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A comédia do falo
Pierre Naveau
Pierre Naveau – Digamos de uma só vez. O falo que é, antes de mais nada,
um semblante, pode, segundo Lacan, ser definido, como significante ou
como órgão, ou ainda como função que escreve um gozo.
Enquanto significante, ele pode ser aquele do desejo ou aquele do gozo. Mas
ele pode ser também um significante sozinho. E isso, mesmo que ele esteja
excluído do lugar do significante e que ele não tenha significado.
Enquanto função enfim, ele escreve aquele entre os gozos que é o fálico.
A.P. – Como passamos do falo como significante de uma falta ao falo como
escrita de uma função que faz suplência a não relação sexual?
P.N. – Suplência e falta, efetivamente, se opõem. A questão é, portanto, sutil.
A modificação diz respeito à letra (PHI). Ela designava até há pouco tempo
um buraco. Ela reenviava, por exemplo, ao intervalo que existe entre os
significantes, ao enigma e ao mistério de uma falha que existe na linguagem.
Ela escreve agora alguma coisa que faz suplência a um buraco. Não se trata
mais de um precipício, mas da ponte lançada por cima de um precipício.
Além disso, de um lado, Lacan pôde dizer que apenas é um homem aquele
que abre para uma mulher, o caminho em direção a um outro gozo que é o
gozo dela – aquele do qual essa mulher não sabe nada, do qual ela não fala
e que a deixa só com ela mesma.
Lacan pôde dizer, no Seminário XXII, que o homem é atravancado pelo falo
ou que ele é aphligé[4] por ele. O falo seria assim um atravancamento, ou
mesmo uma aflição.
Tradução
[1] Lacan J., Le Séminaire, livre X, L'Angoisse (1962-1963), texte établi par J.-A. Miller,
Paris, Seuil, coll. Champ Freudien, 2004.
[2] Lacan J., Le Séminaire, livre XX, Encore, op. cit., p. 75.
[3] Lacan J., Le Séminaire, livre XXIV, « I:insu que sait de l'une-bévue s'aile à mourre»,
leçon du 11 janvier 1977, Ornicar ?, n" 14, 1978, p. 7.