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Arte e Ancestralidade

Com Jéssica Silva Pereira

Aula 1 - De

fora para

dentro: O giro

acasatombada.com.br
Segundo a teoria do escritor

americano Jim Rohn, nós somos

a média das cinco pessoas com

quem passamos mais tempo.


Lai Dantas
A forma como nós, pessoas

colonizadas, somos ensinadas a ser

limita nossa compreenssão do mundo

e as nossas ações.

Foto: André Medina


Modelo: Itamar dos Anjos
ir
G o
O

Foto: André Medina


Modelo: Itamar dos Anjos
Colonização/Pós Colonização

Colonização > portugueses > Indígenas> Africanos;


Exploração do Brasil;

"Levar a civilização para onde não existia que

redundou em um processo de destruição e morte, de

espoliação e aviltamento, feito em nome da razão e a

que se denominou de colonialismo. "

Silvio Almeida
O que é racismo estrutural
Colonização/Pós Colonização

Diáspora e escravidão de africanos na América;


Reconstrução e reconfiguração identitária;


Humanos > mercadoria > reificação;


Colonização/Pós Colonização

Estupro de mulheres indígenas e negras, tornou-se

regra na colônia brasileira;


Miscigenação baseada na violência colonial;


Pós-abolição – não promoção de equidade para

população negra;

[...] os povos colonizados têm dificuldade em


desvincular-se de suas raízes e verem-se separados
das relações de dominação. É por meio das
representações sociais e dos significados
produzidos a partir delas, que damos sentido a
nossas experiências e àquilo que somos; dessa forma,
os significados perpetuados na sociedade perpassam
e interferem à construção de nossas (múltiplas)
identidades (CARVALHO, 2010, p. 05).
RAÇA E RACISMO NO BRASIL
Raça no século XIX.

Século XX: o negro e o

Aumento dos mitos,


indígena aparecem com

como:
um pouco mais de

inferioridade,

protagonismo mas

vagabundagem,

incompetência
ainda enquanto

etc... objetos.

Essa grande narrativa histórica produziu a nossa

forma de ser e agir no mundo. Ou seja, essa também é

nossa base cultural, bem como produziu o que somos.


Nossos antepassados não eram santos, mas muito

deles foram arrastados para uma loucura

entorpecida e sangrenta pelas fontes de

criatividade nelas existentes e para as quais

não houve escapatória.


Luce Girard (2000, p. 215)
A criatividade dessas pessoas não foi traduzida

em poemas, músicas e danças, na verdade poucas

tiveram esse privilégio. Mas na arte do

cotidiano cuidando do corpo do outro,

cozinhando, costurando, carpindo, bordando,

fazendo móveis, cultivando a terra e assim

enfeitaram nossa infância deixando nossa vida

mais embelezada e doce.

Luce Girard (2000)


Referências:

https://jornal140.com/2019/08/05/somos-a-media-das-pessoas-com-quem-mais-

convivemos/

ALMEIDA, Silvio Luiz de. O que é racismo estrutural? / Silvio Luiz de Almeida. - Belo

Horizonte (MG): Letramento, 2018.

CARVALHO, Francine Adelino. FORMAÇÕES IDENTITÁRIAS NO PÓSCOLONIALISMO:

QUEM É O SUJEITO NEGRO? TEIAS: Rio de Janeiro, ano 11, nº 21, jan/abr 2010.

HERNANDEZ, Leila Leite. A África na sala de aula: visita à História Contemporânea.

São Paulo: Selo Negro, 2005.

EVARISTO, Conceição. Gênero e Etnia: uma escre(vivência) de dupla face. Mulheres

no Mundo – Etnia, Marginalidade e Diáspora. Nadilza Martins de Barros Moreira &

Liane Schneider (orgs), João Pessoa, UFPB, Idéia/Editora Universitária, 2005.


Arte e Ancestralidade
Com Jéssica Silva Pereira

Aula 2 - O

giroDe dentro

pra fora: a

gira.
acasatombada.com.br
Gira
A

Foto: André Medina


Modelo: Miriele Paulo
A memória são conteúdos de um continente, de

sua vida, de sua história, do seu passado, como

se o corpo fosse o documento. Não é atôa que a

dança para o negro é um momento de libertação.

