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TEORIA DE/DA CRISE

PARTE 3

Profa. Maria Izabel Migueis Quintas Calheiros


izabelc@prof.fafire.br
CASO 1
 
Sr. Rui Marco Filho é gerente de uma agencia de uma organização bancária.
Começou nessa empresa aos 23 anos assim que concluiu sua graduação em
Economia, passando pelos cargos de auxiliar administrativo, caixa, gerencia
de carteira até chegar à atual posição hierárquica.
Expressa sempre muito orgulho pela sua carreira, que dentro do banco já vai
em 20 anos de exclusiva dedicação. É uma pessoa com facilidade para liderar
e sua capacidade para relacionar-se em todas as instâncias, o faz transitar
bem por toda a hierarquia da empresa.Já ganhou prêmios, homenagens e é
reconhecidamente um trabalhador padrão que nunca trouxe problemas
para a empresa.
Com seu trabalho conseguiu adquirir seu apartamento próprio, mantendo
sempre seu carro atualizado, proporcionando ao seu filho de 10 anos uma
educação que inclui um bom colégio, esportes e cursos de línguas.

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Sua esposa dedica-se à administração do orçamento familiar e da casa, onde
conta com uma funcionária. Faz curso superior de moda e pretende junto
com sua irmã montar uma confecção, assim que terminar a faculdade.
O grande problema de Rui atualmente é a extrema ansiedade em que vive,
não conseguindo dormir, alimentando-se mal, sentindo palpitações e
náuseas, além de se manter isolado da convivência com amigos e família.
Tudo começou quando o nome da empresa na qual trabalha transformou-se
em um dos muitos alvos da imprensa, atrelado à atual crise do governo
federal.
O Sr. Rui teme por seu emprego e por sua família. Dentro da empresa,
quando o assunto começa a ser abordado, prefere retirar-se e, é nesse
momento, que começa a sentir todos os sintomas descritos acima, não
conseguindo inclusive ouvir rádio nem assistir TV.
Após muito pensar, encorajou-se e decidiu que procuraria uma das
psicólogas do banco e esse dia é hoje!

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TEORIA DE/DA CRISE

Erich Lindermann
Formulação de uma teoria da crise
Geral Caplan

Erik Erikson Conceitos de “crises de desenvolvimento”

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O QUE É UMA CRISE ?

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O QUE É UMA CRISE ?

“a travessia do inferno” Tillich (teólogo Alemão)

“a passagem pelo fogo” Montaurier

“dói tanto quanto arrumar o quarto de um filho que já morreu”


(Chico Buarque)

Santos(1997)

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TEORIA DE/DA CRISE

CRISE: Um estado em que a pessoa, colocada diante de um obstáculo


para atingir uma importante meta de sua vida, vê-se repentinamente

paralisada, pois lhe é impossível transpor tal obstáculo com o uso de

métodos costumeiros para a resolução de problemas. (Caplan)

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TEORIA DE/DA CRISE
OBSTÁCULO: evento que ameaça o equilíbrio psicológico previamente existente, que pode estar relacionado a mudanças no
meio ambiente físico, na esfera biológica ou na esfera evolutiva.

(Jacobson)

Resultado Ansiedade

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TEORIA DE/DA CRISE

CRISE: Distúrbio agudo e frequentemente prolongado que pode


ocorrer como resultado de um risco emocional.
(Lemgruber)
Eventos fortuitos podem causar profundo impacto na vida das
pessoas. Tais eventos provocam elevação inicial da tensão,
aumento posterior, caso a situação persista, mobilização dos
recursos tanto usuais como das reservas.
Caso o indivíduo seja bem sucedido, retorna ao equilíbrio anterior;
caso contrário, pode ocorrer ruptura ou crise.
(Caplan)

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TEORIA DE/DA CRISE

A um período de desorganização, segue-se um período de


“transtorno” – a própria crise – durante o qual os mais diferentes
esforços mostram-se insatisfatórios para a solução do problema.

