— Meu Deus, que não tenha acontecido nada com meu filho, por
favor!

Continue procurando entre as árvores, no estacionamento. E foi nesse


momento que fui levado para outra dimensão. Deparei-me com uma mulher
linda, a mais linda que já vi até agora, morena, relativamente alta, corpo bem
desenhado, seios, quadris na medida certa, cabelos na altura da cintura, olhos
negros bastante expressivos. Vestia calça jeans, blusa de mangas curtas
desenhado me corpo escultural e saltos. Pouquíssima maquiagem o que
ressaltava ainda mais sua beleza natural. Meu coração acelerou tanto que meu
peito começou a doer. Nunca me senti assim por uma mulher num primeiro
olhar. "Esquece isso Miguel, não viaja. O que você menos quer é ter mais um
problema na vida do seu filho e na sua também. Uma mulher dessas não se
esquece rapidamente e na certa iriamos sofrer." Dizia minha consciência.
Não havia percebido que havia parado de andar e que estava
encostado num carro se não fosse a própria me pedindo licença. Que voz
sensual ela tinha, era melodiosa, forma tão leve que se direcionou a mim foi
incrível. Sabe aquelas mulheres que não tem noção do quanto são bonitas? É
ela. Ela deveria ser proibida de sair na rua ou se reportar a algum homem.

— Por favor, você poderia me deixar passar? - Sua fala me tirou do


transe. Mas seu olhar dançava pelo meu rosto repetidas vezes e se de longe
ela era linda de perto então não tenho palavras.
— Pois não, fique à vontade. - Disse entendendo o braço para que
seguisse. Mil vezes inferno que mulher cheirosa. Não posso passar recibo de
idiota na frente dela. - Espero que tenha gostado do restaurante. - Disse
tentando puxar conversa.
— Gostei sim! A comida é deliciosa. - Deliciosa é você, minha
querida. Pensei, mas não deveria ter pensando agora vai ser difícil não a
imaginar de outras formas. Puta que pariu.
Voltei ao restaurante confuso poderia ter me apresentado a ela e não
ter a deixado ir embora assim nem ao menos um telefone. "Não viaja Miguel
o que você tem feito mais nessa vida é fugir do amor e não vai ser agora que
isso vai acontecer ainda mais com uma estranha." Minha consciência me
corrigia.
Fui até a cozinha e meu filho estava sentado no cadeirão comendo
numa alegria só, nos seus olhos brilhavam uma luz diferente, suas perninhas
balançando era sinal de que algo estava o deixando feliz e eu fiquei feliz
também. Não há nada melhor do que ver a felicidade de um filho ainda mais
ele que estava muito triste mais cedo.
Capítulo 04

Meu Deus que dia foi esse! Pensei quando estava deitava na cama e
minha bonequinha ao meu lado, agarradinha ao meu corpo como se sua vida
dependesse disso.
Quando cheguei em casa no final da tarde encontrei a Liv tristinha
sentada no terraço de casa. Aquilo fez meu coração ficar aperado o que será
que aconteceu?

— Princesinha da tia! - Disse com os braços abertos.


— Oi. - Disse e continuou olhando para o chão.
— O que aconteceu aqui? Cadê o sorriso e beijo que sempre ganho
quando chego em casa?
— É poque eu não tenho motivo pra solir. - o caso é sério mesmo.
— E porque uma menina linda e esperta como você não teria motivos
para sorrir posso saber? - Disse colocando-a no meu colo.
— É a minha mãe, quer dizer, a Joyce ela glitou comigo na flente do
amigo dela e dixe que eu não era nada dela. A minha mamãe não gosta de
mim, ela não me quer- terminou já chorando.
Ah isso não vai ficar assim! A Joyce hoje mais me escutar. Como ela
ousa falar assim com a sua própria filha? Se depender de mim nunca mais a
Livia vai chorar por causa dela ou eu não me chamo Lucélia Rodrigues.
Abracei mais forte aquele serzinho que detém meu coração.
— Não fica assim minha princesa, vamos fazer assim: eu prometo que
vou conversar com ela e a gente agora vai se arrumar porque vamos
comemorar, porque a titia está muito feliz. E eu quero que a menina mais
linda desse mundo também fique. Está certo? - Precisava alegra-la.
— Vamos comemolar o que mamãe? - Disse arregalando os olhos e
tapando a boca com as mãozinhas como se tivesse dito algo errado.
Não tem como continuar negando que ela me chame de mãe ela já
sofre demais com o desprezo da mãe de sangue e eu não vou contribuir para
mais sofrimento. Ela precisa de uma figura materna e a partir de hoje
ninguém mais vai fazer sofrer a minha pequenina. De hoje por diante será de
minha total responsabilidade.

— Você pode me chamar de mamãe sempre que quiser ouviu? - Disse


levantando seu rostinho onde foi pintado um lindo sorriso. - E a partir de hoje
você será minha filha! Eu posso te chamar de filha também?
— Eu te amo mamãe! - O sorriso mais lindo que já vi se formou.
— Eu também minha filha. Amo muito! Minha filha. Você é minha
filha e se for preciso enfrento o mundo para te proteger. - Falei emocionada e
convicta de que as coisas deveriam mudar para o bem dessa menina.
Coloquei um vestido com estampas de gatinhos e fundo branco com
manguinhas curtas que tinha uma fita azul celeste na cintura. Penteei seus
cabelos e os deixei soltos. Adorava os cachinhos que se formava nas pontas.
Passei um gloss cor de rosa, por insistência dela, vê se pode uma menina de
três aninhos já cheia de vaidades.
— Você está linda, minha princesa! Minha filha. - Disse admirando
ela que sorriu segurando a barra do vestido se balançando. Tão fofa. - Agora
você tem que ficar quietinha que vou tomar um banho e me arrumar.
— Tá celto mamãe. Vô ficar quetinha te espelando.
Tomei meu banho vesti uma calça jeans com o cos alto e uma blusa
preta com franjinhas o que não deixava minha barriga de fora. Prendi meus
cabelos num rabo de cavalo, passei rímel e delineador e um batom rosa
clarinho. Conferir o espelho e gostei do resultado. Não era adepta de muita
maquiagem para passeios simples. Peguei minha bolsa e sai do quarto quando
escutei o meu pai:
— Olha! Quem é essa menina?
— Sô eu vovô a Liv!
— Quem?! Não, a minha netinha não. Eu a reconheceria. Você eu
nunca vi aqui.
— Eu já disse. Sô eu vovô. É que eu vou Sali com a minha mamãe e
ela passô um poquinho de batom - disse fazendo um biquinho mais lindo.
— Ah! Agora sim! Foi por isso que não estava te reconhecendo. - Ela
caiu na risada. Como criança é besta para sorrir.
— Boa noite pai. Vamos mocinha? - Disse estendendo a mão para ela.
— Boa noite filha. Lívia, você não disse que iria sair com a sua mãe?
- Perguntou meu pai confuso.

— Sim, ela é a minha mamãe. Agora todo mundo pode saber né


mamãe?
— Sim, filha. Todo mundo pode saber que a partir de agora eu sou
sua mãe e você é de minha inteira responsabilidade. - Disse sorrindo para ela,
aquilo estava me fazendo bem. Olhei para o meu pai com medo de sua reação
e ele estava sorrindo.
— Fico feliz que você tenha tomado as rédeas dessa situação. Não
aguentava mais ver meu pingo de gente triste e carente. Você fez a coisa certa
e me sinto orgulhoso de você. - Abracei-o feliz. Sabia que teria o seu apoio,
mas sei que com minha mãe e minha irmã seria um pouco diferente.
Fomos a uma pizzaria e não via a hora de estar com meu carro assim
poderia levar minha filha de forma mais confortável para um passeio.
Pedimos nossa pizza favorita e suco que a minha princesa escolheu.
Ela estava feliz me chamava de mamãe a todo instante e seus olhinhos
brilhavam quando a chamava de filha. Ficamos conversando sobre seus
desenhos preferidos até que me veio à mente aquele anjinho do restaurante.
Senti meu coração apertar ao lembrar da tristeza que vi em seus olhinhos e
senti uma vontade muito forte de vê-lo novamente. De beijar aquela
bochechinha rosada. Só agora que percebi que não perguntei seu nome. Seria
loucura dizer que gostaria de tê-lo aqui comigo? Eu nunca fiquei tão apegada
a uma criança desconhecida e olha que trabalho na ala infantil do hospital.
Voltamos para casa, com a felicidade pintada no rosto da minha
pequena. Tive que trazê-la nos braços, pois estava cansadinha e logo
adormeceu. Coloquei-a na minha cama tirei sua roupa e coloquei seu baby
dool, seria muita maldade se a acordasse para tomar um banho. Deixei-a no
quarto e voltei para sala encontrando minha irmã que acabara de chegar.

— Que bom que chegou cedo. Preciso conversar com você. - Falei
ríspida, não consegui controlar meu nível de irritação quando a vi chegar
alegrinha.
— Se for sobre aquela piralha nem perca seu tempo. - Aquilo elevou
consideravelmente minha indignação.

— Como ousa falar assim da sua filha. Ela é sua filha! - Disse
gritando.
— Eu nunca a quis. Só a tive por sua causa, porque você me implorou
pela sua vida. Ela só me faz lembrar daquele traste do pai dela. Eu sinto nojo
quando ela me chama de mãe. Oh! Menina pegajosa. Grudenta. Eu sou
jovem, bonita e nenhum homem vai querer uma mulher com filho para
atrapalhar sua vida!
— Impressionante! Quem me dá nojo é você! - Cuspi minhas palavras
sem perceber que com a gritaria a Liv tinha acordado e escutava toda nossa
discussão.
— Mamãe... - escutei sua vozinha embargada pelo choro. Corri e a
abracei forte a apoiando sua cabeça no meu ombro e a minha irmã nem se
mexeu.
— Fica tranquila minha bonequinha. Eu estou aqui. Viu. Não chora. -
Ninava ela nos meus braços.
— Ótimo. Aproveita que ela já te chama de mãe e cuida dela também,
porque eu tô fora.
— Quer saber eu sempre cuidei muito bem dela e a amo como se
fosse gerada no meu ventre. A partir de hoje você nunca mais vai fazê-la
sofrer. E eu quero a guarda dela para mim. - Falei o que já vinha em minha
mente há algum tempo.
— Não poderia escutar proposta melhor! Me diz onde e quando tenho
que ir para que me ver livre de uma vez dessa coisa. - Abracei ainda mais seu
corpinho tenso que já estava tremendo nos braços e voltei para meu quarto.
Depois de um banho morninho vesti outro pijaminha e com muito
custo fiz minha princesa dormir novamente.
Ela se agarrou a mim como se segura um salva-vidas. Observei-a e fiquei
fazendo carinho nos seus cabelos. Deus o quanto essa menina não está
sofrendo, mas amanhã mesmo vou procurar um advogado e vou pedi todos os
direitos dela para mim.
Fiquei um tempo olhando para o teto e refletindo sobre tudo que já
aconteceu até aqui. Estava esgotada e lutava contra só sono...
Vi surgir a imagem de um homem muito lindo me chamando com o
sorriso nos lábios e dizendo que estava me esperando. Fui levada até ele, sim
levada porque não caminhei até lá e quando me aproximei do seu rosto vi que
o cara do estacionamento do restaurante. Minha nossa e como ele estava
ainda mais bonito. Tocou minha mão e juntou nossos corpos analisando meu
rosto aproximou nossos lábios e os beijou. O beijo era bom e estava sentindo
meus músculos relaxarem até que escuto uma vozinha de menino me
chamando: "mamãe?" Virei-me para encontrar o dono da voz, mas não vi
ninguém, mas meu coração reconheceu aquele timbre e se encheu de alegria.
Era o menino do restaurante.
Capítulo 05

Ela estava indo em minha direção e estava ficando nervoso. De longe


já podia sentir o cheiro dela. Aproximou-se e sorriu para mim. Estava suando
frio. "Que coisa bonita um marmanjo desse parecendo um adolescente! Vai lá
se você a quer tem conquista-la" dizia minha consciência. Completei o
caminho até ela e a convidei para um passeio. E para minha surpresa ela
aceitou. Passeamos e a levei para minha casa. Quando entramos fui tomando
sua boca na minha com urgência como se dependesse disso para viver.
Coloquei-a nos meus braços e a deitei na minha cama. E eu já não aguentava
mais de desejo por ela, meu amigo estava quente em brasa, parecia e tinha
vida própria e a tomei para mim, cada pedacinho do seu corpo delicioso e
gostoso. Estava com ela a mercê do nosso prazer e quando ela disse que me
queria dentro dela foi a minha perdição. A amei de todas as maneiras
possíveis e adormeci sentindo a maciez de sua pele no meu peito e o cheiro
bom dos seus cabelos. Acordei no dia seguinte com a cama vazia e queria
chama-la, mas eu não sei o seu nome. E me desesperei.
—NÃOOOO! - Gritei com todas as minhas forças.
— Que foi papai? - Perguntou o meu pequeno que veio correndo e se
jogando nos meus braços.
— Nada pequeno. O papai teve um sonho... - bom, pensei em dizer, o
melhor que já tive. Era a mulher que vi no restaurante.
— Foi só pesadelo! Fica assim não. Eu estou aqui. - Disse me
abraçando. Tem como não se senti feliz e amado com esse garoto?
Nos aprontamos para ir à escola e ao trabalho. Hoje passaria lá antes
de trabalhar e resolver aquele certo constrangimento pelo qual meu filho
passou. Cheguei e logo pude perceber alguns olhares em minha direção.
Primeiro que lá a sua maioria eram mulheres e segundo modéstia parte
chamava atenção um homem forte, alto, olhos castanhos claro, moreno claro
e uma miniatura fiel a mim não era muito frequente de se ver.
Deixei o Lucca na sua sala e fui em direção a secretaria. Lá conversei
com a diretora e lhe deixei a par da minha relação com a mãe do meu filho e
que faço para que essa falta não lhe custe muito sofrimento. Sua professora
também foi chamada e a mãe do Vitor, coleguinha que estava ofendendo meu
filho que também estava na escola. Assim conversamos todos e a Andreia,
mãe do Vitor, se comprometeu em orientar seu filho quanto a esses
comportamentos.
Na saída da escola a Andreia se ofereceu para fazer um jantar para ter
fazer os meninos mais próximos embora achasse que tinha outra razão por
trás do convite. Resolvi aceitar porque não. Ela era mulher muito bem
resolvida e já deixava claro o que queria quem sabe isso não seria bom?
Combinamos que amanhã à noite iriamos jantar na casa dela.
Fui para o restaurante resolvi algumas dependências, algumas
ligações e uma visita ao novo fornecedor. Ele morava na cidade vizinha e
acertei de ir lá conferir as mercadorias e se tudo estivesse ao meu agrado
fecharíamos negócio.
Almocei por lá mesmo, apesar da falta que meu filho fazia nessas
ocasiões, o restaurante está cada vez mais lotado, principalmente na hora do
almoço. Ele fica bem localizado próximo a escolas, comércio e o hospital da
cidade, embora este seja o mais distante do que os outros lugares. Então isso
contribui muito com o seu sucesso. E sem falar que o Davi é um chefe
sensacional não há nada que ele cozinhe que não fique delicioso. A Ana ou
vó Ana, como o Lucca prefere chamar, nossa governanta foi busca-lo na
escola. E ela é outra que não mede esforços, desde quando ele era bebê, para
nos ajudar. Ela é mesmo uma avó para ele. A Ana sempre esteve presente na
minha vida trabalhando na casa dos meus pais e quando me vi sozinho com
um bebê ela se prontificou em me ajudar e passou a trabalhar lá em casa.
Cheguei a casa a noite e o encontrei na sala assistindo desenhos
animados. Quando me viu veio correndo.
— Papai! Que bom eu o senhor já chegou. Eu já estava com saudades.
— Ele não quis comer porque queria te esperar, Miguel.

— Tudo bem, Ana. Filho o pai vai só tomar um banho e volta para
jantar.
Jantamos os três na mesa, a Ana faz parte da nossa pequena família,
sempre foi e sempre será.
— Papai, o Vitor veio me pedir desculpas pelo o que ele me disse
outro dia. A tia disse que ele tinha que me pedi senão ficaria de castigo e que
qualquer coisa eu podia reclamar com ela.
— Isso filho! - Incentivei - qualquer coisa que acontecer na escola
você tem que falar logo com a sua professora.

— Papai, o Vitor também me disse que a gente vai jantar na casa dele
e que você também será o pai dele. Isso é verdade?
— Mas como...
— Miguel, quando íamos saindo da escola uma mulher se apresentou
dizendo ser a mãe do Vitor e querendo conhecer o filho do Miguel. E dizendo
que queria que os meninos fossem mais amigos.
— O Vitor não é meu amigo. Ele é mau e gosta de ficar perturbando
todo mundo. Eu não gosto dele e não gostei da mãe dele também. O Vitor
disse que tudo que ele faz a mãe acha engraçado. Não é engraçado ficar
zombando dos outros. Né papai?
— Não, meu filho não legal fazer isso. Isso machuca as pessoas. -
Disse pensando com quem queria juntar meu filho. A Andreia me convidou
achei legal de sua parte, mas expor meu filho a situações desagradáveis
jamais.
— Papai posso dormir com o senhor hoje? - Perguntou se tirando
desses pensamentos.

— Claro que pode meu filho sempre que você quiser.


—Ou até seu pai arrumar uma namorada. - Disse a Ana me jogando
uma indireta. Ela sempre faz isso para me incentivar a ter uma namorada.
— Quando ele conhecer a minha mãe eu deixo ela dormir com ele,
mas só ela. - Disse com os olhinhos cheio de esperança e isso está me
deixando cada vez mais me preocupando. Essa obsessão em algum momento
não fará bem para ele.
Na manhã seguinte deixei-o na escola e segui para a visitar o novo
fornecedor. Passei na casa do Davi para irmos juntos, afinal nessa parte ele
poderia falar melhor que eu. Uns quarenta minutos depois estamos
adentrando numa parcela muito bem cuidada e organizada e logo o senhor
José veio nos atender. Foi com ele que falei durante a negociação. Ele nos
levou até seu filho Gabriel o principal responsável pelo cultivo e colheita.
Esse nos explicou tudo o que deveríamos saber sobre os procedimentos
utilizados os quais não incluía agrotóxicos.
Estávamos voltando para sede quando vi de relance uma mulher
morena e logo me lembrei da mulher do restaurante e essa se parecia muito
com ela. Meu coração errou uma batida só de imagina-la. Estava muito longe
e não tinha como afirmar com certeza. E também seria muita coincidência
encontrá-la aqui.
Quando entramos no local dei de cara com uma garotinha muito
esperta que estava enchendo o senhor José de perguntas.
— Vovô para que selve isso? - Disse com um grampeador na mão.
— Lívia, não mexe onde não deve. Isso pode te ferir e prender seu
dedinho aqui.
— Pai, porque que ela está aqui? - Perguntou Gabriel se irritando.
— A Lucélia teve que ir resolver uns assuntos com o advogado e não
quis deixar a pequena em casa com a Joyce.
Escutei a conversa de olho na menininha. Ela era muito esperta. Tinha
os olhos curiosos e nada passava despercebido por ela.
— Oi menina bonita.
— Oi, como é o seu nome? - Disse com olhos em cima de mim.
— Miguel e o seu?
— Lívia, mas minha mamãe me chama de Liv. Voxê também pode
me chamar assi. Gostei de voxê.

— Que legal! Então tá Liv. Quantos aninhos você tem?


— Tles! Assi ô - e mostrou os dedinhos. Ela era muito meiga.
— Vamos cara já acertei tudo por aqui. - O Davi me espertou do
encantamento daquela princesa. Quando a vi esqueci de finalizar o negócio e
se não fosse o Davi ainda iria fazer todo o processo.
— Vamos. Tchau princesa - disse acenando para ela que correu e
abraçou minhas pernas.
— Você parece um plíncipe - disse me olhando. Abaixei-me até ela e
a abracei, a sensação daquele abraço era mágico meu peito se encheu de
carinho, e me suspendi. Beijei sua bochecha com carinho.
Sai de lá com a sensação de que seria bom ter uma filha um dia.
Quem sabe ela não seria assim como a Liv. Esperta, amorosa e muito meiga.
Capítulo 06

— Mamãe - escutei seguido de um soluço - mamãe não me deixa!


Despeitei da sensação de leveza do meu pequeno sonho e percebi que
a Liv chorava enquanto dormia. Acariciei seu corpinho e percebi que estava
tremendo. Ela estava tento um pesadelo. Chamei-a e ela despertou me
olhando assustada.
— Calma meu bem. Eu estou aqui. - Disse beijando sua bochecha que
estava muito quente. Isso não podia ser sua temperatura normal. Ela ainda me
olhava fungando pelo choro. Ajeitei-a na cama para ir buscar um termômetro.
— Não me deixa. Eu não quelo ficar sozinha. - Disse voltando a
chorar.
— Ei, fique calma eu só vou buscar o termômetro porque acho que
você está com febre.
— Aqui - apontou para cabeça - tá doendo. E aqui também - apontou
para o peito. - Doendo muito. Tá apeltando asi - fez força com as mãozinhas
tentando uni-las em sua frente.

Meu Deus, tive que me segurar para não chorar em sua frente. Como
essa guerreirinha deve estar sofrendo. Na certa, isso era pelo choque
emocional. Peguei o termômetro e coloquei em sua boca. Seus olhinhos
estavam sem brilho e o seu rosto estava inchado de tanto chorar.
— A mamãe vai buscar o seu remedinho para essa dor passar tá certo?
— Não, eu não quelo ficar sozinha. Não me deixa. Po favô.
Coloquei-a nos meus braços e fui até a cozinha. Peguei o
medicamento com ela ainda nos meus braços e a fiz tomar que não reclamou
uma vez. Isso era novidade. Ela devia estar mesmo com muita dor.
— Mamãe po que o Papai do céu não me deu para a senhola ser
minha mãe?
— Ele me deu agora, minha filha - disse com vontade de chorar -
agora vamos esquecer tudo que ouvimos hoje e começar uma vida nova cheia
de amor. Agora, você tem que dormir.
Comecei a nina-la no meu colo. Sentei-me no sofá e fiquei fazendo
hora com ela, dormir numa cama de solteiro com essa mocinha não é fácil,
mas por ela não me importo. Liguei a televisão da sala e fiquei assistindo
alguma coisa qualquer embora meu pensamento estivesse no homem do
sonho. Eu nunca fiquei tão impressionada com um homem aponto de sonhar
com ele. Ainda mais porque o observei por poucos minutos.
— Mana, vai dormir na sua cama. - Escutei meu irmão com as mãos
nos meus ombros e televisão ainda estava ligada e eu perdi a noção do tempo.
— Que horas são? - Perguntei assustada.
— Cinco horas. Você dormiu aqui com ela? - Disse apontando para
meus braços onde a Liv dormia tranquila e que por incrível que pareça não a
soltei mesmo durante o sono.

— Em parte. A Liv ficou com febre e dores na cabeça dei o


medicamento e acabei capotando aqui enquanto tentava fazê-la dormir.
— Ela está doente? O que ela tem? - Disse meu irmão passando a
mão nos seus cabelos.
— Acho que foi só emocional. Ela terminou escutando a discursão
com a Joyce e deve ter absorvido suas palavras severas.
— Eu sempre falei que a Joyce merecia ter sentindo umas boas
palmadas para aprender ser gente. - Disse se alterando - como ela é capaz de
fazer tudo o que faz com sua própria filha? Olha a menina como ficou. -
Andou para o outro lado da sala - Mana, temos que proteger essa menina
daquele monstro. A Lívia não pode mais sofrer com isso.
— Eu sei, mas vou procurar como devo fazer para que ela seja minha
filha e evitar que não sofra mais com a Joyce.
— Faça isso. Você sabe que tem meu tOtal apoio. Na verdade, você
sempre foi a mãe dela.

Fui ao hospital. Hoje é meu plantão, mas sair de casa com o coração
na mão por deixar minha pequeninha. Fiz minha mãe prometer de que
qualquer coisa ela me ligaria. Quando sai a Lívia já tinha acordado e foi um
chororô enorme. Ela sempre entendeu que tinha que ir trabalhar e sempre fora
compreensiva, mas hoje foi difícil. Talvez tivesse medo por estar com a Joyce
depois de tudo que ouviu.
— Filha, a mamãe promete que quando chegar fica o tempo todo
grudadinha em você. Mas não chora porque eu fico triste quando você chora.
— Tá celto. Não vou mais cholar po que eu te amo no coração e não
quelo você tiste.

— Também te amo muito do tamanho do universo.


Dei vários beijinhos nela e fui pegar meu ônibus, não via a hora de
poder pegar meu carro. É incrível como você fica sem saco de fazer algo que
sempre fez quando se pode mudar ou melhorar. Nunca me senti tão
incomodada com um ônibus cheio ou a quantidade de paradas que o
transporte dá.
Cheguei ao hospital pensando em como será minha vida a partir de
agora com a inteira responsabilidade sobre a Lívia. Preciso procurar me
informar sobre o que devo fazer para afastá-la o máximo possível da sua
genitora, porque mãe ela nunca foi.
— Bom dia Dany! - Cumprimentei minha amiga já na entrada do
hospital.
— Bom dia flor do dia! - Disse animada.
— Quanta animação no começo do dia. Viu passarinho verde?
— Digamos que ele pareceu ontem, me fez companhia e esquentou
minha noite fria. Ui! Como me esquentou! - Disse virando os olhos e se
abanando.
— Hum! Amor novo? Você não me disse nada. - Disse fingindo estar
chateada.
— Alguém por quem sempre tive uma quedinha e que agora me
enxergou. Depois te conto os detalhes.
Segui para minha ala e comecei meus afazeres. Eu adorava meu
trabalho na ala infantil tentava o máximo trazer alegria aqueles pequenos já
que ninguém gosta de hospital ainda mais crianças.

— Bom dia Helô! - disse com um sorriso enorme no rosto ao entrar


num quarto de uma paciente especial ela teve pneumonia e passou por um
procedimento cirúrgico há alguns dias.
— Bom dia tia Lú - respondeu tristinha.
— A não gostei desse bom dia está muito desanimado. - Disse
enquanto verificava sua medicação.
— É porque sua priminha vai fazer aniversário nesse final de semana
e talvez ela não poderá ir. - Disse sua mãe.
— É isso? Então trate de pintar um sorriso nesse rostinho lindo quem
sabe se você não se animar, fizer tudo que o doutor disser você não consegue
alta até o domingo - disse querendo transmitir animação.
— Jura?!
— De dedinho mindinho se você quiser, mas trata logo de se animar
porque sobrinha minha desse hospital não fica triste não! Hum. - e ela já
estava rindo da voz que fiz.
Continuei fazendo minha ronda e tudo estava na tranquilidade
aproveitei e liguei para minha mãe e perguntei pela Liv que estava dormindo.
Estava quase na hora do meu almoço quando recebi a notícia que amanhã já
poderia pegar meu carro. E não via a hora de sair do meu plantão, pois
passaria lá para pegá-lo.
— Agora me conta que história é essa de "alguém que te enxergou"? -
Perguntei enquanto estávamos almoçando.
— Ai, amiga, pois é o Otávio e eu nos conhecemos a algum tempinho
quando ele deu entrada aqui com sua mãe e ficamos de papo alguns minutos
e terminamos trocando telefones e nada mais que isso.

— E como eu não fiquei sabendo disso?!


— Ah, você na época estava muito empenhada em reerguer o negócio
do seu pai e não era nada demais. Uma vez outra nos encontrávamos em
algum show, mas ele sempre estava acompanhado de belas mulheres e nunca
iria me dar bola.
— Para com isso. Você é linda!
— O fato é que começamos a ficar mais próximos e conversamos
muito por mensagens depois de tê-lo encontrado no restaurante, aquele que te
levei outro dia, e marcamos um encontro para ontem e o resto você já sabe. -
Disse animada.
— Fico feliz por você - disse com sinceridade.
Continuamos conversando e contei tudo que aconteceu e ela me
aconselhou tirar a Liv de casa. Sair e ir morar sozinha com a minha princesa
porque isso muito provavelmente pode prejudicar o psicológico da Lívia e de
fato só me fez enxergar algo que estava adiando. Eu tenho que tirar a Lívia de
lá, mas tenho que saber todos os aparatos legais para isso.

Cheguei a casa um pouco mais tarde do que o costume porque fui


pegar meu carro e quando entrei em casa meu sangue ferveu com a cena que
eu vi: A Liv pulando tentando pegar o biscoito que a Joyce segurava no alto
enquanto comia outro.
— Po favô me da. - Disse pulando.
— Não! Esse é meu e você está muito gorda para esta comendo
biscoito tem que fazer regime.
— Eu não sou golda e a mamãe compou pra mim. - Disse com a voz
de choro.

— Não vou dar e pronto seu monstrinho.


— O que está acontecendo aqui? Joyce isso é inacreditável!
Inadmissível! Ela é uma criança. - Disse tomando o pacote de sua mão e
dando a Liv.
— Mamãe, eu tava comendo e ela tomou de mim.
- Quer saber para mim já deu! Escuta aqui - fui até o armário e tirei
tudo que havia comprado para minha filha: biscoito, macarrões, salgadinhos
fui a geladeira peguei iogurte, achocolato e joguei em cima dela que estava
deitada no sofá fingindo que nada acontecia. - Isso tudo eu comprei para
Lívia, minha filha. Agora se você se acha no direito de fazer o que você
estava fazendo vai lá no mercado e compra tudo isso com seu dinheiro! -
Disse gritando - Não! Esqueci-me de você não tem dinheiro, nem emprego,
nem dignidade! - Minha vontade era abrir a boca dela e enfiar tudo de goela
abaixo, mas pensei na Liv e não quis impregnar uma memória com uma cena
dessas.
— O que está acontecendo aqui? Posso saber? - Minha mãe pergunta
entrando na sala.
— A Lucélia que está me humilhando só porque comi um biscoito da
menina. - Disse se fazendo de vítima.
— E você ainda se acha no papel da vítima. Você ainda consegue ir
ainda mais baixo. - Disse com desprezo.
— Pare com isso Lucélia era só um biscoito o que há de mal nisso?
Olhei incrédula para minha como ela ainda dava razão para Joyce?!
Nem ao menos esperou minha defesa ou procurou se compadecer da neta?
Meu Deus! Como ela deve ser negligente com a Lívia? Agora minha ficha
havia caído. Minha pequena sempre falava do mal humor da minha mãe para
com ela e eu sempre a encontrava suja ou com fome quando voltava do
trabalho.
— Vamos Lívia. - Peguei sua mão - Vamos sair daqui eu preciso
resolver uma situação que já deveria ter resolvido faz tempo.
Levei-a até a parcela do meu pai e fui em busca de informações de
como poderia tê-la como minha filha e encontrar um lugarzinho para nós.
Nunca mais vou permitir que a Lívia conviva com aquelas duas.
Capítulo 07

Estava no restaurante quando vi meu amigo-irmão passar pela porta


principal. O movimento estava relativamente bom embora ainda seja o meio
da semana. Estava um pouco cansado tinha vindo direto para cá após fechar
negócio com o Gabriel e seu pai. Como sempre mantinha uma roupa extra
aqui no escritório, tomei um banho e me senti um pouco mais à vontade para
enfrentar a noite.
Falei com a Ana ainda a pouco e o Lucca estava pedindo muito para
vir ficar comigo, mas aquele anjo que cuida da gente o convenceu de me
esperar em casa e fiquei mais aliviado. Não gosto muito de trazê-lo a noite
sempre acabo saindo tarde e isso atrapalha seu rendimento na escola como
também não gosto de o expor aos perigos da saída. Nunca se sabe em dias tão
violentos tudo pode acontecer. Neurose minha? Espera você ter alguém
totalmente dependente de você e a quem você ame com todas as forças. Então
saberás do que estou falando.
— Boa noite, meu brother! - Disse me cumprimentando o Otávio.
— Boa noite cara. Esta sumido? Ou está de rolo com alguma mulher
no mínimo.

— Calúnia! - Disse se fingindo de ofendido - eu quase não namoro e


nem vem que estava aqui outro dia.
— Verdade, menos a parte que você não namora.
— Cara, estou mesmo pensando em sossegar. Encontrar uma mulher
bacana e formar uma família.
— Quem é você?! Esse não é o Otávio que eu conheço desde sempre.
Mas fala aí marcou com ela aqui?
— Sim. Ela me pediu ajuda com uma amiga com problemas judicias e
vou ajudar. Ela daqui a pouco está chegando.
— Então, você aproveita e se ela valer a pena mesmo, investe. Você
merece cara. Agora vou lá na cozinha e ver se tudo está certo.
Sai de lá feliz com a novidade o Otávio, ele é filho da Ana, e fomos
criados como irmãos. Erámos sempre nos dois desde criança, aprontamos
todas na adolescência e até adultos. Entramos na faculdade no mesmo
período, onde cursou direito e eu administração. Amigos inseparáveis até a
mãe do Lucca aparecer, porém nunca perdemos o contato, mesmo que a
minha vida tenha passado de homem festeiro para pai solteiro.
Conferir tudo na cozinha mesmo que não precisasse, pois, o Davi a
comada muito bem e fui para meu escritório resolver o que de fato é de
minha responsabilidade. Passei um tempo por lá e resolvi dar uma ajudinha
no caixa. Não sei dizer se foi uma péssima decisão ou uma boa surpresa. Ela
estava de novo no meu restaurante e agora eu tinha a chance lhe falar, porém
senti um balde água fria quando percebi que a mulher da qual não consigo me
esquecer e frequentemente me proporcionou um dos melhores sonhos que já
tive estava sentada a mesa com o Otávio?! Não. Não pode ser ela a mulher
com quem ele está saindo. Será ela quem está mudando seu modo de vida?
Com certeza uma mulher linda como essa faz qualquer um mudar e mudar
para melhor só para poder merecer sua atenção.
Que ironia do destino quando finalmente encontro uma mulher que
me faz pensar em quer dá uma chance ao coração ela é a mulher do meu
irmão. Sentindo um aperto no peito ao ver ele acariciando sua mão sai o mais
rápido possível para fora do restaurante. Observá-los é muita tortura para
mim.

Deixei a Liv com meu pai na parcela, eu sei que lá as coisas são
bastante agitadas e minha pequena é super curiosa, mas não tinha a quem
recorrer. Sem dúvidas nenhuma a deixaria sob a responsabilidade daquelas
duas. Meu Deus, como fui cega, ingênua todo esse tempo. Os sinais estavam
na minha frente o tempo todo.
Eu sabia da desilusão que minha mãe nutria, mas para chegar a esse
ponto? Não. Isso é um absurdo. Sempre soube que minha mãe não era feliz,
vivia amargurada da vida, reclamava de tudo, nada a agradava, e a
implicância com meu pai era constante; seja por ele trabalhar muito tempo ou
por chegar sujo do trabalho em casa. Um homem que era da casa para o
trabalho do trabalho para casa, era simples, porém a honestidade era sua
maior qualidade. Só tinha uma coisa que ela fazia incondicionalmente que era
mimar a Joyce, desde que me lembro é assim, meu irmão nunca foi de
sentimentalismos e sempre vive à sua maneira rude de ser; era um homem de
poucas palavras, eu era a chata que só queria estudar e "ser alguém que não
era", nunca tinha seu apoio em nada; ao contrário do meu pai que sempre me
incentivou a buscar meus objetivos de maneira honesta e através do
estudo. Era nítido sua preferência pela Joyce, nunca a vi reclamar por nada
que ela fizera, até mesmo quando descobrimos a sua gravidez aos dezenove
anos.
Eu acreditava que a Liv sob sua proteção estaria a salvo das
atrocidades da Joyce, mas não. Ela só representava na minha frente. Quando
estava em casa era só amores e atenção pela menina, porém pelo que vi hoje a
Lívia fora muito negligenciada.
Cheguei a casa da Dany quase uma hora depois tive que parar na
estrada para poder respirar e chorar a dor de ser tão burra e ainda acreditar na
bondade humana. Alguns seres humanos são perversos só agem quando se
tem interesse, caso contrário nada faz pelo próximo. Por isso que minha
pequena é tão carente, quando ia trabalhar ela não tinha ninguém por ela, haja
vista que meu pai e o Gabriel passam o dia fora no cultivo da parcela.
Toquei a campainha e a dona Vanda me atendeu com um sorriso
sincero nos lábios.
— Minha menina, entre está tudo bem, minha querida? - Perguntou
preocupada.
— Não, mas vai ficar - respondi com sinceridade. - A Dany está?
— Sim, está no quarto. Sente-se que vou chama-la. Agradeci com um
aceno de cabeça e esperei.
— Lu o que aconteceu?!
— Eu preciso sair de casa e tirar a Liv de lá o mais rápido possível -
disse não segurando as lágrimas ao falar em voz alta aquilo que me afligia. -
Mas eu não sei como posso fazer isso legalmente.
— Calma. - Disse me puxando para um abraço - eu vou te ajudar.
Agora tenta se acalmar e juntas vamos encontrar uma solução. Está certo? -
Apenas confirmei com a cabeça.
— Tome minha filha, beba isso vai te acalmar. - Disse a dona Vanda
me entregando uma xícara com algum chá.
Acalmei-me um pouco e contei tudo que vinha acontecendo desde o
princípio, todos os absurdos e comportamentos da Liv em relação a tudo isso.

— Isso é a melhor coisa que você pode fazer minha filha. - Disse
dona Vanda com lágrimas nos olhos.
— Lu, já sei quem pode nos ajudar. Vou ligar para o Otávio ele é
advogado saberá nos orientar para você ter a guarda da Lívia.
Com a Dany era sempre assim: os problemas das suas amigas eram
sempre dela por isso sempre que falava, falava no plural se incluindo no
problema. Fiquei na sala com a sua mãe e ela saiu para conversar com seu
novo amor. Ela mal começou com ele e eu já estou lhe fazendo trazer
problemas para ele resolver.
— Pronto Lu falei com ele e vamos nos encontrar com ele as dezoito
e trinta naquele restaurante que fomos almoçar outro dia.
Não pude deixar de me lembrar daquele anjinho que encontrei por lá.
E sorri ao me lembrar dele.
Saímos logo depois para procurar uma casa em que eu pudesse alugar
e começar uma nova fase da minha vida e da minha bonequinha. Liguei para
meu pai e falei com o Gabriel e o deixei a par da situação, mas não pude falar
com meu pai porque estava mostrando as plantações para a netinha que não
parava de pedir para ver as "torneirinhas de chuva", nome que deu ao sistema
de irrigação de lá.
Vimos algumas casas, é eu decidi sai daquela cidade, até porque é
melhor encontrar uma casa que seja mais próxima do hospital e o melhor o
mais distante possível da Joyce. Como a Dany mora aqui desde que nasceu
conhece tudo por aqui, os melhores lugares, a vizinhança e também vai me
ajudar a escolher uma escolinha de qualidade para minha princesa.
Terminei gostando de uma casa que ela me falou que vagou agora a
pouco, é no bairro próximo ao dela e a localização é perfeita peguei o
telefone de contato exposto na casa e fiquei de ligar assim que resolver com o
advogado.
Chegamos ao restaurante e ele já estava os esperando. A Dany nos
apresentou e logo o deixei a par da minha situação. Ele se mostrou solidário a
causa e falou que iria me ajudar, mesmo que sua presença não fosse
necessária nesse caso, mas se "eu era amiga da sua garota também era ele".
Palavras dele e fiquei feliz pela Dany encontrar um cara bacana além de
muito bonito, diga-se de passagem. Tomara que dê tudo certo para eles. A
Dany merece o melhor que a vida pode lhe dar.
Depois de tudo esclarecido a Dany se retirou um momento para
atender uma ligação importante e fiquei conversando com ele.
—Lu, posso te chamar assim né? - Afirmei com um gesto - esse caso
é mais simples de se resolver - sorri aliviada - Você terá que ir ao conselho
tutelar da sua cidade e pedir a tutela da menor e explicar a situação em que
vive a menina e eles te darão a tutela provisória e marcarão uma visita a casa
dos seus pais para averiguar. Como você falou que sua irmã afirma não ter
interesse na menina e seu pai e irmão te apoiam. Tudo será mais rápido.
— Que bom! - Suspirei aliviada - amanhã mesmo vou no conselho
tutelar. Mas isso terá algum problema se eu mudar de cidade? Estou
pensando em me mudar para cá. Sabe ficar mais longe possível daquele
ambiente e está mais perto do meu trabalho.
— Nenhum. Você terá residência fixa e está disposta a dar o melhor
para a menina. Fiquei tranquila - passou a mão em cima da minha que estava
em cima da mesa como forma de me confortar - tudo dará certo. Já soube de
casos piores e tiveram êxito no final.
Sorri agradecendo e logo vi minha amiga voltando com um sorriso
nos lábios.

— Lu, o universo está a seu favor! Acabei de falar com minha mãe e
ela disse que a nossa vizinha conhece a dona daquela casa que você gostou e
ela falou que pode marcar com encontro com ela.
—Ai! Que bom Dany. Realmente adorei aquela casa ela parece ser
perfeita para minha bonequinha e eu começarmos uma nova vida.
— Pronto. Eu sabia que você ia aceitar e falei para minha mãe e pode
mandar marcar um encontro com a dona Ana para vocês acertarem o contrato
de aluguel.
— Espera. - O Otávio que até então só escutava a conversa sobre
casa, falou empolgado - a casa que vocês estão se referindo é uma do bairro
próximo daqui? Uma com um jardim bem cuidado na frente e de murro
branco baixo?
—Sim, é essa mesma. - Respondi com entusiasmo.
— Considere-se a mais nova locatária do imóvel, porque ela é de
minha mãe e sou o responsável pela realização do contrato.
Tem como não ficar satisfeita com a surpresa. Agradeci a Deus por
estar me colocando em contato com pessoas que podem me ajudar nesse
momento especial. E agradeci, lógico a Dany e o Otávio pela compreensão e
resolução dos problemas que achava ser maiores e seriam se não fosse a
ajuda deles.
Capítulo 08

Sabe aquela sensação de que você pensa que era melhor não ter saído
de casa no dia de hoje. É assim que estou me sentindo agora, apesar de que se
não tivesse saído de casa hoje não teria encontrado aquela esperta
princesinha. As pessoas costumam a só valorizar os grandes momentos na
vida e ignoram os pequenos e para falar a verdade, esses são os melhores.
Mas sinto que sai do paraíso e cai direto no inferno. Como explicar para meu
coração que aquela mulher é proibida para mim? Jamais atrapalharei a vida
do meu irmão, embora seja difícil conviver com ela quando ele nos
apresentar. E eu sei que isso mais cedo ou mais tarde irá acontecer.
Vou caminhando até o estacionamento tentando ao máximo respirar a
brisa da noite que por estar mais próximo das árvores ali plantadas se torna
mais agradável. Aproximei-me de um carro qualquer e me encostei olhando
para céu e a imagem dela no meu sonho estava viva na minha memória, cada
segundo dele era bom. Fiquei um tempo apenas olhando para o alto e
tentando ordenar minha cabeça quando escutei a voz do Otta, sempre o
chamei assim, bem próximo onde estava. Abaixei o olhar com medo de
encontrar a mulher do meu sonho, literalmente.

— Fala Gueguel! Não sabia que também cuidava da segurança do


estacionamento. - Disse fazendo graça. O Otta sendo Otta. Não respondi a
gracinha porque tinha uma certa pessoa que atraia minha total atenção.
E o que vi me fez confirmar a teoria que simples momentos são os
que marcam nossa vida. Ela estava vindo em minha direção linda com a
mesma leveza de que me lembrava da primeira vez que a vi e a sensação de
dejavú me acertou em cheio, parecia que meu sonho estava se realizando.
Desencostei-me rapidamente do carro dando um passo à frente
quando percebi que ela caminhava sozinha e olhei para o lado e vi meu irmão
com outra mulher de mãos dadas. Meu Deus não era ela a mulher por quem
ele está apaixonado. Eu não poderia ter melhor confirmação.
Quis ir até ela e viver o que aconteceu no meu sonho, mas estava
paralisado. Parecia que tinha enraizado naquele local.
—Querido, você o conhece? Estou começando a ficar com medo. Já é
segunda vez que nós vimos a esse restaurante e ele sempre está encostado no
nosso carro. - Escutei a voz, um pouco longe da mulher que acompanhava o
meu amigo.
— Então, cara, você está com algum problema você está pálido. -
Disse tocando meu ombro - não acredito um marmanjo desses... - começou a
rir. Estou escutando isso mesmo?!
— O que você disse? - Perguntei saindo do estado de hipnose que
aquela certa desconhecida me causou.
— Perguntei se você estava se sentindo mal. Estranhei o encontrar
aqui e a minha garota está com medo de você.
— Não. Estou bem. Bem melhor agora - disse sem segurar o sorriso
nos lábios e olhando para minha adorável desconhecida.

— Que bom cara. Bom essa é a mulher que te falei a Danyela -


cumprimentei-a com um aperto de mão- e essa é a Lucélia sua amiga.
Ela aproximou-se de mim estendendo a mão e confesso que não
resisti e aproximei-me mais dela e a beijei na bochecha. Senti o cheiro dos
seus cabelos e a maciez de sua pele. E me afastei devagar querendo o
máximo prolongar esse momento.
— Prazer, Miguel. - Disse olhando em seus olhos.

Sabe quando Deus manda anjos na face da terra para nos proteger,
guiar ou ajudar; pois sim, Ele me deu dois nesta noite e eu só tenho que
agradecer.
— Meus amores, agora tenho que ir. Vou deixar vocês se curtindo
mais à vontade e vou ficar com a minha princesa. Já passei muito tempo sem
ela.

— Que isso Lu. Você é muito especial para mim. Uma irmã mesmo e
você sempre poderá contar comigo. - Disse acarinhando minha mão.
— Lu, te conheço há poucas horas, mas já pude perceber que és uma
ótima pessoa e tenho certeza que serás uma boa mãe. Eu acho que também
devemos ir, princesa - disse olhando para Dany.
— Sim vamos.
Saímos do restaurante e estava muito confiante não via a hora de
abraçar minha pequeninha e dormir agarradinha a ela, mesmo numa cama de
solteiro. Nota mental: comprar uma cama bem grande para nos duas
dormirmos mais à vontade.

Quando me direcionei ao meu carro, como é bom dizer isso, vi que


tinha uma pessoa encostada nele. Não. Encostada não, praticamente deitada
com as costas apoiada na lateral e a cabeça no teto. A folga veio e ali ficou
como ele ousa ficar assim no meu carro novo!
O Otávio falou com ele, sim era um homem, e parecem que se
conhecem pela brincadeira que o namorado da minha amiga. Essa por sinal
está morrendo de medo porque... espera é o mesmo cara que encontramos
aqui nesse mesmo estacionamento! Meu coração bate descompassado. Meu
Deus como ele é bonito. "Que isso deu para reparar na beleza dos
desconhecidos" minha consciência me recrimina. E ela está certa. Sempre fui
inume a beleza masculina, na verdade não encontrei uma tão expressiva. Por
instantes fiquei presa aquele olhar até percebi um sorrisão direcionado para
mim. Sabe aqueles sorrisos que iluminam o olhar? Foi um desses e nunca me
senti tão bem como agora numa avaliação masculina.
De repente dei mais um passo, mesmo sem perceber estava
caminhando até ele como no sonho. Espera. O sonho! Ele está do mesmo
jeito que sonhei...
— E essa é a Lucélia sua amiga. - Despertei do encantamento causado
por aquele belo desconhecido.
Ao escutar meu nome estendi rapidamente minha mão para
cumprimenta-lo. Olha eu de novo que ousadia. Dando uma de atirada,
confesso-me culpada. Que cara lindo. "Ih! Agora ferrou. A senhora durona
está caidinha pelo bonitão". Afastei essa enxerida do pensamento quando
senti seu toque na minha mão. E era ainda melhor do que havia sonhado.
Via-me como uma adolescente que encontra o primeiro amor. Se
controla Lucélia, você já uma mulher! "E encalhada" lembrou-me a minha
consciência. "Mas não estou desesperada!" Respondi a mim mesma. E senti
um beijo macio e quente na minha bochecha.
"Como eu queria que esse beijo fosse igual ao sonho!" Pensei ao
escutar seu nome. Agora meu adorável desconhecido já não era tão
desconhecido assim.
Capítulo 09

Oi gente, meu nome é Lucca, eu sou o filho do Miguel. Isso vocês já


sabem né. Mas eu queria muito falar com vocês. Então eu pedi muito, muito e
vocês concordaram, então eu estou aqui e quero contar um segredo. Na
verdade, foi um anjinho que me contou num sonho. Mas eu estou muito
ansioso para encontrar a minha irmãzinha e minha mamãe.
Eu já não aguentava mais a minha tristeza. Todo mundo tem mamãe
só eu que não tenho. É sempre eu e meu papai Miguel, sem falar na Vó Ana
que trabalha na minha casa e cuida de mim quando o papai está no trabalho.
Tem a vó Teresa mamãe do meu pai, mas ela mora na casa dela em outro
bairro e vem nos ver quando pode. Ela não é carinhosa feito a vó Ana, mas eu
gosto dela. Foi ela que deu o Ted, meu cachorrinho.
Meu pai é dono de um restaurante que tem muita comida gostosa e
todo mundo fala que lá é bom e vai um muitão de gente. Eu gosto de lá mais
não é sempre que o papai deixa. É muito bom poder misturar coisas na
cozinha e sair uma comida bonita e cheirosa. O papai ainda não sabe, mas
quero ser igual ao tio Davi quando eu crescer e fazer muitas mágicas na
cozinha. O tio Davi sempre diz que ele é o bruxo das panelas, feito no Harry
Potter. Ele é um bruxo bom. Meu pai fez uma sala de jogos para mim lá, mas
eu gosto mesmo é ajudar na cozinha.
Outro dia estava no restaurante quando uma moça muito bonita veio
me ajudar, eu estava brincando na escada do restaurante e me encantei por
ela; não é assim que se fala quando a mulher é bem bonita? Mas eu caí no
chão. Só não bati a cabeça porque ela colocou a mão por baixo. Ela ficou
preocupada, olhou meu corpo todo e passou a mão nas minhas costas feito
uma mãe faz. Eu senti meu coração bater bem forte. Eu queria ter uma mãe
bonita, carinhosa, atenciosa como ela e meu coração chamou por ela para ser
minha mamãe. Queria muito chamar ela de mãe, mas não podia fazer isso e
sai correndo de lá sem falar nada. Mas depois meu coração ficou apertadinho
e fui procurar por ela. Estava com medo de nunca mais ver ela e me deixar
como minha mãe de verdade fez. Comemos nossa sobremesa, eu adivinhei
que ela gostava. Ela era atenciosa comigo e gostava de me ouvir falar, talvez
ela tenha achado que eu era mudo porque eu não falei nada lá fora. Eu
conversei com ela e sua amiga, mas esqueci de perguntar seu nome.
Hoje, estava com muita vontade de ir ao restaurante e ficar com o
papai. Eu tava com muita saudade dele. A gente sempre faz tudo juntos.
Meus amiguinhos na escola morrem de inveja, mas eu não ligo. Só o Vitor.
Ele é mau. Ele quer tomar o meu pai de mim e diz que eu não mereço o pai
que eu tenho e que quando sua mãe conquistar meu pai ele vai esquecer de
mim, porque ele, o Vitor, vai ser filho melhor que eu e meu pai vai gostar
mais dele.
— Vó Ana, me leva no restaurante.
— Meu coração - é assim que ela me chama. Ela diz que eu sou o
coração dela do lado de fora - seu pai hoje está muito ocupado lá e não vai
poder te dar atenção. Vamos deixar para outro dia.

Fiquei calado. Meu pai trabalha muito, mas quando eu posso ele deixa
eu ir.
— Mas eu queria ir. - Disse com a cabeça baixa.
— Lembra do que eu te falei sobre obedecer aos adultos?
— Lembro. Eu vou pro meu quarto. - Disse subindo as escadas.

Fiquei brincando com meus brinquedos no tapete azul fofinho que


tem lá e acabei dormindo.
— "Onde estou?" Pensei ao ver um lugar bem bonito. Era uma praça
tinha um lago com cisnes brancos, algumas pessoas fazendo piquenique e
muitas crianças correndo por todo lado.
— Oi, Lucca! - Disse uma menininha ao meu lado ela estava
brincando próximo de uma árvore e nem tinha visto.
— Oi, quem é você? Como sabe meu nome? - Perguntei assustado.
— Dã! Eu sou sua irmã. Você não sabia?!
— Eu não tenho irmã. Nem uma mãe eu tenho! - Dizer aquilo encheu
meus olhos de lágrimas, mas não vou chorar. Meninos não choram.
— Não fica tiste, não - disse me abraçando - eu também não tinha
mamãe, quer dizer - riu triste - eu tinha, mas ela não gostava de mim. Então
eu pedi a Papai do céu que ele me desse uma mamãe para me amar e Ele me
deu a tia Celinha. Se voxê é meu irmão ela também será sua mamãe.
— E se ela não gostar de mim? - Disse com esperança de ter uma
mãe pra mim.
— Não se pleocupa a titia é o anjo que cuida das clianças dodói. Ela
gosta de toda criança. E voxê é lindo. Ela vai se apaixonal pol você. Você vai
vê.
Sorri, será que Papai do céu vai me dar uma mamãe também e uma
irmãzinha?! Eu gostei dela.
— Espera! - Disse me levantando quando aquela menininha levantou
e saiu correndo. - Eu não sei se nome. - Gritei, mas ela não escutou.

Senti que estava me mexendo, espera eu estou sendo levado e estou


sentindo o cheiro do meu pai. Abri os olhos e vi ele me levando para cama.
— Dorme, campeão o papai já chegou e está tarde.
— Papai. - Disse fechando os olhos. - Eu sonhei que eu tinha uma
irmãzinha.
Ele ficou calado e depois disse:
— Eu também. Hoje desejei ter uma filha bem espertinha. Agora
durma meu pequeno.
Capítulo 10

Estava chegando ao Conselho tutelar da minha cidade com o Otávio,


sim ele mesmo. A Dany chegou lá em casa cedo com ele e ficou cuidando da
Liv para mim. Nem que eu use todos os obrigadas possíveis será suficiente
para a agradecer tudo que ela está fazendo por mim. A noite quando cheguei
minha pequena estava com o Gabriel brincando de casinha. Não aguentei e
comecei a rir da cena. Ele todo grande e forte, todo rústico se fingindo de
delicado para fazer a brincadeira mais real para minha menina. O agradeci
por ter ficado do seu lado o dia todo e não deixando a Joyce a ferir ainda
mais. Quando finalmente ela dormiu, comecei a arrumar minhas coisas e as
da Liv que ficam mesmo no meu quarto. Isso facilitou muito meu trabalho.
Queria que assim que saísse do conselho tutelar fosse direto para a minha
nova casa.
Hoje pela manhã bem cedo, conversei com o papai e o meu irmão e
eles disseram que iriam me ajudar no que fosse preciso. Eles só ficaram um
pouco tristes porque íamos sair da cidade, mas entenderam que era o melhor
a ser feito. Eu teria que mudar minha escala no hospital e fazer tudo para que
a adaptação da minha princesa seja mais rápida possível.

Fomos recebidos por um conselheiro que nos ouviu atentamente e


como sempre vivemos na mesma cidade e meu pai ser bastante conhecido por
aqui e de certa forma tudo mundo saber da vida de todos nessa cidade de
interior, se bem que a fama de minha irmã me ajudou um pouco. Bom o fato
é que sai de lá com a tutela provisória da minha sobrinha e consciente de
todos os meus deveres e o que a lei dizia perante minha situação, caso minha
irmã desistisse e quisesse a menina de volta.
— Que bom que deu tudo certo. - Disse num sussurro aliviado.
— Agora é só pegar suas coisas e conhecer sua casa nova. A Dany me
falou que você já está com tudo pronto.
— Sim. Ontem mesmo fiz minhas malas e as da Liv e só passarmos lá
e pegar minha princesa e nossas coisas. Já me despedi do meu pai e do meu
irmão hoje cedo.
— Vamos então?
— Vamos.

Chegamos e quando entrei no meu quarto vi que a Dany já tinha dado


banho e estava terminando de arrumar, minha princesa.
— Eu tô linda! - Dizia minha bonequinha se olhando no espelho -
obilada titia Dany. - Disse dando um beijo na minha amiga.
— Hum acho que fiquei com ciúmes. - Disse fazendo bico.
— Não fica não mamãezinha. Eu gosto dela, mas gosto mais de voxê.
- Disse me abraçando.
Beijei e abracei minha princesa, mas agora tinha que falar com ela
sobre nós mudarmos.

— Minha princesinha, eu tenho uma coisa muito importante para falar


com você. - Disse me sentando na cama para ficar na sua altura e olhar em
seus olhos. - Eu vim de um lugar...
— Eu já xei mamãe. A sehola foi no conseleiro para ele dizer que eu
sô sua filha. A titia já me dixe e já me deixô plonta pra gente ir. E ela me dixe
que a gente vai almoça no restaulante de um amigo da sehola com o tio
Olavio que é namolado dela. - Ela disse tão rápido e com naturalidade que me
surpreendeu.
— Obrigada minha amiga. - Disse segurando as mãos da minha amiga
- eu não sei o que seria de mim sem você.
— Por nada. Agora vamos que o meu namorado deve estar morrendo
de saudades de mim. - Disse com falsa modéstia.
Pegamos todas as malas e levamos para a sala onde o Otávio
prontamente nos ajudou a levar para o meu carro. Voltamos e a Joyce já
estava dando seu péssimo show, mas graças a Deus será o último.
— É piralha não vou te ver mais. Graças a Deus não terei que ver essa
sua cara de chorona.
Corri para dentro de casa quando escutei sua voz deixando as malas
que carregava no meio do caminho.
— Escuta aqui - peguei a mão de Liv para deixa-la mais próxima de
mim. - Você nunca mais vai ficar um minuto sequer no mesmo ambiente que
ela. A partir de agora eu tenho a tutela da Lívia e você nunca mais vai
maltrata-la.
— Bravo maninha - disse com sarcasmo - agora vai logo de uma vez
que você já passou do tempo de sair da casa dos pais sua solteirona mal-
amada, aliás, nunca amada. Você sempre será assim porque nenhum homem
vai quer ficar com você por causa dela. - Apontou para a Lívia.
Ignorei sua insignificância e me despedi da minha mãe.
— Tchau mãe. Eu tenho que ir agora. - Disse abraçando-a - qualquer
coisa me liga.
— Filha, você vai se mudar, mas vai continuar me ajudando com as
despesas...
— Pode deixar mãe - interrompi - vou continuar te ajudando no que
me for possível, embora a Joyce pode muito bem fazer isso também agora
que restará apenas ela de filha aqui em casa. - Disse provocando ela.
— Xau, vovó. Eu te amo e sentilei saudades. - Disse se agarrando nas
pernas da minha mãe que se abaixou e beijou sua testa.
— Eu também Lívia - disse seca.
— Vamos mamãezinha. - Disse pegando na minha mão - eu tô
ansioxa para ver minha casinha nova.
Chegamos ao restaurante minutos depois. Não estava sentindo fome
até estacionar o carro no estacionamento. E me lembrar do Miguel, o
desconhecido do estacionamento e frequentador dos meus sonhos. De repente
fiquei animada com a possibilidade de encontra-lo novamente. Agora que sei
que ele é dono daqui.
Tirei a Liv da cadeirinha e logo minha amiga se aproximou.
— Vamos entrar logo. Estou com muita fome.
— Vamos. - Disse passando a vista rapidamente pelo local.
— É mais fácil você a encontrar lá dentro. - Disse ela piscando para
mim.