O homem negro não pode estar liberto, enquanto

não esquecer o cativeiro, não esquecer no gesto,

que ele não é mais um cativo.

Beatriz Nascimento
Documentário - Ôr
Ela é transatlântica

o que é a civilização americana e africana?

Beatriz Nascimento
Documentário - Ôr
Nosso pensamento é

circular, eu me reconheço

no outro, eu sou porque o

outro existe, eu sou porque

você me reconhece - isso é

ubuntu - nosso princípio

filosófico.

Vilma Piedade

Foto: André Medina


Modelo: Miriele Paulo
Ancestralidade
Ancestralidade, aqui, é empregada como uma categoria
analítica e, por isso mesmo, converte-se em conceito-
chave para compreender uma epistemologia que
interpreta seu próprio regime de significados a
partir do território que produz seus signos de
cultura. Minha referência territorial é o continente
africano, por um lado, e o território brasileiro
africanizado, por outro. Por isso, meu regime de
signos é a cultura de matriz africana ressemantizada
no Brasil.

Eduardo Oliveira
O uso do termo cultura

como sendo uma coisa

nobre e europeia.
Beatriz Nascimento
Documentário - Ôr
Cosmovisão africana e indígena,
a qual se dá pela presença de
valores como:
“a) ancestralidade; b) tradição
oral; c) o corpo enquanto fonte
espiritual, produtor de saberes;
d) religiosidade; e) noção de
território enquanto espaço-
tempo.

-Geranilde Costa e Silva

Foto: André Medina


Modelo: Miriele Paulo
Oralidade
Circularidade
Religiosidade
Valores

Civilizatórios Corporeidade
Afro Indígenas-
Musicalidade
Brasileiros
Ludicidade
Energia Vital
Cooperatividade
TEORIA FEMINISTA NEGRA

Subjetividades;
Experiências;

Foto: André Medina


Modelo: Miriele Paulo
A ancestralidade traz o

corpo para o centro, o

corpo aqui é produtor

de saber.

TEORIA FEMINISTA NEGRA

A arte é produzida através do corpo;


Romper a máscara do silêncio –
criando rasuras e ecos.
Arte ativista.
REFERÊNCIAS:
ANZALDÙA, Glória. Falando em línguas: uma carta para as mulheres escritoras do terceiro mundo. IN: Estudos Feministas,

2000, p. 229 -236.

PIEDADE, Vilma. Dororidade/Vilma Piedade. São Paulo: Editora Nós, 2017.

OLIVEIRA, Eduardo de. Epistemologia da Ancestralidade. Disponível em:

https://filosofiaafricana.weebly.com/uploads/1/3/2/1/13213792/eduardo_oliveira_-

_epistemologia_da_ancestralidade.pdf

OLIVEIRA, Luiz Henrique Silva de. “Escrevivências”: rastros biográficos em Becos da memória, de Conceição Evaristo. IN:

Terra roxa e outras terras – Revista de Estudos Literários, Volume 17-B (dez. 2009).

OYEWÙMÍ, Oyèrónke. A invenção das mulheres: Construindo um sentido africano para os discursos ocidentais de gênero/

OYEWÙMÍ, Oyèrónke/ tradução Wanderson Flor do Nascimento. – 1 ed. – Rio de Janeiro: Bazar Tempo, 2021.

SILVA, Geranilde Costa e. Pretagogia: construindo um referencial teórico- metodológico, de base africana, para a formação

de professores/as / Geranilde Costa e Silva. – 2013.

SODRÉ, Muniz. O terreiro e a cidade: a forma social negro brasileira/Muniz Sodré. – 3. Ed. Rio de Janeiro: Mauad X, 2019.

TRINDADE, Azoilda Loretto. Valores Civilizatórios Afro-Brasileiros na Educação. Programa 2: Salto para o futuro. 2010.