Santos (1997)

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TEORIA DE/DA CRISE

As intervenções em crise são aplicações originalmente derivadas


das psicoterapias breves, as quais se derivam da psicanálise como
técnica.
São práticas psicoterápicas que objetivam ajudar pessoas em
momentos de crise vulneráveis, potencialmente à beira de um
desenlace positivo ou de ruptura.
(Aguiar)

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CASO 2
Rui Marco Neto tem 10 anos, é filho de um gerente de Banco e sua mãe faz
faculdade de moda. Estuda numa escola muito boa desde o jardim. Nas suas
tardes freqüenta cursos de inglês, futsal e natação, sendo considerado por
todos como uma criança muito ativa, dinâmica, participativa, cumprindo suas
tarefas com pontualidade. Seu relacionamento com os coleguinhas é muito
bom, chegando a liderar um grupo que começou a montar um grêmio na
escola.
Como seus pais tem atividades que tomam o dia todo, a funcionária doméstica
Graça é que se responsabiliza em acompanhá-lo nas atividades. Graça trabalha
para a família desde que Rui Neto nasceu, mantendo com o mesmo um ótimo
relacionamento.
Um dos orgulhos de Rui Neto é falar sobre o trabalho do seu pai, contando
para os colegas que o mesmo nunca trabalhou em outro lugar e está nesse
banco desde jovem. Rui Neto diz que quando crescer quer trabalhar nesse
banco para ajudar o pai, pois o mesmo trabalha muito.
Com a atual crise no governo federal do Brasil, Rui Neto começou a ouvir
falar muito do Banco em que seu pai trabalha e procurando conversar com o
pai, o mesmo lhe disse que não havia motivos para preocupações, mas o
menino sentiu que o pai não queria conversar sobre o assunto. Durante uma
das refeições, percebeu sua mãe muito preocupada com a alimentação do
seu pai, mas quando Rui Neto indagou o que estava acontecendo, recebeu
como resposta que seu pai estava com problemas no trabalho, mas que ele
não se preocupasse.
Há alguns dias que uma das professoras de Rui Neto vem percebendo
comportamentos diferentes no menino, pois o mesmo tem se mostrado
ausente atrasado nas tarefas e o mais grave: não quer ir para o recreio.
Conversando com ele a professora descobriu que os colegas estão fazendo
brincadeiras com o trabalho do seu pai, dizendo que quem pagava o
mensalão era o pai de Rui. A professora pediu para que ele fosse conversar
com a Psicóloga da escola, mas ele se negou a tal.
Hoje, Rui Neto teve uma atitude drástica: jogou uma pedra e feriu um colega
que o agrediu com o mesmo assunto. Depois que fez isso, saiu correndo para
a sala da Psicóloga da escola, sentando-se num canto.
TEORIA DE/DA CRISE

Situação potencialmente crítica: Situação difícil, impossibilidade


de utilizar repertório básico de respostas para resolução de
problemas.

CRISE: Ruptura do equilíbrio

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TEORIA DE/DA CRISE

CRISES

CRISES NORMATIVAS - (Erickson)


CRISES ACIDENTAIS - (Caplan)
CRISES EVOLUTIVAS/NORMATIVAS - (Caplan)

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TEORIA DE/DA CRISE

CRISES NORMATIVAS - (Erickson)


Próprias do desenvolvimento, levando à solução do conflito ou à
instalação de uma crise.

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TEORIA DE/DA CRISE

CRISES ACIDENTAIS (Caplan)


Situações inesperadas.

CRISES EVOLUTIVAS/NORMATIVAS (Caplan)


Ciclo de vida

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TEORIA DE/DA CRISE

Nos momentos de crise, as pessoas podem apresentar:

o Intensa necessidade de ajuda.

o São facilmente influenciáveis e sensíveis.

o Mais propensos a mudanças.

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TEORIA DE/DA CRISE
Ao se deparar com situações problemáticas (obstáculos), o
indivíduo passa por um processo que envolve as seguintes
etapas:
o Elevação inicial da tensão pelo estímulo que coloca em ação o elenco de
respostas habituais da pessoa diante da situação de ameaça.
o Mobilização de reforços e reservas de energia que podem levar à resolução e
à volta ao estado inicial de equilibro.
o Ponto de ruptura, antecedido pelo estágio de resignação à insatisfação ou uso
de distorções perspectivas diante da persistência da situação geradora de
mudança de estado.

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TEORIA DE/DA CRISE

Sucesso no manejo da crise


 Fortalecimento para enfrentar novas crises
 Fator importante no crescimento
Fracasso no manejo da crise
 Surgimento de lacunas ou no desenvolvimento que dificultarão
o enfrentamento das tarefas de etapas futuras do ciclo vital.

