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A cidade como direito. Resumo: O texto debate a utopia da cidade como direito, retomando a
importância do espaço, da cidade real, da hipercarência social, das lutas de movimentos populares
nacionais e internacionais. Analisa temas como utopia, heteropias, direito à cidade, direito à moradia,
geografia crítica, desigualdades socioespaciais, produção do espaço; a "cidade como direito" que
permite acesso universal a todos, se contrapõe ao neoliberalismo que quer a privatização de
equipamentos públicos e políticas de atendimento setorial.
Palavras chaves – Cidade como direito, utopia, geografia urbana, movimentos sociais urbanos.
The city as a right. Summary: The text discuss the utopia of the city as a right, retakes the
importance of the space, the real city, the superlative social lack, the struggles of national and
international popular movements. Analize subjects as utopia, heteropies, the right to the city, the right
to housing, critic geography, social-spatial inequalities, production of the space; the "city as a right"
that allows an universal access to everybody, is opposed to the neoliberalism that aims to the
privatization of public equipments and policies of sectorial attendance.
La ciudad como derecho. Resumen: El texto discute la utopía de la ciudad como derecho, retoma la
importancia del espacio, la ciudad real, la hipercarencia social, las luchas de movimientos populares
nacionales e internacionales. Analiza temas como utopía, heteropías, el derecho a la ciudad, el
derecho a habitación, geografía crítica, las desigualdades socioespaciales, la producción del espacio;
la "ciudad como derecho" que permite el acceso universal a todos, se opone al neoliberalismo que
desea el privatización de equipos públicos y las políticas de atención sectorial.
Palabras claves – Ciudad como derecho, utopía, geografía urbana, movimientos sociales urbanos.
Para analisar a utopia da “cidade como direito”, apontamos alguns pressupostos sobre utopia,
heterotopias, topias, direito à cidade, cidade/urbano, movimentos sociais, desigualdades
socioespaciais, cidade-mercadoria, com seus vários significantes, significados, conteúdos, definições,
noções, conceitos, desigualdade sociais, econômicas, sócio-espaciais. O conhecimento cientifico é
incompleto, inconcluso, o que segundo Morin (1996) é próprio da ciência. Destacamos, com
fundamental, a incompletude da importância do espaço.
[1]
A utopia, desde o século XVI, tem tido diferentes compreensões . Norberto Bobbio (1992)
considera que a maior dificuldade está no próprio conteúdo de utopia. Para Marcuse as utopias e os
ideais utópicos estão ultrapassados pois não há como alterar a pobreza, a miséria, apenas com
palavras de intelectuais e com o avanço das forças produtivas. (Marcuse, 1969). Santos (1995)
afirma que as utopias anteciparam, por séculos, os ideais e se tornaram “antiutopias”. A preocupação
aqui é com o tempo presente, com o espaço vivido.
Utilizamos a “cidade como direito” em vez de “o direito à cidade” para evidenciar a importância do
Espaço. A cidade como direito, da mesma forma que outros temas, tem vários significados e
conteúdos, o que demonstra a complexidade do processo de urbanização, da produção do espaço, da
reprodução ampliada do capital, das desigualdades sociais, econômicas e sócioespaciais.
A cidade como direto tem como base a vida real, o espaço concreto e o tempo presente. Ao contrário,
no ideário da cidade ideal, o espaço e o tempo são abstrações. Reflete o pensamento de planejadores
do Estado capitalista e do capital. Os problemas são considerados desvios do modelo, solucionáveis
com novo tipo de planejamento e uso de novas tecnologias. Os avanços da tecnologia articulam
formas e conteúdos da e na cidade, mas não “produzem” a cidade ideal, embora provoquem
transformações na cidade real.
David Harvey assinala que os discursos da utopia da cidade como direito podem estar emaranhados
com outros: “Resulta difícil desenamarañar los sucios discursos y prácticas que cada día a día
afectam la vida urbana de los grandiosos significados metafóricos que tan libremente se
entremezclan con emociones y creencias sobre la buena vida y forma urbana” (Harvey, 2003:184).