Disponível em:

http://www.diversidadeducainfantil.org.br/PDF/Valores%20civilizat%C3%B3rios%20afrobrasileiros%20na%20educa%C3

%A7%C3%A3o%20infantil%20-%20Azoilda%20Trindade.pdf Acesso em 14nov2021


Arte e Ancestralidade
Com Jéssica Silva Pereira

Aula 3 - O

corpo que

escreve se

inscreve...?!
acasatombada.com.br
A sociedade é constituída por corpos e como corpos – corpos

masculinos, corpos femininos, corpos judaicos, corpos

arianos, corpos negros, corpos brancos, corpos ricos,

corpos pobres. Uso a palavra “corpo” de duas maneiras:

primeiro, como uma metonímia para a biologia e, segundo,

para chamar a atenção para a fisicalidade que parece estar

presente na cultura ocidental. Refiro-me ao corpo físico e

às metáforas do corpo. Ao corpo é dada uma lógica própria.


Oyèrónkẹ Oyěwùmí
Corpo-território: todo indivíduo percebe o mundo e suas

coisas a partir de si mesmo, de um campo que lhe é próprio e

que se resume, em última instância, a seu corpo. O corpo é

lugar-zero do campo perceptivo, é um limite a partir do qual

se define o outro, seja coisa ou pessoa. O corpo serve-nos de

bússola, meio de orientação com referência aos outros.

Quanto mais livre sente-se um corpo, maior o alcance desse

poder de orientar-se por si mesmo, por seus próprios padrões.


Muniz Sodré
ESCREVIVÊNCIAS

Conceição Evaristo (2015), Luiz Oliveira (2009) -

Escrevivência – corpo, condição, experiência;


Nenhuma arte é neutra,

tão pouco a sua!


NUNCA CONTAMOS TANTAS

HISTÓRIAS.

LÁZARO RAMOS

PARA QUÊ?
PARA QUEM?
POR QUE?
Por que criamos?
Por que somos levadas a criar?
Manter vivo o espírito de revolta (ANZALDÚA, 2000).

As escritoras negras buscam inscrever no corpus literário

brasileiro imagens de uma auto-representação. Surge a

fala de um corpo que não é apenas descrito, mas antes de

tudo vivido (EVARISTO, 2003).


SE PROVOCAR PARA FAZER PARTE

DA MELHORA DO MUNDO.

QUAL A HISTÓRIA VOCÊ QUER

CONTAR?

Gosto de escrever, na maioria das vezes dói, mas depois do

texto escrito é possível apaziguar um pouco a dor, eu digo

um pouco... Escrever pode ser uma espécie de vingança, às

vezes fico pensando sobre isso. Não sei se vingança, talvez

desafio, um modo de ferir o silencio imposto, ou ainda,

executar um gesto de teimosa esperança. Gosto de dizer ainda

que a escrita é para mim o movimento de dança-canto que o

meu corpo não executa, é a senha pela qual eu acesso o mundo.


CONCEIÇÃO EVARISTO
O cotidiano em pauta;
Arte ativista;
Arte representativa.
Retomando a reflexão sobre o fazer literário das

mulheres negras, pode-se dizer que os textos femininos

negros, para além de um sentido estético, buscam

semantizar um outro movimento, aquele que abriga toda


as suas lutas. Toma-se o lugar da escrita, como direito,

assim como se toma o lugar da vida.

-CONCEIÇÃO EVARISTO
QUAIS SÃO AS SUAS REFERÊNCIAS?

AS REFERÊNCIAS ESTÃO
EM TODOS OS LUGARES.
O USO DESSE CORPO, PARA QUE ESSA VOZ TANTO

TEMPO SILENCIADA SAIA COM FORÇA E

REVERBERE NO MUNDO.

-DÊNIS QUADROS
REFERÊNCIAS:
ANZALDÙA, Glória. Falando em línguas: uma carta para as mulheres escritoras do terceiro mundo. IN: Estudos Feministas, 2000, p.

229 -236.

PIEDADE, Vilma. Dororidade/Vilma Piedade. São Paulo: Editora Nós, 2017.

