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Empresa Blockbuster, não se adaptou as modificações do mercado como internet e streaming.

Há cerca de vinte anos, acessar um acervo físico e escolher um filme em uma


locadora fazia parte da rotina dos apaixonados por cinema. Naquela época, um
icônico nome dominava as ruas do mundo todo: Blockbuster. A empresa
nasceu em 1985, em Dallas. Seu fundador, David Cook, abriu a primeira unidade
com um estoque de 8 mil fitas VHS para oferecer aos clientes um serviço de
aluguel de filmes e games.

A empresa foi criada em um cenário promissor, onde os reprodutores de


videocassetes se tornavam cada vez mais comuns nas casas das famílias
americanas. Além disso, Cook usou a tecnologia a seu favor. O empreendedor
equipou sua loja com um sistema de computadores que usavam um scanner de
código de barras para ler os principais dados de cada fita alugada, calculando
os valores. Em dois anos de atuação no mercado, a Blockbuster já era uma rede
com 19 lojas em operação.

A partir daí, Cook investiu ainda mais na experiência dos clientes,


transformando as unidades da Blockbuster em “big stores” — ou seja, grandes
lojas com atendimento exclusivo, variedade de títulos e venda de produtos
complementares aos filmes. O negócio deslanchou e, em pouco tempo, se
tornou uma marca relevante nos Estados Unidos. Foi então que, em 1987, Cook
vendeu a empresa para o milionário Wayne Huizenga.

Nasce um rival

Em paralelo ao grande sucesso da Blockbuster, nascia a Netflix. A empresa foi


criada em 1997 por Marc Randolph, Reed Hastings e Mitch Lowe, como um
serviço de entregas de DVDs pelo correio. Na época, os empreendedores
entenderam que as fitas VHS eram frágeis demais para serem despachadas aos
clientes — oferecendo uma opção menor, mais leve e totalmente inovadora para
a época.

A proposta era simples: no início, os usuários alugavam, em um site, os títulos


por preços separados. Alguns meses depois, a empresa lançou um sistema de
assinaturas. Por um valor mensal de US$ 21,99, os consumidores tinham
acesso a diversos filmes, sem cobrança de multas ou data fixa para entrega. Os
títulos eram entregues diretamente no endereço escolhido.

Para colocar em prática esse novo modelo de assinaturas, a Netflix refez a


engenharia de seu site e adaptou seu software. Em apenas um ano, o negócio
faturou US$ 1 milhão. Em 1999, chegou a US$ 5 milhões de faturamento.
Apesar do crescimento, a empresa ainda era instável financeiramente.
A oferta recusada

Em 2000, Randolph e Hastings se reuniram com John Antioco, CEO da


Blockbuster. Os executivos dicutiram uma possível compra da Netflix pela atual
líder mundial no ramo de aluguel de filmes. O valor oferecido foi de US$ 50
milhões. O acordo foi recusado por Antioco. No mesmo ano, a Blockbuster
continou crescendo e acumulou mais de 7 mil lojas físicas abertas.

Já a Netflix, registrava 420 mil assinantes em seu serviço de entregas. Mesmo


sem ter sido adquirida, a empresa continuou se desenvolvendo. Em 2002, as
ações da Netflix começaram a crescer e foram negociadas na NASDAQ, bolsa de
valores de Nova York. Além disso, seu número de assinantes saltou para 600
mil. Com uma expansão acelerada, a empresa atingiu, em 2004, US$ 500
milhões de faturamento. Um ano depois, o número de assinantes chegou a 4,2
milhões.

Enquanto isso, a Blockbuster ainda registrava receitas bilionárias. Em 2004, a


companhia faturou US$ 6 bilhões. Além disso, chegou ao auge atingindo 9 mil
unidades espalhadas por 9 países. No mesmo ano — e com algum tempo de
atraso — entrou no mercado de locação online para concorrer com a Netflix. Por
US$ 19,99 por mês, os clientes alugavam quantos filmes quisessem. Porém, na
visão da empresa, a experiência de ir em lojas físicas ainda tinha o seu valor.

Do DVD ao streaming

Foi em 2007 que a Netflix tomou uma decisão que mudaria o mercado. A
empresa abandonou o serviço de aluguel de DVDs e lançou sua própria
plataforma de streaming. Nela, os assinantes poderiam assistir séries e filmes
instantaneamente no computador. A partir daí, a empresa teve um crescimento
consistente a cada ano.