— Nada a ver. - disse ao perceber que ela e o Otávio me viram


procurando.
Encontramos uma mesa e fizemos nossos pedidos todos estávamos
com muita fome. Olhei para minha pequena e ela tentava equilibrar seu garfo
com suas mãozinhas toda se achando a adulta.

Olhei mais uma vez para o caixa e nada de encontra-lo e


disfarçadamente tentava o encontrar. Continuava conversando, mas no meu
íntimo desejando escutar a sua voz novamente. "Será que hoje ele não veio?"
Pensava. "Para quem disse que não esperava encontrar um amor, você está
muito ansiosa para encontrar uma certa pessoa" minha consciência gosta de
me provocar.
— Amor, será que seu amigo não está no restaurante? - Perguntou a
Dany olhando para mim.
— Não sei, mas porque você está perguntando? - Falou com um
franzido enorme na testa.
— É porque tem alguém muito ansiosa para encontrar com ele
novamente. - Disse me saudando com seu copo.
— Ah! - Disse olhando para mim e abrindo um sorriso na certa
percebendo minha cor mudar. - Quando ele está na hora de pico sempre está
pelo salão. Acho que hoje não está por aqui.
— Não me olhem assim. Eu não disse nada. - Tomei um gole do meu
suco, de repente minha garganta ficou seca.
— E precisa dizer?! Está na sua cara. - Disse rindo.
— Mamãe, eles estão falando do seu namolado? - Perguntou atenta a
conversa. Que menininha ligada eu fui arrumar.

— Não, eu não tenho namorado. - Disse para ela.


— Ah xim poque eu já encontlei um plincipe para a sehola. Ele é
muito bonito e gotou de mim. - Disse bem à vontade.
— Sério que essa menina só tem três anos? - Perguntou a Dany. - Do
que ela está falando?
— Não faço a mínima ideia. - Disse olhando para ela que estava
sorrindo. É melhor não dar corda para essa espertinha.
Capítulo 11

Hoje não fui ao restaurante pela manhã. Levei meu mini mim à
escola. Fiz alguns depósitos no banco, fiz alguns pagamentos e quando estava
na hora de ir busca-lo fiquei na frente da escola esperando. Iriamos almoçar
com a minha mãe. Faz tempo que não nos vemos.
— Bom dia, sumido - escutei a voz e me virei para trás.
— Ah, bom dia Andreia. - Respondi educadamente.
— É impressão minha ou você está me ignorando todas as minhas
ligações. - Isso era verdade, mas não podia dizer na cara dura, mesmo não
sabendo quem deu o meu número a ela.
— Desculpa, mas é que ando um pouco ocupado com o restaurante. -
Disse meio sem jeito, não gosto de mentiras.
— Poderíamos trocar o jantar por um almoço e irmos hoje mesmo
com os meninos. O que você acha?
— Não vai dar eu já tenho um compromisso para o almoço, por isso
vim buscar meu filho hoje. - Justificativa demais. Repreendi-me.

— É uma pena. - Disse olhando para o lado e depois para mim - você
é sempre assim difícil?
— Papai!!! - Meu filho me salvou dessa. Suspirei aliviado.
— Campeão! - Baixei-me para ele subir nos meus braços - eu tenho
que ir - disse olhando para ela.
— Tchau! Eu te ligo para marcarmos alguma coisa.
Não respondi, apenas acenei com a cabeça sem saber o eu dizer. A
Andreia é bem insistente e não sei se gosto dessa pressão toda. E realmente
ela me liga muitas vezes por dia, mas ultimamente nem atendendo mais
estou. Esperava que se cansasse, mas vejo que me enganei.
Chegamos a casa onde fui criado e meu filho saiu correndo para
abraçar sua avó.
— Boa tarde vovó! Estava com saudades. - Disse meu filho
abraçando minha mãe que estava sentada numa poltrona.
— Eu também meu netinho, preferido. - Disse beijando sua bochecha.

— Mamãe. - Disse beijando sua cabeça - viemos almoçar com a


senhora. Está tudo bem? - Perguntei percebendo que ela mal se mexeu na
poltrona. Ela é sempre muito ativa. Estranho.
— Está meu querido, apenas cansaço. Já sou uma idosa e ando muito
cansada ultimamente.
Não deixei de ficar preocupado. Ela não é de se entregar a doenças. E
se está se entregando ao cansaço alguma coisa está acontecendo.
— Vamos, vamos para a mesa. Vou pedir para a Isa organizar tudo. -
Disse se levantando com um pouco de dificuldade e a ajudei.

— Mamãe, a senhora tem ido ao médico? Está tudo certo com a sua
saúde?
— Sim, meu filho. Apenas fiquei muito tempo sentada aqui.
Almoçamos ouvindo o Lucca falar sobre a sua escolinha e seus
amigos nela, do restaurante e uma mulher que encontrou por lá. E ele disse
que estava encantado por ela, palavras de dele. E achei isso interessante, meu
filho de cinco anos "encantado por uma mulher". "Se bem que ele não é o
único." Pensei na Lucélia a mulher que também encontrei no restaurante,
mais precisamente no estacionamento do restaurante.
Passamos parte da tarde juntos e fomos embora, mas antes fiz um
interrogatório com a Isa, a empregada que auxilia mamãe. E ela me garantiu
que a dona Teresa tem ido ao médico e que está tudo bem. Só sai de lá com a
garantia de que qualquer coisa que acontecesse ela me ligaria e viria
imediatamente. Poderia ser mais fácil se ela morasse comigo, mas isso está
fora de cogitação para ela. Ela não quer sair daqui de jeito nenhum e não quer
que eu volte a mora aqui por causa dela.

Cheguei ao restaurante, com Lucca, à noite. Não consegui deixa-lo


em casa e como amanhã é sábado permiti que viesse com a condição de que
ele não poderia ficar nem um minuto do lado de fora do restaurante. Depois
que me explicou a história da mulher misteriosa fiquei com mais medo ainda
e se ela fosse uma sequestradora? Eu não suportaria ficar sem meu menino.
Depois de algumas horas tralhando vejo o Otta entrando no
restaurante.
— Fala meu irmãozinho! - Digo me animando com a possibilidade de
encontrar uma certa pessoa.
— Fala Guegel! Como estão as coisas por aqui?
— Agora, mas calmo e você não acha que está muito tarde para sair
de casa? Olha que sua namorada vai pegar no seu pé. - Ele começou a rir.
— Eu vim de lá agora e a Dany não é assim neurótica. Bom assim
espero, mas vim de chamar para um churrasco amanhã lá em casa. Topa?
— Vem cá. Você não deveria está chamando sua namorada?

— Mas já chamei. Queria reunir alguns amigos. Fazer uma social.


— Eu não sei. Amanhã é sábado o movimento triplicado, você sabe e
tem o Lucca.
— Você já esteve em situações melhores. Recusando um churrasco?
— Eu tenho um filho agora, Otta.
— O que não impede de você sair um pouco e se divertir.
— Fica para próxima. - Digo sem muito interesse de sair.
— Nem se houve a possibilidade de encontrar uma certa mulher e
quem sabe fazer você sair desse casulo.

Escutar isso me deixou mais animado. Se ela vai eu também estarei


lá. Logo me animei em conhecer melhor essa mulher que vem me deixando
intrigado. Mas não queria demonstrar muito desespero.
— Eu não preciso de ninguém me arranjando um encontro. -Disse
fingindo contrariedade.
— Eu não estou arranjando nada cara. É só uma informaçãozinha
extra para te deixar mais animado. Te encontro lá. - E saiu sem me deixar
falar mais nada.
Capítulo 12

Sabe aquela satisfação que sentimos quando fazemos a coisa certa,


mesmo você se sentindo medo de que as coisas não deem certo como você
gostaria? Pois estou sentindo ela. Tenho plena convicção de que pegar a
tutela da Liv foi o melhor a se fazer, mas me mudar para outra cidade com
uma criança sozinha e com escalas de trabalho de 24 horas está me dando
medo.
— Pode parar, dona Lucélia!
— O que? Eu não disse nada! - a Dany parece saber o que há no meu
cérebro - você é enfermeira e não neuro-cirurgiã para saber do meu cérebro.
— Você dá conta. Não deixe o medo te vencer. O que você tem aqui-
apontou no meu coração - é suficiente para cuidar, proteger e amar aquela
princesinha - apontou para a Liv correndo pelo jardim da nossa casa nova.
— Obrigada. Obrigada por tudo que estas fazendo por mim. - Disse
abraçando-a.
— Mamãe, a sehola vai ficar aqui? O tio Olavio ta chamando para
conocer a casa nova. - Olhei para a porta e ele já tinha aberto a casa e nos
esperava.
— Não vai me dizer que desistiu do aluguel? - Perguntou da porta
— Não! De forma alguma. - Respondi rapidamente.
— Venha conhecer sua nova casa.
— Uau! Você não me falou que ela estava toda mobiliada? - Disse
com espanto.
— Essa casa é da minha mãe, como você já sabe, mas eu era quem
morava aqui. E como me mudei para uma casa maior recentemente deixei
mobiliada na vã esperança que a minha Ana tenha o seu próprio cantinho.
Embora saiba que ela nunca vai abandona-los.
— E não há risco de ela querer morar aqui um dia?
— Não. Definitivamente não. Minha mãe não se separa do seu neto
do coração e se mudar está fora de cogitação para ela.
— Mamãe, eu adolorei nossa casa nova. Vamos molar aqui né?

— Sim, bonequinha. - Disse me animando com a sua alegria.


Conheci toda casa que era pequena, mas bem dividida ideal para nos
duas. Tinha dois quartos, sendo uma suíte, sala de estar e jantar juntas e
cozinha americana, banheiro social, terraço, garagem e um lindo jardim. Era
perfeita. Confesso que com a casa toda mobiliada ajuda e muito meu trabalho
de mudança, pois não preciso comprar nenhum móvel, mas tem uma coisa
que desejo fazer muito.
— Liv, o que você acha de a gente sair e comprar algumas coisas para
decorar seu quarto? - perguntei depois dos meus amigos irem embora.
— Eba! Eu vou tel um qualto só pra mim?
— Vai sim e você e vamos decorá-lo do jeito que você quiser.
— Eu já sei do que eu quelo.- disse pulando - Eu quelo da Frozen.
— Tudo bem, que seja da Frozen. Amanhã vamos em busca disso.
Agora uma menininha muito esperta e sujinha vai ter que tomar um banho,
porque o mau cheiro estou sentindo daqui. - Disse dramatizando tampando o
nariz.
— Não sou eu não. - Disse correndo para fugir do banho.
*
Estava terminando de arrumar as nossas coisas, a Lívia estava deitada
no sofá assistindo desenhos depois de jantarmos quando meu celular tocou e
era a Dany.
— Já está com saudades de mim?
— Nem um pouco sua convencida. - Gargalhei com sua resposta. - O
que você está fazendo agora? Atrapalho?
— Não, você não me atrapalha. Estou colocando as coisas no lugar se
ficar adiando dá preguiça. Estou aproveitando que a Liv está grudada na
televisão.
— Bom, queria te fazer um convite. Na verdade, uma intimação.
— Lá vem bomba. Que tipo de convite? - tomara que não seja festas
por favor eu não sou muito fã de aglomerações.
— Um churrasco amanhã! E não aceito não como resposta.
— Ai, Dany, não sei...
— Sem desculpas, o Otávio e eu queremos muito sua presença.
— O Otávio?! Onde é esse churrasco?
— Na casa nova dele. Ele quer juntar uns amigos... - só em pensar em
amigos dele penso que posso encontrar o Miguel. Meu Deus é provável que
ele vá!
— Acho que vou declinar. Prometi a Liv que amanhã iremos comprar
as coisas do seu quarto da Frozen...
— Nada disso Lu! Já confirmei sua presença e você vai levar a minha
sobrinha também. O Otávio gostou muito dela e quer apresenta-la a sua mãe
que por sinal adora crianças e está com muita vontade de conhecer vocês
duas.
— E você já está íntima da sogra? - perguntei para lhe irritar. Sei do
seu medo de não agradar a sogra.
— Não tem como. Conheci-a hoje depois que sai da sua casa. Ela é
um amor. Você vai gostar dela, aliás, também sou uma nora muito boa viu.
— Sei - disse rindo desdenhando de sua falsa modéstia.
— Vou mandar o endereço por mensagem e espero você lá sem falta.
Até que pode ser uma boa ideia - pensei ao desligar o celular. Só de
pensar de encontrar o Miguel meu coração acelerou, não consigo controla-lo.
Capítulo 13

Acordei, fiz toda a minha higiene pessoal e da minha princesa que


estava mais do que animada para ir comprar sua cama da Frozen. Fiz nosso
café da manhã que consiste em sanduiche de queijo e suco de laranja e seu
famoso mingau de copo com farinha láctea. Arrumei-a com um conjuntinho
de short balonê e blusinha com várias florezinhas coloridas, tiara de
pedrinhas e sandalinha rasteirinha. Para mim, havia separado um short jeans
de lavagem clara, batinha branca e sandálias gladiadoras. Depois de prontas
peguei minha bolsa, uma bolsa adicional com algumas coisas de necessidade
básica para quem anda com crianças e meus óculos escuros. Optei por um
rabo de cabelo preso no alto da cabeça, maquiagem de leve, apenas para
ressaltar os olhos, batom clarinho e gostei do resultado. Estava me sentindo à
vontade e segura, mas ainda assim não conseguia desacelerar meu coração e
parecia saltar do peito.
Passamos em algumas lojas de móveis e não tínhamos achado a tal
cama já estava pensando em encomendar pela internet quando resolvi tentar
numa última loja com artigos para bebês e encontramos a cama. A
empolgação da minha menina era tão grande que comprei guarda-roupas,
papel de parede e luminária que parecia os flocos de neve, quando a lâmpada
fosse acesa ficaria bonito o efeito. Tive que parcelar em algumas vezes o
valor, mas o sorriso da Liv valia a pena. Ela sempre quis ter o quarto da
Frozen, mas como meu quarto na casa dos meus pais era pequeno mal cabia
uma cama, guarda-roupas e minha escrivaninha ficava difícil. No quarto da
Joyce tinha mais espaço, porém ela não queria nada da Liv por lá, nem o
berço que só fico por lá até enquanto a Liv mamava.
— Obilado mamãe! - Disse a Liv se jogando no meu colo enquanto
estava negociando a entrega para o mais depressa possível, pois a felicidade
da minha bonequinha tinha me contagiado e agora estava ansiosa para montar
seu quarto.
— Ela está muito empolgada - disse o atendente que olhava a Liv
admirada por um mostruário de quarto montado na loja.
— Muito! - respondi satisfeita por realizar mais um desejo do meu
presente de Deus.
Chegamos ao churrasco por volta do meio dia e havia muita
movimentação com várias pessoas, o som estava relativamente alto embora o
espaço de laser da casa do Otávio fosse enorme. Tinha uma piscina do lado
esquerdo, área com alguns brinquedos infantis?! E uma casa de primeiro
andar ao fundo aparentemente muito bonita.
— Chegaram! - O Otávio gritou para a Dany que ia saindo da casa.
— Oi, tio Olavio a mamãe complou meu quarto da Elza tem castelo e
escorregador. - Disse toda animada enquanto ele a pegava nos braços.
— É mesmo?! Fico feliz que você esteja feliz princesa. - Disse com
sinceridade.
— Vocês demoraram pensei que teria que ir te buscar a força. - Disse
a minha amiga me abraçando.
— Fomos comprar um quarto para minha Liv. Da Frozen.
— Let it go! - Cantou ela imitando a música.
— O que é isso? - Perguntou o Otávio sem entender nada do papo de
meninas da gente. - Quem é Elza?

— Eita, tio o sehor não sabe quem é a Elza? Ela e a Ana. - a Liv
começou a contar ao Otávio que atentamente escutava a história com ela
ainda nos braços entrando na área de laser e depois apresentando a todo
mundo sua nova sobrinha.
— Vem vamos entrar. Eu quero que conheças a dona Ana.
Acompanhei a minha amiga observando a Liv que estava toda à
vontade com as apresentações do seu tio Olavio.
— Dona Ana, está aqui é a minha amiga que alugou sua casa. - Disse
apontando para uma senhora aparentemente muito simpática. Sabe daquelas
pessoas que de cara você se sente acolhida.

— Muito prazer dona Ana. - Disse estendendo a mão para ela a qual
ignorou e me puxou para um abraço forte e acolhedor.
— Que bom te conhecer pessoalmente e como você é bonita Lucélia.
— Obrigada pela gentiliza. - Disse um pouco sem jeito pelo elogio.
— E onde está minha nova netinha, nos últimos dias tenho escutado
muito falar dela e de você também. - Disse bem simpatia. Gostei dela.
A Dany foi buscar a Liv enquanto fiquei conversando com a dona
Ana que falava sobre sua paixão por flores e de como sempre ia cuidar do
jardim da sua casa e entendi porque é tão bem cuidado.

— Mamãe. - A Liv entrou correndo na cozinha - eu tô com fome.


— Calma filha não precisa correr senão você vai acabar caindo e
fazendo dodói.
— Olha só. Você deve ser a Lívia? Acertei?
— Aceltô. - Disse me dando os braços. Peguei-a e coloquei num
banco da ilha da cozinha. - E como é o seu nome?
— Ana. Eu sou a mãe do Otávio. O que você quer comer? É só pedir
que o faço. - Disse com sinceridade. Deve ser dela que o Otávio herdou tanto
jeito com criança.
— Eu quelo arrozinho com carne, vovó Ana. - Disse na maior
naturalidade.
— Livia!
— Deixa Lucélia, adoro a espontaneidade das crianças. - é pra já
senhorita.

— Liv, a sehola pode me chamar de Liv. Agola é a sehola, a minha


mamãe e o plincipe que pode me chamar de Liv. - Era a segunda vez que ela
mencionava esse príncipe.
— Sinto-me lisonjeada minha netinha. - Disse pegando um prato para
servir a minha princesa.
Enquanto eu dava a comida da Lívia conversava com a vó Ana e cada
vez mais me encantava com ela falando do seu outro neto de coração, é a Liv
tinha conquistando-a de primeira com suas histórias de princesa e contando
da sua casa nova e do quarto da Frozen. E eu estava feliz por ela está se
adaptando a nossa nova vida e interagindo legal com pessoas novas. Ela
sempre foi retraída. Estava gostando da nova Lívia mais alegre.

Em poucos minutos a minha princesa se aninhou no meu colo e


acabou dormindo. Ela estava cansada do tanto que havia corrido pelas lojas
onde fomos e aqui também quando estava brincando no escorregador da área
externa da casa que agora sei que fora instalado para o afilhado do Otávio
para quando viesse visita-lo.
— Lucélia, você pode colocá-la num quarto para ela ficar mais à
vontade e você aproveitar mais o churrasco. Você quase não comeu nada. -
Disse o Otávio.
— Vem que eu te levo lá. - Disse a Dany ficando de pé.
Coloquei-a na cama e a protegi com travesseiros para o caso dela se
mexer. E desci com minha amiga que estava muito feliz com o seu namorado.
Não queria prende-la muito tempo aqui. Desci as escadas e dei de cara com a
mais bela visão de todas. Meu coração disparou ao vê-lo entrando pela casa
de bermuda na cor creme e camisa verde com os primeiros botões abertos e
mangas dobradas até o cotovelo e sapatênis. Se existe homem de uma beleza
mais expressiva que a dele não conheço. Aquela barba bem desenhada era um
charme dava vontade de acariciar o seu contorno com os dedos.
Parei no meio da sala sem saber para onde ir. Era inevitável eu estava
extremamente atraída por ele desde o primeiro dia que o vi. E só agora tinha
me dado conta disso. Esse tempo todo nunca havia me sentido assim. Aliás,
sempre me senti imune a certos charmes forçados com os quais me
encontrava, mas ele não tinha nada de forçado. Ele exalava beleza e
segurança parecia sair dos seus poros um magnetismo envolvente.
— Lucélia, que bom te encontrar aqui. - Disse me tirando das minhas
fantasias e me beijando nas bochechas bem próximo dos lábios. E como
desejei que me beijasse com aqueles beijos de tirar o fôlego que vejo na
televisão.
— Ah... oi Miguel. - E permaneci parada como se tivessem me
plantado ali. E sem consegui formular nenhuma frase coerente.
— Eu vim buscar um cop... - Parou um minuto - você está muito linda
se me permite o elogio.

— Obrigada - respondi sentindo minha pele queimar numa mistura de


excitação e vergonha. Que droga você está parecendo uma adolescente.
Repreendi-me.
Voltei para onde todos estavam porque não sabia como agir na frente
dele. O meu lado mais ousado deseja ficar com ele lá dentro e iniciar uma
conversa mais interessante, mas o meu outro lado tímido me fez fugir daquele
clima que havia se formado entre nós.
Sentei-me numa roda de conversa e me deixei levar pelo assunto, mas
com os olhos ávidos para encontra-lo.
— Por que você não ficou lá dentro com ele? - A Dany perguntou e
eu nem tinha visto que ela tinha saído da casa.
— Por q...por que eu fugi. - Falei de uma vez - ele faz me sentir
diferente. Eu não consigo raciocinar direito.
— Lu! Você devia deixar as coisas acontecerem. Está na cara que
você está atraída por ele. E ele é um gato que o Otávio não me ouça.
— Eu sei, mas eu não sei com agir. Eu sou uma tola não é mesmo?
Nem manter um clima eu sei.
— Não se recrimine por você ter sido reservada por tanto tempo. Eu
estou muito feliz que você enfim tenha encontrado alguém que faça seu
"coraçãozão" se apaixonar. Já era hora né?

Minha amiga disse brincando, mas ela tinha razão e eu que julgava as
pessoas que diziam se apaixonar à primeira vista. Como diz minha mãe
língua falou, o corpo pagou. Olhei para ele e mesmo falando com o Otávio
não tirava os olhos de mim e aquilo me deixava com uma sensação boa.
— Agora, espanta essa insegurança que ele está vindo para cá. Tenta
agir naturalmente e deixa as coisas fluírem. Eu bem que estava certa quando
vi o olhar que trocaram no estacionamento do restaurante.
— O que você quer dizer com isso?
— Digamos que eu e o Otávio resolvemos criar um ambiente para
dois corações solitários se encontrarem. - Olhei incrédula para ela.
— Mas...
— Mas nada. Eu te conheço muito bem e sei que ia arrumar de tudo
para se sabotar e o meu namorado também conhece o isolamento do seu
amigo e resolveu dar uma ajudinha. Agora vê se valoriza a trabalheira que
tivemos que fazer para juntar vocês dois. - Disse se levantando e me
deixando sem reação porque ele estava muito próximo de mim.
— Oi, vi que você não está bebendo nada resolvi te trazer caipirinha.
Você gosta?
— Sim - disse presa no olhar dele. Seus dedos tocaram os meus e meu
coração disparou ainda mais se é que isso é possível.
Observei-o atentamente e a cor dos seus olhos era linda, eram cor de
mel, mas quando a luz do sol batia a sua íris ficava verde. Ficamos um
olhando o outro como se quiséssemos nos gravar na memória.
— O Otávio me falou que precisou de orientação judicial.
— Foi, mas graças a ele e a Dany consegui dar andamento para
resolver um problema familiar. Ainda não chegamos numa decisão final,
porém consegui fazer o que era mais importante. - Enquanto falava pude
perceber seu olhar nos meus olhos. Aquilo era bom.
- Espero que consigas resolver definitivamente. - Disse enquanto eu
só conseguia olhar como seus lábios se mexiam a cada palavra pronunciada.
"isso é que dá ficar tanto tempo sem nunca ter provado o sabor de um beijo"
minha arque-consciência zombava de mim.
Ficamos conversando sobre o restaurante e de como conhecemos
nossos amigos em comum até que sai de lá para ver se a Liv já não tinha
acordado. Dei uma desculpa e sai em direção a casa. A festa estava muito
animada alguns casais dançando, agora música sertaneja, e todos estavam
concentrados na área externa. E entrei pela cozinha.
— Lucélia, espera. - Escutei aquela voz e paralisei
Senti sua mão tocar na minha e me virei. E ficamos muito próximos,
lembrei-me do meu primeiro sonho com ele. Ele me segurou pela cintura e
mão que estava na minha segurou minha nuca e senti um arrepio invadir meu
corpo. Aproximou-se dos meus lábios e disse:
— Desculpa, mas eu estou muito a fim de te beijar. - Disse e não me
deu chance de recuar. Começou suave, pude sentir a maciez dos seus lábios
prendendo no meu lábio inferior e depois aumentando a velocidade. Eu fui
me deixando levar pela sensação de medo e desejo e ao mesmo tempo
maravilhosa de ser beijada pela primeira vez e como todas as minhas
perspectivas sendo atendidas. Senti a ponta da sua língua pedindo passagem e
aquilo era bem melhor do que imaginei. Via-me envolta numa bolha onde só
existia a gente. Relaxei e me entreguei ao sentimento que despertara.
Esqueci-me de tudo e todos naquele momento até perceber que estava
sentindo falta de ar e relutantemente nos separamos.
Ficamos nos olhando por alguns segundos sem nos desgrudar
absorvendo toda energia que nos envolvia.
— Te vejo lá fora. - E saiu pela porta afora e eu subi as escadas sem
falar nada.

Entrei no quarto e vi que minha princesa ainda dormia do mesmo jeito


que a tinha deixado. Fiquei um pouco a observando e lembrando do beijo.
Meu primeiro beijo, cafona eu sei, ainda mais na minha idade, mas era a mais
pura realidade e não estava arrependida de ter esperado.
Desci alguns minutos depois com a vontade louca de sentir
novamente seus lábios. Sai pela sala que dava de frente ao "mini parque"
montado para o afilhado de Otávio e era uma pena que ele não tenha vindo,
pois sem dúvidas a Liv ia adorar ter companhia nas brincadeiras que a
deixaram tão exausta.
Aproximei-me de uma barraca infantil e vi o menino do restaurante
saindo dela. E me enchi de alegria. Ele estava todo homenzinho vestindo uma
bermuda jeans e uma camisa polo verde com o Hulk na frente e quando me
viu abriu um sorriso gigante e correu até mim. Abaixei-me e o abracei
sentindo a força com a qual me abraçava.
— Meu pequeno, senti tanta saudade de você. –Vi—me falando ainda
abraçada com ele.
— Eu também senti muito sua falta. - Disse dando ênfase no muito.
— Ainda não sei seu nome. Príncipe - disse e ele riu com um brilho
no olhar.
— Você me chamou de príncipe é engraçado.
— Você não gostou?! Prometo que só chamo pelo seu nome quando
você me disser qual é.
— Lucca. - Disse rapidamente - é que esse negócio de príncipe só as
meninas falam. - Disse olhando para o chão.
— Então, tá. E você gosta do Hulk. Ele é superforte. - Disse entrando
no universo infantil dele.
— É mesmo. Ele é meu super-herói favorito. Vem quero que você
conheça meu pai. - Disse me puxando.
— Não espera Lucca. Eu não sei se é uma boa ideia. - Disse pensando
no que a mãe dele diria ao ver ele querendo apresentar uma mulher ao pai
dele.
Ele me puxou pela mesma porta que havia saído há poucos minutos.
Quando vejo o Miguel descendo as escadas com a Liv nos braços com o
rostinho vermelho e pelo que via tinha chorado.
— Papai, essa é a ...
— Mamãe. - Disse a Liv estendendo os braços para mim. -
Interrompendo o Lucca.
— Ela é sua filha? /Ele é seu filho? -Perguntamos juntos.
Capítulo 14

Sai de casa por volta do meio dia com Lucca para irmos ao churrasco
do Otta e confesso que não via a hora de chegar e ver a Lucélia. A Ana havia
me pedido o dia de folga para ajudar no que fosse preciso na casa do filho e
isso ela nem precisava pedir. Ela é de muita valia na nossa vida e nossa
relação não é de patrão e empregada, ou melhor, nunca foi. Estava no
caminho, na realidade quase chegando à casa, quando o Davi me ligou
desesperado com o movimento e me falando que uma de nossas garçonetes
havia escorregado na cozinha e pelo o que parecia tinha quebrado o braço.
Rayssa não trabalhava aos sábados por causa de um curso que estava fazendo
e não era justo ligar nesse dia para nos socorrer. Por isso, dei meia volta e
segui para o restaurante prometendo ao Lucca que quando conseguisse
resolver tudo íamos ver seu padrinho.
Por ironia do destino não parava de chegar clientes e eu corria de um
lado para outro tentando atender a todos da melhor forma possível e a minha
ansiedade não estava ajudando em nada. Queria estar com ela agora, ter um
papo legal e conseguir alguns minutos de sua atenção, nos conhecermos
melhor. O fato é que só consegui chegar ao churrasco, depois das quatorze
horas, sai do restaurante quando o movimento já estava mais tranquilo e o
pessoal poderia dar conta do serviço com mais facilidade.
Cheguei e fui logo entrando sem fazer cerimônia e encontrei todos na
área perto da piscina.
— Olha só quem chegou se não é a noiva?! – Falou o Otta fazendo
graça – não te falaram que só as mulheres que atrasam e quando a festa é de
casamento. O que não é o caso.
— Desculpa, Otta problemas no restaurante. A Julia caiu na cozinha e
terminou quebrando o braço. – Isso já tinha sido confirmado depois da ida ao
hospital – já estava quase aqui quando me ligaram.
— Então, está perdoado. E espero que ela fique bem. E cadê meu
afilhado? – Disse fingindo não ver o Lucca ao meu lado.
— Tô aqui padrinho Otta.
— Oxe, cara nem te conheci! Estava esperando um menino menor e
menos forte. O que você anda comendo menino? Fermento?!

O Lucca se acabava de rir. E eu percorria com um olhar toda a área na


esperança de vê-la.
— Será que você vai caber nos brinquedos que comprei? – Escutei o
Otta falando se distanciando de mim e logo vi uma espécie de parque
particular feito para o meu Lucca. O Otta é demais sempre agradando o
afilhado. Não tinha como não ficar feliz vendo a alegria do meu filho.
— Oi, Miguel que bom que você chegou! Já estava preocupada –
disse a Ana se aproximando – aconteceu alguma coisa?
— Nada muito grave. Uma das garçonetes se acidentou e teve que ir
ao hospital e eu fui dar uma força no restaurante. – Disse ainda procurando
minha não mais desconhecida.
— Venha comer alguma coisa. O que você quer beber?
— Ih, desculpa! Eu te oferecendo bebida sem ter um copo por aqui. –
Disse olhando pela mesa onde estávamos próximos – eu vou buscar para
você.

— Não. Não precisa se incomodar. Eu mesmo busco. – Disse


segurando em seu braço. Quem sabe não consigo encontrá-la.
Entrei pelo acesso da cozinha, a casa do meu amigo foi projetada de
forma funcional de forma que a casa tenha acesso para área de laser tanto
pela sala quanto cozinha. Logo da porta da cozinha pude escutar a voz dela.
Aprecei o passo e cheguei à sala e a vi descendo a escada perfeitamente bela.
Com a charmosa leveza que me encanta. Seus cabelos quase marrons
estavam presos o que deixa em evidencia seu rosto perfeitamente desenhado,
seu olhar ficou no meu e meu coração errou uma batida. Ela parou no meio
da sala parecia estar sem saber o que fazer na minha presença e isso me
deixou motivado. É bom saber que também mexo com ela.

Por um impulso aproximei-me e a minha vontade era de agarra-la e


beijar profundamente aqueles lábios rosados. Nossa, nunca uma mulher
mexeu tanto comigo é uma mistura de curiosidade e encantamento, como
uma mulher linda dessa parece não se dar conta do seu poder de sedução.
— Lucélia, que bom te encontrar aqui – disse quando beijei seu rosto
e uma eletricidade percorreu meu corpo. Posso beija-la agora? Deixei meus
lábios bem próximos da lateral dos seus na esperança que ela virasse o rosto.
— Ah... oi Miguel. – Respondeu tentando pôr em ordem os
pensamentos?! Será ela desejou que a beijasse? Ou se assustou com a
proximidade?

— Eu vim buscar um cop... – Tentei me justificar mediante o


embaraço dela, mas a quem eu estou tentando enganar? Eu não preciso disso
– você está muito linda se me permite o elogio. – disse com sinceridade, na
realidade sem nem ao menos perceber que falei em voz alta o que pensei
desde a primeira vez que a vi.
— Obrigada – respondeu com um tom rosado nas bochechas. Gostei
dessa nova cor nela.
Ela resolveu sair da sala repentinamente e eu fiquei me sentindo um
adolescente por não deixar claro logo que ela me atrai e muito como há muito
tempo não acontecia. Miguel, sinceramente você está perdendo o jeito com
mulheres. Ralhou meu subconsciente.
Voltei para área de laser e encontrei o Otta de primeira.
— Então, cara conseguiu falar com ela? – O quê? O que ela está
querendo dizer?
— Anda me espionando?

— Tá tão óbvio assim? – Perguntei olhando para ela que conversava


com a Dany, porém mantinha o olhar em mim. – Ela é tão linda que chego
até ter medo de terminar me apegando e levar um fora depois. Ela não é um
tipo que se esquece fácil. – Desabafei.
— Você tá viajando. Se entrega, curte, aproveita, faz amizade e deixa
as coisas acontecerem. Você se cobra demais com o restaurante, com medo
de envolver o Lucca. Eu sei de tudo isso, mas acho que você irá se arrepender
mais ainda se não tentar. Não é sempre que um envolvimento desses
acontece.
— É verdade. Eu nunca vou saber se não tentar, mas tenho medo do
Lucca se apegar a ela como figura materna. Você sabe da carência dele por
uma mãe.
— Eu sei, porque você não pensa apenas em você nesse caso. – Olhei
para ele confuso – se dar uma chance. Não precisa envolver o Lucca agora.
Vocês se conhecem, vê se vale a pena e só então apresenta ao Lucca.
— Um namoro escondido. – Digo analisando a possibilidade – mas
será que ela vai querer quando souber do meu filho?
— Vai por mim, cara. Essa mulher ainda vai te surpreender. Aposto
que ela vai amar ele como se fosse seu próprio filho. – Disse dando tapinhas
no meu ombro.
— Dá licença que eu vou até lá. O máximo que pode acontecer é ficar
com o coração partido e se for só isso que ela poder me dar, eu aceito sofrer
depois.
Passei pela mesa que tinha algumas bebidas e peguei uma caipirinha
para gente, a Ana sabe fazer como ninguém. Espero que ela goste da bebida.
Cheguei perto dela e a Dany saiu rapidamente como lá na sala. É acho que
esses dois estão facilitando as coisas para gente. O que me faz duvidar se ela
quer mesmo ter alguma coisa comigo.
— Oi, vi que você não está bebendo nada resolvi te trazer caipirinha.
Você gosta? – Disse entregando a bebida.
— Sim – disse ela me olhando profundamente como se quisesse me
conhecer por dentro. Nossos dedos se tocaram e gostei disso, mesmo
acontecido sem ter tido intenção.
Observei-a atentamente, aliás, nos observamos e pude guardar os
traços de seu rosto que parecia um coração, seu queixo era mais estreito em
relação a testa, sua pele era lisinha, seus dentes muito brancos, o contorno de
seus lábios e o castanho dos olhos.

— O Otávio me falou que precisou de orientação judicial. – Falei me


mostrando interessado em ajudar se for preciso.
— Foi, mas graças a ele e a Dany consegui dar andamento para
resolver um problema familiar. Ainda não chegamos nunca decisão final,
porém consegui fazer o que era mais importante. – Enquanto falava me
perdia na sinceridade do seu olhar. Ele brilhava ao me falar como se fosse
algo muito importante para ela.
— Espero que consigas resolver definitivamente. – Disse olhando em
seus olhos e o que vi me deixou excitado. Ela acompanhava o movimento dos
meus lábios com o olhar. Percebi que não era algo forçado ou com teor
sexual. Senti como se aquele olhar pudesse tocar meus lábios e isso
estranhamente me fez me sentir bem.
Entramos numa conversa leve sobre o restaurante e nossos amigos,
mas de repente ela me deu uma desculpa e saiu entrando na casa.
Aquilo me deixou frustrado estávamos nos dando bem até então, mas
me sentindo motivado pelo seu olhar sincero fui atrás dela. Dessa vez não
vou deixar ela fugir de mim.
— Lucélia, espera. – Apressei-me em falar.
Toquei sua mão. Eu sentia a necessidade de um contato físico com ela
e nos aproximei como no sonho que tive com ela. "Ah, como queria realiza-lo
agora mesmo!" Pensei. Movido pela boa sensação do seu toque segurei-a pela
cintura e agarrei sua nuca. Havia um instinto feroz dentro de mim, mas eu
não quero assustá-la. Eu sinto que ela é muito tímida e isso me aguça ainda
mais. Senti sua respiração quente bem próxima de mim. Eu quero provar
desses lábios.
— Desculpa, mas eu estou muito a fim de te beijar. – Disse e não dei
chance de me rejeitar. Prendi seus lábios nos meus e os senti suaves,
passivos, entregues. E um desejo maior se apoderou de mim e a beijei com
cobiça enfeitiçado por aquele gosto inigualável. Provei de cada centímetro de
sua boca e de longe esse era o beijo mais marcante que já provei. Entramos
num mundo só nosso e aquela atração que sentíamos nos fez perder a noção
do tempo, nós separamos os lábios por falta de ar, apenas por isso.
Deixei-a ainda presa em meus braços e gostei de ver seus lábios
avermelhados e inchados, mas busquei o máximo de controle para não leva-la
para um lugar mais íntimo. Tenho que pensar no meu filho, não posso deixa-
lo sozinho e agir como se ele não dependesse de mim.
— Te vejo lá fora. – Disse saindo dali, pois não sei se consigo manter
meu controle por muito tempo em sua frente.
Busquei por ar e por meus pensamentos em ordem. E fiquei
observando meu Lucca brincando. Como um simples beijo pode me deixar
sem ao menos saber quem sou. Esqueci-me completamente de tudo.
— Ela é uma mulher muito especial. – Disse a Dany se aproximando
de mim.
— Eu sei. – Disse ainda saboreando o beijo na minha memória.
— Ela é uma espécie raríssima hoje em dia. Eu nunca vi minha amiga
sequer dando um segundo olhar para um homem. E olha que ela desperta
muitos olhares.
— E como sei disso. Ela não é do tipo que passa despercebida.
— E eu sei também que talvez nesse momento ela deve estar tentado
encontrar um jeito de fugir de você. Então, volta lá e faz ela desistir de se
sabotar. Ela merece muito ser feliz. – Disse com sinceridade.

Não esperei por mais nada. Dessa vez fui eu quem fugiu. Fugi dos
meus instintos e acabei a dispensando depois do melhor beijo da minha vida.
Corri até a cozinha e ela não estava lá. Olhei na sala, banheiro e nada. Só me
resta o piso superior. Fui me aproximando do corredor e escutei um choro de
criança?!
Segui o ruído e abri a porta do quarto e vi a Liv sentada na cama
chorando pela mãe. Corri até a cama e me ajoelhei-me na sua frente.
— Liv, minha princesinha, porque você está chorando? - Passei a mão
no seu rostinho e ela me reconheceu.
— Plincipe. – Disse entre soluços – eu quelo minha mamãe.
— Vem vou te levar até ela, mas você vai ter que me mostrar quem é.
Tá certo? – Ela balançou a cabeça esfregando o rosto.
Sai pelo corredor e já estava no meio da escada quando vi a Lucelia
de mãos dadas com o Lucca.
— Papai, essa é a ...
— Mamãe. – Disse a Liv estendendo os braços para ela. Não é
possível. A Liv é sua filha?
— Ela é sua filha? /Ele é seu filho? – Perguntamos juntos.
— Sim. – Ela respondeu pegando a Liv dos meus braços. – Oh, meu
amor eu fui lá ver você, mas ainda estava dormindo. – Ela falava com carinho
olhando sua menina.
— Eu pensei que a sehola tinha me deixado. – Disse começando a
chorar de novo apoiando a cabeça em seu ombro.
— Eu nunca vou deixar você. Olhe para mim – Lucélia falava com a
Liv nos braços envolvida num carinho tão bonito. Aquilo aumentou num
nível alto a admiração que tenho por ela – como vou deixar você se você é a
minha vida? Ãh? – Disse fazendo cócegas nela e a pequena já havia
esquecido.
— Papai, essa é a mulher que eu encontrei no restaurante. – Disse o
Lucca se aproximando de mim como se me contasse um segredo.
Observei a Lucélia o acompanhar com o olhar.
— Ela é a desconhecida, quer dizer, a sua amiga especial?
— Sim, papai é ela. – Disse rindo para a mulher que estava fazendo
meu coração reviver.
Capítulo 15

Depois do encontro nada comum entre duas pessoas que se sentem


atraídas uma pela outra e com a apresentação dos seus filhos. Ficamos um
bom tempo conversando e vendo os dois, o Lucca e a Liv, brincando como se
já se conhecessem há algum tempo. Criança tem uma facilidade de envolver.
E isso me dá medo. Não suportaria minha pequena pedindo a presença do
Lucca ou do seu pai. Pela primeira vez senti vontade de namorar. Pode
parecer loucura da minha parte, mas gosto muito dele e depois que senti seus
lábios, não consigo parar de pensar nele. Tinha vontade de provar novamente
seu beijo principalmente quando ele dava um jeito de me tocar nos braços ou
no ombro. Aquilo parecia natural e espontâneo, embora ele sempre olhasse
para o Lucca quando isso acontecia e ele nunca via. Quando a tarde estava
indo embora decidi que era a hora de irmos não queria a Liv ficasse no
sereno, mas por outro lado queria desfrutar mais da companhia de Miguel.
— Dany vou indo. - Disse quando minha amiga se aproximou com o
Otávio - Otávio foi muito bom conhecer sua casa, o churrasco foi delicioso;
mas preciso ir. - Disse sentindo o olhar de Miguel em mim.

— Eu que agradeço Lu e espero eu venha mais vezes e traga essa


princesinha linda. - Disse beijando a testa da Liv que estava ao meu lado.
— Eu te levo até em casa. - Disse o Miguel rapidamente.
— Não precisa eu vim de carro e eu não quero te atrapalhar. - Disse
gentilmente.
— Miguel, você já está indo? Você pode me levar? - Disse a dona
Ana se aproximando.
— Sim, acho que também está na hora de irmos não é campeão? -
Perguntou ao filho que me olhava com ternura e aquilo era bom.
— Então vou pegar minhas coisas. - Respondeu a dona Ana.
Peguei minha bolsa e a da Liv e me despedi de todos e me surpreendi
quando escutei a despedida da Liv com o Miguel.
— Tchau minha princesinha. - Disse abraçando ela.
— Xau, plincipe - e beijou seu rosto. - Faz cosquinha - disse passando
a mão na barba dele.
Foi então que a ficha caiu. Ele é o príncipe que a Liv tinha falado em
outras vezes?
— Vocês, já se conheciam? - Perguntei ao Miguel.
— Sim, na parcela do seu pai. E fiquei impressionado porque ela me
reconheceu imediatamente quando cheguei ao quarto.
Fiquei sem resposta. Ele é o príncipe que a Liv tinha escolhido para
ser meu namorado?! Ainda bem que ela soube escolher direitinho.
— Meu pequeno super-herói eu já vou. Deixa eu dar um beijo em
você. - Ele se jogou nos meus braços me apertando forte.
— A gente vai se ver de novo? - Perguntou ansioso.
— Acredito que sim. - Disse beijando sua bochecha e senti o olhar de
seu pai queimando em mim.
Sai de lá com um beijo bem próximo da minha boca como no início
do nosso encontro, completamente feliz e com o trocar de nossos números.
Ele ainda ficou para ajudar a Ana e leva-la para casa e eu segui meu caminho
para minha nova casa.
Passava das nove da noite quando recebi uma mensagem:
"Desejo-te uma boa noite de sono e que sonhes comigo.
Bj, muitos bj como o que trocamos hj.
Amei te ver."
Não demorou nem um minuto e já estava respondendo:
"Que sua noite seja repleta de sonhos bons e comigo te beijando
muito.
Amei te ver"

Repeti sua frase. Isso é novidade para mim, trocar mensagens com um
homem tão espontaneamente. Deixei o celular ao lado da cama e me virei
abraçando minha pequeninha e esperei o sono chegar pensando nele.
Acordei mais cedo deixei tudo providenciado: a bolsa da Liv com
roupa, comida, produtos de limpeza e brinquedos. Antes de ir para o meu
plantão vou passar na casa da Dany, a dona Vanda ficou de passar o dia com
a Liv hoje enquanto resolvo minha escala no hospital. Vou mudar, porque
não posso deixar a Liv vinte e quatro horas sozinha ou incomodando outras
pessoas.
Deixei-a ela na casa da dona Vanda e segui para o hospital. O dia
estava correndo tranquilo e eu agradecia por isso. Passei no departamento
pessoal no meio da manhã e consegui mudar minha escala para uma escala
diária a partir da terça , porque amanhã foi me dado folga por causa do meu
plantão de hoje, assim poderia ficar mais tempo com a minha Liv. Amanhã
mesmo vou encontrar uma escolinha para ela.
No meio da tarde fui visitar a ala de minha amiga, pois na minha
graças a Deus nenhuma criança havia dado entrada. Sempre terminava me
envolvendo com elas e acabava sofrendo um pouquinho. Quando cheguei
encontrei a Dany com muita paciência conversando com uma senhora que
dava medo só de ver sua cara dura, sabe aquelas pessoas que com o pesar dos
anos ficam mais carrancudas?
— Dona Teresa, a senhora tem que ficar com o braço paradinho para
não ferir a senhora. - Dizia minha amiga se controlando para não responder
de forma grosseira e pelo pouco que vi a senhora era intragável.
— Dany...
— Pronto chegou mais uma incompetente já disse que estou bem foi
só uma queda de pressão. Não preciso disso na minha veia! - Disse indicando
com o queixo o soro.
Nossa! Eu sei que o hospital não é o lugar que as pessoas gostam de
estar, mas tratar mal um enfermeiro ou qualquer outro funcionário é
inadmissível.
Olhei para minha amiga e vi que já estava perdendo o controle e
resolvi socorre-la.
— Dany, deixa eu te ajudar - disse pegando a agulha de sua mão. -
Ela suspirou e nem fez questão de não me passar o serviço.

— Largue-me sua enfermeirazinha, já disse que não vou tomar nada.


— Olha - respirei fundo para não ser grossa - a senhora tem duas
opções: a primeira é a senhora me deixar fazer meu trabalho sem ter que furar
todas as veias do seu braço ou a segunda que é a senhora espernear como
uma criança birrenta e terminar com o braço feito uma peneira e com o
acesso do soro mesmo contra sua vontade.

— Insolente! Esse hospital deveria ter aulas de como se tratar um


paciente. - Reclamou enquanto fazia o procedimento que foi um pouco difícil
porque sua veia era muito fina.
— Pronto, dona Teresa, já falei com seu filho e ele disse que está a
caminho.
— Isa, te falei para não ligar para ele, por que nunca me escuta?
— Jamais me perdoaria se o senhor Miguel descobrisse que a senhora
não se alimenta direito e que esta fraca por teimosia. Não quero perder meu
emprego. - Eu já ia saindo da sala de emergência quando escutei o nome
igual do homem que está fazendo minha vida mais colorida. Tomara que seja
só coincidência, ter uma sogra assim seria difícil.
— Ela já é conhecida na cidade. Sempre colocou as mulheres que se
interessam pelo filho para correr. Nenhuma consegue agradar a dona Teresa.
- Dizia a recepcionista a Dany que estava totalmente fora de controle.
— Deus me livre uma sogra dessas. Ainda bem que a minha é um
amor! - Disse a Dany suspirando.
— Vamos tomar com café, preciso conversar com você. - Disse com
um olhar pidão.
— Vai lá qualquer emergência eu te chamo. - Respondeu a
recepcionista.

Saímos dali e fomos para a copa.


— Fala. É sobre o Miguel e o beijão que ele te deu ontem?
— Como você sabe do beijo? - Perguntei incrédula. Será que ela
estava espionando?!
— Desculpa, amiga foi sem querer quando fui entrando na cozinha os
vi, mas sai rapidinho e vocês não me viram.
— Nossa, se eu soubesse que ele beijava tão bem não teria fugido
dele. Nem no sonho ele beijava assim.
— Como assim sonho?!
— Depois que o vi pela primeira vez que o vi no estacionamento,
sonhei com ele. - Confessei.
— Eu sabia! Eu tinha certeza que tinha mexido com você desde o
primeiro instante! - Disse se alegrando.
— E foi muita coincidência, porque adivinha quem é o príncipe que a
Liv anda falando? - Perguntei fazendo mistério.
— Mentira! Essa Liv é das minhas, mas me conta como eles já se
conheciam.
Comecei a contar toda a história que envolvia nossos filhos e da
conexão que tínhamos com eles mesmo sem nunca termos trocado uma
palavra, ou beijos. E agora, eu estava vendo tudo cor de rosa, azul, lilás,
amarelo... eu estava pela primeira vez me apaixonando e espero que seja
recíproco.
O restante do plantão passou como um borrão só pensava em quando
nos veríamos novamente. Esperei que ele me ligasse ou mandasse uma
mensagem, mas isso não aconteceu. Será que estou me precipitando?! Por
causa de um beijo? Será? E melhor deixar minha ansiedade e esperar. Se ele
tiver que ser meu, o destino fará com ele venha até mim.
Estava saindo do hospital e não via a hora de beijar e abraçar minha
Liv. Eu sei que sempre tive que ficar se vê-la por vinte e quatro horas a cada
dois dias, porém hoje foi diferente ainda bem que tudo já foi resolvido e
passarei mais tempo com ela.
Peguei minha princesa que já estava elétrica e enchendo a casa da
dona Vanda e seu André que estavam atentos a falação dela.
— Desculpa por qualquer coisa que essa espertinha tenha causado. -
Disse com sinceridade.
— Que isso menina! A Lívia é um amor e superesperta. Foi muito
bom passar o domingo com ela. - Disse seu André.
— Traga ela mais vezes. Faz tempo que não temos uma criança em
casa. Eu sempre quis ter mais filhos, mas infelizmente não pude. Agora só
tenho que esperar os netos chegarem. - Disse olhando para a Dany mandando
o sinal de que queria netos.
Passamos em casa tomei um banho e dei um em minha princesa.
Arrumei-a com uma calça legging estampadinha com fundo claro e uma
batinha que mais parecia um vestidinho liso, sapatilha e tiara de lacinho na
mesma cor. Estava parecendo uma mocinha. Vesti mesmo trajes normais de
calça jeans e blusa azul a cor que adorava me vestir com ela, sapatilha na
mesma cor que a da Liv. Na verdade, comprei iguais. Acho tão bonito mãe e
filha se vestirem com alguma peça igual.
— Ola mamãe, minha sapatila é igualzinha a da sehola!
— É filha. Vamos sair combinando como mãe filha. - Disse beijando
sua bochecha.
— E vamos pa onde? Eu vou ver o Luquinha?
— Não meu amor. Vamos a sua nova escola!
— Eba! Mas eu quelia blincar com o Luquinha tabem. - Eu sabia que
minha pequena iria se apegar ao menino. Eu também me apeguei. Desde a
primeira vez que o vi.
— Quem sabe outro dia. - Disse tentando persuadi-la.
Chegamos a escola e fui direto para a diretoria. Era uma das escolas
mais famosas da cidade e as crianças começavam cedo o maternalzinho até o
final do ensino fundamental, tinha aula pela manhã para os pequeninhos e
aulas adicionais como futebol, balé, pintura, patinação e com promessa de
aulas de ginastica artística a tarde. Recebi várias recomendações de colegas
do hospital e eu quero o melhor para minha bonequinha. Gostei do espaço e
da segurança. Falei com a diretora e ela matriculou minha menina dizendo
que poderia começar na manhã seguinte e como as aulas começaram a pouco
tempo ela não se prejudicaria.
Saímos da escola quando o horário da largada foi dado havia muitas
crianças transitando pelos corredores. Desviei de algumas e quando ia colocar
minha pequena nos braços escutei uma vozinha familiar chamando a Liv.
— Liiiiv!!!
Ela logo reconheceu e saiu dos meus braços correndo e abraçando o
Lucca. Não pude deixar de sentir emoção ao ver meus dois amores se dando
bem. Sim você leu direito, meus amores, sinto um amor tão grande por esse
menino desde aquele encontro no restaurante muito antes de conhecer seu
pai.

— Luquinha! Eu vô estuda nessa cola. - Não pude deixar de rir com a


sua empolgação.
Cheguei perto dele e recebi um abraço bem apertado.
— É verdade que a Liv vai estudar aqui?
— Sim. Ela começa amanhã.

— Eba! Vamos a vó Ana já deve estar me esperando.


Sai da escola com dois anjinhos, um de cada lado segurando minha
mão, e eu estava muito à vontade com aquilo. Apenas não esperava dar de
cara com um Miguel conversando com uma mulher que a ignorou quando me
viu saindo da escola.
— Papai, o senhor veio hoje! A Liv vai escutar aqui também. - Disse
correndo para o pai.
— Verdade?! Que boa notícia! - Disse olhando para mim.
— Papai, você vai para o restaurante? Posso convidar elas para
almoçar? - Perguntou no ouvido do Miguel, mas deu para escutar.
— Vocês já tem compromisso para o almoço? - Aquilo me deixou
feliz.
Capítulo 16

— Agora temos. - Disse rindo olhando para o Lucca. Com certeza ela
escutou o seu pedido.
Saímos da escola e a Liv estava de mãos dadas comigo e o Lucca
estava com a Lucélia. Na realidade isso era novidade porque ele nunca foi de
ficar tão à vontade com outras mulheres que se aproximavam de mim na
escola.

Chegamos ao restaurante nos nossos carros, mas o Lucca não quis vir
comigo e sim com a Lucélia. E eu pensando que me filho não se importaria
de me ver com uma namorada. Já posso apresenta-la como namorada, aliás,
como ele não iria gostar se ele a conheceu primeiro que eu.
— Plincipe, o Luquinha dixe que voxe é dono do restaulante. - Disse
com as mãos na cintura.
— É verdade, minha princesinha. - Disse pegando-a no colo. Ela era
tão esperta e eu adorava a sua espontaneidade
— Mamãe, ele é o amigo que a tia Dany falou? - Vi a Lucélia ficar
vermelha. O que será que ela falou de mim? - eu já vim aqui, mas nunca vi
voxe, plincipe. - É pelo visto além de espontânea é muito inteligente.
— Quando chegamos à cidade viemos almoçar aqui com a dany e
Otávio. Com certeza essa espertinha deve ter escutado da Dany falando de
você. - Respondeu a Lucélia, com vergonha. É bom saber que ela se
interessar por mim o tanto que me interesso por ela.
Entramos no restaurante como uma família e aquilo me deixou muito
feliz. O Lucca em nenhum momento se mostrou com ciúmes da Liv e dava
para imaginar como seria minha vida se ela me aceitasse em sua vida.
— Liv, vem quer conhecer minha sala de jogos? - Perguntou o Lucca
todo animado depois que cumprimentou todos.
— Posso mamãe?
— Pode filha, mas tenha cuidado! - Disse se abaixando e apertando o
seu narizinho afilado.
— Parece que eles se deram bem! - Falei colocando a mão na base da
sua coluna e a levando para meu escritório.

— Verdade. Fico feliz pelos dois. Tinha medo que a Liv não se
adaptasse numa cidade nova com pessoas novas. - Observa-a com ela falava
feliz da menina e isso me contagiou. Ela é uma mãe bem atenciosa e
amorosa.
Aproximei-me dela e a prendi entre minha mesa e o meu corpo,
coloquei a mão por baixo dos seus cabelos sedosos que a deixava ainda mais
bonita com eles soltos. Encarei seus lábios entreaberto e uma vontade lasciva
se despertou em mim. Queria muito beija-la e ao mesmo tempo observar cada
traço de sua beleza.
— Você vai me beijar agora? - Perguntou sussurrando olhando para
meus lábios e aquilo foi como um estopim. Beijei-a com sede. Gostaria de ter
feito isso desde que a vi saindo da escolinha como uma mãe que vai buscar
seus filhos na escola. Não se precisar quanto tempo ficamos assim. Foram
vários beijos, seus beijos eram diferentes um misto de provação e
inexperiência?! Não, inexperiência não, talvez timidez; ficamos nos beijando
até que escutei alguém bater na porta. Nos afastamos e fui abrir a porta. Isso
foi bom precisava me afastar dela um minutinho caso contrário não respondo
por mim.
— Miguel, o Davi- a Rayssa parou de falar e olhou séria para a
Lucélia - quer saber - suspirou - se você vai querer almoçar com o Lucca ou
se ele pode comer na cozinha.
— Não, diga que eu e a - olhei para aquela mulher encostada na
minha mesa - minha namorada e as crianças vamos almoçar na aérea
reservada hoje.
— Ok. - Se retirou olhando feio para a Lucélia que parecia alheia ao
olhar mortal da minha funcionária. Ela não pode agir assim. Vou ficar de
olho.
— Namorada?! Eu nunca fui pedida em namoro - falou com humor.
Como assim nunca foi perdida em namoro?! Ela já era mãe e o pai da
Liv? Quer saber isso não importa.
— Lucélia - disse me aproximando, pegando no seu rosto e nivelando
com o meu. - você aceita ser minha namorada, a minha companheira, minha
amante, minha mulher e com um mini-mim de bagagem? - Ela ria. E aquilo
que o pedido mais inusitado que já tinha feito. Na realidade nunca havia
pedido ninguém em namoro. - eu acho melhor você parar de rir porque eu
nunca fiz esse pedido na vida. E, sinceramente, não sei como fazer isso.

— Eu aceito, embora nos conhecemos há pouco tempo e tem a Liv...