OLIVEIRA, Eduardo de. Epistemologia da Ancestralidade. Disponível em:

https://filosofiaafricana.weebly.com/uploads/1/3/2/1/13213792/eduardo_oliveira_-_epistemologia_da_ancestralidade.pdf

OLIVEIRA, Luiz Henrique Silva de. “Escrevivências”: rastros biográficos em Becos da memória, de Conceição Evaristo. IN: Terra roxa e

outras terras – Revista de Estudos Literários, Volume 17-B (dez. 2009).

OYEWÙMÍ, Oyèrónke. A invenção das mulheres: Construindo um sentido africano para os discursos ocidentais de gênero/

OYEWÙMÍ, Oyèrónke/ tradução Wanderson Flor do Nascimento. – 1 ed. – Rio de Janeiro: Bazar Tempo, 2021.

SILVA, Geranilde Costa e. Pretagogia: construindo um referencial teórico- metodológico, de base africana, para a formação de

professores/as / Geranilde Costa e Silva. – 2013.

SODRÉ, Muniz. O terreiro e a cidade: a forma social negro brasileira/Muniz Sodré. – 3. Ed. Rio de Janeiro: Mauad X, 2019.

TRINDADE, Azoilda Loretto. Valores Civilizatórios Afro-Brasileiros na Educação. Programa 2: Salto para o futuro. 2010. Disponível

em:

http://www.diversidadeducainfantil.org.br/PDF/Valores%20civilizat%C3%B3rios%20afrobrasileiros%20na%20educa%C3%A7%C3%

A3o%20infantil%20-%20Azoilda%20Trindade.pdf Acesso em 14nov2021


Arte e Ancestralidade
Com Jéssica Silva Pereira

Aula 4 -
Documentário

acasatombada.com.br
https://acasatombada.com.br/saberes-

da-casa-costurando-a-vida-com-fios-

de-ferro-por-jessica-pereira/
Arte e Ancestralidade
Com Jéssica Silva Pereira e Ananda Luz

Aula 5 -
Transmutar artístico –
O corpo é o princípio,

meio e fim

acasatombada.com.br
O corpo que cria é livre?
Liberdade (OXFORD)

substantivo feminino

grau de independência legítimo que um

cidadão, um povo ou uma nação elege como

valor supremo, como ideal.


condição daquele que não se acha

submetido a qualquer força

constrangedora física ou moral.


"ter l. de movimentos"
CORPO HIFENIZADO

CORPO-TERRITÓRIO CORPO-JAULA
CORPO-SUJEITO CORPO-CONDENADO
CORPO-POLÍTICO CORPO-OBJETO
CORPO-SER
CORPO-FERRAMENTA
CORPO-NEGRO
CORPO-NEGRO-MULHER CORPO-VIOLENTADO
CORPO-ARTE CORPO-OPRIMIDO
CORPO-MOVIMENTO
FOTALECIMENTO DO EU

POR MEIO DO NÓS


Itamar dos Anjos
Mestre da Cultura Popular
Multiartista do extremo Sul Da Bahia

Tela de 1m 80cm X 1m 25cm


Cobaias do Capitalismo em Estilo Naífe e Pontilhismo.
Construção de Referências
A ARTE É ANTES DE TUDO O CORPO;
QUAL O ALIMENTO TEM DADO AO CORPO PARA

EXTERNAR A ARTE?
Corpo integrado ao fazer artístico
transBordar
Mitti Mendonça (@maonegra)

Sou raiz
Vertente de muitos
Fôlegos, arrepios
E coragem

Crochê sobre tela


37x 47 cm
CUIDA DO TEU ORÍ
ELA MANDA NO SEU CORPO
Máscara Ancestral, 1998
Acrílico sobre tela 80x100cm
Acervo Museu de Arte Negra Ipeafro,

RJ/BRasil

O TRANSMUTAR ARTÍSTICO
SÓ ACONTECE QUANDO
COMPREENDEMOS QUE O CORPO
É O INÍCIO, MEIO E FIM.
O CORPO RECEBE HISTÓRIA E TRANSFORMA

EM MOVIMENTO.

MARIANA EMILIANO
REENCONTRO DO SER OCIDENTALIZADO
COM SEU CORPO.

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