Aponta, como idéias “semelhantes”, aparecem na utopia burguesa; na expansão suburbana; na ação
de promotores imobiliários; de “renovação urbana”; de ampliação de áreas urbanas; da cidade
espetáculo e dos grandes empreendimentos; a cidade-mercadoria; os conjuntos habitacionais para
‘pobres’ em periferias distantes que afastam os pobres e sua suposta violência.
A cidade mercadoria não é trocável no “mercado como um objeto”. Não se transmite, em tese, a
“propriedade da cidade em sua totalidade”. O que se vende são fragmentos de lugares, pólos de
investimentos para capitalistas nacionais e estrangeiros com o objetivo de aumentarem lucros, rendas
e juros. Os fragmentos de lugares para eventos, atividades turísticas e de investimento, visando à
incorporação imobiliária de bairros nobres, de condomínios murados e, como totalidade, a cidade-
mercadoria vende imagem de prefeitos como “gestores” capitalistas. Nas democracias eleitorais,
simbolicamente um prefeito entrega ao novo a “chave da cidade”, mas não a “propriedade da cidade”.
A venda dos fragmentos da cidade-mercadoria pertence a “era do acesso” que facilita a concentração
do poder econômico em corporações internacionais. Riffkin mostra como se altera a dinâmica do
“mercado de trocas”, da troca de objetos concretos pelo acesso virtual, que “é regida por um conjunto
totalmente novo de pressupostos de negócios (...). A mudança de regime de propriedade amplamente
distribuída para um regime de acesso baseado em assegurar o uso limitado à curto prazo de ativos
controlados por redes de fornecedores” (Rifkin, 2001:5 - grifos nossos).
A cidade mercadoria está entre as “trocas impossíveis”, como mostra Braudillard, quando a razão
triunfante faz com que “nada proíbe o pensamento paradoxal de que é nosso pensamento que regula
o mundo, contanto que se pense em primeiro lugar que é o mundo que nos pensa. Não é o homem que
bebe o chá é o chá que me bebe; é o livro que me lê; a televisão que te assiste; é o objetivo que nos
fixa; é o efeito que nos causa; é a língua que nos fala”. (2002:21).
O Direto à Cidade, título de uma das obras de Henry Lefebvre, é referencia fundamental para pensar
o urbano e a cidade. Suas várias obras fundamentam a compreensão da produção, do consumo, da
distribuição do espaço, da desigualdade da e na cidade. É uma referência para compreender a meta-
narrativa (meta filosofia) do urbano, em suas múltiplas dimensões.
David Harvey, aborda temas que permitem compreender a reprodução ampliada do capital no urbano,
a “(re)incorporação de territórios, de lugares” para a acumulação ampliada do capital e das novas
formas de produção socioespaciais. A utopia espacial e a utopia de processo são destaques, em
especial no livro “Espaço de Esperanças” (2003), que fornece pistas fundamentais para entender o
processo de construção da utopia da “cidade como direito” e o movimento contraditório e conflitante
[4]
da sociedade .
Boaventura Souza Santos, em várias de suas obras, aponta fragilidades da teoria crítica para construir
a utopia da “cidade como direito’. Debate concepções da utopia, ortopia, heteropia, do movimento da
sociedade e do espaço-tempo (mundial, doméstico, da produção e da cidadania). Afirma que: “uma
das fraquezas da teoria crítica moderna foi não ter reconhecido que a razão crítica não pode ser a
mesma que pensa, constrói e legitima aquilo que é criticável” (Santos, Boaventura 2000:324). Para a
teoria crítica a utopia coloca no centro o que está nas margens, ou seja, a hipercarência. Assim, “a
utopia é a metáfora de uma hipercarência formulada no nível que não pode ser satisfeita”
(Idem:324).
Tal utopia não tem metas quantitativas nem previsão de tempo para se realizar: utiliza o espaço
urbano para qualificar um modo de vida. Seu fundamento é transformar a realidade do mundo vivido
com os desafios da vida cotidiana, com a possibilidade de criar “uma nova cidade possível”.