Beijei seus lábios sugando seu lábio inferior. Ela riu e sei que ela
gosta quando faço isso.
— Você se incomoda por eu ter o Lucca?
— Não. Jamais- disse rápido - eu gosto muito dele. Ele tem algo me
puxa para ele. É como se algo nele me chamasse. Eu não sei como explicar -
ouvi e vi tanta sinceridade nela e fiquei feliz por ter encontrado essa mulher -
e eu não estou falando disso só porque estou na sua frente ou para lhe
conquistar.
— Sei. Dá para ver que ele te adora. Então se o meu filho não é
problema para você e a sua filha não é problema para mim. Não vejo o que
nos impeça de ficarmos juntos. - Beijamo-nos novamente agora com mais
sentimento. Agora como um casal oficialmente.
— Mas tenho medo. - Falou apoiando a cabeça no meu ombro.
— Eu também tenho. Você mexeu demais comigo e tenho medo que
você se canse de mim e de toda minha bagagem e deixe a mim e ao meu filho
na solidão. - Abri meu coração.
— Não tenho intenção de te magoar e principalmente magoar o
Lucca. Então vamos fazer assim. - Falou depois de um tempo - vamos evitar
dar esperanças aos nossos filhos.
— Vamos namorar escondido? Perguntei sem acreditar. Eu queria que
todo mundo soubesse que ela era minha. - Não sei se vou resistir ver você
mordendo seu lábio sem consegui beija-lo.
— Bobo, eu não mordo o lábio. E o que é mini-mim - perguntou
abrindo a porta.

— É como chamo o Lucca. Você não notou que ele é minha cara?! -
Perguntei incrédulo, pois todo mundo diz isso.
— Nossa! Como foi tola! - Disse ao sair do meu escritório - eu não
reparei, mas agora. É verdade ele é a sua cara. Eu estava tão envolvida pelo
carinho que senti por ele que nem me dei conta. Mas também isso não
importa porque gostei dele independentemente de você. Naquele dia na
escada quando nossos olhos se encontraram. Eu... eu senti... eu não se
explicar. - Disse me deixando para trás. Escutar isso me deixou mais seguro.
É meu filho também a conquistou.
Chegamos a mesa e os dois anjinhos já estavam sentados com cara de
que estavam aprontando.
— O que vocês estavam aprontando? - Lucélia perguntou logo de
cara.
— Nada, mamãe. - A Liv respondeu rápido aí tem alguma coisa.
— Lucca? - Perguntei ao meu que ficou vermelho quando falei.
- Nada papai. Eu tô com fome. - Estreitei os olhos para ele, mas não
disse nada. E fiz sinal para a Rayssa que nos olhava de longe.
— O que vocês vão querer? - a minha namorada perguntou.
— Macarronada!! - Os dois responderam ao mesmo tempo.
Ficamos ouvindo as aventuras dos dois na sala de jogos. Percebi que
meu filho não tira os olhos da Lucélia e prestava atenção em tudo que ela
fazia ou falava. Nossa refeição chegou e mais uma vez percebi como as
coisas eram naturais com ela. Ela era incrível, atenciosa com os meninos e
ainda por cima muito linda.
A Lucélia pegou um prato e serviu a Liv, mas antes teve a atenção de
cortar tudo em pequenos pedaços e eu fiquei abobalhado. Nunca tinha
presenciado uma cena tão mãe e filha.
— Lucca, você quer que te sirva também? - Perguntou diretamente
para meu filho.
— Quero. - Disse entregando o prato para ela.
E ela dedicou toda atenção e gentiliza ao que estava fazendo ao meu
filho assim como fez com a Liv sem distinção. Aquele era seu jeito natural e
estava adorando reconhecer isso.
Depois que almoçamos tive que ceder a insistência da Lu para deixa-
la ir, pois não queria atrapalhar meu trabalho, mas para meu espanto meu
filho não quis ficar no restaurante como sempre fazia.
— Deixa papai. - Pedia o Lucca mais uma vez enquanto a Lucélia
tinha ido levar a Liv ao banheiro.
— Meu filho, você pode atrapalhar a Lucélia. Você já ficou muito
tempo com a Liv.
— Deixa, por favor - disse juntando as mãozinhas - eu nunca tive uma
irmãzinha. Eu quero ficar com ela. - Irmãzinha?! Era assim que ele via a Liv?
— Filho... - eu não sabia o que dizer para convencê-lo do contrário
suas palavras me deixaram abalado.
— Por favor deixa. Eu juro que me comporto. Deixa?
— Mamãe deixa pol favolzinho. Voxê não quer ir Luquinha?
— Quero. - O Lucca responder de pronto e nem tinha visto elas se
aproximarem.
Olhei para a Lucélia sem saber como sair daquela saia justa na certa a
Liv também estava pedindo para o Lucca ir também. Ela olhou para o Lucca
que já estava com cara de choro.
— Você se não se importar por mim tudo bem. - Ele abriu um sorriso.
— Você tem certeza? - Perguntei dando chance de desisti o que vi em
seu olhar.
— Tenho. Quando você for para casa você busca ele. Pode trabalhar
sossegado.
— Tudo bem...
— Iupi!!! - os dois gritaram.
— Pode ficar tranquilo que qualquer coisa te deixo avisado. - e saiu
com os dois segurando em suas mãos. Nem tive tempo de me despedir como
gostaria.
Capítulo 17

— Não! - Assustei-me com o grito do Lucca - você está me levando


para casa? Você disse ao meu pai que eu podia ir para sua casa. - Falou com
tristeza. Ele realmente quer ficar conosco. Meu coração sorriu com a
constatação.
— Não meu anjinho. Eu trouxe você para minha casa. - Disse parando
o carro na frente de casa. - Aquela é a minha casa. - Disse apontando para a
casa.
Tirei os dois das suas respectivas cadeirinhas e vi o Lucca rindo.
— E aquela é a minha casa - disse apontando para a casa em frente a
minha.
— Voxê mola ali na flente?! - A Liv deu voz a meu espanto.
— Sim.
— Eba! Assim a gente pode ficar semple juntinhos maninho.
Maninho?! Como assim? O que eu perdi? Os dois já estão se tratando
como irmãos. Eles se conheceram ontem, literalmente. E eu o Miguel com
medo de irmos depressa e magoar os meninos.
Passamos a tarde brincando no jardim. Sim brincando, pois não
perderia por nada brincar com esses dois. Senti-me como uma mãe de
verdade. Foi bom. Fez-me voltar ao tempo de criança e também por que o
Lucca era um menino adorável. Estava impressionado pela criação que o
Miguel dava para ele e isso me deu curiosidade de saber sobre sua mãe. Por
que será que não vive com o filho. Será que morreu?
No final da tarde, já estavam demonstrando cansaço propus fazer um
lanche para os dois, mas só depois que tomassem um banho. Então liguei
para a dona Ana e pedi que ela me trouxesse uma muda de roupa para o
Lucca. Em poucos minutos os dois estavam limpos e cheirosos sentados no
sofá assistindo desenhos. Fiz pipoca com leite em pó que a Liv adora, mas
deixei uma parte reservada para o Lucca caso não gostasse. Ele nunca tinha
provado e gostou. Dei um pote para cada um e fiquei arrumando a cozinha.
Depois que terminei os dois ainda continuavam assistindo e me vi admirando
aqueles dois anjinhos deitados no tapete fofinho da sala e me senti realizada
com a nova guinada que minha vida deu.

Aproveitei a calmaria dos dois e fui tomar um banho. Em poucos


minutos voltei vestindo um short jeans e uma regatinha justa ao corpo.
Aproximei-me dos dois e estavam dormindo. Acho que toda aquela
brincadeira os deixou cansados. Passei as mãos nos cabelos do Lucca e ele
sorriu como se tivesse gostando do meu toque. Aquele menino era especial
para mim e não falo isso por causa do pai dele. Ele tem algo que me faz me
aproximar dele. Sei lá de querer protege-lo, de me fazer presente, de ama-lo.
Beijei sua testa e me virei para Liv toda encolhidinha deitada de lado e com
as mãozinhas juntinhas debaixo da rosto, como sempre fazia. Passei a mão
em seu rostinho. Aquela menina era minha vida.

Peguei o celular do bolso e tirei uma foto, queria eternizar aquela cena
para sempre e quando eles estivessem adultos mostraria como eram fofos. "já
está fazendo planos de 'para sempre juntos?' não faz nem vinte e quatro horas
que está namorando e já está fantasiando as coisas. Tenha cuidado" ralhava
minha consciência. O que eu posso fazer se não consigo parar de pensar nele,
no beijo dele. Meu namorado. Nunca imaginei pronunciar essa palavra.
Escutei a companhia tocar e fui atender e me deparei com o Miguel.
— O destino está sempre me surpreendendo. - Disse me abraçando -
você é minha vizinha. - Disse rindo.
— Pois é tomei com susto com um Lucca desesperado porque estava
o levando para casa.
— Sério?! E cadê eles? - Perguntou entrando na casa.
— Dormindo - apontei para a sala. - Acho que as pilhas acabaram.
Depois da nossa brincadeira no jardim. Você quer alguma coisa? Água, café,
um suco. - Disse ficando nervosa. Não me olhem assim! Quem nunca ficou
nervosa na primeira visita do namorado.
— Quero. - Disse vindo atrás de mim na cozinha - você - virou-me e
me deu um beijo daqueles que me faz perder todos os sentidos. Como era
bom. Meu namorado era um beijoqueiro e eu estava adorando isso.
— Você está linda! - Disse ao se separar dos meus lábios.
— Se eu soubesse que para te encontrar era só atravessar a rua tinha
vindo ontem mesmo roubar alguns beijos seus.
— Você não precisaria roubar. Era só pedir.
— É mesmo? Então me dá um beijo.
Pediu e nem precisava pedir. E pela primeira vez tomei a iniciativa e
gostei de explorar sua boca. Seus lábios macios, sua barba baixa provocava-
me, sua língua, suas mãos segurando minha nuca e cintura enquanto eu
segurava seus cabelos, minhas mãos tinham vida própria e eu aproveitei o
momento.
— Acho melhor você para de me provocar senão eu não respondo por
mim e nem por meu companheiro. - Ao ouvir isso algo em mim explodiu em
chamas e olhando para baixo vi do que ele estava falando e senti meu sangue
ferver.
— Adoro essa cor em você sabia? - Disse me provocando por causa
do meu rubor.
— Desculpa, essa não era minha intenção. - Tentei me explicar.
— Não se desculpe e eu sei que você não fez de propósito. Eu sei que
sou irresistível mesmo - disse me dando um selinho.
— Convencido. - Disse rindo da cara que fez - acho melhor prepara o
nosso jantar.

Fizemos nosso jantar, quer dizer eu fiz porque acabei descobrindo que
o meu namorado é extremamente desastrado na cozinha e totalmente
dependente nesse aspecto. Mas isso não impediu de trocarmos muitos beijos
e carinhos. Descobri que adoro suas mãos quando me segura forte.
Colocamos as crianças na minha cama para eles ficassem mais
confortáveis e jantamos juntinhos. Nosso primeiro jantar de namorados.
Capítulo 18

— Acorda campeão. Já está na hora de você ir para a escola. - Disse


ao meu filho que continuou dormindo na casa da Lu. Trouxe-o para sua cama
e ele nem se mexeu. Acho que a farra ontem à tarde deve ter sido boa.
— Cadê minha irmãzinha?! - Perguntou logo quando abriu os olhos.
— Ela está na casa dela e com certeza já deve estar pronta para ir à
escola.
— Eu já acordei papai. Vou tomar banho. - Disse pulando da cama -
eu tô com fome.
— Deve estar mesmo que você dormiu cedo e não jantou. - Disse
tirando seu pijama.
— É que eu fiquei cansado. Eu posso ficar com a Liv de novo?
— Não sei filho. - Respondi e observei a reação do meu filho que
passou de feliz para triste.
— Eu queria brincar com ela e a mamãe dela. Ela é tão legal. Ela
brincou com a gente e foi muito legal.

— Filho, você gostou da Lu? - Perguntei tentando avaliar sua reação.


— Gostei, papai. Ela é muito bonita e carinhosa. Ela fez pipoca com
leite para mim ontem. É uma delícia. E ela também é cheirosa e tem a mão
macia. Por que papai? - Disse disparado.
— Nada meu filho. Só queria saber se você gostou dela.
Depois de arruma-lo, descemos para tomarmos café da manhã e o
Lucca praticamente devorou tudo de uma vez.
— Vó Ana coloca mais uma maçã na minha lancheira.
— Coloco coração. -Respondeu prontamente com um sorriso nos
lábios.
— Você deve estar com fome mesmo por que está querendo mais
lanche e nem terminou de comer ainda. - Disse me divertindo com seu
apetite.
— Não, papai, a maça é para minha irmãzinha. Ela vai começar na
escola hoje e eu quero dar uma maçã de boas-vindas.

Escutar isso me fez feliz. Meu Lucca tem um bom coração. É puro e
está realmente levando a sério essa história de irmã. Se bem que eu não me
importaria de ter a Liv como filha.
Deixei-o na escola, mas confesso que senti vontade de ir na casa em
frente só para ver minha mais nova vizinha. Quase não acreditei quando o
Otta me falou que ela tinha alugado a casa.
Seguir para o restaurante, entretanto mandei uma mensagem para a Lu
desejando um bom dia de trabalho. Jantamos ontem à noite, conversamos,
mas não perguntei onde trabalhava. Era muito difícil pensar perto dela e
nossos beijos estavam me tirando de órbita. Nunca foi tão bom namorar no
sofá. Sua companhia é muito agradável.
Passava das dez da manhã quando meu telefone tocou:
— Bom dia, senhor Miguel? - Uma voz que não reconhecia falou.
— Sim, é ele. - Respondi com receio.
— Aqui é da escola do seu filho. Aconteceu um pequeno acidente
com o Lucca...
— O que aconteceu com meu filho? - Falei me assaltando sem deixar
ela continuar.
— Foi na hora do recreio, mas ele já foi levado para o hospital ...
— Obrigado por me informar. - Desliguei rapidamente.
Capítulo 19

Estava no hospital e aquilo estava me angustiando. Estava tudo muito


calmo por aqui e quando isso ocorre é porque algo de muito ruim vai
acontecer. Parecia superstição, mas sempre acontecia algo muito chato.
Pensar nisso faz minha espinha esfriar.
— Lu, você não acha que está tudo muito calmo por aqui? – A
Carmem, enfermeira que está de plantão hoje comigo perguntou.

— Até demais, uma ala infantil que não tenha uma criança com gripe
ou coisas do tipo?! – Falar isso em voz alta me dá medo.
Continuamos conversando sobre o último plantão quando meu
coração ficou apertado. Uma sensação ruim me atingiu. Será que aconteceu
algo com minha princesinha? Não, isso é coisa da minha cabeça. Acho que
fiquei nervosa com o seu primeiro dia de aula.
— Ajuda, por favor, me ajude! – Uma mulher entrou correndo no
hospital banhada de sangue com um menino nos braços.
— Venha, por aqui – disse correndo pela emergência.
— Lucca, meu bem acorda! Fala comigo meu amor – a mulher o
sacudia desesperada.
Olhei aquele menininho que passara a tarde comigo e que vem
habitando meu coração com um amor arrebatador. Ele estava desacordado,
com uma laceração no supercílio direito e provavelmente com a perninha
fraturada, pois estava muito inchada e ficando roxeada.

— O que aconteceu com ele? – Gritei em desespero. Meu coração


estava acelerado e não estava suportando vê-lo daquele jeito.
— E- eu não sei direito... eles estavam no recreio e quando soube
corri para lá e já o encontrei no chão. – Disse desesperada – os seus
amiguinhos disseram que foi uma briga. Me diz que ele vai ficar bem. Eu não
deveria ter deixado eles sozinhos.
Ouvi aquilo estava me deixando mais nervosa, como ela deixa as
crianças no recreio sem supervisão?! Estava já despejando toda minha raiva
nela quando o doutor Rodrigo chegou. Examinou-o, pediu alguns exames e
raio-x para confirmar a fratura de sua perna.
— Doutor por que ele está desacordado? Será que deveríamos fazer
uma tomografia por causa da pancada na cabeça? – Perguntei aflita.
— Vamos esperar mais um pouco. Ele não tem sinal de outra pancada
e ao que tudo indica ele só bateu com a testa. Vamos primeiro verificar a
fratura de sua perna e suturar esse ferimento.
— Lucca, meu anjinho, é a Lucélia. Você está me ouvindo acorda
meu amor. Eu vou cuidar de você viu? Não tenha medo. Eu vou estar sempre
com você. – Disse fazendo carinho nele.
Apliquei a anestesia para pontear seu ferimento e ele reclamou ainda
com os olhinhos fechados.

— Calma meu amor. Vai doer só um pouquinho, mas eu vou cuidar


de você. – Disse me abaixando em sua frente para me ver. – é a Lucélia, meu
anjinho, abre os olhinhos. Percebi que os deixa fechados talvez com medo de
se ver com tanto sangue.
— Celinha?! – Disse querendo chorar.

— Sou eu meu amor. Não chora deixa a tia Celinha cuidar de você? -
Ele abriu os olhos.
— Você parece um anjo vestida de branco. Você é médica? –
Perguntou enquanto fazia o procedimento.
— Não meu amor, sou enfermeira. Eu cuido das criancinhas que
veem aqui no hospital. E aquele é o doutor Rodrigo. Ele é que é o médico.
Terminei de fazer a sutura e o levei para os exames e já estava mais
aliviada por ele ter acordado.
— Mamãe, vai doer? – Perguntou aflito quando viu as máquinas. Ele
falou tão naturalmente a palavra mamãe. Eu me surpreendi e me alegrei com
aquilo. Como amo aquele garoto.
— Não, meu amor – disse segurando sua mãozinha – ela só vai tirar
uma foto de sua perninha para ver se está quebrada. Você não vai senti
nadinha. Eu prometo.
— Eu tenho medo. Muito medo.
— Eu vou ficar com você o tempo todo. Não tenha medo. – Disse
beijando sua bochecha.
Confirmamos que sua perninha havia quebrado mesmo e eu estava
inquieta como isso foi acontecer numa escolinha de crianças e depois de uma
briga? E por que ele se envolveu numa? Será que aquela é uma escola boa
para minha filha? E para o Lucca? Meu filho. Ele me chamou de mãe.
Mesmo sem saber que eu e seu pai estamos namorando. Ele estava sendo
sincero e gostei de ser chamada de mamãe por ele.
Fiquei ao seu lado como uma mãe que acompanha seu filho de
verdade. Segurei sua mãozinha o tempo todo enquanto o ortopedista colocava
o osso no lugar e engessava sua perninha.
— Pronto, campeão, agora você vai ficar aqui nesse quarto e ficar em
observação porque você bateu a cabeça e ficou desacordado precisamos saber
se você ficará bem. – Disse o Rodrigo.
— Mamãe, fica comigo. – de novo sentir meu coração se alegrar com
aquela palavra.
— Eu... eu – não sabia o que dizer. Queria muito ficar com ele, mas
aquele era o meu trabalho e não podia ficar exclusivamente apenas com um
paciente. Embora o movimento do hospital estivesse tranquilo.
— Fique – disse o Rodrigo – segurando minha mão e acariciando-a –
hoje está tranquilo e se aparecer outro paciente te chamo.
Quando ia responder escutei um furacão de voz grossa entrar na sala e
parar olhando para mim.
— Lucélia!
Capítulo 20

Voei para o hospital depois que soube que o Lucca tinha se


acidentado. Como meu filho tinha entrado numa briga? Meu filho é um
menino calmo, pacífico. Alguma coisa deve ter acontecido. Ainda vou
descobrir, mas preciso saber como ele estar.
Cheguei ao hospital e fui correndo para a recepção. Esse lugar me dá
arrepios. Nunca vou esquecer do inferno que passei aqui com meu pai. Não
suporto hospitais, médicos e enfermeiras que sempre têm um sorriso no rosto
como se esse lugar fosse o melhor lugar do mundo.
— Por favor, meu filho deu entrada aqui. Quero saber onde posso
encontra-lo.
— Senhor Miguel? - Perguntou a professora do Lucca. Ela estava
com muito sangue em sua roupa e havia sinal de que estava chorando. Ver
aquilo me bateu um desespero líquido em minhas veias.
— O que aconteceu com o meu filho? - Rosnei.
— Eu não vi o que aconteceu. Eu sinto muito. Eu sai um minutinho
da área de recreio e...

— Onde encontro meu filho nessa droga de lugar? Eu exijo saber


agora! - Falei voltando-me para a recepcionista.
— Acalme-se senhor.
— Calma?! Como posso me acalmar sem notícia do meu filho?
— Siga esse corredor e entre na segunda entrada a esquerda e
encontrará alguém para lhe indicar o quarto.
Fiz como ela orientou. E encontrei uma enfermeira que me respondeu
com um sorriso no rosto. Inacreditável isso. Meu filho está aqui, não tenho
notícia dele e ela fica sorrindo?!
— O meu filho, o nome dele é Lucca, sofreu um acidente na escola e
o trouxesseram para cá.
— Ah, sim ele está na sala de raio-x agora. Quando ele for para o
quarto lhe aviso. Sente-se um pouco daqui a pouco até exame terminar. - E o
sorriso ainda continua nos lábios.
Esperei alguns minutos e nada já estava ficando desesperado. Será
que foi grave? Por que a professora tinha tanto sangue na sua roupa? O que
aconteceu? Eu preciso saber! Eu sou o pai. Levantei-me num impulso e me
aproximei da enfermeira de novo. Ela estava numa espécie de posto de
reabastecimento de medicamentos.
— Senhor, já pode ir ao quarto do seu filho. É o terceiro a direita
nesse mesmo corredor.
— Obrigado. - Disse praticamente correndo.
Abri a porta de uma vez e dei de cara com um médico e uma
enfermeira. E meu coração gelou. Era ela.

— Lucélia! - Não acredito que é ela e quem é esse cara segurando sua
mão?
Medi-o com o olhar. Quem esse médico pensa que é para ficar com a
minha namorada assim?
— Miguel. - Respondeu se aproximando de mim. Enlacei sua cintura
e a puxei para um beijo rápido. Esse idiota precisa saber que ela não está
disponível.
— Sou o pai do Lucca e namorado da Lucélia. - Disse a última
informação com mais imposição.
— Com licença - olhou para ela. Provocando-me. Mas esse cara é
muito sem noção - fiquei Lu e se precisarmos de você eu te aviso. - Não
gostei desse doutorzinho.
— Miguel, está tudo bem? - Perguntou olhando para mim. Como está
tudo bem? O cara só faltou a comer com os olhos bem na minha frente.
— Com ele está? - Disse tentando disfarçar a minha raiva. O foco
agora é meu filho.
— Ele ficará em observação, porque chegou desacordado ao hospital.
Ele fraturou a perna e levou oito pontos no supercílio. O doutor Rodrigo
receitou alguns medicamentos para dor e logo ele estará dormindo.
— Papai... - disse ele me chamando e lutando contra o sono.
— Oi, meu filho eu estou aqui. - Disse abrandando minha voz e
beijando sua testa.
Olhei sua perna engessada e procurei por mais algum sinal de onde
pode ter saído tanto sangue.
— Eu vi a professora dele lá fora e ela estava com muito sangue na
roupa. Ele só tem esse corte?

— Sim - disse se aproximando - essa é uma região muito sensível e


com muito vasos sanguíneos por isso que sangra muito, mas eu cuidei dele
pessoalmente e fiz a sutura quando sarar quase não ficará com cicatriz.
— Obrigado - olhei para meu filho que já estava dormindo - por ter
cuidado dele. - Aproximei-me dela e segurei sua cintura - ver você aqui foi
uma boa surpresa. - Disse beijando -a.
Ela era como um conforto para o meu nervosismo naquele momento.
Fiquei muito traumatizado com a estadia de meu pai aqui nesse hospital e
prometi que não voltava mais aqui, mas em menos de três dias vim duas
vezes até aqui. Primeiro por causa da minha mãe que agora anda escondendo
as coisas de mim e não se alimentando direito, por isso passou a tarde do
domingo aqui e agora meu filho que tem a perna quebrada e alguns pontos na
cabeça.
— Eu preciso ir. - Disse saindo do meu abraço - eu sou enfermeira
desse hospital e preciso trabalhar. Mas volto depois. Você ficará bem?
— Não como ficaria com você, mas vá fazer seu trabalho. - Disse
beijando-a novamente. - Você tem muitos pacientes? - Perguntei curioso e
enciumado, quem não iria querer uma enfermeira como ela. Isso mexe com a
mente de muitos caras.
— Não, muitos. Mas eles sempre se alegram quando me veem. -
Disse rindo. - Eles dizem que sou a melhor e que gostam muito de mim
quando faço o carinho da cura.
— Como assim? O que você quer dizer com isso? - Perguntei sem
disfarçar meu ciúme.
— Seu bobo, os meus pacientes são crianças. Eu trabalho na ala
infantil. E eles gostam muito da tia Lu. - Disse se aproximando da porta.

Essa mulher quer acabar com meu juízo me provocando desse jeito.
Puxei-a e agarrei-a sem pudor.
— Está querendo me provocar? - Falei incitando-a
— Só um pouquinho. - Deu um selinho - você fica muito gato com
ciúmes. Agora tenho que ir.
Fiquei com meu filho, a minha namorada passou por aqui algumas
vezes e depois de longos minutos ele acordou. Chamando pela mãe. Era
sempre assim quando ele se sentia inseguro. Por mais que eu fizesse por ele,
ele sempre chamava pela mãe.
— Filho, eu estou aqui. Seu pai - disse passando a mão na sua testa
que estava muito quente. Isso não era normal.
— Chama a mamãe, papai - disse tentando abrir os olhinhos. - Está
doendo.
— Onde está doendo filho? - Perguntei entrando em desespero.
Definitivamente sou uma negação em hospitais.
— Na perna e a cabeça. - Colocou a mão sobre o curativo
Corri até a porta e gritei por ajuda. Logo a Lu veio ao meu pedido.
Chegou até o meu filho fazendo carinho dos seus cabelos.
— Mamãe, tá doendo. - Disse abrindo os olhos. - Surpreendi-me ao
escutar meu filho a chamando de mãe, mas a cumplicidade entre os dois era
quase palpável. Eu perdi alguma coisa?
— Diz onde está doendo que eu cuido de você, meu anjinho. - Disse
com carinho e ajeitando o travesseiro dele.
— Na cabeça e na perna - respondeu.
— Eu vou buscar o remedinho. Espera só um pouco.
— Não, fica comigo. - Disse querendo chorar.
— Cadê meu super-herói favorito? O meu incrível Huck? Fica aqui
com seu papai rapidinho eu volto. - E logo ele estava atendendo o seu pedido
e concordando com ela.
Ela saiu do quarto e regressou com os remédios que aplicou um soro.

— Pronto meu amor agora você não vai mais sentir dor e sua febre -
disse sentindo sua temperatura - vai passar logo. Isso aconteceu porque o
efeito do remédio que você tomou passou. Sua perninha vai doer de vez em
quando, mas vamos cuidar de você. - Disse olhando para mim no final como
se fosse para eu me acalmar também.
— Bem que a Liv disse que você é o anjo que cuida das crianças
dodói.
— É mesmo ela te falou isso? - Perguntei ao meu filho já me
recompondo do ataque de pânico que tive. Eu sou uma negação de pai em
hospital.
— Sim, antes de conhecer vocês. Ela me disse no sonho que éramos
irmãos e que a mamãe dela era um anjo que cuida de crianças e se chamava
tia Celinha. Eu me lembro do sonho todinho. - Estranho ele nunca me falou
desse sonho. Será que por isso ele a chama de irmã?
—Só ela que me chama de Celinha. Agora você também. - Disse
apertando o nariz do meu filho com carinho. - Sempre me chamam de Lucélia
ou Lu.
— Celinha é mais bonito mamãe. - Disse com muita naturalidade. Ela
sorriu e olhou para mim como esperando minha reação. Eu ainda não contei a
ela sobre a sua mãe biológica. Acho que espera minha aprovação sobre isso.

— Tudo bem. - Disse segurando seu ombro. - E você - perguntei ao


Lucca - já perguntou se pode chamar a Lucélia de mãe? Você precisa saber se
isso não a incomoda. - Falei querendo saber sua opinião em relação a isso. E
ver sua reação também, mal começamos a namorar e meu filho já vem com
esse peso para ela. Se bem que eu iria adorar que ela não se incomodasse.
— Tia Celinha, a senhora me deixa te chamar de mamãe? Eu nunca
tive uma mamãe. - Disse triste - A Liv já é minha irmãzinha. A senhora quer
ser minha mamãe?
Capítulo 21

Tem como não ficar emocionada com uma pergunta dessa? A tristeza
dele é latente e isso me golpeou forte. Um menino lindo desse tão novinho e
com essa carga toda por não ter uma mãe?! O que aconteceu com sua mãe
que nem ao menos a visita?
Eu já tinha me apaixonado por ele desde quando o vi no restaurante.
Mas é evidente que não podia sair gritando por aí. É logico que quero ser sua
mãe. Eu quero realizar seus sonhos, cuidar desse sofrimento,
independentemente do seu pai que é lindo e está me fazendo sentir o que
nunca imaginei sentir. E se esse anjinho me quer como mãe, não há nada que
eu possa fazer a não ser me tornar a melhor mãe do mundo para ele, porque
os mais sinceros pedidos não precisam de ensaios e preparação
simplesmente eles saem de nossa boca, do fundo da nossa alma.
— Você me fez te amar desde aquele dia que nos encontramos no
restaurante. Você lembra do que me disse? Você me falou que estava
esperando por mim. – Respirei fundo e continuei o olhando nos seus olhos –
ninguém nunca esperou por mim. O meu coração bateu bem forte quando
você falou comigo e eu fiquei triste por não saber quem você era – peguei em
sua mão – eu queria ter você por perto. Abraçar-te, te encher de beijinhos.
Quando te vi na casa do Otávio você veio até mim e me abraçou bem forte,
isso foi muito bom. Senti uma paz enorme dentro de mim- enxuguei uma
lágrima que ligeiramente correu no meu rosto - e é em nome dos sentimentos
que você me desperta que eu aceito ser sua mamãe. Deus me deu uma menina
e agora está me dando um menino. Meu super-herói, um anjinho que vai
alegrar meu coração e eu vou te amar a cada dia da minha vida. – Beijei bem
demorado sua testa e depois distribui vários beijinhos no seu rosto. Para
tentar disfarçar as lágrimas que estavam escapando dos meus olhos.
— O papai está chorando, mamãe. Não fica assim não papai. – Olhei
para trás e vi ele tentando disfarçar a emoção. - Eu amo o senhor do tamanho
do universo – disse abrindo os braços – e que agora eu tenho um papai, uma
mamãe e uma irmãzinha.
— Eu amo você meu filho. – Disse o abraçando. -Me desculpa. Me
desculpa.
Aproveitei e resolvi deixar os dois sozinhos. Eu me deixei me
envolver pela emoção e talvez tenha dado um passo muito longo aos olhos do
Miguel. Nós nunca falamos sobre a mãe do Lucca e nem cogitei em contar
toda a história com a Liv. Cada minuto com ele é tão bom que prefiro não
entrar em assuntos pesados. Eu sei que eles veem com o tempo e não quero
estragar nosso momento. O fato é que eu não me arrependo do que falei para
o Lucca, mas não estou com vontade de encarrar o Miguel agora.
Estava no corredor quando o ouvi me chamar. E esperei sem olhar
para trás.
— Espera Celinha. – Chamou-me pelo apelido que o filho me
chamou. – Você não pode fugir assim depois do que falou lá dentro.
Essas palavras me fizeram prender a respiração. Ele vai me criticar,
quem não me criticaria? Mas eu não me arrependo. É simples eu amo aquele
menino como filho. Ele quer ser meu filho!
— E-eu sinto muito você não ter gostado. É que ele sempre me
despertou meu lado maternal e independentemente de voc... – Calou-me com
um beijo cheio de sentimentos.

— Você é uma mulher incrível. Linda, carinhosa, amorosa, protetora


só tem um defeito de ser enfermeira, mas isso eu posso superar. – Disse rindo
e alternando entre beijos rápidos – o Lucca é um menino muito especial, mas
sofre muito com o abandono da mãe e você lhe deu o nunca consegui lhe dar.
Obrigado.
Soltei a respiração depressa. Ele não está com raiva de mim?!
— Eu fui sincera lá dentro. Eu não quero que penses que estou usando
seu filho...
— Eu sei. – Disse me abraçando forte. Dava para sentir sua tensão –
eu não era casado com a mãe dele. Ela era uma mulher que um dia encontrei,
começamos a sair algumas vezes e com um tempo passamos a namorar
quando ela engravidou. E essa foi a melhor notícia da minha vida. Quando
meu filho nasceu foi mágico e eu o amei desde quando o vi pela primeira vez.
— Eu sei como é isso. Senti amor pela Liv no seu nascimento e pelo
Lucca no restaurante. – Ainda nos seus braços.
— Um dia, quando o Lucca ainda era um bebezinho, ela me deixou
um bilhete dizendo que não havia nascido para ser mãe e nos abandonou.
Eu já estava chorando com aquela história e o abracei mais forte. Eu
sei como é difícil ter uma criança sofrendo pela mãe.
— Desde quando ele começou a entender que todo mundo tem uma
mãe e ele não tinha, ele começou a me pedi uma mãe para ele. Então, ele
começou a te chamar de mãe e eu fiquei assustado e com medo de ter que
decepcioná-lo mais uma vez. Por você achar que isso era precipitado. Nós
nunca falamos sobre os pais de nossos filhos.
Soltei-me do seu abraço e olhei em seus olhos.

— Tudo que falei para o Lucca é verdadeiro e a partir de hoje serei


uma mãe para ele assim como sou para a Liv, com todo amor e devoção que
só as mães tens. – Enxuguei uma lágrima que rolava do seu rosto e o vi fazer
o mesmo comigo. Aquela história mexeu com meu emocional. Não
conseguia ver uma criança sofrer por falta de amor de uma mãe - Obrigada
por me dar esse privilégio de tê-lo em minha vida. Vocês dois. Agora, eu
preciso voltar lá e abraçar meu filho com todo meu carinho, agora livre de
inseguranças, por que ele merece recuperar todo o tempo perdido. Ele merece
todo carinho por ter me esperado por tanto tempo.
Voltei ao quarto e fui recebida com um sorriso luminoso no rosto do
meu anjinho.

— Mamãe! – Disse estendendo as mãos para mim.


Era líquido e certo os nossos corações nos uniu. E ter a consciência
desse amor entre nós era inexplicável. Abracei-o.
— Agora, meu filho, a primeira coisa que vou fazer como sua mãe é
saber o que aconteceu de fato naquela escola. Pode me contar tudinho. –
Disse me sentando ao seu lado na cama.
Ele sorriu e olhou o pai se aproximando de nós ficando em pé ao meu
lado.
— Eu estava levando uma maçã para a Liv, de boas-vindas, né papai?
– Perguntou ao Miguel que confirmou com a cabeça. – Então o Vitor escutou
ela me chamando de "maninho" aí disse que eu era imprestável que não era
para a Liv gostar de mim porque ninguém gosta de mim que nem minha mãe
me queria. A Liv ficou com raiva e mandou ele parar. Ela é muito
pequenininha e enfrentou ele – lembrei da espontaneidade dela, mas nunca
pensei que fosse enfrentar um garoto pelo Lucca – aí o Vitor com raiva jogou
a maça dela longe e disse que ele era melhor que eu e que era para ela me
esquecer e puxou ela pelo braço para sair de perto de mim. Aí eu fui para
cima dele – disse fazendo gesto com as mãos e ele me empurrou em cima do
escorregador e eu tropecei, cai e senti minha cabeça doer e tudo foi ficando
escuro com umas estrelinhas até eu escutar sua voz mamãe.
— Lucca, o que eu te falei de falar com sua professora sobre qualquer
coisa, principalmente quando se tratar de briga? – Perguntou o Miguel.
— Eu sei, papai desculpa, mas a tia não tava lá e ele tava puxando a
Liv. Eu não podia deixar ele levar ela. Ela é minha irmãzinha e o Vitor é mal.
Eu já imaginava que algo do tipo tinha acontecido, mas ter a Liv
envolvida nisso é um choque, logo no seu primeiro dia de aula. Preciso
conversar com ela. Porém, o Lucca foi de uma lealdade para com a Liv, como
um irmão, contudo isso não pode acontecer.
— Lucca, eu entendo que você teve seus motivos, mas você não pode
agir dessa maneira. Olha só no que resultou sua valentia? Uma perna
quebrada e corte enorme na testa e com o Vitor? Não aconteceu nada. Não é
com violência que resolvemos nossos problemas.
— Eu prometo que não vou fazer mais isso, mas não fica com raiva
de mim, por favor. Papai diz para ela não ter raiva se não ela não vai mais
querer ser minha mãe. – Disse entrando em desespero.
— Eu nunca vou deixar de gostar de você, meu amor, mas você tem
que entender que violência só gera mais violência e você vai me prometer
que ficará bem longe desse Vitor e evitar confusões. Combinado?
— Combinado. – Disse mais aliviado– mamãe cadê a Liv? Ela deve
estar com medo do que aconteceu. Liga para ela. Eu quero dizer que eu estou
bem.
Meu Deus, que fofura. Ele ainda está preocupado com a sua
"irmãzinha" depois da briga.
Quando ia ligar para a Dany que ficou responsável de ir busca-la na
escola, Miguel atende o telefone.
— Okay, ela está aqui na minha frente. – Esperou um pouco - vou
passar para ela.
Capítulo 22

— Alô! - Atendi o telefone com a voz embargada sem nem ao menos


ver quem era.
— Miguel?! Você está bem? - Perguntou a Ana aflita do outro lado.
— Agora sim. - Afastei-me dos dois e do monopólio do Lucca sobre a
minha namorada - o Lucca se acidentou na escola e agora está no hospital.
Estamos esperando sua febre passar para irmos para casa.
— Eu sei, meu filho. - Era assim que me chamava desde criança e me
tinha um amor de mãe. É por isso também que sei reconhecer o amor que a
Lu dedica ao meu filho é igualzinho como o de Ana - a Liv chegou aqui
desesperada perguntando pelo seu maninho. A Dany ficou de pegar a menina
na escola e não conseguiu acalma-la. Eu tentei distrai-la, mas a Teresa veio
aqui e a encontrou...
— O que aconteceu Ana? Eu te conheço. O que minha mãe aprontou
dessa vez? - Perguntei imaginando o pior porque a dona Teresa é osso duro
de roer.
— Digamos que a menina disse umas verdades a ela e isso,
obviamente, não a agradou muito.
— Muito obrigado por me avisar. Eu preciso conversar com minha
mãe e falar da Lucélia.
— Acho bom mesmo, mas conversa com a sua namorada também e
não esconda nada. - Alertou-me. - Agora, está por perto dela? Porque a Liv
não sossega se não falar com a mamãe que cuida das criancinhas dodóis. -
Disse rindo.
— Ela está aqui na minha frente.
Observei o carinho com o qual falava com a filha e a deixava a par da
situação do Lucca. Ver aquela mulher encantadora toda dedicada em dar
carinho, amor ao meu filho estava sendo muito gratificante.
O Lucca recebeu alta por volta das treze horas e voltamos nos três
para casa, pois o plantão da Celinha, gostei de chama-la assim, tinha acabado.
Ela me explicou que precisou trocar seus horários para ter mais condições de
cuidar da filha.

Chegamos à casa e nos deparamos com a Liv ainda mais serelepe e


quando viu o Lucca ficou cheia de cuidados e mimos parecia adulto aquela
menininha era muito fofa.
Organizamos tudo para acomoda-lo da melhor forma possível. A Liv
ficou comigo e em seu trabalho de mini enfermeira enquanto a Celinha foi
receber alguns móveis para o quarto da Liv. Nem ter o seu quarto da Frozen a
fez sair de perto do seu maninho.
— Liv, vamos para casa? - Perguntou a Celinha quando já era quase a
noite.
— A não mamãe. Eu não poxo dexar o meu maninho soxinho. Ele tá
dodói.
— Mas você já ficou a tarde inteira com ele. E ele também precisa
descansar. Você fica toda animada perto dele e ele não pode brincar como
você quer.
— Eu xei mamãe, mas eu poxo convesá. - Argumentou ligeira.
— Você precisa tomar um banho, jantar e dormir.
Logo fez um biquinho lindo e ficou triste num canto. Olhei para meu
filho que também murchou com a notícia. Deu até pena deles. Eles estávamos
se divertindo.
— Deixa eles um pouco mais, Cely. - Gostei desse apelido, único para
mim e sem falar que achei simples e sexy. -Você poderia pegar as roupas dela
e lhe dar banho aqui e jantamos todos juntos. - Disse me aproximando com o
meu melhor tom afinal eu também quero mais da presença dela.
— É mamãe deixa. - Pediu o Lucca.
— Tá vendo? É só a senhola atlavessar a rua! - Disse a Liv
encolhendo os ombros e fazendo a melhor cara meiga que já vi.
— Tá bom. Vocês venceram, mas não vão se acostumando. - Disse
vencida.
Acompanhei-a até sua casa e deixei as crianças com a Ana que
facilitou meu objetivo de ficar um pouco sozinho com a minha namorada.
Chegamos ao quarto da Liv e logo fui reverenciando sua boca e a
beijando com saudades. Seu beijo era viciante e passei várias horas tentando
evitar beija-la na frente do meu pequeno.
Dei alguns passos à frente com ela ainda sob meus lábios até
chegarmos a parede. Segurei uma de suas mãos e coloquei-a junto com a
minha nas costas enquanto minha outra mão livre passeava pelo seu corpo.
Embriagado com o desejo que ela me desperta entrei por baixo de sua blusa e
percebi um leve estremecer de sua pele macia. Subindo mais um pouco
toquei o tecido do seu sutiã segurando um dos seus seios perfeitos, durinhos e
do tamanho ideal das minhas mãos. Suguei seu lábio inferior tentando
recuperar o fôlego. Ela era o combustível para incendiar cada partícula do
meu corpo e eu estava ainda mais desejoso de tê-la em meus braços e aplacar
meu desejo. Olhei-a novamente e a mesma tentava junto comigo se recuperar.
Tornamos a nos beijar e faltava pouco para não responder por mim.
Continuei com o reconhecimento do seu corpo e desci mais um pouco minha
mão pelas suas costas ao mesmo tempo que deixava meu corpo ainda mais
próximo ao dela.
— Acho melhor voltarmos a sua casa. - Disse num sussurro enquanto
beijava seu pescoço.
— A Ana ficou com elas. Vamos aproveitar mais um pouco. - Falei
com a testa encostada na dela e a retornando nosso beijo.

— É sério! Acho melhor voltarmos. - Disse ficando nervosa. Será que


ela não está curtindo?! Ela está fugindo de mim.
— Você não está gostando? - Falei com medo de estar forçando a
barra e de levar um fora.
— Não é isso... apenas vamos com calma.
Capítulo 23

Estava na frente da escola esperando a Liv largar. Sim, isso mesmo


fiquei responsável por ela hoje, já que foi o único jeito de convencê-la ir à
escola depois do que aconteceu ontem. Prometi que a pegaria e levaria para
minha casa para "cuidar" do Lucca. Se bem que isso para mim não é
sacrifício nenhum. Eu adoro aquela espertinha.
— Oi, Miguel, queria mesmo falar com você. – Disse a Andreia se
aproximando.
— Pode falar. – Respondi sem que aconteceu com o Lucca.
— Eu queria pedi desculpas pelo Vitor. Soube que o Lucca e ele
discutiram ontem.
—Discutiram?! O Vitor empurrou o Lucca que agora está com vários
pontos na testa e com a perna quebrada. – Falei ríspido pelo fato dela levar
essa situação como se não fosse nada demais. – E por qual motivo? Por pura
implicância com meu filho.
— Eu não sabia que tinha sido tão grave, mas crianças sempre
brigam. Isso é normal. O Vitor sofre muito por não ter um pai presente...

— Normal?! – Interrompi- a - Você precisa educar seu filho e não


passar a mão na cabeça dele todas as vezes que ele errar.
Não estava conseguindo me controlar em sua frente. Ela estava me
dando asco. Além de não dar a mínima pelo ocorrido ainda fica tentando me
seduzir com esses olhares e gestos. Sempre foi educado com as mulheres,
mas minha vontade é dizer umas boas verdades para ela.
— Plincipe! – A Liv atraiu minha atenção.
— Oi, meu bem- disse me abaixando e pegando-a no colo.
— Sai do colo dele. Ele não é seu pai! – Disse o Vitor gritando perto
da gente.
— Não fala comigo. Voxê é mal. O Luquinha tá dodói pol sua causa.
Eu nunca tinha reparado, mas esse menino o que tinha de pequeno
tinha de perverso. Ele sabia o que dizia. Isso só fez meu alerta ficar ainda
mais ligado. Bem que o meu filho falou que ele era ruim.
— Você é outra que não tem pai e quer roubar o pai dele. Sua
pirralha! – Olhei para o menino e depois para sua mãe que até agora não dizia
nada. Levantei uma sobrancelha me perguntando quando ela fará alguma
coisa.
— Filho, que modos são esses? – Disse alisando o cabelo dele e com
a voz suave.
— É ela mamãe a menina que falei que me xingou e quis me bater
ontem. – Disse fazendo manha.
— Então, você foi a responsável por toda aquela confusão garota? –
Disse intimidando a Liv que se encolheu meus braços. Sem acreditar no que
meus olhos estavam vendo resolvi não dar mais atenção aquela dupla.

— Vamos minha princesinha. O Lucca está nos esperando e eu tenho


uma surpresa para você. E você Andreia ver se não fica perdendo tempo se
trocando com uma criança de três anos e se preocupa mais em melhorar a
educação do seu filho. -
Deixei-a petrificada e fui embora.
Chegamos a casa e o Lucca já nos esperava a mesa para o almoço. A
Ana cuidou da higiene da Liv que voltou toda animada.
— Agola já posso te dá um beijinho. – Disse beijando o rosto do
Lucca – já estou cheilosa.
— E eu não ganho um também? – Perguntei
— Voxê tabém! – Disse beijando meu rosto – mas faz cosquinha. –
Disse se referindo a minha barba.
Almoçamos e vez ou outra via ela me olhando e quando percebia que
eu estava olhando tirava a vista. Aquela menininha tinha alguma coisa que
estava a deixando encabulada e pelo o que pude notar ela não era assim.
Sempre era muito falante.
Depois do almoço peguei a chave da casa da Cely, pois ela havia
deixado para alguma emergência com a Liv e resolvi montar o seu quarto e
fazer uma surpresa para minha namorada. Sei que ela deve chegar cansada do
hospital e aposto que não saberá montar toda aquela parafernália.
Peguei o Lucca nos braços para que ele não faça esforço na sua perna
quebrada e segurei a mão da Liv para atravessarmos a rua. Estranho, mas
senti aquele contato certo. Senti-me como um paizão protegendo seus filhos
dos males da vida.
— Eu quero ajudar papai – disse o Lucca quando entramos na casa.
— Eu tabém – agora era a Liv.
Já vi que vou ter mais trabalho do que imaginava.
— Tá bom, mas sem muita bagunça.
Coloquei-os sentados próximos da porta e comecei a abrir as caixas.
Montei a cama que tinha um escorregador e uma espécie de cabana
sobre o colchão e um espaço embaixo dela com painel da personagem. Havia
outros objetos de decoração e papel de parede, mas esses deixarei para sua
mãe montar. Acho que ela também vai quer ter sua participação.
— Papai, quero água. – Disse o Lucca. Era muito chato ver meu filho
com os movimentos limitados. Isso é horrível ainda mais para uma criança.
Sai do quarto e fui buscar sua água aproveitei e peguei alguns
biscoitos para eles. Já passamos muito tempo aqui e devem está com fome.
Quando voltei fiquei escutando um pouco da conversa deles.
— Você tem que falar para ele Liv.
— Eu não sei se ele vai gosta. Eu sou uma implestavel. – Aquilo foi o
mesmo que sentir um esmago no peito. Por que ela se sente assim?
— Você não é imprestável Liv. Nunca mais diga isso. Eu gosto de
você. A mamãe gosta de você.
— Mas o papai não. A mam... a Joyce disse que sô implestavel po que
nem pra segular meu pai eu selvi.
— Ele vai gostar de ser seu pai também, mas você tem que falar.
Como ele vai saber que você gosta dele? – Meu filho a incentivava e vi ela
querendo chorar. Seus olhinhos estavam brilhando.
— Voxê acha mesmo?
Meu Deus, como alguém pode ferir os sentimentos de uma criança
assim. Ela não tem nada de imprestável. É uma criança! Tão adorável. Sabe
nos cativar. É esperta. Preciso conversar com a Cely e quem é essa Joyce?
Ela não pode ter contato com a Liv. Ela faz mal para a menina.
— Aqui, trouxe água e biscoito para vocês. – Disse me abaixando
perto deles. Ela mais uma vez passou alguns segundos me observando. Acho
que ela estava com vontade de chamar de pai. Ela me escolheu como a sua
figura de pai, mas tem medo de ser rejeitada. Passei a mão nos seus cabelos e
coloquei atrás da orelha. Ela sorriu e olhou para o Lucca. Essa menina tem
mesmo três anos?!
Levantei e finalizei a montagem da cama.
— Filha, venha testar sua cama. – Falei batendo no colchão e olhando
para ela. Falar aquelas palavras me fizeram bem de uma maneira que não sei
explicar.
Ela aproximou-se sem me dizer nada. Ensinei a subir pela escadinha e
ajudei a se deitar na cama.
— Gostou?
— Gotei. – Parou um pouco. Acho que pensando se deve me chamar
de pai.
— Agora, você tem uma cama de princesa, filha! – Disse com
carinho. – Toda princesa deve ter uma cama de princesa. – Abriu um sorriso
largo.
— Voxê me chamô de filha de novo. – Ela parecia não acreditar no
que ouviu.
— Foi, você não gostou? Eu queria muito ter uma filha princesa e já
que você é uma eu pensei que você poderia ser minha filha. – Disse me
fazendo de desentendido, mas meu coração estava a mil. Sentia que isso era o
certo a se fazer.
— Você quer ser meu papai?! – Disse ficando de joelho na cama.
— Nada me faria mais feliz! – Ela se jogou nos meus braços.
— Viu só Liv. Não falei que ele gostava de você. – Disse
— Como voxê xabia que eu te quelia como papai? – Perguntou me
olhando feliz.
— Um anjinho bem esperto me disse. – Disse rodando com ela pelo
quarto até que vi a Cely encostada na porta nos olhando imóvel.
— Mamãe – meus filhos falaram juntos.
Capítulo 24

Meu pai sempre me falou que nós mostramos nosso verdadeiro


caráter quando pensamos que não estamos sendo observados. E o que acabei
de presenciar foi a cena mais linda de toda a minha vida. Acho que acabei me
apaixonando ainda mais por ele.
— Mamãe! – Meus filhos falaram ao mesmo tempo.
— Oi, meus amores! –Disse beijando cada um deles.
— Mamãe, pode beijar meu papai tabém, né papai?
Fui pega de surpresa, jamais imaginaria um pedido desses. Olhei para
o Miguel e o mesmo estava visivelmente se divertindo com o pedido.
— Pode sim filha, mas só se sua mãe quiser – disse me olhando com a
pergunta velada.
Aproximei-me dele e beijei seu rosto. Acho que temos que falar com
eles e explicar nosso namoro antes que presenciem algum tipo de carinho
entre nós.

— Eu vou preparar nosso jantar. – Falei saindo do quarto que estava


lindo. – Obrigada pela ajuda.
— Eu também ajudei! – disse o Lucca.
— Eu tabém!
— Sei a grande ajuda que vocês me deram! – Disse o Miguel fingindo
arrependimento da ajuda oferecida.

Deixei-os no quarto e segui para a cozinha. Preparei nosso jantar


lembrando do que minha vozinha falava. Nós sempre fomos muito próximas
e minha mãe nunca foi de demonstrar seus sentimentos. Ela havia sofrido em
algumas situações que não gostava de nos falar. E eu até que embarquei nessa
de não entregar meu coração a ninguém até o Miguel aparecer e acabar com a
minha resistência. Mas minha avó sempre dizia que quando o coração chama
e o amor resplandece não tem como segurar. O segredo é só amar. E acho que
meu coração está gritando dentro do meu peito.

Nossa semana estava obedecendo a uma agradável rotina. Deixava a


Liv na escola e ia ao hospital. Na largada o Miguel a pegava e ficava
tomando conta dos nossos anjinhos já que eles não se desgrudavam um
minuto sequer. A Liv estava me saindo uma excelente enfermeira. À noite,
sempre jantávamos juntos apenas variávamos a casa, pois nos dias que o
Miguel ia ao restaurante a noite ficávamos na minha. Ele estava cada vez
mais abrindo caminhos no meu coração. Nosso entendimento era natural e
simples e sempre aproveitávamos quando as crianças não estavam por perto e
namorávamos um pouquinho. Estava cada vez mais difícil não falar sobre a
minha verdadeira história, que não sou a mãe biológica da Liv. No início não
me sentia segura em falar sobre isso a alguém que praticamente não conhecia
e agora tenho medo que ele pense que não confio nele e que esteja mentindo.
O fato é que estávamos nos entendendo e ele está cada vez mais à vontade
comigo, mais ousado em seus carinhos e não sei como entrar nesse assunto
sem nos causar um mal-estar.

Hoje combinamos de almoçar com a Dany e o Otávio. Eles viriam a


casa do meu namorado. Ainda não conseguimos falar com nossos filhos
sobre isso, mas acho que devemos falar logo sobre isso.
Eu estava ajudando a dona Ana que estava para lá de feliz com a
presença do filho.
A Dany chegou praticamente ao mesmo tempo que o Miguel havia
saído para comprar o sorvete que os meninos gostam. Até nisso eles
combinam. Os dois amam o sorvete de flocos. O Otávio estava jogando um
jogo de tabuleiro com as crianças na sala e nós mulheres estávamos
conversando na cozinha.
— Então, vocês já resolveram se assumir? – Perguntou a Dany. Ela
me fazia essa mesma pergunta todos os dias. – Você sabe que acho isso uma
bobagem.
— E também aqueles dois já devem ter percebido o olhar que vocês
trocam e como sempre desaparecem quando estão sozinhos. – Disse a Ana se
divertindo.
— Eu vou conversar com o Miguel para falarmos hoje. Esse plano fui
falido desde o princípio. Nosso medo era eles se envolverem conosco e
depois nós terminarmos machucando eles, mas tudo o envolvimento foi
inevitável.
— Vocês parecem uma família. Quando você soube desse amor que
sente por eles? – Perguntou olhando para meus pequenos.

— Não sei explicar. Simplesmente o vi, senti um amor maternal


surgir e quando os dois, tanto a Liv quanto o Lucca me chamaram de mãe
pela primeira vez eu soube que era o certo. Os sentimentos se encaixaram.
Continuamos conversando até o Miguel retornar. Ele puxou a cadeira
próxima a sua na ponta da mesa e a Liv sentou ao meu lado e o Lucca a
minha frente do outro lado do pai. Antes de começar a comer preparei os
pratos dos dois e percebi o olhar do Miguel a cada movimento que fazia.
Estava muito feliz ao lado do homem que me fez descobrir o amor, da minha
amiga-irmã e das crianças mais fofas que me adotaram como mãe. Sem falar
na Ana e Otávio que foram peças fundamentais na minha mudança até que
ouvi uma voz irônica que me fez lembrar daquela senhora do hospital.
— Vejo que não sou mais bem-vinda a nessa casa! Nem fui
convidada? E o que essas mulheres são fazendo aqui num almoço familiar?
Você também?! – Disse essa última frase lançando um olhar furioso para
minha bonequinha.
Capítulo 25

Oi pessoas! Eu sô a Liv, tenho tles aninhos, asi ô com tles dedinhos a


mamãe me ensino. Minha mamãe e eu nos mudamos pala uma casa novinha.
Só pla gente. Eu molava com minha vó, meu vovô, o tio Gabe, a Joyce que a
mamãe que eu sali de dentro dela e a minha mamãe que cuida de mim, me dá
calinho, amor e me dá comidinha de noite quando tô com fome. Ela cuida de
mim e das cliancinhas dodói. Eu nunca tive papai. Até agola que o plincipe
disse que quelia ter uma filha plincesa. E ele dixe que eu xô uma plincesa. Eu
fiquei muito feliz com isso. Só não tô mais feliz por causa do Luquinha que
queblô a perna por causa do Victol. Eu não gostei dele. Ele tabém falou
coisas feias e a mãe dele tabém não gostô de mim, mas o meu papai me
plotegeu deles; é tão bom chamal ele de papai e me lebou embola.
Desde que meu maninho ficou dodói que eu cuido dele, assim como a
mamãe faz. Ela até deixa eu colocar o espa...espala...daladato na testa dele
quando ela faz o culativo e dá um beijinho para salar logo.
Hoje o tio Olavio e a tia Dany vielam almoça com a gente. O tio
blincou com gente enquanto o papai não chegava e ele plometeu que vai
conecer meu quarto novo da frozen! Eu o Luquinha aludamos a montar
tudinho foi nesse dia que o plincipe dixe que eu era a filha dele. Mas quando
a gente tava almoçando aquele mulher aleda chegou e o papai ficou nevoso.
Ela começou a olar pra mim com uma cala feia e eu me assustei.
A mamãe me ablaçou e mandou eu fical calma, mas ela dixe que eu
palace de cholar, poque a mamãe fica tliste quando eu cholo.
O papai mudou ela lespeitá a namorada dele. Mas eu sô a filha e quem
a namolada dele? A tia Dany é a namolada do tio Olavio. Só tem agola a
mamãe. É ela a namoralada do meu pai?
— Mamãe, voxê a namolada do papai? – pelguntei a ela.
— Sim, meu bem agola vamos sair daqui. – Ela disse me colando nos
braços.
Mas a gente tá voltando pra casa.
— Não, mamãe. Eu não quelo ir pla casa. O Lucca ficou e a gente ia
assisti o filme dos sem floresta.
— Outra hora meu amorzinho. O Miguel tem algumas coisas para
resolver agora e não vai poder trazer o Lucca.
Eu fui para meu quarto e fiquei por lá até minha barriga roncar. Eu
não tinha comido deleito e quando aquele mulhel chegô ninguém mais comeu
nada.
— Mamãe, eu to com fome. - Cheguei colendo perto dela - A sehola
tá chorando?
— Não minha princesa. A mamãe vai preparar alguma coisa para
você.
Ela tava sim cholando. Ela pensa que me engana é? A vovó do
Luquinha é peor que a minha outra avó. Vixe.

