a pobreza foi criada pelo homem e pode ser removida pelas ações dos seres humanos.” (Nelson Mandela)
O boleto com a cobrança do Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) do ano de
2018 chega bem mais caro que o de 2017 aos lares dos munícipes de Resende Costa. O principal motivo para o aumento provém do reajuste de 50% no valor venal dos imóveis urbanos de nosso município, de acordo com a Lei nº 4.258, de 02 de outubro de 2017, aprovada pela Câmara Municipal e sancionada pelo Prefeito Municipal Aurélio Suenes. Sobre o novo valor venal do imóvel, acrescenta-se 7,28% , índice da inflação, baseado no Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), para fins de atualização monetária do IPTU. As conhecidas 'taxas' de conservação e calçamento, e de coleta de lixo, também foram corrigidas: subiram 6,68% (calçamento) e 6,53% (coleta de lixo), em relação aos valores de 2017. Superficialmente, e apenas para fins de comparação básica, o valor a ser pago ficou aproximadamente 53% mais caro que em 2017. Infelizmente, tivemos em 2018 o menor aumento sobre o salário mínimo dos últimos 24 anos, na casa de 1,81%, ou seja, R$ 17 apenas. Acrescenta-se ao pífio reajuste do salário mínimo, o aumento no ICV (Índice do Custo de Vida). Segundo a Pesquisa Nacional da Cesta Básica de Alimentos, medida pelo DIEESE (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos), o valor da cesta básica na capital mineira é de R$358,83, correspondendo a 40,88% do salário mínimo líquido. É importante ressaltar que, além de não suprir as necessidades quantitativas de uma família, tampouco apresenta valores nutricionais necessários, uma vez que contém baixa quantidade de minerais, vitaminas e proteínas, impactando negativamente em sua saúde e bem-estar. Nos últimos 12 meses, vimos a COPASA reajustar o preço ao consumidor. Veja: até 5m³, o valor subiu de R$ 0,96 para R$ 1,12 o m³ (alta de 16,6%); entre 5-10 m³, subiu de R$ 3,08 para R$ 3,16 (alta de 2,6%); já a tarifa fixa subiu de R$ 15,29 para R$ 15,97 (alta de 4,45%), valores estes que foram mais sentidos na população carente com mínimo consumo de água. A revisão tarifária da CEMIG, aplicada a partir de 28 de maio de 2018, levou ao aumento médio de 23,19%, com efeito de 35,56% para os consumidores atendidos em alta tensão, e de 18,63% para os clientes em baixa tensão. Para os consumidores residenciais, especificamente, o impacto foi de 18,53%. A Contribuição para Custeio do Serviço de Iluminação Pública, instituída pela Lei Municipal nº 3.733, embora amparada por determinação constitucional, não deixa de ser um encargo oneroso para as famílias resendecostenses. A título de exemplo informal, em minha residência a contribuição foi, em média, no valor de R$ 14,13 ao mês; ao todo, pagamos R$ 169,59 em 1 ano. Segundo dados da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis, a famosa ANP, em setembro de 2017, a gasolina tinha um valor médio de R$ 3,85 o litro, o etanol R$ 2,61 o litro, e o diesel R$ 3,15. Em setembro de 2018, a mesma ANP informou que o preço médio dos combustíveis foram: R$ 4,65 para a gasolina (alta de 20,77%), R$ 2,83 para o etanol (alta de 8,4%), e R$ 3,64 para o diesel (alta de 15,5%). Em março de 2018, o reajuste anual de medicamentos chegou até 2,84%. Mais de um quarto da população (26,6%) faz uso de remédios contínuos ou periódicos, a maioria paga pelo próprio usuário (51,3%). O gasto médio entre os que fazem uso de medicamentos contínuos é de R$ 138,32 por mês, sendo que esta média aumenta para R$ 194,97 entre pessoas acima de 55 anos. 42% que tiveram despesas com saúde nos últimos 3 meses extrapolaram seus orçamentos. Estes são apenas alguns dados coletados a partir de um estudo encomendado em janeiro de 2018 pelo SPC Brasil e a CNDL (Confederação Nacional dos Dirigentes Lojistas). O gás de cozinha, segundo a ANP, era comprado a R$ 61,29 em setembro de 2017. Fazendo uma comparação muito recente, no dia 12 de outubro de 2018, o gás era vendido por R$ 68,00 no nosso município, alta aproximada de 10%. O DIEESE informa que o salário mínimo nominal é de R$ 954,00, enquanto o salário mínimo necessário é de R$ 3.658,39, ou seja, 3,8 vezes menor que o necessário para o trabalhador suprir as suas despesas e de sua família com alimentação, moradia, saúde, educação, higiene etc. O Brasil é rico para 1% da população, e pobre para 50%. Ricos que recebem, em média, R$ 27 mil por mês, enquanto metade da população sobrevive com R$ 754 mensais, segundo a PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios). Em Minas Gerais, essa média é ainda menor: 1% da população do estado, dona dos melhores rendimentos, recebeu mensalmente, em média, R$ 18.925,00, ante renda também mensal e média de R$ 724, ou seja, R$ 230 a menos que o salário mínimo atual, e percebida por 50% dos mais pobres. A taxa de desemprego em Minas Gerais subiu 77,8% nos últimos 4 anos, segundo o IBGE. Foi de 7,1% de desempregados em 2014 para 12,6% em 2018. Em números, 1,4 milhão de pessoas sem emprego em nosso estado. Segundo levantamento da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic) mostrou que o percentual de famílias com dívidas gira na casa de 60,7%. A proporção das famílias com contas em atraso bate a casa de 23,8%. 9,8% delas declararam não ter condições de pagar suas contas em atraso, e 13,5% se declararam muito endividadas. O tempo médio de atraso para o pagamento de dívidas foi de 64 dias em agosto de 2018. Em média, o comprometimento com as dívidas foi de 7 meses, sendo que 32,0% das famílias possuem dívidas por mais de um ano. Entre as endividadas, 20,5% afirmam ter mais da metade da renda mensal comprometida com o pagamento de dívidas. Reflexos dos números citados acima estão sendo sentidos na população de Resende Costa, afetando diretamente o comércio local. Não contesto a legalidade da Lei n° 4.258, mas o quanto irá afetar a vida de várias e várias famílias, mediante a crise econômica que o nosso país, estado e município vem passando. Para finalizar, valendo-me de uma opinião estritamente particular, entendo que vocês, vereadores, homens do povo, e eleitos pelo povo, têm responsabilidade com as pessoas que vivem aqui, sobretudo os mais necessitados. Parte da sociedade enxerga em vocês o papel de legislador, ao passo que as pessoas mais carentes e necessitadas depositam em vocês a esperança de luta por dias melhores.