Você está na página 1de 52

Marcas Corporais

na adolescência
Grupo:
ANNA CÉLIA VIEIRA CARVALHO
FILIPE RAPHAEL E SILVA DE ARAÚJO
KARINE DE KÁSSIA DANTAS XAVIER
LUCAS COUTINHO DAMASCENO LEAL
MATHEUS ANTÔNIO NIGRO DE ANDRADE LIMA
ROSEANE CRUZ FREIRE RODRIGUES

Grupo
Um Pouco de História...
Piercings, escarificações, tatuagens, pinturas,
anéis e mutilações fazem aparição em todos
os tempos, tendo diferentes funções conforme
a cultura.

Um Pouco de História...
Um Pouco de História...
nas sociedades primitivas a manipulação do
corpo trazia o reconhecimento social e
religioso, às vezes funcionando como
amuletos e proteção.
Em algumas culturas sem esses elementos a
nudez os deixariam vulneráveis.

Um Pouco de História...
Na África o corpo precisa ser marcado para
existir, os anéis, as pinturas e as
escarificações cobrem o corpo do indivíduo,
dando-lhe uma identidade.
O piercing nas tribos africanas é associado ao
primitivismo tribal.

Um Pouco de História...
No Taiti o tatuador era considerado um
sacerdote, sendo a tatuagem uma prática
divina.
Na Nova Zelândia a tatuagem continha
“poderes sagrados”.

Um Pouco de História...
No Império Romano, os legionários levavam em
seus corpos o nome do general que os comandava e
também a tatuagem servia para marcar os
transgressores das leis da cidade.
Na Grécia clássica, os escravos eram tatuados com o
nome de seu senhor.

Um Pouco de História...
Na Idade Média, por conta do Cristianismo, as marcações
corporais passaram a ser vistas como mutilação do corpo,
caracterizando aqueles que estavam à margem da
sociedade, associando-se as designações de herege,
judeus, prostitutas, carrascos, leprosos, e se diferenciando
da imagem de Deus.

Um Pouco de História...
A partir do século XIX, na época das grandes navegações, o
corpo marcado volta ao cenário por intermédio principalmente
dos marinheiros, mas também dos circenses, prostitutas,
prisioneiros, homossexuais que passaram a se tatuar por
iniciativa própria, buscando, principalmente, um traço que os
diferenciasse.

Um Pouco de História...
A partir dos anos 1950, fenômenos culturais conferem
nova visibilidade ao corpo.
No movimento Hippie, as marcas foram um detalhe de
uma ampla proposta ligada à revolução sexual e à
experimentação lúdica do corpo manifesto.

Um Pouco de História...
Os Skinheads distinguiram-se por exibir um corpo avesso a qualquer forma de
sedução, marcado por desenhos agressivos, em uma reinvindicação com cunho
nacionalista.

Um Pouco de História...
A tatuagem chega ao Brasil em 1959, através do
dinamarquês conhecido como Mr. Lucky.
Apesar do preconceito que a tatuagem apresentava,
as tatuagens de Lucky despertaram a curiosidade de
muita gente, principalmente dos adolescentes e
jovens, por conta do seu corpo coberto de figuras.
O uso começa a se disseminar entre os jovens.

Um Pouco de História...
Os Punks aparecem na cena social, no início dos
anos 1970, como uma reação à sociedade londrina e
britânica.
Ostentando ódio e afirmando seu desdém e
contestação à sociedade e suas convenções.
O seu ódio social, ao outro, transforma-se em ódio
ao corpo se identificando com cabelos raspados,
tatuagens, piercings, escarificações e botas.

Um Pouco de História...
Marcas Corporais na
Contemporaneidade
Na atualidade, o corpo é o parâmetro existencial
básico no qual os sujeitos organizam seus mundos
sociais. O corpo torna-se o lugar da moral, liberdade
pessoal. A aparência do corpo tornou-se central às
noções de auto identidade. Incluído nesse discurso
social, marca-lo e altera-lo tem sido paixões na
contemporaneidade. O corpo contemporâneo se
apresenta como um corpo que se modela, que se
gerencia, que se muda, como algo que se domina.

Marcas Corporais na Contemporaneidade


Marcas corporais na
contemporaneidade
Nos dias de hoje as marcas corporais, antes incorporadas nas culturas
ocidentais por um uso marginal, se multiplicam e funcionam como uma
diferenciação, como a construção de uma identidade, identidade essa buscada
principalmente pelos adolescentes, sempre à procura de um visual diferente,
mais “descolado”, mais moderno, buscando uma maneira de imprimir, por
meio das marcas corpóreas, sua singularidade, seu espaço no cenário
contemporâneo.