A utopia, para Sousa Santos, é a “exploração de novas possibilidades e vontades humanas, por via da
oposição da imaginação à necessidade do que existe, em nome de algo radicalmente melhor que a
humanidade tem o direito de desejar e que vale pena lutar” (Santos,1995:323).
É fundamental, repetimos, dar fim ao “silêncio da hipercarência”, ao senso comum sem conteúdo que
oculta a vida e a cidade real. A cidade como direito busca universalizar o que existe. Não é um mundo
novo - deslocado do mundo real - a ser construído, mas é a expressão da hiperercarência que precisa
desaparecer.
A utopia é duplamente relativa, diz Souza Santos: “Por um lado chama a atenção para o que não
existe como (contra)parte integrada, mas silenciada do que existe. Pertence à época pelo modo como
se aparta dela. Por outro lado, a utopia é sempre desigualmente utópica, na medida em que a
imaginação do novo é composta em parte por novas combinações e novas escalas do que existe”
(idem:323- grifos nossos).
A cidade ideal, objeto e objetivo do planejamento, “só faz sentido à medida que nada no mundo é
como deveria ser (...). A modernidade é um estado de perpétua emergência de um futuro pré-
planejado para o domínio do caos, é uma condição da produção compulsiva e viciada de projetos”
(Baumam, 2005:40/41 - grifos no original). Utilizam-se planos, projetos setoriais, planejamento do
uso do espaço, de atividades e de relações de sociabilidade. Sempre como deveria ser.
Na cidade ideal (no mundo como deveria ser), aparentemente não há conflitos, contradições e
“problemas”. As crises “urbanas” são atribuídas ao aumento de população, ao “inchaço” urbano, que
ocorrem sem a correspondente infra-estrutura, levando à ilegalidade e à aparente desordem. Para os
defensores da cidade ideal, a violência é proveniente dos pobres e do lugar onde vivem. Silencia-se
sobre a globalização econômica, as corporações multinacionais e o poder do tráfico de drogas e
armas.
Um estudioso da violência das cidades afirma que: “quem mais sofre com a violência da cidade são
os moradores de bairros mais pobres considerados como produtores da violência humana, segundo a
:
crença de que a miséria torna o homem violento são, em realidade, suas maiores vitimas”
(Pedrazzini 2006:19 – grifos nossos).
A realidade e a imaginação necessárias para construir um mundo melhor, não pode colidir com
realismo do “habitus principiorum”, ou seja, “o hábito de proclamar princípios para não ter que viver
segundo eles", como dizia São Thomaz de Aquino.
O “realismo” cria “consensos” sem conteúdo. Exemplos disso são a implantação de equipamentos
coletivos como creches, que impõe a exploração da força de trabalho. Na mesma direção, a
regularização fundiária de terras ocupadas coopta lideranças e torna predominante o valor de troca
[6]
dos terrenos e casas regularizadas .
É impossível criar um mundo ideal na cidade real, com “realismos” e senso comum. O direito à
cidade como bem coletivo, com acesso universal aos bens e serviços, constitui uma “revolta” contra a
[7]
mercadoria terra, moradia e cidade, e a privatização dos equipamentos públicos . É uma “revolta”
contra o predomínio do valor de troca, uma luta pelo valor de uso da cidade e da propriedade.
É próprio da utopia nunca se concretizar. Porém, cada conquista, por menor que seja, abre novos
[8]
campos, novas escalas de articulação de uma sociedade sempre em movimento . A utopia da cidade
como direito é construída pelos que “sobrevivem” na “ultracarência”.
“A Construtora e incorporadora paulista Tecnisa comprou por R$ 135 milhões, junto à Telefônica, um dos maiores terrenos
privados disponíveis no mercado paulista. A área tem 244 mil metros quadrados (equivalente a mais de 30 campos de
futebol como o do Estádio do Morumbi).O terreno localizado no bairro da Água Branca deve abrigar um grande conjunto
residencial no modelo de condomínios-clube. A área, que pertencia à Telesp, foi incorporada pela Telefônica na privatização
[10]
da estatal e vendida à vista. Telefônica e Tecnisa preferiram não se manifestar sobre a operação.