Eu não gostei daquela mulhel ela fez minha mãe cholau. Logo agola
que a minha mãe e meu pai estão namolando.
Capítulo 26

Se arrependimento matasse já estaria enterrado. Durante a semana


tentei de todas as formas alertar minha namorada sobre a dona Teresa, mas
não queria estragar esse clima gostoso entre a gente. Ela torna as coisas do
cotidiano com mais significado, especiais. A maneira simples e cuidadosa de
se fazer presente na vida do meu filho e da Liv que também é para mim uma
filha. Ela tem uma áurea de magia ao mesmo tempo que parece ser uma
mulher sexy, decidida num minuto tornar-se inexperiente e insegura. Tenho
medo que este último fale mais alto e ela vá embora.
Mas o fato é que agora estou diante da maior situação constrangedora
que minha mãe já me fez passar. E para completar ainda estava se referindo a
Liv com desprezo. Não vou admitir que ela se intrometa na minha vida
amorosa dessa vez. A minha filha estava assustada e chorava nos braços da
mãe que tentava ignorar a visitante. Nunca vi minha mãe daquela forma e
ainda mais com uma criança.
— Você não vai me dizer o que essa mulherzinha está fazendo aqui?
Olhei para a Cely e ela estava visivelmente constrangida com aquele
comentário. Levantei-me da mesa e tentei tira-la na sala de jantar.

— Mamãe, a senhora não pode chegar aqui em casa e ofender minha


namorada desse jeito. Eu exijo que a respeite tanto a ela quanto a sua filha e
nossos convidados.
— Filha? Bem se ver que é uma desclassificada mesmo, porque se
fosse de família não estaria separada e querendo empurrar a filha para sua
responsabilidade! – Disse se dirigindo a Cely que dessa vez a encarou e vi a
fúria surgir no seu rosto.
— Olha com todo respeito não vou permitir que a senhora me destrate
ass...
— Espera. É você! Foi você que me destratou primeiro naquele
hospital! Sua insolente está querendo arrumar um marido para encobrir sua
vida fácil? Ou vai querer dar um golpe nele assim como a primeira e deixar
um filho em suas costas? Filho, você tem que abrir os olhos ela vai te fazer
sofrer. Você vai ser humilhado pela promiscuidade dela.
— JÁ CHEGA MÃE! – Gritei no meu limite.
— Viu só como está me tratando por causa dessa ai.
— A senhora não vai fazer isso. Eu lhe respeito muito, mas não vou
permitir isso.
— Saia daqui sua... – tentei puxar minha mãe para o escritório, mas vi
a Cely levantar com a Liv nos braços com os olhos marejados. – Cely, por
favor, não vá. Precisamos conversar. – Ela me olhou com aqueles olhos
tristes e saiu da minha casa.
— Mãe, nunca mais destrate minha namorada desse jeito ou de
qualquer outra forma. A senhora é minha mãe, mas não tem esse direito.
— Mas eu só quero seu bem e ela não é mulher para você!
—Isso não é a senhora quem decide. Nem a conhece para julgá-la!

Qual não foi minha surpresa ao me deparar com aquela senhora do


hospital e ela é a minha sogra! Infelizmente, o Miguel tinha que ter algum
defeito. (sorri com esse pensamento). Tive que me segurar muito para não lhe
responder à altura. Nunca fui tão humilhada em toda minha vida.
Sai de lá para não dar o gostinho de vitória a ela, pois a minha
vontade era chorar ali mesmo.
Preparei algo rápido para a Liv comer. Tadinha nem tinha comido
direito e já tivemos que sair a minha sorte é que tenho sempre algo pré-
preparado na geladeira.
Sentei-me no sofá e a minha pequenina foi para seu quarto e assim
pude chorar tudo que queria. Como seria a minha vida com o Miguel com
uma mãe daquela?
Estava lá ruminando com tudo aquilo que ela falou quando me celular
tocou era a Dany.
— Amiga...
— Oi. – Disse fungando.
— Olha, não fica assim. Eu sei que é muito difícil e eu sei o quanto
você se segurou e respeitou o Miguel em não revidar aqueles insultos, mas
não se deixa abater pelo o que ela falou. Você e eu sabemos que não é
verdade. Você é uma mulher incrível e quando ela te conhecer melhor vai se
arrepender do que disse.
— Eu quero pensar assim, mas é difícil.
— Faz isso por você, pelo Miguel, mulher eu vi o jeito que ele te trata
e ele está caidinho por você. Sortuda! E faz pelo Lucca que está feliz porque
descobriu é você é a namorada do seu pai. – Não tive como não segurar o
riso. Eles eram tudo que eu queria.
— Eu amo muito aqueles dois. – Confessei.
— Então, não entrega os pontos e aproveita seu namoro sem a
interferência de ninguém.
A Dany era mesmo a minha motivadora. Ela sempre sabe me dizer as
palavras certas.
— Obrigada. Obrigada por tudo de coração – escutei a campainha –
tem alguém a porta. Depois a gente se fala.
— Okay. Deve ser o seu garotão. Vai lá e fica numa boa. Esquece a
megera. – Disse a última palavra com desprezo.
Fui até a porta e me encontrei com um Miguel derrotado. Meu
coração estremeceu ao perceber sua tristeza.
— Cely, me desculpa eu deveria ter te avisado da minha mãe. Ela não
devia te tratar daquela forma. Eu deveria ter ido até ela e falado sobre o nosso
namoro e tentar impedi-la de...
— Você não tem culpa, meu querido. Só me abraça. Abraça-me
preciso mais da sensação de conforto e segurança que você me traz.
Perdi-me em seus braços. Ele era o homem que eu queria e amava,
mas era cedo para dizer isso a ele. Queria apenas ficar em paz com ele. E sem
perder tempo começou a beijar e cheirar meu pescoço.

— Eu senti medo quando a vi indo embora. Eu não quero te perder,


minha linda. Não quero. – Disse segurando meu rosto e me olhando nos olhos
ainda com nossos corpos colados.
— Eu também não, mas sai em respeito a você e ao Lucca por não
presenciar uma discussão, afinal ela é sua mãe e avó dele e pela Liv não
queria vê-la sofrendo e chorando ainda mais.
— Você é incrível sabia? – disse me beijando.
— Não, mas bem que você poderia me falar mais vezes para ver se eu
acredito. – Disse retribuindo seus beijos.
— Vou te provar de outra maneira. Minha namorada incrível. Minha
– disse me beijando e me levando para o sofá.
Capítulo 27

Deitei-a no sofá e logo me juntei a ela. Essa mulher estava me


fazendo sentir-me um adolescente apaixonado de novo. Devolveu-me a
alegria de sentir o coração bater acelerado. Senti-a sedento por ela e a
desejava muito. Nossa, não conseguia mais viver sem ela em minha vida. Era
oficial estava amando essa mulher.
— Você está me deixando maluco sabia? – Perguntei imprensando-a
ainda mais contra o sofá e voltando a beijá-la.
Senti suas mãos em minhas costas e o frisson que estava sentindo era
envolvente demais. Aprofundei o beijo e estava a ponto de querer leva-la para
o seu quarto quando escutei aquela vozinha encantadora da Liv e tive que me
recompor.
— Mamãe, já acalei tudinho! – Gritou com um prato de plástico na
mão saindo do seu quarto. Ainda bem que ela gritou antes de sair.
— Ótimo, minha bonequinha! Deixa a mamãe levar para cozinha. –
Disse ela indo até a minha princesinha.
— Papai! Cadê o Luquinha? Ele não velio?
— Não, meu amor eu vim te buscar para irmos para lá. Ele está nos
esperando. – Falei olhando para a minha namorada que ainda estava se
recompondo e aquele vermelho atraente em sua face.

Salva pelo gongo, ou melhor pela Liv. Eu não sabia o que fazer.
Aquilo era tão bom. Senti o Miguel tão próximo a mim, seus carinhos, seus
beijos. Eu estava ficando maluca por aquele homem. A ponto de esquecermos
de onde nós estávamos. Estávamos no meio da sala! Mas eu não o culpo,
estava muito bom.
Passamos o resto da tarde em sua casa com a Dany e o Otávio que
ficaram com o Lucca enquanto o Miguel fora falar comigo.
— Vocês demoraram! – Disse a Dany para mim quando chegamos. –
O que vocês estavam aprontando?
Apenas abri um sorriso com seu comentário e ela entendeu tudo.
Preparamos alguns petiscos enquanto os homens escolhiam algumas
bebidas e arrumavam a área da piscina. Estava um dia lindo para se
aproveitar.
Passei na sala de tevê e os dois estavam deitados no tapete assistindo
ao filme dos "sem florestas" como a Liv tinha falado.
— Pode ir tranquila que eu fico de olho neles. – Disse a Ana se
aproximando.
— Eu não quero te dar mais trabalho, dona Ana.
— Não é trabalho nenhum. Vai lá e ficar um pouquinho mais com seu
namorado. Vocês quase não têm tempo de ficar juntinhos. E se me permite
um conselho, não deixe a Teresa atrapalhar vocês. Há muito tempo que os
meus meninos não eram tão felizes. – Disse se emocionando – você e a Dany
são duas mulheres maravilhosas e estão trazendo a felicidade com vocês.
— Obrigada pelo conselho dona Ana. Prometo que farei o máximo do
máximo para retribuir a felicidade que os dois estão trazendo para mim e
minha filha.
Voltei para a cozinha e falei:
— Agradeça a Deus todos os dias pela sogra maravilhosa que você
ganhou.
— Não fica assim Lu ou melhor Cely? – Disse se divertindo.
— Pra você é Lu. Só ele me chama de Cely e quero que continue
assim. – Disse com falsa repreensão.
— Tudo bem. Achei super sexy ele lhe por um apelido só dele. Mas
me conta como estão as coisas entre vocês?
— Curiosa!
— Vai lá aposto que vocês não estavam brigando esse tempo todo.
— Não. Você me conhece não sou de brigas. Mas estamos nos
entendendo bem. Ele está cada vez mais atencioso comigo...
— Vocês já fizeram amor? – Perguntou com empolgação.
— Aí, Dany que pergunta! – Olhei-a e ela ainda estava esperando a
minha resposta me incentivando com o olhar- tá você venceu. Ainda não,
mas se dependesse dele já teríamos feito, porém ainda não consegui falar
sobre a minha verdadeira relação com a Liv e não sei como abordar esse
assunto com ele. Como vou chegar dizendo que sou virgem?!
— É difícil amiga, mas fale o mais rápido possível porque o que
podemos tirar de lição do encontro de hoje é que não devemos esconder as
coisas de quem a gente ama. Se bem que acredito que ele não achará de todo
ruim. – Disse me dando uma piscada.
— Você é terrível Dany.

A Cely estava dentro da casa enquanto estava arrumando tudo para


nosso churrasco improvisado com o Otávio.
— Cara, você está mesmo amarradão na Lucélia. – Disse constatando
o óbvio.
— Estou apaixonado Otta. Ela é uma mulher sensacional.
— Então, não a deixa escapar. Nunca vi o Lucca tão animado. Nem
uma perna quebrada faz ele tirar o sorriso do rosto.
— Lógico, ele é super mimado por aquelas duas. Ele tem duas
enfermeiras a postos uma mais carinhosa que a outra.
— Vejo. Até disse que a sua namorada era sua mãe.
— Pois é o meu filho me deixou numa saia justa quando o fez e tive
medo de que a Lucélia falaria, mas ela o ama como filho.
— Isso se vê a quilômetros de distância. Por isso meu irmãozinho
cuide bem dela.
— Pode deixar- disse virando instantaneamente quando senti a
presença dela. Fui até ela e ajudei com o que trazia.

— Obrigada amor. – Disse e a beijei após colocar tudo em cima do


balcão. Sentei-me o banco alto e deixei-a próxima de mim com meus braços
envolvendo sua cintura enquanto estava encostada em minha perna.
— Adorei você ter me chamado de amor. – Disse no seu ouvido. Era
para ser uma simples declaração, mas aquilo se tornou um choque elétrico
tanto para mim e para ela. Bom saber que ela está tão atraída quanto eu.
Conversamos e combinamos de nos encontrar mais vezes, viajarmos
talvez. Volta e meia ela ia ver as crianças mesmo a Ana dizendo para não se
preocupar. Mas ela não seria ela senão tivesse suas crias em baixo do seu
nariz. Isso era mais um ponto positivo nela.
Embora estivesse muito bom nosso papo eu gostaria de ficar a sós
com a minha namorada e aproveitarmos mais só nos dois. Sinto-me um
egoísta por isso, mas faz semanas que namoramos e nunca conseguimos ficar
sozinhos, se não é pela presença das crianças é pelas desculpas que ela dá.
Mas depois de hoje sinto que ela também me deseja o quanto a desejo.
A noite chegou e elas ficaram mais tempo em nossa casa. Enquanto as
crianças estavam entretidas na sala ficamos mais um pouco na área da piscina
apenas nós dois, após nossos amigos irem embora. Até que fim sós! Estamos
numa das espreguiçadeiras e nos deitamos de frente ao outro. Trocando
beijos e carícias. E louco para convidá-la para dormir aqui, por mim elas se
mudariam logo para cá e facilitaria muito as coisas, contudo não sei qual seria
a sua reação diante dessa proposta. Os meninos fazem de tudo para não se
desgrudarem e quando isso acontece é com muito choro e promessas para o
dia seguinte.
— Eu acho que já devo ir para casa. – disse passando os dedos no
contorno da minha barba.

— Você já está em casa. Não precisa ir embora. – Disse a puxando


mais para mim se isso é possível. – Poderíamos atender o pedido dos nossos
filhos e deixá-los dormir aqui hoje.
Ela parou uns segundos e vi quando engoli em seco. Ela estava
ficando nervosa.

— Se bem que a essa altura eles já devem estar no décimo sono. –


Tratei de emendar, mas ela ainda estava calada.
— Eu não sei se uma boa ideia... temos algumas coisas para
conversar... – ela tentava se explicar e isso me deixou curioso.
— Então, me fala. Conversa comigo. - Acariciava seus cabelos
enquanto falava - Nunca resolveremos isso se você não me falar.
Ela puxou uma respiração funda e sentou-se na cadeira dando as
costas para mim.
— Fala! - quase que implorei.
— É que tem uma coisa que você ainda não sabe sobre mim...

— LUCÉEEELIA! OH LUCÉLIA APARECE! EU SEI QUE VOCÊ


ESTÁ AÍ – escutamos do lado de fora. Nesse mesmo instante ela se levantou
visivelmente espantada.
— EU NÃO VOU SAIR DAQUI. VOCÊ ME DEVE E AGORA VIM
LHE COBRAR! APARECE!
Capítulo 28

Assustei-me com aqueles gritos. Eu só poderia estar escutando coisas


do além.
— Não pode ser! – Murmurei baixinho, porém escutei outro grito.
Sai correndo. A Joyce acordará toda a vizinhança.
— Espera, você não vai sair daqui assim! – Vi o Miguel se irritando.

— Eu preciso, amor, por favor, e deixa resolver logo isso! – Pedi


escutando outro grito e chegando até a porta.
— Não. Antes você vai me falar o que está acontecendo – disse
segurando meu braço com força. Eu ainda não tinha presenciado um Miguel
raivoso e não estava gostando disso.
Olhei em seus olhos e supliquei.
— Então, eu vou com você! – Disse lendo meu olhar.
Sai da casa e a minha irmã estava na porta da minha casa e suspirei,
ou seja, de costas ela não teria como saber de onde eu vim.

— O que você está fazendo aqui, Joyce? – Reuni toda minha força
para não me exaltar. – Quer acordar a rua inteira?
— Ora, ora se não é minha irmãzinha certinha. – Falou com desdém –
o que a pura imaculada inocente faz na rua a essa hora e – olhou o Miguel da
cabeça aos pés – acompanhada de um super gato! Você resolveu namorar
irmãzinha?

— O que você quer? – Falei no meu limite.


— Calma. Calma irmãzinha quero que me apresentes ao seu amigo,
porque duvido muito que esse seja seu namorado. Se bem que para mim não
importa. Muito prazer me chamo Joyce e se você realmente quiser se divertir
e quiser conhecer os prazeres a vida é só me procurar, porque essa aí-
apontou para mim – não sabe de nada. – Disse se aproximando de mim do
Miguel que estava ao meu lado.
— Você está bêbada! – Senti o cheiro de bebida quando se
aproximou.
— Você não vai me convidar para entrar?! Que falta de educação! –
Disse voltando-se para minha casa – ah, já sei aquela fedelha deve estar
dormindo. Maninha! – Disse com a mão na boca fingindo espanto – como
você deixa a menina sozinha em casa e cai na noite? Se bem que com um
homem desse quem não sairia...
— Cala essa boca! – Disse segurando seu braço. A fúria que estava
sentindo já tinha engolido a razão ainda mais quando os ciúmes está me
consumindo. Sei bem que tipo de mulher ela é – como ousa a falar da minha
fil..
— Filha?! Tem certeza Lucélia? Basta apenas que eu fale do que eu
estou vendo aqui – disse olhando para o Miguel - e você não tem mais uma
filha. Se bem que não suporto ver aquele ser. – pensou um pouco – mas eu
deixo definitivamente você ficar com ela em troca desse bonitão. Ele tem
cara que deve ser espetáculo na cama...
— Vem! Vamos entrar – disse puxando-a para dentro da casa. Não
suportaria nem mais um minuto vendo-a comer o Miguel com os olhos, mas
o Miguel, infelizmente, nos seguiu.
— Por favor, me deixa falar com ela a sós? – Disse olhando em seus
olhos – por favor.
— Tá bom, mas fico aqui na porta e qualquer coisa anormal eu entro.
Essa maluca pode ser sua irmã, mas não gostei dela.

Como assim? De onde soltaram aquele projeto de prostituta?


Desculpa, gente, mas como ela estava vestida mais parecia uma e das mais
desclassificadas possíveis.
Não gostei nem um pouco da forma como falou com a minha
namorada. Muito menos da forma que se referiu a Liv.
Pensando bem, lembro-me da própria Liv falando que essa a tratava
mal. Aquilo foi como adrenalina líquida injetada nas minhas veias.
Não gostei de ter deixado a Cely sozinha com ela, mas não me vi no
direito de impor minha presença ainda mais essa Joyce me usando para
provocar a irmã. Eu só tinha algo martelando na minha cabeça como ela
poderia tirar a Liv da sua mãe?! Nós não estávamos fazendo nada contra a lei
e muito menos deixando a menina sozinha nem o meu filho. Isso não é
motivo para eu ter viso tanto medo nos olhos da Cely quando a irmã
ameaçou. Era?
Capítulo 29

— Fala logo Joyce. Você acha que é quem para chegar na minha casa
insinuar que não sou uma boa mãe? Aliás, como você descobriu meu
endereço?
— Eu fui até o hospital e me disseram - disse se jogando no sofá.
Olhei-a e ela estava deplorável parecia uma prostituta da pior
categoria. Nada contra gente. Mas ela estava muito vulgar, cheirava mal, usa
saltos super altos e grosseiros e o vestido vermelho justo mal cobria a curva
do traseiro, os seios de tão esmagados pareciam pular para fora do decote, e
na barriga era todo recortado mostrando a pele, ou seja, era basicamente top e
saia do pior manequim.
— Por que você está vestida assim? E esse cabelo todo desgrenhado?
Sua maquiagem está borrada! Nunca vi você saindo de casa assim.
— Eu estava descolando uma grana. - Falou se levantando e indo até
a cozinha. - Não tem nada para se comer nessa casa? - Saiu indo até os
quartos. Era muita folga para uma pessoa só.
— Você está bem de vida em maninha? - Falou com desdém - se bem
que para você tudo sempre foi assim. Você sempre teve as melhores coisas
com a exceção da fedelha.
— Eu trabalho Joyce. Sempre me esforcei e não admito que fale
assim da Liv!
— Eu também trabalho o que eu ganho? Nada! Por isso que estou
aqui. Preciso de dinheiro.
— Eu não vou te dar dinheiro!
— Quarto bacana esse, mas olha a sua filha não está em casa. Ou
seria melhor a minha filha não está dormindo nessa cama de princesa. Cadê
minha filha? - Gritou me assustando.
— Sua. - Tentei me controlar minha cabeça parecia que ia explodir -
sua filha?! Você tem certeza do que está falando? - Explodi.
— Sim. Minha. Minha filha - disse bem juntinho do meu rosto - e se
você realmente quiser ficar com ela vai ter que me pagar o que me deve!
— E o que seria isso? Posso saber? - Gritei com todas as minhas
forças - Eu nunca fiz nada contra você! Está maluca?
— Você quer o que é meu. Eu quero o que é seu! Quer a menina? Eu
quero o
dinheiro.
— Cely, está tudo bem? - Eu mal conseguia me mexer. O desprezo
por aquela mulher em minha frente era tão grande que não conseguia
acreditar.
— Saia da minha casa agora! Seu monstro! Eu te renego como irmã!
— Eu vou, mas acho melhor você pensar na minha proposta Lucélia -
disse saindo do quarto - e você bonitão ela tem mania de roubar o que não lhe
pertence. Cuidado - disse passando pelo Miguel.
E eu não tive coragem e nem forças para olhar para trás eu sabia que
tinha muito a explicar e agora ainda tinha a possibilidade de perder minha
menina.
— Lucélia - senti aquela voz que tanto esquentava meu coração bem
próxima de mim, mas agora ela tinha uma passividade que esfriava cada
centímetro do meu corpo.
Capítulo 30

Dizem que cego é aquele que ver as coisas e não quer acreditar, pois
me considere assim. Esse sou eu. Como fui idiota em ter deixado a Cely
sozinha com essa Joyce que não inspira nenhuma segurança. Eu deveria ter
insistido para entrar também.
Aproximei-me da porta a fim de perceber algo fora do controle.
Escutava ao longe vozes aparentemente normais. Não dava para saber do que
elas estavam falando e eu não ia ficar aqui de comadre fuxiqueira. Não
mesmo.
Escutei um grito e entrei na casa e elas estavam no quarto da Liv
quando ouvi:
— Sim, minha. Minha filha e se você realmente quiser ficar com ela
vai ter que me pagar o que me deve! – Gelei com aquela afirmação. Aquela
era a voz trôpega da Joyce.
— E o que seria isso? Posso saber? – Não elas não estão se referindo
a Liv como uma mercadoria estão?! – Avancei até a porta do quarto
escutando a Joyce tentando trocar a Liv por dinheiro?! Mas por quê? A Cely
não faria isso!
— Cely, está tudo bem? – Perguntei de repente ao perceber o clima
naquele quarto, mas minha namorada estava de costas e não me respondeu.
Isso foi a confirmação de que ela me esconde a verdade. E a verdade é que
ela não é mãe da minha princesinha.
A Cely expulsou a irmã que antes de sair me deixou um recado e
aquilo já não me interessava e sim saber por que a Cely mentiu para mim.
Senti meu sangue pulsando em minhas veias e escutei um zunido nos meus
ouvidos. Não sei lidar com mentiras. Ela não deveria ter mentido para mim.
— Lucélia! – Não me contive e me aproximei dela. Não suporto
mentiras, mas também não suporto ficar longe dela. Cada célula do meu
corpo deseja o calor do seu.
— Miguel... – sua voz saiu entrecortada e lutei contra minha vontade
de abraça-la. Eu preciso saber da verdade.
— Por que você mentiu para mim? – Ela ainda estava de costas para
mim. – Anda fala logo! Por que você mentiu? – Trovejei a virando para mim.
Uma bela e péssima ideia porque pude sentir seu corpo grudado no meu, mas
ver aquele olhar me quebrou em mil pedaços. – Desculpa, minha linda.
Desculpa – disse beijando seu rosto e a abraçando-a.
Seu corpo tremia copiosamente e vi aquela mulher forte se esvair em
meus braços.
— Eu estou com medo Miguel... – disse se agarrando ainda mais no
meu pescoço. – Eu não quero perder a Liv. Eu não posso perder. – A Cely
afundou ainda mais a cabeça no meu ombro – Miguel a Liv não é minha filha
biológica.
Isso eu já tinha entendido, mas não entendia porque ela não tinha me
falado. Abracei-a com mais força a fim de lhe dar segurança. E me abaixei
nos acomodando no chão. Suas pernas já não tinham mais forças para segurar
seu peso. Sentei-me e a fiz sentar no meu colo. Aproveitando o momento
para olha-la nos olhos.
Tirei uma mecha dos cabelos que encobria seu rosto e senti meu
coração fisgado novamente. Sorri com aquele pensamento, parece que
sempre vou ser pescado por aquele brilho amadeirado do seu olhar.
Instantaneamente aquela raiva que estava se apoderando do meu coração se
foi. Definitivamente aquele olhar era enfeitiçado. O medo estampado neles
me fez senti o homem mais insensível que existi. E me arrependi de ter
colocado minha raiva em primeiro lugar. Eu precisava ouvi-la primeiro antes
de julga-la
— Eu sei minha linda, mas porque você não me contou? Eu te falei
toda a história sobre a mãe do Lucca. Não escondi nada de você. – Falei
passando a mão nos seus cabelos. Era impossível não senti a necessidade de
confortá-la embora ainda estivesse magoado por ela não ter me confiado seu
segredo.
— Eu queria. Queria muito. Ensaiei tantas vezes te falar, mas era
difícil. É difícil. Quando estávamos na sua casa ainda há pouco estava
disposta a te contar toda a história, porém a Joyce chegou antes.
— Precisamos falar sempre a verdade assim nada poderá ficar entre
nós dois. Hoje tivemos dois exemplos desastrosos de que não devemos
esconder nada um do outro. Eu errei sobre minha mãe e você errou sobre a
sua irmã que vou logo dizendo que a quero longe de você e da Liv.
— A Joyce não tem coração. Eu não posso deixar que a Liv conviva
com ela novamente. – Disse chorando de novo.

Queria poder não deixa-la senti aquele medo, mas não tinha ideia do
que aconteceu entre elas. O que via era uma mulher com um medo
avassalador não só pela possibilidade de perder sua filha do coração, mas o
medo de deixar a filha sofrer na presença da Joyce.
— Quero muito te ajudar Cely; você, no entanto, terá que me contar
tudo o que aconteceu – dei um beijo casto em seus lábios salgados.
Encostei-me na cômoda do quarto da Liv, estávamos sentados no
tapete fofinho, como ela falava, da Frozen. Aconcheguei-a no meu peito
enquanto a incentivava a falar acariciando seus braços. A posição não era
nada confortável para mim, mas sabia que a história era longa e precisava
deixa-la a vontade.
E assim ela fez, contou-me toda história da sua vida com seus pais e
seus irmãos e de como surgiu seu amor pela Liv, se já sentia asco por aquela
mulher que conheci mais cedo, nem sei denominar o que sentia agora depois
de saber de toda história. Foi inevitável não me emocionar e não fazer
comparações entre as mães do Lucca e da Liv. Era por isso que no fundo
agradecia a mãe do meu filho de tê-lo abandonado. Para não o ver sofrer
como a Liv sofreu. Bem que o Otta me falou sobre o caráter daquela que
entrou de vez na minha vida e no meu coração. Ela é incrivelmente
encantadora. Como não ama-la? E como eu amo. Se já tinha certeza disso
antes agora mais que nunca. Como é possível se apaixonar de novo por uma
pessoa duas vezes no mesmo dia?! Com minha mãe ela demonstrou ter uma
hombridade invejável e agora se abre para mim com tanta sinceridade e
seriedade que praticamente impossível não ver o brilho da pessoa linda que é
há quilômetros de distância.
Ficamos assim por alguns minutos depois de sua confissão. Eu não
queria larga-la, queria proteger, cuidar, acarinhar e retribuir todo amor que
ela sente pelos nossos filhos; nossos, pois tanto o Lucca quanto a Liv a
adoram como mãe. E eu me sinto tão pai da Liv quanto me sinto do Lucca.
Aquela menina é tão carente de amor paterno e isso eu tenho de sobra.
Amanhã mesmo vou procurar o Otta e saber como anda o processo de tutela
da Liv. Pelo o que entendi ela tem a tutela provisória e pelo pouco que
entendo de lei o que a Joyce está tentando fazer é crime. E eu não vou deixa-
la se aproximar novamente das minhas meninas. Não vou.
— Minha linda, você é uma mulher incrível. – Disse beijando sua
cabeça. – A Liv tem muita sorte de ter você em sua vida. E quero que você
fique tranquila que eu não vou deixar nada de ruim acontecer a ela e nem a
você. Você não está sozinha.
— Obrigada. Obrigada por me ouvi e entender porque eu não podia
simplesmente despejar meus problemas entre a gente. – Disse se virando de
frente para mim.
— Eu não quero que nunca mais escondamos nada um do outro. Você
entendeu? – Perguntei o mais incisivo possível - e a partir de agora seus
problemas serão nossos problemas e resolveremos juntos. – Disse beijando-a.
Como era bom ter aquela mulher ao meu lado.
— Vou tentar senhor mandão. – Disse sorrindo.
— Acho bom você se acostumar porque sou muito controlador
algumas vezes. – Disse entrando no clima mais ameno agora. – Vamos
levantar porque já ficamos muito tempo nessa posição desconfortável. – Falei
fingindo empurra-la do meu colo.
— Ah sim claro, senhor meu velhinho. – Disse se levantando e
estendendo a mão para me erguer.

Aproveitei a deixa e segurei sua mão fingindo dor e a puxei ao chão


cobrindo seu corpo com o meu.
— Vou lhe mostrar quem é velhinho senhorita mocinha. – Disse
atacando seu pescoço.
Beijei toda a extensão do seu pescoço e clavícula indo em direção ao
seu colo. Como eu a desejava. Nós ainda não tínhamos passado de carícias
nada inocentes. Mas nunca tínhamos falado a respeito e muito menos
seguindo a diante. Não por falta de minha vontade. Desci um pouco mais
com meus lábios ávidos de encontrar cada parte de pele debaixo daquelas
roupas, mas algo me ocorreu como uma luz que se acende bem na nossa cara.
Não, não podia ser? Podia? Olhei-a e vi aquele mesmo olhar de insegurança e
desejo que sempre se estampava em seu olhar quando nos permitia mais
intimidade.
— Posso te fazer uma pergunta Cely – disse encarrando sua íris que
se ligeiramente mudou de tamanho e de cor.
— Po...pode. – Falou quase num sussurro.
— Na sua história você não me falou sobre sua vida pessoal, apenas
sobre sua família, faculdade, trabalho; mas se esquivou quanto a sua vida
pessoal. – Deixei em aberto para ela entender do que eu estava falando.
Embora a ideia de saber sobre antigos namorados me deixasse inquieto.
Porém essa dúvida pairou sobre minha cabeça e não consigo esquece-la.
— Sobre o que exatamente você quer saber?
— Não sei. Fale você sobre o que eu tenho que saber. – Respondi sem
quer perguntar diretamente sobre minha suspeita.
Senti seu corpo tencionar debaixo do meu e aquilo não era excitação.
Busquei em seu olhar a resposta e ela estava escrita em letras garrafas em
minha frente. Não pode ser. Sério? Ela tem trinta anos! Quem chega a essa
idade nos dias de hoje. Assim?! "Só alguém como ela seu imbecil agora para
de pensar nisso. Vai me dizer que você não gostou?" Minha consciência
apareceu.
Eu sabia que essa pergunta surgiria ainda mais agora que ele sabe que
não sou mãe biológica da Liv. Contudo o que eu respondo? "Ah, nunca me
interessei em namorar?" Isso é muito cafona. "Ninguém nunca tinha me
atraído antes" isso soará como se fosse lésbica e isso nunca fui. "nunca tive
tempo para namorar!" Outro absurdo. Qualquer pessoa arruma tempo para
namorar. E agora o que respondo? "sou uma mulher de trinta anos que nunca
namorou ou tinha beijado alguém antes de você" de que planeta eu sou?! Se
disser isso ele sairá correndo a quilometros.
Nunca pensei que fosse tão difícil falar sobre isso. E se ele me achar
antiquada?
Limpei minha garganta ainda buscando seus olhos como uma tábua
de salvação. Por que ele tinha que me perguntar isso.
— Bom... é – minha garganta estava seca. Tolice minha estar nervosa
com isso – eu...
— Não precisa – disse me dando um selinho – não precisa me falar
minha linda – disse ainda com os lábios bem perto dos meus – eu não deveria
ter perguntado isso não faz a menor diferença para mim. Não muda em nada
meus sentimentos por você. – Disse aprofundando o beijo. Será que ele
entendeu tudo errado? Por que agora ele não quer saber a verdade?
E como aquela sensação que estava sentindo era boa deixei-me seguir
meus instintos. Seu beijo tinha o poder de me deixar entregue. Sentia como se
o melhor lugar do mundo fosse nos seus braços. Mas tínhamos acabado de
combinar que não esconderíamos nada um do outro e não o deixaria pensar
justamente o oposto: de que não falaria por me envergonhar da quantidade de
parceiros que já tivesse.
— Eu nunca namorei alguém antes de você. – Disse quando
terminamos o beijo.
— Não precisava me responder Cely. Não importa. O que importa é
que hoje estamos juntos. Você é minha namorada. Será minha mulher quando
se senti segura e com vontade para isso e eu estou muito feliz por ter você em
minha vida. Você não sabe o quanto. – Disse me apertando em seus braços.
— Espera, você não acha antiquado isso que acabei de falar? –
Perguntei vendo seus olhos brilharem como os de uma criança quando recebe
um presente que queria muito.
— Claro que não! Você fez suas escolhas e o que me resta é saber
valoriza-la. Você é um artigo raro hoje em dia. E eu sou o cara mais sortudo
do planeta. E estou inteiramente a sua mercê. Eu sou completamente
apaixonado por você e farei o que for preciso para merecer seu amor.

— Você já o tem, meu lindo. Eu também sou completamente


apaixonada por você. E quero que você continue sendo o meu primeiro em
tudo.
— Se depender de mim o primeiro e único. – Disse voltando a me
beijar no pescoço. Mas escutamos o roncar de nossas barrigas – porém acho
que devemos procurar o que comer nessa casa porque tem alguém aí – disse
apontando para minha barriga – que está morrendo de fome.
— Aí – apontei para sua barriga- é que tem! E é um animal muito
feroz. Nós nem jantamos!
— Como iria pensar nisso se eu estava no paraíso dos seus lábios? Era
somente nos dois e aquela noite de luar numa espreguiçadeira à beira da
piscina.
— Hum, como meu namorado é romântico – disse me levando –
agora vem porque não só de amor que se vive. Precisamos comer alguma
coisa.

Segui para cozinha enquanto ele falava com a Ana para saber das
crianças.
Sorte minha ter sempre algo semipreparado na geladeira assim posso
aproveitar mais do meu namorado.

Quando a Cely deixou o quarto resolvi ligar para Ana e saber dos
meninos já era tarde e devido a tudo que aconteceu não tivemos tempo de
coloca-los para dormir.

— Alô. - A Ana respondeu com a voz de sono. – Miguel, está tudo


bem?
— Desculpa Ana te acordei, mas queria saber como estão os meus
anjinhos. A Cely e eu tivemos um contratempo e não pudemos regressar para
fazê-los dormir.
— Eu sei Miguel. Infelizmente eu ouvi aquela mulher aqui em frente
e cuidei para que os meninos dormissem na sua cama, aliás, eles adoram
saber que iam dormir naquela cama fofinha e que amanhã de manhã a mãe e
o pai deles iriam acorda-los com bastante beijinhos e café da manhã na cama
com eles.
— Eu... – sério que ela fez isso de caso pensado? – Ana, você não
existe mesmo. – Falei sem nem saber o que dizer. Ela estava facilitando as
coisas entre minha namorada virgem e eu. Ah, se ela soubesse.
— Não precisa me agradecer, meu filho. Aproveita mais com sua
namorada. Vocês precisam de um pouco de privacidade. E não precisa se
preocupar que eu tomo conta deles direitinho.

— Eu sei Ana. Eu sou a prova viva do quanto você sabe cuidar bem
de crianças. Obrigado.
Fui até a cozinha e a encontrei mexendo nas panelas e o cheiro estava
muito bom. Se estivéssemos na minha casa abriria um vinho para
acompanhar o nosso jantar de quase madruga. Eu poderia me acostumar com
aquilo; nos dois, ou melhor, nos quatro na mesma casa como uma família.
— O que você está olhando posso saber? – Perguntou me jogando o
pano que estava em suas mãos.
— A mulher linda que está em minha frente e além de todas as suas
qualidades e virtudes ainda sabe cozinhar e acima de tudo super-rápido.
Como você conseguiu fazer tudo isso em tão pouco tempo?
— Segredo. – Disse fazendo suspense – mas você conseguiu falar
com a Ana?
— Falei. Ela disse que os dois já estão dormindo há muito tempo e
que ela providenciou tudo para que eles ficassem confortáveis na minha
cama. – Disse dramatizando – portanto hoje sou um homem sem cama para
dormir pelo resto da noite.
— Sério que a Ana fez isso?! Não. Isso está mais para um dedinho da
Dany. Aposto. – Disse se aproximando de mim.
— Não sei de quem fora a ideia, mas o fato é que só temos que
acordá-los amanhã de manhã com muitos beijinhos e café da manhã na cama.
— Pobre sem teto. – Disse enlaçando meu pescoço – será que não há
alguma vizinha que possa te abrigar por essa noite? – Falou passando os
lábios nos meus e na minha pele sensível da barba. Nossa se ela soubesse o
quanto adoro esse carinho na minha barba.

— Posso mesmo ficar aqui? – Perguntei sem me controlar e


colocando-a em cima da ilha da cozinha.
— Pode... – nem esperei ela terminar de falar e ataquei com um beijo.
Pedi passagem com minha língua e senti a textura macia da sua numa dança
erótica que estava me deixando mais acesso que fogueira em noite escura.
Passei a mão em suas costas querendo abraçar todo seu corpo. Mas lembrei-
me de que poderia estar passando do limite e finalizei nosso beijo.
— O que foi? – Perguntou-me confusa.
— Eu não quero que você faça nada se sentindo pressionada por mim.
– Disse acariciando minha bochecha.

— Não me sinto pressionada por você Miguel. – E atacou minha boca


com vontade e não resisti aquele ímpeto.
— Você tem certeza? – Perguntei aspirando o cheiro de seu pescoço –
porque se eu passar disso não sei se vou consegui me controlar. Eu posso
muito bem esperar. Podemos dormir abraçados ou simplesmente ir para casa
e dormir na cama do Lucca.
— Eu não quero que você vá. – Disse acariciando minha nuca. Ela
mesmo sem perceber sabe do que eu gosto que façam principalmente nos
meus cabelos. – Vamos pelos menos jantar e depois você decide se quer ir
embora.

— Eu tenho uma ideia melhor. – Disse descendo-a da bancada – eu já


volto. Acho que preciso pegar algumas coisinhas em casa. Aguarde-me -
disse com um sorriso de lado e sai sem deixa-la responder.
Capítulo 31

"O que será que foi pegar?" "Isso foi uma desculpa para sair de
fininho?!" Essas perguntas não saiam da minha cabeça. Eu estava pronta. Eu
o queria tanto. Será que eu entendi tudo errado e estou praticamente me
oferecendo para ele? Será que fui muito precipitada?
"Não né sua boba. É lógico que ele te quer. Ele está apaixonado por
você! Ele mesmo falou isso para você!" Minha consciência tentava me
convencer.
Enquanto aquelas perguntas permeavam minha cabeça fui até meu
quarto e resolvi tomar banho para ver se me livrava daquela tensão. Passei
alguns minutos cuidando de mim e aquela ansiedade estava me corroendo.
Um misto de ansiedade e precipitação incendiava meu coração que batia
descompensado. Quando sai do banheiro encontrei-o em pé de braços
cruzados e encostado na porta. Seu sorriso logo se espalhou pelo rosto. Se eu
já tivesse visto mais lindo não me lembrava.
Ao ver, veio em minha direção me abraçando e tomando meus lábios
prazerosamente e todas aquelas dúvidas se dissiparam.

— Você está muito sugestiva com essa toalha, mas preciso que você
se vista porque vamos sair. – Disse encostando nossas testas.
Sair?! Para onde? Numa hora dessas?! É quase uma hora da manhã!
"deixa de ser boba e se joga, menina!" Minha consciência mais uma
vez.
— E o que devo vestir? – Disse me animando com a aventura.
— Algo que te deixe confortável – falou deixando meus braços – e
faça uma pequena mala e coloca biquíni também. Vou te esperar na sala. –
Disse me deixando surpresa e ansiosa. O que será que ele está aprontando?
Fiz exatamente como ele mandou e vesti um vestido longo, leve
estampado com um fundo azul e por baixo uma surpresinha. "Uma mulher
preparada vale por duas!" – Pensei. Peguei minha pequena bolsa e sai.
Encontrei-o no sofá me esperando e saímos.
Supunha que íamos à praia nós moramos numa cidade próxima ao
litoral, mas o vi chegando ao restaurante que por sinal ainda estava bastante
movimentado.
— Preciso pegar algumas coisas aqui, mas vai ser rápido. Vem
comigo? – Respondeu minha pergunta oculta.
— Vamos – eu mal podia esperar para ver o que ele estava
preparando. – Eu adoro surpresas, mas o que você está aprontando? Tenho
que preparar meu coração?
— Então, acho que acertei na escolha e é melhor você estar
preparada... – disse com um olhar sugestivo e aquilo me animou ainda mais
se é que isso é possível.

Entramos e eu estava me sentindo uma adolescente numa aventura


proibida pela noite e ávida pelo o que aconteceria hoje.
Ele me deixou no seu escritório e saiu me deixando no escuro da
espera.

As melhores coisas que acontecem na nossa vida geralmente são


quando menos planejamos. Ter a confirmação de que ela também estava
sentindo e desejando aquilo tanto quanto eu me fez pensar no quanto queria
retribuir a felicidade que sentia ao estar ao seu lado, mas ela merecia algo
especial. A noite estava propicia para isso e queria que ela sempre se
lembrasse desse dia. Isso é algo muito importante se ela conseguiu esperar até
aqui eu preciso retribui de alguma forma.
Ainda na rua saquei o celular do bolso e liguei para a dona Graça, ela
e seu marido cuidam da minha casa na praia, mesmo sendo tarde, falei que
estava planejando um jantar romântico precisava que ela providenciasse tudo
para nosso conforto. Pedi, também, que ela decorasse o meu quarto e
banheira com pétalas de rosa, isso eu tenho que agradecer depois a Ana por
ter insistido em fazer um jardim na casa, e velas, essa parte achava muito
difícil de conseguir naquela hora, mas não custava ariscar; eu quero o melhor
para minha Cely. Porém, ela me assegurou que conseguiria numa lojinha
próxima ao calçadão que não fecha nos finais de semana. Escutei-a chamando
o marido e se animando com os preparativos. E me garantiu que quando
chegássemos estaria tudo pronto.
Primeiro passo – ok
Em seguida liguei para o Davi, meu sócio também tem que ajudar
nessa aventura.
— Fala meu velho? Algum problema? – Perguntou do outro lado da
linha.
— Não, cara. Liguei para te pedir ajuda. – Falei abrindo a porta.
— Então pode falar! – Respondeu prontamente.

— Preciso que você providencie um jantar, alguma massa talvez,


petiscos e frutas... – falei tentando lembrar se não faltaria nada – ah! E pega
também um daqueles vinhos de safra especial. – Escutei sua risada - para
ontem! Estou indo pegar daqui a pouco.
— Uau! Nossa, Miguel! Que novidade. Parece que alguém quer fazer
algo especial...
— Você não imagina o quanto! – Falei realmente animado com o meu
plano.
Segundo passo – ok

Entrei no meu quarto para ver as crianças eu tinha outro plano para
elas. E o que vi me deixou ainda agradecido por ter encontrado a Cely. Meus
filhos dormindo lado a lado como dois anjinhos. O Lucca estava de costas
com sua perninha repousada num travesseiro enquanto a Liv estava de lado
com as duas mãozinhas debaixo do rosto. Aproximei-me dei um beijo e em
cada um sem acordá-los e segui para o banheiro e tomei um banho. Vesti uma
bermuda, camisa de botão e sapatos o mais confortável possível. Peguei algo
de extrema necessidade para a noite no armário do banheiro, para a
tranquilidade e segurança da minha Cely.
Fui até a cozinha e deixei um bilhete para a Ana avisando sobre o
plano e dizendo que pela manhã assim que os meninos acordassem
arrumasse-os fossem até a praia que a Cely e eu estaríamos os esperando.
Pedi, também, que convidasse o Otta e a Dany para ir juntos com eles.
Minha vontade era poder ter a Cely só para mim neste final de
semana, mas não posso e nem quero ficar longe dos meus meninos e tenho
quase certeza de que ela também não quer ficar longe deles por muito tempo.
Terceiro passo – ok
Com tudo resolvido segui para a casa da minha adorável vizinha e
namorada. Entrei e não a encontrei pela casa só me restava um cômodo. E
segui para lá. Em pouco minutos ela saiu do banheiro e me presenteou com
uma bela vista que me atiçou ainda mais, contive-me o melhor estar por vir.
Pedi que ela se preparasse e fui aguarda-la na sala.
Quarto passo – ok
Chegamos ao restaurante deixei-a no escritório e fui até a cozinha.
Não que ela já não supusesse o que estava planejando, mas queria continuar
com o clima de mistério.
— Tudo certo? – Perguntei ao Davi que estava finalizando o meu
pedido.
— Quase... espera a Luana foi buscar algumas coisas também. –
Assenti.
— Fico feliz por você. Espero que você aproveite muito esse final de
semana.
— Cara, vou ficar te devendo mais uma. O que você precisar pode me
pedi. Mais uma vez você está quebrando o galho para mim.
— Olha que vou te cobrar em! – Advertiu – você já tem uma conta
bem grande!

— Pronto, aqui – disse a Luana entregando uma bolsa térmica –


rapidamente ele arrumou o nosso jantar. Peguei tudo que ele havia separado e
me despedi. Levei até o carro e voltei para buscar a Cely que estava no salão
conversando com a Rayssa.

Minha ansiedade não me deixava ficar parada ali naquele escritório e


resolvi sair de lá. Como queria deixar o Miguel prosseguir com seu plano não
quis impor minha presença e fui até o salão. Quando escutei:
— Você viu quem está aqui? – Perguntou uma das garçonetes.
— Vi e ele está ainda mais gato... – respirou profundamente – pena
que veio com aquela namorada. Eu tentei tanto chamar sua atenção...
— Disfarça ela está vindo – uma das garçonetes falou entre os dentes
para a Rayssa. Dessa eu me lembrava.

Desde aquele dia que o Miguel me apresentou como sua namorada


não tinha voltado aqui. As coisas aconteceram tão rápido e com os cuidados
médicos do Lucca não pensei em hipótese alguma me afastar dele nas minhas
horas vagas.
— Oi meninas – falei surgindo por trás da Rayssa que se virou como
se não tivesse falado nada anteriormente. – A noite está bastante animada
hoje.
— É, aos sábados aqui sempre lota. – Disse a Adriane. Consegui
lembrar o nome dela. A Rayssa continuava a me olhar como se quisesse me
estudar. – Eu vou atender aquela mesa – se apressou em dizer e me deixou
com a mulher que tem interesse no meu namorado.
— Fico muito satisfeita com o sucesso do restaurante. Acho que vou
começar a vir mais vezes aqui para ajudar o Miguel. Você sabe como é vem
muita gente por aqui e meu namorado- falei com naturalidade, mas estava me
mordendo de ciúmes- é um homem muito bonito e eu não posso deixá-lo
sozinho porque aposto que tem muita mulher querendo chamar sua atenção.
Você não acha Rayssa? – Falei deixando a entender que eu escutei sua
conversa.
— Si-sim claro. Lu... – falou tentando lembrar meu nome. Sério?! A
mim você não engana.
— Lucélia, mas pode me chamar de Lu. Rayssa – falei me
controlando. Eu não posso odiar todas as mulheres que acham meu namorado
bonito. E isso ele realmente é, mas essa MULHER não me entrava de jeito
nenhum.
— Vamos, minha linda? Já podemos continuar nossa aventura. – O
Miguel falou me abraçando pela cintura e agradeci mentalmente por isso.
Vontade de sambar na cara dela! "se controla" minha consciência me alertou
mais uma vez.
— Vamos amor estou muito ansiosa por nossa noite. – Disse dando
um selinho nele – tchau Rayssa até qualquer dia. – falei passando a mão nas
costas do meu namorado. Não é nada demais mostrar a certas pessoas o seu
lugar. Não me julguem por isso, please.
Nossa curta viagem foi ótima e em torno de quarenta minutos
chegamos. E eu estava tentando conter a expectativa de ter minha primeira
noite romântica. Não me levam a mal, mas nunca fiz nada parecido para
alguém e era por essa entre outras razões que a Cely é a minha mulher
especial. Aquela que fazemos tudo para que seu bem-estar e prazer esteja em
primeiro lugar.
Conduzi-a pela casa até o primeiro andar sem deixar de perceber seu
entusiasmo e encantamento.
— Sua casa é muito linda Miguel! Olha essa vista então?! – Falou se
referindo a varanda de fronte ao mar que nos trazia uma brisa agradável da
madrugada.
— Venha – conduzi-a até uma pequena sala conjunta à varanda e
deixei a porta de vidro aberta já que ela gostou tanto da vista – vamos jantar?
E eu mesmo me surpreendi com a superprodução que a Graça fez. A
mesa estava posta com pratos e talheres como num restaurante, taças e balde
de gelo e várias velas em suportes vermelhos deixavam o ambiente mais
aconchegante.
Aproximei-me de uma das cadeiras e afastei para ela sentar.
— Uau! Como você conseguiu fazer isso em tão pouco tempo?
— Digamos que eu tive uma ajudinha de alguém especial. – Disse
fazendo suspense.
— Depois quero saber quem foi porque eu quero agradecer
pessoalmente.
Abrir o vinho espumante que trouxe e propus um brinde.
— À mulher pela qual estou apaixonado e que tem mudado a minha
vida e a vida do meu filho.

— Ao nosso amor e a tudo que você representa em minha vida e na


vida da minha filha.
Jantamos num clima de romance a todo momento tocava em suas
mãos ou a beijava. Eu estava sofrendo de antecipação e excitação por aquela
que me roubou meu coração.

O meu namorado gato tinha se superado. Como ele foi capaz de


pensar em tudo isso em menos de duas horas?! E quão romântico ele estava
sendo. Atencioso, carinhoso se tivesse dúvidas sobre o que sinto por ele, elas
se dissipariam hoje.
— Em que você está pensando? – Perguntou-me apoiando o queixo
em meu ombro.
Estávamos abraçados na varanda, após o jantar, observando a vista
que era muito linda sob a luz do luar. Eu sempre adorei o mar.

— No quanto você conseguiu se infiltrar no meu coração, no quanto


você acertou em me trazer para cá. Eu simplesmente amo praia. – Disse me
virando para ele.
— Tudo para o seu prazer e bem-estar. – Disse falando bem próximo
dos meus lábios e o hálito quente e alcóolico me fez arrepiar.
Ele tomou-me num beijo avassalador e eu já não entendia em que
ritmo a escola de samba tocava em meu peito. Ainda mais depois de senti
suas mãos me acariciando e me tirando no chão.
Fui levada no colo até uma porta ainda na varanda ao lado da sala
onde jantamos que logo sendo aberta vi a coisa mais romântica da minha
vida. Se já tinha me surpreendido com o jantar a luz de velas. Eu não sei o
que falar desse quarto! Senti-me numa cena de novela eu estava abobalhada.
— Mi-Miguel... – não conseguia formular nenhuma frase completa.
— Hoje à noite é inteiramente nossa e quero que você tenha a melhor
noite de sua vida - disse me colocando na cama.

Observei o quarto todo, leia-se exatamente todo, coberto de pétalas e


pequenas velas acesas eram a única forma de iluminação dentro do cômodo.
Em algum canto vinha uma gostosa essência que parecia despertar todos os
meus sentidos. O Miguel foi até uma mesinha e acionou um controle remoto
e logo estava saindo uma melodia super-romântica.
Regressou com duas taças de champanhe, chocolate e morangos numa
tigela que logo foram colocados em cima de um criado mudo ao lado da
cama. Entregou-me a taça. E repetimos o brinde. Vi-o tomando um goele de
seu copo e segui acompanhando-o, olhando o líquido descer pela sua
garganta de maneira suave e erótica.
— Toda noite romântica deve ter uma dança. – Disse me estendendo a
mão que prontamente a recebi.
Ele segurou minha cintura e apoiei a cabeça em seu peito. Dançamos,
assim por alguns segundos até que senti sua mão subindo em meus cabelos.
Ele ergueu minha cabeça e guiou-se até os meus lábios e nos entregamos
aquele bailado de lábios e línguas.
Eu estava no melhor lugar do mundo inteiro, os seus braços e suas
caricias eram envolventes e inebriantes. Eu queria poder retribuir cada
sensação que me despertava. No ímpeto enlacei meus dedos nos cabelos e
senti vibrações passarem entre nós.
Aproveitei o momento e comecei a abrir sua camisa. Eu estava
ansiosa para reproduzir os acontecimentos dos meus sonhos onde sempre
terminava em seus braços e o que eu mais desejava estava acontecendo na
hora certa e com a pessoa certa.
Sentia-me inebriada com aquele homem lindo e sexy de camisa aberta
mostrando seu tórax definido sem exageros. Afastei-me para visualizar
melhor e constar de que não se trata de um sonho.
— Me diz que eu não estou sonhando. – Disse com a voz
entrecortada.
Ele se aproximou de mim sorrateiramente e beijando meu pescoço
perguntou:
— Isso parece um sonho para você?
A sua barba sobre minha pele me deixava mais ligada ao cada gesto
seu. Meu sangue pulsava numa excitação líquida até perceber seus
movimentos para levantar meu vestido. Paralisei e meu coração errou uma
batida de precipitação. Após o retira-lo repetiu meu gesto e se afastou de mim
e vi sua expressão mudar o brilho dos seus olhos aumentaram.
Voltou a atacar meus lábios e me guiou, sem interromper o beijo, até
a cama. Reverenciou cada pedaço de pele do meu corpo e me fez sua mulher
de uma maneira tão sublime que nem todas as palavras existentes seria capaz
de descrever.

Sempre ouvi que sexo com amor é muito melhor e sempre acreditei
que isso fosse conversinha de mulher apaixonada, mas vejo que me enganei.
Nunca tinha me entregado tão plenamente a alguém. Foi o melhor de toda a
minha vida.
Estávamos abraçados, nossos corpos colados, anestesiados de tanto
prazer.
— Minha linda – passei as mãos em suas costas desnudas. Ela estava
repousando em meu peito. E eu querendo ter oitos braços para sentir cada
pedaço de sua pele macia – vamos tomar um banho juntinhos? Quero cuidar
de você – disse depois de beija-la castamente e esperando desesperadamente
para encontrar o restante da surpresa.
Fomos até a porta lado da porta da varanda e ao abri-la encontramos
uma banheira cheia de espumas e pétalas vermelhas.
— Acho que estou dentro de uma cena de novela. – Disse se
divertindo -Onde estão as câmeras?
— Isso é o mínimo que você merece por ter esperado por mim – disse
beijando eu pescoço. Eu não conseguia parar de tocá-la, beijá-la.
E naquele banho entre várias carícias e juras de amor, no amamos
mais uma vez e depois outra vez na cama. Quando nos rendemos ao sono
estava apreciando alguns raios do amanhecer em sua pele. Ela era um sonho
bom acontecendo na realidade.

Acordei ouvindo uma vozinha serelepe que reconheceria de longe e


ela estava pedindo para me ver.
Abri os olhos e percebi um braço quente e forte em volta da minha
cintura. Eu estava dormindo de conchinha com o Miguel! Aquela sensação de
bem-estar, proteção, de ser amada e de relaxamento tanto pela brisa e ruídos
do mar quanto da noite intensa que tivemos não saia do meu peito.
Virei-me devagar, seu semblante sereno e feliz. Ele como sentindo
meu olhar sobre ele esboçou um sorriso. Era confortavelmente prazeroso
acordar do seu lado.
— Admirando-me, minha linda? -Falou abrindo aquele par de
belíssimos olhos.
Ele me beijou me fazendo recordar de ontem ou hoje... não importa.
— Tudo o que aconteceu é real! – Falou após o beijo. Puxando-me ao
seu peito – Isso é a Liv não é?
— É. Eu queria poder ficar mais com você, mas se não sairmos logo é
bem capaz dela entrar aqui como um furacão e nos surpreender desse jeito! –
Estávamos como viemos ao mundo.
Depois de alguns minutos saímos do nosso ninho e encontramos
nossos convidados, adorei a ideia dele de trazer todos para cá, já com roupa
de banho e na piscina. Minha Liv com seu biquíni amarelinho de florezinhas
e de boias nos braços tentava nadar aos comandos do Otávio que estava na
piscina com ela enquanto o Lucca observava sentado na espreguiçadeira.
— Bom dia meu amor – falei beijando seus cabelos. – Bom dia,
Dany.
— Bom dia espertinha. Quero saber de tudo. – a última parte falou
entre os dentes para o meu filho não entender.
— Bom dia mamãe. – Falou triste.
— O que aconteceu? - Falei me sentando perto dele.
— É que eu queria nadar na piscina – falou cruzando os braços - eu é
que tinha que ensinar a Liv nadar! Eu sou seu irmão mais velho.

Esse menino não é um fofo? Já preocupado com o que ensinar para


irmã.
— Oh, meu anjinho – falei abraçando e puxando-o para o meu colo –
não fica assim não tá? Você poderá ensinar várias outras coisas legais para
ela. Você vai ver. – apertei-o me forte.

Como eu amava aquele menino. Meu coração chegava a doer.