Marcas Corporais na Contemporaneidade


Marcas corporais na
contemporaneidade
Segundo Pereira (2007), cada ator do mundo contemporâneo é
levado a produção de sua própria identidade, que muitas vezes
está pautada no corpo e na estética, sendo por meio dela que o
indivíduo vai se distinguir dos outros e se reconhecer como
sujeito.

Marcas Corporais na Contemporaneidade


Marcas Corporais na
Adolescência
Segundo Birman (2005), para entendermos a
adolescência no mundo atual, não basta mais
considerarmos apenas a dimensão biológica em que o
sujeito está inserido; há de se considerar as alterações
ocorridas nos campos sociais e culturais que implicam
essa mudança.

Marcas Corporais na Adolescência


Marcas corporais na
Adolescência
• adolescência é uma etapa de crise de identidade, e de onde são
esperadas e desejáveis as tentativas de autoafirmação;

• O trabalho psíquico próprio da adolescência encontra no corpo


um cenário privilegiado de expressão;

Marcas Corporais na Adolescência


Marcas corporais na
Adolescência
• As marcas corporais são um meio pelo qual é possível
expressar faltas e excessos, comportando, assim, uma
linguagem particular desse momento. Essas marcas preservam
identidades individuais, sociais e carregam uma história
singular, revelando a subjetividade;

Marcas Corporais na Adolescência


Marcas corporais na
Adolescência
• Maia (2003), destaca que as práticas corporais, como a
colocação de piercings, tatuagens e escarificações, trazem às
pessoas que as praticam sentimentos de autoproteção, de
apropriação de uma identidade, de reapropriação do próprio
corpo, de autoconfiança, de um corpo que antes parecia não
existir;

Marcas Corporais na Adolescência


Marcas corporais na
Adolescência
• Costa (2003), nos fala que as marcas corporais possuem dupla
função: tanto coletivizar, como singularizar. Sendo a
singularidade dizendo a respeito de um traço que pode capturar
o olhar do outro. E o que o torna coletivo é o lugar que esse
olhar pode conferir como identidade;

Marcas Corporais na Adolescência


Marcas corporais na
Adolescência
• O excesso presente nas marcas corporais, evidencia a
importância de um olhar atento aos seus usos no que diz
respeito à singularidade e a forma de expressão que cada marca
tem para cada adolescente, cenário onde principalmente nota-se
o viés objetivo de chamar a atenção do outro, o querer ser visto;

Marcas Corporais na Adolescência


Tatuagens e Piercings
De acordo com Reisfeld (2004 apud
MACEDO; GOBBI E WASCHBURGER
(2009, pág. 97) “A origem da palavra
tatuagem vem de uma língua antiga do Taiti,
onde essa prática foi denominada como tatan,
que significa ato de desenhar.”

Tatuagens e Piercings
Tatuagens e Piercings
A palavra piercing vem da língua inglesa e é derivada do
verbo pierce, que significa “perfurar” (Kernerman, 1997,
p. 389).

Tatuagens e Piercings
Tatuagens e Piercings
• a construção da imagem do adolescente ocorre através de 3 instâncias: a real
que perpassa pelas modificações corpóreas que inevitavelmente irá ocorrer; a
imaginária, sustentada pela imagem do outro e a via discursiva, por uma ordem
simbólica;

• Essa desorganização Macedo; Gobbi e Waschburger (2009, pág. 92) irão chamar
de desacomodação. “A desacomodação necessária e intrínseca à vivencia da
adolescência possibilita, ao aliar-se à capacidade de reorganização, situar o já
vivido em espaços que não impeçam e, ao contrario, estimulem, a busca pelo
novo.” ;

Tatuagens e Piercings
Tatuagens e Piercings
Fisher (2002), ao discutir a prática da tatuagem, identifica quatro funções
primárias:

• ritualística: remete a práticas tribais de marcar o corpo para assinalar


uma mudança de status, como a passagem da infância para a vida
adulta;

• identificatória: estabelece no corpo símbolos de pertencimento a uma


tribo, a um grupo ou ainda a um(a) parceiro(a) amoroso;

Tatuagens e Piercings
Tatuagens e Piercings

• Protetora: uma vez que as tatuagens podem funcionar


como um símbolo ou amuleto protetor;

• meramente decorativa.

Tatuagens e Piercings
Tatuagens e Piercings
Segundo uma pesquisa realizada pela revista
Superinteressante (1o CENSO, 2014), a maioria
das pessoas que tem tatuagens no Brasil São
jovens com ensino superior e renda financeira
considerada alta.” (MACEDO E ALMEIDA,
2019, pág. 135).