A agenda neoliberal em setores como habitação, saúde, educação, transportes, saneamento, meio
ambiente, entre outros, prevê a garantia de retorno do “investimento” e a securitização, tornando mais
acentuada a hipercarência.
Os movimentos sociais urbanos que têm como pressuposto a cidade como direito coletivo são
contrários ao projeto neoliberal de privatização de bens públicos e da focalização de políticas que
com suas ações direcionadas delimitam o receptor do “benefício”, introduzindo a política pelo acesso
seletivo.
A teoria crítica pode ser a consciência geográfica ao evidenciar a importância do espaço e das formas
pelas quais se a sociedade se articula. Nesse sentido, é necessária a elaboração e sistematização de
uma geografia critica radical. Temos que atentar para a importância do espaço em análises que
utilizem métodos do materialismo histórico/dialético para a construção de uma geografia crítica.
No final da década de 80, os movimentos populares brasileiros formam uma articulação nacional.
Alguns municípios iniciam um processo de participação na distribuição dos recursos orçamentários
(Orçamento Participativo), aprovam legislações para facilitar a posse da terra para moradia (apesar
da ausência de regulamentação da função social da cidade e da propriedade, que só ocorre em 2001
– Estatuto da Cidade).
Na Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (CNUMAD 92), o
Fórum paralelo de ONGs e movimentos sociais elaboraram e assinaram diversos tratados, e os
movimentos populares urbanos organizaram o “Tratado da Questão Urbana”, com alguns dos
pressupostos da cidade como direito.
O reconhecimento do direito à moradia como direito humano incluiria o fim de despejos forçados
mas que continuam a ocorrer em todos os lugares do mundo. Na Plataforma de Direitos Humanos
das Nações Unidas criam-se as “Relatorias” pelo Direito Humano à Moradia Adequada (Plataforma
DHESC), com uma rede internacional que denuncia, acompanha e procura soluções para por fim aos
[12]
despejos forçados, com o objetivo de garantir o direito à moradia . A Declaração Universal dos
Direitos do Homem e as subseqüentes convenções e declarações, definem os “direitos individuais”,
[13]
entre os quais o direito à moradia .
A utopia da cidade como direito quer o usufruto coletivo da e na cidade. O “valor”, para os seus
defensores, é o valor de uso e pressupõe o acesso universal na apropriação e usufruto da cidade.
A carta mundial pelo direito à cidade está sendo elaborada desde o primeiro Fórum Social Mundial:
O Direito à Cidade implica em enfatizar uma nova maneira de promoção, respeito, defesa, realização dos direitos civis,
políticos, econômicos, sociais, culturais e ambientais garantidos nos instrumentos regionais e internacionais de direitos
humanos (Carta Mundial pelo Direito à Cidade- 2006).
:
Os direitos individuais internacionais foram fundamentais para a consciência coletiva e propiciaram
conquistas sociais. Porém, a agenda neoliberal atrela os direitos individuais ao “mercado”, o que
significa destruição das conquistas: quanto mais “cidade” se produz, maior é o preço das
mercadorias, provocando a expansão da segregação socioespacial. Mas, a cidade como direito, tem o
pressuposto de direito coletivo, o predomínio do valor de uso da cidade.
“A luta pelo direito à cidade tem como objetivo tornar o valor de uso predominante sobre o valor de troca, construir o
direito coletivo e da importância da política. O processo de mobilização internacional dos movimentos referenciando direitos
individuais propõe a coletivização dos direitos com a Carta Mundial pelo Direito à Cidade” (Carta Mundial – 2006).