— E também tem que ser um adulto para ensinar porque vocês ainda
são crianças e é perigoso – o Miguel falou de pé próximo de nós.
— Papai! O senhor não foi nos acordar de manhã como a vó Ana
prometeu.
Olhei para o Miguel e ele esbanjava um sorriso que me fazia
estremecer.
— Oh, mini-mim prometo que outro dia a gente dorme juntos e te
acordo com muitos beijos. – falou bagunçando o cabelo dele.
— Mamaaãe! Olia, eu tô aplendendo a nadau. Fica olando vi. – Falou
com empolgação e todos nós rimos.
— Estou vendo minha princesa. – Respondi observando.
— O Otávio se dar muito bem com crianças, Dany. - Falei para minha
amiga.
— Ele sempre foi assim. – O Miguel falou – sempre achei que ele
seria o primeiro a deixar herdeiros. Vai se preparando Dany porque ele vai
quer ter pelo menos um time de futebol em casa.
— Santo Deus! Eu vou virar uma parideira assim.
— Pode apostar que sim, gatinha. –Respondeu ele da piscina sorrindo
com malícia.
Tivemos um dia maravilhoso passeamos na praia no finalzinho da
tarde e fizemos de tudo para que o meu Lucca não ficasse isolado por conta
de sua perninha. O Miguel o levou sentado nos ombros nem preciso falar que
ele adorou a ideia o que deixou a Liv com inveja, mas logo o Otávio resolveu
que ela poderia ir com ele e o resultado foi a corrida mais inusitada que já vi.
Duas crianças grandes arrancando risos e gritos dos meus pequenos.
Logo após nossos amigos retornaram para casa e nós decidimos que
passaríamos mais uma noite naquela casa maravilhosa. Não era à toa que o
Lucca adorava aquela casa, segundo que o Miguel me falou. Liguei para a
Pam me substituir no plantão. A Ana também ficou conosco, para dar mais
privacidade ao casal de coelhinhos, mais conhecidos por nossos amigos, volta
e meia eles simplesmente sumiam e depois regressavam com a cara mais
lavada do mundo como se não tivesse acontecido nada. E também para nós
ajudar com os pequenos. Ter a Ana por perto nos deixa mais livres para
também termos nossos momentos de namoro. Apesar de não termos
conseguido "fugir" um minutinho sequer, mas quando eles dormirem...
— Bom, meus queridos, eu vou me recolher. Boa noite – a Ana nos
cumprimentou e nos deixou sozinhos naquela varanda linda de frente para o
mar.
— Boa noite, Ana – falamos juntos
Continuei a admirar e acompanhar o balanço das ondas negras
daquela noite.
— Acho que as crianças também deveriam dormir.
— Vai ser uma guerra tirá-los daquele filme animado. – Respondi me
deliciando com seu corpo bem colado ao meu e apoiei minha cabeça em seu
peito.
— Quanto mais cedo fizermos isso, mais cedo poderíamos aproveitar
mais um do outro – falou ao meu ouvido e me arrancando arrepios.
Concordei imediatamente com ele. As crianças passaram o dia na
farra e devem estar cansados.

Encontramos os dois bem juntinhos deitados no tapete, isso já tinha


virado rotina, eles adoravam deitar no tapete para assistir.
— Está na hora de crianças estarem dormindo. – Falei me
aproximando deles a Liv visivelmente lutava contra o sono.
— Mas mamãe eu plometi para o Luquinha que eu ia atisti com ele
poque ele nãum pode blincar na piscina comigo. – Minha pequena era uma
fofura.
— Mas você está quase dormindo aí, minha princesa. – Falei
provocando-a.
— Nãum tô nãum. – Respondeu rápido se ajeitando no lugar.
— Está sim, Livinha. Você até cochilou. – Ela fechou a cara – papai a
gente vai poder dormir com o senhor hoje? – Perguntou com animação e logo
minha pequena espertinha se alegrou também.
— Lucca...
— O senhor prometeu.
— Vamos sim meu amor todos vamos dormir e acordar bem
juntinhos. Agora vamos porque o dia foi muito agitado e estamos muitos
cansados.
Olhei para o Miguel que tinha uma interrogação enorme na testa. E eu
o olhei com se perguntasse se não era óbvio. Os homens, às vezes, parecem
tão bobinhos.
Levamos as crianças para o quarto e providenciamos tudo para o
nosso sono. A alegria de estar ali com eles como uma família era latente logo
estávamos em meio de brincadeiras e cócegas. Aquela cama era muito grande
e nos acomodou muito bem. O Miguel numa ponta e eu outra com forma de
barreira para que eles não se acidentassem e os dois no meio de nós. E depois
de beijinhos de boa noite eles acabaram dormindo.
— Obrigado. – Falou a me fazer carinho no rosto. Ainda
continuávamos deitados com nossos filhos. – Sem você nada disso seria
possível. Para mim, esse foi o melhor momento do nosso dia de brincadeiras.
É muito bom tê-lo ao nosso cuidado e proteção. – Falou olhando para eles.
— É verdade. Vê-los assim, ao nosso lado, me confere uma sensação
de que nada poderá acontecer a eles.
— E não vai, porque eu protegerei a todos vocês. – Falou com
firmeza – eu jamais vou deixar nada acontecer a qualquer um de vocês.
O meu coração que definitivamente já havia me abandonado e agora
pertencia efetivamente a ele, palpitou. Eu me sinto amada por ele em todos os
sentidos e estou adorando isso.
— Obrigada – falei já sentindo meus olhos marejarem.
— Não por isso. Agora vem preciso te mostrar outros lugares da casa
que você ainda não conheceu e que devem ser inaugurados por nós. – Falou
com malícia no olhar e isso foi o suficiente para me deixar animada.
Capítulo 32
Hoje estou muito feliz porque minha mamãe finalmente me levou
para tirar aquele gesso pesado que não me deixou ensinar a minha irmãzinha
a nadar e brincar com o Ted, meu cachorrinho. Em falar em nadar aquele dia
foi o melhor dia da minha vida! Pois é descobri que a mamãe namorava
escondido com meu pai com medo da nossa reação. Como são bobinhos eles
né. A Liv e eu sempre adorávamos os dois juntos. Principalmente, quando
eles deixam a gente dormir com eles, mas eu sei que não podemos todo dia
porque eles são um casal. Eu sei tudinho. Mas no primeiro dia que isso
aconteceu foi muito mara. A mamãe nos acordou com muitos beijinhos e
disse que ver meus olhinhos abrirem de manhã era quando seu dia ganhava
mais vida. Ela fez o mesmo com a Liv que adorou acordar do lado do "papai-
plincipe" como ela fala.
Depois disso já se passaram várias noites e eu pedi ao papai para
trazer elas para cá e morarmos todos juntos e ele até tenta, mas a mamãe é
irre...irre...tivel não sei dizer direito, mas o papai diz isso e ela fica brava. Eu
e a Liv achamos engraçado, mas nós queremos muito isso.
Agora estou chegando em casa sem o gesso e a Liv quer muito brincar
comigo e o Ted lá no jardim. A mamãe disse que pode, mas não posso forçar
muito a perna para não magoar.
— Mamãe, a gentle pode ir blincar agora? Por favozinho. – A Liv
pede a mamãe.
Ela olha para mim e sorri eu quero muito e ela sabe disso. As vezes
não queria tirar o gesso só para ter ela cuidando de mim com bastante
carinho, mas aí ela disse que quando eu tirasse ela aí me dar ainda mais
carinho por isso quis sarar logo.
— Pode, mas se exagero. E enquanto vocês vão brincar eu vou deixar
essas compras em casa. Comportem-se.
— Sim, mamãe – falamos juntos.
A Liv saiu me puxando para dentro de casa porque não podemos
brincar no jardim da frente sozinhos.
— Vamos, maninho. Anda logo!
— Estou indo – a Liv é sempre apressada.
— Oi, meu netinho. – A vovó Teresa fala. Ela estava sentada no sofá

— Oi, vó – falei desanimado da última vez que a vovó viu a Liv ela
saiu chorando com a mamãe e eu não gostei disso.
A Liv a reconhece e tenta ficar atrás de mim. Acho que ela tem medo
dela.
— É assim que se fala com sua avó? – Pergunta meio brava – isso
deve ser influência de certas amizades. O Miguel precisa selecionar seus
amiguinhos. Nem todos são bons para você meu netinho.
Ela olhou com uma cara feia para a Liv.
— Não fala assim da Liv ela é minha irmãzinha. Não gosto quando
você faz ela chorar.
— Deixa Luquinha. Eu não ligo a mamãe me ensinou que as vezes os
adultos falam coisa que não queler dixer e machucam um pouquinho. Aí a
gente quando vai dormir pede para Papai do céu pra Ele encher o coração
deles de muinto amor aí passa.

Ela olha para minha vó e sai de trás de mim. E com uma coragem que
só a Liv tem se aproxima dela.
— O que você quer menina atrevida?
— Vamos Liv que o Ted está nos esperando. – A Liv ficou paralisada
em frente a minha avó e sorriu como se tivesse lembrando de alguma coisa
— Dona Telera, a senhola palece minha vovó lá da minha andiga
casa. Ela semple tava de malumor quando a mamãe ia tlabalhar no hospitlal.
— Saia daqui, agora! Onde já se viu uma menina desse tamanho falar
assim. Sua mãe não lhe deu educação?
Puxei a Liv para a cozinha, mas ela parou e olhou para trás.

— Luquinha, sua vovó plecisa de ajuda. Ela tá tliste.


— Não entendi, porque você acha que ela tá triste?
— Poque ela não soli. – Falou como se foi óbvio. - Nem quando te
chamou de netinho.
— A vovó sempre foi muito fechada. Meu pai sempre me disse que
quando meu avô morreu ela ficou assim.
— Plecisamos fazer alguma coisa – pensou um pouco olhando para
ela sentada no sofá – já sei do que sua vovó gosta de comer?

— Queijo com goiabada – foi a vó Ana que respondeu porque eu não


sabia. A vovó nunca pode comer nada. Está sempre de dieta.
— Vovó Ana plepala isso o Luquinha vai levar pra ela.
— Você tem certeza de que ela vai gostar?
— Xim! Minha vovó semple soli quando levo o que ela gosta.

A vovó Ana me entrega um prato e a Liv pega um copo de água.


Chegamos até ela e entreguei.
— Vovó, trouxe para você.
— Obrigado meu querido. – Falou sorrindo. A Liv tinha razão. Ela
sorriu!
Ficamos à sua frente enquanto ela comia. Depois de um tempo a Liv
lhe oferece o copo. E quando minha avó se aproxima, minha irmãzinha beija
sua bochecha. Minha avó fica assustada, os olhos dela ficam grande.
— Por que você fez isso?
— Polque as vovós melecem beijinhos de calinho e quando o
colaçãozinho delas está tliste a gente dá comida e beijinhos.
Minha avó ficou parada sorriu mais uma vez e chorou. Minha avó
chorou! Minha avó Teresa nunca chora! Me joguei em cima dela e abracei.
— Não chora vovó – limpei a lágrima dela – nunca vi a senhora
chorar.
A Liv subiu no sofá ao lado da gente. E limpou a outra lágrima.
— Decupa, dona Teleza não ela pra senhola chorar. Ela pra senhola
soli.
— Lívia, o que foi que aconteceu aqui – a minha mamãe chegou e
pela cara dela ela não entendeu nada.
Capítulo 33

Imaginem o quanto não fiquei assustada ao me deparar com cena mais


inesperada da minha vida. A Liv com todo o seu jeitinho de ser pedindo para
a dona Teresa não chorar! Minha sogra! O que ela fez?
— Lívia, o que foi que aconteceu aqui? - Ela se assustou com a minha
chegada.
— Eu julo mamãe. Eu não quelia que ela cholasse. – Respondeu
fazendo uma carinha e se bem conheço minha filha vai chorar.
— É mamãe não briga com ela. A gente só deu um doce para a vovó.
– Lucca pediu.
— Eu não vou brigar com ninguém, mas porque vocês não deixam a
dona Teresa respirar um pouquinho? – Falei com medo de sua reação.
Eles se afastaram, mas antes o Lucca deu um beijo na avó e a Liv por
impulso quis fazer também, porém parou no meio do caminho e desceu do
sofá.
— Dona Teresa, está tudo bem? A senhora está sentindo alguma
coisa? – Perguntei preocupada.

— Não... está tudo bem - respondeu com um olhar vago limpando seu
rosto das lágrimas – preciso ir.
E saiu pela porta com o andar mecânico.
— Agora, os dois vão me explicar direitinho o que aconteceu aqui. –
Falei sério com os dois que já estavam escorados na Ana.
Depois de toda a explicação entendi que realmente a dona Teresa está
passando por alguma situação complicada preciso falar com o Miguel sobre
isso.
As crianças ficaram brincando com o Ted e eu fui ajudar a Ana no
jantar. O Miguel tinha combinado com o Davi para as noites ele ficar em
casa, assim trabalharia durante o dia e a noite ficava comigo e as crianças e
no final de semana eles alternavam. Eles contrataram outro chefe e dividia o
trabalho com o Davi que também estava trabalhando demais. Há poucos dias
ele assumiu o namoro com a Luana e os dois só querem ficar o máximo de
tempo juntos. Natural porque isso ocorre comigo e o Miguel também e que
desde regressamos da praia há duas semanas não conseguimos mais ficar um
tempo livre sem que possamos estar juntinhos.
Na hora de sempre ele chegou e as crianças que já estavam limpas da
brincadeira no jardim e o abraçaram.
— Papai! – Correram quando perceberam a sua chegada.
O Miguel se abaixou e os dois ao mesmo tempo se penduram em seu
pescoço e ele como o papai forte que é levanta os dois ao mesmo tempo e
beija o rosto de cada um.
— O papai é o mais forte de todos os plincipes!
Ainda com eles nos braços chega até a cozinha e cumprimenta a mim
e a Ana que também observava a cena.
— Então, como foi o dia de vocês? – Perguntou ele quando já
estávamos sentados a mesa após seu banho e nunca vou ficar imune daquele
cheiro de Miguel.
— A mamãe ajudou o médico a tirar aquele gesso chato da minha
perna, papai.
— A gente blincou e colemos com o Ted tabém. E ficamos todos sujo
de tela.
— Foi a mamãe deixou só um pouquinho, mas depois tivemos que
tomar banho. Foi muito legal papai. Só fiquei triste por a vovó Teresa ficou
chorando.
— Como assim a minha mãe veio aqui? – O Miguel direcionou a
pergunta para mim – ela fez alguma coisa contra você ou a Liv?
— Não Miguel fique tranquilo – disse passando a mão em cima da
dele.
— Ela cholou poque eu dei um beijinho de calinho nela.
— Você fez isso filha? – O Miguel parecia surpreso.
— Fiz papai, mas ai ela cholou e depois foi embola quando a mamãe
chegou.
— A gente levou um doce que a vó Ana fez ela até sorriu quando
levei, mas depois chorou eu nunca vi ela chorar, mas eu abracei ela como o
senhor faz comigo quando eu choro, mas não adiantou.
— Miguel, acho que sua mãe está precisando de ajuda. Ela deve está
passando por algum problema e você precisa ajuda-la. – Falei preocupada. Eu
sei que ela não está bem.
— Vou procura-la amanhã, minha linda.
Eu não quero preocupar o Miguel, mas temo que ela esteja doente,
pois achei ela com a pele amarelada.
MIGUEL
— Você não precisa ir, Cely! – Falei pela milésima vez. Isso já está
ficando chato.
— Não Miguel hoje não!
— Você é muito teimosa sabia...
— Mamãe, por favor a senhora prometeu que quando tirasse o gesso
ai me dar mais carinho e eu já estou curado. – Argumentou o meu filho.
Duvido ela resistir agora.
— Mas eu já fiquei ontem e antes de ontem também não posso ficar
todos os dias. – Falou para ele.

— Mas a senhora bem que podia morar aqui com a gente aí eu ia


acordar com muitos beijinhos. – Falou enfatizando o muito.
— Mamãe eu tabém quelo ficar – contribuiu a Liv.
— Liv, você tem seu quarto da Frozen que quase não usa em casa te
esperando.
— Já sei! – Falou – a gente pede pro plincipe desalumar tudinho e tlás
pra cá. – Trouxe a solução e eu adorei isso.
— Eu ajudo! – Animou-se ainda mais o Lucca. Realmente eu tinha
ajudantes de peso.

Aproximei-me dela e beijei seu pescoço.


— Tá bom vocês venceram, mas não se acostumem! Só hoje!!!
Capítulo 34

— Bom dia, meu super-herói favorito! – Falei para o Lucca – abra os


olhinhos para deixar meu dia mais alegrinho.
— Bom dia mamãe! – Disse com um sorrisão no rosto.
— Bom dia, minha princesa mais bela! – Falei para a Liv que já
estava acorda esperando que eu fizesse o mesmo com ela. – Abra os olhinhos
para deixar meu dia mais alegrinho.
— Bom dia mamãe! – Disse com toda energia. As pilhas dela
recarregam durante a noite.
— E eu não ganho beijinho de bom dia? – Reclamou o Miguel ainda
de olhos fechados esperando "acordá-lo".
— É mamãe faltou o papai. – O Lucca ajudou.
— Então, vamos acorda-lo os três juntos. No três – eles afirmaram –
um, dois ...
— Três! – Nós três falamos juntos e o enchemos de beijinhos e
cosquinhas.

— Acordar assim é muito bom sabia? – Falou depois que conseguiu


controlar nossas ferinhas. Eles realmente se aproveitam dessa farra.
Realmente o melhor de dormirmos todos juntos era essa farra pela
manhã. Ver a felicidade nos rostos dos meus bebês era gratificante.
Depois de arruma-los e fazê-los tomar café da manhã os levei para
escola. Nossa rotina era assim: De manhã os deixavam na escolinha e na
saída o Miguel ou a Ana os buscava. Ela ia só quando havia algum
imprevisto no restaurante porque o Miguel não abria mão de ir busca-los e se
fazer presente do dia a dia deles. E quando largava do hospital ia para casa
ajudar a Ana, pois aqueles dois não são fácil juntos. Algumas vezes íamos no
finalzinho da tarde fazer uma visitinha ao papai, porque tenho que ficar de
olho de em certas pessoas que não perdem a oportunidade de se atirarem em
cima do meu namorado.
Chegamos à escola e como de costume levava os dois até o portão,
um de cada lado.
— Tenham uma boa aula e comportem-se! – Falei antes de beijar
cada um nos rostos.
— Xi, lá vem o chato do Vitor! – A Liv reclamou. E o menino correu
até nós.
— Oi, Liv! – Falou todo sorridente.
— Oi. – Respondeu com a cara feia – bola maninho – disse se
segurando no braço do Lucca. Sem dar muita atenção ao menino
— Vamos. Tchau Mamãe!
— Tchau filhos!
E fiquei lá pelo tempo de vê-los entrar e o Vitor correr atrás dos dois.
Os dois realmente não querem o Vitor por perto e é melhor assim.
Cumprimentei, por educação, a Andreia, pois agora sei do seu plano
de conquistar o Miguel apesar de nunca ter feito ou dito nada para me
prejudicar e me ofender. Porém, não confio totalmente no seu sorriso fácil.
Não pensem que sou uma neurótica e desconfio de todas as mulheres, mas ela
não me aspira confiança.
No trabalho, tudo correu bem. Não houve grandes problemas e estava
ansiosa para largar, pois faria uma visitinha no restaurante antes de ir para
casa. Estava faltando menos de uma hora para o horário quando fazendo uma
ronda pelo hospital vi a dona Teresa saindo do hospital era a segunda vez que
a encontrava, mas a primeira não havia nada para se preocupar. Mas ontem
percebi que há alguma coisa errada.
— Dona Teresa – chamei e tentei alcança-la.
Ela percebeu minha presença e tentou se esquivar.
— Espere. – Pedi segurando seu braço. – O que está havendo com a
senhora? Não tente me enganar porque eu sei que a senhora não está bem.
— Você está enganada e dá para soltar meu braço? – Falou ríspida.
— Eu só queria que soube que pode contar comigo.
— Estou pedindo sua ajuda? Não! Então me deixa em paz!
— Não. Não deixo! – Respondi no mesmo tom – eu sinto e vejo que a
senhora precisa de ajuda.
— Você não sabe de nada. Está querendo só ganhar pontos comigo
por causa do meu filho. Pensa que eu não sei que é isso – acusou. - Sei bem o
que mulheres da sua laia fazem!

— Agora quem está enganada é a senhora. Eu amo seu filho, mas


independentemente dele quero ser sua amiga. Eu sei que tenta proteger seu
filho e eu entendo. Por meus filhos sou capaz de virar uma fera, mas me
permita me aproximar da senhora. Ajudar-lhe...
— Não sou obrigada a suportar você. E além disso não estou pedindo
sua ajuda.

Nossa!!!
— Tudo bem. Mas pense no seu filho e seu neto. Eles gostam da sua
presença e a senhora está cada vez mais se afastando deles.
— Culpa sua! Agora eles só têm tempo para você e sua filha atrevida.
– Baixou o tom da voz – quem liga para uma velha como eu.
— Todos nós. Seu filho, seu neto e eu. Só permita se aproximar deles.
Eles sentem sua falta. Não precisa gostar de mim, mas não os deixem sem
sua presença. Não quero os separar– apelei. Sei que eles tentam nos proteger
das grosserias dela, mas a querem por perto.
— De que jeito se sempre está lá. Você e sua filha estão
monopolizando-os.
Jesus Cristo, dê-me paciência!
— Vamos fazer assim. – Melhorei meu tom de voz – vá até hoje à
noite cuidarei para não lhe importunar com minha presença ou de minha
filha.
Vi-a se encher de esperança. Será que ela não está indo à casa do
Miguel porque estou lá?
— Tudo bem agora me deixa ir embora.
Por mais que ela esteja sendo rude comigo. Sei que no fundo isso é
apenas uma máscara. Ela tem medo.

— Obrigada. – Falei com sinceridade e com a certeza de que ela está


enciumada e sem dúvidas teme pelo sofrimento do filho.
Voltei para o hospital e procurei saber sobre sua saúde e acabei
descobrindo o motivo de estar fazendo tantos exames.
Capítulo 35

— A decisão é sua. - Falei já sem paciência de prolongar mais aquela


conversa. E ela permanecia com a mesma empáfia de que me lembrava.
— O que tinha para dizer já disse a minha irmã. Eu preciso de
dinheiro. – A Joyce falava e aquela situação estava inaceitável. Eu não vou
permitir que fique extorquindo a Cely.
— Você tem noção do que está fazendo é crime? – O Otta perguntou.
— Sei, mas se minha irmãzinha quer minha filha ela vai ter que me
ajudar porque se não vou a justiça e tomo a menina dela.
— E você acha que algum juiz vai entregar uma criança aos seus
cuidados? É melhor você ficar longe delas. Não se atreva a atravessar o
caminho da minha mulher e da minha filha.
— Está me ameaçando? – Falou tentando me intimidar – o que você
vai fazer Miguel?
Eu não sabia o que falar. Não podia deixar a Cely cair na chantagem
desse ser desprezível tampouco iria deixa-la me intimidar.

— Joyce, escute. – O Otta pediu – você não pode sair por aí pedindo
dinheiro e chantageando a sua irmã porque ela ganhou na justiça a tutela da
Livia. Isso é crime.
— Mas ela é minha filha!
Filha. Agora ela é filha?
— Filha que você maltratava. Você nunca gostou da menina e agora
que a minha princesa – não podia esconder os meus sentimentos pela minha
princesinha era mais forte que eu – está bem e feliz você quer chantagear e
quem sabe tentar tirar a menina da sua mãe verdadeira para fazê-la sofrer.
— Eu me meti numa encrenca e preciso de dinheiro. E a Lucélia tem
que me dar. Eu não quero ficar com a menina. Então se você quer tanto viver
bem com sua amada e aquela fedelha pague você o valor...
— Há outros meios de se conseguir dinheiro. Por que não arrumar um
trabalho – o Otávio com toda paciência do mundo tentava convencê-la para o
seu próprio bem. Eu já não tinha mais nenhuma e definitivamente estava
pensando em eu mesmo pagar sua dívida e exigi que desaparecesse da nossa
vida.
— Que trabalho me arrumaria tanto dinheiro em tão pouco tempo? E
eu também não estou disposta para trabalhar em qualquer emprego. Eu não
nasci para isso. – Pensou um pouco – Miguel é o seguinte se você quer que
eu deixe a sua amada e sua "filha" livres pague você o dinheiro. - Falou
retirando-se da sala como se não tivesse acabado de falar o maior absurdo
que já se ouviu.
— Otávio. – Passei a caminhar pelo meu escritório – eu vou dar o
dinheiro a ela.

— Você está louco?! Nem pense numa coisa dessas! Ela nunca te
deixaria em paz e isso é crime. E você pode se prejudicar. Não posso deixar
você fazer isso.
As palavras do meu amigo não estavam fazendo efeito e se para
preservar minhas garotas eu tenho que fazer isso eu farei. Continuei
encarnado o movimento da rua.

— Eu não posso deixar minhas garotas à mercê dela.


— Dei-me alguns dias – pediu colocando a mão no meu ombro – vou
buscar meios legais e seguros para não as deixas desamparadas enquanto isso
você se mantém afastado dessa toxidade da Joyce.
Concordei e tentei me concentrar no meu trabalho hoje é dia de
receber o fornecimento e preciso conferir.
Cheguei ao depósito, hoje era a folga do Davi e o outro chef estava se
familiarizando com o trabalho.
— Oi, Miguel, posso te ajudar? – A Rayssa falou próxima a mim.
— Não precisa Rayssa. Eu preciso ocupar minha mente. Vai ser uma
boa distração.
— Realmente, estou notando você tenso, preocupado. – Falou
tentando se aproximar. Não vai por aí garota isso não vai funcionar – eu
posso te ajudar a lidar com seu problema é só você me deixar...
— Não faz isso. – Falei segurando suas mãos que vinham em minha
direção – eu não estou interessado e nem precisando disso. Eu tenho
namorada.
— Eu sei, mas ela não precisa saber...
— Não. Eu já falei que não preciso disso. Eu não vou trair a Cely.
— Mas estamos sozinhos aqui dentro desse depósito ninguém precisa
sab...
— Eu sabendo já é o bastante. Dá licença. – Falei abrindo a porta e o
Gabriel, irmão da Cely estava na porta.
Definitivamente hoje é o dia.
— Miguel, aconteceu um imprevisto e eu tive que vir pessoalmente
fazer a entrega – falou e correu o olhar de mim para a Rayssa. – Mas posso
voltar outra hora se você preferir.
Ele me olhou com a cara de poucos amigos. Era só o que faltava para
piorar meu dia. Primeiro ter que lidar com a chantagem da Joyce, o assédio
da Rayssa e agora a desconfiança do Gabriel, meu cunhado.
Capítulo 36

Minha irmã ter saído de casa com a Liv foi a decisão mais acertada
que a Lucélia já tomou, mas a saudade que sinto daquela bonequinha é
demais. Há dias que venho tentando fazer uma visita a elas ainda mais depois
que soube que ela está namorando. A Lucélia nunca namorou antes e preciso
me fazer presente para que ela saiba que estou do seu lado. O que me deixa
mais sossegado é que minha irmã é muito ajuizada e o Miguel aparenta ser
uma boa pessoa. Até minha sobrinha o chama de pai. O que me resta apenas é
respeitar as decisões dela e apoia-la no que precisar. Mas sem deixar de ficar
de olho nele. Não vou deixá-lo brincar com a Lucélia. Já a Joyce me
preocupa não só por ela como pelos meus pais. Eles já não têm idade para
estarem se aborrecendo e ela vem piorando muito no último mês.
— Gabriel, hoje é o dia da entrega da mercadoria do restaurante do
Miguel e eu acabei agendando o Rafael para o mesmo horário. Eu não sei
onde estava com a cabeça.
— Eu sei pai nos problemas que a Joyce vem arrumando. - Falei com
desgosto porque ela só vive aprontando - mas tudo bem eu vou. Aproveito e
faço uma visita a Lucélia.

— Faça isso e mande lembranças minhas para ela e minha neta.


Aquela espertinha está me fazendo uma falta daquelas.
O Caio, o nosso outro ajudante, já tinha carregado a caminhonete e
seguimos para a cidade vizinha.
— Caio, o que tem ouvido falar da minha irmã por aí? - Perguntei
assim que pegamos a estrada.
— Gabriel - coçou a garganta - escuto algumas coisas, mas sabe que
as pessoas exageram às vezes.
— Caio, seja o que for me fale. - Empreguei mais firmeza na minha
voz - eu conheço minha irmã e sei que não é flor que cheire.
— Bom, eu soube que ela está encrencada. Ela se meteu com um cara
barra pesada e fez ele perder muito dinheiro e agora ela tem que pagar sua
dívida até o final desse mês. - Por isso que ela anda agitada mais que o
normal.
— Mas ela não trabalha e ainda adquire dívidas! Quando será que ela
criará juízo?
— Ela está trabalhando...- deixou escapar e visivelmente se
arrependeu do que falou.
— Onde? - Perguntei no mesmo instante - Fala, Caio! Mais cedo ou
mais tarde vou acabar descobrindo.
— Prostituição na cidade onde estamos indo. O primo de um colega
falou. E no dia ela estava tão chapada que disse a ele essa história do dinheiro
e que a irmã teria que ajudar de todo jeito.
— Quando foi isso? - Perguntei tentando acalmar minha respiração.
Não é possível que ela foi incomodar a Lucélia.

— Mais ou menos umas duas semanas.


Lembro-me de que foi exatamente nesse período que a Lucélia me
ligou preocupada com a Joyce. Acelerei ainda mais. Eu tenho pressa para
saber se ela fez alguma coisa contra qualquer um das duas.
Cheguei ao restaurante e fui conduzido o depósito preciso alertar o
Miguel que agora é o homem mais perto da minha irmã eu infelizmente estou
longe e qualquer emergência demorarei para chegar.
Ao me aproximar do depósito encontrei o Miguel e a mulher mais
linda que já vi pessoalmente. Loira, bonita, cabelos grandes e lábios rosados.
Pensava que uma mulher assim tão linda só existia na televisão. Ela me olhou
como se não tivesse ninguém a sua frente, mas eu estava atento ao seu jeito
decisivo e ela estava muito próxima do Miguel e constatar isso me deixou
irritado. O Miguel estaria traindo a minha irmã?
— Miguel, aconteceu um imprevisto e eu tive que vir pessoalmente
fazer a entrega, mas posso voltar outra hora se você preferir. Acho que você
está muito envolvido no seu... - preciso me controlar - seu trabalho.
— Não. Você não está atrapalhando. A Rayssa já estava voltando ao
salão.
Rayssa. Então essa beldade tem nome agora. Rayssa tentei
memorizar. Não sei porque estou sem reação na frente dessa loira. Era para
estar colocando o Miguel contra a parede e exigindo explicações.
Fizemos toda entrega e o meu pensamento era poder ver a Rayssa
novamente.
— Miguel, eu preciso falar com você. É particular - falei olhando para
deposito que agora já tinha outros funcionários por lá.

— Vamos ao meu escritório. Lá falaremos mais a vontade.


— Faz tempo que a Rayssa trabalha com você? - Perguntei sem
pensar. Queria muito saber dela.
- Mais de um ano. - Respondeu e atravessamos o salão e lá estava ela
nos olhando com aqueles olhos verdes. - Preciso que você entenda que eu não
pretendo magoar sua irmã. Eu a amo. E não quero que você pense que posso
estar lhe traindo.
— Acho bom, porque minha irmã não está sozinha no mundo e eu
faço qualquer coisa para proteger e cuidar da Lucélia e minha sobrinha. Você
pode aparentar que quer o bem delas, mas estou de olho em você. Se fizer
minha irmã sofrer vai se ver comigo. - Ele sustentava o olhar firme em mim.
Não sei o motivo, mas ele me inspirava confiança - porém, quero alertar
sobre a Joyce. Você já deve saber da história da Liv.
— Sim. - Respondeu rápido. É sinal de que também não é satisfeito
com a situação - e eu também sou capaz de ir ao fim do mundo para protege-
las. Elas são minhas garotas. Minha família. E não vou magoar a Cely e
muito menos a trair. O que você viu foi um fora que estava dando na minha
funcionária. Infelizmente ela se excedeu.
Aquilo me frustrou um pouco, mas eu não tenho nada a ver com essa mulher.
— Fico feliz por isso. Eu moro longe e qualquer eventualidade ficaria
mais difícil de ampara-las. Soube que a Joyce apareceu por esses dias - joguei
a verde.
— Sim, apareceu. E anda fazendo chantagem com a Cely, mas já
estou resolvendo isso. O Otávio está entrando com uma liminar para mantê-la
longe da minha mulher e da minha filha.
Confiança. Gosto disso, mas que história é essa de mulher e filha?
— Pensei que estavam apenas se conhecendo e no princípio de
namoro.
— Eu amo a Cely. Ela é minha mulher especial e a Liv sempre me
despertou sentimentos de pai. - Falou com a expressão suave. Ele parece estar
sendo sincero.
— Que seja, mas na minha família gostamos de seguir a tradição.
Meu pai ainda não foi consultado sobre suas intenções de casamento ou você
pretende fazer isso que o seu consentimento?
— Não. De forma alguma. Combinarei com ela e faremos uma visita
a sua família.
Escutamos uma batida na porta e a Lucélia surge entre ela. Linda
como sempre foi e visivelmente o Miguel alegrou-se.
— Maninho, que surpresa boa! - Falou me abraçando.
— Como você está e a Liv? Estão bem? - Não tem como não me
preocupar com elas ainda mais depois de saber o que a Joyce está fazendo.

— Estamos bem, agora melhor ainda. Você já terminou com a


entrega?
— Sim, estávamos conversando e eu fazendo meu papel de irmão
protetor. Pode ficar tranquila que o Miguel já sabe que tem um irmão para ele
lidar caso venha fazer você sofrer. - Falei em rodeios. A Lucélia me conhece
e sabe meu jeito de agir.
— Você não precisa se assegurar disso, mas mesmo assim eu
agradeço pela preocupação. - Virou-se para o Miguel - Amor, posso roubar
meu irmão um pouquinho? Estava com muitas saudades- falou e ele a
abraçou pela cintura. É bom ver que minha irmã está feliz.

— Claro que não. Nos vemos mais tarde - disse e beijou seus lábios.
— Vem a Liv vai adorar de ver. - falou animada me levando porta a
fora e mais uma vez cruzei com a loira de televisão. Acho que sempre serei
eu a fazer as entregas aqui.
Capítulo 37

Rever meu irmão estava me deixando ainda com mais saudades dos
meus pais, principalmente do Sr. José. Desde que me mudei não os visitei.
Sai do restaurante abraçada com aquela montanha rústica e vi a
Rayssa de olho comprido para ele. Será que ela não pode ver um par de
calças?! Abracei-o ainda mais e lhe sorrir como provocação àquela
interesseira. 'Esse aqui é outro homem que você pode desejar e que nunca vai
tê-lo, querida. Você não faz o tipo do meu irmão'. Pensei olhando para ela.
Cheguei a casa e meus anjinhos estavam brincando no jardim
enquanto a Ana estava cuidando de suas rosas que até aparecem que a
reconhece, pois sempre ficam mais vivas e bonitas quando a "vovó" cuida
delas.
— Titio Gabe! – A Liv correu gritando quando viu o Gabriel descer
do carro – Voxê velio me ver.
— Minha bonequinha linda! – Gabriel respondeu se abaixando e a
erguendo no ar.
É bonito de ver o carinho que os dois sempre tiveram mesmo o meu
irmão tendo um jeito de durão.
— Vem tio Gabe. Vem conlecer meu maninho. Sabia que eu tenho
um maninho agola? Igual a voxê e a mamãe. Ele está ali com a vó Ana. –
Falou num fôlego só. O Gabriel olhou para mim como pedindo explicação e
eu apenas sorrir assentindo.

— Eu ganhei um casal de filhos, Gabriel. – Falei o guiando com o


olhar para o meu super-herói que estava um pouco acanhando em volta da
avó. – o Lucca é o filho do Miguel.
— Tudo bem princesa. – Respondeu para ela, mas com os olhos em
mim. – Você é uma mulher especial Lucélia.
— Ah, titio agola eu só deixo meu papai-plincipe me chamar axim.
Ele é um plíncipe e plincipes tem filhas plincesas e eu sou uma, mas isso é
segredo – falou em tom confessional e colocando a mão próximo da boca.
— Tudo bem desculpe boneca Livia. Você agora não quer saber mais
de mim. Só desse seu pai príncipe – meu irmão falou com falso ciúmes.

— Não fica axim não titio eu gosto quando voxê me chama de


bonequinha. – Falou séria olhando para ele.
Aproximamos dos dois que assistiam essa conversa baixinha dos dois
e o Lucca me abriu um sorriso
— Mamãe que saudades – falou me abraçando.
— Oi, meu super-herói já estava com saudades nos vimos pela
manhã. Como foi na escola? – Perguntei já com ele nos braços. É impossível
não trata-lo como um bebê e enche-lo de carinho. Quero suprir toda a sua
memória de falta de carinho materno.

— Foi bom ir sem o gesso. Eu brinquei com meus amiguinhos no


recreio e a Liv não teve que ficar ao meu lado me fazendo companhia porque
eu não podia brincar. Quem é esse com você mamãe?
— Ele é nosso tio Gabe! – Respondeu a Liv com empolgação – ele é
muito legal. Quando eu molava na outra casa a gente blincava todo dia. Ele é
o melhor tio do mundo! – Falou ainda nos braços fortes do tio.

— Boa tarde dona Ana – beijei seu rosto – esse é meu irmão Gabriel e
veio nos fazer uma visita.
— Muito prazer Gabriel. – Cumprimentou ela.
— O prazer é meu, senhora. Fico feliz que a Liv a tenha por perto.
Assim fico mais tranquilo. – Virou-se para o Lucca - Tudo bem, eu sou o
Gabriel, mas pode me chamar de tio Gabe também. – Falou estendendo a
mão para o Lucca como se já fosse um homem sério.
— Posso mesmo? – Vi o brilho da esperança nos seus olhos e isso
mexe comigo. Quão mal fez a falta de carinho de uma mãe a ele. Será que ele
não sente que pode ser amado?

— Claro que pode. Você não é o irmão da minha Liv? – o meu irmão
é o cara mais sensível que conheço de longe parece ser bruto, mas tem um
coração enorme no peito.
— Sou. – respondeu rápido.
— Então agora eu tenho dois sobrinhos – falou lhe estendendo o
braço para pegar o Lucca também.
— Viu como ele é legal? E forte! – Comemorou a Liv.
Os três ficaram brincando e eu aproveitei para chamar a dona Ana
numa conversa particular e entramos na casa.

— Dona Ana eu estou muito preocupada com a dona Teresa – falei


colocando água na cafeteira.
— Por que minha filha?
— Hoje a encontrei no hospital. Essa é a segunda vez e ontem quando
nos encontramos percebi que está um pouco amarela. – Falei realmente
sentindo por ela.
— Santo Deus! Ela está com alguma doença grave. Só pode ser isso
porque a Teresa tem pavor de hospital desde que perdeu seu marido, que
Deus o tenha, ela jurou não pisar mais em um hospital.
— Eu investiguei e ela foi fazer exames sobre seu fígado. Tentei
descobrir, mas os resultados só sairão amanhã. – Se o que desconfio for
verdade ela passará por tempos difíceis. – Mas antes falei com ela, quer dizer
implorei que me escutasse, só espero que tenha sortido efeito. Eu não quero
ser o pivô da separação entre mãe e filho. Eu sei que ela me odeia, mas eu
amo o Miguel.
— Eu sei querida. E ela não te odeia apenas não descobriu ainda que
você é a mulher que está colocando cor no mundo cinza dos meus meninos. E
quando ela perceber isso vai deixar de ter reservas. Você vai ver.
— Eu não tenho tanta certeza assim. Eu convivi com alguém seca
feito ela e até aqui não consegui grandes coisas. – Falei pensando em minha
mãe e todos os seus problemas emocionais. – Prometi a ela deixa-la a
vontade com o filho e o neto hoje. Disse que os deixaria a sós como sempre
foi. Hoje ficarei com a Liv aqui e não vou atrapalhar.
— Você é uma mulher especial Lucélia. O Miguel merecia uma
mulher assim na vida dele. Não se deixe abater veja como o Lucca está. –
Apontou para a janela. Sua risada era ouvida de longe – ele agora é um
menino feliz. Você está trazendo isso a sua vida.

Emocionei-me. Eu amo esse menino como se fosse saído de meu


ventre e por ele e Miguel eu vou consegui dobrar a Teresa e aprender a
conviver com ela.
Capítulo 38

Chegar ao final de mais um dia de trabalho, poder ir para casa ficar


com meu filho já é muito bom. Agora some-se a isso ter uma princesinha
esperta e uma mulher encantadora a me esperar não tem coisa melhor. Estou
muito feliz tê-las encontrado e formado uma família assim.
— Minha família! – Gosto do encadeamento dessas palavras tão
cheias de significados para mim.

Não posso dizer que não me preocupo com o que aconteceu hoje, mas
não posso assustar a Cely. Eu vou resolver e minhas garotas não serão
afetadas.
Entrei na garagem e nem olhei a casa em frente. Não sei para que ela
insiste em manter a casa alugada em frente a minha se à noite sempre
dormimos todos na nossa casa, porque não consigo ver nada mais sem ser
nosso.
Desci do carro com o coração acelerado ainda não me acostumei com
o seu sorriso quando me ver chegando. É um sorriso envolvente. Cativante. O
mais belo que já vi. Entro na sala e estranho a casa em silêncio.

— Cheguei! – Falei com suspense.


— Papai – o meu mini-mim veio da cozinha e me abraçou. Ergui-o
em meus braços. Meu garotinho está ficando pesado.
— Ai! Nossa como você está ficado pesado – disse e fingi que não
iria aguentar.
— Me segura papai! Me segura! – Ele já estava se agitando em meus
braços e rindo pensando que iria cair.
Como é bom escutar a risada do meu filho. Agora ela sai mais
espontânea e feliz.
A Ana surge até nós com um sorriso orgulhoso nos lábios. Sempre foi
assim. Ela nunca escondeu de ninguém o amor que sente por mim e pelo meu
filho.
— Boa noite, Ana. Cadê minha mulher e minha princesinha? –
Perguntei já arrumando o Lucca nos meus braços que visivelmente ficou
triste com a pergunta.
— Elas estão em casa, Miguel. A Lucélia disse que te ligaria...
— Como assim? Aconteceu alguma coisa? – Interrompi.
— Não. É que ela achou... – a companhia tocou. Será que é ela? Ela
tem a chave.
Coloquei o Lucca no chão e fui atender.
— Meu filho que saudade! – Minha mãe se pendurou no meu
pescoço.
— Mamãe... a senhora aqui – olhei para a casa em frente e só agora vi
as luzes acesas. Elas estão lá.

— Parece surpreso. – Falou se afastando – não está feliz com minha


presença?
— Não. Não é isso mãe. – Falei logo para acabar o mal-entendido – é
que a senhora nunca vem à noite... eu também estava com saudades desse
abraço – abracei-a novamente. Ela é minha mãe e nunca foi tão carinhosa
quanto a Ana, mas é minha mãe. Beijei seu rosto. – Vem vamos entrar. Já
jantou?
— Não. Vim na intensão de poder jantar com você. – Falou
segurando meu braço e só soltou quando se viu em frente ao neto. – Meu
netinho.
— Vovó a senhora veio mesmo jantar com a gente? – Como assim o
Lucca sabia?
— Vim meu netinho. Gostou?
— Gostei, mas eu queria ter minha irmãzinha e minha mãe também
comigo. Eu gosto da senhora e também gosto delas. – O Lucca está
defendendo a irmã e a mãe que seu coração escolheu e não tem como não
ficar orgulhoso.
Vi minha mãe ficar surpresa com as palavras do meu filho.
— O jantar já está na mesa. Venham. – a Ana surgiu na sala.
— Tudo bem Ana? – Minha mãe foi até a minha outra mãe que assim
como o coração de Lucca escolheu a Cely o meu escolheu a Ana desde
menino e segurou em suas mãos numa conversa silenciosa, mas com muita
coisa a sendo tida – acho que lutar contra vai ser desgastante e nunca vou
vencer.
— Acredite. Aceitei e deixe seu coração de mãe falar mais alto.
Perceba a mudança. É o melhor – elas estavam falando em código e eu sem
entender nada.
— Pois faça. Traga-a. Quero conversar com meu filho e neto
enquanto isso.
— Do que vocês estão falando? - Parece que entrei num mundo
paralelo.
— Do quanto eu amo você e vou respeitar suas escolhas. Vamos
sentar- apontou para o sofá – Lucca vem com a vovó.
Meu Lucca foi e sentou-se em seu colo e mais uma vez me surpreendi
com ela. Minha mãe sempre foi um tipo de mulher, mãe e vó durona sem
muitas demonstrações de afeto.
— Filho, você tem certeza do sente por essa mulher? – Esperava por
uma variante dessa pergunta, mas ela realmente me surpreendeu com a
delicadeza que foi pronunciada.
— Sim, tão claro e cristalino como água. – Falei com sinceridade e
com vontade dela comigo. Não consigo ficar muito tempo sem ela.
— Que bom. Vejo que com todos os meus erros e minha frieza eu
criei um homem que sabe reconhecer seus sentimentos, mas acho que isso
você deve ter herdado do seu pai. Ele era um homem amoroso, integro e
sabia reconhecer a dignidade das pessoas.
— Vovó, porque a senhora não gosta da minha mãe e da minha
irmãzinha? – O Lucca estava muito atento a nossa conversa.
— Não sei. Acho que medo de ver meu filho sofrer e ver você sofrer
– apertou sua bochecha – eu estava tentando te proteger. – Falou olhando
para mim – eu tinha medo de ver você sofrendo de novo com outro
abandono.
— Sinto sua sinceridade, mãe; porém a senhora precisa conhecê-la
primeiro – peguei sua mão. Eu sei como é difícil ver um filho sofrer. Eu
compreendo sua angustia. – verá que ela foi o melhor que podia acontecer em
minha vida nos últimos tempos. Depois do dia que o Lucca veio para mim, o
dia que a conheci foi o melhor.
— Fico feliz e se você está feliz eu também fico. Vou respeitar.
— Sabe vovó a senhora vai gostar delas. Eu não gostava que
apertassem minha bochecha e minha mamãe me ensinou que isso é uma
forma de carinho e que eu tinha que receber e te dar muito carinho, dizer que
te amo. E se por acaso a senhora dissesse alguma coisa que me fizesse ficar
triste eu tinha que perdoar, porque as vezes quando a gente ama demais uma
pessoa a gente diz coisas que não sente, mas loginho passa e a gente fica
arrependido.
— Eu te amo! – Disse beijando o rosto dele – eu amo os dois e quero
mesmo é a felicidade de vocês. E se for necessário que me afaste para que
vivam feliz com elas eu farei.
— Não vovó! Eu quero todos comigo. Eu te amo muito e amo a
minha mãe e minha irmãzinha também.
— Fica conosco mãe. Eu não preciso e não vou escolher uma das
duas. As quatro por enquanto são as mulheres da minha vida e não vou abrir
mão de nenhuma.
— No passado você só falava duas. Vejo que a concorrência vem
aumentando.
— E pode aumentar mesmo. – Falei pensando na filha que quero ter
com ela, igualzinha a mãe. - Sabe que são amores diferentes. O seu só é igual
ao da Ana. Essa sim a senhora tem que aceitar dividir igual. Como sempre.

Ter meu irmão a tarde comigo e minha filha foi muito bom. Sempre
nos demos bem embora sua aparência amedronte a primeira vista, mas seu
coração é enorme.
— Mamãe, polque a gente tem que ficar aqui? Meu papai vai ficar
tliste se não estiv... ve..ve.. Estar lá.
— Estivermos. – Corrigi-a. Ela está todo mocinha aprendendo falar
corretamente, apenas o "r" que não consegue deixar de falar "l" em seu lugar.
– Nós vamos ficar só nós duas. Vamos ter uma noite de meninas.
— Mamãe, eu não quelo uma noite de meninas. É muito mais legal
quando é noite de meninos e meninas.
Já vi que vai ser difícil de convencê-la, mas eu prometi a dona Teresa
e vou cumprir com minha palavra. Eu não quero atrapalhar convívio deles.
Eu sei como o Miguel é ligado a mãe, mesmo ela sendo fria algumas vezes.
Ele já me falou isso.
— Liv, minha bonequinha, a mãe do Miguel está com ele. Foi fazer
uma visita a eles. Acho que vão jantar juntos e eu prometi a ela que nós duas
iriamos ficar aqui e não atrapalhar.
— Tá celto mamãe. Eu sei que quando voxê... você plomete cumple.
Mas eu posso ficar tliste só um pouquinho? – Falou com aquela carinha de
manha. – É que adolo ver meu papai-plincipe chegar. Ele está semple
solindo.

Isso é verdade. É muito bom vê-lo chegar em casa e ser carinhoso


com os meninos de igual maneira. Sem distinções. O jeito como me envolve
em seus braços e me beija cheio de saudade, mesmo que a gente tenha se
falado a pouco por telefone ou por mensagem.
Eu não posso fazer coro ao seu pedido, mas também estou sentido
falta dos meus meninos.

— Eu vou colocar a mesa para jantarmos. Eu fiz sua comida


preferida! – Falei e fiz a comida já temendo sua recusa.
— Oba! – Essa é minha menina. Seu sobrenome devia ser: comida.
Ela tem um apetite de leão.
Estava servindo seu prato quando a companhia tocou. Quem será? Fui
até a porta e a dona Ana estava com um brilho diferente no olhar.
— Vim te buscar menina. Pega a Liv e vamos jantar lá em casa. –
Falou com alegria.
— Não, dona Ana. Eu prometi a dona Teresa a senhora sabe disso.
— Foi ela mesma que me pediu para vim. Ela te aceita. Não sei como
aconteceu, mas ela finalmente se rendeu. Eu diria que até que foi rápido.
Comigo foram longos anos até a sua total aceitação.
— Do que a senhora está falando? – Estava muito confusa.
— Outra hora eu te conto. Vamos o jantar já está servido. Liv, você
quer ir jantar na casa do papai?
— Eu quelo! - Falou já se levantando da cadeira - Eba! Nós vamos
mamãe?
Capítulo 39
—Então, você vem a casa do seu namorado? - Dona Ana me
despertou do transe.
— A senhora tem certeza? - ainda não estava acreditando.
— Tenho, mas se você continuar ai parada vai demorar muito e vai
causar uma péssima impressão. - Disse segurando o riso.
— Então... espera - falei fazendo um gesto com as mãos e conferindo
minha roupa. - Eu... eu só vou trocar de roupa rapidinho e já volto.
Corri para meu quarto e coloquei uma calça jeans e uma batinha de
alcinha, sandália rasteirinha. Está bom. Não muito arrumada e nem
desleixada. Prendi o cabelo num rabo de cavalo e voltei para a sala.
— Mamãe, a vovó Ana dixe que a dona Teleza está lá. Eu não quelo
ir mais não mamãe. - Falou entrando no quarto.
A dona Teresa assustou mesmo a minha bonequinha.
— Filha, ela estará sim. Aliás, foi ela que nos convidou. Ela é uma
mulher boa só estava com medo de que acontece algo ruim com o Miguel e o
Lucca.

— Mas eu gosto do plincipe e do meu irmãozinho não falia mal pra


eles.
— Eu sei, minha lindinha. - Como vou explicar isso para ela? - Você
lembra quando assistimos ao filme da bela adormecida? - Ela afirmou com a
cabeça - então lembra que algumas fadas foram convidadas para a festa da
princesa e uma ficou chateada por ter sido esquecida e não ser convidada?
— Lemblo. Ela ficou com muita raiva e lançou um feitiço na plincesa.
Ela ficou dormindo por cem anos.
— Isso, a dona Teresa pensou que a gente tinha feito seu filho
esquecer dela. - Ela me escutava atenta - e sem pensar direito ela falou coisas
sem sentido porque estava se sentindo excluída. Então, nós vamos lá para ela
perceber que nós amamos muito eles e que ela não precisa ter medo. Você
pode gostar dela só um pouquinho assim? - Perguntei fazendo o gesto com os
dedos.
— Posso, mas só um pouquinho porque eu tenho medo. Os olhos dela
clescem quando olha pra mim.
— A mamãe te protege. - Falei apertado seu nariz - agora que tal vesti
um vestido bem bonito para irmos lá?
— Eu quelo aquele amarelo igual a cor da princesa Bela.
Chegamos a casa e meu coração corria uma maratona. Eu não
esperava pelo convite. E quando cheguei encontre-os na sala conversando
normalmente. Percebi que era uma conversa leve cordial e fiquei feliz de ver
os olhos do Miguel brilharem.
— Mamãe! - o Lucca desceu do colo da avó e correu em minha
direção.

Agachei-me e dei um beijo em sua bochecha sentindo ser observada


por todos.
— Oi, amor - o Miguel disse se levantando e me beijando de leve nos
lábios. - Oi minha princesinha - falou pegando a Liv nos braços.
Ela que até então estava segurando minha mão e toda retraída abriu
um sorriso lindo quando ela a chamou.
— Oi, plincipe. - Disse olhando dele para a dona Teresa que
continuava a nos olhar.
— Mamãe, quero que conheça a Lucélia e a Livia. - Falou como se
não nos conhecêssemos.
— Vamos recomeçar. Não digo que do zero, porque você e sua filha
me ensinaram muito nos últimos dias. - Falou me apertando a mão.
— Desculpe por qualquer coisa que tenha lhe constrangido.
— Não fez nada que eu não tenha merecido. E para se bem sincera eu
merecia até mais. - Falou tranquilamente e estava visível sua intenção de
entendimento. Olhou para minha filha nos braços do Miguel e sorriu para ela.
— Vamos jantar? - o Miguel perguntou com a Liv ainda em seus
braços que não parava de olhar a minha sogra. Só espero que aquela
cabecinha não esteja maquinando algo constrangedor.
Seguimos para a mesa e o clima estava ameno com conversas leves.
Dona Teresa lembrou de algumas traquinagens do Miguel quando criança e
do seu falecido esposo. Era notória a falta que sentia dele.
— Papai, já posso ir assistir agora? - Perguntou o Lucca ainda com a
comida quase pela metade.

— Oba! Vamos maninho tabém quelo. - A Liv se prontificou.


— Não senhora, nem a senhora e nem o Lucca saem dessa mesa sem
terminar de comer a comida toda. - Falei sem pensar que estava dando ordens
ao Lucca e nem deixei o Miguel responder a pergunta do filho. Senti-me um
pouco constrangida o será que a dona Teresa vai pensar de mim.
— Isso mesmo. Ninguém aqui vai desperdiçar comida, pois enquanto
temos o que comer muitas pessoas passam fome. - Miguel corroborou.
— E vocês tem que obedecer sempre às ordens da mamãe. Ela sempre
sabe o que diz. - Dessa vez foi minha sogra a me surpreender com o
comentário.
Fiquei feliz e ao mesmo tempo orgulhosa por estar ganhando pontos
com ela.
— Isso é verdade. Minha mãe semple me dixe coisas bonitas e semple
me plotegeu das coisas que a Joyce dizia e eu semple obedeci a ela né
mamãe?
— É sim filha. - Falei me sentindo aliviada por ela estar interagindo
com a dona Teresa.
— Você dá uma educação muito bonita a sua filha. Vejo que meu
filho não poderia ter escolhido melhor.
—Todos nós escolemos. Eu ecolhi a mamãe, o Lucca tabém. Ele
sonhou comigo. Sabia? Eu nunca tinha entlado no sonho de alguém e eu dixe
a ele que ela cuidava das clianças dodois e ia gosta dele assim como eu que
nem sai da baiga da mamãe. A senhola sabia que eu nasci do colação dela? -
Perguntou a matraquinha agora ninguém segura mais.
O Miguel trocou um olhar comigo e senti mais segura de encarar dona
Teresa que estava atenta e admirada com a história.

— Eu também queria ter nascido do seu coração. - o Lucca falou


meio triste pensando na diferença entre eles.
— Não existe diferenças entre vocês, meu super-herói - falei afagando
sua mão a minha frente - você também saiu do meu coração. Só que você já
era esse menino lindo e forte. - Ele me olhou confuso - quando nós adultos
dizemos que algo saiu do nosso coração é o sentimento que sentimos. O
nosso coração ganha uma alegria enorme, começa a bater bem forte e a gente
não ver a hora de poder estar perto novamente, abraçar, beijar, querer coisas
boas para aquela pessoa, proteger e amar muito. O meu coração deu a mão a
você e te puxou para dentro no dia em que nos vimos lá no restaurante e você
disse que estava me esperando, aquilo foi a coisa mais bonita que alguém já
tinha me dito.
— Então você também saiu do meu coração, mamãe, porque meu
coração bate bem forte quando me abraça e diz que sou o seu super-herói.

Ouvi a coisa mais linda que a Cely já disse ao meu filho na minha
frente. Foi emocionante. Eu sei que os dois vivem de amores um pelo outro e
o sentimento que os une é muito forte, mas escutar de sua própria boca sem
receios e com o brilho da verdade em cada palavra é demais para meu
coração que já morria de amores por ela.
— Você é uma mulher muito especial, Lucélia. Perdoe-me por tudo
aquilo que falei sobre você. Agora eu vejo a grandiosidade dos seus
sentimentos. Você ama. Simplesmente ama e protege.
— Não vou negar que a senhora me fez sofrer um pouquinho, mas já
passou. Talvez até eu entenda seu receio, mas eu só quero o melhor para o
seu filho e seu neto assim como quero o melhor para minha filha. E se eles
me escolheram eu só posso ser extremamente grata a Deus por isso.
Essa é minha mulher sincera sem ser arrogante, doce, a amável,
espetacular.
— Eu amo você - disse a abraçando após nosso jantar.

O sorriso que se espalhou em seu rosto me agradou e lhe retribui com


beijos em seu pescoço e lábios.
— Os meninos realmente alugaram sua mãe. Olha só como eles estão
entretidos no filme.
— É verdade, mamãe é uma mulher que finge ser durona, mas no
fundo tem um coração bom. Obrigado por ter sabido lidar com ela. Nem
mesmo eu, às vezes, consigo compreende-la.
— Miguel, muitas vezes o medo nos fazer reagir de maneira agressiva
e precisamos reconhecer isso.
Beijei-a novamente e envolvi sua cintura. Já estava morrendo de
saudade dela, já tem quase vinte quatro horas que não a tenho em meus
braços.
— Acabou. - Falou a minha mãe. - Adorei ter assistido com vocês,
mas já estou indo para casa.
— Ah, vovó fica com a gente mais um pouquinho. - O Lucca pediu.
Ele sempre gostou muito da minha mãe embora ela sempre fosse meio
fechada com ele.
— Não dá meu netinho, mas eu prometo que vou passar mais tempo
com você.

— Oba! Promete mesmo?


— Mesmo - nos aproximamos Cely e eu - eu quero mesmo mudar. E
poder retribuir todo carinho que vocês têm me dado. - Olhou para a Cely.
— Será muito bom, dona Teresa. Venha sempre.
— A senhora sabe que não precisa ir. Tem seu lugar nessa casa.

— Eu sei, mas eu tenho mesmo que ir. Inclusive acho que o motorista
já deve estar aí na porta.
— Tchau vovó. - O Lucca se despediu com um beijo.
— Tchau menina esperta - falou passando a mão na cabeça da Liv -
tchau Lucélia e mais uma vez muito obrigada por tudo que fez por mim.
— Tchau dona Teresa e até próxima.
Vi minha mãe se afastar e entrar dentro do carro.
— Agora está na hora de crianças estarem na cama. - Pronunciei ao
entrar novamente na casa.
— E da gente ir embora. - A Cely se levantou do sofá.