Tatuagens e Piercings
Tatuagens e Piercings

Tatuagens e Piercings
Tatuagens e Piercings
É na pele que a tatuagem tem significação, é nela que ocorre a
inscrição simbólica, identitária e é o canal de comunicação
entre a realidade interior e a realidade exterior do sujeito. Esta
mesma pele que envolve tanto os órgãos vitais mais também o
psiquismo do sujeito e por meio dela, se inscreve e descreve a
sua história.

Tatuagens e Piercings
Tatuagens e Piercings
Embora a tatuagem não diga respeito a um mau
funcionamento psíquico, constitui-se em elo estabelecedor da
relação do sujeito com o ambiente, com o outro e com a
realidade. Ela confere aos adolescentes sentimentos de
representação, amparo e pertença, perdidos talvez na travessia
para o mundo adulto. (SILVA e MELLO, 2019, pág. 8).

Tatuagens e Piercings
Tatuagens e Piercings
As tatuagens feitas em serie podem apontar para o esvaziamento da
representação psíquica e do processo de elaboração que se impõem na
passagem adolescente. A busca por tatuagens na adolescência pode
ser a primeira de muitas outras que virado, podendo vir a ser uma
compulsão por tatuagens, em que “a primeira tatuagem parece ter se
convertido em um disparador de conflitos psíquicos mais severos”
(Reisfeld, 2004, p. 117).

Tatuagens e Piercings
Tatuagens e Piercings
Os adolescentes que tem uma ou algumas tatuagens podem ser vistos dentro de uma esfera
neurótica, pois, geralmente, refletem temáticas edípicas e seus lutos concomitantes. Dessa
forma, a eleição por um desenho tem um significado simbólico e inconsciente, sendo a
escolha sobre determinada por fatores que os próprios adolescentes desconhecem. Além
disso, nesse grupo de jovens, percebe-se a presença de um critério de realidade, em que o
local da pele a ser tatuado não o limitará em seu futuro meio de trabalho. Comumente,
estão conscientes de que podem sofrer preconceitos e, por isso, ao tatuarem- se, procuram
um local do corpo que possa ser escondido por roupas. (REISFELD (2004) apud
MACEDO; GOBBI E WASCHBURGER, 2009, pág. 100).

Tatuagens e Piercings
Tatuagens e Piercings
Dentro da esfera de identificação, destacamos a via simbólica, que nos remete a dialogar
com Lacan:
“É também um período de reedição do estádio do espelho, descrito por Lacan (1949/1998) como um
momento psíquico e ontológico da evolução humana, situado entre os seis e os 18 meses de vida,
durante o qual a criança antecipa o domínio de sua unidade corporal por meio de uma identificação
com a imagem do semelhante e da percepção de sua própria imagem refletida no espelho,
discursivizada pela figura materna. Essa operação imaginaria é mediatizada pelo simbólico e, através
do toque, do manuseio e da fala, o adulto vai “desenhando”, escrevendo com significantes o corpo
imagético e articulável que o pequeno infante vai assumindo via identificação. A criança então se vê,
se identifica e se localiza no outro, via imagem e, com isso, configura-se em seu psiquismo um eu e
um outro.”(MACEDO E ALMEIDA, 2019, pág. 139)

Tatuagens e Piercings
Automutilação
A prática da automutilação, de forma
repetida e solitária, é vista como uma
compulsão, que aparece em momentos de
angústia do sujeito e podem sinalizar um
sofrimento psíquico.

Automutilação
Escarificações
As escarificações são uma subcategoria da
automutilação, se referem aos repetidos cortes e
lesões auto infligidas na superfície corporal. Possuem
significado, comportam um certo grau de gravidade e
indicam condições psicopatológicas próprias.

Escarificações
Escarificações
Segundo o DSM-V (2014):

• as escarificações são classificadas como “Autolesão não suicida


(NSSI)” e definidas como “dano intencional auto infligido à superfície
de seu corpo provavelmente induzindo sangramento, contusão ou dor”.

• 0 sujeito que corta a própria pele guarda a expectativa de obter alívio,


por meio dos cortes, de sentimentos e pensamentos negativos, entre
eles as ideações suicidas são citadas.

Escarificações
Escarificações
• Ainda segundo o manual, o comportamento de autolesão se
inicia no início da adolescência, sendo mais frequente nas
mulheres.

• O DSM-V (2014), ainda nos diz que as escarificações são


um dos critérios para o diagnóstico de borderline.