Henrique Ortiz presidente HIC (Habitat International Coalization) afirma que a Carta Mundial pelo
Direito à Cidade “é uma resposta social, um contraponto à cidade mercadoria. A luta pelo direito à
cidade é a expressão do interesse coletivo. Por sua origem e significado social, a Carta Mundial do
Direito à Cidade é, antes de tudo, um instrumento dirigido ao fortalecimento dos processos,
[15]
reivindicações e lutas urbanas” . (grifos nossos)
A luta pela cidade como direito é um germe da utopia espacial no tempo-espaço presente. É uma
construção de utopia sócio-espacial que engloba o espaço, o tempo e o processo pelo qual se
constitui. A utopia, para Harvey,
“El resultado final de esta discusión de la pureza de cualquier utopismo de proceso inevitablemente se ve trastornada por su
forma de espacialización. Exactamente de la misma forma que las materialidades de las utopías espaciales chocan con las
particularidades de proceso temporal movilizado para producirlas, también el utopismo de proceso choca con los marcos
espaciales y las particularidades de construcción de lugar necesarias para su materialização” (p.207).
A Carta Mundial é explícita ao afirmar a cidade como direito: “É um direito coletivo dos habitantes
das cidades, em especial dos grupos vulneráveis e desfavorecidos, que lhes confere legitimidade de
ação e organização, baseado em seus usos e costumes, com o objetivo de alcançar o pleno exercício
do direito à livre autodeterminação e a um padrão de vida adequada.”.
Ciudad, en varios países de Asia, significa rechazo a los asentamientos populares y procesos masivos de desalojo en nombre
de la ‘ciudad’, por lo que los sectores sociales a quienes la Carta enfoca sus prioridades rechazan el término. Así, en algunos
países la gente optaría mejor por conceptos como el derecho a la tierra o a la comunidad.
En países europeos totalmente urbanizados, el término ciudad no permite hacer distinciones. Surgen otros conceptos
alternativos como comunidad y derecho a un lugar donde vivir. El primero hace sentido en inglés para referirse a la ciudad o
a un pueblo pero no en castellano, donde se refiere a un colectivo que comparte propósitos comunes; nada más alejado de la
complejidad y diversidad cultural y de intereses que caracterizan a las ciudades. El segundo no responde a la riqueza de
contenidos y alcances del derecho a la ciudad, no expresa su carácter colectivo ni hace distinción alguna entre la ciudad y el
campo. Un tercer concepto que circula en los debates es el de hábitat de derechos humanos (human rights habitat), término
sin fuerza simbólica y movilizadora.
Esto nos lleva al centro del debate: ¿por qué limitar la Carta al ámbito urbano cuando hay países, principalmente en Asia y
África, en los que el hábitat aún predominante es el rural? ¿Por qué hacerlo cuando en muchos lugares las mayores
violaciones de derechos relativos al hábitat se dan en el campo?
Por otra parte, ¿no estaremos haciendo el juego a los grandes intereses que comandan el proceso de globalización económica
en el mundo? Hoy estos intereses promueven la ciudad como “motor de desarrollo” y abren en su propio beneficio la
competitividad entre ciudades, olvidándose de las comunidades campesinas e incluso pasando por encima de los gobiernos
nacionales.
La ciudad, más que factor de impulso para el campo ha sido el centro desde el que se orquesta su devastación. En este
sentido, limitar la Carta a la ciudad ¿no implica seguir fortaleciendo estos procesos? ¿No se estará contribuyendo además a
fragmentar y confrontar los movimientos sociales de los pobres del campo y la ciudad?
Este debate ha llevado a acercarnos a los movimientos rurales como Vía Campesina, con el objetivo de que, sin negar la
necesidad de contar con instrumentos específicos tanto para el campo como para la ciudad, se vea la forma de articularlos
dentro de una estrategia compartida. Esto, además, permitirá enriquecer y fortalecer los procesos sociales que luchan contra
la exclusión en ambos contextos.
Hay principios y líneas de acción, dirigidos a respetar la dignidad humana tanto en el campo como en la ciudad, que
garantizan esa articulación, pero hay también especificidades que exigen instrumentos adecuados a cada necesidad y
contexto.