— Não senhora. Vocês ficam. E, aliás, já está na hora de você aceitar


que a nossa família deve viver junta e dividindo a mesma casa - falei
envolvendo sua cintura. - E não vou mais deixar você sair daqui a não ser
para pegar suas coisas.
Capítulo 40

— Enfim sós. – O Miguel falou me abraçando pelas costas assim que


fechou a porta do quarto.
— É eles estão cada vez mais insistentes em não dormir. Parece que
as pilhas não acabam. – Falei recostando a cabeça em seu ombro.
— Agora vem cá que eu estou morrendo de saudades de você – falou
me virando e me beijando com desejo.
Ele foi me levando até a cama e eu nunca vou me cansar de tê-lo só
para mim. Na realidade eu o quero sempre e ele é tão carinhoso comigo e
sempre me deixa querendo mais e mais. Entregamo-nos ao prazer e a cada
que isso acontece é ainda melhor.
— Eu te amo – falei enquanto estava perdida estremecendo em seus
braços. Meu coração que já era dele estava descompassado por estar falando
isso em voz alta.
— Repete – pediu me puxando para deitar em seu peito.
— Eu amo você, Miguel Cavalcante.
— Eu amo mais, Lucélia Muniz. – Abracei-o mais forte.
Aquela era a melhor sensação que podia sentir. Nunca imaginei que
poderia ter uma sorte tão grande de encontrar o Miguel. Um homem sensível,
másculo, amoroso, atencioso, lindo e ainda por cima querendo dividir a vida
comigo. Confesso que esperava um pedido de casamento e não um intimado
para vir morar com ele, mas se esse é o seu jeito de me pedir para ser sua
mulher eu aceito. Embora tenha medo, muito medo que um dia esse
sentimento que ele diz sentir por mim se acabe ou uma precipitação da sua
parte e terminamos nos separando.
Ele acariciava meus cabelos e me deixei levar por seus carinhos. Eu
amo esse homem e não saberia viver sem ele e o Lucca, meu super-herói.
Acordei sentindo um vazio ao meu lado e percebi que o Miguel já
havia se levantado. Queria tê-lo acordado. É muito bom quando o vejo
abrindo primeiros os olhos e depois um sorriso maior e mais claro que já vi.
Isso torna o meu dia mais prazeroso e se sempre que sinto saudades lembro
deles e conforto meu coração até estarmos juntos novamente.
Vi um papel em cima do seu travesseiro e o li:
" A minha vida era sem cor até você chegar"
"P.S.: guarde todos os papéis que eu te mandar e não me faça
perguntas e no final da noite terás uma grande surpresa."
Virei o papel e tinha escrito uma letra "C" bem desenhada.
— Bom dia, meu anjo! – Falou abrindo a porta com uma bandeja de
café da manhã.
— Bom dia, amor. – Dei um selinho – café na cama! Olha que posso
ficar mal-acostumada. – Procurei não perguntar sobre o papel assim como
pediu.

— Por mim pode ficar. Eu só quero agradar e agradecer a mulher que


me escolheu por toda vida mesmo sem saber.
— Eu te amo! – Era o que o eu podia dizer, pois meu coração estava
aos pulos.
Comemos e nos beijamos muito e acabamos voltando para a cama e
não foi para dormir. Eu estava me sentindo diferente. O Miguel estava
diferente havia um brilho distinto em seu olhar, uma alegria genuína e eu só
podia imaginar que era porque tinha aceitado a vir mora aqui.
Fomos juntos acordar as crianças. Fui conduzindo-as ao banho
enquanto ele foi buscar minhas coisas, o uniforme e material da Liv na casa
em frente. Preciso buscar logo nossas coisas para evitar esses contratempos.
— Mamãe é veldade que a gente vai molar aqui pra semple?
— Sim, minha linda. Vamos morar aqui. E você Lucca está feliz? –
Perguntei enquanto o vestia.
— Muito mamãe. Agora você pode me dar beijinho de boa noite todo
dia.
— Sempre até você não querer mais e mesmo assim eu ainda vou te
encher beijinhos assim mesmo porque você é meu menino super-herói.
Demos o café da manhã dos meninos e quando fui ao banheiro
escovar meus dentes encontrei, grudado no espelho o seguinte bilhete:
"E com o seu brilho me apresentou o caminho do amor"
Arranquei-o e guardei junto com o outro dentro da bolsa. Não sabia o
que significava, mas estava adorando a brincadeira.
Desci e vi o Miguel sussurrando com os meninos e se viraram
assustados quando me viram.

— O que os três estão aprontando? – Perguntei cerrando os olhos.


— Nada – responderam igual. Aí tem coisa.
— Vamos se não chegaremos atrasados. – Falou o Miguel e os
meninos correram para fora da casa.
Estava seguindo pelo mesmo caminho quando a Ana me chamou.

— Espera, Lu. Isso aqui é seu – entregou-me uma rosa vermelha e


mais um bilhete.
— O que isso significa?
— Não sei. Apenas aceite e veja no que vai dar.
O bilhete dizia: "Anjo, você me mostrou que amar vai muito além
dos laços sanguíneos"
E eu já estava começando a me emocionar seja lá o que for está me
agradando muito.
Cheguei ao carro na garagem da minha casa, casa da frente, e o
Miguel me esperava e as crianças já no carro.
— Tenha um bom dia de trabalho, minha linda. – Beijou meus lábios.
— Você também meu lindo – não perguntei sobre os bilhetes e sai sob
o olhar atento de Miguel.
Ao entrar no carro havia outro bilhete no painel.
"Você me ensinou a compreender o incompreendido".
Sorri ao ver meu outro bilhete e ele me acenou sorrindo. Ele estava
vendo minha reação e se ele pudesse senti meu coração saberia que estava
explodindo em mil pedacinhos.

— Prontos? – Perguntei aos meus amores no banco de trás.


— Sim – responderam juntos.
Deixei-os na escola e como sempre tinha um de cada lado e eu me
sentia completamente mãe com meus dois bebês. Beijo-os e desejei boa aula
e que se comportassem.
Cheguei ao hospital e a Carmem a recepcionista. Uma senhora dessas
bem simpáticas e carinhosas que nos acolhem como mães me chamou. Ela
sempre fora alegre, mas hoje era ainda mais expressiva.
- Deixaram isso para você. – Falou eufórica.
Ela me entregou um urso de pelúcia e mais um bilhete que dizia:
"Anjo, anjo sim por ter trazido a felicidade ao meu filho." Não
pude deixar de sorrir e mesmo assim uma lágrima correu pelo meu rosto.
Guardei o bilhete e comecei meu trabalho. O sorriso bobo não saia do meu
rosto e minha felicidade em ser amada era evidente.
O dia no hospital passou rápido e até o clima estava diferente, não
teve muitas ocorrências e os casos de internação estavam estáveis. Fui até a
sala da geriatria e procurei saber se o resultado dos exames da dona Teresa
estavam prontos e ainda não tinha chegado, pois formam para o laboratório
externo do hospital o que faz demorar mais um tempo.
Resolvi procurar a Dany e me acenou me pedindo para esperar de
terminar sua ronda.
Poucos minutos depois fomos a sala de descanso.
— Eu tenho algo para você – levantou-se e pegou uma caixa de
bombons da marca que gosto e me entregou.
— Aí, amiga obrigada você sabe que eu amo esse chocolate. – Falei
me empolgando.

— Não me agradeça, pois não fui eu quem te deu.


Abri a caixa e grudado na tampa tinha outro bilhete:
"Anjo, anjo sim por ter me dado uma filha. Espero que tenha sido
só a primeira." Meus olhos marejaram e ele conseguiu me fazer ainda
especial. Mal aceitei morar com ele e já pensa em aumentar a família.
— O que foi amiga? Fala! Estou curiosa.
— Quando você não está?!
— Palhaça!
— Não sei o é, mas desde que acordei que o Miguel está me
mandando bilhetes e cada um mais bonito que o outro.
— Que romântico! Fico muito feliz que ele esteja te conquistando
ainda mais assim logo teremos casamento- bateu palmas.
— Ontem, aceitei ir morar com ele. Eu acho até que é por isso ele está
me mandando essas mensagens.
— Aí que tudo! Então, já tenho minha amiga casada. Precisamos
comemorar! Vocês merecem ser felizes e torço para que dê tudo certo entre
vocês.
— Já está dando – lembrei da minha sogra - a dona Teresa finalmente
parou de implicar comigo e a Liv. Até jantamos juntos ontem.
— Espera! Eu perdi alguma coisa nessa história. Como você
conseguiu isso?
Contei tudo que havia acontecido inclusive minha preocupação com a
sua saúde até o nosso jantar.

Terminei o meu turno e me despedi das minhas crianças e suas mães


que estavam por lá. Nas mãos os bombons e o ursinho que o Miguel me
mandou.
— Dona Lucélia? – Perguntou um entregador com um ramalhete na
recepção.
— Sim.
— Entrega para a senhora. – Várias flores coloridas foram
depositadas em minhas mãos
— Obrigada – agradeci e a Carmem veio até mim.
— Seu namorado é mesmo um homem apaixonado. Uma espécie em
extinção hoje em dia é difícil encontrar um romântico assim.
— Ele é mesmo especial, Carmem.
Coloquei as minhas coisas no balcão e li mais um bilhete.
"Nos teus braços eu encontro meu lugar preferido" o meu coração
hoje não vai parar de sair do compasso? Ainda bem que estou num hospital
porque qualquer mal-estar tem como ser socorrida mais rapidamente.
Segui até o restaurante e fui direto para o escritório. Sentia urgência
em encontra-lo. Ele estava ao telefone.
— Ok. Te ligo depois. – Finalizou a ligação. – Aconteceu alguma
coisa, Cely?
Não respondi nada apenas contornei sua mesa, me sentei em seu colo
e o beijei. Meu beijo demonstrava todo o meu amor por ele e o quanto estava
feliz por todos os seus presentes.
— Obrigada – falei após o beijo.
— Não por isso.
— Você tornou o meu dia mais feliz.
— Nada além do que você merece. – Passava a mão nos meus cabelos
– mas ainda tem mais. Lembra do que dizia o primeiro bilhete?
— Sim.

— Então quero que vá para casa e arrumei suas coisas do jeito que
você desejar. Pedi que um funcionário do restaurante fosse lá e desmontasse
o que fosse necessário e a Ana vai te ajudar com a mudança. À noite, já vai
estar tudo em seus devidos lugares. Mas só vá a casa quando a Ana mandar.
Ok?
Que estranho esse pedido, mas depois de tudo que ele fez hoje vou
apenas aceitar suas condições.
— Tudo bem, senhor. Acho que hoje o senhor conquistou o direito de
ditar regras, mas só hoje – falei lhe beijando.
Cheguei a casa do Miguel e a cama de Liv já estava quase toda
montada e nossas coisas prontas para serem colocadas no lugar. O Miguel
separou um quarto de hospedes para ser o quarto da Liv e este já estava
pintado igual ao seu quarto da nossa antiga casa. Quando ele fez isso e não
percebi?
— Mamãe, o meu qualto tá igualzinho ao da outra casa.
— Estou vendo, meu amor. Está feliz?
— Muinto!
— Mamãe, o papai mandou te entregar. – O Lucca apareceu no quarto
com mais um bilhete.
"Eu quero que seja a última pessoa que vejo antes de dormir e a
primeira quando acordar"
Abracei meu filho e sorrir satisfeita.
— Eu tabém tenho pelaí – a Liv saiu correndo e depois me entregou –
lê mamãe.
"O seu amor está me fazendo voar. Posso voar contigo?"

Isso só pode ser alguma mensagem. Busquei os outros dentro da bolsa


e montei-os na ordem:
" A minha vida era sem cor até você chegar
E com o seu brilho me apresentou o caminho do amor
Anjo, você me mostrou que amar vai muito além dos laços
sanguíneos
Você me ensinou a compreender o incompreendido
Anjo, anjo sim por ter trazido a felicidade ao meu filho.
Anjo, anjo sim por ter me dado uma filha. Espero que tenha sido só a
primeira.
Nos teus braços eu encontro meu lugar preferido.
Eu quero que seja a última pessoa que vejo antes de dormir e a
primeira quando acordar.
O seu amor está me fazendo voar. Posso voar contigo?"
Sem dúvidas isso tinha a ver com o fato de vir para morar aqui.
— Lu, acho melhor você ir ver o que ainda falta em casa para trazer
para cá. Assim terminamos logo e quando o Miguel chegar já está tudo
pronto.

Lembrei-me do que ele me falou, juntei todos os papéis e corri para


lá. Algo me dizia que havia algo a mais e meu coração sambava numa escola
de samba em plena Sapucaí.
Entrei na casa e tudo parecia normal entrei no quarto e estanquei em
frente a cama.

Havia um pedido feito de pétalas vermelhas em cima da minha cama.


"CASA COMIGO?"
— Aí, meu Deus! – Exclamei surpresa.
— Eu espero que isso seja um sim.
Virei-me e vi o homem da minha vida com um caixinha de veludo nas
mãos como o mais belo anel que já vi e um sorrisão nos lábios.
— É sim! É claro que aceito me casar com você – corri para seus
braços
— Eu te amo - falou enxugando minhas lágrimas e eu nem sabia que
estava chorando.
— Eu te amo mais. – Beijei-o.
Capítulo 41
MIGUEL
Tê-la em meus braços depois de um dia de extrema ansiedade era
mais do que gratificante. Ela disse sim. Sim! Não que eu acreditasse que diria
o contrário, mas o medo de ser rejeitado me rondou o dia todo.
— Quando você chegou no escritório hoje eu pensei que já tinha
descoberto tudo.
— Eu jamais imaginaria uma coisa dessas – falou apoiando a cabeça
em meu peito.
Estamos deitados na cama suados e com pétalas grudadas em nossa
pele, mas eu não estava me importando isso. Abracei-a ainda mais.
— Mas estava tudo escrito nos bilhetes.
— Sério?!
— Nos versos deles estavam o pedido. – Ela me sorriu e saiu
correndo até onde estava suas roupas e voltou com todos os bilhetes e
espalhou na cama.

Sua alegria era contagiante e me senti ainda mais feliz por ter feito
esta surpresa mesmo quase tendo uma síncope.
Ela virou o verso de todos e em cada um deles tira uma letra que fazia
o pedido.
— Aí, eu não percebi! Eu vi o "C" escrito no primeiro, mas confesso
que fiquei tão surpresa e emocionada com o que estava escrito na frente que
não reparei nos outros. Desculpa.
— Ainda bem que não vi. Foi bom você ser desatenta quanto a isso.
Adorei ver sua carinha de surpresa.

— Eu te amo. – Sentou-se no meu colo.


— Eu amo mais. Eu jamais te obrigaria a morar comigo sem te fazer
um pedido especial.
— Confesso que fiquei um pouco frustrada quando só me oferecia
morar com você. Fiquei pensando em meu vestido, nos nossos filhos
entrando como noivinhos e você lindo me esperando no altar.
— Nós vamos realizar todos esses sonhos, meu anjo. Esses e todos os
outros que tiver. – Beijei novamente e as lágrimas que estavam brotando em
seus olhos se dissiparam quando inverti nossas posições e a deixei debaixo do
meu corpo. Tudo que mais quer o agora é ama-la de novo.
— Minha noiva. – Falei venerando seu corpo febril sob mim.

Estava no meio do meu turno no hospital e estava flutuando com o


amor e a atenção do Miguel em me fazer um pedido de casamento tão
especial. Já havia ligado para a Dany e contado todo a surpresa e não estava
me contendo de tamanha alegria. Só me restava uma pessoa com a qual eu
tinha que dividir minha felicidade. Peguei o celular e disquei para ele e
rapidamente atendeu.
— Maninho! – Falei quando atendeu.
— Oi, Lucélia. Aconteceu alguma coisa? – Perguntou de imediato.
Ele sempre preocupado conosco.
— Não. Está tudo bem. – Procurei acalma-lo – na realidade está tudo
maravilhoso – falei me animando – O Miguel me pediu em casamento.
Alguns instantes de silêncio e ele rompe os fones do telefone com
felicitações.

— Fico muito feliz por você, maninha. Nossa que novidade boa. Você
está segura? É isso mesmo o que você quer?
— Sim. Sem dúvidas nenhuma é com o Miguel que eu quero passar
todos os dias da nossa vida até ficarmos bem velhinhos.
— Mas olha isso. Para quem não queria saber de amor você está me
saindo muito romântica. – Brincou.
— Eu não queria saber de amor até conhecer o Miguel. Ele me fez
descobrir que é muito bom ter alguém para amar e ser amado.
— Você é o meu orgulho. Nossos pais já sabem?
— Ainda não. Pensamos em fazer uma visita no próximo final de
semana e contarmos. O Miguel quer fazer o pedido ao papai.
— Ele ficará feliz com isso.
— Eu sei. Então se você puder não contar para ele.
— Nem precisava me pedir. Agora deixa eu desligar porque ele está
chegando e sua alegria é tão evidente que não sei se vai consegui esconder
isso dele.
— Tá bom. Bom trabalho. Beijo.
— Você também até o final de semana.
Continuei com meu trabalho e hoje não está sendo tão calmo como
ontem, mas sem deixar de esquecer sobre o resultado do exame de dona
Teresa que minhas suspeitas não estejam certas.
Trabalhar na ala infantil você se depara com infinidades de doenças e
procedimentos desde uma virose até um pós-operatório de uma cirurgia
complicada e dessa vez fui chamada para participar de uma cirurgia
complicada e nem tive chance de ir lá falar com a Keila, assistente do
laboratório aqui hospital.
Já no final do meu turno fui até ela.
— Boa tarde, Keylinha. Você já tem o resultado do exame?
— Boa Tarde, Lu. – Pensou um pouco – sim e não.
— Como assim?
— A Doutora Laura pediu uma segunda prova. – Eu sabia. Pensei
triste.
— O que foi Lu? Você parece triste.
— Keila, você sabe que sou doadora? Não sabe?
— Sim. Nós temos todos os seus exames aqui. – Respondeu confusa.
— Ótimo. Então, por favor, vê a compatibilidade deles com a dona
Teresa. Ela é minha sogra e o que eu puder fazer para ajudar eu farei.
— Eu não sabia, Lu – falou complacente – não quero te desanimar,
mas a doutora pediu com máxima urgência e esse é procedimento padrão...
— Eu sei. – Falei sentindo minhas lágrimas surgirem – eu senti que
havia algo errado com ela desde a primeira vez que a vi. Ela estava muito
amarela. Ela tem problemas no fígado e quero estar a par de tudo a respeito
disso.
— Pode deixar. Você será a primeira a saber.
— Obrigada
Cheguei a casa com uma dor de cabeça muito forte. A alegria que
estava sentindo se esvaio e agora meu peito doía. Doenças no fígado são
muito ruins e muito difícil encontrar doadores que aceitem retirar parte do
fígado para doa-lo. Ainda há pouca informação sobre isso. Fora que o
paciente pode rejeitar o excerto e comprometer ainda mais sua saúde. Isso se
o que ela tiver já estiver num caso muito mais grave. Deus permita que não
seja isso e eu esteja apenas me precipitando.
Cheguei a minha nova casa. Nova casa. Essa sensação de dividir a
vida com o Miguel é muito boa. Não posso deixar de sentir isso.
— Mamãe! – Meus filhos gritaram quando me viram e correram até
mim.
— Oi, amores da minha vida. – Falei me empolgando e abaixei para
abraça-los. Eles não precisam saber disso agora.
— E papai também é. – o Lucca afirmou.
— Sim e o papai também. - Levantei-me – o que vocês estão
aprontando?
— Estamos assistindo. – Liv respondeu.
— Então voltem lá que a mamãe vai falar com a Ana. – E eles correm
para sala de tevê – não precisa correr! – Avisei.
— O que aconteceu menina? – A Ana perguntou assim que me viu.
— Estou com dor de cabeça...
— Espera que eu vou pegar um comprimido para você. – Saiu a
procura. E é muito bom sentir alguém preocupada e cuidando de você.
— Obrigada, Ana. – Falei tomando o comprimido. Eu sei que não era
para me sentir assim. Afinal, eu encontrava muitas doenças no hospital, mas
saber que alguém tão próximo está doente é devastador.
— Agora, vá descansar que eu cuido dos meninos. Tome um banho e
durma um pouco.

— Vou tentar, mas as notícias que virão daqui por diante não serão
muito boas. – Vi ela se assustar – o que eu suspeitei pode está se
confirmando.
— Aí, meu Deus! - A Ana estava preocupada também.
— Independente do resultado desses exames vamos precisar ser muito
fortes. A dona Teresa requer muitos cuidados e atenção. Isso se a doença dela
já não estiver muito avançada. - Beijei sua cabeça e segui para o quarto.
Capítulo 42

Senti uma mão acariciar minhas costas e abri os olhos devagar e o


Miguel com cara de preocupado surgiu em minha frente.
— Não queria te acordar.
— Tudo bem. Faz tempo que você chegou?
— Faz algumas horas. Fiquei preocupado com você a Ana falou que
você não estava se sentindo bem. O que você está sentindo?
— Era dor de cabeça, mas já aliviou bastante.
— Ainda não passou? – Perguntou preocupado.
— Doe um pouco, mas acho que foi porque dormi demais. – Falei
olhando para o relógio. – Os meninos tenho que dar o jantar deles...
— Calma. – Deitou-me na cama novamente – eles já jantaram.
Esqueceu que eu sempre cuidei do Lucca? Eles já jantaram e já estão se
preparando para dormir.
— Obrigada. – Falei aliviada - Então vou lá dar boa noite.
— Você é linda sabia? – Falou me beijando nos lábios. - És uma
pessoa muito linda.
E mais uma vez meu coração se derreteu. Como eu o amo.
— Te amo!
Fui até o quarto do Lucca e ele estava lendo seu novo livro favorito.

— Está muito escuro para o senhor está lendo só com uma lanterna. –
Repreendi – isso prejudica a sua visão. – Falei ligando o abajur do lado.
— É que assim fica mais emocionante, mamãe.
— Nada de ficar no escuro para ler. Entendeu? – Ele estava muito
empolgado porque descobriu que já pode ler suas histórias sozinho. Todo
homenzinho.
— Está certo. – Falou concordando.
— Agora, está na hora de dormir. Amanhã tem aula e precisa estar
bem disposto para aprender coisas novas.
— Ainda bem que amanhã é sexta e vou poder ler até tarde. – Falou
enquanto o cobria.
— Boa noite, filho – beijei sua testa.
— Boa noite, mamãe.
Levantei-me e o Miguel estava me olhando com olhos de carinho e eu
não pude deixar de sorrir em me sentir tão amada.
— Você não cansa de me deixar ainda mais apaixonado por você? –
Envolveu minha cintura.
— Não sabia que você estava aí. – Falei em seus braços.
— Por isso que é ainda mais linda. Você é verdadeira. Seu amor é
verdadeiro, eu já sabia disso, o Lucca não poderia ter mãe melhor.

Fomos até o quarto da Liv e a mesma estava lutando contra o sono.


—- Estava te espelando, mamãe. – Falou saltando da cama.
- É mesmo, mas já está na hora de princesas estarem dormindo.
— Fiqlei pleocupada. Você tá dodói?

— Agora, estou melhor meu amor. Foi só uma dor de cabeça, mas já
passou.
— Eu quelia cuida de voxê, mas o papai plincipe dixe que plecisa
descansau.
— Tudo bem, princesa. Agora para de me enrolar e deita já na cama.
—- Boa noite, mamãe – beijei sua testa – boa noite papai plincipe.
— Boa noite, respondemos juntos.
— Agora a senhora precisa jantar. Já está com o estômago vazio há
muito tempo.
— Sim, senhor, mas pensei que era eu quem cuidava das pessoas.

— Pode até ser, mas eu cuido do gênero alimentício e adoro cuidar de


você – falou me beijando novamente e era muito bom ter os cuidados dele.

Essa mulher é realmente incrivelmente transparente. Estava


estampado na sua testa a preocupação e mesmo assim ela mantinha o clima
agradável e confortável para os meninos. Os protegia.
— Você, vai me dizer o porquê desse "v" que está em sua testa? –
Falei passando a mão no local.

— Está tão evidente assim?


— Claro como água. E você sabe que agora não precisa guardar tudo
para si. Eu estou do seu lado e quero dividir com você não só momentos bons
como ajudar a resolver os ruins.
— Você é muito especial, amor. – Falou deixando os talheres sobre o
prato – e eu sempre vou está ao seu lado.
- Eu agradeço. Não sei se mereço, mas vou fazer de tudo para merecer
está ao seu lado. – Falei sincero.
— Não sei se deveria te falar sobre isso agora a noite, talvez seja
melhor conversarmos amanhã.
— Você está me deixando preocupado é melhor saber de tudo agora.
Você desistiu é isso? - Falei pensando que ela pode ter achado precipitado o
meu pedido
— Não. Não é nada disso – falou me abraçando – eu te amo e o que
mais quero é ficar com você até que enjoei de mim – riu – e mesmo assim eu
ainda não te deixaria em paz.
— Eu nunca vou enjoar de você. – Afirmei. – Mas seja lá o que for
me conte. Não conseguirei dormir de preocupação.
— É sobre sua mãe. – Esperou um minuto – eu sempre lido com isso
no hospital e nunca foi tão difícil falar – meu coração batia acelerado com
medo do que vinda em seguida e respirei forte.
— Não me esconda nada, por favor. – Pedi.
— Sua mãe foi ao hospital, foi lá que conversei com ela, e tudo indica
que sua mãe está com problemas no fígado. E dependendo da gravidade
possivelmente passará por cirurgia. – Falou com complacência.

— Isso me parece grave. – Constatei esperando uma resposta


negativa.
— Uma dieta rígida e exercícios físicos nos casos bem simples e um
transplante num caso mais extremo. – Falou atenciosa.
Um transplante?! Um choque percorreu meu corpo. Eu não posso
perder minha mãe! Um doador pode demorar muito para aparecer. Existe
uma lista de espera. Quão grave é o seu problema e como eu nunca percebi
que estava doente assim?!
— Não se culpe – falou lendo meus pensamentos – essa doença é
silenciosa. E eu ainda não sei em que estágio ela está. Apenas procurei
informações sobre seus exames e a Keila me falou da preocupação da médica
e pediu para refazer os exames.
— Então, pode ser um engano. Enganos acontecem. – O desespero
estava tomando conta de mim. Havia uma esperança.
— Desculpa, Miguel, mas esse é o procedimento padrão do hospital
no diagnóstico de doenças graves. É como um código vermelho. Mas
mantenha a calma eu sei que é difícil – levantou minha cabeça e me encarrou
– ela vai precisar de você. De sua força e eu estou do seu lado. Seja qual for
seu diagnóstico.
As lágrimas já estavam pelo meu rosto e eu não conseguia pensar em
mais nada. Ela me abraçou e ficamos um tempo na ali na ilha da cozinha. Eu
só pensava no caso pior. No mais grave e isso me deixava apavorado.
Ela não precisa falar mais nada e seu silêncio me dizia que sentia por
mim por ela e mesmo assim estava forte. E sinceramente preferia assim. Não
suporto falsas palavras de apoio.

Ver aquele homem alegre se entregar a tristeza era de cortar o


coração. Eu sei que não tem como não ficar abalado com uma notícia assim,
mas estarei sempre ao seu lado, cuidando e apoiando. Mesmo que amanhã os
resultados sejam diferentes e ela não precisar de uma cirurgia. E sinceramente
estou esperando por isso.
— Vamos para cama, amor – falei depois de um bom tempo que
estávamos ali na cozinha.
— Não sei se vou consegui dormir. – Murmurou.
— Você precisa descansar e ficar bem por sua mãe. – Falei me
levantando e ele me seguiu sem forças para reagir.
Coloquei-o na cama e deitei ao seu lado. Ele se agarrou em mim
parecendo um menininho assustado. Se encolheu em meu peito prendendo-se
ao meu corpo como uma tábua de salvação.
— Está tudo acontecendo de novo. Eu não sei se vou aguentar. –
Falou e fiquei tensa.
— O que você quer dizer?
— O meu pai. – Essa não – eu não pude fazer nada – ele chorava
descontrolado – nem para ser compatível eu servi.
— Você não pode se culpar, meu amor. – Acariciava os cabelos dele.
— Agora tudo está acontecendo de novo. Eu vivi os piores dias da
minha vida naquele hospital. Não havia mais nada para se fazer – deixei-o
desabafar. Isso fará bem para ele – o câncer já tinha avançado e tínhamos que
esperar um maldito doador. E esse nunca apareceu. Vi meu pai se definhar e
não podia fazer absolutamente nada. Só tínhamos palavras de incentivo e
esperança e do que adiantou? Não pode devolver a vida ao meu pai. Detesto
hospitais.
Lágrimas silenciosas desciam pelo meu rosto e procurei o máximo
não demonstrar ele não precisa de mais um incentivo para desabar.
Deus, que não precise de uma cirurgia tão séria quanto um transplante
e se for o caso que dessa vez possamos ter sucesso. Tomara que o diagnóstico
seja mais animador.
O dia amanheceu e o Miguel ainda dormia tive que dar um
medicamento para que ele relaxasse e era quase de manhã quando ele
finalmente conseguiu dormir.
Fui até o quarto dos meninos e comecei a arruma-los para a escola.
— Cadê o papai? Ele não vai tomar café com a gente? – O Lucca
perguntou.
— O papai ainda está dormindo. Ele não está se sentindo muito bem –
respondi.
- Eita lá ele tabém? – Perguntou a Liv balançando a cabeça. – Mamãe
polque voxê não cula ele como faz com as clianças do pital?
— Eu vou fazer isso – respondi e vi o Lucca deixando de comer –
Lucca- chamei e ele me olhou tristinho – seu pai vai ficar bem. Ele só ficou
muito triste com uma notícia, mas ele precisa muito de você. Do seu carinho
e ele não vai gostar de te ver triste. Seu pai vai precisar de muito de atenção.
Você não vai ficar triste agora, vai?
— É que o papai nunca ficou doente. Ontem foi você e hoje foi ele.
Não gosto que meu pai fique doente.

Ver a tristeza do meu filho me doeu, mas o que puder fazer para
ajudar essa família farei.
— Fica tiste não maninho. Esqueceu que a mamãe é um anjo que
cuida dos dodóis? – a Liv falou fazendo um bico e arrastando a fala e o Lucca
sorriu. Essa menininha é mesmo especial.

— Isso mesmo agora terminem logo essa comida porque ninguém


nessa casa vai chegar atrasado na escola – falei indo até a Ana.
— A mamãe é mandona. – O Lucca riu.
— Muinto! – A Liv respondeu travessa.
— Eu escutei viu! – Alertei me fingindo de brava.
— Você contou para ele? – A Ana perguntou.
— Sim – suspirei – e não foi nada fácil.
— Eu imagino. Eu quase não dormir pensando nisso. Ele ficou muito
traumatizado com o que aconteceu com o pai e se a Teresa passar pelo
mesmo não quero nem pensar.
Capítulo 43

Levei as crianças para a escola e deixei algumas instruções para que a


Ana passasse para o Miguel. Sei que quando acordar vai querer ir até a mãe e
pelo o que a Ana me contou ela jamais sairá para o hospital com o Miguel em
sua casa. O medicamento que dei a ele o fará dormir por mais algumas horas
e ele pode nos encontrar direto no hospital quando sua mãe estiver recebendo
a notícia.
A manhã estava passando arrastada já havia falado com Keila e com a
Dany e ambas estavam atentas a chegada de dona Teresa. Quero estar ao seu
lado nesse momento. De forma alguma vou deixa-la passar por isso sozinha.
O celular tocou com uma mensagem da Dany.
"Ela já chegou"
Não respondi. Ela já sabe minha resposta e corri para lá. Dona Teresa
estava indo para a sala da Doutora Carol quando a parei.
— Dona Teresa, espere. – Sua surpresa foi muito evidente – eu vou
entrar com a senhora. Posso? – Pedi para não a assustar. Mesmo sabendo que
não deixaria entrar sozinha de qualquer forma.

— Lucélia! Como soube? – Parou um segundo – não queria preocupar


ninguém.
— Eu trabalho nesse hospital e sim estou preocupada com a senhora.
E não vou deixa-la passar por isso sozinha. A senhora sabe disso. – Falei com
carinho segurando sua mão que estava suada.

— Vai adiantar se eu disser não? – Ela aparentemente acha que seu


problema era pequeno, mas sei que isso pode mudar logo.
— Não – sorri.
— Então venha que a doutora já me chamou.
Entrei, cumprimentei a Doutora Carol que era a hepatologista mais
requisitada do hospital. Tem um índice alto de sucesso em suas cirurgias.
Infelizmente, como toda notícia ruim, resultou em negação e causou
muitas lágrimas de minha sogra. Mas de todos os males o menor. Ela
realmente estava com problemas no fígado, mas a médica sugeriu mais uma
tentaria de tratamento alimentar, atividade física e alguns medicamentos.
Essa será a última chance antes de nos prepararmos para uma cirurgia.
Garanti de todas as formas cuidar da minha sogra. Ela querendo ao não.
Porém, assim como o Miguel ela ficou muito angustiada.
A médica e eu tentamos de todas as formas acalma-la. Contudo,
minha sogra estava muito agitada e assim como o filho ontem entrou em
desespero a diferença é que com ele eu sabia o que fazer. Ela sempre foi tão
fechada comigo que não sei com agir.
— Ela está tendo um ataque de pânico – a médica falou e chamou as
enfermeiras dessa ala.
Eu apenas tentei apoia-la e estar ao seu lado.
Depois do procedimento e de alguns calmantes a encaminhamos para
um quarto para que descansasse.
— O que aconteceu com ela? – o Miguel surgiu em minha frente
quando saímos da sala.
— Ela não reagiu muito bem a notícia e precisamos dar um calmante,
mas ela está bem. – Abracei-o – e você está bem? – Perguntei percebendo seu
ar abatido.
— Mais ou menos, mas vou tentar melhorar. Obrigado. – Sorri.
— Faça isso. Sua mãe vai precisar muito de você. Comprometi-me
com a doutora Carol de cuidar de sua mãe. Ela vai precisar de cuidados
especiais. Precisará de alguém que cuide de sua alimentação, medicamentos e
outras coisas que vou te explicar direitinho depois.
— Lucélia, eu posso falar com você um minutinho? – A doutora
Carol pediu.
— Sim. Claro. – Fui em sua direção.

— A Keila acabou de me avisar sobre o seu pedido. Você sabe que se


for necessário uma cirurgia não pode se deixar obrigar a ser uma doadora?
Não sabe?
— Sei. Mas não estou sendo pressionada ou algo do tipo. Apenas
quero poder ajudar se for compatível.
Olhei para o Miguel perdido em seus pensamentos e não se deu conta
que eu posso ser doadora para a mãe dele, mesmo não querendo depositar
falsas esperanças.
— Pois se é isso mesmo o que deseja – respirou forte e sorriu – você é
compatível com a sua sogra e vamos nos precaver antes. Você faz os exames
necessários e se ela não atender a essa última tentativa de tratamento vamos
imediatamente para o bloco cirúrgico. Esteja preparada.
- Pode deixar, doutora. Creio em Deus que não será necessário cirurgia.
Cuidarei pessoalmente dela. Desta vez ela vai seguir o regime correto. De
qualquer forma ficarei pronta para qualquer emergência.
Um alívio se derramou pelo meu corpo e chorei de emoção. Talvez
por toda carga de sentimentos que venho contendo desde que suspeitei dessa
doença. Isso chamou atenção do Miguel e veio até mim.
— O que aconteceu? Por que você está assim?
Não respondi de imediato apenas o abracei e me deixei aclamar em
seus braços.
— Bom eu vou deixar vocês a sós e você Lucélia já sabe de todos os
procedimentos que terá de fazer.
— Está certo, doutora. Vou fazer tudo certinho.
— Me fala o que houve? – Ele me pediu.

— Desde que comecei a trabalhar aqui nesse hospital me declarei


doadora e sou compatível com sua mãe. Se ela precisar de cirurgia não ficará
na fila de espera.

Meus ouvidos ainda ecoavam o som de suas palavras. Minha mãe


pode ser salva. Envolvi-a em meus braços apertando-a mais forte. Não posso
acreditar o tamanho de minha sorte é por isso que ela chorava. Minha mulher,
minha guerreira, meu anjo. Um verdadeiro anjo na minha vida.
— Eu te amo. Te amo. Te amo. Te amo – falei distribuindo beijos em
seu rosto e senti seu sorriso se formar. Segurei suas faces e prendi seu olhar
sincero – eu te amo, mas não é só por isso. Você sabe né? – Afirmou com a
cabeça – eu já te amava antes...
— Eu sei, amor. Não precisa se explicar. E farei o procedimento de
coração. Se for o caso, mas eu vou cuidar direitinho de sua mãe para que ela
não precise do procedimento. Você vai ver.
— Meu anjo, você não existe. Eu realmente não sei o que fiz para
merecer você. – Beijei seus lábios. - Mas você não ficará sozinha nesta
responsabilidade. Eu faço questão de participar disso. Vou cuidar da mamãe
junto com você. - Falei abraçando-a. Mesmo a dona Teresa sendo tão rude
com ela. A minha mulher ainda tem sensibilidade de querer cuidar da minha
mãe. Essa mulher não tem preço.
— Você é especial. Muito especial. Cuidou praticamente sozinho de
um menino lindo e educou maravilhosamente bem. Ele é esperto e
inteligente. Agora preciso voltar ao meu trabalho. Sai de lá sem avisar a
ninguém e podem estar precisando de mim.

— Posso ficar com minha mãe?


— Deve. Quando ela acordar será bom ter alguém que lhe traga
confiança.
Despedimo-nos e entrei no quarto que ela estava. A dona Teresa
estava aparentemente tranquila deitada na cama. Era o efeito do calmante.
Talvez quando acorde fique agitada, mas ficará tranquila ao saber que temos
um anjo na família e que será muito bem tratada.
Meu celular tocou nesse instante e sai do quarto para atender.
— Brotherzinho, como você estar? – Era o Otta – mamãe me ligou
agora contando o que aconteceu.

— Agora, um pouco melhor.


— Você precisa de alguma coisa? – Esse era o meu irmão. Sempre
disposto a me ajudar.
— No momento estou esperando minha mãe acordar. Tiveram que
ministrar um calmante para ela.
— Então em poucos minutos estou aí. – Desligou sem me dar chance
de recusar.
Voltei ao quarto e aguardei, agora só falta meu amigo chegar e minha
mãe acordar. Ele jamais deixaria de vir me apoiar. Ele sempre fez isso. Agora
não seria diferente.
Capítulo 44

Segui para minha ala e minha cabeça estava a mil. Eu finalmente


poderia ajudar alguém.
— Lu, espera.- Virei-me e a Dany vinha correndo até a mim – acabei
de saber do que aconteceu com sua sogra. Eu sinto muito.
— Obrigada, amiga. Mas ela vai sair dessa. Eu vou cuidar dela. –
Minha amiga tinha um olhar de complacência ela assim como eu sabia dos
riscos e a gravidade do problema.
— Lu, você sabe que é uma luta árdua ainda mais conhecendo a
personalidade e a fama da dona Teresa.
— Eu conheço todos os riscos, mas não posso virar as costas para
uma pessoa doente e além disso é a mãe do Miguel, a avó do meu Lucca.
Quero nem imaginar a reação daquele menininho ao descobri que a avó está
doente.
— Essa não seria você. Deus te abençoe, minha amiga e pode contar
comigo sempre, viu?

— Eu sei. Mais uma vez obrigada por tudo.


O restante do dia correu de maneira normal e como combinei com o
Miguel iríamos juntos para nossa casa e levaríamos dona Teresa conosco. Ela
ainda estava dormindo quando nós decidimos e deixamos para contar quando
estivéssemos em casa.
Cheguei a porta do seu quarto e respirei fundo. Precisava estar
preparada para enfrentar a fera. Eu sei que estávamos começando a nos
entender, porém precisava ter paciência e ignorar algumas provocações que
por ventura viessem.
Parei em frente a porta branca e bati.
— Posso entrar? – Perguntei com a cabeça inclinada para dentro.
— Pode, minha linda – o Miguel se aproximou de mim – tudo certo
para irmos?
— Sim – respondi e olhei para a dona Teresa. – Como a senhora está?
— Ótima! – Falou sem muita paciência – vamos – tentou se levantar
da cama e o Miguel correu para ajudá-la – aliás já deveria ter ido embora,
mas o Miguel parece que não honra mais as calças que veste. Só queria sair
daqui com você.
— Mamãe! – Alertou-a – colabore, por favor.
— Ta, ta, ta vamos logo sair daqui sabes que não suporto hospital.
Pelo visto vou ter que redobrar o estoque de paciência.
Miguel deu-lhe o braço e segui um pouco mais atrás.
Chegamos a nossa casa e as crianças estavam na expectativa. Ana já
havia contado sobre a dona Teresa morar conosco e a Isa já estava com eles.
Achei melhor trazer a sua acompanhante para que ela não arranjasse
desculpas para não ficar aqui.
— Vovó!! – O Lucca correu até ela – vovó é verdade que a senhora
vai morar aqui com a gente? – Ele estava eufórico com a novidade.
— Não estou sabendo de nada – olhou-nos com um ar de "como não
fui consultada disso".

— Vai sim filho – o Miguel falou pegando o Lucca nos braços – não
será legal filho?
— Vai ser mara!– falou esticando o braço para o alto.
— Agora, até isso não posso mais opinar – reclamou baixinho mais eu
escutei.
— Nós só queremos seu bem, dona Teresa. E a senhora sabe que
precisa de cuidados especiais. – Falei me aproximando.
— Eu sei. Não é nada contra você, mas é que é muito difícil para mim
e ainda mais ser um peso morto para vocês.
— Nunca mais fale assim, dona Teresa – segurei suas mãos com o
máximo de carinho possível – a senhora não é isso que falou. Nem quero
repetir. – Olhei mais afastado o Miguel já estava com os dois filhos nos
braços provocando muita risada nos meninos - Se o Miguel lhe ouve...
— Tudo bem. Não leve em consideração tudo que essa velha falar.
Está sendo difícil para ela eu sei, mas terei que ter muita paciência.
Depois de tudo organizado e dona Teresa e Isa instaladas
adequadamente, ainda bem que a casa do Miguel é grande e coube todos
perfeitamente. Coloquei os meninos para dormir e procurando o Miguel.
— Você mal comeu no jantar – comentei com o Miguel na área da
piscina onde estava muito pensativo.

— Estava sem fome – enlaçou minha cintura e me tomou um beijo –


obrigado! – Deu-me um selinho – obrigado. Deus, se não fosse você em
minha vida...
— Não precisa me agradecer por isso.
— Preciso, não. Devo agradecer sempre. Juro que não havia notado
que mamãe estava assim tão doente e outra: se você não tivesse tomado conta
da situação não saberia resolver nada. Mamãe é osso duro de roer. Nunca
consegui convencê-la a morar comigo.
— Ela entendeu que assim é melhor. Agora o senhor precisa
descansar. Sua mãe não pode vê-lo assim.
— Assim como?
— Assim com essa cara – brinquei com seu nariz.
— E que cara estou fazendo?
— Deixa eu ver – coloquei o dedo indicador no rosto como esses
emojis pensativos.

— Deixa eu te ajudar – ele mudou a expressão – diga se agora não


estou com cara de bobo apaixonado.
— De apaixonado sim, mas bobo não.
— E cara de quem quer levar sua esposa para cama e mostrar o
quanto ela merece ser bem tratada?
— Hum! Ótima ideia! Pena que eu não sou esposa. Iria adorar que
fosse eu a provar como é bom ser bem tratada na cama por você.
— Não é ainda, mas quando essa maré baixar será a primeira coisa
que faremos. Por enquanto vamos fingir que já dissemos sim na igreja e pular
logo para a lua de mel?
— Apressadinho.
— Com você eu sempre vou ter pressa. – Falou me pegando nos
braços – assim chegaremos mais rápido em nosso quarto.
Capítulo 45

Uma semana e nossa rotina já se estabeleceu normalmente. Ter duas


crianças e uma sogra para cuidar não está sendo fácil, mas com a ajuda do
Miguel e a Ana fica tudo bem. Que bom que tenho esses dois, aliás, todos os
nossos amigos estão nos ajudando. O Davi tem ajudado bastante no
restaurante assim o Miguel fica mais tempo com a mãe. A Dany vem me
ajudar quando está de folga. Ontem mesmo levou os meninos num passeio de
domingo, passaram o dia todo fora. Já que ontem não estava me sentindo
bem. Ando tão cansada ultimamente, um sono que nunca é vencido.
— Bom dia, mamãe! – A Liv entra no meu quarto e eu ainda estou
deitada. Fazendo manha para não acordar. Ainda bem que estou vestida com
uma camisola descente. Livrei-me de responder todas as suas curiosas
perguntas.
— Bom dia, minha bonequinha – ela já estava na minha cama e se
cobrindo com o lençol. Apertei-a num abraço – hum, tem gente querendo
carinho?
— Quelo. Quelo ficar em casa hoje, não quelo ir na escola não.
— Eita que filha mais preguiçosa eu fui arrumar! Por que você não
quer ir à escola?
— Tem um muitão assim de coisas – fazia resto com as mãos.
— Pode falar estou só de ouvidos.
— Premerio é o Victor. – Sua cara de aborrecida é a melhor – mamãe
ele é um garoto muito irritante – ela contava nos dedinhos – segundio a vovó
Teresa está aqui e eu queria cuidar dela o dia todo. Mamãe eu vou ser isso
quando clecer.
Minha filha de apenas três anos está me reclamando de um garoto e
dizendo qual é a profissão quer seguir logo no primeiro horário do dia. Isso é
demais. Tempo vá mais devagar, por favor!
— Isso não são motivos, dona Liv. A senhora vai à escola. E vai
procurar estudar muito e apender tudo que a professora ensinar, porque
médicos estudando muito desde de bem pequenos. E quanto ao Victor é só
você ficar longe dele – eu sei que ela ficou com essa resistência dele devido o
que ele fez com o Lucca. Mas isso vai passar tenho certeza. Deixa a
adolescência chegar. - E em relação a dona Teresa quando chegar da escola
você fica com ela, pois esse será seu turbo de trabalho. Sabia que médicos e
enfermeiros trabalham por plantões? Agora levantando dessa cama e vamos
tomar banho.
— Oba! Posso tomar banho com você? Diz que sim vai – ela já estava
pulando na cama.
Minutos depois estávamos descendo para tomar café e todos já
estavam a mesa.
— Bom dia, mamãe.
— Bom dia, meu super-herói favorito – beijei sua bochecha. Ele já
devorava seu café da manhã. O Lucca tem sempre muito apetite pela manhã.
— Bom dia, meu amor – beijei o Miguel.
— Bom dia, dona Teresa. Como está se sentindo hoje?
— Bom dia, estou na mesma. Essa falta de notícias de minha doença
está acabando comigo. Detesto ficar sem comer. Olha que se eu não morrer
dessa doença você vai me matar de fome – reclamou mais uma vez.
O meu relacionamento com minha sogra era sempre regado com suas
reclamações aqui outras ali, mas no geral estávamos nos entendendo bem.
— Não reclame! É para seu bem, querida sogra.
— Essa sua paciência me irrita. Você bem que poderia ser uma grossa
comigo e nem ligar para mim. Seria mais fácil para mim.
— E essa não seria a minha esposa – o Miguel beijou minha mão.
— Ela reclama, mas está adorando esse tratamento vip – A Ana
constatou.
— Bom dia, Ana. Bom dia, Isa – cumprimentei as duas que estavam a
mesa também.
Nosso café transcorreu bem e depois continuamos com a nossa rotina
de bolsas e lancheiras pressa para escola e hospital. E eu ainda continuava
cansada e sem apetite. Parecia que tinha um elefante nas costas.
O Miguel sempre ficava com a mãe na parte da manhã. Eu ia
trabalhar. Na hora das crianças largarem da escola ele ou Ana os buscavam.
Eu ficava a tarde com minha sogra e as crianças, mas sempre com Ana ou Isa
me ajudando. Miguel vai ao restaurante à tarde e algumas vezes fica até mais
tarde. Sempre que dá ele janta conosco, mesmo que depois ele volte ao
restaurante.
Hoje combinei com Keila, a enfermeira responsável pelo caso de dona
Teresa, de amanhã em jejum eu colher o sangue da minha sogra. Não é
necessário que ela vá ao hospital apenas para colher o sangue já que eu sou
enfermeira e estou cuidando dela. Combinei com a nutricionista e com a
médica dela. Eu pego todas as orientações e exijo. Isso mesmo. Exijo que
minha sogra resistente ao tratamento cumpra com tudo à risca. Para isso
conto com dois "cãozinhos de guarda" que não deixa nenhuma tentativa de
deslize sem impedir e me comunicar. Isso sempre nos traz boas risadas, pois
para eles é brincadeira, para ela é uma prisão e para mim me divido em ficar
preocupada e aliviada por ela nunca consegui seus contrabandos.
Hoje o dia se arrastou de uma maneira incrível. E eu só desejando
chegar logo em casa e poder tirar um cochilo rápido.
Chego a casa e escuto a risada das crianças de longe. E devem estar
no jardim dos fundos, na certa com a Isa. Ela está me saindo uma excelente
babá.
Entro na casa e não vejo ninguém. Sigo pela cozinha e quem eu vejo?
Dona Teresa em cima de uma cadeira procurando alguma coisa no armário.
Nem posso falar com ela porque pode se assustar e cair.
Aproximo-me dela, pois eu sei que vai tomar um susto daqueles. E
espero que desça, mas por perto para poder ampara-la. E realmente isso
aconteceu.
— Você quer me matar de susto, Lucélia? – Exclamou colocando a
mão no peito.
— E a senhora está fazendo o que aqui na cozinha sozinha? – Falei
pegando uma lata de leite condensado e um pacote pão de suas mãos.

— Na- nada. Você não deveria estar no hospital?


— Não senhora. Essa é a hora que chego todos os dias. Mas quanta
armação e se a senhora caísse?
— Eu estava segurando! – “Grande coisa" pensei.
— Dona Teresa, venha cá sente-se por favor – conduzi-a até a mesa.

— Eu preciso que a senhora leve a sério seu tratamento. A senhora


recebeu uma grande chance que a maioria das pessoas não recebem. A
senhora descobriu essa doença a tempo de ser tratada – peguei em suas mãos
– muitas pessoas só descobrem com ela muito avançada e sem muito tempo
para resolver. A senhora sabe que a fila de transplante é enorme e...
— Eu sei. – Abaixou a cabeça – como eu estou sendo ingrata. Meu
velho ficou muito tempo nessa espera e nunca encontrou um doador. Eu
tenho essa chance, tenho tanta gente me ajudando.
— Nós só queremos seu bem. – Falei sincera – a senhora precisa
entrar nessa luta conosco. Pense no seu neto – apelei, mas não me julguem–
ele está radiante por ter a senhora por perto.
— Está mesmo. Eu adoro ficar perto dele e da Liv também – sorriu –
oh menininha danada de esperta! Acredita que ela nem queria entrar na
piscina agora a tarde só para poder cuidar de mim. – Agora fui eu quem
sorriu.
— A Liv é uma menina muito especial. Sabia que ela não queria ir à
escola hoje para cuidar da senhora? Não os decepcione.
— Eu vou mudar. Eu só vivo reclamando. Tentando burlar seus
cuidados. E estou vendo que não é fácil para você.

— Eu faço por prazer.


— Eu sei, mas estás cansada. Está com olheiras. Mal se alimenta que
já percebi. Você também precisa se cuidar.
— Eu me cuido, dona Teresa. Sempre. Mas ultimamente estou me
sentindo mais cansada do que o costume e com muito sono.
— Então vamos fazer o seguinte – seus olhos de repente começaram a
brilhar. Não entendi o motivo – você sobe, toma um banho e dorme um
pouco. Eu prometo que não falo para ninguém que você já chegou assim tens
mais tempo para dormir.
— Dona Teresa, o problema não é esse...
— Faça o que eu estou pedindo. Eu prometo que não vou sair de suas
ordens alimentares e já tomei todos os meus remédios hoje. Vá descansar.
Você está precisando.
Ela falou com tanta sinceridade e estava mesmo me segurando para
não dormir em pé.
— Tudo bem. Eu vou aceitar sua proposta, mas qualquer coisa pode
mandar me chamar.
— Combinado, vai minha filha. - Ela me chamou de filha? Que
grande avanço! - Descanse, pois talvez não tenha mais tanto descanso daqui
para frente.
— O que a senhora quer dizer...
— Nada. – Bateu com suas mãos nas minhas – nada. Apenas uma
suspeita de uma velha que já viu muita coisa na vida.
Capítulo 46

As coisas vieram acontecendo tão rápido. Num piscar de olhos recebo


a notícia da doença de minha mãe em outro descubro que sua saúde estás nas
mãos da mulher que vem mudando minha vida drasticamente e eu só tenho
que agradecer e muito por ela ter entrado na minha vida. A minha Cely ser
doadora e ainda ser compatível com a dona Teresa é a maior prova de que
nunca estamos sós que existe um Deus que nos guia e nos concede
verdadeiros milagres. Lógico que concordo e sou um dos maiores
incentivadores para que o transplante não seja necessário e faço até o
impossível para que minha mãe consiga se reestabelecer sem termos que
recorrer a essa última instância. Mas isso depende dela também, de sua força
de vontade. Eu vejo que não é fácil. Ela resiste muito ao tratamento. Eu tenho
consciência de que não é fácil para ela se manter numa dieta rígida e com
tantos medicamentos. E sem falar que a minha mulher, eu sei que falar assim
pode ser visto como machismo; mas não me envergonho de dizer: minha
mulher! Minha mulher é um poço de tranquilidade e paciência sabe conduzir
a dona Teresa e a coloca no bolso. Esse é outro aspecto que adoro nela. Nas
minhas outras poucas experiências as mulheres se deixavam afugentar pela
temida dona Teresa, mas a Cely não.
— Boa noite – ninguém pela sala?! – Cheguei – falei mais alto e nada
das crianças ou a minha mãe com seu velho mal humor reclamando de tudo?
Logo um sinal de alerta me acometeu. Será que aconteceu alguma
coisa? Fui até a cozinha e piscina já que estava no andar de baixo e nada.
Corri imediatamente para os quartos o andar de cima. Subi as escadas de dois
em dois degraus e a adrenalina tomava conta de mim.
Já no corredor escuto vozes e risos vindo do quarto do Lucca.
Aproximei-me e a porta estava apenas encostada e a empurrei um
pouco e escutei:
— E agora? Teresa com quem você quer ficar? – A Ana perguntava
diante dos dois meninos enrolados em suas respectivas toalhas se "tremendo"
acho que eles estão com frio. Resolvo assistir um pouco essa cena inesperada.
— Deixa eu ver – minha mãe fez suspense. O que aconteceu com
minha mãe? Ela está bem? – Eu acho que dessa vez vou ficar com essa
menininha esperta. Venha cá Liv. Vamos vestir sua roupa e pentear esse
ninho de cabelos. – Olhei para seus cabelos e realmente estavam em
emaranhado daqueles.
Vejo a minha Liv se surpreender com a escolha. Essa menininha
conquista a todos. Conseguiu conquistar mesmo a dona Teresa?
— Pronto. Fico, então com o Lucca que é bem mais prático – falou
bagunçando os cabelos dele – vamos terminar primeiro e ganhar delas –
piscou para o Lucca.
— Ah, assim não vale! – A Liv reclamou.
— Verdade, Ana. Eu não vou querer competir. Vou querer pentear a
Liv com cuidado e sem pressa. Nunca tive uma menina para cuidar. – Senti a
sinceridade dela. Sempre escutei-a dizendo que gostaria de ter mais filhos. E
se fosse uma menina realizaria um sonho.
-Ideia ruim – a Ana se convenceu – mas vamos vesti uma roupa
nesses nadadores porque estão com frio.

— Espera- Liv vira de costas e eu também – o Lucca falou e sorri. A


Cely e eu nas poucas vezes em que estivemos nessa situação fizemos isso.
— Muito bem, meu netinho! Venha Liv. A Isa trouxe sua roupa. – E a
minha menina foi obediente.
Vi as duas mães que a vida me deu cuidando com tanto zelo dos meus
filhos que me emocionei. O Lucca ficou pronto primeiro e logo estava com o
celular nas mãos sentado na cama. A Ana assim como eu começou a prestar
atenção naquelas duas ao lado.
A mamãe penteava os cabelos da Liv já vestida e paciente esperando
que terminasse. Eu suspeitava que ela perduraria muito tempo ali. Ninguém
falava nada no quarto e eu esperava pelo desenrolar do penteado para pode
me anunciar.
Pouco tempo depois minha mãe sorri olhando a Liv com os cabelos
frontais esticados e presos numas dessas coisas que meninas usam no cabelo
e no comprimento cachinhos meticulosamente desenhados.
— Prontinho! – Mamãe falou feliz. E a Liv pôs a mão como se pude
ver o penteado.
— Obrigada, v... –Corrigiu rápido – dona Telesa.
— Por nada minha netinha, Liv você pode me chamar de vó se quiser
– mamãe falou carinhosa – afinal de contas você é irmã do meu neto.

— E minha filha também – entrei no quarto não resistindo mais.


— Papai! – Os dois falaram juntos e vieram me abraçar. Acho que
eles ficam combinando e ensaiando essa performance. Eles nunca eram.
Beijei o rosto de cada um e levantei-os nos braços.
— Nossa! Como estão cheirosos!

— E arrumados! – A mamãe falou evidenciando.


— E arrumados. Vão sair sem minha permissão? A Liv está até de
penteado! – Simulei surpresa.
— Foi a vovó Teresa que fez. Ficou bonito? – Mamãe sorriu.
— Ficou ainda mais linda!
— E a mãe de você, cadê? Não a vi quando cheguei. – Falei
direcionando também o olhar para as duas senhoras que estavam também no
quarto.
— Ela está descansando um pouco, Miguel – A Ana respondeu.