Em contrapartida, a Blockbuster passou a perder mercado. Desde 2008, a


receita da companhia despencou, assim como o número de lojas. Em 2010,
enquanto a Netflix registrava 16 milhões de assinantes e uma receita de US$ 2
bilhões, a Blockbuster declarava falência. No mesmo ano, a empresa entrou
com um pedido de recuperação judicial no Tribunal de Falências dos Estados
Unidos para lidar com cerca de US$ 1 bilhão em dívidas. Em 2011, foi leiloada
à emissora Dish Network, operadora de TV por assinatura, por US$ 320 milhões.

Dois anos depois, em 2013, a Blockbuster anunciou o fechamento de suas 300


lojas restantes nos Estados Unidos, descontinuando o aluguel de filmes nas
unidades físicas e na plataforma online. “Esta não é uma decisão fácil, mas o
consumidor agora opta claramente por ferramentas de distribuição digital de
entretenimento em vídeo”, disse Joseph Clayton, CEO da Dish, em um
comunicado. Hoje, apenas uma loja continua aberta — em Bend, uma pequena
cidade nos Estados Unidos. A unidade, franqueada em 2000, se tornou “peça
rara” e possui vários anos de contrato com a Dish.

A importância da transformação

Depois de se tornar referência mundial na indústria de filmes, a Blockbuster


fechou suas portas. A companhia, que se concentrava em aumentar seu número
de lojas e crescer ainda mais no modelo convencional de locação de vídeos, não
construiu uma estratégia para competir com seus novos concorrentes.

Por outro lado, a Netflix repensou seu modelo tradicional para a Era Digital. Em
2007, seus fundadores perceberam que o consumo de filmes já não era mais o
mesmo e decidiu acompanhar esse novo cenário, readaptando sua estratégia.
Para isso, transformaram seu negócio incorporando tecnologias e novas
práticas focadas no cliente.

A partir daí, a empresa investiu em uma infraestrutura digital e em um sistema


de recomendações baseadas no comportamento dos usuários. Além disso,
construiu uma cultura data-driven (baseada em dados) e times focados em
marketing, operações, finanças, ciência e analytics.

Além da aposta em tecnologia, o modelo de gestão da companhia também


passou por grandes mudanças — se tornando referência no mundo todo. A
capacidade de se adaptar e se reinventar se tornou um dos principais pilares da
empresa. Além disso, a companhia focou em uma gestão horizontal, sem
hierarquia e com mais autonomia aos funcionários.
A busca pela excelência e o lema “liberdade com responsabilidade” tem gerado
grandes resultados. Em 2018, a empresa atingiu um importante marco: se
tornou a companhia de mídia mais valiosa do mundo, ultrapassando a Disney
por um dia. Enquanto a gigante do streaming foi avaliada em US$ 152,3 bilhões
na bolsa, a Walt Disney Company chegou a US$ 151,7 bilhões.

Até outubro de 2020, a Netflix já registrava 195 milhões de assinantes e possui


um valor de mercado de US$ 235 bilhões. Além disso, se destacou por suas
produções próprias, se juntando a grandes nomes da indústria cinematográfica
em premiações do Oscar.

Novos passos

Depois de se reinventar algumas vezes, a Netflix se prepara para alcançar novos


objetivos. Mitch Lowe, um dos fundadores, traçou um cenário sobre o mais
provável futuro da companhia. A Netflix poderá seguir na produção de
conteúdos baseados em outra plataforma: o Youtube. O foco? Acompanhar,
mais uma vez, a mudança no perfil do consumidor.

“As pessoas têm cada vez menos espaço de atenção, é difícil se concentrar em
um filme de duas horas. Ao mesmo tempo, elas querem que os personagens se
desenvolvam. É por isso que vamos ter produtos com episódios cada vez mais
curtos. O sucesso de vídeos no YouTube mostra que as pessoas na verdade
querem episódios de 10, 20 ou 30 minutos que você possa juntar”, afirmou o
executivo.

Além disso, segundo estimativa da empresa norte-americana BMO Capital


Markets, a companhia pretende investir cerca de US$ 18 bilhões em produção
de conteúdos neste ano — um aumento de US$ 2 bilhões em relação a 2019.
Nos próximos anos, esse valor pode chegar a US$ 26 bilhões.

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