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TEORIA DE/DA CRISE

MODOS DE RESOLUÇÃO
◦ Solução construtiva

◦ Solução rígida

◦ Fracasso nas tentativas de resolução

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TEORIA DE/DA CRISE

MODOS DE RESOLUÇÃO
• Solução construtiva

◦ Reorganização da situação
◦ Novas formas de relacionamento com o mundo
◦ Desenvolvimento da personalidade
◦ Fortalecimento do ego.

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TEORIA DE/DA CRISE

MODOS DE RESOLUÇÃO
Solução rígida

Busca de comportamentos já conhecidos e


utilizados em outras situações adaptativas, mas
inadequado para o momento.
Uso fixo e estereotipado, pseudo homeostase.
(CRISE ENCOBERTA)

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TEORIA DE/DA CRISE

MODOS DE RESOLUÇÃO
Fracasso nas tentativas de resolução.
Configura a crise propriamente dita.

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TEORIA DE/DA CRISE

MODOS DE RESOLUÇÃO
Fracasso nas tentativas de resolução.
Configura a crise propriamente dita.

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TEORIA DE/DA CRISE
TÉCNICA
São adotadas predominantemente:
Medidas imediatas de modificação do ambiente externo;
Remoção do fator estressante;
Afastamento de uma situação conflitiva;

No apoio em crise, busca-se, por meio de medidas de apoio, o


alívio dos sintomas e retorno ao equilíbrio anterior.
(Aguiar)

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TEORIA DE/DA CRISE
ESTIMATIVA DE DURAÇÃO DAS CRISES
◦ Crise simples: 4 a 6 semanas semanas a contar da data do obstáculo.
◦ Crise de evolução: pode atravessar todo o período correspondente à
fase em que o indivíduo se encontra.
◦ Crise mista: se não for abordada de imediato após sua detecção, tem
grande chance de cronificar, com o estabelecimento de um quadro
neurótico estruturado.
“ ... Um estado contínuo de crise seria provavelmente
incompatível com a vida”
(Jacobson)
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TEORIA DE/DA CRISE

CONDUTA TERAPEUTICA
Terapeuta é ativo.
Estilo mais conversacional e apoiador.
Utilização de intervenções como: catarse, orientação,
informação, confrontação.
Pode-se recomendar o afastamento de uma situação,
relacionamento ou atividade demasiadamente estressora, que o
paciente não toleraria sem um desequilíbrio maior.

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TEORIA DE/DA CRISE

CONDUTA TERAPEUTICA

O suporte familiar é muito importante em pacientes em


crises de mania, depressão, psicose ideação suicida.

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TEORIA DE/DA CRISE

CONDUTA TERAPEUTICA

O apoio imediato da família, dos amigos e a existência, na


comunidade, de instituições de apoio, de fácil acesso, pode
ter uma importância determinante na ultrapassagem exitosa
de tais momentos.

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TEORIA DE/DA CRISE

CONDUTA TERAPEUTICA

São práticas psicoterápicas que objetivam ajudar pessoas


em momentos de crise, vulneráveis, potencialmente à
beira de um desenlace positivo ou de ruptura.

Exigem rapidez, flexibilidade, empatia e tolerancia para


situações de riscos por parte do terapeuta.
(Aguiar)

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CASO 3
Regina Marco é casada com um gerente de banco e tem um filho de 10 anos. Regina
cuida de sua casa e é auxiliada por uma funcionária doméstica que trabalha com a
família desde que Rui Neto nasceu.
Como não tinha um curso superior, há 2 anos Regina fez cursinho e passou no
vestibular de uma faculdade particular, onde realiza um sonho que é cursar Moda.
Acha que a entrada para a faculdade descortinou-lhe um novo mundo, pois conheceu
pessoas, passou a investir mais em si e agora pensa em concluir sua graduação e
montar uma confecção com sua irmã.
O casamento de Regina é estável e não possuem grandes problemas afetivos e
financeiros. Mesmo a renda vindo só do trabalho de seu marido, tem dado para viver
confortavelmente, conseguindo proporcionar ao filho uma boa educação. Em um
determinado momento de sua vida Regina estava insatisfeita por não produzir e em
conversas com a sua irmã, a mesma que faz psicoterapia indicou-lhe uma
psicoterapeuta, no que ela não concordou, pois apesar de ter vontade, sempre achou
que a psicoterapia poderia ficar para uma época mais folgada de sua vida, talvez
quando terminasse sua faculdade.
Ultimamente alguns problemas vem afligindo Regina, primeiro foi convidada pela escola
para uma conversa, pois seu filho agrediu um colega com uma pedra. Ao perguntar sobre
o ocorrido, seu filho disse que um coleguinha teria dito que o pai dele era quem pagava o
“mensalão”, pois trabalhava num dos bancos envolvidos nesse escândalo. Isso se juntou
ao fato de que o marido tem estado muito estranho, não comendo, não dormindo,
sentindo-se mal e não querendo dialogar.