Por otra parte, el derecho a la ciudad no se refiere a la ciudad como hoy la conocemos y padecemos sino a la otra ciudad
posible, incluyente en todos los aspectos de la vida (económicos, sociales, culturales, políticos, espaciales); sustentable y
responsable; espacio de la diversidad, la solidaridad y la convivencia; democrática, participativa, viva y creativa. Una ciudad
que no crezca a costa de su entorno, del campo o de otras ciudades”
[16]
Apesar de que ninguém vive sem ocupar espaço , que as atividades sociais, econômicas, políticas
e culturais se concretizarem espacialmente, o espaço tem sido ocultado exatamente pela sua
importância.
O espaço é o meio privilegiado para explorar estratégias alternativas emancipatórias, como diz
Lefebvre (1991).
Bibliografia citada
BOBBIO, N., MATTEUCCI, N. e PAQUIN, G. Dicionário de Política. Brasília: Editora UNB, 1992.
_________ “La Ciudad y lo urbano”, in Espacio y Politica (El Derecho a la Ciudad II). Barcelona:
Ediciones Península, 1976.
MORAES, R. Neoliberalismo: De onde vem para onde vai? São Paulo: Editora Senac, 2001.
ORTIZ, E. Hacia una Carta Mundial por el Derecho a la Ciudad –HIC – Texto de apresentação para
reunião da UNESCO. Setembro de 2006. www.undp.org/
_________________ Moradia nas Cidades Brasileiras (10. edição). São Paulo: Editora Contexto,
1988.
_________________ Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento. Nota técnica sobre
conceito de cidade (julho e outubro de 2004). Brasília: Ministério das Cidades, Governo Federal,
2004.
SADER, E. Quando novos personagens entraram em cena. São Paulo: Paz e Terra, 1988.
SANTOS, B. S. Pela Mão de Alice. O social e o político na pós-modernidade. São Paulo: Cortez
Editores, 1995.
_________ Critica à Razão Indolente: contra o desperdício da experiência. São Paulo: Editora
Cortez, 2000.
Notas:
[2] “A venda de 50,02% das ações da Usina Vale do Rosário trouxe mais fortunas para Ribeirão Preto (SP), que já vive uma
euforia com o boom do açúcar e álcool No fim de fevereiro, 72 pessoas embolsaram R$ 850 milhões com a venda de seus
papéis - cerca de 70% deles moram na cidade. ... O negócio agita a economia local. A construtora Habiarte Barc antecipou
de julho para abril o lançamento de um prédio de alto padrão na avenida João Fiusa, "point" de novos-ricos da cidade. Nas
concessionárias de luxo, aumentou a fila para comprar carros importados” Jornal o Valor –16/03/2007.
[4] - Muitos autores fundamentais não estão citados. Citamos os que são utilizados no texto.
[5] - A produção e reprodução do espaço, do urbano, da cidade, produzida pelos chamados agentes tipicamente capitalistas
e também pelos que ocupam terras para morar. Mesmo quando não consegue permanecer no lugar, produz espaço, altera a
dimensão da cidade, do urbano, do lugar (Rodrigues, Arlete Moysés 1988).
[6]- No Brasil, nas terras públicas ocupadas para moradia própria se aplica o direito real de uso, individual ou coletivo. Nas
terras privadas o usucapião urbano.
[7] Guy Debord (2006) mostra como o valor de uso é o mais importante para os que necessitam sobreviver. .
[11] - Alguns programas foram implementados na articulação de lutas entre associações técnicos de alguns setores da
Prefeitura. As explicações têm como objetivo mostrar a importância do trabalho do geógrafo e de outros profissionais que
destacam a melhoria de condição de vida como um fundamento do direito à cidade. Exemplos: Pro-Luz (com alteração de
normas de posteamento); Pró-água com instalação de registro coletivos em favelas; suspensão de processos de
deslocamento de famílias em áreas públicas, etc. Os argumentos decisivos utilizados pelos técnicos foram: vela provoca
incêndio, água dissemina doenças, deslocamentos provocam desterritorialização.
[12] Relatoria Nacional do Direito à Moradia Adequada , Grupo de Especialistas em Despejos Forçados do Programa de
Assentamentos Humanos das Nações Unidas – UN Habitat, Programa das Américas do COHRE - Centro pelo Direito à
Moradia contra Despejos – forma parte da rede internacional