— Fui eu que mandei ela descansar. Ela trabalha muito aqui e no


hospital. Chegou esgotada. Prometi que cuidaria das crianças. Digam ao pai
de vocês se não cuidei direitinho.
— Foi, papai, a vovó ficou com a gente a tarde toda na piscina. –
Lucca falou.
— Foi muito legal, papai. - Liv completou.
— Mas fiquei do lado de fora – falou antes de ouvi uma reclamação –
mas a Isa ficou com eles o tempo todo dentro da piscina. Não se preocupe.
— Eu vou descer e terminar o jantar – a Ana falou.
— Porque vocês dois não vão assistir televisão enquanto eu converso
com o papai? – A mamãe incentivou. – Sem fazer barulho para não acordar a
mamãe. – Os dois saíram quietos.
Esperei ter a certeza de que eles já estavam longe o suficiente.
— Aconteceu alguma coisa? – Estava me preparando
psicologicamente. A Cely recolhida era uma novidade e a mamãe
visivelmente diferente.
— Não, meu filho – me puxou para sentar na cama – apenas queria
dizer que finalmente entendi minha condição, graças a sua mulher – ela sorriu
– eu estou recebendo uma grande oportunidade na vida e não estava
valorizando. Quero dizer que a partir de hoje farei tudo sem reclamar. Vocês
estão fazendo tudo por mim e eu estava sendo uma ingrata.
— Que bom ouvir isso, mamãe. Mas eu preciso perguntar – olhei bem
nos seus olhos – o que aconteceu com a senhora e a Cely? Vocês brigaram? –
Estava começando a me preocupar. Minha mulher não merece num tipo de
constrangimento.
— Não, menino! E sua mulher sabe lá discutir com alguém! E olhe
que já tentei muito tira-la dos trilhos, mas ela é diferente. Na realidade, é
sábia. Muito sábia.
— Que bom que finalmente a senhora reconheceu isso – beijei suas
mãos.
— Agora, você está errando com ela. Você falou que queria fazer
tudo certinho como manda o figurino e nada. A Cely é uma mulher especial e
deve ser tratada como tal. Merece um jantar de noivado, um casamento digno
de princesa. - Perdi minha mãe para a Cely?
— É nessa hora que eu perco minha mãe para minha esposa?
— Claro que não seu bobo. Mas ela ainda não é sua esposa e precisa
agir logo com isso.
— Eu sei. Tinha até combinado com ela de irmos até a casa de seus
pais pedi-la em casamento. Senhor José é bem tradicional. E eu quero fazer
isso por ela, mesmo que a maioria das pessoas hoje em dia não façam mais
isso.

— E desde de quanto que você é todo mundo? Apenas siga seu


coração.
— Estou seguindo, mamãe. Mas aconteceram tantas coisas.
— Eu sei. Atrapalhei tudo.
— Não senhora! Eu a proíbo de falar assim.
— Então vamos fazer assim: ligue para seu sogro e marque o jantar
para daqui a dois dias. Acho que ele não se colocará contra. Se por acaso ele
for resistente fale que será bom ele conhecer o lugar onde sua filha e neta
estão morando. – E talvez ele não goste de ser ele a vir até mim para pedir a
mão de sua filha - Eu posso organizar um jantar surpresa para a Lucélia. E
você compra um anel – se animou – o mais bonito que você encontrar. E
deixa que do restante eu cuido com a Ana. Ela vai adorar participar disso
também que eu sei.
— Mamãe, a senhora acha...
— Meu filho eu sei o que estou fazendo e quero apenas ajudar.
Esqueceu dos jantares e reuniões que oferecia nos tempos de ouro com seu
pai? E por outro lado quero me senti mais útil aqui nessa casa e deixar a
Lucélia mais descansada também. Ela vai precisar.
— Não entendi, mamãe. – Como assim? Se bem que tudo isso está
fazendo a minha mãe mudar é melhor não questionar.

— Não precisa, meu filho. Não por enquanto. Eu nunca me perdoaria


se fosse eu a dizer. Só pense que quero apenas ajudá-lo a fazer uma bela
surpresa ao seu querido anjo.
Capítulo 47

Eu tenho aprendido muito nessa vida. E uma das coisas que aprendi
recentemente é que nem tudo sai do jeito que a gente planeja. Não podido ter
mais filhos, perder meu velho, ver meu único filho sofrendo por um
abandono, ver meu neto sofrer pela falta da mãe, entre outras coisas. Eu só
consegui enxergar isso há pouco. Eu tenho o desejo de controlar tudo e nem
tudo está no meu controle, aliás, nada está no meu controle. Eu tinha achado
que me entregar a doença seria mais fácil para mim, então vem a Lucélia com
toda sua compreensão e paciência e ser falar naquela espertinha da Liv,
aquela menina tem um carisma que encanta a todos, e me mostra o quanto
sou importante para minha família. Ao passar do tempo deixei de perceber
quanto sou amada. A gente tende a fazer isso. Não valorizando a quem está
bem próximo de nós e o que significamos para eles.
Agora que finalmente tomei consciência de tudo que estou passando
mais do que nunca quero viver. Vou fazer valer a pena todos os esforços que
todos estão tendo comigo: meu filho, a Lucélia, Ana, meus netinhos; sim a
Liv também é minha neta. Até os mais distantes ou os que não conhecia se
preocupam comigo como o Davi que sempre está ajudando o Miguel e
preocupado com a minha saúde. A Dany e Otávio. Enfim, todos.
Eu sei que a Lucélia é compatível comigo e sei também que ela não
está medindo força para me tratar, não porque ela não queira fazer a doação,
mas porque acredita que Deus tem um propósito na minha vida e sou uma
felizarda por estar tendo essa chance rara. Segundo ela, pouquíssimos
pacientes têm a mesma sorte que eu. E também tem outra coisa que só eu sei
por enquanto. A Lucélia está grávida. Eu sei. Ela está com todos os sintomas
iniciais, mas ainda não se deu conta. E estou muito feliz por isso. Sei que
meu filho vai amar a novidade. Eu sempre quis ter uma casa cheia de filhos
queria ter sete. É loucura nos dias de hoje, mas na minha época não era. Isso
me renovou. E não posso ficar esperando que a Lucélia me faça uma doação
até porque agora não será mais possível. E eu quero conhecer mais esse novo
neto ou neta. Eu sou muito nova para morrer e quero conhecer e participar da
vida de todos os meus netos.
Hoje foi um dia de muitas emoções ainda bem que meu problema não
é no coração descobri que serei avó novamente e não poder falar nada e ainda
ter aquele momento com a Liv foi muita emoção. Sempre quis ter uma
menininha para mimar, pentear igual a gente faz quando brinca de boneca.
Resolvo me ajoelhar e agradecer a Deus pela oportunidade e selar um
acordo com ele de me deixar viva e acompanhar todas as etapas de meus
netos.
Ouço alguém bater na porta.
— Sou eu Ana
— Pode entrar – falei me levantando.
— Desculpe interromper suas orações.
— Já havia terminado. Me conte o que você deseja.
— Nada. Apenas vim ver se você precisa de alguma coisa antes de
dormir.
— Você sempre foi minha amiga – peguei sua mão – obrigada por
tudo.
— Por nada – respondeu receosa – está acontecendo alguma coisa e
eu não estou sabendo. Você está muito mudada. Você não é assim!
— Nossa! É estranho perceber como eu era com as pessoas. Sim, me
sinto diferente. Renovada é a palavra. Hoje minha vida ganhou outro sentido.
— Que bom! Fico feliz com sua mudança, mas você não está
aprontando nada para a Lú não. Não é? Porque se você estiver...
— Calma, calma. É lógico que não vou aprontar nada. O tempo de
espantar as mulheres que se aproximavam do meu filho já passou. Com essa
não tenho necessidade de expulsar e nem quero. Meu filho e meu neto são
outros. Estão felizes e vão ficar ainda mais.
— Por que diz isso?

— Porque eles amam a Lucélia e ela ama eles. E vamos ter um jantar
de noivado depois de amanhã e vamos organizar juntas.
— O Miguel já marcou? - Ela perguntou se animando. Ela é outra
mulher que tive que aceitar a compartilhar meu filho. Eles dois sempre
tiveram uma ligação muito forte.
— Sim. Toda a família dela virá menos a mãe biológica da Liv por
razões óbvias. O Miguel fez questão de deixar isso claro, como uma condição
para que esse jantar acontecesse. Não quero a minha nora se preocupando à
toa já basta a emoção que terá no noivado surpresa.

— Quer dizer que ela não sabe?


— Não. Vou te dizer a minha ideia e vamos ter que fazer juntas
porque sozinha não consigo. Ela é muito esperta.
Depois de combinar tudo com a Ana nos despedimos animadas em
colocar tudo em prática no dia seguinte e dormir.

Dormir tão bem como há tempos não dormia. Levantei-me, fiz minha
higiene matinal e ao sair do quarto encontrei com a Lucélia cheia de sua
parafernália de enfermeira.
— Bom dia, sogra. Preciso colher seu sangue para vermos como a
senhora está respondendo ao tratamento.
— Pensei que teria que no ir ao hospital.
— Não precisa. Como sei todos os procedimentos posso fazer eu
mesma aqui em casa.
— Que pena! Pensei que poderia sair um pouco de casa hoje. - falei
pensando em como tira-la de casa e comprarmos um belo vestido e nós
arrumarmos.
— Ah, se a senhora quiser pode sim. Acho até que lhe fará bem
caminhar um pouco, visitar algumas amigas...
— Compras. Quero fazer compras. Você bem que poderia vir comigo.
— Hoje? Hoje tenho meu dia todo preenchido. Tenho que ir à escola
dos meninos à tarde. E eu faço questão de ir à reunião de pais.
— Então vamos deixar para amanhã à tarde quando você largar. Pode
ser?

— Claro. Combinado então. - Ela respondeu inocente de meus planos.


— Você como se senti hoje? Vejo que está mais rosada.
— Estou ótima. Consegui descansar bem ontem. Obrigada pela ajuda
de ontem. Nunca fiquei tão despreocupada.
— Não me agradeça por isso.

Ela terminou o exame e logo começou a agitação de sempre. O café


da manhã é sempre corrido tem dias que os meninos se levantam sem
reclamar tem dias que a preguiça reina.
— Vovó quelia tanto que o peneado que senhora fez não desalumasse.
Quelia ir bonita p escola. – A Liv veio me contando quando me viu. E seu
cabelo estava apenas amarrado na altura do pescoço.
— A Liv acordou com os cabelos todos desarrumados e queria ir à
escola com aquele ninho na cabeça, dona Teresa. - A Lucélia contou.
— Eu disse que se ela saísse daquele jeito os passarinhos todos iriam
querem ficar na cabeça dela. Eles iriam se confundir com o ninho deles. - O
Miguel ria da carinha da Liv. Ela estava mesmo chateada por ter
desmanchado o penteado.
— Quem maldade, filho - reclamei com o Miguel, mas não podia
deixa-la triste assim logo pela manhã - Você já comeu, Liv?
— Já
— Então vem aqui rapidinho no meu quarto – convidei e ela sorriu.
— Vou fazer uma transa de raiz no seu cabelo. Vai ficar linda!
— Oba – foi logo tirando o amarrado do cabelo. Não culpo sua mãe é
tanta coisa pela manhã que não dá para fazer nada elaborado, mas eu tenho
tempo e disposição para fazer.

— Está quase pronto. Só mais um pouquinho. Terminou. Me dê essa


Luluzinha na sua mão.
— Luluzinha?
— Sim, era assim que se chamava na minha época. – Prendi a ponta
da transa.
Ela foi até o espelho.
— Nossa! Que linda! Obilado vovó. Agola só vô queler que a senhora
me arrume dileto pra ir na escola.
— Liv! – Escutamos sua mãe gritar.
— Tô indo, mamãe! Tchau vovó – me deu um beijo na minha
bochecha.
Essa menina é muito vaidosa. E eu vou adorar fazer seus penteados.
Sorri com esse pensamento. Acho que preciso falar com a Isa.
Sai do meu quarto em busca da Isa antes de ir combinar com a Ana
tudo para nosso jantar.
— Isa! – Chamei-a. – Isa!
— O que foi, dona Teresa? – Falou me olhando curiosa – aí – colocou
a mão no peito – que bom que a senhora está inteira e em pé. Pensei que tinha
caído.
— Menina, você pensa cada coisa. Estou bem só chamei porque não
sabia onde estava e não tenho tempo para ficar te procurando pela casa.
— Chamou não, gritou. E eu estava na cozinha tomando café.
— De novo? – Provoquei – você vai engordar viu.
— Como de novo? Ainda não tinha tomado café.
— Isso é o que dá ficar no jardim paquerando.
— O que... nossa, dona Teresa, a senhora tem cada coisa.
— Pensa que eu não sei. Eu vejo e sei de tudo. Já tive sua idade e ele
é bonitão mesmo.- sorri de maneira cúmplice.

— Ele é apenas o vizinho. E é tão misterioso e...


— Gostoso – completei.
— Dona Teresa!
— E não é assim que vocês jovem chamam? Eu sou antenada em tudo
que é moderno. Agora você pegue esse seu celular e me ensine a pesquisar
penteados, transas e outras coisas. Quero aprender uns mais modernos
— Estou vendo como é antenada. E porque eu é que tenho que lhe
ensinar?
— Por que eu preciso aprender para quando minha neta precisar de
um penteado bonito.

— Sei, está querendo fazer a menina de boneca.


— Olha como fala comigo! – Alertei. – Mas só depois porque agora
tenho um jantar para combinar com a Ana, mas você pesquisa logo um bem
bonito porque a Liv vai precisar amanhã.
— Hum, é um jantar especial mesmo. É alguma comemoração?
— A curiosidade matou o gato, menina. Mas se me prometer segredo
eu conto. Pensando bem você pode ajudar também. Venha comigo assim
você participa de tudo desde o início.
Capítulo 48

Depois de ter falado com o Gabriel e meu sogro convidando-os para o


jantar, lógico que seu José não sabe o que vai acontecer, o Gabriel sim já sabe
desde quando era apenas um plano. E ele sabe de minhas intenções ajudou a
convencer o pai que havia colocado mil e uma dificuldades. Logo que
consegui sua afirmativa procurei garantir que a Joyce não apareça. Não quero
nada estragando o meu noivado e muito menos preocupando a Cely ou a Liv
porque a presença dessa indesejada acabaria com as minhas duas princesas.
Tudo isso me fez lembrar do que o Otta havia me prometido. Preciso
ligar para ele.
Seu telefone tocou duas vezes e ele atendeu.
— Fala, brotherzinho! – Cumprimentou-me.
— Fala Otta! Tenho um convite e uma pergunta para você.
— Oh! Manda logo o convite. Lógico!
— Amanhã será meu jantar de noivado...
— Isso aí, irmãozinho! Estaremos lá com certeza. Eu e a Dany não
perderíamos isso por nada.
— Sabia disso, mas é um noivado surpresa, a Cely não sabe.
— Nossa! Nem sei o que pensar. Você está me saindo melhor que a
encomenda. Está mesmo amando para estar organizando um noivado
sozinho. Se precisar de ajuda estou aqui.
— Obrigado, mas a mamãe está organizando tudo eu só tenho que
comprar o anel. Aí sim quero que você vá comigo e quem sabe se anima
também e compra um para a Dany e para de enrolar a coitada.
— É... você me falou tinha uma pergunta... – deixou no ar desviando
do assunto. Esse Otta ainda vai quebrar a cara, mas resolvi entrar na dele. Ele
sabe melhor do que eu conduzir a sua vida.
— Tenho sim. Você me falou que sabia um jeito de deixar a Joyce
bem longe das minhas meninas. Você conseguiu?
— Claro! Está brincando comigo? Não brinco em serviço não.
Consegui uma liminar na justiça e ela não pode se aproximar a menos de cem
metros da Liv ou da Lu.
— Boa! Mas será que isso é suficiente? Não quero que ela nem veja
de longe as minhas duas princesas.
— Pode ficar tranquilo. Mas também vamos ficar atentos e qualquer
deslize dela está ferrada com a justiça. É bom até você avisar na família. Fala
para o irmão. Ele pode ajudar alertando-a. assim nos ajuda também.
— Vou fazer isso. Até mais tarde. Não se esquece do anel. – Falei
desligando sem dar chance de ele recusar.
Fiquei resolvendo as demandas do restaurante. Hoje sai logo cedo de
casa. Estou ficando com muito trabalho acumulado. O Davi cuida muito bem
do restaurante, mas o forte dele é a cozinha. Não posso exigir muito dele.
Mergulhei numas planilhas de orçamentos e esqueci do tempo. Até
que escutei uma batida na porta.
— Pode entrar – falei deixando o computador de lado.
— Com licença, Miguel – o Gabriel, irmão da Cely falou da porta.
— Gabriel, pode entrar- levantei para cumprimenta-lo – aconteceu
alguma coisa? – Achei estranho ele vir hoje se praticamente acabei de falar
com ele.
— Não. Está tudo bem. Eu vim fazer umas entregar por essas bandas
e resolvi passar por aqui. – Ele não me engana.
— Com que você está preocupado? – Fui direto ao ponto.
— Com as meninas. Elas estão bem?
— Sim. Muito bem. Está tudo tranquilo.
— Isso é que me preocupa. Sempre falo com a Lucélia e ela me fala
sempre a mesma coisa. A Joyce não deu as caras por aqui novamente?
— Não. E estamos com uma liminar da justiça. Se ele se aproximar
das minhas meninas ela está encrencada.
— Isso foi bom, mas pode não a impedir. A Joyce está envolvida com
gente da pesada e faz duas semanas que saiu de casa dizendo que tinha
arrumado alguém que finalmente estava dando valor a ela. Meu pai está
morto de vergonha e a mãe não fala nada a respeito, mas sei que as duas se
comunicam.
— Foi bom você ter avisado, Gabriel. Redobrarei os cuidados. Ela
pode não aparecer, porém não sabemos quem são essas pessoas e o quanto
podem ser perigosos. Contudo vou te pedir um favor avise a sua mãe sobre a
liminar.
— Já ia fazer isso, assim ela comunica aquela desalmada. Já avisei
para a mãe também que se algo acontecer com a mana ou a Liv eu vou
procura-la no inferno e vou esquecer que ela é minha irmã.
Sua postura foi mudando enquanto falava e era para dar medo. O
Gabriel era um homem difícil de definir por alguns momentos parecia
inofensivo digo que até inocente, mas por outras vezes parecia ser durão.
Desses que não fala duas vezes a mesma coisa.
Conversarmos mais um pouco e ele se despediu dizendo que ficaria
atento. Ele assim como eu tinha medo da Joyce aparecer amanhã no jantar.
Talvez ela pense que se todos estiverem juntos ninguém vá fazer nada contra
ela.
Saímos do meu escritório e encontramos a Rayssa toda de sorrisos
atenta ao nosso movimento. Será que ela não se cansa? Acho mesmo que vou
ter que demiti essa garota. Dissimulei não ter entendido sua intenção e
observei o Gabriel ele não pode achar que eu esteja tendo um caso com ela.
Todavia, vi que seu olhar era mais para encantamento e acho que nem
percebeu as intenções da Rayssa. Não disse que esse cara parece ser muito
inocente em alguns momentos. Não vai por esse caminho cara. Isso não vai
dar certo!
Capítulo 49

Cheguei à escola dos meus filhos no horário marcado e não demorou


para iniciar a reunião que logo descobri o porquê da exigência de ser só a
mãe para comparecer. A reunião era para se tratar da comemoração do dia
dos pais. Por isso que é a Liv não parava de me lembrar da reunião. E eu
achando que por ser a primeira reunião ela estava preocupada de eu não ir.
Combinado e todas de acordo com a contribuição de cada família
terminou-se a reunião. Aproveitei para saber como meus filhos estão se
comportando na escola e só recebi elogios. Estava ainda tudo bem até a
Andreia abrir a boca para estragar o dia.
— É para quem tem um pai é fácil concordar com tudo sem objeções
- bela falava para uma outra mãe.
— Andreia, eu entendo seu lado, mas você deveria conversar com o
Victor. Você poderia vir e ser homenageada afinal você é mãe e pai ao
mesmo tempo.
— De jeito nenhum que vou expor meu filho dessa forma. Imagina
ser apenas ele sem o pai. – Não queria escutar a conversa, porém não tinha
como elas estavam andando na minha frente. No corredor pequeno da escola.
— Você não tem ninguém por perto? Um irmão? Talvez um
padrinho? Seu pai?!
— Não. Não tenho ninguém. Minha família não é daqui – ela olhou
para trás me viu – até tentei encontrar um homem bacana de quem o Victor
gostasse, mas sabe como são algumas mulheres elas veem e roubam sua
oportunidade de fazer o filho feliz.
Ela está jogando indireta para mim? É melhor ignorar porque a
carapuça não serviu para mim. Apressei o passo para ultrapassa-las.
— Nossa que chato, Andreia. São mulheres assim que nos difamam.
— Verdade. Esses tipinhos são os piores ainda ficam engando
crianças. Você acredita que a mulher que me roubou o meu homem ainda
exigiu que o filho dele a chamasse de mãe e a filha dela, atrevida aquela
menina, ainda é orientada para chama-lo de pai. Como se ele fosse realmente
o pai. Provavelmente essa mulher nem sabe quem o pai daquela cria dela.
Isso já era demais. Ela está mesmo me provocando.
— Deus que me livre de uma mulher dessas perto do meu marido.
— Para você ver como eu sofri e ainda sofro ao ver essa mulher
sempre vindo trazer essas pobres crianças na escola. Só tenho pena delas
porque no futuro elas vão sofrer com essa mulher asquerosa. – Jesus me
segura por favor. Eu não quero brigar – se bem que acho mesmo bom que as
crianças sofram assim o cara que me desprezou veja o quanto foi errado. É
isso! Quero que o menino sofra e muito por causa dessa mulher. – Ah, não!
Isso não vai ficar assim! Fale o que quiser de mim, mas dos meus filhos não!
— Escuta aqui – virei-me já com o dedo na cara daquela mulher – não
admito que você deseje mal ao meu filho. – Estava cega de raiva daquela
mulher – e sim ele é meu filho. Ele pode não ter saído de meu ventre, mas ele
é meu filho. E você se acostume com isso. Eu não roubei o Miguel de você.
Simplesmente... vocês... jamais iria dar certo. – Falei da melhor maneira que
podia. Afinal ainda estava na escola e não queria escândalos.
— Como você pode dizer isso? Por acaso tem bola de cristal?
— Não. Não tenho, mas conhecendo o Miguel e o Lucca como
conheço esse relacionamento nunca daria certo.
— E por isso você resolveu atrapalhar? – Ela estava bufando e nem aí
para escândalo.
— Quer saber achei o que você quiser. A sua opinião não mudará
nada para mim ou para minha família. Com licença. – Resolvi dar por
encerrada aquela descabida discussão.
— Viu só. Ela é tão errada que nem tem argumentos. Vai. Vai
rapariga de beira de estrada. Sua puta. – Parei novamente. Algumas pessoas
já estavam olhando e não poderia deixar ela me ofender daquele jeito – o
Miguel vai ver a quem ele confiou o filho.
— Andreia, por favor. Me poupe e se poupe! Veja o vexame que está
dando. Não percebe que isso não vai mudar nada. – Falei controlada –
querida sua opinião pouco me importa. Não adianta nada você me xingar. A
minha dignidade não depende disso. Pode me chamar do que for não serei
nada disso só porque você está dizendo. – Falei sem nem ao menos parar para
respirar. Meu coração está acelerado. Eu nunca tinha passado por uma
situação dessas. Estava muito nervosa. Sentia minhas carnes tremerem.
Porém me subiu uma quentura e não me controlei e provoquei ainda mais – e
também é a mim que o Miguel ama e dorme todas as noites. Aceita que dói
menos. – Pisquei um olho para ela.

— Sua ... – levantou a mão para me bater, mas impedi-a no ar. Com o
gesto uma lufada veio em minha direção carregada com o cheiro forte de
perfume e aquilo despertou uma ebulição dentro de mim. Logo senti vontade
de vomitar. Que enjoo! Isso lá é hora de sentir isso.
— É melhor você não ousar a me tocar – falei tentando domar a
vontade de colocar todo o meu almoço para fora. Ele estava tão gostoso!
Baixei seu braço porque realmente seu cheiro era insuportável.
Minhas narinas estavam ardendo e evolução estava muito forte. Sentia os
jatos se formando. Que eu não vomite aqui. Meu Deus! Sentia cada poro meu
se arrepiar.
— O que está acontecendo aqui – alguém me assustou ao nosso lado
me despertando da concentração que fazia para não vomitar. O que
inevitavelmente aconteceu sem que eu dominasse e a Andreia ainda tentou se
livrar mais seus pés ficaram cobertos de vômito.
E ao ver aquilo na minha frente e sentindo o cheiro forte daquela
comida que amei tanto comer no almoço. Me embrulhou ainda mais o
estômago. E vomitei mais uma vez, mas dessa vez consegui virar para o lado
sem ter que melar ninguém.
— Desculpe-me – falei constrangida para a Andreia – não deu para
me controlar.
— Ah! Que ódio! Eu odeio você com todas as minhas forças! – Saiu
me xingando horrores.
E eu não sabia o que fazer continuei de cabeça baixa tentando
encontrar uma explicação para tudo que acabou de acontecer.
— Lucélia – agora reconhecia a voz da diretora da escola. Tinha sido
ela que falou anteriormente, mas não reconheci na hora – Lucélia, você está
bem?
— Ainda não sei – respondi sincera encarando-a – Meu Deus, que
vergonha! – Olhei e algumas mães me olhavam e o porteiro estava falando ao
celular me encarando como se me investigasse.
— Venha – ela pegou meu braço – venha até minha sala. Você está
muito pálida.
Minhas pernas tremiam. Senti-as fracas.
— Isso nunca me aconteceu. – Buscava respostas em minha mente.
— Isso pode ter sido estresse pela discussão. Você pode ter ficado
muito nervosa.
— Pode ser.
Entrei na sua sala e ela me direcionou a um banheiro e realmente
parecia que não havia sangue em meu rosto. Joguei água no rosto, enxuguei e
tentei investigar se ainda sentia vontade de vomitar. Depois de ter certeza de
que estava bem, sai do banheiro e dei de cara com um Miguel todo
preocupado.
— Meu amor, você está bem? – Veio até mim.
— Estou bem. Mas como soube?
— O porteiro me ligou avisando. Vamos eu vou te levar ao hospital.
Muito obrigada por ajudado minha esposa – falou se direcionando a diretora.
— Muito obrigada – falei para ela também e eu só queria sair dali o
mais rápido possível.
Saímos e fomos direto para casa. Estava me sentindo bem e só queria
tomar um banho. E assim fizemos depois que convenci o Miguel de que
estava bem e que eu reconheceria se não estivesse bem.
Chegamos e todas as mulheres estavam reunidas na cozinha e tiveram
um susto quando me viram.
— Lu, você já chegou? – A Ana saiu na frente delas e se
posicionando bem na minha frente enquanto a dona Teresa e a Isa juntavam
uns papéis na bancada.
— Sim – desviei da Ana e olhei para as outras duas – o que vocês
estão aprontando? – Perguntei curiosa. Elas estavam me escondendo alguma
coisa?
— Amor, você não disse que tinha que tomar um banho para tirar o
cheiro de azedo do corpo? – O Miguel pegou nos meus ombros e já me
girando para sair da cozinha.
— Cheiro de azedo? – Dona Teresa veio até mim. – Você está pálida!
Andou vomitando?
— Foi, mamãe – o Miguel iniciou uma revolução e logo tinha uma
cadeira sob minhas pernas e fui forçada a me sentar. – Vomitou a Andreia
toda.
— Que exagero! –Defendi-me.
— A Andreia? – A Ana se admirou – não sei o que ela fez, mas bem
que mereceu. Aquela mulher dá indigestão mesmo.
— Mas o que aconteceu? Você é tão forte e saudável? – A Isa
perguntou.
— Não importune a Lucélia, Isa. Vá tomar um banho, filha. Descanse
e desça só na hora do jantar. Aproveite coloque as pernas um pouco para
cima.

— Vou cuidar disso, mamãe. – O Miguel falou me estendendo a mão


e me guiando para o quarto. E continuei sem entender nada. Elas estão me
expulsando da cozinha ou estavam preocupadas comigo?
Capítulo 50

— Você tem certeza que não está sentindo nada? – Perguntei mais
uma vez. Estava muito preocupado. Ela ainda continuava pálida.
— Tenho. Eu só vou tomar um banho e descer para ver meus
meninos. – Eu tenho que impedi-la de descer. Aquelas mulheres estavam na
força tarefa para o jantar de noivado e não posso deixar a Cely descobrir
nada.

— Então vem que eu vou te dar um banho bem gostoso – falei


beijando seu pescoço.
— Hum, sei bem suas intenções – respondi não só em palavras, meu
corpo também respondia ao seu estimulo. – Mas e as crianças? Elas podem
vim até aqui.
— Acho que não. Tem três mulheres lá em baixo que podem
perfeitamente cuidar deles enquanto cuido da minha esposa.
— Hum, você está bem saindo para esse horário.
— E tem horário para cuidar de você? – Falei já tirando sua blusa e
realmente tinha cheiro de azedo, mas nada que me abalasse ou fizesse a
desejar menos. – Só tem uma coisa que me impediria – falei beijando seu
colo.
— O quê? – Respondeu num sussurro.
— Se você não estiver bem de saúde. Você realmente não está
sentindo nada?

— Não. Acho que foi o nervoso que passei com a Andreia e o cheiro
daquele perfume horrível.
— Tem certeza? – Certifiquei-me pela última vez.
— Tenho – determinou desfivelando meu cinto – provocou agora vai
até o final. Estou morrendo de vontade de ter você, Miguel.
E ela não precisou falar mais nada.
Entramos debaixo do chuveiro sob carícias e muitos beijos. Logo
nosso banho foi esquentando e nos amamos ali mesmo. Depois já estávamos
recomeçando tudo novamente na nossa cama. E eu não tive culpa se minha
mulher é muito gostosa e ainda mais com aqueles cabelos molhados e
vestindo aquela calcinha indecente, tive que acabar com o desejo que sentia
dela.
Senti-a relaxando em meu peito depois da nossa transa e a cada vez
estamos ainda melhores. É muito bom ensinar coisas novas a Cely.
Aprimorar as que já sabemos tão bem. Não sei escolher qual é o melhor
momento. A minha mulher tem muita sede em aprender tudo e como um bom
professor não nego nada a ela.
Tudo com ela era bom, até o silêncio que reinava no quarto. Dava
para escutar nitidamente as batidas do seu coração.
Escutamos até o roncar forte de seu estômago e sorrimos.
— Acho que todo esse exercício me deu fome. – Ela falou se
divertindo.
— A mim também. Vamos nos vesti e descer. Acho que já podemos.
– Beijei-a.
— Se continuar assim acho que só poderemos ir mais tarde. –
Insinuou.
— Meu Deus, eu criei um monstro!
— Uma ninfeta – falou saindo de cima do meu corpo.
— Uma ninfeta muito provocadora. Mulher não sai assim de cima de
mim senão você volta todinha para essa cama e não será o seu estômago a ser
alimentado.
Chegamos a sala e nos juntamos a todos que já estavam comendo.
— A Senhola demolou – a Liv foi a primeira a falar. – voxe foi lá na
nossa escola?
— Fui sim, meu anjinho. – Beijou a cabeça da Liv – você não precisa
se preocupar. Está tudo resolvido para aquela festa. – Piscou para ela.
— Eu não disse Liv. A mamãe iria resolver tudo.
— Resolvi tudinho mesmo, meu outro anjinho. – Beijou também a
sua cabeça – é só esperar chegar o dia.
— E sobre o que vocês três estão falando? - Perguntei. Só para ver
meus filhos se olharem preocupados.
— Não pode falar não – a Liv colocou a mão na boca.
— É pai é um segredo que vai ter na nossa escola no próximo mês,
mas você não pode saber.

— Ah! – Fiz cara de que não tinha entendido e deixá-los nesse clima
de que não sei o que acontece no mês de agosto nas escolas. – Tudo bem. Se
é da escola eu posso esperar até o próximo mês afinal de contas eu sou o pai
de vocês.
— É – a Liv confirmou. E acho que ela é a que mais está
entusiasmada com a festa. Céus, agora que caiu a ficha: ela nunca fez alguma
parecido antes.
— Eu amo vocês, meus filhos – falei com muita convicção e amor no
coração.
Comecei a comer e a Cely estava absorta em seu prato e comia com
muita vontade. Tadinha deixei-a com muita fome mesmo. Sorri observando-a
comer.
— Lucélia, estava pensando – mamãe falou – qual é o seu prato
favorito? Eu não sei qual é.
— Ah, eu gosto de muita coisa. Uma comida boa é uma comida feita
com amor. Até agora nunca comi algo que não tenha gostado.
— Mas você não tem nenhuma específica? – a Ana também tentou.
— Eu sei da sobremesa que ela mais gosta no mundo inteiro – o
Lucca falou feliz por saber algo da mãe. E ela sorriu para ele – ela gosta de
gelatina colorida. Foi o que a gente comeu naquele dia no restaurante do
papai.
— Você lembra, Lucca? – Ela perguntou feliz.
— Nunca vou esquecer aquele dia, mamãe.
— Eu também não, meu lindinho.
— Você ainda não nos respondeu, Lucélia – mamãe lembrou.
— Ah, uma comida que nunca enjoo de comer é camarão. Adoro tudo
que tenha camarão.
— Então amanhã eu vou preparar um jantar especial para você, Lu –
olhei para a Ana que falava feliz – com muito camarão. – Fiquei nervoso. Por
que a Ana falou do jantar ela vai desconfiar.
— Nossa! Então o jantar vai ser mesmo especial. – Falou
simplesmente. Acho que ela não está desconfiando de nada.
— Eita, Ana, amanhã? – Mamãe reclamou. Isso só pode ser jogada
delas.
— Sim, por que não poder ser amanhã? – A Ana rebateu.
— Amanhã tinha combinado de sair com a minha nora. Quero dar um
passeio, comprar roupas novas. As minhas estão folgadas demais e também já
as tenho há muito tempo.
— Que bom, mãe. Fico feliz com seu desejo de mudar seu guarda-
roupas – falei sincero, pois há muito tempo que ela não pensava em vaidades,
aliás, desde que papai morreu que ela não liga para a aparência.
— Obrigada, filho. Também quero mudar um pouco o corte do meu
cabelo. – Falou agora sem jeito.
— Nossa, quantas mudanças. Fico feliz que a senhora queira fazer
isso comigo – a Cely falou.
— Não pense que estou fazendo isso por você, Lucélia – sorriu -
estou me aproveitando de você. És sempre elegante pode me dá umas dicas.
— Com muito gosto, sogra. – Ela concordou. E eu fiquei sem saber
até onde isso faz parte do plano de tirar a Cely de casa ou é o desejo mesmo
de mamãe. Ela é boa mesmo em montar surpresas.
Olhei para a troca de olhares na mesa e depois um sorrisinho de
vitória das três confabulosas e a Cely ainda entretida em seu prato não
percebeu nada. Onde fui me meter? Essas três são piores do que imaginei.
Aposto que já estão com tudo pronto.
Terminamos o jantar a Cely foi colocar os meninos para dormir, pois
inventei que tinha algo do trabalho para finalizar, afinal de contas tinha saído
correndo do restaurante sem terminar meu serviço. Era uma mentira
deslavada, mas a Cely não precisa saber disso.
Fui até o campo de concentração, digo, a cozinha, e elas terminavam
de confabular.
— Então, como será amanhã? – Perguntei, pois preciso saber de todos
os detalhes para não dar nenhum furo.
— Tudo ok – a Isa correu para olhar na escada – nenhum sinal da
mariposa encantada.
— Mariposa encantada? Gargalhei muito.
— Quieto! - Mamãe exigiu – assim ela vai nos descobri. E não
podíamos dizer o nome dela. Ela é muito esperta.
— Verdade, mas dessa vez ela viajou legal nas derrapadas que vocês
disseram.
— Somo uma equipe que não se admite erros. – Ana comemorou.
— E você fez sua parte?
— Sim e não. A família já sabe do jantar e irá comparecer, menos a
irmã. Deixei isso bem claro.

— Ótimo. – Mamãe vibrou. – E o não é referente a quê?


— A joia – falei entrando no clima de codinomes – quando ia saindo
para comprar recebi o telefonema e fui ao encontro dela.
Ouvi um murchar delas.
— Você vai ter que comprar na primeira hora de amanhã, porque à
tarde vai ser muito arriscado. Se por acaso nos encontrássemos tudo irá por
água abaixo.
— Posso fazer isso. E o restante?
— Tudo sob o controle. Nós faremos as comidas enquanto ela estiver
fora com a Teresa. Algumas coisas já estão encomendadas e outras
encaminhadas na geladeira para facilitar. – Ana falou.
— A equipe de decoração vem pela tarde. – Mamãe quem diz isso.
— E os meninos são de minha responsabilidade. Eles estarão
prontinhos na hora certa- Isa completa.
— Eu vou segurar a Lucélia nas compras e no cabelo. Vou trazê-la
pronta do salão para a festa.
— Festa? – Perguntei.
— Festa de noivado. Festa é apenas outro codinome. Vocês homens
não entendem nada. – Mamãe reclamou.
Capítulo 51

O dia hoje começou com a agitação de sempre, mas tinha um clima


diferente. As outras mulheres da casa se olhavam cúmplices e volta e meia
via um sorrisinho aqui e ali fora as conversas que sempre disfarçavam.
Resolvi que não seria intrometida com elas, afinal elas ficam muito mais
tempo juntas aqui em casa e o mais provável é ter mais cumplicidade entre
elas.
Cheguei ao hospital e logo me envolvi com meus pacientes mirins,
uns já conhecidos outros que estava conhecendo agora. Como um caso de
uma menininha que havia comido raspas de vidro. Se vocês estão ficando
horrorizados imaginem eu que tenho duas crianças bem arteiras em casa.
Senti meu sangue gelar só de imaginar. Sua mãe estava desesperada, num
minuto que a menina ficou sozinha com um primo mais velho que fazia cerol
para colocar na pipa a menininha comeu um pouco do vidro. Isso é muito
sério por dois motivos: primeiro que não se deve colocar cerol nas pipas. Isso
pode causar acidentes seríssimos até a morte da vítima que pode ter seu
pescoço cortado e segundo deixar uma criança com um adolescente sem a
supervisão de um adulto.

Ver o desespero da mãe me emocionou e me prendi muito para não


chorar junto com ela.
Terminei meu serviço e sai o mais rápido possível do local
encontrando com a Dany no corredor.
— O que houve, Lu? – Perguntou-me vendo minhas lágrimas que
agora não conseguia controlar.
— É que... – o choro me dominou.
— Calma, relaxa – ela me abraçou e ficou massageando minhas
costas.
— Uma menina, uma paciente comeu vidro e o desespero da mãe
mexeu comigo.
— Ei, Lu você nunca foi de emocionar com os casos dos seus
pacientes mirins. – Puxou-me para olha-la de frente – você sempre foi forte e
divertida. Nunca te vi assim.
— Sei lá isso mexeu muito comigo. – Respirei fundo – pronto vai
passar.
— Você realmente anda muito estranha. Estressada. Agora emotiva.
Que tal sairmos hoje à tarde?
— Hoje não vai dá. Já combinei com a dona Teresa.
— Ih, é mesmo tinha me esquecido que é hoje – olhei para ela
intrigada.
— Que é hoje o quê?
— Que você vai sair com sua sogra. – Falou.
— Como você sabe? Não tinha te falado nada!
— Está vendo que ingrata é você. Não me conta mais as coisas. Daqui
a pouco vai esquecer que existo.
— Não exagera, Dany. Você é muito dramática. Como você sabe
disso?
— A minha sogra comentou comigo.

— Ah, quer dizer que vocês conversam pelas minhas costas? Mal
conheceu a Ana e já vai me trocar. Ela vai se tornar sua melhor amiga e
nunca mais vamos trocar confidências e... – Lá estava eu me emocionando de
novo.
— Ei, ei sua boba! Depois sou eu a dramática. Você está até
chorando. – Sorri.
— Eu não sei o que está acontecendo comigo, Dany. A mínima
emoção e logo estou lacrimejando.

Sai do meu turno e logo vi dona Teresa se levantando de uma cadeira


na recepção.
— A senhora já chegou? Eu iria busca-la em casa.- Falei quando me
aproximei.
— Assim iríamos perder muito tempo e temos que ser rápidas. Temos
muita coisa para fazer.
Ela estava muito estranha, mas não vou questionar nada. É a primeira
vez que ela dá o primeiro passo e não vou estragar isso.
Fomos, a pedido dela, direto numa loja especifica no shopping, a loja
onde sempre comprava que por sinal era muito elegante, daquelas que
cheiram bem. Era bem acolhedor. E com cara de cara.
— Eu adoro essa loja – falou ao chegarmos – eu quero comprar
alguns vestidos.
— Realmente essa loja tem peças bonitas. – Falei encantada com as
peças que pude visualizar e receosa de ver os preços.

— Teresa! – Um homem magro e elegante veio cumprimenta-la.


— Rodolfo! – Trocaram beijinhos no ar no lugar do rosto.
— Estava morrendo de saudades! Abandonou-me?
— Nunca! – Minha sogra estava muito simpática – esta é a minha
nora de quem eu te falei.
Como assim? Ela falou de mim para ele? Quando? Por quê?
— Tubo bem, minha querida? – Cumprimentou-me da mesma forma
– você é linda! Fique à vontade em minha loja. – Virou-se para a minha sogra
– quando me avisou que vinha fiz questão de atende-las pessoalmente.

— Como sempre muito prestativo comigo.


— Lógico! És a minha melhor cliente. Agora vamos escolher o look
de vocês?
— Não. É só para a dona Teresa. Eu estou só acompanhando. –
Esclareci.
— Lucélia, apenas Teresa, por favor. E pode escolher um vestido para
você. Por minha conta.
— Quem te viu e quem te vê, Teresa! Morri com isso! Querida –
segurou meu braço – eu não sei o que você fez com minha amiga, mas
continue, por favor! – Ele carregou mais na voz nas últimas palavras. – Aí,
que estou presenciando um milagre! Pena que aquele bonitão não joga no
meu time – falou suspirando.
— Rodolfo! – Minha sogra protestou – vai ou não nos atender como
se deve? Ou vou ter que procurar outra loja? Esse shopping tem uma
concorrência forte.
— A Teresa de sempre. Ainda bem que restou um pouco! Venham
vou mostrar alguns exclusivos.
O Rodolfo e a Teresa, eu tenho que acostumar a chama-la assim,
juntos são muito engraçados. É difícil não sorrir com as loucuras que eles
falam. E eles sempre me mostrando vestidos, macacões, conjuntos cada um
mais elegante que o outro.
— Vá querida! Prove esses modelos e nós vamos te ajudar na escolha.
– Ela não deu tempo para questionar e segui.
Comecei a provar os modelos que havia levado e estava encantada
com a qualidade dos tecidos, o corte e caimentos perfeitos.
Vesti primeiro um macacão elegante preto que abraçou minhas curvas
modelando-as e me deixando simplesmente espetacular. Tirei um selfie em
frente ao espelho estava me sentindo uma lacradora.
Sai e o Rodolfo deu um daqueles assobios.
— Des-lum-bran-te! – Ele falou me aplaudindo.
— Perfeito! Ficou muito bem em você, querida. Meu filho ficará
louco quando a ver assim.
— Ele é lindo mesmo.
— Mas esse é só o primeiro. Garota, vai lá e coloca todos! E vem aqui
desfilar para a gente.

Entrei novamente e provei todos que estavam comigo. Já que o dia era
diferente vamos aproveitar.
Não sei precisar o tempo que passei por ali, mas estava aproveitando
cada segundo. Estava provando o último vestido. Um que dona Teresa me
deu por último. Um vestido varsala midi com mangas longas de renda que se
encontravam no pescoço apenas e deixava um decotão nos seios.
Simplesmente maravilhoso. Vestiu super bem em mim. Era como se me
fizesse carinho pelo corpo. Tinha um toque suave na minha pele além de me
deixar muito poderosa.
Tirei várias fotos e resisti a vontade de enviar para o Miguel.
Observei-me mais um pouco e olhei meus seios que praticamente dobraram
de volume neste vestido. Tentei ajeita-los no decote e senti-os mais sensíveis,
aliás, há dias que venho sentindo-os assim. Desde os indícios de minha
menstruação se aproximando...
Não sei como expressar o milésimo de segundo que minha mente
viaja e busca pela última vez que menstruei.

— Não pode ser – sussurrei. Olhei-me no espelho sem acreditar


estava a quase um mês de atraso. Esses enjoos... o cansaço... meus seios... –
Eu estou grávida!?
Mal pronunciei essas palavras e meu coração se encheu de uma
certeza inabalável. Eu estou grávida. Não sei como isso aconteceu. O Miguel
sempre usou preservativo.
— Eu estou gerando uma criança no meu ventre. Fruto do meu amor
com o Miguel – e lá estavam as lágrimas novamente. Agora sim encontro
justificativa para as minhas recentes emoções.
— Lú, está pronta? O Rodolfo falou da entrada do provador. Não me
mata de curiosidade, bebê.
Respirei fundo e sai domando minha mente e meu coração.
— Uau! – Ele me pegou pela mão e me girou – perfeita! Teresa,
encontramos o vestido perfeito – ele falou e dona Teresa saiu de outro
provador também vestida com seu vestido muito elegante.
— Você tem razão, Rodolfo. Encontramos o que estávamos
procurando. Você está linda! – Ela me olhou por completo e se demorou um
pouco em meus olhos e sorriu. Não um simples sorriso. Um sorriso diferente,
um sorriso cúmplice como se me dissesse que também sabia do que acabei de
descobri. –Esse vestido foi feito para você se meu filho já não fosse
apaixonado por você, seria quando a ver assim. Rodolfo vamos ficar com
esses dois vestidos. Apontou para o dela e o meu.
Ela simplesmente saiu da loja e estávamos vestidas com os vestidos
da loja.
— Teresa, suas bolsas – uma funcionária nos entregou.

— Obrigada – falou para a moça.


— E nossas roupas? Nem acertamos o pagamento. – Falei
preocupada.
— Não se preocupe que o Rodolfo manda para casa. Não será a
primeira vez que ele faz isso.
O que poderia fazer estava atônica com o que acabei de descobri e
não iria questionar a minha sogra que demonstra muito bem o que está
fazendo. Sorte a minha que tomei banho no hospital e posso me senti à
vontade de vestir esse vestido lindo.

Fomos direto a um salão de beleza e a Teresa pediu o serviço


completo e simplesmente me deixei envolver pelas massagens nos cabelos e
os cuidados com as unhas.
Saímos de lá já era noite. O Miguel havia me ligado me
tranquilizando sobre está em casa com as crianças e quase tive coragem de
falar sobre as minhas suspeitas, mas resolvi deixar para fazer uma surpresa.

Estava me sentindo uma nova mulher. Havia uma sementinha do


nosso amor se gerando no meu ventre, estava vestida para matar, unhas bem
cuidadas e com um cabelo super hidratado e lindo que mais que gostaria de
ter?
— Vamos? Adorei a nossa tarde de madames.
— Eu também, Teresa. – Enlacei um dos seus braços e seguimos para
o estacionamento do shopping. – O Miguel vai ficar surpreso... – parei de
falar institivamente ao passar em frente a uma loja de bebês.
— Ainda temos tempo – a minha sogra falou me indicando a loja.
— Co... como a senhora sabe? – Perguntei surpresa.
— Ah, minha filha eu sei desde o princípio e vi em seus olhos quando
se deu conta. Estás com um brilho diferente no olhar que só as mães que
estão com seus bebezinhos no ventre têm. Acho que meu filho vai adorar a
surpresa. Hoje é um dia muito especial para se dá uma notícia dessas. Mas
deixe ele falar primeiro.
— Do que a senhora está falando?
— De nada. Apenas faça o que estou lhe pedindo. Agora vamos que
eu serei a primeira pessoa a ir com você comprar roupa para mais um netinho
ou netinha.

Entramos na loja e a cada peça encontrada ficava mais apaixonada


pela a ideia de ser mais uma vez um bebê nos meus braços.
Terminei comprando uma roupinha de saída de maternidade para
menina e uma para menino para que o papai vista a correta no dia do seu
nascimento já que não sei quem está aqui comigo.
Capítulo 52

Sabe aquelas cenas de filmes românticos que todas nós mulheres


sonhamos viver, embora muitas não admitam. Alguns vão chamar de vaidade
outros de estímulo ao consumismo, enfim agora não importa. Vejam a cena:
Eu saindo do carro bem vestida com um vestido lindo e salto digno
combinado com minha roupa, cabelos hidratados, bem cuidados e como que
fosse uma ajudinha do universo sou recebida com sopro de vento em meu
rosto que nem me preocupei se estaria me assanhando ou me embelezando
ainda mais. Eu sei talvez esteja sonhando demais, talvez a descoberta que ter
um serzinho em meu ventre está me fazendo estrelar o meu próprio filme de
fantasias. Quem sabe o exagero de minha sogra em me incentivar a chegar
assim "poderosa" como ela mesma falou criou espaço para minha mente
fértil. Peguei o presente de Miguel quero dar a ele assim que entrar em casa.
Mal posso controlar as batidas do meu coração. Qual será a reação dele?
Segui o caminho mal cabendo em mim de alegria. Olhei para minha
sogra e ela me incentivou a ir na frente. Estranho mais ela parece prever o
que vai acontecer. Ela tem um brilho no olhar. É quase concreto, é como se
pudesse pegar na sua felicidade, talvez satisfação. Eu devo está vendo tudo
com outros olhos. O mundo que já era perfeito agora está ainda melhor.
Abri a porta e dei de cara com um Miguel sentado no sofá e muito
bem arrumado. Nós vamos a uma festa?
— Onde é o evento? – Não resisti à brincadeira e vi o Miguel
empalidecer.

— Uau! Nossa! Você conseguiu se superar. Que linda! Maravilhosa!


– Beijou-me.
— Você está muito gato, sabia – falei envolvendo seu pescoço. E por
um momento quis apenas aproveitar aquele abraço forte, aquele clima que
estava vivendo. Se eu já não o amasse tanto me apaixonaria por ele aqui neste
momento.
— Está me seduzindo, Cely? – Beijou-me rápido.
— Não! – Defendi-me. Ainda estou me acostumando com as coisas
que ele me fala e algumas ainda me causam estranheza. – Não sei fazer isso
não.

— Acho melhor você revê seus conceitos.


— Apenas pensando que se você já não morasse no meu coração,
hoje, nesse exato, momento você seria o proprietário do meu coração.
— Eu te amo! Amo muito e você também já manda e desmanda no
meu coração juntamente com os meus dois filhos.
Filhos!
— Eu tenho algo para te mostrar. – Falei saindo de seus braços.
— Espera – ele segurou minhas mãos – primeiro eu. Eu tenho algo
para você. Vamos?

Conduziu-me pela porta dos fundos. E eu simplesmente acompanhei


minha mente hoje não está boa para formular argumentos. Dona Teresa usou-
me e abusou pela tarde e agora ele. E seu consigo pensar em como será a
reação dele ao saber que nossa família vai aumentar.
Ao chegarmos à área da piscina quase que tenho um infarto. Meu
coração acelerado e minhas pernas não correspondiam aos comandos do meu
cérebro, ou melhor, acho que no susto meu cérebro parou de funcionar.
— Bem-vinda a nossa festa de noivado – o Miguel falou me
abraçando por trás e falando ao pé do meu ouvido.
— Mi- o ar saiu todo de uma vez – guel – a última silaba saiu como
um sussurro.
Observei melhor todos ali presentes. Meus pais, o Gabe, a Dany e o
Otta, a minha sogra sorrindo cúmplice com a Ana, Isa com meus bebês muito
bem arrumados, aliás, tudo muito bem decorado. Velas, lamparinas, flores,
tecidos, tapete e tantas outras coisas. Sabe aquela cena de filme ainda estou
nela!
— Eu amo vocês. – Falei para todos.
Meus filhos vieram me abraçar. Um de cada lado como sempre
acontece. Depois meus pais. O senhor José controlando as lágrimas.
— Paizinho! – Abracei-o forte – que saudades!
— Eu também sinto muito sua falta, filha. Você está bem? Está feliz?
— Muito! Nem sei explicar o quanto estou feliz.
— Que pergunta, homem. É logico que ela está. Não está vendo a
festa para ela? – Minha mãe reclamou. Ela tem defeitos, mas ela é minha
mãe. E eu a amo.

— Mãe! - Abracei-a igualmente ao meu pai – como a senhora está?


Estava com saudades da senhora.
— A vida está a mesma de sempre. Com muita dificuldade e com os
problemas de saúde...
— Isso é lá hora de reclamar, mãe. – o Gabe se pronunciou e me
abraçou também. Ele assim como eu conhece bem a mamãe. A diferença é
que quando ele fala com aquela vozerona toda dá até medo, mas ele é
mansinho. É o meu gatinho siamês. – Parabéns, maninha!
— Obrigada!
Olhei em volta e meu pai já estava sendo o centro das atenções dos
meus filhos. Dava para ver de longe o quanto estavam se divertindo. O
Miguel com as outras três mulheres da casa. E um estalo me veio à cabeça.
Eles estavam todos de acordo nesta surpresa e pareciam está combinado
alguma outra coisa e quem sou eu para interferi.
— Amiga, você está deslumbrante – a Dany falou se aproximando
com o Otta.
— Aí, amiga obrigada! Estou tão feliz!
— Estou vendo! Em pensar que quase eu estrago a surpresa!
— Até você? E eu inocente sem desconfiar de nada.
— Você está brincando com aquele batalhão ali? – Apontou para o
grupo que está reunido com o Miguel – eu tenho até medo. Hoje eu tive uma
palhinha do que foi essa operação "fazer a Lu feliz"
— Exagerado! – Reclamei.
— Peço atenção de todos! – O Miguel tocou com um talher numa
taça.

Eu já falei do filme do ano que estou participando?


— Bom, vocês estão todos reunidos aqui para que todos conheçam a
mulher da minha vida e saibam do bem que ela tem trazido para minha vida e
na vida do meu filho, da minha mãe, enfim de todos nesta família. – O Lucca
surgiu ao seu lado.

— Você também me fez muitíssimo bem a mim e a minha filha – e


como um passe de mágica a Liv se materializou ao meu lado segurando a
minha mão.
Fomos até eles.
— Eu fiz o pedido a ela. Ela aceitou ser minha esposa, mas quero a
benção dos meus sogros também. Senhor José, me concede a mão de sua
filha Lucélia como minha legítima esposa?
— Meu pai sorriu.- Ele gosta de tradições apesar de nós termos
mudado um pouco a ordem das coisas.
— É lógico que concedo, na verdade, já está tudo concedido. Mas fico
muito orgulho de estar fazendo parte desse momento. A felicidade de minha
filha é que importa. Não vê como ela está ainda mais feliz, mais bonita do
que me lembrava. Ela é uma filha de ouro e tenho certeza que vocês dois
foram feitos um para o outro.
— Eu também – o Lucca se pronunciou – eu estava esperando por ela
– falou e veio até mim.
— É e eu tabém, vovô. Já dixe ele é meu papai plincipe – a espertinha
foi logo para o Miguel.
— Sendo assim, vocês quatro foram feitos um para o outro.
Satisfeitos?

— Sim – dissemos todos juntos.


— O jantar já está servido – a minha sogra falou. – Após um dos
garçons se afastar.
— Antes quero agradecer todos por estarem aqui. Especialmente a
essas duas que a vida me presenteou. Teresa e Ana venham aqui pertinho de
mim. Eu sei que foram as duas que planejaram e executaram todos os passos
dessa noite. E eu só tenho que agradecer por me fazerem o exame
cardiológico, porque graças a vocês descobri que não sou cardíaca. Quero
dizer que sou grata por tudo que fazem por mim e por minha filha.
— Você não tem que agradecer. Nós é que temos muito a te
agradecer, principalmente eu. Você me salvou de diversas formas e eu só
tenho que agradecer a Deus por ter colocado esse anjo em nossas vidas.
— Você trouxe cor para essa casa cinza. - Falou e sorri.
Ela sempre fala isso. E lá estava eu me emocionando de novo.
— Eu te amo! – O Miguel me beijou e as lágrimas ainda presas
desceram pelo rosto.
— Eu também te amo muito! – Falei depois do beijo e todos estavam
aplaudindo.
— Vamos logo que estou muito ansioso – o Lucca falou já saindo na
frente.
— Ansioso?
— Quer dizer com fome! – O Lucca corrigiu.
— Aqui, mamãe! – O Lucca está quase entregando a sua surpresa.
Desde que ele soube do noivado está assim e não desgrudou um
minuto sequer de mim hoje. Disse que queria fazer parte da surpresa e vocês
vão ver a parte dele da surpresa que provavelmente ela já deve ter
desconfiado de alguma coisa. Mas não o culpo eu mesmo quase não me
aguentava de expectativa.
— Está certo, meu filho. Eu tenho que sentar aqui? Mas eu queria
sentar ali do outro lado – sorri com desespero do filho.
— Não! Aqui. Só aqui.
— Está certo, mas antes quero um beijo – ele logo a beijou no rosto –
sabia que não precisa fazer nada para que eu ame ainda mais você – apertou
seu nariz.
— Então eu vou sentar aqui do lado – a Liv falou. Tadinha não sabe
de nada da surpresa.
— Não, Liv. A gente senta de frente para ela – eles arrodearam a
mesa se sentaram em nossa frente.
Ele quer ver de frente sua reação. Ele não parou de falar isso hoje.
Que como seu filho também tinha que dar um presente a mãe por ela ter
entrado em sua vida. Agora vê se posso com um menino desses? Estou
totalmente entregue aos pedidos do meu filho. O que posso fazer?
— Ainda vou ter mais surpresas, não é? – Ela me perguntou.
— Sim. Mas vamos fazer de conta que o Lucca não deixou isso claro
porque hoje ele estava um poço de ansiedade.
— Então eu posso deixar meu noivo só um pouquinho ansioso
também, porque também tenho uma surpresa para você.

— O que...
— Mas tarde.
E lá vai minha mente pervertida imaginar que tipo de surpresa ela me
fará. Aposto que vou gostar muito.
Bebo minha taça de vinho e ela sorri.

Agora entendo todas as perguntas da Ana sobre minha comida


preferida e ela caprichou. Mas estou com vontade de vomitar só de senti o
cheiro da minha comida que acho que está deixando de ser minha favorita e
se eu vomitar agora vou estragar a surpresa do Miguel.
Olhei para a Teresa e não sabia o que fazer e ela logo entendeu o meu
suplício.
— Lucca, você já terminou seu jantar?

— Todinho – levantou o prato para a avó.


— Que bom meu lindo que tal a sobremesa agora?
— Uhum! A senhora já pode pedir trazer a da minha mãe também?
— Pode sim – peguei o prato quase intocado e o garçom logo se
prontificou de pega-lo.
Graças a Deus.
Respirei aliviada.
Logo um prato de inox com tampa foi depositado na minha frente e se
o tamanho da comida for proporcional ao tamanho dele acho que vou ter que
sair correndo da mesa e assustando todo mundo.
Olhei o Lucca e lá estava ele se balançando na cadeira, uma mania
que tem quando está muito ansioso. Os olhos brilhando de expectativas. Seja
lá o que for já amo essa surpresa só pela sua carinha que amo tanto.
— Eu te amo, filho.