Regina começou então a entender o que estava acontecendo em sua família, onde todos
de alguma forma estavam se sentindo ameaçados: o marido em perder o emprego, o filho
com as agressões advindas também do emprego do pai e ela começou a perceber que
tudo isso também resultaria em problemas domésticos, tais como ficar sem sua
funcionária, parar sua faculdade e procurar um emprego.

Tudo isso se passou na cabeça de Regina ao voltar da escola do filho e nesse caminho,
ligou para a irmã pedindo o endereço de uma psicóloga.

Regina conseguiu um horário para hoje e nesse momento está chegando ao consultório
da psicóloga.
Passos para intervir pontualmente (segundo Safra)

1. Objetificação do problema: precisamos emprestar nossa


capacidade de observar com nossos olhos a pessoa e seu
problema.
2. Início do movimento psíquico: ao se sentir compreendida, a
pessoa passa a falar sobre o problema.
3. Continuação do movimento psíquico: agora com o auxílio
do psicólogo que pontua questões e faz a pessoa refletir
sobre o problema.

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Passos para intervir pontualmente (segundo Safra)

4. Sintetização: ato intencional e que consiste em sintetizar, o


que é muito importante. A síntese devolve os aspectos e
possíveis resoluções presentes no discurso e que a pessoa
não havia percebido. Depois da síntese a pessoa já se sente
melhor, de posse de si mesma.
5. Abrir o sentido: Um atendimento só finda mediante a
perspectiva de uma projeção para o futuro. Fornecer
condições para um projeto futuro (encaminhamento).

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CASO 4
Graça Silva é empregada doméstica, trabalhando para uma família há cerca de
10 anos. Em seu emprego Graça cuida de tudo da família, porém sua tarefa mais
importante é cuidar do filho da casa, Rui Neto, que tem 10 anos e com quem
Graça mantem um ótimo relacionamento, pois o viu crescer.
Os seus empregadores são o Sr. Rui Marco e a Sra. Regina Marco. Rui é gerente
de banco e Regina faz faculdade de Moda (não trabalha).
Graça é casada e seu marido no momento encontra-se desempregado, pois a
empresa que trabalhava como vigilante faliu e fechou, inclusive o Sr. Rui está
tentando uma colocação para ele no banco onde trabalha. Ambos tem 3 filhos
( 14, 12 e 5 anos) que frequentam a escola pública do bairro.
Graça mora numa favela e faz parte do conselho de moradores, pois considera
que todos devem colaborar com a comunidade para alcançarem melhores
condições de vida. Já conseguiram inclusive instalar um posto de atendimento
médico onde tem até psicóloga para atender pessoas com problemas nos
nervos, segundo a própria Graça.

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Nestes dias Graça anda muito preocupada, pois notou D. Regina chorando
pelos cantos da casa e o Sr. Rui não come e não fala nada, apenas entra e sai
de casa, nem tocando mais no assunto do emprego de seu marido.
A única pessoa com quem Graça tem conversado é com Rui Neto que he
contou que jogou uma pedra num coleguinha da escola, pois o mesmo disse
que seu pai era quem pagava o mensalão, só porque o seu pai trabalha num
banco que está envolvido no escândalo que assola o Brasil.
Graça conversou com o marido para saber mais dessa história de mensalão e
deduziu que se o seu patrão fosse demitido, consequentemente ela seria
também e aí pensou na sua situação e da sua família, achando inclusive que
sua pressão tinha se alterado por conta disso, pois chegou a passar mal.
Por esse motivo dirigiu-se ao posto e a médica disse que sua pressão estava
normal, mas que ela deveria procurar a psicóloga.
Agora ela está sentada à frente da mesma.

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As Intervenções pontuais apesar de se assemelharem a um
trabalho de aconselhamento, podem ter um alcance mais
eficaz em termos de reflexão, amadurecimento e crescimento.

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