Escarificações
Escarificações
A escarificação é utilizada como meio de obtenção de alívio de
sentimentos angustiantes, pensamentos egodistônicos (que geram
conflitos entre o ego e os desejos do id e superego), uma tentativa de
controlar as sensações corporais, um autocontrole. Quando o sangue surge
sobre a pele, ele é um influxo de realidade para o sujeito que se escarifica,
colocando a tensão fora de si.
Identificam-se nas escarificações características presentes tanto nos casos
de neurose, como de psicoses, cabendo avaliação de cada caso.

Escarificações
Escarificações
De acordo com a psicanálise, no período adolescente, a
emergência da puberdade desestabiliza as defesas, testando a
qualidade do investimento dos limites e a eficácia, gerando o
uso abusivo de recursos não verbais, como as escarificações,
o que pode ser entendido como uma passagem ao ato do
sujeito, que objetiva aliviar a angústia avassaladora e
insuportável.

Escarificações
Escarificações
A Psicanálise também nos fala que pode-se pensar as escarificações na
adolescência ainda como respostas as bases narcísicas constituídas de
forma frágil na infância, transformando os eventos peculiares da
adolescência (separação do objeto primário, luto pela infância, ativação
sexual, etc.) em elementos traumáticos, daí a representação dessas
situações traumáticas através do ato de se cortar.

Escarificações
Escarificações
Ainda de acordo com a Psicanálise, Na escarificação é possível o retorno
da libido para o eu, gerando uma dinâmica auto erótica através do gozo no
sofrimento. Para Fernandes (2009), a escarificação é uma das
manifestações clínicas que nos faz perceber o quanto a libido pode ser
mortífera. Logo, não podemos pensar a libido apenas como pulsão de
vida, mas sim também como pulsão de morte, já que fica bem notável
devido à dimensão da auto agressividade dos cortes.

Escarificações
Escarificações

Escarificações
Suspensão corporal
A suspensão corporal consiste em elevar uma
pessoa por meio de ganchos cravados na pele.

Suspensão Corporal
Suspensão Corporal
• Normalmente os praticantes ocidentais têm entre 18 e 35 anos e já
possuem marcas e modificações corporais em um grau mais extremo;
• Existem inúmeros estilos de suspensão, alterando-se o número, o local
de inserção, a espessura e o tipo dos ganchos;
• O praticante faz para alguém ver e com alguém o auxiliando a
executar, no caso chamado de suspensor.

Suspensão Corporal
Suspensão Corporal

Suspensão Corporal
Suspensão Corporal
Na prática da suspensão produzem-se sensações intensas de
dor, prazer, pressão e umas tantas outras inomináveis. A
prática da suspensão corporal é realizada muitas vezes pela
necessidade do executor poder ser visto, reconhecido, poder
reforçar o sentido do si mesmo, poder processar lutos, perdas
efetivamente acontecidas, como sua realidade subjetiva e
como a afirmação de sua identidade.

Suspensão Corporal
Suspensão Corporal
• Compreende-se a suspensão como um estado de insensibilidade
à dor. A dor se converte em uma espécie de pré-requisito para o
alcance de uma experiência sensória única;

• A suspensão proporciona uma nova forma de ligação corpo-


psiquismo e, assim, uma nova maneira de subjetivação, em
busca de singularidade e liberdade.

Suspensão Corporal
Comentários entrevistas

Dra. Fabiana Pereira. Professor Eduardo Fonseca

Psicóloga, Psicanalista com mestrado Psicólogo com mestrado em


e doutorado em Antropologia Antropologia

Comentários Entrevistas
Considerações Finais
Na adolescência e em seu processo característico de ressignificação
as expressões no corpo são abordadas não apenas como recursos de
elaboração do excesso, mas, principalmente, como manifestações
que podem revelar o fracasso desse processo. Não deixando de lado
as questões culturais presentes nesse período, a fragmentação
identitária assim como a condição de desamparo experimentada
pelos jovens podem estar denunciadas nas marcas corporais. Ao
chocar pelo aspecto visual, desconsidera-se o que há de dor psíquica
escondida sob uma pele tatuada e carregada de perfurações.

Considerações Finais
Considerações Finais
A importância da família é primordial, das relações transparentes,
pois no seio da família são transmitidas as primeiras noções de amor
e desamor, continência e interdição. É no espelhamento familiar que
o adolescente toma como exemplo. Cabe à família fornecer ao
adolescente a continência necessária para a sua caminhada rumo ao
amadurecimento, calcada no diálogo e na escuta. Ao adolescente,
resta o trabalho psíquico de simbolizar e reorganizar seu processo
identificatório. As marcas corporais estão a serviço de denunciar o
excesso que não pode ser simbolizado e inscrito psiquicamente.

Considerações Finais
Obrigado!!

Você também pode gostar