Levantei a tampa e lá estava uma taça com a nossa sobremesa


preferida muito bem ornamentada e duas caixas de veludo. Uma aberta com
um lindo anel de noivado e olhei para o Miguel.
— Cely, aceita se casar comigo? – Ele falou me oferecendo o anel.
— É claro que aceito! Uma, duas, três... quantas vezes você me pedir.
Ele colocou o anel no meu dedo.
Olhei para a outra caixa que era em formato comprido e me dirigi a
ela.
— Não, espera! – o Lucca saiu da sua cadeira – eu te dou mamãe. A
senhora está demorando muito.

Esperei e não segurei o riso já com lágrimas nos olhos. Observei e


todos estavam na mesma expectativa.
Ele pegou a caixa e abriu.
— Essa é a minha surpresa – e era uma pulseira linda de pingentes.
— Que linda! Obrigada pelo presente, meu super-herói.
— Aqui está o papai, eu, a Liv, o Ted – apontou para todos os
pingentes que os representavam – e ainda tem mais espaços para a senhora
preencher. Foi a moça da loja que disse.

— Linda! Obrigada. -Beijei-lhe o rosto.


— Papai coloca nela.
— Coloco com maior prazer. Você me fez gastar horas para achar um
presente de noivado para sua mãe.
— Filho, você que escolheu?

— Foi. O papai escolheu o anel e eu sozinho escolhi a pulseira. A


moça da loja disse que assim a senhora vai andar sempre com a nossa família
no braço. A senhora gostou?
— Amei! Essa será nossa aliança de compromisso com a nossa
família. Vou cuidar muito bem dela e todos nós.
Vou ter que colocar outro pingente daqui há alguns meses. Eh! Ainda
bem que tem mais espaço.
Capítulo 53

Minha noiva era a mulher mais bonita que meus olhos já viram, isso
não cansava de repetir para mim mesmo. Contudo hoje estava espetacular.
Esplêndida. Eu sabia que iria gostar de ter seus pais e irmãos numa
comemoração como essa, mas tem algo diferente, um brilho em seu olhar que
não sei decifrar. É quase palpável sua felicidade.
Na hora das despedidas vi seus olhos marejando, principalmente, ao
falar com o pai. Já percebei que sua mãe é um pouco áspera com ela, talvez
distante, por mais que Cely a trate muito cordialmente.
Meu sogro e minha mãe se empenharam muito em me arrancar uma
data para o casamento. E como eu também não quero demorar muito para tê-
la como minha esposa, oficialmente, dei um prazo de sessenta dias no
máximo e agradeci a todos.
— Vamos meu amor- chamou-me quando só havia nós dois – todos já
se recolheram.
— Vamos, minha noiva. A mais bela de todas as mulheres.
— Hum! Está todo galante.
— Sempre fui! Mas você me faz querer ser melhor a cada dia.
— Vamos meu noivo.
Conduzi-a para dentro da casa até chegarmos à sala e ela pegar o
pacote que trazia quando chegou para a surpresa. E só agora percebi que era
um presente.

— O que é esse presente?


— Surpresa! Algo que você só vai ver lá no nosso quarto.
— Hum, algo do sexy shop? Safadinha? – Ela parou de andar
abruptamente ficando vermelha.
— Não, mas se você gosta dessas coisas posso providenciar.
— Não sou fanático nisso, mas se quiser fazer algo diferente não vou
me opor.
Seguimos para o quarto apressados, um tanto por querer estar sozinho
com ela e por outro lado pela expectativa do presente.

— Pronto, chegamos posso ver meu presente? – Falei me sentando na


cama.
— Calma, está parecendo o Lucca falando. E o presente não é seu,
mas vou deixa-lo abrir. Contudo tem que entregar isso – segurou o embrulho
nas mãos – a pessoa na hora certa.
— Pode deixar. Eu posso fazer isso – meu coração batia forte, pela
expectativa. Eu estava ansioso demais.
Ela me entregou o pacote e comecei a desembrulhar.
Sabe aquela sensação de que o sangue gelou nas veias que mais
improvável que isso pareça o coração parece parar de bater?

Na caixa estava duas roupinhas de bebê. Uma de menina, a que logo


saltou em meus olhos, e uma de menino. Meus olhos marejaram com o
entendimento daquele "presente". Olhei-a com surpresa.
— Você está grávida? – Perguntei com uma certeza pungente e com
medo de que eu estivesse errado, mas ela não brincaria com isso.

Em suas mãos o celular apontado para mim a fim de registrar minha


reação e simplesmente chorei como um menino, quando ela confirmou com a
cabeça.
— Cara, não estou acreditando – levantei as duas roupinhas nas mãos
imaginando como será bom ter um bebê nosso, fruto do nosso amor – essa é a
melhor notícia que você poderia me dá – abracei-a girando-a pelo quarto.
— Oi, aqui é o papai! – Falei me abaixando em sua frente colando
meus lábios em sua pele ainda batida – estou muito feliz por você está aí
dentro da mamãe. E quando você nascer vai nos conhecer e eu vou te amar
muito assim como seus irmãos.
— Todos nós vamos amar muito.
— Nossa! Imagina quando os meninos souberem? – Queria sair agora
mesmo contando.
— Será eles sentirão ciúmes?
— Não, nós vamos cuidar para que isso não aconteça e eles vão
receber a irmãzinha deles com muito carinho.
— E como sabes que é uma menina?
— Eu simplesmente sinto. E sem falar que foi eu quem a colocou aí!
– Provoquei-a.

— Você está enganado. E se for um menino lindo assim como o


Lucca?
— Não vejo a hora de saber logo o sexo. E ver a cara de minha mãe
quando souber.
— Desculpa, mas sua mãe já sabe. Ela foi a primeira a descobrir o
que eu não tinha percebido ainda. Tem um bebê nosso aqui dentro.
— E eu sou o homem mais feliz que pode existir no mundo.
Capítulo 54

— Papai, papai, papai! –Sai colendo gritando por ele – Paaaaai! –


gitei mais uma vez quando ele me viu na escada.
Ele estava comendo o café da manhã e teve o maior susto.
— O que foi princesinha? - Veio me encontrar perto da escada.
— A mamãe – coloquei a mão no peito. Estava batendo muito forte –
a mamãe está passando mal. Acho que ela vai moler – dizer isso fez meus
olhos encher de lágrimas – eu não quelo que a mamãe vá molar no céu.
— Calma, calma! – Papai me abraçou bem forte. Era bom o abraço
dele – fiquei tranquila sua mamãe não vai morrer.
— Plomete?
— Prometo. Mas agora me conta o que aconteceu? Cadê o Lucca?
— Ele tá lá em cima com a mamãe e ela tá vomitando todo o jantar de
ontem. Eca! É nojento!
— Tudo bem minha linda. Vamos lá ver sua mãe.
Ele continuou comigo no blaço e eu sentia me temer quando eu
tentava não cholar.
— Cely, você está bem? - O papai entrou no quarto muito tlanquilo. A
mamãe estava molendo agorinha e agora está solindo?
— Oi, amor. Estou bem. Não é Lucca? Sabia que temos um
menininho muito corajoso? Ele ficou ao meu lado o tempo todo e não teve
medo.
— Eu também sou colajosa mamãe, por isso fui chamar o papai.
— Eu sei minha bonequinha. Vem cá. – fui para o colo dela – você
está tremendo. Fique calma. Como é que você diz que vai ser médica desse
jeito?
— Eu vou sim, mamãe. Vou ser médica de cliancinhas igual a você. É
que eu tive medo, mamãe. – ela me abraçou.
Meu colação ainda batia bem forte, não quero perder minha mamãe
logo agola que ela é só minha e do Luquinha.
— Eu não quelo perder a senhola.

— Você não vai me perder!


— Plomete? Plomete que vai ser só minha e do Luquinha pra semple?
– A mamãe olhou pro papai e ele se sentou com a gente na cama.
— É melhor falarmos logo – papai falou – Lucca senta aqui com o
papai. Eu e a Cely temos algo muito importante para falar.
— O que está acontecendo? – Lucca só agola começou a ficar
pleocupado. Eu vi no seu olhar. É assim que adulto fala. Eu já estou
aplendendo muita coisa de adulto. Eu sou muito esperta.
— Liv – a mamãe me chamou e olhei para ela – você está viajando
nessa sua cabecinha fértil e nem disse nada. O Miguel está perguntando se
você quer saber uma história nova?
— Sim. Eu adolo as histórias do papai.
— Bom... havia um homem muito triste porque ele era sozinho. Ele
queria ter um amor e também queria uma esposa. Ele por tempo teve uma
esposa, mas ela foi embora deixando seu filho com ele e os dois viviam
juntos. Um completava o outro. Mas o filho sentia falta da mãe. Um dia esse
homem encontrou uma mulher muito bonita e seu coração bateu muito
rápido.
— Eles ficaram juntos, papai? – peguntei e a mamãe riu.
— Ficaram minha apressadinha – mamãe respondeu – eles se amam
muito. Ela também estava triste porque havia uma menininha que estava
sofrendo. E ela não podia deixar isso acontecer. Ela lutou e enfrentou todos
os seus medos e livrou a menininha do perigo. Um dia ela conheceu o filho
daquele homem que também estava triste e se apaixonou por ele. Ele parecia
um super-herói desses do cinema.
— Esse homem também viu a menininha dessa mulher. Ela era uma
princesa e logo ele se encantou por ela. Esse homem desejou que um dia
tivesse uma filha também princesa um dia. Porém, o homem e a mulher não
se conheciam. Até que um dia os amigos deles juntaram os dois e nunca mais
conseguiram se separar.
— E agora os quatro vivem juntos, papai? – O Lucca perguntou.
— Sim! E são muito felizes com seus filhos.
— É como a gente! – Falei.
— Sim, como a gente – a mamãe estava com os olhos cehios de
láglimas.
— Esse homem e essa mulher se amam muito e amam seus filhos que
Deus resolveu abençoa-los novamente e agora o menino- ele olho para o
Lucca – e a menina – olhou para mim – vão ganhar uma irmãzinha.
— Ou um irmãozinho – agola foi a a mamãe que falou.
— A mamãe está grávida? – O Lucca perguntou – O Roger me contou
que quando a mãe dele ficou grávida tinha um bebê na barriga dela e depois
ele saiu e se transformou num bebê e depois num menino.
— É meu filho a Cely está grávida e estamos muito felizes.
— Agora vocês serão os irmãos mais velhos do bebezinho que está
aqui dentro.
— Oba! – Eu e o Lucca glitamos - deixa eu ver ele, mamãe – fui até a
barriga dela e levantei a blusa dela.
— Agora, não dá, minha bonequinha só quando ele sair daqui.

— Poxa que chato esse bebê! Vai ficar se escondendo é? Mamãe


quando ele vai resolver sair daí eu vou poder brincar com ele?
— Vai sim você e o Lucca. E eu vou precisar muito de vocês para
cuidar dele. E enquanto ele estiver aqui, às vezes, a mamãe pode ficar
enjoada ou vomitar como aconteceu antes e vocês não podem ficar
assustados, ouviu dona Livia!
— Tá bom. Tá bom. Não tô gostando desse irmão mais não. Ele se
esconde e ainda faz a minha mamãe passar mal. Eu pensei que a senhola ia
morrer.
Minha mãe e meu pai riram de mim.
Capítulo 55

— Você vai querer que seja o quê? Menina ou menino? – o Roger me


perguntou na hora do recreio quando disse que a mamãe estava grávida.
— Não pensei nisso ainda.
— É não vai fazer muita diferença. Os bebês são chatos e os adultos
não ligam mais para você quando eles chegam. Todo mundo fica só olhando
para eles e só dão presentes a eles. E sabe o que eles fazem?
— Não. O quê?
— Mamam, dormem e choram!
— Você não pode brincar com eles?
— Não. Eles nem sabem andar. O meu irmão agora que começou a
andar. É muito engraçado ele cai o tempo todo.
Fiquei triste com isso. Será que a mamãe só vai querer esse bebê? E
se ela não gostar mais de mim?
Parei de comer meu lanche e fiquei lá sentado até o Vitor vim me
encher.

— O que foi, Lucca? Já percebeu que ninguém quer ficar com você?
— Não enche.
— Escutei a Liv dizendo para as meninas que a mãe dela está grávida.
Não te disse que você ficaria sozinho. Agora ninguém mais vai te dar
atenção. Até seu pai só vai amar o seu irmão. Tomara que seja um menino
assim ele fica no seu lugar.
O Vitor é muito mal. Levantei e empurrei ele. O sinal tocou na mesma
hora e voltei para sala. Mas as coisas que ele falou não saiam da minha
cabeça.
Quando o sinal tocou novamente já era a hora de ir embora. Peguei
minha mochila e a Liv já estava na porta da minha sala.
— Vamo maninho. Tô com fome!
— Quando você não está, Liv? – Todo dia ela dizia isso.
— O que foi? Brigou com o Vitor de novo?

— Não. Será que a mamãe vai nos esquecer só porque agora tem o
bebê?
— Nada a vele. A mamãe ama a gente. Ela fala isso dileto.
Saímos da escola e o papai estava lá nos esperando. E me lembrei das
palavras do Vitor.
— Mini-mim, como foi o seu dia na escola hoje? – Ele bagunçou
meus cabelos.
— E você minha princesa? Como foi seu dia?
— Foi bom! Vamos, papai, tô com fome!
— Sim senhora. E você meu filho com fome também?
— Não.
— O que aconteceu, Lucca? Você está calado demais.
— É que o Vitor disse a ele que a mamãe não vai mais gostal dele
polque agora tem o bebê. É pol isso.

— Filho- meu pai parou no sinal vermelho e me olhou – sua mãe e eu


nunca vamos deixar de amar vocês por nada. E esse bebezinho que vai chegar
não vai muda nada do amor que sentimos por vocês.
— Verdade? E se for um menino? Não quero que seja um menino aí a
mamãe vai gostar só dele e vai me esquecer.
— É bom mesmo poque eu quero uma menina. Eu já tenho voxe e
agola vou ter uma menina pra blincar de casinha e de boneca. - Liv falou. Ela
ainda não entende de nada. É muito pequena ainda.
— Isso não vai acontecer. Eu garanto- papai falou.
Mas estava com muito medo. É melhor eu não fazer nada de errado
para eles não deixarem de gostar de mim.
Quando a mamãe chegou naquele dia logo percebeu minha tristeza.
— Cadê meu super-herói já chegou da escola – ela falava sem olhar
para mim como se estivesse me procurando.
— Estou aqui mamãe. Levantei do sofá e fiquei em pé na sua frente.
— Não. Você não é o meu Lucca. – Fiquei sem entender nada – o
Lucca é o menino alegre que conquistou meu coração e disse que estava me
esperando naquele restaurante não é o mesmo Lucca que está aqui. Eu amo
aquele Lucca não esse da minha frente. Dá licença que vou procurar o meu
verdadeiro filho.

— Eu vou ser sempre seu filho? Mesmo depois do bebê? – Eu


coração batia forte e parecia que doía no peito.
— É claro que sempre vou te amar, meu filho. – Ela me abraçou e me
beijou.
— Promete que esse bebê não será um menino e que você nunca vai
colocar ele no meu lugar?
— De onde você tirou isso?
— É porque eu não nasci de sua barriga. Você vai gostar mais dele. –
Falei querendo chorar.
— Que ideia é lógico que ele não vai ficar no seu lugar. O seu lugar é
seu e sempre será. Esse bebê – ela pegou minha mão e colocou na sua barriga
– será seu irmãozinho ou irmãzinha e cada um vai ter espaço no meu coração.
Assim como você e a Liv tem seu espaço. E o mais importante, nunca se
esqueça, que você nasceu do meu coração e o coração também fica dentro de
mim. Por isso não importa se você veio da barriga ou do coração. Eu sempre
vou te amar.
— Promete?
— Prometo. Só se você me prometer que não vai ter ciúmes do bebê e
que vai me ajudar muito porque bebês dá uma trabalhera e sem a sua ajuda
não vou dar conta. Posso contar com você?
— Pode.
— Eu te amo muito mamãe.
— Eu te amo muito, meu filho. Nunca se esqueça. Você é meu filho e
nunca vou deixar de amar.

Eu gostei de ouvir isso. Minha mãe me ama. Ama muito e eu sempre


vou ser seu filho. O filho que nasceu do seu coração.
Capítulo 56

Os dias passaram voando desde o dia do nosso noivado até o nosso


casamento que será depois de amanhã e eu nem acredito que conseguimos
organizar um casamento dentro de seis semanas. Se não tivesse a ajuda de um
batalhão de mulheres eu não teria dado conta, ainda mais com tantos enjoos e
mal-estar. Sem falar na atenção redobrada que estou dando aos meus filhos
desde o dia que o Lucca chegou a nossa casa triste com medo de não o amar
mais depois do bebê meu coração se partiu ao perceber sua insegurança então
passo ainda mais tempo os paparicando e mostrando o quanto os dois são
meus amores e que nunca vou deixar de ama-los. Minha sogra está bem
graças a Deus. Depois da notícia do novo netinho a caminho e os
preparativos do casamento ela intensificou os cuidados com a saúde e segue a
dieta a risca. Ela, a Ana e a Dany se tornaram meus braços e minhas pernas
em todas as decisões do casamento que no início seria simples para poucos
convidados, mas juntar as vontades de dona Teresa e do meu pai resultou um
salão de enorme de festas e muitos convidados. A minha mãe coube a costura
do vestido que não abriu mão de ser confeccionado por ela. Essa parte não
tem como não dizer que adorei. Isso fez meu coração bater mais forte, pois é
a primeira vez que ela me demonstra carinho sem intenções. Sem falar que é
uma forma de nos aproximar mais. Mamãe nunca escondeu que sempre
preferiu a Joyce, aliás, essa nunca mais tive notícias e é melhor assim porque
não quero meu bebê exposto a estresse.
— Você já está indo? – Dona Teresa me perguntou quando cheguei a
sala.
— Sim, vou logo agora fazer a última prova do meu vestido e depois
vou à minha consulta. Quero ver o meu bebê antes do casamento.
— Tudo bem. Vá com calma. Não gosto dessa ideia de você dirigir
sozinha até a casa de sua mãe. Ela poderia ter vindo até aqui. – Desde que
resolvi isso que a dona Teresa reclama.
— Eu entendo sua preocupação Teresa, mas não tinha como mamãe
vir até aqui. Nem papai e nem o Gabe estão em casa. E é na cidade vizinha é
uma viagem rápida não vai me acontecer nada.
— Está certo. Vá com Deus! E cuidado na estrada. Desde cedo estou
com uma angustia no coração. Quando chegar lá avise.
— Pode deixar. E a senhora tem certeza que dá conta daqueles dois
anjinhos quando chegarem da escola? A senhora vai estar sozinha com eles.
— E como muitos jogos para distrai-los até você chegar.
Despedimo-nos e sai. Peguei meu carro e segui para a casa em que
nasci e me criei. Eu consegui trocar meus dias de hoje e amanhã com duas
enfermeiras amigas do hospital assim poderia ter mais tempo para os últimos
detalhes do casamento.
Em pouco menos de uma hora cheguei a casa dos meus pais. É
estranho como não sinto mais essa casa como minha.

Estacionei o carro e entrei pelo portão de murro baixo e ele rangeu um


pouco. Esse som sempre foi como um aviso da chegada de alguém. Sorri com
a lembrança disso.
— Filha, que bom que você chegou! – Minha já estava na porta
principal e com os braços abertos.

Abracei-a. Mais uma novidade que me emocionou.


— Tudo bem, mamãe?
— Entra, senta um pouco. Você dirigiu muito até aqui. E como está
meu netinho aí dentro?
— Está tudo bem. Depois que sair daqui vou para a consulta para vê-
lo. Esses dias com a correria e ansiedade do casamento devem ter agitado ele.
— Toma – mamãe me ofereceu uma fatia de bolo de laranja e uma
xícara de café preto – eu fiz especialmente para você.
— Obrigada. – Eu amo bolo de laranja com café. – Mãe, me desculpa,
mas está tudo mesmo? A senhora está diferente. Não que eu esteja
reclamando, mas a senhora nunca foi de fazer tantas demonstrações de
carinho.
— Eu sei minha filha, mas a vida está me ensinando. Eu sempre fui
muito amarga e agora que passo muito tempo sozinha nessa casa estou
revendo algumas coisas. E já que estamos nessa conversa quero te pedir
perdão por tudo que não te demonstrei. Você é minha filha e eu sempre te
amei, mesmo não fazendo tantas demonstrações.
— Não precisa me pedir desculpas- meus olhos já estavam repletos de
lágrimas.

— Preciso sim. A você e a pobre da Lívia ignorei tantas coisas que


lhe acontecia. Eu agora enxergo tudo, minha filha.
Queria perguntar o que tinha acontecido, mas fiquei com medo da
resposta e apenas lhe agradeci e aceitei seu perdão de coração limpo de
qualquer ressentimento.
— Venha, vamos provar o seu vestido – ela falou assim que terminei
de comer – eu já fiz todas as aplicações e bordados. Acho que você vai
gostar.
Segui-a ao quarto de costura e o vi pendurado num cabide.
Simplesmente perfeito.
— Aí, mãe! – Não resisti e me emocionei.
— Do jeitinho que você sempre sonhou quando criança e me via
fazendo outros vestidos. Você lembra que a cada encomenda você dizia que
aquele seria o modelo do seu vestido.
— Depois eu cresci e disse que nunca iria me casar.
— Isso me decepcionou um pouco porque sempre quis costurar seu
vestido de casamento seu e de sua irmã. Mas agora estou realizando um
sonho. Meu e o seu.
— A senhora escondeu o modelo direitinho. Das outras vezes ele não
estava assim.
— Eu escondi até o último momento. Agora só preciso fazer uns
pequenos ajustes na cintura porque sua barriga está enorme nem parece que
tem menos de três meses. Eu diria que tem uma barriga de quase cinco meses
ou que tem dois bebês aí. – Eu ri.
— Não mamãe. Vou fazer três meses semana que vem e tem apenas
um bebê aqui – alisei minha barriga que todos diziam que estava enorme. Vai
ver que sou daquelas mulheres que fazem um barrigão enorme.
— Está certo. Só comentei porque já fiz muito vestidos de casamento
para mulheres grávidas e da última vez que provou até agora sua barriga
dobros de tamanho. Ainda bem que deixei pano para a folga.
Vesti meu vestido de princesa e me senti maravilhosa. Ele era um
vestido tomara que caia com decote coração bordado, coberto com uma
segunda pele toda bordada de pedrarias e flores brancas que iam desde os
ombros até quase no final da saia como se fosse cacho caindo aos poucos.
— Magnífico! – Falei olhando no espelho.
— É você conseguiu! – A Joyce entra no quarto batendo palmas. –
Quem diria?
— O que você faz aqui? – Mamãe perguntou visivelmente contrariada
com a presença dela aqui.
— Eu só vim pegar minhas coisas e vou embora. Mas não poderia
deixar de ver esse espetáculo de vestido pena que ele não combina com você,
principalmente, como essa barriga. Você está gorda, maninha.
— Não estou gorda. Estou grávida e sua opinião não me interessa,
aliás, nem ao menos a pedi.
— Joyce, por favor, retire-se daqui agora.
— Calma, mãezinha. Já vou. Não vou atrapalha-la com sua nova filha
favorita. Eu nem fui embora e você já me trocou. – Ela como sempre fez
drama.
— O que você quer dizer? Você vai embora? – Mamãe perguntou
preocupada – para onde você vai? Como quem?

— Isso não interessa. Vou para onde eu posso ter uma vida melhor
que essa miserável que tenho aqui.
— Joyce! – Falei severa com ela – não fale assim! Você sempre teve
tudo de acordo com as nossas condições.
— Você e sua mania de pobreza. Você não entende nada. Vai cuidar
filhos que você insiste em dizer que são seus. Em falar nisso como vai a
Lívia?
— Já chega, Joyce! – Mamãe interferiu – não entre no jogo dela
Lucélia.
— Tchau para vocês até nunca mais! – Saiu e só escutamos a porta da
frente bater.
— Desculpa filha. Não queria que vocês se encontrassem. Ela me
garantiu que não voltaria enquanto você estivesse aqui.
— Tudo bem, mamãe. A senhora não teve culpa.
Capítulo 57

Olho para o relógio a cada cinco minutos. Parece que o dia hoje não
passa. Combinei de encontrar a Cely no hospital para a consulta. Quero ter
certeza que está tudo bem com o bebê porque já programei uma viagem de
lua de mel perfeita para ela para o lugar que mais sonha conhecer: Gramados.
Farei uma surpresa. Ela só saberá no momento da viagem.
Resolvi e adiantei várias coisas aqui no restaurante outras deixei
encaminhadas para que a Rayssa desse continuidade e quanto a cozinha o
Davi sempre dava conta de tudo essa é a parte dele e o que ele ama fazer.
Hoje é oficialmente meu último dia de trabalho antes do casamento.
Olhei mais uma vez para o relógio e finalmente havia chegado a hora
da consulta. Sai do restaurante e segui direto para o hospital. A Cely foi fazer
a última prova do vestido na casa de sua mãe. Nas outras vezes fui com ela,
sob várias recomendações de que de jeito nenhum poderia ver o vestido,
dessa vez não fui porque não haveria mais ninguém na casa para me fazer
companhia e me impedir de espiar o vestido. Ora o que custa ver o quanto ela
com certeza ficará linda no vestido de noiva, mas tradição é tradição.
Cheguei antes da Cely e esperei por mais dez minutos, uma
eternidade, já estava ligando para ela quando a mesma se materializou na
minha frente.
— Sabia que era você me ligando. – Falou sorrindo e eu desliguei a
chamada.
— E por isso me deixa ainda mais ansioso? Poderia ter me atendido.
— E perder essa sua carinha? Nunca, meu amor.
Ela me deu um selinho.
— Como foi lá na casa de sua mãe?
— Foi bom. O meu vestido é simplesmente deslumbrante! – Seus
olhos brilharam e agora sim estou mais curioso em conhecer esse vestido –
mamãe está diferente. Tratou-me tão bem até me defendeu.
— Como assim te defendeu? O que aconteceu? – Fiquei realmente
preocupado se aconteceu alguma coisa. - Eu sabia que deveria ter ido com
você...

— Calma – pediu-me – foi só no finalzinho que a Joyce apareceu...


— O que ela fez dessa vez? Você não pode se estressar e se algo
acontecer com minha filha...
— Amor – ela me fez sentar novamente, nem tinha percebido que
tinha ficado em pé – não foi nada. O que ela fala não me atinge e mesmo
assim ela falou que está de partida. Vai para algum lugar que ela julga ser
melhor para ela.
— Menos mal. Que fique bem longe de você e dos meus filhos.
— Senhora, Lucélia – ela se levantou – ah, Lú toda vez esqueço que é
você. – A recepcionista sorriu.

— Tudo bem – respondeu ela.


Nós optamos por fazer o pré-natal aqui mesmo no hospital que a Cely
trabalha. Não haveria lugar melhor. Assim se qualquer emergência ocorrer
ela já está no lugar certo.
— Oi, Lu. Como você está? Os enjoos melhoraram? – A médica
perguntou.
— Mais ou menos. Ainda me sinto muito indisposta e toda manhã
vomito tudo que comi no jantar.
— Mas em compensação come sem parar o dia inteiro – completei.
— Está me recriminando, senhor Miguel? - Ela não estava brincando
assim como eu. Esses hormônios!
— Não querida. Apenas completando a informação para a doutora. -
Falei sorrindo tentando amenizar o clima.
— Você tem que tem uma alimentação balanceada, Lu. Você conhece
todo o trâmite de uma gravidez saudável.

— Eu sei, doutora, e eu me cuido bem. O Miguel que é cheio de graça


mesmo.
— Que bom vamos fazer a ultra para ver esse bebê que realmente tem
crescido muito a julgar pelo tamanho de sua barriga.
A Cely vestiu aquela roupa padrão e se deitou na maca. E eu
simplesmente tentava conter as batidas do meu coração. É muito bom ver
minha filha e escutar seu coração. Não me interpretam mal quando falo que é
uma menina é que desde que soube da gravidez que sinto que será uma
menina. Outra princesinha para fazer companhia a Liv.

Logo quando a médica passou o gel e o aparelho na minha noiva. As


duas disseram em uníssono:
— Não poder ser!
— O que não pode ser? Tem alguma coisa errada?
A médica continuou séria a conferir não sei o que lá na tela e a Cely
se desmanchava em lágrimas.

— Amor, fala alguma coisa estou ficando preocupado, por favor. – Já


estava suplicando, pois não entendia todos aqueles borrões.
— É não tem como não ser – a médica desviou os olhos para mim e
depois para a Cely e agora já estava rindo. – Esse bebê é bem espertinho. Ele
estava se escondendo - olhou para mim e sorriu - Miguel, você e a Cely vão
ter filhos gêmeos. Gêmeos bivitelinos.
— Gêmeos? – Ainda estava processando aquela informação – como
assim gêmeos? Só agora que deu para ver isso?
— Ao que tudo parece um dos gêmeos gosta de ser esconder. Ele
estava por trás do irmão ou irmã e escutem isso. Os dois corações batem no
mesmo ritmo. É como se tivesse apenas um batendo.
— Tem certeza, doutora? – a Cely estava preocupada.
— Sim. Escute. É como se fosse um eco do batimento. Já vi outro
caso acontecer. Parabéns! Vocês serão pais de gêmeos.
— Eu sou foda mesmo! – Comemorei – dois de uma vez?
Capítulo 58

Olho-me no espelho já pronta e meus olhos estão marejando de novo.


Não posso chorar. Não posso chorar – repito como um mantra.
— Você está pront... – a Teresa entrou no quarto – você está linda,
mas vai borrar toda a maquiagem assim. – Ela pegou um lenço e enxugou
minha lágrima.
— É muito difícil me conter. Parece que estou vivendo um sonho
adormecido lá na minha infância.
— Você merece. E como merece. – Ela pegou em minhas mãos –
você não faz ideia da transformação que nos fez. Eu serei e sou eternamente
grata a você pelo bem que fizeste ao meu filho e meu neto. Por ter cuidado de
mim e me integrar novamente à família.
— E você não quer que eu chore. – Brinquei.
— É não quero mesmo, mas tinha que vir aqui antes de se tornar
oficialmente esposa do meu filho. No fundo eu sabia que você apareceria um
dia por isso que institivamente coloquei para correr todas as aventureiras que
se aproximavam do meu filho. E ainda ganhei mais três netinhos de brinde.
Eu e meu velho sempre sonhamos com uma família grande e agora você e
meu filho realizam esse sonho através dos meus netinhos.
— Obrigada por tudo, Teresa sem você acho que não daria conta de
organizar um casamento em tão pouco dias.
— Não me agradeça por isso. Agora vamos que seu pai está te
esperando e meu filho já foi para a igreja há muito tempo. É deselegante a
noiva atrasar demais.
— Vamos – abracei-a e seguimos para a sala.
— Filha! – Meu pai falou admirado. – Você está belíssima. Parece
modelo de capa de revista. – Beijou minha mão. – Pronta?
— Sim.
Seguimos para igreja e quando cheguei vi a Dany organizando os dois
anjos da minha vida. Dizer que eles estavam lindos era eufemismo.
Aproximei-me deles e beijei seus rostinhos antes deles adentrarem na
igreja.
A primeira foi a Liv jogando pétalas pela igreja.
Depois o Lucca com a plaquinha: "Papai, aí vem o amor de sua vida".
Logo depois de seu percurso vi as portas da igreja se abrindo e todos
viram a minha espera. Enlacei-me no braço de meu pai e não tinha como não
me emocionar com a igreja belíssima, meu pai ao meu lado todo orgulhoso e
o Miguel a me esperar. Ainda mais lindo do que o costume. Seus olhos se
agarraram aos meus e não consegui me separar deles.
Seus lábios murmuram um "eu te amo muito" e eu não poderia ser
mais feliz.

Chegamos ao altar meu pai apertou a mão do Miguel e se posicionou


ao lado da mamãe. Ela estava linda, feliz como a muito tempo não a via.
O padre começou a cerimônia e volta e meia me perdia na presença
do Miguel. Para quem nunca tinha pensado em namorar eu estava me saindo
uma romântica de se premiar.

— Os noivos podem fazer seus votos – o padre falou.


— Cely, existem pessoas que trazem cor para nossas vidas. Você é
uma delas. A única mulher que preencheu de brilho e cor os meus dias cinza
e solitário ao lado do meu filho. Por muito tempo não quis ter uma
companheira e agora eu sei que institivamente eu te aguardava. Eu te amo,
Cely. E amo te amar todos os dias. Prometo-lhe ser fiel e sempre buscar o
caminho do seu coração e zelar pela nossa família.
Sabe aquelas lágrimas que estava segurando? Elas se foram
emaranhadas junto com a oscilação de meus hormônios de grávida de
gêmeos. Nem sei se vou conseguir falar sem me emocionar.
— Miguel – parei um instante para respirar – eu sempre achei que a
minha missão era cuidar, proteger e amar a minha menina. Estava feliz por
isso. Até a vida me colocar no seu caminho. O meu coração escutou o
chamado do meu filho – desviei os olhos para o Lucca e ele que estava atento
as minhas palavras me sorriu. – Naquele momento descobri que ainda tinha
muito que acontecer na minha vida e aconteceu você. Você me fez quebrar
todos os murros que havia construído em minha volta. E eu só tenho que
agradecer por ter você em minha vida. Prometo estar sempre ao seu lado te
amando, te respeitando e zelando pela nossa família. Eu te amo.
Naquele momento só existia nos nós dois e o amor que nos unia. Senti
seus lábios buscarem os meus e entregamo-nos a um beijo apaixonado.

— Eu vos declaro marido e mulher – ouvi o padre falar e resmungar


algo mais, porém não quis dar ouvidos.
Saímos da igreja debaixo da tradicional chuva de arroz e ao olhar para
fora da igreja vi a Andreia e o Vitor nos olhando de longe. Mas isso não me
abalou. Eu estava no dia mais feliz e emocionante da minha vida e não
estragaria por nada neste mundo.
Nossos filhos reivindicaram nossas mãos, um de cada lado. Olhamos
para eles e sorrimos. Nossa união é algo escrito por Deus. Eu, ele e nossos
quarto filhos.

Chegamos a nossa festa e seguimos todos os trâmites da cerimônia. A


festa estava perfeitamente organizada e eu sinceramente não esperava nada
menos que isso vindo daquela turma casamenteira. Eu tenho que agradecer a
elas. A Dany, Ana e a mamãe organizaram tudo sem sobrecarregar a minha
Cely. Ainda não estou acreditando que ela está grávida de gêmeos...
— Acho tão fofo esse olhar apaixonado – o Otta brincou comigo.
— Tem como não amar a mulher mais linda que existe?
— Eu discordo. A Dany é a mulher mais linda.
— Quero ver quando é que vai parar de enrola-la. Ainda tem vaga no
time dos casados.
— Quem sabe quando você não retornar da sua lua de mel não
encontre novidades?

— Isso aí! – Vibrei – vai fazer o pedido?


— Sim. Só estou esperando o momento certo. – Sorrir com a
informação e o plano que pensei.
— Ótimo. Agora, me deixa ir até a minha esposa ela precisa sentar
um pouco. Ela precisa descansar.
Aproximei-me dela enlaçando sua cintura.

— Você precisa sentar um pouco, amor.


— E comer também porque estou com muita fome. – Sorri.
Fomos até uma mesa e alimentei meus filhos e a minha esposa
faminta e contei o meu plano que sem pensar duas vezes aceitou.
Aproveitamos nossa festa, dançamos, brindamos e comemoramos
esse dia especial com as nossas famílias e amigos. Até a mamãe anunciar que
estava na hora do buquê e a Cely se dirigir até ela.
— Espero que estejas com um anel aí – falei me aproximando do
Otta.
— O quê? Estou. Penso em fazer o pedido mais tarde...
— Agora! Olha só quem vai pegar o buquê – apontei para o local e o
buquê girava no ar caindo certeiro nas mãos da Dany.
— Essa é a minha garota! – Vibrei – melhor momento que esse não
há. – Batia em suas costas e ele se direcionou a sua futura esposa.
Aproveitei para falar com o meu cunhado que não sabia disfarçar os
olhares para a Rayssa.
— Gabriel- toquei em seu ombro – preciso de sua ajuda.
— Pode falar. – Ele lutou para tirar os olhos dela.
— Passarei cinco dias fora com a Cely em lua de mel, mas gostaria
que você ficasse de olho nos meninos para mim. Eu sei que a Cely só vai
aproveitar a viagem se tiver certeza que eles ficarão bem. E eu estou receoso
de deixa-lo sozinhos com a mamãe e a Ana apenas.
— Pode deixar comigo, Miguel. Eu tomarei conta deles.
— Pode ser exagero meu, mas não confio nessa história da Joyce ter
ido embora. Tenho medo que ela aproveite nossa viagem e apronte alguma
coisa.
— Já que você falou eu também estou atento porque ela nunca foi de
desisti fácil. Achei muito estranho esse sumiço dela.
— Assim fico mais aliviado. Desde já obrigado. – Apertei sua mão e
fui em busca da minha esposa está na hora de seguimos para nossa viagem.
Capítulo 59

Depois de finalmente descobrir que o Miguel realizaria mais um


sonho meu, conhecer Gramados, e acreditem que só descobrir no portão de
embarque. Ele fez questão de seguir com a surpresa até o limite máximo. E
eu simplesmente amei ser surpreendida assim. Aproveitamos cada momento
a contar pela nossa noite de núpcias ainda no nosso estado num hotel
maravilhoso e só no dia seguinte que pegamos o voo, cada passeio, registrei
várias paisagens e momentos únicos que ficarão na nossa memória.
Deixar as crianças foi só a parte difícil dessa viagem, mesmo sabendo
que todos ficaram de olho e cuidarão bem deles, mas não serão meus olhos a
observa-los. E a saudade está machucando meu coração. Eu nunca fiquei
longe da Liv e agora também tenho o Lucca. Eles me fazem falta. Uma
lágrima esperta me escapa dos olhos. Oh, hormônios! Aliso minha barriga
que não está gigante agora. Estou deitada e logo pela manhã ela sempre é
mais baixa.
Olho para o lado e vejo meu esposo. Lindo! Inacreditável! Às vezes
pareço estar mergulhada num sonho. Nunca imaginei que estaria casada e
seria mãe de quatro crianças! E que esse homem maravilhoso iria se
apaixonar por mim dessa maneira que não faz questão alguma de esconder o
quanto significo para ele.
Aliso seus cabelos e ele se vira para mim ainda de olhos fechados. Se
ele soubesse o quanto amo isso. Por várias vezes acordo-me antes só para ver
o seu sorriso quando abre os olhos. E mais uma vez me apaixono um pouco
mais por ele.
— Bom dia, esposa – lança uma perna e um braço em mim se
aconchegando mais ao meu corpo.
— Bom dia, meu maridinho lindo! – Falei para provocar.
— Maridinho? – Ele desperta de sua manha matinal – agora sou
maridinho? Acho que preciso lembra-las de alguns atributos para nunca mais
de chamar de maridinho.
— Eu não o chamei de maridinho. Chamei de maridinho lindo. É
diferente. – Falei tentando não rir. – Esqueceu-se do lindo, meu amor?
— Não tente me enganar, dona Cely, porque agora mesmo vou de
mostrar quem é "inho" até que você me chame novamente de maridão.
E em segundos estávamos sem as poucas roupas de antes e nos
perdendo no desejo latente que nos acompanha desde que nos entregamos
pela primeira. Sabemos nos aproveitar e provar as mais deliciosas formas de
amar. Parece clichê, mas meu cérebro agora só quer outra coisa que não dá
para raciocinar.
— Esposa?
— Hum...- respondi quase me entregando ao sono novamente.
— Acho que vamos passar nosso último dia de lua de mel aqui nesse
quarto de hotel.

— Não seria má ideia- falei me aconchegando em seu peito. – Nosso


voo será de horas mesmo?
— No final da tarde, minha linda. Descansa. Seu desejo é uma ordem.
Apenas falei por garantia de não ter mais nenhum lugar que queria visitar.
— Hoje não. Só quero aproveitar dessa cama com o meu maridinho
que só gosta de ser chamado de maridão.
— Ainda não te convenci? – Ele me acariciava os cabelos e assim eu
iria dormir mais rápido ainda. Oh, sono abençoado! Por que grávida sente
tanto sono?
— Ainda não me decidi, mas acho que só poderei decidir isso depois
que acordar- bocejei – seus filhos estão me deixando com sono.
— Nossos filhos? Ou o maridão aqui? – Escutei sua voz longe. –
Dorme bem, esposa. – Isso foi a última coisa que escutei.

Agora é minha vez de velar o sono da minha admirável esposa. Como


ela é linda. Serena e naturalmente bela. A cada momento sinto que me
apaixono mais por ela. Desde quando a observo sendo uma mãe maravilhosa
com nossos filhos já crescidos ou como agora me envolve o braço numa
proteção instintiva os nossos outros filhos que nem chegamos a conhecer,
mas que já tem um lugar enorme em nossos corações, ou melhor, me
apaixono ainda mais ao perceber novamente e a cada dia seus traços
perfeitos. Eu demorei a casar, porém casei com a mulher mais bela que já
existiu.

Levanto-me e observo que a tarde já chegou e preciso alimentar a


minha mulher e meus filhos. Ela vai acordar com fome. Resolvo pedir nosso
almoço, quase jantar, ainda temos duas horas para chegarmos ao aeroporto
que é super perto daqui.
Observo e arrumo as coisas que estão fora da mala para que ela possa
dormir até o máximo de tempo. Depois de tudo organizado vou tomar meu
banho e uma sensação ruim se apodera de mim. Sorri com a sensação. O que
poderia acontecer? Estamos muito bem obrigado. Aproveitamos ao máximo
nossa lua de mel, falamos todos os dias com as crianças e elas estão bem e
cheios de saudades e querendo saber se ganharão presentes. Acreditem eles
nos fizeram uma lista por mensagem do celular da Dany que também está
ajudando com eles.
Retorno ao quarto já vestido com minha calça e descalço.
— Isso é que acordar num paraíso! – Minha linda esposa estava
acordando. – e essa visão é magnífica.
— Oi, dorminhoca! Gosta do que vê?
— Você não imagina o quanto – levantou-se vindo me envolver num
abraço que já está se tornando um abraço quase lateral. Sua barriga nunca me
deixa senti-la por completo, mas não me importo.
Abracei-a, beijei-a e beijei meus filhos na sua barriga redonda e
baixinha.
— Meus filhos estão com fome! – Falei me levantando.
— Estão mesmo! – Ela sorriu.
— Já pedi nosso almoço quase jantar e as malas já estão prontas. É só
você tomar um banho e mando subir a nossa comida.

— Obrigada, meu Deus! Eu demorei a encontrar um marido, mas


agora entendo que o Senhor estava caprichando. – Olhava para cima e depois
para mim – obrigada maridão!
— Agora sou maridão? – Brinquei.
— Você sempre é. Na cama e fora dela também. É um homão da
porra! – Beijou-me apertando minhas bochechas e aprofundei o beijo.
— Acho melhor você ir agora tomar um banho ou não respondo por
mim. – Alertei.
— Ótima ideia! Não que eu não queira voltar para seus braços na
cama, mas estou mesmo me sentindo fraca de fome.
Nossa comida chegou e assim que ela saiu já toda arrumada para
nosso retorno. A felicidade de seus olhos estava igual ou maior de que
quando pousamos nesta cidade que ela tanto queria conhecer.
— Vamos comer logo que quero muito – enfatizou bem a última
palavra – rever nossos pimpolhinhos. Estou morrendo de saudades deles.
— Nem me fala! – Pensei neles. Hoje foi o único dia que não nos
falamos, mas não vou lembrar isso para ela.
Em pensar nisso lembrei-me do meu celular que estava descarregado
em cima da cabeceira. Droga agora não dá para carregar ou vou esquecê-lo
aqui no hotel.
— Meu celular está descarregado - falei colocando na mala.
— O meu está aqui, mas combinamos de fazer surpresa da nossa volta
e não sei se quando falar com eles vou resistir a pergunta de sempre.
— Quando vocês voltam? Já estou com muita saudade! – Falamos
juntos.

— Então guarda o teu celular na mala também assim não cais em


tentação. Está tudo bem. Eles estão sendo bem cuidados disso eu tenho
certeza. – Falei mais para me convencer.
E mais uma vez senti meu coração se apertar. Essa saudade já está me
transformando num fraco. Da próxima vez eles veem conosco.

— Da próxima vez eles veem conosco! – A Cely verbalizou meu


pensamento. Como amo essa mulher. Essa sintonia sempre me surpreende.
— Eu te amo! – Falei me aproximando de seus lábios.
— Eu amo mais – respondeu roçando seus lábios nos meus.
— Nisso que tenho que discordar, querida esposa – e beijei-a com
todo meu amor. Amor que veio na hora exata com a força e a coragem que só
a gente poderia ter.
Capítulo 60

Lucélia. Lucélia. Esse nome é horrível! Por mais que se tente


pronunciar de outras formas. Ainda bem que a mãe e o pai tiveram bom gosto
na escolha do meu nome. Joyce! Isso é nome de princesa. Mulher de poder. É
como se eles me elogiassem ao escolhe-lo e eu posso tudo!
Releio o papel em minhas mãos. O comunicado oficial que a guarda
daquela fedelha é da Lucélia. Não é que a Lucélia conseguiu! Sinto a raiva
me engolfando mais uma vez. Ela sempre consegue o que ela quer. Quer um
carro? Consegue. Quer um marido? Consegue. Quer minha filha? Consegue.
Se bem que nem faço questão, mas agora com a lei do lado dela e ainda
protegidas com liminar de distanciamento. Não conseguirei mais uma vez.
—Que raiva! E agora? - Andei de um lado para o outro – como vou
arrancar todo dinheiro da minha irmãzinha?
Eu sei que ela tem caso contrário não tinha reconstruído todo o sítio
do papai. E olha que pedi pequenas coisas e ela sempre me negou alegando
que era castigo pelo o que fazia com a Lívia. Pior erro que já cometi. Por
isso, na primeira oportunidade vou tirar tudo que possa me fazer engravidar
para não passar por isso novamente. Se bem que se acontecer novamente eu
aborto. E dessa vez a santa Lucélia não vai me impedir.
Como ela sempre teve dinheiro e disposição para ajudar todo mundo
menos a mim que sou sua irmã? Na minha vida inteira ela só me deu uma
coisa: desprezo e humilhação só porque trabalhava e eu não.
Por isso estou aqui nesse bordel. Vendendo meu corpo. A única coisa
que tenho, porque até na minha casa eu não posso ir mais. A mãe agora está
do lado dela. Não me ajuda mais como antes. Eu tentei fazer chantagem
emocional com ela, mas foi a primeira vez que não caiu.
— As coisas mudaram por sua causa, maninha! - Bebi mais do copo
imundo desse lugar nojento, mas eu vou sair daqui o vou encontrar quem
queria me assumir e vou dar a volta por cima. E pagar o que devo. O Torres
não vai me perdoar. – Preciso de um plano para conseguir a grama que devo.
— E aí, bebezinha, pensando na morte da bezerra? Tu sabe que eu sou
a solução dos seus problemas. – Eduardo, o segurança daqui e um dos
homens do Torres me chama atenção.

— Oi, quem dera que fosse a morte da bezerra. Eu preciso de grana e


das boas. O seu chefe está de olho em mim.
— Nosso chefe. Quem sabe você me conta qual é parada e
resolvemos o seu probleminha?
— E você ganha o que com isso? – Fui direta porque de graça não vai
ser.
— A gente pode negociar, prazer será uma coisa que vou querer a
começar por agora depois que você me contar tudo. E depois que souber a
gravidade, vejo o restante do seu pagamento. Topa?

— E eu tenho escolha. Eu estou com muita raiva e fodida mesmo. O


que vier está valendo. Agora tem que dar certo!
E assim fizemos. Ele logo entendeu a minha bronca com minha irmã,
na verdade, disse que era inveja que sentia dela. Eu não me importo. Eu
quero a grana, me livrar do Torres e depois fugir dessa cidade para numa
mais voltar.

Por algumas vezes tentamos sequestrar, a Lívia ou Lucca, vigiamos


na escola, mas isso era missão suicida. Impossível de dar certo.
Ficamos acompanhando à espreita e nada de oportunidade. Tentamos
o casamento, seria perfeito. Todos estariam distraídos, mas o bobão do
Gabriel estou tudo e tive que fugir. E isso deixou-o mais atento e ficou de
tocaia durante a viagem do casalzinho do ano. Mas não desisti. Já perdi o
amor de minha mãe, tudo por causa da “Celinha”, a mamãe nunca me tratou
como no dia que ela estava provando o vestido. Isso foi como colocar
gasolina na minha chama de ódio. Agora que o plano está todo armado é só
esperar o momento certo. E ele vai acontecer. Disso eu tenho certeza. Eu vou
tirar todo o dinheiro do casal. Ah, se vou!
Epílogo

Após a nossa chegada tudo foi festa para nossa família. Descobrimos
que nos preocupamos à toa, pois os meninos estavam muito bem e sendo
muito paparicados pelas avós e tios. Ficar sem a nossa presença foi uma farra
só. Porém, nada se comparou com aquele abraçado apertado da nossa
chegada de surpresa no meio da noite.
O Otta e a Dany foram nos buscar, eram os únicos que sabiam, e
surpreendemos as minhas mães que assistiam à novela enquanto nossos filhos
desenham/escreviam cartas para quando chegássemos "no dia seguinte". Foi
uma surpresa dupla com muita festa e barulho que fez o Gabriel vir correndo
saber o que estava acontecendo na casa. Ele havia ficado na casa onde a Cely
morou aqui na frente e como estava atento estranhou a algazarra e também
foi surpreendido. E de repente tínhamos comida e bebidas, música. Viajar é
muito bom, mas voltar para casa é melhor ainda. Nosso lar sempre tem um
gostinho especial. Naquela noite também tomei uma decisão muito
importante e comuniquei a minha adorável esposa:
— Vamos mandar fazer uma cama king dupla amanhã mesmo!
— De onde saiu essa ideia? – Ela perguntou achando graça do meu
rompante.
—Você ainda pergunta? Olhe para nossa cama! – Apontei para nossos
filhos dormindo entre nós e como bobos admirávamos velando seus sonos. –
Imagina daqui a alguns meses como não ficará.
— Meu maridinho tem as melhores ideias. Eu te amo marido! –
Soltou um beijo pelo ar.
— Você não me provoca! – Alertei. – Não é possível que já tenha
esquecido que não sou maridinho. Ainda mais agora que nossa cama está
recheada. – Sorri para meus filhos inocentes dormindo o melhor dos sonos.
— Essa será a melhor parte do nosso casamento: a que terei o prazer
de me esquecer sempre.
— E eu terei o prazer de lembra-la sempre. Amo-te esposa!

Passada uma semana da nossa chegada e tudo está nos eixos. Já


havíamos estabelecido uma rotina agradável e que funcionava para nossa
realidade bem antes do casamento então foi só dar continuidade.
A dona Teresa está cada dia melhor. Fiquei muito satisfeita com a sua
postura e determinação. Não vacilou em nenhum momento na sua dieta e no
tratamento de sua doença. Desde o início ela é bem rigorosa e disciplinada.
Isso me ajuda e muito. Queria que todos pacientes fossem assim. Ela anda
mais corada, disposta e com uma gratidão imensurável. Parece ser outra
pessoa. Dessa forma, logo teremos um resultado definitivo e satisfatório do
seu quadro clínico.
Hoje iremos descobrir os sexos dos bebês. Estou esperando dá o meu
horário no plantão, porque o dia hoje foi muito tranquilo. Quase não houve
atendimentos, apenas os casos das crianças aqui internadas. Combinei com o
Miguel e as crianças sairmos para passear e lancharmos fora depois do
exame.
Passado algum tempo olhei novamente para o relógio e finalmente
deu o meu horário. Já estava achando que pariria meus filhos e não chegava a
hora de largar.
Corri para casa. Eu sei que seria mais fácil o Miguel vir até aqui, pois
já estou no hospital, mas hoje fiquei com água na boca em comer o almoço
que a Ana disse que iria fazer. Então vou comer primeiro e depois
voltaremos.
Cheguei a casa e o Miguel já me esperava na sala. Cumprimentei-o e
corri para a cozinha rapidamente. Meus filhos são muito exigentes quanto a
comida. Nunca vi uma grávida tão cheia de fome. Eu que lute depois que
esses bebês nascerem.
Após devorar a comida e já regressando para a sala algo me fez
congelar no portal.
— Papai, a mamãe vai demorar muito para chegar? – O Lucca
perguntava ao pai que estava paralisado.
Na certa estava com aquelas lembranças ruim de algum tempo atrás.
Ele me contou das repetidas vezes pelas quais sofria quando o Lucca
perguntava pela mãe. Uma emoção tão forte me golpeou.
Miguel paralisou e percebi o quanto aquilo lhe emocionava.
— Paaai! – Ele lhe chamava atenção
— Oi, filhão – pegou-o nos braços. Era a cena mais linda que eu
poderia ver naquele momento – eu te amo, filho. Nunca se esqueça disso. Ele
falava com tanta verdade que parecia doer na alma. O Miguel sofre muito
com o sofrimento do filho. Isso era notório.
— Eu sei, papai! – Beijou seu rosto. Aquela ligação dos dois era
perfeita – e a mamãe? Você não me falou nada ainda. Faz tempo que ela já
deveria ter chegado.
— Ah, sim! Sua mãe... – nesse momento um fungado me entregou a
espiada desse momento pai e filho.
— Mamãe! – Aquela alegria em me ver quebrava-me. Mas do que
todos os meus filhos o Lucca é o único que foi privado de uma presença tão
fundamental. A Liv eu sempre pude aparar e servir de referência materna,
mas o Lucca não.
— Oi, meu super-herói! – Beijei-lhe com todo meu amor. Eu nunca
vou deixar ele sofrer pela falta de mãe. Eu vou enche-lo ainda mais de amor,
de carinho que todos os momentos de tristeza e carência serão dissipados de
sua cabecinha. – Eu te amo filho!
— Eu também te amo, mamãe! Você demorou – falou envergonhado.
— Que nada – apertei seu nariz – já cheguei faz tempo é seus
irmãozinhos são muito famintos e fui logo almoçar.
— Oi, maninhos! – Ele alisou minha barriga com carinho.
— Mamãe! – Essa foi a Liv com sua urgência em tudo. – Que
saudade! Oi meus ilmãozinhos – ela fez concha com as mãos na minha
barriga.
— Meu Deus, que filhos dramáticos eu tenho! – Fingi surpresa.
— Já tá la hola da gente sali?
— Está! – O Miguel se levantou rapidamente – mas agora é só a
mamãe e eu que vamos ver seus irmãozinhos e na volta irmos. – Ele beijou os
dois – se comportem!
Saímos.
— Pronta para vermos nossos bebês?

— Prontíssima!

É muito difícil manter a pose de pai fortão. Essas crianças estão


acabando com o meu moral ou sou eu que estou ficando velho. Não sei se
serei exemplo de fortaleza. Volta e meia estou me emocionando e com
vontade de chorar. Logo vou perder a credibilidade dos meus filhos e farão
chacota de mim.
Chegamos ao hospital e além de controlar as lágrimas meu coração
não está obedecendo. Parece que corri uma maratona de tão acelerado. E já
não estava conseguindo ficar parado.
— Lu, pode entrar. – A recepcionista falou.
— Estou muito ansiosa. Não estou conseguindo me controlar. – Ela
falou com a colega de trabalho – vamos, amor?
— Vamos. – Minhas mãos estavam geladas e ela me olhou quando a
pegou.
— Vem eu te ajudo, eu também estou nervosa. – Falou.
— Que egoísmo meu, minha querida. Eu só tentando me controlar e
você precisando de meu apoio. Eu sou uma péssima companhia.

— Nada disso, senhor dramático. És a melhor que poderia existir.


Seguimos nos apoiando até estramos diante da minha médica que
seguia com os procedimentos e estava no automático só esperando o
momento de descobrir os sexos dos nossos bebês. A Cely acompanhava tudo
com atenção.

— Vamos lá ver como estão os bebês? – Foi a única informação que


filtrei.
— Vamos – falamos juntos.
Depois de alguns movimentos e várias medições para a assistente
anotar no exame ela nos perguntou:
— Vocês têm alguma sugestão?
— Eu não! – A Cely respondeu.
— Uma menina! Eu tenho certeza que tem uma menina aí dentro! –
Falei me animando vendo apenas aqueles borrões sem entender nada.

— Você acertou, papai! Tem uma princesinha aqui. – Vibrei.


— E esse outro bebê... é um menino. – Falou tentando confirmar – ele
está dificultando um pouquinho, mas é um príncipe... parabéns vocês terão
um casal de filhos!
— Cely... – não tive mais palavras para descrever meus sentimentos.
– Um casal!? Meus Deus!
Fui até a minha esposa e beijei-lhe sentindo o gosto salgado das
minhas lágrimas que estavam se misturando com as dela. Agora é oficial eu
sou o homem mais bobo e chorão do mundo. E não estou nem aí para isso.
Eu sou o homem mais feliz do mundo.

— Eu sou o homem mais feliz do mundo! – Verbalizei e aquele


sorriso mais lindo do planeta inteiro o sorriso da mulher que sempre foi
reservada para mim. Só para mim e nossos dois casais de filhos.
Agradecimentos
A Deus, primeiramente, sem Ele não estaria aqui tampouco poderia
compartilhar essa história com você.
A minha mãe e em memória ao meu pai que foram os primeiros a saber que
um dia escreveria um livro.
A meu marido, por acreditar em mim e estar sempre ao meu lado.
A todas pessoas que conheci através dos meus textos.
A Leillane Tavares, pelo seu incondicional apoio e direcionamentos. Sem
você este sonho demoraria e muito para acontecer.
A você, leitor, que se dispõem a ler este livro escrito num momento tão
conturbado de minha vida. Interrompido pela tristeza de perder meu pai e só
continuado um ano depois. Hoje finalizado com carinho.
Escrever um livro não é fácil. Dá vida a um sonho, é gratificante demais. Se
minha primeira história chegou até você, sabia que muitas batalhas foram
vencidas. E isso a torna mais especial para mim. Portanto, espero que ela seja
especial para você também.
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